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1 O aparelho digestivo ou trato gastrointestinal (TGI), é o sistema que é responsável por obter dos alimentos ingeridos os nutrientes necessários às diferentes funções do organismo, como crescimento, energia para reprodução, locomoção, etc. É composto por um conjunto de órgãos que têm por função a realização da digestão. O tubo digestivo é composto pelo trato gastrointestinal superior, trato gastrointestinal inferior e glândulas acessórias (anexas), o trato digestório está representado na figura 01. O trato gastrointestinal superior é composto pela boca, pela faringe, pelo esôfago e pelo estômago. Na boca, ocorre o processo de mastigação que e ainda faz os movimentos impulsionatórios que ajudam a deglutir o alimento, fazendo-o passar ao esôfago. A faringe pertence tanto ao sistema respiratório como ao digestório. Ela auxilia no processo de deglutição. O esôfago é o canal de passagem para onde o bolo alimentar é empurrado por meio de contrações musculares (movimentos peristálticos) até o estômago. No estômago, inicia-se o processo de quimificação. O estômago é um órgão em formato de bolsa com o ph em torno de 2,0 (muito ácido). O bolo alimentar torna-se mais líquido e ácido passando a se chamar quimo e vai sendo, aos poucos, encaminhado para o duodeno, via esfíncter pilórico.. O trato gastrointestinal inferior é composto por 4 órgãos: intestino delgado intestino grosso reto ânus Ao tubo digestivo estão associadas glândulas que produzem sucos digestivos ricos em enzimas e outras substâncias que ajudam a dissolver os alimentos. As glândulas/órgãos/estruturas anexas são: Glândulas salivares Glândulas gástricas (na parede interna do estômago) Glândulas intestinais (na parede interna do intestino delgado) Pâncreas Fígado Trato gastrointestinal (TGI) possui funções de: 1. Extrair macronutrientes, água e etanol dos alimentos e bebidas ingeridos a esta função denominamos função nutritiva; 2. Absorver micronutrientes e oligoelementos necessários para isto devemos possuir função mínima de digestão, pois muitos micronutrientes estão complexados aos macronutrientes, por exemplo, a vitamina B12 que está complexada à proteínas alimentares de origem animal; 3. Barreira física e imunológica a esta função temos o paradigma da Nutrição Defensiva, uma vez que o muco e a integridade epitelial compõem a nossa barreira física (primeira barreira frente a microrganismos e toxinas), além disso, o microbioma intestinal benéfico (lactobacilos e bifidobactérias), o sistema linfóide associado à mucosa (produtora de IgA secretória) e as células de Kupfer em fígado (reservatórios de células do sistema leucocitário, como monócitos, macrófagos e linfócitos) compõe nossa barreira imunológica; 4. Funções reguladoras e metabólicas o TGI secreta hormônios e peptídeos que possuem função reguladora ou metabólica, como a grelina que é um hormônio produzido pelas células gástricas que estimula o ato de se alimentar, a colecistoquinina, hormônio produzido por células intestinais que possui receptores em cérebro e atua promovendo saciedade. A digestão dos alimentos é realizada pela hidrólise, por ação de enzimas, os cofatores HCl, bile e bicarbonato de sódio sustentam o processo digestivo e absortivo. As enzimas digestivas, primariamente exoenzimas, são sintetizadas dentro de células especializadas na boca, estômago, pâncreas e intestino delgado, sendo liberadas para catalisar a hidrólise de nutrientes nas áreas externas à célula e as endoenzimas estão localizadas nas membranas das lipoproteínas das células das mucosas e se ligam aos substratos conforme entram na célula. . Fig. 1: Trato digestório. DIGESTÃO, ABSORÇÃO, TRANSPORTE E EXCREÇÃO DE NUTRIENTES Prof. José Aroldo Filho goncalvesfilho@nutmed.com.br 2 Tabela 1: Resumo da digestão e absorção enzimática. Secreção e fonte de secreção Enzima Substrato Ação e produtos resultantes Produtos finais absorvidos Saliva das glândulas salivares na boca Ptialina (amilase salivar) Amido Hidrólise para formar dissacarídeos, dextrinas e oligossacarídeos ramificados - Suco gástrico das glândulas gástricas presentes na mucosa estomacal Pepsina (pepsinogênio ativado) Proteína (na presença de ácido clorídrico) Hidrólise das ligações peptídicas para formar polipeptidios e aminoácidos - Lipase gástrica Gordura (especialmente de cadeia mais curta) Hidrólise para formar Ácidos graxos livres - Secreção exócrina do pâncreas (suco pancreático) Lipase Gordura (na presença de sais biliares) Hidrólise para formar monoacilgliceróis e ácidos graxos livres, incorporados nas micelas Ácidos graxos nas células da mucosa, reesterificados como triglicerídeos Colesterol esterase Colesterol Hidrólise para formar ésteres de colesterol e ácidos graxos livres, incorporados nas micelas Colesterol nas células de mucosa; transferidos para os quilomicrons α-amilase Amidos e dextrinas Hidrólise para formar dextrina e maltose - Tripsina (tripsinogênio ativado) Proteínas e polipeptídeos Hidrólise das ligações peptídicas interiores para formar polipeptídeos - Quimiotripsina (quimiotripsinogênio ativado) Proteínas e peptídeos Hidrólise das ligações peptídicas interiores para formar polipeptídeos - Carboxipeptidase Polipeptídeos Hidrólise das ligações peptídicas terminais para formar aminoácidos Aminoácidos Ribonuclease e desoxirribonuclease Ácidos ribonucleicos e ácidos desoxirribonucleicos Hidrólise para formar mononucelotídeos Mononucleotídeos Elastase Proteína fibrosa Hidrólise para formar peptídeos e aminoácidos Aminoácidos Enzimas do intestino delgado (principalmente da borda em escova) Carboxipeptidase, aminopeptidase e dipeptidase Polipeptídeos Hidrólise das ligações peptídicas terminais para formar aminoácidos Aminoácidos Enterocinase Tripsinogênio Ativa a tripsina Dipeptídeos e tripeptídeos Sacarase Sacarose Hidrólise para formar glicose e frutose Glicose e frutose α-dextrinase (isomaltase) Dextrina (isomaltose) Hidrólise para formar glicose Glicose Maltase Maltose Hidrólise para formar glicose Glicose Lactase Lactose Hidrólise para formar glicose e galactose Glicose e galactose Nucleotidase Ácidos nucleicos Hidrólise para formar nucleotídeos e fosfatos Nucleotídeos Mucleosidase e fosforilase Nucleosídeos Hidrólise para formar purinas, pirimidinas e pentose fosfato Bases de purinas e pirimidinas A atividade GI é regulada por mecanismos neurais e hormonais. O controle neural da atividade secretória e contrátil consiste de um sistema localizado na parede intestinal – sistema nervoso entérico – e de um sistema externo de fibras nervosas (SNA). De acordo com a composição do quimo, têm-se estímulos através de neurotransmissores. O controle hormonal é dado mediante a presença do bolo/quimo ao longo do TGI. 3 Tabela 2: Principais Neurotransmissores na Nutrição Humana e suas ações. Neurotransmissor Local de liberação Ações primárias Ácido α-aminobutírico Sistema nervoso central Relaxa o esfíncter esofágico inferior Noradrenalina (noraepinefrina) Sistema nervoso central, medula espinhal, nervos simpáticos Diminui a motilidade, aumenta a contração dos esfíncteres, inibe as secreções Acetilcolina Sistema nervoso central, sistema autônomo, outros tecidos Aumenta a motilidade, relaxa os esfíncteres, estimula as secreções Neurotensina Trato GI, sistema nervoso central Inibe a liberação do esvaziamento gástrico e secreção ácida Neuropeptídeo Y Sistema nervoso central, sistema autônomo Estimula o comportamento de alimentar-se Seretonina (5-TH) Trato GI, medula espinhal Facilita a secreção e peristaltismo Óxido nítrico Sistema nervoso central e trato GI Regula o fluxo sanguíneo, mantém o tônus muscular e a atividade motora gástrica Substância P Intestino, sistema nervoso central, pele Aumenta a percepção sensorial (principalmente dor) e o peristaltismo Tabela 3: Hormônios TGI e suas funções Hormônio Local de liberação Estimulantes para liberação Órgãos afetados Efeitos nos órgãos Gastrina Mucosa gástrica, duodeno Peptídeos e aminoácidos, cafeína, distensão do antro, algumas bebidas alcoólicas, nervo vago Estômago, esôfago e todo TGI Vesícula biliar Pâncreas -Estimula a secreção de ácido hidroclorídrico e pepsinogênio, aumenta a motilidade gástrica antral e aumenta o tônus do esfíncter esofágico inferior -Estimula fracamente a contração da vesícula biliar -Estimula fracamente a secreção pancreática de bicarbonato Secretina Mucosa duodenal Ácido no intestino delgado Pâncreas Duodeno -Estimula a eliminação de água e bicarbonato e aumenta a liberação de insulina e algumas secreções de enzimas pancreáticas -Diminui a motilidade e aumenta a eliminação de muco Colecistocinina (CCK) Intestino delgado proximal Peptídeos, aminoácidos, gordura e ácido hidroclorídrico Pâncreas Vesícula biliar Estômago Cólon -Estimula a secreção de enzimas pancreáticas -Causa a contração da vesícula biliar -Torna mais lento o esvaziamento gástrico -Aumenta a motilidade Podem mediar o comportamento alimentar GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose) Intestino delgado Glicose e lipídio Estômago e pâncreas -Inibe a secreção de ácido gástrico estimulada pela gastrina GLP-1 (polipeptídeo semelhante ao glucagon) Intestino delgado Glicose e lipídio Estômago e pâncreas Prolonga o esvaziamento gástrico. Inibe a liberação de glucagon. Estimula a liberação de insulina Motilina Estômago, intestinos delgado e grosso Secreções biliares e pancreáticas Estômago, Intestinos delgado e grosso -Promove o esvaziamento gástrico e a motilidade do TGI Somatostatina Estômago, pâncreas e porção superior do intestino delgado Acidez gástrica