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2
FAVENI – FACULDADE DE VENDA NOVA DO IMIGRANTE
OS DESAFIOS PARA A FORMAÇÃO DE UMA ESCOLA DO CAMPO
JULIANO SIEDLECKI
ENÉAS MARQUES
2019
FAVENI – FACULDADE DE VENDA NOVA DO IMIGRANTE
OS DESAFIOS PARA A FORMAÇÃO DE UMA ESCOLA DO CAMPO
JULIANO SIEDLECKI
Artigo científico apresentado a FAVENI como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Educação no Campo.
Orientador:
ENÉAS MARQUES
2019
OS DESAFIOS PARA A FORMAÇÃO DE UMA ESCOLA DO CAMPO
Juliano Siedlecki[footnoteRef:2] [2: Email: juliano_siedlecki@hotmail.com] 
Declaro que sou autor (a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).
RESUMO
O presente artigo tem o objetivo de possibilitar reflexões acerca do surgimento da Educação do Campo, apontar os princípios e as proposições dos Movimentos Sociais e a sua importância para a conquista de uma Educação voltada ao trabalhador do campo. A justificativa dessa pesquisa pauta-se na atual compreensão sobre a saída da juventude do campo motivada pela visão de haver nas cidades oportunidades de melhores condições de vida. Além disso, é a Educação do Campo que contrapõe a esse pensamento. Para tanto realizamos a pesquisa por meio de revisão bibliográfica O estudo evidenciou que muitas são as Escolas denominadas do campo, mas sem identificação com o campo, uma vez que os conteúdos geralmente são trabalhados como na cidade e esse é um dos desafios a ser enfrentado para uma formação direcionada a Educação do Campo.
Palavras-chave: Educação do Campo, Movimentos Sociais, Pedagogia do Oprimido.
1- INTRODUÇÃO
Essa pesquisa consiste em compreender a Educação do Campo e a importância dos Movimentos Sociais nesse processo de luta pela elaboração e efetivação de uma Educação voltada ao campo. Desse modo, procuramos entender os princípios básicos para a formação de uma Educação do Campo, ressaltando as diferenças entre Escola Rural, Escola no Campo e Escola do Campo. 
De acordo com Caldart (2004) um dos desafios que temos em relação à educação do campo, é saber qual educação está sendo ofertada aos moradores do campo e que concepção de educação se faz presente em tal educação oferecida. 
É de suma importância conhecer a história e organização do projeto de educação voltada ao campo, sobretudo porque atualmente muitos jovens não se sentem motivados a permanecerem no campo. Um dos motivos é o fato de não haver uma educação direcionada a suas origens e isso resulta na visão do campo como um local de trabalho sem vinculação histórica e cultural, ou seja, um lugar de atraso. 
Nesse sentido, outro desafio posto a educação do campo é pensar um projeto de desenvolvimento e de escola do campo que:
O estudo foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica, sendo consultados referenciais teóricos de autores como: Caldart, Freire, Alves, Leite, Molina, entre outros. O artigo está organizado da seguinte forma: no primeiro momento foi realizada uma breve discussão sobre a Educação do Campo, seus processos históricos e as lutas por parte dos Movimentos Sociais para a conquista do direito a educação ao trabalhador do campo. Para isso, apresentamos os princípios, discutimos o modo como deveria se organizar uma escola pautada na Pedagogia de Paulo Freire (2011) e posteriormente foram tecidas as considerações finais.
2- HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 
Não podemos entender a Educação do Campo, seus objetivos, seu surgimento se não compreendermos o contexto histórico que permeiam essas discussões. Caldart (2004) aponta que a Educação do Campo teve seu surgimento na década de 90, nascendo através da experiência de camponeses organizados em Movimentos Sociais. Por ter surgido nos Movimentos Sociais não se tem precisão de quando começou a se pensar em uma educação voltada aos interesses do trabalhador do campo.
A Educação do Campo pensada pelos Movimentos Sociais não é apenas uma proposta de educação. Mas, também um movimento de crítica ao modelo existente, principalmente observando a situação educacional dos trabalhadores do campo.
