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/ erapia Comportamental e
Cognitivo-comportamental
Práticas uínicas
Organizadores
Cristiano Nabuco de Abreu
Psicólogo, Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP) - Doutor em Psicologia Clínica pela Universidade do Minho (UM),
Portugal - Coordenador da Equipe de Psicologia do Ambulatório de Bulimia e
Transtornos Alimentares (AMBULIM) do Instituto de Psiquiatria do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo —
Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo (NPCSP).
Hélio José Guiihardi
Psicólogo, Mestre em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo
(U SP) - Professor Colaborador do Departamento de Psicologia da Universidade
Federal de São Carlos (IJFSCar) e Professor Convidado das Faculdades Salesianas
de Vitória (ES) - Instituto de Análise de Comportamento (IAC) e Instituto de
Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR) de Campinas (SP).
ROCA
Copyright © 2004 da I a Edição pela Editora Roca Lida.
ISBN: 85-7241-526-2
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“retrievaT ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, seja este
eletrônico, mecânico, de fotocópia, de gravação, ou outros, sem prévia autoriza
ção escrita da Editora.
5
Capa (Jardins de Monet, em Giverny, França)
Hélio José Guilhardi
Quarta-capa (Jardins de Monet, em Giverny, França)
Cíntia Guilhardi
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
M251
Terapia comportamental e cogniti vo-comporrarnental — Prá
ticas clínicas
/ organizadores Cristiano Xabuco de Abreu, Hélio José
Guilhardi. — Sào Paulo : Roca. 200-1
Inclui bibliografia
ISBN 85-~24l-526-2
1. Terapia cognitiva. 2. Terapia do comportamento. 3-
Cognição. -4. Comportamento humano. 5. Psicoterapia. 6. Psi
cologia clínica. L Abreu. Cristiano Xabuco de. II. Guilhardi.
Hélio José.
04-1066. CDD 616.8914
CDU 615.851
2004
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EDITORA ROCA LTDA.
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CEP 01221-020 - São Paulo - SP
TeL: (11) 3331-4478— Fax: (11) 3331-8653
E-mail: vendas@editoraroca.com.br - www. editor ar oca. com .br
Impresso no Brasil
Agradeço às colegas Noreen Campbell de Aguirre
e Maria Eloisa Bonavita Soares pelo
trabalho realizado na elaboração da
Parte I - Terapia Comportamental.
H élio José G uilhardi
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Prefácio
Quando Watson, em 1913, lançou seu manifesto beha
viorista, provavelmente não tinha idéia que seu movimen
to e sua proposta para a Psicologia, como ciência natural,
fosse florescer tanto quanto aconteceu.
De fato, depois de muitos experimentos realizados por
ele e por seus orientandos, o movimento behaviorista se
subdividiu muito e hoje temos um grande número de pro
postas de entendimento e de trabalho percebendo o com
portamento como matéria de estudo.
Particularmente, a área de aplicação genericamente
denominada de Terapia Comportamental e Cognitiva, de
senvolve muito conhecimento, tendo sua história contada
por vários autores. A versão mais comum dela é que a Tera
pia Comportamental e Cognitiva originou-se no movimento
filosófico denominado “neobehaviorismo”. Por essa
razão, autores como Watson (apontado como o fundador do
movimento behaviorista), Tolman e Hull (iniciadores
do behaviorismo mediacional) e Skinner (proponente do
behaviorismo radical) são considerados os precursores
de toda e qualquer terapia que possua o adjetivo “compor
tamental” em seu nome (Costa, 2002),
Com o tempo, parte da vertente cognitivista da Terapia
Comportamental também passou a se interessar pela com
preensão da construção de significados pelos indivíduos,
debruçando -se sobre o estudo dos esquemas emocionais
que orientaram essa construção (Abreu e Roso, 2003), for
mando assim, a vertente cognitivo-construtivista da tera
pia. Das estruturalistas às funcionalistas, das mecanicistas
às contextualistas, das dualistas às monistas, uma gama de
terapias comportamentais pode ser encontrada na litera
tura (Dougher e Hayes, 1999).
Obviamente, as várias vertentes foram criando técnicas
para lidar com as queixas e problemas humanos. Especial
mente em terapias -e/ou de terapias - do comportamento
roram encontrados vinte e oito termos de referência à Terapia Comportamental
na literatura produzida no Brasil entre 1970 e 2001 (Nolasco, 2001). Esse dado
mostra a multiplicidade e a riqueza da produção da área e, decorrente disso, as
diversas formas de abordagem do comportamento.
tste livro é um reflexo desse trabalho múltiplo. Seu propósito é organizar cia*
ramente as técnicas disponíveis para a árdua e imensa tarefa de diminuir o sofri
mento humano. Os esforços conjuntos de Cristiano Nabuco de Abreu e Hélio José
Guilhardi foram coroados de êxito. Este Manual Prático de Técnicas em Terapia
comportamental, Cognitivo-comportamental e Cognitivo-construtivista organi
za, o elenco atualizado de técnicas de forma simples e objetiva, sem perder de vis
ta a seriedade e a pro tundid ade das origens e dos pressupostos de cada uma delas.
Os artigos foram escritos por experts das terapias analítico-comportamental,
cognitivo-comportamentai, cognitivo-construtivista. Neles, pode-se encontrar a
tradição da abordagem científica do comportamento, cada qual contribuindo e
discutindo para que as aplicações necessárias na clínica psicológica sejam bem
enfrentadas. Isso possibilita maior tranqüilidade para o especialista que passará a
ter uni arsenal de procedimentos clínicos para a capacitação do exercício de sua
atividade profissional.
No entanto, cabem aqui três alertas ao leitor mais desavisado. A multiplicidade
de técnicas também gera vasta compreensão do comportamento humano e das suas
determinações. Como foi apontado, a origem das técnicas oferece entendimento
bastante particular e diverso entre as várias abordagens do comportamento aqui
discutidas. A organização do livro que classifica as técnicas em Comportamentais,
Cognitivas e Cognitivo-construtivistas, demonstra essa diversidade. É uma classifi
cação cuidadosa, criteriosa e (re) conhecedora da multiplicidade.
Um segundo alerta deve ser feito: o objetivo deste livro não é comparar as
técnicas entre si. Não foi à toa que os organizadores, na sua Introdução, obser
vam “um fracasso generalizado na pesquisa para demonstrar, consistentemen
te, um enfoque soberano sobre os demais”. Isso aponta quão infrutíferas seriam
as comparações.
Por outro lado, este livro não prega um ecletismo teórico. Nesse ponto cabe o
terceiro alerta. Uma posição bastante parcimoniosa para o leitor seria revelar to
das as técnicas disponíveis. Cada uma delas pode ser útil em algum momento da
atuação do profissional de qualquer abordagem teórica, sem ferir o modelo subja
cente à sua forma de trabalho. Entretanto, sua análise, escolha e utilização devem
ser pautadas na tundamentação teórica da abordagem assumida pelos terapeutas.
O conhecimento das técnicas nunca substituirá a análise de cada profissional so
bre o caso atendido.
Feitos os três alertas, resta ao leitor inclinar-se sobre o estudo detalhado de
cada capítulo. Asseguro-lhe que sairá desse estudo como um terapeuta mais bem
formado, seguro e criativo em seus atendimentos.
Roberto A lves B anaco
Professor no Programa de Estudos Pós-graduados em.
Psicologia Experimental: Análise do Comportamento
Professor Titular do Departamento de Métodos e Técnicas em
Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
XE V * e.-ac a Comporta
mental e Cognitivo-comportamentai ~ Práticas Clínicas
t.7- ■■i - .'^ t - - ^ - :^ ^ j i ‘ jT V 7 rf “ . i -t-n “ .TJn-.-.Ii:.-,^ - r. ■ M : . ^ k . ^ , ^ 1- - .- ,^ -■ ji^T .- J ^ : i g £ 3 g Í .v^i w -. 1^ ( :M Í H ^ n a S l i t ^ í r ^ T Í J c ^ :d 4 ü irE t.T ry ■:,-*Wj P i ^ j : - i r- . :rH.n,r'=j.'7,J.cr - : i ^ W i f i d T i ^ - T a T - r _ - - t . ^ c S S í m w ; W . ' - V — '.-■‘■ t i t . L(a,$£56
Introdução
Nós temos presenciado, como clínicos, o esforço evi
dente de muitas escolas de terapia no sentido de auxiliar
seus clientes na buscar da tão desejada mudança psicoló
gica. Todavia, em muitos momentos, a realidade prática faz
certos limites tradicionais de nossa praxe serem severamente
revistos. Em função disso, tem. ocorrido um forte movimen
to de diferentes escolas da terapia para o desenvolvimento
de perspectivas mais integrativas. No entanto, existe o fra
casso generalizado na pesquisa para demonstrar, de ma
neira consistente, um enfoque soberano sobre os demais.
Felizmente, esse resultado encontra-se em sintonia com o
momento cultural atual, chamado de pós-modernidade,
que, dentre outras coisas, possui uma concepção relativista
da realidade, a qual rejeita, sadiamente, premissas dog
máticas a respeito de qualquer tipo de ideologia.
Com freqüência, vemos teóricos de determinadas es
colas se esquecendo desse momento histórico, ainda pro
clamando-se mais eficazes. Somos contrários a tal tipo de
preocupação: é impossível avaliar, comparativamente, pro
postas terapêuticas que diferem entre si quanto a pressu
postos conceituais, estratégias de ação clínica e critérios de
avaliação do progresso do cliente. Parece-nos mais saudá
vel cada escola, ou abordagem terapêutica, se avaliar a par
tir de seus próprios referenciais teóricos e práticos e, assim,
se rever. Cada proposta deve surgir de uma avaliação crítica
de seu próprio dinamismo das atuações prática e científica.
Todas as abordagens se desenvolvem e buscam sistemati
zar melhor os dados que obtêm dentro de um referencial
teórico coerente e, parcimoniosamente, abrangente. Os
dados são mais importantes que os desejos e as teorias. A
teoria deve ser revista e ampliada para incorporar as evi
dências dos dados e esses nunca poderão ser distorcidos, a
fim de se preservar a teoria. As abordagens comportamen
tais e cognitivas são praticadas por teóricos, pesquisadores
XVI ■ Terapia Comportamental e Cognitivo-comportamental - Práticas Clinicas
e clínicos que compartilham dessa postura e, como resultado, pode-se dizer que
as Terapias Comportamental e Cognitivo-comportamental revelam transformações
graduais, sistemáticas que as tomam um empreendimento científico e terapêutico
em desenvolvimento. Defendemos esse dinamismo evolutivo. Queremos o entendi
mento mais preciso de cada tradição e de sua contribuição à Psicologia por inteiro.
Neste livro não pretendemos apresentar preceitos verdadeiros dessa ou da
quela teoria, evitamos, ao máximo, qualquer postura dogmática de oposição ou
d i comparação. Simplesmente, temos o objetivo de ampliar o entendimento de
vauas» técnicas da t radição comportamental e cognitiva e, assim, fornecer deta-
es minuciosos para que nossas história e prática sejam mais bem compreendi
as. s capítulos seguintes resultam do trabalho de vários profissionais na
descrição de suas práticas clínicas. Esperamos que este resultado possa ser, de
alguma maneira, fecundo.
C ristiano N abuco de A breu
H élio José G uilhardi
t:- K«rt f f Hj >LtrG i? !W P Yi-i“ : S!*iiHEY:'.i‘JrI>iMiJni itta H-.^ïr'j^.^.liTifVi'M rape 's : H P£RB^f^3#&74&^tjr£ft =(■ Jfh± lïlii^ ÔjTtf■3f»iF lATatCiASi^f?.^ -ü u *= ^ 7 ï^ tc iiY tIl^ ^ h ^ ,^ > iii^^7 .b ttr '-l^ iÈ ll=tll=i~^ 1,iï-3ïiJiiiét1'ÎWÇtïr’J:-arr- S?tcíil^.=ii!AiH ijta t^ im M ^ p f*m 3 n r= ^ ifa'^m'i'rSt'PÏJi iTTT>ewip.ta ,^tJ=1.-S=>i,=>:'! L- n iitaAíiTili™ituí=iivrjHi7i w î& r t f f i^ ÿ w
/>índice
Pa rte I
Terapia Comportamental...................... 1
C apítu lo 1
Terapia por Contingências de
Reforça mento........................
H élio J o sé G uilhardi
3
C apítu lo 2
Reforçamento Positivo: Princípio,
Aplicação e Efeitos Desejáveis............................ 41
M a r ia B eatriz B a rbo sa P inho M a d i
C a pítu lo 3
Reforçamento Negativo na Prática Clínica:
Aplicações e Implicações...................................... 55
M a ly D elitti
Cá ss ia R oberta da C unha Th o m a z
C a pítu lo 4
Punição Positiva............................................................ 61
R oberto A lves Ba n ac o
C apítu lo 5
Punição Negativa......................................................... 72
Patric ia P iazzon Q ueiroz
C apítu lo 6
Imitação............................................................................ 102
Priscila R . D erd yk
S ilvia S . G ro berm an
XVIII ■ Terapia Comportamental e Cognitivo-comportamentaI - Práticas C/7nicas
C apítu lo 7
Esvanecimento
L ilian M ed eiro s
C apítu lo 8
Modelagem......................
J a íd e A parecida G o m es R eg ra
.... 121
C apítu lo 9
Extinção e Terapia................................................................................................ 144
Fá t im a C ristina d e S ouza C onte
J o celain e M artin s da S ilveira
C apítu lo 10
Instruções e Auto-instruções: Contribuições da Pesquisa Básica...... 152
JOSELE A bREU-RoDRIGUES
E lisa Ta v a res S a n a bio -H ec k
C a pítu lo 11
Dessensibilização Sistemática ao Vivo.......................................................... 169
D enis R o berto Z a m ig n a n i
C a pítu lo 12
Dessensibilização Sistemática por Imagens................................................ 177
M á rc ia da R . P itta F erraz
C apítu lo 13
Condicionamento Respondente: Algumas Implicações
para o Desenvolvimento de Tolerância,
Síndrome de Abstinência e Overdose...................................................... 186
M arcelo F rota B envenuti
C apítulo 14
Manejo de Comportamentos Clinicamente Relevantes........................ 194
M a r ia Z ila h da S ilva B ran dão
J o celain e M artin s da S ilveira
C apítu lo 15
Ensaio Comportamental.................................................................................... 205
Vera R egina L ig n elu O tero
C a p ít u lo 16
Emparelhamento com Modelo
J úlio C. de R o se
215
índice ■ XiX
C apítu lo 17
Reversão de Hábito.............................................................................................. 226
L u c M a rc e l A dhem ar Vandenberghe
C a pítu lo 18
Encadeamento de Trás para Frente................................................................231
M a ria M a rth a C osta Hübner
C a pítu lo 19
Técnica Implosiva................................................................................................. 234
R egina C hristina W ielen skaí
C apítu lo 2 0
f
Princípio de Premack...........................................................................................238
La ér o a A breu Vasco n celo s
L incoln da S ilva G im en es
C apítu lo 21
Economia de Fichas............................................................................................. 251
L u c M a rc e l A dhem ar Vandenberghe
C a pítu lo 2 2
Autocontrole: Pesquisa e Aplicação.............................................................. 259
JOSELE A bREU-RoDRIGUES
M a rc e lo Em ílio B e ck e rt
Parte II
Terapia Cognitivo-comportamental.................................275
C a pítu lo 2 3
Introdução às Terapias Cognitivas..................................................................277
C ristia n o N abuco de A b reu
C a pítu lo 2 4
Conceituação Cognitiva.................................................................................... 286
B ernard Ra n g é
C apítulo 25
Rotulação das Distorções Cognitivas
M a r ia C ristina Triguero V elo z T eixeira
300
XX ■ Terapia Comportamental e Cognitivo-comportamental - Práticas Clínicas
C apítu lo 2 6
Diálogo Socrático..................................................................................................311
M a r ia Cristin a O . S . M iya za k i
C a pítu lo 2 7
Flecha Descendente..............................................................................................320
EROY A parecida da S ilva
C a pítu lo 2 8
Questionando Rótulos, Atribuições e Significados..................................330
Helene Sh inohara
C apítu lo 2 9
Descatastrofização................................................................................................336
M a riâ n g e la G en til Savoia
C apítu lo 3 0
Treino de Resolução de Problemas.................................................................344
L/liana Seg er Ja co b
C apítu lo 31
Paradoxo.................................................................................................................. 352
D ébora P a sto re B a ss itt
C apítu lo 3 2
Imaginação Dirigida..............................................................................................365
E lian e d e O . Falco n e
C apítu lo 3 3 •
Questionando Crenças Irracionais..................................................................371
Ir ism a r R eis d e O liveira
M elan ie O g u ari Pereira
C apítu lo 3 4
Técnica da Cadeira Vazia....................................................................................383
R aphael Ca n g elu F ilho
índice * XX!
C a pítu lo 3 6
Agenda..................................................................................................................... 398
M a r ia d e Fá t im a G a spa r Va sq u es
C a pítu lo 3 7
Treinamento em Auto-instruções...................................................................405
S érg io L uiz E . S a n to s
M a rc o A ntônio S . A lvaren ga
¥
C a pítu lo 3 8
Entrevista Motivacional..........................................................................................414
R oberta Pa y á
N elian a B uzi F ig lie
Parte III
Terapia Cognitivo-construtivista....................................... 435
C apítulo 3 9
Introdução às Terapias Construtivistas........................................................ 437
H enrique A lvaren ga da S ilva
Ca rlo s E duardo R eche
C a pítu lo 4 0
Técnica da Escada................................................................................................ 442
M ireia C . R o so
C apítu lo 41
Técnica do Espelho.............................................................................................. 449
Leon ardo R Fraim an
C apítu lo 4 2
Técnica da Moviola: Método de Auto-observação
no Construtivismo Pós-racionalista............................................................. 459
A ugusto Z a g m u t t Cah bar
índice Remissivo......................................................................................................475
Parte
L T O S » ' • ' '■■■■ - r - r J :-v.- - ;•= ■-* L - ï - ' . ~ r^ .v . ,14 n .IV rJ . ;Í1 - - - . T H . - J i - -H LL1- - S j ; j TJ,-. ,- v, j ,-.-. - ■.- --J^ r-V .v . : r-.Ti L i - i T - - : t í j & ■ l - ^ t . - , & ^ : T l. - ^ £ . _ - j . - . - , . , . . . . , J - , . £ ÿ ^ ^ ■ - , . - ^ ^ ^ - - . . , rj . : L t : : z ^ - : T. j Jd I □ : - - j= . r^ - : - J.-.J - : - =- : - \ - - - V r . - ( = t :
Terapia Comportamental
C A P Í T U L O
Terapia por Contingências
de Reforçamento
, H é lio J osé G u ilh a rd i1
'i
i
f
\ A Terapia Comportamental é um processo que en
} volve a aplicação de procedimentos ou técnicas com-
j portamentais específicos, utilizados com o objetivo de
| alterar exemplos particulares dos com portam entos
{ da queixa apresentada pelo cliente ou por pessoas rele-
j vantes do ambiente social em que ele está inserido,
j Envolve, sim, tal prática, mas não se limita a ela. Essa
\ advertência inicial é necessária para que o leitor dos ca-
j pítulos que se seguem não se sinta atraído pela noção
I de que cada técnica descrita é um exemplo de Terapia
; Comportamental ou uma maneira de lidar com uma
{ queixa. Certas perguntas, freqüentemente formuladas
j pelos estudantes e profissionais principiantes: “Você
j pode sugerir um texto que me ensine a tratar um caso
j de depressão?” ou “O que eu tenho que fazer para tra-
; tar uma fobia?” são inapropriadas e parecem buscar
j respostas que, aparentemente, estariam nos capítulos
{ sobre as técnicas. A impropriedade de tais questões
j deve ficar plenamente esclarecida até o final do pre-
i sente capítulo.
1 Terapia por Contingências de Reforçamento - Instituto de Análise de
Comportamento e Instituto de Terapia por Contingências de Refor
çamento (Campinas/SP).
4 ■ Terapia Comportamental
Ferster (1972)2 argumentou que os problemas comportamentais detectados
no cliente que busca a terapia são muito mais abrangentes que a queixa específica
e restrita trazida por ele:
“O desconforto que traz o paciente para a terapia vem, predom inantem en
te, de comportamentos não verbais. Em outras palavras, ele perm anece em
casa em vez de ir ao trabalho ou ele não fa la com as pessoas quando as vê.
Isso sugere que a efetividade e a adequacidade geral do repertório operante
do paciente são uma dimensão mais importante de seu problem a, do que
fob ias ou medos específicos” (pág. 4).
Ferster destacou que o terapeuta deve lidar com o repertório geral de com
portamentos do cliente - tal é a ênfase relevante e fundamental - e não atentar,
prioritariamente, para a queixa específica apresentada por ele. Respondeu, de
certa maneira, a uma crítica que, com certa insistência, se tem feito à Terapia
Comportamental: ela está voltada apenas para problemas isolados, como fobia,
gagueira, birra etc. Uma observação clínica freqüente revela que pessoas quei
xosas de “fobias de elevador”, raramente tiveram qualquer experiência desagra
dável ou ameaçadora com elevadores; por outro lado, muitas outras que tiveram
alguma ocorrência desse tipo, não apresentam nenhuma reação “fóbica” com
elevadores. A resposta para as diferentes reações deve ser buscada no reper
tório global de comportamentos de umas e de outras. O terapeuta, antes de
propor qualquer ação terapêutica, deve ficar sob controle dos excessosy dos
déficits e das reservas com portam entais do cliente, não sob controle exclusivo
da queixa. Ferster (1972) prosseguiu:
“f/m repertório operante, fortem ente reforçado positivamente, tem mais
chances de incluir com portam entos que podem term inar os estímulos
aversivos do que comportamentos que podem vir a ser perturbados por eles.
Inversamente, é difícil imaginar como a dessensibilização de uma classe par
ticular de desempenhos poderia trazer muitos benefícios num repertório cuja
freqüência geral de comportamentos é baixa , por exemplo, e que não detec
ta características importantes dos am bientes reforçadores que estão poten
cialmente disponíveis... Há um extremo em que o repertório geral é muito
lim itado e um outro extremo no qual a fob ia é de importância trivial no
contexto do repertório total do paciente. Assim, com portam ental e clinica
mente, uma fob ia não é tanto uma form a de comportamento, mas mais
propriam ente uma mudança numa parte substancial do repertório total da
pessoa” (págs. 4-5).
2 As citações freqüentes e extensas de B. F. Skinner e de seus seguidores têm dupla finalidade: familia
rizar os não iniciados com os textos originais; mostrar, de maneira abrangente, o potencial dos
escritos de tais autores para a atuação em áreas distintas como clínica, educação e planejamento
da sociedade. Agradeço
as psicólogas Lilian Medeiros, Maria Eloisa Bonavita Soares, Maria Rita J.
Martini Del Guerra, Noreen Campbell de Aguirre, Patrícia Piazzon Queiroz e Tatiana Lussari pelas
criteriosas sugestões durante a elaboração do capítulo.
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 5
Considere como exemplo uma pessoa com repertório social limitado, ou seja, para
quem a presença do outro funciona como estímulo pré-aversivo (“Dele podem vir
críticas, reprovações etc., em relação aos meus comportamentos... e isso tudo me faz
muito mal”). Ela apresenta baixa freqüência de comportamentos de falar com pes
soas, não defende as próprias opiniões com argumentos claros e insistentes, tem
dificuldades para discordar do outro e assim por diante. O repertório geral de fuga-
esquiva de contingências coercitivas sociais e de acesso a reforçadores positivos
sociais que a pessoa apresenta são, enfim, restritos e deficientes. Acrescente-se, ainda
mais, que o desempenho profissional dela é também limitado: cumpre as tarefas
de trabalho com dificuldades, possui poucas iniciativas e não consegue hierarquizar
as obrigações mais urgentes que lhe são solicitadas. Na primeira sessão, a cliente rela
tou que estava procurando ajuda terapêutica por causa de “fobia de elevador" (o
terapeuta depois constatou que o elevador dá a ela acesso ao escritório em que traba
lha), porque tem tido crescentes dificuldades para sair de casa: “O simples fato de en
trar no carro me causa tamanha ansiedade que, às vezes, sinto meus braços
amortecidos e tenho dificuldades para mudar as marchas... Acho que vou parar de
dirigir”; e relatou, ainda, que nenhum ansiolítico ou antidepressivo funcionava. Fica
iaro que, embora a cliente se queixe de problemas específicos (fobias e ansiedade),1
I
exi
L-i.
aoe ao terapeuta ampliar o alcance da investigação, abrangendo o repertório mais
enso de comportamentos da cliente, bem como as relações desse repertório com
os eventos reforçadores e punitivos disponíveis no ambiente. O exemplo é didático
para ilustrar que a investigação e a intervenção do terapeuta devem voltar-se para as
ificuldades sociais e profissionais (e, possivelmente, outras a serem detectadas). Qual-
iuer técnica, voltada de início para as fobias, resultará em fracasso e não trará benefí
cio para as dificuldades significativas e fundamentais da cliente. Os comportamentos
íobicos e os estados corporais associados (ansiedade) compõem um repertório de
fuga-esquiva das contingências presentes nos contextos social e profissional por falta
de repertório adequado p a ia lidar com essas relações. Se não houver uma intervenção
terapêutica bem-sucedida, é muito provável que os comportamentos de fuga-esqui
va se fortaleçam e se ampliem (a cliente irá se tornar mais fóbica e, portanto, se sen
tindo e se declarando “cada vez pior”), até o ponto de ela evitar o contato com os
componentes aversivos do ambiente fora de casa: não porque a cliente os removeu
ou aprendeu a lidar com eles, mas porque se afastou da situação (pede demissão,
deixa de sair de casa, pára de dirigir etc.). Ao se livrar daquelas conseqüências aversivas,
ela acabará entrando em contato com outras conseqüências aversivas. A ênfase do
terapeuta precisa voltar-se à ampliação dos repertórios deficitários e não aos com
portamentos de fuga-esquiva que ela vem apresentando. Ferster (1972) continuou:
“A habilidade do paciente para reagir, sensível e diferencialmente, ao seu
próprio comportamento pode prover uma importante ponte com seu am
biente natural A pessoa que pode reagii; diferencial e especificamente, àquela
parte do seu ambiente natural que a perturba está um passo adiante para
atuar sobre ele e livrar-se da disrupção” (pág. 5).
A pessoa pode ficar sob controle do próprio comportamento e dos estados
r orporais, sem atentar para os aspectos do ambiente externo a ela, que produzem
6 * Terapia Comportamental
esses comportamentos e estados. Dessa maneira, freqüência aumentada de
batimentos cardíacos, dores na nuca, zumbido no ouvido, sensação de “estra
nheza” no corpo etc., podem controlar a pessoa e funcionar como estímulos
discriminativos para verbalizações do tipo: “Vou ter um ataque cardíaco”; “Vou
ter um derrame”; “Devo ter um tumor”...; e também para comportamentos de ir
ao médico, medir pressão, entre outros, de forma exagerada. Por outro lado, “Não
consigo fazer nada; só quero dormir”; “Estou com meu trabalho acumulado e sem
ânimo para enfrentá-lo”; “Não tenho vontade de sair com meus amigos” são
verbalizações sob controle da baixa freqüência de comportamentos que, prova
velmente, foram mais fortes no passado. Invariavelmente, seguem-se explicações:
“Devo estar deprimido”; “Estou estressado”; “Perdi a motivação”; etc. No exemplo
citado, a cliente fica sob controle de comportamentos e estados corporais e atri
bui à “fobia” a explicação do que está ocorrendo com ela. Em todas as situações
apontadas, a pessoa não relaciona os estados corporais com a atuação de contin
gências coercitivas, as quais produzem comportamentos operantes de fuga-es-
quiva e, ao mesmo tempo, eliciam reações respondentes. Os respondentes são
sentidos e priorizados (exercem mais controle) e, para a pessoa, tornam-se sinto
mas com função pré-aversiva, os quais anunciam desfechos aversivos (morte sú
bita, câncer etc.). Da mesma maneira, a freqüência reduzida dos operantes não é
causada por depressão nem por estresse, mas por contingências de reforçamento
com redução importante da quantidade e da qualidade dos reforçadores positi
vos, aumento exagerado na razão de respostas por reforço, introdução de contro
le aversivo ou outras ações. Quando a pessoa não fica sob o controle dos eventos
ambientais que compõem as variáveis controladoras das mudanças compor
tamentais e os estados corporais sentidos, o terapeuta terá que ensiná-la a identi
ficar e descrever as relações funcionais entre os comportamentos e as variáveis
ambientais que os determinam. Em seguida, deve capacitá-la para alterar as rela
ções na direção que lhe for mais apropriada. Na citação seguinte, Ferster (1972)
enfocou a relevância da interação ativa da pessoa com o ambiente, propondo o com
portamento discriminativo como pré-requisito para a atuação bem-sucedida:
“Comportamentalmente, um estímulo aversivo pode desmantelar um reper
tório inteiro ou pode aumentar a freqüência (por meio do reforçamento ne
gativo) de algum desempenho que o elim ine... Por outro lado, parece possível
que um repertório discriminativo (acurada percepção do ambiente funcio
nal) seja um pré-requisito necessário para ação efetiva. Sem controle diferen
cial pelos elementos aversivos do meio (sem notar elementos do ambiente), só
pode haver uma reação emocional difusa ou um afastamento da situação
total. A delicada interação com o ambiente total - evitando ou escapando de
elementos aversivos e, ao mesmo tempo, agindo sobre os elementos positivos -
há de requerer, certamente, um repertório discriminativo abrangente" (pág. 5).
O que foi dito sobre fobia representa um exemplo da análise a ser feita diante de
qualquer queixa específica trazida pelo cliente. Por isso, o processo terapêutico jamais
se restringe ao emprego de técnicas específicas para manejar problemas específicos.
Para se entender a natureza do processo da terapia, há necessidade de especificar
vários aspectos que caracterizam a Terapia Comportamental. Em primeiro lugar, é
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 7
importante salientar que não há unanimidade, mesmo entre os que se denominam
terapeutas comportamentais, quanto à definição de Terapia Comportamental,
quanto às práticas clínicas empregadas com o cliente, quanto ao referencial
conceituai adotado, quanto aos dados de pesquisa utilizados, quanto à metodologia
de pesquisa adotada, quanto ao objeto fundamental de estudo, isso somente
para
citar as divergências mais relevantes. Diante dessa realidade da prática clínica, pare
ce oportuno adotar um termo que substitua a denominação Terapia Comportamental
por outro, Terapia por Contingências de Reforçamento, que se espera seja mais des
critivo do envolvimento conceituai, experimental e aplicado dos terapeutas e me
nos envolto em equívocos e impropriedades. Saliente-se, porém, que mais do que
uma nova terminologia, a Terapia por Contingências é uma forma de compreender
e lidar com o comportamento humano, essencialmente comprometida com:
1. Arcabouço teórico-filosófico específico: o Behaviorismo Radical (Skinner,
1953, 1957, 1968, 1969,1971, 1974, 1978, 1987, 1989, 1999);
2. Ação metodológica para investigar e analisar os fenômenos comportamentais:
a ciência do comportamento (JEAB, 1958 e seguintes; JABA, 1968 e seguintes;
TAVB, 1984 e seguintes; Skinner, 1938; Keller e Schoenfeld, 1950; Ferster e
Skinner, 1957; Sidman, 1960; Ferster, CulbertsoneBoren, 1968; Catania, 1998);
3. Utilização de procedimentos de intervenção terapêutica “tecnologicamente”
descritos e “conceitualmente” sistemáticos (Baer, Wolf e Risley, 1968), deri
vados da ciência do comportamento;
4. Linguagem para descrever os fenômenos interacionais entre terapeuta (pes
quisador) e cliente (sujeito), alicerçada na proposta de análise do comporta
mento verbal de Skinner (1957).
A Terapia por Contingências abrange um conjunto de interações compor
tamentais que ocorrem em diferentes contextos, nos quais uma pessoa com a função
de agente de mudança comportamental (terapeuta), influencia os comportamen
tos de outra pessoa (cliente) que solicitou, da primeira, ajuda para alterar compor
tamentos e sentimentos aversivos e cuja mudança está incapacitada de fazer por si
mesma. As palavras de Skinner (1967/1953)3 esclarecem o que mobiliza a pessoa
para procurar terapia:
“Os subprodutos (ou produtos colaterais) do controle que incapacitam o
indivíduo ou são perigosos, seja para o indivíduo, seja para os outros, cons
tituem o cam po da psicoterapia” (pág. 204).
E também esclarecem a função última do terapeuta:
“A terapia consiste, não em levar o paciente a descobrir a solução para o seu
problema, mas em m udar o seu paciente, de tal modo, que seja capaz de
descobri-la” (pág. 216).
A primeira data refere-se ao texto consultado; a segunda, à publicação original.
Ter a p ia Co mp o rta mental
A Terapia por Contingências é diferenciada de outras propostas terapêuticas
pela maneira como o terapeuta atua (os procedimentos que utiliza) e pelo com
promisso conceituai e experimental que ele adota na sua prática. Duas frases de
Skinner (1999/1972a) parecem apropriadas para esclarecer o argumento:
“A concepção de comportamento humano que emerge de uma análise expe
rimental explica a característica ím par da m odificação de comportamento,
qual seja: ela é diretamente comprometida com tomada de decisão e controle.
Quando especificamos as metas... podemos ir diretamen te ao delineamento
das contingências relevantes. A análise experimental do comportamento é
mais que mensuração. Ela é mais que teste de hipóteses. Ela é um ataque
empírico sobre as variáveis manipuláveis das quais o comportamento é fu n
ção” (pág. 327).
“A teoria que acom panha uma análise experimental é especialmente útil
para justificar a, prática porque a m odificação de comportamento, freqüen
temente, significa uma am pla mudança na maneira pela qual lidamos com
pessoas. E am pla não apenas no objetivo (atuando em áreas tão diversas
como educação, psicoterapia., economia e governo), mas também em n
à própria natureza das pessoas, já que estados da mente, sentimentos e ou
tros atributos do hom em interior, que figuram em explicações tradicionais
do comportamento humano, são rejeitados em favor de circunstâncias an
tecedentes nas histórias genética e individual da pessoa. A história genética
está no momento além do controle, mas a história ambiental, passada e pre
sente, pode ser suplementada e mudada, isso é o que éfeito numa tecnologia
comportamental genuína. M odificação de comportamento é m odificação
de am biente, embora isso não seja am plam ente reconhecido” (pág. 326).
Todos os comportamentos emitidos pelo terapeuta estão sob o controle dos
seguintes conjuntos de determinantes:
1. Comportamentos verbais e não verbais emitidos pelo cliente e por pessoas
significativas do ambiente social dele;
2. Conjunto de procedimentos, metodologia de pesquisa, dados compor
tamentais e conceitos produzidos pela Ciência do Comportamento (Análise
Aplicada e Análise Experimental do Comportamento) e pelo Behaviorismo
Radical;
3. Repertório comportamental pessoal, profissional e científico do terapeuta
produzido pela sua história de contingências, enquanto pessoa e enquanto
profissional.
Ferster (1972) assim se referiu aos temas sistematizados nos três itens anteriores:
“Para alguns, a terapia... é um produto da interação (1) momento a m o
mento entre eles (terapeuta e cliente). Experiência passada, (3), experiência
transmitida por outros (3) e teoria (2) provêem uma estrutura que oferece à
terapia alguma direção, enquanto a qualidade experiencial (3) e o foco pri-
Terapia por Contingências de Reforça mento ■ 9
mário sobre o com portam ento (1) do paciente individual, constantemente,
adaptam e redirecionam a teoria (2) e a experiência passada (3) sobre as
quais o tratamento se fundam enta. A teoria (2) sugere o que deve ser procu
rado, mas quando ela deixa de ser útil, o terapeuta experiente (3) volta-se
para suas observações do comportamento (1) do paciente e para sua pró
pria experiência (3)... Ao prestar mais atenção às observações com por
tamentais (1) do que à teoria (2), a Análise do Comportamento (2) pode
descobrir tipos de conduta (2) que são objetivos úteis para procedimentos
de m odificação com portam ental (2 )”
“As mudanças no com portam ento (1) do paciente podem reforçar (2) o com
portam ento (1) do terapeuta, mesmo quando os procedimentos que ele está
usando são intuitivos (3)... O resultado (1) não é conhecido previamente
(2), cada atividade (2) é determ inada pelos resultados (1) da anterior e o
paciente ensina ao terapeuta o que é efetivo (2). As aproxim ações sucessivas
(2) - m odelagem - do comportamento (1) do terapeuta, geradas pelas mu
danças no comportamento (1) do paciente têm potencial para a Análise do
Comportamento (2) porque muitos desses fenôm enos (1,2) e procedim en
tos (2), ao que parece, não podem ser descobertos de nenhum a outra m a
neira (2). Independentemente de como os fenôm enos (1,2) e métodos (2) são
descobertos pela primeira vez, no entanto, eles podem se tornar objetivos (2)
e comunicáveis (2)}} (págs. 1 -2).4
A Terapia por Contingências se define por algumas características fundamen
tais e inalienáveis. Serão discutidas as mais relevantes (no presente capítulo, ape
nas três delas).
0 OBJETO DE ESTUDO E DE INTERESSE DO
TERAPEUTA É O COMPORTAMENTO HUMANO
Nesse aspecto, a Terapia por Contingências apresenta uma posição radical ao
se interessar, exclusivamente, por comportamentos. Para estudar o comportamento,
o terapeuta trabalha, de fato, com as contingências de reforçamento passíveis de
identificação e manejo. De acordo com Matos (1997):
“...o behaviorista radical não trabalha propriamente com o comportamento,
ele estuda e trabalha com contingências comportamentais, isto é, com o com
portar-se dentro de contextos" (pág. 46). E, um pouco m ais... “se tem dito,
meio ironicamente, que a prática do psicólogo operante se restringe à an áli
se do operante, isto é, de relações 'se... então...' De fato, se ‘com portam ento’
é uma categoria funcional de análise} se é um termo teórico, uma concep
ção do behaviorista radical, ‘contingência’ é a operação em pírica equiva
Esses números
são do autor do capítulo. Indicam os controles, apontados no parágrafo anterior,
sob os quais estão os comportamentos do terapeuta.
10 ■ Terapia Comportamental
lente usada pelo analista de comportamento. Acontece que, sendo o orga
nismo o loca l o ponto de confluência desses movimentos-e-efeitos, ele tam
bém é parte das contingências, e, assim, na verdade (se assumirmos o que se
tem dito acerca de nós), seria m elhor completarmos ‘a prática do analista de
comportamento é estudar contingências em seu efeito cumulativo sobre o
desempenho dos organismos’” (pág. 52).
A unidade de análise do analista de comportamento envolve, portanto, uma
situação antecedente (a relação entre a resposta e os estímulos que a antecedem
e que estavam presentes na ocasião em que ela foi conseqüenciada), a resposta e a
conseqüência (a relação entre a resposta e os estímulos produzidos por ela e que
a influenciam).
O comportamento é um conceito interacional: fala-se de comportamento
como a interação recíproca entre o organismo e o ambiente e, como tal, ele é um
conceito interacional inferido e não observado diretamente. Todo comportamento
operante é produto de um processo que implica a interação entre o indivíduo e
o ambiente. A partir de tal interação, am bos se modificam; até mesmo o am
biente da pessoa vai sendo construído. Para Skinner (1999/1953): “O comporta
mento de um organismo não é uma coisa fácil para ser descrita. Ele não é um
objeto que pode ser paralisado para inspeção. Comportamento é um processo,
uma mudança contínua” (pág. 101).
As ações observadas do organismo não são comportamento, pois falta a elas o
status de evento relacional, enquanto processo: “Watson, ao limitar o comporta
mento, como objeto de estudo da psicologia, ao observável como atividade do
organismo, eliminou a interação como processo e circunscreveu seu domínio
empírico ao dos movimentos. Assim, deu origem ao surgimento de duas formas
de dualismo epistêmico: o behaviorismo metafísico e o behaviorismo metodo
lógico” (Ribes, 1982, pág. 24). Somente após a demonstração das relações funcio
nais entre as ações e os contextos ambientais antecedentes e conseqüentes,
pode-se falar em comportamento (melhor seria falar em contingências de
reforçamento). Ribes (1982) escreveu:
Postulamos a existência de um nível psicológico no conhecimento científico
da realidade, independente, porém complementar, do biológico (e do social)
que se fundam enta em um duplo critério. Por um lado, a especificidade do
nível de organ ização dos eventos; por outro, a especificidade de sua
historicidade. Como resultado, o psicológico se dá em um nível organizacional
que inter-relaciona o biológico e o social, porém não se reduz a nenhum deles.
O comportamento como interação do organismo total com seu ambiente (fí
sico, biológico e/ou social) modificável (mutável) em e por transcurso de sua
história individual é o psicológico. Sua especificidade histórica o distingue do
biológico, que se plasm a na filogenia (história evolucionária da espécie; que
se contrapõe à ontogenia, que é desenvolvimento do indivíduo desde a fecun
dação até a idade adulta) e do social, constituído a partir do coletivo. O com
portamento não é movimento nem mudança interna isolada, é movimento e
m udança interna co-participantes de uma interação. O com portam ento
é interação" (pág. 23).
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 11
A visão do comportamento como interação faz justiça aos efeitos recíprocos
do ambiente e do organismo. O que caracteriza o comportamento operante é a
sensibilidade que possui aos efeitos que ele próprio produz no ambiente. Ele ori
gina alterações no ambiente e é modificado por essas mudanças. Segundo
Micheletto e Sério (1993):
“Aqui começa a se esboçar a noção de homem como relação. O homem constrói
o mundo a sua volta, agindo sobre ele e} ao fazê-lo, está tam bém se cons
truindo. Não se absolutiza nem o homem, nem o mundo; nenhum dos ele
mentos da relação tem autonomia. Supera-se, com isto, a concepção de que
os fenôm enos tenham uma existência por si mesmos e a noção de uma na
tureza, hum ana ou não, estática, já dada. A própria relação não é estática,
não supõe meras adições ou subtrações, não supõe uma causalidade m ecâ
nica. A cada relação obtém-se, como produto, um am biente e um hom em
diferentes. Dizer que, como produto desta relação, se tem um hom em dife
rente a cada nova relação significa que este homem, a cada relação, se altera
em sua totalidade” (pág. 14).
O instrumento de que o homem dispõe para alterar o próprio mundo e a si
mesmo, produzindo ou reorganizando contingências de reforçamento, é o seu
próprio comportamento operante. O instrumento que o terapeuta tem para alte
rar os comportamentos do cliente, produzindo ou reorganizando contingências
de reforçamento que afetarão o cliente, é o seu próprio comportamento. Com por
tamento é, portanto, nosso instrumento de poder. Poder para transformar; poder
para se transformar. Segundo Micheletto e Sério (1993):
“Skinner caracteriza o comportamento que com põe a relação operante como
aquele que produz conseqüências... A importância desta caracterização está
no termo produzir; ele indica que o comportamento é indispensável porque
ele é que produzirá aquilo que passará a fazer parte de seus determinantes.
Dito de outra maneira, a conseqüência depende do comportamento e o de
termina ” (pág. 13)... “É a característica de ‘produtor’que o com portam ento
tem, quando inserido numa relação operante, que permite a Skinner afir
mar: ‘O mundo em que nós vivemos é am plam ente uma criação das pes
soas'ou “O operante é essencialmente o exercício do poder: ele tem um efeito
sobre o am biente" ou “Os homens agem sobre o mundo, m odificam -no e,
por sua vez, são m odificados pelas conseqüências de sua ação” (pág. 14).
O terapeuta interessa-se também pelos sentimentos da pessoa. “Os terapeutas
preocupam-se tanto com o que as pessoas fazem, quanto com o que elas sentem”
Skinner, 1995,1989, pág. 103). “Uma reformulação behaviorista não ignora os sen
timentos; ela meramente muda a ênfase: do sentimento para aquilo que é senti
do. Uma pessoa responde ao mundo físico ao seu redor e, com um conjunto
: ertamente diferente de nervos, ao mundo não menos físico dentro da sua pele. O
jue ela sente é seu próprio corpo e entre as coisas que ela sente está seu próprio
:omportamento, enquanto ele foi afetado por suas conseqüências” (Skinner, 1999,
12 ■ Terapia Comportamental
1972b, pág. 330). A posição de Skinner sobre os sentimentos apresenta, pelo me
nos, dois importantes avanços em relação às concepções tradicionais, anteriores
a ele, sobre a natureza e a função dos sentimentos. Em primeiro lugar, sentimento
é um fenômeno físico, é manifestação do organismo. Rompe-se, assim, a concep
ção dualista que postula a dicotomia entre sentimento (de natureza mental) e com-
portamento-ação (de natureza corporal). Em segundo lugar, o sentimento deixa
de ser a causa dos comportamentos, aquele evento que antecede e produz as ações
humanas, e passa a ser entendido como um evento causado, colateral, simultâ
neo, indissociável do comportamento. De evento explicativo, passa a ser evento a
ser explicado; de variável independente, passa a ser variável dependente. E, um
pouco além, é melhor conceber o conjunto comportamento e sentimento como
um processo indissociável, produzido por e fazendo parte das contingências de
reforçamento. Skinner (1995,1989) assim se expressou:
“A posição behaviorista é: volte aos eventos am bientais antecedentes para
explicar o que alguém faz e, ao mesmo tempo, o que essa pessoa sente en
quanto faz alguma coisa. Para cada estado sentido e designado pelo nome
de um sentimento, presumivelmente existe um evento am biental anterior do
qual esse estado é produto. A Terapia Comportamental
se interessa mais
pelo evento antecedente do que pelo sentimento” (pág. 103).
