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V Coordenador Milton Ruiz Alves Autores Milton Ruiz Alves Doutor, Professor Associado e Professor da Pós-Graduação da FMUSP, São Paulo, SP Chefe do Setor de Córnea e Doenças Externas da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da FMUSP, São Paulo, SP Mariza Polati Doutora pela USP, São Paulo, SP Chefe do Setor de Estrabismo da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da FMUSP, São Paulo, SP Sidney Júlio de Faria e Sousa Professor Associado da USP, Ribeirão Preto, SP Chefe do Setor de Córnea e Doenças Externas da FMRP, USP, SP 5a Edição Rio de Janeiro – RJ – Brasil Refratometria Ocular - Cap-00.indd 5 14/04/2017 13:01:12 VI CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ © Copyright 2017, by Cultura Médica Esta obra está protegida pela Lei no 9.610 dos Direitos Autorais, de 19 de fevereiro de 1998, san- cionada e publicada no Diário Oficial da União em 20 de fevereiro de 1998. Em vigor a Lei 10.693, de 1o de julho de 2003, que altera os Artigos 184 e 186 do Código Penal e acrescenta Parágrafos ao Artigo 525 do Código Penal. Caso ocorram reproduções de textos, figuras, tabelas, quadros, esquemas e fontes de pesquisa, são de inteira responsabilidade do(s) autor(es). Qualquer informação, contatar a Cultura Médica® Impresso no Brasil Printed in Brazil Responsável pelo Layout/Formatação: Cultura Médica Cultura Médica® Rua Gonzaga Bastos, 163 20541-000 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Tel. (55 21) 2567-3888/3173-8834 Site: www.culturamedica.com.br e-mail: cultura@culturamedica.com.br R332 5.ed. Refratometria ocular e a arte da prescrição médica / coordenador Milton Ruiz Alves; autores Milton Ruiz Alves, Mariza Polati, Sidney Júlio de Faria e Sousa. – 5. ed. – Rio de Janeiro : Cultura Médica, c2017. il. Vários colaboradores ISBN 978-85-7006-678-7 1. Refração ocular. 2. Oftalmologia. I. Alves, Milton Ruiz. II. Polati, Mariza. III. Sousa, Sidney Júlio de Faria e. IV. Título. CDD: 617.735 CDU: 617.735 Refratometria Ocular - Cap-00.indd 6 14/04/2017 13:01:12 VII Colaboradores Adamo Lui Neto Professor Assistente Doutor da Faculdade de Ciên- cias Médicas da Santa Casa de São Paulo, SP Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP, SP Edson dos Santos-Neto Doutorando pela FMUSP, São Paulo, SP Fabrício Witzel de Medeiros Médico do Setor de Cirurgia Refrativa do Hospital das Clínicas da FMUSP, São Paulo, SP Ex-Fellow do Setor de Cirurgia Refrativa do Cole Eye Institute, Cleveland Clinic Foundation, Cleve- land, EUA Doutorando pela FMUSP, São Paulo, SP Gustavo Victor Doutor pela FMUSP, Ribeirão Preto, SP Médico da Eye Clinic, São Paulo, SP Coordenador de Residência Médica do Hospital Ana Costa, Santos, São Paulo, SP Iara Debert Médica do Setor de Estrabismo do Hospital das Clínicas da FMUSP, São Paulo, SP Doutoranda pela FMUSP, São Paulo, SP Íris Yamane Doutoranda pela FMUSP, São Paulo, SP Jackson Barreto Júnior Médico do Setor de Cirurgia Refrativa do Hospital das Clínicas da FMUSP, São Paulo, SP Doutorando pela FMUSP, São Paulo, SP Keila Monteiro de Carvalho Professora Associada da Disciplina de Oftalmolo- gia do Departamento de Oftalmologia e Otorrino- laringologia da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, Campinas, SP Murilo Barreto Souza Doutorando pela FMUSP, São Paulo, SP Docente da Disciplina de Oftalmologia do Curso de Medicina da FTC, Salvador, BA Refratometria Ocular - Cap-00.indd 7 14/04/2017 13:01:12 Refratometria Ocular - Cap-00.indd 8 14/04/2017 13:01:12 IX Apresentação Os Professores Milton Ruiz Alves, Mariza Pola- ti e Sidney Júlio de Faria e Sousa presenteiam a Oftalmologia brasileira com um livro não ape- nas necessário, mas oportuno: Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica É redundante repetir que a esmagadora maioria da nossa clientela compõe-se de pes- soas em busca de um par de óculos. Diante de uma dificuldade visual, ninguém pensa em ne- nhum outro problema. Os óculos, de uma for- ma ou de outra, são a porta de entrada do ci- dadão em nossos consultórios. Se o cliente já os usa, então nos procura para atualizá-los; se ainda não, espera poder usá-los. O ensino da refratometria é o que há de mais importante nos cursos de especialização. É bom lembrar que, antes de sermos oftalmo- logistas, somos médicos e, antes de sermos su- bespecialistas, somos oftalmologistas e refrato- metristas. Ninguém chega a ser um bom retinólogo ou glaucomatólogo, entre tantas outras subes- pecialidades, sem que antes seja capaz de re- ceitar um par de óculos que dê visão (quando possível) e conforto ao seu paciente. Os autores, a par de seu sólido conheci- mento da Oftalmologia, sempre se preocupa- ram em ensinar e divulgar (bem) a teoria e prá- tica da refração. Este livro, portanto, é o produto belamen- te escrito e editado dessa preocupação. Nada nele é desnecessário ou supérfluo. E uma coisa me chamou a atenção: os autores conseguiram desmistificar para nós, mortais oftalmologistas, aquelas fórmulas matemáticas complexas, eso- téricas, indecifráveis mesmo. A física geométrica e a matemática de tan- tas dessas fórmulas foram reduzidas a pala- vras simples, a um linguajar descomplicado, de modo que essas matérias, tediosas para o médico em geral, ganharam uma forma leve ao nosso raciocínio e conhecimento. A ideia ou as regras embutidas nessas fórmulas torna- ram-se transparentes, de fácil alcance, tal a precisão e clareza da linguagem usada pelos autores. Este livro enriquece a bibliografia oftalmo- lógica sobre o tema e, estou certo, será uma fonte de estímulo para que os neófitos e tam- bém os veteranos terminem sua leitura mais preparados e mais seguros para o exercício da prática refratométrica em seus consultórios. E não custa lembrar que, se assumirmos a refratometria por inteiro, se a praticarmos com sabedoria e sem preconceitos, dando-lhe o inestimável valor e importância que ela real- mente tem, não sobrará espaço nem lugar para ninguém mais ousar receitar óculos ou lentes de contato, a não ser nós, médicos oftalmolo- gistas. O Conselho Brasileiro de Oftalmologia não poderia sentir-se mais feliz e gratificado por ter referendado a publicação deste livro. É uma obra de peso cultural e científico da qual todos nós e as gerações de futuros oftal- mologistas muito nos orgulharemos. Homero Gusmão de Almeida Presidente Conselho Brasileiro de Oftalmologia Gestão 2015-2017 Refratometria Ocular - Cap-00.indd 9 14/04/2017 13:01:13 Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Refratometria Ocular - Cap-00.indd 10 14/04/2017 13:01:13 XI Os erros da refração ocular e as perturba- ções da acomodação são as duas condi- ções que, indubitavelmente, mais levam uma pessoa a procurar seu oftalmologis- ta. Se adicionarmos o fato de que ambos, muitas vezes, interferem com a motilidade ocular extrínseca e uma visão binocular confortável, vê-se então aumentada a im- portância destes fatores na propedêutica e na terapêutica em Oftalmologia. Deve-se ter em conta que pacien- tes com achados clínicos semelhantes na maioria das vezes não expressam seus sin- tomas do mesmo modo, nem exibem si- nais superponíveis. A idade, a profissão ou as atividades em que o aparelho visual é solicitado, o perfil psicológico, outras en- fermidades e o sexo são fatores que exigem consideração em uma possível proposição terapêutica. O oftalmologista nunca se de- fronta com pacientes iguais. Este livro é uma riqueza não apenas por expor detalhadamente os princípios gerais, mas também por valorizar certos procedimentos cuja omissão seria desas- trosa, apresentando exemplos práticos, muito esclarecedores. É para mim fato altamente alvissareiro saber que membros da Universidade de São Paulo trouxeram esta contribuição a todos os oftalmologistas, principiantes, ex- residentes e àqueles que labutam na espe- cialidade há vários anos. Estes últimos cor- rem o risco altamentefrequente de achar que dominam totalmente essa área de co- nhecimento, de não se atualizarem e de não oferecerem a seus clientes os melho- res recursos disponíveis no momento. Por sua contribuição, os autores mere- cem meu respeito e minha admiração, a par do profundo reconhecimento por te- rem permitido que eu redigisse estas pala- vras com as quais o livro é lançado à cole- tividade oftalmológica. Jorge Alberto F. Caldeira Professor Emérito de Clínica Oftalmológica. Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Apresentação Refratometria Ocular - Cap-00.indd 11 14/04/2017 13:01:13 Refratometria Ocular - Cap-00.indd 12 14/04/2017 13:01:13 XIII Dedicatória Ao Professor Paulo Braga de Magalhães (in memoriam) O Professor Paulo Braga era um homem de temperamento pacífico, que jamais impôs suas crenças ou opiniões sobre os seus su- bordinados. E dessa forma continuou após tomar posse na chefia da Clínica Oftalmo- lógica do HCFMUSP, como Professor Ti- tular, em 27 de maio de 1964. Prosseguiu dando ampla liberdade a todos os médicos da clínica oftalmológica no sentido de se aprimorarem da maneira como cada um julgasse mais adequada. Estruturou o cur- so de residência médica da Oftalmologia. A inauguração do prédio dos Ambulatórios, durante a sua gestão, expandiu as instalações físicas do Departamento, favorecendo sobremaneira as atividades clínicas e didá- ticas. Atuando com dedicação, sabedoria e, sobretudo com ética, con- tribuiu marcadamente para a formação de várias gerações de oftalmolo- gistas. O Professor Paulo Braga se aposentou compulsoriamente, aos 70 anos, em 23 de março de 1983. Refratometria Ocular - Cap-00.indd 13 14/04/2017 13:01:13 Refratometria Ocular - Cap-00.indd 14 14/04/2017 13:01:13 XV Prefácio da 5a Edição No mundo, o erro refrativo não corrigido é a causa mais comum de baixa visão e a se- gunda causa mais comum de cegueira.1,2 Melhorar a visão das pessoas pode gerar benefícios econômicos consideráveis, es- pecialmente em países de baixa e média rendas, onde esses problemas são muito incidentes, e pode fornecer uma impor- tante contribuição para o desenvolvimen- to global.3 Os governos poderiam poupar milhões de dólares simplesmente inves- tindo em exames oftalmológicos e forne- cendo óculos para milhões de pessoas que precisam deles.3 No Brasil, até o ano de 2000, estimava- se que, dos indivíduos que apresentavam algum grau de deficiência visual, 42,7% tinham como causa os erros de refração, seguindo-se a catarata (23,9%), a degene- ração macular relacionada à idade (5,4%) e o glaucoma (4,02%).4 O Censo 2000 revelou que cerca de 16 milhões de pes- soas tinham deficiência visual; em 2010 surpreendeu: esse número mais do que dobrou, está chegando a 35 milhões de pessoas.5 Ou seja, a sociedade paga pre- ço alto pelo cuidado inadequado da vi- são; as consequências da visão deficiente, não tratada, podem ocasionar ao longo do tempo impedimentos na vida profissional e ocupacional.6 A refratometria ocular é o procedimen- to de maior demanda entre todos os que levam uma pessoa a consulta oftalmoló- gica. Não há sequer uma única pessoa que, cedo ou tarde, deixe de requerer al- gum tipo de correção óptica para melho- rar sua discriminação visual, seja para o olhar “a distância”, seja para o “de per- to”.7 Tudo começa e termina com a refra- ção, e é ela o coroamento final do mais refinado e complexo procedimento tera- pêutico, quer clínico, quer cirúrgico.8 Na ocasião do exame refratométrico é que o médico oftalmologista tem a oportunidade de prevenir, diagnosticar e tratar enfermi- dades que poderão colocar em risco a saú- de ocular, sobretudo se confiada à opto- metria divorciada dos nossos consultórios oftalmológicos.8 Este livro é uma riqueza não apenas por expor detalhadamente os princípios Refratometria Ocular - Cap-00.indd 15 14/04/2017 13:01:13 Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo XVI gerais da refratometria ocular, mas princi- palmente por nortear a prática optométri- ca por médicos, prerrogativa que nos é as- segurada pelo saber e pela lei. Boa leitura! Os Autores REFERÊNCIAS 1. Resnikoff S, Pascolini D, Mariotti S, Pokharel P. Global magnitude of visual impairment caused by uncorrected refractive errors in 2004. Bull World Health Organ, 2008; 86:63-70. 2. Holden BA, Fricke T, Ho S, Wong R, Schlenther G, Cronje S et al. Global vision impairment due to uncorrected presbyopia. Arch Ophthalmol, 2008;126:1731-9. 3. Fricke TR, Holden BA,Wilson DA, Schlenther G, Naidoo KS, Resnikoff S, Frick KD. Global cost of correcting vision impairment from uncorrec- ted refractive error. Bull World Health Organ, 2012;90:728-38. 4. Arieta CEL, Delgado AMN, José KN, Temporini ER, Alves MR, Moreira Filho DC. Refractive er- rors and cataract as causes of visual impairment in Brazil. Ophthal Epidemiol, 2003;10(1):15-22. 5. Azevedo ACL. Apresentação. In: Haddad MAO, Siaulys MOC, Sampaio MW. Baixa Visão na In- fância. Guia Prático de Atenção Oftalmológica. São Paulo: Laramara, 2011, 191p. 6. Burns MJ. Building a priority for a national vi- sion health care. Eye Ear Nose Troat Mon, 1973; 52:353-6. 7. Bicas HEA, Alves AA, Uras R. Prefácio. In: Bicas HEA, Alves AA, Uras R (eds). Refratometria Ocu- lar [Tema Oficial XXXIII Congresso Brasileiro de Oftalmologia – CBO 2005), Rio de Janeiro: Cul- tura Médica, 2005, 400p. 8. Gonçalves ER. Apresentação. Refratometria ocu- lar: cientificamente rico e politicamente oportu- na. In: Bicas HEA, Alves AA, Uras R (eds). Refra- tometria Ocular [Tema Oficial XXXIII Congresso Brasileiro de Oftalmologia – CBO 2005], Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2005, 400p. Refratometria Ocular - Cap-00.indd 16 14/04/2017 13:01:13 XVII Sumário 1 Refratometria Ocular ...............................1 Milton Ruiz Alves Mariza Polati Sidney Júlio de Faria e Sousa 2 Hipermetropia .......................................37 Milton Ruiz Alves Mariza Polati Iara Debert 3 Miopia ...................................................53 Milton Ruiz Alves Mariza Polati Iara Debert 4 Astigmatismo ........................................75 Milton Ruiz Alves Jackson Barreto Júnior Mariza Polati 5 Anisometropia .......................................91 Milton Ruiz Alves Murilo Barreto Souza Fabrício Witzel de Medeiros 6 Baixas Ametropias ............................. 121 Milton Ruiz Alves Edson dos Santos-Neto Mariza Polati 7 Altas Ametropias ................................ 135 Milton Ruiz Alves Adamo Lui Netto Íris Yamane 8 Presbiopia .......................................... 145 Sidney Júlio de Faria e Sousa Milton Ruiz Alves 9 Baixa Visão ......................................... 163 Keila Monteiro de Carvalho 10 Oculomotricidade ............................... 181 Sidney Júlio de Faria e Sousa Milton Ruiz Alves 11 Avaliação da Prescrição Médica ........ 201 Milton Ruiz Alves Sidney Júlio de Faria e Sousa Gustavo Victor Índice ................................................. 231 Refratometria Ocular - Cap-00.indd 17 14/04/2017 13:01:13 Refratometria Ocular - Cap-00.indd 18 14/04/2017 13:01:13 Avaliação da Prescrição Médica 1 1 Refratometria Ocular Milton Ruiz Alves Mariza Polati Sidney Júlio de Faria e Sousa CONCEITO O termo refratometria ocular não se aplica à medida do estado óptico do olho em seu va- lor absoluto, isto é, à quantidade dióptrica to- tal da refração ocular. A expressão traduz va- lores de adequação posicional (da retina e do foco objeto do olho), ou seja, do bom ajus- tamento (emetropia) ou não (erro refrativo).1 NOTAS HISTÓRICAS No século XIX, o exame refratométrico ocular era impreciso e os erros refrativos identificados eram corrigidos com lentes oftálmicas de baixa qualidade.2 No século XX, avanços importantes ocorreram na refratometria ocular, na cor- reção do erro refrativo, na qualidade óp- tica e nos desenhos das lentes oftálmicas. Métodosde refratometria objetivos e sub- jetivos foram aprimorados com o desen- volvimento e incorporação de técnicas, como a do cilindro cruzado de Jackson e a da refratometria binocular, associados com o aprimoramento de instrumentos, como o retinoscópio e os refratores ma- nuais e computadorizados.3 Na década de 1960, o desenvolvimen- to da ultrassonografia permitiu a obtenção de imagens ultrassônicas do olho e medi- das acuradas do comprimento axial. Esta foi considerada uma das principais inova- ções tecnológicas da década.4 Ainda du- rante a década de 1960, o laser, outra fer- ramenta dos físicos, aplicado no campo da refratometria, permitiu o desenvolvimento posterior do refrator com tecnologia de frente de ondas.5,6 No mesmo período, surgiram as lentes progressivas para corre- ção da presbiopia, inicialmente de vidro, pesadas e pouco confortáveis.7 Durante a década de 1970, surgiram as lentes oftálmicas de resina policarbonato.7 Atualmente, cada vez mais, multiplicam- se as opções para a correção dos erros re- frativos: óculos, lentes de contato, cirurgia refrativa etc. SINAIS E SINTOMAS Os erros refrativos não corrigidos consti- tuem a causa mais comum de baixa visual. Nos casos mais acentuados, a baixa visão corresponde ao sintoma mais importante. Outras queixas podem surgir do esforço Refratometria Ocular - Cap-01.indd 1 06/03/2017 21:06:07 Neiffer Rabelo Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica2 visual para compensar o erro refrativo. Os dois sintomas mais comuns relacionados à presença de erro refrativo não corrigido ou inadequadamente corrigido são baixa visão e astenopia.3 A baixa visual é percebida pelos pa- cientes como se a imagem do objeto em questão estivesse fora do foco. A inten- sidade do borramento visual depende da magnitude e do tipo de erro refrativo, mas também é influenciada pela idade das pessoas e pelo nível de iluminação do ambiente. Algumas vezes, a baixa vi- sual pode se manifestar como a dificul- dade ou inabilidade de manter o foco claro de objetos situados a diferentes distâncias.3 Astenopia é o termo que se aplica a ampla variedade de diferentes sintomas. O Dictionary of Visual Science8 define astenopia como um termo geralmente utilizado para designar quaisquer sinto- mas subjetivos ou desconforto com ori- gem no uso dos olhos. Astenopia inclui sintomas como cefaleia, dor ao redor ou acima dos olhos, fotofobia, cansaço e desconforto ocular. Na avaliação do paciente com queixas de visão borrada, astenopia ou cefaleia, de- vem-se observar as seguintes condições:3 ■ Distância que borra a visão: longe, per- to ou intermediária. ■ Hora do dia: manhã, tarde ou noite. ■ Tipo de atividade visual: leitura, uso de computador etc. ■ Duração da atividade visual: imedia- tamente, após 15 min, após 60 min etc. Quaisquer dos sintomas anteriores po- dem se manifestar em determinado caso particular. A intensidade e a frequência dos sinais e sintomas variam e dependem de certos fatores, tais como a magnitude e tipo de erro refrativo, a integridade do sistema visual binocular, as condições de saúde da pessoa e a natureza da demanda de visão. A miopia é a causa mais provável de visão borrada para longe e não para perto; no paciente jovem, a hipermetropia é res- ponsável pela visão borrada para perto e não para longe. A relação entre magnitude do erro refrativo não corrigido e acuidade visual (AV) resultante tem sido investigada com respeito ao tipo de ametropia e à ida- de do paciente. Alguns pesquisadores pro- puseram fórmulas que podem predizer a quantidade de erro refrativo, e vice-versa. Os dados da Tabela 1 apresentam os resul- tados de Eggers.9 Os dados mostram que a AV medi- da com os optotipos de Snellen diminui, aproximadamente, uma linha para cada 0,25 D de miopia simples não corrigida ou de hipermetropia absoluta. Também mos- tra que a AV diminui em função da mag- nitude e do eixo do astigmatismo não cor- rigido. Por exemplo, astigmatismo oblíquo (com eixo entre 31° e 59° ou 121° e 149°) tem efeito maior na AV do que astigmatis- mo com a regra (eixo entre 150° e 180° ou 180° e 30°). Os dados da Tabela 2 mostram os va- lores equivalentes dos optotipos de Snel- len em pés e decimais e correspondentes ângulos visuais, percentuais de eficiência visual e de perda de visão. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 2 06/03/2017 21:06:07 Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Refratometria Ocular 3 REFRATOMETRIA OCULAR Com a utilização dos testes objetivos e subjetivos do exame de refração, obtêm-se informações preciosas sobre a natureza e a magnitude dos erros refrativos e identifi- cam-se as lentes oftálmicas que permitirão ao paciente ter visão clara e confortável mantida sem esforço. Testes objetivos Ceratometria e topografia corneana A ceratometria é a medida do raio de cur- vatura da superfície anterior da córnea, que é realizada com o ceratômetro, tam- bém chamado oftalmômetro (Figura 1). O princípio da ceratometria baseia-se na propriedade da superfície anterior da cór- Tabela 1 Acuidade visual como função de erro refrativo não corrigido Acuidade visual não corrigida (Snellen) Magnitude do erro refrativo não corrigido (D) Miopia simples ou Hipermetropia absoluta Astigmatismo simples* Oblíquo Com a regra 20/25 0,25 – 0,50 20/30 0,50 0,75 1,00 20/40 0,75 1,00 1,50 20/50 1,00 1,50 2,00 20/70 1,25 1,75 2,50 20/100 1,50 2,25 3,00 20/150 2,00 2,75 3,50 20/200 2,50 3,50 4,50 20/300 3,50 5,00 6,25 20/400 4,50 – – Os resultados do astigmatismo contra a regra estão entre os valores apresentados para os astigmatismos oblíquo e com a regra. *Fonte: Eggers H. Estimation of uncorrected visual acuity in malingerers. Arch Ophthalmol, 1945; 33:23-7.9 Tabela 2 Valores equivalentes dos optotipos de Snellen em pés e decimais e correspondentes ângulos visuais, percentuais de eficiência visual e de perda visual* Pés Decimal Ângulo visual % Eficiência visual % Perda visual 20/20 1,0 1,0 100,0 0,0 20/30 0,7 1,5 91,4 8,6 20/40 0,5 2,0 83,6 16,4 20/60 0,3 3,0 69,9 30,1 20/80 0,25 4,0 58,5 41,5 20/200 0,1 10,0 20,0 80,0 *Fonte: Miranda MN. Apuntes de Refracción. Universidade de Puerto Rico, Apostila, 1975:42.10 Refratometria Ocular - Cap-01.indd 3 06/03/2017 21:06:07 Neiffer Rabelo Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica4 nea em se comportar como um espelho esférico convexo.11-14 O ceratômetro pro- jeta uma mira de tamanho conhecido so- bre uma zona central da córnea a uma distância conhecida e mede o tamanho da imagem refletida da superfície anterior da córnea (Figura 2). A área além desses pontos ou entre eles não é avaliada. A im- portância da ceratometria está no fato de a superfície frontal da córnea representar cerca de 75 a 80% de todo o poder dióp- trico do olho. A ceratometria fornece me- dida objetiva da magnitude e do eixo do astigmatismo corneano anterior, o que au- xilia na avaliação de crianças, pacientes com dificuldade para dar informações ou naqueles com reflexo retinoscópico mal definido.11,13 O fotoceratoscópio, utilizando o disco de Plácido, projeta anéis concêntricos so- bre a superfície anterior da córnea e, com o emprego de métodos algorítmicos, ob- tém dados quantitativos da curvatura cor- neana.13,14 O videoceratoscópio computadori- zado avalia milhares de pontos cobrin- do praticamente toda a córnea. Em um esforço para aumentar a acurácia dos aparelhos e evitar que, a partir da aná- lise bidimensional do disco de Plácido, se obtenha uma ideia tridimensional da córnea, os modernos videoceratoscópios lançam mão de alta tecnologia, em que câmaras fotográficas laterais foram adi- cionadas para que a córnea possa ser analisada de perfil. Outro tipo de tecno- logia emprega o princípio da rastereogra- fia e da holografia a laser.A topografia de rastreamento em fenda combina a tec- nologia derivada da reflexão do disco de Plácido com a análise de imagens reais de secções ópticas corneanas.13,14 O exame topográfico da córnea é im- portante na detecção de astigmatismos irregulares decorrentes da adaptação de lentes de contato (warpage), do cerato- cone, de cirurgias corneanas, de trau- matismos, de condições degenerativas e de sequelas de processos inflamató- rios.11,13,14 Figura 1 Ceratômetro modelo Bausch & Lomb. – + + – – + + – – + + – + Figura 2 Miras ceratométricas do ceratôme- tro modelo Bausch & Lomb: conhecendo-se o tamanho da imagem das miras, calcula-se o raio de curvatura corneano. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 4 06/03/2017 21:06:09 Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Refratometria Ocular 5 Retinoscopia A retinoscopia é, sem dúvida, o melhor método objetivo da refratometria ocu- lar.11,15 Ponto remoto Ponto remoto é o ponto do espaço conju- gado com a retina, com a acomodação re- laxada. Toda imagem colocada no ponto remoto é focada na retina; toda imagem provinda da retina é focada no ponto re- moto. Fica fácil raciocinar com o ponto remoto, atentando para a luz que sai do olho, em vez da que entra, como é feito regularmente. No emetrope, a luz sai dos olhos com os raios paralelos (Figura 3). O ponto remoto está no infinito, porque os raios paralelos sempre se associam ao infi- nito. A imagem da retina é focada no infi- nito e o que estiver no infinito é focado na retina. No olho míope, devido ao excesso de poder de convergência, os raios saem convergentes e cruzam-se em um ponto situado entre a frente do olho e o infinito. O ponto remoto do olho míope é, portan- to, real e finito (Figura 3). Tudo que estiver nesse ponto foca-se na retina, e vice-versa. Quanto mais forte for a miopia, mais pró- ximo da córnea estará o ponto remoto. No hipermetrope, devido à falta de poder de convergência, a luz sai do olho em diver- gência. Os prolongamentos dos raios, no sentido oposto ao da luz emergente, inter- ceptam-se em um ponto imaginário, situa- do entre o polo posterior do bulbo ocular e o infinito retro-ocular O ponto remoto do hipermetrope é, portanto, virtual. Toda luz emergente da retina foca-se nesse pon- to; toda luz dirigida para esse ponto foca- se na retina. Quanto mais forte a hiperme- tropia, mais próximo do polo posterior do olho estará o ponto remoto (Figura 3). O inverso da distância, em metros, en- tre o ponto remoto e os planos principais do olho mede o erro de refração. Os pla- nos principais são um par de planos imagi- nários, frontais ao olho, situados cerca de 2 mm diante da íris. A vantagem do pon- to remoto é que, uma vez conhecida sua localização, o erro de refração fica carac- terizado. Corrigir o erro de refração signi- fica transferir o ponto remoto de onde ele se encontra para o infinito. Um olho eme- tropizado é aquele cuja dupla “olho-lente corretora” está conjugada ao infinito. PR Emetropia PR Miopia Hipermetropia PR Figura 3 As ametropias e os res- pectivos pontos remotos. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 5 06/03/2017 21:06:09 Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica6 O ponto remoto pode ser deslocado mediante a colocação de lentes. As lentes convergentes, aumentando a convergên- cia da luz que sai do olho, aproximam o ponto remoto de olhos míopes e afastam o ponto remoto virtual de olhos hipermetro- pes. Acentuam a miopia e diminuem a hi- permetropia. As lentes divergentes, dimi- nuindo a convergência da luz que emerge do olho, afastam o ponto remoto de olhos míopes, diminuindo a miopia, e aproxi- mam o ponto remoto de olhos hiperme- tropes, piorando a hipermetropia. Para que uma lente, montada no pla- no dos óculos, coloque o ponto remoto no infinito, é preciso que seu foco posterior coincida com o ponto remoto. Em outras palavras, é preciso escolher uma lente cuja distância focal (distância da lente ao foco) seja idêntica à distância dela ao ponto re- moto. Nas lentes convergentes, o foco pos- terior ocupa o lado oposto ao da entrada da luz. Cai, precisamente, onde é deseja- do: atrás do olho, onde se encontra o pon- to remoto do hipermetrope (Figura 4). Nas lentes divergentes, corresponde ao prolon- gamento dos raios refratados, achando-se no lado da entrada da luz. Cai no lugar al- mejado: diante do olho, onde se encontra o ponto remoto do olho míope (Figura 4). Para que tudo isso se materialize, é pre- ciso que se conheça a posição do ponto re- moto, e é aí que entra a retinoscopia. Na verdade, ela não determina a posição do ponto remoto. Ela coloca o ponto remoto em uma posição conhecida: a pupila de observação do retinoscópio. Nessa situa- ção, para transferirmos o ponto remoto para o infinito, corrigindo, assim, a ametro- pia, basta escolhermos uma lente que, co- locada no plano dos óculos, tenha seu foco coincidente com a pupila do retinoscópio; uma lente cuja distância focal seja idêntica à distância que a separa do retinoscópio. Como o retinoscópio está defronte do olho, essa lente só pode ser divergente. A B PR F f f PR F Figura 4 Correção das ametro- pias. PR. Ponto remoto; F. Foco posterior da lente corretora. A. Hipermetropia. B. Miopia. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 6 06/03/2017 21:06:09 Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Refratometria Ocular 7 Uso do retinoscópio A retinoscopia é um método objetivo pa- ra a determinação das ametropias do olho. O exame é realizado com um retinoscó- pio, instrumento que tem a capacidade de projetar luz na forma de faixa luminosa. Com o auxílio de um cursor e de um espe- lho interno, a faixa projetada pode ser ro- dada 180° em torno do eixo de projeção. Elevando-se ou abaixando-se o cursor, o feixe de luz projetado pode assumir con- figuração divergente (posição de espelho plano) ou convergente (posição de espe- lho côncavo) (Figura 5). A luz do retinoscópio é, geralmen- te, projetada na retina, através da pupila do paciente, a uma distância próxima de 1 m. A luz refletida pela retina é visuali- zada através do orifício de observação do instrumento (Figura 5). Essa luz dá origem ao que se convencionou chamar de re- flexo retinopupilar. Como a luz inciden- te tem a forma de faixa, o reflexo retino- pupilar também se apresenta como uma faixa luminosa na pupila do olho exami- nado. É precisamente esse reflexo que o examinador tem que analisar para inferir sobre o vício de refração. A inclinação do reflexo retinopupilar é função da rotação do cursor do retinoscópio e da presença de astigmatismo. Havendo astigmatismo, o reflexo retinopupilar assume a direção do meridiano principal da córnea, mais próximo da faixa do retinoscópio (Figura 6). Não havendo astigmatismo, o reflexo retinopupilar assume automaticamente a direção da faixa luminosa do instrumento. Nesse caso, os meridianos principais da córnea são, por convenção, considerados como sendo o horizontal e o vertical. O exame inicia-se com a colocação do cursor na posição de espelho plano. Em al- guns retinoscópios, é a posição mais eleva- da e, em outros, a posição mais baixa do cursor. O examinador coloca-se a 0,67 m 1 2 A B Figura 5 Retinoscópio. A. Orifício de observação ou pupila do retinoscópio. B. Cursor. 1. Posi- ção do espelho plano (raios divergentes). 2. Posição do espelho côncavo (raios convergentes). Refratometria Ocular - Cap-01.indd 7 06/03/2017 21:06:09 Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Refratometria Oculare a Arte da Prescrição Médica8 do olho examinado e alinha a faixa do re- tinoscópio com a direção de um dos me- ridianos principais da córnea, tendo o re- flexo retinopupilar como guia. Então, varre alternadamente esse meridiano e o meri- diano perpendicular a ele, com movimen- tos laterais de vai e vem, atentando para o comportamento do reflexo retinopupilar. Se o reflexo acompanha o sentido da faixa do retinoscópio, o movimento é a favor; se caminha em sentido oposto, o movimento é contra. Ato contínuo, adicionam-se len- tes diante do olho examinado, com o ob- jetivo de anular os movimentos do reflexo retinopupilar. Se o movimento é a favor, as lentes adicionadas são positivas; se contra, elas são negativas. O exame termina quan- do os movimentos do reflexo retinopupilar, de ambos os meridianos, são anulados com lentes apropriadas. Uma vez anulado o movimento, o reflexo retinopupilar é subs- tituído por um borrão luminoso que ocu- pa toda a pupila. Esse borrão indica que foi atingido o ponto de neutralização do movi- mento. Nos vícios astigmáticos, o ponto de neutralização de um meridiano não coinci- de com o do outro. Terminada a fase instrumental da reti- noscopia, ainda é necessário mais um pas- so: a adição de –1,5 D à graduação recém- determinada. Só assim se chega ao erro de refração real do olho examinado. Essa adição equivale ao inverso da distância de exame, tomado em metros; se for distin- ta de 0,67 m, ela deverá ser devidamente modificada. Término do exame Na retinoscopia, a única posição em que o ponto remoto pode ser detectado é quan- A B Figura 6 Faixa luminosa do retinoscópio e reflexo retinopupilar. A. Condição de desalinha- mento. B. Condição de alinhamento. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 8 06/03/2017 21:06:10 Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Refratometria Ocular 9 do ocupa o orifício de observação do re- tinoscópio. O examinador vai colocando lentes diante do olho examinado até que o ponto remoto ocupe essa posição. Nela, o reflexo retinopupilar vira um borrão e não se consegue mais detectar movimentos, contra nem a favor. É o término do exa- me. Como independe da informação do paciente, o teste é dito objetivo. O ponto em que o reflexo retinopupilar vira um borrão, chama-se ponto (ou zona) de neutralização. A lente necessária para produzir esse fenômeno chama-se lente de neutralização. O nome advém do fato de o reflexo não ser mais nem contra nem a favor (Figura 7A). Guiando-se pelo reflexo No teste de lentes, a pista para a escolha da lente que vai colocar o ponto remoto em uma posição conhecida é a melhora progressiva da visão. Na retinoscopia, ela baseia-se no movimento do reflexo retino- pupilar relativo ao movimento da faixa do retinoscópio. Se ele acompanha o sentido da faixa (movimento a favor), aumenta-se o poder das lentes positivas ou diminui- se o das negativas, antepostas ao olho. Se o reflexo for oposto ao sentido da faixa (movimento contra), aumenta-se o poder das lentes negativas ou diminui-se o das positivas. A lógica do comportamento des- ses reflexos está na posição do ponto re- moto relativo ao examinador. Movimentos contra e a favor Quando o ponto remoto ocupa a região entre o paciente e o examinador, os raios que partem do olho examinado cruzam- se antes de alcançarem o retinoscópio. Por causa desse cruzamento, o examina- dor percebe um movimento contra, que o alerta sobre essa situação (Figura 7B). Ele então utiliza lentes negativas que, dimi- PR PR PR PR A B C D Figura 7 PR. Pon- to remoto. A. Ponto de neutra- lização. B. Movi- mento contra. C e D. Diferentes si- tuações dos movi- mentos a favor. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 9 06/03/2017 21:06:10 Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica10 nuindo a convergência desses raios, “em- purram” o ponto remoto na direção do instrumento. Quando o ponto remoto não estiver nessa região, ele estará atrás do exami- nador ou do paciente (Figura 7C e D). Em ambas as situações, a luz que parte do olho examinado não sofre cruzamento antes de alcançar o aparelho. Por isso, o movimento é a favor. O uso de lentes con- vergentes justifica-se pelo seguinte: se o ponto remoto estiver atrás do examinador (Figura 7C), as lentes positivas, aumen- tando a convergência dos raios emergen- tes, “puxam-no” para o retinoscópio, por trás do retinoscopista. Se o ponto remoto estiver atrás do paciente (Figura 7D), pri- meiro ele se desloca mais para trás, até o infinito. Isto porque as lentes positivas, ao tornarem os raios emergentes mais pa- ralelos, “empurram” o ponto remoto para trás. Daí em diante, ele é puxado do in- finito para o retinoscópio, dessa vez por trás do retinoscopista. O ponto remoto, na trajetória de ida ao infinito e de vol- ta deste, é influenciado pelo aumento da graduação das lentes positivas antepostas ao olho examinado. Ressalte-se que, na prática, não se tra- balha com movimentos contra. Com eles fica mais difícil determinar o ponto de neutralização. Por isso, sempre que eles aparecem, o examinador adiciona lentes negativas suficientes para torná-los a favor e continua o exame até a neutralização. Conjugando a retina ao infinito O objetivo da retinoscopia é determinar o erro de refração, ou melhor, a lente que conjugue a retina ao infinito. Como, no fi- nal da retinoscopia, o ponto remoto ocupa o orifício de observação do retinoscópio, a retina estará conjugada com o instrumen- to, e não com o infinito (Figura 8A). Para transportar o ponto remoto do retinoscópio para o infinito, é necessá- rio anular a convergência dos raios que, emergindo do olho, se dirigem para o ori- fício de observação do instrumento. Isso é feito associando-se uma lente divergente à lente do final da retinoscopia (Figura 8B). Não uma lente divergente qualquer, mas uma cujo foco coincida exatamente com o orifício de observação do retinoscópio. Com isso, a luz que se dirige para o ponto remoto passa obrigatoriamente pelo foco de uma lente negativa e, por isso, emer- ge paralela. A distância focal dessa lente corresponde, pois, à distância que separa os óculos do orifício de observação do re- tinoscópio. Como o poder da lente é dado pelo inverso da distância focal, tomado em metros, se o retinoscópio estiver a 0,67 m dos óculos, seu poder será de –1,50 D. Na prática, o refratometrista simplesmen- te soma –1,5 D ao valor da retinoscopia. No jargão oftalmológico, ele “desconta” 1,5 D. A luz que entra no olho Insistimos que, para se compreender a re- tinoscopia, é preciso raciocinar com os raios que saem do olho. E os que entram, não têm influência? A resposta é que eles determinam o sentido da varredura da luz na retina do paciente. Na verdade, todas as considerações deste artigo, relativas à retinoscopia, partiram do pressuposto que a luz projetada não sofreu cruzamento an- tes de alcançar o olho examinado. Racio- Refratometria Ocular - Cap-01.indd 10 06/03/2017 21:06:10 Neiffer Rabelo Refratometria Ocular 11 cinou-se, portanto, com luz divergente, ou seja, com o cursor na posição do espelho plano, que é a forma usual de exame. Nes- sa posição, a varredura da retina acompa- nha a rotação do retinoscópio. Entretanto, se a luz tivesse sofrido cruzamento, antes de alcançar o olho do paciente, a varredu- ra da retina seria oposta à do instrumen- to. Isto corresponderia ao uso do cursor na posição do espelho côncavo. Para se determinar a posição do espe- lho côncavo, basta ver qual a posição do cursor que gera um feixe luminoso con- vergente, com foco a aproximadamente 25 cm de distância. Essa é a posição a ser evitada nos exames de retinoscopia, a me- nos que se queira raciocinar de maneira invertida. Em resumo, o modo como o observa- dor vê o movimento do reflexo retinopupi- lar acaba sendo influenciado, não só pela luzque sai, como também pela que entra no olho. Se houver cruzamento de raios na ida ou na volta, o movimento será contra. Se houver cruzamento em ambos os senti- dos, um anula o outro e o movimento passa a ser a favor. Se não houver cruzamentos, o movimento também será a favor. Fontes de erro Na retinoscopia, a acomodação é indese- jada porque modifica, de maneira impre- vista, o poder refrativo do olho durante o exame. A falta de controle da acomoda- ção é, entre todas as fontes de erro, a mais grosseira. Outro erro é a disparidade entre a dis- tância de trabalho e o desconto pós-refra- tométrico. O refratometrista escolhe uma distância de trabalho e, durante o exame, muda de posição. Se o cálculo do descon- to não levar em consideração essa mudan- ça, o valor real da ametropia não será cor- retamente determinado. Um terceiro erro relaciona-se à posi- ção de uso dos óculos. O poder das lentes corretoras é, geralmente, determinado no refrator para uso nos óculos. Se a posição de teste for distinta da posição de uso, es- tará configurado um erro de distância vér- tice: a distância vértice das lentes de tes- te não corresponde à distância vértice das lentes dos óculos. Os valores dióptricos desse erro são proporcionais à disparidade nas distâncias vértices e à magnitude das graduações envolvidas. 8 PR + f A B Figura 8 Conjugando o ponto re- moto ao infinito. A. Final da re- tinoscopia. B. Distância focal da lente que promove a conjugação do ponto remoto (PR) ao infinito. