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1 MANUAL DE CONDUTAS PRONTO-SOCORRO CLÍNICA OFTALMOLÓGICA HOSPITAL DAS CLÍNICAS - FMUSP São Paulo 2 2011 Professor Titular: Remo Susanna Jr Assistente Responsável pelo Pronto-Socorro: Sergio Luis Gianotti Pimentel Edição e Coordenação: Julio Zaki Abucham Neto André Augusto Miranda Torricelli 3 Índice Tema Organizador Revisor Pág. Pálpebras e Vias Lacrimais Camilla Duarte Silva Suzana Matayoshi 4-11 Órbita Rafael Miranda Silva Frederico Castelo Moura Allan Christian Pieroni Gonçalves Mario Luiz Ribeiro Monteiro 12-19 Córnea e Conjuntiva Cristiana Dumaresq de Oliveira Milton Ruiz Alves Ruth Miyuki Santo 20-31 Glaucoma Renata de Iracema Pulcheri Ramos Roberto Freire Santiago Malta 32-38 Uveíte Ana Paula Calil Guermandi Carlos Eduardo Hirata 39-42 Retina e Vítreo Marcelo Mendes Lavezzo Walter Yukihiko Takahashi Sergio Luis Gianotti Pimentel 43-56 Neuroftalmologia Aron Barbosa Caixeta Guimarães André Carvalho Kreuz Mario Luiz Ribeiro Monteiro Roberto Battistella 57-67 Trauma Emanuel Fernando Pandolfo Machado Pedro Carlos Carricondo 68-75 Complicações Pós-operatórias Thiago Gonçalves dos Santos Martins Leandro Cabral Zacharias 76-90 Adendos André Carvalho Kreuz Sergio Luis Gianotti Pimentel 91-97 4 Pálpebras e Vias Lacrimais Capítulo Autor Página Laceração Palpebral Camilla Duarte Silva 05-06 Dacriocistite Aguda Rafael Garcia Fernandes Nogueira 07 Herpes Simples Gustavo Yamamoto 08-09 Herpes Zoster Gustavo Yamamoto 10-11 Organização: Camilla Duarte Silva Revisão: Suzana Matayoshi 5 LACERAÇÃO PALPEBRAL História de trauma facial, TCE ou mordedura Perda de consciência ? Sim Não Aval. da cirurgia geral Exame oftalmológico completo. Perfuração ocular associada? Avaliação oftalmol. da lesão ocular Estabilização sistêmica Não Sim Suspeita de CE, ruptura de globo ou trauma grave 1.Laceração nasal aos pontos lacrimais? 2.Crianças que não cooperam? 3.Extensa perda tissular ou distorção anatômica? 4.Lesão do elevador (ptose) ou reto superior (altura)? Internação + jejum + pré-op + cirurgia de sutura da perfuração com ou sem VVPP (caso de CEIO associado) TC órbita axial e coronal Sim Não Internação + jejum + pré-op : 1. Comunicar ao R3 da plástica ocular para efetuar a sutura + intubação da VL. 2.Checar possiblidade de sondagem e verificação da laceração canalicular. Sutura da laceração no PS (vide tratamento) 6 Tratamento no PS: (Somente em casos de laceração palpebral sem acometimento canalicular ou muscular) Todos os pacientes devem ser avaliados quanto à necessidade de profilaxia anti- tetânica e anti-rábica (ver apêndice). Sempre que possível, deve-se optar pelo fechamento 1ário devido ao intenso suprimento sanguíneo palpebral e às possíveis complicações que podem estabelecer- se em consequência à sua má oclusão: lagoftalmo, úlcera de córnea, etc. No entanto, feridas contaminadas e com muito edema tecidual, que inviabilizem o fechamento 1ário, podem ser deixadas abertas para cicatrização por segunda intenção ou sutura num segundo tempo. Preferência pela reparação imediata ou nas 1as 24h. Em caso de falta de condições clínicas e/ou falta de cirurgião experiente diante de laceração complexa e/ou edema importante, pode-se postergar a reparação até 72h com resultado satisfatório. Deixar o paciente em DDH em sala devidamente iluminada; Aplicar anestésico tópico em ambos os olhos; Realizar assepsia da ferida e da pele ao redor com iodopovidona tópico; Colocar campo oftalmológico estéril e a partir deste momento utilizar apenas material estéril; Aplicar anestesia local com lidocaína 2% com adrenalina 1:200000 nas margens da lesão; Irrigar abundantemente a ferida com SF (soro fisiológico); Retirar possíveis corpos estranhos presentes na ferida; Colocar protetor ocular antes da sutura (lente escleral). Lacerações não envolvendo a margem palpebral: Sutura da pele com mononylon 6-0 pontos simples. Lacerações envolvendo a margem palpebral: Sutura da margem em três planos com seda 6-0 ou Vicryl 6-0 (linha dos cílios anterior, linha cinzenta intermediária e linha posterior) deixando o fio longo para posicionamento final dentro da sutura da pele perto da margem palpebral; Sutura do tarso em toda sua extensão com Vicryl 6-0, caso haja acometimento do mesmo, para preservação da anatomia palpebral; Sutura do orbicular com Vicryl 6-0 caso haja dificuldade de aproximação da pele; Sutura da pele com mononylon 6-0 ponto simples. Remover o protetor ocular; Aplicar pomoda antibiótica (por ex. gentamicina) na ferida 3x/dia por 7 dias; Antibiótico sistêmico por 7-10 dias no caso de contaminação da ferida (adultos: cefalexina 500mg 6/6h; crianças: cefalexina 50mg/Kg/dia de 6/6h → diluição de 50mg/ml = peso/4); Orientar remoção de suturas da pele em 7 dias e da margem em 14 dias. 7 DACRIOCISTITE AGUDA Definição: Inflamação aguda do saco lacrimal, podendo formar ou não abscesso. Etiologia: Infecciosa, quase sempre relacionada à obstrução do ducto nasolacrimal. Sinais e sintomas: Tumefação dolorosa, de instalação rápida, avermelhada e com edema de partes moles adjacentes, sob o tendão cantal medial, na topografia do saco lacrimal. Diagnóstico: História de infecções prévias e concomitantes de ouvido, nariz ou garganta; Saída de secreção muco-purulenta pelo ponto lacrimal quando se produz uma leve compressão na topografia do saco lacrimal; Avaliar motilidade ocular extrínseca e acuidade visual para diferenciar de celulite pós-septal. Não realizar sondagem ou irrigação da via lacrimal durante infecção aguda!!! Tratamento Compressas mornas e massagem. Promover analgesia com AINE e antibioticoterapia sistêmica. Considerar incisão e drenagem para abscesso que esteja flutuando (colher Gram e culturas) CRIANÇAS: O agente etiológico mais comum é o estafilococo. Considerar também Haemophilus influenza. Deve-se pesquisar sinusite e otite simultaneamente. ADULTOS: Os agentes etiológicos mais comuns são o estafilococo e o pneumococo Cefalosporinas de 2a geração (cefuroxima VO 125mg de 12/12h, suspensão de 250mg/5ml); Cefalosporina de 3ª geração (ceftriaxone injetável 25mg/kg de 12/12h); Alternativo: Amoxicilina/Clavulonato 20 a 40 mg/kg/dia em três doses. Cefalosporinas de 2a geração (cefaclor 500 mg de 8/8hs ou cefuroxima 500mg de 12/12hs); Cefalosporinas de 1a geração (Cefalexina 500 mg de 6/6hs); Em casos graves Ceftriaxone 1g EV/IM de 12/12hs 7-14 dias. Alternativo: Amoxicilina/Clavulonato 500mg 8/8hs. *Na maioria das vezes o tratamento é domiciliar com retornos diários até melhora do quadro. *Considerar internação hospitalar para antibioticoterapia EV em casos refratários ao tratamento VO e/ou pacientes com comprometimento do estado geral. Solicitar avaliação via PS da Pediatria ou Clinica Médica conforme o caso. Na melhora do quadro, agendar cirurgia a curto prazo (dacriocistorrinostomia). *Após resolução do quadro agudo, encaminhar o paciente para o ambulatório de plástica ocular para avaliar possível obstrução das vias lacrimais e tratamento adequado. *Nota: Considerar realização de TC órbita e seios paranasais em casos atípicos, graves ou que não responderam à antibioticoterapia. 8 VÍRUS HERPES SIMPLES 1) Epidemiologia: Fatores de risco para doença grave: AIDS, crianças, desnutrição, sarampo, malária e doença ocular atópica. 2) Quadro Clínico: Sintomas Dor, vermelhidão, fotofobia, lacrimejamento, embaçamento visual, episódios prévios. Geralmente unilateral. Sinais Neonatal: infecção de pele, oculare boca localizada, SNC ou múltiplos órgãos. Demais idades: lesões de pele e pálpebras, conjuntivite folicular aguda, lesão de córnea (ulceração com dendritos, diminuição de sensibilidade, cicatrizes, úlcera neurotrófica, neovasos, lesões estromais), uveíte e lesão de retina. 3) Diagnósticos Diferenciais: Herpes Zoster: pseudodendritos (sem bulbo terminal verdadeiro), não atravessam linha média, distribuída em dermátomo. Acanthamoeba: pseudodendritos, uso prévio de LC, curso crônico, dor desproporcional. Ceratite por vaccínia: vacinação recente contra varíola. Erosão corneana recorrente: lesão semelhante a dendrito. 4) Avaliação: História: episódios prévios, trauma, uso de LC, estado de imunodeficiência, lesões de mucosa, uso de corticóide. Exame físico: exame ocular externo, biomicroscopia, PIO, sensibilidade corneana, fundoscopia. 5) Diagnóstico e Conduta: O diagnóstico é clínico. Em casos duvidosos, raspar lesão (PCR, cultura). Vide algoritmo. Trocar medicamento tópico para via oral se não puder ser administrado. 9 Pele, Pálpebra, Conjuntiva Aciclovir pomada oftálmica, 5x/ dia; compressas frias 3x/dia; retornar em 2- 7 dias no PS OFT para reavaliar Córnea Aciclovir pomada oftálmica, 5x/ dia; compressas quentes ou frias 3x/dia; retornar em 2 dias no PS OFT para reavaliar. Se lesão estromal, acompanhar e discutir no amb. da córnea (2ªf, 3ªf ou 4ªf), considerar uso de corticosteróide (contra indicado se doença epitelial), ATB, cicloplégicos e hipotensores se PIO elevada (exceto análogos de prostaglandinas) Perfuração Internação (ramal 6287), solicitar exames pré- operatórios, fazer aviso, conseguir carimbo do chefe do PS e enfermeira de plantão, ligar no CC 9º andar para conseguir sala (ramal 6358), contactar R3 da córnea. Uveíte Aciclovir pomada oftálmica, 5x/ dia, cicloplégico, hipotensores se PIO elevada, considerar corticoesteróides, levar para discutir caso na uveíte (3ªf ou 6ªf de manhã ou às 4ª feiras à tarde). Solicitar exames laboratoriais (RX tórax, sorologias, PPD, hemograma para afastar outras causas) Acometimento: 10 VÍRUS HERPES-ZOSTER 1) Epidemiologia Mais freqüente na 6ª e 7ª décadas de vida. Pode ser a 1ª manifestação do HIV e é mais grave nestes pacientes e em idosos. Geralmente unilateral e acomete mais pálpebra superior. 