Uma evidência experimental (existem inúmeras) de que nem os sentimentos
nem as emoções são causas do comportamento foi oferecida por Azrin (1959) num
estudo realizado com pombos. O comportamento de bicar do sujeito experimen
tal era mantido num esquema FR (cada pombo, tinha um valor próprio da razão
que variou de 10 a 50), mantido por reforçamento positivo. Após o desempenho
no esquema FR mostrar estabilidade, o procedimento envolveu uma contingên
cia de punição em que cada resposta de bicar era seguida por um choque elétrico
cuja intensidade foi introduzida de forma crescente desde 1 até 120 volts. A mu
dança de uma intensidade para a seguinte (mais intensa) dependia do desempe
nho do pombo: a intensidade da punição era mantida até que o padrão e o número
total de respostas não mostrassem qualquer tendência discernível por sessões su
cessivas. Segue-se a descrição que o autor fez da observação de um pombo man
tido em FR 25 durante punição severa (convém lembrar que o sujeito recebia 25
choques e um reforço na condição experimental):
“A observação visual direta dos sujeitos na presente investigação revela uma
visão bastante dram ática durante punição severa (80,100 e 120 volts). Im e
diatam ente após o reforçamento, o pom bo usualmente se afasta com pleta
mente da área do disco de resposta. Quando o sujeito finalm ente retorna
até o disco e executa a prim eira resposta, a punição produz agitação e movi
mentos frenéticos e violentos das asas. A violência da reação física a esta
prim eira punição dá a impressão que nenhuma outra resposta voltará a ser
em itida por algum tempo. No entanto, o sujeito executa as 24 respostas res
tantes numa sucessão extremamente rápida, mesmo quando o efeito físico
Terapia por Contingências de Reforçamento * 13
da punição parece tornar difícil a manutenção de uma postura ereta, ou até
de se manter respondendo” (pág. 304).
O resultado do experimento e as conclusões foram sumarizados assim:
“O efeito da punição no desem penho em razão fixa é aum entar a duração
das pausas após reforçamento. Não ocorre redução na taxa local (observa
ção do autor do capítulo: taxa local é definida pela relação entre número de
respostas em itidas por unidade de tempo, determ inada para um período
curto, particularmente quando ela é relativamente constante durante aquele
tempo) de respostas, quase independente da severidade da punição. Qual
quer redução no número total de respostas é, portanto, atribuída a um
aum ento nas pausas e não a qualquer decréscimo na taxa de respostas que
vem prevalecendo.
Esta redução de respostas é m aior no momento da introdução inicial ou no
aumento da punição. Ocorre uma recuperação progressiva após exposição
continuada, a qu a l virtualmente, se com pleta nas intensidades m oderadas
de punição que tinham, inicialmente, reduzido m arcadam ente as respos
tas... Com intensidades mais altas, quase intoleráveis fisiologicamente, a
recuperação do efeito inicial da punição é apenas parcial” (págs. 304-305).
Os resultados desse experimento mostraram, de maneira inconteste, que o
sujeito experimental ficou sob controle das contingências de reforçamento ma
nejadas: reforçamento positivo intermitente em esquema de razão fixa e punição
positiva, tendo choque elétrico como evento aversivo, contingente a todas as res
postas emitidas. A maneira como foi introduzida a intensidade do choque numa
hierarquia progressiva - do menor valor para o maior - parece ser uma variável
crítica, não avaliada experimentalmente (o que ocorreria se as intensidades maio
res de choque fossem apresentadas inicialmente?). O tamanho da razão de
reforçamento foi avaliado (FR 10 a FR 50), revelando que os parâmetros da razão
não alteraram os padrões de respostas dos sujeitos experimentais. A expectativa
de que os sentimentos (ou emoções) de medo (do choque), de ansiedade (produ
zida por uma situação aversiva conhecida inescapável, não contingente à respos
ta), ou quaisquer outros sentimentos, possam ter função causal se esvai com esse
estudo. Não são os sentimentos que produzem ou causam comportamento; o com
portamento é determinado pelas contingências (tanto quanto é o sentimento -
ou melhor, o “sentir” - o é). E, no estudo relatado, o comportamento analisado é
um operante livre em itido, não uma resposta reflexa eliciada: o pombo em ite a
bicada que produz choque (sempre) e alimento (ocasionalmente). A demonstra
ção do papel das contingências se torna, portanto, enfática: não é o estado corporal
sentido que produz o comportamento; são as contingências de reforçamento.
Um pombo “masoquista”! Chamá-lo de “masoquista” (ou, no caso de uma pes
soa, chamá-la de “deprimida” ou “estressada”) é a mesma coisa que lhe dar um
apelido, uma vez que não acrescenta nenhuma informação sobre as variáveis que
controlam os comportamentos. Pode ser tentador buscar explicações para o com
p ortamento em dinamismos psíquicos internos (masoquismo seria um exemplo).
14 ■ Terapia Comportamental
Quando, porém, se tem acesso aos processos comportamentais que produzem
determinados padrões de comportamento, a necessidade de buscar uma explica
ção inventada ou mágica desaparece. A explicação está no nível das variáveis que
podem ser manejadas para produzir o comportamento e das variáveis que permi
tem prever a ocorrência (ou não ocorrência) do comportamento, está nas contin
gências de reforçamento. O pombo não é masoquista; ele é (se preferir uma palavra
afetiva) “vítima” das contingências ambientais a que foi exposto. Mais precisa
mente, ele é parte ativa das contingências em operação, produzindo conseqüên
cias e sendo afetado por elas. O desempenho final é o produto de tal interação
entre o organismo e o ambiente (experimental).
Os sentimentos são, mais uma vez, manifestações do organismo e não entida
des abstratas de outra natureza que não a corporal. A compreensão dos sentimen
tos só é possível pela análise das interações entre organismo e o ambiente e a
detecção das contingências em operação. Assim, por exemplo, o sentimento de
prazer começa a ser entendido a partir da análise dos estados corporais produzi
dos por contingências de reforçamento positivo. Em seguida, pelo papel desem
penhado pela comunidade verbal da pessoa que, por meio de contingências de
reforçamento sociais, ensina-lhe a identificar os estados corporais e a dar-lhes
nomes arbitrários, porém convencionados, dentro da comunidade. Assim, senti
mentos envolvem manifestações corporais respondentes e operantes produzidas
por contingências de reforçamento. Veja-se Skinner (1995,1989):
“Os terapeutas comportamentais atribuem o que é feito a dois tipos de conse
qüências seletivas: comportamento inato à seleção natural e comportamento
aprendido ao reforçamento operante. Um exemplo específico é usualmente
um produto conjunto de ambas. Existe, por exemplo, um lado operante na
emoção. O medo não é só uma resposta das glândulas e dos músculos lisos,
mas também uma probabilidade reduzida de movimento em direção ao ob
jeto temido e uma alta probabilidade de afastamento dele. O lado operante
da raiva é uma probabilidade m aior de causar dano a alguém e uma menor
probabilidade de ser agradável Enquanto o estado corporal resultante de con
dicionamento respondente é usualmente cham ado de sentimento, o estado
resultante do condicionamento operante, observado pela introspecção, geral
mente é cham ado de estado da mente” (págs. 103-104).
Há vantagens em substituir o substantivo “sentimento” pelo verbo “sentir”.
“Usamos o verbo 'sentir' para descrever nosso contato com esses dois tipos de
estimulação” - (os sistemas interoceptivo e proprioceptivo) (Skinner, 1993, 1974,
pág. 23). Com tal afirmação, Skinner definitivamente coloca o sentir no âmbito
dos
eventos do organismo: “Os estados corpóreos que são sentidos ou observados
merecem reconhecimento, mas a ênfase deve ser dada às condições ambientais a
que estão ligados e deve-se insistir que são as condições e não os sentimentos que
nos habilitam a explicar o comportamento” (Skinner, 1993,1974, pág. 207). Pode-
se concluir, então, que as contingências de reforçamento produzem simultanea
mente duas classes de comportamentos: operantes e respondentes. Não há
necessidade de - mais precisamente, é um equívoco conceituai - falar-se em com
portamento e sentimento. Tudo é comportamento.
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 15
Quando um paciente procura o médico, esse pede a ele para descrever as do
res, os estados orgânicos. Surgem dificuldades, já que as descrições são, em geral,
pouco precisas. “A dificuldade não advém de o paciente não estar sendo estimulado
de forma perfeitamente clara, mas sim de ele nunca ter estado exposto a condi
ções de instrução em que aprendesse a descrever adequadamente os estímulos”
íSkinner, 1993, 1974, pág. 26). Estudos de pesquisa básica com animais parecem
confirmar que os estados corporais têm função de estímulo controlador de com
portamento, mesmo que o organismo não tenha ciência de tal relação de controle
;falta, aos organismos infra-humanos, o comportamento verbal). Assim, Hoffman
e Fleshier (1965) introduziram a punição positiva na supressão condicionada (no
paradigma original de supressão condicionada, um estímulo-sinal (luz) sinaliza a
apresentação de um estímulo aversivo (choque) inevitável, não contingente à res
posta, enquanto opera um esquema de reforçamento intermitente mantido por
reforçamento positivo). Ou seja, os autores usaram um procedimento experimental
que investigava uma variação no paradigma de supressão condicionada: num
delineamento de emparelhamento {yoked, dois sujeitos são submetidos às mes
mas condições experimentais, exceto uma, que é a variável experimental sendo
investigada), as bicadas de um pombo produziam choque para si mesmo (pu
nição positiva) e também para um outro pombo do par que estava num outro
equipamento experimental (choque livre). Para os dois membros do par, periodi
camente era apresentado um estímulo-sinal (som), enquanto estava operando um
mesmo esquema VI com alimento. Para o sujeito que era punido após o som estar
presente por dois minutos, a primeira bicada produzia simultaneamente um cho
que elétrico, enquanto o som era desligado. O outro membro do par, no mesmo
momento, também recebia o choque e o som era igualmente desligado. Portanto,
os dois membros do par recebiam exatamente a mesma distribuição de choques
e de som, mas, para o pombo da.condição de punição, a apresentação do choque
era contingente à emissão da bicada durante a porção terminal do som, enquanto,
para o outro pombo da condição de emparelhamento, a apresentação do choque
era independente do comportamento que estava sendo emitido. As diferenças
entre os desempenhos típicos dos dois pombos, quando os procedimentos reve
laram seu controle, foi evidente. Para o sujeito controle, tão logo o som era intro
duzido, se iniciava um curto período de aceleração negativa, o que reduzia
rapidamente a freqüência de bicadas para um nível baixo, e que assim permane
cia até o término do som. O sujeito que era punido apresentava pausas maiores,
porém no início da apresentação do som raramente ocorriam mudanças na fre
qüência de respostas; as pausas surgiam na porção final do som (mais próximas
da resposta punida). Veja a explicação de Hoffman (1969) para as diferenças entre
os dois sujeitos experimentais:
“Embora as explicações destas diferenças tenham que ser, no momento, um
tanto especulativas, o trabalho sugeriu que a inclusão de uma contingência
específica resposta-choque no paradigm a de supressão serviu para m odifi
c a ra influência do estímulo-sinal (som). Em particular, ela (contingência
punitiva) pareceu estabelecer uma situação na qual a condição necessá
ria para ocorrer a supressão era que o sujeito estivesse respondendo na
16 ■ Terapia Comportamental
presença do estímulo-sinal. Assim, para os sujeitos punidos, a introdução
do estímulo-sinal não fo i comumente acom panhada por uma m udança
na freqüência de resposta* Mais precisamente, estes sujeitos tipicamente res
ponderam durante o segmento inicial do estímulo-sinal e, então, abrupta
mente mostraram uma parada com pleta de bicar Foi como se o estímulo,
que ganhou controle sobre a reação em ocional do sujeito, consistisse de um
composto no qual um elemento fo i estim ulação provida pelo estímulo-si
nal e o outro elemento fo i estimulação provida pela informação proprio-
ceptiva originada do comportamento de bicar o disco. Quando um dos
elementos do composto estava faltando, com o ocorria durante os intervalos
entre sons (quando o som estava ausente) e durante os primeiros segundos
do som (quando a estimulação proprioceptiva das bicadas ao disco durante
o som estava ausente), não ocorria supressão” (págs. 199e200).5
O aspecto que se deseja enfatizar com essa pesquisa é que seus autores suge
rem que o comportamento do pombo punido ficou sob o controle da estimulação
proprioceptiva (debaixo da pele) na parte final da presença do som. O pombo fi
cou sob o controle da estimulação corporal produzida pela relação de contingên
cia existente entre a resposta e a conseqüência aversiva por ela produzida e não
pela apresentação do choque. O pombo controle também recebia o choque em
condição idêntica, apenas não havia uma relação de contingência entre o bicar
e o choque. Seu desempenho (redução na freqüência de resposta durante o som)
ficou exclusivamente sob controle do estímulo exteroceptivo. É oportuno para
frasear Skinner (1993,1974, pág. 188): Os sujeitos infra-humanos se comportam
de forma consciente no sentido de estarem sob o controle de estímulos
(exteroceptivos, no exemplo do pombo controle; exteroceptivos e proprioceptivos,
no caso do pombo punido): ouvem som (os dois pombos experimentais) e sen
tem o próprio corpo (apenas o pombo punido), no sentido de responderem, apro
priadamente, cada um de acordo com a condição experimental a que foi
submetido; todavia, nenhuma contingência verbal os torna conscientes do som,
no sentido de ouvir que estão ouvindo, ou do corpo, no sentido de sentir o que
estão sentindo.
Com a afirmação de Skinner sobre o papel das contingências verbais, anun
ciam-se os problemas que a comunidade tem para ensinar os seus membros a
emitirem respostas discriminativas verbais sob o controle de eventos orgânicos
debaixo da pele. Tais eventos, por serem inacessíveis à observação direta da co
munidade, faz com que ela tenha dificuldades para reforçar diferencialmente
respostas sob o controle desses estímulos corporais.
“Há diferença entre sentimentos e relatos acerca daquilo que se sente. Pode
mos tomar o sentimento (seria m elhor dizer o sentir) com o simples resposta
a estímulos (orgânicos internos), mas seu relato é o produto das contingên
cias verbais especiais, organizadas por uma comunidade. Há uma diferen-
5 Grifos do autor do capítulo
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 17
ça sem elhante entre o com portam ento e o relato do comportamento ou das
suas causas (conseqüências). Ao organizar as condições em que uma pessoa
descreve o mundo público ou privado onde vive, um a com unidade gera
aquela form a muito especial de comportamento cham ada conhecimento.
Responder a um estômago vazio ingerindo com ida (comportamento sob
controle de estímulos corporais internos advindos do estômago) é uma coi
sa; é outra, porém, saber que se está com fom e (comportamento verbal que
descreve um estado corporal sob controle de tal estado e m odelado pelas
contingências geradas pela com unidade verbal). Caminhar sobre um terre
no acidentado (comportamento
m odelado pelas conseqüências advindas
das irregularidades do piso) é uma coisa; é outra, porém, saber que se está
fazendo isso (comportamento verbal que descreve uma form a de andar em
um tipo específico de terreno sob o controle do próprio com portam ento e do
terreno e m odelado por contingências geradas pela com unidade verbal)”6
(Skinner; 1993,1974, pág. 30).
Os paradigmas a seguir (Quadros 1.1 a 1.3) podem esclarecer, esquemati
camente, o que foi exposto.
Na contingência A, a comunidade verbal não é parte das contingências em
operação, e o comportamento operante emitido foi resultado, exclusivamente, das
Q uad ro 1.1 - Contingência A - Comportamento operante "pegar a bola
debaixo da árvore"
j Antecedentes Resposta não verbal Conseqüências
! 1. SD externos:
i
\ Bola de futebol perdida
\ está debaixo de uma árvore
i 2. SD internos:
(a) Estímulos
| proprioceptivos produ
zidos por andar até
• a árvorei
(b) Estímulos
proprioceptivos e
interoceptivos desper
tados pela descoberta
de um evento
: reforçador positivo
(a boia)
3. Respostas encobertas (por
exemplo, "São 11 horas.
Tenho que ir para casa.")
- Andar até a árvore e apa
nhar a bola (comporta
mento operante)
- Outras respostas (não reie-
vantes para a presente
discussão)
- Segurar a bola, brincar
com ela etc., bem como
eventos corporais internos:
estimulação proprioceptiva
e interoceptiva com fun
ção reforçadora positiva,
adquirida por associação
com outros reforçadores
positivos
Os parênteses foram colocados pelo autor do capítulo
18 ■ Terapia Comportamental
Quadro 1.2 - Contingência B - Comportamento verbal discriminativo que
descreve o próprio comportamento "fui pegar a bola"
Antecedentes Resposta verbal Conseqüências
1. Os três elos da tríplice con
tingência apresentados na
contingência A (o SD inter
no a exerce maior controle
que o b em função da
questão 2 a seguir)
2. As questões:
(a) "0 que você fez?"
(b) "0 que você está
fazendo?"
(c)"Onde você está indo?"
(a) "Fui pegar a bola."
(b) "Estou pegando a bola."
(c) "Até a árvore... pegar
a bola."
(comportamentos verbais
de descrição do próprio
comportamento operante)
- Reforço diferencia! social
generalizado contingente
à descrição do comporta
mento, provido pela pes
soa que fez a pergunta
Quadro 1.3 - Contingência C - Comportamento verbal discriminativo que
descreve o próprio sentimento "senti-me contente"
Antecedentes Resposta verbal Conseqüências
1. Os três elos da tríplice con
tingência apresentados na
contingência A (o SD inter
no b exerce maior controle
que o a em função da
questão 2 a seguir)
2. A questão: "0 que você
sentiu quando, finalmente,
encontrou a bola?"
"Uma emoção forte, meu co
ração disparou. Senti-me
contente."
(comportamento verbal de
descrição do estado corporal)
- Reforço diferencial social
generalizado contingente
à descrição do sentimento,
provido pela pessoa que
fez a pergunta
f f i i ' +
1 , ■ .
inter-relações entre a criança que apanhou a bola e aspectos específicos do ambiente
físico natural. (Excluiu-se da análise, para fins didáticos, o papel da história de
contingências a qual o garoto foi exposto, embora se reconheça que tal história
também é fator determinante e participante das interações. Suponha, por exem
plo que, na história de contingências dessa criança, “perder a bola” fosse ocasião
para chorar até que uma outra pessoa a devolvesse. O produto comportamental
observado no exemplo seria outro.)
Na contingência B, a comunidade verbal tem papel decisivo. São as questões
postas pela comunidade (“O que você está fazendo?” por exemplo) que colocam
o comportamento do ouvinte, de descrever o que está fazendo, sob o controle das
inter-relações entre antecedentes - respostas - conseqüentes (note que, no es
quema da contingência B, o item 1 dos antecedentes é exatamente a tríplice con
tingência de A). A pergunta, porém, destaca um item específico da contingência
total: o SD interno a é mais crítico que b, provavelmente, porque fazer envolve
estímulos originados na musculatura esquelética e nas articulações. Produz-se,
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 19
desta forma, o comportamento verbal de relatar o aspecto da tríplice contingência
que ficou sob controle do SD verbal do falante. No caso, o SD verbal, “O que você
está fazendo?”, controlou o comportamento verbal que foi emitido: “Estou pegan
do a bola”. Dentre todos os aspectos da tríplice contingência, a questão enfocou o
operante fazer, o aspecto enfatizado que exerce controle máximo sobre o com
portamento verbal. Se a questão fosse “Onde está a bola?” o enfoque seria no ou
tro aspecto da contingência e a resposta verbal, que ficaria sob o controle da nova
questão, poderia ser “Debaixo da árvore.” Se o SD verbal fosse outro (por exemplo,
“Por que você vai pegar a bola e não larga ela lá?”), seria, necessariamente, evoca
do outro comportamento verbal do ouvinte, sob controle de outros aspectos da
contingência (não identificáveis no exemplo apresentado no paradigma B). Nesse
caso, o esquema da contingência B precisaria ser ampliado para incluir elemen
tos da história de reforçamento da pessoa. Aquilo que ocorreu no passado,
quando ela perdeu uma bola ou outro objeto, é determinante da classe de com
portamento “procurar a bola até achá-la”, “não ir procurar a bola”, “desistir antes de
achá-la” etc. Assim, por exemplo, “Meu pai me punha de castigo, me chamava
de irresponsável... quando eu perdia alguma coisa” é uma classe de contingências da
história de vida que torna importante procurar a bola até achá-la. Finalmente,
deve-se esclarecer que o comportamento de descrição do próprio comportamento
não ficou apenas sob controle da pergunta provinda de um membro da comuni
dade verbal, mas por todo o conjunto de contingências. A pergunta destaca, do
conjunto, sob o controle de qual particularidade dos componentes da contin
gência, a resposta verbal, se for emitida, será reforçada.
Na contingência C, a comunidade verbal também tem papel fundamental. A
questão proposta “O que você sentiu... ?” coloca o comportamento verbal do ouvinte
sob o controle de todos os componentes descritos na contingência A (no esquema
de contingência C, o item 1 dos antecedentes é exatamente a tríplice contingência de
À). A pergunta, porém, destaca um item específico da contingência total: o SD in
terno b é mais crítico que a , provavelmente porque sentir envolve estímulos pro
venientes, principalmente, dos eventos corporais internos, estímulos próprio e
interoceptivos, gerados pelo contato com a bola perdida. Produz-se, dessa forma, o
comportamento verbal de relatar o aspecto da tríplice contingência que ficou sob
controle do SD verbal do falante. No caso, o SD verbal, “O que você sentiu?”, colocou
sob controle o comportamento verbal que foi emitido: “Senti-me contente.” A ques
tão enfocou o operante “sentir”, dentre todos os aspectos da tríplice contingência,
sendo enfatizado por exercer controle máximo sobre o comportamento verbal. En
tão, a pessoa emite uma verbalização, tipicamente categorizada com o nome de um
sentimento, no caso, “contente”. Mas ela poderia nomear outro sentimento, por
exemplo, “Senti-me aliviado.” A diferença entre sentir um estado corporal (nomea
do “contente”) e outro (nomeado “aliviado”) deve ser buscada na história de contin
gências de cada indivíduo: “alívio” seria um termo mais provável se, na história de
contingências da pessoa, o comportamento de perder um objeto fosse, usualmente,
Dunido. Assim, ao achar o objeto, ela estaria se esquivando da punição prevista: o
:omportamento seria reforçado negativamente e o estado corporal sentido poderia
ser chamado de “alívio”. Cada contingência produz um estado corporal correspon
dente e a pessoa responde
aos componentes da contingência, ao estado corporal e
aos controles da comunidade verbal.
20 ■ Terapia Comportamental
Skinner (1999/1954) fez uma importante observação sobre o papel do auto
conhecimento, refutando claramente que lhe caiba um possível papel causal:
“O ponto importante não é que o indivíduo, freqüentemente, fo i incapaz de
descrever aspectos importantes do seu próprio comportamento ou de iden
tificar relações causais importantes, m as sim que sua hab ilidade para
descrevê-los fo i irrelevante para a ocorrência do comportamento ou para a
eficácia das causas. Começamos por atribuir o comportamento do indiví
duo a eventos em sua história genética e am biental Depois notamos que,
por causa de certas práticas culturaisf o indivíduo pode vir a descrever a l
guns daqueles comportamentos e algumas daquelas relações causais. Pode
mos dizer que ele está consciente das partes que é capaz de descrever e
inconsciente do resto. Mas, o ato de autodescrição, tanto quanto o de auto-
observação, não desem penha nenhum papel na determ inação da ação. Ele
é sobreposto ao com portam ento... estar cônscio da causa, não tem nada a
ver com eficácia causal” (pág. 293).
Desmistifica-se, dessa forma, uma concepção basilar da Psicologia, na qual
a conscientização tem, por si mesma, poder de causar ou modificar comporta
mentos. A conscientização, enquanto conhecimento, permite à pessoa identifi
car ou descrever os determinantes, as relações funcionais dos comportamentos,
mas, com isto, a conscientização não se materializa em causa. Finalmente, a
”conscientização” (ou seja, a auto-observação e a autodescrição) tem um papel
relevante no processo terapêutico, pois, embora não cause comportamento, pode
nos levar às causas, ou seja, colocar o terapeuta e o cliente sob o controle dos
determinantes dos comportamentos relevantes.
Os eventos corporais “debaixo da pele” são tão reais quanto os eventos corpo
rais “fora da pele” e, essencialmente, da mesma natureza. O que os diferencia é o
acesso que o observador tem a cada uma das duas classes de eventos: a primeira só é
acessível ao próprio indivíduo que se comporta; a segunda é também acessível a ou
tros observadores. Por outro lado, é oportuno nesse ponto ressaltar com Matos (1997):
“A expressão'mundo externo'não se refere ao que reside fora da pele do orga
nismo e sim (por necessidade conceituai de uma postura analítica) ao que
não é a própria ação. Para o ‘behaviorista radical' ‘ambiente* é o conjunto de
condições ou circunstâncias que afetam o comportar-se, não importando se
estas condições estão dentro ou fora da pele. É importante entender que, para
Skinner, o am biente é externo ã ação, não ao organismo" (pág. 47).
Desta maneira, a citação de Ferster (1972) complementa as palavras citadas
anteriormente:
“É útil distinguir entre duas partes do ambiente do paciente que controlam
suas descrições verbais: (a) o repertório dentro da pele do paciente; (b) suas
descrições verbais dos fatores ambientais que estão produzindo a reação in
terna, predominantemente privada. Essa última, requerendo uma análise
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 21
funcional do desempenho, é controlada por elementos particulares do ambiente
(usualmente externos) é, obviamente, uma condição necessária para uma
pessoa viver com sucesso. Além de que, a habilidade para notar mudanças no
seu próprio estado interno parece ser um começo importante, talvez necessá
rio, na direção da pessoa observar essa relação funcional Tais comportamen
tos de observação - os tatos sob o controle de eventos privados - são eventos
naturais cujo reforçamento contínuo não depende das circunstâncias arbi
trárias ou especiais da situação terapêutica1" (págs. 5-6).
No mesmo texto, Ferster (1972) enfatiza em uma nota a importância de dis-
::nguir entre tato puro e impuro, quando se lida com eventos privados:
“Controle pelo estímulo e não pelo reforço dá ao tato sua objetividade, sua
utilidade para com unicação e seu uso com um por diferentes m embros da
com unidade, sob am pla gam a de circunstâncias. Em termos coloquiais,
um tato 'descreve'algum evento. No presente caso, o evento que o tato ‘des
creve' está debaixo da pele da pessoa, portanto, é privado . É útil fa la r do
tato com o desem penho verbal controlado por algum estímulo em vez de
‘descrever’ o estímulo, porque o prim eiro uso aponta para o procedim ento
exato que estabelece o com portam ento, enquanto que o segundo uso é
mentalista (pág. 6). Um tato impuro é um desem penho verbal cujo con
trole é com partilhado pelo estímulo que lhe dá a deixa fprompU e um
reforçador relevante para o estado atual de privação do falante. Se o tato
fosse puro, sua form a seria controlada, exclusivamente, pelo estímulo an
tecedente, excluindo-se qualquer reforçador relevante para o estado atual
de privação do fa lan te” (pág. 11).
Desse modo, quando as descrições que o cliente faz de seus estados privados
sào conseqüenciadas de forma arbitrária pelo terapeuta, os desempenhos verbais
io cliente são observações em um sentido limitado, já que, por serem tatos im
puros, ou seja, reforçados pelo terapeuta (reforço arbitrário), em vez serem
ronseqüenciados por reforçadores generalizados naturais, não estão sob o con-
role exclusivo dos eventos que descrevem, mas foram, de certa forma, modelados
arbitrariamente) pelo terapeuta.
A discussão do presente subtítulo corresponde, com as alterações e amplia-
:ões apresentadas, à primeira dimensão característica da Análise Aplicada do
lomportamento, nominalmente com portam ental conforme apontada por Baer,
’ Vblf e Risley (1968).
\ TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS É MONISTA
O conceito de "mente”, abstração imaterial e interna, capacitada a causar todo
: jmportamento e sentimento humano, é absolutamente estranho à Terapia por
I jntingências. Essa nega, essencialmente, o dualismo (cartesiano) e seus pressu-
r ostos fundamentais, os quais, nas palavras de Ribes (1982), se caracterizam por:
22 ■ Terapia Comportamental
“(a) o mental é concebido com o o causal interno;
(b) a interação dos homens com o seu meio é redutível à ação m ecânica,
passiva e reflexa;
(c) o mental, enquanto substância primária, independente do material, obe
dece a leis próprias.
Como tal, a proposta dualista elim ina a interação com o meio como objeto
de estudo e analisa as ações produzidas com o ato m ediado de uma ‘m áqui
na’ ou de uma mente interna ou, inclusive, de sua interação” (págs. 22-23).
A citação anterior fornece elementos para destacar a diferença fundamental
entre o Behaviorismo Radical (monista) e o Behaviorismo Cognitivo (dualista).
Conclui-se, então, que, enquanto a Terapia Cognitivo-comportamental encontra
lugar dentro da terminologia mais abrangente da Terapia Comportamental, ela,
de modo algum, é conciliável com a Terapia por Contingências (solidamente
alicerçada no Behaviorismo Radical). No Behaviorismo Cognitivo-comportamental
e nas suas várias versões, o nível explicativo é deslocado para o interior do orga
nismo ou é substituído por enunciados lógicos que têm a função de mediar a na
tureza empírica dos fenômenos a serem explicados. Ora a explicação aparece na
forma de reducionismo mecanicista no qual se estabelece a identidade entre a
mente e o cérebro, definindo-se a mente como a ação do cérebro. (Essa postura
epistemológica justifica, por exemplo, a ação terapêutica de empregar medicação
para “curar” problemas psicológicos ou de atribuir ao estresse - estado corporal -
a função de causa de perturbações comportamentais.) Ora a explicação surge na
forma de mimetismo monista (já que tudo de que se fala é comportamento, cria-
se a impressão de se tratar um monismo comportamental), no qual comporta
mento (geralmente privado) causa comportamento (público, em geral). Supor que
o pensamento
é a causa dos comportamentos (“as pessoas não sofrem pelos fatos
da vida, mas pelo que pensam sobre...” é um enunciado típico das posições
cognitivas) envolve um equívoco conceituai fundamental. Para o Behaviorismo
Radical, o pensamento, enquanto comportamento, também precisa ser explicado.
E nas relações entre organismo e ambiente que devem ser buscadas (e encontra
das) as “explicações” causais e nunca nas relações organismo-organismo. Veja a
maneira como Skinner (1995, 1989) escreveu sobre este ponto:
"C om portam entos p ertu rbados são cau sados p or con tin gên cias de
reforçamento perturbadoras, não por sentimentos ou estados da mente
perturbadores e nós podem os corrigir a perturbação corrigindo as contin
gências" (pág. 102).
Ninguém diria que o comportamento do rato olhar para a barra ou erguer-se
para pressioná-la (elos de um encadeamento comportamental) são causas de pres
sionar a barra. O rato pressiona a barra porque existem relações complexas, mas
identificáveis e manipuláveis, entre o ambiente antecedente (por exemplo, a luz
com função de SD), o ambiente conseqüente (por exemplo, a água com função de
Sr+), uma operação estabelecedora prévia (privação de água), história compor
tamental (processos de modelagem e esquemas de reforçamento intermitente) e
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 23
o comportamento específico do organismo (um encadeamento de respostas cujo
elo final é pressionar a barra que produz água). Da mesma forma, é um equívoco
dizer que pensamento (ou algo equivalente) é causa do comportamento. Melhor
seria considerá-lo o elo de um encadeamento comportamental e continuar pes
quisando como esse encadeamento interage com o ambientes físico e social, in
cluindo a história comportamental da pessoa, que o determina. O Behaviorismo
Cognitivo, em determinadas instâncias, vai além no equívoco conceituai e recorre
aos conceitos explicativos derivados de um constructo lógico, formulados em ter
mos fisicalistas, como traços ou transtornos de personalidade ou conceitos
relativos a estados mentais internos, como conflitos, expectativas, finalidade
etc. O papel do pensamento, das regras e das auto-regras na emissão de com
portamentos será retomado adiante.
DICOTOMIA ENTRE EVENTOS COMPORTAMENTAIS
PÚBLICOS E PRIVADOS
A Terapia por Contingências adota a dicotomia público-privada (concepção
comportamental) quando faz referência ao comportamento fora e debaixo da pele
do indivíduo, em oposição a objetivo-subjetivo (concepção internalista, men-
ralista). Ribes (1982) sintetizou a questão da dicotomia:
“A dim ensão objetivo-subjetivo parece corresponder; em termos da episte-
mologia tradicional, à dicotom ia idéia-m atériae pressupõe, de alguma m a
neira, uma problem ática equivalente à dualidade mente-corpo. O problem a
fica melhor equacionado se for atribuída aos eventos privados a propriedade
de evento objetivo, enquanto sua ocorrência, e se fo r restringido ao sujeito o
1locus' parcial do evento. Como local parcial, o sujeito pode conceber-se
como resposta participante de um evento interativo, cuja ocorrência não é
publicam ente observável, assim como não o são os produtos parciais do es
tímulo. Posto desta maneira, não se trata, pois, de assumir uma qualidade
dual do observável (enquanto objetivo) e do privado (enquanto subjetivo), pois
isto significaria reduzir a objetividade dos fenôm enos ao que é publicamente
verificável, tese empirista de frágil consistência epistêm ica” (págs. 27-28).
Os eventos comportamentais públicos e privados não são diferentes entre
s: quanto à natureza; ambos são manifestações do organismo, mas se distinguem
quanto ao local onde ocorrem e ao acesso do observador do fenômeno: os even
tos privados somente são observados pela própria pessoa que se comporta.
Segundo Skinner (1999/1954):
uCada um de nós está num contato particularmente íntimo com uma p e
quena parte do universo contido dentro (withinj da sua própria pele. Sob
certas circunstâncias limitadas, podem os vira reagira tal parte do univer
so de maneiras diferentes das usuais. Mas não se segue que aquela parte
particular tenha quaisquer propriedades físicas ou não físicas especiais, nem
. : - : ; : . .u observações dela difiram , em qualquer aspecto fundam ental, das
nossas observações do restante do m undo" (pág. 292).
O fato de os comportamentos privados não serem acessíveis a dois ou mais
observadores independentes entre si não os descarta como eventos naturais, nem
os exclui como fenômenos passíveis de serem analisados cientificamente. Para o
Behaviorismo Radical, não é exigida a fidedignidade de observação entre dois ou
mais observadores para legitimar a ocorrência do evento comportamental. Skinner
(1999/1945) escreveu:
“A distinção entre público e privado de m aneira alguma é a m esma que en
tre físico e mental. É por isso que o Behaviorismo Metodológico (que adota a
primeira) é muito diferente do Behaviorismo Radical (que elim ina o último
termo da segunda distinção). Como resultado disso, enquanto o behaviorista
radical pode , em alguns casos, considerar os fa tos privados (talvez, de
m aneira inferencial, m as não obstante, significativa), o operacionista
metodológico colocou-se numa posição na qual está im pedido de fazê-lo. A
ciência não leva em consideração os dados p rivadosd isse Boring. Mas eu
discordo, pois m inha dor de dente é tão física quanto m inha m áquina de
escrever, em bora não seja pública e não vejo razão pela qual uma ciência
objetiva e operacional não considere os processos pelos quais se adquire e
se mantém um vocabulário descritivo de uma dor de dente”7 (págs. 429-430).
Nota-se que o estudo dos eventos privados, para Skinner, relaciona-se com
as estratégias que a comunidade verbal tem à disposição para instalar e manter
o comportamento verbal de descrição dos eventos privados. Nas palavras de
Ribes (1982):
"O problem a se põe, portanto, em outro nível: como os eventos privados, que
participam de uma interação pública, podem ser referidos como eventos e,
conseqüentemente, como se pode responder a eles publicamente? Esta é a es
sência da questão que nos leva ao problema da gênese da linguagem, a qual
se refere a eventos privados. Trata-se de uma gênese individual que se expressa
publicamente ou se trata de uma gênese social que abrange o privado e o torna
evento? A resposta a esta questão determina que se dê ou não uma solução
dualista ao problem a representado pelos eventos privados" (págs. 28-29).
A resposta, como se verá, é que a origem dos termos sobre os eventos privados
é social e, como tal, desaparece a problemática dualista.
Aposição de Skinner (1999/1945) sobre o papel do comportamento verbal nos
eventos privados é fundamentalmente inovadora e se define propondo que os ter
mos, os conceitos e os constructos são respostas verbais; o significado da resposta
verbal está entre os seus próprios determinantes e não é propriedade da resposta;
7 Os grifos em itálico foram feitos pelo autor do capítulo.
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 25
uma classe de respostas verbais não é definida por sua forma fonética apenas,
mas por suas relações funcionais. O estímulo antecedente deve afetar o falante e o
ouvinte, mesmo quando tais estímulos antecedentes são privados. Nesse caso,
como se verá, a comunidade verbal recorre às estratégias que lhe permite, num
nível inferencial, chegar aos eventos privados. “Quando dizemos que o comporta
mento é função do ambiente, o termo ‘ambiente’, presumivelmente, significa qual
quer evento no universo capaz de afetar o organismo. Mas parte do universo está
encerrada dentro da própria pele de cada um... Com respeito a cada indivíduo,
em outras palavras, uma pequena parte do universo é privada” (Skinner, 1967,
1953, pág. 149). (Um evento é privado quando não está acessível
à comunidade e,
como tal, essa não pode empregar, em relação ao evento, contingências tão efeti
vas como nos eventos públicos). E, mais adiante: "O ambiente, seja público ou pri
vado, parece permanecer indistinto até que o organismo seja forçado afazer uma
distinção... a auto-observação também é um produto de contingências discri
minativas e, se uma discriminação não pode ser afetada pela comunidade, pode
não aparecer nunca. Por mais estranho que seja, é a comunidade que ensina o indi
víduo a se ‘conhecer’" (Skinner, 1967,1953, pág. 151).
Um repertório verbal do cliente que assume papel essencial na terapia é aque
le em que ele descreve o próprio comportamento. Quando o comportamento é
público (por exemplo, “Fui à academia de ginástica hoje de manhã.”), tanto o ou
vinte, quanto o falante têm acesso ao comportamento descrito e às variáveis que
o determinam. Nesse caso, o repertório autodescritivo não cria nenhum proble
ma em particular, uma vez que a comunidade pode reforçar, diferencialmente, a
precisão do comportamento verbal que descreve o comportamento emitido. Há
outras situações em que surgem algumas dificuldades, apontadas por Skinner
(1967, 1953, pág. 152-154), como:
(a) Parte da estimulação que o indivíduo recebe do seu próprio comporta
mento é privada e, como tal, não está ao alcance da comunidade e, de acordo com
Skinner (1999/1945), “Um reforçamento diferencial não pode se tornar contin
gente à propriedade de privacidade” (pág. 424). Daí, a descrição de um comporta
mento que não foi executado parece depender somente de eventos privados. Dessa
condição, são exemplos verbalizações como: “Irei para casa daqui a 10 minutos.”
ou “Eu estava a ponto de ligar para você... ” Há classes de verbalizações dessa or
dem que são de suma importância na clínica. Assim, por exemplo, alguém diz:
“Eu estava a ponto de dar um murro no meu chefe.”, “Tenho pensado em me ma
tar.”, “Estou inclinado a começar meu regime.”, “Acho que vou largar meus estu
dos.”, “Sinto que vou retomar às drogas.” etc. Os estímulos controladores não só
são privados, mas também parecem não ter quaisquer acompanhamentos públi
cos. Como pode a comunidade verbal instalar respostas dessa classe? (em Skinner,
1967,1953, pág. 152 algumas possibilidades são sugeridas.) E, conseqüentemente,
como pode vir a lidar com elas? Conhecer como foram instaladas, como se man
têm e quais sua validade preditiva e probabilidade de emissão futura efetiva do
comportamento que anunciam, são de extrema relevância (lamentavelmente, a
questão mais crítica, a validade preditiva, seja aquela para a qual o clínico tem
menos evidências confiáveis...). Além dessas, há outras questões. Para o interesse
clínico, seriam as respostas às seguintes questões: de que variáveis, na história de
reforçamento do indivíduo, essas respostas não emitidas publicamente são fun
26 ■ Terapia Comportamental
ção? O que determinou que elas não fossem emitidas publicamente? Que papel
tem a reação do terapeuta sobre a emissão de tais classes de verbalizações?
Um cliente, 52 anos, drogadito, verbalizou: “Estou pronto para 'cair'. É questão
de dias, horas ou minutos. Depende... eu vinha de táxi para a sessão. Mas a Vera
(mulher do cliente) se ofereceu para me trazer. Se tivesse vindo de táxi, eu pararia
no bar e tomaria umas... depois iria ‘cheirar'. Nem voltaria para casa. É até melhor
eu sumir porque se começar a beber e cheirar, vou dizer umas verdades para a
Vera e isso pode complicar nossa vida. Vou dizer que ela quer mandar em mim,
que só porque ela é certinha, ela não tem o direito de dizer o que eu tenho que
fazer.., Sou diferente dela. Nem que me arrependa depois e chore a ausência dela.
Na hora eu falo tudo o que sinto e aí vai detonar (o casamento)...” Inicialmente, o
cliente parece estar respondendo a estados corporais que, no passado, antecede
ram o uso de bebida e cocaína: “Os estímulos privados, gerados em adição às ma
nifestações públicas, ganham assim o grau de controle necessário. Mais tarde,
quando os estímulos privados ocorrem sozinhos, o indivíduo pode responder a
eles” (Skinner 1967,1953, pág. 152).
“Estou pronto para cair” pode ser entendido como “Observei manifestações
corporais em mim mesmo que, tipicamente, precedem ou acompanham beber e
usar droga.” Além disso, o cliente descreve diferentes controles de estímulos que
aumentam (andar de táxi) ou diminuem (estar com a mulher ao seu lado) a pro
babilidade de emitir imediatamente o comportamento de consumir álcool e co
caína, quando o estado corporal é o descrito. O comportamento operante de
escolha ainda é fraco, de modo que ele ficou (por ora) sob o controle da mulher.
(Em outras ocasiões, quando a privação, ou as operações estabelecedoras, era mais
intensa, ele simplesmente chamou o táxi e comunicou à mulher que ia sair. Parou
no bar, deu a desculpa para o motorista que ia trocar o dinheiro para pagar a cor
rida e aproveitou a parada para, de fato, beber...). Ele reconhece o controle exercido
pela mulher e emite comportamentos verbais que descrevem comportamentos
de contra-controle que poderiam ser emitidos: “Vou dizer que ela quer mandar
em mim... ela não tem o direito de dizer o que eu tenho que fazer...” Esses com
portamentos são, porém, fracos para serem emitidos sob o controle de estímulo
decorrente (diante da mulher). As verbalizações ocorrem sob o controle do
terapeuta. Beber os primeiros tragos funciona como uma operação estabelecedora,
pois altera a função reforçadora ou aversiva da mulher. A partir de então, é possí
vel, para ele, emitir comportamentos de criticá-la de forma agressiva, que têm a
função de fuga-esquiva, removendo o controle aversivo, uma vez que ela se cala,
se tranca no quarto e ele pode, então, sair para beber e cheirar... Como essa classe
de eventos comportamentais já ocorreu em outras oportunidades, o terapeuta tem
condição de prever, de modo confiável, a ocorrência do comportamento de beber
e “cheirar” a partir da verbalização “Estou pronto para cair”. Literalmente, em dias
ou semanas ele “cairá”. Por outro lado, como o controle exercido pelas conseqüên
cias imediatas do consumo de bebida e cocaína é extremamente forte, o terapeuta
raramente dispõe de procedimentos eficazes para evitar a emissão dos elos termi
nais do encadeamento.
No exemplo apresentado, parte da estimulação respondida pelo indivíduo foi
privada, parte foi pública. Todo o encadeamento parece ter início com o controle
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 27
exercido pelos estados corporais. Assiste-se, progressivamente, ao processo de
mudança de controle de estímulos: os estados corporais vão ganhando mais con
trole e os aspectos externos ao cliente vão invertendo as funções controladoras. O
controle da esposa sobre os comportamentos de abstinência vai se enfraquecen
do, enquanto o controle exercido por bares; pela agenda com telefone de usuários
e fornecedores; por roteiros de acesso à droga e aos ambientes de uso vão aumen
tando o poder de controle. A intervenção terapêutica tem maior probabilidade de
sucesso se ocorrer nos elos iniciais do encadeamento. Seria importante instalar
no cliente um comportamento discriminativo sob controle dos primeiros sinais,
provindos do organismo (se ele ainda não responde a tal controle) e instalar o
repertório de relatar mais cedo possível a presença dos sinais orgânicos (o terapeuta
precisa instalar no cliente um repertório para eliminar as condições ambientais
aversivas que controlam comportamentos de fuga-esquiva, como mentir, omitir,
agredir etc., caso contrário, o comportamento de relatar não será emitido), a fim de
se iniciar procedimentos de autocontrole e rearranjo das condições ambientais que
controlam outros comportamentos além do consumo de drogas, por exemplo.