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 11 06/03/2017 21:06:10 Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica12 Detalhes técnicos Sabe-se que, quanto menor a distância de trabalho, maior a possibilidade de erro. Por outro lado, em distâncias maiores que 66 cm, a quantidade de luz que entra no olho diminui muito, reduzindo o brilho do reflexo do fundo de olho. Pequenos movimentos na posição do retinoscópio provocam grandes movimentos da luz no rosto do paciente, gerando dificuldades em manter a luz no olho do examinado. A dificuldade de troca das lentes também aumenta. Ponderando-se as vantagens e desvantagens, chegou-se ao consenso de que a melhor distância é 67 cm. Esse nú- mero facilita a operação matemática e re- presenta a distância do braço da maioria dos indivíduos, simplificando a troca de lentes. Existem características do reflexo reti- nopupilar que permitem saber se estamos próximos ou distantes do ponto de neutra- lização, e seu conhecimento permite en- curtar o tempo de exame. Suas três princi- pais características são: velocidade, brilho e largura. Quanto mais próximo o pon- to remoto estiver do retinoscópio, maior a velocidade do reflexo. Erros refrativos grandes têm movimento do reflexo len- to. Quanto mais distante o ponto remoto estiver do retinoscópio, mais opaco o re- flexo. Erros refrativos grandes têm reflexo opaco. Ele torna-se progressivamente mais brilhante ao aproximar-se da neutraliza- ção. Quanto mais distante o ponto remoto estiver do retinoscópio, mais estreito o re- flexo. Ele torna-se progressivamente mais largo ao aproximar-se da neutralização. No ponto de neutralização, ele preenche toda a pupila. Tecnicamente, não há um ponto de neutralização, mas uma zona óptica de neutralização, não claramente definida, devido à aberração esférica do olho nor- mal. Muitas vezes, ao nos aproximarmos da neutralização, observamos padrões bi- zarros de reflexos, como o reflexo antípo- da. Na esclerose lenticular, por exemplo, a porção central do reflexo move-se na di- reção oposta da porção periférica (porção periférica com maior poder refrativo que a central). O examinador deve prestar aten- ção na porção central do reflexo e ignorar a porção periférica. Astigmatismos irregulares podem gerar enorme variedade de aberrações. O mais comum é o reflexo em tesoura, produzido quando uma parte da óptica ocular é míope e outra hipermetrope, em relação à posição do retinoscópio. O examinador deve obser- var a região central da pupila, tentando neu- tralizar os 3 mm centrais, mas isso nem sem- pre é possível. Esse reflexo é frequentemente produzido por ectasias da córnea e, mais ra- ramente, por torções do cristalino. Na presença de astigmatismo, não é possível neutralizar todos os meridianos do olho com uma única lente. Entretan- to, o vício de refração poderá ser perfeita- mente definido determinando-se os pontos de neutralização dos seus dois meridianos principais. Esses meridianos correspon- dem aos meridianos corneanos de maior e menor curvatura e que, habitualmente, formam ângulo de 90° entre si. Existem dois modos de determinar o erro refrativo nesses casos: neutralização com graus esféricos e neutralização com esferas e cilindros. No primeiro caso, para se trabalhar apenas com reflexos a favor, Refratometria Ocular - Cap-01.indd 12 06/03/2017 21:06:11 Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Refratometria Ocular 13 que permitem a percepção da neutraliza- ção com maior facilidade, inicia-se o tes- te colocando-se lentes esféricas negativas diante do olho testado, até que ambos os reflexos se movimentem no mesmo sentido da faixa do retinoscópio. Então, mediante a adição progressiva de lentes esféricas con- vergentes (ou subtração de lentes divergen- tes), neutraliza-se primeiro um meridiano e depois o outro. A velocidade, largura e bri- lho do reflexo, obviamente, diferirão nesses meridianos. Ao valor dióptrico, obtido para cada meridiano, soma-se –1,5 D (1/0,67 m) para conjugar os respectivos pontos re- motos ao infinito. Finalmente, arranjam-se matematicamente os dados em uma pres- crição esferocilíndrica. No segundo caso, com ambos os reflexos a favor, tal como no teste anterior, primeiro neutraliza-se um meridiano, com a adição progressiva de lentes esféricas convergentes (ou subtração de lentes divergentes). O segundo meridia- no é, então, neutralizado com cilindro po- sitivo, colocado na direção do meridiano a ser neutralizado. A desvantagem desse mé- todo é a necessidade de uso de cilindros positivos. Quatro características do reflexo reti- nopupilar podem auxiliar na determina- ção dos meridianos principais do astigma- tismo: regularidade, largura, intensidade e inclinação. Irregularidades e o aumen- to da largura do reflexo tendem a ocorrer quando a faixa está fora do meridiano. A intensidade do reflexo é maior quando a faixa está alinhada. A inclinação do refle- xo retinopupilar é relativamente indepen- dente. Por isso, se a faixa do retinoscópio não estiver na posição certa, será perce- bida uma discrepância na direção de am- bas. Essa discrepância, entre todas as ca- racterísticas descritas, é a de maior valor diagnóstico. São condições necessárias para exame acurado de retinoscopia: fixação, alinha- mento do retinoscópio e relaxamento da acomodação. Para manter os olhos relati- vamente imóveis, o paciente necessita de um alvo de fixação frontal, com distância e características que não excitem a aco- modação. Pode ser uma luz – de prefe- rência azul – ou um desenho grande, com poucos detalhes, situado a 5 m ou mais. A acomodação deve ser controlada de pre- ferência com cicloplegia. Cada olho do examinador testa o olho ipsilateral do pa- ciente, garantindo assim excentricidade mínima do retinoscópio com os eixos vi- suais da pessoa examinada. Com o olho oposto, o paciente fixa o alvo escolhido. A retinoscopia ainda é o melhor méto- do de avaliação objetiva do estado refra- tivo do olho. Em mãos experientes, mede as ametropias, com margem de erro de 0,25 D. A retinoscopiaapresenta limita- ções, nos casos de perda de transparência dos meios refrativos (catarata, opacidade corneana) ou de aberrações de ordem ele- vada, motivadas por ectasias corneanas, como no ceratocone. O teste da retinoscopia deve ser ime- diatamente seguido por um teste de lentes, para o refinamento dos achados objetivos. Um novo teste de lentes, sem cicloplegia, ajuda a determinar a prescrição associada à melhor visão e conforto do paciente. Refratometria computadorizada No início, a refratometria ocular era rea- lizada com o uso de lentes de provas e o Refratometria Ocular - Cap-01.indd 13 06/03/2017 21:06:11 Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Neiffer Rabelo Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica14 resultado era refinado com o emprego de técnicas objetivas e subjetivas. Posterior- mente, surgiram os refratores, que simpli- ficaram a troca mecânica das lentes de provas. A partir disso, houve tendência crescente à automatização das técnicas de refração e muitos instrumentos foram de- senvolvidos para determinar a magnitude da ametropia.16 A maioria dos refratores computadoriza- dos baseia-se em dois princípios. O primei- ro é o princípio do optômetro, no qual uma única lente convergente é usada (em lugar da substituição manual de lentes de provas). Um objeto colocado no foco principal dessa lente origina raios de luz que chegam à lente e atingem a pupila paralelos. A partir daí, a vergência dos raios de luz depende do esta- do refrativo do olho. Na emetropia, os raios de luz são focalizados na retina e emergem novamente da pupila paralelamente, sendo focalizados pela lente objetiva na posição do objeto de prova. Na miopia, os raios emergentes são convergentes e a imagem é formada an- tes do objeto de prova. Ao contrário, na hipermetropia, os raios de luz são diver- gentes e a imagem é formada em um pon- to mais distante da posição do objeto de prova. Os refratores que se baseiam nesse princípio têm a capacidade de detectar a vergência dos raios emergentes e determi- nar a posição dessa imagem em relação ao objeto de prova. Realizam a leitura do poder dióptrico da lente corretiva necessá- ria para trazer o indivíduo à condição de emetropia (trazer a imagem à posição do objeto de prova).17 O segundo princípio frequentemente utilizado envolve variações do princípio de duplo buraco estenopeico de Scheiner, que se baseia no posicionamento de duplo bu- raco estenopeico diante da pupila. Um ob- jeto de prova, observado por meio dessas aberturas, forma a imagem na retina, que pode ser única (se o objeto estiver conju- gado à retina, ou seja, no ponto remoto do olho) ou dupla (nas ametropias). No último caso, o ajuste necessário na posição desse objeto, até que ele apareça único, permite determinar a correção refrativa.17 Os primeiros optômetros apresentavam três problemas principais que limitavam seu uso na prática da refratometria: proble- mas no alinhamento, na presença de astig- matismo irregular e na acomodação. Pelo princípio de Scheiner, qualquer prejuízo no alinhamento das aberturas estenopeicas com a pupila, durante a realização das me- didas (p. ex., pela movimentação dos olhos do paciente), invalidaria essas medidas ou forneceria estimativas incorretas de ametro- pia. Seria, portanto, necessário contar com grande habilidade e paciência do examina- dor, bem como com considerável coopera- ção do paciente. O princípio de Scheiner considera que as medidas obtidas através dos dois bu- racos estenopeicos sejam representativas da óptica ocular como um todo. Mas, na presença de irregularidades ópticas, mes- mo que pequenas (como existe na maioria dos olhos) ou em astigmatismos irregula- res, a refração obtida com o instrumento poderia ser diferente da real, ou seja, não representativa da magnitude da ametropia do paciente. A experiência mostra que es- sas medidas automáticas objetivas devem ser refinadas subjetivamente, para a ob- tenção de melhores resultados.16 Refratometria Ocular - Cap-01.indd 14 06/03/2017 21:06:11 Refratometria Ocular 15 A terceira fonte importante de impre- cisão na medida do erro refrativo seria o exercício da acomodação durante a medi- da. A quantidade de acomodação é variá- vel e pode induzir a erros no grau esférico ou cilíndrico. Muitos fatores influenciam a acomodação, como, por exemplo, aten- ção, fadiga, iluminação e detalhes da ima- gem. Nesse sentido, uma variedade de métodos tem sido utilizada para superar esses problemas com algum êxito. Em re- lação à miopia induzida, técnicas de ne- blina, alinhamento e fixação automáticos têm sido introduzidas. Os refratores automáticos disponíveis encaixam-se em cinco categorias: os re- fratores objetivos manuais, os refratores objetivos automáticos (retinoscópios au- tomáticos) sem capacidade de medir AV, os com capacidade de medir AV, os re- fratores automáticos subjetivos e os refra- tores convencionais com controle remoto. Os refratores automáticos manuais neces- sitam de alinhamento manual das miras formadas com luz infravermelha na reti- na do paciente. Os refratores automáticos objetivos fazem a medida refrativa auto- maticamente, usando luz infravermelha, e necessitam de 0,2 a 10 s para realizar as medidas. A maioria deles é puramente objetiva, sem a capacidade de medir AV. Outros, porém, apresentam óptica esfero- cilíndrica inserida, além de tabelas de AV, e permitem também o refinamento subje- tivo do erro refrativo. Os refratores automáticos subjetivos utilizam respostas subjetivas do pacien- te para refinar a correção refrativa final. Requerem maior cooperação do paciente que os objetivos, mas têm a vantagem de fornecer o refinamento subjetivo e a me- dida de AV. Os refratores convencionais com controle remoto são rápidos, impres- sionam, mas exigem a mesma habilidade para a refração que os convencionais. A refratometria computadorizada tem papel estabelecido na prática da refração atual. Esses instrumentos são facilmente opera- dos, mas não substituem a retinoscopia manual. Embora os refratores convencionais e automáticos tenham a capacidade de me- dir erros refrativos esféricos e esferocilín- dricos, não medem astigmatismos irregu- lares. Para a obtenção dessas medidas, são utilizados instrumentos chamados aberrô- metros ou analisadores da frente de onda. Atualmente, existem diversos siste- mas disponíveis para a análise da frente de onda, sendo divididos em sistemas de óptica de saída e de entrada. Os sistemas de óptica de entrada estudam as aberra- ções ópticas do feixe de luz projetado na retina, e os de saída avaliam a frente de onda que sai do olho a partir de um feixe de luz coerente que fora projetado na re- tina e refletido. Desses, atualmente o sis- tema Hartmann-Shack é o mais emprega- do, pois utiliza um feixe de laser (diodo) que é direcionado para a retina (mácula), sendo, a seguir, refletido de volta à pupi- la, passando pelo vítreo, cristalino, pupila, câmara anterior e córnea. Qualquer aber- ração óptica criada por essas estruturas irá determinar uma modificação específica no feixe de luz. Após a saída do olho, esse feixe de luz atravessa um sistema de lentículas que con- centram a frente de onda, que será repre- sentada por uma grade de pontos. Essas in- Refratometria Ocular - Cap-01.indd 15 06/03/2017 21:06:11 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica16 formações são capturadas por um sistema de vídeo, de modo que as imagens serão analisadas por comparação com uma fren- te de onda plana, livre de aberrações. As diferenças entre o feixe capturado e a frente de onda plana representarão as aberrações do olho.17 Um dos exemplos do emprego dessa nova tecnologia é o analisador de frentes de onda KR-9.000 PW da Topcon, que incorpora refrator automático, ceratô- metro automático e sistema de mapeamen- to corneano com os benefícios da tecnolo- gia de frente de onda (Figura 9). Testessubjetivos O exame subjetivo pode ser dividido em refratometria dinâmica ou manifes- ta, quando é realizado com os olhos em seu estado natural; refratometria estática ou cicloplégica, quando a acomodação é paralisada com agentes cicloplégicos; e refratometria pós-cicloplégica, quando rea- lizado após o exame cicloplégico e serve para corrigir eventuais discordâncias entre ambas.11 A refratometria cicloplégica é reco- mendada a pacientes com menos de 40 anos de idade, especialmente a portado- res de hipermetropia e/ou astigmatismo hipermetrópico.11 Os cicloplégicos são de grande utilidade porque nos permi- tem conhecer o total do erro refrativo e, a partir dessa informação, adotar as me- lhores estratégias para corrigi-lo (Tabela 3). Os colírios de atropina e homatropi- na não são mais indicados para a obten- ção de cicloplegia no exame de refração. Atualmente, instilamos no fundo de saco conjuntival inferior 1 gota do colírio de ciclopentolato a 1% e esperamos 30 min para realizar o exame. Nos casos em que não se obteve adequada cicloplegia, pre- ferimos a utilização de 1 gota de ciclo- pentolato a 1% associada a 1 gota de tropicamida a 1%. Nos casos apresenta- dos e discutidos neste livro, a cicloplegia foi obtida com a instilação de 1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, com intervalo de 5 min e exame após 40 min. Em alguns pacientes, especialmente os de curta duração (tropicamida a 1,0% e ciclopentolato a 1,0%), podem produ- zir um efeito de atonia, no músculo ci- liar, em tal grau que a potência dióptrica do cristalino vem a ser menor do que em repouso. Nesses casos, o erro pode ser de 0,25 a 0,50 D. Isto pode fazer com que uma correção miópica aparente seja me- nor pela cicloplegia. Nos casos em que o exame cicloplé- gico demonstrar miopia menor do que a atual do paciente, impõe-se a realização Figura 9 Analisador de frente de onda Top- con KR-9.000 PW. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 16 06/03/2017 21:06:11 Refratometria Ocular 17 de novo exame pós-cicloplegia. Em alguns pacientes, o exame sob cicloplegia pode induzir mudança do eixo do astigmatis- mo. Quando, sob cicloplegia, são detecta- das alterações no eixo do astigmatismo em uso, ou na presença de astigmatismos al- tos, sobretudo quando os eixos não são si- métricos em ambos os olhos, deve-se rea- lizar novo exame pós-cicloplegia. Assim, é bom mencionar que, durante a ação do cicloplégico, a pupila dilata 6 a 9 mm, ex- pondo parte da periferia da córnea e do cristalino, que apresentam refração dife- rente da zona central.11,18 Refratometria manifesta ou dinâmica A refratometria dinâmica deve ser prece- dida pela retinoscopia. O paciente é po- sicionado a 6 m da tabela de optotipos. Para a realização do exame, utilizam-se os seguintes métodos: teste com as lentes e técnica de neblina (fogging). No teste com as lentes, cada olho é examinado separadamente. O objetivo é encontrar lentes que corrijam o erro re- frativo e possibilitem a melhor AV possí- vel. Se o paciente pode ler a linha 1,00 da tabela de optotipos, pode-se presumir ausência de miopia. Nesse caso, o pacien- te poderá apresentar emetropia, hiperme- tropia ou astigmatismo. Se lentes esféricas convexas são interpostas e, ainda assim, o paciente consegue ler a linha 1,00, esta será a medida de sua hipermetropia mani- festa. Se o paciente aceita lentes esféricas convexas, porém a AV não melhora para níveis satisfatórios, adicionam-se lentes ci- líndricas, que devem ser movidas em di- ferentes direções, até obter-se o eixo e o poder do cilindro para conseguir o melhor resultado visual. Se o paciente é míope, interpõem-se lentes esféricas côncavas, inicialmente de graus pequenos, que são substituídas por lentes mais potentes até a obtenção da melhor AV possível. Se, ain- da assim, não se lograr a obtenção de AV satisfatória, deve-se presumir presença de astigmatismo. Nessas condições, a coloca- ção de lentes cilíndricas e o ajuste do eixo melhoram a AV. A ceratometria, retinos- copia e o cilindro cruzado auxiliam na de- terminação do astigmatismo. A técnica de neblina ou fogging baseia- se no relaxamento da acomodação que se produz quando se hipercorrige a hiperme- tropia ou hipocorrige-se a miopia. Isto faz com que a linha focal posterior do conoi- de de Sturm se mova diante da retina. O olho, para conseguir uma visão mais clara, relaxa o músculo ciliar, para permitir que a linha posterior do conoide de Sturm se Tabela 3 Ações dos agentes com mais frequência usados para cicloplegia Cicloplégicos Concentração Período de indução Duração Acomodação residual Atropina 0,5-1% 2-3 dias 7-12 dias 1 D ou menos Tropicamida 1% 20-35 min 2- 6 h 1-2 D Homatropina 1-2% 3 h 36-48 h 1-2 D Ciclopentolato 1-2% 25-75 min 6-24 h 1-2 D Fonte: Miranda MN. Apuntes de Refracción. Universidade de Puerto Rico, Apostila, 1975:42.10 Refratometria Ocular - Cap-01.indd 17 06/03/2017 21:06:11 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica18 aproxime mais da retina. A eficácia desse método depende do grau de relaxamento do músculo ciliar conseguido. Os resultados obtidos são variados: em alguns jovens com grande amplitude de acomodação, consegue-se bom grau de relaxamento; em outros com menos aco- modação, consegue-se relaxamento insufi- ciente. Os resultados são melhores quando essa técnica é realizada binocularmente. O olho que não está sendo examinado deve ser mantido com a acomodação relaxada. Na prática, o erro refrativo foi previamen- te estimado pela retinoscopia. Soma-se ao valor estimado lente esférica de +2,50 D (no refrator ou na armação de provas) para ambos os olhos. Assim, a AV deve reduzir- se a menos de 0,10 (20/200). Pede-se ao paciente que fixe a letra maior da tabela de optotipos. Depois do período necessá- rio para obter o relaxamento da acomoda- ção (algumas vezes, até 10 min), reduz-se gradualmente o poder dióptrico da lente do olho que está sendo examinado, 0,25 D de cada vez. Quando o erro refrativo esti- ver hipercorrigido ao redor de +1,50 D, o paciente conseguirá ler 0,10 (20/200). Daí para frente, cada vez que se retira 0,25 D, a AV melhora uma linha da tabela de opto- tipos. Quando a AV alcançar 0,50 (20/40), testa-se a presença de astigmatismo, que será corrigido até conseguir-se a melhor AV. A esse olho, agora se adicionam +2,50 D e procede-se ao exame do olho contra- lateral. Teste do dial O teste é realizado monocularmente, com o outro olho ocluído ou miopizado. O olho examinado deve ter reduzida sua miopização para permitir AV entre 0,67 (20/30) e 0,50 (20/40) (Figura 10). Figura 10 Notar na ocular direita +2,00 D, porque, ao erro refrativo +1,25 D, está acres- centado +0,75 D para relaxar a acomodação e permitir AV entre 0,67 e 0,50. A ocular es- querda está ocluída. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 18 06/03/2017 21:06:11 Refratometria Ocular 19 Figura 11 Teste do dial. Para o paciente sem astigmatismo, to- das as linhas radiais têm a mesma nitidez. Na presença de astigma- tismo, as linhas radiais não são vistas igualmente nítidas. Figura 12 Figura de Lancaster e Rea- gan, que tem a forma de sol radiado, com raios negros de 5 mm sobre um fundo branco, separados de 10°. O paciente com astigmatismo não pode ver todas as linhas da carta astigmática com a mesma nitidez. As linhas que são vistas com a maior nitidez e a que é vista com a menor nitidez correspondem aos meridia- nos principais. O eixo do cilindro negativo corretor é colocado perpendicular à linha radial de maior nitidez (Figura 11). As cartas astigmáticas utilizadas com mais frequência são as de Snellen, o T de Taylor, o relógio de Wecker, as flechas de Raubitscheck, o V de Maddox e a figura de Lancaster modificada por Regan (Figura 12). Teste do cilindro cruzado O teste é realizado monocularmente sem necessidade de miopização do olho exa- minado. O cilindro cruzado de Jackson é constituído de dois cilindros de igual valor (± 0,25D ou ± 0,50 D), um positivo e outro negativo, com eixos perpendiculares e um cabo equidistante desses eixos (Figura 13). Refratometria Ocular - Cap-01.indd 19 06/03/2017 21:06:11 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica20 Anteposto ao olho do paciente, o ci- lindro cruzado induz a astigmatismo e po- demos, girando o cabo, inverter a posição dos cilindros positivo e negativo. O cilindro cruzado causa um movi- mento simultâneo das linhas focais, ante- rior e posterior, do conoide de Sturm em um grau igual e oposto, produzindo, co- mo consequência, um astigmatismo misto igual, porém de valor oposto nos meridia- nos principais. A técnica do cilindro cruza- do presume que a melhor visão se alcan- ça quando o círculo de menor confusão cai na retina e requer que este permaneça nela durante a prova. Para a determinação do eixo do cilin- dro, o paciente deve fixar duas ou três le- tras da menor linha de optotipos que con- segue ver. Coloque no refrator um cilindro corretor aproximado, ponha o cabo do cilindro cruzado paralelo com o eixo do cilindro do refrator. Nessa posição, os ei- xos dos cilindros cruzados ficam a 45° do cilindro corretor. Pergunte ao paciente se nota diferença quando move o cilindro de um lado para o outro; se não notar diferen- ça, o eixo encontra-se na posição exata, e, se notar diferença, o eixo do cilindro deve ser movido na direção do cilindro nega- tivo do cilindro cruzado (no refrator cor- responde ao ponto vermelho) (Figuras 14 e 15). Para a determinação do poder do as- tigmatismo, o cilindro cruzado deve ser rodado 45° no sentido horário do relógio, quando coincidem os eixos do cilindro negativo do cilindro cruzado e do cilindro do refrator (Figuras 16 e 17). O paciente deve fixar duas ou três le- tras da menor linha de optotipos que con- segue ver. Em seguida, deve-se girar o cabo do cilindro cruzado. Se o paciente referir melhor visão com o eixo do cilin- dro negativo do cilindro cruzado sobre o eixo do astigmatismo previamente deter- minado, adiciona-se 0,25 D de poder ao cilindro (no refrator, par de pontos verme- lhos). Enquanto o paciente referir melhor visão com o eixo do cilindro negativo do cilindro cruzado, adicionamos 0,25 D de poder ao cilindro. Caso refira melhor visão com o eixo do cilindro positivo do cilindro cruzado sobre o eixo do astigmatismo pre- viamente determinado, reduzimos 0,25 D de poder ao cilindro (par de pontos bran- cos). O valor do poder do cilindro estará determinado quando não houver diferen- ça de visão entre as duas posições do ci- lindro cruzado. Para a determinação do valor da adição de perto, o cilindro cruzado deve ser utili- zado com a tabela de leitura de perto de Jaques. Essa tabela consiste em três linhas paralelas verticais de 1 polegada de largura cruzadas no centro por três linhas horizon- tais. O teste pode ser feito monocular ou Figura 13 Cilindro cruzado de Jackson. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 20 06/03/2017 21:06:11 Refratometria Ocular 21 Figura 14 Determinação do eixo do cilindro refrativo. Note que os eixos do cilindro estão a 45° do cilindro corretor. Movimente o cilindro de uma posição para outra. Figura 15 Determinação do eixo do cilindro refrativo. Se o paciente notar diferença na visão quando movimenta o cilindro cruzado de um lado para outro, o eixo do cilindro deve ser deslocado na direção do cilindro negativo (no refrator, corresponde ao ponto vermelho). Refratometria Ocular - Cap-01.indd 21 06/03/2017 21:06:11 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica22 Figura 17 Determinação do poder do cilindro refracional. Note que o cilindro cruzado foi rodado 45° no sentido horário do relógio, para fazer coincidir os eixos do cilindro positivo do cilindro cruzado e do cilindro do refrator. Se o paciente referir melhor visão com o eixo do cilindro positivo do cilindro cruzado, reduzimos 0,25 D de poder ao cilindro (no refrator, corresponde ao par de pontos brancos). Figura 16 Determinação do poder do cilindro refrativo. Note que o cilindro cruzado foi ro- dado 45° no sentido horário do relógio, para coincidir os eixos do cilindro negativo do ci- lindro cruzado e do cilindro do refrator. Se o paciente referir melhor visão com o eixo do cilindro negativo do cilindro cruzado, adicionamos 0,25 D de poder ao cilindro (no refrator, corresponde ao par de pontos vermelhos). Refratometria Ocular - Cap-01.indd 22 06/03/2017 21:06:12 Refratometria Ocular 23 binocularmente. Com a correção do erro refrativo de longe no refrator, coloca-se o cilindro cruzado de ±0,50 D com o eixo negativo a 90°. A tabela de leitura deve ser colocada na distância apropriada. Para o paciente presbita, as linhas horizontais apa- recerão mais negras que as verticais. Adi- cionam-se lentes positivas de +0,25 D até que o paciente veja as linhas horizontais e as verticais igualmente negras (nítidas). Essa é a quantidade de adição necessária para perto. Se o paciente não for presbita, as linhas horizontais e verticais aparecerão igualmente nítidas (Figura 18). Teste do buraco estenopeico É um teste subjetivo muito útil para dife- renciar se a redução da AV dá-se por ra- zões ópticas ou não ópticas, visto que o buraco estenopeico reduz os círculos de difusão na retina (Figura 19). Se o paciente com baixa visão vê melhor através do bu- raco estenopeico, a indicação é de que a redução de sua visão é decorrente do erro refrativo ainda não adequadamente cor- rigido. Quando a redução da visão se dá por ambliopia ou opacidades do meio, ge- ralmente a AV não melhora, podendo in- clusive diminuir. Figura 18 Determinação da adição de perto com a utilização de cilindros cruzados negati- vos de ± 0,50 D com eixo a 90°. Colocadas a correção do erro refrativo e a adição de perto, o paciente presbita vê as linhas horizontais e verticais da tabela de Jaques igualmente nítidas. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 23 06/03/2017 21:06:12 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica24 Teste bicromático (vermelho/verde) Trata-se de método rápido para refinar a refratometria subjetiva, a fim de evitar su- per ou subcorreções. É um teste subjetivo baseado no princípio da aberração cromá- tica; ou seja, a luz branca, ao atravessar uma lente, tem seu foco dividido em vá- rios planos, um para cada comprimento de onda que a compõe, de tal modo que o foco da cor verde situa-se mais próximo do cristalino, e o da cor vermelha, mais afastado. Quando se utiliza o filtro ver- melho/verde do projetor de optotipos, ob- serva-se que o hipermetrope tem melhor visão no fundo verde e o míope no verme- lho (Figura 20). Quando, no final do teste, o míope referir melhor visão no verde (o T E P L H V T E P L H V T E P L H V T E P L H V T E P L H V T E P L H V A B C Figura 19 Teste do buraco estenopeico. Note o buraco estenopeico na ocular direita. A ocu- lar esquerda está ocluída. Figura 20 Resultados do teste bicromático para o olho emetrope (A), míope (B) e hi- permetrope (C). hipermetrope no vermelho), isto indica su- percorreção. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 24 06/03/2017 21:06:12 Refratometria Ocular 25 Teste do balanceamento refratométrico binocular Todas as medidas de alinhamento e aco- modação requerem o refinamento do exame refratométrico com o teste do ba- lanceamento binocular.19 Para realizá-lo, inicialmente mantemos a ocular direita do refrator aberta e ocluímos a esquerda. Em seguida, adicionamos lentes positivas, +0,25 D de cada vez, até que, com o OD, o paciente identifique com dificuldade letras da linha de optotipos 0,67 (20/30). Repetimos o mesmo procedimento para o OE, com o OD ocluído. Nesse ponto, po- sicionamos os prismas rotatórios de Risley, sendo 3 ∆ BS na ocular direita e 3 ∆ BI na ocular esquerda (Figura 21) e acrescenta- mos +0,75 D para cada olho (AO), para relaxar a acomodação. Realizamos, então, o balanço dissociado, acrescentando lente positiva ao olho queenxergar mais claro, até que AO estejam igualmente borrados. Então, removemos os prismas de Risley e adicionamos lentes negativas (–0,25 D de cada vez em AO), até que o paciente con- siga ler 1,33 (20/15) ou 1,00 (20/20). TESTES DE AVALIAÇÃO DE ACOMODAÇÃO E DE VISÃO BINOCULAR EM PACIENTES NÃO ESTRÁBICOS A avaliação da visão binocular envolve medidas de foria, da relação AC/A, das amplitudes de vergências e da estereopsia. Testes de cobertura e prisma-cobertura (na ausência de estrabismo) Os testes de cobertura e prisma-cobertu- ra são métodos objetivos de avaliar a pre- sença, direção e magnitude das forias. Figura 21 Balanceamento refratométrico binocular. Note a colocação dos dois prismas rota- tórios de Risley girados em direção oposta, sendo 3 ∆ BS na ocular direita e 3 ∆ BI na ocular esquerda. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 25 06/03/2017 21:06:12 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica26 Durante a execução dos procedimentos, devemos controlar a acomodação. Com subacomodação ocorre superestimação da exoforia ou hipoestimação da esofo- ria; com hiperacomodação, obtêm-se re- sultados opostos.11,14,19 Para a realização dos testes, necessitamos da projeção de uma letra isolada da tabela de optotipos de longe, equivalente a 0,67, ou de duas linhas acima da AVcc, de uma figura de acomodação posicionada a 40 cm da face do paciente, um oclusor e uma caixa ou régua de prismas. Instruímos o paciente para fixar um optotipo 0,67 da tabela de AV de longe. Em seguida, ocluímos OD e observamos o OE, enquanto o OD é coberto. Depois, ocluímos o OE e observamos o OD en- quanto o OE é coberto. Permitimos ao paciente um tempo adequado para po- der refixar o optotipo da tabela de AV de longe. Para iniciarmos a medida da foria, se- lecionamos prismas de poder baixo. En- tão, cobrimos um olho com o oclusor, po- sicionamos o prisma por detrás do oclusor (o olho descoberto é o olho fixador), alter- namos o oclusor de um olho para outro e observamos apenas o movimento do olho por detrás do prisma. Interpomos pris- mas de diferentes poderes até obtermos a neutralidade do movimento. Anotamos a magnitude do poder e a base do prisma. Repetimos, agora, o procedimento para perto, utilizando a figura de acomodação colocada a 40 cm. Os valores esperados de foria de longe são 1 ∆ exoforia com desvio-padrão de ± 2 ∆; e de perto, 3 ∆ exoforia com desvio- padrão de ± 3 ∆ (Tabela 4).19 Tabela 4 Resultados esperados de alguns dos testes de visão binocular Testes Valores esperados Desvio-padrão Amplitude/acomodação 18,50 – 0,30 × idade (anos) ± 2 ∆ PPC 15 cm ± 3 cm Cobertura/prisma foria horizontal – distância 1 exoforia ± 2 ∆ – perto 3 exoforia ± 3 ∆ Relação AC/A 4:1 ± 2 Vergência horizontal Distância/prisma BN 6 – 8 ± 3 ∆ Perto/prisma BN 12 – 15 ± 4 ∆ Distância/prisma BT 15 – 20 ± 8 ∆ Perto/prisma BT 25 – 30 ± 6 ∆ Fonte: Scheiman M, Wick B. Clinical Management of Binocular vision. heterophoric, Accomodative, and Eye Moviment Disorders. 2nd ed. Philadelphia: Lippincott Willians & Wilkins, 2002; 3-118.19 Refratometria Ocular - Cap-01.indd 26 06/03/2017 21:06:12 Refratometria Ocular 27 Medida de foria horizontal Em sala moderadamente iluminada, colo- camos o valor do erro refrativo no refrator e mostramos ao paciente uma coluna hori- zontal de optotipos 0,67 (20/30) da tabela de AV de longe. Em seguida, colocamos o prisma de 6 ∆ BS presente no dial da ocu- lar direita e o prisma rotatório de Risley na ocular esquerda (inicialmente ajustado no zero) (Figura 22). Assim, haverá disso- ciação das imagens, e a coluna horizontal de optotipos será observada inferiormente pelo OD e superiormente pelo OE. Se houver deslocamento das colunas de optotipos, movemos o prisma rotatório de Risley até o paciente informar o alinha- mento das imagens. Se, no ponto do ali- nhamento das imagens, o prisma rotatório do OE estiver ajustado com BN, registra- mos o resultado como exoforia; se com Figura 22 Medida de foria horizontal. Note o prisma de 6 ∆ BS no dial da ocular direita e o prisma rotatório de Risley na ocular esquerda. Havendo deslocamento, mova o prisma rota- tório de Risley (ocular esquerda) até o paciente informar o alinhamento das imagens. BT, como esoforia. Por exemplo, registro de 3 ∆ BT (3 ∆ esoforia) e sem desvio-zero (ortoforia). Valores de longe esperados da medida de foria horizontal: 1 ∆ exoforia com desvio-padrão de ±2 ∆ (Tabela 4).19 Devemos agora repetir o procedimento para perto: colocamos o cartão de leitura a 40 cm e mostramos ao paciente uma letra isolada ou uma coluna horizontal de letras equivalentes a 20/30. Valores esperados: 3 ∆ exoforia com desvio-padrão de ± 3 ∆ (Tabela 4).19 Medida de foria vertical Em sala moderadamente iluminada, colo- camos o valor do erro refrativo no refrator e mostramos ao paciente um único opto- tipo correspondente a 0,67 (20/30) da ta- bela de AV de longe. Em seguida, instruí- Refratometria Ocular - Cap-01.indd 27 06/03/2017 21:06:12 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica28 mos o paciente para abrir AO. Colocamos o prisma de 10 ∆ BI presente no dial es- querdo e o prisma rotatório de Risley na ocular direita (inicialmente, ajustado no zero) (Figura 23). Haverá dissociação das imagens. Se o optotipo direito ficar inferior ao esquerdo, haverá hiperforia direita; se o esquerdo situar-se inferior ao direito, ha- verá hiperforia esquerda. Havendo deslo- camento, movemos o prisma rotatório de Risley (OD) até o paciente informar o ali- nhamento das imagens e, então, anotamos a magnitude e a direção do prisma. Medida de foria horizontal com a vareta de Maddox Em sala moderadamente iluminada, colo- camos o valor do erro refrativo no refrator, e mostramos ao paciente um foco redondo de luz projetado na tela da tabela de AV de longe. Em seguida, colocamos a vare- ta de Maddox com orientação horizontal (vai criar uma linha vertical) na ocular es- querda, para provocar dissociação. Colo- camos, então, o prisma rotatório de Risley na ocular direita, na posição para introdu- zir prisma de base horizontal (Figura 24). Informamos ao paciente que duas ima- gens deverão ser observadas: uma corres- pondente ao foco de luz e a outra, à linha vertical. Enquanto movemos o prisma rota- tório, solicitamos ao paciente olhar o foco de luz e observar que ele estará se des- locando em direção à linha, até alinhar- se a ela. O olho que observa a luz torna- se o fixador, enquanto o que está atrás da vareta de Maddox desvia-se. Se o pacien- te informar a linha à direita da luz, trata- se de esoforia; se houver cruzamento de imagem, exoforia. Se, no ponto de alinha- Figura 23 Medida de foria vertical. Note a colocação do prisma de 10 ∆ BI no dial esquerdo e a colocação do prisma rotatório de Risley na ocular direita para medida da foria. Mova o prisma rotatório de Risley (OD) até o paciente informar o alinhamento das imagens. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 28 06/03/2017 21:06:12 Refratometria Ocular 29 Figura 24 Medida de foria horizontal. Note a vareta de Maddox com as estrias horizontais colocadas na ocular esquerda e o prisma rotatório de Risley colocado na ocular direita, na posição para introduzir o prisma de base horizontal. mento das imagens, o prisma rotatório do OE estiver ajustado no zero, registramos o resultado como ortoforia. Valores de lon- ge esperados: ortoforia para 2 ∆ exoforia.20 Devemos, agora, repetir o procedimento para perto. Para tanto, empregamos uma lanterna colocada a 40 cm. Os valores es- perados são os mesmos do teste de longe.20 Medida de foria vertical com a vareta de Maddox Em sala moderadamente iluminada, colo- camos o valor do erro refrativo no refra- tor e mostramos ao paciente um foco de luz redondo projetado na tela da tabela de optotipos de longe.20 Colocamos, então, a vareta de Maddox com orientação vertical (vai criar uma linha horizontal) na ocular direita, para provocar dissociação.Posi- cionamos o prisma rotatório de Risley na ocular esquerda, para introduzir o prisma de base vertical (Figura 25). Informamos ao paciente que duas imagens serão vistas: uma correspondente ao foco de luz e a ou- tra, à linha horizontal. Enquanto movemos o prisma rotatório, solicitamos ao paciente olhar o foco de luz e observar que ele es- tará se movendo em direção à linha, até alinhar-se a ela. O olho que observa a luz torna-se fixador, enquanto o que está por detrás da vareta desvia-se. A linha no sentido horizontal mede a foria vertical; se passar abaixo da luz, teremos hiperfo- ria direita, se acima, hiperforia esquerda e ortoforia passando através da luz. Va- lores esperados: ortoforia com desvio-pa- drão de ± 0,25 ∆. Devemos, agora, repe- tir o procedimento para perto. Para tanto, empregamos uma lanterna colocada a 40 cm. Os valores esperados são os mesmos do teste de longe. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 29 06/03/2017 21:06:12 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica30 Medida de cicloforia com as varetas de Maddox Em sala moderadamente iluminada, colo- camos o valor do erro refrativo no refrator e mostramos ao paciente um foco de luz redondo, projetado na tela da tabela de AV de longe. Em seguida, colocamos os pris- mas rotatórios de Risley em AO e introdu- zimos 3 ∆ BI no OD e 3 ∆ BS no OE, pa- ra quebrar a fusão e dissociar as imagens. Colocamos as varetas de Maddox com orientação vertical em AO. O paciente ve- rá duas linhas horizontais, sendo a supe- rior no OD e a inferior no OE. Informamos ao paciente que duas imagens serão vis- tas. Perguntamos se as linhas estão parale- las ou inclinadas. Se o paciente responder que uma está inclinada em relação à ou- tra, existe cicloforia (Figura 26). Enquanto movemos a direção da vareta de Maddox, solicitamos ao paciente olhar as duas li- nhas até que elas se tornem paralelas. No refrator Bausch & Lomb, a movimentação da vareta de Maddox na direção do sinal positivo significa excicloforia e, do negati- vo, incicloforia. Valor esperado: ortoforia. Determinação da amplitude de acomodação (AA) O objetivo é determinar o máximo de acomodação que os olhos são capazes de realizar. Para tanto, posicionamos o refrator com a correção do erro refrati- vo, distância interpupilar (DIP) de perto, colocamos o cartão de leitura a 40 cm e ocluímos o OE. Pedimos, então, ao pa- ciente ler com o OD a segunda linha do cartão de leitura (J 2). Se o paciente for Figura 25 Medida de foria vertical. Note a vareta de Maddox com as estrias verticais coloca- das na ocular direita (vai criar uma linha horizontal) e o prisma rotatório de Risley na ocular esquerda, na posição para introduzir prisma de base vertical. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 30 06/03/2017 21:06:13 Refratometria Ocular 31 presbita, adicionamos +2,50 D à corre- ção de longe. Aproximamos do OD o cartão de leitura até o paciente referir borramento da segunda linha de leitura. Registramos essa distância. Depois, ocluí- mos o OD e repetimos o mesmo procedi- mento para o OE. Registramos a distância em que ocorreu o borramento visual. Re- petimos, ainda, o mesmo procedimento com AO. Registramos a distância em que ocorreu o borramento. Caso o paciente corrigido para longe consiga ler até 10 cm, a amplitude de aco- modação (AA) será 10 D. Caso seja presbi- ta e tenha sido colocada lente de +2,50 D, e o paciente leu até 20 cm, a AA será +5,00 –2,50 = +2,50 D. A média de AA espera- da é 18,50 – 0,30 × idade em anos.7 Por exemplo, para um paciente de 20 anos, a AA média esperada é 18,50 – 6,00 = 12,50 D. Medida do ponto próximo de convergência Para a realização do teste, necessitamos de uma figura de acomodação, de lanter- na pequena ou de óculos com lentes ver- de-vermelho. Caso o paciente use óculos de perto, solicitamos colocá-los. Coloca- mos a figura de acomodação a 40 cm da face do paciente, ao nível de seus olhos. Solicitamos que olhe uma letra isolada na figura de acomodação, por exemplo, de 20/50. Movemos lentamente a figu- ra de acomodação na direção dos olhos, mantendo-a entre os olhos. Solicitamos ao paciente que se esforce ao máximo para manter única a imagem da letra- alvo. Instruímos o paciente para infor- mar quando passa a ver duas letras-alvo. Anotamos a distância em que o paciente refere a diplopia. Quando suspeitamos que, com dissociação, podemos reve- lar um ponto próximo de convergência mais afastado, repetimos o teste, usan- do a lanterna ou os óculos com as lentes verde-vermelho. Deve-se repetir o teste 4–5 vezes. Os pacientes assintomáticos apresentam pouca alteração na sua re- petição, enquanto os sintomáticos têm convergência significativamente menor com a repetição do teste.21 Valor espe- rado: 15 cm (devio-padrão ±3 cm) (Ta- bela 4).19 A B Sem cicloforia Com cicloforia � + –45 30 15 0 15 30 45 +–45 30 15 0 15 30 45 � Figura 26 Medida de cicloforia com as varetas de Maddox e pris- mas para quebrar a fusão e disso- ciar as imagens. (A) sem cicloforia e (B) com cicloforia. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 31 06/03/2017 21:06:13 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica32 Medida da relação AC/A O teste tem por objetivo determinar a alte- ração da convergência que ocorre quando o paciente exerce ou relaxa a acomoda- ção. A relação AC/A pode ser calculada pe- los seguintes métodos: ■ Método do Gradiente 1. Medida de longe usando lentes nega- tivas. O teste prisma-cobertura (TPC) é realizado para longe, com e sem lentes negativas (comumente –3,00 D). 2. Medida de perto, usando lentes positi- vas. O teste prisma-cobertura (TPC) é realizado para perto com e sem lentes positivas (comumente +3,00 D). Relação AC/A = TPC exercendo aco- modação – TPC sem acomodação/magni- tude da acomodação exercida. ■ Método da Heteroforia O TPC é realizado para longe e para perto, e a distância interpupilar (DIP) é medida. O sinal positivo é usado para eso- foria e o negativo para exoforia. Relação AC/A = DIP + (TPC de perto – TPC de longe/magnitude da acomodação exercida). A foria de perto poderá variar de acor- do com o valor da relação AC/A: se for alta, haverá mais eso e menos exo, e, se baixa, menos eso e mais exo. Os valores espera- dos da relação AC/A diferem, segundo os dois métodos: no método da heteroforia, varia de 6-9 D prismáticas por dioptria de acomodação, e de 3-5 D prismáticas no método do gradiente.22 Pode haver dife- renças entre os dois métodos de medida. Os valores esperados da relação AC/A me- dida pelo método do gradiente é 4/1, com desvio-padrão de ±2 (Tabela 4).19 Medida das amplitudes de divergência e convergência com os prismas rotatórios de Risley Em sala moderadamente iluminada, colo- camos o valor do erro refrativo no refra- tor e mostramos ao paciente uma coluna vertical de optotipos 0,67, ou duas linhas acima da melhor AVcc. Em seguida, posi- cionamos os prismas rotatórios de Risley (AO) na posição vertical. Movimentamos ambos os prismas para oferecerem valores prismáticos crescentes e iguais de BN (Fi- gura 27) e de BT (Figura 28) para AO até o paciente não ser capaz de manter visão binocular única. Depois, repetimos o mes- mo procedimento para perto, mostrando uma linha de letras pequenas no cartão de leitura (40 cm). Os valores esperados pa- ra amplitude de divergência são 7 ∆ ± 3 ∆ BN (longe) e 21 ∆ ± 4 ∆ BN (perto), e para amplitude de convergência, 19 ∆ ± 8 ∆ BT (longe) e 21 ∆ ± 6 ∆ BT (perto).19 Medida das amplitudes de divergência e convergência com régua de prismas Em sala moderadamente iluminada, mostramos ao paciente com a correção (óculos ou armação de provas) uma li- nha vertical de optotipos corresponden- tes a 0,67 (20/30) (ou AV 2 linhas acima da melhor AVcc). Em seguida, posicio- namos a régua de prismas diante de um dos olhos (Figura 29), e iniciamos ofe- recendo valores prismáticos crescentes e iguais de BN e, depois, de BT até a quebra da fusão. Registramosesse va- Refratometria Ocular - Cap-01.indd 32 06/03/2017 21:06:13 Refratometria Ocular 33 Figura 27 Medida da amplitude de divergência. Note os prismas rotatórios de Risley coloca- dos na posição vertical e movimentados para criar prisma de BN em AO. Figura 28 Medida da amplitude de convergência. Note os prismas rotatórios de Risley colo- cados na posição vertical e movimentados para criar prisma de BT em AO. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 33 06/03/2017 21:06:13 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica34 lor. Depois, repetimos o teste para per- to, usando o cartão de leitura (40 cm) e mostramos ao paciente uma coluna ho- rizontal de letras pequenas. Os valores esperados para amplitude de divergên- cia são 6–8 ∆ (longe) e 12–15 ∆ (perto), e, para amplitude de convergência, 15 a 20 ∆ (longe) e 25 a 30 ∆ (perto). 22 Medida de estereopsia com o Stereo Fly Test O teste deve ser realizado a 40 cm com excelente iluminação e com o paciente usando sua correção e óculos com lentes polarizadas. Inicialmente, pedimos ao pa- ciente que pegue na asa da mosca (3.000 s de arco de disparidade horizontal). Se o paciente for criança, seguimos com as fi- leiras de animais. Instruímos a criança pa- ra apontar em cada fileira o animal que parece estar mais à frente dos outros. As fileiras A, B e C têm, respectivamente, 400, 200 e 100 s de arco de disparidade horizontal. Para os pacientes adultos, se- guimos com os conjuntos de quatro círcu- los numerados de 1 a 9, e solicitamos que apontem em cada conjunto qual o círculo que aparenta estar mais à frente dos ou- tros. Apresentam de 800 a 40 s de dispari- dade horizontal (Figura 30). Figura 30 O Stereo Fly Test distri- buído pela Stereo Optical Com- pany. Figura 29 Barra de prismas posicionada para a medida de vergências horizontais. Refratometria Ocular - Cap-01.indd 34 06/03/2017 21:06:13 Refratometria Ocular 35 Resultados esperados dos testes de acomodação e visão binocular Nos dados da Tabela 4, estão os resultados esperados de alguns dos testes de acomo- dação e visão binocular. CORREÇÃO ÓPTICA DOS ERROS REFRATIVOS Na maioria dos casos, o diagnóstico do er- ro refrativo é relativamente fácil. A corre- lação entre os sinais e os sintomas clínicos do paciente (AV e refração) é muito alta. Contudo, a presença do erro de refração sozinho nem sempre justifica a sua corre- ção com óculos ou lentes de contato. As necessidades de cada paciente devem ser avaliadas individualmente e a decisão da prescrição baseia-se em, pelo menos, um dos quatro pontos a seguir:23 ■ Diminuição da acuidade visual: a me- lhor maneira para definir se as lentes propostas melhoram significativamen- te a visão é perguntar ao paciente. Co- loca-se a correção óptica em armação de prova e pede-se que o paciente ava- lie se a melhora da acuidade visual jus- tifica o uso de óculos. ■ Astenopia: a caracterização da asteno- pia é fundamental; não se deve rotular como astenopia todo desconforto cra- niano ou ocular associado aos traba- lhos de perto. O ardor ocular ou a sen- sação de olho seco são com frequência associados aos trabalhos de perto, sem contudo serem consequência de esfor- ço acomodativo. Algumas cefaleias as- sociadas ao esforço de leitura não se relacionam a esforço acomodativo ou insuficiência de convergência, pois a tensão da musculatura cervical causa cefaleia tensional. A cefaleia tensional postural poderá piorar com o esforço causado pela tentativa de leitura quan- do há diminuição da acuidade visual (p. ex., astigmatismo miópico). ■ Ambliopia: a idade ambliopiogênica é a única situação na qual o uso de len- tes corretoras não é opção pessoal do paciente, pois a falta do uso de lentes corretoras acarretará sequelas. A pres- crição baseada unicamente na preven- ção ou tratamento da ambliopia deve ser abandonada após a idade amblio- gênica, deixando, mais uma vez, a cri- tério do paciente a opção ou não do uso de lentes corretoras. ■ Alterações da visão binocular: em algu- mas situações, a prescrição será indica- da mesmo na ausência da diminuição da AV, astenopia e risco de ambliopia, como no tratamento de alguns desvios oculares, tais como nos esodesvios par- cial ou totalmente acomodativos e nos exodesvios intermitentes que apresen- tam diminuição unilateral da AV. Após o período de maior risco de ambliopia, a prescrição baseia-se nos critérios an- teriores descritos. SUMÁRIO A realização de exame refratométrico cui- dadoso, incluindo refratometria binocular, medidas da amplitude de acomodação, de forias (longe e perto), das vergências hori- zontais (amplitudes de convergência e di- vergência), da vergência vertical e de estere- opsia, são importantes para a determinação do erro refrativo e de eventuais problemas Refratometria Ocular - Cap-01.indd 35 06/03/2017 21:06:13 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica36 visuais binoculares presentes e/ou desenca- deados pela prescrição oftálmica.19,24 REFERÊNCIAS 1. Bicas HE. Cicloplegia. In: Bicas HE, Alves AA, Uras R (eds). Refratometria Ocular. São Paulo: CBO. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2005; 193-7. 2. Rubin ML, Hope M. Optics and Refraction. Rev Ophthalmol, 1996; 103:S102-S108. 3. Brookman KE. Clinical Analysis and Management of Ametropia. In: Brookman KE (ed). Refractive Management of Ametropia. Boston: Butterworth- Heinemann, 1996:1-11. 4. Rivera A, Zingirian M. 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O esforço acomodativo pode causar desconforto, particularmente nas atividades de perto. A hipermetropia mo- derada/alta reduz mais a AV de perto do que a de longe e, na criança, pode levar à ambliopia unilateral ou bilateral quando não corrigida. A hipermetropia é frequen- temente associada à esoforia, esotropia e ambliopia, que podem ser eliminadas ou minimizadas com a correção do erro re- frativo.1 CLASSIFICAÇÕES Classificação pelos aspectos anatômicos Borish2 classificou a hipermetropia em axial (quando o comprimento axial é muito curto para o poder refrativo total do olho em repouso acomodativo) e re- frativa (quando o poder refrativo total do olho em repouso acomodativo é insufi- ciente para seu comprimento axial). O autor ainda dividiu a hipermetropia refra- tiva em hipermetropia de índice (quando um ou mais índices de refração dos meios ópticos oculares são anômalos); de cur- vatura (quando o aumento dos raios de curvatura de uma ou mais superfícies re- frativas produz diminuição do poder re- frativo total ocular); e de câmara anterior (quando a diminuição da profundidade da câmara anterior diminui o poder refra- tivo total ocular). Refratometria Ocular - Cap-02.indd 37 06/03/2017 21:17:54 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica38 Outros fatores anatômicos que pro- duzem hipermetropia incluem a ausên- cia do cristalino (afacia) e seu desloca- mento. Classificação pelos valores de hipermetropia A hipermetropia pode ser classificada co- mo baixa (até +3,00 D), moderada (+3,01 a +5,00 D) e alta (>+5,01 D).3 Classificação em hipermetropia fisiológica e patológica A hipermetropia fisiológica corresponde ao erro refrativo que se encontra dentro dos limites da variação biológica normal, enquanto a hipermetropia patológica en- contra-se fora desses limites. A redução do comprimento axial pode ocorrer como resultado da presença de le- são tumoral intraocular ou de aplanamen- to anormal da córnea (córnea plana).3 Classificação pela ação da acomodação A hipermetropia total pode ser classificada pela ação da acomodação em:3 ■ Hipermetropia total – corresponde ao total da hipermetropia revelada pelo exame refratométrico sob cicloplegia; divide-se em hipermetropia latente e manifesta. ■ Hipermetropia latente – corresponde à parte da hipermetropia total compen- sada pelo tônus do músculo ciliar. ■ Hipermetropia manifesta – divide-se em hipermetropia facultativa e abso- luta. ● Hipermetropia facultativa – corres- ponde à parte da hipermetropia ma- nifesta que pode ser compensada pela acomodação. ● Hipermetropia absoluta – corres- ponde à parte da hipermetropia ma- nifesta que não pode ser compensa- da pela acomodação. Vamos exemplificar com um pacien- te de 35 anos de idade que apresenta AVsc 0,50. Se montarmos em armação de provas correções do erro refrativo, co- meçando com lente positiva de +0,25 D e depois formos aumentando a correção gradualmente, com a adição a cada vez de +0,25 D, verificamos que, com +1,00 D, o paciente enxerga 1,00 (20/20) (+1,00 D corresponde à hipermetropia absolu- ta). Continuando a adicionar lentes de +0,25 D, e com o total de +2,25 D, ele ainda tem AV 1,00 (a hipermetropia manifesta é +2,25 D. Desse total, +1,00 D corresponde à absoluta e +1,25 D à facultativa). Sob ci- cloplegia, a hipermetropia total é +3,50 D (AV 1,00) (hipermetropia total). Nesse exemplo, a hipermetropia latente corres- ponde a +1,25 D (hipermetropia total – hi- permetropia manifesta). ALTERAÇÕES REFRATIVAS COM A IDADE Programas com caráter preventivo, como os testes de triagem ocular na infância, pre- conizados pelo Conselho Brasileiro de Of- talmologia (CBO), Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), American Academy of Pe- diatrics (AAP) e Royal College of Pediatrics and Child Health (RCPCH), são fundamen- Refratometria Ocular - Cap-02.indd 38 06/03/2017 21:17:54 Hipermetropia 39 tais para identificar alterações oculares ou a probabilidade de desenvolvimento vi- sual anormal.4-7 Nos dados do Quadro 1 são apresentados idade das crianças, exa- mes propostos na triagem oftálmica e cri- térios de referência ao oftalmologista. Cerca de 90% dos olhos dos recém-nas- cidos têm menos de +5,00 D. O limite supe- rior de normalidade para a criança pré-ver- bal é menos que +3,50 D. A hipermetropia praticamente não varia até os 3,5 e, aos 6 anos de idade, está ao redor de +1,75 D. A partir daí, ocorre redução gradual da hiper- metropia de 0,12 D por ano de vida.9 A hipermetropia altera-se pouco no decorrer da vida e não está associada a alterações patológicas que são encontra- das na miopia. Tipicamente, a maioria das crianças tem hipermetropia aos 5 anos de idade. O aumento observado em adoles- centes e adultos geralmente não represen- ta aumento real da hipermetropia, mas um incremento na magnitude da hipermetro- pia manifesta, em virtude da diminuição da amplitude de acomodação que ocorre com o aumento da idade. FUNDAMENTOS DA CORREÇÃO ÓPTICA Como regra geral, aceita-se que não se de- ve prescrever correção óptica se o erro re- frativo for pequeno, AV normal, se o pa- ciente tiver boa saúde, não se queixar de astenopia acomodativa e nem manifestar alterações do balanço muscular. A corre- ção deve ser prescrita no caso de uma des- sas condições não ser respeitada.10 Em criança com idade inferior a 6 ou 7 anos, algum grau de hipermetropia é fisio- Quadro 1 Idade das crianças, exames propostos na triagem oftálmica e critérios de referência ao oftalmologista Idade da criança Exames propostos Critérios de referência Recém-nascidos 1. Inspeção externa 2. Reflexo vermelho 1. Nistagmo, malformações, ptose, fotofobia, lacrimejamento 2. Ausência de reflexo vermelho, leucocoria Lactantes 1. Alinhamento ocular 2. Avaliar comportamento visual 1. Desvio fixo em qualquer idade, qualquer desvio a partir dos 6 meses 2. Qualquer alteração no comportamento visual Entre 3 e 4 anos de idade 1. Teste de visão estereoscópica 2. Medida da acuidade visual 3. Teste Hirschberg 4. Teste de cobertura 1. Se não apresentar visão estereoscópica 2. Medida monocular AV menor que 0,5 3. Qualquer desvio 4. Estrabismo latente ou fixo Maiores de 4 anos de idade 1. Medida da acuidade visual 2. Visão de cores 1. Acuidade monocular < 0,6 diferença de duas linhas de AV, entre os dois olhos Idade escolar 1. Medida da acuidade visual 1. Medida menor que 1,0 diferença de duas linhas de AV, entre os dois olhos Fonte: Modificado e adaptado das recomendações da PREVINFAD/PAPPS.8Refratometria Ocular - Cap-02.indd 39 06/03/2017 21:17:54 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica40 lógico, e a correção deve ser dada apenas se houver alteração da motilidade ocu- lar extrínseca. Um pequeno erro refrativo pode requerer correção na criança sinto- mática, com idade entre 8 e 16 anos, que usa excessivamente a visão de perto (leitu- ra, escrita, computador, videogame etc.). Se o erro refrativo for mais que +3,00 D, é provável que o uso das lentes corretoras deva ser constante; se abaixo de +3,00 D, apenas para atividades visuais de perto. Na pessoa com mais idade, o uso dos óculos depende da AVsc e de sintomas. O adulto jovem com menos de +3,00 D, AV normal e sem sintomas raramente neces- sita de correção. A pessoa com +3,00 D pode estar confortável sem correção aos 25 anos de idade, mas, aos 35 anos, pela diminuição da amplitude de acomodação, pode requerer correção de perto. Algu- mas vezes, prescreve-se para perto a cor- reção total encontrada sob cicloplegia e, para longe, o total da hipermetropia mani- festa. Mais tarde na vida, com a diminui- ção ainda mais acentuada da amplitude de acomodação, parte substancial da hi- permetropia torna-se absoluta e, então, os óculos passam a ser necessários também para longe.10-12 O exame refratométrico deve ser reali- zado sob cicloplegia. Augsburger13 ressal- ta sua importância para o diagnóstico de pseudomiopia por espasmo acomodativo. No entanto, a maioria das pessoas com hipermetropia não necessita correção ou beneficia-se de correção parcial. Se o hi- permetrope tem AVsc adequada para as necessidades de longe e de perto, sem sin- tomas de astenopia ou alterações funcio- nais quando acomoda para compensar a hipermetropia manifesta, então não preci- sa de prescrição óptica.10-12 Acomodação e vergência O desconforto experimentado pelas pes- soas com hipermetropia não corrigida, com frequência, é provocado pelo esfor- ço acomodativo necessário para neutra- lizar o erro hipermetrópico. Isto pode ser ocasionado pelo esforço para manter a bi- nocularidade. Muitas pessoas com hiper- metropia não corrigida têm esoforia, tanto para longe quanto para perto, e precisam usar a amplitude de vergência fusional pa- ra manter a visão binocular. A correção da hipermetropia diminui a esoforia e a de- manda de vergência fusional e, frequente- mente, alivia os sintomas do paciente. A conduta nas forias associadas com relação AC/A alta/baixa é determinada so- bretudo pela magnitude da relação AC/A. Entre os pacientes com relação AC/A alta, é importante diferenciar os excessos de convergência daqueles com excesso de divergência. No excesso de convergência, identifica-se esoforia de perto, ortoforia ou esoforia baixa/moderada de longe e rela- ção AC/A alta. No excesso de divergência, encontra-se mais exoforia de longe do que de perto. Outra característica básica inclui a tendência de o desvio ser intermitente e variar com a atenção. O prognóstico do tratamento do excesso de convergência é excelente. A maioria dos casos responde à adição de lente positiva, e não ao uso de prismas. A mensuração da foria é essen- cial na determinação do valor da adição de perto.14,15 Esotropia com hipermetropia subcorrigida pode se tornar exotropia com hipermetropia supercorrigida.16 Refratometria Ocular - Cap-02.indd 40 06/03/2017 21:17:55 Hipermetropia 41 Essa situação pode ser evitada medin- do-se a foria com o emprego de lentes po- sitivas de diferentes dioptrias, e apenas prescrevendo-se as lentes que mais redu- zem a esoforia. Em contraposição ao êxito da adição de lentes positivas no tratamen- to do excesso de convergência, a maioria dos casos de excesso de divergência res- ponde bem à terapia visual.14,15 A diferença que distingue a relação AC/A baixa da alta é sua relativa inefi- ciência em responder às lentes positivas na modificação da magnitude das forias. Entre os pacientes com relação AC/A baixa, de- vemos diferenciar aqueles com insuficiên- cia de convergência daqueles com insu- ficiência de divergência. Na insuficiên- cia de convergência, pode-se encontrar exo- foria de perto, ortoforia ou baixa exoforia de longe, PPC alterado e relação AC/A baixa. A maioria dos sintomas ocorre com a leitura ou no trabalho de perto. A correção da hipermetropia cria dificuldades na con- duta desses casos, uma vez que aumenta a magnitude de exoforia e, consequente- mente, a demanda de vergência fusional, que, por sua vez, exacerba os sintomas do paciente. Se a hipermetropia significativa estiver presente, deve-se fazer prescrição parcial para aliviar os sintomas astenopei- cos de perto e indicar terapia visual.14,15 A insuficiência de divergência mani- festa-se com esoforia de longe, de 2 a 8 ∆, pequena esoforia de perto, versões nor- mais e reduzida divergência de longe. O sintoma mais comum é a diplopia de lon- ge, que aparece com cansaço e desapa- rece com o repouso. Deve ser feito diag- nóstico diferencial com outras condições, como o excesso de convergência e esofo- ria básica, paralisia do VI nervo e parali- sia de divergência. Nesses casos, deve-se prescrever o maior valor da hipermetro- pia que diminua ao máximo possível a esoforia. Na maioria dos casos, a indicação de prismas horizontais de BT representa o primeiro e mais eficaz tratamento da insufi- ciência de divergência. Pelo fato de a insufi- ciência de divergência produzir sintomas de longe, a correção óptica deve ser para longe e seu uso deve ser constante. Se o paciente não tolerar a correção prismática de BT para perto, indica-se terapia visual. Quando prescrever A decisão sobre quando prescrever a hi- permetropia é baseada na AVsc e nos si- nais e sintomas do paciente. A correção óptica faz parte do tratamento e preven- ção da ambliopia e do estrabismo, particu- larmente na criança com menos de 6 anos de idade (Figura 1). A ambliopia refracional bilateral pode ocorrer em crianças com hipermetropia acima de +4,00 D. A ambliopia refracional unilateral pode se desenvolver com aniso- metropia hipermetrópica com diferença de +1,00 D entre os olhos.17 A magnitude da hipermetropia encontrada na refratometria estática é somente o ponto de partida para a determinação da prescrição. O Orinda Study recomendou exame ocular comple- to da criança com +1,50 D identificada em exames de triagem visual.18 Ciner19 re- comendou correção de hipermetropia de +2,00 D ou mais em pacientes pediátricos para prevenir ambliopia refracional e pro- blemas binoculares. No entanto, advoga- mos a correção de hipermetropia acima Refratometria Ocular - Cap-02.indd 41 06/03/2017 21:17:55 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica42 de +4,00 D em pacientes pediátricos e de +3,00 D em escolares. Contudo, hiperme- tropia menor deve ser corrigida no pacien- te com sintomas astenopeicos, esoforia ou esotropia, ou na presença de anomalias da acomodação-convergência. O exame refratométrico precisa ser realizado sem- pre sob cicloplegia, sendo mandatório em crianças, quando há esoforia ou esotropia, relação CA/A alta, ambliopia estrabísmi- ca ou se usam óculos com a hipermetro- pia subcorrigida. Geralmente, a instila- ção de 1 gota de ciclopentolato a 1%, 2×, com intervalo de 5 min e exame realiza- do 40 min depois, é suficiente para pro- duzir cicloplegia na criança e no adulto jovem. A correção total da hipermetropia medida sob cicloplegia é a recomendada para criança com hipermetropia e amblio- pia refracional, seguida de terapia da am- bliopia se a visão não melhora com o uso constante dos óculos.12 Em crianças com mais de 6 anos de idade, as necessidades visuais devem ser levadas em conta na prescrição. Geral- mente, as crianças não usam os óculos Hipermetropia Ortoforia até 30 meses ≤ +4,50 D 31-48 meses ≤ +4,00 D > 48 meses ≤ +3,50 D Fora dos limites superiores < +4,50 D AV, visão binocular e desenvolvimento visual normal Observar AV, visão binocular e desenvolvimento visualanormal Prescrição > +4,50 D Prescrição Esotropia Prescrição Dentro dos limites superiores normais Figura 1 Conduta clínica em hipermetropia em crianças (AAPOS, 2013). Refratometria Ocular - Cap-02.indd 42 06/03/2017 21:17:55 Hipermetropia 43 que borram sua visão de longe. Crianças mais velhas, que estão frequentando a es- cola, são mais críticas que as mais novas. Se os óculos melhoram a visão, usam- nos; se pioram a visão, não os usam. As- sim, nas crianças e adultos que se quei- xam de visão borrada para longe com os óculos, o exame refratométrico pós-ciclo- plégico é útil. Pessoas com esotropia aco- modativa necessitam de correção total da hipermetropia medida sob cicloplegia. Algumas crianças com a correção total da hipermetropia podem ficar sem desvio para longe e exibir ainda grande esotro- pia para perto, sendo necessária a adição para perto (na forma de bifocal executive ou flat top, com o topo do segmento po- sicionado na altura da região média da pupila) e avalia-se o total da adição em função da redução da esotropia para per- to. O uso dos óculos durante todo o perío- do em que a criança estiver acordada, é indispensável. Lentes oftálmicas As prescrições de pequenos graus de hi- permetropia podem ser montadas em ar- mação convencional, e as lentes confec- cionadas de policarbonato ou trivex. Os pacientes com altos graus de hipermetro- pia devem escolher armações pequenas e lentes de alto índice ou asféricas. Os pacientes hipermetropes corri- gidos geralmente usam seus óculos em tempo parcial e, por essa razão, são me- nos motivados que os míopes para usar lentes de contato (LC). A maioria das pessoas com hipermetropia tem baixo ou moderado grau do erro refrativo, o que, no geral, não afeta muito a visão de longe; porém, pacientes com altos graus de hipermetropia que utilizam os ócu- los constantemente são mais motivados para o uso de LC. ESTUDOS DE CASOS ■ Paciente com 5 anos de idade, sexo masculino, primeira avaliação, enca- minhado pela professora da pré-escola que o identificou em exame de triagem visual. Sem queixas visuais. Não usa medicação, sem antecedentes de inte- resse. ● AVsc longe OD e OE 0,67. ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra longe E 4 ∆ e perto E 8 ∆. ● Ceratometria OD: 44,50 180°/ 45,00 90°; OE: 44,50 180°/45,00 90°. ● AV estereoscópica 100 s de arco (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): AO: +6,50 D (OD e OE AV 0,67) e AV não melhora com buraco este- nopeico. ● Px: AO: +6,50 D. – Teste de cobertura cc L e P (or- toforia). – Lentes de policarbonato ou trivex. – Uso constante dos óculos. – Revisão em 3 a 6 meses para acompanhar o desenvolvimen- to visual. Refratometria Ocular - Cap-02.indd 43 06/03/2017 21:17:55 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica44 Comentários A ambliopia pode ser definida como re- dução da AVcc de 0,7 (20/30) ou menos em um ou em AO ou duas linhas de di- ferença entre AO, na ausência de doen- ça.20 A criança apresenta AVcc reduzida (0,67) pela ambliopia refracional. Nesse caso, AO tornaram-se amblíopes, como resultado de deprivação visual bilateral pelas imagens retínicas significativamen- te borradas. A AVcc continuou reduzida após a prescrição inicial (ambliopia re- fracional), podendo melhorar, no decor- rer do tempo, com o uso constante dos óculos. O tratamento da ambliopia refracio- nal começa com a prescrição total e o uso constante da correção do erro refrati- vo (AO +6,50 D). As lentes oftálmicas de- vem ser de policarbonato ou trivex, e a ar- mação pequena e bem ajustada. As lentes asféricas são mais leves, reduzem o efeito “olho de boi” e dão a impressão de que o erro refrativo é menor. O uso constan- te dos óculos geralmente é suficiente para a AV se desenvolver e alcançar 1,00 nos próximos 2 a 3 anos de idade. As crianças apresentam adaptação fácil aos óculos, sobretudo quando o uso deles melhora a AV. Caso haja queixa de baixa visão de longe, propõe-se reduzir +0,50 D de cada lente. Devem ser feitas revisões a cada 3 a 6 meses para acompanhar o desenvolvi- mento visual. No final do segundo ano de acompa- nhamento da criança, a AVcc era 1,00 (AO) e a estereopsia 40 s de arco (Stereo Fly Test). ■ Paciente com 8 anos de idade, sexo masculino, avaliado em exame de roti- na. Sem queixas visuais. Não usa medi- cação. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe OD e OE 1,00. ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra longe ortoforia e perto X’ 2 ∆. ● Ceratometria OD: 43,00 180°/43,50 90°; OE: 42,75 180°/43,25 90°. ● AV estereoscópica 40 s (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia: AO +3,00 D (AV 1,00). ● Teste cobertura/prisma-cobertura cc longe ortoforia e perto X’ 6 ∆. Comentários O escolar não necessita de prescrição de lentes corretoras. Não tem queixas visuais e nem apresenta problema binocular sem correção. A hipermetropia de +3,00 D po- de ser facilmente compensada pela sua acomodação. A AA esperada para 8 anos de idade é cerca de 16,00 D. Recomen- dou-se avaliação anual de rotina. ■ Paciente com 12 anos de idade, sexo feminino, primeira avaliação com 6 anos de idade, exame de rotina, não houve prescrição de óculos. Veio para consulta oftálmica com queixas de borramento visual na leitura e quando joga videogame muito tempo. Nunca usou óculos. Não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe OD e OE 1,00. ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra longe E 4 ∆ e perto E’ 6 ∆. ● Ceratometria OD: 44,50 180°/ 44,50 90°; OE: 44,50 180°/45,00 90°. Refratometria Ocular - Cap-02.indd 44 06/03/2017 21:17:55 Hipermetropia 45 ● OD e OE: AA 14,00 D. ● Relação AC/A 4:1. ● AV estereoscópica 40 cm 40 s (Ste- reo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): OD: +1,75–0,50 90° (AV 1,00) e OE: +1,50 (AV 1,00). ● Refração pós-cicloplegia: OD: +1,25–0,50 90° (1,00) e OE: +1,00 (1,00). ● Px: OD: +1,25–0,50 90° e OE: +1,00 D. Teste de cobertura (armação de pro- vas) longe (orto) e perto (orto). – Lentes de policarbonato ou tri- vex. – Instruída para usar os óculos na escola, durante a leitura e escri- ta e atividades de perto. – Revisão a cada 6 meses. Comentários A AVsc é 1,00 porque a jovem usa a aco- modação para neutralizar a hipermetro- pia. A amplitude de acomodação é de 14,00 D, o que é suficiente para neutra- lizar a hipermetropia de +1,50 D e aco- modar o total de +4,00 D quando lê a 40 cm. Os seus sintomas são desencadeados pela presença de esoforia de longe e perto quando a hipermetropia não está corrigi- da. A correção da hipermetropia diminui o esforço acomodativo de longe e a foria de longe desaparece. Com a correção da hi- permetropia, a demanda acomodativa re- duz de +4,00 D para +2,50 D, e por isso a foria de perto desaparece. A correção da hipermetropia traz con- forto visual. O exame refratométrico pós- cicloplégico avalia se a correção permite manter a AVcc de longe clara. Isto torna a adaptação aos óculos mais fácil. No caso, optou-se por redução de +0,50 D em cada lente. Na revisão de 6 meses, a jovem estava usando constantemente os óculos e refe- ria visão clara e confortável. Sua AVcc era 1,00 em AO e não alteramos sua prescri- ção óptica. ■ Paciente com 6 anos de idade, sexo feminino, encaminhada para exame pela professora da pré-escola, que identificou alteração visual em exame de triagem visual. A aluna não tinha apresentado queixas visuais. Nunca usou óculos. Não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe OD e OE 0,40. ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra longe E 4 ∆ de perto E’ 10 ∆. ● Ceratometria OD: 43,25 180°/ 41,75 90°; OE: 43,75 180°/42,00 90°. ● AV estereoscópica 40 cm 100 s (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho,intervalo de 5 min, exame após 40 min): OD: +7,75–0,75 90° (0,30) e OE: +5,50–0,50 90° (0,70). Px: OD: +7,25–0,75 90° e OE: +5,00–0,50 90°. Refratometria Ocular - Cap-02.indd 45 06/03/2017 21:17:55 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica46 – Teste de cobertura cc longe e perto ortoforia. – Lentes asféricas de policarbonato. – Armação pequena e bem ajus- tada. – Uso constante dos óculos. – Terapia visual: oclusão OE 2 a 4 h/dia. – Revisão 1 a 3 meses para acom- panhar o desenvolvimento visual. Comentários A criança apresenta AVcc reduzida em AO pela ambliopia refracional. A imagem retí- nica mais borrada no OD foi o fator am- bliopigênico primário responsável pela maior redução da visão desse olho. O pri- meiro passo no tratamento da ambliopia por anisometropia hipermetrópica é a cor- reção total do erro refrativo de cada olho. Para tornar o uso dos óculos mais confor- tável, nessa primeira prescrição foi feita redução de +0,50 D em cada olho em re- lação ao total encontrado sob cicloplegia. O exame refratométrico deve sempre ser realizado sob cicloplegia e refinado com balanço refratométrico binocular. A AVcc melhora no decorrer do tem- po, com o uso constante dos óculos. No terceiro ano de acompanhamento, a AVcc no OD era 0,80 e no OE 1,00. Nesse pe- ríodo, houve pequena alteração refrato- métrica. ■ Paciente com 10 anos de idade, sexo feminino, queixando-se de astenopia e borramento da visão após 10 a 15 min de leitura. Primeira avaliação. Boa saú- de, não usa medicação. Sem antece- dentes de interesse. ● AVsc longe OD e OE 1,00; perto OD e OE J 1. ● Ceratometria OD: 42,25 180°/42,75 90°; OE: 42,00 180°/42,75 90°. ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra longe ortoforia e perto ET’ 10 ∆. ● OD e OE: AA: 15,00 D. ● AV estereoscópica 40 cm 60 s de arco (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): AO +0,50 (AV OD e OE 1,00). – Relação AC/A 8:1. Teste de cobertura perto AO +1,50 D (ortoforia). Px: AO: lentes planas/+1,25 D add. Lentes de policarbonato ou tri- vex, bifocal executive com o topo do segmento de adição passando no meio da pupila para permitir que a criança use a adição de perto nas atividades de perto. – Uso constante dos óculos. – Revisão a cada 3 a 6 meses. Comentários A escolar apresenta ortoforia de longe, eso- tropia intermitente de perto alta (ET’ 10 ∆) e relação AC/A alta. Esses achados sugerem o diagnóstico de excesso de convergência. O erro refrativo é baixo e, considerado iso- ladamente, não haveria indicação para a prescrição de óculos. Refratometria Ocular - Cap-02.indd 46 06/03/2017 21:17:55 Hipermetropia 47 Devemos lembrar que a conduta, nos casos de esodesvios para perto com sinto- mas astenopeicos e relação AC/A alta, é a prescrição de lentes positivas para perto. A correção de perto de +1,25 D nos testes realizados com lentes positivas em arma- ção de provas reduziu a foria de perto para ortoforia. O oftalmologista precisa decidir se prescreve lentes monofocais para serem usadas de perto ou lentes bifocais. Adul- tos, provavelmente, adaptam-se melhor com lentes monofocais para perto; para pessoas mais jovens, como nesse caso, a prescrição de lentes bifocais pode ser a melhor opção. No entanto, existe grande resistência por parte dos pais em aceitar o uso de lentes bifocais pelos filhos. Quan- do isto ocorre antes da prescrição, é ne- cessário explicar-lhes suas vantagens e que as crianças rapidamente se adaptam aos bifocais. Nesse caso, foram prescritas lentes pla- nas para longe e +1,25 de perto, montadas em bifocal executive. A jovem, nos retor- nos de 3 a 6 meses, referiu conforto visual com os óculos. Por isso, não foi recomen- dado outro tipo de tratamento. ■ Paciente com 20 anos de idade, sexo masculino, queixas de cefaleia, asteno- pia e visão borrada após cerca de 30 min de leitura e, também, quando di- rige o carro, sobretudo à noite. Usou óculos por pouco tempo no primeiro ano do ensino fundamental. Foi exami- nado há 4 anos e o exame não iden- tificou nada anormal. Boa saúde, não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe OD e OE 1,00 e per- to J 1. ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra longe E 2 ∆ e perto X’ 6 ∆. ● Ceratometria OD: 41,50 180°/ 42,25 90°; OE: 41,75 180°/42,50 90°. ● OD e OE AA: 13,00 D. ● Ponto próximo de convergência: 25 cm. ● AV estereoscópica 40 cm 40 s de arco (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): AO +1,75 (AV OD e OE 1,00). – Relação AC/A 3:1. Px: AO: +1,00 D (OD e OE 1,00). – Lentes de policarbonato ou tri- vex. – Uso constante dos óculos. – Terapia visual. – Revisão a cada 3 a 6 meses. Comentários O jovem apresenta quadro clínico de in- suficiência de convergência e hipermetro- pia que, nesses casos, constitui um fator de complicação. Pode-se perguntar o que determina as queixas do paciente: a hiper- metropia não corrigida ou a insuficiência de convergência? A correção de hiperme- tropia, certamente, aumentará a exoforia de perto. O tratamento da insuficiência de convergência pode não ser suficiente para o jovem conseguir conforto sem a corre- ção da hipermetropia. Refratometria Ocular - Cap-02.indd 47 06/03/2017 21:17:55 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica48 Nesse caso, decidiu-se prescrever cor- reção parcial da hipermetropia de +1,00 D (AO) em função da insuficiência de convergência. Os óculos foram receitados para uso constante. Prismas ou adição de perto não são prescritos nesses casos pela baixa relação AC/A (3/1). O jovem foi submetido a terapia vi- sual, realizada com 12 sessões, para tratar a insuficiência de convergência. No final do tratamento, apresentava ponto próxi- mo de convergência de 10 cm e melhora significativa dos sintomas. Foram agenda- das avaliações em 3 e 6 meses para acom- panhamento da insuficiência de conver- gência. Com o uso constante dos óculos e após a terapia visual, o paciente referiu melhora do conforto na leitura e visão es- tável ao dirigir o carro. ■ Paciente com 17 anos de idade, sexo feminino, perdeu os óculos prescritos há 2 anos (AO: +1,50 D). Boa visão para longe. Sente os olhos cansados quando lê sem os óculos. Boa saúde, não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc OD e OE longe 1,00 e perto J1. ● Ceratometria AO: 42,25 180°/ 42,50 90°. ● OD e OE AA: 13,00 D. ● AV estereoscópica P 40 s (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): AO: +4,50 D (AV OD e OE 1,00). – AO: +2,00 D. Teste de cobertura cc longe e perto ortoforia. Px: AO: +2,00 D (OD e OE 1,00). – Lentes de policarbonato ou tri- vex. – Uso constante dos óculos. Comentários A jovem apresenta hipermetropia modera- da (AO: +4,50 D) corrigida parcialmente com os óculos anteriores perdidos (AO: +1,50 D). A AVsc de AO é 1,00, porque, usando a acomodação, a paciente conse- gue neutralizar a hipermetropia e o esfor- ço acomodativo de perto. A amplitude de acomodação estimada para essa idade é de 13,00 D. A prescrição de +2,00 D (AO) relaxa o esforço acomodativo de longe e perto. Posteriormente, o uso dos óculos foi permitido em tempo parcial, sendo obri- gatório na escola, para ver TV e para exe- cutar atividades de perto. ■ Paciente com 23 anos de idade, sexo feminino, veio à consulta trazendo os óculos prescritos há 3 anos (AO: +1,50 D). Boa visão para longe e desconforto visual na leitura prolongada. Boa saú- de, não usa medicação. Sem antece- dentes de interesse. ● AVsc e cc OD e OE 1,00 (AO +1,50 D). ● Teste de cobertura perto (+1,50 AO) longe e perto ortoforia. ● Ceratometria AO: 41,50 5°/42,00 95°. ● AV estereoscópica cc 40 cm 40 s (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia(1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada Refratometria Ocular - Cap-02.indd 48 06/03/2017 21:17:55 Hipermetropia 49 olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): AO: +5,00 D (AV 1,00). Px: AO: +3,00 D (AV 1,00). – Teste de cobertura cc longe e perto (orto). – Lentes de policarbonato ou trivex. Comentários O caso é de hipermetropia moderada (AO: +5,00 D) corrigida parcialmente com os óculos perdidos (AO: +1,50 D). A AVsc e cc em OD e OE é 1,00, porque, usan- do a acomodação, consegue neutralizar a parte da hipermetropia não corrigida. Aos 25 anos de idade, a AA é estimada em 11,00 D. Isto é suficiente para compensar o esforço acomodativo total de longe (AO: +5,00 D) e o de perto (AO: +7,50 D). Mas, para ter conforto visual, não se deve uti- lizar mais da metade da capacidade aco- modativa (AA). Com a prescrição de +3,00 D (AO), é necessário um esforço acomodativo de + 2,00 D para longe e de +4,50 D para per- to, demanda suprida pela AA sem gerar sintomas. A paciente foi instruída para uso constante dos óculos. ■ Paciente com 30 anos de idade, sexo masculino, programador de computa- dor, queixa de borramento visual no final do dia de trabalho. Vem usando os óculos (OD: –0,50–1,00 80° e OE: –0,75–0,75 90°) prescritos há 22 me- ses. Boa saúde, não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVcc OD e OE 1,00 longe OD: (–0,50–1,00 80°) e OE: (–0,75–0,75 90°). ● Teste de cobertura longe e perto or- toforia. ● Ceratometria OD: 42,00 175°/ 41,75 85° e OE: 42,00 180°/42,00 90°. ● AV estereoscópica cc 40 cm 40 s (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): OD: +1,75–1,00 80° (AV 1,00) e OE: +1,00–0,75 90° (AV 1,00). Refração pós-cicloplegia. OD: +1,50–1,00 80° (AV 1,00) e OE: +0,75–0,75 90° (AV 1,00). Px: OD +1,50–1,00 80° e OE: +0,75–0,75 90°. – Teste de cobertura cc longe e perto ortoforia. – Lentes de policarbonato ou tri- vex. – Tratamento antirreflexo. – Retorno em 3 a 6 meses. Comentários O paciente não apresenta miopia e astig- matismo miópico composto, por isso os óculos em uso não corrigem o erro refra- tivo atual. É possível que a prescrição ina- dequada viesse de exame refratométrico feito sem cicloplegia. No caso, o exame da refração sob cicloplegia foi fundamen- tal para conhecer o erro refrativo e diag- nosticar o quadro de pseudomiopia por espasmo de acomodação. O exame refra- tométrico pós-cicloplegia permite realizar Refratometria Ocular - Cap-02.indd 49 06/03/2017 21:17:55 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica50 prescrição que não reduza demais a AVcc de longe. O programador de computador retor- nou 6 meses depois, usando os óculos em tempo parcial, em sua atividade de pro- gramador de computador. Com os óculos, a AV de longe era 0,67 no OD e no OE. Repetiu-se o exame sob cicloplegia e pós- cicloplegia. Não se detectou alteração do erro refrativo nem da visão binocular. Manteve-se a mesma correção óptica, e o paciente foi instruído para fazer uso cons- tante dos óculos, o que é fundamental para impedir que o espasmo de acomoda- ção se manifeste. No retorno após 12 meses, referia uso constante e mais confortável dos óculos, estava satisfeito com a visão de longe e perto, e queria outra receita para confec- cionar novos óculos. ■ Paciente com 39 anos de idade, pro- fessor secundarista, queixando-se de borramento e desconforto da visão de perto. Boa saúde, fumante, não usa medicação. Sem antecedentes de inte- resse. ● AVsc longe OD e OE 1,00 l e perto OD e OE J 3. ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra longe ortoforia e perto E’ 4 ∆. ● Ceratometria AO: 42,00 180°/ 42,75 90°. ● AV estereoscópica cc 40 cm 40 s (Stereo Fly Test). ● OD e OE: AA AO: 5,00 D. ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): AO +0,75 D (AV OD e OE 1,00). Px: AO: +0,75 D (AV 1,00 longe e J 1 perto). – Teste de cobertura cc longe orto- foria e perto X’ 2 ∆. – Lentes de policarbonato ou tri- vex. – Tratamento antirreflexo. – Uso dos óculos para perto. – Retorno em 2 anos. Comentários As queixas do professor de borramento vi- sual e desconforto de perto justificam-se porque sua AVsc de perto diminuiu com a redução de sua capacidade acomodati- va (AA). Mas, para ter conforto visual, não se deve utilizar mais que a metade da AA. O esforço acomodativo para ler a 40 cm é +0,75 D (de longe) mais +2,50 D de perto (total +3,25 D). Metade da AA que pode ser usada equivale a +2,50 D. Portanto, o valor que resta de +0,75 D corresponde ao valor de correção de seu erro refrativo. É importante montar a correção em ar- mação de provas e mostrar ao paciente a interferência da prescrição óptica na visão de longe e a melhora da visão de perto. O paciente usará, então, a correção do erro refrativo de longe para perto. SUMÁRIO A criança com baixa AVsc e/ou portadora de esotropia ou ambliopia refracional de- ve ser submetida a exame refratométrico sob cicloplegia, receber a prescrição to- tal do erro refrativo para ser usado cons- tantemente e ser submetida a terapia vi- Refratometria Ocular - Cap-02.indd 50 06/03/2017 21:17:56 Hipermetropia 51 sual antissupressiva. Quando necessário, o alinhamento dos eixos visuais poderá ser melhorado com a adição de lentes posi- tivas (relação AC/A alta), prismas (relação AC/A baixa), terapia visual ou até mesmo cirurgia. A criança com baixa hipermetropia e com sintomas pode ter necessidade do uso da correção do erro refrativo se apresentar alteração da visão binocular. No decorrer da vida, a parte da hiper- metropia corrigida nos óculos pode au- mentar porque a AA diminui com a ida- de e, assim, o paciente expressará mais hipermetropia manifesta. Na avaliação, é importante o exame refratométrico sob ci- cloplegia. Pacientes de qualquer idade têm di- ficuldade para usar óculos que borrem a visão de longe. Quando necessitam da correção do erro refrativo e de adição de perto, a correção poderá ser dada em ócu- los separados (adultos) ou em bifocais exe- cutive (crianças). Ao adulto pré-presbita, portador de baixa hipermetropia e sintomas astenopei- cos de perto, pode-se prescrever o valor da refração de longe para o uso de perto. Como a AA continuará diminuindo com o aumentar da idade, logo haverá neces- sidade de corrigir a hipermetropia e, gra- dualmente, usar os óculos durante todo o tempo. Quando a presbiopia se manifes- tar, necessitará de adição para perto. Pacientes com alta hipermetropia e es- pasmo de acomodação necessitam usar os óculos em tempo total. O adulto com baixa hipermetropia, sem redução da AVsc de longe e de perto, sem sintomas ou anomalias de convergên- cia/acomodação, não necessita de óculos. Quando a correção positiva de perto supe- rar a de longe, pode-se prescrever óculos separados, um para perto e outro para lon- ge, lentes bifocais ou multifocais. Ao final da avaliação, antes da prescri- ção definitiva, recomenda-se demonstrar ao paciente, com a provável prescrição montada em armação de provas, como a correção do defeito refrativo afeta a visão de longe e a de perto, um ensaio do con- forto que os novos óculos poderão propor- cionar. REFERÊNCIAS 1. Carlson NB. Hyperopia. In: Brookman KE (ed). Refractive Management of Ametropia. Boston: Butterworth-Heinemann, 1996; 45-72. 2. Borish IM. Apud Rosenfield M. Refractive status of the eye. In: Benjamin WJ (ed). Borish’ Clinical Refraction. St. Louis: Butterworth-Heinemann/El- sevier, 2006; 10. 3. Rosenfield M. Refractive status of the eye. In: Ben- jamin WJ (ed). Borish’ Clinical Refraction. St. Louis: Butterworth-Heinemann/Elsevier, 2006; 1-34. 4. Alves MR, Kara José N. Campanha “Veja Bem Brasil”. Manual de Orientação. Conselho Brasi- leiro de Oftalmologia; 1998. 5. Sociedade Brasileira de Pediatria. Disponível em: http://www.sbp.com.br/show_item2.cfm?id_ categoria=17&id_detalhe=1424&tipo=D>. Aces- so em: 3 jul 2007. 6. Eye Examination in Infants, Children, and Young adults by Pediatricians. Committee on Practice and ambulatory Medicine of American of Pediat- rics, Section on Ophthalmology. Pediatrics, 1996; 98:153-7. 7. Barros CR. Contribuição do teste do reflexo ver- melho na triagem de problemas oftálmicos em recém-nascidos, crianças em idade pré-escolar e escolar. Tese de mestrado apresentada ao Centro de Extensão Universitária – CEU, Departamento de Medicina, São Paulo, 2008. Refratometria Ocular - Cap-02.indd 51 06/03/2017 21:17:56 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica52 8. Dominguez JJD. Deteccion de trastornos visua- les. PrevInfad (AEPap)/PAPPS infância y adoles- cência, 2007; 1-30. 9. Marsh-Tootle WL, Frazier MG. Infants, Toddlers, and Children. In: Benjamin WJ (ed). Borish’ Clini- cal Refraction. St. Louis: Butterworth-Heinemann Elsevier, 2006; 1395-460. 10. Duke-Elder, S. Hypermetropia. Duke-Elder’s prac- tice of Refraction. Revised by Abrams D. London: Churchill Livingstone, 1978; 37-43. 11. Michaels DD. Visual Optics and Refraction. St. Louis: Mosby, 1985; 471-2. 12. Sloane A. Manual of Refraction, 2nd ed. Boston: Little, Brow, 1970; 39-40. 13. Augsburger A. Hyperopia. In: Amos JF (ed). Di- agnosis and Manejament in Vision Care. Boston: Butterworth-Heinemann, 1987; 101-19. 14. Scheiman M, Wick B. Low AC/A conditions: Convergence Insuficiency and Divergence Insu- ficiency. In: Scheiman M, Wick B (eds). Clinical Management of Binocular Vision. Philadelphia: Lippincott Willians & Wilkins, 2002; 223-63. 15. Scheiman M, Wick B. High AC/A conditions: Convergence Excess and Divergence Excess. In: Scheiman M, Wick B (eds). Clinical Management of Binocular Vision. Philadelphia: Lippincott Wil- lians & Wilkins, 2002; 264-302. 16. 