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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI Curso Ciência e Tecnologia João Guilherme Souza Lopes EQUAÇÕES DIFERNCIAIS APLICADAS: MODELO DE MALTHUS E O OSCILADOR HARMÔNICO QUÂNTICO Janaúba 2017 João Guilherme Souza Lopes EQUAÇÕES DIFERENCIAIS APLICADAS: MODELO DE MALTHUS E O OSCILADOR HARMÔNICO QUÂNTICO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, como requisito para conclusão de curso. Orientador: Prof. Dr. Jean Carlos Coelho Felipe Janaúba 2017 João Guilherme Souza Lopes EQUAÇÕES DIFERENCIAIS APLICADAS: MODELO DE MALTHUS E O OSCILADOR HARMÔNICO QUÂNTICO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, como requisito para conclusão de curso. Orientador: Prof. Dr. Jean Carlos Coelho Felipe Data de aprovação: ___/___/_______. ______________________________________________________ Prof. Dr. Jean Carlos Coelho Felipe Instituto de Engenharia, Ciência e Tecnologia – UFVJM ______________________________________________________ Prof. Dr. Paulo Alliprandini Filho Instituto de Engenharia, Ciência e Tecnologia – UFVJM ______________________________________________________ Prof. Msc. Edson do Nascimento Neres Júnior Instituto de Engenharia, Ciência e Tecnologia – UFVJM Janaúba AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus, por todas as graças que me foram concedidas, oportunidades, saúde e força por sempre estar atingindo meus objetivos. Aos meus pais, José Edineto e Dilma, que com muito carinho, amor e apoio, não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida. Ao meu irmão que amo tanto Daniel pelo apoio e companheirismo. A toda minha família, avós, tios, primos, pelo incentivo e capacidade de acreditar em mim, demonstrando que não estou sozinho nessa caminhada. Aos meus brothers da República “A casa Lá”, Eduardo, Paulo Henrique, Rodrigo, Ronaldo e todos amigos e agregados, pelo companheirismo e pelos momentos de diversão que vocês proporcionaram em minha vida. Ao meu orientador, professor Dr, Jean Carlos Coelho Felipe, pela paciência e por toda orientação e incentivo para realização deste trabalho. A todos os professores e servidores do IECT/UFVJM, que contribuíram diretamente ou indiretamente para a minha formação. Meu sincero “muito obrigado”! RESUMO Equações Diferenciais tem aplicações nas mais diversas áreas das Ciências Naturais e Humanas, de maneira geral. Alguns exemplos onde podemos encontrar sua aplicação são na Biologia, Física, Economia, Termodinâmica, Ciências Sociais, dentre outras. Neste trabalho, particularmente, será feito um apanhado geral sobre as Equações Diferenciais, desde o contexto histórico de seu surgimento até exemplos concretos de suas aplicações, bem como alguns métodos para resolução das mesmas (aqui se usa o termo genérico “Equações Diferenciais” pois alguns problemas são modelados via Equações Diferenciais Ordinárias (EDO) enquanto outros são modelados via Equações Diferenciais Parciais (EDP)). Particularmente nesse trabalho serão apresentadas duas aplicações onde as Equações Diferenciais têm papel fundamental no processo de modelagem, porém em áreas distintas. A primeira aplicação consiste no tratamento do Modelo de Malthus, o qual está relacionado à questão do crescimento ou decrescimento de uma dada população de indivíduos. Como teste de validade, o modelo será empregado para se obter estimativas atuais e futuras (baseado em estimativas passadas) para o crescimento populacional dos municípios de Janaúba e Mato Verde, ambos situados na região Norte do estado de Minas Gerais. A segunda aplicação está relacionada ao estudo do Oscilador Harmônico Quântico. Para o tratamento do problema, foram analisadas as soluções da Equação Diferencial de Hermite de forma bem detalhada, desde a maneira como ela deve ser resolvida, da qual se originam os Polinômios de Hermite até o estudo de algumas de suas propriedades como, por exemplo: sua função geratriz, a Fórmula de Rodrigues e a relação de ortogonalidade dos polinômios. Palavras-Chave: Equações Diferenciais, Crescimento Populacional, Oscilador Harmônico Quântico, Polinômios de Hermite, Espaço de Funções. ABSTRACT Differential Equations have applications in several areas, for example, in Biology, Physics, Economy, Thermodynamics, Social Sciences and others. In this work, particularly, will be done a general discussion about Differential Equations, since the historical aspects until examples where they can be applied as well as some resolutions methods to Differential Equations (here we use the generical term to “Differential Equations” because some problems involving Ordinary Differential Equations (ODE) and others involving Partial Differential Equations (PDE)). Particularly, in this work will be showing two applications, in different areas of expertise, to Differential Equations. In the first application, we will treat the Malthus Model, which is related to the population growth and, as a test of validity; the model will be applied to check the population increase on the cities of Janaúba and Mato Verde, localized on the north region of the state of Minas Gerais. The second application is related to the Quantum Harmonic Oscillator and, to the resolution of the following model, were analyzed the Hermite Equation solutions in a detailed way. From the Hermite Differential Equation we can derive the Hermite Polynomials. In this sense, will be analyzed some properties of that polynomials as: the generation function, the Rodrigues Formula and the polynomials orthogonality properties. Keywords: Differential Equations, Population Growth, Quantum Harmonic Oscillator, Hermite Polynomials, Space of Functions. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1- Gráfico representativo para os dados do IBGE e estimativa de Malthus para a cidade de Janauba MG.... ................................................................................................... ......41 Figura 2- Gráfico representativo para os dados do IBGE e estimativa de Malthus para a cidade de Mato Verde MG......................................................................................................43 Figura 3- Oscilado Harmônico ................................................................................................ 44 Figura 4- Aproximação parabólica (curva tracejada) para um potencial arbitrário, em um ponto de mínimo local ............................................................................................................. 45 Figura 5(a)- Molécula formada por dois átomosdiferentes de massa 𝒎𝟏 e 𝒎𝟐 e separados por uma distância 𝒓 além de suas posições de equilíbrio e (b) o modelo mecânico correspondente ................................................................................................................................................. 46 LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS EDO – Equação Diferencial Ordinária EDP – Equação Diferencial Parcial MG – Minas Gerais Sumário 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 19 2.OBJETIVOS ....................................................................................................................... 23 2.1 Objetivos Gerais .............................................................................................................. 23 2.2 Objetivos Específicos ....................................................................................................... 