Segundo Caldart (2009) a Educação do Campo não apenas faz a crítica, mas aponta práticas diferentes para a melhoria da Educação do Campo. A Educação escolar não é neutra, ela defende o modelo econômico predominante na sociedade. Modelo esse que controla o que aprendemos e como devemos aprender, deixando clara a existência de uma hierarquização do saber. 
A educação desses jovens dava-se em contato direto com os trabalhadores adultos. No exercício de suas práticas produtivas, os adultos fixavam os comportamentos que deveriam ser tomados como exemplo a serem seguidos. Isso ocorria de uma forma espontânea, muitas vezes silenciosa e nunca desvinculada do próprio ato de produzir. Assim o jovem ia formando-se. Aprender para ele, desde os 12 ou 13 anos incorporar as práticas que o capital impunha ao trabalhador adulto como exigência para a reprodução de sua precária existência. (ALVES, 2009, p. XI)
Podemos perceber que a visão do meio rural é capitalista, ou seja, de um local de trabalho e acumulação de lucro. Assim, a preocupação primordial é o capital e não as pessoas, uma vez que a aprendizagem está voltada para o trabalho na roça, muitas vezes, passado de pai para filho. 
As Diretrizes Curriculares da Educação do Campo (DCEs) de 2010 alertam para o fato de o Brasil ser um país de origem agrária. Entretanto, a educação rural não foi se quer pensada até os anos de 1900, os moradores do campo não eram vistos pela sociedade como sujeitos, eram pessoas desprovidas de direitos básicos, por isso viviam de forma miserável, sendo o campo considerado um lugar de atraso. 
A sociedade brasileira somente despertou para a educação rural por ocasião do forte movimento migratório interno dos anos 1910 – 1920, quando um grande número de rurícolas deixou o campo em busca das áreas onde se iniciava um processo de industrialização mais amplo. (LEITE, 1999, p.28).
Com o início da industrialização o Estado passou a preocupar-se com o atraso sociocultural do campo e em 1923 surgiram às primeiras Escolas Rurais com o objetivo de alfabetização da população que morava no campo. Isso por dois motivos, primeiro porque ao migrarem para as cidades os trabalhadores do campo ao menos deveriam ter o mínimo de preparo para exercer o trabalho imposto nas indústrias e, segundo, porque ao se criar escolas no meio rural dava-se a expectativa de que o campo tornar-se-ia um lugar melhor de se viver. Assim os investimentos por parte do Estado faziam com que as pessoas continuassem no campo, pois era preciso conter a saída da população do campo. (PARANÁ, DCEs, 2010). 
Nesse contexto surgem os Movimentos Sociais que lutavam pela melhor condição de vida do camponês e valorização dos mesmos enquanto sujeitos na sociedade. Nesse período o professor Paulo Freire ofereceu contribuições significativas no pensamento de uma Educação do Campo, com os movimentos de alfabetização de adultos em uma concepção de educação voltada ao diálogo e a formação do sujeito crítico emancipado. 
Essas discussões sofreram um grande retrocesso em 1964 com o golpe militar e a instalação da ditadura, em que debates dessa importância não eram permitidos. Nesse período o Estado investiu na modernização da agricultura que fortalecia cada vez mais os latifúndios deixando os camponeses praticamente sem oportunidades e investimentos. (PARANÁ, DCEs, 2010).No final da década de 1980 com a abertura democrática do país os Movimentos Sociais se fortaleceram, avançando no debate da Educação do Campo, tendo o Movimento Sem-Terra (MST) como defensor maior dessa luta. Na década de 90 a Educação do Campo entra no cenário político através da constituição de 1988 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, que se contrapunha a concepção de rural vigente até no momento, reconhecendo a diversidade do campo e seus sujeitos. (PARANÁ, DCEs, 2010). 
Nesse breve histórico, fica explícito que a Educação do Campo teve um lugar marginal na política educacional brasileira e que somente após o final da década de 1980 e decorrer da década de 1990 houve sinais de mudanças, mediante as ações dos movimentos e organizações sociais voltados a Educação do Campo. (PARANÁ, DCEs, 2010). 
