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Tema 15 - O sindicato como substituto processual

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O Sindicato como Substituto 
Processual
Giordana Bruno Leite de Oliveira
Introdução
Você sabe quando o sindicato pode substituir os trabalhadores em um processo? É o que estudaremos neste
tema. Existem vários casos de violação de direitos coletivos trabalhistas de toda uma categoria, dando causa à
referida substituição. Conheceremos os direitos coletivos homogêneos e como funciona a execução da sentença
em que os sindicatos atuaram como representantes e substitutos dos trabalhadores. Aprenderemos também
quem vai pagar os honorários advocatícios diante da respectiva situação.
Ao final desta aula, você será capaz de:
• Identificar as hipóteses em que há substituição processual na Justiça do Trabalho pelo sindicato.
• Conhecer quais os pressupostos processuais.
• Reconhecer o que são considerados os direitos coletivos homogêneos.
• Identificar como é feita a execução de sentença em que o sindicato figura como substituto processual.
• Identificar quem será o responsável pelo pagamento de honorários advocatícios.
Substituição Processual
Martinez (2011, p. 667) ensina que a substituição processual é a possibilidade que a lei confere a determinados
indivíduos de agir em nome próprio na defesa do direito de outrem, também chamada de legitimação
extraordinária.
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Figura 1 - Ação coletiva Trabalhista
Fonte: Scott Maxwell LuMax Art, Shutterstock, 2018
A substituição processual atribuída aos sindicatos está prevista no inciso III do artigo 8º da Constituição Federal
de 1988. Martins (2018) diz que substituição processual não se confunde com função de representação do
sindicato, pois na substituição processual o sindicato age em nome próprio, para defender o direito de uma
categoria profissional, ele vira parte do processo como autor ou réu, enquanto na representação o sindicato atua
em nome dos associados defendendo seus interesses, ele não atua como parte do processo, apenas os
representa.
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Assim, a CF/88 atribuiu às entidades sindicais a prerrogativa da substituição processual ampla e irrestrita, desde
que em defesa dos interesses coletivos, correspondendo a um direito de toda uma categoria, bastando-lhes a
autorização da assembleia geral, da forma em que estiver prevista no estatuto da entidade sindical.
A tutela coletiva dos interesses individuais homogêneos proporciona um melhor acesso ao judiciário,
principalmente o trabalhista, evitando retaliações e perseguições por parte do empregador, bem como a
uniformidade das decisões judiciais, conseguindo, assim, a desejada igualdade entre os trabalhadores que se
encontram em situações iguais.
Garcia (2013) expressa que o sindicato também possui legitimidade para a defesa dos interesses difusos, ainda
que as hipóteses concretas não sejam tão numerosas quanto às dos direitos individuais homogêneos, pois o
artigo 8º, inciso III da CF/88 ao expressar direito coletivos, não os restringiu ou especificou. Assim, os sindicatos
possuem legitimidade extraordinária para a defesa dos interesses individuais homogêneos, direitos difusos e
coletivos em sentido estrito.
Desta maneira temos que a substituição processual pelo sindicato é ampla (não se restringindo apenas aos
associados) e genérica (abrangendo quaisquer direitos trabalhistas homogêneos dos membros da categoria), e
está prevista na Constituição Federal de 1988 e na lei infraconstitucional, que é hierarquicamente inferior à CF
/88.
Pressupostos Processuais
Diddier Jr. (2005) expressa que pressupostos são todos os elementos de existência de um processo e seus
requisitos de validade. Pressuposto é todo requisito indispensável para que o processo exista e está expresso no
artigo 485, inciso IV doCódigo de Processo Civil. Existem os pressupostos de existência e os pressupostos de
validade.
Pressupostos Processuais de Existência
Diddier Jr. (2005) diz que os pressupostos de existência são divididos entre Subjetivos (relativos à pessoa) que
são a investidura do órgão julgador (diz respeito ao juiz regularmente investido no cargo) e a capacidade de ser
parte que é a capacidade que todo sujeito tem do exercício de direito, previsto no artigo 1º do Código Civil.