2) Quadro Clínico Sintomas Acomete dermátomo (dor, vermelhidão, erupção ou desconforto cutâneo), alteração de sensibilidade (parestesia, hipoestesia), febre, embaçamento visual e cefaléia. Sinais Lesões de pele e pálpebras (respeita linha média); Sinal de Hutchinson: lesão em ponta de nariz por acomentimento de nervo nasociliar – indica risco de lesão ocular; Conjuntivite; Lesão de córnea (pseudodendritos, ceratite estromal imune, ceratite neurotrófica). Pode durar anos e ocorrer antes ou após a lesão de pele; Uveíte, Esclerite; Neurite óptica; Coroidite; Paralisia de nervos cranianos. 3) Diagnóstico Diferencial Herpes simples: jóvens, dendritos (com bulbo terminal verdadeiro), atravessam a linha média, não distribuída em dermátomo. 4) Avaliação História: duração de lesão e dor, episódios prévios, trauma, uso de LC, estado de imunodeficiência, lesões de mucosa, uso de corticóide. Exame físico: exame ocular externo, biomicroscopia, PIO, sensibilidade corneana, fundoscopia (atentar para necrose de retina). 5) Diagnóstico e Conduta É clínico. Nos casos duvidosos raspar lesão (PCR, cultura). Vide algoritmo. Se houver dor intensa, usar opióides e/ou amitriptilina 25mg VO 3x/dia. 11 Cutâneo Aciclovir VO 800mg, 5x/ dia por 7-10 dias; compressas frias 3x/dia; retornar em 1-4 semanas no PS OFT para reavaliar. Córnea Aciclovir pomada oftálmica, 5x/ dia; compressas quentes ou frias 3x/dia; lubrificantes; retornar em 2 dias no PS OFT para reavaliar. Se lesão estromal, acompanhar e discutir no Amb. da Córnea (2ªf, 3ªf, 4ªf ou 6ªf de manhã), considerar corticosteróide (contra indicado se doença epitelial), ATB, cicloplégicos e hipotensores se PIO elevada (exceto análogos de PG) perfuração Internação, solicitar exames pré- operatórios, fazer aviso, conseguir carimbo do chefe do PS e enfermeira de plantão, ligar no CC 9º andar para solicitar sala (ramal 6358). Uveíte Aciclovir pomada oftálmica, 5x/ dia, cicloplégico, hipotensores se PIO elevada, considerar corticoesteróides, levar para discutir caso na uveíte (3ªf ou 6ªf de manhã ou 4ªf à tarde). Solicitar exames (RX tórax, sorologias, PPD, hemograma) para afastar outras causas. Acometimento úlcera Colher esfregaço e cultura. Se estéril e sem resposta LC terapêutica, tarsorrafia, enxerto de membrana amniótica ou retalho conjuntival Craniano, orbital, nervo óptico, retina, coróide Internação, exames laboratoriais p/ avaliar imunidade, solicitar avaliação da neurologia. Se criança, solicitar avaliação da pediatria. Aciclovir 5-10mg/kg EV 8/8h por 5 a 10 dias. Levar o caso para discutir na neuroftalmo (2ªf ou 4ªf de manhã). 12 Órbita Capítulo Autor Página Celulite Pré-Septal Rafael Miranda Silva 13-14 Celulite Pós-Septal Rafael Miranda Silva 15-16 Fístula Carótido- Cavernosa Marina Bacal de Campos Mello Oksman 17-18 Fratura Orbitária Rodrigo Bernal da Costa Moritz 19 Organização: Rafael Miranda Silva Frederico Castelo Moura Allan Christian Pieroni Gonçalves Revisão: Mario Luiz Ribeiro Monteiro 13 CELULITE PRÉ-SEPTAL 1. Causas e fatores de risco: Infecção do tecido subcutâneo anterior ao septo orbitário. Etiologia: Pós-trauma: Staphylococcus aureus ou Streptococccus pyogenes (beta-hemolítico do grupo A). Bacteremia (3 meses a 3 anos): Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae (participação reduzida após a introdução da imunização). Fatores de Risco: Infecção do trato respiratório, trauma (ex.: laceração, picada de inseto), infecções adjacentes (ex.: dacriocistite, conjuntivite e hordéolo), bacteremia. Faixa Etária: Pico: 0 - 10 anos e 51 – 60 anos. 2. Quadro Clínico: Unilateral, edema periorbitário, eritema pálpebral, febre, mal-estar e dor à palpação. Nota: Diferente da celulite orbitária, na celulite pré-septal não ocorre proptose, defeito pupilar aferente relativo (DPAR), oftalmoplegia e comprometimento do estado geral. Outro diagnóstico diferencial são outras causas de edema peri-orbitário importante como, por exemplo, as conjuntivites adenovirais que devem ser excluídos para evitar tratamento antibiótico sem necessidade. 14 3. Conduta: a) Avaliar estado geral do paciente e se necessário: solicitar hemograma, VHS e TC de órbita com e sem contraste para excluir outros diagnósticos. b) Cefalexina; adultos a dose deve ser de 500 mg, vo, em 4x ao dia. Em crianças: a dose diária é de 25 a 50 mg/kg em doses fracionadas (suspensão 250mg em 05 ml), por no mínimo 10 dias. c) Amoxacilina/Clavulonato: Adultos e crianças acima dos 12 anos: 250 a 500mg a cada 8 horas; duração de pelo menos 10 dias. Crianças: 20 a 40mg/kg/dia divididos em doses a cada 8 horas. d) Casos mais graves (toxemia, pacientes com dificuldade de seguimento, crianças menores de 5 anos) considerar internação hospitalar e tratamento com antibiótico EV e posterior introdução de antibiótico oral conforme esquema abaixo: - Ceftriaxone 1 a 2 gramas de 12/12h para adultos. Para crianças 100mg/kg/dia em duas doses; - Casos de alergia a penicilina, usar moxifloxacina para adultos ou vancomicina em casos deresistência bacteriana do staphylococcus. e) Retorno semanal para acompanhamento no PS. 15 CELULITE PÓS-SEPTAL 1. Causas e Fatores de Risco: Infecção de tecidos moles posterior ao septo orbitário. Trata-se de doença grave que ameaça a vida, podendo ocorrer em qualquer faixa etária, porém com maior incidência na infância. Etiologia: Adultos: Staphylococcus sp, streptococcus sp, anaeróbios (secundário a infecção dentária, abscessos, sinusite crônica). Pós-traumático: Bacilos gram negativos. *H. influenzae (menos comum após imunização). Fatores de Risco: Sinusite (mais importante etmoidal), trauma (ex.: fratura orbitária e corpo estranho intraorbitário), endoftalmite, infecção dentária, bacteremia e complicação de cirurgias orbitária ou paranasal. Faixa Etária: Mais comum em adultos jovens. Nota: Mucormicose é uma rara infecção oportunista que ocorre em pacientes imunodeprimidos ou em diabéticos, causada por fungo da família Mucoracea e que se caracteriza por ser muito agressiva e potencialmente fatal. Acometem seios faciais, órbitas e progride para demais tecidos. Deve-se considerar esta hipótese na presença das condições acima, devido ao seu pior prognóstico. 2. Quadro Clínico: Sintomas: Queda rápida do estado geral, mal-estar, dor e perda visual. Sinais: Edema periorbitário unilateral com sinais flogísticos e febre, associado à proptose geralmente lateral e inferior, às vezes mascarada pelo edema palpebral, oftalmoplegia dolorosa e defeito pupilar aferente relativo (DPAR). Outros sinais são quemose, dor à palpação e secreção conjuntival purulenta. 16 3. Conduta: 3.1. Opções terapêuticas (EV): Vancomicina 500mg a cada 6/6h, associada às seguintes combinações: Ceftriaxone 2g/dia + Metronidazol 500mg de 06/06 h. Ceftriaxone 2g/dia + Clindamicina 600mg de 06/06 h. Ampicilina-sulbactam 3g/dia dividida em 4 dose/dia. 3.2. Discutir no Setor da Órbita (terça-feira de manhã) e afastar diagnósticos diferenciais: abscesso intra-orbitário, abscesso subperiostal, mucormicose, corpo estranho orbitário e trombose de seio cavernoso. 3.3. Complicações: ceratite neurotrófica e por exposição, oclusão arterial retiniana, neuropatia óptica, meningite, abscesso cerebral e septicemia. 3.4. Em casos associados a abscesso que necessitem de tratamento cirúrgico, deixar dreno de penrose por 24 a 48 horas, dependendo da evolução do quadro. 3.5. Aguardar 48 a 72 horas após a drenagem para solicitar TC, a não ser em casos de piora clínica. 17 FÍSTULA CARÓTIDO-CAVERNOSA 1- Definição: Comunicação anormal entre a artéria carótida interna ou externa e o seio cavernoso. 2- Classificação: a) Etiológica - traumática ou idiopática. b) Anatômica - diretamente da a. carótida interna ou de ramos durais das aa. carótida interna ou externa. c) Velocidade do fluxo sanguíneo - alto debito ou baixo debito. 3 – Epidemiologia: Fatores de Risco Traumática: relacionadas ao trauma Idiopática: HAS Faixa Etária Idiopática: pós-menopausa Sexo Idiopática: predominante em mulheres 4 – Quadro Clínico: a) Dilatação de vasos conjuntivais e episclerais. b) Tríade de Dandy: Exoftalmo pulsátil + quemose + sopro. c) Limitação da movimentação ocular por comprometimento dos músculos na órbita e mais raramente por paralisia do 3º, 4º ou 6º nervos cranianos. d) Ptose palpebral. e) Aumento da PIO. f) Usualmente ipsilateral, podendo ser bilateral ou contra-lateral. Obs: As fístulas de baixo débito apresentam quadro clínico menos exuberante. A proptose geralmente não é pulsátil. 18 5 – Conduta: Quadro Clínico Característico Solicitar TC de Órbita (ênfase no seio cavernoso e na veia oftálmica superior) com e sem contraste Confirmada Suspeita SIM NÃO Angiografia Investigar outras causas Confirmação Definitiva NÃO SIM Investigar outras causas Radiologia Intervencionista NOTA: Levar caso para discussão no serviço de órbita. Se PIO aumentada entrar com medicação hipotensora (evitar prostaglandina). 