e duodenal e produtos da digestão de proteína e gordura Estômago, pâncreas, intestino delgado e vesícula biliar -Inibe a liberação de gastrina, motilina e secreções pancreáticas, diminui a motilidade e as contrações do TGI 4 MECANISMOS ABSORTIVOS A absorção é um processo complexo que combina transporte ativo (com gasto energético) e o processo relativamente simples da difusão passiva. A difusão envolve o movimento ao acaso através das aberturas nas membranas das paredes da célula da mucosa, utilizando canais de proteína (difusão facilitada). O transporte ativo envolve o gasto de energia para movimentar íons ou outras substâncias, em combinação com uma proteína carreadora, contra um gradiente de concentração. A absorção de glicose, sódio, galactose, potássio, magnésio, fosfato, iodo, cálcio, ferro e aminoácidos ocorrem desta maneira. A pinocitose foi descrita como engolfar pequenas gotas de conteúdo intestinal pela membrana da célula epitelial. Fig. 2: Mecanismos de absorção: difusão simples e difusão facilitada (transporte passivo – a favor de um gradiente de concentração e sem gasto energético) e transporte ativo (contra um gradiente de concentração e com gasto de energia – ATP). Pacientes podem apresentar situações de absorção aumentada de carboidratos com fermentação colônica, caso sejam pacientes normais ou após cirurgias, como se observa nos exemplos abaixo. Em indivíduos normais, após o consumo de: Lactose, quando há deficiência de lactase; Fibra dietética; Amido resistente, olestra (poliéster de sacarose); Acarbose (inibidor de amilase); Pequenas quantidades de sorbitol, manitol, xilitol ou lactulose; Quantidades significantes de frutose; e Quantidades razoavelmente grandes de sacarose. Em pacientes com má absorção secundária a: Ressecção gástrica e ingestão modesta de açúcares e carboidratos; Insuficiência pancreática; Síndrome do Intestino Curto (SIC); Doença Inflamatória Intestinal (DII); Espru celíaco; e Deficiência de disscaridases. A fermentação de carboidrato e fibra mal absorvidos por micro-organismos colônicos promove a produção de: Ácidos graxos de cadeia curta (butirato, propionato, acetato e lactato); e Gases (hidrogênio, gás carbônico, nitrogênio e metano). A liberação de substratos residuais por meio da produção de AGCC (ácidos graxos de cadeia curta) é denominada salvamento colônico. Os ácidos graxos de cadeia curta servem como combustível e estimula a proliferação e diferenciação das células; reduz a osmolalidade, intensifica a absorção de sódio e água. A má absorção significante promove inchaço, distensão abdominal, flatulência, acidificação das fezes e, possivelmente, diarreia. 5 Fig. 3: Sítios de absorção entéricos (duodeno, jejuno e íleo) e colônico de nutrientes. 6 BIOQUÍMICA E METABOLISMO DE CARBOIDRATOS (CHO) São compostos extremamente abundantes na natureza, superados apenas pela água. Perfazem 50% das necessidades energéticas humanas. CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO 1.de acordo com a localização da carbonila: - aldose: carbonila no início da cadeia carbônica. Ex.: glicose, desoxirribose, galactose, manose e ribose. - Cetose: carbonila no segundo carbono. Ex.: frutose, ribulose e xilulose. 2. de acordo com o número de carbonos: - trioses: 3C – gliceraldeído e diidroxicetona. - tetroses: 4C – eritrose e treose. - pentoses: 5C – ribose, arabinose, xilose, xilulose e ribulose. - hexoses: 6C – glicose, manose, galactose, frutose e sorbose. 3. de acordo com o grau de polimeralização (número de unidades monoméricas): - monossacarídeos (n=1): os monossacarídeos não ocorrem normalmente como moléculas livres na natureza, mas como componentes básicos de dissacarídeos e polissacarídeos. Possuem baixo peso molecular, podendo conter de 3 a 7 carbonos, unidade única, sem conexão com outras subunidades. Glicose, galactose, frutose, manose, ribose e desoxirribose são os mais comuns. - D-Glicose é o maior monossacarídeo encontrado no organismo. A dextrose é a glicose produzida após hidrólise do amido de milho. - D-Frutose é chamada de levulose e é encontrada nas frutas, mel e no xarope de milho. Dietas com alto teor de frutose (em conjunto com outros fatores) poderia contribuir para obesidade, diabetes tipo 2 e síndrome metabólica. - D-Galactose é o último dos monossacarídeos de importância nutricional. Ë encontrada em produtos lácteos combinada com a glicose na forma de lactose. Alguns lactentes nascem com uma incapacidade de metabolizar galactose, condição denominada galactosemia. A galactose também não depende de insulina para entrar nas células e é fosforilada em galactose-1-fosfato e convertida a glicose-6-fosfato entrando na glicólise. As oses ribose, xilose e arabinose não ocorrem na forma livre nos alimentos. São derivados de pentosanas das frutas, ácidos nucléicos de produtos cárneos e frutos do mar. São raramente encontrados livres na natureza e estão tipicamente ligados em formas di- e polissacarídicas. Apenas uma fração das muitas estruturas de monossacarídeos formados na natureza pode ser absorvida e utilizada por seres humanos. - dissacarídeos (n=2): formados pela ligação glicosídica de 2 monossacarídeos com 6 átomos de carbono. Precisam ser digeridos para serem absorvidos: sacarose, lactose, maltose e isomaltose. Possuem sabor adocicado. O açúcar invertido também é uma forma natural de açúcar (por hidrólise resulta em partes iguais de glicose e frutose). Forma cristais menores que a sacarose e possui maior poder edulcorante quanto comparado com a sacarose. O termo invertido decorre de uma característica física da sacarose, que se altera durante o processo de hidrólise: originalmente, um raio de luz polarizada que incide sobre a D-sacarose. Após o processamento de inversão, a glicose (D+) e a frutose (L-) resultantes têm a propriedade conjunta de desviarem a luz para a esquerda; ou seja, o açúcar invertido é levogiro (L-). Parece possuir um efeito sedativo, por estimulação da produção de serotonina. O mel é um açúcar invertido. - oligossacarídeos (2 < n < 10): principais: maltodextrina, inulina, oligofrutose, estaquiose, ciclo-hetaamilose. Com exceção da maltodextrina, os oligossacarídeos são resistentes à digestão. A rafinose, encontrada no açúcar da beterraba, é um trissacarídeo feito de galactose, glicose e frutose. A estaquiose é um tetrassacarídeo composto por duas galactoses, glicose e frutose. É encontrado em leguminosas e na abóbora. O dextrano e o levano são produtos bacterianos estruturais derivados de açúcares, inclusive sacarose e maltose. - polissacarídeo (n>10): também conhecidos como CHO complexos. São eles: amido, polissacarídeos não amido (fibras alimentares – pectinas, gomas e celulose) e glicogênio. A ligação glicosídica é a ligação covalente entre as unidades de monossacarídeo. É sempre denominada por uma letra grega (α ou β) dependendo da posição dos átomos de H e da hidroxila (-OH) do carbono 1. È essencial para entender a digestibilidade de CHO. Os polissacarídeos são carboidratos com mais de 10 unidades de monossacarídeo. As plantas armazenam esses carboidratos como grânulos de amido formados pela ligação da glicose em cadeias lineares e em cadeias que se ramificam em uma complexa estrutura granular. As plantas produzem dois tipos de amido, a amilose e a amilopectina. A amilose é uma pequena molécula, linear, que é menos de 1% ramificada, ao passo que a amilopectina é muito ramificada. Devido ao seu tamanho maior, a amilopectina é mais abundante no abastecimento de alimentos, especialmente nos grãos e tubérculos ricos em amido. Os amidos vindos do milho, araruta, arroz, batata, tapioca e outras plantas são polímeros de glicose com a mesma composição química. Seu caráter, sabor, textura e absorvibilidade únicos, são determinados pelos números relativos de unidades de glicose nas formações reta (amilase) e ramificada (amilopectina) e pelo grau de acessibilidade às enzimas digestivas. METABOLISMO DOS MACRONUTRIENTES Prof. José Aroldo Filho goncalvesfilho@nutmed.com.br 7 O amido bruto da batata crua ou de grãos é mal digerido. O cozimento a vapor faz com que os grânulos inchem, o amido seja gelatinizado, amacie e rompa a parede celular, tornando o amido mais digestível pela amilase pancreática. O amido que permanece intacto durante o cozimento, recristaliza após o resfriamento, resiste à repartição enzimática e produz quantidades limitadas de glicose para a absorção é conhecido como amido resistente. O amido ceroso, das variedades de milho e arroz, criam cadeias de amilopectina mais ramificadas e forma uma pasta mais homogênea na água, que gelidifica somente em uma concentração elevada. Uma vez que o gel tenha se formado, o produto permanece espesso durante o congelamento e o descongelamento, fazendo dele um espessante ideal para tortas de frutas, molhos e caldos congelados e vendidos comercialmente. O amido alimentar modificado é modificado química ou fisicamente para alterar a sua viscosidade, capacidade de formar gel, e outras propriedades de textura. O amido pré- gelatinizado, seco em tambores quentes e transformado em um pó poroso, é rapidamente reidratado com líquido frio. Esse amido engrossa rapidamente e é útil para pudins instantâneos, molhos de salada, recheios de tortas, caldos e alimento para bebês. As dextrinas resultam do processo digestivo e são polissacarídeos de glicose grandes e lineares, de comprimentos intermediários, clivados pelo alto teor de amilose do amido pela α-amilase. As dextrinas limites são clivadas pela amilopectina, que contém pontos de ramificação e podem ser subsequentemente digeridas em glicose