23 3 REVISÃO TEÓRICA ........................................................................................................ 25 3.1 Definições .......................................................................................................................... 25 3.2 Importância das Equações Diferenciais ........................................................................ 27 3.3 Problema de Valor Inicial ............................................................................................... 28 3.4 Condições de Contorno ................................................................................................... 28 3.5 Equações Separáveis ....................................................................................................... 29 3.6 Equações Diferencias Parciais ........................................................................................ 30 3.7 Equações Diferenciais Homogêneas ............................................................................... 33 3.8 Série de Potências ............................................................................................................ 34 4 MODELAGEM VIA DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ............................................. 37 4.1 Crescimento e decrescimento Populacional (Modelo de Malthus) .............................. 37 4.1.1 Aplicação do modelo de Crescimento e Decrescimento Populacional para as cidades de Janaúba e Mato Verde, localizadas na região norte do estado de Minas Gerais ...................................................................................................................................... 39 4.1.1.1 Aplicação do Modelo para o Município de Janaúba-MG ...................................... 39 4.1.1.2 Aplicando o Modelo para o Município Mato Verde-MG ...................................... 42 4.2 Oscilador Harmônico Quântico ..................................................................................... 44 4.2.1 Equação de Hermite ...................................................................................................... 54 4.2.2 Ortogonalidade dos Polinômios de Hermite ............................................................... 58 5.CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 67 19 1 INTRODUÇÃO Os estudos das Equações Diferenciais começaram no século XVII com Isaac Newton (1642 -1727) e Gottfried Wilheim Leibniz (1646-1716). Formado no Trinity College, Newton cresceu no interior da Inglaterra e se tornou professor de Matemática, ocupando a cadeira Lucasiana, em 1669, que atualmente é ocupada pelo físico inglês Michael Cates. Suas descobertas de cálculo e as leis da Mecânica datam do ano de 1665, mas por ser muito sensível a críticas, Newton só começou a publicar seus escritos em 1687, com seu livro mais famoso intitulado Philosophiae Naturalis Principia Mathematica. Nessa publicação, Newton classificou as equações de primeira ordem de acordo com as formas ( NEWTON, 2011) 𝑑𝑦 𝑑𝑥 = 𝑓 𝑥 , (1) 𝑑𝑦 𝑑𝑥 = 𝑓 𝑦 , (2) 𝑑𝑦 𝑑𝑥 = 𝑓 𝑥, 𝑦 . (3) Leibniz, nascido em Leipzing na Alemanha, chegou à mesma formulação para o Cálculo Diferencial e Integral de forma independente e foi o primeiro a publicá-los, em 1684. A notação atual de derivada e integral são devidas a ele. Foi Leibniz o responsável em desenvolver o método de separação de variáveis no ano de 1691, a redução de equações homogêneas a equações separáveis em 1691 e o procedimento para resolver equações lineares de primeira ordem em 1694 (BOYCE e DIPRIMA, 2010). Outros importantes matemáticos que contribuíram muito para o desenvolvimento de métodos para resolução de Equações Diferenciais foram Jakob Bernoulli (1654-1705) e Johann Bernoulli (1667-1748) nascidos em Basel, onde mais tarde tornaram-se professores de matemática (Jakob em 1687 e Johann em 1705). Aumentaram o campo de aplicação das Equações Diferenciais, resolvendo diversos problemas em Mecânica (BOYCE e DIPRIMA, 2010). Jakob foi o primeiro autor da palavra “integral” no sentido moderno. Já Johann tornou-se professor de matemática em 1705 e teve vários discípulos, dentre eles seu filho Daniel Bernoulli (1700-1782) o qual integrou a Academia de São Pertersburgo, seguindo a área do pai e focando principalmente nas Equações Diferenciais Parciais e suas aplicações, 20 ficando seu nome associado as Equações de Bernoulli em Mecânica dos Fluidos. Tais equações são da forma 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒, (4) sendo utilizadas para modelar o regime permanente incompressível e não viscoso de um fluido ao longo de um conduto, sendo as variáveis : P relacionada a pressão, 𝜌 densidade volumétrica, 𝑉 o volume, 𝑔 a gravidade e 𝑧 a altura (McDONALD e PRITCHARD). Outro matemático que contribuiu na área das Equações Diferenciais foi Leonhard Euler, discípulo de Johann Bernoulli. Euler foi um grande contribuinte no século XVIII para o estudo do Cálculo Das Variações, do qual originou o conjunto de Equações Diferenciais 𝜕𝑓 𝜕𝑦 − 𝑑 𝑑𝑥 𝜕𝑓 𝜕𝑦 = 0. (5) O conjunto de Equações Diferenciais mostradas na expressão (5) decorre do principio da Ação Mínima (conhecido como princípio de Halmiton) e são denominadas Equações de Euler-Lagrange, as quais decorrem da condição do entorno para o funcional 𝐼 𝑦 = 𝑓( 𝑦 𝑥 , 𝑦′ 𝑥 , 𝑥 𝑑𝑥, 𝑏 𝑎 (6) o qual pode ser mínimo ou máximo, dependendo do problema a ser tratado (NETO, 2011). Segundo Boyce, Euler desenvolveu a teoria dos fatores integrantes, identificou a condição para que as equações diferenciais de primeira ordem sejam exatas e encontrou a solução geral para equações lineares homogêneas com coeficientes constantes em 1743. Em torno de 1750, o mesmofez o uso de séries de potência para resolver equações diferenciais, além de contribuir com o desenvolvimento das equações diferenciais parciais, dando o primeiro tratamento sistemático do cálculo de variações, dentre outras contribuições (BOYER, 1993). Muitos outros matemáticos escreveram seu nome na historia das equações diferenciais. Joseph-Louis Lagrange (1736-1813) mostrou a solução geral de uma equação de ordem n é uma combinação linear com n soluções independentes bem como desenvolveu tudo sobre o método de variação dos parâmetros (BOYCE e DIPRIMA, 2010). Pierre-Simon de Laplace (1749-1827), embora também tenha sido importante no estudo da mecânica celeste, ficou popularmente conhecido pela formulação das Transformadas de Laplace (método útil na resolução de equações diferenciais). As equações de Laplace são fundamentais no ramo da Física Matemática, tendo o mesmo a estudado e 21 aprimorado o método de maneira exaustiva. Importante lembrar que a Transformada de Laplace teve sua aplicação encontrada em manuscritos bem antes do próprio Laplace, nos trabalhos de Euler (BOYCE e DIPRIMA, 2010). As equações diferenciais têm aplicações importantes em diversas áreas como Biologia, Física, Economia e Ciências Sociais. Tais áreas utilizam-se das Equações Diferenciais para análise de processos para modelagem de algum fenômeno o qual estejam estudando, embora nem sempre seja possível encontrar uma fórmula explícita para resolução de uma Equação Diferencial (STEWART, 2007). Os usos das equações diferenciais estão presentes em muitos problemas reais, tais como, crescimento populacional, movimento de um pêndulo, propagação de doenças, movimento de corpos celestes, circuitos elétricos, corpos em movimento harmônico simples, dentre outros (SIMÕES, 2014). Para uma melhor exposição dessa monografia, apresentaremos um breve panorama da mesma. No Capítulo 2, serão apresentados os objetivos deste trabalho. No Capítulo 3, será apresentada a revisão teórica deste trabalho onde serão definidos os diferentes tipos de equações diferenciais bem como alguns métodos para o tratamento das mesmas. O Capítulo 4 tratará das aplicações propostas neste trabalho. Na seção 4.1 será apresentado o Modelo de Malthus e sua aplicação para as cidades de Janaúba e Mato Verde e, na seção 4.2, a resolução do Oscilador Harmônico Quântico, a partir da Equação Diferencial de Hermite, definindo os Polinômios de Hermite e suas propriedades, tais como função geratriz, Fórmula de Rodrigues e a relação de ortogonalidade dos polinômios. Já no Capítulo 5 será apresentada uma breve conclusão sobre o trabalho desenvolvido. 