19 FRATURA ORBITÁRIA 1. Definição: São lesões traumáticas comuns devido à posição anterior da orbita e do globo ocular no esqueleto. Podem estar associadas a lesões oculares e a fraturas de ossos da face e do crânio. 2. Classificação: Podem ser divididas em fraturas internas, que acometem as paredes orbitarias, e fraturas externas, quando o rebordo orbitário é comprometido. As fraturas complexas são associadas a alterações craniofaciais. 3. Quadro Clínico: a) Deformidade óssea, dor, hiperestesia no território do nervo infraorbitário. b) Edema e equimose palpebral, enfisema, proptose e enoftalmo. c) Restrição da MOE, diplopia e baixa da acuidade visual. d) Edema de Berlin, hifema e trauma corneano são as lesões oculares associadas mais comuns. 4. Conduta: a) Solicitar TC de órbita sem contraste com cortes coronal, axial e sagital. b) Se houver edema importante, prescrever antiinflamatórios não hormonais. c) Compressas frias podem ser utilizadas em caso de edema importante. d) Realizar blefarorrafia se apresentar quemose conjuntival importante com exposição ou úlcera corneana. e) Se houver sinusite associada, solicitar avaliação otorrinolaringológica. Considerar utilização de antibioticoterapia específica para VAS. f) Orientar a não realizar Manobra de Valsalva, assoprar o nariz e tossir. g) Encaminhar para avaliação no grupo de Órbita na primeira semana se houver diplopia, enoftalmo, proptose, encarceramento de músculo ocular ou se a fratura for muito grande. 20 Córnea e Conjuntiva Capítulo Autor Página Conjuntivite Viral (Epidêmica) Arles Silva dos Santos 21 Outras Conjuntivites Arles Silva dos Santos 22-23 Conjuntivites Neonatais Fabricio Lopes da Fonseca 24 Ceratites (Cristiana Dumaresq de Oliveira) Bacteriana Fúngica Acanthamoeba Herpes Simples Herpes Zoster 25-26 27 28 29 30 Flictenulose Suellen Tiemi Shibata 31 Organização: Cristiana Dumaresq de Oliveira Revisão: Milton Ruiz Alves Ruth Miyuki Santo 21 Conjuntivite Viral (Epidêmica) 1) Epidemiologia: Etiologia: Adenovírus (mais comum), Enterovírus. Fatores de risco: acomete qualquer idade, sem predileção por sexo; geralmente associada com infecção do trato respiratório superior. 2) Quadro clínico: Pode durar até 10-21 dias. Sensação de corpo estranho (areia), queimação; Secreção aquosa, hiperemia conjuntival difusa, quemose; Eritema e edema palpebrais, Folículos conjuntivais na pálpebra inferior; Linfonodo pré-auricular palpável; Geralmente inicia em um olho, acometendo o outro olho após alguns dias; Pseudo-membranas podem ser vistas, principalmente em quadros que há demora da resolução; Podem surgir ainda infiltrados corneanos subepiteliais após 1-2 semanas do início dos sintomas. 3) Conduta: a) Colírios lubrificantes (se utilizado mais do que 5 x/dia, dar preferência àqueles sem conservantes); b) Compressas frias várias vezes por dia (água filtrada, chá de camomila, soro fisiológico); c) Orientações de higiene e cuidados para evitar contaminação e transmissão (vide folha de orientações presente no PS); d) Em caso de pseudo-membranas: retirada mecânica com cotonete ou pinça sob anestesia tópica; introduzir corticóide* de baixa penetração cameral, como fluormetolona (Florate®), loteprednol (Alrex® ou Loteprol®) 6/6 h ou 8/8h e retorno no PS-Oftalmo a cada 2-3 dias para reavaliações e novas remoções, até cessar o processo; e) Em caso de infiltrados corneanos centrais em atividade, associados à BAV (<20/40):pode ser introduzido corticóide* de baixa penetração cameral, receitando esquema de desmame lento, com orientação para procurar serviço ambulatorial de UBS para seguimento, pois tratamento costuma ser prolongado; NOTAS: * O uso de corticóides deve ser feito com muito critério! Uso inadvertido ou antes do momento recomendado podem agravar o quadro. Não é necessária a coleta de culturas ou swabs; Afastamento das atividades: solicitar ficha de atestado (balcão onde é feita ficha de atendimento), preencher com CID 10 (H10.0, H13.1, H10.2, ou H16.9) e dias de afastamento (7 dias ou mais se achar necessário). Carimbar e assinar. 22 OUTRAS CONJUNTIVITES Conjuntivite bacteriana (não-gonocócica) Conjuntivite gonocócica Etiologia e Fatores de Risco Staphylococcus aureus (em todas as faixas etárias), Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae (mais comuns em crianças). Neisseria gonorrheae Quadro Clínico Agudo. Hiperemia, sensação de corpo estranho, secreção mucopurulenta leve a moderada, reação papilar; linfonodo pré-auricular ausente. Hiperaguda, 1-4 dias após nascimento. Secreção purulenta grave, edema palpebral, papilas conjuntivais, quemose acentuada, adenopatia pré-auricular. Exames Laboratoriais Não são necessários de rotina. Raspados conjuntivais para coloração Gram imediata e para cultura. Conduta Específica Colírio de antibiótico (quinolonas de amplo espectro – Oflox ou Cipro) 4x/d por 5 a 7 dias. * em crianças, usar tobramicina. * não utilizar ATB de 4ª geração (reservar para ceratites infecciosas e profilaxia pós-cirúrgica). Tratamento (se Gram mostrar diplococos intracelulares G- ou se alta suspeita): 1) Ceftriaxone 1g IM, dose única. Se envolver córnea: internação para ceftriaxone 1g EV. 2) Colírio de ciprofloxacino 2/2h (ou gati/ moxifloxacino 1/1h se envolve córnea). 3) Tratar os parceiros sexuais com ATB orais para gonorreia e clamídia. Seguimento diário até melhora consistente. 23 OUTRAS CONJUNTIVITES Conjuntivite alérgica Ceratoconjuntivite vernal/ atópica Etiologia e Fatores de Risco Alérgenos desencadeantes. Histórico de alergias. Mecanismos imuno- mediados (IgE e celular). Meninos, primeira década de vida. Atopia. Quadro Clínico Prurido, secreção aquosa, associado a espirros e coriza. Edema palpebral, quemose e reação papilar leve. Bilateral. Recorrência. Prurido, que pode estar associado a lacrimejamento, fotofobia, secreção mucóide espessa. Papilas conjuntivais grandes no tarso superior ou limbo. Úlcera em escudo; pontos de Horner-Trantas; punctata superficial. Exames Laboratoriais Não são necessários. Não são necessários. Conduta Específica Eliminar agente desencadeante. Leve: lubrificante; Moderado: anti- histamínicos e/ou estabilizadores de mastócitos. Grave: associar corticóide tópico leve por 01 semana. Como conjuntivite alérgica. Orientar seguimento ambulatorial para tratamento profilático. Se úlcera em escudo: corticóide, antibiótico tópicos; retorno 1-3 dias; remoção da placa de fibrina. Condutas gerais: Colírios lubrificantes (se utilizado mais do que 5 x/dia, dar preferência àqueles sem conservantes); Compressas frias várias vezes por dia; Orientações de higiene e cuidados para evitar contaminação e transmissão (vide folha de orientações presente no PS). 24 CONJUNTIVITES NEONATAIS Definição: Conjuntivites que ocorrem nos primeiros 28 dias de vida. Etiologia: Mais freqüentes: Química (secundária à profilaxia pelo método de Credé), Chlamydia trachomatis; Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, Viridans streptococci, Haemophilus sp. e S. pneumoniae. Menos freqüente: Viral (geralmente presente em crianças maiores), Neisseria gonorrhea (em virtude da profilaxia neonatal). Tempo de evolução Etiologia provável Quadro Clínico Conduta < 24h Conjuntivite química (Nitrato de prata) Conjuntivite purulenta moderada Observação (é esperada melhora em 48h) < 1 semana Neisseria gonorrhea *Anamnese: via de parto, sintomas ginecológicos maternos Conjuntivite purulenta grave entre 3º e 5º dia de vida; em casos mais avançados, úlcera corneana e perfuração ocular Internação para limpeza ocular adequada Coleta de secreção ocular** (Gram e cultura) Ceftriaxone 25 a 50mg/Kg IV ou IM, dose única. Avaliação Pediatria (Artrite? Meningite? Sepse?) Tratamento dos pais Avaliação Serviço Social 1 a 2 semanas Chlamydia trachomatis *Anamnese: via de parto, sintomas ginecológicos maternos Hiperemia moderada a acentuada, secreção mucóide a purulenta Coleta de secreção ocular** (Gram, Imunofluorescência e cultura) Eritromicina VO 50mg/Kg/dia, 6/6h, por 10 a 14 dias. Avaliação Pediatria (pneumonia afebril?) Tratamento dos pais Sem otite: H. influenza, S. pneumoniae, S. aureus, S. epidermidis Conjuntivite mucupurulenta Aval ORL (avaliar se há otite), orientações gerais (limpeza, compressas frias), Tobrex 4/4h e reavaliar Com otite: H. influenzae Conjuntivite mucopurulenta Aval Otorrino (tratamento sistêmico) Orientações gerais (limpeza, compressas) **Lâmina para Gram: colocar 2 a 3 gotas de solução salina estéril na lâmina, coleta de secreção ocular com cotonete estéril, homogeneizar o material na salina colocada da lâmina, distender a suspensão bacteriana com movimentos elípticos até que esta forme um “filme” tênue e homogêneo, deixar o esfregaço secar a temperatura ambiente e fixar o esfregaço à lâmina passando o verso desta por 3-5 vezes sobre chama. **Semeadura em meios de crescimento e isolamento (Agar-sangue; agar-chocolate; McCoy para Chlamydia; Ágar Thayer-Martin Chocolate para Neisseria): semear o material (secreção ocular) com o auxílio de cotonete estéril fazendo seqüências de estrias ou “C” no material da placa de Petri até obter o esgotamento do inoculo. 