(b) Respostas ao próprio comportamento discriminativo da pessoa. Dizer “Há
um arco-íris
no céu” é diferente de “Vejo um arco-íris no céu.” Assim, as contin
gências poderiam ser, respectivamente (Quadro 1.4):
Q uadro 1.4 - Respostas a diferentes controles de estímulos
sD R discriminativa Sr
1. Arco-íris no céu
(evento físico público)
2. Ver o arco-íris
(comportamento privado)
Ver o arco-íris
Relatar que viu o arco-íris
Alterações no ambiente
(físico ou social)
Reações da comunidade
verbal
O ouvinte se beneficia quando um indivíduo responde verbalmente a eventos
com os quais apenas ele está em contato. O indivíduo amplia, assim, o ambiente
daqueles que o ouvem. Mas, é também importante que relate as condições sob as
quais está respondendo. Quando a comunidade condiciona o indivíduo a dizer
“Vejo... ”, “Ouço... ”, “Sinto... ” e assim por diante, deve haver algum indício de um
comportamento discriminativo. O terapeuta poderá ajudar mais o cliente, enquan
to os comportamentos terapêuticos de análise e de intervenção ficarem, propria
mente, sob controle dos comportamentos discriminativos do cliente. A tarefa do
terapeuta é buscar indícios públicos da ocorrência de uma resposta verbal que, de
fato, descreve um comportamento discriminativo do cliente. Há necessidade das
evidências de que a resposta discriminativa esteja acontecendo e não apenas que
os estímulos sejam presentes, pois a resposta verbal pode estar sob outros contro
les. “Você está vendo a lagarta sobre a folha?” pode evocar a resposta “Eu vejo a
lagarta.” É um exemplo de comportamento verbal que descreve a resposta
discriminativa de ver, mas pode também ser uma resposta verbal de esquiva de
algum comentário crítico (do tipo “Está cego?”) que poderia vir a conseqüenciar
uma resposta do tipo “Não vejo a lagarta.” O terapeuta é a parte da comunidade
28 ■ Terapia Comportamental
habilitada para levar o cliente a discriminar qual das duas classes de comporta
mento verbal ele está emitindo, para isso, o próprio terapeuta precisa discriminar
a qual controle o cliente reage. Um recurso é buscar indícios adicionais do contro
le de estímulos: “De que cor ela é?” e “Arranque a folha onde ela está.” são bons
exemplos. Apenas quando informações colaterais forem dadas corretamente, a
comunidade pode reforçar, de modo apropriado, a resposta. Veja a diferença en
tre as duas considerações sobre a verbalização: “Na hora de fazer a prova fico an
sioso, dá um branco na minha cabeça e não consigo fazer mais nada.” O cliente
pode estar sob o controle dos estados corporais e emitir uma resposta verbal
discriminativa que os descreve e, eventualmente, até comportamentos respon-
dentes. Pode, porém, estar sob controle das questões da prova diante das quais
não possui repertório apropriado (não estudou o suficiente) e, como tal, elas
não funcionam como SD para respostas acadêmicas corretas. Então, por que ele não
diz simplesmente: “Eu não sabia responder...” Podem ter existido conseqüências
diferenciadas, a primeira classe de respostas (“Fico ansioso...”) não foi punida e
pode ter sido aprendida por imitação ou modelada por reforçamento negativo;
enquanto que a segunda classe de respostas (“Não estudei, não sabia...”) foi pu
nida ou não foi instalada (o cliente não discrimina que seu repertório de estudo é
ineficaz). De qualquer maneira, os procedimentos terapêuticos serão distintos em
cada caso. É tarefa do terapeuta buscar evidências que lhe permitam discriminar
a que controle de estímulos o cliente responde. Se o terapeuta fizer algumas ques
tões sobre o conteúdo do material acadêmico da prova e o cliente respondê-las
corretamente, aumentam as evidências de que o desempenho deficitário na pro
va não se deu por falta de estudo. Outras questões podem fornecer informações
adicionais. Assim, “Como é esse branco?”: “Sinto a cabeça pesada como se esti
vesse sendo comprimida. Não consigo me lembrar nem do meu número de ma
trícula. Preciso copiá-lo do meu crachá”; “O que pensa na hora da prova?”: “Penso
que, se tirar nota baixa, meu pai vai ficar muito mal... Só penso nele... ” (os relatos
sobre os estados corporais - “cabeça pesada” etc., sobre a supressão de comporta
mentos operantes, “Não consigo me lembrar...”, sobre a urgência de emitir com
portamentos de fuga-esquiva, “Se tirar nota baixa...” pode significar “Tenho que
tirar nota alta.”, são evidências de que há uma história de contingências aversivas
associadas ao desempenho em provas).
(c) Quando o indivíduo vem a descrever seu próprio comportamento dis
criminativo, ele se observa enquanto executa alguma resposta. Os eventos priva
dos correlacionados com os eventos públicos usados pela comunidade também
resultam do comportamento discriminativo, não da simples estimulação. A res
posta “Vejo um arco-íris.” não é, portanto, equivalente a “Há um arco-íris no céu.”
Se fosse, um único estímulo discriminativo, arco-íris, seria descrito pelas duas for
mas, mas “Vejo...” é uma descrição da resposta de vero arco-íris. Assim, se uma
pessoa verbaliza “Meu marido é muito agressivo comigo.”, ela pode estar emi
tindo um tato verbal que descreve comportamentos do marido. Tal informação
pode ser irrelevante do ponto de vista terapêutico, tanto quanto, ela disser que o
marido, usualmente, trabalha de terno. Cabe ao terapeuta investigar o que os com
portamentos “agressivos” do marido produzem sobre os comportamentos dela:
“Como você se sente?” (o terapeuta fornece deixas necessárias para ela observar e
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 29
descrever respostas respondentes e estados corporais) e “O que você pensa?"
“O que você faz?” (o terapeuta fornece deixas para que ela observe e descreva as
suas respostas operantes), “Quando seu marido emite tais comportamentos em
relação a você?” (o terapeuta estimula sua observação da relação funcional entre
os comportamentos dela e os do marido). A intervenção do terapeuta, por meio
das questões que propõe, transforma a descrição de um evento social presente
(comportamentos do marido) em observação e descrição dos comportamentos pri
vados e públicos da cliente e, ainda mais, em função de quais variáveis ambientais
esses comportamentos dela ocorrem (em função dos comportamentos do ma
rido, no caso). O terapeuta mudou o controle de estímulo do comportamento ver
bal da cliente. Inicialmente controlada pelos comportamentos do marido, depois
ficou sob controle dos próprios comportamentos dela. O terapeuta, dessa forma,
instalou um relato verbal discriminativo dos comportamentos da cliente e de que
relações eles são função.
(d) Outro problema ocorre quando o arco-íris não está presente. Segundo
Skinner (1967,1953), “Talvez o problema mais difícil na análise do comportamen
to se origine de respostas que começam com 'Vejo, . . 'Ouço..,', e assim por diante,
quando faltam os estímulos costumeiros: quando não há nenhum estímulo pre
sente que se assemelhe aos estímulos usuais, nem estímulo generalizado, nem da
classe de estímulos que controlam abstração, uma resposta que começa com
"Vejo... ' deve ser explicada em termos de condicionamento operante e respondente”
(pág. 154). Surgem duas questões: como explicar a resposta de ver algo que não
está presente e como explicar a resposta de descrever essa resposta de ver. Ambos
os comportamentos são adquiridos a partir de contingências discriminativas. No
caso de ver, a aquisição depende do reforçamento diferencial de respostas,
embasado na presença-ausência de um determinado estímulo. No caso de des
crever, a aquisição depende de reforçamento diferencial, sempre social, funda
mentado na inferência da presença de determinado estímulo. Uma vez que tais
comportamentos são multideterminados, nem todas as variáveis envolvidas no
controle da resposta precisam estar presentes para que a resposta ocorra, sendo
que a resposta, que efetivamente ocorreu, pode ser relatada. As questões que cabe
ao terapeuta responder
são:
1. Como a comunidade verbal do cliente instalou as respostas discriminativas
controladas por eventos públicos?
2. Como instalou as respostas discriminativas sob controle de eventos privados?
3. Como reage atualmente às respostas verbais descritas de “ver na ausência
do objeto visto”?
4. Como o próprio terapeuta reage às descrições de comportamento sob con
trole de estímulos não públicos?
As duas primeiras questões dificilmente serão respondidas de forma satisfatória
pois o terapeuta terá que discriminar se o que o cliente diz sobre a história de
contingências são tatos sob controle das táticas que a comunidade, de fato, usou
para instalar os comportamentos verbais discriminativos; são tatos impuros; são
comportamentos intraverbais; ou são respostas verbais modeladas pelas conse-
30 ■ Terapia Comportamental
qüências dadas pelo terapeuta. No entanto, os produtos das contingências que
instalaram os repertórios (e das que os mantêm atualmente), quais sejam, os com
portamentos descritivos discriminativos atuais, sob controle de estímulos inter
nos, são acessíveis ao terapeuta. Então, ele pode suplementar a história de
contingências, manejando, no contato direto com o cliente, contingências ver
bais que instalam as classes de comportamentos desejadas. Portanto, as últimas
questões poderão ser esclarecidas e as respostas delas poderão dar indícios segu
ros das variáveis responsáveis pela modelagem e manutenção desses comporta
mentos. Aliás, as duas últimas questões estabelecem um forte controle de estímulos
sobre o comportamento do terapeuta: que comportamentos ele deve instalar, que
comportamentos ele deve enfraquecer, que mudanças nos controles de estímulos
devem ser implementadas por ele etc,
A análise de Skinner sobre “ver na ausência da coisa vista” abre uma enorme
possibilidade de análise para o terapeuta, pois ele pode trabalhar com eventos
que não estão necessariamente presentes no sentido convencional, mas estão,
sim, funcionalmente. Uma viúva se queixa de que estámuito deprimida, mas acres
centa: “Não entendo o que acontece comigo: não parei de fazer as coisas que sem
pre fiz (o repertório operante se mantém praticamente inalterado). Falam que na
depressão a gente não faz mais nada. Para mim, sinto uma dor no peito que não
passa, uma angústia, choro o tempo todo e fico lembrando do meu marido. Não
posso passar pelos lugares que ele freqüentava, que vejo ele correndo (no clube),
vejo ele conversando com os amigos (num bar da cidade), vejo ele trabalhando
(na oficina lá embaixo)...” A rotina de vida da cliente estava sob controle de SD
que não advinham do marido; como tal, a relação entre o repertório de fazer e o
controle exercido pelo ambiente não se alterou com a morte dele. Ela continua
respondendo com as mesmas classes comportamentais aos mesmos controles de
estímulos. Por outro lado, a perda brusca e inesperada de reforçadores positivos
fortes gera reações corporais - sentimentos e emoções fortes - que a cliente ob
serva, descreve e nomeia como angústia, e também elicia choro (provavelmente,
prevalece o lado respondente do choro, embora não se excluam os componentes
operantes). Finalmente, o comportamento de “ver” o marido em várias situações
pode ser entendido (Skinner, 1967,1953) como uma “visão condicionada, ou seja,
podem-se ver ‘estímulos que não estejam presentes' nos padrões do reflexo con
dicionado: vemos X, não apenas quando X está presente, mas quando qualquer
estímulo que, freqüentemente, acompanhaXfor apresentado” (pág. 154)... “Os estí
mulos que geram visão condicionada (clube, bar, oficina etc.), muitas vezes, são
reforçadores por fazerem isso e aumentam a amplitude dos estímulos reforçadores
disponíveis para o controle do comportamento humano... A música nostálgica é
eficaz se 'lembra alguém', de dias felizes, aos quais também seria reforçador
retornar” (pág. 156). A cliente vê o marido em várias situações. E nelas o vê se
comportando de maneiras reforçadoras para ela, as quais, obviamente, desejaria
reviver. O comportamento de ver o marido também pode ser entendido (Skinner,
1967, 1953, págs. 156-159) como uma “visão operante”. Segundo Skinner, “há
muitas maneiras de mostrar que o comportamento discriminativo de ver X é
forte. Uma delas é a freqüência dos comportamentos pré-correntes que tornem
possível ver X: olhar p araX por longos períodos ou em cada oportunidade; olhar
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 31
em busca, olhar ao redor do modo que no passado levou a ver X.” É assim que se
pode entender por que uma pessoa, quando vai até o quarto de outra que não está
mais ali, abra a porta e olhe para a cama onde a ausente costumava dormir Se o
comportamento de encontrar alguma coisa foi reforçado (por exemplo, ao se re
forçar uma criança por encontrar a letra inicial do seu nome em painéis de propa
ganda), então surgirão outros comportamentos da mesma classe (de ver a letra:
olhar procurando em quaisquer outros painéis ou placas; insistir para os pais a
ajudarem a encontrar outros painéis nos quais já viu a letra; olhar em revistas etc.);
sob o controle de outros membros da classe de estímulo (estímulos que se asse
melham ou incluem a letra do seu nome: maiúscula, minúscula, no meio, no fim,
no início de uma palavra); eventualmente, confundirá a letra com outras (dirá que
um Q é um P); poderá ver a letra do seu nome nos contornos de nuvens; e, final
mente, verá a letra mesmo quando não houver estimulação visual, como quando
seus olhos estiverem fechados ou num quarto escuro (dirá, por exemplo, que está
pensando” na letra, “imaginando” ela). No caso da cliente eram fortes os com
portamentos pré-correntes da classe ver o marido enquanto ele estava vivo: saber
onde estava, o que estava fazendo, com quem estava, a que horas chegava etc.
Outra variável é a força do comportamento: fala-se que a pessoa é interessada
por, gosta de etc. Skinner (1967,1953, pág. 157) ofereceu um exemplo esclarecedor
sobre o que é um comportamento forte (de alta freqüência) numa pessoa que gosta
de cachorro: uma característica dessa pessoa é que nela a resposta “ver” cachor
ros é especialmente forte. Ela olha para cães sempre que seja possível, cria opor
tunidades para vê-los, seleciona estímulos que lembram cães (fotos, livros de cães
etc.), compra objetos relacionados (coleiras, ossos, entre outros). E, o mais crítico
é que a presença física do cão não é essencial. Estímulos condicionados que acom
panharam cães - coleira, ração etc. - facilmente “lembram-lhe” cães. Certos estí
mulos verbais, como a narração de um episódio envolvendo cães, por exemplo,
levam-na a visualizar cães e pode até mesmo compor esses estímulos. A mesma
tendência se manifesta quando olha para borrões de tinta e nuvens, nos quais
“vê” cães. O comportamento de ver “cães” também acontece na ausência de qual
quer suporte externo identificado. Ela “pensa” sobre cães, “devaneia” sobre eles,
“sonha” com eles à noite. O exemplo do processo que ocorre com cães, descrito
anteriormente, de autoria de Skinner, pode facilmente ser generalizado para com
portamentos fortes em relação a outros temas e se aplica à relação da cliente com
o marido. O repertório dela era muito forte no tocante ao marido: “falar sobre ele”,
ficar ao lado dele”, “guardar recordações dele”, “ouvir atentamente as histórias
dele”, “conversar sobre ele”, “discordar dele”, “brigar com ele”. Sendo assim,
eventualmente,é de esperar-se que certos estímulos verbais possam fazer a clien
te “visualizar”, até o ponto de “ver” o marido na ausência de qualquer suporte
externo identificado. Os comportamentos da cliente sob controle do marido eram
abrangentes e fortes; não se deve estranhar, portanto, a força do comportamento
de ver o marido. “Ao contrário da visão condicionada no padrão respondente, este
comportamento (visão operante)
não é eliciado por estímulos presentes e não
depende do emparelhamento prévio de estímulos. As variáveis controladoras pri
márias são reforço operante e privação... Um homem faminto aumenta o número
de respostas práticas que no passado foram reforçadas com alimento; também
32 ■ Terapia Comportamental
respostas verbais, a pessoa fala sobre comidas saborosas; ou artísticas, pinta qua
dros ou, num museu, se detém mais tempo diante de obras que representam ali
mento; ou, ainda, ‘pensa ou sonha' com comida” (Skinner, 1967, 1953, pág. 157).
As relações sociais da cliente eram restritas e infreqüentes fora do lar, de maneira
que os reforçadores positivos generalizados provinham da relação familiar imedia
ta: marido e filhos. A privação de reforçadores positivos fica evidente após a morte
do marido, maior provedor de tais reforços. “Uma resposta discriminativa que pode
ser feita quando os estímulos estão ausentes apresenta uma vantagem: não re
quer a emissão do comportamento pré-corrente que gere o estímulo externo e
pode ocorrer mesmo quando este comportamento for impossível” (Skinner, 1967,
1953, pág. 157). A cliente, ao “ver” o marido, não precisava ir até ele (comporta
mento atualmente impossível) e, ao “vê-lo” (mesmo que ele não estivesse ali), des
frutava da sua companhia, ainda que por curtos momentos, pois a visão do evento
reforçador, reforça o comportamento de vê-lo. Por outro lado, “A resposta
discriminativa sob tais condições apresenta também ‘desvantagens'; uma delas é
que o comportamento não altera o estado de privação. Logo, não se enfraquece
porque não ocorre saciação” (Skinner, 1967, 1953, pág. 158). Pode-se perguntar:
“Mas não ocorre, então, extinção?” Não, porque o efeito reforçador existe nos estí
mulos privados e nos públicos: o exemplo de Skinner é que o homem faminto é
reforçado pelo aparecimento real do alimento e por “vê-lo” quando ausente. As
sim, “ver” o marido correndo, conversando, trabalhando etc., é reforçador, mes
mo quando ele está ausente. Esses reforços não dependem de uma redução real
no estado de privação. Pode-se gerar uma resposta emocional (agradável ou não),
relembrando um evento emocional ou simplesmente vendo-o ou ouvindo-o.
Mas, se a cliente chora ao ver o marido e se esquiva de ir aos lugares que pro
piciam vê-lo, como poderia ser positivamente reforçador vê-lo? Trata-se de um
caso especial em que operam dois determinantes simultaneamente: o compo
nente reforçador positivo - “ver” o marido - interage com o fato de que ela vê o
marido “ausente”, não porque ele viajou e logo voltará (aqui o sentimento poderia ser
de saudade, produzido por ausência temporária do reforço social generalizado posi
tivo), mas porque ele morreu e, nesse caso, são inevitáveis os sentimentos dolorosos,
concomitantes, produzidos por contingências de perda definitiva de reforçadores
positivos poderosos. Finalmente, quando se reafirma que qualquer comportamento
é multideterminado, decorrem algumas conclusões: nem todas as variáveis envol
vidas no controle da resposta precisam estar presentes para que a resposta ocorra,
ou seja, a resposta discriminativa pode ser emitida na ausência do estímulo
discriminativo e, ainda mais, a resposta que efetivamente ocorreu pode, então,
ser relatada. As considerações teóricas parecem dar importantes indícios para a
compreensão do comportamento de ver na ausência do objeto visto, quando apli
cadas ao caso sucintamente relatado. Tanto a “visão condicionada” como a “visão
operante” devem ser consideradas, pois há componentes determinantes de uma e
de outra na história de contingências da relação entre a cliente e o marido.
O comportamento de “ver na ausência do objeto visto” pode apresentar vanta
gens. Por exemplo, um arquiteto que seja capaz de “ver” uma construção pronta,
antes mesmo de tê-la esboçado na prancheta, certamente tem um repertório pro
fissional elaborado que lhe pode ser útil e funcional no desenvolvimento de pro-
Terapia por Contingências de Reforçamento * 33
jetos arquitetônicos. Em outras circunstâncias, porém, “ver na ausência” pode ser
um comportamento que anuncia uma deficiência comportamental. Suponha-se um
adolescente com repertório social limitado, que esteja “apaixonado” por uma ga
rota. Provavelmente, ele terá uma classe abrangente e freqüente de comportamen
tos de “vê-la” sem que ela esteja por perto. Assim, poderá “vê-la” conversando com
ele; “vê-la” passeando pelo parque com ele; “vê-la” arrumando-se para encontrar
com ele; bem como poderá “ouvi-la” dizendo que o ama; “sentir” o toque dela etc.
Tais comportamentos revelam, porém, limitações comportamentais do jovem para
se aproximar e emitir comportamentos eficazes sob controle da presença real da
garota. De maneira análoga, a cliente revela uma deficiência generalizada de re
pertórios comportamentais em aspectos determinados da vida, o que a mantém
“vendo” o marido e sofrendo por ele. Logo, ela apresenta um repertório a ser alte
rado e não fortalecido. Como poderia, então, o terapeuta proceder para ajudá-la?
A análise das condições controladoras que determinam o comportamento de
“ver na ausência do objeto visto” proposta por Skinner, revela como se “cons
trói” o comportamento. Deve-se começar, então, pelo manejo de tais variáveis
determinantes para “desconstruir” o comportamento. Entre as variáveis básicas
no processo de instalação e manutenção do comportamento de “ver na ausência”
estão: força da resposta, privação, reforço operante, acesso aos reforços condicio
nados sem necessidade de emissão da resposta pública, emissão de respostas
pré-correntes que tornam provável “ver na ausência”, presença de estímulos con
dicionados eliciadores, conseqüência social com reforços generalizados, apresen
tados pela comunidade verbal que reforça comportamentos, como se lamentar, dizer
que só pensa no marido, que o “vê” em todo lugar etc. O primeiro ponto enfatizado
pelo terapeuta é que a cliente apresenta uma limitação generalizada de repertório
social para: obter reforçadores a partir de novas relações e para ficar sob o controle
de outras fontes de estimulação, além do marido. Repetindo Ferster (1972), citado
no início do capítulo: “Há um extremo onde o repertório geral é bastante limitado (é
o caso da cliente nas relações sociais e afetivas) e um outro extremo onde a fobia
(sofrer pela perda do marido) é de importância trivial (não se espera que a morte do
marido seja trivial, mas não deveria ser tão amplamente perturbadora e perma
necer intensa por tanto tempo) no contexto do repertório total do paciente.” As
sim sendo, o terapeuta poderia estabelecer como meta a ampliação dos repertórios
sociais e das interações afetivas da cliente. Os comportamentos dela em relação
ao marido eram muito fortes, em detrimento de outros comportamentos, que eram
muito fracos. Há necessidade de ampliar o repertório geral da cliente, despertan
do nela outros interesses (descobrindo novos reforçadores), aumentando a varia
bilidade comportamental (colocando o repertório sob controle de múltiplos
estímulos), de tal forma que ela desenvolva várias classes de comportamentos fo r
tes disponíveis, simultaneamente, no repertório comportamental (não uma ou
poucas classes, como se caracteriza o repertório até o momento). É necessário
também alterar as condições ambientais cotidianas, criando, em torno dela, um
novo conjunto de estímulos que reduza a função condicionada de eliciar reações
respondentes associadas ao marido (mudar distribuição dos móveis, alterar o guar
da-roupa etc.). Ao mesmo tempo, a cliente deve se expor aos estímulos condicio
nados intimamente relacionados ao marido (fotos, ferramentas, livros etc. dele),
34 ■ Terapia Comportamental
de modo a enfraquecer a relação real entre o objeto e o marido (via extinção
respondente, uma vez que, rompendo a relação entre CS e US, a força eliciadora
do CS se enfraquece progressivamente). Nessa última estratégia terapêutica, é fun
damental que o contato com esses estímulos, condicionados fortes, seja feito so
litariamente, na ausência de outras pessoas, a fim de minimizar as conseqüências
sociais operantes, que poderão manter a força dos estímulos condicionados (via
condicionamento operante, em que as fotos, ferramentas, etc, tornam-se SD, ou
seja, ocasiões para “sofrer” e ser conseqüenciada socialmente com o “conforto”
ou com outros reforços generalizados, advindos de outrém). Deve-se também am
pliar o repertório dela de se engajar em novas e múltiplas atividades (emitir
operantes públicos), como sair de casa, fazer compras, conversar, freqüentar lu
gares, visitar pessoas etc., que produzam reforçadores positivos. O objetivo é de
senvolver repertório incompatível com o repertório de emitir comportamentos
pré-correntes, basicamente encobertos: pensar, imaginar, ficar sentada “sonhan
do” etc., para os quais os reforços liberados pela comunidade, mesmo eventuais,
muitas vezes reforçam os comportamentos não desejados: isolamento social, cho
ramingo, frases de autopiedade, entre outros. (“Coitada, Está tão triste... Tão amua
da. .. Tão sozinha... Perdeu o encanto pela vida... ”) Além disso, como se sabe, “ver”,
“imaginar”, “sonhar” etc., com aquilo de que se está privado é reforçador: (“O ho
mem faminto é reforçado pelo aparecimento ou presença de objetos relevantes,
tanto quanto por vê-los quando estiverem ausentes”) (Skinner, 1967, 1953, pág.
158). Outra estratégia a ser adotada é interromper as conseqüências operantes,
basicamente reforços generalizados, que mantêm os comportamentos de luto
(chorar operante, lamentar-se etc.). A cliente deve ser orientada a freqüentar no
vos ambientes (começar algum curso, exercícios físicos ou outra atividade) nos
quais não é conhecida, sendo, portanto, menor a probabilidade de falar sobre o
marido, a menos que ela própria inicie tal tipo de conversa. Deve também, nos
ambientes conhecidos, utilizar técnicas de autocontrole que reduzam a probabilidade
de falar sobre o marido e de se lamentar pois esses tipos de verbalizalização funcio
nam como SD para as pessoas emitirem comportamentos de “ouvir”, “dar conforto”
etc., reforçando os operantes verbais e mantendo, via reforço operante, os estados
corporais (de sofrimento) associados. Os procedimentos levam a cliente a emitir dife
rentes classes de operantes, abrangendo uma ampla gama de repertório social e pro
duzindo reforçadores sociais. Reduz-se, dessa maneira, o estado de privação e
aumenta-se a sensibilidade a novos reforçadores. Em suma, a identificação das variá
veis que controlam o comportamento de interesse (“ver na ausência”) fornece, ao
terapeuta, as informações necessárias para sistematizar um pacote de procedimen
tos que, no conjunto, altera os padrões comportamentais dos quais a cliente se queixa
e que, geralmente, poderiam ser nomeados “manter-se no luto”. (Para ilustrar o
tratamento anterior, deu-se ênfase aos objetivos comportamentais e não aos procedi
mentos específicos. O terapeuta deve chegar a um nível de especificidade de proce
dimentos que os tornem funcionalmente relevantes para as necessidades da cliente.)
O que se discutiu em relação ao comportamento de ver aplica-se, igualmente,
a outros comportamentos, como ouvir, tatear, cheirar, saborear, sentir etc. Em
contexto terapêutico, o comportamento de sentir assume enorme importância
pois o cliente, em grande parte do tempo, fala sobre sentimentos.
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 35
O cliente pode ter o repertório de observar seus próprios comportamentos
quando não há acompanhantes públicos e de relatar esses comportamentos ins
talados pela comunidade verbal a qual pertence (os mecanismos pelos quais a
comunidade verbal instala os comportamentos são apontados adiante). Perma
necem duas questões básicas para o terapeuta:
1. A fidedignidade dos comportamentos de observar e de relatar do cliente;
2. As variáveis das quais tais comportamentos são função. O que de fato a pes
soa observou?
“Acho que vou começar a estudar.” pode ser relato de um comportamento
incipiente, sob controle dos elos iniciais de um encadeamento que, na história
de reforçamento particular daquele indivíduo, se completa por uma cadeia de
respostas públicas que significa ir estudar. Pode, ainda, ser uma resposta verbal
de fuga-esquiva controlada pela chegada do pai que, usualmente, pergunta “Já
estudou hoje?” e que diante da resposta verbal “Não estudei.” aplica uma puni
ção positiva (dá-lhe uma bronca) e negativa (fica de cara “fechada”), mas que
diante da resposta verbal “Estudei.” (mesmo não tendo estudado) ou “Estou indo
estudar.” adia a punição. No primeiro caso, a pessoa observa e relata seu próprio
comportamento: movimentos operantes tão minúsculos não são observados por
outra pessoa, mas geram estímulos proprioceptivos, controlando os comporta
mentos de observar e de relatar. Aparentemente, o relato verbal descreve um
comportamento futuro: “Acho que vou (irei) estudar.”, mas de fato descreve
um comportamento emitido no passado em condições de controle semelhantes
às atuais. O que está ocorrendo com a pessoa, mais precisamente, é o seguinte:
no passado, em condições do controle de estímulos semelhantes, aconteceram
mudanças corporais, os primeiros elos de um encadeamento, discriminados
nesse momento, e seguidos por outros comportamentos, os elos seguintes do
encadeamento, como ir até a escrivaninha, pegar livro, caderno etc., e começar
a estudar. Ou seja, a pessoa está descrevendo os elos que faltam no momento,
mas que no passado foram emitidos (e reforçados). A previsão de comporta
mento a ser emitida é resumida em: condições de estímulo específicas controla
ram (no passado) a emissão de um comportamento específico; logo, se essas
condições são repetidas e os elos iniciais da cadeia de respostas estão ocorren
do, então é alta a probabilidade de emissão desses mesmos elos finais da cadeia,
emitidos na ocasião anterior. Na segunda possibilidade, ele observa a relação
entre seu comportamento verbal e a reação do pai e se comporta sob o controle
do reforçamento negativo. O controle de estímulo, na primeira alternativa, é o
próprio comportamento de quem se comporta. O controle de estímulo, na se
gunda, provém de um agente externo, o pai. Convém lembrar que os comporta
mentos do filho de observar e de relatar a relação entre seu comportamento e o
do pai somente ocorrerão se existirem contingências sociais apropriadas para
instalar esses comportamentos de observar e relatar. Ocorre que, o comportamento
de fuga-esquiva do filho, pode ter sido selecionado apenas pelas conseqüências que
produz. Nesse caso, o filho fica sob o controle dessas conseqüências mas não
observa e nem relata a relação entre o comportamento e os seus determinantes,
36 ■ Terapia Comportamental
embora consiga relatar o comportamento emitido. (Por exemplo, se o terapeuta
lhe perguntar “Por que você não diz para seu pai, simplesmente, que não estu
dou?n, ele provavelmente responderá “Nem sei. Falo que vou estudar, me tranco
no quarto e fico um tempo lá vendo TV”)- É tarefa do terapeuta, se for o caso,
criar as contingências que modelam, observar e relatar os comportamentos
emitidos e as relações funcionais.
O cliente pode, porém, ter limitações na observação e no relato de comporta
mentos que ocorrem sob o controle de eventos que não estão diretamente dispo
níveis para a comunidade. Esses déficits comportamentais necessitam, nesse caso,
ser superados por contingências produzidas pelo terapeuta no contexto clínico.
Uma cliente, 35 anos, relatou que se sente culpada pela separação no primeiro
casamento. “Um erro que cometi foi não querer acompanhá-lo em nenhuma ati
vidade social: não saía sozinha com ele, nem com amigos - não gostava
dos ami
gos dele - nem o acompanhava nos jantares ou festas profissionais. Ele ficava muito
bravo comigo, mas eu não estava nem aí. Quando decidiu se separar de mim,
disse que essa era uma das razões,.,” Numa outra sessão, falou sobre o fim de
semana com o atual namorado: “Me enfiei numa lata de lixo. Fui passar o fim
de semana na casa da mãe dele. Teve a viagem... Ele nem estava me esperando:
saiu com os amigos e voltou tarde.., Tive que agüentar a irmã viúva dele... A filha
dele é boazinha, mas não tenho saco para ficar dando atenção a ela...”
Seguiu-se o diálogo na sessão:
Terapeuta: Por que você aceitou ir? Poderia ter dito 'não'?”
Cliente: Não sei. Poderia... não me ocorreu.”
Terapeuta:Ficar sozinha no fim de... ”
Cliente: Não é isso. Fico bem, sozinha. Até gosto.”
Terapeuta: “-Você foi fortemente punida pelo seu marido por se recusar a sair
com ele... De certa maneira, dizer 'não' foi uma razão para o desfecho...”
Cliente: Nunca pensei nisso. É verdade... Eu dizia 'não' e me dei mal. Ele
jogou isso na minha cara... Eu nem tive como me defender.”
Terapeuta: “- O que você sente quando diz 'não'?”
Cliente: “- No trabalho digo..
Terapeuta: Com seu namorado?”
Cliente: Não consigo, mesmo que ele seja injusto e duro comigo.”
Terapeuta: Por que você o ama?”
Cliente: Não. Acho que ainda amo mais meu marido.,. Com ele não vai longa”
Cliente: “- Entendi agora o que ocorre, me sinto mal quando digo ‘não’ para o
namorado. O 'não' lembra meu marido, nossas brigas, sinto um mal-estar...
Não tinha me dado conta disso.”
Cliente: É pior esse estado... (Não sei bem como descrever. É angústia? É
ansiedade?) do que passar um fim de semana assim. Parece que, um eu posso
escolher, o outro não...”
A cliente, aparentemente, estava sob o controle dos comportamentos do na
morado. A partir do ponto em que o terapeuta sinalizou que o padrão de compor-
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 37
tamentos atual era o oposto ao que emitia com o ex-marido, ela passou a observar
os estados corporais associados a dizer “não" aos programas propostos pelo na
morado. Certamente, as respostas encobertas incipientes que antecediam o dizer
“não” ao ex-marido estão sendo atualmente evocadas por condições ambientais
atuais semelhantes aos acontecimentos do passado (ser convidada pelo ex-mari
do para uma atividade social, assemelha-se com ser convidada pelo namorado).
Assim, mesmo antes de ocorrer o comportamento público (dizer “não”), ela res
ponde aos estados corporais desagradáveis, aceitando o convite (comportamento
de fuga-esquiva que produz, provavelmente, um alívio imediato no estado corpo
ral, reduzindo-se, assim, a angústia ou a ansiedade - segundo os termos da clien
te). Ela possui um repertório bem instalado para lidar com a aversividade de
algumas situações práticas vivenciadas com o namorado: fica lendo, vai dormir,
trabalha etc., ou seja, fica sob o controle de aspectos do ambiente que lhe são
reforçadores (livro, trabalho, quarto de dormir, entre outros) e não fica sob os con
troles aversivos: comportamentos do namorado que lhe são desagradáveis, pre
sença da cunhada etc. (a frase dela “Parece que, um posso escolher... ’’ pode
significar: tenho respostas para lidar com a situação). Os estados corporais senti
dos lhe eram desconhecidos e, com eles, ela não sabe lidar (a frase dela “o outro
não posso escolher” pode ter o sentido de: não sei como lidar com alguma coisa
que desconheço). Nas sessões seguintes, o terapeuta levou a cliente a discriminar que
a generalização que ela fez entre o ex-marido e o namorado era imprópria pois cada
um conseqüenciava, diferentemente, os comportamentos dela (diferentes contin
gências operavam nas duas relações). Dizer “não” ao namorado, possivelmente, não
teria conseqüências aversivas como as que havia sofrido com o ex-marido e a fun
ção eliciadora dos estados corporais desagradáveis do “não” iria se enfraquecer se
não ocorresse punição. A cliente passou a dizer “não” para os programas que lhe
eram desinteressantes e não se sentiu afetada aversivamente: “Tenho dado limites
para meu namorado. Agora “não” é “não”. Acho, porém, que estou menos radical... ”
Há autores (Ferster, 1972) que apontaram a existência de alguns tipos de auto-
observação particularmente difíceis de serem ensinados ao cliente, porque o com
portamento é privado ou de magnitude pública tão ínfima, sendo essencialmente
encoberto. Assim:
“Três tipos de eventos que precisam ser observados são: (a) Estados fisiológi
cos e somáticos da pessoa (a pessoa aprende a descrevê-los respondendo a
perguntas do tipo “Como você se sente?”); (b) A força de comportamentos la
tentes ou incipientes no repertório (aprende a descrevê-los respondendo a ques
tões do tipo “Para onde você está indo?”); (c) A relação funcional entre o
desempenho e o elemento do ambiente que o controla (aprende a descrevê-la
respondendo a perguntas do tipo “Por que você fez isso? ). Descrições clínicas
nem sempre diferenciam entre estes três tipos de eventos. Quando um pacien
te diz que está com raiva, o estímulo discriminativo que controla seu desem
penho verbal pode ser fisiológico; ou pode ser o efeito disruptivo que as
mudanças fisiológicas produzem sobre o comportamento em operação; ou
poderia ser uma freqüência aumentada de comportamentos agressivos.
Freqüentemente, o paciente pode descrever o estado fisiológico interno (fica
38 ■ Terapia Comportamental
sob o controle de estados corporais: “Sinto-me zonzo.” “Sinto-me o c o ”), mas
falta-lhe comportamento verbal sobre os eventos do meio externo que o gera.
Outros pacientes podem ser incapazes de descrever os eventos externos ou mu
danças eliciadas dentro de sua pele. Outros são capazes de descrever um au
mento na freqüência de comportamento atual ou latente, mas incapazes para
descrevê-lo funcionalmente em relação ao ambiente que o controla. A discus
são de Skinner (1953,1957) a respeito de comportamento social sob o controle
discriminativo de eventos privados se aplica diretamente ao problema de defi
ciências da autoconsciência: O desenvolvimento desses comportamentos em te
rapia parece ser quase o mesmo que ocorre no desenvolvimento e crescimento
normal de uma criança. Provavelmente, o evento mais significativo e difícil
para aprender a observar é a relação funcional entre o comportamento da
própria pessoa e o elemento do ambiente que o controla. Em geral, um relato
dos fatos que aconteceram é m uito pouco útil se com parado com as
relações entre os eventos e a parte do ambiente que os controla”8 (pág. 9).
É provável que o leitor, ao final do presente capítulo, manifeste uma certa frus
tração: “O capítulo não me ensinou a fazer terapia!.. Correto, não ensinou mes
mo, no sentido estrito de “fazer terapia” que a frase expressa. Há pelo menos dois
pressupostos, absolutamente equivocados, subjacentes a essa necessidade de
aprender a fazer terapia que merecem alguns comentários. Em primeiro lugar, o
pressuposto de que o comportamento é um evento estático e, como tal, passível
de ser, ele próprio, classificado como adequado ou inadequado e, portanto, obje
to de mudança. Em segundo, a adoção de um modelo explicativo mecanicista, a
partir do qual supõe-se que existam causas para os comportamentos-problema
manejados por procedimentos padronizados. Em suma, se o problema de com
portamento foi identificado, deve haver um procedimento para resolvê-lo.
O capítulo mostrou uma proposta completamente diferente: há necessi
dade de uma profunda compreensão do fenômeno comportamental humano,
à luz da ciência do comportamento e do Behaviorismo Radical e do mergulho
no novo paradigma decorrente deles. O comportamento é um processo dinâ
mico e contínuo que resulta da interação recíproca entre a pessoa e o ambien
te presente e passado. Nenhum comportamento pode ser avaliado fora do
contexto em que
ocorre, já que comportamento não é função do organismo,
não é função do ambiente, é interação entre ambos. Isolar um aspecto especí
fico do comportamento - por exemplo, aquele relatado na queixa - é simplifi
car demasiadamente o processo comportamental. Além disso, o modelo
explicativo é o da seleção do comportamento pelas conseqüências que pro
duz. O comportamento é determinado pela intrincada rede de contingências de
reforçamento que, cumulativamente (desde a origem do organismo), o influen
ciaram e das quais o próprio comportamento é integrante. Conceitualmente,
não é possível considerar iguais dois comportamentos quaisquer de dois orga
nismos diferentes, mesmo que sejam topograficamente semelhantes. Pelo fato
8 Os grifos em itálico e parênteses foram feitos pelo autor do capítulo.
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 39
de os determinantes do comportamento não se repitirem, os procedimentos
para lidar com eles não podem ser exatamente os mesmos.
Buscar nos livros procedimentos que funcionam com determinados proble
mas do comportamento de clientes específicos é enriquecedor, mas raramente
permite uma replicação direta dos procedimentos descritos. O que se espera do
terapeuta, a partir das leituras, é que ele consolide conceitos sobre comportamento,
sobre procedimentos de mudança, entre outros, e, na prática clínica, faça generali
zações, estabeleça relações de equivalência etc. O mais relevante a se esperar do
terapeuta é, diante da intrincada e única teia de contingências que emerge da
interação com o cliente, que seja criativo (apresente variabilidade comportamental)
dentro dos limites da adoção do modelo conceituai e experimental descrito
(Behaviorismo Radical e Ciência do Comportamento) e sensível às conseqüências
do seu próprio comportamento advindas do cliente, as quais modelarão procedi
mentos terapêuticos apropriados para cada caso. Assim, a atuação terapêutica é
sempre única - embora conceitualmente sistemática - por ser única também cada
combinação de contingências trabalhada pelo terapeuta. O capítulo, portanto,
começou a ensinar a fazer terapia, mas da maneira como concebem os
o processo terapêutico. A proposta apresentada é peculiar em muitos aspectos e o
texto expõe essas particularidades. Desse modo, se faz terapia dentro do arcabouço
da Terapia por Contingências. Atuar de acordo com essa proposta faz a diferença.
R e f e r ê n c ia s
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e seguintes. '
CAPITULO T _
■ ■HÉiilMl i iM lÉ h PiiiiPTiiihMilhilP jilPi P
Reforçamento Positivo:
Princípio, Aplicação e
Efeitos Desejáveis
M aria B ea tr iz B arbosa P in h o M a d i1
“A terapia bem-sucedida constrói comportamentos
fortes, removendo reforçadores negativos des
necessários e multiplicando os positivos. Inde
pendentemente de as pessoas que tiveram seus
comportamentos fortalecidos dessa maneira vive
rem, ou não, mais que as outras, ao menos pode-se
dizer que vivem bem” (Skinner, 1989, pág. 114).
Essa afirmação expressa a importância que o terapeuta
comportamental precisa atribuir às contingências de Refor
çamento Positivo ao definir os procedimentos terapêuticos
para promover mudanças no repertório comportamental
de seus clientes.
Neste capítulo, pretende-se apresentar um breve histó
rico do princípio do Reforçamento Positivo, o processo
comportamental pela descrição de possíveis
efeitos das
contingências de Reforçamento Positivo na instalação, no
fortalecimento e na manutenção de repertórios compor
tamentais e aspectos relevantes do procedimento para sua
aplicação como técnica terapêutica dentro do modelo de
Terapia por Contingências (Guilhardi, 1997).
A partir de experimentos realizados com animais, Skinner
publicou seu primeiro livro, O Comportamento dos Organismos,
em 1938, no qual descreveu conceitos que definiram o condido-
1 Agradeço a Hélio José Guilhardi pelos comentários feitos durante a pre
paração do texto.
42 ■ Terapia Comportamental
namento operante como um tipo de aprendizagem que se contrapõe ao condiciona
mento clássico, no qual o comportamento é modificado por suas conseqüências.
Assim, os comportamentos que operam no ambiente geram conseqüências e
são, por sua vez, modificados por elas e denominados comportamentos operantes.
As conseqüências podem alterar o comportamento de diferentes maneiras, es
tabelecendo relações específicas entre o comportamento emitido e o ambiente que
o controla. Uma das relações observadas é descrita pelo princípio do reforçamento:
“A força (do operante) aumenta se a ocorrência de um operante for acompanhada
da apresentação de um estímulo reforçador” (Skinner, 1938).
Em Bjork (1993) encontra-se uma citação de Skinner justificando a origem da
escolha do termo reforçamento:
“Eu adotei a palavra de Pavlov e sinto que ela tem uma vantagem clara
sobre 'recom pen sa ' por iden tificar o efeito de um a conseqü ência do
com portam ento no fortalecim ento do com portam ento, isto é, em tornar
o comportamento mais provável de ocorrer novamente. A velha idéia de pra
zer e dor e os termos de Thorndike - \satisfação’ e \desconforto' - referem-se a
sentimentos, o que na m inha opinião é um equívoco” (pág. 99).
Keller e Schoenfeld (1973), no clássico Princípios de Psicologia, descrevemhis-
toricamente a diferenciação dos procedimentos desenvolvidos por Skinner desde
a “lei do efeito” descrita por Thorndike até o princípio do reforçamento e a noção
de comportamento operante.
Em Ciência e Comportamento Humano, Skinner (1970), afirma: “Os eventos
que se verificam ser reforçadores são de dois tipos. Alguns reforços consistem na
apresentação de estímulos, no acréscimo de alguma coisa... Esses são denomina
dos reforços positivos. Outros consistem na remoção de alguma coisa... Esses deno
minam-se reforços negativos. Em ambos os casos, o efeito do reforço é o mesmo: a
probabilidade da resposta será aumentada” (pág. 49).
É importante salientar que, ao lado de termos como operante, os termos re
forço, reforçador e reforçamento são identificadores imediatos da proposta
skinneriana que, muitas vezes, é conhecida como Teoria do Reforço.
Para Catania (1999), “o princípio é simples, mas à medida que evoluiu... trouxe
consigo alguns problemas de linguagem lógica” (pág. 90). Ele propôs a terminolo
gia do reforço apresentada resumidamente abaixo:
Princípio do reforço O responder aumenta quando produz reforçadores.
Reforçador (substantivo) Um estímulo.
Reforçador (adjetivo) Uma propriedade de um estímulo.
Reforço (substantivo) Como uma operação - apresentar conseqüências
quando uma resposta ocorre.
Como um processo - o aumento das respostas que
resultam do reforço.
Reforçar (verbo) Como uma operação - apresentar conseqüências
quando uma resposta ocorre: as respostas são re
forçadas, não organismos*
Como um processo - aumentar o responder me
diante a operação de reforço.
Reforçamento Positivo: Principio, Aplicação e Efeitos Desejáveis * 43
“Esta term inologia ê adequ ada se e som ente se estiverem presentes três
condições: (1) um a resposta produz algum a conseqüência, (2) a resposta
ocorre com m ais freqüência do que quando não produz conseqüências e
(3) o aum ento das respostas ocorre porque a resposta tem aqu ela conse
qü ên cia,} (pág. 90).
Catania (1999) afirma também que “Embora um reforçador seja uma espécie
de estímulo, o reforço não é nem o estímulo, nem a resposta... a operação é efe
tuada sobre as respostas e, portanto, podemos falar tão somente de respostas re
forçadas, não de organismos reforçados” (pág. 90).
O uso adequado dos termos, que descrevem o evento comportamental de
interesse, facilita a previsão e o controle do comportamento quer a relação
estabelecida (comportamento-conseqüência) tenha sido programada para es
tudos em laboratório, quer tenha sido planejada em am bientes sociais
estruturados como a situação clínica, ou seja, observada nos ambientes natu
rais da vida cotidiana.
PRINCIPIO DO REFORÇAMENTO
POSITIVO NA TERAPIA
O princípio do Reforçamento Positivo pode ser considerado o mais funda
mental dos princípios básicos que caracterizam a Análise Aplicada do Com
portamento em clínica por estar presente em muitas técnicas e procedimentos
comportamentais, como modelagem, modelação, reforçamento diferencial,
para citar as mais comuns.
Está presente desde o início do processo terapêutico na formação do vínculo
entre terapeuta e cliente: “O poder inicial do terapeuta como agente controlador
se origina do fato de que a condição do paciente é aversiva e, portanto, qualquer
promessa de alívio é positivamente reforçadora” (Skinner, 1970, pág. 208).
Para que o terapeuta exerça com sucesso a sua função reforçadora, é impor
tante que ele esteja atento para as variáveis relevantes que atuam na manutenção
da relação face a face com o cliente durante as sessões terapêuticas. Porém, as
histórias de contingências presentes na instalação e na manutenção dos compor-
tamentos-problema que fizeram o cliente buscar ajuda é que devem ser alteradas
para promover a modificação comportamental desejada.
“A qualidade da relação terapeuta-cliente é diretamente proporcional à com
preensão conceituai que o terapeuta tem do seu cliente e da sua habilitação
instrumental e pessoal para lidar com as dificuldades trazidas por ele. A
compreensão conceituai permite ao terapeuta conhecer a problem ática do
cliente num nível que vai alem do expresso pelo próprio cliente. Isso
aprofunda o vínculo” (Guilhardi, 2002, pág. 141).