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SINAIS E SINTOMAS A manifestação principal da miopia é a re- dução da AV de longe. É importante ca- racterizar se o borramento visual de longe é constante ou intermitente. O borramento intermitente geralmente sinaliza alteração acomodativa. Usualmente, astenopia não é sintoma de miopia, a menos que a mio- pia esteja acompanhada por astigmatismo, anisometropia, alteração acomodativa ou alteração de vergência.1 CLASSIFICAÇÕES Classificação pela taxa de progressão Donders2 classificou a miopia, segundo a taxa de progressão, descrevendo três cate- gorias: estacionária, temporariamente pro- gressiva e permanentemente progressiva. A miopia estacionária geralmente é de baixo grau (–1,50 D a –2,00 D), aparece nos “anos de desenvolvimento” e estabi- liza no início da vida adulta, podendo de modo ocasional diminuir na velhice. Geralmente, a miopia temporariamen- te progressiva manifesta-se dos 8 aos 13 anos e progride até os 20 anos de ida- de. Após essa idade, a taxa de progressão aproxima-se de zero. Para Donders,2 esse tipo de miopia raramente se manifesta após os 15 anos de idade em olhos previa- mente normais e, falsamente, nunca se de- senvolve após os 20 anos de idade (miopia de aparecimento tardio). A miopia permanentemente progressi- va avança mais rápido até os 25 a 35 anos de idade e, depois, progride mais lenta- mente. Aumento subsequente da mio- pia ocorre em saltos e nunca lentamente. Donders2 observou que esses olhos desen- volvem condições patológicas como des- colamento de retina e degeneração macu- lar, sendo raro que, aos 60 anos de idade, a pessoa tenha visão funcional. Classificação pelos aspectos anatômicos Borish3 classificou a miopia em axial (o olho em repouso é muito comprido para Refratometria Ocular - Cap-03.indd 53 06/03/2017 21:20:29 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica54 seu poder refrativo) e refrativa (poder re- frativo excessivo para seu comprimento axial). A miopia refrativa foi dividida em miopia de índice (quando um ou mais ín- dices de refração dos meios ópticos ocu- lares são anômalos); miopia de curvatura (quando os raios de curvatura reduzidos de uma ou mais superfícies refrativas pro- duzem aumento do poder refrativo do olho); e miopia de câmara anterior (quan- do a diminuição na profundidade de câ- mara anterior aumenta o poder refrativo do olho). Classificação pelos valores da miopia Hirsch4 dividiu a população em três gru- pos, em relação aos valores de miopia, designados, respectivamente, alfa, beta e gama. O grupo alfa apresentava curva de distribuição normal, com pico teorica- mente assumido de +0,50 D. O grupo be- ta tinha uma segunda curva normal, com pico em torno de –4,00 D. O autor sugeriu que, nesse grupo, a miopia fosse de ori- gem hereditária. O grupo gama apresen- tou variação de –9,00 D a –15,00 D, e com esses valores foi descrita como malig- na, patológica ou degenerativa. Sorsby et al.,5 em uma investigação realizada com 341 olhos de pessoas com idades entre 20 e 60 anos, concluíram que 95% dos er- ros refrativos estavam entre ±4,00 D. Su- geriram que a miopia menor que –4,00 D difere da miopia maior que –4,00 D, veri- ficando que os valores dos componentes biométricos dos erros refrativos até ±4,00 D eram essencialmente os mesmos encon- trados no olho emetrope. Classificação em miopia fisiológica e patológica Duke-Elder e Abrams6 adotaram o termo miopia degenerativa ou patológica para descrever a miopia que é acompanhada por alterações degenerativas, particular- mente no segmento posterior do bulbo ocular, que são mais frequentes nas mio- pias maiores que –6,00 D. Classificação conforme influência da hereditariedade e ambiente O debate das influências da hereditarie- dade e do ambiente no desenvolvimento da miopia persiste por mais de 400 anos. Ambos influenciam o desenvolvimento da miopia.7 Classificação conforme a teoria do desenvolvimento da miopia McBrien e Barnes8 descreveram três teo- rias de desenvolvimento da miopia. A teoria biológico-estatística considerou va- riações do erro refrativo decorrentes da distribuição contínua da alta miopia para alta hipermetropia. A ametropia represen- taria apenas a variação biológica normal dos componentes fisiológicos. Contudo, Stenstrom9 e Sorsby et al.5 mostraram que a distribuição do erro refrativo não era normal. Cohn10 propôs a teoria do uso-abuso, sugerindo que o início da miopia represen- tava a adaptação do uso-abuso dos olhos durante atividades continuadas de perto. Vários investigadores relatam maior pre- valência de miopia entre as pessoas com atividades ocupacionais que utilizam ex- cessivamente a visão de perto.7 Young11 de- Refratometria Ocular - Cap-03.indd 54 06/03/2017 21:20:29 Miopia 55 monstrou que macacos adolescentes man- tidos sob restrição de atividades de perto também exibiam aumento significativo da miopia. Outros estudos mostraram aumen- to de miopia na população esquimó, após a introdução da educação formal, o que re- presentaria o efeito do aumento da exigên- cia nas atividadesde perto.7 A teoria da emetropização baseou-se no fato de a prevalência de emetropia ser mais alta do que a prevista em termos estatísti- cos. Postula que os componentes do olho não cresceriam independente, mas sob um processo coordenado de crescimento dos componentes biométricos oculares (pro- cesso denominado emetropização).12 Classificação baseada na idade do início da miopia Grosvenor13 classificou a miopia em con- gênita (presente ao nascimento e persis- tente na infância); manifestando-se no início da vida escolar e juventude; no iní- cio da vida adulta (entre 20 e 40 anos de idade); e na vida adulta (após 40 anos de idade). Goldschmidt14 descreveu a miopia que se manifesta no início da vida adulta (entre 20 e 40 anos) como a que se desenvolve após cessar o crescimento do corpo. Para o autor, esse tipo de miopia seria deter- minado pelo ambiente e seu início rela- cionar-se-ia ao uso excessivo da visão de perto. Outras miopias A miopia noturna é produzida pelo au- mento da resposta acomodativa (tipica- mente da ordem de –0,50 a –1,00 D) sob condições de baixa luminosidade. Existem evidências de que alterações na aberração cromática possam estar envolvidas no des- vio miópico.7 A pseudomiopia tem sido definida como a forma reversível de miopia que re- sulta do espasmo do músculo ciliar.7 PREVALÊNCIA Globalmente, a miopia é a causa principal de perda visual para longe.15-18 Em 2010, a miopia afetava 1,4 bilhões de pessoas ou 27% da população mundial.17 Como o nú- mero de pessoas com miopia deve conti- nuar aumentando, tanto em número abso- luto como em porcentagem da população, estima-se que 2,5 bilhões de pessoas serão afetadas por miopia em 2020.18 Entre adolescentes e adultos jovens da Coreia, Taiwan e China, a prevalên- cia da miopia está entre 84% e 97%.19-21 Ao contrário da população ocidental, em que a prevalência de miopia é baixa (me- nor que 5%) em crianças com 8 anos de idade ou menos, em crianças asiáticas há uma prevalência significativamente mais alta de miopia afetando entre 9% e 15% das crianças pré-escolares; 24,7% das crianças com 7 anos de idade; 31,3% das crianças com 8 anos de idade; e 49,7% dos escolares com 9 anos de idade, em Singapura.22,23 Nos escolares com 12 anos de idade, a prevalência de miopia é 62% em Singapura e 49,7% em Guangzhou, China, comparada com 20% nos Estados Unidos da América (EUA); 11,9% na Aus- trália; 9,7% em áreas urbanas da Índia e 16,5% no Nepal.22 Refratometria Ocular - Cap-03.indd 55 06/03/2017 21:20:29 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica56 Nesse notável aumento de prevalên- cia da miopia em todo o mundo, eviden- ciam-se associações da miopia com uma série de fatores ambientais e característi- cas comportamentais24,25 apontando para uma forte influência ambiental. No en- tanto, também, a forte associação de mio- pia com história parental26 e os achados de hereditariedade nas formas não sin- drômicas de miopia, especialmente nas altas miopias (–5,00 D ou mais), consis- tentemente, indicam que mais da metade da variabilidade do erro refrativo dentro de populações é determinada por fatores genéticos.27-30 Considere-se, ainda, que os estudos da Genome-Wide Association (GWAS) identificaram mais de 20 loci as- sociados com miopia e os seus resultados, preliminarmente, sugerem que genes as- sociados com erros refrativos podem ser enriquecidos significantemente por modi- ficações do peso corporal e por alterações dos metabolismos de insulina e de ácidos graxos que poderiam influenciar meca- nismos de regulação de crescimento e de neurotransmissão.31 Existem evidências de que esse cres- cimento global da prevalência é acom- panhado pelo aumento da intensidade da miopia.19 Vitale et al.,32 nos EUA, en- contraram que a prevalência da mio- pia moderada (entre –2,00 D e –7,90 D) praticamente dobrou (foi de 11,4%, em 1971-1972, para 22,4%, em 1999-2000), e a prevalência de alta miopia (mais alta que –8.00 D) aumentou 8 vezes durante o mesmo período (foi de 0,2% a 1,6%). A prevalência global da alta miopia (mais alta que –5,00 D) era de 2,9% (224 mi- lhões de pessoas) em 2010.19 A alta miopia (mais alta que −6,00 D e comprimento axial igual ou superior a 26 mm) está associada com aumento do risco de desenvolvimento de condições que ameaçam a visão, como a degenera- ção macular miópica, retinosquise, esta- filoma posterior, glaucoma, descolamen- to de retina e catarata.33-35 A degeneração macular miópica foi a principal causa de cegueira monocular em Tajimi, Japão,36 e, atualmente, está liderando as novas cau- sas de cegueira em Xangai, China.37 O risco absoluto de deficiência visual é de 30% nas pessoas com comprimento ocu- lar axial de 26 mm e aumenta até 95% na- quelas com comprimento ocular axial de 30 mm ou mais.38 O Brasil, com 201 milhões de habitan- tes, tem a população míope estimada en- tre 22 e 72 milhões de indivíduos, e entre 2 e 7 milhões de pessoas com miopia de- generativa.40 ALTERAÇÕES REFRATIVAS COM A IDADE Há uma grande variação dos erros refra- tivos ao nascimento. Pequenas quantida- des de miopia usualmente desaparecem no primeiro ou segundo ano de vida.41,42 Na infância, a presença de miopia pode ser fator de risco para o reaparecimento de miopia nos anos escolares ou mais tarde.43 Crianças que entram na escola com equivalente esférico entre emetropia e +0,50 D de hipermetropia, com maior probabilidade ficarão míopes entre 13 e 18 anos de idade.44 O aumento da miopia é referido como progressão da miopia. Na maioria dos adultos jovens, o erro refrati- vo é relativamente estável, embora tanto o Refratometria Ocular - Cap-03.indd 56 06/03/2017 21:20:29 Miopia 57 início quanto a progressão da miopia não sejam incomuns. Após os 45 anos, ocorre discreta redu- ção da miopia pela esclerose do cristalino. Na sexta década de vida ou mais, verifica- se novo aumento relacionado ao desen- volvimento de catarata nuclear senil.45 FUNDAMENTOS DA CORREÇÃO ÓPTICA Na criança até 2 anos de idade, os valo- res de miopia não são corrigidos até –3,00 D, pois nesse período da vida essa magni- tude de miopia pode desaparecer espon- taneamente.42 Do mesmo modo, não se prescreve a miopia até –1,50 D a crianças na idade pré-escolar, porque os objetos e as pessoas com as quais interagem estão a seu redor.20 No período escolar, quan- do a demanda visual para longe é maior, pode ser necessária a correção de miopia maior que –1,00 D. Crianças com valores de miopia limítrofes podem ser acompa- nhadas com exames refratométricos reali- zados a cada 3 a 6 meses. Na maioria das vezes, a prescrição inicial verifica-se no início do período escolar, quando a crian- ça míope apresenta maior demanda visual para distância (Figura 1). É importante que os médicos oftalmo- logistas abandonem o conceito de que o objetivo da refratometria é atingir AV 1,00. A AV 1,00 representa a capacida- de determinado paciente identificar dois pontos separados por, no mínimo, 1 min de arco. Esse dado é geométrico e não populacional. A AV “normal” não é 1,00; na verdade, a média da AVcc varia em relação à população estudada, mas é aci- ma de 1,00. Portanto, como a maioria dos pacien- tes atinge AV maior que 1,00, quando cor- Miopia Valores limítrofes Valores altos Dentro dos limites superiores normais 12-30 meses ≤ –3,50 D 31-48 meses ≤ –3,00 D > 48 meses ≤ –1,50 D Fora dos limites superiores normais até 2 anos > –3,00 D pré-escolar > –1,50 D escolar > –1,00 D Observar Prescrição Figura 1 Conduta em miopia nas crianças (AAPOS, 2013). Refratometria Ocular - Cap-03.indd 57 06/03/2017 21:20:29 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica58 rigidos adequadamente, poderemos estar subcorrigindo o componente esférico mió- pico ao receitarmos a lente que permita AV 1,00, se seu potencial visual for 1,20.46 A maioria dos oftalmologistas prescre- ve lentes para corrigir qualquer valor de miopia em adolescentes e adultosque de- sejam melhorar a AV de longe. Nos casos de alta miopia, a correção total pode não ser bem tolerada; assim, nos altos míopes com mais de 20 anos de idade, lentes mais fracas são prescritas para perto. Pacientes míopes que se tornam presbitas leem com mais conforto sem seus óculos de longe. Quando precisam também da correção de perto, lentes bifocais ou multifocais po- dem ser prescritas. Astigmatismo não corrigido pode ser responsável por astenopia ou redução da AV de longe e perto, e, por isso, valores cilíndricos de 0,50 DC ou mais devem ser prescritos rotineiramente. Astigmatismo oblíquo ou contra a regra causam mais sintomas que o mesmo valor a favor da regra. Acomodação e vergência Quando se prescreve correção para a miopia, é importante considerar as ca- racterísticas do sistema de acomodação e convergência de cada paciente. Em pa- cientes jovens com exoforia alta e função acomodativa normal, recomenda-se o uso constante do total da correção negativa.47 Supercorreção da miopia é o tratamento algumas vezes recomendado para exo- foria e exotropia intermitente, pois a su- percorreção da miopia estimula a conver- gência acomodativa e reduz o valor do exodesvio.48 A conduta nas forias associadas é de- terminada pelo valor da relação AC/A. No excesso de convergência, identificam- se esoforia de perto, ortoforia ou esoforia baixo-moderada de longe e relação AC/A alta.47,48 Nos casos de esoforia de perto, como, por exemplo, no excesso de con- vergência, e em casos de insuficiência de acomodação, a adição de lentes positivas pode estar indicada por meio de lentes bi- focais ou progressivas. No esodesvio para perto, determina-se o valor do poder da adição que anula o desvio ou o transforma em leve exodesvio.49,50 No excesso de divergência, verifica-se maior exoforia de longe do que de perto. Outra característica básica inclui a tendên- cia do desvio de ser intermitente e variar com a atenção. No excesso de divergên- cia com relação AC/A alta, recomenda- se, além de terapia visual, a prescrição de qualquer grau de miopia, porque sua cor- reção tem efeito benéfico na redução da exoforia de longe. A adição de lentes ne- gativas para longe pode ser útil como par- te do plano de tratamento do excesso de divergência. Deve-se prescrever o menor valor da adição de lente negativa para lon- ge que permita ao paciente obter fusão. O valor dos poderes dióptricos dessas lentes pode ser reduzido, conforme a terapia vi- sual aumente a vergência fusional.47,48 Na insuficiência de convergência, ve- rificam-se exoforia de perto, ortoforia ou baixa exoforia de longe, PPC alterado e baixa relação AC/A. A maioria dos sinto- mas ocorre na leitura ou no trabalho de perto. Na insuficiência de convergência e presença de miopia significativa, a cor- reção da miopia é importante. Quando o Refratometria Ocular - Cap-03.indd 58 06/03/2017 21:20:29 Miopia 59 baixo grau de miopia está presente, é pos- sível que essa miopia seja secundária à in- suficiência de convergência. A presença de excesso de acomodação poderia subs- tanciar essa conclusão. Nesses casos, não se prescreve para graus baixos de mio- pia.47,48 A insuficiência de divergência mani- festa-se com esoforia de longe de 2 a 8 ∆, leve esoforia de perto, versões normais e reduzida divergência de longe. Os sinto- mas mais comuns são diplopia de longe, que aparece com o cansaço e desaparece com o repouso. Deve ser feito diagnóstico diferencial com outras condições, como o excesso de convergência e esoforia bási- ca, paralisia do VI nervo e paralisia de di- vergência. Na presença de miopia, deve- se prescrever a correção que permite boa AVcc de longe. Na maioria dos casos de insuficiência de divergência, prescrevem- se prismas horizontais de BT. Pelo fato de a insuficiência de divergência produ- zir sintomas para longe, a correção ópti- ca deve ser para longe, e seu uso deve ser constante. Se o paciente não tolerar a cor- reção prismática de BT nas suas atividades de perto, indica-se terapia visual.47,48 A demanda acomodativa e a conver- gência são diferentes com óculos e com LC: é maior com LC do que com os ócu- los de lentes negativas.51,52 Pacientes com miopia moderada ou alta e problemas acomodativos limítrofes na fase inicial da presbiopia apresentam dificuldade de visão de perto com LC, mas não com os óculos.51,52 A visão para longe, em ambiente com baixa iluminação, pode requerer alguma acomodação, maior que a necessária, oca- sionando o fenômeno conhecido como miopia noturna.53,54 Alguns pacientes com baixa miopia ou baixo astigmatismo mió- pico relatam visão borrada à noite, espe- cialmente para dirigir, o que não acontece em outro período do dia. Por isso, a cor- reção de baixa miopia ou de astigmatismo miópico simples para uso noturno pode ser apropriada. Alguns pacientes com emetropia ou baixa hipermetropia têm acomodação hi- perativa ou dificuldade em relaxar a aco- modação, o que é referido como excesso de acomodação ou espasmo de acomo- dação. Isto pode resultar em pseudomio- pia.52,55 Com mais frequência, a pseu- domiopia ocorre em adultos jovens que usam excessivamente a visão de perto. O diagnóstico de pseudomiopia é confirma- do com o exame refratométrico sob ciclo- plegia. Assim, lentes negativas não devem ser prescritas para pseudomiopia. Por isso, o objetivo do tratamento é relaxar a aco- modação e eliminar a pseudomiopia. Isto é conseguido com a prescrição do maior valor positivo (hipermetropia manifesta) encontrado na refratometria cicloplégica e terapia visual para relaxar a acomoda- ção e aumentar a amplitude de vergência fusional.56,57 É essencial educar o pacien- te sobre a pseudomiopia, esclarecendo que a visão de longe permanecerá bor- rada enquanto a acomodação não estiver relaxada. Lentes oftálmicas A lente oftálmica com recobrimento an- tirreflexo oferece mais conforto e melhor estética. Refratometria Ocular - Cap-03.indd 59 06/03/2017 21:20:29 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica60 O tamanho e a forma da armação in- fluenciam na aparência da lente oftálmi- ca. Para minimizar a espessura de suas bordas, deve-se estimular o uso de arma- ções menores e optar por lentes de mate- riais de alto índice de refração. A aparên- cia dos anéis, causada pela reflexão das bordas das lentes, é minimizada por des- bastamento das bordas, pela remoção de uma faixa da borda (ringless) ou por reco- brimento antirreflexo da superfície da len- te. O peso dos óculos pode ser reduzido usando-se lentes com densidades mais baixas e com valores mais altos do índice de refração. Algumas vezes, as lentes negativas al- tas são fabricadas com superfície frontal relativamente plana. Lentes com curva frontal mais plana que +2,50 D têm apa- rência ruim pela excessiva reflexão que ocorre nessa superfície. O cuidado na prescrição é importan- te, sobretudo das lentes negativas de po- der dióptrico alto. A distância nasopupilar precisa ser bem determinada com pupilô- metro, porque erros em sua medida indu- zem efeitos prismáticos indesejáveis. A es- colha de armação adequada que permita menor distância vértice também deve ser considerada. CONTROLE DA MIOPIA Além do impacto do custo da correção da miopia, estimado em US$ 268 bilhões, há ainda o risco de perda visual por ou- tras doenças oculares mais prevalentes nos míopes, como o glaucoma, catarata e descolamento de retina.33-37 Como parte da estratégia para o enfrentamento desse grave problema de saúde pública, a Or- ganização Mundial da Saúde (OMS) ele- geu a miopia como uma de suas cinco prioridades e a inseriu no programa “Ini- ciativa Global para eliminação da ceguei- ra evitável”.58 Sem a adoção de interven- ções eficazes para controlar o progresso da miopia, a prevalência da miopia pato- lógica deverá continuar aumentando. As opções atuais para o controle da taxa de progressão da miopia podem ser catego- rizadas em intervenções conservadoras e farmacológicas.59Os efeitos dos regimes conservadores, exceto a ortoceratologia, são relativamente pequenos.60 A interven- ção farmacológica tem uma eficácia mui- to superior, em particular o regime de tra- tamento com o uso tópico de atropina.61 Brondstein et al.,62 em 1984, acompanha- ram por até 9 anos (média de 4 anos e 3 meses) 253 míopes submetidos ao regi- me de instilação de 1 gota diária de atro- pina a 1%, com o objetivo de retardar a progressão da miopia. A taxa de progres- são da miopia foi comparada com a de um grupo-controle composto por 146 mí- opes. Durante o período de tratamento, houve redução da taxa de progressão da miopia. Após a suspensão do tratamento, a taxa de progressão da miopia foi similar nos dois grupos. Mas foi somente a par- tir do estudo ATOM,63 um ensaio clínico randomizado realizado com 400 crianças de etnia asiática, que o uso da atropina foi considerado um tratamento efetivo para o retardo da progressão da miopia. Nesse estudo de 2 anos de seguimento, os auto- res encontraram 75% de redução da taxa de progressão da miopia com o uso tópico da atropina a 1% e não relataram efeitos colaterais graves. Uma revisão sistemática Refratometria Ocular - Cap-03.indd 60 06/03/2017 21:20:29 Miopia 61 da Cochrane59 sobre estudos de atropina relatou que a taxa de progressão anual da miopia poderia ser reduzida de –0,80 D a –1,0 D com o uso de atropina a 0,5% e a 1%, respectivamente. O uso tópico do colírio de atropina tem diminuído a progressão anual da mio- pia em crianças pela diminuição da taxa do alongamento ocular (comprimento axial).59,63-66 Chia et al.64 publicaram os resulta- dos de 5 anos de tratamento de crianças com colírio de atropina para o controle da progressão da miopia. No estudo, as crianças usaram a atropina nas concen- trações de 0,5%, 0,1% e 0,01% durante 2 anos, e, após 1 ano de washout, volta- ram a usar a atropina na concentração de 0,01% por mais 2 anos. As crianças tra- tadas com a atropina nas concentrações de 0,5% e 0,1% apresentaram maior taxa de progressão da miopia no ano de washout (efeito rebote). As crianças que receberam atropina na concentração de 0,01% apresentaram menor efeito rebo- te durante o ano de washout, e manifes- taram eficácia no retardo da progressão da miopia nos 2 anos de uso após o ano de washout, com marcada redução dos efeitos adversos que requereram, inclu- sive, o uso de lentes progressivas foto- cromáticas enquanto o tratamento em- pregava as doses mais altas de atropina (0,5% e 0,1%). As crianças sob atropina a 0,01% apresentaram midríase pupilar mínima (0,8 mm), perda de acomodação mínima (2-3 D) e não necessitaram de lentes progressivas. Polling et al.,61 em 2016, publicaram os resultados obtidos de 77 crianças mío- pes que completaram 1 ano de seguimen- to sob o regime de tratamento com 1 gota diária de atropina a 0,5%. O estudo mos- trou que a atropina a 0,5% pode ser um tratamento eficaz para miopia progressi- va num cenário europeu. A taxa de pro- gressão média da miopia antes do ano da intervenção foi −1,0 ± 0,7 D/ano. O uso da atropina a 0,5% reduziu essa taxa de progressão para −0,1 ± 0,7 D/ano durante o tratamento. Apesar de ter ocorrido alta frequência de eventos adversos (82,9%), a maioria das crianças conseguiu prolongar a terapia para o período de estudo inteiro. Os principais efeitos adversos referidos fo- ram fotofobia (72,4%), problemas com a leitura (37,7%) e cefaleia (22,4%). Huang et al.,67 em 2016, publicaram metanálise com o objetivo de investigar a eficácia e comparar a efetividade de 16 intervenções no retardo da progressão da miopia em crianças. Os seus principais achados foram os seguintes: 1) Alta dose de atropina (1% e 0,5%), moderada dose de atropina (0,1%) e baixa dose de atropina (0,01%) mos- traram efeitos claros no retardo da progressão da miopia (todos estatis- ticamente significativos); pirenzepi- na, ortoceratologia, lentes de contato que modificam o defocus periférico, ciclopentolato e lentes oftálmicas bi- focais prismáticas mostraram efeitos moderados (todos estatisticamente significativos, exceto para o ciclo- pentolato e lentes oftálmicas bifocais prismáticas); lentes oftálmicas pro- gressivas, lentes oftálmicas bifocais, lentes oftálmicas que modificam o defocus periférico e mais atividades Refratometria Ocular - Cap-03.indd 61 06/03/2017 21:20:29 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica62 outdoor mostraram efeitos fracos (so- mente lentes oftálmicas progressivas apresentaram efeito estatisticamente significativo); lentes de contato rígi- das gás-permeáveis, lentes de conta- to gelatinosas, lentes oftálmicas hipo- corrigidas e timolol foram ineficazes (todas essas lentes sem efeito estatis- ticamente significativo). 2) Alta dose de atropina (1% e 0,5%) foi significativamente superior às outras intervenções, exceto moderada dose de atropina (0,1%) e baixa dose de atro- pina (0,01%). Comparações parea- das entre lentes oftálmicas bifocais, ciclopentolato, mais atividades out- door, ortoceratologia, lentes oftálmi- cas progressivas, lentes oftálmicas bi- focais prismáticas, lentes de contato que modificam o defocus periférico, lentes oftálmicas que modificam o defocus periférico e pirenzepina não mostraram diferenças significativas, exceto o benefício da ortoceratologia sobre lentes oftálmicas progressivas. Lentes de contato rígidas gás-permeá- veis, lentes de contato gelatinosas, timolol e lentes oftálmicas hipocor- rigidas foram inferiores às outras in- tervenções, sem diferenças significa- tivas dentro desse grupo. 3) Crianças asiáticas pareceram ter maior benefício do tratamento que crianças brancas, e a maioria das in- tervenções perdeu efeito a partir do segundo ano. Para os autores, o uso tópico da atro- pina é a intervenção farmacológica com maior eficácia comprovada no retardo da progressão da miopia.67 No entanto, a não prescrição de atropina para miopia pro- gressiva nos países ocidentais ainda é a regra. Razões para isto podem estar nas publicações que apontam uma maior efi- cácia do tratamento em asiáticos do que em europeus.61 Ou, ainda, no receio de complicações graves e irreversíveis após o uso prolongado da atropina, mas isso não é fundamentado pela literatura.61 Efeitos de longo prazo do uso de atropina foram investigados em estudos realizados com animais e humanos,68,69 e possíveis danos fotoquímicos na retina, devidos à midría- se pupilar mantida por longo período de tempo sob condições de luz do dia, tam- bém não foram relatados.70,71 Portanto, o uso diário de atropina parece ser um trata- mento seguro, mesmo se prolongado por vários anos.66,72 A atropina, um poderoso antagonista não seletivo de receptores muscarínicos presentes no músculo ciliar humano, re- tina e esclera, é o agente farmacológico mais estudado para o retardo da progres- são da miopia.63 Não está ainda claro como a atropina retarda a progressão da miopia, e também não há acordo sobre o local de sua ação.73 Estudos iniciais sugeriram que o controle ocorreria por efeitos da atropina na aco- modação do cristalino, enquanto estudos recentes mostram efeitos da atropina por via não acomodativa na retina e escle- ra.74,75 Na retina, as células amácrinas podem expressar receptores muscarínicos na sua membrana celular.76 A ligação da atropina aos receptores muscarínicos das células amácrinas poderia aumentar a liberação de dopamina, que é um mediador quími- Refratometria Ocular - Cap-03.indd 62 06/03/2017 21:20:29 Miopia 63 co inibitório para o crescimento do olho.77 Na retina de camudongos com miopia in- duzida, sob a ação da atropina, ocorre re- dução dos níveis de ácido g-aminobutíri- co, que é um neurotransmissor.78 Outra possibilidade inclui o efeito da atropina na esclera. Os fibroblastos esclerais ex- pressam receptores muscarínicos em suas membranas celulares, e a ligação da atro- pina nesses receptores poderia intervir na remodelaçãoescleral.79 O efeito da atropi- na no crescimento ocular provavelmente não é executado por meio de um mecanis- mo acomodativo, porque o efeito inibitó- rio sobre o crescimento do olho pela atro- pina também é observado em pintinhos e esses animais ativam o músculo ciliar via receptores nicotínicos e não via receptores muscarínicos.80 Os estudos atuais têm demonstrado que o uso tópico de atropina a 0,01% (1 gota, 1 vez ao dia) em crianças é efe- tivo no retardo da progressão da miopia e é seguro, uma vez que o seu uso nes- sa concentração praticamente não induz sintomas clínicos.64,67 Além disso, o uso de baixa dose de atropina (0,01%) não está associado com a magnitude do efeito re- bote observado com as altas doses de atro- pina (1%, 0,5% e 0,1%). Isto faz do uso da baixa dose de atropina (0,01%) uma das estratégias mais eficazes no tratamento do controle da progressão da miopia, embora os seus resultados precisem ser replicados em outras populações. Chia et al.64 mos- traram que, depois de 5 anos, as crianças usando baixas doses de atropina em gotas (0,01%) eram as menos míopes quando comparadas com as crianças tratadas com doses mais elevadas; que o uso de 1 gota por dia do colírio de atropina a 0,01% di- minuiu a progressão da miopia em 50% em comparação com as crianças não tra- tadas; que o seu emprego foi seguro o su- ficiente para ser usado em crianças de 6 a 12 anos, por até 5 anos, embora mais estu- dos sejam necessários. A atropina (0,01%) causou midríase pupilar mínima (inferior a 1 mm), reduziu a sensibilidade à luz, ex- perimentada em concentrações mais ele- vadas da medicação e não desencadeou dificuldade de visão de perto, dispensan- do o uso de lentes progressivas. No Brasil, o uso da atropina para o re- tardo da progressão da miopia é “off-la- bel”; portanto, todas as crianças a serem tratadas devem primeiramente fazer parte de estudo clínico com protocolo aprova- do por comissão de ética. Os pais, ou o responsável pela criança, deverão dar o “consentimento informado”. Existem recomendações para melhorar a função de convergência e acomodação e de melhorar a higiene visual para o con- trole da miopia. As principais são as se- guintes: ■ Fazer atividades diárias de recreação em ambiente externo com 1-2 h de duração. ■ Fazer intervalos na atividade de perto ou leitura a cada 60 min. Durante esse pe- ríodo, andar na sala, olhar pela janela. ■ Usar postura relaxada à leitura, esticar os braços (para afastar o livro ou a re- vista) e sentar de forma confortável. ■ Usar iluminação adequada para ler. Evitar a formação de sombra na página de leitura e, se necessário, mudar a po- sição do foco de luz. Refratometria Ocular - Cap-03.indd 63 06/03/2017 21:20:29 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica64 ■ Limitar o tempo de TV, do videogame e computador. ■ Fazer exercícios físicos. Não existe evidência direta de que tais recomendações auxiliem no controle da miopia. ESTUDOS DE CASOS ■ Paciente com 13 anos de idade, sexo masculino, refere borramento visual para longe, percebido há 7 meses. Re- centemente, tem tido dificuldade na escola, para copiar as anotações do quadro-negro, e cefaleia, eventual- mente relacionada à leitura. Primeira avaliação. Não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe AO 0,20. ● Ceratometria OD: 43,50 180°/ 44,00 90°; OE: 43,50 180°/44,00 90°. ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra L (ortoforia) P (X’ 9 ∆). ● Amplitude de acomodação (AA) 14,00 D (AO). ● AV estereoscópica 40 cm 40 s de arco (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): AO: –1,25 D (AV 1,00). ● Px: AO: –1,25 D (1,00). – Teste de cobertura cc L e P (or- toforia). – Lentes de policarbonato ou tri- vex. – Tratamento antirreflexo. – Revisão em 12 meses. Comentários O jovem apresenta o padrão clássico de miopia não corrigida. A queixa principal é baixa de visão para longe. A AVsc 0,20 (20/100) indica miopia baixa, estimada em torno de –1,50 D, compatível com o achado do exame refratométrico sob ci- cloplegia. Observa-se que a correção da miopia não induziu foria para longe, indicando que a convergência de raios incidentes paralelos não resultou em resposta aco- modativa para longe. Então, a convergên- cia para longe permaneceu inalterada. A mudança da foria de perto de X’ 9 ∆ sem correção para orto com a correção (AO: –1,25 D) indicou que o jovem não corri- gido acomodava, consideravelmente, me- nos do que o desejável para o estímulo de perto. Assim, o padrão visual indicava miopia aparentemente acompanhada por problema de convergência/acomodação. Uma vez corrigida a miopia, nas necessi- dades de demanda visual de perto, o pa- ciente passou a acomodar mais e, conse- quentemente, a convergir mais. O processo de adaptação aos óculos para longe é muito rápido. As alterações provocadas no sistema acomodação/con- vergência para perto podem inicialmente causar, na visão de perto corrigida, algum desconforto ou fadiga visual, que desapa- rece em dias. ■ Paciente com 9 anos de idade, sexo feminino, borramento visual para lon- ge com os óculos receitados há 1 ano. Refratometria Ocular - Cap-03.indd 64 06/03/2017 21:20:30 Miopia 65 Não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVcc longe OD: –2,25–0,25 80° (AV 0,67) e OE: –2,00–0,25 90° (AV 0,50). ● Ceratometria OD: 44,00 170°/44,50 80°; OE: 44,00 180°/44,50 90°. ● Teste de cobertura L e P (ortoforia). ● AA 15,00 D (AO). ● Relação CA/A 7/1. ● AV estereoscópica 40 cm 40 s (Ste- reo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): OD: –3,00–0,25 80° (AV 1,00) e OE: –3,00–0,25 90° (AV 1,00). ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra L (ortoforia) P (E’ 5 ∆). – A correção foi montada em ar- mação de provas para compara- ções com os óculos em uso. A jovem preferiu a visão de longe com a armação de provas e a vi- são de perto com seus óculos. – Px: OD: –3,00–0,25 80° e OE: –3,00–0,20 900/+1,00 add., montada em lentes bifocais flat top; solicitou-se ao óptico mon- tar a película de adição 2 mm mais alta que a usual. – Lentes de policarbonato ou tri- vex. – Tratamento antirreflexo. – Uso constante dos óculos. – Revisão em 3 e 6 meses. Comentários A jovem apresentou o padrão de miopia com excesso de convergência. Note que, na miopia “habitual”, é comum encontrar exoforia para perto. No caso, a paciente com a miopia corrigida apresentou esofo- ria para perto. Isto indica que a estimulação da convergência está envolvida na resposta acomodativa para estímulos de perto. O excesso de convergência é tratado com a adição de lentes positivas para per- to. O objetivo é prescrever a menor adição que elimine os sintomas e traga a esofo- ria da paciente para mais perto da orto- foria. Antes da prescrição das lentes bifo- cais, confirmou-se a redução da esoforia de perto com a adição de +1,00 D, colo- cando-se esse valor em armação de provas e medindo-se a foria resultante com o teste prisma-cobertura. Nos casos de relação AC/A alta (como nesse caso), o uso de adição de perto é mais efetivo do que prismas horizontais. Uma exceção a favor dos prismas hori- zontais são os casos de excesso de con- vergência associados a moderada para alta esoforia de longe, quando se prescre- vem prismas de BT. Nos retornos em 3 e 6 meses, referiu uso constante e confortável dos óculos bifocais. ■ Paciente com 16 anos de idade, sexo masculino, borramento visual para lon- ge e, eventualmente, para perto após lei- tura prolongada. A visão de longe piora quando está cansado. Não usa medica- ção. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe AO varia de 1,00 a 0,80 e perto J 1,00. ● Ceratometria OD: 43,50 170°/44,00 80°; OE: 43,25 180°/43,75 90°. Refratometria Ocular - Cap-03.indd 65 06/03/2017 21:20:30 RefratometriaOcular e a Arte da Prescrição Médica66 ● AV estereoscópica 40 cm 40 s de arco (Stereo Fly Test). ● AA 11, 00 D (AO). ● Relação AC/A 4:1. ● Refração dinâmica. AO: –0,75 D (AV 1,00). ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): AO: –0,25 D (AV 1,00). – Teste de cobertura L (X 4 ∆) e P (E’ 2 ∆). – Amplitude de divergência (Pris- ma BN) L 4 ∆. – Amplitude de convergência (Prisma BT) L 10 ∆. – Não Px de óculos. – Terapia visual para estimular vergência fusional. – Revisão em 6 meses. Comentários O jovem apresentou padrão normal de fo- ria longe e perto. Inicialmente, imaginou- se o quadro de alteração da acomoda- ção como causador dos sintomas visuais. No entanto, a AA foi normal para a ida- de (11,00 D em AO). Dado que o jovem apresentou função acomodativa normal, passou-se a considerar o diagnóstico de alteração de vergência fusional. Conside- rando-se que o erro refrativo encontrado foi julgado insignificante e a prescrição de óculos (–0,25 D em AO) não aliviaria o problema, estes não foram prescritos. O jovem foi encaminhado para terapêutica visual e foram realizados exercícios or- tópticos para aumentar a vergência fusio- nal. Após os exercícios, sentiu-se confor- tável e, assim, persistiu na avaliação de 6 meses. Após a série de 16 exercícios or- tópticos, o resultado foi o seguinte: ● Prisma BN L 10 ∆. ● Prisma BT L 20 ∆. ■ Paciente com 11 anos de idade, sexo feminino, borramento visual para lon- ge, algumas vezes perda de foco para perto com leitura prolongada. A visão de longe algumas vezes melhora, ou- tras piora. Não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe AO 0,80. ● Ceratometria AO: 44,25 180°/44,50 90°. ● AV estereoscópica 40 cm 80 s arco (Stereo Fly Test) ● Refração dinâmica AO: –0,75 D (AV 1,00). – Teste de cobertura/prisma-co- bertura L (E 4 ∆) P (E’ 10 ∆). – Prisma BN L 6 ∆. – Prisma BT L 20 ∆. ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): – AO: +4,00 D (AV 0,80). Px: AO: +2,50 D (AV 0,67). – Lentes de policarbonato ou tri- vex. – Tratamento antirreflexo. – Uso constante dos óculos. – Revisão em 3 e 6 meses. Refratometria Ocular - Cap-03.indd 66 06/03/2017 21:20:30 Miopia 67 Comentários A jovem apresenta o padrão de pseudo- miopia por acomodação prolongada asso- ciada a grau moderado/alto de hipermetro- pia. Frequentemente, essa inflexibilidade do mecanismo acomodativo resulta em superacomodação, que causa essa forma de miopia secundária. Os sintomas in- cluem flutuação e borramento da AV de longe e de perto e astenopia de perto. Tra- ta-se de hipermetropia não compensada (embora a refração sem cicloplegia mos- tre miopia), e não de um defeito genuíno de convergência, que é o responsável pela convergência excessiva e insuficiência de divergência. O diagnóstico do erro refrativo é feito com o exame refratométrico realizado sob cicloplegia. A correção óptica é feita com a prescrição de lentes positivas. Inicialmente, pode-se prescrever uma correção conser- vadora (AO +2,50 D) para uso constante. O valor da lente positiva pode ser decidido em função do total do erro refrativo encon- trado, mas nossa preferência é pelo exame refratométrico pós-cicloplegia. A pacien- te deve ser instruída a respeito das dificul- dades iniciais de adaptação com os novos óculos. Nos exames subsequentes, tenta-se aumentar a correção positiva, uma vez que o uso dos óculos relaxa a acomodação, e o paciente passa a aceitar com mais facilida- de maior correção positiva. ■ Paciente com 10 anos de idade, sexo feminino, borramento visual para longe com os óculos em uso. Pratica esporte coletivo (voleibol). Não usa medica- ção. Sem antecedentes de interesse. ● AV longe OD: –1,75–1,25 95° (0,40) e OE: –2,00–0,50 80° (0,40). ● Ceratometria OD: 42,75 180°/ 41,00 90° e OE: 42,50 180°/41,00 90°. ● AV estereoscópica 40 cm 40 s (Ste- reo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): ● OD: –2,75–1,00 90° e OE: –2,75–0,75 90° (AV 1,00). ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra L (ortoforia) P (E’ 8 ∆). – Com adição de +1,00 P 40 cm (orto). – Relação AC/A 6/1. ● Px: OD: –2,75–1,00 90° e OE: –2,75–0,75 90° / +1,00 D add mon- tada em bifocal flat top, solicitan- do-se ao óptico montar a pelícu- la de adição 2 mm mais alta que o usual. – Lentes de policarbonato ou tri- vex. – Tratamento antirreflexo. – Uso constante dos óculos. – Revisão em 3 e 6 meses. Comentários A jovem apresenta queixa visual compa- tível com o aumento (progressão) da mio- pia. A AVcc (0,40) é compatível com a al- teração verificada do erro refrativo (–1,00 D). A paciente tem esoforia para perto com a correção da miopia. Nessas condi- ções existem evidências de que se pode obter redução da taxa de progressão da miopia com a prescrição de lentes bifocais Refratometria Ocular - Cap-03.indd 67 06/03/2017 21:20:30 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica68 (adição positiva para perto). Nesse trata- mento, existe controvérsia; deve-se discu- tir o custo-benefício com a paciente e seus pais ou responsáveis. O aumento da correção negativa me- lhorou a AV de longe; no entanto, deter- minou esoforia para perto. A adição de perto reduz a astenopia acomodativa e pode desempenhar algum papel no con- trole da progressão da miopia. O valor da adição pode ser calculado com base na re- lação AC/A ou testado com a adição de lentes positivas para perto de diversos po- deres dióptricos, até que se consiga redu- zir a esoforia de perto. ■ Paciente com 30 anos de idade, sexo masculino, refere leve borramento vi- sual para longe e desconforto na leitura (30 a 60 min) com os óculos prescritos há 2 anos. Muitas vezes, tira os óculos para ler. Não usa medicação. Sem an- tecedentes de interesse. ● AV longe OD: –5,00–1,25 180° (AV 0,80) e OE: –3,50–1,50 180° (AV 0,80). ● Ceratometria OD: 44,00 180°/ 45,75 90° e OE: 44,00 180°/45,75 90°. ● AV estereoscópica 40 cm 40 s (Ste- reo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): – OD: –5,25–1,25 180° (AV 1,00) e OE: –3,75–1,75 180° (AV 1,00). – Teste de cobertura/prisma-co- bertura L (ortoforia ) P (X’ 5 ∆). – Amplitude de acomodação 3,00 D (AO). – Insuficiência de acomodação – adição de +1,00. ● Px: OD: –5,25–1,25 180° (AV 1,00) e OE: –3,75–1,75 180° (AV 1,00). – Com adição de +1,00 D (lentes progressivas). – Lentes de policarbonato ou tri- vex. – Uso constante dos óculos. – Revisão em 6 meses. Comentários Os sintomas relacionados com a dimi- nuição da visão de longe são consisten- tes com a alteração da miopia nos dois olhos. A nova correção deve ser monta- da em armação de provas para o paciente verificar sua influência na visão de longe. Os sintomas relacionados com o descon- forto na leitura são em razão da insuficiên- cia de acomodação. A AA média espera- da para a idade seria 9 D, a encontrada foi de 3 D. A remoção dos óculos para a leitura não é considerada uma medida efetiva, dado o alto grau da miopia, presença de anisometropia e astigmatismo não corri- gidos. A avaliação do erro refrativo deve ser feita com a refratometria estática para orientar a prescrição de longe. A adição de +1,00 D para perto considera o uso de metade da AA, que pode ser usada com conforto para a visão de perto (3/2=1,50 D). O esforço acomodativo para ler a 40 cm é +2,50 D. A prescrição de +1,00 D de adição para perto vem da diferença entre Refratometria Ocular - Cap-03.indd 68 06/03/2017 21:20:30 Miopia 69 o esforço acomodativo para ler a 40 cm (2,50 D) e a metade da AA (1,50 D). Assim, confirma-se o achado com a montagem dessa correção em armação de provas. A correção poderia ser feitacom a prescrição de dois óculos, um para longe e outro para perto. O paciente preferiu len- tes progressivas. ■ Paciente com 35 anos de idade, sexo masculino, sem queixas com os ócu- los em uso, veio para exame de rotina. Não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AV longe OD: –1,50–0,50 180° (AV 1,00) e OE: –1,50–0,25 180° (AV 1,00). ● Ceratometria OD: 43,00 180°/43,75 90° e OE: 43,00 180°/44,00 90°. ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): OD: –1,75–0,50 180° (AV 1,00) e OE: –1,75–0,25 180° (AV 1,00). ● Teste de cobertura L e P (ortoforia). ● Px: OD: –1,75–0,50 180° e OE: –1,75–0,25 180°. – Lentes de policarbonato ou tri- vex. – Tratamento antirreflexo. – Uso constante dos óculos. – Revisão em 12 meses. Comentários A falta de queixas visuais do paciente é consistente com os achados. A acuidade visual melhora um pouco com o aumento de –0,25 D em cada lente. Essa nova cor- reção deve ser montada em armação de provas para o paciente avaliar se a melho- ra justifica modificar a correção em uso. Caso o paciente não refira melhora signifi- cativa com a nova correção, a recomenda- ção de novos óculos só será feita se hou- ver degradação da armação ou das lentes em uso. ■ Paciente com 15 anos de idade, sexo masculino, diminuiu a visão de longe com os óculos em uso. Pratica espor- tes, joga futebol de salão e basquete. Não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AV longe OD: –4,25 D (AV 0,67) e OE: –4,50 D (AV 0,67). ● Ceratometria OD: 42,00 180°/ 42,75 90° e OE: 42,00 180°/43,25 90°. ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): OD: –4,75 D (AV 1,00) e OE: –4,75–0,50 180° (AV 1,00). ● Teste de cobertura L e P (ortoforia). ● Px: OD: –4,75 D (AV 1,00) e OE: –4,75–0,50 180° (AV 1,00). – Lentes de policarbonato ou tri- vex. – LC de silicone-hidrogel. – Revisão em 12 meses. Comentários As queixas visuais do paciente são consis- tentes com a progressão da miopia. Essa nova correção deve ser montada em arma- ção de provas para o paciente avaliar a me- Refratometria Ocular - Cap-03.indd 69 06/03/2017 21:20:30 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica70 lhora na visão. As LC são adequadas para o paciente praticar suas atividades esportivas e sociais. Mesmo usando LC, o paciente precisa ter óculos com correção atualiza- da, evitando o uso exagerado da LC em si- tuações de risco (olho vermelho, sensação de corpo estranho, fotofobia, dor etc.). ■ Paciente com 19 anos de idade, sexo masculino, notou redução da visão de longe com os óculos em uso. Pratica natação. Não usa medicação. Sem an- tecedentes de interesse. ● AV longe OD: –3,25 D (AV 0,67) e OE: –3,50 D (AV 0,67). ● Ceratometria OD: 42,00 180°/ 42,75 90° e OE: 42,00 180°/43,25 90°. ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): OD: –4,00 D (AV 1,00) e OE: –4,25 D (AV 1,00). ● Teste de cobertura L e P (ortoforia). ● Px: OD: –4,00 D e OE: –4,25 D. – Lentes de policarbonato ou trivex. – Tratamento antirreflexo. – Lentes de contato de silicone- hidrogel. – Óculos de natação com lentes de policarbonato de –4,00 D. – Revisão em 12 meses. Comentários As queixas visuais do paciente decorreram do aumento da miopia. As LC são ade- quadas para o paciente praticar ativida- des esportivas e sociais, exceto natação. Recomendou-se ao paciente a aquisição de óculos de natação com a graduação de –4,00 D. No caso de não os encontrar, o paciente foi instruído a levar ao óptico seus óculos de natação com lentes planas e solicitar a troca delas por lentes de poli- carbonato (OD: –4,00 D e OE: –4,25 D). ■ Paciente com 27 anos de idade, sexo masculino, sente alguma dificuldade na visão de longe com os óculos em uso. Não usa medicação. Sem antece- dentes de interesse. ● AV longe OD: –1,25 D (AV 1,00) e OE: –1,50 D (AV 1,00). ● Ceratometria OD: 42,00 180°/42,75 90° e OE: 42,00 180°/43,25 90°. ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): AO: –1,50 D (AV 1,00)/4 m. – Teste de cobertura L e P (orto- foria). – Px: AO: –1,75 D (AV 1,00). – Lentes de policarbonato ou tri- vex. – Revisão em 18 meses. Comentários Houve discreto aumento da miopia no OD e não houve alterações da visão bino- cular. A nova correção foi montada em ar- mação de provas para o paciente verificar a melhora em sua visão. Como o exame refratométrico foi feito em uma sala com 4 m de comprimento, foi necessário adi- cionar –0,25 D em ambas as lentes (o que corresponderia a um exame realizado em Refratometria Ocular - Cap-03.indd 70 06/03/2017 21:20:30 Miopia 71 sala com 6 m de comprimento). Por essa razão, prescreveu-se para AO –1,75 D. SUMÁRIO Os fundamentos da correção óptica na miopia são os mesmos para a correção de outros erros refrativos, ou seja, prover AV clara, confortável, assim como melhorar a eficiência visual para perto e longe. A visão clara para longe é obtida com a prescrição das lentes negativas de menor valor para tal. Para a visão clara de perto, é fundamental verificar se, com a correção de longe, não ocorre alteração da acomo- dação e convergência; nas pessoas com 40 anos ou mais, considerar a presbiopia. REFERÊNCIAS 1. Goss DA. Myopia. In: Brookman KE (ed). Refrac- tive Management of Ametropia. Boston: Butter- worth-Heinemann, 1996; 13-40. 2. Donders FC. 1864. On the Anomalies of Ac- comodation and Refraction of the eye. Apud Rosenfield M. Refractive status of the eye. In: Benjamin WJ (ed). Borish’ Clinical Refraction. St. Louis: Butterworth-Heinemann/Elsevier, 2006; 4. 3. Borish IM. Apud Rosenfield M. Refractive status of the eye. In: Benjamin WJ (ed). Borish’ Clinical Refraction. St. Louis: Butterworth-Heinemann/El- sevier, 2006; 4. 4. Hirsch MJ. Apud Rosenfield M. Refractive status of the eye. In: Benjamin WJ (ed). Borish’ Clinical Refraction. St. Louis: Butterworth-Heinemann/El- sevier, 2006; 4. 5. Sorsby A, Benjamin B, Davey JB. Emmetropia and its Aberrations. 