25 CERATITE BACTERIANA ETIOLOGIA Staphylococcus aureus, Pseudomonas sp, Streptococcus sp, Moraxella sp: são os agentes infecciosos mais freqüentes. FATORES DE RISCO Usuários de lentes de contato (LC), desepitelização traumática, cirurgias prévias, erosões recorrentes, doenças da superfície ocular, imunodepressão. HISTÓRIA CLÍNICA Dor ocular de moderada a intensa, fotofobia, diminuição da acuidade visual (intensa se atingir o eixo visual), sensação de corpo estranho e secreção ocular. Atenção aos fatores de risco acima mencionados! EXAME OFTALMOLÓGICO Presença de infiltrado estromal focal ou difuso, associado à injeção perilímbica, podendo se associar com edema estromal e hipópio. Úlcera: defeito epitelial existente + perda de estroma + tinge com fluoresceína. Outros sinais importantes: secreção mucopurulenta, injeção conjuntival, edema de pálpebra superior, reação de câmara anterior, afilamento corneano, dobras de descemet. CONDUTA 1.Exame laboratorial: bacterioscopia (Gram), cultura e antibiograma do raspado da úlcera***. Considerar também a cultura do estojo e lente de contato, se história positiva. 2.Indicações do raspado corneano: infiltrados maiores que 2mm, no eixo visual, comprometimento de mais de 50% da espessura da córnea, com reação de câmara anterior ou não responsivos ao tratamento inicial. 3.Infiltrados pequenos (<2mm), periféricos, superficiais, sem sinais de reação de câmara anterior poderão ser tratados mesmo sem exame laboratorial. TRATAMENTO Infiltrados e úlceras são inicialmente tratados com antibióticos, a não ser que exista alta suspeita de outro agente infeccioso. Podem- se associar drogas cicloplégicas (tropicamida ou atropina, por exemplo) para proporcionar conforto e evitar a formação de sinéquias. BAIXO RISCO DE PERDA VISUAL: pequeno infiltrado na periferia que não cora com fluoresceína, sem RCA e pouca secreção– Antibiótico de amplo espectro: Fluorquinolona (moxifloxacino, gatifloxacino, ciprofloxacino – 1 gt 3/3hs inicialmente); MODERADO RISCO DE PERDA VISUAL: Infiltrado periférico de tamanho menor que 2mm associado a defeito epitelial, sem RCA e secreção moderada – Fluorquinolona, 1 gt 1/1hs inicialmente; ALTO RISCO DE PERDA VISUAL: úlceras maiores que 1 a 2 mm, no eixo visual, comprometendo > 50% da espessura da córnea, com RCA, hipópio ou não responsivas ao tratamento inicial - Cefazolina forte a 5% (Gram +) e gentamicina forte a 1,2% (Gram -), 1 gota de hora em hora. 26 *** O exame é feito após a instilação de anestésico tópico, procedendo em seguida à coleta do raspado das margens e base da lesão. O material deverá ser semeado em meio líquido, meio ÁGAR- SANGUE, meio ÁGAR CHOCOLATE e em uma lâmina de vidro (Gram). INTERNAÇÃO HOSPITALAR Infecção na iminência de perfuração corneana, pacientes com má adesão ao tratamento, necessidade de uso de medicações intravenosas (perfuração corneana, conjuntivite gonocócica associada, extensão escleral da infecção, imunossuprimidos). SEGUIMENTO Medidas periódicas (diárias) do tamanho do infiltrado e do defeito epitelial, RCA e intensidade da dor. Se ocorrer melhora dos parâmetros, a freqüência do antibiótico é reduzida, após o 6º dia. Se não ocorrer melhora, apesar dos antibióticos, pode-se repetir o raspado corneano e realizar culturas em meios especiais para o diagnóstico diferencial (fungos, mycobacteria, acanthamoeba, por exemplo), ou até mesmo proceder à biópsia da córnea. 27 CERATITE FÚNGICA ETILOGIA Fungos filamentosos: Fusarium sp, Aspergillus sp. Fungos leveduriformes: Candida sp. FATORES DE RISCO Trauma, principalmente com material vegetal, usuários crônicos de colírios a base de corticosteróides, doença crônica da superfície ocular, diabetes, defeito epitelial, imunossupressão sistêmica, lente de contato hidrofílica. HISTÓRIA CLÍNICA Apresenta, em geral, um curso mais indolente em comparação com as ceratites bacterianas. EXAME OFTALMOLÓGICO Infiltrado esbranquiçado ou branco-acinzentado, com lesões finas ou granulares, de localização intra-epitelial ou estromal. O epitélio pode estar elevado, intacto ou ulcerado. O curso da doença geralmente é lento, porém podem ser encontrados alguns fungos com evolução mais rápida, levando à perfuração de córnea e endoftalmite. Outros sinais importantes: Pouca RCA, lesões-satélite, abscesso em anel, injeção conjuntival, hipópio, secreção mucupurulenta. CONDUTA Exame laboratorial: bacterioscopia (Gram), cultura e antibiograma do raspado da úlcera*** Na suspeita de ceratite fúngica, semear o raspado da córnea em meio ÁGAR-SABOURAUD. TRATAMENTO Tópico: Fungos filamentosos: Natamicina 5% (Piramicina) 1/1h. Fungos leveduriformes: Anfotericina B 0,5% 1/1h. Considerar o uso de drogas antifúngicas via oral (cetoconazol 200mg 12/12h) se úlceras profundas ou suspeita de endoftalmite fúngica. Suspender uso de colírios com corticosteróides. Fazer o desmame rápido de corticóide oral, se estiver em uso do mesmo. Considerar debridamento epitelial para facilitar a penetração das medicações antifúngicas, pois os colírios antifúngicos não penetram bem em córneas com epitélio intacto. Podem-se associar drogas cicloplégicas (tropicamida, por exemplo) para proporcionar conforto e evitar a formação de sinéquias. INTERNAÇÃO HOSPITALAR Infecção na iminência de perfuração corneana, pacientes com má adesão ao tratamento, necessidade de uso de medicações intravenosas (perfuração corneana, conjuntivite gonocócica associada, extensão escleral da infecção, imunossuprimidos). SEGUIMENTO A resposta clínica ao tratamento é mais lenta do que a ceratite bacteriana. A estabilização da infecção após iniciado o tratamento é um sinal favorável. Úlceras mais profundas requerem semanas a meses de tratamento, e o transplante de córnea pode ser considerado em alguns casos desfavoráveis. 28 CERATITE POR ACANTHAMOEBA ETILOGIA Acanthamoeba spp (formas císticas e trofozoítas) FATORES DE RISCO Usuários de LC com higienização inadequada, uso de solução salina, tomar banho de chuveiro, piscinas, rios usando a LC. Outros: trauma com material em contato com o solo ou vegetal. HISTÓRIA CLÍNICA Dor desproporcional aos achados clínicos, borramento visual, fotofobia, irritação ocular, incapacidade de usar as LC. EXAME OFTALMOLÓGICO Inicialmente há irregularidades epiteliais, ceratite ponteada e hiperemia conjuntival. A presença de ceratoneurite radial é um achado patognomônico. Posteriormente, ocorre a formação de pseudodendritos epiteliais e anel estromal. Em casos avançados ocorre a formação de afilamento corneano, opacidade do estroma e esclerite. Outros sinais importantes: ulceração corneana com infecção bacteriana secundária pode ocorrer em fases mais tardias. CONDUTA Exame laboratorial: bacterioscopia (Gram), cultura e antibiograma do raspado da úlcera *** As colorações Gram, Giemsa e acridine Orange, coram os trofozoítas e cistos; o calcoflúor e imunofluorescência evidenciam melhor os cistos. A cultura, apesar de mais demorada, é mais sensível e deve ser realizada. Considerar cultura do estojo e da LC. Microscopia confocal da córnea para identificação dos cistos. Em todos os pacientes deve-se suspender o uso de LC nos dois olhos TRATAMENTO O tratamento da certatite por acanthamoeba é prolongado e inclui uso de vários colírios. Inicialmente tratamento tópico com colírio de isotionato de propamidina a 0,15% (Brolene ®) e colírio de Biguanida 0,02% de hora em hora. Alternativa: Associações de colírio de Biguanida 0,02% com colírio de Clorexidina 0,05%. Pode-se associar cicloplégico. Se dor, adicionar AINE via oral. Nos casos de esclerite, associar corticosteróide sistêmico. Evitar corticosteróide tópico: aumenta a chance de persistência de cistos e o risco de perfuração corneana. INTERNAÇÃO HOSPITALAR Infecção na iminência de perfuração corneana, pacientes com má adesão ao tratamento, necessidade de uso de medicações intravenosas (perfuração corneana, conjuntivite gonocócica associada, extensão escleral da infecção, imunossuprimidos). 29 CERATITE VIRAL 1. HERPES SIMPLES ETILOGIA Herpes simples tipo I (principalmente) e herpes simples tipo II (relacionados à DST, menos comumente acomete os olhos). FATORES DE RISCO História prévia de vesículas orais, imunodepressão, sol, estresse psíquico, gripe, infecções febris, alergias, uso de corticosteróide tópico ou sistêmico. HISTÓRIA CLÍNICA Vesículas ao redor do olho (sem extensão para região frontal e nariz), olho vermelho, fotofobia, lacrimejamento, história de episódios anteriores, redução da visão, sensação de corpo estranho. EXAME OFTALMOLÓGI CO Pode apresentar-se com uma ou todas as manifestação a seguir: - vesículas claras com base eritematosa na pálpebra, que progridem para crostas; conjuntivite folicular unilateral; ceratite dendrítica (tinge com fluoresceína e rosa-bengala) ou úlcera geográfica; hipoestesia corneana; - úlcera neurotrófica (defeito epitelial persistente apesar da terapia); - endotelite disciforme (edema estromal com epitélio intacto), com irite e precipitados ceráticos, podendo haver aumento da PIO; - ceratite intersticial necrotizante (incomum); uveíte; sensibilidade corneana reduzida. CONDUTA Medir a sensibilidade corneana antes da instilação de colírio anestésico!!! Não esquecer de medir a PIO!! O diagnóstico é clínico!! TRATAMENTO Envolvimento palpebral apenas: aciclovir 3% pomada oftálmica (zovirax®) 5x/dia por 7 a 14 dias; compressa morna ao redor da pele; Conjuntivite: aciclovir 3% pomada oftálmica 5x/dia durante 7 a 14 dias. Doença epitelialcorneana: iniciar com aciclovir pomada 5x/dia,reduzir com a melhora do quadro e não utilizar a medicação por mais de 14 a 21 