FIQUE ATENTO
A substituição processual não é exclusiva de ações coletivas, ela pode existir também em ações
individuais, por exemplo, , o Ministério público ao defender os deficientes físicos. Assim, nem
toda substituição processual refere-se à ação coletiva trabalhista. A substituição processual é
um instrumento utilizado também pelo direito civil.
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Figura 2 - Requisitos
Fonte: Tashatuvango, Shutterstock, 2018
E Objetivos que são a existência de demanda, o ato de pedir ao judiciário, por meio de petição inicial (artigo 2º
do Código de Processo Civil - CPC), algo possível.
Pressupostos processuais de Validade
Os pressupostos de validade também são divididos em Subjetivos e Objetivos. Subjetivos são a competência e
imparcialidade do juiz que diz respeito à esfera de atuação do juiz e que ele seja imparcial.
São ainda pressupostos subjetivos: a capacidade processual que é a capacidade de praticar atos processuais sem
precisar estar assistido ou representado (Diddier Jr. 2015), como por exemplo, a capacidade que o Prefeito ou o
procurador municipal tem de representar o Município em juízo; a capacidade postulatória que é a capacidade
dada aos advogados e membros do Ministério Público e Defensoria, e a legitimidade , que é aad causam
legitimidade para agir no processo.
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São pressupostos Objetivos: a petição inicial apta, possibilitando que o réu seja encontrado a partir dos dados ali
informados; a citação válida das partes para que o processo possa seguir sem vícios e, por fim, a regularidade
formal, todos os atos devem ser realizados na forma prevista na lei.
Existem outros pressupostos que impedem o andamento do processo, ensina Diddier Jr. (2005). Eles são a coisa
julgada material (processo já julgado); a litispendência, quando existe um outro processo em andamento, com as
mesmas partes, mesmo pedido e mesma causa de pedir.
FIQUE ATENTO
A capacidade de direito é a aptidão para ser parte em um dos lados da relação processual
(artigos 1º e 2º do Código Civil). Já a capacidade processual é a capacidade para agir em juízo,
independentemente de assistência (relativamente incapaz) ou representação (absolutamente
incapaz), é a capacidade exposta no artigo 75 do Código de Processo Civil. Toda pessoa que se
acha no exercício dos seus direitos tem capacidade para ser parte, conforme reza o artigo 7º do
CPC.
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Figura 3 - Termos e condições
Fonte: Tashatuvango, Shutterstock, 2018
E por último é preciso que haja o Interesse de agir que é a necessidade do autor em obter por meio do processo a
proteção do Estado, sem a qual a parte poderia sofrer prejuízos.
Direitos Coletivos Homogêneos
Os direitos coletivos se dividem em direitos difusos, coletivos em sentido estrito e individuais homogêneos, são
também chamados metaindividuais ou transindividuais, é uma nova categoria medial de interesses de natureza
mista, ou seja, nem público, nem privado. GARCIA (2013, p. 1303) ensina que os direitos difusos são os
transindividuais, de natureza indivisível, seus titulares são pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias
de fato.
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Figura 4 - Proteção à criança e ao adolescente
Fonte: Ollyy, Shutterstock, 2018
O Código de Defesa do Consumidor (CDC) em seu artigo 81 expressa que os direitos coletivos em sentido estrito
são definidos como transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base.
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Segundo a definição de direitos individuais homogêneos (CDC, artigo 81), eles são aqueles que têm a mesma
origem, possuindo titulares definidos e objeto que pode ser dividido. A particularidade destes direitos é que
muitas pessoas possuem, cada uma direitos individuais iguais em sua essência, portanto, homogêneos.