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SINAIS E SINTOMAS As pessoas portadoras de astigmatismo não corrigido com frequência referem sin- tomas astenopeicos, como cefaleia, des- conforto ocular, cansaço ocular, quei- mação e olhos irritados.1-3 Os astigmatas corrigidos necessitam de algum tempo pa- ra se acostumarem aos óculos, em razão da distorção espacial que experimentam. Na maioria dos casos, a adaptação ocor- re em dias ou semanas,4 mas alguns pa- cientes com dificuldade procuram diferen- tes oftalmologistas e chegam às consultas trazendo vários óculos, com os quais não têm conforto e enxergam deformado. O astigmatismo maior que 2 D representa pequena porcentagem (2 a 6%) de todos os casos de astigmatismo.1 Há várias causas anatômicas para o as- tigmatismo de baixo poder dióptrico, po- rém os de grande magnitude são resulta- do de diferentes curvaturas da córnea.4 As lentes de alto poder dióptrico alteram a forma da imagem por causa de magnifica- ções meridionais e pelo efeito prismático que podem induzir. Quando são prescri- tas pela primeira vez ou, então, quando há modificação de poder ou eixo do cilindro em relação à correção anterior, elas po- dem dificultar sua aceitação. A aparência da imagem no astigmatis- mo é mostrada na Figura 1, na qual a pri- meira cruz com os meridianos vertical (V e V1) e horizontal (H e H1) representa o obje- to; a segunda cruz refere-se ao astigmatis- mo corneano, sendo o meridiano vertical (C1) mais curvo que o horizontal (C2); as flechas indicam o local onde a imagem é formada nos distintos tipos de astigmatis- mo, e assinalam ainda a aparência da ima- gem nas linhas focais anterior e posterior do conoide de Sturm. Refratometria Ocular - Cap-04.indd 75 06/03/2017 21:24:22 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica76 CLASSIFICAÇÕES Classificação em regular e irregular O astigmatismo regular tem os dois meri- dianos principais a ângulos retos um do outro. No astigmatismo irregular, os dois meridianos principais não estão a ângulos retos e, geralmente, o defeito é secundário a doença corneana ou trauma, coloboma de fibras zonulares, pterígio, subluxação do cristalino, cirurgia de catarata.5 Classificação pela contribuição dos componentes oculares Córnea anterior: o astigmatismo é mais comumente produzido pela toricidade da superfície anterior da córnea. Variações nos raios de curvatura anteriores da cór- nea, que ocorrem na interface ar/filme la- crimal, produzem o maior efeito dióptrico. A pressão externa exercida pelas pálpe- bras ou estruturas perioculares (calázio ou tumores) é causa de astigmatismo cornea- no anterior.5 Córnea posterior: pelo fato de a torici- dade da face posterior da córnea ser mais difícil de ser medida e por sua contribui- ção ser relativamente pequena, em geral ela é ignorada na prática clínica.6 Cristalino: o astigmatismo pode ser pro- duzido pela toricidade das superfícies ante- rior e posterior ou pela inclinação da len- te. Duke-Elder e Abrams7 notaram que as superfícies anterior e posterior do cristalino com frequência exibem astigmatismo, mas de magnitude pequena e na direção opos- ta à do astigmatismo corneano. Tsherning8 observou que uma pequena quantidade de astigmatismo resulta da inclinação fisioló- gica do eixo cristaliniano, com 3° a 7° de rotação no eixo vertical e até 3° de inclina- ção no eixo horizontal, com o topo da len- te posicionado anteriormente à sua porção inferior. Isto resulta em quase 0,25 DC de astigmatismo contra a regra. Outras causas: normalmente, a fóvea não está localizada no eixo óptico, mas deslocada inferotemporalmente.9 Consi- derando o valor de 5° para o ângulo alfa, que é o ângulo entre o eixo óptico e o eixo visual, isto produziria astigmatismo oblí- quo de 0,10 DC. Linha focal anterior Linha focal posterior Astigmatismo hipermetrópico composto Astigmatismo hipermetrópico composto Astigmatismo hipermetrópico simples Astigmatismo miópico simples Astigmatismo miópico composto V V 1 H H 1 C 1 C 2 Figura 1 A aparência da imagem no astigmatismo. Refratometria Ocular- Cap-04.indd 76 06/03/2017 21:24:23 Astigmatismo 77 Classificação pela orientação dos meridianos principais da córnea O astigmatismo é classificado pela orien- tação dos meridianos principais da córnea em:5 ■ Astigmatismo com a regra: quando o meridiano corneano com o menor po- der refrativo é horizontal e está entre 20° e 160°. ■ Astigmatismo contra a regra: quando o meridiano com o menor poder refrati- vo está entre 70° e 110°. ■ Astigmatismo oblíquo: quando o meri- diano com o menor poder refrativo está entre 20° e 70° ou entre 110° e 160°. Classificação pelo erro refrativo O astigmatismo é classificado consideran- do-se a posição relativa das imagens re- tínicas de um objeto distante, sob condi- ções de mínima acomodação.5 ■ Astigmatismo simples: uma das ima- gens está localizada no plano da reti- na e, dependendo da localização rela- tiva da outra imagem, o astigmatismo é classificado como miópico simples (a outra imagem é focada antes da reti- na) ou hipermetrópico simples (a outra imagem é focada atrás da retina). ■ Astigmatismo composto: nenhuma das imagens está localizada no plano da retina; é miópico composto (ambas as imagens são focadas antes da retina) ou hipermetrópico composto (ambas as imagens são focadas atrás da retina). ■ Astigmatismo misto: uma imagem é fo- cada antes da retina e a outra atrás da retina. ETIOLOGIA A etiologia da maior parte dos astigmatis- mos é desconhecida.10,11 Uma hipótese co- mum é a de que a tensão palpebral encur- ve o meridiano vertical da córnea e cause o astigmatismo com a regra. Quando as pálpebras são levantadas ou afastadas do olho, observa-se diminuição do astigma- tismo com a regra na maioria dos casos.12 Por outro lado, o astigmatismo com a re- gra medido com o refrator computadori- zado aumenta quando se estreita a aber- tura palpebral. Relatos de casos mostram que calázio e massas palpebrais induzem a astigmatismo corneano.13,14 Contudo, há dois estudos que não encontraram a rela- ção entre tensão palpebral e astigmatis- mo.15,16 Sugere-se que a mudança para as- tigmatismo contra a regra nas pessoas com mais de 40 anos seja em razão da dimi- nuição da tensão palpebral. Vihlen e Wil- son15 não demonstraram diminuição da tensão palpebral com a idade. A contra- ção de músculos extrínsecos oculares tam- bém poderia causar pequenas alterações na curvatura corneana, o que é observado quando há convergência.17,18 FUNDAMENTOS DA CORREÇÃO ÓPTICA Idade do paciente Os anos iniciais de vida são críticos para o desenvolvimento visual normal. O astig- matismo identificado nessa fase precoce da vida (1 a 2 anos de idade) pode sofrer mu- danças significativas, com tendência para redução ou desaparecimento.19 Assim, o astigmatismo pequeno, bilateral, simétrico e regular não deve ser corrigido. No en- Refratometria Ocular - Cap-04.indd 77 06/03/2017 21:24:23 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica78 tanto, nos casos de astigmatismo alto, es- pecialmente o meridional, é preciso que seja feita a prescrição total do defeito para permitir o desenvolvimento visual normal e prevenir a instalação de ambliopia.20 Em crianças acima dos 2 anos de ida- de, portadoras de astigmatismo limítrofe, preconiza-se o exame a cada 3 meses e, se a magnitude do astigmatismo perma- necer estável em três visitas consecutivas, prescreve-se a correção total para uso em tempo integral. As crianças aceitam muito bem a prescrição total, que deve ser de- terminada pelo exame refratométrico sob cicloplegia, e adaptam-se facilmente aos óculos. Esta também é a conduta para crianças mais velhas (10 anos de idade) e que nunca usaram óculos.21 A conduta no astigmatismo em crianças está na Figura 2. Os pacientes adultos apresentam redu- ção de plasticidade cerebral e aumento de demanda visual e, por isso, podem expe- rimentar mais sintomas provocados pela distorção espacial quando usarem seus novos óculos. Assim, a abordagem do paciente adul- to portador de astigmatismo é diferente. Discute-se se a prescrição deve ser par- cial ou total, e muitos autores prescrevem o valor total como primeira opção. Nesse caso, é necessário esclarecer ao paciente as possíveis distorções espaciais que, de Astigmatismo Dentro dos limites superiores normais 0-1 ano ≤ 2,50 DC 1-3 anos ≤ 2,00 DC > 3 anos ≤ 0,75 DC Fora dos limites superiores normais Pequena magnitude borderline Repetir exame 3-6 meses Não redução AV e visão binocular normal Seguimento AV e visão binocular alterada Prescrição Redução para valores normais Grande magnitude eixo oblíquo Prescrição Figura 2 Conduta clínica no as- tigmatismo em crianças (AAPOS, 2013). Refratometria Ocular - Cap-04.indd 78 06/03/2017 21:24:23 Astigmatismo 79 início, acontecerão ao usar seus primei- ros óculos.21 Nos pacientes que tenham desconforto com os óculos em uso e que apresentem melhora da AV com a modifi- cação do eixo e/ou do poder da lente no novo exame, indica-se a prescrição total do defeito.21 Indica-se prescrição parcial para pa- cientes ansiosos, altamente sensíveis, críticos ou meticulosos. Quando há his- tória de frequentes alterações da prescri- ção do astigmatismo de alto grau com eixos oblíquos, o que aumenta a distor- ção espacial, a prescrição parcial pode- rá proporcionar melhor adaptação.21 O eixo e o poder do cilindro para perto po- dem ser diferentes do medido para lon- ge, quando o astigmatismo é moderado a alto, sendo importante fator a ser con- siderado na prescrição de pessoas astig- máticas e presbitas. Em pacientes com anisometropia astig- mática, deve-se dar atenção à indução de possível aniseiconia e também de aniso- foria vertical induzida na área de leitura, como causas do desconforto ocular.21 Magnitude do astigmatismo O astigmatismo de baixo poder dióptri- co não corrigido provoca mais queixas de astenopia do que alteração da acuidade visual. No astigmatismo de alto grau, há maior dificuldade do paciente de aceitar a correção, lembrando-se que, muitas ve- zes, ele está associado a altos graus esféri- cos (miopia ou hipermetropia). Nas crianças com alta hipermetropia e alto astigmatismo, a incidência de am- bliopia aumenta se a primeira prescrição não for feita no momento adequado. As crianças com alta miopia e astigmatismo conseguem, sem os óculos, estimular o desenvolvimento da visão, embora pre- cariamente, com atividades para perto, diminuindo o risco de ambliopia. Para o astigmatismo irregular, a melhor opção de correção é o uso de LC.21 Acomodação e vergência A correção óptica, em casos de astigma- tismo bilateral, pode aumentar a vergên- cia fusional, contribuindo para superar pe- quenas anomalias da binocularidade. A obtenção de imagens retínicas mais defi- nidas melhora o desempenho da acomo- dação e da vergência fusional, justificando a correção óptica do astigmatismo no ma- nejo inicial dessas anomalias. Com a nova correção, deve-se sempre analisar a bino- cularidade, pois o paciente previamente assintomático com defeito refracional não corrigido e suprimindo o uso de um dos olhos, pode experimentar diplopia ou es- trabismo após o uso da correção do astig- matismo.22,23 Outra condição que exige especial atenção é a prescrição da correção cilín- drica total, no caso de alto astigmatismo em um olho e defeito esférico no outro olho, o que poderá desencadear o apare- cimento de anisoforia sintomática quando o paciente olhar pela periferia das lentes (efeito prismático). Nesse caso, a melhor opção é a prescrição parcial do astigma- tismo, exceto na criança com ambliopia.21 Nos astigmatismos altos, é aconselhá- vel medir o eixo e o poder do cilindro tan- to para perto quanto para longe. A falha no ajuste do eixo e do poder do cilindro para perto pode causar diminuição da AV Refratometria Ocular - Cap-04.indd 79 06/03/2017 21:24:23 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica80 para perto em razão da exciclotorção que ocorre quando os olhos convergempara observar um objeto próximo, pois o eixo do cilindro torna-se desalinhado com os meridianos principais do olho e o paciente refere borramento da visão. A medida da alteração do poder e do eixo do cilindro é feita realizando-se a re- fratometria binocular com um texto para perto. Inicialmente, o olho esquerdo é “miopizado” e o olho direito é submetido ao exame, utilizando-se o cilindro cruzado de Jackson para refinar o eixo e o poder do cilindro. O mesmo procedimento é repeti- do no olho esquerdo. A diferença longe – perto, no eixo do cilindro, maior que 5° ou, no poder dióptrico, maior que 0,75 DC pode causar desconforto se não for corri- gida. A solução mais efetiva é a prescrição de óculos separados, um para longe e outro para perto, com os valores apropriados dos componentes eixo e poder dióptrico.21 Aniseiconia Pelo fato de as lentes cilíndricas terem dife- rente poder em cada meridiano, a magnifi- cação (ou minimização) dos objetos varia em cada um deles. Quando a diferença é de 1,00 DC ou mais entre os meridianos, o paciente pode perceber aniseiconia, es- pecialmente meridional, e, também, distor- ção espacial.21 Lentes oftálmicas Para melhorar o conforto da correção óp- tica do astigmatismo, devemos considerar os seguintes aspectos:21 ■ Tamanho da armação: o tamanho da armação deve ser o menor possível. O menor diâmetro da lente previne a dis- torção espacial periférica. ■ Distância vértice: a distância vértice deve ser a menor possível. A diminui- ção da distância vértice de lentes posi- tivas diminui e de lentes negativas au- menta o poder de magnificação. ■ Cilindro negativo: o uso de cilindro ne- gativo na superfície posterior da lente minimiza o efeito de distorção. ■ Centro óptico: alinhamento preciso dos centros ópticos é muito importan- te, pois seu desalinhamento com os ei- xos visuais determina problemas. ■ Índice de refração do material das len- tes: a utilização de índices de refração mais altos permite a confecção de len- tes mais finas e com curva-base mais plana, fatores que afetam a magnifica- ção da imagem. Se os pacientes forem adequadamen- te orientados sobre a distorção espacial que as lentes cilíndricas provocam, e o médico seguir as recomendações para os desenhos das lentes, a maioria deles tem adaptação satisfatória em 2 a 3 semanas. No entanto, se os pacientes continuarem a apresentar problemas, a suspeita é de ani- seiconia, quando então se considera a in- dicação de correção iseicônica, alterando- se um ou mais dos seguintes parâmetros: curva-base, distância vértice, espessura e posicionamento da faceta da lente no bisel do aro da armação. O uso de lentes isei- cônicas raramente é feito na prática geral. Essas lentes oferecem cosmética pobre e são muito caras.24-27 Uma alternativa para os casos sintomáticos é o uso de LC, que Refratometria Ocular - Cap-04.indd 80 06/03/2017 21:24:23 Astigmatismo 81 elimina a aniseiconia meridional e propor- ciona visão binocular mais confortável. ESTUDOS DE CASOS ■ Paciente com 22 anos de idade, sexo feminino, dor ao redor dos olhos e cansaço visual nas atividades de leitu- ra, escrita e uso de computador. Uso eventual de aspirina devido cefaleia. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe OD: 1,00 OE: 1,00–2 e perto J 1. ● Teste cobertura/prisma-cobertura longe ortoforia e perto X’ 4 ∆. ● Ceratometria OD: 43,00 10°/43,50 100° e OE: 43,00 40°/43,75 130°. ● AV estereoscópica 40 s (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia: OD: +1,00–0,50 10° (AV 1,00) e OE: +1,00–0,50 40° (AV 1,00). Px: OD: +0,50–0,50 10° e OE: +0,50–0,50 40°. – Teste de cobertura longe e perto ortoforia. – Lentes de policarbonato ou tri- vex. – Uso constante dos óculos por 2 semanas para adaptação e, de- pois, quando estiver exercendo atividades visuais de perto. – Revisão anual. Comentários É um caso de astigmatismo hipermetrópi- co composto, sendo o do OD com a re- gra e do OE oblíquo. A paciente apresenta AVsc longe OD 1,00 e OE 1,00–2 e AV de perto J 1; sua queixa não é baixa de AV. A paciente apresenta a queixa mais comum do portador de astigmatismo baixo, que é o desconforto visual na realização de ati- vidades de perto. O astigmatismo baixo é compensado pela acomodação que coloca o círculo de menor confusão no plano da retina. A correção óptica do astigmatismo melhora a qualidade da AV em AO e, como conse- quência, a visão binocular. A prescrição de óculos para a correção de astigmatis- mo baixo só se justifica se houver queixa de baixa de visão e/ou de astenopia (como ocorre nesse caso). No decorrer do tempo, espera-se que pacientes com astigmatismos baixos apre- sentem pouca ou nenhuma modificação no poder e/ou no eixo do cilindro refrativo e pouca ou nenhuma alteração na AV. ■ Paciente com 28 anos de idade, sexo masculino, lacrimejamento, aumento da frequência do piscar e desconfor- to nas atividades de leitura, escrita e uso do computador. Lê muito de perto. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe OD: e OE: 1,00 e perto OD e OE J 1. ● Ceratometria OD: 43,75 180°/43,00 90° e OE: 44,25 180°/43,75 90°. ● AV estereoscópica 40 s (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia: OD: +0,75–0,75 90° (AV 1,00) e OE: +0,75–0,75 90° (AV 1,00). Px: OD: +0,75–0,75 90° e OE: +0,75–075 90°. Refratometria Ocular - Cap-04.indd 81 06/03/2017 21:24:23 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica82 ● Teste de cobertura longe e perto or- toforia. – Lentes de policarbonato ou trivex. – Tratamento antirreflexo. – Uso constante dos óculos du- rante 1 a 2 semanas e, depois, quando da execução de ativida- des de perto. – Revisão a cada 1 a 2 anos. Comentários É um caso de astigmatismo hipermetrópi- co simples contra a regra. Novamente, o astigmatismo não corrigido é a causa prin- cipal das queixas do paciente. A AVsc é pouco afetada para longe e perto (longe e perto AO 1,00); por isso, a queixa não é baixa de AV. Na fase inicial da adaptação aos óculos, o paciente pode se queixar de diminuição da AV para longe e de distor- ção espacial. Os óculos devem ser usados constante- mente nas primeiras 2 semanas e, depois, quando sentir necessidade de conforto nas atividades de perto. O astigmatismo baixo é compensado pela acomodação que co- loca o círculo de menor confusão no pla- no da retina. De novo, a correção óptica do astigmatismo melhora a qualidade da AV de AO e, como consequência, a visão binocular. A prescrição de óculos para a correção do astigmatismo baixo só se jus- tifica se houver queixa de baixa visão e/ou de astenopia (como ocorre nesse caso). ■ Paciente com 15 anos de idade, sexo masculino, refere dor ocular, cansaço e borramento visual de longe e per- to. Faz 5 meses que perdeu os óculos prescritos há 3 anos. Usou os primei- ros óculos quando tinha 5-6 anos de idade. Atualmente, tem reduzido a fen- da palpebral fechando parcialmente os olhos, para melhorar a AV de longe. Não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe OD: 0,25 e OE: 0,33 e perto J 1. ● Ceratometria OD: 41,75 170°/44,75 80° e OE: 41,75 180°/44,25 90°. ● AV estereoscópica 40 s (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia: OD: +0,50–3,75 180° (AV 1,00) e OE: +0,50–2,75 40° (AV 1,00). Px: OD: +0,50–3,75 180° e OE: +0,50–2,75 40°. ● Teste de cobertura longe e perto or- toforia. – Lentes de policarbonato ou tri- vex. – Uso constante dos óculos. – Revisão anual. Comentários O paciente fecha parcialmente os olhos (fenda estenopeica) para melhorar a AV de longe sem correção. Nos casos de as- tigmatismos altos, não corrigidos por um longo período de tempo, se o círculo de menor confusão não for colocado no pla- no da retina pela acomodação, é possível que um meridiano seja mais bem focado (imagem mais clara) que o outro (imagem mais borrada). Isto gera tendência para o desenvolvimento de ambliopia na criança e persistência dessa anormalidade no jo- RefratometriaOcular - Cap-04.indd 82 06/03/2017 21:24:23 Astigmatismo 83 vem e no adulto. O jovem não corrigido apresenta astenopia e baixa visão. No en- tanto, a AVcc é 1,00 no OD e no OE. Em crianças, astigmatismos altos po- dem desencadear quadro de ambliopia meridional se não forem pronta e adequa- damente corrigidos. Como o paciente é jo- vem, inicialmente prescreve-se a correção total do astigmatismo. Espera-se que, no decorrer do tempo, esses pacientes apre- sentem pouca ou nenhuma modificação do poder e/ou do eixo do cilindro, já que a influência maior no astigmatismo foi de- terminada pelas alterações da curvatura corneana. ■ Paciente com 32 anos de idade, sexo masculino, programador de computa- ção, borramento visual no uso do com- putador, e, quando cansado, refere al- gum borramento ao assistir TV. Não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe OD e OE 0,80 e perto OD e OE J 1. ● Ceratometria OD: 43,25 40°/44,00 130° e OE: 43,00 125°/43,25 35°. ● AV estereoscópica 40 s (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia: OD: +0,25–0,75 40° (AV 1,00) e OE: +025–0,75 125° (AV 1,00). Px: OD: +0,25–0,75 40° e OE: +025–0,75 125°. ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra longe E 3 ∆ e perto ortoforia. – Lentes de policarbonato ou trivex. – Uso constante dos óculos por 1 a 2 semanas para adaptação e, depois, quando exercer ativida- de de perto. – Revisão anual. Comentários Trata-se de astigmatismo oblíquo e cor- responde ao tipo menos prevalente de as- tigmatismo. Altos graus de astigmatismos oblíquos são encontrados com frequên- cia em córneas irregulares. Nas córneas regulares, a maioria dos astigmatismos oblíquos é de pequena magnitude, e cada olho frequentemente é a imagem especu- lar do outro (como ocorre nesse caso). O astigmatismo oblíquo é a principal razão de queixa de perto do paciente. A AVcc é 1,00 em AO. No decorrer do tempo, espera-se que esses pacientes apresentem pouca ou ne- nhuma modificação no poder e/ou no eixo do cilindro refrativo, uma vez que a influência maior no astigmatismo foi de- terminada pelas alterações da curvatura corneana. No início, prescreve-se a cor- reção total do astigmatismo com indica- ção para uso constante até a adaptação aos óculos (1 a 2 semanas). Posteriormen- te, permite-se que o uso seja direcionado às atividades visuais de perto e meia dis- tância, como, por exemplo, durante seu exercício profissional. ■ Paciente com 5 anos de idade, sexo masculino, primeira avaliação; mãe refere que o filho aproxima muito dos olhos os objetos de interesse, e, nessas ocasiões, às vezes o olho direito en- torta para dentro. Não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe OD e OE 0,05 (20/400). Refratometria Ocular - Cap-04.indd 83 06/03/2017 21:24:23 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica84 ● Ceratometria OD: 37,00 130°/41,00 40° e OE: 37,25 45°/42,25 135°. ● AV estereoscópica < 400 s (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia: OD: +9,00–4,50 130° (0,50) e OE: +10,50–5,50 45° (0,50). – Decidiu-se prescrever redução de 0,50 D no componente cilín- drico. – Px: OD: +8,75–4,00 130° (0,50) e OE: +10,25–5,00 45° (0,50). ● Teste de cobertura cc longe e perto ortoforia. – Lentes de policarbonato ou tri- vex. – Uso constante dos óculos. – Revisão 2 a 3 meses para acom- panhar o desenvolvimento visual. Comentários A criança segura os objetos de interesse muito próximo dos olhos para aumentar o ângulo visual, visto que a AVsc é baixa. A AV continua baixa, após a prescrição ini- cial (ambliopia refracional), mas vai me- lhorar no decorrer do tempo, com o uso constante dos óculos. Existem diferentes critérios para a pres- crição das lentes dos óculos, pois, ao se tratar de criança com erro refrativo grande e ambliopia refracional, a prescrição re- comendada é o total encontrado sob ci- cloplegia. No entanto, por ser a primeira prescrição, optou-se pela prescrição su- pracitada, com pequena redução do com- ponente cilíndrico. Para calcular a prescrição com redu- ção do componente cilíndrico, deve-se manter o equivalente esférico constan- te, ou seja, somar metade da redução do componente cilindro (–0,50/2 = 0,25) ao componente esférico. Por exemplo: OD: +9,00–4,50 130°. Com redução de 0,50 DC fica +8,75–4,00 130°. As crianças apresentam adaptação fácil aos óculos, em especial quando há melhora da AV. Os óculos devem ser usados duran- te todo o tempo de vigília. Existem muitas abordagens para tratar a ambliopia refracio- nal. A correção total do erro refrativo é a medida terapêutica inicial principal. A tera- pia antissupressiva está indicada quando a AVcc for baixa em um ou em AO e desigual entre os olhos. Nesse caso, a AV é igual em AO. Quando a oclusão está indicada, ini- cialmente se programam os retornos a cada 2-3 semanas para avaliar o progresso e ga- rantir a fidelidade ao tratamento. ■ Paciente com 5 anos de idade, sexo masculino; a mãe notou que o filho fe- cha os olhos para ver televisão e apro- xima dos olhos objetos de interesse. Não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe OD e OE 0,33. ● Teste cobertura/prisma-cobertura sc longe E 4 ∆ e perto E’ 10 ∆. ● Ceratometria OD: 44,00 180°/ 47,00 90° e OE: 44,25 180°/47,25 90°. ● AV estereoscópica 80 s (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia: OD: +3,00–3,50 180° (20/30) e OE: +3,00–3,75 180° (20/30). Refratometria Ocular - Cap-04.indd 84 06/03/2017 21:24:23 Astigmatismo 85 ● Px: OD: +3,00–3,50 180° e OE: +3,00–3,75 180° . ● Teste de cobertura longe e perto or- toforia. – Lentes policarbonato ou trivex. – Uso constante dos óculos. – Revisão 3 a 6 meses para acom- panhar o desenvolvimento vi- sual. Comentários A presença de esoforia maior para perto do que para longe indica que o sistema acomodativo da criança, tentando com- pensar parte do componente esférico (hi- permetropia) não corrigido, traz o “círculo da menor confusão” para a retina. Nesse processo, no entanto, os olhos desenvol- vem esoforia maior para perto que para longe. Na presença de esoforia (ou esotro- pia), prescreve-se o erro refrativo total me- dido sob cicloplegia. A AVcc 0,67 (20/30) deve-se à ambliopia refracional. A AVcc melhorará no decorrer do tempo, com o uso constante dos óculos. De fato, após 18 meses de seguimento a AVcc alcançou 1,00 em AO e a estereopsia 40 s de arco (Stereo Fly Test). ■ Paciente com 17 anos de idade, sexo feminino, notou diminuição da visão do olho direito para longe e perto, re- ferindo boa visão no olho esquerdo. Trouxe os óculos prescritos há 2 anos (OD: +1,75–2,75 70° e OE: +0,50 D). Disse que não os usou porque não pre- cisava deles e porque entortavam as coisas. Não usa medicação. Sem ante- cedentes de interesse. ● AVsc longe OD: 0,33 e OE: 1,00. ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra longe ortoforia e perto X’ 6 ∆. ● Ceratometria OD: 47,50 160°/ 43,00 70° e OE: 43,00 180°/43,50 90°. ● AV estereoscópica 40 s (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia: OD: +1,75–4,50 70° (0,67) e OE: +1,00 D (1,00). ● Decidiu-se reduzir 1,00 DC do componente cilíndrico do OD. Mantendo o equivalente esférico constante, temos: OD +1,25–3,50 70°. E mais redução de 0,50 D do componente esférico de AO. ● Px: OD: +0,75–3,50 70° (0,67) e OE: +0,50 D (1,00). ● A correção anterior foi montada em armação de provas. A jovem refe- riu que provocava inclinação e dis- torção dos objetos, assim como os óculos antigos. ● Realizou-se teste com LC RGP (OD) e a AV melhorou para 0,80–2. ● Prescreveu-se LC RGP para OD, OE ficou sem correção. Comentários Trata-se de caso de astigmatismo contra a regra (OD), hipermetropia (OE). A am- bliopia refracional do OD provavelmente tenha sido desencadeada pela aniseiconia meridional. Com o caso, demonstra-se a dificuldade de prescrição de óculos quan- do um olho apresenta alto astigmatismo e o outro apenas correção esférica. Haven- do visãobinocular, a distorção espacial é Refratometria Ocular - Cap-04.indd 85 06/03/2017 21:24:23 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica86 produzida pela aniseiconia meridional de- sencadeada pelo uso dos óculos. Tentou- se sem êxito, com a redução da correção cilíndrica no OD, reduzir a percepção da inclinação dos objetos. O teste com LC RGP foi realizado ape- nas no OD e a visão melhorou para 0,80–2. O OE ficou sem correção. A paciente fi- cou satisfeita com a adaptação da LC, que proporcionou conforto e melhora da visão sem distorção. ■ Paciente com 32 anos de idade, sexo feminino, bancária, referia dificulda- des na leitura com os óculos novos prescritos por outro oftalmologista. Es- tava tentando usá-los há 60 dias e não sentia melhora. Os novos óculos fun- cionavam bem para longe. Os óculos antigos funcionavam bem para perto. Trouxe os óculos antigos (OD: –6,00 –3,75 15° e OE: –4,25–3,25 20°) e os em uso (OD: –6,50–4,00 180° e OE: –4,00–3,75 30°). Usa óculos desde os 8 anos de idade. Não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVcc longe (óculos em uso) OD e OE 1,00. ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra longe ortoforia e perto X’ 3 ∆. ● Amplitude de acomodação OD: 6,00 D, OE: 7,00 D. ● AV estereoscópica 40 s (Stereo Fly Test). ● Ceratometria OD: 44,25 180°/48,00 90° e OE: 44,00 30°/47,25 120°. ● Refração sob cicloplegia: OD: –6,50 –4,00 180° (1,00) e OE: –4,00–3,75 30° (1,00). ● Refração pós-cicloplégica (longe): OD: –6,50–4,00 180° (1,00) e OE: –4,00–3,75 30° (1,00). ● Refração pós-cicloplégica (perto): OD: –6,00–4,75 15° (1,00) e OE: –3,75–4,00 20° (1,00). ● Px: OD: –6,50–4,00 180° e OE: –4,00–3,75 30° (longe). ● Px: OD: –6,00–4,75 15° e OE: –3,75–4,00 20° (perto). ● Dois pares de óculos, um para lon- ge e outro para perto. Comentários É caso de astigmatismo miópico composto (AO) com a regra, anisometropia de 2,5 D, e ocorreu alteração no eixo da correção do cilindro na leitura secundária à exciclotor- ção de AO. O efeito da exciclotorção na visão de perto com alto astigmatismo le- vou à mudança de eixo do astigmatismo e acomodação à alteração do poder do ci- lindro. Esse caso demonstra o fato de que, no exame refratométrico anterior, não se reconheceu a dificuldade criada para per- to quando os novos óculos foram prescri- tos. Nesses casos, devem ser prescritos dois pares de óculos, um de longe e outro de perto, cada qual com seus respectivos valores de eixo e poder do cilindro. ■ Paciente com 35 anos de idade, sexo masculino, técnico de eletrônica, per- deu os óculos que vinha usando há 2 anos, e, sem eles, tem cefaleia, sono- lência e borramento visual de longe e de perto. Refere que antes desses ócu- los teve receita de óculos com 7 anos de idade e que não os usou por muito Refratometria Ocular - Cap-04.indd 86 06/03/2017 21:24:23 Astigmatismo 87 tempo. Não usa medicação. Sem ante- cedentes de interesse. ● AVsc longe OD e OE 1,00 com bura- co estenopeico e perto OD e OE J 2. ● Ceratometria OD: 45,00 180°/43,00 90° e OE: 45,00 180°/43,50 90°. ● Teste de cobertura cc longe e perto ortoforia. ● AV estereoscópica 60 s (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia: OD: +0,50–3,00 90° (AV 1,00) e OE: –0,25–2,50 90° (AV 1,00). ● Teste de cobertura cc longe e perto ortoforia. Px: OD: +0,50–3,00 90° e OE: –0,25–2,50 90°. – Lentes de policarbonato ou trivex. ● Uso dos óculos todo o tempo. ● O paciente retornou após 2 sema- nas e, outra vez, após 4 semanas, referindo desconforto com o uso dos óculos. Solicitou que se fizes- sem os ajustes necessários para me- lhorar o conforto. ● Decidiu-se pela redução de 0,50 DC (AO), mantendo-se o equiva- lente esférico constante. ● Px: OD: +0,25–2,50 90° (1,00–2) e OE: –0,50–2,00 90° (1,00–1). ● O paciente referiu melhora do con- forto com a nova prescrição. Comentários É astigmatismo misto (contra a regra) no OD e astigmatismo miópico composto (contra a regra) no OE. O caso mostra que, sem correção, manifestam-se os principais sinais e sintomas do astigmatismo e ilustra os problemas relacionados com a adapta- ção aos óculos prescritos. Pacientes que têm prescrição prévia que sofre mudança na nova receita (poder e/ou eixo do com- ponente cilíndrico) experimentam des- conforto, sobretudo causado pela distor- ção espacial. A maioria adapta-se a essas distorções em dias a semanas. Alguns pa- cientes têm dificuldade de se adaptar e re- tornam várias vezes ao oftalmologista (ou procuram outros). Uma das soluções que minimizam o problema da distorção é re- duzir o poder do astigmatismo. ■ Paciente com 30 anos de idade, sexo masculino, exame de rotina, sem quei- xas com os óculos em uso, prescri- tos há 3 anos (OD: –2,00–4,00 130° e OE: –1,00 D), às vezes, dificuldade para ler legenda de filmes na TV. Usa óculos desde os 5 anos de idade. Não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVcc longe OD: 1,00–2 e OE: 1,00–1 e perto OD e OE J 1. ● Ceratometria OD: 43,25 135°/47,25 40° e OE: 42,00 180°/42,50 90°. ● AV estereoscópica 60 s (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia: OD: –2,25–4,25 130° (AV 1,00) e OE: –1,25 (AV 1,00). ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra cc longe ortoforia e perto X’ 8 ∆. ● Px: OD: –2,25–4,00 130° e OE: –1,25 D. Refratometria Ocular - Cap-04.indd 87 06/03/2017 21:24:24 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica88 ● Poderia ser mantida a correção em uso. – Lentes de policarbonato ou trivex. – Revisão 1 a 2 anos. Comentários O paciente usa óculos desde os 5 anos de idade. A correção de seu erro refrativo desde cedo permitiu ao OD desenvolver visão, caso contrário poderia ter manifes- tado ambliopia refracional. Em razão da natureza da anisometropia meridional, es- pecialmente no meridiano de 40°, devería- mos esperar aniseiconia meridional. O pa- ciente apresenta exoforia de perto (X’ 8 ∆) e não tem sintomas, mostrando que a este- reopsia e a boa reserva de vergência fusio- nal de perto são responsáveis pela ausên- cia de sintomas de perto. A melhor opção seria a adaptação de LC em AO. SUMÁRIO Na conduta para a correção do astigmatis- mo moderado/alto, devemos considerar a idade do paciente, a intensidade dos efei- tos do erro refrativo no sistema funcional visual, o desenho e tamanho da armação dos óculos e, ainda, o desenho e o mate- rial das lentes. Na adaptação aos óculos, a grande di- ficuldade ocorre pela distorção espacial produzida pelas lentes corretoras. Na prescrição do cilindro, a conduta leva em conta:4 1. Em crianças, prescrever a correção as- tigmática total. 2. Em adultos, inicialmente, tentar a cor- reção total. Testar a receita em arma- ção de provas. Informar sobre as difi- culdades iniciais e encorajar o paciente a usar os óculos. 3. Minimizar a distorção espacial, pres- crevendo lente cilíndrica negativa na face posterior, reduzindo a distância vértice e escolhendo lentes de alto ín- dice. 4. A distorção espacial da correção as- tigmática é um fenômeno binocular. Ocluir um olho e verificar se essa é a causa das queixas. 5. Para minimizar a distorção espacial, pode-se: a) reduzir o poder do cilin- dro; b) rodar o eixo do cilindro para 90° ou 180° (ou para o eixo antigo), ajustar o poder do componente cilín- drico, testar o novo poder do cilindro cruzado; e c) balancear o borramento e a distorção para obtenção da melhor AV com conforto. 6. Se a distorção não puder ser reduzida de modo satisfatório, prescrever LC. 7. Se a sensação de distorção espacial for muito exacerbada: afastar aniseico- nia esférica como causa dos sintomas, ocluindo o olho não dominante por 24 a 36 h. 8. Pacientes com altos graus de astigma- tismo podem requerer óculos separa- dos para longe e perto: medir o poder e o eixo do cilindro para longe e para perto. Nas Figuras 3 e 4, apresentamos simu- lações fotográficas de distorção monocu- lar produzida por correção de astigmatis- mo oblíquo. RefratometriaOcular - Cap-04.indd 88 06/03/2017 21:24:24 Astigmatismo 89 Figura 3 Simulações fotográficas de distorção monocular produzi- da por correção de astigmatismo oblíquo: a) foto esquerda: sem astigmatismo, sem distorção; b) foto do meio: astigmatismo oblí- quo não corrigido e círculo de menor confusão na retina, sem distorção significativa; e c) foto direita: astigmatismo oblíquo to- talmente corrigido produzindo distorção significativa. Figura 4 Simulações fotográficas de alteração da correção de astig- matismo para redução da distor- ção monocular: a) foto esquerda: correção total de astigmatismo oblíquo produzindo distorção sig- nificativa; b) foto do meio: dimi- nuição da distorção pela hipocor- reção do astigmatismo oblíquo; e c) foto direita: endireitamento da direção e diminuição da distorção por rotação eixo para 180° e re- dução do poder do cilindro. Refratometria Ocular - Cap-04.indd 89 06/03/2017 21:24:24 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica90 REFERÊNCIAS 1. Borish IM. Clinical Refraction. St. Louis: But- terworth-Heinemann Elsevier, 2006; 992-1001. 2. Michaels DD. Visual Optics and Refraction: A Cli- nical Approach. 3rd ed, St. Louis: Mosby, 1985; 457-83. 3. Milder B, Rubin ML. The Fine Art of Prescribing Glasses Without Making a Spectacle of Yourself. 2nd ed. Gainesville, Fla: Triad, 1991; 93-118. 4. Guyton DL. Prescribing cylinders: the problem of distortion. 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Am J Optom Physiol Opt, 1979; 56:345-9. Refratometria Ocular - Cap-04.indd 90 06/03/2017 21:24:24 Avaliação da Prescrição Médica 91 5 Anisometropia Milton Ruiz Alves Murilo Barreto Souza Fabrício Witzel de Medeiros Anisometropia é o nome que se dá quan- do há diferença entre o estado refrativo dos dois olhos. Essa diferença pode ocor- rer em um ou em ambos os meridianos principais; torna-se clinicamente significa- tiva quando alcança 1 D ou mais.1 SINAIS E SINTOMAS Os sintomas da anisometropia são alta- mente variáveis; estão relacionados não só com o tipo e magnitude da anisometropia, mas também com a correção óptica utili- zada e com a capacidade do paciente em se adaptar a essa correção.1 Enquanto os pacientes portadores de anisometropia miópica ou antimetropia referem com frequência borramento visual unilateral,2 aqueles com anisometropia hi- permetrópica costumam queixar-se de ce- faleia e/ou astenopia.3 Nos casos em que a diferença refrati- va entre os olhos é muito grande (> 6 D), ou quando um dos olhos está próximo da emetropia, o paciente pode não expe- rimentar nenhum tipo de sintoma.4 Com diferenças menores, sintomas como des- conforto, tonturas, diplopia e/ou náuseas podem estar presentes.5 As dificuldades ópticas na anisome- tropia podem resultar de três principais fatores:6 ■ Anisoforia ou diferença no desvio pris- mático induzido pela descentração, que ocorre quando a direção do olhar passa fora dos centros ópticos das len- tes corretoras. ■ Diferença acomodativa, que se verifi- ca quando os olhos são corrigidos com lentes oftálmicas. ■ Aniseiconia ou diferença do tamanho das imagens produzidas pelas lentes corretoras. CLASSIFICAÇÕES Classificação pelo erro refrativo6 ■ Isoanisometropia: quando ambos os olhos são hipermetropes (iso-hiperme- tropia) ou míopes (isomiópicos). ■ Antimetropia: quando um olho é mío- pe e o outro hipermetrope. Refratometria Ocular - Cap-05.indd 91 06/03/2017 21:25:16 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica92 A anisometropia também tem sido classificada, de acordo com o erro refrati- vo, da seguinte forma:7 ■ Anisometropia astigmática composta: quando ambos os olhos são astigmáti- cos; um olho tem 1,00 DC ou mais de astigmatismo que o outro. ■ Anisometropia astigmática simples: quando o astigmatismo está presente em um olho só. ■ Anisometropia astigmática: quando a diferença está no eixo e não na magni- tude do astigmatismo. ■ Anisometropia hipermetrópica com- posta: quando ambos os olhos são hi- permetropes; um olho tem 1,00 D ou mais de hipermetropia que o outro. ■ Anisometropia hipermetrópica simples: quando a hipermetropia está presente em um olho só. ■ Anisometropia miópica composta: quando ambos os olhos são míopes; um olho tem 1,00 D ou mais de mio- pia que o outro. ■ Anisometropia miópica simples: quan- do a miopia está presente em um olho só. ■ Anisometropia mista ou antimetropia: quando um olho é míope e o outro hi- permetrope. ■ Anisometropia vertical: quando a refra- ção no meridiano vertical é desigual. Classificação conforme a magnitude do erro refrativo Conforme cita Gettes,8 os sintomas variam com a magnitude da diferença entre os olhos, da seguinte maneira: ■ 0 a 2,00 D (diferença baixa). O pacien- te usualmente tolera bem a correção total dos erros refrativos. ■ 2,01 a 6,00 D (diferença alta). É pro- vável que o paciente tenha problemas binoculares. ■ Maior que 6,01 D (diferença muito alta). O pacienteé assintomático pela presença de supressão mediada por inibição cortical. Classificação conforme a etiologia do erro refrativo ■ Anisometropias congênitas ou secun- dárias a eventos do período perinatal: incluem as anisometropias por causa de glaucoma congênito, catarata con- gênita e condições que causam fecha- mento palpebral, como paralisia do III par, ptose, edema dos tecidos periocu- lares após trauma obstétrico.9,10 ■ Anisometropias adquiridas, que in- cluem as anisometropias pós-trauma, lesões ocupando espaço dentro e ao redor do bulbo ocular, iatrogênicas como extração de cristalino unilateral (afacia unilateral), pós-cirurgia refrati- va, pós-transplante penetrante de cór- nea, entre outras condições.11-13 Classificação conforme a contribuição dos componentes oculares Sorsby et al.14 mediram os componentes oculares de pacientes anisometropes e concluíram que o comprimento axial era o fator que contribuía de maneira mais sig- nificativa para a anisometropia. Os resul- tados podem ser resumidos como seguem: Refratometria Ocular - Cap-05.indd 92 06/03/2017 21:25:16 Anisometropia 93 ■ Comprimento axial: diferenças no com- primento axial entre os olhos foram ob- servadas em 97% dos pacientes exami- nados, particularmente naqueles casos que apresentavam mais de 5,00 D de anisometropia. Em 85% dos anisome- tropes com diferenças classificadas como altas ou muito altas, a diferença no comprimento axial respondeu por mais de 80% do total da anisometro- pia observada. Em alguns pacientes, a diferença no comprimento axial efeti- vamente excedeu à diferença refrativa observada. Nesses casos, a anisome- tropia decorrente da diferença no com- primento axial foi parcialmente contra- balançada por alterações na curvatura da córnea. ■ Cristalino: anisometropia lenticular ob- servada em indivíduos com anisome- tropia entre 3,00 e 5,00 D. ■ Córnea: a córnea não foi um fator sig- nificativo na anisometropia. INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA A incidência e a prevalência de anisome- tropia têm sido estudadas em várias popu- lações.15 A anisometropia hipermetrópica, com ou sem astigmatismo, é o mais co- mum dos tipos de anisometropia.16,17 De Vries16 relatou prevalência de 4,7% de anisometropia de, no mínimo, 1,00 D, em poder esférico ou cilíndrico em crian- ças. A epidemiologia da anisometropia em criança varia conforme a idade conside- rada. A incidência de anisometropia de 1 D ou mais em recém-nascidos a termo é relatada entre 1 e 2%.18,19 Prevalência de anisometropia de, no mínimo, 1,00 D de diferença, em poder esférico ou cilíndri- co, tem sido relatada entre 2,7 e 11% em crianças de 1 ano de idade.17,20 Hirsch21 encontrou anisometropia de 1 D ou mais em 2,5% das crianças do primeiro ano do ensino fundamental e em 5,6% das crian- ças com idades entre 7 e 15 anos. A incidência e a prevalência de aniso- metropia tendem a ser maiores em popu- lações especiais, tais como prematuros, crianças com síndromes craniossinostó- ticas, crianças com retardo mental e em estrábicas.22 Em geral, também se observa um aumento da prevalência de anisome- tropia com a idade.23 PROGRESSÃO E SIGNIFICADO Cerca de 4 a 7% das crianças de até 1 ano de idade apresentam 1,00 D ou mais de diferença refrativa entre meridianos cor- respondentes. Esse número sobe para 11% quando são consideradas apenas as crian- ças astigmáticas. A anisometropia infantil, na maior parte dos casos, é uma condição transitória.24 Um comportamento diferen- te é observado nas anisometropias de 1,00 D ou mais, associadas a erro refrativo ≥ +3,00 D no olho mais ametrópico. Cerca de 80% dessas crianças ainda serão aniso- metropes aos 4 anos de idade.25,26 As ani- sometropias ≥ 1,00–2,00 D, presentes em escolares, não costumam representar qua- dros transitórios. Dependendo de suas características, a anisometropia não corrigida pode resultar em experiências visuais diferentes entre os olhos. Particularmente, essas diferen- ças são significativas no período de de- senvolvimento visual. Em pacientes com anisometropias hipermetrópicas simples Refratometria Ocular - Cap-05.indd 93 06/03/2017 21:25:16 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica94 ou composta, a acomodação é controla- da pelo olho com menor ametropia, resul- tando em visão continuamente borrada no olho portador da maior hipermetropia. Quando não corrigidos, os pacien- tes portadores de anisometropia miópica simples de baixo grau ou antimetropia po- dem recorrer a uma espécie de monovi- são, com o uso de um olho para a visão de perto e o outro para a visão de longe. Nos casos de portadores não corrigidos de