pela enzima isomaltase da mucosa. Em contraste com os vegetais, os animais usam os carboidratos primariamente para manter as concentrações séricas de glicose entre as refeições. Para garantir o fornecimento prontamente disponível, as células do fígado e dos músculos armazenam carboidrato como glicogênio. O glicogênio é armazenado hidratado com a água; assim, a água torna o glicogênio grande, pesado e inadequado para armazenamento de energia em longo prazo. O “homem médio” de 70 kg armazena, por apenas 18 horas, energia sob a forma de glicogênio, em comparação com o suprimento de gordura para dois meses armazenado. Aproximadamente 150 g de glicogênio são armazenados no músculo; essa quantidade pode ser aumentada em cinco vezes com o treinamento físico, mas não está disponível para manter a glicemia. É o estoque de glicogênio no fígado do ser humano (cerca de 90 g) que está envolvido no controle hormonal de glicemia. VALORES DE DOÇURA (KRAUSE) Tabela 1: Valores de doçura em diferentes tipos de CHO segundo KRAUSE. Substância Valor de doçura Levulose, frutose 173 Açúcar invertido 130 Sacarose 100 Glicose 74 Sorbitol 60 Manitol 50 Galactose 32 Maltose 32 Lactose 16 Tabela 2: Valores de doçura em diferentes tipos de substitutos de açuúcares segundo KRAUSE. DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE CARBOIDRATOS A digestão do amido se inicia na boca, com ação da amilase salivar que quebra a amilose em maltose e a amilopectina em maltose e dextrina. A amilase salivar continua sua ação no estômago, a não ser quando a acidez alta (pH <4). Com a chegada do quimo ácido no duodeno, tem-se estímulo da secreção de secretina, para tamponar o pH e a presença de lipídeos e resíduos protéicos estimula a secreção de CCK, que estimula a secreção de enzimas pancreáticas. A amilase pancreática, que digere os produtos de digestão da amilase salivar em dextrinas, hidrolisadas então por glicoamilases na luz intestinal, liberando maltose e isomaltose. A maltose e a isomaltose são quebradas por dissacaridases presentes na borda em escova (maltase e isomaltase, respectivamente), liberando glicose para absorção. A sacarose presente no alimento é hidrolisada pela sacarase na borda em escova, liberando glicose e frutose para absorção, ao passo que a lactose é quebrada pela lactase no ápice da borda em escova, liberando glicose e galactose para serem absorvidas. Enzimas de borda em escova (KRAUSE): Sacarase = cliva a ligação alfa entre C-1 da glicose e C-2 da frutose; Maltase = cliva a ligação alfa entre C-1 da glicose e C- 4 da glicose; Isomaltase = cliva a ligação alfa entre C-1 da glicose e C-6 da glicose; Lactase = cliva a ligação beta entre C-1 da galactose e C-4 da glicose. 8 ABSORÇÃO DE MONOSSACARÍDEOS Na primeira porção do duodeno, a amilase pancreática e glicosidades sintetizadas pelos enterócitos liberam os resíduos de glicose, frutose, maltose, isomaltose e dextrinas alfa-limite. Quanto maior a disponibilidade de CHO na borda em escovam maior a síntese de transportadores e enzimas. Na borda em escova tem a presença das enzimas lactase (LPH), sacarase-isomaltose (SI) e maltase- glicoamilase (MGA), dispostas respectivamente da região apical criptas. Os resíduos de glicose e galactose são transportados pelo SGLT-1 (sodium glicose transporter 1), que promovem o transporte ativo de glicose e galactose mediante presença de sódio e gasto de ATP. Os resíduos de frutose são transportados por difusão facilitada, via GLUT-5 (com grande dependência de absorção mediante outros CHOs na luz intestinal). Fig. 1: Mecanismo de absorção de CHO na borda em escova. FIBRA DIETÉTICA E FIBRA FUNCIONAL Fibra dietética refere-se aos componentes vegetais intactos que não são digeridos pelas enzimas gastrointestinais (GIs), enquanto a fibra funcional refere-se a carboidratos não digeridos que foram extraídos ou produzidos a partir de vegetais. Ambos os tipos de fibras mostraram ter funções fisiológicas benéficas no trato GI e na redução do risco de certas doenças. Os homopolissacarídeos contêm unidades repetidas da mesma molécula. Um exemplo é a celulose, que não pode ser hidrolisada por enzimas de amilase. A celulose é o componente orgânico mais abundante no mundo, constituindo 50% ou mais de todo o carbono na vegetação. A longa molécula de celulose dobra-se sobre si mesma e é mantida em posição pela ligação do hidrogênio, fornecendo, assim, às fibrilas de celulose grande força mecânica, porém uma flexibilidade limitada. A celulose é encontrada em cenouras e muitos outros vegetais. Outros homopolímeros conhecidos como betaglucanas (glicopiranose) ocorrem com ramificação, o que os torna mais solúveis, como a aveia e a cevada. Os heteropolissacarídeos são produzidos pela modificação da estrutura básica da celulose para formar compostos com diferentes solubilidades em água. A hemicelulose é um polímero de glicose substituído por outros açúcares; diferentes moléculas de açúcar possuem diferentes solubilidades em água. O açúcar predominante é utilizado para nomear a hemicelulose (p. ex., xilana, galactana, manana, arabinose, galactose). As pectinas e as gomas contêm açúcares e xilitol, que tornam essas moléculas ainda mais hidrossolúveis do que a hemicelulose. A estrutura de pectina do ácido galacturônico absorve a água, formando um gel; que é amplamente usado para fazer geleias. A estrutura principal do ácido galacturônico possui unidades de ramnose inseridas nos intervalos e nas cadeias laterais da arabinose e galactose. A pectina é encontrada em maçãs, frutas cítricas, morangos e outras frutas. As gomas e as mucilagens (p. ex., a goma guar) são similares à pectina, exceto pelo fato de suas unidades de galactose serem combinadas com outros açúcares (p. ex., a glicose) e polissacarídeos. As gomas são encontradas nas secreções e sementes de vegetais. As qualidades de textura específicas das gomas e mucilagens são comercialmente úteis quando adicionadas aos alimentos processados como os sorvetes. Os frutanos incluem fruto-oligossacarídeos (FOS), inulina, frutanos tipo inulina e oligofrutose e são compostos de polímeros de frutose, frequentemente ligados a uma glicose inicial. A inulina abrange um grupo variado de polímeros de frutose amplamente distribuídos nos vegetais como um carboidrato de armazenamento. A oligofrutose é um subgrupo da inulina com menos de 10 unidades de frutose. Todas são pouco digeridas no aparelho GI superior e, dessa forma, fornecem apenas 1 kcal/g. Os frutanos contém frutose; possuem um sabor doce, puro, e têm a metade da doçura da sacarose. As principais fontes de frutanos incluem trigo, cebola, alho, banana e chicória; outras fontes incluem tomate, cevada, centeio, aspargo e girassol-batateiro. A inulina e os compostos são usados amplamente para melhorar o sabor e a doçura adicionada dos alimentos de baixo teor calórico e a estabilidade e a aceitabilidade dos alimentos com teor de gordura reduzido. Como não são absorvidos no intestino, os frutanos têm sido utilizados na substituição do açúcar para pacientes diabéticos. 9 Os prebióticos (fibras prebióticas) são substâncias alimentares não digeríveis que estimulam seletivamente o crescimento ou a atividade de bactérias presentes no cólon (probióticos) que são benéficas para o hospedeiro. Vários prebióticos, incluindo a inulina, frutanos do tipo inulina e FOS, estimulam o crescimento de bactérias intestinais, principalmente as bifidobactérias. Os frutanos (sintetizados ou extraídos) têm propriedades prebióticas e são considerados como fibras funcionais. A fibra funcional é comumente adicionada aos suplementos nutricionais líquidos e às fórmulas de alimentação por sonda. Os polissacarídeos algáceos (p. ex., a carragenana) são extraídos das algas marinhas e utilizados como agentes espessantes e estabilizantes em fórmulas para bebês, sorvete, pudim de leite e produtos de creme azedo. Os polissacarídeos algáceos são usados comercialmente, pois formam géis fracos com as proteínas e estabilizam as misturas de alimentos, impedindo que os ingredientes suspensos fiquem depositados no fundo do recipiente. Com o seu uso disseminado em alimentos comerciais e com a incerteza sobre a extensão da sensibilidade humana, são necessárias mais investigações sobre a carragenana. A polidextrose e outros polióis são polímeros sintéticos dos alcoóis açúcar utilizados como substitutos do açúcar nos alimentos. Eles não são digeríveis, contribuem para o aumento do volume fecal e podem ser fermentados no intestino delgado. Estes ainda não foram classificados como fibras funcionais. A lignana é uma fibra alimentar lenhosa encontrada nos caules e nas sementes de frutas e vegetais e na camada de farelo dos cereais. Ela não é um carboidrato, mas é um polímero composto de alcoóis e ácidos fenilpropílicos. Os grupos fenil contêm ligações duplas conjugadas, que os tornam excelentes antioxidantes. A lignana da linhaça também possui atividade de fitoestrogênio e pode imitar o estrogênio nos seus receptores nos órgãos reprodutores e ossos. Fig. 2: Tipos, composições, fontes e funções de fibras. PAPEL DA FIBRA NA DIGESTÃO E ABSORÇÃO O papel da fibra no sistema GI varia de acordo com sua solubilidade. Os oligossacarídeos e as fibras não absorvíveis possuem um efeito importante sobre a fisiologia humana. As fibras insolúveis, tais como a celulose, aumentam a capacidade de retenção de água do material não digerido, levando ao aumento do volume fecal, ao aumento da frequência de evacuações diárias e ao trânsito intestinal diminuído. Por outro lado, as fibras solúveis formam géis, desaceleram o tempo de trânsito 10 