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aspectos legais do depoimento especial nos processo judiciais

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Curso de Direito 
 
ASPECTOS LEGAIS DO DEPOIMENTO ESPECIAL NOS PROCESSOS JUDICIAIS DA 
INFÂNCIA E JUVENTUDE 
 
LEGAL ASPECTS OF THE SPECIAL STATEMENT IN THE JUDICIAL PROCEEDINGS OF CHILDHOOD 
AND YOUTH 
 
Augusto Vieira Braz Gonçalves1, Tatiane Pinheiro de Sousa Alves2 
 
1 Aluno do Curso de Direito 
2 Professora especialista em Direito Público e Docência de Ensino Superior 
 
 
 
RESUMO 
 
A oitiva de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual tem sido tema em evidência nos últimos 
anos. A forma como a vítima infanto-juvenil é vista dentro do processo judicial tem sido bastante debatida, 
uma vez que retira a vítima de sua condição de vítima e a torna ferramenta de condenação do acusado. Tal 
maneira de abordagem da vítima durante o processo de inquirição, provoca danos ainda maiores naquela 
que já sofreu o abuso e a revitimiza. Parâmetros para a tomada de depoimento especial destas vítimas 
foram estabelecidos com a promulgação da Lei nº 13.431/17, visando maior tutela aos direitos das crianças 
e adolescentes. O presente trabalho de conclusão de curso tem o objetivo geral de apresentar o problema 
da revitimização quando inobservada a Lei nº 13.431/17 e como objetivo específico mostrar o valor 
probatório do depoimento especial tomado por profissionais técnicos no processo judicial. 
 
Palavras-Chave: Prova processual; Violência sexual; crianças e adolescentes; Revitimização; Depoimento 
Especial.. 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The hearing of children and adolescents who have been victims of sexual violence has been a evidence 
theme in recent years. The way the child-juvenile victim is seen within the judicial process has been much 
debated since it removes the victim from his victimhood and makes it a tool of condemnation of the accused. 
Such a way of approaching the victim during the inquiry process, causes even greater damage in the victim 
who has already suffered abuse and revival. Parameters for taking special testimony of these victims were 
established with the enactment of Law 13,431 / 17, aiming at greater protection of the rights of children and 
adolescents. The undergraduate thesis has the general objective of presenting the problem of revictimization 
when unobserved Law 13.431 / 17 and as a specific objective to show the probative value of the special 
testimony taken by technical professionals in the judicial process. 
 
Keywords: Proceedings; Sexual violence; children and adolescents; Revitimization; Special Testimonial 
Contato: augusto_vbg@hotmail.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
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INTRODUÇÃO 
 
 No sistema legislativo brasileiro, crianças e adolescentes são detentores de 
Proteção Integral por parte da família, da sociedade e do Estado, tal proteção está 
explícita em princípios constitucionais que norteiam o Direito da Criança e do 
Adolescente. 
Em que pese tais previsões legais, diariamente crianças e adolescentes são 
expostas à situação de perigo e violência, seja por omissão ou ação de um ou mais 
daqueles que são detentores do dever de cuidar e dar proteção integral às pessoas em 
desenvolvimento. 
Uma das formas mais comuns de violação de direitos e violência às crianças e 
adolescentes é abuso sexual, que na maioria das vezes ocorre no âmbito familiar, de 
forma que dificulta a fiscalização e intervenção dos órgãos de proteção, uma vez que na 
maioria das vezes, o abuso não deixa marcas físicas aparentes, só vindo à tona quando a 
própria vítima toma coragem de relatar o fato a alguém. 
Após relatar a alguma pessoa de sua confiança a vítima passa a sofrer as dores da 
violência novamente ao ter que relatar por tantas vezes como abuso aconteceu, para que 
sejam apurados os fatos e o agressor responsabilizado. Ocorre, que tais repetições 
acabam por revitimizar a criança ou adolescente violentado, o que pode lhe causar 
confusão e testemunhar fatos não tenham ocorrido realmente. 
Esse fato da vítima, de uma certa forma, ser induzida a testemunhar algo que não 
ocorreu, pode se dar em razão da sugestibilidade, que não necessariamente tenha sido 
praticada pelo agente condutor da oitiva de forma a levar a vítima à confusão, mas é que 
pela idade peculiar das vítimas nesses casos, determinadas perguntas feitas de forma 
repetitiva pode causar a chamada falsa memória, o que acarreta em um testemunho fora 
da realidade. 
Por esses fatos, a doutrina é vasta no sentido de não admitir como prova única no 
processo de investigação, o depoimento de crianças e adolescentes, uma vez que um 
testemunho eivado de irrealidades pode macular o andamento processual e, assim, gerar 
uma insegurança jurídica. 
Porém, conforme veremos à adiante, no presente ano foi promulgada a Lei nº 
13.431/17 que estabelece parâmetros para a oitiva de crianças e adolescentes vítimas e 
testemunhas de violência, alinhando com o ordenamento jurídico vigente as tomas de 
depoimento especial, proporcionando maior proteção aos interesses da pessoa em 
 