44 ■ Terapia Comportamental
Levando-se em conta essa afirmação, a partir do princípio do Reforçamento
Positivo seguem algumas considerações sobre relações funcionais observadas
na prática clínica, os procedimentos terapêuticos derivados e os possíveis
correlatos teóricos.
QUANDO 0 REFORÇAMENTO OCORRE
Os critérios que especificam quando uma resposta produzirá reforçadores, quer
sejam programados ou observados, geram padrões comportamentais específicos.
Se uma dada conseqüência seguir todas as ocorrências de uma dada resposta,
esse critério é conhecido como esquema de reforçamento contínuo.
Esse arranjo entre comportamento e ambiente é particularmente possível em
ambientes controlados ou pode ocorrer quando há interesse específico em au
mentar a freqüência de uma resposta que está sendo instalada e oferece alto valor
reforçador também para quem reforça.
Assim, na prática clínica, na relação face a face entre terapeuta e cliente, é
desejável que o reforçamento ocorra, em especial, na aquisição de classes de res
postas emitidas durante a sessão, favorecendo o fortalecimento do vínculo e re
duzindo a probabilidade de contra-controle típico das contingências aversivas.
No entanto, a vantagem do uso do procedimento de reforçamento contínuo é
restrita às condições iniciais de aprendizagem de um comportamento. É impor
tante salientar que os comportamentos tornam-se mais resistentes quando man
tidos em esquemas de reforçamento intermitente.
“O reforço de algumas respostas mas não de outras, cham ado de reforço in
termitente ou parcial, é uma característica geral do com portam ento.(...) O
reforço contínuo ou regular, que é o reforço de cada resposta dentro da classe
operante,
é a exceção mais do que a regrat} (Catania, 1999, pág. 177).
O esquema de reforçamento intermitente especifica quando uma resposta
será reforçada e quando o reforçador não estará disponível. Nesse caso, obser
va-se o reforçamento e a extinção, ou seja, não ocorrência do reforço em deter
minadas ocasiões.
Os esquemas de reforçamento intermitente mais comuns são:
Esquemas de razão: Determinado número de respostas constantes (FR)
ou variáveis em torno de um valor médio (VR), deve
ocorrer antes que a resposta seja reforçada. O respon
der no esquema FR gera pausa após reforço seguida
de taxas relativamente altas e constantes e no VR as
pausas são reduzidas ou eliminadas e o responder
mantém-se em taxas altas e constantes.
Os esquemas de reforçamento em razão, geralmente, originam padrões de
comportamento bem estabelecidos. Por exemplo, se o número médio de reforços
nos esquemas de razão variável for favorável ao indivíduo, ou seja, a relação desem
Reforçamento Positivo: Principio, Aplicação e Efeitos Desejáveis ■ 45
penho-reforço gerar estados corporais agradáveis, poderá produzir padrões bem
fortalecidos que se manterão por longos períodos.
Esquemas de intervalo: Determinado tempo mínimo constante (FI) ou variável
em torno de um valor médio (VI) deve transcorrer des
de a ultima resposta reforçada para, então, a resposta
emitida ser reforçada. Em geral, o intervalo de tempo é
medido a partir do reforçamento anterior. Nos esque
mas de FI, o desempenho típico é de pausa após
reforçador seguida por uma aceleração gradual ou
abrupta, atingindo uma taxa moderada de respostas. O
desempenho em VI gera taxa de respostas relativamente
constante entre os reforços.
O comportamento humano operante produz mais conseqüências nos esque
mas de reforçamento em razão que em esquemas de intervalo, no qual um único
desempenho pode ser emitido para liberar o reforço.
Existem vários esquemas de reforçamento mais complexos que combinam cri
térios temporais e/ou número de desempenhos. Uma descrição detalhada de seus
efeitos sobre o comportamento pode ser encontrada em Catania (1999) ou em
Ferster, Culbertson e Perrot Boren (1982).
Em função da contingência, o comportamento, submetido a cada tipo de es
quema em vigor, varia de maneira significativa e característica. Para identificar
o esquema vigente, o terapeuta precisa especificar o desempenho de interesse, o
reforçador que o segue e o mantém e a relação funcional entre eles. Conhecer
o padrão típico do desempenho em cada esquema facilita a tarefa.
Valores atribuídos pelo cliente ao seu próprio comportamento, por exemplo,
dizer que algum desempenho é fácil, sugere reforçamento contínuo, ou difícil,
indica reforçamento intermitente. Ambos oferecem pistas importantes para o le
vantamento de hipóteses explicativas e, conseqüentemente, para os procedimen
tos clínicos a serem adotados. O esquema de reforçamento vigente pode ser o
principal determinante para a explicação de uma queixa.
Muitos sentimentos (“estados corporais” produzidos pelas contingências) re
latados pelos clientes estão relacionados com mudanças nos esquemas de
Reforçamento Positivo em vigor.
A “perda de confiança” é um sentimento que aparece com freqüência na prá
tica clínica, e pode ser analisado como um estado corporal resultante da diminui
ção drástica do Reforçamento Positivo produzido anteriormente por um
comportamento reforçado continuamente.
Skinner (1974) refere-se à “expectativa frustrada” como uma condição gerada
quando o Reforçamento Positivo costumeiro deixa de ocorrer (extinção). A “sau
dade” é descrita como a ausência da ocasião apropriada para a emissão do com
portamento anteriormente reforçado. A “abulia” (falta de “força de vontade”) é
proveniente de esquemas de razão fixa cuja relação entre resposta e reforço tenha
sido alta demais, tornando-se desfavorável para o organismo que se apresenta
inapto para reiniciar o responder ou seu desempenho ocorre em baixa freqüência
e o indivíduo passa a relatar incapacidade de agir e de tomar decisões.
46 ■ Terapia Comportamental
Outro efeito que pode ser nocivo gerado por esquemas de reforçamento em
razão é o comportamento de “jogar compulsivo” que se mantém a despeito
da razão variável, altamente desfavorável, entre desempenho e reforço. O desem
penho se mantém em taxas altas, mesmo quando o reforçamento não é freqüente.
CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO POSITIVO
Em geral, os clientes buscam ajuda terapêutica em função de contingências
coercitivas presentes em sua vida e das dificuldades para eliminar, escapar ou evi
tar esses estímulos aversivos que geram sofrimento descritos, muitas vezes, como
respostas emocionais. Desse modo, os sentimentos como medo, ansiedade, culpa e
raiva indicam a presença de contingências aversivas na história de vida passada
e/ou atual do cliente e suas dificuldades para lidar com elas.
As contingências de Reforçamento Positivo, por sua vez, aparecem nas quei
xas quando estão escassas nas relações do indivíduo com seu ambiente. Apare
cem nos relatos de sentimentos de angústia ou depressão, sugerindo diminuição
ou perda de Reforçamento Positivo em processos de punição negativa (perda de
agente reforçador, diminuição dos reforços etc.) ou extinção (comportamentos
que deixam de produzir reforçadores).
E importante salientar que as contingências de Reforçamento Positivo são fun
damentais para promover sentimentos de auto-estima e de autoconfiança e faci
litar a instalação de repertório de auto-observação, um pré-requisito para tornar
o cliente um agente de sua própria mudança.
Qualquer proposta terapêutica, em especial as embasadas no modelo de Te
rapia por Contingências (Guilhardi, 1997), precisa conter, entre seus principais
objetivos, procedimentos que façam o cliente identificar contingências de
Reforçamento Positivo operando em suas relações com o seu ambiente e promo
ver para si e para os outros reforçadores positivos genuínos.
IDENTIFICANDO AS CONTINGÊNCIAS
“As pessoas usualmente procuram a terapêutica m édica ou comportamental
em função daquilo que estão sentindo. O médico m uda o que elas sentem de
m aneiras m édicas; os terapeutas com portam entais alteram as contingên
cias das quais os sentimentos são função” (Skinner, 1991, pág. 114).
O cliente, ao procurar a terapia, descreve sua queixa usando os termos insta
lados pela comunidade verbal presente enquanto vigoravam as contingências das
quais seu comportamento é função.
uDiferentes com unidades geram tipos e quantidades diferentes de auto
conhecimento e diferentes maneiras de uma pessoa explicar-se a si mesma e
aos outros” (Skinner, 1974, pág. 186).
Reforçamento Positivo: Principio, Aplicação e Efeitos Desejáveis ■ 47
A tarefa inicial do terapeuta é alterar possíveis descrições incompletas ou im
precisas e instalar um novo repertório que gere descrições acuradas das contin
gências relevantes ao comportamento a ser modificado.
Embora pareça uma questão simples, isso requer muita atenção por tratar-se
de desenvolver um repertório verbal que concorre com outros termos não técnicos,
reforçados pela comunidade social leiga.
IDENTIFICANDO OS REFORÇADORES
“A única m aneira de dizer se um dado evento é reforçador ou não para um
dado organismo, sob dadas condições, é fazer um teste direto. Observamos
a freqüência de uma resposta selecionada, depois tornamos um evento a
ela contingente e observam os qualquer m udança na freqüência” (Skinner,
1970, pág. 48).
O procedimento sugerido acima, para a classificação de um evento como
reforçador, é possível quando a atuação acontece em ambiente planejado para
o controle das variáveis relevantes. Em geral, são ambientes “de laboratório” onde o
rigor experimental exigido é possível.
Na prática clínica, o terapeuta tem disponível apenas o relato verbal do clien
te sobre seus
comportamentos-problema, uma pequena parcela das dificuldades,
em geral os déficits comportamentais ou excessos emitidos durante a sessão e,
principalmente, poucos reforçadores positivos, geralmente os eventos disponí
veis nos episódios verbais, provenientes do falante e/ou do ouvinte, ou seja,
reforçadores sociais generalizados verbais tipo elogio e aprovação e não verbais
na forma de gestos, atenção, carinho etc.
Para Skinner (1991) “aquilo que o cliente fa z na clínica não é a preocupação
básica. O que lá acontece é uma preparação para um mundo que não está
sob o controle do terapeuta. Em vez de arranjar contingências correntes de
reforçamento, com o acontece no lar, na escola, no local de trabalho ou no
hospital, os terapeutas dão conselhos. (...) Ele pode assumir a form a de uma
ordem (...) ou pode descrever contingências de reforçam ento(...)” (pág. 111).
Assim, o terapeuta parte do relato do cliente sobre suas interações sociais, aju
dando-o a identificar as contingências de reforçamento, os reforçadores positivos
efetivos ou potenciais para o seu próprio comportamento ou para o comporta
mento de outros relevantes na sua vida.
Existem muitos textos básicos disponíveis na literatura que classificam e des
crevem tipos de eventos que podem ter a função de reforçadores positivos.
Martin e Pear (1999) sugerem procedimentos para selecioná-los que são úteis
para os analistas do comportamento que atuam em instituições, nas escolas, na
área esportiva ou em clínica, diretamente com crianças ou orientação de pais.
No entanto, o procedimento mais apropriado é a observação das contingên
cias detalhadamente, buscando as relações funcionais entre o desempenho e os
reforçadores que o mantém.
48 ■ Terapia Comportamental
Salienta-se que, sempre que for necessário utilizar como reforço um item ou
evento que não esteja disponível no ambiente do cliente, é desejável partir de ope
rações estabelecedoras, considerando os interesses do cliente e não dos agentes
ou das agências controladoras.
Reforçadores sociais generalizados tipo atenção, aprovação, gestos carinho
sos, demonstrações de afeto são exemplos relevantes nesse caso.
REFORÇAMENTO ARBITRÁRIO VERSUS NATURAL
“O terapeuta do comportamento pode usar reforçadores arbitrários adequa
dam ente, como parte de uma estratégia terapêutica, mas esta estratégia es
tará condenada, a menos que haja um plano viável para que os reforçadores
naturais possam substituir os arbitrários e mantenham os novos padrões
de respostas” (Ferster, 1982, pág. 281).
A necessidade de se atentar para a distinção entre arbitrário e natural surge
quando os princípios do comportamento passam a ser aplicados na situação clí
nica e aparecem as dificuldades para manter os comportamentos instalados na
terapia, fora dela.
Diferentemente da prática clínica, as condições de controle necessárias e os
critérios básicos exigidos para os estudos experimentais permitem, ao experi
mentador, utilizar reforçadores mais fáceis de manusear no laboratório, sem a
necessidade de considerar se ocorrem em ambiente natural ou não. São chama
dos reforçadores arbitrários.
O terapeuta deve estar sensível a esta questão e selecionar, pela observação
acurada feita por ele, em conjunto com o cliente, quando possível, reforçadores
que ocorrem em conseqüência do comportamento no próprio ambiente natural.
Agindo assim, terá o acesso aos reforçadores naturais.
Um dos aspectos mais importantes para a seleção de reforçadores naturais
está relacionado à noção de controle que, muitas vezes, é o centro de críticas para
a proposta comportamental. Ferster (1982) argumenta que os reforçadores natu
rais não dependem da intervenção arbitrária do terapeuta, não beneficiam o
controlador (terapeuta) em detrimento do controlado (cliente). São usados para
beneficiar o controlado, são úteis para manter os comportamentos imediatamente
ou a longo prazo e podem garantir a emissão do comportamento aprendido em
qualquer situação que gere reforçamento natural.
REFORÇAMENTO ACIDENTAL: ESTABELECENDO
RELAÇÕES SUPERSTICIOSAS
"Quando se diz que o reforçamento é contingente à resposta, isso significa
apenas que ele vem logo após a resposta. Pode vir após a resposta em vir
tude de uma conexão m ecânica ou devido à m ediação de outro organis
mo; mas presume-se que o condicionamento ocorre por causa da relação
Reforçamento Positivo: Princípio, Aplicação e Efeitos Desejáveis ■ 49
tem poral em termos da seqüência e da proxim idade da resposta e do
reforçamento” (Skinner, 1948).
Considerando-se que o fenômeno é temporal, observa-se que qualquer refor
çador poderá aumentar a freqüência da resposta que o anteceda, mesmo que ela
não o produza, quer seja um evento determinado por alguma agência controladora,
por uma comunidade social ou apenas algo que ocorra imediatamente após.
O comportamento que resulta desse reforçamento, de tipo acidental, é cha
mado de comportamento supersticioso. Para Skinner, “no comportamento
operante supersticioso(.. o processo de condicionamento malogrou" (1970, pág.
56). Sugere-se que a imediaticidade foi selecionada como uma vantagem impor
tante para a sobrevivência da espécie, mas, muitas vezes, traz prejuízos importan
tes para o indivíduo, dificultando a identificação de relações funcionais efetivas.
“Uma pessoa está bem consigo mesma quando sente um corpo positivamente
reforçado. Os reforçadores positivos dão prazer. Dão prazer mesmo quando
acidentais (feliz, antigamente, significava \sortudo’) ” (Skinner, 1989, pág. 114).
O conceito de comportamento supersticioso, na prática clínica, é de funda
mental relevância pois o cliente que descreve seu comportamento levando em
conta as relações supersticiosas, em geral, apresenta um repertório de autoconhe
cimento pobre, fundamentado em eventos que terá dificuldade em reproduzir no
futuro. Isso pode ser desanimador, levando-o mais freqüentemente a condições
de extinção ou a novas buscas explicativas em condições de privação, que o tor
nam mais vulnerável para estabelecer outras relações supersticiosas. Além disso,
ele terá dificuldades em estabelecer relações efetivas em seu ambiente social, pois
estará vulnerável aos controles espúrios que não favorecem o seu domínio sobre
o ambiente enquanto agente de sua própria história de vida.
“A terapia é freqüentemente um modo de destruir os efeitos reforçadores de
conseqüências acidentais” (Skinner, 1991, pág. 107). O terapeuta, nesse caso, deve
atuar como uma comunidade social que facilite a descrição de relações entre sen
timentos, os comportamentos e o ambiente, quer sejam passadas, presentes ou
futuras, gerando um novo repertório de autoconhecimento e tornando o cliente
mais conhecedor das conseqüências que de fato atuam sobre seus comportamentos.
ALÉM DOS EFEITOS DE FORTALECIMENTO E DE PRAZER
Segundo Skinner o reforçamento tem dois efeitos: “o efeito de prazer e de fortale
cimento. Eles ocorrem em diferentes momentos e são sentidos como coisas diferen
tes. Quando nós sentimos prazer, nós não estamos necessariamente sentindo uma
maior inclinação para agir da mesma forma(...) Por outro lado, quando nós repeti
mos o comportamento que foi reforçado, nós não sentimos o efeito do prazer que nós
tínhamos sentido no momento em que o reforçamento ocorreu” (1987, pág. 17).
Como o sentimento é o efeito que ocorre imediatamente, o que é sentido é
mais facilmente identificado como efeito do procedimento, do que a tendência
aumentada em se comportar da mesma maneira no futuro.
50 ■ Terapia Comportamental
Além disso, considerando-se novamente a imediaticidade como uma variável
poderosa, ela pode dificultar a identificação das causas “reais” do comportamen
to a ser analisado. O ambiente social leigo, enquanto comunidade verbal e as prá
ticas terapêuticas mentalistas influenciadas pelo efeito do prazer,
tendem a
fortalecer explicações que levam o cliente ä relatar o que sente a partir da obser
vação de estados internos como as possíveis causas do seu comportamento.
O terapeuta, enquanto analista de comportamento, pode funcionar como
facilitador para descrições que diferenciem os dois efeitos, ampliando com isto o
repertório de auto-observação do cliente, ou seja, levando-o a relatar como senti
mentos diferentes o estado corporal gerado pelo reforçamento negativo, prazer
do tipo alívio e o estado corporal de prazer típico das contingências de Reforça
mento Positivo, como alegria, felicidade ou contentamento. Com isso, ele estará
também aumentando o repertório de autoconhecimento do cliente, em especial
ao ensiná-lo a identificar e descrever o fortalecimento do desempenho que pro
duziu o reforçador, como o aumento da tendência em se comportar da mesma
maneira no futuro, quando condições semelhantes estiverem presentes.
Os dois efeitos do reforçamento podem ocorrer como conseqüência de qual
quer comportamento que gere um reforçador, independente da adequacidade do
comportamento que o antecedeu ou do tipo de reforçador produzido.
“O efeito reforçador de uma conseqüência particular pode ter se desenvolvido
sob condições que já não vigoram. Por exemplo, a m aioria de nós é forte
mente reforçada por alimentos salgados ou doces, não porque grandes quan
tidades são atualmente boas para nós, mas porque alimentos salgados e
doces foram escassos na história da espécie" (Skinner; 1991, pág. 105).
A sensibilidade alterada de um organismo para o reforçamento por eventos com
alto valor evolucionário para a espécie humana pode facilitar a instalação e a ma
nutenção de excessos comportamentais com graves conseqüências para a sobrevi
vência do indivíduo. O comer excessivo, o comer compulsivo, distúrbios como
diabetes, obesidade, hipertensão podem estar relacionados a essa questão.
uPor outro lado, há problemas que se originam do fato de alguns reforçadores
nunca terem tido nenhuma vantagem evolucionáriaC..) os efeitos reforçadores
do álcool, da heroína, da cocaína e de outras drogas são presumivelmente
acidentaisC * J A necessidade intensa de que padecem os toxicômanos é um
estado corporal devido a um reforçador anôm alo” (Skinner, 1991, pág. 106).
Nesse caso, o efeito de prazer imediato é gerado a partir do uso de uma droga
e os efeitos nocivos podem aparecer somente após um determinado tempo, fun
cionando como uma conseqüência aversiva atrasada que, para controlar o com
portamento que a gerou, requer a mediação de uma regra.
Assim, as dificuldades comportamentais que evidenciam mais especificamente
o efeito do prazer, podem ser modificadas partindo-se da construção de novas
regras que descrevam contingências mais favoráveis ao indivíduo e com o uso de
técnicas que promovam o autocontrole.
Reforçamento Positivo: Principio, Aplicação e Efeitos Desejáveis ■ 51
Por outro lado, os excessos comportamentais que explicitam claramente o efei
to do fortalecimento, tais como padrões de comportamento bem estabelecidos
que consomem muito tempo do indivíduo, podem ser modificados a partir de
procedimentos que reforcem padrões incompatíveis e/ou ampliem as classes
de comportamentos que possam promover Reforçamento Positivo.
QUANDO O REFORÇAMENTO POSITIVO PODE DIFICULTAR
Guilhardi (2002) afirma existir, pelo menos, três condições relacionadas às
contingências de Reforçamento Positivo que dificultam o processo de mudança
do cliente:
1. Reforçamento Positivo muito freqüente. “Desenvolve um repertório fraco
(os comportamentos entram facilmente em extinção, quando as condições
atuais provêem poucos e esporádicos reforçadores positivos ou quando são
aumentadas as exigências para obtenção dos reforços), muito sensível àfrus
tração (quando a densidade de reforços positivos cai, a pessoa apresenta
reações emocionais perturbadoras para ela e para os que a cercam)(...)”
2. Reforçamento Positivo muito infreqüente. “Sob este sistema de contingên
cias, as pessoas têm alta tolerância à frustração. Às vezes, exageradamente
alta. Tendem a se mobilizar pouco para a mudança, uma vez que se habitua
ram a suportar condições adversas extremas(...) Mantém os padrões de com
portamento praticamente inalterados, independente das conseqüências
aversivas que produzem... Quando entram em contato com contingências
reforçadoras significativas ou freqüentes, sentem-se culpadas(...)”
3. Reforçamento Positivo não contingente. “Nas relações não contingentes, o com
portamento e o evento que se segue são associados apenas seqüencialmente -
primeiro um, depois o outro - e com proximidade temporal, um imediatamen
te após o outro. As relações não contingentes tendem a desenvolver padrões de
resposta supersticiosa.(...) Buscam soluções mágicas para suas dificuldades e
pouco se empenham em descobrir as possíveis relações entre seu próprio com
portamento e as reações do ambiente que a cercam(...)” (pág. 136).
Cada contingência de reforçamento anteriormente descrita requer um proce
dimento específico para alterar a história comportamental gerada e instalar re
pertórios alternativos que possam contrapor os efeitos indesejáveis dessas
contingências anteriores. No entanto, a relação comportamento-conseqüência
precisa ser alterada através da mudança gradual nos esquemas de reforçamento
vigentes nas três condições citadas.
Quando o reforço positivo foi muito freqüente na história de vida do cliente, o
procedimento indicado pode ser a mudança no esquema de reforçamento pas
sando-o de “quase” reforçamento contínuo para um esquema intermitente, inicia
do com uma densidade média de reforços bastante favorável para reduzir os
possíveis efeitos aversivos imediatos, que possam gerar reações emocionais típi
cas de contingências de punição negativa (perda de reforços).
52 ■ Terapia Comportamental
Ferster afirma que “a adolescência é o momento em que os esquemas de
reforçamento, que prevaleciam para o comportamento da criança, se alteram por
que as práticas da comunidade mudam” (pág. 454).
Na clínica, muitas das dificuldades observadas no repertório comportamental
do adolescente são produtos do aumento das exigências para obtenção de refor
ços positivos. Além da transição para esquemas com menor densidade de reforços,
mudanças repentinas ou drásticas dificultam o fortalecimento de repertórios
alternativos.
A exposição a outras comunidades sociais além da família, tais como: mudan
ça de escola, novos colegas, convívio com novos parceiros conjugais dos pais se
parados, mudança de cidade etc., também podem enfraquecer a variabilidade
comportamental e dificultar a seleção de comportamentos que possam repor os
reforços positivos perdidos.
Contingências de Reforçamento Positivo pouco freqüentes podem gerar além
de um repertório fraco em produzir reforçadores, sugerindo um déficit com
portamental social importante, pouca familiaridade com sentimentos mediados
pelo comportamento de outras pessoas que acompanham os reforçadores do tipo
afeto, carinho, aprovação, amor.
Por outro lado, o Reforçamento Positivo não contingente implica praticamen
te no estabelecimento de relações entre comportamento e conseqüência que não
são produzidas naturalmente na vida cotidiana. Sendo assim, os repertórios são
construídos partindo-se de relações de contigüidade e se manterão dependentes
de um ambiente provedor.
As contingências de Reforçamento Positivo são poderosos instrumentos dispo
níveis para promover o bem-estar dos clientes, principalmente, em função da
imediaticidade de seus efeitos, em especial daquele que é sentido (efeito do prazer).
Portanto, atentar apenas para esse efeito pode gerar repertórios pobres e fra
cos na produção de reforçadores genuinamente prazerosos e com alto valor de
sobrevivência para o cliente.
Micheletto (1997), ao analisar
o fazer humano do ponto de vista de Skinner,
afirma: “O problema da busca exclusiva do prazer, por exemplo, é que ele ocorre
quando pouca coisa é feita e um comportamento muito simples é reforçado. O
fato de culturas ocidentais criarem oportunidade para privilegiar o efeito de pra
zer nas práticas culturais em detrimento do efeito de força tem levado a ‘corrosão
das contingências de reforçamento’ (Skinner, 1986, pág. 569), uma vez que as pes
soas perdem a inclinação para agir” (pág. 123).
PROMOVENDO OS EFEITOS DESEJÁVEIS DAS
CONTINGÊNCIAS DE REFORÇAMENTO POSITIVO
. .Nem todo problema pode ser resolvido mediante a aplicação de uma regra,
sendo assim, os terapeutas precisam ir um passo à frente e ensinar a seus clien
tes como construir suas próprias regras. Isso significa ensinar-lhes algo sobre a
análise do comportamento, uma tarefa usualmente mais fácil do que ensiná-
los a alterar seus sentimentos ou estados da mente” (Skinner, 1991, pág. 112).
Reforçamento Positivo: Princípio, Apíicação e Efeitos Desejáveis ■ 53
Ensinar o cliente a identificar e produzir contingências de Reforçamento Posi
tivo para seu comportamento ou a reforçar positivamente o comportamento de
outros, pode se tornar uma tarefa simples para o terapeuta comportamental cujo
repertório tenha sido modelado por meio das conseqüências liberadas pelos seus
clientes ao aplicarem suas orientações e, também, pela atualização conceituai ob
tida mediante leituras científicas, cursos, discussão de casos, supervisão, partici
pação em congressos etc.
Dessa forma, o terapeuta estará sob controle de comunidades diferentes
que levam-no a atentar para questões teóricas que o ajudem a gerar procedi
mentos com descrições tecnológicas (Baer, Wolf e Risley, 1968), que permitam
um leitor bem treinado replicar e reproduzir os mesmos resultados apenas pela
leitura da descrição.
Procedimentos cada vez mais efetivos do ponto de vista técnico-científico
podem garantir a ocorrência do efeito do fortalecimento em suas melhores con
dições, quando incluem as preocupações descritas anteriormente. Garantir que a
conseqüência tenha se revelado reforçadora por seus efeitos, imediata em sua
aplicação, contingente ao comportamento de interesse e naturalmente produzi
da por ele.
As contingências de Reforçamento Positivo são fundamentais para garantir o
fortalecimento de comportamentos, promover o aumento da variabilidade
comportamental e produzir sentimentos de auto-estima e autoconfiança. Guilhardi
(2002) apresenta procedimentos bem relatados para ensinar os pais a gerarem em
seus filhos bons sentimentos de auto-estima, produto de contingências de
Reforçamento Positivo de origem social e de autoconfiança, produto de contingên
cias de Reforçamento Positivo e negativo de origem não social.
Se o terapeuta tiver acesso direto aos agentes reforçadores (por exemplo,
os pais) poderá orientá-los, fornecendo regras claras que descrevam contin
gências (e produzam as conseqüências nelas descritas), além de ensinar-lhes
conceitos da análise do comportamento que facilitem a seleção das variações
comportamentais para alterar as hipóteses explicativas.
Caso contrário, caberá ao terapeuta ensinar o cliente a identificar as conseqüên
cias que seu comportamento produziu no passado, identificar as produzidas atual
mente, buscar novas fontes de reforço positivo atentando para novos estímulos
discriminativos ou instalar novos comportamentos que possam produzir em re
forços positivos ampliando a variabilidade comportamental.
A auto-observação promovida pelo terapeuta ao questionar o comportamen
to do cliente e o autoconhecimento (descrição das contingências identificadas)
são comportamentos fundamentais a serem modelados e mantidos durante todo
o processo terapêutico.
As contingências de Reforçamento Positivo estão disponíveis no ambiente
natural, mas podem atingir sua função selecionadora mais acuradamente duran
te a terapia, quando seus efeitos de fortalecimento e de prazer forem atingidos em
sua plenitude a partir da aplicação planejada e criteriosa.
“Ser reforçado pelo sucesso da nossa ação é especialm ente vantajoso na
m edida em que nos faz essencialmente seres agentes em relação ao meio, agen
tes controlados pelo efeito de nossa própria ação" (Micheletto, 1997, pág. 118).
54 ■ Terapia Comportamental
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........... .................. ....................................CAPÍTULO
Reforçamento Negativo na
Prática Clínica: Aplicações
e Implicações
M a ly D e l it t i
... Cássia R oberta da C unha Thomaz
As respostas são, decisivamente, influenciadas por suas
conseqüências. Segundo Skinner (1967), as conseqüências
de uma resposta podem retroagir sobre ela e, quando isso
acontece, alteram a probabilidade de ocorrência futura des
sa resposta.
Os eventos que aumentam essa probabilidade são cha
mados de estímulos reforçadores e possuem duas caracte
rísticas definidoras; (a) Um estímulo reforçador deve seguir
uma resposta; e (b) Fazer essa resposta ocorrer mais
freqüentemente, isto é, ser mais provável no futuro.
Skinner (1967) afirma que os eventos reforçadores são
de dois tipos. Os reforços que consistem na apresentação de
um estímulo pela emissão da resposta são denominados
positivos e aqueles que são removidos pela emissão da res
posta são chamados negativos. O termo reforçador, refere-
se, então, aos estímulos e a expressão reforçamento faz
referência a um processo ou uma operação de fortalecimen
to ou manutenção
de uma resposta por um S.
O Reforçamento Positivo pode ser entendido como uma re
lação “se... então”, por exemplo: se resposta “X”, reforçador “Y”,
se resposta “não X”, não reforçador “Y” Essa noção de contin
gência (seguir-se a...) é fundamental ao conceito de reforçador.
No Reforçamento Positivo, a resposta de uma pessoa
aumenta de freqüência porque é seguida de um evento
que não existia antes. Exemplificando, a resposta de um
56 ■ Terapia Comportamental
rato de pressionar a barra é seguida de água no bebedouro ou a resposta de es
tudar de um sujeito é seguida de aprendizagem e boas notas nas provas.
Entretanto, grande parte das respostas não é mantida por conseqüências po
sitivas. Encontram-se, também, respostas mantidas por Reforçamento Negativo.
O termo Reforçamento Negativo é definido como um procedimento no qual há a
retirada ou a evitação de um estímulo aversivo contingente a uma resposta, que
aumenta de freqüência posteriormente.
Existem, basicamente, dois tipos de operações que se caracterizam como
Reforçamento Negativo: fuga e esquiva. Respostas de fuga produzem o fim do con
tato com um estímulo aversivo e respostas de esquiva evitam o contato com esse
estímulo. Se estas respostas aumentarem de freqüência no futuro, considera-se
que foram reforçadas negativamente.
A idéia central a ser esclarecida é a de que o reforçamento sempre significa
aumento de freqüência de resposta e que o termo negativo refere-se ao fato de
uma resposta específica remover, ou eliminar, um evento aversivo.
Na vida, os estímulos aversivos são tão ubíquos quanto as respostas de fuga e
esquiva que produzem. Sempre que houver um estímulo aversivo, potencialmen
te ocorrerá alguma resposta que lhe dará término ou o evitará.
Procurar a sombra para sair do calor do sol, tomar um remédio para aliviar a
dor, estudar muito para evitar bronca e punição dos pais e procurar um terapeuta
para resolver um problema conjugal, são exemplos de respostas mantidas por
Reforçamento Negativo.
Especificamente em relação à situação clínica, parece que, freqüentemente, o
indivíduo procura um terapeuta porque encontra-se em alguma situação aversiva.
Conforme afirma Sidman (1995), uma pessoa mantida principalmente por
Reforçamento Negativo, ou seja, que escapa de estímulos aversivos e/ou os evita,
acaba tendo suas interações com outras pessoas influenciadas por esse tipo de
controle coercitivo, o que poderia alterar sua visão geral da vida. Nesse sentido,
além de se observar o controle por Reforçamento Negativo como uma variável
relevante da queixa da pessoa que procura a terapia, encontram-se, também, res
postas mantidas por Reforçamento Negativo na história de vida dela e na sua
interação com o terapeuta.
De qualquer maneira, deve-se investigar o controle vigente em determinada
situação pois, segundo Sidman (1995), algumas vezes é difícil dizer qual é o con
trole: Reforçamento Positivo, Negativo ou ambos. Em uma situação de laborató
rio, determinados procedimentos poderiam demonstrar o controle em vigor mas,
fora desse ambiente, não é simples saber o que mantém a(s) resposta(s), apesar
da importância de se descobrir isso.
Uma história de vida caracterizada por controle aversivo leva ao desenvolvi
mento de um repertório de fuga-esquiva e de respostas emocionais decorrentes
da punição, como agressão, frustração e ansiedade.
Essas respostas emocionais são consideradas efeitos colaterais da punição e,
segundo Sidman (1995), freqüentemente, têm significação comportamental con
siderável como os efeitos principais.
Um outro efeito colateral da punição é possibilitar, a qualquer sinal de puni
ção, a capacidade para punir por si mesmo. Isso acaba por aumentar, para uma
Reforçamento Negdtivo na Prática Clínica: Aplicações e Implicações ■ 57
pessoa, o número de eventos ambientais aversivos, o que tornaria a vida menos
satisfatória, uma vez que a pessoa possivelmente irá se deparar com mais estí
mulos que os sinalizam e, por encontrar eventos aversivos com freqüência,
aprenderá que é mais seguro ficar quieta e fazer o mínimo possível. Então, o Re-
forçamento Negativo pode limitar o repertório comportamental, ao tornar o am
biente coercitivo.
Alguns efeitos da exposição a eventos aversivos, conceituados como formas
de medo e de ansiedade, envolvem atos de esquiva desnecessários. Assim, o
terapeuta não deve desviar a atenção dos eventos observáveis causadores dos es
tados internos e das respostas abertas.
Um exemplo característico de Reforçamento Negativo pode ocorrer na
interação verbal entre o terapeuta e o cliente, durante a sessão. O terapeuta per
gunta sobre um determinado assunto, que é aversivo para o cliente e esse, ao invés
de falar sobre o tema, muda de assunto. Nesse caso, poder-se-á supor que a res
posta do cliente, ao mudar de assunto, talvez tenha sido reforçada negativamente
porque ela eliminou a estimulação aversiva de falar sobre aquele assunto. Isto é,
se o terapeuta permite que cliente deixe de falar sobre o assunto supostamente
aversivo, a R “mudar de assunto” mudou este S supostamente aversivo e foi, por
tanto, reforçada negativamente.
O terapeuta, sabendo que a cessação da estimulação aversiva reforça negati
vamente a resposta, deveria descrever esse tipo de controle para o cliente e expli
car para ele a função da terapia que, nesse caso, não é a de repetir o padrão do
mundo frente a isso, mas a de, por exemplo, investigar e discutir as contingências
consideradas aversivas.
Outro padrão de respostas do cliente que indicaria uma estimulação aversiva
na relação terapeuta-cliente ocorre quando há faltas e/ou atrasos repetidos, indi
cando uma possível esquiva. Portanto, o terapeuta também deveria descrever a
contingência e analisá-la, identificando o evento aversivo presente na terapia, con
forme descrito anteriormente. Em geral, não é a relação com o terapeuta (a
interação) a variável aversiva (em ambos os casos), mas o assunto no qual a tera
pia chegou. Então, cabe ao terapeuta propor a análise desse tema na vida do cliente
e as alternativas de respostas excluindo as de fuga-esquiva.
Uma outra situação clínica na qual aparece o Reforçamento Negativo seria,
por exemplo, quando um cliente queixa-se que a situação presente é aversiva. Essa
se caracteriza quando o cliente, por exemplo, relata que a vida está aversiva, isto é,
vários aspectos da vida, como relação com o marido, os filhos e o chefe, são
aversivos.
Frente a esse tipo de situação, o terapeuta investigaria, em um primeiro
momento, como ocorre a relação do sujeito com o mundo. O cliente poderia
relatar, por exemplo, suas queixas constantes para o marido, que não dá atenção
a ela. Caberia ao terapeuta mostrar que o marido pode não prestar aten
ção porque ela, freqüentemente, se queixa e, a resposta dele (de não ir para
casa, por exemplo), pode ser negativamente reforçada pela eliminação do even
to aversivo “mulher reclamando’'. Além disso, poderia mostrar que a resposta
de se queixar pode ser reforçada negativamente e que isso não produz uma
mudança no mundo (reforçador positivo). Discutiria, então, quais os refor
58 ■ Terapia Comportamental
çadores positivos disponíveis na vida da cliente pois, aparentemente, pode-se
supor que não há muitos. A partir disso, o terapeuta deveria planejar contin
gências para a instalação de um novo repertório comportamental, fazendo com
que as respostas incompatíveis com o “queixar-se” ocorram e produzam
reforçamentos positivos.
Mais um exemplo de situação em que o Reforçamento Negativo aparece na
prática clínica é quando o cliente relata uma história de vida com presença cons
tante de eventos aversivos. As descrições a seguir ilustram este caso.
C., um cliente de 28 anos, procurou por terapia queixando-se ser muito agres
sivo e possuir muito medo de ficar sem ninguém (amigos, namorada etc.),
porque
a namorada traiu-o com um homem que conheceu na Internet e ele não queria
abandoná-la para não ficar sozinho, afirmando que ela cometeu a traição por causa
da agressividade dele e, por isso, o relacionamento não estava bom.
Quando investigada a história de vida de C., descobriu-se que a mãe abando
nou o pai e levou C. (na época com 8 anos) e sua irmã menor para outra cidade. C.
relata que gostava muito de ficar com o pai e sentiu a sua falta. Ele encontrou com
o pai novamente quando tinha 16 anos e, até então, a mãe afirmava que o pai os
tinha abandonado. Quando o pai encontrou-os (com a ajuda da justiça), tentou
restabelecer um contato com os filhos, mas esses não aceitaram a volta dele por
acreditarem na mãe. C. afirma que, somente por volta de 21 anos, voltou a falar
com o pai e entendeu o que aconteceu, mas a sua relação atual com ele era distan
te graças a essa história.
Desde que passou a morar com a mãe e a irmã em outra cidade, ele disse que a
mãe sempre foi mais próxima da irmã e lhe dava atenção quando fazia algo que
ela considerava errado (como brincar com o vizinho, por exemplo). Aos 18 anos,
mudou-se de estado para fazer faculdade e a mãe, em vez de lhe dar dinheiro para
suas necessidades, pagava previamente suas contas (como república e alimenta
ção) e qualquer outra necessidade de C. deveria ser comunicada a ela. Dessa for
ma, a mãe o mantinha sob o seu controle econômico, sempre reclamando e criando
punições quando ele pedia dinheiro extra.
Aos 22 anos, arrumou emprego em São Paulo e resolveu “cortar relações” com
a mãe. Essa não aceitou a mudança do filho e o fez assinar notas promissórias de
tudo o que ela já havia gasto com C. e ele assinou.
Até então, observa-se que as respostas de C. (mudar de Estado, sair de casa.
assinar as notas) tinham como função eliminar um evento aversivo: a mãe.
Um ano depois, C. procurou pela mãe para resolver o problema e ela mandou
o pastor da cidade dizer a C. que ele estava errado porque as mães nunca erram.
Além disso, a mãe deu queixa na polícia (depois que C. saiu da cidade), dizendc
que havia duas pessoas em determinado carro (da amiga que acompanha C.) que
estavam traficando drogas na região, eles foram parados na estrada e foram para £
delegacia. Só saíram horas depois quando o acontecimento e a autora da queixa
foram esclarecidos.
C. resolveu nunca mais procurar a mãe (provavelmente por conta da puniçê:
dessa resposta) e foi morar com a namorada em São Paulo. Ele relatou que os dc: ^
se falavam pouco, que mantinham relações sexuais com pouca freqüência e qut
ele trabalhava muito, estando sempre cansado.
Reforçamenio Negativo na Prática Clínica: Aplicações e Implicações ■ 59
Dentre os diversos aspectos que foram discutidos na terapia, mostrou-se a C.
que na vida dele houve diversos eventos aversivos, como as punições da mãe na
infância e na adolescência, as notas promissórias e a ausência do pai e que muitas
de suas respostas tiveram a função de eliminar ou evitar estímulos semelhantes.
O mesmo ocorreu com o seu namoro, no qual o que, aparentemente, mantinha a
resposta de ficar casado era a possível evitação do estímulo aversivo “ficar sozi
nho”, caracterizando um Reforçamento Negativo. Ainda, responder para evitar e/
ou eliminar eventos aversivos prejudicava a aprendizagem de outros repertórios.
Além disso, explicou-se que a agressividade é um provável produto da história da
sua vida e que ele agiu, durante todo esse tempo, da maneira mais adequada para
o momento, ou seja, isto foi o que ele pôde fazer para “continuar em frente”.
Outra questão discutida com C. foi o efeito da submissão a eventos aversivos
independentemente da resposta do sujeito que seriam, além de sentimentos des
critos como ansiedade, a falha na aprendizagem das conseqüências como produ
tos de respostas das pessoas.
Pretendeu-se, então, discutir com C., dada a sua realidade, quais os repertórios
comportamentais que deveriam ser aprendidos e quais respostas poderiam ser
emitidas para que determinadas conseqüências reforçadoras fossem produzidas.
Além disso, foi ensinado a ele um relaxamento e planejaram-se respostas incom
patíveis àquelas “agressivas” nas situações que provocavam agressividade.
Com o decorrer do processo terapêutico, C. foi morar sozinho, mudou de em
prego e foi trabalhar em algo que ele gostava (o salário também aumentou) e ini
ciou um outro relacionamento. Pode-se afirmar que o cliente começou a responder
em função de reforçadores positivos.
M., uma cliente de 32 anos, procurou terapia queixando-se de timidez, de so
lidão e de rejeição por partes dos homens, dizendo “Me usavam para conseguir o
que queriam e depois me abandonavam.” Ao fazer a análise da sua história de
vida, o terapeuta encontrou inúmeros episódios de punição: sua mãe biológica a
abandonara, a mãe adotiva a repreendia dizendo “Ninguém te quis, nem sua mãe
de verdade. Seja boa, senão eu te ponho na rua.” Na escola, aos 6 anos, pediu para
ir ao banheiro, a professora não permitiu, ela não conseguiu se controlar e urinou
na calça. Foi punida pela professora e motivo de chacota para seus colegas. Na
adolescência, passou a ser boazinha, correspondendo a tudo que as colegas pe
diam, fazendo suas lições, dando-lhes o seu lanche, parecia que ela adivinhava
o que os outros queriam e sempre era agradável e solícita. Quando adulta, perce
beu que era uma profissional competente - secretária - e bem-aceita pelos cole
gas porque sempre estava à disposição deles, fazendo hora extra, oferecendo
carona, ajudando-os no trabalho etc., mas que eles nunca a convidavam para sair
ou tinham com ela uma relação de amizade. Era uma moça atraente e se envolveu
sexualmente com vários rapazes, que, no entanto, nunca estabeleciam uma rela
ção mais duradoura com ela.
Na terapia, foi analisado como as suas respostas de submissão e disponibili
dade eram os padrões que ela desenvolveu para ser aceita nos grupos e não ser
“jogada na rua”. Essa cliente aprendeu com a terapia que podia ser firme, colocar
seus limites e necessidades de forma tranqüila e que podia emitir uma série de
respostas assertivas e ser reforçada por isso. Seus colegas de trabalho, em princípio,
60 ■ Terapia Comportamental
estranharam sua mudança (o terapeuta já havia lhe advertido sobre esta possibi
lidade), mas depois estabeleceram com ela outro tipo de relacionamento, mais
verdadeiro e não apenas de “uso”. Também com os rapazes começou a se colocar
de forma mais firme e arrumou um namorado que a respeita como ela é. Sua tera
pia continua, porém, as suas mudanças são muito reforçadoras para ela e para a
sua terapeuta.
Parece importante ressaltar que o Reforçamento Negativo não é uma técnica
terapêutica, mas uma operação comportamental presente nas relações sujeito-
ambiente. Eventos aversivos estão presentes no ambiente natural e têm efeitos
sobre as respostas dos sujeitos. Frente a (ou a possibilidade de) um evento aversivo,
o sujeito aprende a emitir determinada resposta que cessa ou evita a apresenta
ção dele e, assim, a resposta aumenta de freqüência graças ao seu efeito no mun
do. A função dessa resposta é um fato cotidiano e as pessoas as apresentam em
virtude da adequação ao ambiente. Apresentar algumas dessas respostas é alta
mente adaptável e mantém a sobrevivência.
A função da terapia é, portanto, dar condições para o cliente analisar como e
por que ele emite determinados padrões comportamentais (autoconhecimento)
e, a partir desse conhecimento, eleger os que aumentem os reforçadores em sua
vida cotidiana (autocontrole).
R e f e r ê n c ia s
SIDMAN, M. Coerção e suas Implicações. Campinas: Editorial Psy, 1995.
SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1967.
CAPÍTULO
- z s z , z z z > .z í - / r > . X > r > z ; T J i ^ r < z „'■ « 3 k S s
^ - s = - “ = - . 5 \ Z j t . ^ . t s i * j ; ü : V Ï V ^ * ' .- V - . ^ ’ " J- I í T O í * ^ i V . ^ r - / y . ^ T ^ y , C V f ^ B , ^ . í V i W S « Í % ^ =
Positiva
R oberto A lves B anac o
A palavra punição tem sido definida como “qualquer
forma de castigo que se impõe a alguém”, “pena determi
nada por um juiz a quem cometeu um crime” ou “algo pe
noso ou desagradável que alguém é obrigado a suportar”
(Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2001) ou, sim
plesmente, como “castigo e pena” (Ferreira, 1999).
Como se pode notar nessas definições, há uma ação
de alguém sobre outra pessoa, algumas vezes, deixando
explicitado que a última emitiu algum comportamento.