 Ainda é um desafio para os Movimentos Sociais fortalecerem-se em um período que o campo torna-se local de produção. A luta em prol da Educação do Campo é algo contínuo, sobretudo porque essa educação destina-se aos sujeitos que vivem na roça e da roça, e, portanto, ela precisa ser encarada a partir de um projeto social no qual a Educação do Campo receba a atenção que merece. 
2.1 - Princípios da Educação do Campo
A discussão sobre uma escola no e do campo teve início nos Movimentos Sociais, principalmente, com o MST provocando o Estado a olhar para o trabalhador do campo, sem descriminá-lo em relação ao homem da cidade. 
O MST luta por esse direito, pois há diferenças substanciais entre a educação oferecida aos filhos dos trabalhadores do campo e os da cidade, se analisarmos apenas a infraestrutura disponibilizada para ambos verificaremos que as escolas rurais em sua maioria estão em situações precárias. “Prova disso é o fato de somente 5,2% das escolas rurais possuírem bibliotecas, enquanto na zona urbana esse percentual sobe 58,6%”. (ALVES, 2009 p. 1,2)
A Educação do Campo inicialmente pensada pelos Movimentos Sociais não se resume apenas à escola, mas também possui um sentido político e econômico de luta de classes. 
O vínculo de origem da Educação do Campo é com os trabalhadores “pobres do campo”, trabalhadores sem-terra, sem trabalho, mas primeiro com aqueles dispostos a reagir, a lutar, a se organizar contra “o estado de coisa”, para aos poucos buscar ampliar o olhar para o conjunto dos trabalhadores do campo (CALDART, 2002 p.20).
Na citação acima podemos perceber que a Educação do Campo nasce nesse princípio de classe, surgindo com os trabalhadores pobres, se contrapondo ao “estado de coisa” imposto ao camponês na forma em que eram tratados na sociedade. Vistos como pessoas sem nenhum direito, como a saúde, educação, lazer, enfim, marginalizados pela classe dominante. 
Uma escola do campo é a que defende os interesses, a política, a cultura e a economia da agricultura camponesa, que construa conhecimentos e tecnologias na direção do desenvolvimento social e econômico dessa população (ARROYO & FERNANDES, 1999, p. 47).
A Escola pautada nos princípios da Educação do Campo deve estar vinculada ao trabalho a cultura, a produção, envolvida na luta pela terra e ao projeto popular de desenvolvimento do campo. A Escola do Campo não pode estar alheia aos acontecimentos do mundo, muito menos das lutas da sua classe (ALVES, 2009). 
A Educação do Campo, antes nomeada Educação Rural, vem para preencher uma lacuna existente no meio rural, pois se aplicava o mesmo conteúdo, metodologia e avaliação usada nas cidades, sem levar em consideração a realidade local, seus costumes, sua cultura, etc. A educação rural reproduzia o modelo de educação dominante, sem nenhuma crítica nem oposição. (FARIAS, 2013).
Desenvolver com os alunos a ideia de coletivo e do trabalho em comunidade, ajudando o outro, se importando com os outros, tentando deixar de lado o individualismo imperante da sociedade de consumidores é algo a se conquistar. Assim a Educação do Campo é pensada a partir da vivência dos sujeitos do campo, fazendo com que a comunidade participe desse projeto de educação. 
Na sua origem, o “do” da Educação do Campo tem a ver com esse protagonismo: não é “para” e nem mesmo “com”: é dos trabalhadores, educação do campo, dos camponeses, pedagogia do oprimido... Um do que não é dado, mas que precisa ser construído pelo processo de formação dos sujeitos coletivos, sujeitos que lutam para tomar parte da dinâmica social, para se construir como sujeitos políticos, capazes de influir na agenda política da sociedade [...] (CALDART, 2002, p.21). 
Os Movimentos Sociais sempre tiveram essa ideia de educação conquistada, e essa teria um valor muito maior, pois o trabalhador seria o protagonista e realmente “dono” da construção do seu próprio conhecimento, lutando para a formação do sujeito crítico e atuante na sociedade, capaz de defender os interesses coletivos de sua classe. 
A educação vem para ensinar esse trabalhador sentir-se parte da sociedade. Caldart (2002) coloca que a Educação do Campo está se movendo sobre navalhas, por ser esse um terreno de discussões que envolvem muitos interesses pessoais. 