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desenvolvimento. 
Neste cenário, o presente estudo pretende investigar a seguinte questão: O valor 
probatório do depoimento especial nos processos do juizado da infância e juventude, uma 
vez que tal depoimento, visando minimizar o sofrimento da criança e do adolescente, 
vítimas de violência sexual, é conduzido por um profissional técnico e não pelo 
magistrado. 
O objetivo geral deste trabalho é analisar a utilização do depoimento especial, 
colhido fora do processo judicial, como prova nos processos das Varas da Infância e 
Juventude. 
Em seguida, de maneira específica, discorreremos sobre o depoimento especial, 
técnica de oitiva desenvolvida para minimizar tais danos, bem como estudar o valor 
probatório do referido depoimento no processo judicial, uma vez que determinadas 
correntes doutrinárias entende que por ser tomado por técnicos, esse depoimento tende a 
não ter imparcialidade, e, por outro lado, os ditames da Lei nº 13.431/17, que trata do 
depoimento especial. 
A metodologia do estudo empregada será a pesquisa bibliográfica buscando, 
inicialmente, as contribuições teóricas de autores que se debruçaram sobre o estudo do 
direito da criança e do adolescente, bem como sobre o depoimento especial, e após, 
confirmar as teses com base na legislação vigente. 
 
1. DAS PROVAS 
Para que este trabalho atinja o fim a que se pretende, inicialmente, há de se 
adentrar na seara das provas processuais, trazendo os princípios norteadores da prova 
no processo civil, o conceito jurídico de prova, bem como as alterações práticas trazidas 
com o Novel Código de Processo Civil. 
 
1.1 Conceito 
 
Pode-se conceituar prova como sendo um instrumento processual à disposição das 
partes, bem como do juiz. Aqueles utilizam desse instrumento como forma de afirmação 
das suas pretensões trazidas a juízo, já o magistrado, utiliza da prova como meio de 
formar o seu convencimento sobre os fatos que compõem a relação jurídica. 
Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery em (2015, p. 983) lecionam: 
Meios processuais ou materiais considerados idôneos pelo ordenamento jurídico 
para demonstrar a verdade, ou não, da existência e verificação de um fato jurídico. 
É da substância do direito material apontar as hipóteses em que se exige a prova 
 
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legal – que corresponde à forma do negócio jurídico, um dos elementos de sua 
essência (CC 104) -, bem como a forma como podem ser provados os fatos 
jurídicos que não exigem forma especial (CC 212). É da substância do direito 
processual fornecer o rol dos meios de prova admitidos no processo, a 
discriminação pormenorizada da forma e do momento de sua produção, bem 
como a forma e os limites de sua avaliação pelo julgador. 
 
1.2. Dos Princípios norteadores da prova no processo civil 
 
Os princípios, enquanto base fundamental do ordenamento jurídico, servindo de 
esteio e dando amparo aos regramentos legais existentes, desempenham um papel 
fundamental no processo civil, conforme ensinamentos de MontenegroFilho (2005, p. 
473): 
Partindo da premissa de que os princípios apresentam-se como vigas do 
ordenamento jurídico, em torno das quais e sobre as quais são edificadas todas as 
normas legais, necessário que se dê especial destaque aos principais princípios – 
constitucionais e processuais – aplicáveis à prova em específico, conferindo-se a 
eles o status de premissas, gerando todas as conclusões daí advindas. 
 
Assim, vale ressaltar alguns dos princípios fundamentais ao estudo das provas 
processuais civis, quais sejam: 
 
1.2.1. Princípio do devido processo legal 
 
O referido princípio está repousado na Carta Magna, em seu artigo 5º, inciso LIV, o 
qual dispõe que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido 
processo legal”. 
Sobre o tema, preceitua Theodoro Júnior (2007, p. 28/29): 
Faz-se modernamente uma assimilação da ideia do devido processo legal à do 
processo justo. [P] A exemplo da Constituição italiana, também a Carta brasileira 
foi emendada para explicar que a garantia do devido processo legal (processo 
justo) deve assegurar “a razoável duração do processo” e os meios que 
proporcionem “a celeridade de sua tramitação” (CF, art. 5º, novo inciso LXXVIII, 
acrescentado pela Emenda Constitucional nº 45, de 08.12.2004). 
 
Assim, pode-se afirmar que a Constituição Federal de 1988, não só garantiu de que 
todo o cidadão brasileiro tenha o direito de defender as suas pretensões em um processo 
legalmente instituído, como também, assegurou que este processo seja célere de modo 
que o cidadão não veja sua pretensão exaurida pelo tempo em que o processo levará 
para tramitar. 
 
1.2.2. Princípio do contraditório e da ampla defesa 
 
Este princípio encontra guarida no artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal de 
 
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1988, como forma de garantia fundamental, de modo a propiciar às partes processuais o 
direito de se defenderem em juízo. 
Neste sentido é o ensinamento de Theodoro Júnior (2007, p. 30): 
O processo considera sob o prisma da igualdade ambas as partes da lide [P] Mas 
o principal consectário do tratamento igualitário das partes se realiza através do 
contraditório, que consiste na necessidade de ouvir a pessoa perante a qual será 
proferida a decisão, garantindo-lhe o pleno direito de defesa e de pronunciamento 
durante todo o curso do processo. 
 