22 23 2. /OBLETIVOS 2.1 Objetivos Gerais Estudar e compreender aspectos gerais sobre Equações Diferenciais bem como diferentes métodos de solução e sua aplicação em diferentes sistemas. 2.2 Objetivos Específicos Estudar o Método de Frobenius para resolução de equações diferenciais; Estudar o Modelo de Malthus para estimar crescimento populacional atual (baseado em estimativas passadas) e futuro das cidades de Janaúba-MG e Mato Verde-MG; Estudar o problema do Oscilador Harmônico Quântico a partir das Equações Diferenciais; Partindo da análise do problema do Oscilador Harmônico Quântico, estudar e analisar as equações de Hermite, definindo os polinômios homônimos e algumas de suas propriedades como, por exemplo, as propriedades de ortogonalidade, relações de recorrência entre os polinômios e a função geratriz dos mesmos. 24 25 3 REVISÃO TEÓRICA 3.1 Definições A partir de um dado contexto uma variável pode assumir duas condições: Ela pode ser uma variável independente ou dependente. Uma variável é chamada de independente quando ela pode apresentar qualquer valor sem depender de outra variável. Por exemplo, dada uma 𝐹(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡, ), as variáveis 𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡, são variáveis independentes. A representação do conjunto de variáveis independentes é dada pela notação {x}, onde 𝑥 é uma variável do problema. Já para que uma variável seja dependente ela deve depender de alguma outra ou outras variáveis. Pode ser dito também que essa variável é uma função das variáveis a qual ela depende. Como exemplos de variáveis dependentes têm-se 𝑦(𝑥), 𝑧(𝑥, 𝑦), 𝑦(𝑥, 𝑡, 𝑧), 𝑓(𝑔, ), 𝑥(𝑦). Para representar todos os conjuntos de variáveis dependentes usamos a notação {𝑦 𝑥 } (MACHADO, 2004). Uma Equação Diferencial é basicamente uma equação em que as incógnitas são funções e a equação envolve as derivadas dessas funções. Logo as equações 𝑑2𝑦 𝑑𝑥2 + 𝑥𝑦 𝑑𝑦 𝑑𝑥 2 = 0 (7) 𝑑4𝑥 𝑑𝑡4 + 5𝑑2𝑥 𝑑𝑡 ² + 3𝑥 = 𝑐𝑜𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 (8) 𝑑3𝑦 𝑑𝑧3 + 𝑦𝑑2𝑥 𝑑𝑧2 = 𝑙𝑛𝑧 (9) 𝜕𝑣 𝑑𝑠 + 𝜕𝑣 𝜕𝑡 = 𝑣 (10) 𝜕2𝑢 𝜕𝑥2 − 𝜕2𝑣 𝜕𝑥2 + 𝜕𝑣 𝜕𝑦 3 + 𝜕𝑢 𝜕𝑦 = 0 (11) são exemplos de Equações Diferenciais (MACHADO, 2004). 26 Como se pode notar nas equações (7) a (11), existem equações diferenciais de vários tipos, que são classificadas de acordo com os critérios pré- estabelecidos (primeira ordem, segunda ordem, terceira ordem, homogênea, não homogênea, etc.) (MACHADO, 2004). Quando uma equação diferencial baseia-se na derivada de uma ou mais variáveis dependentes em relação a uma variável independente apenas, é chamada Equação Diferencial Ordinária (EDO). São exemplos de Equações Diferencias Ordinárias as equações (7), (8) e (9). Se uma equação diferencial baseia-se na derivada de uma ou mais variáveis dependentes em relação a mais de uma variável independente a mesma é chamada Equação Diferencial Parcial (EDP). São exemplos de Equações Diferenciais Parciais as equações (10) e (11) (MACHADO, 2004). Por definição a derivada de maior ordem na equação diferencial dita a ordem da equação. Logo as equações (7) e (11) são de segunda ordem, a equação (8) de quarta ordem, a equação (9) de terceira ordem e a equação (10) de primeira ordem (ZILL e CULLEN, 2001). As equações diferenciais podem ainda ser classificadas quanto a linearidade. Nesse contexto, elas podem ser classificadas em dois tipos: equação linear e não-linear. Uma equação linear pode ser escrita da seguinte forma (ZILL e CULLEN, 2001) 𝑎𝑛 𝑥 𝑑” 𝑦 𝑑𝑥𝑛 + 𝑎𝑛−1 𝑥 𝑑 𝑛−1𝑦 𝑑𝑥𝑛−1 + ⋯ + 𝑎1 𝑥 𝑑𝑦 𝑑𝑥 + 𝑎0 𝑥 𝑦 = 𝑔(𝑥). (12) Analisando a equação (12), podemos observar as seguintes propriedades: A variável dependente 𝑦 e todas as suas derivadas são do primeiro grau, isto é, potência de cada termo envolvendo 𝑦 é 1. Cada coeficiente 𝑎𝑗 𝑥 com 𝑗 = 0, 1, 2, … , 𝑛 depende apenas da variável 𝑥. Quando uma equação não segue as propriedades acima ela é classificada não- linear. Como exemplo de equação não-linear tem-se as equações (9) e (11) (ZILL e CULLEN, 2001). 27 3.2 Importância das Equações Diferenciais As equações diferenciais são muito importantes não só do ponto de vista matemático mas também do ponto de vista físico, uma vez que as mesmas são usadas para modelar determinados fenômenos, descrevendo os primeiramente na forma qualitativa e posteriormentede forma quantitativa (MACHADO, 2004). Em termos das soluções, as equações diferenciais podem ser classificadas como explicitas ou implícitas. A solução explícita de uma equação diferencial consiste de uma função 𝑦 = 𝑓 𝑥 do conjunto das variáveis independentes, a qual, e transformada em uma igualdade quando é substituída na equação diferencial. Como um exemplo, vamos analisar a equação diferencial ordinária 𝑑𝑥 𝑑𝑡 = 2𝑥. (14) Sua solução explícita e dada por 𝑥 𝑡 = 𝐶𝑒2𝑡 (15) em que 𝐶e uma constante Real, se substituirmos 𝑥 𝑡 dada pela equação (15) na equação (14) teremos, 𝑑𝑥 𝑑𝑡 = 2𝑥 (16) 𝑑 𝑑𝑡 𝑐𝑒2𝑡 = 2 𝑐𝑒2𝑡 (17) 2𝑐𝑒2𝑡 = 2𝑐𝑒2𝑡 , (18) onde na equação (15) 𝑐 e uma constante a ser determinada pelas condições iniciais do problema que se quer tratar. (MACHADO, 2004). A solução implícita de uma equação diferencial e dada por 𝑔({𝑦}, {𝑥}) do conjunto das variáveis dependentes e independentes, a qual reproduz a equação diferencial inicial através das derivações implícitas. Como exemplo, tomemos a seguinte função 𝑓 𝑥, 𝑦 = 𝑥2 + 𝑦2 − 25 = 0 (19) a qual é uma solução implícita da equação diferencial 𝑥 + 𝑦 𝑑𝑦 𝑑𝑥 = 0. (20) Tomando-se a derivada implícita de 𝑓 𝑥, 𝑦 dada na equação (20), temos 𝑑 𝑑𝑥 𝑓 𝑥, 𝑦 = 𝑑 𝑑𝑥 𝑥2 + 𝑦2 − 25 = 0 (21) 28 2𝑥 + 2𝑦 𝑑𝑦 𝑑𝑥 = 0 (22) 𝑥 + 𝑦 𝑑𝑦 𝑑𝑥 = 0. (23) Como queríamos demonstrar, a equação (19) é de fato uma solução implícita da equação (20), como pode ser visto da equação (23) (MACHADO, 2004). 3.3 Problema de valor inicial Em inúmeras situações para a descrição de um determinado fenômeno, além da Equação Diferencial precisamos determinar certas condições iniciam previamente estabelecidas. As condições iniciais são relativas à função incógnita e suas derivadas dadas para o mesmo valor da variável independente (SIMÕES, 2014). O problema de valor inicial (PVI) ou problema de Cauchy pode ser definido pelas equações (SIMÕES, 2014) 𝐹(𝑡, 𝑥, 𝑥 ′ , 𝑥", … , 𝑥𝑛 ) = 𝑔(𝑡) (24) 𝑥 𝑡0 = 𝑥0, 𝑥 ′ 𝑡0 = 𝑥1 , …, 𝑥 𝑛−1 𝑡0 = 𝑥𝑛−1. (25) O objetivo neste tipo de problema é encontrar a solução da equação diferencial que satisfaça o conjunto de condições iniciais num dado instante 𝑡0 (SIMÔES, 2014). 