dias); cicloplegia, se RCA ou fotofobia;considerar debridamento do epitélio infectado no tratamento adjuvante; Na úlcera neurotrófica, deve- se considerar lubrificação,lente de contato terapêutica e, em casos mais recalcitrantes, recobrimento conjuntival. Lembrar: corticosteróides tópicos são totalmente contra-indicados na ceratite infecciosa em atividade!!! Endotelite disciforme: colírio de acetato de prednisolona 1% ou dexametasona 0,1% em alta freqüência inicialmente, com redução lenta da dose. Quando em uso na alta freqüência recomenda-se profilaxia com pomada de aciclovir. Indicações de tratamento com aciclovir oral: pacientes imunossuprimidos, lesões cutâneas extensas, recorrência freqüente, endotelites graves e crianças que não permitem o uso de medicação tópica. INTERNAÇÃO HOSPITALAR Infecção na iminência de perfuração corneana, pacientes com má adesão ao tratamento, necessidade de uso de medicações intravenosas (perfuração corneana, conjuntivite gonocócica associada, extensão escleral da infecção, imunossuprimidos). SEGUIMENTO Acompanhar o paciente de perto através dos seguintes parâmetros: o tamanho do defeito epitelial e da úlcera, espessura corneana e a profundidade do acometimento corneano, RCA e PIO. 30 CERATITE VIRAL 2. HERPES ZOSTER ETILOGIA Vírus varicella-zoster FATORES DE RISCO Idosos, Imunodepressão adquirida. HISTÓRIA CLÍNICA Dor, seguindo a distribuição do dermátomo, parestesias, e rash cutâneo. Pode ser precedida por cefaléia, febre, visão borrada, dor ocular e hiperemia ocular EXAME OFTALMOLÓGICO Inicialmente há apenas vermelhidão da pele, evoluindo com a formação de um rash vesicular. O rash é unilateral, respeitando a linha média. Quando o rash atinge a ponta do nariz (sinal de Hutchinson), indica o comprometimento do ramo nasocilar, sendo sinal sugestivo de acometimento ocular. As manifestações oculares são: ceratite, limbite, esclerite, uveíte e retinite, isoladamente ou em associação. Pode haver também acometimento de outros nervos cranianos (II, IV e VI), levando a desvios oculares. A córnea pode apresentar apenas uma ceratite ponteada e diminuição da sensibilidade. Os defeitos epiteliais podem ocorrer na forma de ceratite dendrítica, ceratite ulcerativa periférica e ceratite neurotrófica. Os dendritos diferem da ceratite causada pelo herpes simples, por serem menores, de localização mais periférica, pela ausência de bulbo terminal e por corarem menos com a fluoresceína. CONDUTA Medir a sensibilidade corneana antes da instilação de colírio anestésico! Não esquecer de medir a PIO!! O diagnóstico é clínico!! TRATAMENTO Sistêmico: imunocompetentes: aciclovir via oral 800mg 5x/dia, de 07 a 10 dias. Introduzir o antiviral preferencialmente nas primeiras 72hs do início da doença. Imunussuprimidos: Inicialmente aciclovir endovenoso, 05- 10mg/kg, de 8/8hs por 1 ou 2 semanas e, posteriormente, mantidos com aciclovir oral (600-800mg/dia) por várias semanas. Alternativa: Valaciclovir (Valtrex®) 1000mg via oral 8/8hs por 07 dias. Lesões dermatológicas: limpeza e compressa morna na pele; pomada de antibiótico, para evitar infecção secundária. Envolvimento ocular: se ocorrer envolvimento do epitélio corneano, pode-se prescrever lubrificantes, e em lesões extensas, antibioticoprofilaxia. A iridociclite e a inflamação estromal da córnea são tratadas com corticosteróides tópicos e cicloplégicos. Lembrar: corticosteróides tópicos são totalmente contra-indicados na ceratite infecciosa!!! Neuralgia pós-herpética: analgésicos de ação central e antidepressivos. INTERNAÇÃO HOSPITALAR Infecção na iminência de perfuração corneana, pacientes com má adesão ao tratamento, necessidade de uso de medicações intravenosas (perfuração corneana, conjuntivite gonocócica associada, extensão escleral da infecção, imunossuprimidos). SEGUIMENTO Acompanhar o paciente de perto através dos seguintes parâmetros: o tamanho do defeito epitelial e da úlcera, espessura corneana e a profundidade do acometimento corneano, RCA e PIO. 31 FLICTENULOSE 1- Causas Reação de hipersensibilidadde tardia (tipo IV) como resultado de: - Staphylococcus (associado a blefarite) - Tuberculose (raramente) ou outras infecções 2- Quadro clínico Sintomas: História de dor, lacrimejamento, irritação e fotofobia. Sinais: Flictênula conjuntival: pequeno nódulo triangular esbranquiçado na conjuntiva bulbar (em geral, no limbo), no centro de uma área hiperemiada. Flictênula corneana: quando associado à ulceração epitelial e migração corneana central do nódulo, produzindo fibrose e neovascularização. Sintomas são mais intensos. 3- Conduta Avaliação: - Procurar sinais de blefarite ou rosácea - Verificar ocorrência de TB ou outra infecção prévia Exames: - PPD em pacientes sem blefarite e/ou com alto risco para TB Tratamento: - Esteróide tópico: Prednisolona 1% (Ster®, Pred Forte®) até 4x/dia - ATB tópico se úlcera de córnea (Oflox, Vigamox) - Tratar blefarite com ATB pomada Seguimento: - Semanal no PS 32 Glaucoma Capítulo Autor Página Fechamento Angular Agudo Primário Renata de Iracema Pulcheri Ramos 33-34 Glaucoma Neovascular Renata de Iracema Pulcheri Ramos 35-36 Glaucoma Congênito Primário Francisco Javier Solano 37-38 Organização: Renata de Iracema Pulcheri Ramos Revisão: Roberto Freire Santiago Malta 33 FECHAMENTO ANGULAR AGUDO PRIMÁRIO 1) Epidemiologia: Faixa etária 5ª e 6ª décadas Sexo Mulheres Raça Asiáticos (1:100) > Brancos (1:1000) > Negros Fatores de Risco Ângulo oclusível; Câmara rasa; Pequeno comprimento axial; Diâmetro corneano diminuído; Hipermetropia Patogênese Bloqueio Pupilar Aposição da íris no cristalino obstrução do fluxo do humor aquoso da câmara posterior para a CA anteriorização da periferia da íris fechamento do ângulo da CA 2) Quadro Clínico: Sintomas Dor Ocular Baixa de Acuidade Visual c/ visão de halos Náuseas e vômitos Sinais PIO elevada Biomicroscopia: Abaulamento periférico da íris Câmara Anterior periférica rasa (Van Herick Grau I ou II) Pupila em média midríase, hiporreativa ou paralítica Hiperemia conjuntival Edema corneano epitelial Reação de Câmara Anterior Edema do disco óptico, congestão venosa Sinais que indicam crises anteriores de fechamento angular: glaukomflecken, atrofia setorial de íris, sinéquias posteriores e anteriores Gonioscopia: Ângulo Fechado: impossibilidade de observar o trabeculado pigmentado em mais de 180° de extensão e/ou presença de goniossinéquias. Sinais de crises anteriores: impressão iriana, goniossinéquias Diagnósticos diferenciais Bloqueio pupilar secundário a uveítes Glaucomas facogênicos Glaucoma maligno Efusão ciliocoróidea Esclerite posterior Panfotocoagulaçao retiniana Buckle Glaucoma neovascular Uveíte hipertensiva Reação idiossincrática a medicações (sulfa, topiramato) 34 3) Conduta: Fechamento Angular Agudo Primário Avaliar profundidade da Camara Anterior pelo Van Herick Decúbito Dorsal Acetazolamida 250mg 2cp VO Manitol 20% - 250ml IV (1-2g/kg de peso) Colírios Timolol 0,5% 12/12h Tartarato de Brimonidina 12/12h Prednisolona 1% 2/2h Melhora da PIO e da dor SIM NÃO Repetir Manitol Manobra de indentação c/ tonômetro (3x por 10s, c/ intervalo de 10s) Pilocarpina 2% 0' 30' 60' e após, 4/4h Reavaliação em 40 min Iridotomia com YAG laser Potência 4-8mJ, tiro duplo Realizar tb iridotomia profilática no olho contra-lateral se indicado (ângulo oclusível na Gonio) Retorno no Ambulatório em 24h Considerar abordagem cirúrgica IridectomiaCirúrgica Sem sucesso Grau I – PCA <¼ EC Grau II – PCA entre ¼ e ½ da EC Grau III – PCA entre ½ e 1 EC Grau IV – PCA > 1EC Excluir Causas de Fechamento Angular Secundário Manter medicações em casa: Pilocarpina 1gt 4/4h Timolol 1gt 12/12h Brimonidina 1gt 12/12h Prednisolona 1% 6/6h Acetazolamida 250mg VO 6/6h Xarope de KCl ou Slow K Controle da PIO? ALTA Encaminhar à UBS para seguimento SIM Manter medicações Avaliar perviedade da iridotomia NÃO Com Sucesso GONIOSCOPIA Considerar Abordagem Cirúrgica (Trabeculectomia?) 35 GLAUCOMA NEOVASCULAR 1) Epidemiologia: Causas OVCR (36%); RDP (32%); Sd. Ocular Isquêmica (13%); OACR; Tumores intra-oculares; Retinopatia falciforme Patogênese Isquemia retina fatores angiogênicos (VEGF) neovascularização de Iris e ângulo contração de membrana fibrovascular fechamento angular 2) Quadro Clínico: Sintomas Dor; Baixa de acuidade visual Sinais Tufos de neovasos na margem pupilar; NV no ângulo; Sinéquias anteriores; PIO elevada; Hiperemia conjuntival; Edema de córnea; Ectropio uveae; Reação de câmara anterior, flare; Hifema Diagnósticos Diferenciais Glaucoma uveítico; Fechamento Angular Agudo Primário; Glaucoma Crônico de Ângulo Estreito; Síndrome ICE; Iridociclite Heterocrômica de Fuchs Classificação Estágio 1: Rubeosis Iridis, com PIO normal Estágio 2: Glaucoma de Ângulo Aberto (PIO ↑ , NVI e NVA) Estágio 3: Glaucoma de Ângulo Fechado (PIO ↑↑ , BAV, sinéquias) Prognóstico Ruim 36 3) Conduta: Glaucoma Neovascular Com Visão Sem Visão (SPL) Pancrioterapia Opacidades de Meios TTO Clínico Corticoides Cicloplégico Hipotensores que ↓ prod de HA Neovascularização de Íris ou Ângulo PIO Normal PIO Elevada NÃO DOR? SIM DX da Dça de Base Isquemia Retiniana PFC + Anti-angiogenico (Avastin) TTO da Causa Clínico TTO da PIO Considerar AGF, Doppler de Carótidas, US Ocular Anamnese Exame Oftalmológico completo Gonioscopia FO Prednisolona 1% Atropina 1% Timolol 0,5% Brimonidina Cirúrgico (TREC, Tubo) + Avastin Encaminhar à UBS para seguimento Notas: 1. Caso seja necessário discutir o caso, levar o paciente no setor do glaucoma (2a – 5a feira de manhã). 