As definições encontradas nos dicionários dizem muito
sobre a cultura na qual estamos inseridos. Quando fala
mos em punição da maneira que encontramos nos dicio
nários, portanto, estamos nos referindo ao controle sobre
o comportamento de algumas pessoas que a cultura tenta
exercer por meio de castigo, de pena, ou de algo desa
gradável.
No entanto, quando falamos em punição em uma lin
guagem técnica, especialmente em um contexto de terapia
do comportamento, nos referimos a relações mais comple
xas. O tema desse capítulo é constituído dessas relações que
caracterizaram a punição enquanto técnica e dos critérios
para o uso dessa técnica.
PUNIÇÃO ENQUANTO OPERAÇÃO
A punição tem sido um tema essencial de qualquer
livro de iniciação sobre Análise Experimental do Com
portamento, constando, enquanto item, de todos os su
mários das obras principais (como observado em Keller e
62 ■ Terapia Comportamental
Schoenfeld, 1950/19741; Skinner, 1953/1989; Lundin, 1961/1975; Millenson, 1967/
1975; Ferster, Culbertson e Perrott-Boren 1968/1978; Malott, Whaley e Malott,
1997; Catania, 1998/1999). Além disso, tem sido tratada, se não diretamente como
nas obras citadas anteriormente, dentro de capítulos sobre o controle aversivo
do comportamento (Bandura, 1969/1979) ou, exclusivamente, em obras como
Coerção e suas implicações (Sidman, 1989/1995).
Isso se deve ao fato da punição ser descrita mais que como uma técnica, uma
operação básica passível de ser aplicada no controle do comportamento. Todas as
obras citadas abordam a punição em termos de paradigmas e descrevem os efei
tos da sua utilização.
Esse panorama é suficiente para que se possa tratá-la como um capítulo à
parte neste livro. No entanto, como será verificado em seguida, sua utilização é
feita apenas em situações muito específicas e por um profissional extremamente
habilitado, para que seus efeitos não causem mais problemas que soluções.
PRINCÍPIOS
A punição é um tema bastante controverso, mesmo dentro da Análise do Com
portamento. Em termos técnicos, é vista apenas como um procedimento (de acor
do com o que se observa nas definições encontradas nos dicionários: a aplicação
de uma estimulação supostamente aversiva para o organismo que a recebe). Essa
visão é bastante limitada e não utiliza uma grande ferramenta que um analista do
comportamento possui para trabalhar - a análise de contingências. Somente ao
observar um procedimento e seu efeito sobre o comportamento, tem-se certeza
do que se utiliza em termos de operações. Aplicar uma estimulação supostamen
te aversiva, sem especificar as alterações comportamentais, não garante a utiliza
ção da operação de punição.
Portanto, para se falar de punição enquanto operação, deve-se entender sua
definição como o conjunto de meios que se combinam para a obtenção de um
certo resultado ou como componente de uma técnica (entendida, por sua vez,
como um conjunto de processos com um objetivo específico).
Segundo Todorov (2001), não se encontra uma definição única para a puni
ção. Pela própria divisão observada no sumário deste livro, pode-se perceber que
existem ao menos dois tipos de punição: a positiva e a negativa (essa última é
tratada no capítulo seguinte).
Os termos “positiva” e “negativa” se referem às operações de estímulos. Se, na
operação realizada, é apresentado ou pertimito o acesso a um estímulo, chama-
se a operação de positiva. Quando na operação é retirado ou impedido o acesso a
um estímulo já existente no ambiente, chama-se a operação de negativa (Baum,
1994/1999). Especialmente no caso da Punição Positiva pode-se dizer que uma
1 A primeira data refere-se ao ano de publicação do original e a segunda ao ano da obra consultada,
a qual encontra-se na bibliografia. A adoção desse sistema tenta oferecer ao leitor o contexto de
quando a obra foi produzida e quais as suas possibilidades de obtê-la em português.
Punição Positiva ■ 63
das definições mais aceitas pertece a Azrin e Holz (1966) e classificá-la enquanto
uma operação pois define um estímulo e seu efeito: “uma redução na probabili
dade futura de uma resposta específica como resultado da apresentação imediata
de um estímulo para aquela resposta”. Se tal relação for verificada, chama-se o
estímulo de aversivo e a operação de Punição Positiva.
Mais recentemente, Catania (1998/2001) afirmou que “o efeito da punição é
simplesmente o oposto do efeito do reforço” (pág. 109). Mais ainda, afirmou que
“o reforço e a punição são simétricos: o primeiro aumenta o responder, enquanto
a última diminui, mas seus efeitos continuam enquanto os procedimentos são
mantidos e desaparecem depois que eles são interrompidos (o responder retorna
aos níveis prévios à introdução da operação de reforço ou de punição)” (pág. 110).
Todorov (2001), no entanto, fez uma excelente análise das definições encon
tradas nas obras de iniciação em Análise do Comportamento citadas e alerta que
é necessário diferenciar a punição de outros procedimentos que também redu
zem a freqüência de uma resposta (controle de estímulos, extinção, saciação e
restrição física). Segundo esse autor, todos esses procedimentos diminuem o res
ponder, mas não obedecem a outras quatro características principais descritas
por Azrin e Holz (1966) para a punição: ter efeito imediato na diminuição da fre
qüência da resposta, provocar a supressão completa da resposta, possuir efeito
duradouro e ter efeito irreversível.
Nota-se que, enquanto alguns autores apóiam uma definição bastante estrita
para a punição, outros a tornam bastante abrangente.
MÉTODO
Todorov (2001) citou ainda as circunstâncias descritas por Azrin e Holz (1966)
necessárias para o processo de punição funcionar, levando para uma supressão
completa do comportamento. Essas circunstâncias são ligadas pelas seguintes
exigências:
1. Quanto à possibilidade de fuga e/ou esquiva: não pode haver resposta de
fuga possível do estímulo punitivo;
2. Quanto à intensidade: o estímulo é tão intenso quanto possível, desde a
primeira aplicação. Se a intensidade for baixa, os períodos para a liberação
da punição devem ser curtos;
3. Quanto à freqüência e ao momento da liberação do estímulo aversivo: a
apresentação do estímulo é tão freqüente quanto possível, imediatamen
te na subseqüencia da emissão da resposta;
4. Quanto às associações entre estímulos: o estímulo punitivo jamais é asso
ciado à apresentação de um estímulo reforçador positivo, evitando a aqui
sição de propriedades de estímulo discriminativo; a freqüência de reforço
positivo para a resposta precisa ser diminuída; e a punição deve sinalizar
um período de extinção para a resposta;
5. Quanto às possíveis operações de motivação: o grau de motivação para a
resposta que se quer eliminar deve ser diminuído;
64 ■ Terapia Comportamental
6. Quanto às possibilidades para o organismo: uma resposta contrária à res
posta punida deve estar disponível para a obtenção do reforço que mante
nha a resposta a ser eliminada. Caso não haja essa possibilidade, o indivíduo
deve ser conduzido para outra situação que possibilite a obtenção do
reforçador positivo;
7. Quanto às alternativas de
aplicação: se um aversivo primário não for ad
ministrado após a emissão da resposta, usa-se um estímulo aversivo con
dicionado; se isso não for possível, aplica-se timeout2 ou exige-se uma
resposta mais custosa para a obtenção do reforço.
DESCRIÇÃO
Como foi esclarecido até o momento, o efeito mais claro buscado na aplicação
da Punição Positiva é o de eliminar uma resposta imediata e completamente do
repertório de um indivíduo. Também, como visto até esse ponto, é muito difícil, a
partir dessa definição, discriminar qual o procedimento de punição pois outros
procedimentos também teriam esse efeito. Talvez, enfim, seja nos “efeitos
colaterais” da punição que encontram-se sua especificidade. Entende-se como
efeito colateral àquele que não é previsto diretamente pela técnica, mas, que nem
por isso, seja menos importante na análise de contingências, especialmente em
situações clínicas.
Segundo Skinner (1953/1989) e Sidman (1989/1995), os efeitos colaterais da
punição seriam:
• A punição, sozinha, não suspende a relação de contingência entre a respos
ta e a obtenção do estímulo reforçador que a mantém. Por essa característi
ca, ela só tem o efeito de suprimir a resposta enquanto o agente punidor
estiver presente;
• Sua aversividade provoca efeitos emocionais aversivos que têm como con
seqüência respostas de fuga-esquiva que poderão ser reforçadas se dimi
nuírem, suspenderem, afastarem ou previnirem a estimulação aversiva;
• Uma tendência à agressão e à destruição, se possível dirigida à própria fon
te da estimulação aversiva. Se tal agressão ou destruição não for possível de
ser dirigida à fonte de estimulação aversiva (em situações de autoridades,
pessoas com mais poderes que o indivíduo submetido à punição ou de ele
mentos da natureza), ocorre uma tendência à agressão ou destruição de
qualquer elemento (animado ou inanimado) que estiver por perto;
• Redução do repertório do organismo que sofre a punição: seja porque ne
nhuma resposta que emita é capaz de eliminar a aversividade da situação
2 Período aplicado definido como “uma suspensão discriminada da contingência de reforço”
(Todorov, 1971) que pode ser aplicado, contingentemente, à ocorrência de uma resposta, ou seja,
uma situação na qual a resposta a ser eliminada fique impedida de ocorrer por meio de contin
gências de reforço.
Punição Positiva ■ 65
ou porque a resposta de fuga-esquiva que elimina a aversividade tende a
ser repetida. No primeiro caso, os efeitos observados em modelos de ansie
dade são de supressão condicionada (Estes e Skinner, 1941), ou seja, en
quanto esteja presente o sinal de que a punição é possível, há uma
paralisação do comportamento operante em curso. Se essa condição for
repetida inúmeras vezes, observa-se o “desamparo aprendido” (Seligman,
1975/1977), na qual o organismo simplesmente pára de responder na si
tuação original e torna-se incapaz de aprender novas respostas;
• E incompatível com a aprendizagem de novos repertórios (ensina apenas o
que não deve ser feito, e não ensina novas respostas). Justamente pelo fato
de restringir o repertório pelo reforçamento das respostas de fuga-esquiva,
pela supressão de comportamento positivamente reforçado ou pela incom
patibilidade da aprendizagem de repertórios novos, a punição, adicionalmen
te, provoca a impossibilidade de responder sob o controle de estímulos pois
os efeitos descritos comprometem o processo de discriminação. Pelo fato de
também provocar respostas emocionais intensas (reflexas), a punição man
tém o controle do comportamento do indivíduo por seus próprios estados
internos, pelo controle da estimulação do ambiente externo (como pode ser
observado em pessoas com sintomas de transtornos de ansiedade).
Por essas razões, as técnicas ou procedimentos aversivos devem ser utilizados
com extrema parcimônia e em casos nos quais nenhuma outra técnica não aversiva
pudesse ser utilizada (Banaco, 2001). Em toda a descrição feita até o momento, os
efeitos gerais da punição geram mais problemas adicionais do que solucionam o
problema original.
DESCRIÇÃO DO USO DA TÉCNICA EM UM CASO CLÍNICO
A técnica de Punição Positiva tem sido utilizada em casos clínicos sob condi
ções estritas e, em geral, com populações que apresentam comportamentos cha
mados de “bizarros” (autolesão, comportamentos que provoquem algum dano
para a saúde do indivíduo etc.) ou com populações que apresentem atrasos no
desenvolvimento. Ainda assim, Piazza, Fisher, Roane e Hilker (1999) alertam que
poucos procedimentos estão disponíveis para orientar os terapeutas na escolha de
procedimentos efetivos de punição, Se o terapeuta avaliar que os benefícios poten
ciais do uso da punição excedem os riscos potenciais, o desenvolvimento de um
método empírico de seleção de estímulos punidores apresenta várias vantagens:
“Primeiro, se o procedimento de punição for baseado em um método
acurado para prever a efetividade do tratamento, então a probabilidade
de rapidamente se suprimir o comportamento é aumentada. Assim, a ne
cessidade de que um indivíduo seja exposto repetidamente a uma série de
procedimentos potencialmente incômodos, mas ineficazes, é eliminada.
Uma supressão rápida do comportamento também pode ser importante
em casos severos, nos quais o indivíduo esteja em perigo significativo para
66 ■ Terapia Comportamental
si próprio ou para outras pessoas (por exemplo, nos quais as autolesões
continuadas possam causar cegueira). Segundo, com um método acurado
de predição da efetividade do punidor pode diminuir a chance de que o
procedimento venha a ter um efeito oposto ao pretendido. Por exemplo,
restrição física contingente é por vezes selecionada como tratamento para
comportamento autolesivo, mas pode funcionar como reforçador para este
comportamento-problemaC..) Finalmente, a predição efetiva dos efeitos
da punição pode resultar na seleção do procedimento menos intrusivo,
mas mais efetivo reduzindo assim a probabilidade de que a resistência ao
tratamento ou habituação (...) ocorram como resultado da exposição
do cliente a procedimentos ineficazes}> (págs. 72-73).
Mais uma vez, pode-se notar que a aplicação da punição, se eleita como técnica
de controle de comportamento, deve ser acompanhada pelo analista de compor
tamento, o qual monitora cuidadosamente seus resultados.
RELATO DE CASO COM BONS EFEITOS
DA PUNIÇÃO POSITIVA
Malott, Whaley e Malott (1996) descrevem dois casos em que duas clientes
classificadas como profundamente retardadas foram tratadas com punição para
o tratamento de bruxismo: uma de 32 anos de idade, nascida surda e cega, e
outra de 16 anos de idade, incapaz de andar. Ambas haviam destruído seus den
tes e, supostamente, sofriam de dores de cabeça pois apresentavam choro e
irritabilidade durante os períodos em que rangiam os dentes, sendo incapazes
de se comunicarem verbalmente. Isso fazia as pessoas envolvidas com elas (pais,
cuidadores e professores) se esquivarem do contato social.
Depois de tentarem técnicas complexas de reforçamento para reduzir o
comportamento de rilhar os dentes, os analistas do comportamento respon
sáveis pelo caso selecionaram uma punição leve3 para aplicarem ao compor
tamento: consistia em tocar a face das clientes com um cubo de gelo por poucos
segundos todas as vezes que elas apresentavam o rilhar de dentes de forma
que pudesse ser audível aos terapeutas. Os resultados apresentados apontam que,
logo nos primeiros dias de aplicação do procedimento, o comportamento
de rilhar os dentes das duas clientes decresceu em freqüência e dois meses
depois elas pararam, quase completamente, de apresentar o comportamento
(enquanto na linha de base observou-se que elas passavam em média 60% do
tempo rilhando os dentes, depois da punição leve, essa porcentagem baixou
para menos de 5% do tempo). Outros resultados positivos também foram
notados: as clientes tornaram-se mais sociáveis (uma delas inclusive ria e
3 Observa-se que o procedimento de aplicação da punição nesses dois casos foi aprovado pela insti
tuição na qual as clientes estavam internadas e também pelos pais delas.
Punição Positiva ■ 67
brincava mais, possivelmente pela eliminação das dores de cabeça), mais coo
perativas e, por esta razão, aprenderam mais rapidamente. Esses resultados
deixaram os pais, os cuidadores e os professores mais capazes de passarem
mais tempo com elas.
DESCRIÇÃO DO USO INADVERTIDO DE PUNIÇÃO EM
UM CASO CLÍNICO E SEUS EFEITOS
Fundamentados na proposta de Skinner (1953/1989) de que a terapia deveria
se constituir de uma audiência não punitiva para que o comportamento original
mente punido no ambiente natural pudesse aparecer na sessão terapêutica para
o devido tratamento, Baptistussi (2001) e Garcia (2001) analisaram, de formas di
ferentes, o mesmo conjunto de sessões terapêuticas observadas em um caso clí
nico. Enquanto Baptistussi concentrou seu trabalho na busca de comportamentos
do terapeuta que facilitaram a ocorrência do comportamento problemático na
sessão (conforme as propostas de Kohlenberg e Tsai, 1991/2001), Garcia identifi
cou as respostas de esquiva do cliente e a utilização pelo terapeuta da técnica de
bloqueio da esquiva (Kohlenberg e Cordova, 1994). No caso analisado, a cliente
apresentava comportamentos obsessivo-compulsivos e o terapeuta auto
denominava-se comportamental.
Segue a transcrição do trecho extraído de Baptistussi (2001, págs. 63-65) em
uma sessão na qual aparentemente a cliente (C) tentou a fuga-esquiva de um as
sunto e a conseqüente tentativa do terapeuta (T) em bloquear a resposta de es
quiva (procedimento aversivo). A sessão transcorria sobre a escolha por C de uma
possível profissão, inspirada na leitura de um material que descrevia várias profis
sões de grau universitário:
“T: (Acena positivamente com a cabeça. Pausa de 14 segundos.) - C, eu tô
percebendo uma coisa. Seus critérios de exclusão são sempre a dificuldade. Que
cê acha disso? (Introdução da estimulação aversiva, por sinalizar a esquiva.)
C: - Eu não sei o que eu acho (riso). (Indicativo de fuga-esquiva.)
T: - Você acha que é o melhor critério de escolha?
C: - Não.
T: - Por que não?
C: - Porque se for assim eu não vou fazer nada. Porque todos os que eu li têm
alguma coisa que eu não gosto.
____
T: - E... todos eles são trabalho e têm o seu componente bom e o seu compo
nente ruim, né? O meu trabalho, por exemplo, eu adoro o que eu faço, C, mas, por
exemplo, eu adoro dormir duas, três da manhã e acordar às dez, onze. Quando eu
vou fazer isso? Nunca, né? Agora, num dia de trabalho, porque, porque eu começo às
nove da manhã, às vezes às oito da manhã, né? Os meus clientes não vão pro meu
consultório às duas da manhã, eles, por exemplo, (risos) têm o horário deles, né?
É, outra coisa, eu acho é, por exemplo, esse trabalho de atendimento é... é muito
gostoso na minha profissão, eu ver as pessoas melhorando, eu ver quando eu con
sigo no meu trabalho uma pessoa, ver que aquela pessoa está crescendo, está se
68 ■ Terapia Comportamental
desenvolvendo, né? Mas isso implica em às vezes não estar lá no meu melhor dia e
ter que ir lá no meu consultório atender e ter que apresentar um... tem que ser
profissional, né? Então, a minha profissão tem as coisas chatas e nem por isso ela
deixa de ser uma profissão extremamente agradável. Eu gosto muito da minha
profissão é... No entanto, eu vejo que quando você está escolhendo, a primeira
coisa que você olha são os obstáculos. E o resto perde todo o valor.
C: (Latência de oito segundos) - É que eu não sei o que eu quero, é por isso.
(.Resposta de esquiva.)
T: - Hummm.
C: - Daí fica mais difícil de escolher (pausa de 11 segundos). (.Resposta indicativa
de fuga-esquiva.)
T: - Então, eu tenho a impressão que não é. Acho que é realmente, cê não sabe
o que você quer. É natural na idade em que você está, neste momento, ficar em
dúvida, mas eu acho que tem uma coisa anterior a isto que é: você frente a uma
dificuldade parece que a tua, o teu movimento é recuar ao invés de tentar alterna
tivas, se perguntar ‘Como é que eu vou superar essa dificuldade?'. E aí a gente tem
um problemão não só no trabalho... (pausa de 10 segundos) Você já notou, você
tem outras coisas, outras áreas da tua vida que você percebe que isso acontece?
(Terapeuta mantém e expande a estimulação aversiva.)
C: - Ah, tenho.
T: - Por exemplo?
C: - Assim, de confusão assim, de não saber o que eu faço? [Resposta indicativa
de fuga -esqui va.)
T: - Não, disso que eu acabei de falar. De você, quando vê uma dificuldade,
você recuar, ao invés de conseguir ir em frente.
C: -Às vezes, mas eu não sei explicar quando. Agora, esse negócio de confusão
na minha cabeça acontece em tudo.
T: - Hummm.
C: - Eu nunca sei o que eu vou fazer, o que que eu faço.
T: - Sei... (pausa de 6 segundos) Eu vejo que você está procurando uma profis
são ideal que nunca vai existir, né? Aquela profissão que pra você é o paraíso, né?
Só tem coisa boa. (Terapeuta mantém estimulação aversiva.)
C: - É mais ou menos isso. É que eu queria uma coisa que eu não tivesse que ir
todo dia.
T: - Hummm, sei.
C: - Não sei se é porque agora eu tô com medo de andar de ônibus, essas coi
sas. (Resposta indicativa de fuga-esquiva.)
T: - Hummm.
C: - Então, eu queria um negócio que eu não tivesse a obrigação de ir, quando
eu quisesse faltar.
T: - Hummm, você não acha que é mais uma situação onde você recua na
dificuldade ao invés de pensar 'Bom, como é que eu vou fazer pra conseguir andar
de ônibus?7 (Terapeuta bloqueia a esquiva.)
C: - É. (pausa de seis segundos).
T: - Você pode viver assim. É uma escolha. Só que as conseqüências são você
ficar cada vez mais fechada em casa. Você provavelmente não terá uma profissão.
Punição Positiva ■ 69
Provavelmente não terá, e se tiver uma profissão não vai ter o emprego porque
você não vai todo dia, né? (Sinaliza punição.)
C: - É.
T: - Ou seja, você pode ser uma mulher dependente do marido que vai ficar
trancada dentro de casa lavando louça o dia inteiro, é uma alternativa. (Sinaliza
punição.)
C: - Não gosto nem de lavar louça (risos de T e C).
T: - Imagino que não seja a melhor alternativa.
C: - É... (pausa de 11 segundos)
T: - Vamos tentar olhar pra essas profissões que a gente acabou de ver e vamos
ver coisas positivas nela? (Tentativa de retirada de estimulação aversiva, mas man
tendo a cliente em uma situação de escolha, possivelmente aversiva.)
C: - Nessa aqui, eu gostei de computação gráfica. (Dada a imediaticidade da
resposta, uma possível resposta de fuga da atividade.)
Todas as interpretações grifadas em itálico puderam ser levantadas pelos pesqui
sadores porque, em seguida a este episódio, a cliente relata estar tendo vertigens e
pede para terminar a sessão mais cedo. O terapeuta atende ao pedido da cliente e ela
falta na sessão seguinte. Esses dados sugerem que o uso da punição na sessão tera
pêutica pode provocar respostas de fuga-esquiva da própria sessão, efeito a ser evita
do pela contingência envolvida na terapia. Possivelmente, se o terapeuta insiste em
manter a cliente sob a aversividade nesse momento, ela abandonaria a terapia.
COMENTÁRIOS FINAIS
Apesar de tudo o que foi dito sobre a punição até o momento, é digno de
observá-la como um procedimento que permanece freqüentemente em uso na
nossa cultura. Para entender isso, deve-se analisar as conseqüências para o com
portamento do punidor. Skinner (1953/1989) alertou que, especialmente na aná
lise de episódios sociais, observa-se o agente punidor utilizando-se da punição
porque ela possui efeitos imediatos de supressão do comportamento do indiví
duo punido, comportamento esse que deve ser aversivo
para o punidor. Sendo
imediata, a supressão da aversividade para o punidor funciona como reforçador
negativo para a resposta de punir. Isso explica o motivo pelo qual agências
controladoras criadas pela vida em grupo (Governo, Religião, Educação e Econo
mia) utilizam-se tanto dessa forma de controle do comportamento dos indivíduos.
Nessa análise, pode-se constatar que vários comportamentos observados na clí
nica advêm da utilização da punição: problemas emocionais (especialmente an
siedade e depressão), comportamentos de fuga-esquiva (abandono de religião, de
escola etc.), comportamentos classificados como delinqüentes (agressão à fonte
de estimulação aversiva ou a quem estiver por perto), problemas psiquiátricos
(Sidman, 1989/1995). Esse é mais um motivo pelo qual a utilização de alternativas
não aversivas seria mais adequada para o tratamento dos problemas apresenta
dos em terapia (Banaco, 2001) do que a utilização de punição ou qualquer outra
técnica aversiva.
70 ■ Terapia Comportamental
No entanto, como apontaTodorov (2001), o estudo da punição e dos seus efei
tos deve ter continuidade. É necessária a explicação dos motivos do constante uso
desse método, apesar dele trazer conseqüências ruins para o indivíduo e para a
sociedade. Esse autor denuncia: “Dos anos 50 para cá, mesmo com o interesse
científico pelo processo (da punição) diminuído, a punição como técnica de con
trole do comportamento parece ter aumentado. Nas Febem4 e nas prisões (ou se
rão a mesma coisa?), nas escolas, o que se lê na imprensa mostra que ainda é a
técnica preferida para o controle do comportamento. Então, por que deixamos de
fazer a análise experimental do processo de punição?” (pág. 40).
Talvez a resposta a essa questão não seja simples. Mas fica claro tanto pelas
observações formais dos experimentos quanto pelas observações obtidas na prá
tica clínica que a utilização da técnica de punição, isoladamente, traz mais pro
blemas que soluções. Não custa repetir que sua utilização precisa ocorrer em
situações muito restritas e, de preferência, em combinação com outras técnicas.
É desnecessário ressaltar que deve ser usada por quem conhece profundamente a
Análise do Comportamento.
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C A P ÍT U L O
Punição Negativai
P atrícia P ia zzo n Q ueiroz
O Senhor Deus, por isso} o lançou fora do
jardim do Éden, a fim de lavrar a terra
de que fora tomado (Gn, 3,23).
No presente capítulo será apresentado o conceito de Pu
nição Negativa, serão discutidas as vantagens e desvanta
gens do seu uso e serão oferecidos exemplos da aplicação
do procedimento na atuação clínica.
Para se discutir o conceito de Punição Negativa, inicial
mente, é necessário definir o conceito de punição. Punição
é um procedimento que envolve uma resposta, a qual pro
duz um estímulo aversivo conseqüente. É necessário que a
resposta operante seja emitida e, contingente a ela, siga-se
um estímulo aversivo. Appel (1969) sintetizou a concei
tuação de punição da seguinte maneira:
“A punição é um procedimento; não é um processo
nem um estímulo. O procedimento especifica uma
relação única entre dois eventos - a apresentação do
aversivo (Sav) contingente à ocorrência de uma res
posta (R), a qual é funcionalm ente definível e, por
tanto, m ensurável Se uma
dada resposta ocorre,
então um estímulo aversivo ocorre; se aR não ocor
re, o Sav não é apresentado. Ainda que outros eventos
1 Agradeço a Ana Paula Basqueira e Maria Eloísa Bonavita Soares pelo
trabalho de digitação e comentários e, em especial, a Hélio José
Guilhardi pela orientação e revisão do capítulo.
Punição Negativa ■ 73
possam também estar envolvidos (por exemplo, o Sav pode se apresentar após
cada qüinquagésima R na presença de um estímulo, como o som de uma
cam painha) deve haver, por definição, uma R e um Sav, bem como uma rela
ção de contingência entre eles; assim, não é necessário qualquer outro evento ”
(Ferster, Culbertson eBoren, 1978, pág. 225).
O procedimento de punição definido por Appel (1969) ressaltou a importân
cia da relação contingente entre a resposta emitida e a conseqüência funcional
mente aversiva. Nessa relação, o estímulo aversivo pode ser aplicado de duas
maneiras. Na primeira, o procedimento de punição envolve a apresentação de um
estímulo aversivo contingente a uma resposta, por exemplo: quando uma criança
põe o dedo em uma tomada e leva um choque; quando a criança faz uma birra e a
mãe lhe dá um tapa; ou quando a criança solta a mão da mãe, corre para o meio da
rua e leva uma tremenda bronca. Nessas situações, choque, tapa, bronca são exem
plos de estímulos aversivos que foram apresentados contingentes às respostas
emitidas. A relação de apresentação do estímulo aversivo produzido por uma de
terminada resposta é a chamada punição positiva. A palavra positiva não é usada
com uma conotação valorativa, mas como termo matemático: adiciona-se o estí
mulo aversivo; ele é acrescentado. Na segunda maneira, o procedimento de puni
ção envolve a remoção de um estímulo reforçador positivo contingente à resposta
emitida. Ou seja, ao emitir a resposta, o estímulo reforçador que estava disponí
vel, ou presente, é retirado, por exemplo: a criança está carregando uma bandeja
com lanche e refrigerante, tropeça e os deixa cair; a criança responde ao pai com
um palavrão, então, ele a proíbe de assistir ao desenho preferido; ou uma criança
é proibida de brincar com o amigo por ter tirado nota baixa na escola. As três ocor
rências - perder o lanche e o refrigerante, não assistir ao desenho preferido e não
brincar com o amigo - são exemplos de estímulos reforçadores positivos removi
dos contingentemente às respostas emitidas. Essas situações exemplificam o pro
cedimento de Punição Negativa, no qual a conseqüência reforçadora positiva é
removida contingente à resposta. Cabe também ressaltar que a palavra negativa
vem do conceito matemático de subtrair, diminuir e não possui uma conotação
valorativa.
Holland e Skinner (1975) assim definiram o procedimento de punição: "Na
punição uma resposta é seguida pela remoção de um reforçador (positivo) ou pela
apresentação de reforçador negativo" (pág. 246). Sidman (1995) propôs uma defi
nição semelhante: “Um tipo de punição confronta-nos com o término ou retirada
de alguma coisa que comumente seria um reforçador positivo; outro tipo con
fronta-nos com a produção de algo que normalmente seria um reforçador nega
tivo'' (pág. 59). O uso do termo “reforço (ou reforçador) negativo", em substituição
ao termo “estímulo aversivo”, promove um importante avanço na definição do
procedimento de punição (positiva), pois o evento que segue à resposta passa a
ser definido pelos efeitos que produz sobre o comportamento. Assim, reforço nega
tivo é aquele evento do ambiente que fortalece a resposta que o elimina. Desapa
rece a ambivalência gerada pelo uso de “aversivo”.
O Quadro 5.1 sintetiza os efeitos dos procedimentos sobre os comporta
mentos operantes.
74 ■ Terapia Comportamentai
Quadro 5.1 - P roced im entos o p eran tes básicos
R o produz R o remove
Estímulo
Reforçador
(Reforço positivo)
Estímulo Aversivo
(Reforço negativo)
a. Reforçamento positivo
c. Punição positiva
b. Punição Negativa
d. Reforçamento negativo
A definição de punição não faz referência ao efeito do procedimento sobre o
comportamento. Na definição de reforçamento, diz-se que um comportamento
foi reforçado se uma conseqüência, que se seguiu a uma resposta, produz um au
mento na freqüência dela, por exemplo, uma criança põe o dedo na boca e a mãe
segura o pulso da criança e lhe diz: “Que feio!” Se a criança continuar pondo o
dedo na boca e o fizer mais vezes quando a mãe estiver por perto, diz-se que
o comportamento da criança foi reforçado, o toque e a frase da mãe foram conse
qüências reforçadoras. Nesse sentido, Skinner (1967) escreveu:
“A única maneira de dizer se um dado evento é reforçador ou não para um
dado organismo sob dadas condições é fazer um teste direto. Observamos a
freqüência de uma resposta selecionada, depois tornamos um evento con
tingente a ela e observamos algum a m udança na freqüência, Se houver
mudança (um aumento), classificamos o evento como reforçador para o
organismo sob as condições existentes” (pág. 48).
Então, para definir um evento ou conseqüência como reforçador, precisa-se
observar um aumento na resposta que o produziu. Holland e Skinner (1975) defi
niram: “O comportamento operante tem efeitos diretos sobre o ambiente. Uma
determinada conseqüência do operante, que resulte em um aumento de freqüên
cia das respostas seguintes, pode ser chamada de reforço” (pág. 50). Sendo assim,
na definição de reforçamento, o efeito sobre o comportamento produzido pela
relação resposta-conseqüência é importante e só por meio dele se pode afirmar
que a conseqüência foi reforçadora.
Para vários autores, a punição não deve ser definida pelos efeitos produzidos
sobre o comportamento. Appel (1969) referiu-se, aos efeitos do procedimento de
punição, da seguinte maneira: “As propriedades da punição não são bem entendi
das; primeiramente, porque os efeitos da punição são de fato complexos, no sen
tido de que a ocorrência de qualquer comportamento sujeito à punição é
determinada por muitos fatores em adição da contingência de punição” (Ferster
et al.y 1978, pág. 225). Para Holland e Skinner (1975), “os efeitos da punição só
podem ser descobertos pela realização de um experimento. Diversamente do refor
çamento, a punição não foi definida em termos de um efeito determinado sobre o
comportamento” (pág. 248). Sidman (1995) escreveu: “...definimos punição sem
apelar para qualquer efeito comportamental; punição ocorre sempre que uma ação
h
seja seguida ou pela perda de reforçadores positivos ou pelo ganho de reforçadores
negativos. Esta definição nada diz sobre o efeito de um punidor sobre a ação que o
produz” (pág. 59). E, ainda, Appel (1969), referindo-se ao efeito da punição sobre
o comportamento; ressaltou a dificuldade de prevê-lo, pois “o efeito de qualquer
estímulo depende das condições em que ele é aplicado e da história do organis
mo. Não podemos, por isso, ter certeza de que, numa dada situação, em que ocor
re a punição, um determinado Sav, que selecionamos, reduzirá sempre a taxa de
resposta” (em Ferster etaL, 1978, pág. 227).
Reafirmando a posição apresentada até esse ponto de que o reforçamento é defi
nido pelo aumento na freqüência de resposta, enquanto a punição, positiva ou nega
tiva, não é definida pelo efeito sobre o comportamento, Skinner (1967) escreveu:
“Devemos primeiro definir punição sem pressupor efeito algum . Isto pode
parecer difícil. Ao definir um estímulo reforçador podem os evitar a especifi
cação de características físicas, apelando para o efeito que tem sobre a fre
qüência do comportamento. Define-se também uma conseqüência punidora
sem referência às suas características físicas e, se não há efeito comparável
para usar um critério, que caminho nos abre? A resposta vai em seguida,
Primeiro definimos um reforçador positivo como qualquer estímulo que,
quando apresentado, aumenta a freqüência
do comportamento ao qual é
contingente. Definimos um reforçador negativo (um estímulo aversivo) como
qualquer estímulo que quando retirado aum enta a freqüência do com por
tamento. Ambos são reforçadores no sentido literal de reforçar ou aumentar
a freqüência de uma resposta. Na m edida em que a definição científica cor
responde ao uso leigo, am bos são ‘recom pensasPara resolver o problem a
da punição simplesmente inquirimos ‘Qual é o efeito da retirada de um
reforçador positivo ou da apresentação de um negativo?' Um exemplo do
primeiro seria tirar o doce de uma criança; um exemplo do último, castigá-
la. Não usamos nenhum termo novo na colocação dessas questões e assim
nada precisa ser definido. Ademais, até o ponto em que somos capazes de
dar uma definição científica de um termo leigo, essas duas possibilidades
parecem constituir o campo da punição. Não houve pressuposição de qual
quer efeito; simplesmente levantamos uma questão para ser respondida
com experimentos adequados” (págs. 109-110).2
Millenson (1957), ao discutir a definição do procedimento de punição e seu
efeito, revelou a dificuldade para essa definição diante da diversidade de variáveis
relevantes nesse procedimento: “Os efeitos da punição dependem de muitos fato
res para podermos escrever um simples paradigma de procedimentos, processos
e resultados. Os processos e resultados dos procedimentos de punição são variá
veis e condicionais ao tipo de comportamento que está sendo punido, assim como
aos estados de muitas variáveis que operam no ambiente presente e passado do
indivíduo punido” (pág. 402).
Pu nição Nega ti va ■ 75
2 Os grifos em itálico foram feitos pela autora do capítulo.
76 ■ Terapia Comportamental
Toda a discussão em torno dos efeitos da punição sobre o comportamento
tem um denominador comum: a complexidade da interação das variáveis contro
ladoras do comportamento atuantes num determinado contexto, como:
1. As operações estabelecedoras: intensidade da privação presente, por exemplo;
2. Parâmetros das variáveis que compõem as contingências de reforçamento
no momento em que o procedimento é aplicado: intensidade do estímulo
aversivo empregado, amperagem do choque, por exemplo; esquema de
reforçamento em operação; possibilidade ou impossibilidade de emissão
de comportamentos de fuga; presença simultânea de outras contingências de
reforçamento operando sobre outros comportamentos - incompatíveis ou
não - com o comportamento que está sendo punido etc.
3. História de contingências de reforçamento: a qual tipo de contingências o
organismo esteve previamente exposto.
Azrin e Holz (1966) propuseram uma definição que tem sido apresentada como
uma referência na área e discutiram as interações das variáveis que influenciam
os efeitos dos procedimentos de punição sobre o comportamento. Esses autores
introduziram de maneira enfática a mudança comportamental produzida pelo
procedimento como componente fundamental da definição. Observe a referida
definição e os comentários feitos pelos autores a respeito dela:
“.. .seria preferível como um passo inicial olhar para o próprio comportamento
para nossa definição mínima. Um aspecto inequívoco da punição parece ser que
ela reduz um comportamento quando a punição é arranjada como uma conse
qüência daquele comportamento. Daí, nossa definição mínima será urna con
seq ü ên c ia de com portam en to qu e reduz a p ro b a b ilid a d e fu tu ra d aq u ele
comportamento. Posto de maneira mais completa, punição é uma redução da pro
babilidade futura de uma resposta específica como um resultado da liberação im e
diata de um estímulo para aquela resposta. O estímulo é chamado de estímulo
punitivo; o processo todo é chamado de punição ”
Vários aspectos desta definição requerem comentários. Primeiro, a definição
não possui um sentimento subjetivo. Portanto, seria incorreto chamar um estí
mulo de estímulo punitivo, simplesmente, porque aquele estímulo resulta em um
estado de infelicidade ou em um estado emocional. Segundo, um evento específi
co precisa ser produzido por uma resposta específica em seqüência, para ser con
siderado um estímulo punitivo. O simples decréscimo em responder não é uma
razão suficiente para classificar o procedimento como punição. Saciação, extin
ção, drogas, doença, mudança de estímulo etc., também podem reduzir as res
postas. Estes procedimentos são claramente distintos da punição, pois eles não
produzem uma redução da resposta, que possa ser atribuída à produção do estí
mulo específico (o punitivo) pela resposta. Só quando a redução de respostas ocorre
porque a resposta produz um estímulo específico, chamado processo de punição.
Um terceiro aspecto desta definição é que ela especifica a probabilidade futura de
uma resposta. A redução em responder durante a apresentação atual de um es
tímulo não é indicativo de punição. Se um choque intenso é liberado na pata, após
uma resposta, o choque pode produzir reações como pular que são fisicamente
Punição Negativa ■ 77
incompatíveis com a resposta; mas isso não é suficiente para categorizar o cho
que um estímulo punitivo. Similarmente, a liberação de comida resulta em com
portamento de consumir que é, usualmente, incompatível com a resposta. A
mudança na freqüência da resposta subseqüente ao estímulo define as proprieda
des reforçadoras ou punitivas daquele estímulo. Por esta razão, nossa definição
de punição é em termos de uma redução na probabilidade futura da resposta pu
nida. A presente definição considera punição como um processo primário, uma
vez que (1) não requer nenhuma evidência independente de que o estímulo irá
manter comportamento de fuga, e (2) a característica definidora de punição é di
retamente mensurada em termos da existência de redução da resposta... A pre
sente definição de um estímulo punitivo é idêntica à definição de um estímulo
reforçador, uma vez que ela requer uma mudança na probabilidade futura de uma
resposta como resultado da produção de um estímulo pela resposta. As definições
diferem apenas com respeito à direção de mudança da probabilidade da resposta:
um aumento de probabilidade, no caso do reforçamento positivo, um decrésci
mo, para a punição. Nenhum processo é secundário ao outro” (págs. 381-383).
Walley e Mallot (1980), Catania (1999) e Martin e Pear (2003) incorporaram
explicitamente, na definição de punição, o efeito que as conseqüências têm sobre
o comportamento. Martin e Pear (2003) usaram o termo princípio de punição (e
não procedimento) e começaram definindo um punidor (punishef):
“É um evento que quando apresentado imediatamente após um com porta
mento, produz um decréscimo na freqüência do com portam ento... Asso
ciado com o conceito de punidor está o princípio de punição: se em uma
dada situação, alguém faz alguma coisa que é imediatamente seguida por
um punidor, então a pessoa tem menor probabilidade de fazer a mesma
coisa outra vez, quando se encontrar em situação similar” (pág. 148).
Martin e Pear (2003) classificaram em quatro categorias os eventos que, quan
do liberados como conseqüências para o comportamento, atendem à definição de
punidor: (a) punidores físicos; (b) repreensões; (c) timeout7 (d) custo da resposta”
(pág. 149). Como se pode observar, os dois autores não separaram a punição posi
tiva da negativa de forma explícita. Em relação aos objetivos do presente capítulo
importam as duas últimas categorias de Martin e Pear (2003):
'Timeout envolve transferir um indivíduo de uma situação mais reforçadora
para outra menos reforçadora após um determinado comportamento. Pode
ser visto como um tempo sem oportunidade para obter reforços” (pág. 150).
“Custo da resposta envolve a remoção de uma amostra especificada de re
forço após um determinado comportamento. Exemplos de custo de resposta
na rotina cotidiana são as multas por atrasos de
pagamento. Custo de res
posta é diferente de timeout, pois não há mudanças nas contingências de
reforçamento em operação quando ela é administrada. Custo de resposta
também não deve ser confundido com extinção. No procedimento de extin
ção , um reforço não é apresentado após a emissão de uma determinada res
posta. No custo de resposta, um reforço que está de posse da pessoa é retirado
após uma resposta inadequada” (págs. 150-151).
78 ■ Terapia Comportamental
Walley e Mallot (1980), ao definirem o conceito de punição, enfatizaram o efeito
de redução da freqüência de resposta quando um estímulo reforçador é removido
contingente a uma resposta. Ou seja, a resposta produz a remoção de um estímulo
reforçador e a freqüência dessa resposta diminui após essa conseqüência. Então, Walley
e Mallot (1980) afirmaram: “A remoção de um reforço (positivo) como conseqüência
da emissão de uma resposta pode ser definida como um procedimento de punição. O
resultado desse procedimento de punição é uma redução na freqüência da resposta
em que ele está associado. Se como conseqüência da remoção do reforço se obtém
uma redução, a remoção pode ser considerada como uma punição” (pág. 147). Ob
serve que nessa definição de punição, os autores estão descrevendo o procedimento
de Punição Negativa (objetivo do nosso capítulo) ao considerar punição como a re
moção do estímulo reforçador, embora não empreguem tal terminologia (optaram
por “punição produzida por remoção contingente de reforço positivo”).
Catania (1999) também discutiu a punição como um procedimento que altera
a probabilidade futura de ocorrência da resposta. Ele ainda destacou que a remo
ção de uma conseqüência reforçadora pode ser considerada um procedimento de
punição, diminuindo, assim, a probabilidade futura da resposta que produziu tal
remoção ser novamente emitida. Assim, ele escreveu: “Existe uma outra relação, a
punição em que as conseqüências do responder tornam o responder menos pro
vável. Além disso, um estímulo que reforça uma resposta, quando é produzido
por ela, pode ter uma função diferente quando é removido por uma resposta: sua
remoção pode punir o responder” (pág. 108).
Uma distinção teórica bastante oportuna envolve o procedimento de punição
e a extinção. Como foi visto na punição, a resposta emitida produz o estímulo
aversivo. O organismo que se comporta produz a conseqüência, sendo um agente
ativo no processo. A extinção envolve o não-reforçamento de uma determinada
resposta. Inevitavelmente, características aversivas estarão envolvidas na relação
entre resposta e não-reforçamento. É importante destacar que na extinção, dife
rentemente da punição, o organismo não produz a conseqüência de não-
reforçamento, não sendo o sujeito, assim, o ativo produtor da conseqüência. Nesse
sentido encontra-se emFerster e t a l (1978):
“Na linguagem coloquial há, algumas vezes, uma tendência a descrever o
comportamento do pai que não atende o choro da criança como punição.
Embora o não reforçamento de um comportamento operante em curso pos
sa ser desagradável ou ter propriedades aversivas em algumas situações, é
importante distinguir entre a punição de um desempenho, seguindo-o com
um estímulo aversivo e a diminuição da freqüência de um desempenho pela
simples suspensão do reforçamento” (pág. 205).
Na extinção, a taxa de respostas diminui pois elas não possuem reforço (as
respostas não produzem o estímulo reforçador). Na punição, a taxa de resposta
diminui porque elas são seguidas de conseqüências aversivas (as respostas pro
duzem o estímulo aversivo).
Um importante ponto na aplicação da punição é citado por vários autores.
O procedimento de punição, positiva ou negativa, suprime o comportamento
Punição Negativa * 79
operante ao qual a conseqüência aversiva se seguiu, A punição não elimina a res
posta punida do comportamen to do organismo, apenas suprime essa resposta, en
quanto a conseqüência aversiva está presente. Skinner (1967) discutiu essa
problemática: “Mais recentemente, levantou-se também a suspeita de que a pu
nição não faz, de fato, aquilo que se supõe que faça. Um efeito imediato na redu
ção de uma tendência a se comportar é bastante claro, mas isso pode ser enganador.
A redução na freqüência pode não ser permanente” (pág. 109). E ainda: “O fato de
que a punição não reduz permanentemente uma tendência para responder, está
de acordo com a descoberta de Freud sobre a atividade sobrevivente do que cha
mou de desejos reprimidos” (pág. 109). Ferster et a l (1978) também descreveram
a punição como a supressão da resposta punida e não a eliminação dela: “O efeito
da punição na redução da freqüência de um operante positivamente reforçado é
mais corretamente descrito como a supressão temporária de um comportamento
e não como a sua eliminação. A punição não pode ser considerada o oposto do
reforçamento positivo” (pág. 191).