[...] Sim! A Educação do campo toma posição, age, desde uma particularidade e não abandona a perspectiva da universalidade, mas disputa sua inclusão nela (seja na discussão da educação ou de projeto de sociedade). Sim! Ela nasce da “experiência de classe” de camponeses organizados em Movimentos Sociais e envolve diferentes sujeitos, às vezes com diferentes posições de classe. Sim! A Educação do Campo inicia sua atuação desde a radicalidade pedagógica destes Movimentos Sociais e entra no terreno movediço das políticas públicas, da relação com um estado comprometido com um projeto de sociedade que ela combate se coerente for com sua materialidade e vínculo de classe de origem. Sim! A Educação do Campo tem se centrado na escola e luta para que a concepção de educação que oriente suas práticas se descentre da escola, não fique refém de sua lógica constitutiva, exatamente para poder ir bem além dela enquanto projeto educativo. E uma vez mais, sim! A Educação do Campo se coloca em luta pelo acesso dos trabalhadores ao conhecimento produzido na sociedade e ao mesmo tempo problematiza, faz a crítica ao modo de conhecimento dominante e a hierarquização epistemológica própria dessa sociedade que deslegitima os protagonistas originários da Educação do Campo como produtores de conhecimento e que resiste a construir referencias próprias para a solução de problemas de uma outra lógica de produção e de trabalho que não seja a do trabalho produtivo para o capital (CALDART, 2002 p.18). 
Caldart (2002) confirma a ideia de uma educação atuante, mas que ao mesmo tempo vive em meio a disputas de poder e conflitos de ideologias. Os Movimentos Sociais ao entrarem nessa luta pela educação não escaparam do envolvimento na política, vários políticos ao saberem do fortalecimento dessa educação pensada pelos trabalhadores buscaram uma forma de transformá-la em projeto político, aumentando a abrangência das escolas do campo, porém desvinculando-a do seu ideal principal que é a identidade e formação do sujeito do campo.
Para a discussão dessas e outras questões ligadas a luta por uma Educação do Campo foi realizado em 2002 o “Seminário Nacional Por Uma Educação Do Campo”, organizado pelo MST tendo como mentora Roseli Caldart. Nesse encontro construiu-se um documento defensor dos princípios de uma escola que represente os ideais da classe camponesa.
A nova geração está sendo deseducada para viver no campo, perdendo sua identidade de raiz e seu projeto de futuro. Crianças e jovens têm direito de aprender da sabedoria de seus antepassados e de produzir novos conhecimentos para permanecer no campo.
5. Quando dizemos Por uma Educação do Campo estamos afirmando a necessidade de suas lutas: pela ampliação do direito e á escolarização no campo; e pela construção de uma escola que esteja no campo, mas que também seja do campo: uma escola política e pedagogicamente vinculada à história,a cultura e as causas sociais e humanos dos sujeitos do campo, e não um mero apêndice da escola pensada na cidade; uma escola enraizada também na práxis da educação Popular e da Pedagogia do Oprimido.
[...]
8. Defendemos um projeto de educação integral, preocupado também com as questões de gênero, de raça, de respeito às diferentes culturas e as diferentes gerações, de soberania alimentar, de uma agricultura e de um desenvolvimento sustentável, de uma política energética e de proteção ao meio ambiente.
[...]
10. [...] o povo que vive no campo tem que ser o sujeito de sua própria formação. Não se trata, pois, de uma educação ou uma luta para os, mas sim dos trabalhadores do campo e é assim que ela deve ser assumida por todos os membros deste movimento Por uma Educação do Campo (CALDART, 2002, p.17-20).
Nesses trechos do documento podemos ver que a Educação do Campo pensada pelo MST é uma educação diferenciada e possui uma identidade do campo. A autora deixa claro que o agricultor só permanecerá no campo caso ele se reconhecer como classe e for criado nessa cultura respeitando e adquirindo proximidade com a terra e com a vida em comunidade.