2. Caso esteja indicada panfotocoagulação a laser ou injeção de anti- angiogênico, levar o paciente no setor da retina (2a – 6a feira de manhã). 37 GLAUCOMA CONGÊNITO PRIMÁRIO 1) Epidemiologia: Incidência 1:10.000 nascidos vivos Sexo Masculino 3:2 Feminino Causas 2/3 são primários Maioria esporádico; Herança autossômica recessiva com penetrância variável Patogênese Disgenesia trabecular: Alteração do desenvolvimento Persistência de pectíneo no seio camerular Imaturidade do tecido trabecular 2) Quadro Clínico: Sinais e sintomas variam de acordo com a idade no início da doença e do nível da PIO. Sintomas Tríade Clássica: lacrimejamento, fotofobia, blefarospasmo Córnea Turva Aumento do globo ocular Sinais PIO elevada Diâmetro corneano: >11mm (antes de 1 ano de idade) ou >13mm (qualquer idade) Estrias de Haab Edema de córnea Câmara anterior profunda Buftalmia (se elevação da PIO ocorreu antes dos 3 anos) Esclera azulada Aumento da escavação do nervo óptico Gonioscopia Ângulo aberto Pectíneo preenchendo o seio camerular Metaplasia do seio camerular Aplasia do seio camerular Classificação Glaucoma Congênito: 70% antes de um mês 98% < 3 anos de vida Glaucoma Juvenil: 2% entre 3 e 16 anos 38 Diagnóstico Diferencial Lacrimejamento: Obstrução do canal lacrimal (epífora); Defeitos epiteliais corneanos; Conjuntivite Aumento corneano : Megalocornea hereditaria (ligada ao X); Alta miopia Opacidade corneana: Trauma de parto; Esclerocórnea; Anomalia de Peter; outras (distrofias hereditárias; malformações; ceratomalacia; doenças metabólicas - mucopolissacaridoses, lipidoses, cistinose; doenças dermatológicas afetando córnea (ictiose congenital, disqueratose congenital) Alterações do n. óptico: pit de NO; coloboma; hipoplasia; escavação fisiológica Glaucoma Infantil Secundário: Retinoblastoma, Xantogranuloma Juvenil, trauma, ROP 3) Conduta: Crianças de colo que apresentam lacrimejamento, fotofobia, irritabilidade e blefarospasmo reativo devem ser avaliadas sempre com o intuito de afastar glaucoma congênito. Crianças com antecedente familiar, com doenças comumente associadas ou com encaminhamento externo sugerindo o diagnóstico de GC ou outras anomalias do Segmento Anterior devem completar a avaliação oftalmológica no ambulatório. O simples exame na sala do pronto socorro costuma não ser suficientemente acurado para afastar a hipótese de GC. É necessário examinar a criança sob sedação para realizar a biomicroscopia (avaliar a íris, transparência corneana, sinais clássicos), a medição da PIO e do diâmetro corneano, gonioscopia e fundo de olho. O residente responsável pelo paciente deverá matriculá-lo e encaminhá-lo ao setor do Glaucoma Congênito com urgência (na próxima 6ª feira às 07:30h) com consulta de encaixe marcada para avaliação sob sedação e caso novo completo. Deve-se orientar jejum obrigatório de 8 horas no dia do exame sob sedação e o residente responsável deverá discutir o caso com o médico assistente. Após o exame será decidida a conduta a ser tomada e o serviço de destino (ambulatório geral, ambulatório do GC ou alta com encaminhamento externo). 39 Uveíte Capítulo Autor Página Esclerites e Episclerites Ana Paula Calil Guermandi 40 Uveítes Anteriores Ana Paula Calil Guermandi 41 Uveítes Posteriores Suzana Crispin Leite 42 Organização: Ana Paula Calil Guermandi Revisão: Carlos Eduardo Hirata 40 ESCLERITES E EPISCLERITES 41 UVEÍTES ANTERIORES 42 UVEÍTES POSTERIORES 43 Retina e Vítreo Capítulo Autor Página Descolamento de Retina Marcelo Mendes Lavezzo 44-45 Hemorragia Vítrea Marcelo Mendes Lavezzo 46-47 Oclusão de Artéria Central da Retina Marcelo Mendes Lavezzo 48-49 Oclusão de Veia Central da Retina Marcelo Mendes Lavezzo 50-51 Endoftalmites Marcelo Mendes Lavezzo 52-54 Retinoblastoma Marcelo Mendes Lavezzo 55-56 Organização: Marcelo Mendes Lavezzo Revisão: Walter Yukihiko Takahashi Sergio Luis Gianotti Pimentel 44 DESCOLAMENTO DE RETINA (DR) 1) Epidemiologia: Principais fatores de risco (1) Alta miopia (≥–5,00DE); (2) Trauma (principalmente contuso); (3) Facectomia; (4) História familiar; (5) Degeneração lattice; (6) Retinosquise Tipos (1) Regmatogênico: secundário a uma rotura retiniana; (2) Tracional: a retina é tracionada por membranas vítreo- retinianas contráteis, na ausência de rotura retiniana; (3) Misto: a rotura retiniana está associada à área de tração vitreorretiniana adjacente (ex: retinopatia diabética proliferativa avançada); (4) Exsudativo (ou seroso): não é causado por rotura, nem por tração, sendo que o fluido sub-retiniano é proveniente dos vasos da retina e/ou da coróide. 2) Quadro Clínico: Sintomas (1) BAV súbita e indolor, precedida ou não por fotopsias (flashes de luz); (2) Visão de “cortina fechando”; (3) Moscas volantes; (4) Defeitos de campo visual. Sinais (1) DAR pode estar presente; (2) Células pigmentares no vítreo anterior; (3) Roturas retinianas; (4) Pode manifestar-se como leucocoria Diagnósticos diferenciais (1) Retinosquise; (2) Descolamento de coróide; (3) Síndrome de efusão uveal 3) Conduta: * Vide texto Suspeita de DR Tratamento conservador* (DR com pequena extensão): - Crioterapia - Fotocoagulação a laser - Fotocoagulação a laser Verificação de detalhes da história (trauma) e existência de comorbidadesMapeamento de retina: - Oftalmoscopia indireta (Schepens) - Biomicroscopia de fundo Se opacidade de meios (leucoma, catarata densa ou hemorragia vítrea): USG de globo ocular Diagnóstico de DR Tratamento cirúrgico*: - Introflexão escleral (buckle) - Retinopexia pneumática (C3F8) - Vitrectomia (VVPP) 45 A fotocoagulação a laser pode ser empregada nos seguintes casos: 1. roturas assintomáticas, sem DR ou com DR de pequena extensão associado; 2. lattice no olho contralateral a um descolamento de retina; 3. diálise em olhos míopes, fácicos, afácicos ou no olho contralateral a DR. A retinopexia pneumática costuma estar reservada para tratamento de DRs não-complicados com uma rotura retiniana pequena ou um conjunto de roturas se extendendo por uma área < 2 horas, situada nos 2/3 superiores da periferia da retina. A indicação clássica para Introflexão escleral é: 1. DR regmatogênico com diálise ou rotura regular <90º de extensão, periférica (anterior ao equador), sem componente tracional, com meios claro em paciente fácico. As principais indicações de VVPP são: 1. DR tracional que envolva ou ameace a fóvea; 2. DR regmatogênico em olho pseudofácico; 3. DR regmatogênico em que a rotura causadora do DR não pode ser selada pelos métodos convencionais ou não foi encontrada; 4. DR misto; 5. DR com roturas muito grandes (incluindo roturas gigantes); 6. DR com roturas muito posteriores (incluindo buracos maculares); 7. DR com presença de proliferação vítreo-retiniana (PVR). Os descolamentos traumáticos são mais comuns em jovens (80% < 40 anos) e no sexo masculino (80%). As roturas mais comuns, suas características e opções terapêuticas são detalhadas na tabela abaixo: Roturas mais freqüentes Características Terapêutica Diálise (68-87%) Localização TI (66%); progressão lenta; extensão limitada, pouco elevada 1. Laser (sem DR ou qdo DR associado é pequeno) 2. Introflexão escleral Rotura gigante > 90 graus VVPP + Introflexão escleral Ferraduras Tração vitreorretiniana focal 1. Laser (sem DR) 2. VVPP primária 3. Introflexão escleral Rotura por necrose focal da retina Mais posteriores e maiores; associação com outras lesões retinianas (edema de Berlim, hemorragias) 1. VVPP primária 2. VVPP + Introflexão escleral Há urgência na indicação cirúrgica. A recuperação funcional está relacionada ao tempo de descolamento macular. Usualmente, não há necessidade de internação. Solicitar mapeamento de retina com indentação ou lente de três espelhos (R3 da Retina) e discutir no Ambulatório da Retina (segundas a sextas-feiras, pela manhã) o mais rápido possível para indicação do tratamento adequado. 46 HEMORRAGIA VÍTREA (HV) 1) Epidemiologia: Causas - Retinopatia diabética proliferativa (31,5 - 54%) - Rotura retiniana (11,4 - 44%) - Trauma (12 - 18,8%) - DVP com ruptura de vasos retinianos (3,7 - 11,7%) - DR regmatogênico (7 - 10%) - Retinopatia falciforme - Causas menos comuns: 1. Macroaneurisma; 2. DMRI exsudativa; 3. Síndrome de Terson (hemorragia subaracnóide levando ao aumento da pressão intra-craniana e ruptura de capilares ou vasos retinianos); 4. Neovascularização retiniana secundária à oclusão de ramo ou veia central da retina; 5. Retinosquise congênita; 6. Pars-planite. 2) Quadro Clínico: Sinais 1. Embaçamento ou turvação visual de caráter súbito e indolor; Moscas volantes; 2. Fotofobia; 3. Percepção de sombras e teias de aranha. Sintomas 1. Sangue pode ser observado no vítreo anterior e/ou hialóide anterior; 2. Periferia pode ser visível; 3. Reflexo vermelho pode estar ausente em HV densa (FO impossível). Diagnósticos diferenciais 1. Hiperviscosidade sanguínea; 2. Complicações peri-operatórias (anestesia com perfuração ocular, pós-TREC); 3. Tumores (melanoma, retinoblastoma, hemangioma); 4. Desordens inflamatórias (Behçet, Lues); 5. Desordens hematológicas (leucemia, deficiência de proteína C). 