Appel (1969) também discutiu o efeito da punição como um efeito temporário
produzido pelo estímulo aversivo, não alterando a probabilidade futura da ocor
rência da resposta. Ele, ainda, apontou outra questão: nenhuma agência punitiva
conseguirá punir todas as emissões da resposta que deseja suprimir; ela conse
guirá punir algumas das respostas, mas não outras, podendo, com isso, fortalecer
o padrão inadequado num esquema de reforçamento intermitente. Appel (1969)
afirmou: “Então, o fato de que uma ação foi suprimida por punição não implica
que a probabilidade de sua futura ocorrência tenha que ser significativamente di
minuída, mesmo que continuemos a punir. Na 'vida real' nenhuma agência puniti
va poderá punir todas as pequenas manifestações do comportamento cada vez que
ocorrem e de modo severo e inevitável. Devemos, por isso, admitir que a pessoa
que pune, espera, erradamente, que uma vez que o comportamento punido tenha
sido suprimido, permanecerá suprimido” (Ferster et a í, 1978, págs. 230-231),
Ou seja, para que um comportamento permaneça suprimido é necessária a
presença da conseqüência aversiva, porém é muito difícil para a agência
controladora punir todas as ocorrências de uma determinada resposta. Nem o
terapeuta, nem os pais, nem os professores poderão estar permanentemente ao
lado do indivíduo conseqüenciando, eliminando cada emissão da resposta inade
quada. Esse fato pode tornar a utilização da técnica pouco prática, desde que, na
ausência da agência punitiva, o comportamento volte a ocorrer na mesma fre
qüência anterior à aplicação. Porém, a punição é uma técnica importante para
reduzir rapidamente a resposta inadequada e isso não deve ser ignorado. Às ve
zes, a ocorrência única da resposta inadequada pode ser muito danosa, por exem
plo, quando uma criança atravessa a rua sem esperar pela orientação do adulto,
pula numa piscina sem saber nadar, puxa o cabo de uma panela quente no fogão,
segura um ferro elétrico ligado etc. Nesses casos, a punição poderia ser útil se al
guém a aplicasse em tempo de interromper a cadeia de respostas, antes que os
elos terminais pudessem ocorrer. Esses exemplos extremos (lamentavelmente,
comuns) podem justificar o uso da punição (positiva), mas não devem ser usados
como argumento para o uso generalizado da punição. Em situações, mais ame
nas, em que se use a punição, ela deve ser branda e é essencial a combinação da
80 ■ Terapia Comportamental
sua aplicação com outro procedimento que desenvolva um repertório durável
mantido por reforçadores positivos. Esse destaque é muito importante para a prá
tica clínica; o terapeuta, ao usar a punição, deve estar ciente da supressão tempo
rária e ainda habilitado a utilizar outros procedimentos (modelagem, fading in,
controle por regras etc.) para construir um repertório adequado permanente.
Sidman (1995) sintetizou muito claramente essa posição:
“Comportamento inadequado persiste a despeito da punição porque é tam
bém reforçado. A m aioria de nós, indiscutivelmente, preferiria reforçar ações
alternativas em vez de utilizar punição para fazer com que os nossos filhos
e os outros m udassem . Algumas vezes, entretanto , o com portam ento
indesejado é tão forte que ele impede o indivíduo que se comporta inade
quadam ente de tentar qualquer outra coisa. O diálogo freqüentemente não
os persuade a abandonar um curso de ação que já funciona. Podemos, en
tão, sentir que a punição é o único recurso. Se uma ocasião assim surge,
podem os usar punição suave. A supressão temporária do ato punido nos dá
uma oportunidade para ensinar ao indivíduo algo novo, alguma outra m a
neira de obter os mesmos reforçadores. Tendo parado momentaneamente um
ato indesejável, punindo-o suavemente, podemos, então, substituí-lo por meio
do reforçamento positivo de uma atividade mais desejável” (pág. 87).
E, nesse sentido, Martin e Pear (2003) escreveram: “Punição não estabelece
nenhum comportamento; ela apenas suprime o velho comportamento. Em ou
tras palavras, punição não ensina o indivíduo o que fazer; na melhor hipótese,
ela só ensina o que não fazer. Por exemplo, a principal característica de pessoas
com déficit de desenvolvimento é a falta de comportamento que elas têm em
comparação com a maioria das pessoas. A primeira ênfase para esses indivíduos,
então, deveria ser o estabelecimento do novo comportamento em vez de mera
mente eliminar o velho comportamento. Reforçamento é necessário para reali
zar esta tarefa” (pág. 157),
Como foi enfatizado até aqui, a punição é aplicada contingente a um repertó
rio que esteja sendo considerado inadequado. Esse comportamento foi fortaleci
do e mantido por reforçadores, já que sua freqüência não desapareceu (não se
extinguiu). Isso nos remete a uma outra discussão importante. A resposta operante,
que se pretende eliminar com a punição, é mantida no repertório do indivíduo
por reforçadores. Ao introduzir a punição (que apenas suprime a resposta tempo
rariamente), o valor do estímulo reforçador que mantinha tal comportamento não
foi alterado. Ou seja, ao retirar a punição, a resposta, ao ser emitida, continua pro
duzindo o reforçador que a mantinha. Por exemplo, proibir a criança de brincar
ou assistir ao desenho por um período do dia não altera o valor reforçador natural
dessas atividades; assim que a punição for removida ou o agente se afastar a criança
voltará a emitir essas respostas. Appel (1969) explicitou que ocorre uma interação
entre os procedimentos de punição e de reforçamento:
uComo a punição é usada, freqüentemente, tanto no laboratório como em
situações práticas para suprimir (ou eliminar) uma resposta, isto é, para
Punição Negativa ■ 81
reduzir sua taxa de ocorrência, a resposta deve existir no repertório do orga
nismo e, provavelmente, deve ocorrer em uma taxa que a pessoa que pune
considera muito alta, antes da punição ser aplicada. Como o comportamento
operante não ocorre a menos que seja, ou que já tenha sido reforçado (usual
mente por outro estímulo, Sr)> a resposta deve ter pelo menos um efeito (o d e
ser reforçada) além de estar envolvida na punição; sua taxay por isso, será
determinada pela força relativa de suas várias conseqüências, bem como
por outros fatores” (pág. 226).
Completando a citação anterior, Ferster et a l (1978) escreveram: “A redução
na freqüência de um desempenho pela punição é um processo complicado por
que a punição não altera o reforçador que mantém o comportamento” (pág. 216).
Em outra passagem Appel (1969) ressaltou a importância do estímulo
reforçador para a reaquisição e manutenção do repertório suprimido:
“A punição é um procedimento operante que implica numa tentativa de
eliminar o comportamento que afeta o am biente do organismo (isto ê, uma
resposta operante). Tal comportamento é adquirido porque ele leva a certas
mudanças no meio, mudanças essas que são necessárias por razões que po
dem ou não ser conhecidas. O comportamento pode ser desorganizado por
uma grande variedade de estímulos ‘novos’ inclusive pela punição, mas per
sistirá, pela mesma razão pela qual fo i adquirido: o anim al ainda necessita
aquilo que necessita e mesmo que tenha que trabalhar arduamente, ele o
fa rá para obter o que necessita” (Ferster et al., 1979, pág. 231).
Nessa citação, Appel (1969) também sugeriu um outro efeito sobre o compor
tamento, que decorre da aplicação do procedimento da punição: o comportamento
é am plam ente “desorganizado”. Ou seja, a punição suprime a resposta inadequa
da, porém ela também poderá produzir o mesmo efeito sobre outras respostas
operantes que estiverem sendo emitidas no momento da punição. Por exemplo, uma
criança está brincando e falando alto, quando um adulto a repreende. A criança
pára de brincar, se afasta dos adultos, começa a falar mais baixo em outras situa
ções, a ponto de só ser ouvida com dificuldade, O repertório mais amplo da crian
ça, mesmo comportamentos que não foram diretamente punidos, ou seja, outras
classes de respostas semelhantes (generalização de respostas) ou classes de res
postas equivalentes se enfraquecem em condições de estímulos semelhantes (ge
neralização de estímulos). Instala-se um amplo - e indesejado - repertório de
fuga-esquiva. Ferster et ah (1978) escreveram sobre os efeitos da punição sobre o
repertório operante:
“Se a intensidade dos estímulos aversivos puder condicionar e suprimir
comportamentos operantes, geralmente esses estímulos desorganizarão ou
suprimirão uma am pla gam a de comportamentos não relacionados, numa
variedade de situações. Essa desorganização do comportamento operante
do indivíduo, que estiver ocorrendo e que estava sendo reforçado positiva
mente, pode produzir um sério enfraquecimento no repertório com por
tam ental” (pág. 212).
82 ■ Terapia Comportamental
Além das alterações no repertório operante, também ocorrerão reações
respondentes, como taquicardia, aceleração no ritmo respiratório; alterações na
pressão arterial, transpiração etc., e estados corporais desagradáveis. A pessoa
poderá relatar sentimentos de raiva, medo, insegurança, agressividade, entre
outros; todos incluem componentes operantes e respondentes. Conclui-se que
a punição pode produzir excessos comportamentais ao lado de supressões
comportamentais, abrangendo o repertório global da pessoa num nível mui
to além do esperado e, certamente, produzindo alterações comportamentais
não desejadas.
Uma possível explicação para o efeito imediato de redução da resposta puni
da é que o procedimento pode eliciar respostas respondentes incompatíveis com
o comportamento. Skinner deu o exemplo de uma criança que leva um beliscão
forte quando está rindo na igreja. O beliscão elicia respostas incompatíveis com o
riso e assim o suprime. A resposta de rir pode ocorrer futuramente, mas basta um
gesto ameaçador da mãe, que pode ter o efeito de estímulo condicionado aversivo
eliciador, para a criança cessar o riso, via condicionamento respondente de res
postas incompatíveis. Um outro problema que decorre do procedimento de puni
ção envolve os estímulos presentes no momento da punição. Esses estímulos
adquirem funções de estímulos condicionados. Os estímulos que acompanham a
própria resposta punida ou que estiverem ocorrendo simultaneamente a ela são
condicionados. Em situações futuras, nas quais algum desses estímulos condicio
nados estiver presente, todo o repertório do indivíduo pode ser alterado, ocorren
do uma desorganização dos comportamentos operante e respondente do sujeito.
Eles adquirem, então, a função de estímulos pré-aversivos, ou seja, sinalizam quan
do a emissão da resposta pode ser seguida de estimulação aversiva. Ferster et ol.
(1978) falam em perturbação generalizada no repertório (ansiedade):
“Os estímulos aversivos tendem a evocar reflexos que influenciam o estado
do organismo.
A mera ocorrência de um estímulo incondicionado ou con
dicionado pode influenciar e desorganizar potencialmente qualquer com
portamento operante que esteja ocorrendo. Os estímulos que precedem o
estímulo aversivo incondicionado podem ter efeitos muito mais pronuncia
dos do que o próprio evento. Por exemplo, o som que precede o choque elétri
co pode desorganizar virtualmente qualquer comportamento operante que
esteja ocorrendo e reduz sua freqüência. O comportamento de pressionar a
barra reforçado por com ida cessa, ou será substancialmente perturbado,
durante o som que precede o choque (estímulo pré-choque), em bora o
desempenho operante volte ao normal após o choque. Qualquer outro d e
sempenho operante que estivesse ocorrendo poderia ser igualmente desor
ganizado. O efeito do estímulo pré-choque sobre o comportamento do rato
é, algumas vezes, cham ado ansiedade... Assim, torna-se mais próprio d e
signar este estado como uma conseqüência de um estímulo pré-aversivo} e
não como uma resposta em ocional porque a primeira designação focaliza
a atenção sobre o comportamento operante diretamente observável que é
alterado, sem a implicação enganosa de que há mudanças no repertório
operante que são eliciadas como no caso de um reflexo” (págs. 211 -212).
Punição Negativa ■ 83
Decorre, daí, um efeito comportamental importante: qualquer resposta emi
tida nesse contexto que afaste a estimulação aversiva adquire função no repertó
rio do indivíduo, pois é reforçada negativamente. Com isso, na presença de
estímulos aversivos condicionados, o indivíduo tende a emitir respostas (de fuga-
esquiva) que cessam a estimulação aversiva* Os estímulos aversivos condiciona
dos não apenas produzem estados corporais, operantes e respondentes,
desagradáveis, como também aumentam a probabilidade de respostas de fuga-
esquiva. Skinner (1967) descreveu: “Se uma dada resposta for seguida por um estí
mulo aversivo, qualquer estimulação que acompanhe a resposta, originando-se
do próprio comportamento ou de circunstâncias concomitantes, será condicio
nada. Acabamos de apelar para esta fórmula ao explicar os reflexos e as predispo
sições condicionados emocionais, mas o mesmo processo também leva ao
condicionamento dos estímulos aversivos que servem como reforçadores negati
vos. Qualquer comportamento que reduza essa estimulação aversiva condicionada
será reforçado. No exemplo há pouco considerado, assim que o rato se aproxima
da barra na qual suas últimas respostas foram punidas, poderosos estímulos
aversivos condicionados são gerados pela proximidade cada vez maior da barra e
pelo próprio comportamento de se aproximar em que o rato se empenha. Todo
comportamento que reduza esses estímulos - voltar-se ou afastar-se, por exem
plo, - será reforçado. Tecnicamente, podemos dizer que é evitada a punição pos
terior” (pág. 112). Martin e Pear (2003) exemplificaram: “Punição pode fazer com
que a situação e a pessoa associados com o estímulo aversivo se tornem punidores
condicionados. Por exemplo, se você está tentando ensinar uma criança a ler e se
você punir a criança quando ela errar, qualquer coisa associada com essa situação
- como palavras impressas, livros, a pessoa que puniu, o tipo de quarto no qual a
punição ocorreu - tenderá a se tornar punitivo. A criança pode tentar escapar ou
evitar tais estímulos. Então, em vez de ajudar o indivíduo a aprender, a punição
pode conduzi-la para longe de pessoas, objetos e eventos associados com a situa
ção de aprendizagem” (pág. 156).
A relevância dessa discussão é notável, pois, quando ocorre a punição, uma
ampla gama de comportamentos é desorganizada; estados corporais, operantes e
respondentes, desagradáveis são produzidos; os estímulos presentes na situação
e no próprio corpo da pessoa são condicionados, adquirindo função pré-aversiva;
diante dos estímulos pré-aversivos, o indivíduo tenderá a emitir respostas de fuga-
esquiva - inclusive comportamentos de agressão - ou terá o repertório operante
suprimido, mesmo os componentes não punidos. Um ponto ainda mais crítico
advém da função de estímulo pré-aversivo adquirido pelas próprias respostas cor
porais: o indivíduo não será estimulado apenas pelo meio externo pois poderá
ficar sob o controle da função aversiva provinda do próprio corpo. Os comporta
mentos de fuga-esquiva são muito fortes e pouco sensíveis à extinção, particular
mente o comportamento de esquiva. Se o organismo emite de forma eficaz o
comportamento de esquiva, então ele não experimenta a conseqüência aversiva.
Se tal condição aversiva for suspensa, não há como o organismo testar a mudança
na contingência. Mesmo que a punição não esteja mais atuando, o indivíduo pode
continuar se comportando como se ela estivesse presente (como se ela viesse a
ocorrer). O comportamento está sendo reforçado negativamente, de forma su
persticiosa e, provavelmente, persistirá na presença dos estímulos pré-aversivos.
84 ■ Terapia Comportamental
A função que os estímulos adquirem na punição é importante na prática clíni
ca, porque ela pode estar operando - por generalização - mesmo quando o
terapeuta não está usando procedimentos de punição. Suponha que a situação
que o terapeuta maneja se assemelhe a uma condição em que ocorreu punição no
passado: muitos padrões comportamentais emitidos na sessão podem estar ocor
rendo em função de estímulos presentes que foram condicionados como estímu
los pré-aversivos em outra situação. O terapeuta estaria, nesse caso, lidando com
um repertório de comportamento já instalado* Por exemplo, o terapeuta pede para
a criança escolher um jogo; a criança hesita e pede para a terapeuta escolher por
ela. A criança não está, necessariamente, respondendo à relação com a terapeuta
(supondo uma relação não punitiva), mas sim a uma história de contingências,
nas quais “escolher” foi punido.
Um outro aspecto relevante para a prática clínica precisa ser destacado. Adul
tos são importantes modelos quanto aos modos de comportamento. Em brinca
deiras infantis ou na interação com outras crianças, freqüentemente, elas imitam
comportamentos observados nos adultos com outros adultos ou de adultos com
ela própria. Nesse sentido, ao aplicar o procedimento de punição, um modelo
de atuação poderá estar sendo dado à criança; assim, ela poderá passar a usá-lo
em outras relações. Martin e Pear (2003), embasados em estudos sobre a função
que os comportamentos de modelos têm sobre o comportamento de crianças,
afirmaram:
(<Criançasf freqüentemente, têm adultos como modelo e os imitam. Se os
adultos aplicam punição em crianças, as crianças aprendem a fazer o m es
m o com os outros. Então, punindo a criança, nós podem os , inadver-
tivamente, estar provendo um m odelo a ser seguido por elas, qual seja
apresentar estímulos aversivos aos outros. Por exemplo, crianças que foram
ensinadas a brincar com um jogo no qual elas eram multadas pelos com
portamentos incorretos, multavam outras crianças para as quais elas ensi
navam o jogo" (pág. 157),
O comportamento agressivo de uma criança pode ser instalado por diferentes
processos comportamentais: imitação, modelagem, reforçamento negativo etc.
No entanto, o terapeuta, sem menosprezar essas informações, deve priorizar as
contingências que prevalecem presentemente e que mantêm os comportamen
tos agressivos e até modelam repertórios mais elaborados e danosos de agressão.
Porém, independentemente dos modelos comportamentais que são apresenta
dos, o próprio procedimento de punição pode produzir agressão. Azrin e Holtz
(1966) listaram dois tipos de agressões: operante e eliciada. Na agressão operante,
a contingência de punição é eliminada “destruindo ou imobilizando o estímulo
punitivo. Chamá-la de agressão operante indica que esse tipo de agressão é man
tido pelas conseqüências potencialmente favoráveis da agressão” (pág.
440). A
agressão eliciada ocorre quando estímulos dolorosos são aplicados em um orga
nismo na presença de outro. O primeiro ataca o segundo mesmo quando ele não
é fonte da estimulação aversiva. “Este tipo de agressão não parece depender de
qualquer conseqüência operante favorável para a sua existência” (pág. 440).
Punição Negativa ■ 85
Um novo aspecto deve ser ressaltado: o efeito do procedimento de punição
sobre o comportamento do agente aplicador da punição. Quando a punição é efi
caz, há uma redução imediata da resposta indesejada. Esse efeito reforça (negati
vamente) o comportamento de quem aplicou a punição. Isso se torna um problema
quando a pessoa que aplica a punição fica sob o controle do reforçador que seu
comportamento produziu (diminuiu ou suprimiu a resposta inadequada) e se
mantém aplicando a punição, a despeito de seus efeitos sobre o indivíduo punido .
O procedimento é aplicado para o benefício imediato do agente controlador, quan
do o objetivo da utilização deve ser, exatamente, priorizar os benefícios para a
pessoa punida. Nessa condição, o agente da punição não se preocupará em utili
zar procedimentos que instalam novos comportamentos, incompatíveis com os
indesejados e instala-se um ciclo pernicioso: ocorre o comportamento, segue-se a
punição, o comportamento é suprimido temporariamente, mas reaparece, sendo
novamente punido (provavelmente, o agente punitivo será reforçado diferencial
mente para aplicar conseqüências com intensidades crescentes) e seguem-se os
descaminhos discutidos.
Martin e Pear (2003) escreveram: “Uma vez que a punição resulta na rápida
supressão de comportamento indesejável, pode ser tentador para quem a usa se
utilizar dela prontamente e negligenciar o uso de reforçamento positivo para com
portamentos desejáveis. Entretanto, o comportamento indesejável pode voltar
após uma supressão temporária ou algum outro comportamento indesejável pode
ocorrer. A pessoa pode, então, recorrer, progressivamente, a doses cada vez mais
intensas, criando um círculo vicioso com desastrosos efeitos colaterais” (pág. 157).
Ferster et al. (1978) também relataram: “Este controle instantâneo do com
portamento do indivíduo fornece um reforçamento muito grande para o
controlador, e reforça sua disposição para continuar a usar o controle aversivo, a
despeito de suas desvantagens óbvias a longo prazo: a necessidade de continuar o
controle aversivo para manter o comportamento e a possibilidade de contra-con-
trole pelo indivíduo que é punido, além dos estados emocionais gerados tanto no
controlador quanto no controlado. Estes efeitos colaterais indesejáveis são, às ve
zes, retardados e, quando ocorrem depois que o comportamento do controlador
foi reforçado por uma modificação imediata no desempenho do controlado, são
freqüentemente ignorados” (pág. 215).
Skinner (1967) salientou o quanto a punição é amplamente utilizada na nossa
sociedade:
“A técnica de controle mais comum da vida moderna é a punição. O padrão
é fam iliar: se alguém não se comporta como você quer, castigue-o; se uma
criança tem mau comportamento, espanque-a; se o povo de um país não se
comporta bem, bombardeie-o. Os sistemas legais e policiais baseiam-se em
punições como multas, açoitam ento, encarceramento e trabalhos forçados.
O controle religioso é exercido pelas penitências, am eaças de excomunhão e
consignação ao fogo do inferno. A educação não abandonou inteiramente a
palmatória. No contato pessoal diário controlamos por meio de censuras,
admoestações, desaprovações ou expulsões. Em resumo, o grau em que usa
mos punição como uma técnica de controle parece se limitar apenas ao grau
86 ■ Terapia Comportamental
em que podemos obter o poder necessário. Tudo isso é feito com a intenção
de reduzir tendências de se comportar de certas maneiras. O reforço estabe
lece essas tendências; a punição destina-se a acabar com elas” (pág. 108).
Surge, então, um debate importante: a punição, por envolver estimulação
aversiva, recebe freqüentes retaliações em sua aplicação. Sem dúvida, como foi
demonstrado, a punição produz efeitos colaterais muito indesejáveis. É inegável
que métodos punitivos foram usados, várias vezes, de forma abusiva em favor do
opressor e sem preocupações com alterações sistemáticas e necessárias no reper
tório comportamental da pessoa punida. No entanto, o que se deve criticar é o
uso inadequado, antiético da punição; não o procedimento em si. A punição exis
te, inclusive, no ambiente natural e pode ensinar como se comportar de modo a
não se machucar ou se ferir gravemente. Skinner (1983) escreveu: “O castigo, mui
to comum na natureza, nos ensina muito. Uma criança se machuca quando corre
desajeitadamente e cai; é picada quando toca uma abelha; e é mordida quando
tenta tirar o osso de um cachorro. Em conseqüência, aprende a não fazer de novo”
(pág. 51). Assim, a conseqüência aversiva tenderá a fazer o indivíduo não agir da
mesma maneira, evitando, com isso, se ferir, sentir dor etc. Ironicamente, pode-se
dizer que a punição acaba nos protegendo de danos maiores. Essa sensibilidade
pela estimulação aversiva desenvolveu-se na evolução da espécie, é uma caracte
rística humana e, graças a ela, nossa espécie se perpetuou.
A sociedade, apesar de recriminar, utiliza amplamente a punição para contro
lar as pessoas. Muitas vezes, argumenta-se que a punição é usada para proteger
seus membros, por exemplo, multando o excesso de velocidade, protege-se o
motorista imprudente e outros passageiros na estrada, ou é aplicada para o bene
fício da comunidade como um todo, por exemplo, cobrando impostos que se re
vertem em escolas, saúde pública etc. Esses métodos de controle, definidos como
necessários, poderiam, sob a influência de ideologias mais comunitárias e de um
efetivo conhecimento da ciência do comportamento, ser substituídos por outros
mais humanos, mais efetivos e com menos efeitos colaterais indesejáveis (leia-se
Walden Two - Uma Sociedade do Futuro). Acrescenta-se que, em nossas críticas,
os objetivos pelos quais essas práticas se justificam são, na realidade, deturpados.
Isso sem falar em práticas tirânicas.
Catania (1999) escreveu: “Algumas pessoas argumentam contra qualquer tipo
de modificação de comportamento, tanto envolvendo estímulos aversivos quan
to reforçadores positivos. Os que fazem uso de tal argumento deveriam reconhe
cer que o nosso comportamento é modificado a todo instante, tanto por
contingências naturais como por contingências artificiais criadas pelos que estão
em nossa volta. Negar isso não eliminará tais contingências e um contra-argu-
mento é que nossa melhor defesa contra o mau uso das técnicas comportamentais
é aprender tanto quanto possível a respeito de como elas funcionam” (pág. 128).
Concorda-se com Catania e não se adota a posição ingênua de que todos os tipos de
controle aversivo podem ser evitados. O ideal seria que essa evitação pudesse ser
possível. Na vida cotidiana há necessidade de limites para determinados compor
tamentos e, muitas vezes, o comportamento indesejado precisa ser enfraquecido
diretamente. Os critérios para o uso da Punição Negativa são discutidos adiante.
Punição Negativa ■ 87
CONTROLE EM LABORATÓRIO DE CHUPAR O DEDO
PELA REMOÇÃO E REAPRESENTAÇAO DE REFORÇO
Com esse título, a revista JEAB, a mais importante publicação de trabalhos
experimentais em análise do comportamento, publicou um trabalho pioneiro de
Baer (1962), em que foi usado o procedimento Punição Negativa para alterar o
comportamento de chupar o dedo em três crianças de 5 anos. Pela importância
histórica desse estudo, apresenta-se um resumo do experimento.
O bjetivo
“No presente estudo, a técnica de remoção (do reforçador positivo) é usada
para produzir controle temporário sobre chupar o dedo em três crianças
pequenas que, persistentemente} chupavam o dedo. Pretendeu-se
dem ons
trar que a resposta de chupar o dedo pode ser m odificada pelo controle do
am biente presente através do uso de conseqüências explícitas da resposta ”
Procedimentos
O experimentador demonstrou que os filmes de desenho animado tinham
função reforçadora positiva para as crianças: ao assisti-los, elas riam, ficavam aten
tas, se divertiam, faziam comentários etc.
Inicialmente, uma criança assistiu por oito sessões, com intervalo de 2 ou 3
dias entre elas, desenhos animados sem nenhuma interrupção, durante 21 minu
tos. Nesse período ela ficou praticamente 100% do tempo chupando o dedo. A
criança estava bem adaptada ao ambiente experimental quando foi introduzida
na etapa seguinte do procedimento.
Uma mulher entrava com a criança e ficava sentava atrás dela em um canto.
Os desenhos eram projetados na parede oposta à sala de controle e de observação
do experimento. Nas oito sessões iniciais, três desenhos de 7 minutos eram mos
trados sem interrupção. Durante as três sessões experimentais, eram projetados,
para a criança, os mesmos três desenhos duas vezes, sem intervalo entre eles, na
seqüência A-B-C-A-B-C. O comportamento de chupar o dedo era marcado em
um registrador Gerbrands de registro cumulativo, que anotava uma resposta para
cada 3 segundos acumulados de chupar o dedo. O experimentador, observando
atrás de um espelho, todas as vezes em que a criança punha o dedo na boca, pres
sionava um interruptor e o mantinha assim ligado enquanto ela estivesse chu
pando o dedo. O interruptor ligava um programador automático. O programador,
por sua vez, acionava o registrador que marcava uma resposta a cada 3 segundos
em que o interruptor estivesse pressionado. Nas situações de punição, o progra
mador desligava o projetor dos filmes e também o som, enquanto o interruptor
continuasse pressionado. Quando a criança tirava o dedo da boca, o desenho e o
som eram reapresentados.
88 ■ Terapia Comportamental
Durante as sessões experimentais, o desenho A foi apresentado sem punição;
durante o desenho B, todas as respostas 'chupar o dedo’ foram punidas (um pe
ríodo de controle); no desenho C ocorreu um período de recuperação da resposta.
Na segunda apresentação dos desenhos observou-se: em A, todas as respostas ‘chu
par o dedo' foram punidas (período de controle); B era o período de recuperação
e, em C, todas as respostas foram novamente punidas (período de controle).
R esultados e D iscussão
Nas três sessões, durante aprojeção do desenho A (nível operante), afreqüên-
cia de chupar o dedo estava bem próxima do limite máximo. Nas apresentações
com punição contingente (controle) a chupar o dedo, a freqüência de resposta
diminuiu de forma uniforme e efetiva, com efeitos mais evidentes graças às su
cessivas repetições da condição experimental. Nas apresentações de recuperação,
a freqüência da resposta de chupar o dedo foi comparável ao nível operante, com
recuperação forte e rápida.
A criança não completou a terceira sessão, dizendo que já tinha visto o sufi
ciente. Isso pode ser resultado do procedimento de punição em andamento, como
também poderia ser saciação, já que a criança assistiu ao desenho 13 vezes.
Os resultados podem ser analisados como uma discriminação dos componen
tes do esquema em funcionamento, uma vez que não houve uma supressão gene
ralizada de chupar o dedo pela punição.
O utro Procedim ento
Baer realizou um outro procedimento com duas crianças de 5 anos (SI e S2).
Foram colocadas na mesma sala de projeção, porém com um divisor entre elas para
que não se vissem. As duas crianças tiveram três sessões de 30 minutos de projeção
dos desenhos até que a resposta de chupar o dedo estava próxima de 100% da fre
qüência. Então, seguiram-se duas sessões de experimento em dias sucessivos. Na
primeira sessão, SI experimentava alternadamente 5 minutos de desenho contí
nuo e 5 minutos de retirada e reapresentação do desenho contingente à resposta de
chupar o dedo. Enquanto S2, assistindo aos mesmos desenhos, experimentava as
mesmas condições, exceto que a remoção e reapresentação dos desenhos era de
terminada pelo chupar o dedo de Sl, sendo, portanto, não contingente para S2. Nesse
caso, essas operações apenas foram randomicamente contingentes ao comporta
mento de S2 de chupar o dedo. No dia seguinte, as crianças tiveram suas posições
invertidas nas condições experimentais: Sl passava para a situação de remoção
não contingente e S2 para a remoção e reapresentação contingente.
R esultados
Nas duas sessões, o sujeito que estava na condição de remoção e reapresen
tação contingente à resposta de chupar o dedo ficou rapidamente sob o controle
Punição Negativa ■ 89
dessa contingência. Simultaneamente, também nas duas sessões, o sujeito que
estava na contingência de remoção e reapresentação do desenho (porém apenas
randomicamente associado ao comportamento de chupar o dedo) não mostrou
efeitos óbvios.
A remoção do reforçador contingente à resposta e a sua reapresentação ao
cessá-la enfraquecem o “chupar de dedo”. Porém, a remoção e a reapresentação
do desenho não contingente à resposta não a afetam significativamente.
CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DOS PROCEDIMENTOS
DE PUNIÇÃO NEGATIVA USADOS COM CRIANÇAS
NA NOSSA PRÁTICA CLÍNICA
Em nosso Instituto, a prática clínica tem adotado a definição de Walley e Mallot
(1980) e Catania (1999), as quais enfatizam o efeito da redução na freqüência da
resposta punida. Do ponto de vista terapêutico, a aplicação de determinados pro
cedimentos tem objetivo explícito: manter comportamentos (desejados); m odifi
car comportamentos (aumentar a freqüência daqueles que são desejados, mas
pouco freqüentes; reduzir a freqüência ou eliminar aqueles que são indesejados);
colocar os comportamentos sob o controle apropriado de estímulos (determinar as
condições sob as quais o comportamento pode ser emitido e sob as quais não
deve); instalar novos comportamentos (ampliar o repertório global de comporta
mentos). Todos os objetivos devem ser atingidos até um nível de relevância social
ou de relevância para o próprio indivíduo, o que funcionalmente significa que a
ocorrência do comportamento alcançou um padrão que não produz estimulação
aversiva nem para a própria pessoa que se comporta, nem para o grupo social
significativo para ela e, ao mesmo tempo, produz conseqüências reforçadoras
positivas para a pessoa e, desejavelmente, também para o grupo social ao qual
pertence. Baer, Wolf e Risley (1968) propuseram que, como uma dimensão básica
da Análise Aplicada do Comportamento, as mudanças comportamentais produ
zidas sejam socialmente significativas. É, exatamente, o aspecto destacado nas
linhas anteriores. Quando se trata, como é o tópico desse capítulo, da utilização
de procedimentos de Punição Negativa, é necessário que o seu uso produza alte
rações “socialmente significativas”, ou seja, que o cliente e a comunidade social em
que ele está inserido tenham benefícios reais e significativos com essas transfor
mações. Por exemplo, se uma criança mordia coleguinhas de classe todos os dias,
duas a três vezes, um procedimento que reduza a freqüência das mordidas para
uma a duas vezes por semana revela-se eficaz. No entanto, a eficácia do procedi
mento não é socialmente significativa pois a freqüência menor de mordidas per
manece, ainda, como um problema comportamental sério, acarretando danos
importantes para a criança que morde, para as crianças que são mordidas por ela,
para todos os pais e para a escola.
Em nossa prática, mesmo reconhecendo que o uso de timeout e de custo da
resposta atendem à definição de Punição Negativa, nenhum desses procedimen
tos têm sido empregados. Tem-se optado pela retirada de atenção e de quaisquer
outros reforçadores sociais generalizados, contingentes às respostas não deseja
90 ■ Terapia Comportamental
das em associação com
a reapresentação de atenção e outros reforçadores sociais
generalizados, contingentes às respostas desejadas. (O uso da extinção também
deve ser mencionado, uma vez que respostas indesejadas pouco freqüentes, pode-
se dizer fracas no repertório do cliente, são eliminadas, simplesmente, ignoran
do-as. Porém, se a extinção não for suficiente, introduz-se a retirada contingente
da atenção.) Eventualmente, usam-se reforços positivos materiais, mas com a cla
ra proposta de removê-los gradualmente [fadingoui), permanecendo apenas os
reforçadores sociais generalizados, até a condição em que os comportamentos
mantêm-se pelas conseqüências naturais da rotina cotidiana.
Outro aspecto dos procedimentos adotados é a aplicação da Punição Negati
va e do reforçamento positivo contingentes aos primeiros elos da cadeia de res
postas trabalhadas. É mais fácil enfraquecer um comportamento partindo-se das
formas mais incipientes que apresenta. Ao mesmo tempo, são gerados menos efei
tos colaterais emocionais indesejados. Também é mais eficiente instalar um com
portamento (em geral, incompatível com o indesejado) a partir do reforçamento
diferencial da ocorrência dos primeiros elos, os mais simples, do que esperar a
emissão do comportamento com topografia terminal mais complexa (modelagem).
Outra característica dos procedimentos adotados são aplicação im ediata e
diferenciada das conseqüências e descrição verbal (pelo menos na primeira ocor
rência do comportamento, desde o momento em que a contingência terapêutica
passará a ser aplicada) dos procedimentos a serem aplicados. A imediaticidade é
fundamental para que se estabeleça uma relação inconfundível de contingência
entre o comportamento e a conseqüência e não uma relação de contigüidade
temporal entre os eventos. A seqüência temporal íntima pode condicionar
supersticiosamente o comportamento e, no caso da punição, enfraquecer, desne
cessariamente, o desempenho. Isso porque a conseqüência aversiva seleciona a
resposta mais próxima da sua ocorrência, como aquela que a produziu. Por exem
plo, ao colocar o dedo na tomada, leva-se um choque. A proximidade entre os dois
eventos determina claramente a resposta que produziu o choque, diminuindo,
desse modo, a probabilidade futura de colocar o dedo na tomada. Quando não há
uma proximidade temporal entre a resposta e a conseqüência aversiva, outra res
posta que tenha ocorrido nesse intervalo pode ser erroneamente selecionada e
ter sua freqüência deduzida. Appel (1969) discutiu essa questão: “Se o estímulo
aversivo é contíguo à resposta ou apresentado imediatamente após a resposta, os
dois eventos estão, provavelmente, bem associados. Se, contudo, há uma demora
entre a resposta crítica e o estímulo aversivo, qualquer comportamento que ocor
ra durante esse período de tempo pode ser condicionado ao estímulo aversivo, de
acordo com o mesmo princípio de contigüidade” (pág. 226). No entanto, o atraso
na apresentação da conseqüência aversiva, se necessária, pode ocorrer com os
seres humanos, desde que ela seja mediada por comportamento verbal. Se a mãe
diz, conseqüentemente ao comportamento inadequado do filho: “Quando seu pai
chegar, decidiremos o que fazer com você", mesmo que o pai chegue à noite e a
conseqüência seja aplicada só então, a criança relacionará a conseqüência aversiva
ao comportamento que ela emitiu à tarde. No momento exato em que o pai e mãe
lhe disseram: “Amanhã você não irá ao passeio porque, hoje à tarde, você..." ela
estará engajada em um outro comportamento qualquer (vendo desenhos na TY
Punição Negativa ■ 91
por exemplo), não sendo esse, por certo, o comportamento punido. O uso da des
crição verbal das contingências, que são aplicadas, funciona como um SD verbal
para o comportamento da criança, aumentando a probabilidade de emissão de
comportamento que, se ocorrer, será reforçado como estímulo pré-aversivo e di
minuindo a probabilidade de emissão de comportamento que, se ocorrer, será
punido. Cria-se, dessa maneira, contingências para o comportamento passar a
ser governado por regras. O cliente tem, portanto, o comportamento governado
pelas regras explicitadas pelo terapeuta (“Regras ou instruções descrevem con
tingências: se continuar por esta via acontecerá isto ou aquilo; se tomar uma via
alternativa acontecerá outro aquilo.” Matos, 2001, pág. 52), bem como modelado
pelas conseqüências, a partir do efetivo manejo de conseqüências diferenciais fei
tas pelo terapeuta em função dos comportamentos emitidos na presença dele. O
cliente fica sob o controle de duas classes de contingências nas interações entre
ele e o terapeuta.
Ainda mais, o terapeuta apresenta reforços sociais periódicos (elogios, afagos,
comentários etc.) durante a sessão, sem atentar para contingências específicas (não
importa que comportamento é, assim, conseqüenciado), exceto que esses refor
ços generalizados não devem vir após comportamentos indesejados. O objetivo
desse procedimento é fortalecer, de forma intermitente, o repertório adequado
abrangente do cliente e criar, na sessão, uma relação permeada com reforçadores
positivos com a geração de sentimentos de satisfação, bem-estar etc. A condução
de eventos reforçadores da maneira descrita pode ser considerada um modo de
gerar uma operação estabelecedora, pois torna a relação terapêutica e o contexto
terapêutico mais reforçadores que outros contextos de vida da criança.
Finalmente, os procedimentos testados com a eficácia demonstrada nas ses
sões são ensinados para os pais, a fim de que eles os usem na relação cotidiana
com o filho. É uma maneira de promover a generalização dos ganhos compor
tamentais verificados nas sessões para outros contextos da vida da criança e na
interação dela com outras pessoas. Assim, fundamentalmente, a única forma de
punição adotada, quando se conclui que punição deve ser empregada, é a remo
ção contingente de reforços positivos - Punição Negativa manejando contin
gências amenas e sempre associadas às contingências de reforçamento positivo,
contingentes a outros comportamentos e a comportamentos incompatíveis com
aqueles que foram punidos. Dentro dos parâmetros empregados, os efeitos cola
terais indesejáveis, que decorrem do uso da punição, estão confiavelmente mini
mizados na nossa prática e os ganhos comportamentais e afetivos observados com
o uso parcimonioso e criterioso dos procedimentos punitivos em associação com o
uso abundante, mas também criterioso, dos procedimentos reforçadores positi
vos, encorajam a continuidade desse modelo de prática clínica com crianças. Con
tinuamente nós avaliamos nossos comportamentos com a convicção de que os
procedimentos adotados devem produzir benefícios, prioritariamente, para o clien
te. As discussões de caso e as supervisões funcionam como contingências eficazes
para modelar e manter os comportamentos do terapeuta em favor do desenvolvi
mento comportamental e afetivo do cliente. As orientações feitas para os pais e os
profissionais das escolas pretendem colocá-los sob os mesmos controles aos quais
o terapeuta responde na aplicação de procedimentos. A supervisão direta dos com-
92 * Terapia Comportamental
portamentos dos país e dos professores peio terapeuta visa produzir conseqüên
cias diretas e eficazes para manter esse objetivo. Não basta instruir os pais sobre a
forma de proceder com os filhos; há necessidade de reforçar, diferencialmente, os
comportamentos de interação entre eles e os filhos emitidos na presença do
terapeuta, mantendo os comportamentos dos pais dentro dos mesmos critérios
usados com os terapeutas. (O mesmo vale para os professores e demais profissio
nais da escola.)
Todos os procedimentos apontados caracterizam o modelo de ação terapêu
tica aplicado em crianças no IAAC3.
EXEMPLOS DE PROCEDIMENTOS ADOTADOS COM
CRIANÇAS QUE APRESENTAVAM DISTINTOS
COMPORTAMENTOS INADEQUADOS
M order
Alex, de 4 anos, freqüentemente mordia as crianças na sala de aula. A profes
sora por diversas vezes conversou com ele: “O que aconteceu para você fazer isso?”;
“Vamos tentar conversar com os colegas?”; “Me conta o que aconteceu.”, ou seja,
deu atenção contingente ao comportamento indesejado, explicando-lhe que o com
portamento era inadequado: “Isso é errado, você não deve agir assim.”; “Você
machucou seu coleguinha. Doeu. Veja como ele está chorando.”, ou seja, deu aten
ção contingente ao comportamento indesejado, castigando-lhe: “Agora você sai da
roda e fica no canto.” Mas ele, fora da roda, ainda provocava as crianças, então, a
professora disse: “Você vai ficar do lado de fora da classe perto da porta, sentado,
quieto e só voltará quando eu chamar.” Porém, funcionários passavam e interagiam
com ele: “Você vai para outra sala pensar no que fez.” e no caminho conversa
vam com ele e depois de deixá-lo na outra sala, voltavam algumas vezes para per
guntar se estava pensando, ou seja, mesmo nas situações de castigo ele continuava
recebendo atenção de colegas, funcionários e da própria professora. Questionada
pela terapeuta, a professora não conseguia identificar os elos iniciais do encadea
mento que culminava com a mordida (a terapeuta buscava essa informação, a fim
de orientá-la para intervir o mais cedo possível, de modo a evitar a ocorrência da
mordida). A partir dos relatos da professora, ficou claro que a criança tinha um
repertório operante forte de provocar os amigos (pegava os brinquedos deles, os
beliscava, batia neles, os empurrava). Esses comportamentos foram observados,
mas ignorados pela professora (ou seja, eram reforçados por conseqüências natu
rais), não sendo considerados relevantes, uma vez que havia um repertório
operante mais aversivo em operação (o morder). A professora ficava, exclusi
vamente, sob o controle do morder. Mas, esses outros comportamentos inade
quados, não menos importantes, formavam elos da cadeia que se completava com
3 Instituto de Análise Aplicada de Comportamento.
Punição Negativa ■ 93
o morder. O comportamento de morder poderia ocorrer sob controle de qualquer
comportamento dos colegas que não o agradasse (alguém estar na sua frente, ou
esticar o braço diante dele, ter um brinquedo que ele quisesse). Alex não emitia
respostas adequadas como pedir alguma coisa que desejasse, solicitar a ajuda da
professora diante de alguma dificuldade; por outro lado, ele se recusava a entre
gar ou devolver um brinquedo para outra criança, mesmo que não fosse seu, ig
norava instruções da professora etc. As punições introduzidas pela professora para
o comportamento de morder não foram eficazes, pois: (a) eram muito longas; (b)
os reforçadores removidos eram fracos; (c) os procedimentos não eram siste
máticos de uma ocorrência para a outra; (d) os procedimentos não eram
conceitualmente sistemáticos (intercalavam extinção com reforçamento); (e) ou
tros comportamentos inadequados, pertencentes ao encadeamento de morder,
continuavam sendo reforçados; (f) a punição era intermitente (ora ocorria puni
ção, ora aconselhamento); (g) comportamentos incompatíveis com morder não
foram sistematicamente modelados e fortalecidos.
O seguinte procedimento foi proposto:
a. A qualquer resposta inadequada (empurrar, puxar, cutucar etc.), um colega
seria conseqüenciado (não deveria ser esperada a ocorrência do elo final:
morder);
b. Alex seria retirado da sala, imediatamente, e levado para outra sala sem
nenhum reforçador disponível: nem material (lápis, jogos, brinquedos) e
nem reforçadores generalizados sociais (provindos de funcionários, dire
tora etc.);
c. Ele permaneceria lá por um período curto de tempo (entre 2 e 3 minutos),
quando, então, seu comportamento seria observado, sem que recebesse
nenhum tipo de atenção (extinção). Se estivesse adequado, era trazido para
a classe; se estivesse gritando, chorando, batendo na porta etc., continuava
sendo ignorado e o tempo era prolongado até ficar adequado por pelo
menos 30 segundos;
d. A professora não deveria ter nenhuma interação verbal com Alex, desde o
momento da emissão do comportamento inadequado até a volta para a
sala após o isolamento;
e. Quando voltasse à sala de aula, ele teria atenção natural da professora e
colegas: ela ficaria, porém, um pouco mais atenta a ele, elogiando seus com
portamentos adequados e respondendo suas verbalizações com mais pron
tidão, com o objetivo de fortalecer - no início do procedimento - outros
comportamentos, diferentes dos inadequados;
f. O procedimento se repetiria quantas vezes fosse necessário, sempre con
tingente a algum comportamento definido como inadequado.
No primeiro dia da introdução do procedimento, Alex foi retirado da sala de
aula a cada comportamento inadequado emitido durante todo o dia. Uma vez
calado na sala de isolamento, ele rapidamente passava a se comportar adequa
damente, ficando sentado e quieto. Assim, contingente a esses comportamentos
adequados, retornava para a sala de aula (após poucas ocorrências, bastavam os 2
94 ■ Terapia Comportamental
minutos de isolamento). Novamente na sala de aula, recebia atenção da professora
e colegas sem nenhum comentário sobre o episódio da retirada da sala. Nos dias
subseqüentes, a freqüência dos comportamentos inadequados de provocar os
colegas foi, gradualmente, reduzida, possibilitando a permanência dele na sala de
aula em grande parte do tempo, enquanto se mantinha emitindo comportamentos
adequados e obtendo, apenas dessa forma, a atenção da professora. Alex passou a
se comportar mais adequadamente até que não saiu mais da sala de aula. Se qual
quer resposta inadequada de provocar os amigos voltasse a acontecer, o procedi
mento era reintroduzido. A aplicação do procedimento foi sistemática e
rapidamente houve uma redução em todo o encadeamento de comportamentos
inadequados de Alex na escola.