Não se pode negar que a observância a este princípio se faz fundamental no 
decorrer da instrução processual, uma vez que cerceado o direito de defesa da parte, 
poderá acarretar danos irreparáveis à mesma, maculando o processo de nulidade. 
Pelo princípio do contraditório deve-se oportunizar a parte não somente de 
defender-se sobre as alegações da parte adversa, como também de fazer prova em 
sentido contrário. Nesse contexto, ocorre o caráter absoluto do contraditório, quando é 
assegurado às partes, que nenhum processo tramite sem que sejam observadas as 
regras da isonomia no exercício das faculdades processuais (THEODORO JÚNIOR, 
2007, p. 31). 
 
Porém, excepcionalmente e em caráter de urgência, ao se ingressar com alguma 
medida cautelar ou a tutela antecipada, com fito de assegurar direitos em eminência de 
violação, se permite a quebra do princípio do contraditório, conforme leciona Theodoro 
Júnior (2007, p. 31): 
O devido processo legal, síntese geral da principiologia da tutela jurisdicional, 
exige que o contraditório, às vezes, tenha de ceder momentaneamente à medidas 
indispensáveis à eficácia e efetividade da garantia de acesso ao processo justo. 
Assim, no caso de medidas liminares (cautelares ou antecipatórias), a providência 
judicial é deferida a uma das partes antes da defesa da outra. Isto se admite 
porque, sem essa atuação imediata da proteção do interesse da parte, a eficácia 
do processo se anularia e a garantia máxima de acesso à tutela da justiça restaria 
frustrada. As liminares, todavia, não podem ser utilizadas senão em casos 
excepcionais, de verdadeira urgência, e não podem se transformar numa completa 
e definitiva eliminação da garantia do contraditório e da ampla defesa. 
 
Neste primeiro momento, cabe ressaltar apenas mais um princípio norteador do 
processo e, consequentemente, das provas processuais, qual seja, o princípio do livre 
convencimento motivado. 
 
1.2.3. Princípio do livre convencimento motivado 
 
Conforme trazido pelo Novo Código de Processo Civil em seu artigo 371 “O juiz 
apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver 
 
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promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento”. 
Porém, o princípio da livre convicção motivada não pode ser confundido com a 
faculdade da arbitrariedade do magistrado ao decidir. Nessa mesma esteira, são os 
ensinamentos de Theodoro Júnior (2007, p. 33) e Santos (2008, p. 78), respectivamente: 
Não quer dizer que o juiz possa ser arbitrário, pois a finalidade do processo é a 
justa composição do litígio e essa só pode ser alcançada quando se baseie na 
verdade real ou material, e não na presumida por prévios padrões de avaliação 
dos elementos probatórios. 
A liberdade de convencimento não equivale a convencimento arbitrário. A 
convicção [P], que deverá ser motivada, terá que se assentar na prova dos fatos 
constantes dos autos [P] e não poderá desprezar as regras legais, porventura 
existentes, e as máximas de experiência. 
 
Ainda sobre o livre convencimento motivado, ensinam Nelson Nery Júnior e Rosa 
Maria de Andrade Nery (2015, p. 992): 
O juiz é soberano na análise das provas produzidas nos autos. Deve decidir de 
acordo com o seu convencimento. Cumpre ao magistrado dar as razões de seu 
convencimento, mas sempre vinculado à prova dos autos. Decisão sem 
fundamentação é nula pleno iure (CF 93 IX). O sistema não se contenta com o 
fundamento meramente formal, pois se exige que o juiz dê fundamentos 
substanciais indicadores do seu convencimento. Não pode utilizar-se de fórmulas 
genéricas que nada dizem. Não basta que o juiz, ao decidir, afirme que defere ou 
indefere o pedido por falta de amparo legal; é preciso que diga qual o dispositivo 
de lei que veda a pretensão da parte ou interessado e porque é aplicável no caso 
concreto. 
 
Destarte, sobre o referido princípio pode-se dizer que o juiz analisará livremente as 
provas produzidas no decorrer do processo, porém, não poderá decidi-lo de forma 
arbitrária, tendo que fundamentar a decisão, indicando as razões que formaram o seu 
livre convencimento. 
 
1.2.4. Outros princípios constitucionais e processuais relativos à prova 
 
Além dos princípios explanados até agora, tem que se destacar, de maneira rápida 
alguns outros constitucionais e processuais relacionados à prova, quais sejam: a) da 
proibição da prova obtida ilicitamente (CF 5º LVI); b) da proporcionalidade; c) da oralidade 
(CPC 361); d) da imediação (CPC 459); e) da identidade física do juiz; f) da aquisição 
processual (ou da comunhão da prova). 
Cumpre ressaltar que não será aprofundado e não será feito um estudo 
pormenorizado de cada princípio relativo às provas, haja vista não ser o enfoque da 
problemática principal do presente trabalho. 
 
2. DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
 
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Neste segundo tópico, serão apresentados os princípios norteadores do Estatuto 
da Criança e do Adolescente, os quais visam assegurar direitos fundamentais das 
pessoas em desenvolvimento, haja vista a sua condição de vulnerabilidade social. 
Sob essa ótica, se mostrou indispensável a criação de mecanismos que criassem e 
assegurassem os direitos das crianças e adolescentes, o que só veio a ocorrer no século 
XX, como disse Antônio Cezar (2015, p. 7), citando Rosa Martins e a alteração do Código 
Penal em seu Capítulo II, do Título VI, por meio da Lei nº 12.015/09: 
[P] no século XX surge a proclamação dos direitos da criança, que se torna “o 
centro privilegiado de atenção de inúmeras teorias e investigações científicas”, 
tornando-se sujeitos de direitos e reconhecidamentevulneráveis 
 
Garantir tais direitos é imprescindível para que a criança e o adolescente tenham 
um desenvolvimento biopsicossocial saudável e em comunidade, como afirma Alessandro 
Baratta (2001, p. 62): 
Os direitos da infância formam um elo indissociável para a vida em comunidade, 
fundando-se no amparo e na proteção da dignidade da pessoa humana, embora 
sabido que crianças e adolescentes trilham um caminho mais espinhoso na 
comparação com outros sujeitos. 
 
Portanto, conforme leciona Antônio Cezar, utilizando ensinamentos de José de 
Farias Tavares (2015, p. 13): 
O objeto do direito da criança e do adolescente e o estudo sistemático da doutrina 
da proteção integral e a aplicação em concreto dos art. 227 e parágrafos, da 
Constituição Federal de 1988, regulamentada pelo Estatuto da Criança e do 
Adolescente, complementado pelas Lei nº 12.010/09 e leis correlatas. Esse direito 
tutela os interesses de uma parte mais fraca contra outra, que é plenamente 
capaz. 
 
Destarte, imprescindível o estudo de cada princípio norteador dos mandamentos 
legais que asseguram os direitos das crianças e adolescentes. 
 
2.1. Princípio do superior interesse ou do melhor interesse de crianças e 
adolescentes 
 
O princípio do melhor interesse (the best interest), ou do interesse superior 
(interesse maior), é outro daqueles princípios sobre os quais se assentam os direitos da 
criança e do adolescente (DA FONSECA, 2015, p. 14). 
Conforme preceitua Antônio Cezar, citando Zeno Veloso e Válter Kenji Ishida (2015, 
p. 14/15): 
O princípio do melhor interesse é de difícil definição, pois é o “princípio dos 
princípios”, como disse Zeno Veloso, sua definição “é tarefa quase impossível”, 
 
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sendo “aplicação de um conjunto de direitos em determinado caso concreto”, 
materializável “por meio da reunião de profissionais do Direito especializados em 
matéria de Direito da Criança e do Adolescente e de outros técnicos voltados ao 
tema”, os quais analisarão condutas, tratativas e soluções que sejam benéficas 
aos direitos da criança e/ou adolescente considerando sempre o caso concreto. 
Ao lado da Proteção Integral, o princípio do melhor interesse é outra “regra basilar” 
do direito da criança e do adolescente, devendo permear todo tipo de 
interpretação dos casos envolvendo crianças e adolescentes. 
 
Outro dispositivo legal que reafirma o princípio do superior interesse da criança e 
do adolescente é o artigo 100, parágrafo único, IV, do ECA, com redação dada pela Lei nº 
12.010/09, arrolando princípios que regem a aplicação de medidas, que dispõe: “a 
intervenção deve atender prioritariamente aos interesses e direitos da criança e do 
adolescente, sem prejuízo da consideração que for devida a outros interesses legítimos 
no âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso concreto”. 
De fato, não se trata de um princípio que regulamenta somente a aplicação das 
medidas, conforme disposto no parágrafo único, mas como disse Antônio Cezar, trata-se 
de “um norteamento que deve gerenciar e orientar todas as atitudes concretas da 
sociedade, da família e do Estado em prol de crianças e adolescentes. 
De outra senda, não se deve confundir o princípio em comento com o “princípio da 
prioridade absoluta” ou até com “direitos fundamentais”. Nesse sentido são os 
ensinamentos de Antônio Cezar (2015, p. 15): 
Os direitos fundamentais, direitos humanos ou direitos da pessoa humana, [P] 
formam a árvore da qual aqueles princípios são seus ramos. A “prioridade 
absoluta”, assim como os direitos fundamentais, têm origem constitucional (art. 
227, caput, CF), sendo que o “superior interesse” tem origem nos Tratos 
Internacionais (v. Convenção Internacional de 1989), integrante dos acertos de 
proteção internacional de crianças e adolescentes. 
 
Destarte, compreende-se do estudo do princípio em comento, conforme narra 
Cleyson de Moraes Mello e Thelma Araújo Esteves Fraga, que “todos os atos 
relacionados à criança deverão considerar os seus melhores interesses. O Estado deverá 
promover a proteção e cuidados adequados quando os pais ou responsáveis não o 
fizerem” (2003, p. 420). 
 
2.2. Princípio (doutrina) da proteção integral e da prevalência da família 
 
O princípio da proteção integral está abarcado no art. 1º do Estatuto da Criança e 
do Adolescente, que aduz: “Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao 
adolescente”. 
Sobre o princípio em estudo, Antônio Cezar (2015, p. 17), citando Guilherme de 
 
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Souza Nucci e Karyna Batista Sposato, leciona que, in verbis: 
Um verdadeiro princípio ao considerarmos sua colocação na ordem protetiva de 
crianças e adolescentes, sendo “um sol no horizonte dos demais”, a doutrina da 
proteção integral sustenta todo atual Direito brasileiro da Criança e do 
Adolescente: “seu significado está em reconhecer que todos os dispositivos legais 
e normativo têm por finalidade proteger integralmente as crianças e os 
adolescentes em suas necessidades específicas, decorrentes da idade, de seu 
desenvolvimento e de circunstâncias materiais”. 
 