47 3) Conduta: Inicialmente, os pacientes com HV devem ser monitorados (clinicamente ou ultrassonograficamente) por 2-5 dias para excluir rotura retiniana ou DR. A partir de então, a monitorização deve ser feita a cada 2 semanas até melhora espontânea do quadro ou até que haja indicação cirúrgica. Usualmente, não há necessidade de internação. Discutir os casos de maior risco no Ambulatório da Retina (segundas a sextas-feiras, pela manhã). T o d o s o s p a c ie n te s Hemorragia vítrea - Avaliação oftalmológica completa - Verificação de detalhes da história (trauma) e existência de comorbidades USG do globo ocular: - Avaliação do pólo posterior (DR, rotura retiniana, CEIO, tumor intra-ocular) OBS: Considerar TC e/ou RNM de órbitas para excluir: perfuração ocular, CEIO, avulsão de NO, tumor intra- ocular, buckle deslocado FO visível Considerar realização de AGF para diferenciar causas de HV FO impossível Observação ou Tratamento da causa-base Sem alteração no pólo posterior Alteração no pólo posterior Tratamento da causa-base Conduta expectante: - Repouso com cabeceira elevada a 30-45° - Evitar aspirina e outros agentes anti-coagulantes - Hidratação - Tratamento da causa-base Conduta cirúrgica (VVPP): - HV + DR - HV densa, de duração ≥ 2-3 meses - HV em olho único - HV + rubeosis - HV + glaucoma hemolítico ou de células fantasmas 48 OCLUSÃO DE ARTÉRIA CENTRAL DA RETINA (OACR) 1) Epidemiologia: Faixa etária 60-70 anos (>90%) Sexo ♂ > ♀ Etiologia - Trombose relacionada à aterosclerose (80% dos casos) - Embolização (origem: carotídea ou cardíaca) 20% - Causas incomuns: arterite de células gigantes; vasculites; trombofilias; hemoglobinopatias; migrânea retiniana; síndrome de Susac (tríade: OACR, surdez neurossensorial e encefalopatia); hemorragia sob placa de aterosclerose; espasmo arteriolar; aneurisma dissecante da artéria central da retina. Fatores de risco HAS, DM2, hiper-homocisteinemia, LDL alto, obesidade, tabagismo e sedentarismo. 2) Quadro Clínico: Sinais e Sintomas 1. BAV súbita (CD-PL), severa, indolor e unilateral; 2. Pode ser precedida por crises de amaurose fugaz (25% dos pacientes); 3. DAR pode estar presente. Fundoscopia 1. Retina pálida, opaca e edematosa, principalmente em pólo posterior; 2. Mácula em cereja; 3. Arteríolas retinianas estreitadas ou segmentadas; 4. Êmbolos: visualizados em 20%. Diagnósticos diferenciais: - Oclusão de ramo da arterial central da retina: 1. Perda súbita de CV setorial ou altitudinal; 2. Isquemia retiniana setorial. - Oclusão da artéria cílio-retiniana: 1. Artéria cílio-retiniana está presente em 20% da população e irriga a mácula e o feixe papilo-macular; 2. Oclusão é mais comum em jóvens com vasculite sistêmica; 3. BAV aguda e severa da visão central; 4. Edema retiniano localizado da área de irrigação da a. cílio-retiniana; 5. Defeito de enchimento correspondente à AFG 49 3) Conduta: * Vide texto Além dos exames gerais, deve-se considerar exames laboratoriais especializados (pesquisa de trombofilias, auto-anticorpos: anticardiolipina, anti- coagulante lúpico, FAN, DNA, ANCA; e homocisteína). Os achados possíveis da AGF são: (1) atraso no enchimento arterial; (2) fase arterio-venosa prolongada, com enchimento incompleto; (3) hipofluorescência: bloqueio da fluorescência coroidal pelo edema retiniano + hipoperfusão; (4) impregnação do NO. O tratamento visa restabelecer a circulação retiniana e consiste em: 1. Paracentese de CA: após colírio anestésico, introduzir parcialmente agulha de insulina perpendicular ao limbo temporal e observar saída de humor aquoso (0,1 a 0,4ml), deixando ATB profilático após procedimento (Ofloxacino 0,3% ou Ciprofloxacino 0,3% 1 gota 6/6h por 5 dias);2. Redução da PIO com massagem ocular: movimentos de pressão e contrapressão bidigital sobre o globo ocular durante 10-15s com pausa para relaxamento de 5s; 3. Inalação de mistura de 95% de O2 e 5% de CO2; 4. Manitol 20% 250ml EV, para obter diminuição mais prolongada da PIO. Usualmente, não há necessidade de internação. Discutir os casos no Ambulatório da Retina (segundas a sextas-feiras, pela manhã). T o d o s o s p a c ie n te s Suspeita de OACR - Avaliação clínica (pulso, PA, carótidas, ECG) e laboratorial (HMG, VHS, PCR, glicemia de jejum, lipidograma) - AFG via ambulatorial* Considerar em pacientes selecionados: ecocardiograma, duplex de carótidas, exames laboratoriais especializados* - Paracentese de CA* - Massagem ocular* - Inalação de mistura de O2 e CO2* - Manitol 20% 250ml EV* ≤ 48h de história > 48h de história Observação Seguimento ambulatorial 50 OCLUSÃO DE VEIA CENTRAL DA RETINA (OVCR) 1) Epidemiologia: Faixa etária 60-70 anos (90% > 50 anos) Fatores de risco - HAS, DM2, hipercolesterolemia, GPAA. - Menos comuns: 1. Síndromes de hiperviscosidade: disproteinemias (mieloma múltiplo); 2. Discrasias: policitemia vera, leucemia, linfoma, anemia falciforme; 3. Estados de hipercoagulabilidade: homocisteina sérica elevada, deficiência do fator XII, resistência à proteína C ativada, deficiência de proteína C ou S, fator V de Leiden, fibrinogênio sérico anormal, redução do folato sérico, anemia, síndrome do Atc- antifosfolípide; 4. Vasculites inflamatória (LES) ou infecciosa (HIV, lues, Sarcoidose, H. Zoster); 5. Medicações: contraceptivos orais, diuréticos 2) Quadro Clínico: Forma não-isquêmica Forma isquêmica Evolução Mais branda Mais grave Freqüência Mais comum (75%) Menos comum Área de não perfusão capilar (AFG) < 10 DD ≥ 10 DD FO Hemorragias < Hemorragias >, edema macular e de disco, exsudatos algodonosos AV > 20/100 < 20/100 AV final > < DAR Ausente Presente ERG Normal ou redução leve ↓ amplitude b (≥60%); ↓ razão b:a; ↑ ∆t implícito b Glaucoma neovascular 10% 35% Diagnósticos diferenciais: (1) Retinopatia da doença oclusiva da carótida (síndrome ocular isquêmica): hemorragias arredondadas em médio-periferia, veias dilatadas, mas não tortuosas; (2) Oclusão de ramo venoso da retina: dilatação e tortuosidade venosas e hemorragias afetando apenas o setor drenado pela veia obstruída; neovascularização retiniana é mais comum que na OVCR. Transformação da forma não-isquêmica para a forma isquêmica: 34% em 3 anos, sendo 15% nos primeiros 4 meses e 19% entre 5-32 meses. 51 3) Conduta: Na forma isquêmica, o prognóstico é muito reservado, devido à isquemia macular. Rubeosis iridis desenvolve-se em cerca de 50% dos olhos dentro de 2-4 meses (“glaucoma dos 100 dias”) e, a menos que a PFC seja feita, há um grande risco de desenvolvimento de glaucoma neovascular. A neovascularização retiniana ocorre em cerca de 5% dos olhos (menos comum que na oclusão de ramo venoso retiniano). Triancinolona intra-vítrea (4mg, 0,1ml) ou anti-angiogênicos podem proporcionar regressão do edema macular e melhora da AV, em geral por curtos períodos, sendo necessárias reaplicações constantes para manter seu efeito. Usualmente, não há necessidade de internação. Discutir no Ambulatório da Retina (segundas a sextas-feiras, pela manhã). < 50 anos T o d o s o s p a c ie n te s Suspeita de OVCR - Avaliação clínica (PA, ECG) e laboratorial (HMG, VHS, glicemia de jejum, lipidograma, eletroforese de proteínas) - AFG via ambulatorial Rx tórax, exames laboratoriais especializados (screening para trombofilias; auto-Acs: anticardiolipina, anti-coagulante lúpico, FAN, DNA); homocisteína - Seguimento mensal com AFG e gonioscopia por 6 meses para detectar neovascularização do segmento anterior, retina e do ângulo camerular. - PFC em olhos com neovascularização de ângulo e/ou de disco/retina e/ou rubeosis iridis. Forma não-isquêmica Forma isquêmica Observação Tratamento das condições clínicas associadas (HAS, DM2, hipercolesterolemia) 52 ENDOFTALMITES 1) Epidemiologia: Tipos Pós-operatória (75%) Trauma (20-30%) Endógena (5-7%) Etiologia 1. Gram + (75-95%) (Stafilo, Strepto); 2. Gram – (10%) (Pseudomonas, Klebsiella, Proteus); 3. Fungos (raramente); 4. Cultura – (25-35%) 1. Gram + (60-75%) (Stafilo, Strepto); 2. Bacillus sp (25%) (CEIO); 3. Fungos (10-15%) 1. Fungos (50-62%; (Candida, Aspergillus sp) 2. Bacteriana: G + ou G – (Bacillus cereus) Fatores de risco Idade > 80 anos; DM2; ruptura capsular; facectomia combinada com outros procedimentos; infecções das pálpebras e conjuntiva; bolha filtrante, trave vítrea na incisão, Seidel+ Solução de continuidade; CEIO; fechamento ocular tardio; contaminação orgânica Imunossuprimidos; drogas endovenosas; septicemia; DM2; neoplasia; cateteres centrais; infecções 2) Quadro Clínico: Sintomas (1) BAV; (2) Hiperemia; (3) Dor Sinais (1) Conjuntiva: hiperemia, quemose, secreção; (2) Córnea: PKs, edema; (3) CA: células, flare, hipópio, fibrina sobre a LIO; (4) Vitreíte; (5) Edema palpebral superior Diagnósticos diferenciais (1) Uveíte pós-operatória; (2) TASS (Síndrome tóxica do segmento anterior); (3) Hemorragia vítrea; (4) Blebite 3) Conduta: O tratamento deve ser instituído assim que houver suspeita clínica de endoftalmite. Em todos os casos, deve-se realizar coleta de amostra de vítreo, injeção intra-vítrea (IVT), instituição de colírios fortificados ou fortes e considerar uso de antibiótico (ATB) via oral em casos severos. A conduta cirúrgica (VVPP) fica reservada apenas a alguns casos. Deve-se explicar ao paciente sobre a gravidade da patologia, bem como sobre os procedimentos a serem realizados. Coleta de amostra de vítreo e IVT: 1. Aplicar colírio anestésico. 2. Aplicar iodopovidona tópica. 3. Colocação de campo com proteção dos cílios e blefarostato. 