Os pais também foram orientados sobre como proceder diante dos compor
tamentos inadequados de Alex. Os itens (a) até (f) do procedimento utilizado na
escola foram explicados a eles com a única alteração de que Alex seria retirado
de qualquer lugar, independente de onde eles estivessem (shopping , loja etc.),
caso ocorresse a resposta inadequada e só retornaria para o local após ficar en
tre 2 e 3 minutos em outro lugar sem reforçadores naturais ou arbitrários (mate
riais ou sociais) e estivesse se comportando adequadamente (estivesse quieto,
sentado etc.). Os pais seguiram as orientações dadas pela terapeuta e utilizaram
o procedimento no shopping , em uma loja e no supermercado. Num exemplo
ocorrido, Alex foi retirado da loja e levado para fora do estabelecimento. Então,
foi colocado sentado num banco do local. Os pais ficaram por perto, mas em
silêncio. Bastaram os 2 minutos (dado que ele estava quieto, sentado), foi retirado
do banco e retornou para o interior da loja. A prontidão com que se portou ade
quadamente, provavelmente, foi uma generalização do efeito do procedi
mento usado na escola.
Imitar
Um cliente de 10 anos (Carlos) estava em terapia há um bom tempo. A relação
com a terapeuta era boa: falava bastante, estava sempre próximo, atendia ordens,
sugeria atividades... Ele era agitado, ou seja, tinha uma freqüência alta de com
portamentos operantes na sala de espera: andava de um lado para o outro, senta
va-se por curtos períodos, ficava se mexendo no sofá, pulava etc. Na sala de
atendimento, como a atenção da terapeuta era exclusivamente para ele, essa agi
tação diminuía e o mantinha sob o controle das atividades por períodos longos e
raramente ele se levantava. A terapeuta fez, então, um procedimento diferencial
na sala de espera: por um período deu atenção para ele de modo contínuo e, en
tão, observou que a freqüência dos comportamentos operantes diminuiu, ele fi
cava sentado por mais tempo,
agitava-se menos no sofá, balançava menos a perna
etc. Por outro lado, quando a terapeuta conversava alguns minutos com outra
terapeuta ou com a secretária (ou seja, interrompia a atenção contínua), os com
portamentos operantes de Carlos aumentavam de freqüência, ele andava mais,
agitava-se de um lado para o outro, pegava coisas fazendo barulho, batia na pare*
de ou batia palmas etc. Pode-se dizer que a atenção da terapeuta tinha dupla fun-
Punição Negativa ■ 95
ção: era SD para emissão de comportamentos adequados e Sr+para a manutenção
e modelagem de comportamentos desejáveis. Como tal, a remoção da atenção era
a ocasião para a emissão das outras classes de comportamentos: aumentava a va
riabilidade comportamental, incluindo a emissão dos comportamentos inadequa
dos que eram fortes no repertório uma vez que, na história de contingências de
Carlos, vinham sendo conseqüenciados por atenção. Quando a terapeuta voltava
a interagir com ele, a freqüência dos comportamentos inadequados reduzia-se
novamente. Embora possa parecer uma relação adequada (Carlos mantinha-se
adequado quando recebia atenção), de fato, não o é. Ele controlava o comporta
mento das pessoas de dar-lhe atenção exclusiva conseqüenciando-as com bons
comportamentos e as punia com maus comportamentos. Foi necessário inverter a
relação de controle.
No final de uma sessão, ele começou a repetir as frases que a terapeuta falava.
A terapeuta ignorou o comportamento (extinção) durante toda a sessão. Na sessão
seguinte, Carlos começou a imitá-la novamente. A terapeuta disse-lhe que era um
comportamento inadequado e lhe sugeriu uma possível função de fuga-esquiva
para o comportamento, se a atividade ou assunto em que estavam envolvidos não
lhe agradava, então, existiriam outras alternativas mais adequadas (outros com
portamentos de fuga-esquiva) a serem usados: poderia escolher outro assunto,
fazer outra coisa etc. O comportamento de Carlos persistiu, demonstrando que
ele estava sendo reforçado pela atenção da terapeuta. Então, uma nova instrução
foi dada: “Se você continuar repetindo o que eu digo, vou parar de conversar com
você.” Carlos continuou imitando a terapeuta, que então parou de falar com ele e
se ocupou com outra atividade (começou a ler um livro). Ele permaneceu por um
tempo quieto até que retomou a conversa com ela de maneira adequada. A
terapeuta voltou a interagir naturalmente. Logo depois, Carlos reiniciou o com
portamento de imitá-la. Nova instrução foi dada: “Você voltou a se comportar ina
dequadamente. Você sabe que há alternativas, caso não queira falar sobre isto ou
prefira outra atividade. Se você não mudar seu comportamento, eu encerrarei a
sessão.” Carlos continuou repetindo as frases da terapeuta, então, ela encerrou
a sessão. Ele imediatamente se desculpou, disse que não faria mais aquilo e pediu
que a sessão não fosse interrompida. A terapeuta aceitou as desculpas (conse-
qüenciou com atenção o comportamento de pedir desculpas), mas assim mesmo
encerrou a sessão (removeu a atenção dela e, dessa maneira, não reforçou negati
vamente o comportamento de fuga-esquiva de se desculpar). O objetivo foi impe
dir a ocorrência de um encadeamento inadequado que seja: imitar a terapeuta
(comportamento inadequado) —»remoção da atenção (Punição Negativa) —»des
culpar-se (comportamento adequado) -» atenção (reforço positivo) -» imitar a
terapeuta e assim por diante. Dessa forma, concordar com a continuidade da ses
são poderia funcionar como uma conseqüência social que manteria a emissão de
toda a cadeia de comportamentos. Carlos permaneceu o restante do tempo na
sala de espera aguardando pela mãe, enquanto a secretária e demais profissionais
da clínica foram orientados a não interagirem com ele naquele dia. Após a aplicação
desse procedimento, Carlos não emitiu mais o comportamento inadequado de
imitar a terapeuta nas sessões.
96 ■ Terapia Comportamental
B irra
A mãe de Daniel, de 4 anos, procurou atendimento pois não conseguia con
trolar o filho. Qualquer atividade rotineira como comer, escovar os dentes e obe
decer ordens era um problema pois ele não atendia aos chamados, mantendo-se
na atividade que estava realizando (vendo desenho na TV, por exemplo) ou saía
correndo (do alcance da mãe). Daniel não ficava sob o controle das solicitações
ou dos limites impostos pelos pais: “Agora não é hora de desenho.” (não saía de
frente da TV); “Vamos guardar seus brinquedos,” (largava tudo no chão); “Venha
comer agora.” (recusava os alimentos); “Vamos dormir.” (continuava brincando).
E quando os pais insistiam, ele tinha ataques de birra jogando-se no chão ou gri
tando. Na maioria das vezes, os pais desistiam e deixavam-no assistindo aos dese
nhos, guardavam os brinquedos por ele, os horários de comer e dormir eram
atrasados e envoltos em muita conversa, pedidos, explicações etc.
O objetivo inicial foi colocar os comportamentos de Daniel na sessão sob o
controle da terapeuta e desenvolver o repertório de atender ordens.
A terapeuta expôs uma variedade de brinquedos para o cliente na sala. Daniel
entrou e começou a brincar. Na primeira sessão, a terapeuta permitiu que ele brin
casse com os brinquedos que quisesse. No final da sessão, o cliente não guardou
os jogos, mesmo após solicitação da terapeuta e saiu correndo na frente da
terapeuta, não atendendo a orientação de esperá-la. Nas sessões seguintes, os se
guintes procedimentos foram iniciados:
(a) Daniel escolhia a atividade que queria fazer e poderia manter-se nela o
tempo que quisesse;
(b) Quando emitisse respostas na direção de outro brinquedo ou verbalizasse
que não queria mais aquele, a terapeuta, antes de iniciar a nova atividade,
lhe dizia: “Podemos mudar de jogo. Qual você quer agora?”; “Estou vendo
que você cansou dessa atividade. O que você quer fazer agora?” O objetivo
era colocar o comportamento de Daniel de mudar de atividades na ses
são sob o controle da terapeuta, evitando, assim, que se instalasse um pa
drão comportamental de mudar continuamente de atividades. Quando ele
respondia, a terapeuta fazia-lhe uma solicitação com alta probabilidade
de ser atendida, como: “Pegue o brinquedo e o coloque sobre a mesa. Va
mos brincar lá.”, “Sente-se nessa cadeira para começarmos.” etc. (Observe
que a terapeuta, no início do procedimento, somente fez solicitações que
tivessem alta probabilidade de serem atendidas). A atividade com o objeto
escolhido era usada como uma conseqüência reforçadora positiva para os
comportamentos de atender às solicitações feitas. Ao mesmo tempo, a nova
atividade que Daniel desejava poderia ser considerada reforçadora positiva
para ele naquele momento. Essa era uma dica importante para a terapeuta
pois ela poderia usar o brinquedo escolhido (atividade com alta probabi
lidade) como a conseqüência a ser manejada (permitida ou impedida), caso
Daniel não emitisse uma determinada resposta adequada desejada pelo
terapeuta (atividade com baixa probabilidade). É um exemplo do uso do
Princípio de Premack.
Punição Negativa ■ 97
Progressivamente a terapeuta foi aumentando o grau de exigências das solici
tações para mudar de atividade: “Você quer mudar de atividade. Que legal! Mas,
para isso, precisamos guardar esse jogo para depois mudarmos. Sem guardar não
tem outro jogo.” Se Daniel colaborasse guardando o jogo, mesmo que ainda fosse
uma pequena colaboração, ele poderia jogar em seguida. O grau de exigência de
ajuda, até Daniel guardar sozinho o brinquedo, foi sendo aumentado gradualmente.
A terapeuta ia apresentando conseqüências sociais (“Muito bem.”, “Nossa, como
você é organizado.”, “Gosto da sua ajuda.” etc.), modelando o repertório adequado
de colaborar emitido pela criança. Passou também a introduzir solicitações durante a
atividade (“Vá buscar o macaco na prateleira e traga até aqui para ele também
brincar.”, por exemplo)
que eram reforçadas com a continuidade da brincadeira.
Uma eventual recusa era conseqüenciada com a interrupção da atividade: “Vou
aguardar o macaco chegar para continuar o jogo.” Caso Daniel não aceitasse cola
borar, a terapeuta removia o brinquedo do alcance da criança e descrevia a con
tingência mais uma vez. Assim que Daniel começava a emitir a resposta adequada,
a terapeuta reiniciava a brincadeira. Caso Daniel persistisse em não atender a soli
citação feita, a terapeuta mantinha o brinquedo fora do alcance e não dava mais
atenção social: permanecia calada fazendo alguma atividade sem interagir com
ele até o encerramento da sessão no horário habitual. Se Daniel começasse a emitir
outras respostas inadequadas como bater, gritar etc., a terapeuta imediatamente
encerrava a sessão. Assim, o procedimento consistiu em conseqüenciar imedia
tamente as respostas adequadas com reforçadores positivos naturais (atividades
escolhidas pelo cliente) e arbitrários (verbalizações da terapeuta apresentadas
como conseqüências diferenciadas) e punir com a retirada do brinquedo, inter
rupção da brincadeira ou remoção da atenção da terapeuta durante os compor
tamentos inadequados.
Outro procedimento foi utilizado para lidar com o comportamento inadequado
de sair correndo da sala. Antes de sair da sala, no final da sessão, a terapeuta mos
trava possíveis reforçadores positivos arbitrários (doce confeitado, moeda de cho
colate, bala) para que Daniel escolhesse um. Ao escolher, ele recebia a seguinte
instrução: “Se você sair comigo da sala e for andando até a sala de espera sem
correr, então você ganhará esse presente (o reforçador arbitrário escolhido) quando
encontrarmos sua mãe.”
Ao sair da sala, a terapeuta ia verbalizando: “Você está pertinho de mim.”; “Você
está andando direitinho.” As verbalizações tinham dupla função: SDpara o com
portamento a ser emitido e Sr+pelo comportamento adequado que estava sendo
emitido se ele:
(a) Estivesse adequado, a verbalização aumentaria a probabilidade de manter
o comportamento até ser conseqüenciado com o reforçador arbitrário
material e social (da terapeuta e da mãe);
(b) Estivesse começando a emitir uma resposta inadequada, ainda poderia al
terar seu comportamento e vir a ser conseqüenciado positivamente.
Se Daniel não emitisse a resposta adequada, não receberia a conseqüência
arbitrária material e nem social. E a terapeuta descreveria para ele o compor
98 ■ Terapia Comportamental
tamento que o levou à não-obtenção do reforçador. A eficácia do procedimento
deveria ser continuamente avaliada nos seguintes itens: função do reforçador es
colhido (poderoso ou fraco); haveria outras formas de obtê-lo (pedindo para a
mãe, por exemplo); clareza do SD verbal inicial; freqüência e contingência dos SD
verbais durante o trajeto.
Os procedimentos aplicados às duas classes de comportamentos foram gra
dualmente retirados (fadingout) conforme as respostas adequadas foram se for
talecendo e ficando sob o controle das condições naturais dos contextos em que
deveriam ocorrer. A criança guardava os jogos sem que a terapeuta solicitasse e a
acompanhava até a sala sem correr na frente. As deixas verbais foram gradualmente
passando para o controle de estímulos provindos das próprias atividades que ele
escolhia (molhar as plantas, por exemplo), uma vez que estava instalado um reper
tório de pré-requisitos de cooperação, de atendimento de ordens e de cuidar dos
objetos com os quais brincava (guardá-los, fechar a torneira etc.) sem ajuda da
terapeuta. O reforçador arbitrário material foi eliminado e os comportamentos
passaram a ser mantidos pelas conseqüências naturais provindas da própria ati
vidade. Quanto à saída da sessão sem correr, ficou sob o controle natural de en
contrar-se com a mãe.
L eitura de G ibi
Um menino de 8 anos (Fábio) sistematicamente ficava na sala de espera lendo
gibi, acompanhado de sua mãe, enquanto esperava a terapeuta. Quando ela vinha
chamá-lo para o atendimento, ele a ignorava e continuava a leitura. Imedia
tamente, sua mãe começava a chamá-lo e insistia que ele entrasse para o aten
dimento. Fábio permanecia lendo, ignorando a terapeuta e a mãe. Ele claramente
recebia atenção de ambas nessa situação e, independentemente do que elas fa
lassem, ele as ignorava. O comportamento de entrar na sessão estava fora do
controle delas; afinal, independentemente do que dissessem ou fizessem, ele
em algum momento se levantava e ia para a sala. Na sala de atendimento
ele tomava iniciativa de escolher as atividades (“Eu gosto desse jogo, posso jo
gar?” “Hoje vamos desenhar?”); interagia com a terapeuta contando fatos (“Eu
joguei futebol na escola”, “Vi TV até tarde ontem.”, “Minha mãe não deixou eu ir
ao cinema naquele dia.”); respondia às perguntas (“O que faremos hoje?” “Quem
está ganhando?”, “Você viu tal programa?”, “Você foi ao cinema.”). Geralmente,
reclamava de interromper as atividades quando a sessão terminava. Ficava claro
que as sessões de terapia e as atividades não lhe eram aversivas ou desagradá
veis pois não foram observadas respostas de fuga-esquiva das sessões e o cliente
mantinha as atividades propostas pela terapeuta ou escolhidas por ele. A
terapeuta concluiu que o comportamento de ler gibi na sala de espera não era
uma resposta de fuga-esquiva da sessão, mas estava sendo mantida por outros
reforçadores. As verbalizações da mãe (“Entre filho, a terapeuta está chamando.”,
“Chega de gibi.” etc.) e da terapeuta (“Vamos entrar, teremos muitas atividades
hoje.” “Vamos, eu estou esperando.”) mantinham seu repertório de ignorá-las.
Programou-se então o seguinte procedimento:
Punição Negativa ■ 99
(a) Quando a terapeuta aparecesse, a mãe não interagiria mais com Fábio. Ela
poderia permanecer na sala lendo uma revista ou sair do ambiente, avi
sando a terapeuta em voz alta (“Vou à padaria e volto para buscá-lo.").
(b) A terapeuta o cumprimentaria se:
1. Fábio respondesse adequadamente (olhasse para ela, respondesse
verbalmente, se levantasse ou sorrisse), interagiria com ele sem comen
tários específicos e entrariam para a sala de atendimento;
2. Fábio não respondesse, ela diria: “Eu estou lá dentro. Aguardo você lá."
Na sala de atendimento, a terapeuta ficaria lendo uma revista ou fazendo
algo até que ele entrasse. Quando ele viesse, não faria comentários sobre
a demora, nem sobre a chegada, simplesmente passaria a interagir com
ele normalmente propondo algumas atividades (“Vamos desenhar
hoje?" “O que faremos hoje?"). Dessa maneira, em relação ao compor
tamento inadequado na sala de espera, o procedimento envolveu: (a)
extinção do comportamento inadequado - mãe e terapeuta ignoravam
o comportamento - e (b) Punição Negativa - retirada da terapeuta e da
mãe da sala. Em relação ao comportamento adequado, envolveu
reforçamento positivo social na sala de espera e na sessão. O atraso para
entrar na sessão tinha como conseqüência a redução no tempo total de
interação social, uma vez que o horário de término da sessão era mantido;
3. Caso o repertório inadequado de ignorar a terapeuta voltasse a ocorrer
na sessão, ela imediatamente interrompia a atividade e lhe dizia: “Eu
estou falando com você. Quando me responder, continuaremos a ati
vidade." Nesse momento, a terapeuta começava a ler um livro, remo
vendo sua atenção. O objeto da atividade em curso não era removido,
uma vez que o comportamento na sessão era mantido pela interação
com a terapeuta e não pelos objetos de jogos em si.
O procedimento foi introduzido. No primeiro dia, assim que a terapeuta apa
receu na sala de espera, a mãe se retirou dizendo: “Vou tomar um café e volto.” A
terapeuta se despediu dela e chamou Fábio para entrar. Ele continuou lendo o
gibi. Ela disse: “Estou indo para a sala. Quando você quiser, você entra.” Fábio
continuou na sala de espera por mais alguns
minutos e entrou. Na sala de aten
dimento, a terapeuta interagiu normalmente e iniciou uma atividade de desenho.
Ele interagiu com a terapeuta na sessão adequadamente: tomou iniciativas (“Quero
lápis de cor.") e contou situações cotidianas (“Fui ao cinema com a minha mãe.").
Nas sessões seguintes, a mãe permaneceu na sala lendo revista e a terapeuta apenas
dizia: “Já estou na sala." Fábio passou a entrar na sala de atendimento cada vez
mais prontamente, chegando a entrar na sala imediatamente após a terapeuta.
Ele continuava se comportando adequadamente na sessão, verbalizando situações,
realizando as atividades, rindo etc. Porém, Fábio não emitia nenhum compor
tamento desejado (olhar, sorrir, levantar etc.) com a terapeuta na sala de espera. A
terapeuta, então, programou a generalização do repertório de interagir com ela
(olhar, sorrir, levantar, responder etc.) na sessão de terapia para a sala de aten
dimento. Inicialmente, ela passou a valorizar as interações adequadas que ocorriam
na sessão: “Gosto de conversar com você como ocorreu hoje... nosso papo foi
100 ■ Terapia Comportamentai
numa boa.”, “Gosto de ouvi-lo quando conta coisas da sua vida.” “Quando você
fala, dá um colorido para tudo que lhe acontece.” etc. Então, ela dava-lhe uma
regra no final da sessão: “Na próxima sessão, vamos ver se você vai olhar para mim
quando eu chegar na sala de espera. Se você se lembrar disso, você terá uma sur
presa. Só quero ver... ” A terapeuta optou por introduzir um reforçador arbitrário
material (bala, doce confeitado, chocolates etc.) Na sessão seguinte, Fábio olhou
para a terapeuta e se levantou quando ela chegou na sala de espera. Ela interagiu
dizendo: “Nossa, que beleza. Gostei de ver você olhando para mim e se levantan
do. Vamos entrar que tenho uma surpresa.” Fábio a acompanhou e recebeu uma
moeda de chocolate. No final da sessão, a terapeuta retomou a regra: “Vamos
ver se você vai se lembrar na semana que vem de me receber tão bem como você
me recebeu hoje. Daí, teremos outra surpresa.” Na sessão seguinte, Fábio, nova
mente, comportou-se adequadamente (levantou-se prontamente, olhou e sorriu
para a terapeuta) na sala de espera e foi conseqüenciado com reforços arbitrários
sociais (atenção da terapeuta: “Gostei de ver. Você não se esqueceu. Vamos lá para
dentro.”) e material (bala). Então, a terapeuta deu uma nova regra no final da ses
são: “Na semana que vem, quero ver se consegue me contar lá na sala de espera a
história que você estiver lendo. Vamos ver se você consegue ganhar outra surpre
sa.” No encontro seguinte, Fábio olhou para a terapeuta na sala de espera, mostrou-
lhe o gibi e disse “Vou contar uma história.”. A terapeuta reagiu “Você não esqueceu.
Que bom. Me conta, então.” A terapeuta sentou-se ao lado dele ali mesmo, en
quanto ouvia a história. Ao terminar disse: “Adorei, você contou com muita clareza...
Vamos entrar e ganhar a surpresa.” No final dessa sessão, a terapeuta deu uma
regra mais genérica: “Vamos ver como você vai me receber na semana que vem.”
Fábio, ao vê-la na semana seguinte, levantou-se e respondeu ao cumprimento da
terapeuta. Ela o conseqüenciou: “Nossa, que beleza! Vamos lá.” e deu-lhe uma
bala quando chegaram na sala de atendimento. Dessa sessão em diante, ela não
lhe deu mais regras no final da sessão sobre comportamentos na sala de espera,
mas ele continuou adequado: olhando, conversando etc. A terapeuta manteve, no
entanto, o reforçador arbitrário ao entrar na sala, porém sem explicitar verbalmente a
contingência. Gradualmente, ela foi atrasando a entrega do reforço arbitrário ma
terial que passou a ser contingente a qualquer comportamento adequado que es
tivesse ocorrendo na sessão. Depois, atrasou a entrega do reforço arbitrário material
para o fim da sessão, até removê-lo completamente. Durante o esvanecimento do
reforçador arbitrário material, a terapeuta não deixou de emitir reforçadores so
ciais também arbitrários: “Gostei de como você me recebeu.”, “Estava gostoso nosso
jogo.” “Você foi uma companhia legal.”, “Achei bonito seu desenho.”, “Gostei da ati
vidade que você escolheu.”, “Adoro ver esse seu sorriso.”, “Essa sua história hoje foi
demais.” etc. O manejo de reforços sociais generalizados dessa classe tem três fi
nalidades: conseqüenciar classes de comportamentos desejados - colaborar, parti
cipar e manter-se nas atividades (função Sr + ); aumentar a probabilidade de
ocorrência de classes de comportamentos desejáveis (função SD); e produzir es
tados corporais associados com conseqüências reforçadoras positivas, em geral,
sentimentos agradáveis (operação estabelecedora, que torna a situação terapêu
tica mais reforçadora).
Punição Negativa ■ 101
O procedimento de Punição Negativa, como foi mostrado nos exemplos, deve
sempre ser aplicado em associação com outra técnica. O uso desses procedimentos
é uma parte do processo terapêutico, porém, a terapia não se restringe apenas à
aplicação da técnica (Guilhardi, 2003), envolvendo um processo mais amplo.
R e f e r ê n c ia s
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CAPÍTULO
Imitação
P riscila R . D e r d yk
S ilvia S. G r o b e r m a n
RESUMO
Inúmeros são os teóricos que têm estudado o conceito
de Imitação, buscando entender quais são as condições que
produzem o comportamento imitativo e como ele facilita a
aquisição de novos comportamentos. O presente capítulo
busca descrever a Imitação de acordo com os pressupostos
da Análise do Comportamento, além de discutir o seu uso
na prática clínica.
“...quer exista ou não algo com o im itação não
aprendida ou inata, uma coisa é certa: a imitação
pode ser ensinada. Usando-se os procedimentos de
condicionamento - tornando o reforço contingen
te à repetição do ato do outro - um organismo pode
ser levado a im itar” (Keller e Schoenfeld, 1950/
19731, pág. 378).
O conceito de imitação tem sido estudado pelos tem
pos por diferentes teóricos na história da Psicologia na
tentativa de entender quais condições produzem o com
portamento imitativo e como ele facilita a aquisição de um
novo comportamento.
O uso do termo imitação varia conforme o autor, apa
recendo como: modelação, aprendizagem por observação,
aprendizagem social, aprendizagem vicariante
e identi
ficação (Mikulas, 1977).
1 Sempre que aparecerem duas datas na referência de alguma obra, a
primeira indica a data de publicação original da obra e a segunda,
a data da publicação da obra consultada.
Imitação ■ 103
Imitação é um processo de aprendizagem pelo qual os indivíduos aprendem
comportamentos novos ou modificam antigos por meio da observação de um
modelo. Isso ocorre porque existe a probabilidade das pessoas serem reforçadas
pelas mesmas conseqüências que reforçam o comportamento do modelo (Keller
e Schoenfeld, 1950/1973; Bandura, 1969/1979; Malott, 1971/1981; Striefel, 1975;
Mikulas, 1977; Skinner, 1989/1991; Baum, 1994/1999; Catania 1998/1999).
Skinner (1989/1991) discute que a imitação é um processo atribuído à seleção
natural e ao condicionamento operante e que a resposta imitada só se mantém
pelo reforçamento positivo ou negativo. Para ele, apenas na espécie humana a
imitação é usada como uma forma de ensino.
O processo imitativo pode ser assim representado:
Sr+ (Conseqüência)
Sd — R
(Modelo) (Resposta S r (Conseqüência)
imitativa)
Uma aula de capoeira ilustra bem esse processo. Para aprender os golpes
e movimentos dessa modalidade esportiva, os alunos devem observar o mestre e
imitá-lo. O professor levanta a perna de uma determinada forma e os alunos devem
ropiá-lo e assim sucessivamente em todos os golpes e movimentos. Uma das con
seqüências possíveis é o mestre dizer ao aluno que o golpe ou movimento reali
zado está perfeito, outra é ele dizer que o aluno necessita aprimorá-lo. Ao mesmo
rempo, o aluno começa a discriminar, pelos estímulos proprioceptivos, os golpes
e movimentos que realiza. Assim, o seu comportamento fica sob o controle da
jbservação dos movimentos do professor e das suas percepções corporais.
Um dos primeiros teóricos a estudar imitação foi Bandura2 (1969/1979). Segun-
io ele, a modelação produz três efeitos diferentes no comportamento das pessoas:
Efeito Modelador ou Aprendizagem por Observação: O indivíduo aprende
novas respostas pela observação do desempenho do modelo. Por exemplo: um
adolescente passa a se vestir de uma forma semelhante aos artistas de sua novela
preferida.
Efeitos Inibitórios ou Desinibitórios: A observação de comportamentos do
modelo e suas conseqüências pode fortalecer ou enfraquecer as respostas ante
riormente presentes no repertório do observador. Por exemplo: dois irmãos querem
redir algo para a mãe. O primeiro toma a iniciativa e, após o pedido, recebe uma
r ronca como resposta. O segundo irmão, diante disso, desiste de fazer seu pedido.
Efeito de Facilitação da Resposta: Ocorre quando o comportamento do mo
delo serve de estímulo discriminativo para o observador, facilitando a ocorrência
- Em seus estudos, Bandura refere-se ao processo de imitação utilizando o termo modelação.
104 ■ Terapia Comportamental
de respostas previamente aprendidas. Esse efeito não deve ser confundido com a
desinibição pois o comportamento em questão é socialmente aceito e, portanto,
raramente, ou nunca, foi punido. Por exemplo: num grupo de terapia, todos os
participantes estavam em silêncio. Quando um dos elementos começa a verbalizar
alguma coisa, os outros imediatamente começam a verbalizar também.
Esse autor ressalta que existem algumas condições para facilitar o processo de
modelação. A saber:
Características do Modelo: Um modelo é mais facilmente imitado se possuir
mais prestígio social, status mais elevado e atributos valorizados dentro do con
texto social em que está inserido. Pode ser real (pai, professor, amigos etc.) ou
simbólico (imagens e palavras).
Características do Observador: Um indivíduo que, em sua história de vida,
obteve resultados positivos pelo fato de ter imitado modelos, tem maior probabi
lidade de imitar novamente.
ReforçamentoVicariante: Ocorre quando as conseqüências do comportamen
to do modelo determinam a probabilidade do observador imitar ou não esse com
portamento, isto é, observar que determinado comportamento é reforçado no
modelo aumenta a tendência do aprendiz a imitá-lo. Dessa mesma forma, obser
var o modelo sendo punido pela emissão de um comportamento aumenta a proba
bilidade do observador de não imitá-lo.
Mais recentemente, Baum (1994/1999) afirma que os indivíduos nascem com
uma sensibilidade específica para serem afetados por estímulos que vêm de outros
seres humanos, estímulos esses essenciais para o desenvolvimento normal. Essa
sensibilidade específica, em relação a determinados estímulos, aliada à tendência
do homem de se comportar igual a quem ele observa, o torna apto a imitar.
A imitação é fator essencial para a existência de uma cultura porque permite a
reprodução e a continuidade dos seus valores, economizando tempo de aprendi
zagem e garantindo a aquisição de comportamentos adaptativos à sobrevivência
da espécie. Os indivíduos que aprendem a imitar comportamentos provenientes de
gerações anteriores, em contraposição aos que aprendem por si próprios por in
termédio, por exemplo, de tentativas e erros, aumentam a probabilidade da sobre
vivência e manutenção da cultura (Bandura, 1969/1979; Striefel, 1975; Mikulas,
1977; Baum, 1994/1999; Catania, 1998/1999). O homem, ao aprender com a
observação de outros (pais, tios, professores, colegas etc.), ao longo da vida, está
adquirindo rapidamente novas respostas que podem substituir antigas, até na
mesma geração. Exemplificando esse fato, atualmente pode-se ver o desenvol
vimento do uso da informática, uma prática que passou a ser utilizada por crian
ças, jovens e adultos no mesmo espaço de tempo. Em contrapartida, os seres vivos
aculturais imitam ao acaso sem terem, no entanto, a capacidade de educar ou
treinar seus descendentes, como na cultura humana.
De acordo com Baum: “a imitação provê a base da aprendizagem operante”
(pág. 257) e pode ser aprendida ou não.
A imitação não aprendida não exige nenhuma experiência especial. Há uma
predisposição genética que permite, ao ser humano sensível, olhar, escutar e co
piar as pessoas ao seu redor, sendo desnecessário um treino para isso. Assim, a
Imitação ■ 105
imitação não aprendida, combinada com a modelagem3, explicaria por que as
crianças aprendem a falar e a se comportar socialmente como as pessoas que lhes
são próximas.
A imitação aprendida é uma forma de comportamento governado por regras.
Quando alguém verbaliza para o outro “Faça assim.” e mostra como fazê-lo, essa
pessoa será capaz de seguir a instrução e o modelo, dependendo de sua história de
reforçamento do comportamento de imitar no passado. Além disso, a imitação
aprendida permite que regras sejam passadas para outras gerações, possibilitando
a transmissão cultural. Desse modo, é mais veloz ainda que a imitação não aprendida.
A criança que não aprende a seguir regras pode não adquirir uma série de com
portamentos socialmente relevantes no seu meio. As regras culturais que são se
guidas, em geral, especificam o comportamento a ser emitido e o provável reforço
advindo dos membros do grupo social. Participar de um grupo, nessa perspectiva,
permite ao indivíduo receber proteção e partilhar recursos disponíveis a esse grupo,
aumentando a sua probabilidade de sobrevivência.
Outra característica da imitação é a seletividade. Imitar seletivamente facilita
a aquisição de comportamentos mais adaptativos, enquanto copiar indiscrimi
nadamente qualquer resposta emitida pode não gerar qualquer benefício para o
indivíduo.
Para Baum, uma regra que parece existir na cultura é “imite o sucesso”. Assim, os
adolescentes imitam ídolos da TV ou do esporte, pessoas consideradas de sucesso
e com uma vida de prestígio, em vez, de imitar um adulto que parece mais distante
dele. Um estudante quando não sabe responder uma questão da prova, cola do
melhor aluno da classe sentado ao seu lado. A professora ensina as
crianças a imi
tarem os comportamentos de alunos mais organizados ou que apresentam um
melhor rendimento escolar. Também se espera aprimorar o próprio desempenho,
freqüentando aulas e palestras ministradas por pessoas bem-sucedidas nas áreas
de nosso interesse ou lendo livros que orientam uma forma de comportamento
para a obtenção do sucesso numa determinada área.
Outra regra sugerida por Baum, que parece existir na cultura, é imitar os indi
víduos que se encontra mais freqüentemente. Na espécie humana, os pais são os
primeiros modelos a serem seguidos, participando da vida de seus filhos por muito
xempo. Assim, servem de modelo para diferentes respostas. Essas respostas podem
ser mais aceitas socialmente, como por exemplo o comportamento amoroso, ou ser
menos aceitas, como a imitação de comportamentos violentos por crianças que
:êm pais agressivos. Mais tarde, essa criança passará a ficar muito tempo com seus
companheiros (as), podendo começar a imitar as respostas dos mesmos. Aprender
a selecionar modelos a serem imitados é um fator de importância na sobrevivência
do indivíduo pois resulta em seu sucesso social, em maior ou menor escala. Assim,
imitar somente os modelos parentais numa sociedade em mudança constante,
3 Tanto a imitação quanto a modelagem permitem ao indivíduo adquirir novos comportamentos.
No entanto, na imitação o comportamento é aprendido através da observação de um modelo,
enquanto na modelagem este comportamento é adquirido reforçando-se diferencialmente cada
resposta até chegar-se no comportamento final desejado.
106 ■ Terapia Comportamental
pode não ser suficiente para a vida do indivíduo, uma vez que esses pais não
possuam um repertório atualizado para as necessidades do momento, como no
exemplo discutido anteriormente sobre o uso do computador. Nesse caso, é mais
apropriado aprender com professores de informática. Geralmente, uma pessoa
não copia somente um modelo mas vários e, também, não copia a íntegra do
comportamento do modelo mas alguns aspectos dele. Conforme a pessoa é ex
posta a novas situações ou novos modelos, o comportamento imitado muda de
aspecto, sendo acrescido ou modificado por eles. Algumas pessoas comportam
se diferente e/ou contrariamente a um modelo; quando isso ocorre, diz-se que o
indivíduo está seguindo um antimodelo. Por exemplo, o adolescente que passa
a emitir comportamentos opostos aos que seus pais emitem.
Catania (1998/1999) sugere que a aprendizagem por observação é diferente
da imitação. Na aprendizagem por observação, o indivíduo, além de copiar o
modelo, discrimina também as variáveis que controlam o seu comportamento.
Na imitação, a pessoa copia a topografia da resposta do modelo, sem discriminar
quais as variáveis que a controlam e, portanto, não aprende sobre as contingências
envolvidas. É por esse motivo que ele afirma que nem todas as imitações sao van
tajosas. Exemplificando: se um filhote de passarinho sem penas imitar o compor
tamento de voar de seus pais, ele poderá se machucar.
A aprendizagem por observação não deve ser considerada como compor
tamento único, mas como comportamento de ordem superior. Esse autor destaca
classe de comportamento de ordem superior como “classe operante, que incluiy
dentro dela, outras classes que podem , por sua vez, funcionar como operantes (pág.
389). Isso significa que a aprendizagem observacional é uma classe de respostas
que podem ser reforçadas independentemente. Assim, o terapeuta ou o pesquisador
considera que a ocorrência dessa aprendizagem inclui vários componentes: um
componente verbal, discriminações sutis do comportamento do modelo, discri
minações dos resultados destas ações e a história de reforçamento do observador.
Catania aponta que nem todas as imitações limitam-se à cópia de instâncias
específicas do comportamento anteriormente ensinadas. Há casos em que a
imitação ocorre em situações novas, sendo chamada de imitação generalizada,
uma classe de respostas diferencialmente reforçada, consistindo numa classe de
comportamento de ordem superior assim como a aprendizagem por observação.
Por exemplo, se uma criança imitar três comportamentos da professora, como
bater palmas, rodopiar e pôr a mão na cabeça e, se a professora parar de reforçar o
rodopiar, a criança continuará a emiti-lo reforçando a classe de respostas de
imitar e não cada comportamento separadamente. Da mesma forma, um novo
comportamento emitido pela professora, por exemplo, cruzar os dedos, será
imitado pela criança, mesmo sem ter sido reforçado anteriormente pois o compor
tamento de imitar foi aprendido.
Assim como Catania, Skinner afirma que o comportamento imitativo pode ser
generalizado para novas situações. No entanto, Skinner ressalta que para ocorrer essa
generalização, o ideal é que o aprendiz necessite cada vez menos da presença do
modelo para emitir o comportamento aprendido porque, se ele discriminar quais
são as variáveis das quais o comportamento do modelo é função, não precisará da
sua presença para emitir o novo comportamento.
Imitação ■ 107J
Voltando, então, ao exemplo da capoeira, o ideal é que o aluno, além de observar
o comportamento de seu mestre, discrimine quais são as variáveis presentes,
controlando o comportamento do mestre na luta para perceber o motivo do mes
tre o golpear de uma forma e não de outra. Em geral, isso envolve uma discrimina
ção de estímulos motores do adversário, bem como de estímulos proprioceptivos.
Essa discriminação possibilita, ao aluno, jogar capoeira mesmo na ausência de
seu mestre.
USO DA IMITAÇÃO NA PRÁTICA CLÍNICA
A terapia é uma prática atual da sociedade, na qual comportamentos abertos
e encobertos são analisados pelo terapeuta e pelo cliente e, eventualmente, subs
tituídos por outros mais adaptativos. Analisa-se um padrão de comportamento
adquirido pela pessoa e as conseqüências geradas por ele, contrapondo-o a com
portamentos alternativos com respostas que produzem conseqüências mais
adaptativas para determinadas situações. Portanto, em um processo terapêutico,
considera-se que novas formas de comportamento são ensinadas ao cliente ou
que padrões antigos de comportamento podem ser mudados, sempre buscando
o bem-estar e a possibilidade de uma vida mais satisfatória. O terapeuta espera
que os comportamentos aprendidos na sessão sejam generalizados e mantidos
pelo ambiente natural do cliente, como sua casa, seu trabalho, sua escola etc.
As mudanças graduais que ocorrem no repertório dos indivíduos são estudadas
por vários teóricos interessados em identificar os procedimentos que as desen
cadeiam. Tanto o comportamento verbal quanto a imitação são, sem dúvida, dois
elementos de mudança fundamentais entrelaçados nesse contexto.
Conforme Catania, a função do comportamento verbal é instrucional. Ao falar,
o terapeuta espera levar as pessoas a experimentarem comportamentos novos.
No episódio verbal, que ocorre entre cliente e terapeuta, discute-se um problema
e as conseqüências que estão envolvidas. O que o terapeuta pretende, após essa
análise, é que o cliente fique sob o controle das verbalizações ocorridas na sessão
e passe a agir de forma diferente, ou seja, espera-se que o falar sobre o problema e
as suas conseqüências (o dizer), aumente a probabilidade de realização (o fazer)
do que foi discutido (Israel, 1978; Zettle, 1990; Catania, 1998/1999; Delitti, Comu
nicação Pessoal). De acordo com Delitti (Comunicação Pessoal), o terapeuta pode
pedir para o cliente relatar os comportamentos e conseqüências que ocorreram
na situação natural, em decorrência das discussões nas sessões anteriores. Assim,
tem-se três momentos: o dizer, o fazer e novamente o dizer, como uma forma de
aumentar a probabilidade do indivíduo manter-se, realmente, sob o controle das
novas discriminações (descrições de contingências), reagindo com mais eficácia
nas situações
futuras no seu ambiente natural. No entanto, nem sempre fica claro
para o cliente o que (topografia do comportamento) e/ou como fazer (descrição
da contingência). A imitação é um recurso que o terapeuta pode utilizar para faci
litar a aquisição desses novos comportamentos e, portanto, aprimorar o fazer.
Na imitação, o cliente é levado a observar diretamente um comportamento e
suas conseqüências e incentivado a se comportar como o modelo. Cada passo
dessa imitação volta a ser discutido com o terapeuta em sessão.
108 ■ Terapia Comportamental
Os exemplos abaixo ilustram o uso da imitação na prática clínica:
Exemplo 1: Maria (nome hipotético), 16 anos, procurou a terapia com uma
queixa de sentimento de inferioridade e sensação de incompetência. Freqüen
temente, comparava-se com os seus colegas de escola, concluindo que sempre
sabia menos, tirando piores notas. Nas sessões, evidenciou-se que realizava seus
trabalhos na última hora, ficando nas vésperas dos prazos de entrega, trabalhan
do até de madrugada. Assim, não dava tempo de pesquisar todo o conteúdo ne
cessário para resultar num trabalho consistente e de boa qualidade (o dizer).
Incentivada pelo terapeuta, foram levantadas outras formas de se realizar os tra
balhos. Ela passou a perguntar e observar o método de estudos dos colegas que
ela mais admirava (aprendizagem por observação). Utilizando os seus colegas
como modelo, a cliente planejou um programa de estudos que se adequava ao
seu cotidiano (o fazer). Nas sessões seguintes, o terapeuta e a cliente analisaram
as conseqüências da nova forma de estudo (novamente o dizer). No espaço de
dois a três meses, as notas escolares subiram e a cliente verbalizou sentir-se nesse
momento igual aos seus colegas e menos ansiosa.
Nesse exemplo, fica clara a aquisição de novos comportamentos por meio de
um processo, no qual ocorreu claramente o dizer, o fazer e o dizer. O fazer foi faci
litado pela observação de modelos bem-sucedidos. Além disso, esses comporta
mentos foram generalizados e passaram a ser reforçados no ambiente natural da
cliente.
Exemplo 2: Numa sessão, Joana (nome fictício) estava relatando sobre sua re
lação com a mãe. O convívio entre mãe e filha era difícil, conturbado. A cliente
queixava-se que sua mãe era extremamente desorganizada, não planejava nada
com antecedência e, por esse motivo, sempre pedia-lhe favores de última hora,
deixando-a nervosa e irritada. Alegava que tinha os seus compromissos e, pelo
fato de a mãe nunca pedir com antecedência a sua ajuda, ficava impossibilitada de
prestar qualquer tipo de favor. Isso era visto pela mãe como uma forma de desprezo
pois Joana nunca estava disponível para ajudá-la.
Inicialmente, o terapeuta abordou a questão da organização e planejamento
do dia-a-dia da cliente. Ela chegou à conclusão que, assim como a mãe, era desor
ganizada e deixava tudo para ser realizado no último momento. Como mãe e filha
eram incapazes de planejar o seu dia previamente, sempre discutiam e nunca
chegavam em um acordo. Joana, sempre correndo, tinha que dar conta de seus
compromissos e, por essa razão, não podia ter nenhuma hora disponível para a
mãe. Por outro lado, pelo fato da mãe também não ter se organizado com antece
dência, queria que a filha estivesse disponível de acordo com a sua conveniência.
Essa situação criava um círculo vicioso que piorava o relacionamento familiar.
Para quebrar esse círculo, o terapeuta mostrou à cliente que ela se comportava
da mesma forma que a mãe, isto é, que suas respostas produziam as mesmas con
seqüências: ser desorganizada e não planejar os compromissos gerava correria e a
impossibilitava de realizar tudo o que era necessário. Ela concluiu que todos na
sua casa agiam dessa maneira e, portanto, seus pais haviam sido modelos de desor
ganização para ela e para seus irmãos.
O próximo passo do terapeuta foi levantar com a cliente possíveis formas de
organização do seu cotidiano. Para isso, o terapeuta utilizou exemplos de sua
imitação ■ 109
j
própria vida, relatando as atividades que fazia durante a semana e planejando
formas de conseguir realizá-las da melhor maneira possível. O terapeuta mostrou
sua agenda a ela, a forma que marcava os compromissos diariamente e como isso
facilitava o seu cotidiano.
A cliente comprou uma agenda e começou a marcar os seus compromissos,
do jeito que o terapeuta havia mostrado. Com o tempo, ela começou a planejar
melhor os seus afazeres, reservando momentos para ajudar a mãe. Houve, por
tanto, mudanças importantes no seu repertório: ela passou a ser mais organizada,
planejando as suas atividades; o relacionamento com a mãe melhorou pois ela
passou a ficar disponível para ajudá-la.
Nesse exemplo, constata-se que a imitação esteve presente em dois momentos.
O primeiro foi quando a cliente percebe que os seus pais serviram de modelo para
a aprendizagem do comportamento de desorganização e o segundo, quando o
terapeuta, pelo uso de exemplos de sua vida, serviu de modelo para a aprendizagem
de um novo padrão de comportamento: o planejamento e organização dos com
promissos.
Assim, o comportamento imitativo aprendido pela cliente que teve o terapeuta
como modelo permitiu a modificação do seu repertório, a extinção de um com
portamento considerado desadaptativo e a sua substituição por um novo que a
tornou capaz de viver de forma mais satisfatória.
Exemplo 3: Numa sessão de terapia em grupo, formada por senhoras, discutia-se
as possibilidades de lazer que a cidade oferecia para a terceira idade. Uma das
participantes queixou-se de não poder sair sozinha à noite desacompanhada por
causa da violência. Outra integrante relatou que isso não era problema pois existia
solução: freqüentemente, ela contratava os serviços de uma motorista de van, que
mensalmente mandava uma programação com peças de teatro, musicais e concertos.
Bastava a pessoa escolher aonde queria ir, ligar para a motorista e informar o
horário, que o serviço comprava os ingressos e fornecia a locomoção para o evento
por um preço razoável. As demais senhoras do grupo gostaram dessa alternativa e
logo pediram o telefone dessa motorista.
Nesse exemplo, percebe-se que uma das integrantes do grupo serviu de modelo
para as outras, descrevendo o seu comportamento e suas conseqüências, o que,
no futuro, aumenta a probabilidade desse comportamento ser imitado.
Exemplo 4: Cláudia (nome hipotético) trouxe uma queixa de sentir-se
robotizada. Isso foi definido como uma pessoa que realiza o que tem de ser feito,
porém sem envolver-se emocionalmente. Observou que não expressava seus sen
timentos nem verbal, nem corporalmente. Apenas executava tarefas. Quando se en
contrava com pessoas amigas, cumprimentava-as de longe, sem tocá-las ou
beijá-las, mesmo sentindo vontade de fazê-lo. Relatou que, em sua família, o pai,
a mãe e os irmãos comportavam-se como ela.