Execução
Aos sindicatos é reconhecida, de acordo com o artigo 8º da ConstituiçãoFederal, a legitimidade para defender
em juízo os direitos e interesses coletivos ou individuais dos integrantes das categorias que representam,
possibilitando a substituição processual para entrar com a ação e ao final requerer a execução da sentença que
reconhece os créditos porventura devidos aos trabalhadores que representam, mesmo sem sua autorização
expressa. No entanto, FERNANDES (2011) pontua que no regime de substituição processual não são abrangidos
os poderes especiais do artigo 105 do Código de Processo Civil. Desta forma o substituto processual não pode
receber crédito que possa vir de uma ação trabalhista sem autorização dos substituídos. Renunciar ao crédito,
desistir dele, transacionar acerca dele, recebê-lo e dar quitação dele em nome do substituído são atos que só
poderão ser praticados pelo substituto processual se o substituído autorizar expressamente
Assim, tem-se que o sindicato como substituto processual não pode dispor livremente do direito do substituído,
como se fora seu, porque não é titular do direito material, mas apenas da prerrogativa de defendê-lo
processualmente. 
EXEMPLO
De acordo com a CF/88 como direitos difusos temos a proteção da criança e do adolescente; o
CDC exemplifica direitos coletivos em sentido estrito como a ilegalidade dos aumentos
abusivos nas mensalidades dos planos de saúde dos que já eram contratantes e por fim dos
direitos individuais homogêneos temos um grupo de pessoas que adquiriram um mesmo
produto de um determinado lote com o mesmo defeito de fabricação.
SAIBA MAIS
De acordo com o blog A Tribuna (2015), a possibilidade de o sindicato ser substituto
processual e executar a decisão independentemente de autorização dos substituídos foi
reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal em tema vastamente discutido entre os juristas.
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Honorários advocatícios
Os honorários advocatícios sucumbenciais (de quem perde) são devidos aos advogados da parte vencedora,
independentemente dos honorários contratuais. O pagamento dos honorários pela parte que perde o processo
em ações coletivas, em que o sindicato atuava como substituto processual, está previsto na Constituição Federal
de 1988 (artigo 5º, LXXIII), no Código de Processo Civil (artigo 85), no estatuto da OAB (artigos 21, 22, 23 e 24),
na CLT artigo 791-A e em súmulas (decisões) do Superior Tribunal de Justiça, como a 345, que fala que cabe o
pagamento de honorários advocatícios, devidos pela Fazenda Pública, nas execuções individuais de sentença
proferida em ações coletivas.
Os honorários advocatícios de sucumbência são pagos pela parte vencida no processo ao advogado da parte
vencedora e serão devidos mesmo em ações coletivas, onde o sindicato age como substituto processual, de
acordo também com a súmula 219 do Tribunal Superior do Trabalho, em seu inciso III. Ou seja, os honorários de
sucumbência são devidos apenas aos advogados da parte que vence o processo. O advogado da parte que perdeu,
deve receber o honorário contratual, caso haja tal contrato.
Fechamento
Observamos que sempre que há interesse difuso, coletivo ou individual homogêneo o sindicato pode substituir
processualmente a categoria que representa, independentemente de autorização dos representados, bastando-
lhes a autorização da assembleia geral. Vimos também os pressupostos para que exista a ação e para que ela seja
válida, bem como aprendemos que o sindicato pode atuar até o final, mas que não pode levantar valores em
nome dos seus representados. Por fim, aprendemos que os advogados que trabalham para o sindicato na
propositura de ações podem e devem receber os honorários de sucumbência.
Referências
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https://www.trt3.jus.br/escola/download/revista/rev_74/Aroldo_Ricardo.pdf
https://www.trt3.jus.br/escola/download/revista/rev_74/Aroldo_Ricardo.pdf
	Introdução
	Substituição Processual
	Pressupostos Processuais
	Pressupostos Processuais de Existência
	Pressupostos processuais de Validade
	Direitos Coletivos Homogêneos
	Execução
	Honorários advocatícios
	Fechamento
	Referências

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