Tal princípio representa tamanha importância na constituição e proteção dos 
direitos das crianças e adolescentes que é reafirmado por vários outros diplomas legais, 
conforme preceitua Antônio Cezar (2015, p. 18): 
A Lei nº 12.010/09 reafirmou a Proteção Integral como princípio-base, dispondo 
que o Estado, em observância ao art. 226, caput, CF, só deve intervir 
prioritariamente voltado à orientação, apoio e promoção social da família natural, 
junto à qual a criança e o adolescente devem permanecer, salvo impossibilidade 
absoluta (art. 1º, § 1º, Lei nº 12.010/09). No mesmo sentido dispôs a Lei do 
SINASE (Lei nº 12.594/12), trazendo a participação da família ao 
acompanhamento e cumprimento de medidas socioeducativas. Dessa forma, há e 
existir uma proteção, integral e prioritária, na interpretação e na aplicação de toda 
e qualquer norma que diga respeito a criança ou adolescente (art. 100, parágrafo 
único, II, ECA), bem como pelo Princípio da Prevalência da Família, todas as 
ações e promoções relativas a crianças e adolescentes devem ter em mira o 
cuidado e a atenção para o ambiente familiar. Como consta do texto legal: deve 
ser dada prevalência a todas as medidas que mantenham ou reintegrem crianças 
e adolescentes na sua família natural ou extensa ou, se isso não for possível, que 
promovam a sua integração em família substituta (art. 100, parágrafo único, X, 
ECA). 
 
Portanto, o princípio da proteção integral das crianças e adolescentes, segundo 
Válter Kenji Ishida e o magistrado italiano Paolo Vercelone, respectivamente, consiste em 
“um sistema em que crianças e adolescentes figuram como titulares de interesses 
subordinantes frente a família, à sociedade e ao Estado”, de forma que “deve existir um 
engajamento da comunidade em geral, no sentido de promover-se a prática e a política 
efetiva de proteção” (2009, p. 7) (2003, p. 33). 
 
2.3. Princípio da prioridade absoluta 
 
O princípio da prioridade absoluta tem cunho constitucional, e é um instituto de 
grande importância na distinção entre as garantias de crianças e adolescentes das 
demais garantias pertinentes aos adultos em geral. 
Conforme leciona Antônio Cezar Lima da Fonseca: “É o norte para a efetivação dos 
demais direitos e garantias fundamentais, retratando um priorizar à infância e juventude, 
desde o recém-nascido ao adolescente” (2015, p.21). 
O referido princípio está abarcado na Carta Magna, em seu artigo 227, caput, 
parágrafos e incisos, onde o constituinte assegurou um rol de direitos a crianças e 
 
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adolescentes, de modo que gerou deveres destinados à família, à sociedade e ao Estado 
de viabilizar a efetivação de tais garantias, que são fundamentais. 
Neste sentido são os ensinamentos de Tânia da Silva Pereira (2015, p. 21), in 
verbis: 
Priorizar o recém-nascido é, antes de tudo, oferecer assistência pré-natal, 
saneamento básico, saúde, alimentação, vacinaçãoem massa. Priorizar a criança 
até 12 anos é dar ensino primário, cultura, lazer, entre outras medidas, além de 
esporte e assistência médico-odontológica. Priorizar o adolescente, além do já 
mencionado, abrange o ensino profissionalizante, proteção ao trabalho, 
assistência familiar e também atendimento ao jovem em situação de risco. 
 
Assim, conforme diz Antonio Cezar, “faz-se necessário, portanto, que os 
legisladores e publicistas em geral reconheçam que os únicos direitos constitucionais 
determinados como de prioridade absoluta são os outorgados a crianças e adolescentes, 
como a indicar que os demais princípios devem ser interpretados com uma coloração 
menos forte diante daquele”. 
Vale ressaltar que tal prioridade se aplica, também, aos processos judiciais que 
envolvam interesses de crianças e adolescentes, como por exemplo, a prioridade que 
obtêm quanto à tramitação dos recursos nos processos de adoção e destituição do poder 
familiar, prioridade esta, assegurada no artigo 199-C do ECA, o qual foi instituído pela Lei 
nº 12.010/09. 
Assim, resta claro que as garantias da prioridade absoluta se fazem necessárias, 
uma vez que o tempo passa de forma bem mais peculiar para crianças e adolescentes, 
enquanto pessoas em desenvolvimento, (isto porque são mais vulneráveis às violações 
de direitos perante o restante da sociedade), do que para os adultos. 
Desta forma é evidente que é preciso ações integradas entre toda a rede de 
proteção (família, sociedade, poderes públicos), para que seja dada prioridade absoluta 
ao tratamento dos interesses de crianças e adolescentes para que estes não tenham seus 
direitos violados. 
 