3.4 Condições de contorno Alguns fenômenos descritos por equação diferenciais podem apresentar o que chamamos de condições de contorno. Como exemplo, tomemos um corpo em queda livre. O movimento do mesmo é descrito pela equação diferencial (MACHADO, 2004) 𝑑2𝑦 𝑑𝑡2 = −𝑔 (26) com as seguintes condições iniciais 𝑦 0 = 𝑦0 (27) e 29 𝑦 2 = 𝑦2 (28) Assim possuímos um problema de condições de contorno, aplicadas para instantes de tempo de 𝑡 = 0 e 𝑡 = 2. Problemas com condições de contorno nem sempre possuem soluções, mesmo se a equação sozinha, sem o uso da condição de contorno, possuir uma solução. A solução esta vinculada do tipo de condição de contorno ao qual o problema este vinculado (MACHADO, 2004). 3.5 Equações Separáveis Equações Separáveis decorrem de uma equação diferencial de primeira ordem na qual dy/dx pode ser fatorada como uma função de 𝑥 vezes uma função de y. Algebricamente ela se apresenta da forma (STEWART, 2007) 𝑑𝑦 𝑑𝑥 = 𝑔 𝑥 𝑓 𝑦 . (29) O nome separável é devido o fato de a expressão à direita poder ser separada como uma função de x e uma função de y. Sendo assim, se 𝑓(𝑦) ≠ 0, temos 𝑑𝑦 𝑑𝑥 = 𝑔 𝑥 𝑦 (30) onde 𝑦 =1/f (y). Para sua resolução, reescrevemos a equação (30) na forma 𝑦 𝑑𝑦 = 𝑔 𝑥 𝑑𝑥 (31) onde a equação (31) define y implicitamente como uma função de x (STEWART, 2007). Para o melhor entendimento da resolução pelo método de variáveis separáveis vamos analisar o seguinte exemplo (BIDURIN e GELFUSO, 2015) Seja a equação diferencial 𝑑𝑦 𝑑𝑥 = 𝑥. (32) Nesta equação diferencial, temos uma função que depende apenas da variável 𝑥. Assim é simples isolar de um lado da igualdade os termos associados a y e do outro lado os termos associados apenas a variável x. Dessa maneira tem-se que 30 𝑑𝑦 𝑑𝑥 = 𝑥 → 𝑑𝑦 = 𝑥 𝑑𝑥. (33) Como cada lado é dependente apenas de uma variável, facilmente conseguimos encontrar sua solução geral integrando ambos os lados da equação, da forma: 𝑑𝑦 = 𝑥 𝑑𝑥 (34) 𝑦 + 𝑐1 = 𝑥 1 2 𝑑𝑥 (35) 𝑦 + 𝑐1 = 2 3 𝑥 3 2 + 𝑐2 (36) 𝑦 + 𝑐1 = 2 3 𝑥3 + 𝑐2 (37) 𝑦 = 2 3 𝑥3 + 𝑐2 − 𝑐1. (38) Como 𝑐1 e 𝑐2 são constantes de valor qualquer, podemos redefini-la como uma nova constante 𝑐2 − 𝑐1 = 𝑐, de modo que a solução geral é 𝑦 = 2 3 𝑥3 + 𝑐. (39) 3.6 Equações Diferencias Parciais Como apresentado na seção 3.1, vamos entender como resolver uma EDP. Para isso vamos tomar como exemplo a equação de Schrödinger que aparece naturalmente na modelagem de problemas em Mecânica Quântica. A função 𝜓(𝑥, 𝑡), a qual descreve o estado de uma partícula em um sistema quântico, é solução da equação de Schrödinger dependente do tempo dada pela expressão 𝑖ℏ 𝑑𝜓 𝑑𝑡 = − ℏ2 2𝑚 𝑑2𝜓 𝑑𝑥2 + 𝑉𝜓. (40) Onde as variável 𝑚 representa a massa, 𝑉 o potencial, ℏ a constante de Planck e 𝑖 numeros complexos. O próximo passo consiste em procurar por uma solução para EDP dada pela equação (40). Como a função𝜓 𝑥, 𝑡 depende de duas variáveis, o método da 31 separação de variáveis se torna útil para resolução da EDP dada pela equação (40), pois podemos observar da equação (40) que a mesma toma as derivadas tanto da posição quanto do tempo para 𝜓 𝑥, 𝑡 . Logo, seria natural procurar uma solução para 𝜓 𝑥, 𝑡 que possa ser descrita como uma combinação de uma função somente de 𝑥 e outra função somente de 𝑡. Assim, vamos escrever a solução como um produto de duas soluções independentes da forma 𝜓 𝑥, 𝑡 = 𝑔 𝑥 𝑓 𝑡 , (41) onde 𝜓 é uma função somente da variável 𝑥, e 𝑓 é uma função somente da variável 𝑡. Aplicando a solução dada pela equação (41) na equação de Schrödinger independente do tempo dada pela expressão (40) teremos (GRIFFITHS, 1994). Parte temporal: 𝜕𝜓 𝜕𝑡 = 𝜓 𝑑𝑓 𝑑𝑡 . (42) Parte espacial: 𝜕2𝜓 𝜕𝑥2 = 𝑑2𝜓 𝑑𝑥2 𝑓. (43) Substituindo as expressões (42) e (43) na equação de Schrödinger independente do tempo dada pela expressão (40), teremos que 𝑖ℏ𝜓 𝑑𝑓 𝑑𝑡 = − 2 2𝑚 𝑑2𝜓 𝑑𝑥2 𝑓 + 𝑉𝜓𝑓. (44) Agora, dividindo a equação (44) pela solução dada pela equação (41), obtemos que 𝑖ℏ 1 𝑓 𝑑𝑓 𝑑𝑡 = − ℏ2 2𝑚𝜓 𝑑2𝜓 𝑑𝑥2 + 𝑉. (45) Pode-se observar que na expressão (45), o lado esquerdo é uma função somente de 𝑡 e o lado direito é descrito em termo de uma função somente de 𝑥 lado. Isso será verdade se, e somente, ambos forem iguais a uma constante. Escolhendo essa constante como 𝐸, temos que igualando a mesma ao lado esquerdo da equação, teremos (GRIFFITHS, 1994) 𝑖ℏ 1 𝑓 𝑑𝑓 𝑑𝑡 = 𝐸, (46) 32 Vemos que a equação (46) é uma Equação Diferencial Ordinária, cujo método de solução já conhecemos. Assim, resolvendo a equação teremos que 𝑑𝑓 𝑑𝑡 = − 𝑖𝐸 ℏ 𝑓 (47) 𝑑𝑓 𝑓 = − 𝑖𝐸 ℏ 𝑑𝑡 → 𝑑𝑓 𝑓 = − 𝑖𝐸 𝑑𝑡. (48) Logo, integrando ambos os lados expressão (48) ter-se-á o resultado 𝑓 𝑡 = 𝑐𝑒 −𝑖𝐸𝑡 ℏ . (49) Já para o lado direito da equação (45), teremos a seguinte expressão − ℏ2 2𝑚𝜓 𝑑2𝜓 𝑑𝑥2 + 𝑉 = 𝐸. (50) Multiplicando a expressão (50) por 𝜓 teremos que − ℏ2 2𝑚 𝑑2𝜓 𝑑𝑥2 + 𝑉 𝜓 = 𝐸 (51) Onde 𝑉 𝜓 dado na expressão (51) é o potencial ao qual a partícula fica submetida que dependerá do problema a ser estudado. Através do exemplo, onde se desenvolveu o método de resolução para a equação de Schrödinger, transformou-se uma Equação Diferencial Parcial que, a princípio não saberíamos resolver em duas equações diferenciais ordinárias, a qual se conhece bem a forma de resolução. Assim a solução geral dada pela expressão (41) fica da forma 𝜓 𝑥, 𝑡 = 𝑐𝑒 −𝑖𝐸𝑡 ℏ 𝜓 𝑥 , (52) com 𝜓(𝑥) a ser definida pela solução da equação diferencial dada em (51). 33 3.7 Equações Diferenciais Homogêneas Para considerarmos o conceito de equação diferencial homogênea e a sua solução, precisamos primeiramente conhecer de perto a natureza de uma função homogênea, a qual e dada pela definição: Se 𝑓 é uma função que satisfaz 𝑓 𝑡𝑥, 𝑡𝑦 = 𝑡𝑛𝑓(𝑥, 𝑦) para algum número real 𝑛, então podemos dizer que 𝑓 e uma função homogênea de grau 𝑛 (ZILL & CULLEN, 2001). Como exemplo de uma equação tomemos 𝑓 𝑥, 𝑦 = 𝑥2 − 3𝑥𝑦 + 𝑦2 . (53) A equação (53) pode ser escrita na forma 𝑓 𝑡𝑥, 𝑡𝑦 = 𝑡𝑥 2 − 3 𝑡𝑥 𝑡𝑦 + 𝑡𝑦 2 (54) = 𝑡2𝑥2 − 3𝑡2𝑥𝑦 + 𝑡2𝑦2 (55) = 𝑡2 = 𝑥2 − 3𝑥𝑦 + 𝑦2 𝑡2𝑓 𝑥, 𝑦 . (56) A partir da definição dada expressão (56) nota-se que a equação (53) é uma função homogênea de grau dois (ZILL & CULLEN, 2001). Com o conceito de função homogênea colocado, podemos agora definir uma equação homogênea: Uma equação diferencial da forma 𝑀 𝑥, 𝑦 𝑑𝑥 + 𝑁 𝑥, 𝑦 𝑑𝑦 = 0 é dita homogênea se ambos os coeficientes 𝑀e 𝑁 são funções homogêneas de mesmo grau (ZILL & CULLEN, 2001). A equação diferencial homogênea 𝑀 𝑥, 𝑦 𝑑𝑥 + 𝑁 𝑥, 𝑦 𝑑𝑦 = 0 (57) pode ser resolvida por substituição algébrica, especificamente, substituindo 𝑦 = 𝑢𝑥 ou 𝑥 = 𝑣𝑦 na equação (57) de forma que 𝑢 e 𝑣 são agora as novas variáveis independentes. Isso transformará a equação (57) em uma equação diferencial de primeira ordem separável como vimos no tópico anterior, cuja solução pode ser da forma 𝑦 = 𝑢𝑥. Assim temos que 34 𝑑𝑦 = 𝑢𝑑𝑥 + 𝑥𝑑𝑢. (58) Substituindo os valores encontrados tem-se que 𝑀 𝑥, 𝑢𝑥 𝑑𝑥 + 𝑁 𝑥, 𝑢𝑥 𝑢𝑑𝑥 + 𝑥𝑑𝑢 = 0. (59) Pela propriedade de homogeneidade podemos escrever da equação (59) que 𝑥𝑛𝑀 1, 𝑢 𝑑𝑥 + 𝑥𝑛𝑁 1, 𝑢 𝑢𝑑𝑥 + 𝑥𝑑𝑢 = 0 (60) ou 𝑀 1, 𝑢 + 𝑢𝑁 1, 𝑢 𝑑𝑥 + 𝑥𝑁 1, 𝑢 𝑑𝑢 = 0. (61) Uma vez que 𝑥𝑛 ≠ 0,assim fazendo a divisão da equação (61) por 𝑀 1, 𝑢 + 𝑢𝑁 1, 𝑢 𝑥 teremos: 𝑑𝑥 𝑥 + 𝑁 1,𝑢 𝑑𝑢 𝑀 1,𝑢 +𝑢𝑁 1,𝑢 = 0. (62) A expressão obtida em (62) poderia ser igualmente obtida e tivéssemos substituído 𝑥 = 𝑣𝑦. Qualquer uma leva na expressão separável dada em (62) (ZILL e CULLEN, 2001). 