3- CONCEPÇÃO DE PAULO FREIRE EM RELAÇÃO À EDUCAÇÃO DO CAMPO
O professor Paulo Freire teve uma participação significativa nos primeiros passos para pensar e fazer uma Educação do Campo voltada ao sujeito do campo. Segundo Caldart (2000) Paulo Freire é considerado o pedagogo que abriu o caminho para o diálogo entre educação e Movimentos Sociais, elaborou reflexões em torno do processo de construção e produção do sujeito, sua potencialidade educativa quanto oprimido e o esforço e luta para deixar de sê-lo.
Uma das contribuições de Paulo Freire nesse processo de construção do sujeito foram às turmas de alfabetização que surgiram a partir de sua vivência nas comunidades e reflexões sobre como pensar uma educação pertencente do campo. Ele começa esse processo de alfabetização dos camponeses sempre partindo de um Tema Gerador, no qual eles aprendem a escrever a ler o que faz parte da sua realidade, da sua vivência. Portanto, se aprendia e se debatia o que era realmente importante e necessário para a comunidade. “Trabalhar com o Tema Gerador é permitir que um núcleo de contradições, problemas ou necessidades vivenciadas pela comunidade façam parte do debate da escola”. (GHEDINI&ONÇAY, 2010, p, 36).
Arroyo (2012) afirma que a Pedagogia do Oprimido surge em meio às organizações populares do final dos anos 50 se propagando nos anos 60, a partir da aproximação de Paulo Freire com os Movimentos Sociais. 
 A pedagogia do oprimido que, no fundo, é a pedagogia dos homens empenhando-se na luta por sua libertação, tem suas raízes aí. E tem que ter nos próprios oprimidos, que se saibam ou comecem criticamente, a saber-se oprimidos, um dos seus sujeitos. (FREIRE, 2011, p, 55-56).
A Pedagogia do Oprimido elaborada por Paulo Freire (2011), juntamente com os Movimentos Sociais, não fica apenas restrita a um olhar educacional teórico, mas vai ao encontro da situação de vida desses sujeitos oprimidos, aproximando-se do seu contexto histórico e político. Contudo, para que a Pedagogia do Oprimido se torne práxis na vida desses sujeitos é necessário que esses entendam criticamente que eles são oprimidos, para que possa fomentar no oprimido o estado de luta. 
[...] Pedagogia do Oprimido: aquela que tem de ser forjada com ele e não para ele, enquanto homens ou povos, na luta incessante de recuperação de sua humanidade. Pedagogia que faça da opressão e de suas causas objeto da reflexão dos oprimidos, de que resultará o seu engajamento necessário na luta por sua libertação, em que esta pedagogia se fará e refará. (FREIRE, 2011, p. 43).
	Uma pedagogia do Oprimido torna-se também Libertadora, conseguindo se refazer a cada nova luta a cada novo desafio de libertação. E, é por ter esse viés de luta e, principalmente, libertador, que essa pedagogia tem sido usada como norteadora da Educação do Campo. Tendo desde o seu pensar uma ligação com essa educação que não apenas fique dentro da escola, mas que possa beneficiar todos da comunidade. Pensar uma escola desvinculada da visão do sistema econômico vigente, construída com os trabalhadores do campo, pensada de forma humanizadora. 
Como Afirma Arroyo, (2011) A Pedagogia do Oprimido teve sua origem na organização dos trabalhadores do campo nas chamadas Ligas Camponesas, nos sindicatos, por isso tem esse olhar de valorização da terra, valorização do campo, e principalmente valorização dos sujeitos que vivem no/do campo.
[...] Freire aponta para a educação libertadora, capaz de romper com os conteúdos doutrinários, ideologizados e remete à aprendizagem de conhecimentos comprometidos com a formação emancipatória dos sujeitos envolvidos. (MOLINA 2014, p. 91-92).
Como citado anteriormente não existe educação neutra, pois ela por si defende alguma ideologia, o que normalmente está diretamente ligada ao sistema econômico predominante. Todavia, é preciso haver uma escola desligada das ideologias capitalistas, direcionada a pensar e defender o trabalhador do campo, entendido nesse contexto como oprimido. 