4. Marcação do ponto de coleta e injeção: 3,5 mm do limbo nos pseudofácicos e 4,0 mm, nos fácicos. 53 5. Coleta de material para cultura: a. Opção 1: Introduzir agulha de insulina conectada à seringa de insulina vazia em direção ao nervo óptico, e aspirar 0,4 ml para cultura. b. Opção 2: Coleta com ponta de vitreófago (20G ou 23G). Não conectar a infusão para não diluir a amostra. Identar o globo para manter a PIO. Aspirar o material coletado da conexão de silicone. Suturar a incisão (20G). Esta técnica permite colher maior volume, além de não tracionar a base vítrea (formação de roturas). 6. Semear o material colhido nos meios apropriados (ágar sangue, ágar chocolate, Sabouraud e tioglicolato). Os meios estão disponíveis na Microbiologia (PAMB, 2º andar, bloco 3, ramal 6348). 7. Injetar os antibióticos e a dexametasona, uma de cada vez (total de 0,4 ml). Os antibióticos não devem ser misturados em uma mesma seringa devido ao risco de precipitação dos mesmos em forma de cristais. 8. Ao retirar a agulha junto à seringa, posicione um cotonete para tamponar o orifício de aplicação. Avaliar a tensão óculodigital; se aumentada, proceder à paracentese de câmara anterior. Preparo da IVT: 1. Vancomicina: Adicionar 10 ml de água destilada em um frasco de 500mg de vancomicina (50mg/ml). Aspirar, com seringa de 10 ml, 1 ml da solução (50mg) e adicionar 4 ml de água destilada (10mg/ml). Aspirar, com seringa de insulina, 0,1 ml da solução (1mg). 2. Ceftazidime (Fortaz): Adicionar 10 ml de água destilada em um frasco de 1 grama de ceftazidime (100mg/ml). Aspirar, com seringa de 10 ml, 1 ml da solução (100mg) e adicionar 4 ml de água destilada (20mg/ml). Aspirar, com seringa de insulina, 0,1 ml da solução (2mg). 3. Dexametasona (Decadron): Aspirar 0,2 ml (0,8 mg) do frasco de dexametasona (4mg/ml).Preparo dos colírios fortes: 1. Gentamicina forte: Aspirar 04 ampolas de gentamicina (40mg/ml), com seringa de 10ml, e aspirar 06 ml de água destilada, totalizando 10 ml de solução (16mg/ml). Pode-se colocar a solução em um frasco de metilcelulose vazio. Manter refrigerado. Validade de 14 dias. 2. Cefalotina forte: Injetar 05 ml de água destilada em um frasco de 01 grama de cefalotina (200mg/ml). Aspirar 2,5 ml (500mg), com seringa de 10 ml, e completar com 7,5 ml de água destilada, totalizando 10 ml (50mg/ml). Pode-se colocar a solução em um frasco de metilcelulose vazio. Manter refrigerado. Validade de 07 dias. ATB via oral: 1. Ciprofloxacino 500mg 12/12h por 10 dias ou Levofloxacino 500mg 1x/dia por 10 dias. OBS: Considerar seu uso em casos severos. 54 2. Considerar internação hospitalar para melhor manejo desta grave condição, bem como devido à posologia dos colírios (1/1h). 3. Discutir no Ambulatório da Retina (segundas a sextas-feiras, pela manhã). * Vide texto Suspeita de Endoftalmite - Avaliação de detalhes da história (pós-operatório) - Verificação da existência de comorbidades - Avaliação oftalmológica completa - Coleta de cultura* - IVT* - Colírios fortes* - Considerar ATB VO* - VVPP US globo ocular: - Auxílio diagnóstico para confirmar suspeita clínica - Parâmetro para seguimento e indicar sucesso terapêutico AV = PL AV ≥ MM - Coleta de cultura* - IVT* - Colírios fortes* - Considerar ATB VO* 55 RETINOBLASTOMA 1) Epidemiologia: Faixa etária - Casos bilaterais: primeiro ano de vida - Tumor unilateral: próximo a 2 anos de idade Lateralidade Unilateral (60%) ou bilateral (40%) Formas: Hereditária: - 40% dos casos, herança AD; tumores bilaterais e multifocais; predisposição a neoplasias não-oculares Esporádica: - 60% dos casos, tumor unilateral e unifocal, não predispondo a outras neoplasias 2) Quadro Clínico: Apresentação - Leucocoria (60%) - Estrabismo (20%): envolvimento macular - Glaucoma secundário, podendo apresentar buftalmia - Retinoblastoma difuso invadindo o segmento anterior: uveíte, nódulos irianos e pseudo-hipópio (crianças mais velhas) - Inflamação orbitária, mimetizando celulite orbitária ou pré- septal (tumores necróticos) - Invasão orbitária com proptose e invasão óssea em casos muito avançados Sinais - Tumor intra-retiniano: homogêneo, esbranquiçado, em forma de abóboda, tornando-se irregular e com áreas de calcificação; - Tumor endofítico: projeta-se no vítreo como uma massa branca, que pode semear células no mesmo; - Tumor exofítico: massas esbranquiçadas, sub-retinianas e multilobuladas, com descolamento de retina subjacente. Diagnóstico diferencial de leucocoria (1) Catarata congênita; (2) Doença de Coats; (3) Persistência do vítreo primário hiperplásico; (4) Toxocaríase; (5) Retinopatia da prematuridade; (6) Hamartoma astrocítico; (7) Uveíte; (8) Persistência da vasculatura fetal anterior; (9) Displasia retiniana; (10) Incontinência pigmentar; (11) Retinoma (ou retinocitoma). 56 3) Conduta: * Vide texto Às vezes, é necessário internar o paciente para adiantar a investigação diagnóstica. Discutir no Ambulatório da Retina (5ª feira de manhã: Drª. Maria Teresa). Se houver necessidade de exame sob sedação para avaliação minuciosa, solicitar ao Dr. Ernst, no Ambulatório do Glaucoma Congênito (6ª feira pela manhã). Calcificação não detectada T o d o s o s p a c ie n te s Suspeita de Retinoblastoma - Avaliação clínica e oftalmológica - Verificar história familiar TC de órbitas: - Vantagem: detecta calcificação - Desvantagem: alta dose de radiação Tumores pequenos (< 3mm dø X 2mm de espessura): - Fotocoagulação - Crioterapia - Quimioterapia Tumores médios (até 12mm dø X 6mm de espessura): - Braquiterapia - Quimioterapia primária - Crioterapia / TTT - Radioterapia externa US globo ocular: - avaliação do tamanho tumoral - detecção de calcificação - afastar diagnósticos diferenciais* Suspeita de acometimento de NO; extensão extra-ocular ou acometimento pineal (retinoblastoma trilateral) RNM de órbitas com contraste e supressão de gordura OBS: não detecta calcificação Diagnóstico de Retinoblastoma Tratamento Tumores grandes: - Quimioterapia - Enucleação* Doença metastática: - Quimioterapia em altas doses - Quimioterapia intra-tecal - Terapia mielo-ablativa - Radioterapia focal, crânio-espinhal ou de corpo inteiro Doença extra-ocular: - Quimioterapia adjuvante, após enucleação - Radioterapia externa 57 Neuroftalmologia Capítulo Autor Página Anisocorias Aron Barbosa Caixeta Guimarães 58-59 Neurite Óptica Aron Barbosa Caixeta Guimarães 60 NOIA - Arterítica André Carvalho Kreuz 61 NOIA - Não Arterítica André Carvalho Kreuz 62 Pseudotumor Cerebral Gustavo Yamamoto 63-64 Paralisias de NC Augusto Cesar Costa de Almeida Jayme Augusto Rocha Vianna 65-67 Organização: Aron Barbosa Caixeta Guimarães André Carvalho Kreuz Revisão: Mario Luiz Ribeiro Monteiro Roberto Battistella 58 ANISOCORIAS 1. Anisocoria Fisiológica a. Considerações: i. Diferença normalmente não ultrapassa 1-2 mm. ii. Anisocoria pode ser maior no escuro ou ser indiferente. b. Conduta: i. Nada a fazer. 2. Síndrome de Horner a. Causas : i. Central: Doença cerebral (TU, vascular), doença da coluna cervical e torácica. ii. Pré-ganglionar: Tumor de ápice de pulmão (Pancoast) e pescoço, doença da carótida. iii. Pós-ganglionar: Dissecção de carótida interna (Horner com dor facial ipsilateral), lesão no seio cavernoso. b. Quadro Clínico: i. Ptose leve (1-2 mm), elevação discreta da pálpebra inferior. ii. Miose (pupila afetada dilata pouco no escuro). iii. Heterocromia (íris hipocrômica do lado afetado quando congênito). iv. Redução da sudorese ipsilateral (se lesão de 1º ou 2º neurônio). v. Retardo na dilatação da pupila doente. Na Sd. Horner a pupila dilata lentamente no escuro, assim a anisocoria é maior nos 4-5 segundos iniciais após apagar as luzes. 59 c. Conduta: i. Horner de início recente requer investigação da via simpática baseado nos sinais clínicos. ii. Exame físico: procurar massa cervical, gânglios supra- claviculares. iii. TC (ou RM) crânio, pescoço e coluna cervical e AngioTC (ou AngioRessonância arterial) dos vasos da cabeça e pescoço, Rx tórax, HMG. iv. Discutir caso no ambulatório da neuro-oftalmo (2ª ou 4ª-feira de manhã) ou no PS-Neuro (no caso de Horner doloroso ou na presença de outros sintomas neurológicos). 3. Pupila de Adie a. Causas (denervação do suprimento pós-ganglionar do músculo esfíncter da pupila e músculo ciliar): i. Idiopático (maioria) ii. trauma e cirurgia orbital iii. sífilis iv. herpes. b. Epidemiologia: i. Adulto jovem ii. 80% unilateral. c. Quadro Clínico: i. Pupila grande e regular: fotofobia e dificuldade para acomodação perto. ii. Reflexo direto reduzido ou ausente associado a movimentos vermiformes (no exame de lâmpada de fenda). iii. Reflexo de perto: responde e volta lentamente (dissociação luz- perto). iv. Acomodação tônica: Demora em relaxar o músculo ciliar: visão prejudicada para perto. v. Supersensibilidade à pilocarpina (miose com pilo 0,125%). d. Conduta: i. Pilocarpina 0,125% para estética e acomodação se necessário. ii. Nos quadros bilaterais, diferencial com Síndrome de Parinaud (acometimento de mesencéfalo dorsal, limitação no olhar para cima e nistagmo de convergência). Paralisia de III NC – Vide capítulo específico 60 NEURITE ÓPTICA 1. Causas: Causas mais comuns Idiopática e Esclerose Múltipla (EM) Outras Causas Neuromielite Óptica, Vasculites, infecções bacterianas
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