3.8 Série de Potências Para lidar com uma classe muito maior de equações diferenciais é necessário crescer nosso leque de soluções além das funções elementares mais usadas no cálculo. A ferramenta mais interessante e principal que podemos utilizar é a representação da solução de uma equação diferencial descrita uma por uma série de potências. A idéia central consiste em supormos que a solução de uma equação diferencial dada pode ser escrita como uma série de potências, da forma (BOYCE e DIPRIMA, 2010) 𝑦 𝑥 = 𝑎𝑛𝑥 𝑛 .∞𝑛=0 (63) Cujos coeficientes 𝑎𝑛 são obtidos substituindo 𝑦(𝑥) na equação diferencial que se pretende resolver. 35 Uma função 𝑓(𝑥), continua e diferenciável, pode ser escrita em termos de uma série de potências da forma 𝑓 𝑥 = 𝑎0𝑥 0 + 𝑎1𝑥 1 + 𝑎2𝑥² + 𝑎3𝑥³ + ⋯ = 𝑎𝑛𝑥 𝑛 ,∞𝑛=0 (64) onde os coeficientes 𝑎𝑛 são constantesindependentes de 𝑥 (ARFKEN e WEBER, 2005). Um ponto importante a ser colocado aqui é que uma vez que a solução de uma equação diferencial pode ser descrita em termos de uma série de potências, faz se necessário que a série tenha sua convergência assegurada. A equação (64) pode ser testada de imediato para convergência pelo teste da raiz de Cauchy ou pelo teste da razão de d’Alembert (há outras formas de se testar a convergência de uma série mas vamos nos ater a esses dois como exemplos). A convergência de 𝑦(𝑥) e garantida se, e somente se (ARFKEN e WEBER, 2005) lim𝑛→∞ 𝑎𝑛+1 𝑎𝑛 = 𝑅−1 . (65) A série converge para o entorno −𝑅 < 𝑥 < 𝑅, conhecido como raio de convergência. Uma vez que os testes da raiz e da razão falham quando o limite é a unidade, as extremidades do intervalo requerem especial atenção. Por exemplo, Se 𝑎𝑛 = 𝑛 −1, então 𝑅 = 1, a série converge para 𝑥 = −1 mas diverge para 𝑥 = 1. Se 𝑎𝑛= n!, então 𝑅 = 0 e a série diverge para todo 𝑥 ≠ 0. Partindo pelo teste da razão vamos demonstrar para quais valores a série 𝑛! 𝑥𝑛∞𝑛=0 é convergente (STEWART, 2007). Se 𝑥 ≠ 0, teremos lim𝑛→∞ 𝑎𝑛+1 𝑎𝑛 = lim𝑛→∞ 𝑛+1 !𝑥𝑛+1 𝑛 !𝑥𝑛 = lim𝑛→∞ 𝑛 + 1 𝑥 = ∞. (66) Usando o teste da razão, a série será divergente quando 𝑥 > 1, convergente quando 𝑥 < 1 e inconclusivo para 𝑥 = 1 (STEWART, 2007). Como outro exemplo de aplicação do teste da razão vamos descobrir para quais valores de 𝑥 a série dada pela expressão (67) convergirá (STEWART, 2007). A série é dada pela expressão 𝑥−3 𝑛 𝑛 ∞ 𝑛=1 (67) 36 Seja 𝑎𝑛 = 𝑥 − 3 𝑛/𝑛, então 𝑎𝑛+1 𝑎𝑛 = 𝑥−3 𝑛+1 𝑛+1 ∗ 𝑛 𝑥−3 𝑛 = 1 1+ 1 𝑛 𝑥 − 3 → 𝑥 − 3 quando 𝑛 → ∞ (68) Pelo teste da razão pode–se concluir que a série dada pela expressão (68) é absolutamente convergente, e, portanto converge, quando 𝑥 − 3 < 1 e diverge quando 𝑥 − 3 > 1. Agora 𝑥 − 3 < 1 ↔ −1 < 𝑥 − 3 < 1 ↔ 2 < 𝑥 < 4. Assim a série converge quando 2 < 𝑥 < 4 e diverge quando 𝑥 < 2 ou 𝑥 > 4 (STEWART, 2007). 37 4 APLICAÇÕES COM USO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS Muitas das descobertas matemáticas decorreram de tentativas em resolver problemas aplicados, envolvendo cálculo de áreas, cobrança de juros em transações financeiras, cálculo de probabilidades, entre outros. Esta realidade também se aplica as equações diferenciais, pois as mesmas são utilizadas na modelagem de vários tipos de problemas matemáticos (ALITOLEF, 2011). As aplicações das equações diferenciais na área da Física são também de grande importância uma vez que vários problemas são modelados via Equações Diferenciais. Neste tópico vamos trabalhar com duas aplicações das equações diferenciais. A primeira delas será o estudo e a modelagem do Modelo de Malthus, o qual será aplicado na análise do crescimento populacional dos municípios de Janaúba e Mato Verde, ambos os municípios localizados na região norte do estado de Minas gerais. Como uma segunda aplicação, estudaremos e modelaremos o problema do Oscilador Harmônico Quântico, o qual é resolvido via Equações Diferenciais de Hermite, bem como analisar algumas propriedades das soluções dessa equação. 4.1 Crescimento e decrescimento Populacional (Modelo de Malthus) Malthus é conhecido por sua formulação a respeito do futuro da humanidade, quanto ao crescimento populacional. Sua teoria baseava-se nas seguintes ideias (DANTAS et al, 2011) Se não houvesse guerras, epidemias, desastres naturais, entre outros, a população tenderia a duplicar-se a cada 25 anos. Portanto, ela cresceria em progressão geométrica (2, 4, 8, 16, 32...) assim cresceria sem parar. E outras palavras constituiria uma fator variável. O crescimento da proposição de alimentos acorreria em progressão aritmética (2, 4, 6, 8, 10...) e haveria um limite de produção, por depender de um fator fixo: o próprio limite territorial dos continentes. De acordo com Malthus, pessoas deveriam ter filhos somente quando estas tivessem terras cultiváveis para sustentá-los. Mas como podemos ver hoje, as teorias de Malthus não se concretizaram, pois a população dobra a cada 50 anos, e o cultivo de alimentos e mais que suficiente para alimentar a população. O motivo das pessoas passarem 38 fome não é a quantidade de pessoas no planeta, mas outros fatores não relacionados a esta pesquisa. Porém essas teorias deram base ao modelo de crescimento e decrescimento populacional ou Modelo de Malthus, o qual será modelado da forma a seguir (ALITOLEF, 2011). Seja 𝑃 uma população qualquer e 𝑡 o tempo, onde a razão entre a variação da população 𝑃 e a variação do tempo (𝑡) é proporcional à população atual. Algebricamente, essa proposição é modelada pela equação diferencial (ALITOLEF, 2011). 𝑑𝑃 𝑑𝑡 = 𝑘𝑃, (69) onde k e uma constante. Assim, pode-se observar que se k é uma constante positiva a população crescerá (lei do crescimento natural) e se k for uma constante negativa a população diminuirá (lei do decrescimento, lembrando que ela pode diminuir mas sem nunca alcançar o zero). (STEWART, 2007). Assim o modelo de Malthus pode ser empregado para o estudo de vários fenômenos diferentes. Manipulando a equação (69) temos: 𝑑𝑃 = 𝑘𝑃𝑑𝑡. (70) Utilizando o conceito de separação de variáveis e integrando a equação (70), temos: 𝑑𝑃 𝑃 = 𝑘𝑑𝑡 (71) ln 𝑃 + 𝑙𝑛𝐶2 = 𝑘𝑡 + 𝑙𝑛𝐶1, (72) onde 𝐶1e 𝐶2 são constantes arbitrárias, logo: ln 𝑃 = 𝑘𝑡 + 𝑙𝑛𝐶, (73) onde 𝑙𝑛𝐶 = 𝑙𝑛𝐶1 − 𝑙𝑛𝐶2. Colocando os dois lados na base 𝑒, tem-se: 𝑒 ln|𝑃| = 𝐶𝑒𝑘𝑡 . (74) Da expressão (74) obtém-se que 𝑃(𝑡) fica descrito como 𝑃(𝑡) = 𝐶𝑒𝑘𝑡 (75) 39 onde renomeando a constante 𝐶 pela constante 𝑃0. Logo, a expressão (80) adquire o formato final 𝑃 𝑡 = 𝑃0𝑒 𝑘𝑡 , (76) Onde, na equação (76) 𝑃0 é a população inicial. 4.1.1 Aplicação do modelo de Crescimento e Decrescimento Populacional para as cidades de Janaúba e Mato Verde, localizadas na região norte do estado de Minas Gerais Visando a aplicação das Equações Diferencias buscamos contextualizá-la em um estudo formal. Analisamos os dados populacionais registrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, nos anos de 2000, 2007 e 2010 para as cidades de Janaúba e 2007, 2010 e 2016 para a cidade de Mato Verde, ambas situadas no norte de Minas Gerais. Podemos ressaltar que os dados de 2007 são da contagem populacional e os de 2000 e 2010 são do censo demográfico, ou seja, dados bem próximos da população real que ali residiam. Já os dados de 2016 para Mato Verde são uma estimativa, logo podem não ser valores exatos. Outro ponto a ser observado são acontecimentos extraordinários como a alocação de indústrias ou algunsfenômenos naturais, os quais podem fazer com que a população de uma dada região tenha crescimento ou decrescimento (maior ou menor) que o testado no modelo. 