gastroinstestinal, ligam outros nutrientes, tais como colesterol e sais minerais, e diminuem a sua absorção. Certos oligossacarídeos não digeríveis (OND), que são fermentados pelas bactérias intestinais, estimulam a absorção intestinal e a retenção de alguns minerais, como o cálcio, o magnésio, o zinco e o ferro. As concentrações de lipídios séricos podem ser modificadas tanto pela celulose insolúvel e lignana quanto pela pectina solúvel e psilium. Eles se ligam aos ácidos biliares fecais e aumentam a excreção do colesterol derivado de ácidos biliares, reduzindo assim a absorção de lipídios. Oligossacarídeos fermentáveis e fibras alimentares são convertidos por bactérias intestinais para a cadeia curta de ácidos graxos (AGCCs), que diminui os lipídios no sangue. As evidências são conflitantes para o efeito hipocolesterolêmico das fibras solúveis, incluindo FOS, polidextrose e polióis sintéticos, pectina viscosa, goma guar, farelo de aveia, casca de psílim, feijões, leguminosas, frutas e vegetais. Os efeitos variam com o tipo de quantidade de fibras. A modulação prebiótica pela fibra ocorre pela fermentação nos AGCC, acetato, butirato e no propionato. Os AGCCs são facilmente absorvidas pela mucosa intestinal e do cólon. Eles melhoram a absorção de água e sódio, o fluxo sanguíneo do cólon, a proliferação de colonócito, a produção hormonal GI, a produção de energia metabólica e estimulam o sistema nervoso autônomo por meio de receptores específicos no cólon. O AGCC butirato (4C) é a principal fonte de energia (mais de 70%) dos colonócitos, derivando principalmente do amido. O propionato (3C) é absorvido e depurado pelo fígado para o metabolismo de lipídios hepáticos ou da glicose. O acetato (2C), produzido a partir do carboidrato não digerido, é rapidamente metabolizado em dióxido de carbono pelos tecidos periféricos, e pode servir como substrato para a síntese de lipídios e colesterol. O papel da fibra na fisiologia do sistema GI é complexo. A ingestão adequada da fibra total é de 38 g/dia para homens e 25 g/dia para mulheres. A ingestão média de fibra dos norte-americanos é atualmente a metade da recomendada. Além das fibras, outros compostos vegetais não nutrientes, incluindo taninos, saponinas, lectinas e fitatos interagem com os macronutrientes, e podem reduzir sua absorção. O ácido fítico ou fitato, um anel de seis carbonos com uma ligação de fosfato a cada carbono, é encontrado na cobertura da semente de grãos e leguminosas e pode se ligar a íons metálicos, especialmente cálcio, cobre, ferro e zinco. O fitato em excesso pode reduzir a hidrólise do amido caso este se una ao cálcio, o qual catalisa a ação da amilase. ÍNDICE GLICÊMICO Índice glicêmico (IG) é definido como o aumento da área sob a curva da glicemia em resposta a uma dose padronizada de carboidrato (50g, em um período de 2h após consumo), isto é, a resposta da curva de glicemia acima do nível de glicose sangüínea em jejum. Acredita-se que dietas que monitoram o IG sejam aplicáveis em indivíduos saudáveis, obesos, DM e hiperlipidêmicos, uma vez que sabe-se que o consumo de dietas de alto IG provocariam maior liberação de insulina pelas células beta pancreáticas, com funções de estímulo de enzimas como acetil-CoA e HMG-CoA redutase, envolvidas na síntese de AG e colesterol, respectivamente, além de inibir a enzima lípase hormônio sensível, responsável pela lipólise tecidual. Além do preparo, processamento e armazenamento, são fatores que influenciam o IG: Concentração de frutose do alimento; Concentração de galactose do alimento; Presença de fibras viscosas (goma guar, β-glicanos); Presença de inibidores de amilase: lectinas e fitatos; Adição de proteínas e lipídeos à refeição; Relação amilopectina/amilose. As cadeias de amilopectina são mais rapidamente digeridas que as de amilose. De acordo com a OMS classifica-se: - baixo IG – IG <60; - moderado IG – 60 < IG < 85; - alto IG: IG >85. A carga glicêmica (CG) é definida como a medida de elevação da glicose diante do consumo de uma alimento específico em uma refeição. Assim, a CG ajusta o valor do IG com base no TAMANHO DA PORÇÃO do alimento CONSUMIDA. CG = g de CHO x IG / 100 Exemplo: cenoura: IG alto (92); a CG de uma porção de meia xícara é baixa (6). Tabela 3: IG e CG de alimentos selecionados da tabela internacional de IG: IG CC Maça 40 6 Batata assada 85 26 Arroz integral 50 16 Cenouras 92 5 Cereal de milho 92 24 Suco de laranja 50 13 Pão puro 72 25 Batata chips 54 11 Bolo industrializado 54 15 Açúcar refinado (sucrose) 58 6 Aplicabilidade do IG devem ser considerados três princípios: A dieta deve conter conteúdo de moderado a alto em CHO; Ter baixo teor de lipídeos saturados; A cada refeição escolher 1 alimento de baixo IG em detrimento de um de alto IG, ex.: maçã no lugar de banana. Como fazer: Para isso, deve-se determinar a porcentagem que cada alimento fornece em relação ao total de CHO da refeição (E1); Multiplicar o valor obtido anteriormente pelo IG de cada alimento da refeição (E2); e Somar os valores obtidos de cada alimento na etapa anterior. 11 ARMAZENAMENTO DA GLICOSE (GLICOGÊNESE) Assim que são captadas pelas células, as moléculas de glicose são convertidas em glicose-6-fosfato (Gli6P), mecanismo que mantém a permanência deste nutriente no espaço intracelular. As moléculas de Gli6P podem seguir dois caminhos: armazenada ou utilizada. O armazenamento de glicose em humanos é feito na forma de glicogênio em dois lugares: muscular e hepático. O glicogênio muscular é fonte de energia apenas para contração muscular, já o glicogênio hepático é responsável por manter glicemia em estado de jejum ou entre refeições, uma vez que o fígado é o único que possui a enzima glicose-6-fosfatase, capaz de retirar o fosfato da Gli6P, liberando glicose para a corrente sanguinea (glicogenólise). A glicogênese é considerado um dos mecanismos responsáveis pelo controle da glicemia. A síntese de glicogênio é estimulada pela insulina. GLICOGÊNIO O glicogênio corresponde a cadeias ramificadas de glicose e é armazenado nos músculos e fígado. O “homem médio” de 70kg armazena um suprimento de apenas 18h de combustível na forma de glicogênio, comparado a um suprimento na forma de gordura de 2 meses. Cerca de 150g de glicogênio são armazenados nos músculos (que pode ser aumentada em até 5 vezes com o treinamento físico). Já o fígado estoca até 90g de glicogênio. MOBILIZAÇÃO DE GLICOGÊNIO (GLICOGENÓLISE) No período pós-absortivo, aproximadamente 2h após a refeição, a gradativa redução da glicemia induz o organismo a buscar mecanismos capazes de reverter esse quadro e evitar a hipoglicemia. Um dos primeiros mecanismos é a quebra do glicogênio hepático (glicogenólise hepática). Os hormônios contra-regulatórios responsáveis pelo estímulo da quebra de glicogênio hepático é a adrenalina e o glucagon. Além de atuar sobre as células musculares, a adrenalina regula a glicemia indiretamente, por inibir a produção de insulina pelas células beta-pancreáticas. MOBILIZAÇÃO DA GICOSE (GLICÓLISE) A degradação de glicose pode ser iniciada logo após a sua captação celular, quando é fosforilada à Gli6P ou a partir de suas reservas. Em seguida, as moléculas podem ser degradadas, em processo denominado glicólise. O processo de formação de energia (ATP) envolve glicólise (citoplasma), ciclo de Krebs e cadeia respiratória (mitocôndria). Degradação citossólica Tem sido descrita como glicólise anaeróbica (sem O2) que na ausência do O2 tem como produto final o lactato. Na degradação citossólica, pode-se observar a síntese de 4 moléculas de ATP, a partir da fosforilação do ADP, porém são gastos duas moléculas de ATP logo no início da glicólise, considerando saldo energético da glicólise 2 ATPs de energia. A degradação citossólica, embora tenha pouco saldo energético, pode ser indispensável para algumas células, como as hemácias, pois estas não possuem mitocôndrias, e para as células do músculo esquelético, quando em alta atividade. Atenção: pacientes com deficiência de piruvato quinase (converte piruvato em lactato) pode ser risco para anemia hemolítica, pois o excesso de piruvato formado impediria a ressíntese de NAD, provocando sobrecarga metabólica e morte celular. A produção de lactato (embora tóxico) é essencial para ressíntese do NAD e manutenção do processo de glicólise. Sabe-se que o acúmulo de lactato pode ser prevenido ou postergado pela remoção hepática do lactato, sendo convertido em piruvato (Ciclo de Cori) e de piruvato à glicose (gliconeogênese hepática). A velocidade da glicólise é regulada por ação de três enzimas: hexoquinase, fosfofrutoquinase-1 e piruvato quinase. - Ativação de glicólise: elevação de AMP que estimularia fosfofrutoquinase-1 e piruvato quinase. - Inibição da glicólise: altas concentrações de Gli6P que inibiria a hexoquinase; altas concentrações de citrato que inibiriam a fosfofrutoquinase-1 e altas concentrações de Acetil-CoA que inibiria a piruvato quinase. Oxidação do Piruvato Na presença de oxigênio, as moléculas de piruvatoi devem convertidas em Acetil-CoA, pela ação da enzima piruvato desidrogenase, para que isso ocorra, o piruvato deve ser transportada para a matriz mitocondrial. Na mitocôndria, o piruvato é oxidado em Acetil-CoA e desta forma o Acetil-CoA é condensado com o oxaloacetato e entra no Ciclo de Krebs. A partir desta reação, forma-se citrato pela enzima citrato sintetase. O citrato é oxidado por diversas etapas até oxaloacetato novamente. A cada volta do Ciclo de Krebs, forma-se agentes redutores (NADH e FADH2) que serão levados à cadeia respiratória para síntese de ATP. OBS.: a oxidação de AA e Ácidos graxos também tem como produto final Acetil-CoA e, deste modo, a formação e oxidação de Acetil-CoA é o ponto chave da integração metabólica dos compostos alimentares. GLICONEOGÊNESE Gliconeogênese formação de nova glicose por fontes não CHO. Essa conversão possui 3 obstáculos: - conversão de piruvato em fosfoenolpiruvato; - conversão de frutose 1,6 difosfato em frutose-6-fosfato; - conversão de glicose-6-fosfato em glicose livre. Esses obstáculos podem ser facilmente ultrapassados no fígado e, em menor magnitude nos rins. Nutrientes gliconeogênicos: AA glicogênicos, glicerol e lactato. 