Cláudia também queria ser capaz de verbalizar os seus sentimentos para as
pessoas que apreciava, como uma forma de sentir-se mais próxima delas. Tinha
um namorado que exibia o mesmo padrão de comportamento dela. Acabou desis
tindo desse namoro e, após um tempo, iniciou um novo relacionamento com um
moço totalmente diferente de todos os seus namorados anteriores. Ele era carinhoso,
atencioso e falante, qualidades que ela apreciava e relatava não ver nos seus outros
relacionamentos amorosos ou familiares.
110 ■ Terapia Comportamental
Depois de alguns meses de namoro, a terapeuta percebeu mudanças em alguns
comportamentos da cliente: ao relatar acontecimentos de sua vida, a cliente passou
a perceber o lado do outro e quais os efeitos de pequenos gestos ou palavras nas
pessoas. Deixou de analisar o que ocorria como se tudo girasse em torno dela.
Passou a incluir os outros como participantes em sua vida em vez de considerá-los
como pessoas que queriam prejudicá-la.
Começou a ficar mais tempo com a mãe,
conversando, saindo, fazendo coisas agradáveis. Sentiu-se livre para expressar seu
amor e carinho, principalmente com seu namorado atual. Claudia também relatou
para a terapeuta que sentia-se feliz por tê-lo conhecido, pois ele mostrou a ela
uma outra forma de relacionar-se com as pessoas, mais agradável e livre.
Fica claro nesse exemplo que a presença de um modelo de prestígio, que apre
senta atributos valorizados e desejados pela cliente, facilitou a aprendizagem de
comportamentos antes inexistentes no seu repertório. Esses comportamentos
provavelmente vão se manter pois, além de serem reforçados socialmente, pro
duzem uma sensação de bem-estar na cliente. É interessante notar que esses novos
comportamentos não apareceram unicamente com o namorado, mas também se
generalizaram para outras situações e com outras pessoas, como na presença da
mãe e da terapeuta.
R e f e r ê n c ia s
BANDURA, A. Modificação do Comportamento. Rio de Janeiro: Editora Interamericana, 1979
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BAUM, W. M. Compreender o Behaviorismo: Ciência, Comportamento e Cultura. Porto Alegre:
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CATANIA, A. C. Aprendizagem: Comportamento, Linguagem e Cognição. Porto Alegre: Editora
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DELITTI, A. M. C. Palestra realizada no Centro de Análise do Comportamento, São Paulo, 2002.
ISRAEL, A. C. SomeThoughts on Correspondence between Saying and Doing. Journalof Applied
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KELLER, F. S., SCHOENFELD, W. N. Princípios de Psicologia. São Paulo: E.P.U., 1973 (Publicação
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MIKULAS, W. L. Técnicas de Modificação do Comportamento. São Paulo: Editora Harper e Row
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SKINNER, B. F. Questões Recentes na Análise Comportamental. Campinas: Papirus, 1991 (Publi
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WHALEY, D. L., MALOTT, R. W. Princípios Elementares do Comportamento, v.2. São Paulo: E.P.U.,
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ZETTLE, R. D. Ruled Governed Behavior: A Radical Behaviorism Reply to the Cognitive Challenge.
The Psychological Record, 40:41-49, 1990.
CAPÍTULO
Esvanecimento1
L íl ia n M edeiros
“O meio ambiente é de tal m odo construído que
certas coisas tendem a acontecer juntas. O
organismo é de tal modo construído que seu
comportamento muda quando entra em contato
com este ambiente'' (Skinner, 1998, pág. 138).
Pedrinho está iniciando sua vida escolar. Até então, ele
passava praticamente o tempo todo em casa, sendo cuidado
pelos pais. Mas agora está na hora de ir para a escola e seus
pais estão preocupados com a mudança acentuada de rotina
que o filho terá que passar e em como reduzir a provável
aversividade dessa mudança.
Em função da apreensão, consultaram a escola que será
freqüentada por Pedrinho e descobriram que nela utiliza-se
um recurso denominado adaptação" Ficaram aliviados pois
souberam que o recurso permite aumentar gradativamente o
tempo de permanência da criança no ambiente escolar até
que, finalmente, seja atingido o tempo correspondente ao que
a criança deve passar na escola. Além disso, os pais de Pedrinho
poderiam participar desse processo junto com o filho. Isso seria
muito bom para o menino pois, então, teria tempo para se
adaptar às mudanças produzidas em sua rotina.
Além disso, a escola também informou que as atividades
propostas às crianças teriam seu grau de dificuldade aumen
tado gradativamente, o que ajudaria no processo de adapta
ção. Nos prim eiros dias, seriam dadas brincadeiras que
1 Agradeço a Hélio J. Guilhardi, Katia Perez Ramos, Noreen Campbell
de Aguirre e “Marcelo” pela leitura cuidadosa e pelos comentários ge
nerosos.
112 ■ Terapia Comportamental
envolvessem , em menor grau, habilidades que fariam parte do aprendizado da
criança ao longo do ano . Aos poucos, as brincadeiras seriam substituídas por ativi
dades que envolvessem mais diretamente a aquisição de novos repertórios proposta
pela escola.
Mais bem informados, os pais de Pedrinho poderiam dar início à vida escolar
do filho com m aior tranqüilidade.
ENTENDENDO 0 EXEMPLO
O recurso que a escola de Pedrinho utiliza para a adaptação de seus alunos ao
ambiente escolar parece simples e, até mesmo, óbvio. No entanto, atrás dessa sim
plicidade, estão escondidos procedimentos que analistas do comportamento fazem
uso em seu dia-a-dia. Para melhor compreendê-los, faz-se necessário o entendi
mento de alguns princípios básicos da Análise do Comportamento.
Em primeiro lugar, é importante definir comportamento. Pode parecer que
sim, mas comportamento não é observável, é inferido, já que é definido como
interação existente entre organismo (que se comporta) e ambiente. Isto é, “com
portamento é interação, comportamento não ‘mantém’ uma relação de interação.
E essa interação é entre Organismo e Ambiente” (Matos, 1997, pág. 49). De Rose
(1997) ainda afirmou que “...o termo comportamento refere-se à atividade dos
organismos (animais, incluindo o homem), que mantêm intercâmbio com o am
biente” (pág. 79). Matos (1997) apontou também que o comportamento, especial
mente o operante, tem como característica o fato de ser sensível às conseqüências
ou aos efeitos que produz no ambiente. “Estes comportamentos, como diz B. F.
Skinner, modificam o ambiente e estas modificações no ambiente levam, por
sua vez, a modificações no comportamento subseqüente. Denominamos esses
comportamentos de operantes para enfatizar que eles operam sobre o meio” (de
Rose, 1997, pág. 80),
Entende-se, então, que comportamento é interação. Mas, quais são os termos
que definem essa interação? Skinner (1953, In: de Souza, 1997a) respondeu que
“uma formulação adequada da interação entre um organismo e seu ambiente deve
sempre especificar três coisas: (1) a ocasião em que a resposta ocorre, (2) a própria
resposta e (3) as conseqüências reforçadoras. As inter-relações entre elas são as
contingências de reforço” (pág. 84). É possível concluir, então, que as contingên
cias de reforço (também chamadas de tríplice contingência) são a unidade de aná
lise e intervenção sobre o comportamento. No entanto, não basta identificar os três
termos da contingência para proceder a análise. Faz-se necessário que se estabe
leçam relações de dependência entre esses eventos, as quais podem ser identifi
cadas pelo enunciado “se..., então...”, como, por exemplo, “Se o tempo estiver
fechado, então levarei um guarda-chuva”. Desse modo, “esse termo é empregado,
na Análise do Comportamento, como termo técnico para enfatizar como a pro
babilidade de um evento pode ser afetada ou causada por outros eventos” (de Souza,
1997a, pág. 87). A probabilidade de uma pessoa levar um guarda-chuva é alterada
pela forma pela qual o clima se apresenta.
Esvanedmento ■ 113
Assim, é possível formular o seguinte esquema didático:
Antecedente ------------------- Resposta ------------------- Conseqüência
Nesse esquema, antecedente, resposta e conseqüência são os termos da con
tingência e as setas indicam as relações existentes entre eles.
Na relação que se estabelece entre resposta e conseqüência, reside o conceito
de comportamento operante, que é aquele que opera no ambiente e produz con
seqüências que alteram a sua probabilidade de ocorrência futura, fortalecendo-o
ou enfraquecendo-o. Ou seja, a ocorrência de uma conseqüência depende da ocor
rência de uma resposta. Assim, apertar um interruptor (resposta) produz luz (con
seqüência); colocar os dedos em uma tomada (resposta) produz choque
(conseqüência). No primeiro exemplo, a resposta tem sua probabilidade
de ocor
rência futura aumentada pois produziu a conseqüência desejada (fortalecimen
to). No segundo, a resposta tem sua probabilidade de ocorrência futura diminuída,
pois produziu uma conseqüência aversiva (enfraquecimento).
No entanto, “a descrição do comportamento operante envolve pelo menos duas
relações: a relação entre a resposta e sua conseqüência e a relação entre a resposta e
os estímulos que a antecedem e estavam presentes na ocasião em que a resposta
foi reforçada” (Sério, Andery, Gioia e Michelleto, 2002, pág. 10). De Souza (1997b)
apontou ainda que, se a relação resposta-reforço fosse a única fonte de determi
nação do comportamento, isto seria caótico, pois o comportamento teria que ocorrer
diante de quaisquer circunstâncias.
Nesse capítulo, a ênfase maior será dada nessa última relação, ou seja, na que se
estabelece entre o antecedente e a resposta (em função, é claro, da conseqüência
que essa resposta produz). Estabelece-se essa relação quando uma resposta emitida
produz uma conseqüência reforçadora (que aumenta a probabilidade de que seja
novamente emitida), fazendo o evento que antecede a emissão dessa resposta ad
quirir controle sobre novas emissões dessa resposta (Skinner, 1974). Enfim, se, dian
te do evento antecedente, a resposta for emitida, a conseqüência reforçadora se
seguirá. Como enunciado da contingência, temos: “se o estímulo discriminativo
estiver presente e se a resposta ocorrer, (então) ela produzirá a conseqüência; se a
resposta não ocorrer, ou se ocorrer na ausência do estímulo, a conseqüência não
ocorrerá” (de Souza, 1997a, pág. 84). Quando uma criança, que está aprendendo a
falar, diz “au, au.” (resposta) diante de um cachorro (estímulo antecedente discri
minativo), seus pais provavelmente dirão “Muito bem. É isso mesmo. É um au-
au.” (conseqüência). No entanto, se a mesma criança disser “au, au.” (resposta)
diante de um gato (estímulo delta), essa conseqüência não se seguirá. Caso a cri
ança não emita nenhuma resposta diante do cachorro, nenhuma conseqüência
será produzida. Assim, dizer “au, au.” só produzirá reforço se a criança o fizer diante
do cachorro. Dessa forma, o controle que os estímulos antecedentes exercem sobre
uma resposta surge como resultado de uma história de reforçamento, na qual a
resposta produz reforço quando é emitida na presença de determinados estímu-
114 ■ Terapia Comportamental
los - chamados de SD - e não produz reforço quando é emitida na presença de
outros estímulos - chamados de SA” (Sério, Andery, Gioia e Michelleto, 2002).
Quando um organismo se comporta dessa maneira, pode-se dizer que fez uma
discriminação, isto é, ficou sob o controle de alguns estímulos e não de outros.
Segundo Terrace (1966), “controle de estímulo se refere à extensão na qual o valor
de um estímulo antecedente determina a probabilidade de ocorrência de uma
resposta condicionada. É medido como a mudança na probabilidade de resposta
que resulta de uma mudança no valor do estímulo” (pág. 271). Então, o termo
controle de estímulo é usado para demonstrar o poder que um antecedente tem
para 'evocar' uma reposta. Esse poder está diretamente relacionado com o reforço
que essa resposta produz (atenção: ‘evocar’, nesse caso, não é usada como sinônimo
de suscitar ou eliciar. O antecedente “não suscita, então, a resposta, como ocorre num
reflexo; simplesmente aumenta a probabilidade de ela vir a ocorrer novamente (...)”
(Skinner, 1974, pág. 76).
Assim, “o processo de estabelecimento de uma discriminação envolve expe
riência com, pelo menos, uma classe de resposta e dois conjuntos de estímulos:
aqueles que deverão assumir uma função de SD e aqueles que deverão assumir
uma função de SA em relação a essa classe” (Sério, Andery, Gioia e Michelleto, 2002,
pág. 13), Diante de SD, a resposta, se for emitida, produzirá reforço. Diante de SA,
mesmo que a resposta seja emitida, ela não produzirá reforço. Dessa maneira,
aprende-se a parar diante do sinal vermelho e a prosseguir diante do verde, a usar de
linguagem formal no ambiente profissional e informal quando se está no meio
de amigos, a distinguir uma garrafa de refrigerante de uma de água, uma barra de
chocolate de uma barra de cereal etc. Controles de estímulo que produzem discri
minação envolvem comportamentos que fazem parte de nosso cotidiano.
No entanto, algumas discriminações são mais complexas, o que torna espe
cialmente difícil a tarefa de colocar o comportamento sob o controle de estímulo
adequado. Além disso, um treino discriminativo não precisa começar com estí
mulos que sejam mais difíceis de discriminar, mas, ao contrário, podem começar
com os mais fáceis e passar gradualmente para os mais difíceis (Catania, 1993).
Whaley e Malott (1980) citam o caso de Bete, uma criança de oitos anos com
comprometimento mental que deveria aprender a discriminar o seu nome, escrito
em um cartão, do nome de outras crianças que moravam na mesma instituição. O
primeiro treino discriminativo ao qual a criança foi submetida não foi bem-sucedido.
Dois cartões pretos com nomes escritos em branco eram mostrados a Bete, que
deveria apanhar apenas aquele que contivesse seu nome e, então, ela seria reforçada
com balas e doces. No entanto, apesar de obter reforço somente quando pegava o
cartão correto, a criança continuava fazendo a seleção de modo indiscriminado. A
palavra Bete escrita no cartão deveria funcionar como SD para a menina, mas isso
não estava acontecendo. Então, como fazer para estabelecer tal discriminação?
A diferença que existia entre o SD (cartão com seu nome) e o S A (cartão com o
nome de outra criança) era apenas uma: os nomes nos cartões. Os treinadores
produziram uma segunda diferença: o fundo do cartão com o nome de Bete seria
cinza claro e o fundo do cartão com o nome da outra criança continuaria sendo
preto. Assim, a criança poderia discriminar a partir de duas dimensões do estímulo.
Bete seria reforçada quando escolhesse o cartão com fundo cinza claro (que também
Esvanecimento ■ 115
continha o seu nome) e, não seria, caso escolhesse o cartão preto. Essa discrimina
ção a menina foi capaz de fazer. No entanto, a idéia era que Bete fosse capaz de
discriminar seu nome entre os demais e isso não estava acontecendo. O que con
trolava a resposta de escolher o cartão correto era a cor de seu fundo, mas o que
deveria ser capaz de produzir essa resposta deveria ser o nome contido nele. Seria
necessário realizar uma transferência de controle de estímulo. Como essa transfe
rência poderia ser feita?
Os treinadores começaram, pouco a pouco, a escurecer o fundo do cartão com
o nome de Bete, e a escolha desse cartão continuava a ser reforçada. Com isso, em
pouco tempo, esse cartão passou, também, a ter fundo preto, como aquele com o
nome de outra criança. Bete permaneceu fazendo a escolha correta, apesar de
que a única coisa que os distinguia eram os nomes neles escritos. Dessa forma, foi
possível concluir que a resposta de apanhar o cartão estava, agora, sob o controle
do nome nele contido e não mais da cor do fundo.
Essa transferência gradual de controle de estímulo é denominada Esvane
cimento, tradução para fading, termo que também é comumente usado na li
teratura sobre o assunto. To fa d e significa desbotar, murchar, desaparecer
gradualmente, o que sugere que o “procedimento se refere ao esvanecimento das
diferenças entre as duas situações-estímulo” (Whaley e Malott, 1980, pág. 212).
Seu uso é indicado para qualquer situação em que um estímulo exerça um controle
poderoso sobre uma resposta e seja necessário produzir a mudança do controle de
estímulo (Martin e Pear, 1999, pág. 121).
Sério, Andery, Gioia e Michelleto (2002) apontam que foram estudos experimentais
na área de controle de estímulo que levaram ao desenvolvimento desse proce
dimento. Entre esses estudos, um dos mais relevantes foi o trabalho
experimental
de Terrace sobre “discriminação sem erro”, no qual o “autor introduziu o estímulo
delta (SA) de forma tão gradual que seus sujeitos experimentais praticamente não
emitiram respostas diante desse estímulo, não passando, assim, por um proce
dimento de extinção" (Sério, Andery, Gioia e Michelleto, 2002, pág. 49).
Quando é necessário que a emissão de uma resposta deixe de ser controlada por
um determinado estímulo antecedente e passe a ser controlada por outro, o uso do
Esvanecimento é a melhor alternativa. “A exposição de um sujeito a tais transforma
ções graduais leva à transferência do controle de estímulos: dos estímulos que origi
nalmente controlavam o responder, o controle passa a ser exercido pelos estímulos
que foram produzidos nesse processo de transformação” (Sério, Andery, Gioia e
Michelleto, 2002, pág. 50). Essa mudança de controles pode ser feita de duas manei
ras: 1. por meio da introdução gradual de estímulo que deve passara exercer o contro
le sobre a resposta {fading irí); 2. ou mediante a remoção gradual do estímulo que
deve deixar de exercer o controle sobre a resposta {fading out). No primeiro caso, é
necessário acentuaras características do estímulo antecedente, no segundo é pre
ciso atenuar essas características. O exemplo de Bete demonstra o uso do
Esvanecimento pela introdução gradual e progressiva da cor escura do cartão, que
vai se tornando da mesma cor que o outro, enquanto o estímulo que deve controlar
o comportamento de Bete - o nome escrito em letras de forma na cor branca - perma
nece inalterado. Quando as cores se igualam, apenas o nome contido no cartão passa
a controlar o responder, o que demonstra a transferência de controle de estímulo.
116 ■ Terapia Comportamental
Para Martin e Pear (1999), o Esvanecimento ocorre em muitas situações coti
dianas, em que, por exemplo, uma pessoa ensina para outra um novo comporta
mento e, gradualmente, remove a sua ajuda até que ela possa emitir esse
comportamento por si mesma (jfading out). “Pais têm probabilidade de esvanecer
sua ajuda e apoio quando ensinam uma criança a andar ou andar de bicicleta. Um
professor de dança talvez use cada vez menos pressão na mão ao conduzir um alu
no através de novos passos de dança. E, à medida que um jovem progride nas
aulas de auto-escola, o instrutor provavelmente fornece cada vez menos dicas ver
bais em relação às várias regras de trânsito” (pág. 121).
O exemplo oferecido no início do capítulo é uma dessas situações coti
dianas as quais Martin e Pear se referem. Agora é possível entendê-lo em ter
mos comportamentais. A adaptação pela qual a criança passa quando começa a
freqüentar a escola nada mais é do que um procedimento de Esvanecimento.
Pedrinho passava boa parte do tempo em casa, em contato com seus pais e com
algumas crianças da vizinhança. Lá, ele era capaz de brincar, conversar, coope
rar, obedecer, entre outros comportamentos que também são úteis para uma
boa estada na escola. Mas, o grande desafio seria produzir a emissão desses
comportamentos logo nos primeiros dias de aula, além de evitar respostas emo
cionais como choro, medo e ansiedade produzidas pela separação do ambiente
familiar. Para isso, seria necessário transferir gradualmente o controle que o
ambiente familiar exerce sobre a criança para o ambiente escolar que, por sua
vez, deverá ser capaz de evocar em Pedrinho alguns dos comportamentos emiti
dos em casa. O Esvanecimento seria, então, utilizado para produzir tal transfe
rência de controle.
Assim, no primeiro dia, Pedrinho poderia permanecer apenas meia hora
na escola, com os pais e um coleguinha da vizinhança ao seu lado o tempo
inteiro. No segundo dia, ele ficaria lá por cerca de uma hora, sendo observado
pelos pais e pela professora enquanto brinca com o coleguinha da vizinhança
e com as outras crianças da escola. No terceiro dia, ficaria na escola durante
uma hora e meia, sem a companhia do colega da vizinhança e ao lado dos pais
por somente meia hora; no resto do tempo, Pedrinho entraria em sala com a
professora para brincar com as outras crianças. No quarto dia, apenas a mãe
iria com o filho para a escola, permanecendo na porta da sala de aula por dez
minutos, enquanto Pedrinho brinca com as crianças e segue as sugestões de
atividades da professora; após duas horas, sua mãe retornaria para buscá-lo.
No quinto dia da semana, a mãe apenas deixaria o filho na entrada do colégio,
onde seria recebido por alguns de seus novos colegas e voltaria para buscá-lo
somente no final do período.
As mudanças graduais, que são uma das características do Esvanecimento,
ficam evidentes nesse exemplo. É possível observar que foi feita a introdução
gradual do ambiente escolar na vida da criança (fad in g m), além da remo
ção gradual do ambiente doméstico para o período em que Pedrinho deverá
permanecer na escola {fading out). Dessa forma, são melhores as garantias de
que a criança se comporte na escola de maneira semelhante àquela como se com
porta em casa.
Esvanecimento ■ 117
Para tentar desfazer uma confusão bastante comum que ocorre quando se dis
cute Esvanecimento, é necessária a análise do trecho do exemplo em que é dito que
as atividades das quais Pedrinho irá participar se tornarão cada vez mais comple
xas. O Esvanecimento diz respeito à mudança gradual do estímulo que antecede a
resposta e exerce controle sobre ela para outro estímulo que deverá adquirir essa
função. Discutir desempenho de atividades implica falar em emissão de respostas.
Na medida em que as atividades vão se tornando mais complexas, as respostas
exigidas no desempenho delas devem, gradualmente, tornar-se mais complexas tam
bém. Nesse caso, então, a mudança ocorrida é na resposta e não no estímulo ante
cedente. O procedimento que envolve mudança gradual na resposta é chamado de
Modelagem. “A modelagem envolve o reforçamento de ligeiras modificações num
comportamento, de forma que ele gradualmente venha a se assemelhar ao com-
portamento-alvo. A situação de estímulo permanece praticamente a mesma, e o
comportamento se modifica de um comportamento inicial (que não se assemelha
necessariamente ao alvo) até um comportamento-alvo final(...) Assim, a modela
gem envolve a modificação gradual de uma resposta, enquanto o estímulo permane
ce o mesmo; o esvanecimento envolve a modificação gradual de um estímulo enquanto
a resposta permanece praticamente a mesma" (Martin e Pear, 1999, pág. 124). Dessa
forma, o aumento gradual na complexidade das tarefas é um exemplo de modela
gem, pois as respostas envolvidas na execução dessas tarefas precisam também fi
car mais complexas, o que demonstra modificação gradual de comportamentos
iniciais (exigidos para a execução de tarefas mais simples) para comportamen
tos finais (exigidos para o desempenho de atividades mais complexas). No entanto,
nada impede que o Esvanecimento e a Modelagem sejam utilizados simultanea
mente. Para Baldwin e Baldwin (1998), muito do que é aprendido (modelado) pode
ser facilitado pelo uso de prompts (estímulos como palavras, sinais, toques físicos,
que servem para iniciar um comportamento). Depois que o comportamento novo
foi modelado, os prompts são desnecessários e podem ser esvanecidos.
Foi demonstrada a importância do emprego do procedimento de Esva
necimento para tornar possível a emissão do comportamento diante da situação
de estímulo adequada, auxiliando, assim, no estabelecimento de discriminações.
O Esvanecimento pode ser utilizado em diversas áreas, mas uma que tem destaque
especial é a área de ensino. O próprio processo educacional utiliza o Esvane
cimento, pois, no início da vida acadêmica, o estudante recebe bastante atenção
individual para execução de tarefas mas, com o passar do tempo, essa atenção vai
sendo removida, exigindo-se que o aluno trabalhe cada vez mais por conta pró
pria (Whaley e Malott,
1980). Além disso, por intermédio do Esvanecimento, o
indivíduo pode executar discriminações sem cometer nenhum erro, removendo a
necessidade de passar pelo penoso processo de extinção pois todas as respostas
emitidas são reforçadas. Possíveis punições advindas do contexto social, que têm
alta probabilidade de punir o que considera “erro”, também são evitadas. O
Esvanecimento também pode e deve ser utilizado na prática clínica, por exemplo,
em situações nas quais o comportamento já instalado no repertório do cliente
deve ocorrer diante de outras ocasiões diferentes das quais acontece atualmente.
A seguir, um exemplo clínico confirma essa afirmação.
118 ■ Terapia Comportamental
FRAGMENTO DE CASO CLINICO
Marcelo (nome fictício) tem cerca de 33 anos, é solteiro, mora com os pais,
trabalha e faz faculdade. Quando chegou à clínica, apresentava quadro caracte
rístico de depressão: choro freqüente, desânimo, apatia, insônia etc. O quadro de
depressão geralmente se instala a partir da perda de reforçadores importantes para
o indivíduo. No caso do cliente, verificou-se que ocorria uma baixa densidade de
reforçadores sociais os quais poderiam ser produzidos por amigos, parentes, namo
rada, entre outros.
Foi possível detectar que a dificuldade apresentada pelo cliente não se caracteri
zava necessariamente por déficit no seu repertório social pois, até certo tempo atrás,
Marcelo possuía amigos, namorada, fazia viagens e programas com eles. Na verdade,
o cliente apresentava dificuldades em emitir esses comportamentos atualmente.
Essa dificuldade se generalizou para outras áreas de sua vida, como a acadêmica,
fazendo sua vida escolar correr risco de ser comprometida em função disso.
Cerca de dois meses antes do término do penúltimo ano letivo do curso que
Marcelo freqüentava, ele começou a demonstrar alto grau de ansiedade com relação
a um trabalho escolar que deveria ser feito em grupo e apresentado diante de to
dos os alunos da sala de aula. Até então, o cliente havia sido bem-sucedido em
esquivar-se de participar oralmente de apresentações ao assumir outras atividades
na elaboração do trabalho, como pesquisar, redigir, digitar, elaborar slides de apre
sentação etc. No entanto, isso não seria possível nesse trabalho, o último do ano,
porque o professor exigia que todos os membros da equipe participassem efetiva
mente da apresentação oral do trabalho, inclusive ele.
Expor-se diante da sala era tão aversivo para o cliente que ele relatava: “Não
consigo nem me imaginar apresentando esse trabalho. Imaginar já é tão ruim que
chego a pensar até em trancar matrícula.” O estado emocional de Marcelo e a apro
ximação da data de apresentação do trabalho tornaram urgente a elaboração de
um procedimento que desse conta de sanar essa dificuldade ou que, ao menos,
diminuísse os sentimentos aversivos que essa situação produzia no cliente.
O primeiro passo foi constatar se o cliente possuía as habilidades orais neces
sárias para a apresentação do trabalho, ou seja, habilidade para introduzir, desen
volver e concluir o tema de maneira lógica e coerente, encadeando as idéias, dando
exemplos e fazendo uso de vocabulário claro e preciso. Mediante uma apresentação
para a terapeuta sobre um tema acadêmico selecionado pelo cliente, foi possível
concluir que Marcelo apresentava esse repertório bem estabelecido.
A questão principal era: Marcelo não conseguia emiti-lo diante das condições
exigidas pelo professor. Ele era capaz de fazê-lo diante da terapeuta, diante dos
membros do grupo, diante até do próprio professor, mas não seria capaz de fazê-lo
diante de uma turma inteira. Não seria necessário, então, modelar no cliente os
comportamentos que envolvem uma apresentação oral pois esses comportamentos
já estavam presentes em seu repertório comportamental. No entanto, era necessá
rio encontrar uma forma de fazer com que o cliente os emitisse diante da condi
ção exigida. Como ele era capaz de fazer essa apresentação diante da terapeuta, a
idéia seria, então, introduzir gradualmente a situação que Marcelo encontraria no
dia da apresentação, a partir das condições de estímulo diante das quais ele conse
guia se comportar. Assim, a terapeuta poderia fazer uso do Esvanecimento.
Esvanecimento ■ 119
A PROPOSTA
Para não comprometer o andamento do processo terapêutico, que envolvia a
análise e solução de outras dificuldades apresentadas pelo cliente, Marcelo passou
a se encontrar semanalmente com uma acompanhante terapêutica (AT), que ti
nha como função prepará-lo para a apresentação. Assim, o procedimento foi divi
dido nos seguintes passos:
1. Levantamento, feito pelo cliente, do conteúdo que faria parte do trabalho;
2. Organização desse conteúdo em itens relevantes para apresentação;
3. Elaboração de slides com o conteúdo a ser apresentado;
4. Apresentação do conteúdo do trabalho pelo cliente, em um primeiro mo
mento sem a presença de ouvinte algum além dele próprio. Assim, o clien
te poderia fazê-lo em casa, na frente de um espelho e, se possível, gravando
aquilo que foi dito. Isso criaria condições para que Marcelo observasse seu
próprio comportamento;
5. Apresentação do trabalho para a AT, que seria outra ouvinte, além do pró
prio cliente. Assim, ela funcionaria como uma comunidade crítica que po
deria efetuar possíveis correções no comportamento de Marcelo de
apresentar o trabalho;
6. Apresentação do trabalho em sua forma final, apenas para a AT, utilizando
o retroprojetor para a projeção dos slides. A utilização de tal recurso produz
maior grau de semelhança com a situação final enfrentada pelo cliente;
7. Apresentação do trabalho para mais duas pessoas, totalizando três ouvintes
e o cliente apresentador;
8. Apresentação do trabalho para mais duas pessoas, totalizando cinco ouvin
tes e o cliente apresentador;
9. Apresentação do trabalho para mais três pessoas, totalizando oito ouvin
tes e o cliente apresentador.
Dessa maneira, é possível observar que a situação inicial diante da qual o cliente
emitia o comportamento de apresentar o trabalho foi sendo gradualmente modifi
cada a fim de se tornar o mais parecida possível com a situação diante da qual
Marcelo deveria apresentar o trabalho. Nesse caso, o Esvanecimento foi feito a
partir da introdução gradual de estímulos (retroprojetor, aumento gradual dos
ouvintes) que devem passar a exercer controle sobre a emissão da resposta, até
que ela ocorra sob o controle de estímulos naturais e finais, como a condição exi
gida pelo professor.
Não foi possível, entretanto, levar a cabo esse procedimento pois a apresentação
do trabalho foi antecipada, o que tornou inviável, em termos de tempo, a introdu
ção de ouvintes na sessão. No entanto, o treino ocorrido até então se mostrou
razoavelmente eficiente, pois Marcelo conseguiu apresentar o trabalho e tirar uma
boa nota, embora não estivesse tão desenvolto quanto gostaria.
O relato desse caso mostra uma entre muitas aplicações que o Esvanecimento
pode ter em clínica. Na verdade, a própria prática clínica é um grande exemplo
desse procedimento, pois no princípio do processo terapêutico, o cliente deve ficar
sob o controle do terapeuta e esse controle deve ser gradualmente transferido para
as situações naturais diante das quais o cliente deve responder.
120 ■ Terapia Comportamental
COMENTÁRIOS FINAIS
Ao longo desse capítulo, foi possível rever vários conceitos comportamentais,
entre eles: contingência, comportamento operante, o papel da conseqüência na
manutenção do comportamento e o controle que o antecedente exerce sobre
o comportamento. Uma revisão tão abrangente teve como função possibilitar a
melhor compreensão, pelo leitor, do tema proposto pelo capítulo. O Esvanecimento
envolve a transferência do controle exercido pelo antecedente. O antecedente só
tem essa função porque o comportamento produz conseqüências
que o selecionam
e essas conseqüências fazem com que fique marcada a situação diante da qual o
comportamento foi emitido. E, para que o comportamento seja passível de análise,
é de fundamental importância que se entenda o conceito de contingências.
Assim, aprender sobre Esvanecimento significa não só ser capaz de repetir
suas características e formas de aplicação, mas ser capaz de contextualizá-lo a
partir de conceitos mais amplos e básicos da análise do comportamento. Dessa
mesma forma, a aplicação de qualquer procedimento deve merecer a mesma
atenção pois é isso que produz profissionais melhores e mais capacitados
para lidar com as idiossincrasias da história de vida das pessoas que passam pela
intervenção do terapeuta.
R e f e r ê n c ia s
BALDWIN, J. D., BALDWIN, J, I. Behavior principles in everyday life. New Jersey: Prentice Hail,
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1980. v.1.
J a íd e A parecid a G o m e s R eg r a
A análise científica de qualquer fenômeno pode ocorrer,
pelo menos, de três modos diferentes. O primeiro é o estudo
do fenômeno pela análise experimental do comportamento.
O segundo modo de efetuar a análise científica do compor
tamento complexo é por meio da simulação do comporta
mento e dos processos responsáveis por ele, usando
organismos ou computadores. Na simulação, embora não
se consiga uma análise experimental direta do comporta
mento, obtém-se um auxiliar na compreensão sobre o
desenvolvimento de determinado comportamento e um
suporte para interpretações do comportamento complexo.
Uma terceira forma para compreender o fenômeno com
plexo, especialmente aqueles que, por alguma razão não
podem ser submetidos à análise experimental direta, é a
interpretação (Schlinger Jr., 1998).
Os fenômenos complexos são analisados de acordo com
um conjunto de princípios ou leis derivadas da análise
experimental do comportamento mais simples, mas rela
cionada com o fenômeno.
No laboratório, a análise do comportamento é feita pela
análise experimental do comportamento. Na clínica, ao fa
zer análise do comportamento complexo, usa-se a interpre
tação. Porém, a interpretação só pode ser realizada com a
fundamentação da pesquisa básica desenvolvida no labo
ratório. Pode-se, então, concluir que um terapeuta com
portamental necessita conhecer os princípios e leis que
governam os comportamentos e acompanhar o desenvol
vimento e os avanços da pesquisa básica e aplicada.
A técnica de Modelagem é resultante de estudos de labo
ratório que pretedem, inicialmente, instalar uma resposta
no sujeito experimental, como pressionar a barra, para o
Modelagem
CAPÍTULO
122 ■ Terapia Comportamental
rato, e bicar um disco, para o pombo, para estudar como essas respostas podem
estar sob o controle de determinadas variáveis. O método de aproximações suces
sivas deve ser usado no laboratório para que as respostas selecionadas para estudo
sejam rapidamente adquiridas, dando início ao estudo experimental.
“O condicionamento operante modela o comportamento como o escultor modela
a argila” (Skinner, 1953). Nessa metáfora está contida a idéia da necessidade de
preexistência de um conjunto de respostas no organismo, as quais podem ser
rearranjadas até que ocorra uma nova resposta ou uma classe delas. Um compor
tamento operante é o resultado de um processo de Modelagem.
Com o uso da Modelagem procura-se ampliar o repertório comportamental
de um organismo por meio da aquisição de novas respostas.
Na brincadeira “Quente e frio" pode-se esconder um objeto sob a almofada
que está no chão, ao lado de um sofá e duas poltronas; ao lado oposto há um
armário com gavetas e uma mesa com duas cadeiras. A criança recebe a seguinte
instrução: “Procure um bonequinho semelhante a esse que está escondido na sala.
Quando você estiver longe do lugar onde está o bonequinho, vou dizer ‘Está frio/,
quando você estiver se aproximando do lugar onde está o bonequinho, vou di
zer “Está morno/ e quando você estiver bem perto do lugar onde está o
bonequinho, vou dizer: ‘Está quente/”
A criança se aproxima da mesa do lado oposto à almofada e o terapeuta diz
“Está frio/' A criança olha em direção à almofada e o terapeuta diz “Está morno.” A
criança dá alguns passos em direção ao armário e o terapeuta diz “Está frio.” Ela
então olha em direção ao sofá, próximo da almofada e o terapeuta diz “Está mor
no.” Ela se vira de costas para o sofá e o terapeuta diz “Está frio.” Ela agora dá
vários passos em direção ao sofá e o terapeuta diz “Está esquentando.” A criança
levanta a almofada do sofá e o terapeuta diz “Está frio.” A criança olha em direção
à almofada e o terapeuta diz “Está quente.” e então a criança levanta a almofada e
encontra o bonequinho.
Nessa brincadeira, lidam-se com duas classes de respostas:
1. As respostas que gradualmente se aproximam da resposta final de levantar
a almofada e encontrar o bonequinho (elas têm o mesmo efeito no ambiente;
todas são seguidas das pistas verbais: “Está morno.” “Está quente.”);
2. As respostas que se afastam da resposta final (todas têm o mesmo efeito
no ambiente; são seguidas pela pista verbal: “Está frio.”). Nessa brincadeira,
não foi modelada uma nova resposta pois todas faziam parte do repertório
comportamental da criança, apenas foi modelado o comportamento de
procurar e encontrar o bonequinho. Com a ajuda das pistas verbais, a criança
foi conduzida a emitir a resposta que produzia um efeito de encontrar o
boneco mais rapidamente. O uso de pistas verbais pode favorecer o apa
recimento mais rápido da resposta final que já faz parte do repertório da
criança. Modelar o comportamento da criança significa reforçar respostas
intermediárias para gerar uma nova resposta.
No jogo denominado “Rouba Queijo” fica mais evidente a Modelagem de uma
nova resposta. Esse jogo contém um tabuleiro com uma mureta semifechada nos
Modelagem ■ 123
dois cantos opostos (a casa de cada rato). Cada jogador fica com um rato (vermelho
ou verde). Cada rato tem um pequeno ímã, colado na direção da cabeça, voltado
para baixo. Os queijos são dados pequenos espalhados pelo tabuleiro. Cada joga
dor recebe uma haste de plástico comprida o suficiente para atingir o outro lado
do tabuleiro. Cada haste possui um ímã na ponta, voltado para cima. A tarefa de
cada jogador é comandar o rato para deslocar-se no tabuleiro, levando os dados
(queijos) para dentro de sua casa. Para conseguir isso, os jogadores devem enfiar a
haste por baixo do tabuleiro e conectar o ímã da haste com o ímã de seu rato; dessa
forma, ao movimentar a haste sob o tabuleiro, estará também movimentando o
seu rato sobre
o tabuleiro (resposta A). O vencedor será o jogador que levar mais
queijos para dentro de sua casa.
As crianças, de acordo com as idades, apresentam dificuldades diferentes para
aprender a manejar o rato. Tome-se como exemplo uma criança de sete anos. Ela
coloca sua haste sob o tabuleiro; seu rato está dentro de sua casa; a criança enfia a
haste sob o tabuleiro de modo que o ímã fique do lado oposto do seu rato (respos
ta B). O terapeuta diz: “O ímã da haste está muito longe do seu rato.” A criança puxa
a haste na sua direção, tornando os ímãs mais próximos, porém sem conectá-los
(resposta C). O terapeuta diz: “O ímã da haste está aqui (aponta sobre o tabuleiro),
ainda está um pouco longe do seu rato.” A criança desloca a haste, aproximando
os ímãs, sem conectá-los (resposta D). O terapeuta aponta, em cima do tabuleiro,
o local aproximado em que o ímã da haste se encontra e diz: “Está mais perto! Se
você puxar a haste nessa direção, o ímã da haste pode grudar no ímã do seu rato.”
(o terapeuta desloca o dedo na direção do ímã do rato). A criança puxa a haste,
olha por baixo do tabuleiro e conecta o ímã no rato, puxando a haste e deslocando
o rato (resposta A). O terapeuta diz: “Olha! O ratinho está andando!” A haste, ao
ser deslocada, deve permanecer reta e produzir o efeito de puxar o rato (resposta
A). Se a criança entortar a aste (resposta E), o ímã de baixo se desconecta do ímã
do rato e o rato não se desloca (efeito da resposta). O terapeuta diz: “A haste deve
ficar retinha para não soltar o rato”. A criança coloca a haste reta e puxa o rato
(resposta A). O terapeuta diz: “Você pegou o rato!” A criança desloca o rato e per-
de-o no meio do caminho ao entortar a haste (resposta E). O terapeuta espera
uma nova resposta da criança. Ela empurra a haste sob o tabuleiro, mais próxima
dos ímãs, sem conectá-los (resposta C). O terapeuta nada diz. Aqui, nem o brin
quedo nem o terapeuta reforçam a criança. A criança aproxima a haste do seu rato,
sem conectar os ímãs (resposta D) e o terapeuta diz: “Está pertinho!” A criança
S .
conecta os ímãs e o terapeuta diz: “Você pegou o rato!” A criança puxa a haste reta,
deslocando o rato e o terapeuta diz: “Você está puxando o ratinho!” A criança en
torta a haste (resposta E) e o terapeuta nada diz, porém o rato não é deslocado e a
criança tenta conectar novamente os ímãs. Pode-se observar que o próprio brin
quedo fornece o resultado imediato da resposta: com a emissão da resposta A
(conectar os ímãs e puxar com a haste reta) o rato se desloca; com a emissão das
respostas B, C, D, E, o rato não se desloca, mas algumas dessas respostas são
conseqüenciadas pelo terapeuta, por estarem mais próximas da resposta termi
nal. Se a criança emitir a classe de respostas incorretas (aquela, cujas respostas
são inefetivas para deslocar o rato), como: colocar o ímã da haste longe do ímã do
rato, colocar o ímã da haste próximo ao ímã do rato, colocar o ímã da haste ao
124 ■ Terapia Comportamental
lado do ímã do rato, colocar o ímã da haste exatamente sob o ímã do rato e entor
tar a haste de modo a desconectar os dois ímãs, então, o rato não será deslocado.
Para as respostas que se aproximam da resposta terminal A (conectar os ímãs e
deslocar o rato), o terapeuta fornece elogios descritivos e, dessa forma, modela o
comportamento da criança por aproximações sucessivas, emitindo a classe de res
postas complexas e funcionais. O brinquedo fornece a conseqüência imediata das
respostas, de uma maneira “tudo ou nada”. Ou a criança emite a resposta (A), que
tem o efeito de deslocar o rato e é reforçada pelo deslocamento do rato, ou ela
emite as respostas (B, C, D, E) que têm como efeito o não-deslocamento do rato.
Nessa condição, como é grande o número de respostas que tem como efeito o
não-deslocamento do rato, ao deixar o reforçamento apenas por conta do brin
quedo, percebe-se que a maioria das crianças pode desistir do brinquedo.
Porém, se o pai ou o terapeuta modelam o comportamento da criança por
intermédio de aproximações sucessivas da resposta A, a criança será reforçada
por grande número de emissões (por exemplo, as respostas C, D, E), o que manterá
o seu comportamento de persistir com o brinquedo (permanecer emitindo um
número maior de respostas, cada vez mais próximas da resposta terminal). Aumenta-
se a probabilidade de emissão de deslocar o rato. Quando isso ocorrer, a criança
será reforçada, pelo efeito da resposta (deslocar o rato) e pelo elogio descritivo do
pai ou terapeuta. Outras respostas, inefetivas para deslocar o rato, podem ser emi
tidas, alternando-se com a resposta funcional. Somente a resposta funcional é re
forçada pelo terapeuta e pelo brinquedo, prevendo-se que ocorrerá um aumento
na freqüência dessa resposta.
Em outras palavras, se a criança emitir a classe de respostas (A) que é funcional
para deslocar o rato, ou seja, se a criança colocar o ímã da haste sob o ímã do rato
e deslocá-la sem desconectá-la do ímã, então, o rato será deslocado e aumenta
rá a freqüência dessa classe de respostas. O terapeuta colabora com o feedback
imediato fornecido pelo brinquedo, elogiando o desempenho da criança, como
“Você conseguiu pegar o ratinho!”
Foi adquirida uma resposta complexa que não existia no repertório da criança,
a qual foi modelada pelas aproximações sucessivas da resposta esperada. O com
portamento motor exigido nesse jogo é muito complexo e dificilmente ocorrerá
sem a Modelagem, para as crianças mais novas que ainda não adquiriram essas
habilidades.
No laboratório ocorre a possibilidade de controle mais rigoroso das variáveis.
O experimento de Modelagem do comportamento de pressionar a barra de um
rato, colocado na Caixa de Skinner, com tamanho suficiente para ele dar vários
passos dentro dela, possibilita uma compreensão melhor dessa técnica.
Essa caixa possui uma barra metálica redonda, na parede direita, lado interno,
que se desloca para baixo, produzindo um clique, sob a leve pressão da pata do
rato. Na parede do lado externo direito há o bebedouro com água e o pescador que
mergulha na cuba d'água quando a barra se abaixa. Ao soltar a barra, o pescador sobe
trazendo uma gota d'água em sua concha. Olhando pelo lado interno, a concha,
ao subir, se ajusta num orifício ao nível do assoalho, tornando a gota disponível ao
rato (ver Guidi e Bauermeister, 1968).
Modelagem ■ 125
Como fazer com que um rato, privado de água, obtenha gotas de água, como
função do seu comportamento de pressionar a barra?
As instruções de laboratório oferecidas por Guidi e Bauermeister (1968) des
crevem as etapas a serem ensinadas para o rato pressionar a barra.
Liberar uma gota de água no bebedouro. Colocar o rato na caixa experimental
e esperar o animal encontrar a gota d'água deixada no bebedouro. Liberar cinco
gotas para fazer o treino de bebedouro; agora o rato localiza a água. Especifica-se
a resposta: pressão da barra. Deve-se reforçar as aproximações sucessivas a uma
resposta na barra que tenha uma topografia de fácil observação e que não dispenda
esforço desnecessário ou tempo inútil. O mais comum é o rato operar a barra com
uma ou duas patas e pode ser utilizado um critério de pressionar a barra, por seis
vezes consecutivas, para considerar que terminou a Modelagem e o rato adquiriu
a nova resposta.
Matos e Tomanari (2002), ao descreverem a técnica de Modelagem, assinalam
como parte da técnica o uso do método de aproximações sucessivas ou mudanças
graduais que é empregado sempre que se pretende ensinar um desempenho com
plexo; quando o sujeito a quem se pretende ensinar algo apresenta dificuldades
especiais, como problemas de desenvolvimento ou déficit de repertório; ou quando
os pré-requisitos necessários para aquilo que se pretende ensinar a ele estão
ausentes do repertório do sujeito.
Ao destacar a importância da Modelagem para ampliar