4.1.1.1 Aplicação do Modelo para o Município de Janaúba-MG Para aplicação do modelo será considerado primeiramente os dados da cidade de Janaúba-MG a qual segundo dados do IBGE (2017) possui área territorial de 2.181,319 km². Foram usados para isso os anos de 2000 e 2007 e os cálculos foram feitos inicialmente para verificar se o crescimento desse período iria condizer com a população no ano de 2010. Segundo o IBGE (2017) a população de Janaúba no ano 2000 era de 61.651 habitantes e em 2007 era de 65.387. Se considerarmos 2000 como tempo 𝑡 = 0 e a população inicial de 61651 habitantes, podemos aplicar o modelo da seguinte forma: 40 𝑃 𝑡 = 61651𝑒𝑘𝑡 . (77) Considerando 𝑡 = 7 para o ano de 2007, teremos que 𝑃 𝑡 = 7 = 65387. Logo, a equação (75) fica descrita da forma 65387 = 61651𝑒7𝑘 . (78) Isolando a exponencial na expressão (78) e aplicando o logaritmo neperiano em ambos os lados da equação, temos 𝑒7𝑘 = 65387 61651 (79) 𝑙𝑛 𝑒7𝑘 = ln 65387 61651 . (80) Logo 7𝑘 = 0,058834011. (81) Do resultado da expressão (81), obtemos o valor da constante 𝑘 = 0,0084. Assim podemos concluir que a função que representa a população da cidade de Janaúba como função do tempo será da forma: 𝑃 𝑡 = 61651𝑒0,0084𝑡 . (82) Como consideramos o ano de 2000 como 𝑡 = 0 e o ano de 2007 𝑡 = 7 então o ano de 2010 será considerado 𝑡 = 10, assim 𝑃 = 61651𝑒0,0084∗10 . (83) Logo 𝑃 10 = 67053 habitantes. .Dessa forma, podemos observar que em 2010, de acordo com o modelo de Malthus a população de Janaúba seria de 67053 habitantes. Por outro lado segundo o senso Demográfico de 2010 a população da mesma foi de 66803 habitantes, dando uma diferença de 250 habitantes ou em termos porcentuais de 0,37% entre os dados fornecidos pelo modelo e os dados fornecidos pelo IBGE. Para melhor demonstração desses dados podemos observar o gráfico da (figura 1), onde a linha laranja representa o crescimento populacional de acordo com os dados do 41 IBGE para cidade de Janaúba, e a linha verde representa a estimativa do Modelo de Malthus para a mesma. Figura 1- Gráfico representativo para os dados do IBGE e estimativa de Malthus para a cidade de Janauba MG Fonte: Autor. Baseado no modelo apresentado que representa o crescimento populacional na cidade de Janaúba, faremos uma estimativa para ano de 2020. Nessa estimativa, o ano 2000 será tempo inicial (𝑡 = 0) e o ano de 2020 será o tempo final (𝑡 = 20). Aplicando os dados na equação (82) temos: 𝑃 20 = 61651𝑒0,0084∗20 (84) Logo 𝑃 20 = 72929 habitantes. Sendo assim, é possível estimar a população de Janaúba no ano de 2020, em 72929 habitantes. Na próxima seção, aplicaremos o mesmo modelo para a o município de Mato Verde-MG. 42 4.1.1.2 Aplicando o Modelo para o Município Mato Verde-MG O município de Mato Verde-MG segundo dados do IBGE (2017) possui território de 472, 245 km², sendo bem diversificada quando se olha do aspecto de biomas, sendo uma mistura de Cerrado, Catinga e Mata Atlântica. O município localiza-se no norte de Minas Gerais, as margens da BR 122. De acordo com dados do IBGE (2017), no ano 2007 a população de Mato Verde- MG era de 12.666 habitantes e em 2010 a população passou a ser de 12.684 habitantes. Vamos aplicar o modelo de Malthus para estimar a população da cidade para o ano de 2016 e comparar com a estimativa do IBGE do mesmo ano. Para fazer o uso do modelo de Malthus vamos considerar 2007 o tempo 𝑡 = 0 e 𝑃0 = 12666, logo 𝑃 𝑡 = 12666𝑒𝑘𝑡 . (85) Para o ano de 2010 o tempo será 𝑡 = 3 e 𝑃 = 12684, assim 12684 = 12666𝑒3𝑘 → 𝑒3𝑘 = 12684 12666 . (86) Aplicando o logaritmo neperiano em ambos os lados da equação (86) e fazendo o isolamento da constante k temos: ln 𝑒3𝑘 = ln 12684 12666 . (87) Da expressão (87), conclui-se que o valor de 𝑘 = 0,00047. Assim podemos expressar o crescimento populacional da cidade de Mato Verde da seguinte forma 𝑃 = 12666𝑒0,00047 𝑡 . (88) Considerando o ano 2016, teremos 𝑡 = 9. Então teremos que 𝑃 = 12666𝑒0,00047∗9 (89) Dessa forma, podemos concluir que em 2016 de acordo com o modelo de Malthus, a população de Mato Verde estava com o quantitativo de 12.719 habitantes. Por outro lado segundo a estimativa do IBGE (2017), em 2016 a população foi de 12871 43 habitantes, mostrando uma diferença entre o previsto pelo modelo e o medido pelo IBGE de 152 habitantes ou um porcentual de 1,18% em comparação. Para melhor demonstração desses dados podemos observar o gráfico da (figura 2), onde a linha laranja representa o crescimento populacional de acordo com os dados do IBGE para cidade de Mato Verde, e a linha verde representa a estimativa do Modelo de Malthus para a mesma. Figura 2- Gráfico representativo para os dados do IBGE e estimativa de Malthus para a cidade de Mato Verde MG Fonte: Autor. Conforme o modelo de Malthus, a população cresce na forma de Progressão Geométrica, acompanhando uma Determinada taxa. Logo se pode prever em qual época a população de um determinado local irá dobrar. Algebricamente significa mostrar que, para uma dada população inicia 𝑃 0 , a população dobrará quando 𝑃 = 2 ∗ 𝑃 0 (ALITOLEF, 2011). Se colocarmos esses dados na equação (88) que representa o modelo populacional de Mato Verde pode-se descobrir em quanto tempo sua população do ano 2007 que é nosso ano inicial se duplicará. Teremos que 2𝑃0 = 𝑃0𝑒 0,00047 𝑡 . (90) 44 Dividindo os membros da equação (90) por 𝑃0 tem-se 𝑒0,00047 𝑡 = 2. (91) Aplicando o logaritmo neperiano em ambos os lados da equação (80) e isolando 𝑡 temos 0,00047𝑡 = ln 2 (92) 𝑡 = 0,69314718 0,00047 , (93) o que nós da 𝑡 = 1474,78 anos. Assim, baseado no modelo de Malthus, a população do município de Mato Verde terá seu dobro aproximadamente no ano de 2007 + 1474,78 ≈ 3482. 4.2 Oscilador Harmônico Quântico O estudo do Oscilador Harmônico faz se necessário, tendo em vista tamanha utilidade de suas aplicações. A maioria dos sistemas físicos podem ser modelados via Oscilador Harmônico, desde tais sistemas apresentem pequenas oscilações em torno da posição de equilíbrio. Dessa forma a aproximação de um determinado sistema via Oscilador Harmônicopodem ser aplicadas em problemas que envolvem cinética de moléculas estáveis, vibrações em estrutura cristalinas, oscilações em cavidades ópticas, oscilações torcionais de moléculas, etc. (COHEN-TANNOUDJI et al., 1977). Quando falamos de oscilador harmônico clássico, logo vem a idéia de uma massa 𝑚 ligada a uma mola de constante elástica 𝑘, como pode ser visto na (Figura 3). Figura 3- Oscilado Harmônico Fonte: MUNDO EDUCAÇÃO 45 Essa visão do oscilador harmônico nos é apresentada desde quando começa-se a freqüentar os cursos de Física Básica na graduação. No curso de Física 1 (Fenômenos Mecânicos), o primeiro modelo baseado na idéia do oscilador harmônico que é apresentado é o pêndulo simples o qual consiste numa massa presa na ponta de um corda o qual pode oscilar livremente em torno de um ponto de equilíbrio. Para pequenas oscilações em torno da posição de equilíbrio, tal problema pode ser modelado via oscilador harmônico. O Oscilador Harmônico está sujeito a um potencial do tipo 1 2 𝑘𝑥², ou seja, o potencial é parabólico. O ponto principal é que apesar de não termos um oscilador perfeito, qualquer potencial pode ser aproximadamente parabólico em torno de um mínimo local. Se aproximarmos o potencial 𝑉(𝑥) em uma serie de Taylor em torno de um mínimo como na (figura 4) teremos Figura 4- Aproximação parabólica (curva tracejada) para um potencial arbitrário, em um ponto de mínimo local. Fonte: GRIFFITHS, 1994. na vizinhança de um ponto 𝑥 = 𝑎: 𝑉 𝑥 = 𝑉 𝑎 + 𝑉 ′ 𝑎 𝑥 − 𝑎 + 1 2 𝑉 ′′ 𝑎 𝑥 − 𝑎 2 + ⋯ (94) Para que 𝑉 𝑥 tenha um mínimo em 𝑥 = 𝑎, teremos que 𝑉 ′ 𝑎 = 