12 Principais vias de gliconeogênese a partir de aminoácidos: 1.síntese de glicose a partir de alanina: Fig 3: Gliconeogênese a partir da ALANINA. 2. síntese de glicose a partir de glutamina: A síntese de glicose a partir de glutamina é similar à síntese pela alanina, pois a glutamina também pode ser convertida em piruvato. A via de oxidação do Lactato é descrita como segue abaixo: Fig 4: Gliconeogênese a partir da LACTATO. A oxidação do glicerol em nova glicose ocorre pela formação de gliceraldeído-3-fosfato pela quebra do glicerol e deste modo, subindo pela via glicolítica até glicose. Acredita-se que o organismo seja capaz de sintetizar diariamente 130g de glicose pela gliconeogênese, entretanto o consumo pelo SNC é de aproximadamente 150g, sendo 120g para cérebro e 30g para os eritrócitos e, que, em períodos de inanição, a gliconeogênese não seria capaz de suprir as necessidade isoladamente, logo, após 2 a 3 dias de jejum, o cérebro se adapta ao uso de corpos cetônicos como fonte de energia. Por este motivo, a National Academy of Science determinou a DRI de CHO, como ingestão mínima diária de 130g para indivíduos acima de 1 ano de idade, 175g para gestantes e 210g para nutrizes. CARBOIDRATOS E BIOSSÍNTESE DE ÁCIDOS GRAXOS O Ciclo de Krebs é considerado um dos principais motivos de integração entre o metabolismo dos macronutrientes. A formação de Acetil-CoA no início deste ciclo pode ser a chave para a biossíntese de ácidos graxos e triglicerídeos. A síntese de AG a partir de Acetil-CoA envolve: - carboxilação da Acetil-CoA em malonilCoA; - síntese de AG a partir de malonilCoA. Em humanos, o consumo excessivo de CHO e calorias, simultaneamente, parece promover ganho de peso corporal, principalmente por meio da redução da lipólise, e não por meio de uma significativa elevação na síntese de ácidos graxos a partir da cadeia carbônica de CHO ingeridos em excesso. POLIÁLCOOIS Formas alcoólicas da sacarose (sorbitol), manose (manitol) e xilose (xilitol). Possuem alto poder edulcorante e menor resposta insulínica. Além disso, por terem uma baixa absorção, provocam o amolecimento das fezes e até mesmo diarréia. O sorbitol possui a mesma quantidade de calorias que a glicose, ao passo que o manitol possui metade das calorias. BIOQUÍMICA E METABOLISMO DE LIPÍDEOS TIPOS DE LIPÍDEOS Os lipídios podem ser classificados em lipídios simples, lipídios compostos ou lipídio variados. Lipídios simples: ácidos graxos, gorduras neutras (monoglicerídeos, diglicerídeos e triglicerídeos – estes de ácidos graxos com glicerol) e as ceras (ésteres de ácidos graxos com alcoóis de alto peso molecular, como os ésteres de esterol). Lipídios compostos: lipídios complexados a um radical não lipídico, por exemplo, os fosfolipídios, os glicolipídios e as lipoproteínas. Lipídios variados: são os derivados lipídicos, como os esteróis (colesterol, vitamina D e sais biliares) e as vitaminas lipossolúveis (vitaminas A, E e K). 13 ÁCIDOS GRAXOS (AG) Os ácidos graxos são raramente encontrados livres na natureza e quase sempre estão ligados a outras moléculas pelo seu grupo principal de ácido carboxílico hidrofílico. Os ácidos graxos ocorrem principalmente como cadeias de hidrocarboneto não ramificadas com um número par de carbonos e são classificados de acordo com o número de carbonos, o número de ligações duplas e a posição das ligações duplas na cadeia. O comprimento da cadeia e a extensão de saturação contribuem para a temperatura de derretimento de uma gordura. Em geral, as gorduras com ácidos graxos de cadeia mais curta ou mais duplas ligações são líquidas à temperatura ambiente. As gorduras saturadas, especialmente as com cadeias longas, são sólidas à temperatura ambiente. O óleo de coco, que também é altamente saturado, é semilíquido à temperatura ambiente, por causa da predominância de cadeia curta (8 a 14 carbonos). Alguns fabricantes resfriam o óleo e realizam a filtragem para remover as partículas de lipídios solidificadas antes da venda; o óleo resfriado resultante permanece claro quando refrigerado. Em geral, considera-se que os AGCC têm entre 4 e 6 carbonos, os ácidos graxos, de cadeia média de 8 a 14, e os ácidos graxos de cadeia longa (AGCL), de 16 a 20 ou mais. No ácido graxo saturado (AGS), todos os locais de ligação de carbono não ligados a outro carbono são ligados ao hidrogênio, sendo, portanto, saturados. Não há ligações duplas entre os carbonos. Os ácidos graxos monoinsaturados (AGMI) contêm apenas uma ligação dupla e ácidos graxos poli-insaturados (AGPI) contêm duas ou mais ligações duplas. Nos AGMI e AGPI, um ou mais pares de hidrogênio foram removidos, e as ligações duplas formam-se entre os carbonos adjacentes. Como os ácidos graxos com ligações duplas são vulneráveis ao dano oxidativo, os seres humanos e outros organismos de sangue quente armazenam a gordura predominantemente como ácido graxo palmítico saturado (C16:0) e ácido graxo esteárico (C18:0). As membranas celulares devem ser estáveis e flexíveis. Para cumprir essa exigência, os fosfolipídios da membrana contêm um GSA e um ácido graxo poli-insaturado, sendo o ácido araquidônico o mais abundante (C20:4). - Classificação de acordo com o grau de saturação: Saturados – não possuem dupla ligação; Monoinsaturados – possuem uma dupla ligação e apenas AG contendo 14 ou mais carbonos podem existir como MUFAS; Poliinsaturados – possuem duas ou mais dupla ligações. Apenas AG contendo 18 ou mais carbonos podem existir como PUFAS. Fig 5: Tipos de AG segundo KRAUSE. 14 - Sistema ômega de nomenclatura dos AG Facilita a identificação de essencialidade dos AG. Baseia-se na posição da dupla ligação contada a partir do grupo metil (-CH3) e não do carboxila (COOH). Utiliza-se a letra grega ômega (w). W-3 linolênico, EPA e DHA; W-6 linoléico, araquidônico; W-7 palmitoléico; W-9 oléico. ÁCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS Apenas as plantas (incluindo o fitoplâncton marinho) podem sintetizar ácidos graxos ω-6 e ω-3. Os seres humanos e outros animais só podem inserir duplas ligações tão baixas quanto o carbono ω-9 e não podem produzir seus próprios ácidos graxos ω-6 e ω-3. Mas os seres humanos podem dessaturar e aumentar o ácido linoleico (18:2 n-6) para o ácido araquidônico (20:4 n-6) e o ácido alfalinoleico (ALA) (C18:3 ω-3) para EPA (C20:5 ω- 3) e DHA (C22:6 ω-3). Portanto, tanto o ácido linoleico (18:2 n-6) quanto o ALA (C18:3 ω-3) são essenciais na dieta. O termo ácido graxo essencial refere-se às famílias dos ácidos graxos ω-6 e ω-3. Porém, os ácidos graxos de cadeia longa criados a partir dessas famílias são componentes importantes das membranas celulares e precursores de eicosanoides, tais como as prostaglandinas, os tromboxanos e os leucotrienos. Os eicosanoides atuam como hormônios localizados (parácrinos) e possuem múltiplas funções locais. Eles podem alterar o tamanho e a permeabilidade dos vasos sanguíneos, a atividade das plaquetas e contribuir para a coagulação sanguínea. Além disso, os eicosanoides podem modificar os processos de inflamação. Os derivados de ácidos graxos n-3 a partir de fontes dietéticas ou do óleo de peixe, podem ter efeitos benéficos em uma série de doenças, incluindo um funcionamento cerebral melhorado durante o envelhecimento. Um desequilíbrio alimentar entre os ácidos graxos ω-3 e ω-6 contribui para uma grande variedade de doenças. Quantidades excessivas de ácidos graxos ω-6 na alimentação saturam as enzimas que dessaturam e alongan os ácidos graxos ω-3 e ω-6; isso impede a conversão do ALA em EPA e DHA. A proporção ideal de ω-6/ω-3 foi estimada como sendo 2 : 1 a 3 : 1, portanto, recomenda-se uma alimentação com mais ácidos graxos ω-3 provenientes de vegetais e fontes marinhas. O ALA pode ser obtido a partir dos óleos de linhaça (57%), canola (8%) e soja (7%) e de folhas verdes em alguns vegetais como beldroega. Fig 6: Metabolismo de AGPI e formação de eicosanóides. 