3. DA LEI Nº 13.431/17 – TOMADA DE DEPOIMENTO ESPECIAL DE CRIANÇAS E 
ADOLESCENTES VÍTIMAS OU TESTEMUNHAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL 
 
Neste capítulo será apresentado o método de tomada de depoimento especial 
(especializado) de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência, 
objetivando reduzir a revitimização ou vitimização secundária da criança ou adolescente 
no momento de produção de prova no processo investigatório e/ou judicial. Serão 
 
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apresentadas correntes doutrinárias divergentes quanto ao valor probatório do 
depoimento especial, bem como posicionamento jurisprudencial acerca do assunto. 
 
3.1. A Revitimização ou Vitimização Secundária 
 
Quando se trata de violência sexual contra crianças e adolescentes, há de se 
destacar duas formas de violências que são sofridas: a primeira é a violência sexual 
propriamente dita, ocorrida, principalmente, no seio familiar da pessoa em 
desenvolvimento; já a segunda forma de violência é aquela gerada pelas ferramentas de 
apuração do abuso ocorrido. 
Essa segunda violência, exercida basicamente pelos agentes estatais durante o 
curso processual, seja ele investigativo ou judicial, é a responsável por causar a 
revitimização da criança ou adolescente violentado, o que gera grande discussão acerca 
dos procedimentos adotados pelas autoridades policiais e judiciárias nas apurações de 
violência sexual. 
Sobre o assunto afirma Eugésio Pereira Maciel, citando Bitencourt (2016), que a 
atividade mal exercida pelos agentes no sistema judiciário acarreta a vitimização 
secundária e a manutenção do inquisitorialismo, e, em conjunto, a autora relata que há 
violência em decorrência de se utilizar a vítima como simples objeto de prova, não 
levando em consideração os direitos e garantias fundamentais. 
Na mesma esteira continua o pensamento de Eugésio Pereira Maciel (2016, p. 
17/18): 
Em nota publicada pela UNICEF, o órgão alega que os meios probatórios 
empregados pelo judiciário são insuficientes e pouco apropriados para 
questionar/contestar a realidade da vítima, gerando, em muitos casos, uma nova 
situação de maus-tratos, chamado de vitimização secundária. Nesse contexto 
surge a necessidade de aplicar outros métodos de verificação do ocorrido 
(BITENCOURT, 2016). 
[P] Em suma, a violência secundária (institucional) é oriunda dos operadores do 
direito. Essa violência por ocasião da frieza, formalização dos procedimentos 
legais, dada a dificuldade que os agentes apresentam na confecção do ato 
processual de inquirir a criança sexualmente abusada (FRONER; RAMIRES, 
2008), contribuem para que a vítima padeça a violação de seus direitos 
fundamentais, especificamente aqueles relacionados ao estado infanto-juvnil, visto 
que tolhida a condição de pessoa em desenvolvimento. 
 
Destarte vislumbra-se que se faz necessário uma abordagem mais humanitária por 
parte do Estado, através de seus agentes nos casos que tratam de violência sexual contra 
crianças e adolescentes, de modo a assegurar-lhes o efetivo cumprimento dos ditames 
dos princípios constitucionais e dos direitos humanos. 
 
 
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3.2. DA SUGESTIONABILIDADE E A FRAGILIDADE PROBATÓRIA DO DEPOIMENTO 
DA CRIANÇA E ADOLESCENTE VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA 
 
Antes de iniciarmos acerca da sugestionabilidade é necessário esclarecer que a 
falsa memória não se assemelha a uma mentira, mas são lembranças de fatos que nem 
sempre ocorreram realmente, porém, quem as conta acredita ser real, e isso é causado 
pela sugestionabilidade. 
Conforme explica Eugésio, se valendo dos ensinamentos de Saraiva e 
Albuquerque (2016, p. 32): 
A definição não é um conceito único, variando entre muitos autores que trabalham 
nesse campo de pesquisa. Mas de modo simplificado, é definida a alteração na 
memória por elementos externos, criando uma lembrança que não ocorreu, ou 
seja, aceitação dessa informação falsa e transformando em novas lembranças. 
[P] sugestionabilidade pode ser entendida como uma disposição psicológica das 
pessoas para seguirem uma indicação fornecida por alguém ou sugerida por um 
acontecimento, integrando essa sugestão na sua história pessoal ou agindo em 
conformidade com ela (SARAIVA; ALBUQUERQUE, 2015, P. 356). 
 
Ainda sobre o assunto, assevera Eugésio Pereira Maciel, citando Stefanello (2016, 
p. 33): 
Assim, entre vários fatores dentro da chamada sugestionabilidade que contribuem 
para falsificação da memória, o que se destaca é o papel do entrevistador. É na 
oitiva que se procura esclarecer, obter detalhes sobre determinado fato. E a forma 
como essa “entrevista” acontece, a forma como é realizado o testemunho, 
proporcionará a confiabilidade do relato, será fundamental para uma análise mais 
adequada da confiabilidade da declaração (STEFANELLO, 2013). 
 
Por isso, essa corrente doutrinária entende temerária a participação de oitiva de 
testemunhos conduzidos por psicólogos e assistentes sociais, uma vez que estes 
profissionais, talvez não tão cobertos de imparcialidade como seria o magistrado, 
conduzem o depoimento de maneira que levam a vítima à criação de falsas memórias 
através da sugestionabilidade, maculando o seu depoimento. 
 