anisometropias miópicas simples ou com- posta de maior magnitude, o olho porta- dor da miopia mais alta pode estar cons- tantemente privado de imagem retiniana clara. Anisometropia astigmática simples ou composta pode, também, privar de imagem retínica clara o olho portador de maior astigmatismo. Situações em que um olho está conti- nuamente exposto a uma imagem retinia- na borrada, ocorrendo durante o período de plasticidade e formação do sistema vi- sual, podem resultar em desenvolvimento anômalo da função visual. Como conse- quência direta desse fato, a anisometro- pia representa um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento da am- bliopia.25 A importância do diagnóstico e tratamento precoce está na constatação de que 100% das crianças após 1 ano de idade, portadoras de anisometropia com as características descritas anteriormente, são amblíopes.26 Assim, em crianças, anisometropias ≥ 1 D devem ser corrigidas, e a ambliopia, quando presente, deve ser tratada o mais precoce possível. Além da ambliopia, a anisometropia é considerada ainda uma causa significati- va de estrabismo e microestrabismo.27-30 A prevalência de estrabismo em anisometro- pes varia de 39 a 42%.17,24 FUNDAMENTOS DA CORREÇÃO ÓPTICA O objetivo principal no tratamento da ani- sometropia é prescrever a correção ópti- ca que dê ao paciente AV clara em cada olho, a despeito da diferença refrativa e vi- são binocular confortável. Determinação do erro refrativo Na anisometropia, a conduta exige que se determine de forma acurada o erro refrati- vo e a melhor AV corrigida de cada olho. Pacientes anisometropes comumente têm problemas binoculares associados à am- bliopia unilateral ou à diferença na per- cepção do tamanho da imagem entre os dois olhos (aniseiconia). Por conta disso, as técnicas convencionais de balanço re- frativo binocular que usam a comparação das imagens dos dois olhos para ajustar o estímulo acomodativo, frequentemente não funcionam. Como o balanço refrato- métrico subjetivo fica prejudicado, deve- se fazer uma medida objetiva acurada do erro refrativo de cada olho (exame refra- tométrico sob cicloplegia). Diante de uma anisometropia, a prescrição que incorpora a refração completa nem sempre pode ser recomendada. Pacientes com grande mag- nitude de anisometropia com frequência rejeitam a prescrição que incorpora o total encontrado na refratometria cicloplégica. As anisometropias miópicas, com dife- renças de 2,00 D ou mais, as hipermetró- picas, com diferenças de 1,00 D ou mais, Refratometria Ocular - Cap-05.indd 94 06/03/2017 21:25:16 Anisometropia 95 e as astigmáticas, com diferenças de 1,50 DC ou mais, estão associadas a aumento significativo na ocorrência de ambliopia e alteração na binocularidade.1 Em pacientes de todas as idades, a ani- sometropia deve ser corrigida porque a clareza visual e a binocularidade podem, frequentemente, melhorar significativa- mente.31 Em crianças, o total da anisometropia deve ser prescrito para tornar a imagem na retina mais clara, estimular qualquer remanescente de visão binocular e impe- dir o desenvolvimento e a progressão de adaptações visuais, como a supressão e a ambliopia.8 A primeira opção em crianças peque- nas é a prescrição total montada em ócu- los com lentes de policarbonato ou trivex para uso constante.Existe controvérsia se, nessa primeira vez, deva-se fazer prescri- ção iseicônica. Geralmente, as crianças não externam sintomas de aniseiconia; por isso, no início, recomenda-se a prescrição convencional de óculos ou LC. Nordlow32 encontrou melhora da AV e da fixação em crianças com 4 anos de idade, com aniso- metropias de 2,00 D ou mais, que recebe- ram correção iseicônica de 0,75 a 1,25% por dioptria, quando comparadas com as obtidas com o uso de óculos convencio- nais. Em crianças com anisometropia mui- to alta (afacia unilateral), o uso de LC é necessário para obter alguma visão bino- cular. A Figura 1 mostra a conduta clínica diante da anisometropia em crianças. Anisometropia Seguimento rotina Fora dos limites superiores normais Baixa aniso e ametropia < 4 anos de idade Repetir esquiascopia 36 meses de intervalo Redução valores normais Seguimento rotina Não redução Prescrição Alta aniso e ametropia Ambliopia 4 anos e + Prescrição Dentro dos limites superiores normais 12-30 meses ≤ 2,50 D 31-48 meses ≤ 2,00 D > 48 meses ≤ 1,50 D Figura 1 Conduta clínica na anisometropia em crianças (AAPOS, 2013). Refratometria Ocular - Cap-05.indd 95 06/03/2017 21:25:17 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica96 Os adultos anisométropes subcorrigidos devem ser encorajados a usar a correção total, em especial os que apresentam aste- nopia ou alterações do balanço muscular binocular, pois os sintomas decorrentes da correção anisometrópica tendem a desapa- recer em poucas semanas.1 Deve-se lem- brar que crianças e adultos com ambliopia anisometrópica podem, com frequência, melhorar a AV e a binocularidade após a correção óptica e terapia da ambliopia.31,33 Os adultos devem ser informados da provável melhora da AV e da função bino- cular com a correção total. Embora muitos desses pacientes estejam assintomáticos, uma correção adequada justifica-se, uma vez que a aparente satisfação costuma estar fundamentada na ausência de uma base para comparação e da consciência dos possíveis benefícios do tratamento. Ambliopia e estrabismo Alguns pontos importantes que devem ser levados em conta na conduta diante da ambliopia e do estrabismo associados à anisometropia, são apresentados a seguir: ■ O diagnóstico precoce da anisometro- pia e seu tratamento com correção óp- tica é medida essencial para prevenir e/ou tratar a ambliopia. ■ O tratamento da ambliopia anisome- trópica inclui o provimento de visão retínica clara, nos dois olhos, por meio da prescrição total seguida por oclusão e terapia de estimulação binocular.34-39 ■ O êxito do tratamento do estrabismo no paciente anisometrope depende da implantação de terapia antissupressiva e de estimulação binocular.8,34 ■ A idade não deve ser um fator que au- tomaticamente exclua o paciente com ambliopia anisometrópica de trata- mento. A terapia para ambliopia ani- sometrópica tem sido associada com êxito, tanto em crianças quanto em adultos.8,34,37,38 Anisoforia A anisometropia deve ser corrigida para que a acomodação seja igual nos dois olhos, permitindo ao paciente enxergar binocular- mente uma imagem única e clara. No en- tanto, diferenças no tamanho das imagens e anisoforias induzidas, quando se olha fo- ra dos centros ópticos das lentes corretoras, podem resultar em problemas fusionais. As lentes oftálmicas induzem a des- vio prismático quando a linha visual pas- sa fora de seus centros ópticos. Uma lente positiva, por exemplo, atua como prisma de base superior (BS), quando a linha vi- sual se desloca para baixo; de base inferior (BI), quando o deslocamento é para cima; de base nasal (BN), em adução; e de base temporal (BT), em abdução.1 Os pacientes anisometropes que reque- rem lentes bifocais ou progressivas necessi- tam considerações especiais. No olhar para baixo (na área da leitura), a lente negativa atua como prisma de BI e a positiva como prisma de BS. Então, correções anisometró- picas induzem anisoforia vertical na leitura que podem resultar em astenopia, diplopia ou na combinação de ambas. A magnitu- de de anisoforia vertical induzida pode ser calculada utilizando-se a fórmula de Pren- tice, ou seja, multiplicando-se a diferença refratométrica dos meridianos verticais in- teroculares pela distância em cm que a li- Refratometria Ocular - Cap-05.indd 96 06/03/2017 21:25:17 Anisometropia 97 nha visual atravessa a lente fora do centro óptico (CO). Para verificar se determinado paciente consegue se adaptar à anisoforia vertical induzida na leitura, a prescrição deve ser montada em armação de provas. Para pacientes sintomáticos na leitura, mui- tas opções são viáveis:1 ■ Dois pares de óculos separados: um para longe, com os centros ópticos ali- nhados com a DNP de longe, e o outro para perto, com os centros ópticos des- centrados inferiormente e alinhados com a DNP de perto. ■ Lentes bifocais: combinação de tipos de películas de adição diferentes para redução da anisoforia vertical induzida na leitura; colocação de prisma slab-off, na lente mais negativa ou na lente me- nos positiva, para redução da anisofo- ria vertical induzida na leitura.40 ■ Lentes progressivas: colocação de pris- ma slab-off, na lente mais negativa ou na menos positiva, para redução da ani- soforia vertical induzida na leitura.40 Atenção especial deve ser dada aos pa- cientes que adquiriram anisometropia re- centemente, como, por exemplo, de es- clerose nuclear lenticular assimétrica. Às vezes, a subcorreção da miopia unilateral que aumentou recentemente pode propi- ciar ao paciente uma melhor amplitude de visão intermediária. Esses aspectos devem ser discutidos com o paciente para deter- minar a melhor prescrição.1 Aniseiconia A aniseiconia é uma anomalia da visão bi- nocular definida como a diferença de ta- manho ou de forma das representações corticais das imagens provenientes de am- bos os olhos. Apesar de a anisometropia representar a principal causa da aniseico- nia, outros fatores também podem ser im- plicados com seu desenvolvimento, como determinadas características retinianas e processos envolvidos na neurofisiologia da visão. A incidência da aniseiconia varia con- forme a população estudada. Algum grau de aniseiconia pode ser observado entre 20 e 33% dos usuários de lentes correto- ras. Considerando apenas os casos clini- camente significativos, esse número varia entre 3 e 9%.41 Devemos suspeitar da aniseiconia quando os sintomas astenópicos persistem depois da correção da anisometropia, na presença de queixa de distorção da ima- gem, na preferência subjetiva pela visão monocular, ocorrendo melhora da asteno- pia com a oclusão do olho não dominante por algum tempo, havendo desigualdade nas curvas ou nas espessuras das lentes ou se os óculos se encontram desajustados. E, sobretudo, se desaparecerem após oclu- são por 24 h do olho não dominante. Como estimativa, pode-se considerar que, nas anisometropias axiais, cada 1,00 D corrigida com o uso de óculos resulta em uma diferença de 1% no tamanho da ima- gem. Quando a origem da anisometropia está na discordância entre os índices de re- fração dos meios ópticos dos olhos ou nas curvaturas das superfícies oculares, essa diferença é de 1,5 a 2% para cada 1,00 D corrigida com óculos.42 Em relação à tolerância do sistema vi- sual à aniseiconia, em geral os pacientes Refratometria Ocular - Cap-05.indd 97 06/03/2017 21:25:17 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica98 aceitam de forma assintomática diferenças de até 1% no tamanho das imagens. Com diferenças entre 1 e 5%, a sintomatologia depende da tolerância individual. Acima de 3%, observa-se um comprometimento importante da binocularidade e, quando a diferença excede 5%, a binocularidade está praticamente ausente.42,43 Historicamente, recomenda-se que a conduta clínica da aniseiconia associada à anisometropia seja guiada pela lei de Knapp, que determina que a diferença de tamanho da imagem retinianaresultante da anisometropia axial é reduzida quan- do a lente corretora é colocada no plano focal anterior do olho.15 Segundo a lei de Knapp, devem-se prescrever óculos para a correção de anisometropia axial e LC para correção de anisometropia refrativa. A experiência, porém, contradiz essa teo- ria, e a explicação que tem sido utilizada para justificar essa discordância é a dis- crepância na densidade de fotorrecepto- res retínicos por área da retina estimula- da nos portadores de anisometropia axial. Por conta disto, a utilização de LC com frequência representa a primeira escolha no tratamento da anisometropia, tanto por razões cosméticas quanto por reduzir ou eliminar os sintomas da anisoforia e da aniseiconia. Pode-se estimar a aniseiconia cons- truindo cruzes ópticas, uma para cada olho, e nelas colocar o poder óptico (da refração) em cada meridiano. As diferen- ças entre os meridianos correspondentes (180° com 90° e 45° com 135°) são ano- tadas e multiplicadas por 1% por dioptria. Deve-se subtrair do total 1,0%, que repre- senta a aniseiconia tolerada pelo paciente, obtendo-se, assim, a diferença de magnifi- cação que terá de ser compensada. É possível mensurar de várias formas a aniseiconia. Apesar de não ser amplamen- te disponível e ter tido sua produção sus- pensa, o Eiconômetro Espacial (American Optical) representa o padrão-ouro para a mensuração da aniseiconia. Mas há outras opções, como os testes de comparação di- reta, como o NAT (Awaya New Aniseiko- nic Test) (Figura 2) e o Aniseikonia Inspec- tor (Optical Diagnostics) (Figura 3).43 Figura 2 NAT (Awaya New Aniseikonic Test) – teste de comparação direta (http://www.sli- deshare.net/maclester/measurement-of-aniseikonia). + No 23’ Refratometria Ocular - Cap-05.indd 98 06/03/2017 21:25:17 Anisometropia 99 Esses testes consistem na identificação de uma série de imagens com tamanhos diferindo de 1 a 24%, de coloração verde ou vermelha, com o emprego de óculos es- pecíficos para a dissociação das imagens.44 Embora disponíveis com mais facilidade, existem questionamentos sobre a precisão dos testes de comparação direta, além de uma tendência à subestimação da aniseico- nia, conforme já foram relatados.45,46 Uma ferramenta clínica útil para o ma- nejo da aniseiconia é a caixa de provas de lentes iseicônicas que não apresentam po- der dióptrico e são construídas para pro- duzir quantidades variáveis de magnifica- ção (p. ex., 1 e 2%). As lentes iseicônicas podem ser usadas para determinar se os sintomas do paciente são aliviados pela redução da aniseiconia.1,34 Essas lentes produzem aumento das imagens sem al- terar a refração do olho; alteram o tama- nho das imagens retinianas sem interferir no poder efetivo da lente, alterando a dis- tância focal equivalente da lente median- te variação na curva frontal, espessura e distância vértice. Nos dados da Tabela 1, Tabela 1 Lentes planas com % de magnificação desejada, com especificações da espessura central (t) em mm e valores da curva frontal (D1) selecionada e correspondentes a valores da curva posterior (D2) % de Magnificação D1 D2 t 0,50 3,50 3,52 2,19 0.75 4,00 4,03 2,87 1,00 4,50 4,55 3,39 1,50 5,00 5,08 4,56 2,00 6,00 6,12 5,04 2,50 7,50 7,69 5,02 3,00 7,50 7,73 5,99 3,50 8,50 8,80 6,14 4,00 8,50 8,84 6,98 Fonte: Romano P. Editorial. Binoc Vis Stabismus Q, 1999; 14:176.42 Figura 3 Teste Aniseikonia Inspector (Optical Diagnostics http://greatvi- sion.osu.edu/images/aniseikonia01. jpg). Refratometria Ocular - Cap-05.indd 99 06/03/2017 21:25:17 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica100 é apresentada uma sugestão de caixa de prova de lentes iseicônicas. Assim, ao optar pela prescrição das len- tes iseicônicas, devem-se levar em conside- ração os seguintes fatores que influenciam no tamanho da imagem retiniana: curva- tura frontal, distância vértice, espessura central da lente e, nas lentes negativas, o posicionamento da faceta da lente no bi- sel.33,47,48 O bisel corresponde à cavidade do aro onde se encaixa a faceta da lente. Magnificação da imagem retiniana por alterações na distância vértice e/ou no posicionamento da faceta da lente no bisel Os dados da Tabela 2 mostram as porcen- tagens aproximadas de magnificação da imagem retiniana por alterações na distân- cia vértice de lentes de vários poderes di- óptricos.49 Considerando-se as lentes ne- gativas, a diminuição da distância vértice aumenta a magnificação, enquanto o au- mento da distância vértice diminui a mag- nificação. Em relação às lentes positivas, a diminuição da distância vértice diminui a magnificação, ao passo que o aumento da distância vértice aumenta a magnificação. O emprego dos dados da Tabela 2 é exemplificado com o caso de um pacien- te com anisometropia miópica, usando no OD –6,00 D e no OE –2,00 D, ambas as lentes montadas com distância vértice de 15,5 mm. A aniseiconia estimada (4 D de anisometropia × 1% por dioptria) corres- ponde a 4%. Com a redução da distância vértice de 3 mm (para 11,5 mm), a altera- ção da magnificação é de +1,8% na lente direita e de +0,6% na lente esquerda. A diferença de magnificação, que era de 4% entre os olhos, diminuiu em 1,2%. As bordas mais espessas das lentes ne- gativas tornam possível alterar a magnifi- cação por mudança no posicionamento da faceta da lente no bisel, que correspon- de ao local de encaixe das lentes nos aros da armação; assim, consegue-se aproxi- mar ou afastar as lentes dos olhos. Tabela 2 Porcentagem aproximada de magnificação por alterações na distância vértice de lentes de vários poderes dióptricos* Poder (V 0 ) 1 D 2 D 4 D 6 D 8 D 10 D Distância vértice (h) 1 mm 0,1 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 2 mm 0,2 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 3 mm 0,3 0,6 1,2 1,8 2,4 3,0 4 mm 0,4 0,8 1,6 2,4 3,2 4,0 5 mm 0,5 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 Fonte: Scheiman M, Wick B. Aniseikonia. In: Scheiman M, Wick B (eds). Clinical Management of Binocular Vision. Philadelphia: Lippincott, 2002:519-49.48 *Dados baseados em: % m = V0 (h)/10. Sendo % m = alteração na porcentagem de magnificação. V0 = poder vértice posterior da lente (D). h = alteração na distância vértice (mm). 10 = índice resultante da alteração de metros para milímetros e para expressar a magnificação em porcentagem. Refratometria Ocular - Cap-05.indd 100 06/03/2017 21:25:18 Anisometropia 101 Os dados da Tabela 3 mostram altera- ções da porcentagem de magnificação da imagem retiniana por mudança no posi- cionamento da faceta da lente no bisel (do centro para 33 a 66% ou para 66 a 33%).34 A mudança da posição da faceta da lente no bisel do centro para 33 a 66% apro- xima a lente do olho, diminui a distância vértice e aumenta a magnificação da len- te negativa. A mudança da faceta no bisel do centro para 66 a 33% afasta a lente do olho, aumenta a distância vértice e dimi- nui a magnificação da lente negativa. Podemos exemplificar a influência de alterações no posicionamento da faceta da lente no bisel, considerando-se o caso do paciente usando em AO –8,00 D, com o bi- sel posicionado no centro do aro. A quan- tidade de variação na posição do bisel (h) é calculada, seu valor é colocado na fórmula [%m = V0 (h)/10] para calcular a alteração na magnificação que pode ser produzida pela alteração do posicionamento do bisel. O tamanho do aro da armação determina o tamanho da lente. Lente negativa de maior diâmetro tem borda mais espessa. Assim, para a medida do aro-lente de 52 mm, po- de-se determinar o quanto a variação na posição da faceta da lente no bisel pode alterar a magnificação para essa lente ne- gativa. Então, a mudança de posição da fa- ceta no bisel, para a lente direita ficar mais próxima do olho (mudança do centro para 33 a 66%) e, na esquerda, para ficar mais longe do olho (mudança do centro para 66 a 33%), provoca uma diferença na magni- ficação da imagem retiniana dos olhos de cerca de 2% (1,92%). Tabela 3 Porcentagens aproximadas de magnificação por mudanças na posiçãoda faceta da lente no bisel do centro para 33 a 66% ou 66 a 33% (lente de espessura central 2,1 mm)* Poder (D) –1 D –2 D –4 D –6 D –8 D –10 D Tamanho aro/lente (mm) 36 0,03 0,10 0,22 0,37 0,56 0,77 38 0,03 0,10 0,23 0,40 0,61 0,84 40 0,04 0,10 0,24 0,43 0,67 0,92 42 0,04 0,10 0,25 0,46 0,72 1,05 44 0,04 0,10 0,26 0,49 0,78 1,13 46 0,04 0,11 0,28 0,52 0,82 1,19 48 0,04 0,11 0,29 0,54 0,87 1,26 50 0,05 0,11 0,30 0,57 0,92 1,36 52 0,05 0,11 0,31 0,60 0,96 1,44 Fonte: Scheiman M, Wick B. Aniseikonia. In: Scheiman M, Wick B (eds). Clinical Management of Binocular Vision. Philadelphia: Lippincott, 2002:519-49.48 * Dados baseados em: Espessura da borda = V0h 2/2(tn). Sendo 2,1 = espessura central da lente (mm). V0 = poder vértice posterior da lente (D). h = raio da lente (mm). n = índice de refração do material da lente (cristal = 1,523) menos o índice de refração do ar (1,0000). Refratometria Ocular - Cap-05.indd 101 06/03/2017 21:25:18 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica102 Magnificação da imagem retiniana por alteração na curva frontal da lente A alteração na magnificação de uma len- te, quando a curvatura frontal é alterada, é mostrada nos dados da Tabela 4. Esses da- dos baseiam-se em uma lente de espessura mínima de 2,1 mm. Para uma lente positi- va, a magnificação aumenta com o encur- vamento da curva frontal. Para uma lente negativa, a magnificação diminui com o encurvamento da curva frontal da lente. Vejamos como a alteração da curva frontal aumenta a magnificação. Um paciente usa, no OD, +3,00 D com curva frontal +7,50 e, no OE, +5,00 D com curva frontal +9,50. A imagem produzida pela lente direita é me- nor; portanto, o objetivo é aumentar a mag- nificação dessa imagem. Com um aumento de +4,00 D na curva frontal da lente direita (para +11,50 D), obtém-se 1,5% de magni- ficação. O mesmo aumento na curva fron- tal de uma lente +2,00 D implica 1,23% de aumento na magnificação e 1,9% em lente +4,00 D (Tabela 4). Magnificação da imagem retiniana por alteração na espessura da lente Os dados das Tabelas 5 e 6 mostram as mudanças de magnificação que resultam de alterações na espessura (∆t) de uma lente com poder e curva frontal específi- cos, quando outros fatores (bisel, distân- cia vértice etc.) são mantidos constantes. Essas tabelas mostram também que a alte- ração na distância vértice (∆h) resulta da alteração na espessura (∆t). Para usar as tabelas, consideremos o paciente usando, no OD, lente plana com curva frontal +6,25 D e 2,1 mm de espes- sura e, no OE, lente –2,00 D com curva frontal +4,50 D e 2,1 mm de espessura. Suponhamos que nosso objetivo seja ob- ter 0,75% de magnificação na lente es- querda aumentando a espessura da lente. Nos dados da Tabela 5, encontra-se que o aumento de espessura de 2 mm para uma lente com curva frontal de +4,50 gera 0,60% de magnificação. Nos dados da Ta- bela 6, para uma lente –2,00 D com sua espessura aumentada de 2 mm, encontra- se o valor –0,20. Os efeitos de ambos os parâmetros [A (+0,60) – B (–0,20)] repre- sentam cerca de 0,80% de magnificação (ver Tabela 6). Os dados da Tabela 7 mos- tram alterações na magnificação que re- sultam da alteração na posição da faceta da lente no bisel, após a espessura da lente ser aumentada.34 Aumentando-se a espes- sura central da lente, obtém-se aumento correspondente na espessura da borda. O aumento na espessura da borda da lente pode ser usado para calcular altera- ções no posicionamento da faceta da lente no bisel e alteração na magnificação. Esse efeito é mais significativo em lentes com poderes dióptricos > –4,00 D ou +6,00 D ou quando um aumento significativo na espessura da lente possa ser prescrito. Foram criados nomográficos de magni- ficação que nos auxiliam a fazer a correla- ção da magnificação de uma imagem com a espessura central, curvatura frontal e dis- tância vértice da lente. A Figura 4 mostra o nomograma de magnificação da imagem que correlaciona o poder frontal de lente positiva com distância vértice. A Figura 5 mostra um nomograma de magnificação da imagem que correlacio- na o poder frontal de lente negativa com distância vértice. Refratometria Ocular - Cap-05.indd 102 06/03/2017 21:25:18 Anisometropia 103 Ta b el a 4 Po rc en ta g em a p ro xi m ad a d e m ag n ifi ca çã o a ss o ci ad a a le n te s d e vá ri o s p o d er es d ió p tr ic o s e al te ra çõ es n a cu rv at u ra f ro n ta l d as le n te s* Po d er ( D ) –1 0 –8 –6 –4 –2 –1 0 +1 +2 +4 +6 +8 +1 0 D cu rv a fr on ta l ( D 1) t= 2, 1 t= 2, 1 t= 2, 1 t= 2, 1 t= 2, 1 t= 2, 1 t= 2, 1 t= 2, 6 t= 3, 1 t= 4, 1 t= 5, 1 t= 6, 1 t= 7, 1 –4 + 1, 46 + 1, 04 + 0, 64 + 0, 24 –0 ,1 6 –0 ,3 6 –0 ,5 6 –0 ,9 0 –1 ,2 3 –1 ,9 0 –2 ,5 6 –3 ,2 4 –3 ,8 8 –2 + 0, 72 + 0, 52 –0 ,3 2 + 0, 12 –0 ,0 8 –0 ,1 8 –0 ,2 8 –0 ,4 5 –0 ,6 1 –0 ,9 5 –1 ,2 8 –1 ,6 2 –1 ,9 4 + 2 –0 ,7 2 –0 ,5 2 –0 ,3 2 –0 ,1 2 + 0, 08 + 0, 18 + 0, 28 + 0, 45 + 0, 61 + 0, 95 + 1, 28 + 1, 62 + 1, 94 + 4 –1 ,4 6 –1 ,0 4 –0 ,6 4 –0 ,2 4 + 0, 16 + 0, 36 + 0, 56 + 0, 90 + 1, 23 + 1, 90 + 2, 56 + 3, 24 + 3, 88 + 6 –2 ,1 8 –1 ,5 6 –0 ,9 6 –0 ,3 6 + 0, 24 + 0, 54 + 0, 84 + 1, 35 + 1, 84 + 2, 85 + 3, 84 + 4, 86 + 5, 82 + 8 –2 ,9 2 –2 ,0 8 –1 ,2 8 –0 ,4 8 + 0, 32 + 0, 72 + 1, 12 + 1, 80 + 2, 46 + 3, 80 + 5, 12 + 6, 48 + 7, 76 Fo nt e: S ch ei m an M , W ic k B. A ni se ik on ia . I n: S ch ei m an M , W ic k B (e ds ). C lin ic al M an ag em en t of B in oc ul ar V is io n. P hi la de lp hi a: L ip pi nc ot t, 2 00 2: 51 9- 49 .4 8 *B as ea do e m : ∆ % m = ∆ D 1[ t/ 15 + 0, 05 V 0] . O nd e ∆ % m = a lte ra çã o na p or ce nt ag em d e m ag ni fic aç ão . ∆ D 1 = a lte ra çã o na c ur va tu ra f ro nt al d a le nt e (D ). t= e sp es su ra c en tr al d a le nt e (m m ). D = d io pt ria . 15 = u m a co ns ta nt e co rr ig id a; c on si de ra nd o- se o ín di ce d e re fr aç ão c or rig id o do c ris ta l p ar a o fa to d e a m ag ni fic aç ão s er e xp re ss a em % e a e sp es su ra d a le nt e em m m 0, 05 = a lte ra çã o ap ro xi m ad a na d is tâ nc ia v ér tic e pe la a lte ra çã o na c ur va tu ra f ro nt al d e ∆ D 1. V 0 = p od er d o vé rt ic e da le nt e (D ). Refratometria Ocular - Cap-05.indd 103 06/03/2017 21:25:18 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica104 Ta b el a 5 A lt er aç õ es d e m ag n ifi ca çã o q u e re su lt am d e al te ra çã o n a es p es su ra e n a cu rv a fr o n ta l d a le n te C u rv a fr o n ta l 0, 50 1, 50 2, 50 3, 50 4, 50 5, 50 6, 50 7, 50 8, 50 9, 50 10 ,5 0 12 ,5 0 13 ,5 0 D es p es su ra m m –1 ,5 –0 ,0 5 –0 ,1 5 –0 ,2 5 –0 ,3 5 –0 ,4 5 –0 ,5 5 –0 ,6 5 –0 ,7 5 –0 ,8 5 –0 ,9 5 –1 ,0 5 –1 ,2 5 –1 ,3 5 –1 ,0 –0 ,0 3 –0 ,1 0 –0 ,1 7 –0 ,2 3 –0 ,3 0 –0 ,3 7 –0 ,4 3 –0 ,5 0 –0 ,5 7 –0 ,6 3 –0 ,7 0 –0 ,8 3 –0 ,9 0 – 0, 5 –0 ,0 2 –0 ,0 5 –0 ,0 8 –0 ,1 7 –0 ,1 5 –0 ,1 8 –0 ,2 2 –0 ,2 5 –0 ,2 8 –0 ,3 2 –0 ,3 5 –0 ,4 2 –0 ,4 5 + 0, 5 + 0, 02 + 0, 05 + 0, 08 + 0, 17 + 0, 15 + 0, 18 + 0, 22 + 0, 25 + 0, 28 + 0, 32 + 0, 35 + 0, 42 + 0, 45 + 1, 0 + 0, 03 + 0, 10 + 0, 17 + 0, 23 + 0, 30 + 0, 37 + 0, 43 + 0, 50 + 0, 57 + 0, 63 + 0, 70 + 0, 83 + 0, 90 + 1, 5 + 0, 05 + 0, 15 + 0, 25 + 0, 35 + 0, 45 + 0, 55 + 0, 65 + 0, 75 + 0, 85 + 0, 95 + 1, 05 + 1, 25 + 1, 35 + 2, 0 + 0, 06 + 0, 20 + 0, 33 + 0, 47 + 0, 60 + 0, 72 + 0, 87 + 1, 00 + 1, 13 + 1, 26 + 1, 40 + 1, 66 + 1, 80+ 2, 5 + 0, 08 + 0, 25 + 0, 42 + 0, 58 + 0, 75 + 0, 92 + 1, 08 + 1, 25 + 1, 41 + 1, 58 + 1, 75 + 2, 08 + 2, 25 + 3, 0 + 0, 10 + 0, 30 + 0, 50 + 0, 70 + 0, 90 + 1, 10 + 1, 30 + 1, 50 + 1, 70 + 1, 90 + 2, 10 + 2, 50 + 2, 69 + 3, 5 + 0, 11 + 0, 35 + 0, 58 + 0, 82 + 1, 05 + 1, 28 + 1, 52 + 1, 75 + 1, 98 + 2, 21 + 2, 45 + 2, 91 + 3, 14 + 4, 0 + 0, 13 + 0, 40 + 0, 67 + 0, 92 + 1, 20 + 1, 46 + 1, 73 + 2, 00 + 2, 26 + 2, 52 + 2, 80 + 3, 33 + 3, 59 + 4, 5 + 0, 14 + 0, 45 + 0, 84 + 1, 03 + 1, 35 + 1, 65 + 1, 95 + 2, 25 + 2, 54 + 2, 84 + 3, 15 + 3, 74 + 4, 03 Fo nt e: S ch ei m an M , W ic k B. A ni se ik on ia . I n: S ch ei m an M , W ic k B (e ds ). C lin ic al M an ag em en t of B in oc ul ar V is io n. P hi la de lp hi a: L ip pi nc ot t, 2 00 2: 51 9- 49 .4 8 Refratometria Ocular - Cap-05.indd 104 06/03/2017 21:25:18 Anisometropia 105 Ta b el a 6 A lt er aç õ es d e m ag n ifi ca çã o q u e re su lt am d e al te ra çã o n a es p es su ra p ar a u m a le n te d e d et er m in ad o p o d er d ió p tr ic o * Po d er le n te ( D ) –1 0 –8 –6 –4 –2 0 +2 +4 +6 +8 +1 0 D es p es su ra m m –1 ,5 + 0, 75 + 0, 60 + 0, 45 + 0, 30 + 0, 15 0, 00 –0 ,1 5 –0 ,3 0 –0 ,4 5 –0 ,6 0 –0 ,7 5 –1 ,0 + 0, 50 + 0, 40 + 0, 30 + 0, 20 + 0, 10 0, 00 –0 ,1 0 –0 ,2 0 –0 ,3 0 –0 ,4 0 –0 ,5 0 – 0, 5 –0 ,2 5 + 0, 20 + 0, 15 + 0, 10 + 0, 05 0, 00 –0 ,0 5 –0 ,1 0 –0 ,1 5 –0 ,2 0 –0 ,2 5 + 0, 5 –0 ,2 5 –0 ,2 0 –0 ,1 5 –0 ,1 0 –0 ,0 5 0, 00 + 0, 05 + 0, 10 + 0, 15 + 0, 20 + 0, 25 + 1, 0 –0 ,5 0 –0 ,4 0 –0 ,3 0 –0 ,2 0 –0 ,1 0 0, 00 + 0, 10 + 0, 20 + 0, 30 + 0, 40 + 0, 50 + 1, 5 –0 ,7 5 –0 ,6 0 –0 ,4 5 –0 ,3 0 –0 ,1 5 0, 00 + 0, 15 + 0, 30 + 0, 45 + 0, 60 + 0, 75 + 2, 0 –1 ,0 0 –0 ,8 0 –0 ,6 0 –0 ,4 0 –0 ,2 0 0, 00 + 0, 20 + 0, 40 + 0, 60 + 0, 80 + 1, 00 + 2, 5 –1 ,2 5 –1 ,0 0 –0 ,7 5 –0 ,5 0 –0 ,2 5 0, 00 + 0, 25 + 0, 50 + 0, 75 + 1, 00 + 1, 25 + 3, 0 –1 ,5 0 –1 ,2 0 –0 ,9 0 –0 ,6 0 –0 ,3 0 0, 00 + 0, 30 + 0, 60 + 0, 90 + 1, 20 + 1, 50 + 3, 5 –1 ,7 5 –1 ,4 0 –1 ,0 5 –0 ,7 0 –0 ,3 5 0, 00 + 0, 35 + 0, 70 + 1, 05 + 1, 40 + 1, 75 + 4, 0 –2 ,0 0 –1 ,6 0 –1 ,2 0 –0 ,8 0 –0 ,4 0 0, 00 + 0, 40 + 0, 80 + 1, 20 + 1, 60 + 2, 00 + 4, 5 –2 ,2 5 –1 ,8 0 –1 ,3 5 –0 ,9 0 –0 ,4 5 0, 00 + 0, 45 + 0, 90 + 1, 35 + 1, 80 + 2, 25 Fo nt e: S ch ei m an M , W ic k B. A ni se ik on ia . I n: S ch ei m an M , W ic k B (e ds ). C lin ic al M an ag em en t of B in oc ul ar V is io n. P hi la de lp hi a: L ip pi nc ot t, 2 00 2: 51 9- 49 .4 8 *A e B = ∆ % m p ar a um a da da c ur va f ro nt al , a lte ra çã o de e sp es su ra e p od er d ió pt ric o da le nt e. Ba se ad o em : ∆ % m = ∆ tD 1/ 15 + 2 V 0/ 10 . O nd e ∆ % m = a lte ra çã o na p or ce nt ag em d e m ag ni fic aç ão . D 1 = a lte ra çã o na c ur va tu ra f ro nt al d a le nt e (D ). ∆t = a lte ra çã o na e sp es su ra c en tr al d a le nt e (m m ). D 1 = c ur va f ro nt al d a le nt e (D ). 15 = u m a co ns ta nt e co rr ig id a; c on si de ra nd o- se o ín di ce d e re fr aç ão c or rig id o do c ris ta l p ar a o fa to d e a m ag ni fic aç ão s er e xp re ss a em % e a e sp es su ra d a le nt e em m m . V 0 = p od er d o vé rt ic e da le nt e (D ). 10 = r es ul ta d e al te ra çã o de m et ro s pa ra m ilí m et ro s e pa ra e xp re ss ar a m ag ni fic aç ão e m p or ce nt ag em . Pa ra c al cu la r ∆ % m , o s da do s da T ab el a 5 sã o de no m in ad os “ A ” e sã o su bt ra íd os d os d ad os o bt id os d a Ta be la 6 . Refratometria Ocular - Cap-05.indd 105 06/03/2017 21:25:19 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica106 Ta b el a 7 A lt er aç õ es a p ro xi m ad as n a p o rc en ta g em d e m ag n ifi ca çã o p o r al te ra çã o d a p o si çã o d o b is el d o c en tr o p ar a 33 a 6 6% o u 66 a 3 3% e m r el aç ão à a lt er aç ão d a es p es su ra d a le n te , c o n si d er an d o -s e o v al o r d e 2, 1 m m d e es p es su ra ( b as ea d a n o t am an h o d as le n te s n eg at iv as d e 46 m m )* Po d er ( D ) –1 0 –8 –6 –4 –2 –1 0 +1 +2 +4 +6 +8 +1 0 D es p es su ra m m –1 ,5 0, 94 0, 62 0, 36 0, 18 0, 05 0, 02 0, 00 0, 01 0, 02 0, 04 0, 06 0, 08 0, 10 –1 ,0 1, 02 0, 68 0, 41 0, 21 0, 07 0, 03 0, 00 0, 02 0, 04 0, 07 0, 11 0, 14 0, 18 –0 ,5 1, 11 0, 75 0, 46 0, 24 0, 09 0, 04 0, 00 0, 03 0, 05 0, 11 0, 16 0, 22 0, 27 + 0, 5 1, 28 0, 89 0, 56 0, 31 0, 12 0, 05 0, 00 0, 04 0, 09 0, 18 0, 26 0, 35 0, 44 + 1, 0 1, 36 0, 95 0, 61 0, 34 0, 14 0, 06 0, 00 0, 05 0, 10 0, 21 0, 31 0, 42 0, 52 + 1, 5 1, 45 1, 02 0, 67 0, 38 0, 15 0, 07 0, 00 0, 06 0, 12 0, 24 0, 36 0, 48 0, 60 + 2, 0 1, 52 1, 09 0, 71 0, 41 0, 17 0, 08 0, 00 0, 07 0, 14 0, 28 0, 41 0, 55 0, 69 + 2, 5 1, 61 1, 16 0, 77 0, 44 0, 19 0, 09 0, 00 0, 08 0, 16 0, 31 0, 46 0, 62 0, 77 + 3, 0 1, 68 1, 22 0, 82 0, 48 0, 20 0, 09 0, 00 0, 09 0, 17 0, 34 0, 51 0, 68 0, 85 + 3, 5 1, 78 1, 29 0, 87 0, 51 0, 22 0, 10 0, 00 0, 09 0, 19 0, 38 0, 56 0, 75 0, 94 + 4, 0 1, 85 1, 35 0, 91 0, 54 0, 24 0, 11 0, 00 0, 10 0, 20 0, 41 0, 61 0, 82 1, 02 + 4, 5 1, 94 1, 42 0, 96 0, 57 0, 26 0, 11 0, 00 0, 10 0, 21 0, 44 0, 66 0, 89 1, 10 Fo nt e: S ch ei m an M , W ic k B. A ni se ik on ia . I n: S ch ei m an M , W ic k B (e ds ). C lin ic al M an ag em en t of B in oc ul ar V is io n. P hi la de lp hi a: L ip pi nc ot t, 2 00 2: 51 9- 49 .4 8 *L en te s ne ga tiv as – a d im in ui çã o da d is tâ nc ia v ér tic e au m en ta a m ag ni fic aç ão ; o a um en to d a di st ân ci a vé rt ic e di m in ui a m ag ni fic aç ão . *L en te s po si tiv as – a d im in ui çã o da d is tâ nc ia v ér tic e di m in ui a m ag ni fic aç ão ; o a um en to d a di st ân ci a vé rt ic e au m en ta a m ag ni fic aç ão . Ba se ad o no c ál cu lo d a es pe ss ur a da b or da d a le nt e: E sp es su ra b or da le nt e ne ga tiv a = [2 ,1 – V 0h 2 / 2( ∆n ) + ∆ t] . Es pe ss ur a bo rd a le nt e po si tiv a = 2 ,1 + ∆ t. O nd e: 2 ,1 = e sp es su ra m ín im a da le nt e (m m ). V 0 = p od er v ér tic e da le nt e (D ). h= r ai o da le nt e (m m ). ∆n = ín di ce d e re fr aç ão d o m at er ia l d a le nt e (c ris ta l = 1 ,5 23 ) m en os o ín di ce d e re fr aç ão d o ar (1 ,0 00 ). ∆t é a a lte ra çã o na e sp es su ra d a le nt e (m m ). A q ua nt id ad e de m ud an ça d a fa ce ta d a le nt e no b is el a lte ra a p os iç ão d a le nt e (∆ h) , q ue p od e se r ca lc ul ad a us an do -s e a fó rm ul a da T ab el a 2. Refratometria Ocular - Cap-05.indd 106 06/03/2017 21:25:20 Anisometropia 107 Figura 4 Nomográfico de magnifica- ção. Uma lente de óculos positiva cons- truída com curvatura frontal +4,00 D e distância vértice 12 mm gera magnifica- ção da imagem retínicade 5%. Figura 5 Nomográfico de magnifi- cação. Uma lente de óculos negativa construída com curvatura frontal +4,00 D e distância vértice 12 mm gera minifi- cação da imagem retínica de 5%. 15,0 14,0 13,0 12,0 11,0 10,0 9,0 8,0 7,0 6,0 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0 1 2 1 4 1 6 1 8 2 0 M a g n if ic a ç ã o e m p o rc e n ta g e m D is tâ n ci a v ér ti ce có rn ea em m ilí m et ro s P o d e r v é rt ic e e m d io p tr ia s 0 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 7,00 8,00 9,00 10,00 Lente positiva Poder de magnificação nomográfico Para relação M= I I – hDv M= Poder de magnificação Dv= Distância vértice h= Distância vértice 0 -1,0 -2,0 -3,0 -4,0 -5,0 -6,0 -7,0 -8,0 -9,0 -10,0 11,0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0 1 2 1 4 1 6 1 8 2 0 M a g n if ic a ç ã o ( m in if ic a ç ã o ) e m p o rc e n ta g e m D istân cia v értice có rn ea em m ilím etro s P o d e r v é rt ic e e m d io p tr ia s -10,00 -9,00 -8,00 -7,00 -6,00 -5,00 -4,00 -3,00 -2,00 -1,00 0,00 Lente negativa Poder de magnificação nomográfico Para relação M= I I – hDv M= Poder de magnificação Dv= Distância vértice h= Distância vértice Refratometria Ocular - Cap-05.indd 107 06/03/2017 21:25:20 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica108 A Figura 6 mostra um nomográfico de magnificação da imagem que correlacio- na o poder frontal de lente positiva com espessura central. A prescrição de lentes iseicônicas pode ser realizada para pacientes anisometro- pes entre 1 e 5 D. ESTUDOS DE CASOS ■ Paciente com 12 anos de idade, sexo masculino, usa óculos desde os 4 anos; nunca foi submetido a terapia de oclusão ou de estimulação visual. Refere borramento eventual na leitu- ra. Óculos em uso: OD +4,00 D e OE +2,00 D. Não usa medicação. Antece- dentes ndn. ● AVcc longe OD 0,80 e OE 1,00. ● Amplitude de acomodação: OD: 7,00 D e OE: 8,00 D. ● Teste de cobertura unilateral não mostrou tropia (6 m e 40 cm). ● Teste de cobertura alternado/pris- ma-cobertura longe ortoforia e perto E’ 3 ∆. ● AV estereoscópica 40 cm 60 s (Stereo Fly Test). ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): ● OD: +6,00–0,50 180° e OE: +3,00 D. ● Px: OD: +5,00–0,50 180° (1,00–2) e OE: +2,00 D (1,00). – Lentes convencionais de poli- carbonato com a mesma espes- sura e com as curvas frontais de +6,50 = aniseiconia estimada cerca de 3,0% (a regra é reduzir imagem do OD e/ou aumentar imagem do OE). – Na presença de queixa compa- tível com aniseiconia (não é o caso), sendo menor a imagem Figura 6 Nomográfico de magnifica- ção. Uma lente de óculos construída com curvatura frontal +8,00 D e espes- sura central 3 mm gera magnificação da imagem de 1,5%. 4,0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0 1 2 M a g n if ic a ç ã o e m p o rc e n ta g e m E sp es su ra em m ilí m et ro s C u rv at u ra f ro n ta l e m d io p tr ia s 0 Nomográfico de Magnificação Forma Para relação I M= I I –D t/n1 M= Magnificação D = Curva frontal1 n= 1,523 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 7,00 8,00 9,00 10,00 11,00 12,00 13,00 14,00 15,00 16,00 Refratometria Ocular - Cap-05.indd 108 06/03/2017 21:25:20 Anisometropia 109 do olho esquerdo, aumentando a curva frontal da lente esquer- da de +6,50 D para +10,50 D, produz-se aumento da imagem do olho de 1,8%. – Px lentes convencionais de po- licarbonato, curvas frontais de +6,50 e uso constante dos ócu- los. – Revisão em 6 e12 meses. Comentários Foria unilateral ou assimétrica pode ocor- rer em anisometropia hipermetrópica sub- corrigida pelo estímulo acomodativo desi- gual na visão de longe. Quando o jovem usa os óculos antigos, o OD acomoda +2,00 D e o OE +0,75 D para ter visão clara de longe. Durante o teste de cobertu- ra alternado, o olho que é coberto é força- do a convergir como resultado da acomo- dação do olho contralateral (fixador). Se o paciente exibe ortoforia de longe, pode exibir esoforia do OE pela excessiva aco- modação do OD. A causa principal do sintoma de bor- ramento visual na leitura com a correção antiga é a subcorreção da hipermetropia e da anisometropia. A fadiga da acomo- dação em geral compromete a habilidade de manter a imagem clara, especialmente sob estresse. Não é recomendável a prescrição to- tal do erro refrativo total (refratometria ci- cloplégica), porque a cicloplegia elimina a acomodação, e a prescrição total borra a visão de longe. Por isso, reduz-se na pres- crição o componente esférico 1,00 a 1,25 D. No caso, reduziu-se +1,00 D em AO. Na presença de queixas compatíveis com aniseiconia, para aumentar a imagem do OE, pode-se prescrever lente com au- mento da curva frontal de 4 D, e, assim, a aniseiconia estimada em 3% reduz-se para 1,2%. ■ Paciente de 6 anos, sexo masculino, veio para o primeiro exame oftalmoló- gico encaminhado pela professora da pré-escola. Nega uso de medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe OD 0,05 e OE 0,67. ● Amplitude de acomodação: OD sem resposta e OE 8,50 D. ● Teste de prisma cobertura longe ET 5 ∆ e perto ET’ 10 ∆. ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): ● OD: +6,00–0,50 80° (0,05) e OE: +2,25 D (0,80). ● Px: OD: +6,00–0,50 180° e OE: +2,25 D. ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra longe sem tropia e perto ET’ 4 ∆. – Utilizou-se o Programa Anisei- konia Inspector 3™ para estimar a aniseiconia e definir as carac- terísticas das lentes. – Com lentes convencionais de policarbonato, mesma espessu- ra, curvas frontais de +8,00 D, a aniseiconia foi estimada em 3,8%. – A utilização de lente asférica de alto índice no OD provoca um aplanamento da curva-base Refratometria Ocular - Cap-05.indd 109 06/03/2017 21:25:20 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica110 para 7,25 D, além de redução da distância vértice e da espes- sura da lente. Essas mudanças reduzem a aniseiconia de 3,8% para 1,1%. – Essas lentes foram prescritas. O óptico foi orientado para esco- lher para o paciente armação que permitisse reduzir a distân- cia vértice. – Uso constante dos óculos. – Revisão em 3 e 6 meses. Comentários A prescrição total do erro refrativo medido pela refratometria sob cicloplegia é o desejável para crianças com esodesvio para relaxar a acomodação e reduzir o desvio. Na abordagem de pessoas com mais idade e que não se adaptaram à prescrição total inicial, temporariamente reduz-se o componente esférico das duas lentes de +0,50 a +1,00 D. A aniseiconia pode trazer problemas no uso da correção óptica de anisome- tropia hipermetrópica tão grande. Mas, a AVcc do OD da criança é muito baixa e ela não perceberá seus efeitos (aniseico- nia). No entanto, deve-se buscar a com- pensação da aniseiconia, nesse caso pres- crevendo lentes asféricas que apresentam curvas frontais mais planas e redução da distância vértice. A deprivação de imagem retiniana clara e a esotropia levaram ao desen- cadeamento de ambliopia profunda no OD. Deve-se indicar a correção total do erro refrativo e complementar com tera- pia visual, objetivando melhorar a fun- ção visual. ■ Paciente com 7 anos de idade, sexo fe- minino; veio encaminhada pela profes- sora da escola, que verificou que tinha dificuldades para enxergar anotações no quadro-negro. Não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe OD (0,50) OE (0,05). ● Amplitude de acomodação: OD: 12,00 D e OE: 14,00 D. ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): ● OD: –1,00 D (1,00) e OE: –4,25 (1,00). ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra longe X 2 ∆ e perto X’ 4 ∆. ● AV estereoscópica 40 cm 40 s (Ste- reo Fly Test). ● Px: OD: –1,00 D eOE: –4,25 D. – Utilizou-se o Programa Anisei- konia Inspector 3™ para estimar a aniseiconia e definir as carac- terísticas das lentes. – O aumento da curva frontal traz poucos benefícios para lentes negativas de alto poder, pois provoca aumento da distância vértice. Uma alternativa é o em- prego de lentes asféricas, que apresentam curvas-base mais planas, provocando diminuição da distância vértice. – A utilização de lente asférica de alto índice no OE reduz a curva- base da lente de 4,50 para 1,25 Refratometria Ocular - Cap-05.indd 110 06/03/2017 21:25:21 Anisometropia 111 D, muda o índice de refração de 1,58 para 1,70 e reduz a distân- cia vértice de 12,3 para 10 mm. Com essas mudanças, diminuiu- se a aniseiconia de 3,25% para 1,3%; por isso, essas lentes fo- ram prescritas. – Uso constante dos óculos. – Revisão em 3 a 6 meses. Comentários A prescrição é a total obtida sob ciclople- gia, obtendo-se a melhor AVcc em AO. Em adultos não previamente corrigidos, quando a correção total não permite con- forto, pode-se inicialmente reduzir a cor- reção do olho mais míope de 0,50 D. A criança apresenta visão estereoscópica de 40 s de arco com a correção total. A corre- ção de anisometropia de 3,25 D pode cau- sar aniseiconia e anisoforia, que podem interferir na binocularidade. A anisoforia é induzida ao olhar fora dos centros ópti- cos das lentes corretoras. Deve-se ter aten- ção especial à anisoforia vertical induzida na leitura, cujas linhas visuais intercep- tam as lentes 8 mm abaixo de seus cen- tros ópticos. Em adultos, pode ser neces- sária a prescrição de óculos de longe com os centros ópticos alinhados com a DNP de longe e óculos de perto com os centros ópticos abaixados e alinhados com a DNP de perto. No caso, com a prescrição das lentes acima, foi possível reduzir a anisei- conia de 3,3 para 1,4%. ■ Paciente com 6 anos de idade, sexo masculino, veio para seu primeiro exa- me; a mãe refere que a criança, às ve- zes, cobre o olho direito com a mão enquanto lê. Não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe OD (0,66–2) OE (0,10). ● Amplitude de acomodação: OD: 12,00 D e OE: 15,00 D. ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): ● OD: –0,75 D (1,00) e OE: –2,75 (1,00). ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra longe X 2 ∆ e perto X’ 5 ∆. ● AV estereoscópica 40 cm 40 s arco (Stereo Fly Test). ● Px: OD: –1,00 (1,00) e OE: –2,75 (1,00). – Lentes convencionais de poli- carbonato ou trivex. Não há ne- cessidade de prescrição de len- tes iseicônicas. – Uso constante dos óculos. – Revisão em 6 e 12 meses. Comentários A criança apresenta anisometropia mió- pica simples de 2,00 D e visão binocu- lar normal. Deve-se fazer prescrição total (exame refratométrico sob cicloplegia) pa- ra oferecer a melhor AV a cada olho, e, com essa prescrição, a AV de AO foi igua- lada a 1,00. A criança deixou de ocluir o OD na leitura, aceitou bem a prescrição dos óculos e usa-os constantemente. ■ Paciente com 6 meses de idade, sexo feminino, afacia unilateral, catarata congênita removida há 3 meses. Não Refratometria Ocular - Cap-05.indd 111 06/03/2017 21:25:21 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica112 usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): ● OD: +18,00-0,50 180 e OE: +1,00. ● Teste de cobertura e Hirschberg: sem estrabismo. ● Px OD: LC RGP. – Seguimento mensal para avaliar a adaptação da LC RGP e o erro refrativo. – Terapia visual para impedir o desenvolvimento de ambliopia refrativa. Comentários É um caso de anisometropia secundária a afacia unilateral (OD). Pela idade, a crian- ça não é candidata a cirurgia para implan- te de LIO. O uso de LC é essencial no tra- tamento da ambliopia refrativa, e também permite acompanhar o desenvolvimento visual, assim como as alterações no erro refrativo e na visão binocular. A criança teve adaptada, no OD, LC RGP, que é a mais utilizada entre nós, pela dificuldade de encontrar LCG de alta hidratação, com diâmetro pequeno e poder dióptrico ele- vado. A LCG é mais fácil de adaptar, mais confortável, mais difícil de ser encontra- da nos parâmetros pediátricos e mais tra- balhosa para os pais manusearem quando comparadas com as LC RGP ou elastôme- ro de silicone.49 A LC RGP é bem tolera- da pela criança, mais prática para os pais manusearem e cuidarem e facilmente dis- ponível nos parâmetros pediátricos. A LC de elastômero de silicone está disponível somente para a afacia pediátrica, sendo, provavelmente, a única de uso contínuo segura. Tem enorme permeabilidade ao oxigênio, mas tende a formar depósitos lipídicos com facilidade. Corresponde à lente Silsoft (Bausch & Lomb, EUA) – Elas- tofilcon A – diâmetros 11,3 e 12,5 mm; curvas-base 7,5; 7,7; 7,9 e 8,3 mm; pode- res +12,00 a +32,00 D. A correção da afacia unilateral com óculos pode aumentar em até 30% a ima- gem, enquanto a LC para a mesma corre- ção aumenta cerca de 7%. Nesses casos, um artifício utilizado para reduzir a anisei- conia é programar a correção de LC para perto, dando uma hipercorreção de 3,00 D, e colocar óculos com a correção de longe com –3,00 D. ■ Paciente com 28 anos de idade, sexo feminino, última avaliação há cerca de 10 anos, nunca usou óculos. Refere di- ficuldade para dirigir à noite: as luzes dos faróis dos carros esparramam-se. Não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe OD (1,00) OE (0,10). ● Amplitude de acomodação: OD: 6,00 D e OE: 9,00 D. ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): ● OD: +0,25–0,50 1800 D (AV 1,00) e OE: –2,25–0,50 1800 (AV 1,00). ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra longe X 3 ∆ e perto X’ 4 ∆. ● AV estereoscópica 40 cm 40 s de arco (Stereo Fly Test). Refratometria Ocular - Cap-05.indd 112 06/03/2017 21:25:21 Anisometropia 113 ● Px: OD: +0,25–0,50 180° D (1,00) e OE: –2,25–0,50 180°. – A correção acima foi montada em armação de provas; a pa- ciente disse que não quer usar e não usará óculos. – Realizou-se teste com LC de sili- cone hidrogel no olho esquerdo (–2,25, AV 1,00); a paciente dis- se que não quer usar LCG. – Foi indicada e realizada LASIK no OE (AVsc 20/20). Comentários A paciente apresenta anisometropia de 2,50 D, astigmatismo misto (OD) e mió- pico composto (OE). A paciente rejeitou a prescrição de óculos e a adaptação de LCG, pois está adaptada à monovisão, sig- nificando que, com o OD, enxerga a dis- tância e, com o OE, de perto. Nessas con- dições, muitos pacientes estão plenamente satisfeitos com a visão não corrigida. A paciente entendeu que poderia ou não usar óculos, que LC no OE melhoraria a AV de longe. Mesmo assim não quis, e preferiu ser submetida à cirurgia ceratorre- frativa no OE e ficou satisfeita. ■ Paciente com 68 anos de idade, sexo feminino, desconforto visual (cansaço) no uso dos bifocais, sobretudo na leitu- ra. Refere borramento da visão de lon- ge. As queixas são as mesmas do exame realizado há 1 ano, quando os óculos foram atualizados. Usa medicação para controle de hipertensão arterial e coles- terol. Sem antecedentes de interesse. ● AV longe OD: –2,50–0,75 90° (0,80) OE: +0,75–2,00 90° (0,40) adição +2,50 perto (OD J 1 e OE J 4). ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): ● OD: –2,25–0,75 90° (1,00) e OE: +2,25–3,50 90° (1,00) +2,50 adi- ção 40 cm AO J 1. – Px: OD: –2,25–0,75 90° e OE: +2,25–3,50 90°/ +2,50 add. – Teste de prisma-cobertura longe X 2 ∆ e perto X’ 10 ∆. – A correção acima foi montada em armação de provas; a pa- ciente aceitou bem as correções de longe e perto. – Apresenta anisometropia de 4,50 D no meridiano de 90° e de 1,75D no meridiano de 180°. Foram oferecidas como opção lentes bifocais ou progressivas com prisma slab-off. A paciente preferiu dois pares de óculos se- parados, um para longe e outro para perto. Comentários A anisometropia vertical de 4,50 D induz anisoforia vertical na leitura que a ampli- tude de fusão da paciente não é capaz de compensar. As duas melhores possibilida- des atuais de correção com óculos únicos incluem lentes bifocais ou progressivas, ambas com prisma de slab-off para com- pensar a anisoforia vertical na leitura. A paciente preferiu a prescrição de óculos separados e ficou satisfeita com eles. Os Refratometria Ocular - Cap-05.indd 113 06/03/2017 21:25:21 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica114 óculos de perto foram aviados com abai- xamento dos COs de 4 mm alinhados com a DNP de perto. ■ Paciente com 62 anos de idade, sexo masculino, veio para consulta anual; refere desconforto no olho direito; o olho esquerdo não aborrece. Usa medicação para controle de hiper- tensão arterial. Sem antecedentes de interesse. ● AV longe OD: –2,25–0,25 90° (0,25) OE: –2,00–0,25 90° (1,00) adição +2,50 de perto OD J 4 e OE J 1. ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): ● OD: –4,25–0,25 90° (1,00-2) e OE: –2,00–0,25 90° (1,00) +2,50 adição para ler a 40 cm AO J 1. ● Teste de prisma-cobertura longe X 3 ∆ e perto X’ 12 ∆. Px: OD: –4,25–0,25 90° e OE: –2,00–0,25 90°/+2,50 adição. – Utilizou-se o Programa Anisei- konia Inspector 3™ para estimar a aniseiconia e definir as carac- terísticas das lentes. A aniseico- nia foi estimada em 2%, sendo secundária à esclerose nuclear do cristalino do OD. – A correção citada foi montada em armação de provas; o pa- ciente enxergou bem com as correções de longe e perto, mas se sentiu desconfortável com ambas. Foram oferecidas como opção lentes bifocais ou pro- gressivas com prisma slab-off. O paciente preferiu dois pares de óculos separados, um para lon- ge e outro para perto. Comentários A anisometropia adquirida secundária à alteração lenticular não é incomum, co- mo também não é incomum a alteração refrativa pós-cirúrgica (excisão de catarata com implante de LIO, cirurgia de descola- mento de retina com buckle escleral etc.). O paciente preferiu a prescrição de óculos separados e ficou satisfeito com eles. Os óculos de perto foram aviados com abai- xamento dos CO de 4 mm e alinhados com a DNP de perto. ■ Paciente com 24 anos de idade, sexo feminino, com queixas de cefaleia e astenopia relacionadas ao uso dos ócu- los (OD: –1,00 D e OE: –4,00 D). Usou LC, obtendo alívio da astenopia, mas desenvolveu intolerância ao uso das LC. Boa saúde. Não usa medicação. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe OD: 0,50 e OE: 0,10. ● Ceratometria OD: 44,50 180°/44,75 90° e OE: 46,25 180°/46,50 90°. ● Amplitude de acomodação: AO: 11,00 D. ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): ● OD: –1,00 D (AV 1,00) e OE: –4,00 D (AV 1,00). – 24 h de oclusão diagnóstica eliminaram os sintomas do pa- ciente. Refratometria Ocular - Cap-05.indd 114 06/03/2017 21:25:21 Anisometropia 115 – Parâmetros das lentes em uso: lente direita tem +5,25 D de curva frontal e 2,1 mm de espes- sura central; e a esquerda, cur- va frontal de +3,50 D e espes- sura central de 2,1 mm. Ambas as lentes estavam montadas em armação com distância vértice de 15 mm. – Parâmetros das lentes: direita com curva frontal de +5,25 D, 2,1 mm de espessura central e 10 mm de distância vértice; a esquerda com curva frontal de +3,50 D com a posição da face- ta da lente no bisel do aro mo- dificada para a lente ficar mais próxima do olho (alteração de 33 para 66%), 4,6 mm de espes- sura central e 10 mm de distân- cia vértice. Comentários Com base nas curvaturas da córnea, a ani- sometropia do paciente é de origem re- frativa, o que corresponde a 1,5% de ani- seiconia por dioptria de anisometropia. Considerando-se que, parcialmente, existe um componente axial nas anisometropias, o total estimado foi de 3,5% de aniseico- nia e não de 4,5%. Para reduzir a anisei- conia, são necessários os seguintes passos: ● Diminuição da distância vértice de 15 para 10 mm, selecionando ar- mação adequada. Assim, conse- gue-se magnificação da imagem de 0,5% para a lente direita e de 2% para a esquerda. A diferença entre ambas representa um aumento na magnificação relativa de +1,5% na lente esquerda (ver Tabela 2). ● Alteração da curva frontal em lentes negativas contribui muito pouco, por isso decidiu-se manter as cur- vas frontais das lentes em uso. ● Aumento da espessura central da lente esquerda para 4,6 mm levou a um aumento na magnificação re- lativa da lente esquerda de 1,08% (ver Tabelas 3 e 4). ● Alteração na posição da faceta da lente no bisel do aro esquerdo (de 33 para 66%) permite montar a len- te na armação mais próxima do OE e, assim, produzir um aumento na magnificação nessa lente de 0,44% (ver Tabela 5). ● As alterações nos parâmetros das lentes mudaram a magnificação da imagem em ambas as lentes e propiciaram um aumento de 3,02% de magnificação na lente esquerda. ■ Paciente com 23 anos de idade, sexo masculino, recentemente teve a sua correção óptica modificada e passou a ter queixas de desconforto visual. Refe- re que foi aumentado o poder dióptri- co da lente esquerda. Veio usando no OD –2,00 D, no OE –8,00 D e distân- cia vértice das lentes de 14 mm. Boa saúde. Sem antecedentes de interesse. ● AVcc longe e perto AO 1,00. ● Refração sob cicloplegia (1 gota de ciclopentolato a 1%, 2× em cada olho, intervalo de 5 min, exame após 40 min): Refratometria Ocular - Cap-05.indd 115 06/03/2017 21:25:21 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica116 ● OD: –2,00 D (1,00) e OE: –8,00 D (1,00). ● Teste de prisma-cobertura longe or- toforia e perto X’ 4 ∆. ● AV estereoscópica 40 cm 40 s de arco (Stereo Fly Test). – Mantida a prescrição. – Oclusão diagnóstica do OE por 24 h eliminou os sintomas. – Foram indicadas LC de silicone hidrogel. Comentários O jovem apresenta aniseiconia aproxima- da de 6%. A imagem menor é a do OE, cujo objetivo é aumentar a magnificação da imagem do OE. A redução da distân- cia vértice de 14 para 10 mm na lente di- reita aumenta a magnificação de 0,80% e, na lente esquerda, de 3,20%. A diferença representa o aumento da magnificação da imagem de 2,40% (ver Tabela 2). Modifi- cando-se o posicionamento da faceta da lente no bisel do aro esquerdo (de 33 para 66%), obtém-se a magnificação de 0,96% para o tamanho do aro-lente de 52 mm. Na lente direita, esse recurso não ofere- ce resultado (ver Tabela 3), ou seja, com essas medidas reduz-se a aniseiconia em 3,36% (2,40% +0,96%). Restariam 3,60% de aniseiconia não corrigida. Empregando-se o Programa Anisei- konia Inspector 3TM para estimar a ani- seiconia e definir as características das lentes, obtém-se, com lentes asféricas de alto índice e redução da distância vértice de 14 para 10 mm (alterando-se também a posição da faceta da lente no bisel do aro da armação), redução da aniseiconia para, aproximadamente, 4%. Ainda as- sim, a elevada aniseiconia residual pode na permanência dos sintomas exigir a utilização de outra estratégia. A melhor opção é a adaptação de LC, isoladamen- te ou associada ao uso de óculos. Nes- se caso, a opção foi a adaptação de LC de silicone hidrogel. A Figura 7 ilustra as três opções consideradas para esse caso. SUMÁRIO Na correção da anisometropia, é funda- mental ter em mente os seguintes pontos: 1. Determinar o erro refrativo com precisão. 2. Determinar o estado binocular com e sem a correção. 3. Verificar a ocorrência de ambliopia e estrabismo. 4. Estar preparado para tratar anisoforia vertical e aniseiconia. 5. Desenvolver um plano de tratamento comobjetivos claros, incluindo a expec- tativa do estado binocular do paciente. 6. Educar o paciente sobre as dificuldades iniciais da adaptação à correção e sobre o tratamento a que estará sendo subme- tido. Refratometria Ocular - Cap-05.indd 116 06/03/2017 21:25:21 Anisometropia 117 REFERÊNCIAS 1. Penisten DK. 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Refratometria Ocular - Cap-05.indd 119 06/03/2017 21:25:21 Refratometria Ocular - Cap-05.indd 120 06/03/2017 21:25:21 Avaliação da Prescrição Médica 121 6 Baixas Ametropias Milton Ruiz Alves Edson dos Santos-Neto Mariza Polati O termo baixas ametropias refere-se aos erros refracionais miopia, hipermetropia e astigmatismo de menos de 1,00 D, cujo diagnóstico e valor dióptrico tenham sido obtidos no exame refratométrico sob ci- cloplegia. SINAIS E SINTOMAS Os sinais e sintomas resultantes de pe- quenos erros refracionais não corrigidos geralmentesão vagos, transitórios e di- fíceis de serem relacionados às baixas ametropias.1 Os achados do exame oftál- mico de rotina usualmente não explicam o porquê de as queixas desses pacientes serem, às vezes, clinicamente significati- vas. Os sintomas mais comuns estão as- sociados aos erros refrativos maiores não corrigidos, tais como visão borrada, as- tenopia e cefaleia, os quais também são relatados pelos pacientes portadores de baixas ametropias não corrigidas. A alte- ração visual decorrente de pequenos er- ros refracionais é discreta e tem pouco ou nenhum efeito na acuidade visual, uma vez que o borramento da imagem retínica é mínimo. Nos casos de baixa hiperme- tropia, a acomodação compensa confor- tavelmente o erro refrativo, a menos que os sintomas estejam relacionados ao pro- longado esforço acomodativo e exercido sem intervalos de descanso, em ativida- des como leitura ou no uso de terminais de video display (VDT). Nesses casos, os sintomas podem resultar de fadiga do sis- tema ciliar, devido ao tempo prolongado de uso da visão de perto e/ou pela des- compensação de foria preexistente.2 Muitos investigadores têm demons- trado haver relação entre o uso de VDT e sintomas relacionados à visão, incluin- do cefaleia, dificuldade na visão dinâmi- ca (focalização alternada de objetos próxi- mos e distantes), diplopia, visão borrada, irritação ocular e astenopia.3-6 A etiologia desses sintomas é, frequentemente, incer- ta, uma vez que fatores comportamentais e/ou ambientais (p. ex., o tipo de atividade visual, a pressão pela execução do traba- lho, o interesse pela atividade e a ausência de intervalos para relaxamento da acomo- dação) e fatores oculares (p. ex., o tipo e a magnitude do erro refrativo, a amplitude de acomodação e a descompensação de Refratometria Ocular - Cap-06.indd 121 06/03/2017 21:25:46 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica122 foria preexistente) têm sido identificados como causas possíveis.3-8 O cansaço físico e o estado de compro- metimento geral da saúde também podem desencadear sintomas de astenopia em ca- sos de baixa ametropia não corrigida.7,8 FUNDAMENTOS DA CORREÇÃO ÓPTICA Sinais e sintomas, como visão borrada, aste- nopia e cefaleia, resultantes de baixa ame- tropia não corrigida, podem afetar pessoas de todas as idades. Para todas elas, o fator desencadeante comum é a execução de ati- vidades visuais de perto realizadas por meio do esforço acomodativo prolongado. A conduta na baixa ametropia leva em conta a possível influência de muitos fa- tores, entre eles a presença e intensidade dos sintomas e do efeito da ametropia na acuidade visual e na visão binocular. Em alguns casos de baixa ametropia, como hipermetropia simples em pacien- te jovem com amplitude de acomodação normal, os sintomas oculares, se presentes, são mínimos e a acuidade visual de longe e de perto provavelmente não é afetada. Nesses casos não se deve prescrever len- tes corretivas, mas os pacientes devem ser educados sobre a natureza de sua condição e dos possíveis fatores desencadeantes dos sintomas. Devemos enfatizar que essa con- dição não leva a perda de visão nem a ou- tras complicações e explicar que alterações comportamentais (introdução de intervalos para relaxamento da acomodação) e am- bientais (correção da iluminação e da dis- tância em que é exercida a atividade visual) podem devolver o conforto visual. A questão clínica fundamental a ser enfrentada na conduta aos portadores de baixa ametropia sintomática é a de pres- crever ou não a correção óptica total do baixo erro refracional. Para pacientes portadores de erros refra- tivos baixos cujos sintomas estejam supos- tamente a eles relacionados, a conduta é a correção total do erro refrativo medido sob cicloplegia, desde que haja saúde física e não sejam identificadas alterações do sis- tema acomodativo e das vergências fusio- nais. Na presença de astigmatismo hiper- metrópico, a correção deve sempre ser a prescrição total do cilindro positivo. Como a magnitude do poder das lentes corretivas é pequena, geralmente o paciente não en- contra dificuldades em usá-las nas ativida- des de perto. Não existe uma regra para to- dos os pacientes. Por exemplo, o portador de baixa miopia com esoforia para perto e que usa a prescrição para melhorar a visão de longe deve retirar os óculos nas ativida- des para perto com o objetivo de reduzir a esoforia e manter a visão binocular normal. Recomenda-se o uso dos óculos nas atividades que propiciam conforto, o que, para um número pequeno de pessoas, pode significar todo o tempo. A utilização de armação de provas montada com as lentes a serem prescri- tas permite ao paciente reconhecer como a correção planejada irá influenciar na vi- são de longe e perto, mas não fornecerá subsídios a respeito do possível alívio dos sintomas desencadeados no exercício diá- rio de suas atividades visuais. O exame refratométrico subjetivo não é suficiente para determinar a medida cor- reta do baixo erro refracional. A decisão Refratometria Ocular - Cap-06.indd 122 06/03/2017 21:25:47 Baixas Ametropias 123 sobre quanto prescrever se baseia na sin- tomatologia e na medida dos erros refrati- vos sob cicloplegia. ACOMODAÇÃO E VERGÊNCIA A prescrição de lentes oftálmicas esféri- cas, cilíndricas ou esferocilíndricas, po- sitivas ou negativas, no manejo de qual- quer ametropia, pode afetar os sistemas de acomodação e de vergências. Modifi- cando-se a acomodação, alteram-se tam- bém as vergências, em função da íntima relação que existe entre ambas. Se deter- minada atividade visual leva a aumento do estado acomodativo, também desen- cadeia aumento da convergência; assim, o estado de hiperconvergência pode le- var a maior demanda de vergência fusio- nal, com consequentes sintomas de aste- nopia e cefaleia.1 Com lentes de poder dióptrico baixo, não se deve esperar efeito clinicamen- te significativo no sistema acomodativo e vergencial. De fato, pacientes que refe- rem sintomas de astenopia ou cefaleia por ametropia hipocorrigida, com frequência referem alívio imediato dos sintomas com a correção refracional adequada. Contu- do, aqueles pacientes que recebem pres- crição de lentes de baixo poder dióptrico precisam ser educados sobre o uso dos óculos e sobre o posicionamento dos VDT para que ocorra alívio dos sintomas rela- cionados à acomodação e vergência.1 DESENHO DAS LENTES O desenho das lentes, curvas-base, espes- sura central e tratamento de superfície são os habituais em estoque. As lentes dos pa- cientes que trabalham com computador devem receber tratamento antirreflexo. ESTUDOS DE CASOS ■ Estudante, sexo masculino, com 9 anos de idade, veio na primeira avaliação oftálmica referindo dificuldades para enxergar o que o professor escreve no quadro-negro quando sentado no fun- do da sala de aula. Não relata dificul- dades para perto. Sem antecedentes de interesse. ● AVsc longe OD: 1,0–3 e OE: 0,8–2. ● Ceratometria AO: 43,50 180° × 44,00 90°. ● AV estereoscópica 40 s (Stereo Fly Test). ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra sc longe e perto ortoforia. ● Amplitude de acomodação OD e OE 14 D. ● Refração sob cicloplegia: OD: –0,25 D (AV 1,00). OE: –0,50 D (AV 1,00). ● Planejamento: 1. Px: OD –0,25 e OE –0,50. – Lentes de policarbonato. 2. Não prescrição: – Mudar a posição do aluno na sala de aula: sentar na fileira da frente. Comentários O caso ilustra o diagnóstico de miopia em escolar cuja queixa estava restrita à difi- culdade de enxergar o que se escrevia no Refratometria Ocular - Cap-06.indd 123 06/03/2017 21:25:47 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica124 quadro-negro quando sentado no fundo da sala de aula. Discutiu-se com os pais sobre as duas possibilidades de conduta aponta- das anteriormente, ou seja, a prescrição de óculos para corrigir a baixa ametropia pa- ra serem usados na escola, não sendo, por- tanto, necessário mudar a posição do alu-no na sala de aula, e a outra opção de não prescrevê-los, trocando a posição do aluno na sala da aula. Esta última foi a decisão to- mada em conjunto com os pais, que foram orientados para o fato de que, futuramente, a criança poderá necessitar da correção ca- so a miopia venha a aumentar, e lembran- do que a prescrição ou não da correção óp- tica atual não deverá interferir na possível evolução do erro refracional. ■ Estudante, sexo masculino, com 17 anos de idade, refere que vem apresen- tando borramento visual após 10 a 15 min de leitura. Realizou a última ava- liação oftálmica há 5 anos, quando foi considerada normal. Nunca usou len- tes corretoras. APF ndn. ● AVsc longe OD: 1,00 e OE: 1,00 e perto J 1 (AO). ● Ceratometria OD: 42,50 180° × 43,00 90° e OE: 42,25 180° × 43,25 90°. ● AV estereoscópica 40 s (Stereo Fly Test). ● Amplitude de acomodação OD e OE 6 D. ● Refração sob cicloplegia: OD: +1,00 (AV 1,00). OE: +0,25-0,50 180° (AV 1,00). ● Teste com armação de provas: OD: +0,75 (AV 1,00–1) e OE: –0,50 180° (AV 1,00). ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra longe ortoforia e perto (X 3 ∆). Com a correção anterior, o aluno referiu pouca alteração na visão de longe. Após leitura de cerca de 20 min na sala de espera, não refe- riu borramento da visão. Após esse tempo de leitura, informou que a vi- são de longe permanecia clara. Px: OD +0,75 (AV 1,00–1) e OE –0,50 180° (AV 1,00). – Lentes de policarbonato. – Uso todo o tempo de vigília. Comentários O aluno apresenta hipermetropia simples não corrigida no olho direito e astigmatis- mo miópico simples no olho esquerdo. Há anisometropia, no meridiano vertical, de 1,25 D e, no horizontal, de +0,75 D. A amplitude de acomodação medida é bai- xa para a idade. O borramento visual na leitura provavelmente se dá pela incapaci- dade de compensar igualmente as ametro- pias de ambos os olhos pela acomodação, em função da anisometropia. Quando a acomodação sofre fadiga, a visão borra. O fato de o uso dos óculos não borrar a visão de longe permite ao escolar usá-los duran- te todo o tempo de vigília. Sugeriu-se nova avaliação em 6 a 12 meses. ■ Secretária, sexo feminino, com 47 anos de idade, refere boa visão de longe sem óculos e relata que a visão de perto deteriorou muito no último ano. Com os seus primeiros óculos de perto (AO: +1,25 D), prescritos há 2 anos, vem tendo dificuldades para enfiar linha de costura no buraco da Refratometria Ocular - Cap-06.indd 124 06/03/2017 21:25:47 Baixas Ametropias 125 agulha e para ler bula de remédios. Sente-se bem com os óculos para executar atividades de meia distân- cia, como, por exemplo, para enxer- gar a tela e o teclado do computador e na procura de fichas de clientes no arquivo, mas refere dificuldades na leitura de textos impressos com letras pequenas. APF ndn. ● AVsc longe OD: 1,00 e OE: 1,00 e perto (+1,25 D) (40 cm) OD J 3 e OE J 3-. ● Ceratometria OD: 42,50 180° × 42,75 90° e OE: 42,25 180° × 42,75 90°. ● AV estereoscópica (+1,25 D) 40 s (Stereo Fly Test). ● Amplitude de acomodação OD e OE 2,50 D. ● Refração sob cicloplegia: OD: +0,75 (AV 1,00). OE: +0,50 (AV 1,00). ● Teste do cilindro cruzado a 40 cm: add +1,50 D. ● Teste com armação de provas OD: +2,25 e OE: +2,00. Refere boa visão de perto (40 cm) e borramento na meia distância (60 a 70 cm). Tem boa visão na meia distância com OD +1,50 D e OE +1,25 D. Para longe, boa visão sem correção. ● Planejamento da prescrição: 1. Óculos separados de perto e de meia distância (os óculos antigos estavam bons para meia distân- cia porque apresentavam correção aproximada com a necessidade atual de correção para meia dis- tância). 2. Óculos de perto e de meia dis- tância ampliados (lentes regressi- vas). 3. Óculos multifocais. A secretária não sente necessidade de usar e recusa correção para longe (des- cartada prescrição de lentes multifocais) e não quer ter dois óculos para trabalhar nas distâncias de perto e meia distância. Por essa razão foram propostos e prescritos óculos de perto e de meia distância am- pliados (lentes regressivas). Comentários Muito frequentemente, os pacientes por- tadores de baixo erro refrativo com difi- culdades de visão de perto e até de meia distância, mas com boa visão para longe, preferem não usar óculos com a correção de longe, alegando que o ganho visual não é suficiente para suplantar o aborre- cimento da dependência dos óculos que resulta do uso permanente da correção. A queixa principal da paciente está na visão de perto. A correção de perto traz como complicação o borramento da visão de meia distância, daí a opção pela forma de correção que contempla as duas necessi- dades (perto e meia distância: lentes re- gressivas). O esforço acomodativo para ler a 40 cm é +2,50. Sua amplitude de aco- modação 2,00 D. O cálculo do valor da adição de perto pode ser feito consideran- do +2,50 (esforço acomodativo para ler a 40 cm) – 1,00 (1/2 da AA), ou seja, +1,50 D. Na prescrição das lentes de perto e de Refratometria Ocular - Cap-06.indd 125 06/03/2017 21:25:47 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica126 meia distância ampliadas, prescrevemos o valor de perto, indicamos a marca da len- te e anotamos o valor da regressão – nesse caso, de +0,75 D (ver dispensário óptico de lentes regressivas). ■ Programador de computador, sexo masculino, com 22 anos de idade, re- fere que vem apresentando borramento visual e cefaleia frontal, principalmen- te à tarde. Relata que procurou oftal- mologista que lhe prescreveu óculos há 6 meses (AO +0,50) e que deixou de usá-los porque não sentia melhora com o seu uso. APF ndn. ● AV longe (AO +0,50 D) OD: 1,00– e OE: 1,00– e perto J 1 (AO). ● Ceratometria OD: 42,50 180° × 42,50 90° e OE: 42,75 180° × 42,50 90°. ● AV estereoscópica 40 s (Stereo Fly Test). ● Amplitude de acomodação OD e OE 11 D. ● PPC 16 cm. ● Refração sob cicloplegia: OD: +0,50–0,75 90° (AV 1,00). OE: +0,50–0,50 90° (AV 1,00). ● Teste com armação de provas: OD: +0,50–0,75 90° e OE: +0,50 –0,50 90°. ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra longe ortoforia e perto X 8 ∆. – Com as lentes acima, referiu boa visão para longe e perto; relatou distorção no campo de visão periférico tanto para longe quanto para perto. ● Planejamento da prescrição: 1. OD: +0,50–0,75 90° e OE: +0,50–0,50 90°. – Lentes de policarbonato. 2. Terapia visual para insuficiência de convergência. Comentários O programador de computador apresenta baixo astigmatismo misto (contra-a-regra) no olho direito e astigmatismo hiperme- trópico simples no olho esquerdo. O as- tigmatismo não corrigido pode explicar a visão discretamente borrada para lon- ge com a prescrição anterior. O diagnós- tico de insuficiência de convergência é sugerido pela moderada exoforia de per- to, PPC alterado, podendo causar cefa- leia relacionada com a leitura. Esse ca- so ilustra a ocorrência de mais de uma condição contribuindo para os sintomas do paciente. Os sintomas de perto pode- riam ser desencadeados pelo astigmatis- mo não corrigido. Contudo, a insuficiên- cia de convergência pode desencadear os mesmos sintomas. A prescrição anterior e a terapia visual, cada qual justificada por condições diferentes, contribuíram para o desaparecimento dos sintomas. Foram marcadas avaliações anuais para segui- mento do paciente. ■ Universitário, sexo masculino, com 20 anos de idade, refere que vem apre- sentando cansaço visual e sonolência após 60 a 90 min de leitura. Relata que a visão de longe, após a leitura, às ve- zes fica borrada. Primeira avaliação of- tálmica. APF ndn. ● AVsc longe OD: 1,00– e OE: 1,00– e perto J 1 (AO). Refratometria Ocular - Cap-06.indd 126 06/03/2017 21:25:47 Baixas Ametropias 127 ● Ceratometria OD: 43,25 180° × 44,00 90° e OE: 43,00 180° × 44,00 90°. ● AV estereoscópica 40 s (Stereo Fly Test). ● Amplitude de acomodação OD e OE 10 D. ● PPC 9 cm. ● Refraçãosob cicloplegia: OD: +0,50-0,25 180° (AV 1,00). OE: +0,75-0,50 180° (AV 1,00). ● Teste com armação de provas: OD: +0,25-0,25 180° e OE: +0,50- 0,50 180°. ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra longe e perto ortoforia. ● Planejamento da prescrição: OD: +0,25-0,25 180° (AV 1,00) e OE: +0,50-0,50 180° (AV 1,00). Comentários Esse caso ilustra bem as queixas de pacien- te com baixa ametropia. Os sintomas são geralmente leves, manifestando-se durante atividades prolongadas com alta demanda acomodativa e com reflexos na acuidade visual de longe, quando da alternância do foco de perto para longe. Os sintomas de cansaço visual e sonolência na leitura po- deriam ter para o seu desencadeamento alguma contribuição da baixa ametropia de cada olho e até, possivelmente, da bai- xa anisometropia presente. As funções de visão binocular como a medida do PPC, da AA e de forias horizontais são normais. As correções desse tipo de ametropia com óculos, para serem usados nas atividades de perto, muitas vezes contribuem para o desaparecimento do desconforto ocular do paciente. Entretanto, a experiência mostra também que, muito frequentemente, esses óculos deixam de ser usados algum tem- po depois, nem sempre com o retorno dos sintomas que os teriam justificado. ■ Paciente com 30 anos de idade, sexo feminino, prendas domésticas, refere que vem apresentando cansaço visual e visão borrada de intensidade mode- rada após 3 a 4 h de uso do computa- dor. Os sintomas se acentuaram após dedicar-se o dobro do tempo diário com jogos e uso de Internet no compu- tador. Atualmente vem usando o com- putador por cerca de 6 h diárias. APF ndn. ● AVsc longe OD: 1,00 e OE: 1,00 e perto J 1 (AO). ● Ceratometria OD: 41,75 180° × 42,50 90° e OE: 42,00 180° × 42,50 90°. ● AV estereoscópica 40 s (Stereo Fly Test). ● Amplitude de acomodação OD e OE 15 D. ● PPC 9 cm. ● Teste de cobertura/prisma-cobertu- ra longe ortoforia e perto E 6 ∆. ● Refração sob cicloplegia: AO: plano (AV 1,00). ● Prisma longe BN 7 ∆ e BT 21 ∆. ● Prisma perto BN 8 ∆ e BT 22 ∆. ● Relação CA/A (método gradiente) 7:1. ● Planejamento da prescrição: Trata-se de paciente emetrope, or- tofórica para longe, esofórica para Refratometria Ocular - Cap-06.indd 127 06/03/2017 21:25:47 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica128 perto de 6 ∆, com relação CA/A de 7:1 e valores normais das vergên- cias horizontais. As queixas visuais presentes em pa- ciente apresentando ortoforia para longe, esoforia para perto e relação CA/A alta sugerem ser desencadea- das por excesso de convergência. Como a paciente não apresenta erro refrativo, a conduta nesse caso inclui, como uma das opções, a prescrição de lente positiva para ser usada nas tarefas visuais de perto. A montagem em armação de provas de +1,00 (AO) e a realização do tes- te prisma-cobertura para perto evi- denciaram redução da esoforia de 6 ∆ para 2 ∆. ● Px: +1,00 D (AO) para uso de perto – Lentes de policarbonato com tratamento antirreflexo. ● Retorno para avaliação em 4 sema- nas. Comentários No retorno, após 4 semanas de utilização da correção no uso do computador, a pa- ciente se sentia bem com os óculos, os sintomas haviam desaparecido e nenhum tratamento complementar foi recomenda- do. Esse caso ilustra bem o cenário com- posto por queixas visuais no uso de com- putador. Na presença de emetropia ou na ausência de erros refrativos significativos, a maioria das lentes corretoras é prescrita para correção de perto devido aos proble- mas com a acomodação, esoforia ou pres- biopia. A correção pode ser prescrita com lentes monofocais, bifocais ou progres- sivas. Se o paciente não deseja retirar os óculos e tiver a acuidade visual clara para longe e para perto, alternadamente, pode- se optar por lentes bifocais, preferindo-se, nesse caso, desenho do tipo executive ou flat-top. Com o uso de lentes bifocais ou multifocais, o paciente muitas vezes pre- cisa levantar a cabeça para otimizar o uso da área destinada à leitura, o que pode le- var a desconforto e mesmo dor na mus- culatura cervical e consequente redução da eficiência do trabalho. Para o paciente presbita, considerar o uso de lentes regres- sivas ou de visão de perto e meia distância aumentadas. Na prescrição das lentes para o usuário de muitas horas de computador, devemos considerar a filtragem contra UV e o tratamento antirreflexo. ■ Paciente com 26 anos de idade, sexo feminino, refere que trabalha 8 h diá- rias em loja de decoração executando design em computador. Relata que, re- centemente, passou a apresentar visão dupla intermitente quando olha para o rosto das clientes após ter mantido a visão fixa na tela do computador. Fez sua última avaliação oftálmica com 10 anos de idade. Nunca usou lentes cor- retoras. APF ndn. ● AVsc longe OD: 1,00 e OE: 1,00 e perto J 1 (AO). ● Ceratometria AO: 44,75 180° × 45,25 90°. ● AV estereoscópica 40 s (Stereo Fly Test). ● Amplitude de acomodação OD e OE 12 D. ● PPC 8 cm. Refratometria Ocular - Cap-06.indd 128 06/03/2017 21:25:47 Baixas Ametropias 129 ● Teste cobertura/prisma-cobertura longe E 7 ∆ e perto E 6 ∆. ● Refração sob cicloplegia: AO: +0,25 D (AV 1,00). ● Prisma BN longe diplopia e refusão com 5 ∆ BT. ● Prisma BT longe diplopia e refusão com 5 ∆ BT. ● Relação CA/A (método gradiente) 4:1 ● Planejamento da prescrição: O foco principal desse caso está na esoforia moderada para longe e perto, no achado de diplopia com prisma BN para longe e no valor normal da relação CA/A, sugerindo tratar-se de esoforia básica. A cor- reção do erro refrativo encontrado não muda o valor da esoforia de longe e perto. Daí ter-se decidido pela prescrição de óculos para per- to AO +0,25 D com 2 ∆ BT em cada lente. ● Px: AO: +0,25 com 2 ∆ BT em cada lente. ● Retorno em 4 semanas para reava- liação. Comentários Uma das características marcantes dos pacientes com queixas visuais no uso de computador é a frequente ausência de er- ros refrativos significativos. Uma das con- dutas mais utilizadas é a prescrição inicial total do erro refrativo encontrado (espe- cialmente diante das baixas anisometro- pias e astigmatismos, estes corrigidos na forma de cilindro positivo). Nesse caso, a hipermetropia é muito pequena e a corre- ção da esoforia não pode ser obtida por descentralização horizontal dos centros ópticos das lentes. Com a utilização dos óculos com a correção prismática ante- rior, a paciente referiu alívio dos sintomas, não sendo necessário tratamento comple- mentar (terapia visual). Caso persistissem os sintomas ou a paciente apresentasse re- cidiva deles com a utilização dos óculos prescritos, o próximo passo seria a indica- ção de terapia visual. ■ Jornalista e tradutor de livros, com 36 anos de idade, vem apresentando visão borrada com 2 a 3 h de uso do computa- dor. Teve queixa semelhante há 2 anos, quando teve óculos prescritos para se- rem usados para perto (AO +0,50 D). Como não sentiu conforto com o uso dos óculos, nunca os usou. Atualmente trabalha 8 a 10 h diárias no computador, com intervalos irregulares. APF ndn. ● AVsc longe OD: 1,00 e OE: 1,00 e perto J 1 (AO). ● AV estereoscópica 40 s (Stereo Fly Test). ● Amplitude de acomodação OD e OE 9 D. ● PPC 8 cm. ● Teste cobertura/prisma-cobertura longe ortoforia e perto X 3 ∆. ● Refração sob cicloplegia: AO: +0,50-0,25 180° (AV OD=OE 1,00). ● Prisma longe BN 4 ∆ e BT 10 ∆. ● Prisma perto BN 8 ∆ e BT10 ∆. ● Relação CA/A (método gradiente) 4:1. Refratometria Ocular - Cap-06.indd 129 06/03/2017 21:25:47 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica130 ● Planejamento da prescrição: 1. Manutenção da prescrição ante- rior (AO: +0,50 D). 2. Indicação de terapia visual. 3. Retorno após a terapia visual e a cada 6 meses para reavaliação. Comentários Devemos considerar que o paciente desse caso é ortofórico para longe e apresenta exoforia normal para perto,tem amplitu- de de acomodação normal e alteração das vergências horizontais. O erro refrativo é muito pequeno e poderia não ser prescri- to. Nesse caso, o fundamental é a indica- ção de terapia visual para normalizar as vergências fusionais horizontais e, assim, eliminar os sintomas visuais. Após uma sé- rie de oito exercícios ortópticos, voltou a utilizar o computador com conforto. O re- sultado da avaliação das vergências hori- zontais, após a série de exercícios ortópti- cos, foi o seguinte: ■ Prisma longe BN 8 ∆ e BT 20 ∆. ■ Prisma perto BN 26 ∆ e BT 32 ∆. Foram recomendadas reavaliações a cada 6 meses, inclusive com monitora- mento ortóptico. ■ Publicitário com 32 anos de idade, queixando-se de dificuldade na leitura do monitor do computador e de borra- mento da visão de longe após manter a fixação visual na tela do computador por algum tempo. APF ndn. ● AVsc longe OD: 0,8 e OE: 0,8 e perto J 1 (AO). ● AV estereoscópica 40 s (Stereo Fly Test). ● Amplitude de acomodação OD e OE 10 D. ● PPC 8 cm. ● Teste cobertura/prisma-cobertura lon- ge ortoforia e perto X 3 ∆. ● Refração sob cicloplegia: OD: +0,75–0,50 40° (1,00). OE:+0,25–0,50 180° (1,00). ● Planejamento da prescrição: Teste com armação de provas OD: +0,50–0,50 40° (1,00) e OE: +0,50 –0,50 125° (1,00) e perto J 1 (AO). ● Px: OD +0,50–0,50 40° e OE +0,50–0,50 125°. Usar todo o tempo ou nas ativida- des de perto com o computador. Comentários O menos prevalente dos tipos de ametro- pia cilíndrica é o astigmatismo oblíquo, quando os eixos do componente cilíndri- co se encontram dentro da variação de 20°, considerando-se os meridianos de 45 e 135°. Esses pacientes manifestam queixas visuais, como, no caso, a dificul- dade de visão de perto, mesmo apresen- tando amplitude de acomodação normal, forias normais e vergências fusionais nor- mais. A prescrição deve contemplar o as- tigmatismo na forma do cilindro positivo, especialmente quando a queixa envolve atividades de perto sintomáticas exerci- das por longo período de tempo e sem intervalos. ■ Universitário com 23 anos de idade queixando-se de dor no pescoço e na cabeça após 3 h de uso do computa- dor. Refere que não aumentou as horas Refratometria Ocular - Cap-06.indd 130 06/03/2017 21:25:47 Baixas Ametropias 131 de trabalho com o computador e relata que mudou a mesa e o local do com- putador em sua casa. APF ndn. ● AVsc longe OD: 1,00 e OE: 1,00 e perto J 1 (AO). ● AV estereoscópica 40 s (Stereo Fly Test). ● Amplitude de acomodação OD e OE 15 D. ● PPC 6 cm. ● Teste cobertura/prisma-cobertura longe ortoforia e perto X 2 ∆. ● Refração sob cicloplegia: AO: +0,75 (1,00). ● Prisma longe BN 8 ∆ e BT 16 ∆. ● Prisma perto BN 12 ∆ e BT 20 ∆. ● Relação CA/A (método gradiente) 4:1. ● Planejamento da prescrição: Quando questionado sobre as condições ergonômicas do uso do computador, o estudante refe- riu que o havia mudado de local e instalado em mesa com altura ina- dequada. Relatava o uso de ban- queta sem encosto para as costas e mãos; o monitor localizava-se acima do nível dos olhos e, para não incomodar terceiros, usava um abajur com luz fluorescente que produzia muitos reflexos na tela do monitor. Não foram prescritas lentes correto- ras, e o estudante foi orientado para não violar as condições ergonômi- cas do uso do computador. Comentários Veja, no texto a seguir e na Figura 1, a ma- neira adequada e correta de se posicionar diante do computador.9 1. Sentar em cadeira confortável; os pés devem tocar o chão completamente ou algum apoio, não podendo ficar li- vres no ar. A coluna deve formar um ângulo de 90º com as coxas, e tem de estar bem apoiada no encosto. Recli- nar a cadeira só na hora de descansar. 2. O monitor deve estar localizado de 10 a 20º abaixo do nível dos olhos e a uma distância de 50 a 65 cm. 3. Os papéis a serem utilizados com o computador devem ser dispostos ao lado do monitor. 4. O monitor reflete imagens fantasma, facilmente observadas ao ser desli- gado, e, na tela, são observadas ima- gens de janelas e outras fontes de luz. Para evitar esses reflexos, quando o monitor estiver ligado, é necessário posicioná-lo contra a fonte de luz (lâmpadas e janelas). Existem antepa- ros que são colocados diante dos mo- nitores, reduzindo significativamente esses reflexos (tela antirreflexo). 5. Luzes fortes no campo periférico da visão causam um brilho desconfortá- vel. Janelas, luz fluorescente de teto e lâmpadas de mesa contribuem para o problema. Um nível de iluminação aceitável requer o meio-termo entre a quantidade de luz necessária para ob- ter visibilidade da tela do computador e a necessária para a execução de ou- tras tarefas do escritório. Refratometria Ocular - Cap-06.indd 131 06/03/2017 21:25:47 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica132 6. Pessoas com mais idade precisam de mais luz que os jovens para executar confortavelmente as mesmas tarefas. Se você tem mais de 50 anos de ida- de, a necessidade de luz é o dobro da normal. 7. O monitor produz estática que aju- da no depósito de pó na tela e piora a imagem. Limpe-o com frequência, usando um lenço de papel e soluções antiestáticas. 8. Quanto maior a resolução do moni- tor, menores ficam as letras, exigindo maior concentração para a leitura. O tamanho das letras deve ser ajustado de modo a propiciar uma leitura fácil e rápida. 9. Evite cores em excesso, quando con- figurar o computador, e imagens de fundo no desktop, pois dificultam muito a leitura. 10. A cor dos caracteres também afeta a visibilidade. Exposições monocromá- ticas (uma única cor) proporcionam imagens mais legíveis. 11. Tarefas alternativas durante o dia são medidas simples e preventivas para a redução do estresse visual, já que as 10º a 20º 90º a 100º 90º + 90º 5 a 10 cm 6 5 c m 1 0 º a 2 0 º50 a 65 cm Figura 1 Posição ideal e correta em relação à mesa de trabalho, cadeira e computador.9 Refratometria Ocular - Cap-06.indd 132 06/03/2017 21:25:48 Baixas Ametropias 133 tarefas no computador são repetitivas e podem tornar-se estressantes, tanto mental quanto fisicamente, após um período longo de trabalho contínuo. 12. Ao realizar qualquer atividade em que é exigida maior concentração que a normal, você pisca menos, ocorrendo lubrificação inadequada do olho, que se torna seco. Ocorre também maior abertura ou fechamento da fenda pal- pebral (distância entre as pálpebras superior e inferior), ocasionando con- tratura em excesso dos músculos que abrem e fecham as pálpebras e dos músculos da face, o que pode desen- cadear dores de cabeça. SUMÁRIO Pacientes portadores de pequenos erros refracionais com frequência apresentam sintomas vagos ou transitórios, como vi- são borrada a distância ou perto, asteno- pia e cefaleia. Esses sintomas não são es- pecíficos das baixas ametropias, podendo também ser causados por uma variedade de condições que incluem as condições da saúde sistêmica, visão binocular, uso do computador e das ergonométricas de execução do trabalho visual. O tratamento dos pacientes passa pelo diagnóstico acu- rado do envolvimento desses fatores. A te- rapêutica pode ou não incluir prescrição de lentes corretoras, prismação de lentes oftálmicas, terapia visual e a adoção de medidas ergonométricas adequadas para o bom desempenho do trabalho visual rea- lizado no computador. REFERÊNCIAS 1. Brookman KE. Low Ametropias. In: Brookman KE (ed). Refractive Management of Ametropia. Bos- ton: Butterworth-Heinemann, 1996; p. 123-43. 2. Blume AJ. Low power lenses. In: Amos JF (ed). Diagnosis and Management in Vision Care. Boston: Butterworth-Heinemann, 1987; p. 239-46. 3. Collins MJ, Brown B, Bowman KJ, Carkeet A. Vi- sion screening and symptoms among VDT users. Clin Exp Optom, 1990; 73:72-8. 4. Collins MJ, Brown B, Bowman KJ, Caird D. Task variables and visual discomfort associsated with the use of VDTs. Optom Vis Sci, 1991;68:27-33. 5. Daum KM, Good G, Tijerina L. Symptoms in vi- deo display terminal operators and the presence of small refractive errors. 6. Scheiman M, Wick B. Clinical Management of Bi- nocular Vision. Philadelphia: Lippincot, 2008; p. 556-74. 7. White JA. The practical value of low-grade cylin- ders in some cases of asthenopia. Trans AM Ophthalmol Soc, 1984; 12:153-68. 8. Newman JM. Analysis, Interpretation, and Pres- cription for the ametropias and Heteroforias. In: Borish IM. Refraction. St. Louis: Butterworth-Hei- nemann/Elsevier, 2006; p. 963-1025. 