15 Tab. 4: Fontes de W3 segundo KRAUSE. TRIGLICERÍDEOS (TG) São ésteres formados por uma molécula de glicerol (álcool) ligado a três moléculas de AG. Nos humanos, os TG estão armazenados no tecido adiposo, possuem função de reserva de energia, e independente do tipo de AG presente possuem a relação de 9kcal/g. ÓLEOS E GORDURAS Os TG presentes na dieta são ingeridos como óleos e gorduras. A definição de óleos e gorduras está baseada na consistência e depende do tipo de AG presente no TG. Óleos são líquidos à temperatura ambiente (25°C) e compostos por AG contendo um grande número de MUFAS e PUFAS. Podem ser de origem vegetal (soja etc) ou animal (óleo de peixe). Gorduras são sólidas à temperatura ambiente e compostas por AG saturados ou insaturados trans. ÁCIDOS GRAXOS TRANS Nos ácidos graxos insaturados, os dois carbonos que participam de uma ligação dupla ligam-se cada um a um hidrogênio do mesmo lado da ligação (a forma de isômero cis), fazendo com que o ácido graxo se curve. Quanto mais ligações duplas por ácido graxo, mais inclina-se a molécula. A hidrogenação de ácidos graxos insaturados adiciona hidrogênio aos óleos líquidos, originando uma gordura estável e sólida, como a margarina. O hidrogênio pode ser adicionado tanto na posição natural cis (com dois hidrogênios do mesmo lado da ligação dupla) como na posição trans (com um hidrogênio em lados opostos da ligação dupla). A função da membrana depende da configuração tridimensional dos ácidos graxos da membrana encontrados nos fosfolipídios. As ligações duplas cis na membrana curvam-se, permitindo que os ácidos graxos se agrupem de modo mais frouxo, tornando, assim, a membrana fluída. Como as proteínas embebidas em uma membrana flutuam ou afundam, dependendo da fluidez desta, a viscosidade da membrana é importante para a função de proteção da membrana. Os ácidos graxos trans não se curvam; eles comprimem-se na membrana tão firmemente quanto se estivessem completamente saturados. Os ácidos graxos trans inibem a dessaturação e o alongamento do ácido linoleico e ALA, que são críticos para o cérebro fetal e desenvolvimento do órgão. As principais fontes de ácidos graxos trans na dieta dos Estados Unidos são margarina quimicamente hidrogenada, gordura vegetal, gorduras comerciais para frituras, produtos assados com alto teor de gordura e lanches salgados que contenham essas gorduras. A manteiga e a gordura animal também podem conter ácidos graxos trans provenientes da fermentação bacteriana do rúmen das vacas e ovelhas. Ingestões maiores de ácidos graxos trans estão associadas ao aumento do risco de cardiopatia coronariana, câncer, diabetes melito tipo 2 e alergias, provavelmente devido à sua capacidade de influenciar a fluidez da membrana. 16 ÁCIDO LINOLÉICO CONJUGADO Os ácidos linoleicos conjugados (CLAs) são isômeros posicionais e geométricos do ácido linoleico, e não separados por um grupo metileno como ocorre com o ácido linoleico. Esses isômeros são componentes menores dos lipídios da carne e produtos lácteos. Os isômeros de CLAs são metabolizados no corpo através de diferentes vias metabólicas com diferentes desfechos fisiológicos. Oitenta por cento dos CLAs é o isômero cis -9, trans-11. Outro isômero notável é o trans- 10, cis-12, que é oxidado de forma mais eficiente e tem diferentes resultados biológicos. O isômero cis-9, trans-11parece ser o responsável pelo efeito anticancerígeno dos CLAs; o isômero trans-10, cis- 12 reduz a gordura corporal e altera os lipídios sanguíneos. Ambos os isômeros parecem ser responsáveis pela resistência à insulina em seres humanos. Os CLAs são importantes devido aos efeitos anticarcinogênicos, antidiabetogênicos e antiaterogênicos. Os estudos sobre a suplementação com CLAs demonstraram redução no percentual de gordura e massa corporal. FOSFOLIPÍDEOS São lipídeos alipáticos, contendo glicerol, 2 moléculas de AG e um radical fosfato. A função do fosfolipídeo é formar a bicamada lipídica das membranas plasmáticas das células animais. Atuam como emulsificantes, tanto que estão presentes na bile. O tipo de ácido graxo interfere na fluidez da membrana, que deve ter a consistência de gel. Uma baixa proporção de PUFAS na membrana plasmática, quando comparada com o teor de saturados, pode tornar a membrana mais sólida e menos fluida, o que compromete a sinalização celular. Sabe-se que os fosfolipídeos presentes nas membranas da retina e dos neurônios são ricos em W3, em especial EPA e DHA. Estes podem ser introduzidos pela ingestão de ácido alfa-linolênico ou pela ingestão de EPA e DHA. A lecitina (fosfatidilcolina) é o principal fosfolipídio, sendo o componente principal dos lipídios na membrana de camada dupla de lipídios. É o principal componente das lipoproteínas. Produtos de origem vegetal (leguminosas) também são fontes ricas. A lecitina também é o principal componente das lipoproteínas utilizadas para transportar gorduras e colesterol. A lecitina é produzida pelo corpo com o ácido araquidônico. Pelo fato de todas as células possuírem lecitina como um componente da camada dupla de lipídios, os produtos de origem animal, especialmente fígado e gema de ovos, são fontes ricas em lecitina. Os produtos de origem vegetal, tais como feijão de soja, amendoins, leguminosas, espinafre e germe de trigo, também são fontes ricas. A lecitina é amplamente distribuída no fornecimento de alimentos e é adicionada a produtos alimentares como margarina, sorvete, bolachas e doces como estabilizante. ESFINGOLIPÍDIOS, ALCOÓIS, CERAS, ISOPRENOIDES E ESTEROIDES Todos os organismos produzem pequenas quantidades de lipídios complexos com funções especializadas. Muitos desses lipídios não contêm glicerol e são constituídos por unidades de dois carbonos de acetil coenzima A (acetil CoA). Os esfingolipídios são ésteres de lipídios ligados a uma base de esfingosina, e não de glicerol. Eles são amplamente distribuídos no sistema nervoso dos animais e nas membranas dos vegetais e de eucariotas inferiores, tais como a levedura. A esfingomielina inclui a base nitrogenada colina e constitui mais de 25% da bainha de mielina, a estrutura rica em lipídios que protege e isola as células do sistema nervoso central. Além da fosfatidilcolina, a esfingomielina é encontrada em todas as membranas. As esfingolipidoses compreendem um grupo de doenças genéticas de armazenamento de lipídios nas quais é bloqueada a degradação normal dos esfingolipídios. A doença de Tay-Sachs é um exemplo de doença de armazenamento de lipídios. Os alcoóis de cadeia longa são subprodutos metabólicos dos lipídios. As fezes contêm álcool cetílico, um subproduto do ácido palmítico. A cera de abelhas é rica em álcool miricil palmitato. As ceras consistem em ácidos graxos de cadeia longa ligados a alcoóis de cadeias longas. Essas moléculas são quase completamente insolúveis e, frequentemente, são utilizadas como repelentes de água, como nas plumagens de pássaros e nas folhas de plantas. Os isoprenoides, derivados ativados do isopreno, são um grupo grande e diversificado de lipídios constituídos por uma ou mais unidades de cinco carbonos. O isopreno contém ligações simples e duplas (conjugadas) alternadas, um arranjo que pode extinguir os radicais livres pela aceitação ou doação de elétrons. Terpeno é um termo genérico para todos os compostos sintetizados a partir de precursores de isopreno e inclui óleos essenciais de vegetais (p. ex., terebentina das árvores e limoneno dos limões). Os pigmentos vegetais que transferem elétrons na fotossíntese também são isoprenoides e incluem o licopeno (o pigmento vermelho dos tomates), os carotenoides (os pigmentos amarelo e laranja de abóbora e cenoura) e o grupo clorofila amarelo e verde. As vitaminas lipossolúveis A, D, E e K e a coenzima Q transmissora de elétrons possuem estruturas de isoprenoides. A vitamina E, o licopeno e o β-caroteno são antioxidantes eficazes; os fitoquímicos não nutritivos com função antioxidante também têm uma estrutura isoprenoide. Os esteroides constituem uma classe de lipídios derivados de um anel saturado de quatro membros. O colesterol é a base para todos os derivados esteroides produzidos no corpo, inclusive os glicocorticoides (cortisona) e mineralocorticoides (aldosterona), que são produzidos na glândula suprarrenal, andrógenos (testosterona) e estrogênios (estradiol) produzidos nos testículos e nos ovários, respectivamente, e ácidos biliares, produzidos no fígado. O hormônio vitamina D é formado quando os raios ultravioleta do Sol clivam o colesterol na gordura subcutânea para formar o colecalciferol (D3). A vitamina D sintética é produzida pela irradiação do esteroide vegetal ergosterol para formar ergocalciferol (D2). O colesterol também desempenha papel importante na função da membrana. A molécula rígida de quatro anéis está ligada na membrana hidrofóbica pelo seu grupo hidroxila. Os anéis planares rígidos espalham-se a distância e imobilizam parcialmente as cadeias de ácido graxo próximas à região polar. Ao mesmo tempo, a extremidade de hidrocarboneto não polar 17 contribui para a maior fluidez no interior da membrana. As membranas plasmáticas contêm grande quantidade de colesterol – até uma molécula para cada molécula de fosfolipídio. Os glicolipídios incluem os cerebrosídeos e os ganglosídeos, que são compostos de uma base de esfingosina e ácidos graxos de cadeia muito longa (C22). Os cerebrosídeos contêm galactose; os ganglosídeos também contêm glicose e um composto complexo que contém um aminoaçúcar. Estruturalmente, ambos os compostos são componentes do tecido nervoso e de membranas celulares nas quais desempenham papel no transporte de lipídios. LIPÍDIOS SINTÉTICOS Os triglicerídeos de cadeia média (TCM) são AGS com um comprimento de cadeia entre 6 e 12 carbonos. Apesar de os TCMs ocorrerem naturalmente na gordura do leite, no óleo de coco e no óleo de palmeira, eles também são produzidos comercialmente (óleo TCM) como um subproduto da produção de margarina. Os óleos de TCM fornecem 8,25 kcal/g e são importantes em uma série de situações clínicas, pois são curtos o suficiente para serem hidrossolúveis, necessitam de menos sal biliar para a solubilização, não são reesterificados nos enterócitos e são transportados como ácidos graxos livres, ligados à albumina, através do sistema portal. Como a taxa do fluxo sanguíneo portal é cerca de 250 vezes mais rápida do que o fluxo da linfa, os TCMs são digeridos rapidamente e não são afetados pelos fatores intestinais que inibem a absorção de gordura. Eles não são armazenados no tecido adiposo, mas são oxidados em ácido acético. Os lipídios estruturados incluem o óleo de TCM esterificado com um ácido graxo desejado, tal