3.3. DO DEPOIMENTO ESPECIAL 
 
Como vimos até agora, a oitiva/inquirição de crianças e adolescentes que sofrem 
violência sexual é sempre um problema, diante da falta de capacitação dos profissionais 
envolvidos em tais processos para lidar com a fragilidade em que a vítima se encontra, 
fazendo com que estas, muitas vezes sofram novamente o pesadelo do abuso, ao terem 
que relatar por diversas vezes para várias autoridades, sofrendo, então, o que se chama 
de revitimização. 
Visando diminuir esta vitimização institucional, ao longo do tempo, vários projetos 
 
13 
foram criados e instituídos em alguns estados, como nos conta Eugésio Pereira Maciel, 
citando Brito e Pereira (2016, p. 35): 
Frente à dificuldade no procedimento de inquirição do testemunho no sistema 
judiciário. Algumas experiências têm sido realizadas, como por exemplo, o Centro 
de Perícias Técnicas em casos de crianças e adolescentes vítimas de violência, 
implantado em 2004 em São Luís do Maranhão, a “Audiência Sem Trauma”, 
metodologia já em uso na Vara de Crimes contra a Criança e o Adolescente em 
Curitiba (PR), o Projeto “Justiça Sem Dor”, implantadoem junho deste ano em São 
Paulo (SP), e o procedimento precursor da tomada de depoimento especial, o 
Projeto Depoimento Sem Dano, do Rio Grande do Sul (BRITO; PEREIRA, 2012). 
 
Como se pode observar começou-se a ter uma preocupação maior com a vítima do 
abuso, e então esta passou a não ser tratada somente como instrumento de prova 
processual, e assim, iniciou-se a busca de minimizar os danos causados pela agressão 
vivida. 
Há de se dar atenção maior ao Projeto Depoimento Sem Dano, o qual deu o “ponta 
pé inicial” para a criação e instituição do “Depoimento Especial”, conforme nos explica 
Eugésio (2016, p. 36): 
[P] o projeto conhecido como “Depoimento Sem Dano” foi utilizado no Brasil pela 
primeira vez em 2003, na comarca de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, pelo 
Magistrado da Vara da Infância e Juventude, José Antônio Daltoé Cezar. [P] 
Esse projeto é uma resposta prática de alguns agentes jurídicos em resolver os 
danos psíquicos gerados pela revitimização (BITENCOURT, 2016), dados a 
dificuldade de inquirir a vítima infantojuvenil, devido à falta de preparo desses 
agentes, assim como a falta de constância das informações apresentadas nos 
diferentes interrogatórios, fragilidade da prova criminal, pois em alguns casos 
inexiste outra testemunha ou evidências, sendo a palavra do envolvido a única 
prova possível a ser produzida, que devido à insuficiência de provas, muitos casos 
ficam impunes (CEZAR, 2007). 
 
Já no corrente ano, mais precisamente no dia 04 de abril, foi promulgada a Lei nº 
13.431/17, que estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente 
vítima ou testemunha de violência e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto 
da Criança e do Adolescente), criando parâmetros e protocolos de abordagem e oitiva das 
vítimas de violência. 
Dentre esses parâmetros para a tomada do depoimento especial, estão alguns 
mais relevantes, conforme disposto na Cartilha da Comissão Intersetorial de 
Enfrentamento à Violência Sexual contra Criança e Adolescente (2017, p. 33): 
[P] O depoimento especial deverá ser realizado o mais próximo possível do 
momento em que os fatos foram revelados. [P] Deve-se evitar a repetição da 
oitiva da criança ou adolescente e, sempre que possível e com a concordância da 
criança ou adolescente, registrar a oitiva por meios audiovisuais. [P] O 
depoimento especial deverá ser centrado no modelo de entrevista forense 
orientado por um protocolo reconhecido pelos respectivos órgãos normatizadores 
e priorizar a livre narrativa da situação de violência, limitar o uso de perguntas 
fechadas e evitar perguntas sugestionáveis. [P] O depoimento especial deverá ser 
realizado em local apropriado e acolhedor, com infraestrutura e espaço físico que 
garantam privacidade da criança ou adolescente vítima ou testemunha de 
 
14 
violências. [P] as autoridades competentes adotarão as medidas necessárias para 
que não haja encontro entre o(a) depoente e o(a) acusado [P] 
 