A partir dessa compreensão a educação deve ser libertadora. Nesse sentido, Molina (2014) afirma que a relação escola comunidade é onde pode germinar uma experiência capaz de provocar um processo humanizador, democrático e participativo, no qual os sujeitos passem a refletir sobre as condições da sociedade, possam se emancipar e projetar uma nova forma de fazer política, se tornando sujeitos interventores.
A escola do campo passa a ser entendida como uma das instancias de organização dos sujeitos, de construção permanente de consciências críticas, propositivas e revolucionárias. (MOLINA, 2014, p. 94).
A Escola do Campo propõe esses espaços de organização, de debates e de propostas, pensando nas melhorias de vida das pessoas que vivem na comunidade. Nesse sentido que a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire (2011) contribui na formação de uma educação “verdadeiramente do campo”.
[...] pensar o trabalho da escola do campo a partir da Pedagogia do Oprimido implica criar as circunstâncias para que a escola esteja organicamente vinculada à sociedade, ao seu tempo, aos seus problemas, a sua história, ao seu povo, ao projeto de transformação. Requer ainda, que a escola desenvolva uma prática político-pedagógica libertadora, que possibilite a autonomia dos sujeitos, sua inserção crítica na sociedade. (SCHWENDLER, 2010, p.285).
	
A Pedagogia do Oprimido tem sido o espelho de muitas escolas do campo, e como podemos perceber na citação acima, tornar-se realmente uma Escola do Campo na concepção de Paulo Freire não é um processo fácil, mas sim uma luta diária dos Movimentos Sociais, os quais muito já avançaram, porém possuem também muito a crescer na consolidação de uma Educação do Campo.
4- CONCLUSÃO
No presente artigo buscamos explicar os desdobramentos e desafios da Educação do Campo, marcado por ser um processo em constante movimento e não algo acabado, porém as conquistas acontecem desde que as pessoas estejam em estado de luta. 
A Educação do Campo vem se contrapor a ideia de uma Escola Rural que apenas reproduz o individualismo capitalista busca uma Escola voltada a Comunidade e, principalmente que seja uma escola dos alunos e da Comunidade na qual todos sejam participantes ativos na formação do sujeito crítico. 
Ao final desse estudo reconhecemos que muitos desafios ainda existem. Em sua maioria as Escolas do Campo possuidoras de acompanhamento dos Movimentos Sociais realmente tiveram um processo de luta pela educação e costumam seguir o princípio da Educação do Campo. Todavia as Escolas que não partem desse estado de luta em sua maioria acabam por reproduzir o ensino convencional.
5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
ANTONIO, Clésio A. (org.). Educação no Campo, formação continuada e Práticas curriculares em construção. Francisco Beltrão: Unioeste, 2010.
ALVES, Gilberto Luiz (org.). Educação no Campo: Recortes no tempo e no espaço. Campinas, SP. AutoresAssociados, 2009 – (Coleção Contemporânea). 
CALDART, Roseli Salete. Por Uma Educação do Campo: traços de uma identidade em construção. In: Por Uma Educação do Campo: Identidade e Políticas Públicas. Caderno 4. Brasília: Articulação Nacional Por Uma Educação do Campo, 2002.
CALDART, Roseli Salete (org.). Por uma Educação do Campo. In: Primeira Conferência Nacional “Por uma Educação Básica do Campo”. Petrópolis, RJ, Vozes, 2004. 
______. Educação do campo: notas para uma análise de percurso. Trab. educ. saúde, Rio de Janeiro 2009.
______. Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro, São Paulo, Expressão Popular, 2012.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.
GHEDINI, Cecília Maria. Onçay, Solange Todero Von. Curso de Nível Médio teorias e práticas integrando o currículo. Francisco Beltrão-PR, Unioeste, 2010.
MOLINA, Monica Castagna (org.). Licenciaturas em Educação do Campo e o ensino de Ciências Naturais: desafios à promoção do trabalho docente interdisciplinar. Brasília: MDA, 2014.
PARANÁ. Secretária de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação do Campo. Curitiba: SEED, 2006.
SCHWENDLER, Sônia Fátima. Educação e Movimentos sociais: uma reflexão a partir da pedagogia do oprimido. Curitiba, Ed. UFPR, 2010.

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