0. Deslocando- se, então a origem para a posição em que 𝑉 𝑎 = 0, temos que a primeira contribuição não nula de 𝑉 𝑥 será (NETO, 2011) 46 𝑉 𝑥 = 1 2 𝑉 ′′ 𝑎 𝑥 − 𝑎 2 + ⋯ (95) a qual representa de fato, o potencial parabólico que descreve oscilador harmônico em torno do mínimo 𝑥 = 𝑎. A quantidade 𝑉 ′′ (𝑎)/𝑚, será positiva uma vez que 𝑉 𝑥 é mínimo em 𝑥 = 𝑎 comparamos, com a expressão para o porcentual do oscilador que 𝑉"(𝑎) representa a constante elástica da mola. Deve-se observar que chegamos a essa conclusão sem conhecer a forma explicita da função 𝑉 𝑥 . Este resultado é a razão de muitas figuras representando a interação entre os átomos de uma molécula sendo modeladas como partículas ligadas por uma pequena mola. Um exemplo de tal representação pode ser visto na (Figura 5) ( NETO, 2011). Figura 5(a) – Molécula formada por dois átomos diferentes de massa 𝑚1 e 𝑚2 e separados por uma distância 𝑟 além de suas posições de equilíbrio e (b) o modelo mecânico correspondente. (a) (b) Fonte: Silva, (2006). Em analogia com a versão clássica, a versão quântica para o oscilador harmônico resume-se a resolver a equação de Schrödinger para uma partícula de massa 𝑚, movendo-se ao longo do eixo 𝑥, sujeita à energia potencial 1 2 𝑚𝜔2𝑥2 (vamos considerar aqui o caso unidimensional por simplicidade) ( NETO, 2011). A equação de Schrödinger independente do tempo para esse este sistema é dada pela expressão − ℏ²𝑑2𝜓 2𝑚𝑑 𝑥2 + 1 2 𝑚𝜔2𝑥2𝜓 = 𝐸𝜓 (96) 47 e o objetivo principal consiste em encontrar a solução 𝜓(𝑥) bem com as energias permitidas para o modelo, uma vez que ao contrário do sistema clássico, para o caso quântica as energias são quantizadas, ou seja, múltiplos de uma certa quantidade pré-definida (fundamental), não podendo assumir portanto valores contínuos (somente discretos). Para a resolução da equação (96), algumas condições devem ser consideradas. A primeira condição de contorno é que a função 𝜓(𝑥) deve ser um vetor do espaço de Hilbert, o qual consiste do espaço onde as funções apresentam um produto interno bem definido em todo o espaço ou em certas regiões limitadas por um espaço maior e as funções nesse espaço são quadrado integráveis no sentido que ao integrarmos o módulo quadrado de uma função no espaço de Hilbert por todo o espaço, seu valor será finito. Outra característica importante é que nos limites assintóticos, a funções nesse espaço tendem a zero (por assintótico quero dizer nos limites de mais ou menos infinito). Claro que há muito mais a dizer sobre o Espaço de Hilbert, porém, para o propósito deste trabalho, essas informações serão suficientes. Somente com essa informação, de que o estado da partícula é descrito por um vetor que mora no Espaço de Hilbert, poderemos descrevê-lo corretamente. Neste sentido, precisamos verificar as soluções assintóticas, ou seja, soluções tais que 𝜓(𝑥) → 0, quando 𝑥 → ∞. Para resolver a equação (96) façamos primeiramente a seguinte troca de vaiáveis (NETO, 2011). 𝜉 = 𝑚𝜔 ℏ 𝑥. (97) Isolando 𝑥 na expressão (97), teremos que 𝑥 = 𝜉 ℏ 𝑚𝜔 . (98) Precisamos agora encontrar o elemento 𝑑²𝜓/𝑑𝜉² da equação (96) o que nos leva derivada de uma função do tipo 𝜓 = 𝑥 𝜉 . (99) Aplicando a regra da cadeia na expressão (99), tem-se 𝑑𝜓 𝑑𝑥 = 𝑑𝜓 𝑑𝜉 𝑑𝜉 𝑑𝑥 , (100) 48 𝑑𝜉 𝑑𝑥 = 𝑑 𝑑𝑥 𝑚𝜔 ℏ 𝑥 , (101) 𝑑𝜉 𝑑𝑥 = 𝑚𝜔 ℏ . (102) Substituindo a equação (102) na equação (100), obtém-se que 𝑑𝜓 𝑑𝑥 = 𝑑𝜓 𝑑𝜉 𝑚𝜔 ℏ , (103) e, de maneira análoga, realizando a segunda derivada em relação a 𝑥 teremos 𝑑𝜓 ′ 𝑑𝑥 = 𝑑𝜓 ′ 𝑑𝜉 𝑑𝜉 𝑑𝑥 , (104) 𝑑2𝜓 𝑑𝑥2 = 𝑑 𝑑𝜉 𝑑𝜓 𝑑𝑥 𝑚𝜔 ℏ (105) 𝑑2𝜓 𝑑𝑥2 = 𝑑 𝑑𝜉 𝑑𝜓 𝑑𝜉 𝑚𝜔 ℏ 𝑚𝜔 ℏ , (106) 𝑑2𝜓 𝑑𝑥² = 𝑑2𝜓 𝑑𝜉2 𝑚𝜔 ℏ (107) Substituindo as equações (98) e (107) na equação (96), obtém-se a seguinte expressão − ℏ² 2𝑚 𝑑2𝜓 𝑑 2 𝜉 𝑚𝜔 ℏ + 1 2 𝑚𝜔² 𝜉2ℏ 𝑚𝜔 𝜓 = 𝐸𝜓, (108) e fazendo algumas simplificações, a equação (96) fica reescrita da forma 𝑑2𝜓 𝑑𝜉2 + 2𝐸 ℏ𝜔 − 𝜉2 𝜓 = 0. (109) Analisando a equação (109), vemos que para um valor muito grande de 𝜉, o termo em 𝜉² domina o termo 2𝐸/𝜔. Assim, esse último pode ser desprezado de modo que a equação (109) fica reescrita da forma 49 𝑑2𝜓 𝑑𝜉2 = 𝜉²𝜓. (110) Vemos que na equação diferencial apresentada em (110) é tal que quando aplicada a uma função, a derivada segunda dessa função fornece como resultado ela própria. Tal resultado sugere que a expressão para 𝜓 𝜉 seja da forma 𝜓 𝜉 = 𝐴𝑒− 1 2 𝜉2 + 𝐵𝑒 1 2 𝜉2 ,(111) onde, analisando a condição de que a equação (111) seja um vetor do espaço de Hilbert (ou seja que 𝜓 𝜉 → ±∞ = 0), chega-se a conclusão que o parâmetro 𝐵 = 0. Assim, a solução do problema será dada pela expressão 𝜓 𝜉 → ±∞ = 𝑒− 1 2 𝜉2 , (112) a qual e compatível com a definição de um vetor no espaço de Hilbert. Assim, podemos escrevera solução dada pela equação (110) da forma mais geral 𝜓 𝜉 = 𝑒− 1 2 𝜉2𝑣 𝜉 . (113) Uma vez que a expressão (113) é solução da equação de Schrödinger, podemos substituí-la na mesma. Antes precisamos fazer a derivada primeira e segunda da mesma. Procedendo dessa maneira, obtemos os seguintes resultados 𝑑𝜓 𝑑𝜉 = 𝑑𝑣 𝑑𝜉 𝑒− 1 2 𝜉2 − 𝜉𝑣 𝜉 𝑒− 1 2 𝜉2 (114) 𝑑𝜓 𝑑𝜉 = 𝑑𝑣 𝑑𝜉 − 𝜉𝑣 𝑒− 1 2 𝜉2 (115) 𝑑2𝜓 𝑑𝜉2 = 𝑑2𝑣 𝑑𝜉2 − 2𝜉 𝑑𝑣 𝑑𝜉 + 𝜉2 − 1 𝑣 𝑒− 1 2 𝜉2 (116) Agrupando os termos e substituindo a equação (116) na equação (109) teremos que 𝑑2𝑣 𝑑𝜉2 − 2𝜉 𝑑𝑣 𝑑𝜉 + 2𝐸 ℏ𝜔 − 1 𝑣(𝜉) = 0, (117) 50 onde a equação (117) agora se torna o foco da nossa resolução. Para simplificar o tratamento da mesma, substituiremos o termo por 2𝐸/𝑚-1 por 𝜆, ficando equação (117) reescrita da forma 𝑑2𝑣 𝑑𝜉2 − 2𝜉 𝑑𝑣 𝑑𝜉 + 𝜆𝑣 = 0. (118) Olhando para equação (118) não fica claro qual tipo de função venha a ser sua solução. O que será feito é supor que a função 𝑣 𝜉 tenha uma solução que possa ser expressa como uma série de potências (esse método de resolução para equações diferenciais é conhecido como Método de Frobenius). Assim, tomemos a função 𝑣 𝜉 como sendo da forma 𝑣 𝜉 = 𝑎𝑘𝜉 𝑘 .∞𝑘=0 (119) Uma vez que admitimos uma solução da forma dada por (119), faremos a substituição da mesma na equação diferencial (117). Para isso precisamos das derivadas de primeira e segunda ordem de 𝑣 em relação à 𝜉, ou seja 𝑑𝑣 𝑑𝜉 = 𝑘𝑎𝑘𝜉 𝑘−1 ∞𝑘=1 , (120) 𝑑²𝑣 𝑑𝜉² = 𝑘(𝑘 − 1)𝑎𝑘𝜉 𝑘−2 ∞𝑘=2 , (121) Para substituir as equações (120) e (121) em (117), temos que ajustar os somatórios para que comecem sempre do mesmo lugar. Assim, na equação (121) temos que fazer a seguinte troca de variáveis, 𝑘 − 2 = 𝑘′ → 𝑘 = 𝑘′ + 2 . (122) Com 𝑘′ = 0 podemos reescrever a equação (121) da seguinte forma 𝑑²𝑣 𝑑𝜉² = (𝑘 + 2)(𝑘 + 1)𝑎𝑘+2𝜉 𝑘 . ∞𝑘=0 (123) Na equação (120), podemos começar a soma em 𝑘 = 0 sem perda de generalidade uma vez que mesmo fazendo 𝑘 → 𝑘 − 1, o primeiro termo da série sempre será o mesmo. Agora, tem-se que analisar uma importante questão. Como se trata de uma solução em série de potências, para afirmar que a mesma seja uma solução de fato, temos que garantir que a 51 série convirja para um valor definido. Isso será analisado em seqüência. O próximo passo será substituir as equações (119), (120), (123) na equação (117). Ajustando os termos para que todos fiquem com a mesma potência 𝜉𝑘 , podemos escrever a equação (117) da forma (𝑘′ + 2)(𝑘′ + 1)𝑎𝑘′+2𝜉 𝑘 − 2 ∞𝑘=0 𝑘𝑎𝑘𝜉 𝑘 ∞𝑘=0 + 𝜆 𝑘𝑎𝑘𝜉 𝑘∞ 𝑘=0 . (124) Ajustando as potências e igualando a zero a expressão (124), teremos que 𝜉𝑘 ∞𝑘=0 (𝐼) 𝑘′ + 2 𝑘′ + 1 𝑎𝑘 ′ +2 − 2 𝑘𝑎𝑘 + 𝜆𝑘𝑎𝑘 (𝐼𝐼) = 0. (125) Para que a equação (125) se anule precisamos que ou o termo (I) se anule ou então que o termo (II) seja nulo. Como o termo (I) deve ser arbitrário, teremos que o termo (II) será nulo, ou seja, 𝑘 + 2 𝑘 + 1 𝑎𝑘+2 − 2𝑘𝑎𝑘 + 𝜆𝑎𝑘 = 0, (126) obtendo a seguinte relação 𝑎𝑘+2 = 2𝑘−𝜆 𝑘+2 𝑘+1 𝑎𝑘 , (127) Vê-se então que a expressão (127) surge como uma relação de recorrência para os coeficientes da série. Analisando a expressão de recorrência, temos duas seqüências possíveis: uma para valores pares do índice 𝑘 e outra para valores ímpares do índice 𝑘. A seqüência par será dada pelos termos da forma 𝑘 = 0 → 𝑎2 = − 𝜆 2 𝑎0 𝑘 = 2 → 𝑎4 = 4 − 𝜆 4 × 3 𝑎2 = − 𝜆 4 − 𝜆 4! 