como o ácido linoleico, ou um lipídio ω-3. O produto combinado é absorvido mais rapidamente do que o triglicerídeo de cadeia longa sozinho. Clinicamente, os lipídios estruturados desempenham seu papel nas fórmulas parenterais, como no aumento da função imunológica ou no desempenho de atletas. Os substitutos de gorduras são estruturalmente diferentes das gorduras e não fornecem nutrientes prontamente absorvíveis. A sua importância comercial é que imitam a textura e outras sensações da gordura, especialmente na boca. Os substitutos de gordura diferem em sua base de macronutrientes e na extensão na qual imitam as características da gordura. O valor calórico desses substitutos varia entre 5 kcal/g (p. ex., caprenina) e 0 kcal/g (p. ex., olestra, carragenina). A maior parte dos substitutos de gordura deriva de polissacarídeos de plantas, tais como gomas, celulose, dextrina, fibras, maltodextrinas, amidos e polidextrose. O olestra é um poliéster de sacarose no qual a sacarose é esterificada com 6 a 8 ácidos graxos para formar os ésteres. As cadeias de ácidos graxos variam em comprimento de 12 a 24 carbonos e são derivadas de óleos comestíveis, tais como os óleos de soja, de algodão e de milho. O produto possui as propriedades físicas das gorduras dietéticas naturais. Como não são absorvíveis, os poliésteres da sacarose não contribuem com calorias para a dieta. As fontes de gordura podem ser modificadas para reduzir a absorção GI e a disponibilidade calórica. Os monoacilglicerídeos (monogliceróis) e diacilgliceróis (diglicerídeos) são utilizados como emulsificantes e contribuem para as propriedades sensoriais da gordura, mas possuem menos calorias (aproximadamente 5 kcal/g). O Salatrim tem moléculas de triglicerídeo de AGS e ácido graxo de cadeia longa e contém 5 kcal/g devido à reduzida absorção. As preocupações sobre os efeitos em longo prazo dos substitutos de gordura são que estes podem ligar os ácidos graxos essenciais às vitaminas lipossolúveis e contribuem para a má absorção dessas ligações ou têm efeitos negativos sobre os mecanismos reguladores de ingestão de energia fundamental. DIGESTÃO DOS LIPÍDEOS O processo digestório de lipídios se inicia no estômago por ação FÍSICA (propulsão, retropropulsão e mistura), importante para e emulsificação, e por ação ENZIMÁTICA (ação das lipases lingual e gástrica). As lipases lingual e gástrica promovem a emulsificação e quebra dos TCCs e TCMs. Após ingeridos, os lipídeos, ao alcançarem o duodeno, estimulam a liberação de CCK, hormônio que promove o estímulo à liberação de suco pancreáticas (rico em lipase) e ejeção de bile, após contração da vesícula biliar. A bile promove emulsificação das gorduras, em gotículas menores, permitindo assim a ação da lipase pancreática na camada aquosa da borda em escova. A lipase pancreática promove hidrólise dos triglicerídeos presentes nestas gotículas de gordura. Ela hidrolisa apenas as ligações SN1 e SN3 da molécula de triglicerídeos, permitindo a formação de pequenas micelas, ricas em AG e monoglicerídeos (glicerol ligado a molécula de ácido graxo na posição SN2), desta forma, os lipídeos podem ser absorvidos pela membrana basal da borda em escova (em íleo). O colesterol livre não sofre ação de nenhuma enzima, e é absorvido como tal, já o colesterol esterificado sofre a ação da enzima colesterol hidrolase que libera AG e colesterol livre para absorção. 18 Fig. 7: Digestão de lipídeos. LIPOPROTEÍNAS As lipoproteínas são as moléculas de transporte de lipídeos pelo organismo, de forma que quilomícrons transportam os lipídeos dietéticos, o VLDL, rico em triglicerídeos, transporta lipídeos endógenos. O IDL é remanescente do metabolismo de VLDL. Ao passo que o LDL e o HDL transportam colesterol. Tabela 5: Tipos de lipoproteínas. LIPOPROTEÍNA APOPROTEÍNA QM A1, B48, C2, E VLDL B100, C1, C2, C3, E IDL B100, C1, C2, C3, E LDL B100 HDL2 A1, E, A4 HDL3 A1, A2, A4, C1, C2, C3, D, E Lp(a) B100, (a), C3, E CLASSIFICAÇÃO DAS DISLIPIDEMIAS Hipertrigliceridemia: aumento de triglicerídeos; Hipercolesterolemia: aumento de colesterol e LDL; Hiperlipidemia mista: aumento de triglicerídeos, colesterol e LDL e diminuição da HDL. METABOLISMO DOS TG - Lipólise do tecido adiposo: Os TG do tecido adiposo são mobilizados para produção de energia em diferentes situações fisiológicas. A enzima lípase hormônio sensível, presente nos adipócitos, é estimulada por glucagon, adrenalina, GH e cortisol, hidrolisando o TG e liberando AG livres que serão transportados pela albumina até fígado, coração e musculatura esquelética para sofrerem oxidação e gerarem energia. - Oxidação dos AG: A oxidação completa dos AG envolve a beta-oxidação para a formação de Acetil-CoA, ciclo de Krebs e cadeia respiratória. Para ocorrer beta-oxidação devem ocorrer as seguintes etapas: 1.ativação no citoplasma; 2. passagem do AG ativado do citoplasma para a matriz da mitocôndria, carreado pela carnitina; 3. oxidação do acilCoA em Acetil-CoA. O rendimento energético para que um ácido graxo de 16 carbonos tenha completa formação de Acetil-CoA, são necessária sete voltas no ciclo, gerando como saldo 129 ATPs. - Biossíntese de AG A síntese de AG ocorre principalmente no tecido adiposo, fígado e glândula mamária, estimulada pelo excesso de Acetil-CoA proveniente da oxidação de CHO e AA. CORPOS CETÔNICOS Nos mamíferos, o Acetil-CoA produzido pela oxidação de AG e pela quebra de AA cetogênicos pode ser 19 convertido em corpos cetônicos, que serão utilizados como fonte de energia via ciclo de Krebs e cadeia respiratória em outros tecidos. O termo corpos cetônicos refere-se a 3 compostos: acetona, beta-hidrobutirato e acetoacetato. A produção de corpos cetônicos pelo fígado ocorre em casos de jejum prolongado (superior a 12h), inanição, dieta com redução de CHO e DM1 não tratado. É uma via alternativa para fornecimento de energia. No jejum prolongado, a produção de corpos cetônicos é igual ao seu gasto. O excesso de corpos cetônicos pode levar à acidose, como acontece na cetoacidose diabética. Os corpos cetônicos economizam glicose obtida da gliconeogênese, privilegiando o gasto de gordura em relação à proteínas do corpo. Eles provêm da beta- oxidação dos ácidos graxos e ocorre na mitocôndria dos hepatócitos. São carreados pelo sangue e utilizados como fonte de energia pelo coração, musculatura esquelética, cérebro (passam a barreira hematoencefálica) e produzem 26 moléculas de ATP por corpo cetônico oxidado, saldo semelhante à glicose (32 ATPs). METABOLISMO DO COLESTEROL A síntese do colesterol ocorre principalmente no fígado (70% do colesterol endógeno), também ocorre no intestino, nas adrenais, ovários, testículos e placenta. A síntese ocorre a partir do excesso de Acetil-CoA proveniente do metabolismo de CHO e a insulina estimula a ação da HMG-CoA redutase (enzima que controla a primeira etapa da síntese de colesterol) A principal via de excreção de colesterol é a biliar. Fibras solúveis como pectina e medicações como a colestiramina diminuem a reabsorção de sais biliares (chamado ciclo entero-hepático) e aumentando a excreção de sais biliares nas fezes, deste modo, utiliza-se colesterol endógeno para a produção de novos sais biliares e tem-se a redução do colesterol. O fígado passa a expressar mais receptores de LDL-C e deste modo reduz o LDL-C sérico, reduzindo o risco de DCV. NECESSIDADES NUTRICIONAIS As recomendações para a ingestão de lipídios devem levar em consideração os efeitos documentados dos vários componentes de lipídios na saúde, assim como na epidemia de obesidade mundial. Por exemplo, é sabido que os AGS aumentam as concentrações séricas de LDL, enquanto os ácidos graxos poli-insaturados (AGPI) diminuem as “boas“ e as “más” lipoproteínas. Em 2005, a Dietary Guidelines for Americans (USDA) recomendou o consumo de menos de 10% das calorias como AGS. Os AGS e os AGMIs, especialmente aqueles presentes no azeite de oliva, quando submetidos ao estresse térmico, não produzem esses produtos tóxicos. A gordura saturada e os óleos parcialmente hidrogenados possuem menos locais de ligação de oxigênio e, portanto, possuem estabilidade aumentada e um prazo de validade maior. Contudo, a sua ingestão está associada a um maior risco de doença cardiovascular. Por outro lado, o consumo elevado de AGPI também pode ser prejudicial. As ligações duplas são altamente reativas e ligam-se ao oxigênio para formar peróxidos quando expostas ao ar ou ao calor. Quando submetidos à fritura ou ao cozimento de rotina, os AGPIs podem gerar concentrações elevadas de produtos de aldeído tóxicos que estão associadas às doenças cardiovasculares e ao câncer. BIOQUÍMICA E METABOLISMO DO ÁLCOOL (ÁLCOOL ETÍLICO ou ETANOL) O álcool tem 7 kcal/g e nenhum valor nutricional. Ele é capaz de permear todas as membranas, sendo rapidamente absorvido. É metabolizado primariamente pela enzima hepática álcool desidrogenase (ADH) em acetaldeído e, então, em acetil coenzima A, que pode ser utilizada para a síntese de gordura ou entrar no ciclo do ácido tricarboxílico (TCA). A enzima ADH necessita de tiamina e niacina para que possa atuar. Quando a quantidade de álcool na célula exceder a capacidade da enzima álcool desidrogenase de metabolizar o álcool ou quando a niacina (como NAD+) estiver depletada, o sistema microssomal de oxidação do etanol (SMOE) também irá metabolizar o álcool em acetaldeído. O consumo crônico de álcool induz tanto a ADH como certas enzimas no sistema SMOE. Como o sistema SMOE também é responsável pelo metabolismo de muitas substâncias, a ingestão crônica de grande quantidade de álcool (alcoolismo) pode alterar as respostas da substância de maneira imprevisível. Por exemplo, o alcoolismo, ao levar à indução de SMOE, faz com que a pessoa fique tolerante não apenas ao álcool como também a outras drogas. Porém, se, em determinado momento, o SMOES ficar saturado com o álcool, as drogas não são metabolizadas na taxa esperada e pode ocorrer uma superdosagem da droga. Além da produção de acetaldeído nessas vias, o álcool pode contribuir para o desenvolvimento de cirrose hepática. BIOQUÍMICA E METABOLISMO DE PROTEÍNAS (PTN) E AMINOÁCIDOS (AA) É o principal componente estrutural e funcional de células do organismo. Quase 50% do conteúdo protéico está presente em: actina, miosina, colágeno e hemoglobina. Colágeno corresponde 25% do total e em desnutridos pode representar até 50% do total (devido ao catabolismo protéico). CLASSIFICAÇÃO 1. de acordo com a solubilidade: albuminas, globulinas e histonas. 