A Lei nº 13.431/17, em seu artigo 12, incisos e parágrafos, tratou de padronizar o 
procedimento a ser obedecido pelas autoridades na tomada de depoimentos especial, in 
verbis: 
Art. 12. O depoimento especial será colhido conforme o seguinte procedimento: 
I - os profissionais especializados esclarecerão a criança ou o adolescente sobre a 
tomada do depoimento especial, informando-lhe os seus direitos e os 
procedimentos a serem adotados e planejando sua participação, sendo vedada a 
leitura da denúncia ou de outras peças processuais; 
II - é assegurada à criança ou ao adolescente a livre narrativa sobre a situação de 
violência, podendo o profissional especializado intervir quando necessário, 
utilizando técnicas que permitam a elucidação dos fatos; 
III - no curso do processo judicial, o depoimento especial será transmitido em 
tempo real para a sala de audiência, preservado o sigilo; 
IV - findo o procedimento previsto no inciso II deste artigo, o juiz, após consultar o 
Ministério Público, o defensor e os assistentes técnicos, avaliará a pertinência de 
perguntas complementares, organizadas em bloco; 
V - o profissional especializado poderá adaptar as perguntas à linguagem de 
melhor compreensão da criança ou do adolescente; 
VI - o depoimento especial será gravado em áudio e vídeo. 
§ 1º À vítima ou testemunha de violência é garantido o direito de prestar 
depoimento diretamente ao juiz, se assim o entender. 
§ 2o O juiz tomará todas as medidas apropriadas para a preservação da 
intimidade e da privacidade da vítima ou testemunha. 
§ 3o O profissional especializado comunicará ao juiz se verificar que a presença, 
na sala de audiência, do autor da violência pode prejudicar o depoimento especial 
ou colocar o depoente em situação de risco, caso em que, fazendo constar em 
termo, será autorizado o afastamento do imputado. 
§ 4o Nas hipóteses em que houver risco à vida ou à integridade física da vítima 
ou testemunha, o juiz tomará as medidas de proteção cabíveis, inclusive a 
restrição do disposto nos incisos III e VI deste artigo. 
§ 5o As condições de preservação e de segurança da mídia relativa ao 
depoimento da criança ou do adolescente serão objeto de regulamentação, de 
forma a garantir o direito à intimidade e à privacidade da vítima ou testemunha. 
§ 6o O depoimento especial tramitará em segredo de justiça. 
 
É evidente que com a promulgação da Lei nº 13.431/17, buscou-se aprimorar as 
técnicas de tomada de depoimento de criança e adolescente vítima de violência sexual, 
para capacitar toda a rede de proteção, em especial as autoridades policiais e judiciárias 
que promovem o primeiro contato da vítima com os profissionais técnicos que vão realizar 
a entrevista, para, assim, garantir a não violação dos direitos das crianças e adolescentes, 
não gerando a danosa revitimização. 
 
CONCLUSÃO 
 
Diante de todo o problema exposto no presente trabalho sobre as consequências 
da violência sexual contra crianças e adolescentes, bem como sobre a forma com que 
 
15 
eram tratados durante a investigação criminal e instrução processual, verifica-se que a 
matéria aqui abordada merece especial atenção na tratativa sobre os direitos 
fundamentais das crianças e adolescentes. 
Uma das formas de resguardar os direitos fundamentais das crianças e 
adolescentes, é a não revitimização em suas oitivas em processos que são vítimas e 
testemunhas de violência sexual. Garantir o bem-estar físico e mental da pessoa em 
desenvolvimento é medida que se impõe quando se trata de direito da criança e do 
adolescente. 
Com a promulgação da Lei nº 13.431/17, buscou proteger e zelar de direitos e 
garantias que vinham sendo violados constantemente, seja pelo agressor, ou pela rede de 
proteção, que ao abordar tal problemática não dava a tratativa e atenção requeridas ao 
caso, conforme preconiza o artigo 1º, da referida Lei, in verbis: 
Art. 1º Esta Lei normatiza e organiza o sistema de garantia de direitos da criança e 
do adolescente vítima ou testemunha de violência, cria mecanismos para prevenir 
e coibir a violência, nos termos do art. 227 da Constituição Federal, da Convenção 
sobre os Direitos da Criança e seus protocolos adicionais, da Resolução nº 
20/2005 do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas e de outros 
diplomas internacionais, e estabelece medidas de assistência e proteção à criança 
e ao adolescente em situação de violência. 
 
No que tange à problemática da sugestionabilidade e da falsa memória, bem como 
da aceitação do testemunho de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, 
colhido por profissional técnico (psicólogo ou assistente social), como prova judicial, 
conforme já dito anteriormente, foi largamente abatida com a entrada da Lei nº 13.431/17 
em vigor, visto que tratou claramente da matéria, estipulando os profissionais que devem 
conduzir o depoimento, bem como o procedimento para a produção de prova, conforme 
preconiza seu artigo 11, vejamos: 
Art. 11. O depoimentoespecial reger-se-á por protocolos e, sempre que possível, 
será realizado uma única vez, em sede de produção antecipada de prova judicial, 
garantida a ampla defesa do investigado. 
§ 1º O depoimento especial seguirá o rito cautelar de antecipação de prova: 
I - quando a criança ou o adolescente tiver menos de 7 (sete) anos; 
II - em caso de violência sexual. 
§ 2º Não será admitida a tomada de novo depoimento especial, salvo quando 
justificada a sua imprescindibilidade pela autoridade competente e houver a 
concordância da vítima ou da testemunha, ou de seu representante legal. 
 
Cumpre asseverar, que pessoas em desenvolvimento são mais suscetíveis à 
violações de seus direitos, dada sua condição fragilizada perante o restante da sociedade. 
Por isso merecem total atenção por parte da família, da comunidade, e do poder público 
(toda a rede de proteção), trabalhando todos juntos, integrados, envidando esforços para 
garantir a proteção integral e a prioridade absoluta de que tem direito e merecem. 
 
16 
 
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