𝑎0, 𝑘 = 4 → 𝑎6 = 8 − 𝜆 6 × 5 𝑎4 = − 𝜆 4 − 𝜆 8 − 𝜆 6! 𝑎0 etc... (128) 52 Já a seqüência ímpar será fornecida pelos termos da forma 𝑘 = 1 → 𝑎3 = 2 − 𝜆 3! 𝑎1 , 𝑘 = 3 → 𝑎5 = 6 − 𝜆 5 × 4 𝑎3 = (2 − 𝜆) 6 − 𝜆 5! 𝑎1, 𝑘 = 5 → 𝑎7 = 10 − 𝜆 7 × 6 𝑎5 = (2 − 𝜆) 6 − 𝜆 10 − 𝜆 7! 𝑎1 , etc... (129) Substituindo os resultados obtidos em (128) e (129) na equação (119), obtém-se a seguinte expressão 𝑣 𝜉 = [− 𝜆 2 𝑎0 + 4−𝜆 4×3 𝑎2 + 8−𝜆 6×5 𝑎4 + 2−𝜆 3! 𝑎1 + 6−𝜆 5×4 𝑎3 + 10−𝜆 7×6 𝑎5]. (130) Das expressões (128) e (129) podemos observar que os coeficientes podem ser descritos em termos de dois coeficientes: e 𝑎0 e 𝑎1. Assim, escrevendo 𝑣 𝜉 em termos desses dois coeficientes, obteremos que 𝑣 𝜉 = 𝑎0 1 − 𝜆 2 𝜉2 − 𝜆 4 − 𝜆 4! 𝜉4 − 𝜆 4 − 𝜆 8 − 𝜆 6! 𝜉6 − ⋯ 𝑣0 𝜉 +𝑎1 𝜉 + 2 − 𝜆 3! 𝜉3 + 2 − 𝜆 6 − 𝜆 5! 𝜉5 + (2 − 𝜆) 6 − 𝜆 10 − 𝜆 7! 𝜉7 + ⋯ 𝑣1 𝜉 = 𝑎0𝑣0 𝜉 + 𝑎1𝑣1 𝜉 . (131) Percebe-se que o resultado tem a forma esperada da solução geral de uma equação Diferencial Ordinária de segunda ordem. Como na idéia inicial, tanto 𝑣0 𝜉 como 𝑣1 𝜉 devem ser convergentes por se tratarem de uma solução em série, precisamos realizar essa 53 análise. Para verificar o critério de convergência, vamos utilizar o teste da razão. O mesmo se baseia na idéia que a soma 𝑆 = 𝑢𝑛 ∞ 𝑛=0 (132) será convergente caso o lim𝑛→∞ |𝑢𝑛+1| |𝑢𝑛 | < 1 (133) A mesma será divergente caso o limite seja maior do que 1. Caso o limite seja igual a 1 outro critério de convergência deve ser adotado, pois para o teste da razão, tal resultado é inconclusivo (que geralmente é feito pela comparação de séries conhecidas). Neste caso, tanto a expressão dada por 𝑣0 𝜉 quanto a expressão dada por 𝑣1 𝜉 teremos que, analisando a relação de recorrência apresentada em (126) que lim𝑘→∞ 2𝑘−𝜆 𝑘+2 𝑘+1 𝜉𝑘+2 𝜉𝑘 = lim𝑘→∞ 𝑘(2− 𝜆 𝑘 ) 𝑘2 1− 2 𝑘 (1+ 2 𝑘 ) , (134) Aplicando o limite, obtemos que 2 lim𝑘→∞𝜉2 𝑘 = 0 (135) Logo se percebe que a série converge para qualquer valor fixo de 𝜉. Entretanto, para 𝜉 variável a série pode divergir. Logo observando a equação (113), temos que 𝜓 𝜉 divergiria para 𝜉 → ∞. Assim a condição de contorno para 𝜓 𝜉 ser um vetor no espaço de Hilbert seria perdida. E tudo que fizemos ate o momento séria perdido (NETO, 2011). Uma forma de evitar este problema vem através da quantidade 𝜆 (que está relacionada à energia da partícula). Se escolhermos 𝜆 = 2𝑛, sendo 𝑛 um número inteiro positivo, a relação de recorrência para 𝑎𝑘 fica da forma 𝑎𝑘+2 = 2𝑘+2𝑛 𝑘+2 𝑘+1 𝑎𝑘 (136) 𝑛 = 0 → 𝑎𝑘+2 = 2𝑘 𝑘+2 𝑘+1 𝑎𝑘 → 𝑘 = 0 → 𝑎2 = 0 (137) 𝑛 = 1 → 𝑎𝑘+2 = 2𝑘+2 𝑘+2 𝑘+1 𝑎𝑘 → 𝑘 = 1 → 𝑎3 = 0. (138) 54 Ou seja, pode-se observar das expressões (137) e (138) que para todo termo maior que 𝑎𝑛+2, os coeficientes serão nulos. Dessa forma em vez de séries infinitas, teremos polinômios finitos, resolvendo assim o problema da divergência. Como conseqüência, observamos que a energia do Oscilador Harmônico deve ser quantizada, sendo a expressão da forma 2𝐸 ℏ𝜔 − 1 = 2𝑛 → 𝐸 = 𝑛 + 1 2 𝜔. (139) Essa resultado é muito importante e merece ser enfatizada. A quantização da energia o Oscilador Harmônico veio da necessidade de se ajustar a solução do problema à condição de que 𝜓(𝜉) deve ser, de fato, um vetor no espaço de Hilbert ( NETO, 2011). Agora a equação diferencial (118) passa ser escrita da forma 𝑑2𝑣 𝑑𝜉2 − 2𝜉 𝑑𝑣 𝑑𝜉 + 2𝑛𝑣 = 0, 𝑛 = 0,1 , 2 … , (140) a qual é conhecida na literatura como equação de Hermite. Sua solução é descrita em termos de uma classe de polinômios chamados Polinômios de Hermite, os quais serão apresentados mais detalhadamente na próxima Seção. 4.2.1 A Equação de Hermite A expressão (140) é conhecida como Equação de Hermite, a qual surge ao se tentar resolver o problema do Oscilador Harmônico 1-D. Sua solução e dada pelos Polinômios de Hermite ( BARATA, 2017). Para definir os polinômios de Hermite (𝐻𝑛(𝑥)), vamos utilizar a seguinte função (GOUVEIA, 2014) 𝜓 𝑥, 𝑡 ≡ 𝑒−𝑡 2+2𝑡𝑥 = 𝑡𝑛 𝑛 ! ∞ 𝑛=0 𝐻𝑛 𝑥 , (141) Conhecida como função geratriz dos polinômios de Hermite. Tal definição e útil, pois possibilita a derivação das relações de recorrência dos polinômios de forma muito simples. Uma dessas relações e obtida derivando a equação (141) com relação e variável 𝑡, da forma 𝜕𝜓 𝜕𝑡 = 2𝑥 − 2𝑡 𝜓. (142) 55 Assim podemos escrever 2𝑥 − 2𝑡 𝑡𝑛 𝑛 ! ∞ 𝑛=0 𝐻𝑛 𝑥 = 𝑡𝑛−1 𝑛−1 ! ∞ 𝑛=0 𝐻𝑛 𝑥 , (143) e fazendo a distributiva dos termos, obtêm-se que 2𝑥 𝑡𝑛 𝑛 ! ∞ 𝑛=0 𝐻𝑛 𝑥 − 2 𝑡𝑛+1 𝑛 ! ∞ 𝑛=0 𝐻𝑛 𝑥 (𝐼) = 𝑡𝑛−1 𝑛−1 ! ∞ 𝑛=0 𝐻𝑛 𝑥 (𝐼𝐼) (144) e substituindo 𝑛 → 𝑛 + 1 em (𝐼) temos 𝑡𝑛 𝑛−1 ∞ 𝑛=0 𝐻𝑛−1 𝑥 (145) Agora, fazendo-se em (𝐼𝐼) a substituição 𝑛 − 1 → 𝑛, tem-se que 𝑡𝑛 𝑛 ! ∞ 𝑛=0 𝐻𝑛+1 𝑥 . (146) Portanto 𝜕𝜓 𝜕𝑡 = 2𝑥 𝑡𝑛 𝑛 ! ∞ 𝑛=0 𝐻𝑛 𝑥 − 2 𝑡𝑛 𝑛−1 ∞ 𝑛=0 𝐻𝑛−1 𝑥 = 𝑡𝑛 𝑛 ! ∞ 𝑛=0 𝐻𝑛+1 𝑥 . (147) Comparando as potências de 𝑡, temos 𝐻1 𝑥 = 2𝑥𝐻0 𝑥 (148) 𝐻𝑛+1 𝑥 = 2𝑥𝐻𝑛 𝑥 − 2𝑛𝐻𝑛−1 𝑥 , 𝑛 = 1,2,3 … (149) A expressão (147) nos permite obter qualquer função 𝐻𝑛 𝑥 conhecendo apenas 𝐻0 𝑥 . Como 𝜓 𝑥, 0 = 1, teremos que 𝐻0 𝑥 = 1, logo pode-se calcular os primeiros polinômios de Hermite (GOUVEIA, 2014) : 𝐻0 𝑥 = 1 𝐻1 𝑥 = 2𝑥 56 𝐻2 𝑥 = 4𝑥 2 − 2 𝐻3 𝑥 = 8𝑥 3 − 12𝑥 𝐻4 𝑥 = 16𝑥 4 − 48𝑥2 + 12. (150) Para encontrar uma nova relação de recorrência podemos derivar a função geratriz dada pela equação (141) em função da variável 𝑥 da forma 𝜕𝜓 𝜕𝑥 = 2𝑡𝜓 (151) logo, 2 𝑡𝑛+1 𝑛 ! ∞ 𝑛=0 𝐻𝑛 𝑥 = 𝑡𝑛 𝑛 ! ∞ 𝑛=0 𝐻 ′ 𝑛 𝑥 𝐼 . (152) Substituindo 𝑛 + 1 → 𝑛 em 𝐼 fica 𝑡𝑛+1 𝑛+1 ! ∞ 𝑛=0 𝐻 ′ 𝑛+1 𝑥 , (153) Desta forma teremos 2 𝑡𝑛+1 𝑛 ! ∞ 𝑛=0 𝐻𝑛 𝑥 = 𝑡𝑛+1 𝑛+1 ! ∞ 𝑛=0 𝐻 ′ 𝑛+1 𝑥 . (154) Fazendo a comparação das potências de 𝑡 temos: 𝐻′ 0 = 0 2 𝑛 ! 𝐻𝑛 𝑥 = 1 𝑛+1 ! 𝐻′ 𝑛+1 𝑥 (155) A qual pode ser escrita da forma 2 𝑛 + 1 𝐻𝑛 𝑥 = 𝐻 ′ 𝑛+1 𝑥 . (156) Substituindo 𝑛 + 1 → 𝑛 em (156) teremos: 57 2𝑛𝐻𝑛+1 𝑥 = 𝐻 ′ 𝑛 𝑥 , 𝑛 ≥ 1. (157) Observe que, substituindo a equação (157) na recorrência (147) teremos, 𝐻𝑛+1 𝑥 = 2𝑥𝐻𝑛 𝑥 − 𝐻 ′ 𝑛 𝑥 (158) derivando (158) em relação a 𝑥 temos 𝐻′𝑛+1 𝑥 = 2𝐻𝑛 𝑥 + 2𝑥𝐻 ′ 𝑛 𝑥 − 𝐻 ′′ 𝑛 𝑥 (159) Substituindo (156) em (159) encontramos 2 𝑛 + 1 𝐻𝑛 𝑥 = 2𝐻𝑛 𝑥 + 2𝑥𝐻 ′ 𝑛 𝑥 − 𝐻"𝑛 𝑥 (160) simplificando equação (146) 𝐻"𝑛 𝑥 − 2𝑥𝐻 ′ 𝑛 𝑥 + 2𝑛𝐻𝑛 𝑥 = 0 (161) Que é a equação de Hermite. Outra formula de obtermos os Polinômios de Hermite é a formula de Rodrigues. Para demonstrar a mesma usaremos a equação (141) que parte da expansão em série de Taylor para 𝜓(𝑥, 𝑡) na vizinhança de 𝑡0. Temos que (GOUVEIA, 2014) 𝐻𝑛 𝑥 = 𝜕𝑛𝜓(𝑥 .𝑡) 𝜕𝑡𝑛 |𝑡=0 = 𝑒 𝑥2 𝜕𝑛 𝜕𝑡𝑛 𝑒− 𝑥−𝑡 2 𝑡=0 (162) Fazendo a substituição de variáveis 𝑧 = 𝑥 − 𝑡 e usando o fato que 𝜕 𝜕𝑡 = − 𝜕 𝜕𝑧 em 𝑡 = 0 corresponde a 𝑧 = 𝑥, logo a equação (162) resulta em: −1 𝑛𝑒𝑥 2 𝑑𝑛 𝑑𝑧𝑛 𝑒−𝑧 2 = −1 𝑛𝑒𝑥 2 𝑑𝑛 𝑑𝑧𝑛 𝑒𝑥 2 , (163) o que nos fornece a Fórmula de Rodrigues para os polinômios de Hermite, permitindo a definição dos polinômios de mesmo nome, 𝐻𝑛 𝑥 = −1 𝑛𝑒𝑥 2 𝑑𝑛 𝑑𝑧𝑛 𝑒𝑥 2 . (164) 58 4.2.2 Ortogonalidade dos Polinômios de Hermite Para demonstrar que os polinômios de Hermite são ortogonais, temos que provar que (GOUVEIA, 2014) 𝐻𝑚 𝑥 𝐻𝑛 𝑥 ∞ −∞ 𝑒−𝑥²𝑑𝑥 = 2𝑛𝑛! 𝜋 𝛿𝑚 ,𝑛 , (165) sendo que 𝛿𝑚 𝑛 = 1 𝑚 = 𝑛; 0 𝑚 ≠ 𝑛; (166) representa o delta de Kronecker. Pode-se dizer que, duas
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