2. de acordo com a função biológica: - enzimas: quinases, desidrogenases; - ptns de estoque: mioglobina e ferritina; - ptns regulatórias: ligadas ao DNA, hormônios; - ptns estruturais: colágeno e proteoglicanos; - ptns de proteção: Ig; fatores de coagulação; - ptns de transporte: hemoglobinas e lipoproteínas; - ptns contráteis: actina e tubulina. 3. segundo a forma geral: 20 - globulares: função dinâmica; razão axial (comprimento: largura) <10, alta solubilidade. Ex: caseína, plasma e hemoglobina. - fibrosas: razão axial > 10, função estrutural, baixa solubilidade. Ex: colágeno, queratina e miosina. ATIVIDADE BIOLÓGICA DAS PROTEÍNAS Os AA estão ligados covalentemente por ligações peptídicas, gerando estruturas primárias, secundárias, terciárias e quaternárias. Atividade biológica: ptns nativas (estrutura secundária, terciária e quaternária). A estrutura quaternária refere-se a ligações não covalentes de diferentes cadeias polipeptídicas. Ex.: hemoglobina. Fig. 8: Estruturas e conformações da proteína. AMINOÁCIDOS Os AA são precursores de hormônios, ácidos nucléicos e subunidades monoméricas, desse modo, são as unidades básicas das ptns. Apenas 20 AA (L-alfa-AA) são constituintes de ptns de mamíferos. Os processos de transdução e tradução gênicas resultam na polimerização de AA em cadeia linear (estrutura primária da ptn). O único AA que é um L-alfa-iminoácido é a prolina (sua estrutura resulta da ligação do terminal alfa-amina; -NH2; à cadeia variável alifática). CLASSIFICAÇÃO NUTRICIONAL E METABÓLICA 1.de acordo com a cadeia lateral / grupamento funcional: Todos os aminoácidos têm a mesma estrutura geral, mas o grupo R é diferente para cada um. Os aminoácidos são abreviados pelo uso de um código de três letras e de uma única letra. Os aminoácidos marcados com um asterisco (*) são essenciais. Aqueles marcados com dois asteriscos (**) são essenciais para os lactentes e aqueles com certas doenças crônicas. - apolar: glicina, alanina, valina, leucina, isoleucina, fenilalanina, triptofano, metionina e prolina. - neutra: serina, treonina, tirosina, asparagina, cisteína e glutamina. - ácida: ácido aspártico e ácido glutâmico. - básica: histidina, lisina e arginina. 21 Fig. 9: Estruturas e funções dos 20 aminoácidos necessários para os humanos. 2. nutricionalmente: A síntese de proteínas exige a presença de todos os aminoácidos necessários durante o processo. Quimicamente, os aminoácidos são ácidos carboxílicos com um grupo amino ligado ao carbono α. Todos os aminoácidos possuem essa mesma estrutura geral; a cadeia lateral também é ligada ao carbono α (o grupo R), o que determina a identidade e a função de cada aminoácido. Observe que o carbono α é um carbono quiral e que isômeros podem ser formados. O isômero L é funcional no corpo humano. Muitos aminoácidos podem ser sintetizados a partir dos esqueletos de carbono produzidos como intermediários nas principais vias metabólicas por um processo chamado transaminação, que adiciona um grupo amino a um outro aminoácido, sem realmente produzir um grupo amino livre. A transaminação é um processo importante, pois permite a produção de aminoácidos não essenciais a partir dos intermediários metabólicos enquanto utiliza grupos amino livres, não estando, portanto, disponíveis para a produção de amônia tóxica. Por exemplo, o piruvato formado durante a glicólise é facilmente convertido no aminoácido alanina pela adição do grupo amino através da enzima alanina aminotransaminase. Por outro lado, os aminoácidos essenciais possuem esqueletos de carbono que os seres humanos não são capazes de sintetizar (ou não podem sintetizar o suficiente), devendo ser obtidos pela dieta. A proteína também pode ser uma fonte de energia. As proteínas contém 5 kcal/g; a remoção do grupo amino e a formação e a excreção de ureia (desaminação) tem um custo metabólico de 1 kcal/g. Assim, o produto resultante do esqueleto de carbono pode ser utilizado para produzir energia a uma taxa de 4 kcal/g. Indispensáveis Histidina Isoleucina Leucina 22 Lisina Metionina Fenilalanina Treonina Triptofano Valina Dispensáveis Alanina Ácido aspártico Asparagina Ácido glutâmico Serina Condicionalmente Indispensáveis Arginina Cisteína Glutamina Glicina Prolina Tirosina VALOR BIOLÓGICO DE PROTEÍNAS Proteínas tem bom valor biológico quando elas possuem todos os aminoácidos essenciais em proporções apropriadas. Produtos animais (carne, leite e ovos) são fontes de proteína de bom valor biológico. Proteínas de mau valor biológico são proteínas deficientes em um ou mais aminoácidos essenciais. Produtos vegetais, em geral, contem proteínas de mau valor biológico. Leguminosas com soja, feijões, grão-de-bico, ervilha, lentilha, são deficientes metionina, embora as proteínas de leguminosas oleaginosas (soja, amendoim e etc.) se aproximem mais dos produtos animais. Nos cereais o aminoácido limitante é lisina. A complementaridade é realizada por combinações de proteínas de diferentes teores de AA essenciais, por exemplo, arroz pobre em lisina e rico em metionina e feijão, pobre em metionina e rico em lisina. A introdução de alimentos protéicos de origem animal (ricos em todos os AA essenciais) com cereais ou leguminosas é outra forma de complementação. Conforme observado, se o perfil de aminoácidos de um alimento não suprir as necessidades do ser humano, os aminoácidos que estão em deficiência serão considerados limitantes. A qualidade da proteína dietética pode ser melhorada pela combinação de fontes de proteínas com diferentes aminoácidos limitantes. As dietas com base em um único gênero alimentício de origem vegetal não promovem um crescimento adequado, pois a dieta não possui a quantidade adequada de aminoácidos limitantes capaz de fornecer substratos para a síntese de proteína. Se outra proteína vegetal, que contém um excesso do aminoácido limitante, for adicionada à dieta, a combinação da proteína é complementada; os aminoácidos essenciais são adequados para o suporte da síntese de proteína humana. O conceito de proteínas complementares é importante para as populações que não ingerem proteína animal ou em risco de insuficiência na diversificação alimentar. Considera-se desnecessário consumir aminoácidos complementares durante uma única refeição, mas eles devem ser consumidos no mesmo dia. As crianças, mulheres grávidas e mães que estejam amamentando e que consomem dietas veganas precisam planejá-las cuidadosamente para incluir uma mistura de alimentos que contenha aminoácidos. Fig. 10: Complementaridade proteica DIGESTÃO PROTÉICA Cerca de 70 a 100g são provenientes da dieta e 35 a 200g por síntese endógena (turnover endógeno). A perda fecal é de 1 a 2g de N2 diários. a). A digestão protéica possui 3 fases: gástrica, pancreática e intestinal: - fase gástrica (pH ácido): o suco gástrico (HCl e pepsinogênio) é secretado pelas células principais, e o pH de ação (1 a 3) permite a ativação do pepsinogênio em pepsina. O pepsinogênio pode sofrer ativação pelas pepsinas já ativadas (processo de autocatálise). A pepsina é desnaturada em pH superior a 5. - fase pancreática (pH alcalino): no suco pancreático, as principais proteases são tripsinogênio, quimiotripsinogênio, elastase e carboxipeptidases. O tripsinogênio, após secretado, na luz intestinal, é quebrado pela enterocinase (presente na borda em escova) sendo ativado em tripsina. - fase intestinal (pH alcalino): ocorre término da digestão – 40% AA e 60% di e tripeptídeos. ABSORÇÃO DE RESÍDUOS PROTÉICOS Os peptídeos menores (2 a 8 AA) são digeridos na luz intestinal por aminopeptidases, dipeptil aminopeptidases e dipeptidases, liberando AA livres, di e tripeptídeos. Os resíduos podem ser absorvidos por transporte ativo ou por difusão facilitada. Certos AA competem entre si, durante a absorção, pelos transportadores de membrana, deste modo a absorção de di e tripeptídeos torna-se importante para manter balanço nitrogenado positivo. Este transporte é realizado pela PepT-1, presente na membrana apical do enterócito, que possui ampla especificidade e transportam por transporte ativo, di e tripeptídeos. Os di e tripeptídeos absorvidos são digeridos no citossol dos enterócitos liberando AA na circulação portal, ou utilizados pelo enterócito. A proteína de transporte de peptídeos na membrana basolateral permite o transporte por difusão facilitada. 23 Fig. 11: Absorção de resíduos proteicos. BALANÇO NITROGENADO O pool metabólico de AA é necessário para manutenção do equilíbrio dinâmico protéico. Fig. 12: Turnover protéico – processo normal, essencial, denominado balanço nitrogenado (BN) que corresponde à diferença entre nitrogênio ingerido e excretado.
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