9. Ergonometria ao usar o computador. arquitetan- donanet.blogspot.com/2009/03/ergono... Refratometria Ocular - Cap-06.indd 133 06/03/2017 21:25:48 Refratometria Ocular - Cap-06.indd 134 06/03/2017 21:25:48 Avaliação da Prescrição Médica 135 7 Altas Ametropias Milton Ruiz Alves Adamo Lui Netto Íris Yamane A maioria dos seres humanos desenvolve erros refracionais esféricos entre ±6,00 D e cilíndricos entre ±2,00 D.1 A correção de erros refrativos acima desses parâme- tros exige meticulosa atenção à medida inicial do erro refrativo de cada olho, con- siderando-se a distância vértice, o balan- ço binocular, a distância nasopupilar e a seleção e ajustes adequados da armação (particularmente a inclinação pantoscópi- ca) para a otimização dos resultados visual e cosmético.2 No atendimento desses ca- sos, o oftalmologista deve recomendar a escolha do material e desenho das lentes, além dos filtros e tratamentos de superfí- cie. Muitos desses casos representam con- dições ópticas que são melhor corrigidas com lentes de contato. TÉCNICAS REFRATOMÉTRICAS NAS ALTAS AMETROPIAS Embora as técnicas refratométricas em- pregadas na medida de erros refracionais altos sejam similares aos procedimentos descritos anteriormente (consultar o Ca- pítulo 1), faremos neste capítulo algumas considerações especiais com o objetivo de alcançar resultados mais acurados e efi- cientes. A maioria dos refratores manuais dispõe de correção esférica até ±20,0 D e cilíndrica entre ±4,00 e ±6,00 D. No ca- so de astigmatismos acima desses valores, lentes cilíndricas intercambiáveis podem ser encaixadas no refrator para prover cor- reção cilíndrica complementar e, assim, obterem-se valores entre ±6,00 e ±8,00 D. Nos erros refracionais esféricos acima desses valores (esféricos ±20,00 D e ci- líndricos ±6/±8,00 D), podem-se montar em armação de provas lentes que corres- pondam à última prescrição e realizar-se a sobrerrefração para encontrar os pode- res dióptricos que faltam para neutralizar os erros esféricos e cilíndricos ainda não corrigidos. Pode-se, também, utilizar Hal- berg trial clips montados sobre os óculos em uso, com a vantagem de esses óculos estarem bem posicionados e propiciarem a realização da sobrerrefração com lentes mais finas (Figura 1). Outra preocupação é que os centros ópticos das lentes colocadas no refrator manual ou na armação de provas fiquem alinhados com os eixos visuais do pacien- Refratometria Ocular - Cap-07.indd 135 06/03/2017 21:26:37 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica136 te, porque pequenos desvios nesse alinha- mento óptico podem induzir significativos efeitos prismáticos de acordo com a regra de Prentice. As quantidades de poder pris- mático geradas no meridiano vertical por desalinhamentos são as mais importantes para a maioria dos pacientes. Desequilí- brios prismáticos verticais podem ser de- sencadeados por alterações da posição (superior/inferior) dos óculos na ponte e, pior ainda, por inclinação lateral das len- tes com pesos diferentes (anisometropia). O paciente pode relatar diplopia quan- do ocorre esse desalinhamento durante o exame no refrator manual ou na armação de provas. Nessas condições, recomenda- se colocar os buracos estenopeicos (pi- nholes) alinhados com os eixos visuais; ainda, o refrator deve estar alinhado hori- zontalmente (confirmar pelo nível da bo- lha de ar) e os centros ópticos das lentes devem estar alinhados com eixos visuais (confirmar pelos ajustes das distâncias na- sopupilares). Nos astigmatismos altos, é aconselhá- vel medir o eixo e o poder do cilindro tan- to para perto quanto para longe. A falha no ajuste do eixo e do poder do cilindro para perto pode causar diminuição da AV para perto, em razão da exciclotorção que ocorre quando os olhos convergem para observar um objeto próximo, pois o eixo do cilindro torna-se desalinhado com os meridianos principais do olho e o paciente refere borramento da visão. A medida da alteração do poder e do eixo do cilindro é feita após a realização do balanceamen- to refratométrico binocular com um texto para perto, quando um olho é miopizado e o outro é submetido ao exame, utilizan- do-se o cilindro cruzado de Jackson para refinar o eixo e o poder do cilindro (para perto). O mesmo procedimento é repetido com o outro olho. A diferença longe/per- to, no eixo do cilindro maior que 5° ou no poder dióptrico maior que 0,75 DC, pode causar desconforto se não for corrigida. A solução pode estar na prescrição de ócu- los separados, um para longe e outro para perto, com os valores apropriados do eixo e do poder dióptrico do cilindro corretor.3 ALTA MIOPIA A definição clássica de alta miopia con- templa erro refrativo de –6,00 a –10,00 D e miopia muito alta aquela com valores acima de –10,00 D.4 Na miopia patológi- ca podem ser evidenciados sinais no polo posterior, como afilamento coriorretínico associado com estafiloma posterior, cres- Figura 1 Halberg Clip. Refratometria Ocular - Cap-07.indd 136 06/03/2017 21:26:37 Altas Ametropias 137 cente coroidal, coloboma de retina, além de lesões maculares, como buracos macu- lares, degeneração macular e manchas de Fuchs, que podem ocorrer em qualquer tempo, provocando perda de visão cen- tral.5 Considerações refracionais especiais envolvem a diminuição na aparência do tamanho da imagem em relação à do ob- jeto. Isto ocorre porque as lentes negativas reduzem a imagem retínica comparada com o seu tamanho no olho não corrigido. Nos míopes acomodando para perto, as lentes negativas de alto poder funcionam como prismas de base nasal que atuam sobre a convergência na visão de perto, resultando em diminuição da demanda acomodativa e da convergência.2 As len- tes oftálmicas convencionais que corrigem a alta miopia são pesadas, têm as bordas espessas e comprometem a estética. Por isso, a indústria óptica desenvolveu várias opções:2 1. Lentes confeccionadas com materiais de alto índice para a obtenção do mes- mo poder refrativo com menor espes- sura e peso. 2. Lentes confeccionadas com materiais mais leves para reduzir o peso dos ócu- los. 3. Armações de tamanho reduzido para serem aviadas com lentes de alto poder com diâmetros reduzidos para diminuí- rem tanto as suas espessuras quanto seus pesos. 4. Desenhos de lentes lenticulares que di- minuem o peso e a espessura periférica da lente. 5. Desenhos de lentes asféricas que dimi- nuem o peso e a espessura periférica da lente. Quanto maior o índice de refração, mais fina e leve resulta a lente. Contudo, o índice de refração mais alto também au- menta a intensidade das reflexões da luz e diminui a transmissão da luz através da lente. Isto pode ser minimizado com a prescrição de tratamento antirreflexo.2 O processo de seleção da armação é crucial e não deve ser influenciado apenas por preocupações estéticas do paciente. A armação deve ser pequena, simétrica e com plaquetas nasais ajustáveis. Caso a ar- mação seja maior que a face do paciente, os lados da face vão aparecer comprimidos atrás da armação com lentes negativas altas e ampliadas e distorcidas com lentes positi- vas altas. Assim, o centro óptico das lentes deve estar próximo do centro geométrico da armação. As plaquetas ajustáveis permi- tem a obtenção de menor distância vértice. Nas correções de miopia muito alta, tem- se como opção o desenho lenticularsim- ples e suas variações.6 As reflexões das len- tes high minus devem ser minimizadas pelo tratamento antirreflexo e coloração das len- tes. A dispersão cromática e as aberrações continuam a ser problemáticas na periferia das lentes high minus. Os pacientes devem aprender a virar mais a cabeça, e não os olhos, não somente para minimizar os efei- tos da dispersão cromática e das aberra- ções periféricas na sua visão, mas também para minimizar os efeitos de indução pris- mática na lateral e, especialmente, nas po- sições verticais do olhar.2 ALTA HIPERMETROPIA E AFACIA A definição de alta hipermetropia contem- pla valores ≥ +5,00 D.2 As correções posi- tivas altas são geralmente bem aceitas, pe- Refratometria Ocular - Cap-07.indd 137 06/03/2017 21:26:37 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica138 lo menos pelos pacientes jovens, devido ao alívio acomodativo por elas provido. As lentes positivas convencionais têm cen- tros espessos e são pesadas. Os mesmos métodos empregados para reduzir a es- pessura e peso empregados para as lentes negativas fortes também são aplicados às lentes positivas fortes. Uma espessura de borda mínima (0,50 mm) é recomendada para essas lentes positivas.7 A utilização de armação pequena, simétrica, com len- tes de desenho asférico, resulta em lentes mais finas e mais leves, e os óculos confe- rem melhor aspecto cosmético.7 Na afacia unilateral, a correção com óculos resulta em aproximadamente 25% de magnificação da imagem, que pode ser reduzida para 7% com o uso de lentes de contato. As lentes oftálmicas positivas al- tas reduzem em 20% o campo de visão devido ao efeito periférico do escotoma em anel (efeito Jack-in-the-box).8 Na correção da afacia bilateral, deve- se escolher armação pequena, simétrica, com plaquetas nasais ajustáveis. As lentes corretivas devem ter desenho asférico para reduzir a distorção e o peso, e podem ser escolhidas com desenho bifocal para as correções da visão de longe e perto.2 ASTIGMATISMO ALTO Os astigmatismos altos (acima de ±5,00 DC) frequentemente são o resultado de ir- regularidades da superfície corneana e/ou cristaliniana.2 Altos graus de astigmatismo podem resultar em visão que não se con- segue melhorar aos valores normais com correção com óculos. Se o erro refrativo não tiver sido adequadamente corrigi- do na fase crítica do desenvolvimento vi- sual, ambliopia pode ter resultado. A cor- reção do astigmatismo é feita com lentes cilíndricas, cujos poderes dióptricos de- vem equalizar a discrepância medida entre os meridianos principais do olho. No en- tanto, outros fatores, como o tamanho de imagem e a adaptação prévia à correção astigmática, devem ser considerados na prescrição de grandes quantidades de cor- reção cilíndrica (consultar o Capítulo 4). CONDIÇÕES OCULARES ASSOCIADAS A ERROS REFRATIVOS ALTOS Erros refrativos significativos podem es- tar associados a certas condições oculares e mesmo a doenças sistêmicas, como são exemplificadas a seguir: albinismo (ocular), catarata (especialmente esclerose nuclear), ceratocone, síndrome de Marfan e retinose pigmentar.2 Erro astigmático alto ocorre em quase todos os casos de albinismo ocular asso- ciado à miopia ou hipermetropia. Além da correção dos erros refrativos, tinturas devem ser aplicadas às lentes oftálmicas para aliviar o glare, que é a principal quei- xa desses pacientes. Pacientes com albi- nismo preferem lentes Standard Pink# 1 ou Pink# 2, Photogray ou Photobrown.9 Para uso em ambientes com exposição ex- cessiva à luz (pesca ou esqui), podem ser utilizados os Glassier glasses da Bausch & Lomb, com lentes dark amber NOIR 7%, ou os CORNING CPF 550, 527 e 511.2 Esclerose nuclear do cristalino pode causar miopia de evolução rápida, poden- do, em alguns casos, provocar desvio mió- pico de –8,00 D. Alguns casos de progres- são miópica unilateral podem resultar em Refratometria Ocular - Cap-07.indd 138 06/03/2017 21:26:37 Altas Ametropias 139 significativa anisometropia e aniseiconia. Quando não estiver indicada a correção cirúrgica da catarata, o uso de lente de contato pode ser indicado. Leucoma corneano é causa de erro as- tigmático irregular, e o uso de lentes de contato rígidas gás-permeáveis pode me- lhorar a visão. O erro refrativo presente no ceratoco- ne é geralmente miopia moderada para alta associada com quantidades variáveis de astigmatismo irregular devido ao afila- mento e encurvamento da córnea. Nos ca- sos mais avançados, a melhor acuidade vi- sual corrigida é obtida com o emprego de lentes de contato rígidas gás-permeáveis. O paciente com síndrome de Marfan ou portador de outras doenças com sublu- xação do cristalino (p. ex., homocistinúria, síndrome de Ehler-Danlos, ectopia lentis) funciona como afácico, se o cristalino es- tiver parcialmente deslocado para fora da pupila, ou míope e astigmata, quando po- sicionado na frente da pupila. Pacientes com retinose pigmentar que apresentam desconforto visual ocasionado pela degeneração pigmentar da retina ob- têm conforto com a lente CORNING CPF 550, que foi desenhada especificamente para reduzir tais sintomas.9 ESTUDOS DE CASOS ■ Paciente portadora de alta miopia (AO: –10,00 D) reclama da espessura das bordas das lentes dos novos óculos. Comentários A correção óptica com lentes de cristal de alto índice (entre 1,700 e 1,900) de campo de visão total são apropriadas para atender aos altos míopes por apresentarem redu- ção da espessura; no entanto, aumentam o peso dos óculos, têm número Abbe baixo e produzem muitos reflexos nas suas su- perfícies, sendo nelas aconselhado o trata- mento antirreflexo. As lentes de resina de alto índice (entre 1,700 e 1,740) de cam- po visual total são lentes mais leves e, de- vido à resistência do material, podem ser fabricadas com espessura central mínima de 1,0 a 1,5 mm. Os altos míopes reclamam muito das espessuras das bordas das lentes. Uma das causas dessas queixas está na troca da ar- mação feita de acetato, cuja espessura dos aros esconde mais a espessura das bordas, por armações de aros finos que não o fa- zem satisfatoriamente. Outra causa está na escolha de armação maior que a anterior. Na escolha da armação, deve-se reavaliar o seu tamanho em relação ao rosto e à dis- tância nasopupilar, e, considerando-se as lentes, a base correta e a curva da armação devem ser revistas. Ainda, a troca de len- tes asféricas para lentes esféricas aumenta a espessura das lentes no mesmo índice de refração. Finalmente, outra causa de au- mento de espessura das bordas das lentes é a troca de lentes surfaçadas (mais finas) por lentes prontas (mais espessas).10 ■ Paciente portadora de alta miopia (AO: –26,00 D) deseja obter bom resultado funcional e cosmético na correção do seu erro refrativo com óculos. Comentários A correção óptica de miopia muito alta com óculos deve ser feita com a escolha de armação pequena, simétrica e com Refratometria Ocular - Cap-07.indd 139 06/03/2017 21:26:37 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica140 plaquetas nasais ajustáveis (Figura 2). A lente lenticular simples negativa corres- ponde à lente na qual é feito rebaixa- mento nas bordas partindo-se de lente de campo de visão total. Depois de pronta, dá a impressão de duas lentes em uma. Esse desenho de lente satisfaz aos usuá- rios de óculos que buscam lentes mais le- ves e mais finas que as fabricadas com campo de visão total.11 Uma outra opção inclui as lentes regressivas para altos mío- pes. São construídas com recursos téc- nicos diferenciados com a finalidade de reduzir a espessura da lente independen- temente do índice de refração. São mais estéticas se comparadas com lentes de desenho lenticular simples. As lentes re- gressivas para altos míopes são feitas em laboratório pelo processo manual e são conhecidas com os nomes de Mirilux e Prima.11 Lentes com essas característi- cas são fabricadas pela Roddenstock, em material cristal1,700 com o nome Lenti- lux, e pela Multifoco, que distribui a len- te Masterlux fabricada com cristal 1,900. As lentes oftálmicas High Minus e High Minus Blended Myodisc são fabricadas para a correção de miopias até –30,00 D e cilindros até –2,00 D, enquanto a len- te High Minus Double Myodisc é a única disponível para a correção de miopias até –50,00 D)12 (Figura 3). Na Figura 4, pode- se observar como a correção de –26,00 (AO) em óculos aviados com lentes lenti- culares alcançou excelente resultado cos- mético. ■ Paciente portadora de alta hiperme- tropia (AO: +6,00 D) reclama que os óculos novos aviados com lentes mais espessas e mais pesadas aumentam o tamanho de seus olhos e, também, os objetos do seu mundo visual. A B C Figura 2 Paciente com miopia de –24,00 D com a correção montada em armação muito gran- de (A) e em armação adequadamente pequena, simétrica e com plaquetas nasais ajustáveis (B). Observa-se o desenho lenticular da lente de –24,00 D (C). (Fotografias cedidas por Miguel Giannini.) Refratometria Ocular - Cap-07.indd 140 06/03/2017 21:26:38 Altas Ametropias 141 High Minus High Minus Myodisc High Minus Blended Myodisc High Minus Double Myodisc Figura 3 Desenhos de lentes oftálmicas para a correção de altas miopias (www.epiclabsinc. com/productinfo.html).12 Figura 4 Observar o excelente resultado cosmético obtido com lente lenticular simples e ar- mação de tamanho adequado. (Fotografia cedida por Miguel Giannini.) Refratometria Ocular - Cap-07.indd 141 06/03/2017 21:26:38 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica142 Tais queixas ocorreram em razão da troca das lentes asféricas presentes nos óculos anteriores pelas lentes esféricas aviadas nos óculos atuais. Provavelmente, o mais importante para os hipermetropes é a diminuição da magnificação do mundo visual como enxergam através das lentes. Isto é obtido pela diminuição da espessu- ra central, aplanamento da curva-base e diminuição da distância vértice. A dimi- nuição da espessura e o aplanamento da curva frontal reduzem a protuberância da lente, permitindo que a sua montagem na armação ocorra produzindo menor distân- cia vértice. A melhora estética, bastante apreciada pelos hipermetropes, dá-se pela diminuição da magnificação dos olhos e da anteriorização da lente em relação à ar- mação13 (Figura 5). ■ Paciente afácico (AO: 12,50 D e adi- ção para perto de +2,25 D) deseja ob- ter bom resultado funcional e cosmé- tico na correção da visão para longe e para perto. As expectativas do paciente hiperme- trope alto, não presbita, podem ser satis- feitas com a prescrição e o aviamento de lentes asféricas de campo de visão total, para longe e para perto, com desenho len- ticular Katral (AO SOLA), feitas de resina, com índice 1,499, número Abbe 58 e tin- gíveis em qualquer tonalidade. São lentes indicadas para aviar receitas com dioptrias de +10,00 a +20,00 D. Para o paciente em questão, uma boa solução inclui as lentes denominadas len- tes regressivas para altas hipermetropias que não podem ser produzidas pelo pro- cesso de surfaçagem em laboratórios, pois a sua superfície é asférica e positiva com altas curvaturas. Encontram-se disponíveis em blocos semiacabados com a superfície parabólica acabada, sendo exemplos: a Lente esférica Lente asférica 1 mm 1 mm 7 mm 5,5 mm 60 mm60 mm Curva-base: +10 Curva-base: +7 M: 15% M: 13% Peso: 25%↓ Figura 5 As duas lentes têm poder de +6,00 D e são feitas de resina de índice de refração de 1,50. (M: magnificação.)13 Refratometria Ocular - Cap-07.indd 142 06/03/2017 21:26:39 Altas Ametropias 143 lente Super Asferico da Segment, a Omega da Essilor em visão simples e bifocal e a Charlet Aphal da Carl Zeiss.11 As lentes Omega (Essilor), feitas em re- sina, são disponibilizadas em visão sim- ples para correção de graus positivos en- tre +8,50 e +16,00 D e cil até –4,00 D ou em bifocal com as adições 2,00, 2,25, 2,50, 3,00, 3,50 e 4,00 D, presentes em segmento ligeiramente oval de 2 mm (Fi- gura 6). A correção de altos graus de hipermetro- pia pode ser feita com lentes High Plus lenti- cular e High Plus Bi-Convex12 (Figura 7). ■ Paciente portador de alto astigmatismo (OD: –2,00–4,50 35° e OE: –3,00–4,75 125°) reclama de deformação nas ima- gens com os óculos novos. High Plus Lenticular High Plus Bi-Convex Figura 6 Lente bifocal Omega (Essilor). Figura 7 Desenhos de lentes oftálmicas para a correção de altas hipermetropias (www.epi- clabsinc.com/productinfo.html). Refratometria Ocular - Cap-07.indd 143 06/03/2017 21:26:39 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica144 Primeiramente, devemos observar a posição dos eixos das correções cilíndri- cas no lensômetro e verificar se o eixo das lentes está em acordo com a pres- crição. Em seguida, devemos verificar a posição dos eixos anteriormente usados, pois uma mudança deles poderá cau- sar as queixas do paciente. Na sequên- cia, devemos analisar a qualidade das lentes anteriormente em uso com a qua- lidade das atuais.10 Finalmente, devemos analisar se não houve mudança do índice de refração, do desenho (de asférico para esférico), da localização da correção as- tigmática (se na superfície posterior) e, na armação, verificar os alinhamentos hori- zontal e vertical dos centros ópticos das lentes em relação às distâncias nasopupi- lares de longe e perto. Nos casos de cor- reção do astigmatismo, devemos atentar ainda para a escolha da armação (se ade- quada) e avaliar a distância vértice e a in- clinação da armação. SUMÁRIO Para a obtenção de resultados satisfatórios na correção óptica dos casos de alta ame- tropia, devemos realizar exame refratomé- trico preciso e cuidadoso, prescrever len- tes corretoras adequadas, indicando o tipo de material, desenho e índice de refração. Finalmente, devemos orientar o paciente sobre a escolha dos óculos, que deverão estar adequados em relação às lentes e ao rosto do paciente. REFERÊNCIAS 1. Tait EF. Intraocular astigmatism. Am J Ophthal- mol, 1956; 41:813-25. 2. Chun MW, Kageyama JY, Fox LB, Weissman. Pa- tients with High Refractive error. In: Brookman KE (ed). Refractive Management of Ametropia. Bos- ton: Butterworth-Heinemann, 2006; p. 1509-22. 3. Capone RC. Astigmatism. In: Brookman KE (ed). Refractive Management of Ametropia. Boston: Butterworth-Heinemann, 1996; p. 73-98. 4. Borish IM. Clinical Refraction. 3rd ed. vol 1. Chi- cago: Professional Press, pp. 117, 134-5. 5. Sorsby A. Emmetropia and its aberrations. Trans Ophthalmol Soc UK, 1956; 76:167-9. 6. Kirsh N. Fitting the high minus patient. Eye Quest Magazine, 1994; 4:22. 7. Krefman E. A better way to handle high Rx pa- tients. Optom Management, 1994; 29:39. 8. Wodds AC. Adjustment to aphakia (editorial). Am J Ophthalmol, 1952; 35:118-22. 9. Faye E. Teaching the patient yo use aids. In: Faye E (ed). Clinical Low Vision. 2nd ed. Boston/Toron- to: Little Brown, 1984; p. 102. 10. Carneiro M. Óptica Oftálmica em Exercício. Sal- vador: Contemporânea Gráfica e Editora, 2007; p. 84, 283-90. 11. Carneiro M. Óptica Oftálmica para consultores de venda. Salvador: Press Graf, 2009; p. 27-8. 12. Epic Lab. Product information. www.epiclabsinc. com/productinfo.html. 13. Victor G, Alves MR. Lentes asféricas. In: Schor P, Uras R, Veitzman S (eds). Óptica, Refração e Vi- são Subnormal. Rio de Janeiro: Guanabara Koo- gan/Cultura Médica, 2008; p. 163-84. Refratometria Ocular - Cap-07.indd 144 06/03/2017 21:26:39 Avaliação da Prescrição Médica 145 8 Presbiopia Sidney Júlio de Faria e Sousa Milton Ruiz Alves O termo presbiopia deriva da combinação de presbi (idoso) mais opia (visão); é a difi- culdade de distinguir com nitidez objetos próximos, e está relacionada à idade. Ma- nifesta-se quando a capacidade de focali- zação do olho se torna insuficiente para suprir a demanda visual para perto, e isso tende a ocorrer dos 38 aos 48 anos de ida- de.1 Os principais fatores desencadeantesda queixa são: idade, necessidade visual de perto e erro refrativo. A idade é determinante porque tem in- fluência direta sobre a capacidade de fo- calização do olho: quanto maior a ida- de, menor a capacidade acomodativa do cristalino. Como o esforço acomodativo é maior para alvos próximos, o primeiro elemento a ser prejudicado é a nitidez da visão de perto. Outro fator importante é a própria necessidade visual: o relojoeiro, por trabalhar com objetos muito próxi- mos, poderá apresentar a presbiopia mais precocemente que um balconista. Hipermetropes utilizam parte da aco- modação para compensar o erro de refra- ção. Quanto maior a hipermetropia, maior será a sobrecarga acomodativa e, conse- quentemente, maior a possibilidade de a presbiopia se instalar em torno dos 40 anos de idade. Os míopes exercem menos esforço acomodativo que hipermetropes e emetropes e, por isso, tendem a apresentar os sintomas da presbiopia em idades mais avançadas, ao redor dos 46 anos. Fato interessante é que a temperatu- ra ambiente parece influenciar o apareci- mento da presbiopia: climas quentes ten- dem a acelerar e climas frios a retardar seu aparecimento.2 SINAIS E SINTOMAS A principal queixa da presbiopia é a difi- culdade de enxergar de perto. No início, o problema aparece no período da tarde e à noite; assim, quando a iluminação cai, a pupila dilata e a profundidade do cam- po diminui; a deficiência acomodativa é, então, desmascarada. Com o agravamen- to do problema, a falha visual passa a ser constante, levando à fadiga ocular, após breves períodos de uso da visão de perto. Um sinal curioso do início da presbio- pia é a utilização dos braços para a faci- Refratometria Ocular - Cap-08.indd 145 06/03/2017 21:27:43 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica146 litação da leitura. A pessoa vai progressi- vamente afastando o alvo de leitura para distinguir as palavras. Nos míopes, usuá- rios de óculos, o início ou a progressão da miopia podem ser detectados pelo desli- zamento do óculos para a ponta do nariz, o que subcorrige a miopia, facilitando a acomodação.3 ACOMODAÇÃO E PRESBIOPIA A luz que penetra no olho deve ser foca- da na retina para fornecer imagens níti- das. Para tanto, o bulbo ocular é dotado de um sistema óptico constituído por duas lentes: a córnea e o cristalino. A córnea é a lente mais potente, mas com poder fixo (44 D). O cristalino é menos potente (16 D), porém tem a capacidade de variar a cur- vatura para se ajustar às necessidades de focalização do olho, processo conhecido como acomodação visual. O cristalino é uma massa globular vis- coelástica, transparente, envolta por uma cápsula, igualmente elástica e transparen- te. Ao redor de todo o equador da cáp- sula, partem delicadas fibras inelásticas, radiadas, que o prendem ao corpo ciliar. Este é uma estrutura anular contrátil, situa- da logo atrás da íris. Na posição relaxada, seu diâmetro anular é máximo, e, nessa situação, a tração exercida sobre o equa- dor cristaliniano é também máxima. Sob tração intensa, o cristalino assume a for- ma lenticular e tem poder óptico mínimo, pela atenuação de suas curvaturas. À me- dida que o corpo ciliar se contrai, ocorre relaxamento progressivo das forças tenso- ras do cristalino. Com o alívio controlado das forças tensoras, o cristalino recobra paulatinamente a forma globosa, com au- mento proporcional do poder óptico. Quando nascemos, a memória elástica do cristalino é máxima e, por isso, a ca- pacidade acomodativa é máxima. À medi- da que envelhecemos, a elasticidade varia em progressão inversa à da idade. A queda da capacidade acomodativa acompanha o enrijecimento do cristalino, até atingir-se uma idade quando a capacidade acomo- dativa não supre mais a demanda da vi- são de perto.4 Nessa situação, começam as queixas de perto que caracterizam a presbiopia. É importante entender que, embora a queda da capacidade acomodativa seja sinal inevitável de envelhecimento, o sin- toma “presbiopia” apenas se manifestará quando a pessoa estiver exercendo ativi- dade crítica para perto. Componentes biológicos da presbiopia O aumento progressivo do tamanho e do volume lenticular com a idade, não só tor- na a elasticidade capsular menos efetiva como desloca anteriormente as fibras zo- nulares equatoriais.5 Esse deslocamento tende a reduzir o desempenho mecânico do sistema suspensório zonular, dificul- tando a acomodação. A despeito disso, o principal fator da perda acomodativa é a diminuição progressiva da elasticidade da cápsula e da substância lenticular com a idade. A elasticidade zonular não se altera significativamente.5 A força do músculo ciliar permanece constante até os 45 anos de idade e, depois, sofre leve declínio até os 60 anos de idade.6 O sinal neuromotor Refratometria Ocular - Cap-08.indd 146 06/03/2017 21:27:43 Presbiopia 147 acomodativo e as estruturas nervosas cor- relatas permanecem relativamente inal- terados ao longo da vida.7 Consequente- mente, nenhuma dessas variáveis pode ser implicada na perda fisiológica da capaci- dade acomodativa. Teorias da presbiopia Existem três teorias para a explicação da diminuição fisiológica da capacidade acomodativa: teoria de Helmholtz-Hess- Gullstrand, teoria de Donders-Duane-Fin- cham e teoria da Schachar. A primeira atribui a perda da acomo- dação à perda da elasticidade da cápsula e substância do cristalino.8 A segunda, ao enfraquecimento do músculo ciliar.8 A ter- ceira, ao aumento do diâmetro equatorial do cristalino com consequente diminui- ção da distância de trabalho do músculo ciliar.9 Das três, somente a primeira mos- trou-se compatível com os achados expe- rimentais da atualidade. FUNDAMENTOS DA CORREÇÃO ÓPTICA Demanda acomodativa Demanda acomodativa é a quantidade de dioptrias que o olho tem de acomodar pa- ra focalizar a imagem na retina. No olhar para o infinito, a demanda acomodativa de um olho emetrope é zero: o cristalino fica relaxado. No olhar de perto, a deman- da é igual ao inverso da distância de lei- tura, tomada em metros. Por exemplo, se a distância de leitura é 40 cm, a demanda será de 1/0,40 = +2,50 D. Os dados da Ta- bela 1 apresentam as zonas de trabalho de várias profissões e as respectivas deman- das acomodativas, para pessoas de estatu- ra mediana, sem vícios de refração. Pes- soas de braços pequenos podem necessi- tar de distâncias mais curtas e pessoas de grande envergadura, de distâncias maio- res. No primeiro caso, haverá sobrecarga e, no segundo, o alívio das demandas ex- pressas na Tabela 1.10 A demanda de um olho hipermetrope com +2,00 D, para leitura a 40 cm, é 2,50 + 2,00 = +4,5 D. No olho míope, com a mesma graduação, a demanda será de +2,50 – 2,00 = 0,5 D. Observa-se, então, que o hipermetrope está sempre com demanda excessiva, por- que a acomodação é utilizada não só para perto, como também para a neutralização da ametropia. No míope, ocorre o oposto. Portanto, para a mesma distância de tra- balho, a demanda acomodativa na miopia Tabela 1 Demanda acomodativa de diferentes profissões Profissão Zona de trabalho (cm) Demanda acomodativa (D) Atividade doméstica 40 a 80 2,5 a 1,3 Secretária 40 a 70 2,5 a 1,4 Dentista 30 a 60 3,3 a 1,7 Barbeiro 35 a 55 2,9 a 1,8 Cirurgião 35 a 60 2,9 a 1,7 Arquiteto 35 a 75 2,9 a 1,3 Fonte: Alves AA. Presbiopia. In: Alves AA (ed). Refração. 5a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2008; 95-102.10 Refratometria Ocular - Cap-08.indd 147 06/03/2017 21:27:43 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica148 é menor que na emetropia e, nesta, menor que na hipermetropia. É por isso que o mío- pe tende a reclamar mais tardiamente de presbiopia. O hipermetrope, por sua vez, tende a apresentar, de modo mais preco- ce, os sintomas da presbiopia. Na verdade, a demanda acomodati- va depende não só do tipo de ametropia, como também da forma como é neutra- lizada. Hipermetropes corrigidos integral- mente com óculos acomodam mais queos emetropes; míopes usando a correção to- tal nos óculos acomodam menos que os emetropes.11 Isto se deve ao efeito óptico da camada de ar interposta entre os ócu- los e o olho. Nas LC, não existindo ar entre elas e o olho, a demanda acomodativa da ame- tropia, integralmente corrigida, é próxi- ma da do olho emetrope. Por isso, no iní- cio da presbiopia, a troca de óculos por LC e vice-versa pode gerar consequências agradáveis ou desagradáveis. Olhos mío- pes corrigidos com óculos acomodam me- nos que com LC. Portanto, a substituição dos óculos por LC pode desencadear sú- bita dificuldade de leitura pela sobrecarga acomodativa. De modo oposto, a mesma conduta pode pospor a presbiopia em hi- permetropes, pois, quando corrigidos com LC, tendem a acomodar menos que quan- do corrigidos com óculos. Quantificação da acomodação No olhar para o infinito, a acomodação exercida pelo olho emetrope é zero. Apro- ximando-se o alvo de leitura até o limite de sua nitidez, chega-se ao ponto próxi- mo de acomodação (PPA). Nesse ponto, onde a nitidez começa a falhar, o esforço acomodativo é máximo. O valor do PPA é quantificado pela distância que o sepa- ra do olho testado. O PPA serve, portanto, como medida da capacidade acomodati- va. Para traduzir o PPA em dioptrias, que é a unidade de acomodação, basta tomar o inverso de seu valor em metros. Por exem- plo, um PPA de 12,5 cm equivale a 8,0 D (1/0,12 m) de capacidade acomodativa. O PPA afasta-se progressivamente dos olhos com a idade, acompanhando a perda da elasticidade do cristalino. Nas ametropias, a amplitude de aco- modação é calculada somando-se o va- lor dióptrico do PPA ao vício de refração. Se o PPA de um hipermetrope de +2,00 D for 12,5 cm, sua capacidade acomo- dativa será 8,00 + 2,00 = 10,0 D. Em um míope de –2,00 D, com o mesmo PPA, a capacidade acomodativa será ao redor de 8,00 – 2,00 = 6,00 D. Portanto, o PPA só faz sentido quando se conhece o vício de refração. O problema com o PPA é que, à medida que o alvo de leitura se aproxi- ma, o tamanho aparente das letras aumen- ta. Isto dificulta a identificação precisa do ponto de turvação, o que pode ser minimi- zado encorajando o paciente a dirigir sua atenção para letras progressivamente me- nores, conforme a distância encurta. Outros métodos de determinação da acomodação são: a régua de Prince, que acompanha todo refrator manual, e o mé- todo da adição de esferas. No método de adição de esferas, o pa- ciente fixa monocularmente uma carta de acuidade de perto a 40 cm. Então, adicio- nam-se lentes positivas para relaxar a aco- modação até que mencione a turvação da visão. Em seguida, adicionam-se lentes ne- Refratometria Ocular - Cap-08.indd 148 06/03/2017 21:27:43 Presbiopia 149 gativas para estimular a acomodação até que os caracteres borrem novamente. A soma dos valores absolutos, do maior valor negativo com o maior valor positivo, ex- pressa a amplitude de acomodação. Teo- ricamente, a amplitude de acomodação, medida dessa maneira deveria expressar a capacidade acomodativa. Talvez seja por isso que a literatura anglo-saxã use o termo “amplitude de acomodação” no lu- gar de “capacidade acomodativa”. Ocor- re que, com frequência, as lentes positivas não conseguem relaxar suficientemente a acomodação para que essa equivalência se verifique. A capacidade acomodativa é raramen- te desigual. Portanto, se, com os óculos em uso, o PPA for diferente nos dois olhos, o paciente estará, provavelmente, necessi- tando de prescrição com graduações mais equilibradas. Métodos de determinação da adição A acomodação é o aumento do poder convergencial do cristalino para suprir as necessidades de focalização dos olhos. Quando a acomodação é insuficiente, é necessário o uso de lentes convergentes diante do olho emetrope ou emetropizado para suprir a demanda visual para perto. Esse recurso óptico é chamado de adição pelo fato de ser adicionado ao valor dióp- trico dos defeitos de refração existentes. O valor da lente de perto, quando iso- lado, não informa sobre a real adição. Para tanto, é preciso conhecer o valor to- tal do defeito de refração sob cicloplegia farmacológica. Por exemplo, se o paciente usa +4,00 D para perto mas tem +3,00 D de hipermetropia, a adição real é de ape- nas +1,00 D. A adição aumenta o alcance da visão de perto, mas causa diminuição da visão intermediária e de longe, e esse fato é tão mais intenso quanto maior o valor da adi- ção. No olho emetrope ou emetropizado, por exemplo, o campo de visão nítida vai do PPA ao infinito. Com a adição, o li- mite proximal de visão nítida melhora, tornando-se menor que o PPA; por outro lado, a visão de longe fica limitada pela distância focal da adição. Se a adição for +1,50 D, a distância mais longa de visão nítida será 0,67 (1/1,5) m; se for +3,50 D, ela recuará para 0,29 (1/3,5) m. Assim, à medida que se aumenta a adição, o pa- ciente é forçado a ler em posições mais próximas, com visão intermediária mais turva. Como a visão intermediária é mui- to importante nas atividades corriqueiras, quanto maior a adição mais as chances de insatisfação com os óculos de perto. A regra geral de prescrição de adições é: prescrever a menor adição possível que proporcione boa visão e conforto visual ao paciente. A idade do paciente pode ser utiliza- da como referência para a determinação da adição, desde que se tenha em mente que é apenas uma referência, pois a ca- pacidade acomodativa varia muito entre as pessoas de mesma idade. Os dados da Tabela 2 apresentam as adições em fun- ção da idade para a distância de leitura de 40 cm.12 Na literatura oftalmológica, prevalece o conceito empírico de que o conforto vi- sual é condicionado ao repouso de, pelo menos, entre 33 e 50% da capacidade Refratometria Ocular - Cap-08.indd 149 06/03/2017 21:27:43 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica150 acomodativa. Os métodos de determina- ção de adição apresentados a seguir traba- lham com esse conceito. 1. Determine o PPA com o paciente usando a correção total da ametropia. Converta-o em dioptrias para achar a capacidade acomodativa. Escolha a distância da leitura em função das ne- cessidades do paciente. Converta-a em dioptrias para achar a demanda aco- modativa. Tome a metade da capaci- dade acomodativa como reserva. Em seguida, some a demanda com a reser- va e subtraia do resultado a capacida- de acomodativa para achar a adição a ser prescrita. Por exemplo, uma pessoa emetrope, com PPA = 33 cm, costuma ler a 40 cm. Sua capacidade acomo- dativa é +3,00 D; a acomodação pla- nejada para reserva será +1,50 D; sua demanda a 40 cm é +2,50 D. A adição será dada por: (2,50 +1,50) – 3,00 = +1,00 D. Resumindo, para manter +1,50 D em reserva, esse paciente pre- cisa de adição de +1,00 D. 2. Com o paciente usando a correção to- tal da ametropia, coloque a carta de leitura à distância de 40 cm. A deman- da acomodativa torna-se +2,50 D. Adi- cione, em ambos os olhos, lentes posi- tivas de graduações progressivamente maiores, até que o paciente informe vi- são nítida das menores letras da carta. Subtraindo-se o valor da lente adicio- nada da demanda acomodativa, acha- se o esforço acomodativo exercido no teste. A adição, a ser prescrita, corres- ponderá ao valor da lente adicionada, somada a 33% do esforço acomodati- vo. Por exemplo, uma pessoa emetro- pe, testada a 40 cm, só identificou os menores caracteres da tabela com lente +1,00 D. Subtraindo esse valor da de- manda acomodativa, verificamos que o esforço acomodativo é da ordem de +1,5 D. A adição deverá ser: +1,00 + (1,50/3) = +1,50 D. 3. Usando a melhor correção de longe no refrator e com a carta de teste colocada a 40 cm, acrescente lentes positivas até que o paciente consiga identificar niti- damente os menores caracteres. Anote o valor da lente adicionada (p. ex., adi- ção de +1,5 D). Continue adicionando lentes positivas até que as letras fiquem turvas. Anote o novo valorda lente adicionada (p. ex., adição de +3,5 D). A adição a ser prescrita será a média aritmética desses dois valores, ou seja, +2,5 D. Tabela 2 Dados de Hofstetter sobre as adições em função da idade Faixa etária (anos) Capacidade acomodativa (dioptrias) Adição para 40 cm (dioptrias) 40 a 44 4,00 a 5,00 0,75 a 1,00 45 a 49 2,75 a 3,75 1,00 a 1,50 50 a 54 1,50 a 2,50 1,50 a 2,00 55 a 59 0,25 a 1,25 2,00 a 2,25 60 ou mais 0,00 2,25 a 2,50 Fonte: Hofstetter HW. A useful age-amplitude formula. Penn Optom, 1947; 7:5-8.12 Refratometria Ocular - Cap-08.indd 150 06/03/2017 21:27:43 Presbiopia 151 4. Com a melhor correção de longe no re- frator e com a carta de perto de Jaques, que apresenta riscos horizontais e ver- ticais colocada a 40 cm, posicione os cilindros cruzados com os eixos dos ci- lindros negativos a 90° e acrescente len- tes positivas até que o paciente consiga identificar nitidamente todos os riscos. Anote o valor da lente adicionada (p. ex., adição de +2,25 D). Este será o valor da adição de perto. O presbita com a corre- ção de longe identifica os riscos horizon- tais claros e os verticais borrados. O problema desses métodos é que eles consideram apenas o cansaço visual. O principal problema do presbita é a tur- vação visual para perto ou a restrição da profundidade do campo visual, com o uso da adição. A queixa de cansaço tende a ser secundária, porque, nessa condição, ele instintivamente aumenta a distância de trabalho, diminuindo o esforço acomo- dativo. Só para os que trabalham por pe- ríodo prolongado, em uma distância fixa, como relojoeiros ou soldadores de com- ponentes eletrônicos, é que esse sintoma tende a ser importante. Portanto, o obje- tivo primordial da adição é dar boa visão, com mínima interferência sobre a profun- didade do campo. Como esses objetivos tendem a ser antagônicos, a prescrição do presbita é, no campo da Oftalmologia, a que mais se aproxima do conceito de arte. Um bom começo, no domínio dessa arte, é determinar o defeito de refração total do paciente, sob cicloplegia, e, em outra ses- são, iniciando-se com a correção total, de- terminar a mínima graduação que dê visão máxima de perto. Sobre esse valor, pode- se colocar alguma graduação a mais, para o alívio do esforço acomodativo, mas com controle simultâneo do efeito sobre a am- plitude do campo de visão de perto. Esse controle é feito com o afastamento e a aproximação da carta de optotipos em tor- no do plano de leitura. Lentes oftálmicas para a presbiopia Os sintomas da presbiopia podem ser ate- nuados com lentes monofocais, bifocais ou multifocais. Cada uma apresenta van- tagens e desvantagens. Lentes monofocais As lentes monofocais têm foco único; quando são usadas na presbiopia, servem apenas para a visão de perto. Se a pessoa tiver algum defeito de refração, precisará de outro par de óculos para longe. Entre- tanto, têm a vantagem de fornecer ótima qualidade de imagem, justamente por se- rem de confecção simples. Outro benefí- cio é permitir ao usuário a livre escolha da região da lente a ser utilizada. Se ele precisa trabalhar olhando para um painel acima da cabeça, basta elevar os olhos. Se o efeito prismático é diferente nas duas lentes, ele poderá usar os centros ópticos, onde não há efeito algum. As lentes monofocais de perto devem ser montadas preferencialmente em meia- armação, que é pequena e faculta o olhar por cima das lentes para alcançar distân- cias intermediárias e de longe. Lentes bifocais As lentes bifocais têm um foco para a vi- são de perto e outro para longe. A vanta- Refratometria Ocular - Cap-08.indd 151 06/03/2017 21:27:43 Refratometria Ocular e a Arte da Prescrição Médica152 gem sobre as lentes monofocais é fornecer visão de perto e longe, com um único par de óculos, e também terem preço acessí- vel. Como desvantagem, podem dificultar a deambulação pela dificuldade de focali- zação do chão por meio do segmento in- ferior da lente. Há grande variedade de bifocais que diferem, basicamente, na forma do seg- mento de adição. Os principais são: Flat- top, Executivo, Kriptok, Ultex ou Ballux. Originalmente, os segmentos de adição eram colados em uma das superfícies da lente de longe, daí o nome adição. Atual- mente, a maior parte dos bifocais é cons- truída em peça única, com a superfície anterior apresentando curvatura para a visão de longe e outra para perto. Essa combinação de lentes distintas, em peça única, gera efeitos prismáticos indesejá- veis, dos quais dois se destacam: o salto de imagem e o deslocamento vertical do campo visual. Embora os bifocais sejam feitos com grande variedade de formas, cada tipo de segmento tem distância constante entre o topo e o centro óptico. Essa distância mais o poder da adição são os principais res- ponsáveis pelo salto de imagem, quando a linha do olhar cruza o topo do segmento de adição ao se olhar para baixo. Os tipos de segmento cuja distância entre o topo e o centro óptico é grande (Ultex ou Krip- tok) são os que produzem maior salto. Nos segmentos tipo flat-top, onde essa distân- cia é pequena, o salto é pequeno. Nos bi- focais Executivos, cujo topo coincide com o centro óptico, o salto é nulo. A posição do centro óptico do segmen- to de adição é importante ainda por outra razão: influencia a magnitude do desloca- mento da imagem vista por meio da adi- ção. A maioria dos usuários de bifocais lê por meio de um ponto situado 10 mm abai- xo do centro óptico da correção de longe. Se essa posição coincidir com o centro óp- tico da adição, como na maioria dos flat- tops, o segmento não gera nenhum efei- to prismático. Se, por outro lado, o cen- tro óptico do segmento estiver localizado muito abaixo da linha de leitura, como no Ultex, a adição poderá contribuir signifi- cativamente para o deslocamento vertical da zona de leitura, sendo muito desagra- dável. O desconforto dependerá da quan- tidade e do sentido do deslocamento, bem como das necessidades visuais e ocupa- cionais do paciente. Para minimizar esses problemas, foram criadas regras de pres- crição de bifocais. São elas: 1. Use flat-top em todos os casos de mio- pia. 2. Use flat-top nas hipermetropias quan- do a graduação da adição é superior à das lentes de longe, no meridiano ver- tical. 3. Use Ultex ou Ballux nas hipermetro- pias quando a graduação da adição é inferior à das lentes de longe, no meri- diano vertical. 4. Use Kriptok quando a graduação da adição é idêntica à das lentes de longe, no meridiano vertical. Esse segmento tem a vantagem de ser pouco aparente. O bom senso sugere que, se o paciente estiver satisfeito com um tipo de bifocal, mesmo que não esteja conforme às regras anteriores, não é necessário trocá-lo. De- Refratometria Ocular - Cap-08.indd 152 06/03/2017 21:27:43 Presbiopia 153 cida com o paciente as eventuais modifi- cações. A largura do segmento de adição é im- portante fator na prescrição de bifocais. Os segmentos largos facilitam o trabalho de quem necessita de campo visual amplo para perto. Mas, deve-se levar em conta que, se a visualização do objeto de per- to exigir a excursão ocular maior que 15°, em geral a pessoa gira a cabeça no sentido desejado. Entretanto, se os óculos forem prescritos sobretudo para o uso de lon- ge, o segmento pequeno poderá ser mais apropriado, interferindo menos no campo lateral. A posição do topo do segmento dos bifocais é de suma importância para o conforto. O topo do segmento deve ficar alinhado com o limbo corneano inferior, cerca de 5 a 5,5 mm abaixo do centro pu- pilar. Entretanto, na prescrição dos primei- ros bifocais, o topo do segmento pode ser colocado cerca de 1 a 2 mm mais baixo que o usual, para facilitar a deambulação. Porém, se os óculos forem utilizados, so- bretudo para perto, a altura pode ser ele- vada 1 a 2 mm, o que ampliará a zona de trabalho. As alturas dos segmentos não precisam ser necessariamente simétricas em relação à armação. O importante é