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CONCEPÇAO E DIMENSIONAMENTO PROFA. MSC. CRISTIANE TOSTA SISTEMAS PREDIAIS DE ÁGUAS PLUVIAIS INTRODUÇÃO A água da chuva é um dos elementos mais danosos à durabilidade e boa aparência das construções. As coberturas das edificações destinam-se a impedir que as águas de chuva atinjam áreas a serem protegidas, cabendo ao projetista fazer com que o escoamento das mesmas se faça pelo trajeto mais curto e no menor tempo possível. Sempre que possível, deve-se buscar o aproveitamento das águas pluviais. INTRODUÇÃO A água que chega à atmosfera sob a forma d evapor, condensa-se e, aumentando de peso, cai em forma de chuva, granizo ou neve A medição da chuva é feita em redes pluviométricas que medem a quantidade de chuva através da altura pluviométrica (h), altura que a água caída atingiria sem infiltração e escoamento superficial Os dispositivos para medição são os pluviômetros – simples receptáculos com superfície horizontal exposta de 500cm2 instalados em suporte a 1,5m do solo, exigindo leituras diárias em provetas graduadas Estas medições são realizadas no Brasil desde o século XIX INTRODUÇÃO Além da altura pluviométrica, mede-se também: a) Duração (t) – é o intervalo de tempo de observação de uma chuva b) Intensidade (i) – é a relação altura/duração, observando-se que altas intensidades correspondem a curtas durações c) Frequência (f) – é o número de vezes que uma dada chuva (intensidade e duração) ocorre ou é superada num dado tempo, no geral um ano (vezes por ano) d) Recorrência (T) - ou retorno é o inverso da frequência, ou seja, o período em que uma dada chuva pode ocorrer ou ser superada (anos por vez) INTRODUÇÃO Do volume total de água precipitado sobre o solo, apenas uma parcela escoa sobre a superfície e sucessivamente constitui as enxurradas, córregos, ribeirões, rios e lagos. O restante é interceptado pela cobertura vegetal e depressões do terreno, infiltra e evapora. A proporção entre essas parcelas, a que escoa e a que fica retida ou volta à atmosfera, depende das condições físicas do solo – declividade, tipo de vegetação, impermeabilização, capacidade de infiltrações, depressões, etc. NBR 10.844/1989 - Instalações Prediais de Águas Pluviais NBR 15.527/2007 – Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis O sistema predial de aguas pluviais consiste na drenagem da cobertura e demais áreas associadas aos edifícios, tais como terraços, pátios, quintais, jardins e similares, utilizando-se de calhas, condutores, grelhas, caixas de areia e de passagem e outros dispositivos. Busca-se, assim, evitar umidade excessiva, infiltrações, alagamentos e evitar/diminuir a erosão do solo. DEFINIÇÃO VISÃO GERAL DO SISTEMA 1. CALHAS 1. Formato das calhas As calhas apresentam geralmente as seções em formato de V, U, semicircular, quadrada ou retangular. 2. Tipos de calhas Diversos tipos de calhas podem ser instaladas: beiral (Figura 2-1); platibanda (Figura 2-2); água furtada – encontro das águas do telhado (Figura 2-3) COMPONENTES DA INSTALAÇÃO 6 CALHA: aço galvanizado, cobre, aço inoxidável, alumínio, fibrocimento, PVC rígido, fibra de vidro, concreto ou alvenaria. MATERIAIS UTILIZÁVEIS 7 CONDUTOR VERTICAL: Tubo de descida que conduz a água do bocal da calha até o piso, ou até a tubulação subterrânea que coleta as águas da chuva. MATERIAL UTILIZADO: Pode ser de ferro fundido, fibrocimento, PVC rígido, aço galvanizado, cobre, chapas de aço galvanizado, chapas de cobre, aço inoxidável, alumínio ou fibra de vidro. COMPONENTES DA INSTALAÇÃO 8 CAIXA DE AREIA: Caixa enterrada utilizada para recolher detritos contidos nas tubulações de aguas pluviais, além de permitir a inspeção do sistema. Esses detritos ficam depositados no fundo da caixa, o que permite a sua retirada periodicamente. Esta caixa pode possuir uma grelha para também coletar águas do piso. COMPONENTES DA INSTALAÇÃO 9 CALHA DE PISO: Canal que coleta água e outros líquidos que escoam dos pisos dos pátios, jardins, estacionamentos, garagens, praças, piscinas e industrias, conduzindo a um destino final. COMPONENTES DA INSTALAÇÃO 10 TUBO DE DRENAGEM: Tubo perfurado e enterrado que capta a umidade excessiva do solo, conduzindo a um destino final. COMPONENTES DA INSTALAÇÃO 11 CAIXA DE PASSAGEM: Caixa normalmente enterrada que serve somente para interligar as tubulações subterrâneas do sistema de águas pluviais, permitindo inspeção do sistema. COMPONENTES DA INSTALAÇÃO 12 VÁLVULA DE RETENÇÃO: Conexão que impede o retorno das águas pluviais em situações como: inundações, enchentes, refluxo de mares, entupimentos, vazões elevadas em períodos de chuva. COMPONENTES DA INSTALAÇÃO 12 COMPONENTES DA INSTALAÇÃO 37 Para esgotar as águas pluviais, usam-se ralos que coletam a água de áreas cobertas ou de calhas, canaletas e sarjetas, permitindo sua entrada nos condutores. O ralo compreende duas partes: a)caixa; b)grelha (ralo propriamente dito). As grelhas podem ser planas ou hemisféricas (também chamadas “cogumelo” ou “abacaxi”). RALOS 38 ➢ Nas tubulações aparentes, devem ser previstas inspeções sempre que houver conexões com outra tubulação, mudança de declividade, mudança de direção e ainda a cada trecho de 20 m nos percursos retilíneos. ➢ Nas tubulações enterradas, devem ser previstas caixas de areia sempre que houver conexões com outra tubulação, mudança de declividade, mudança de direção e ainda a cada trecho de 20 m nos percursos retilíneos. ➢ A ligação entre os condutores verticais e horizontais é sempre feita por curva de raio longo, com inspeção ou caixa de areia, estando o condutor horizontal aparente ou enterrado. CAIXA DE AREIA E INSPEÇÃO Exemplo de caixa de areia (planta baixa e corte). 39 Calha de Piso Caixa de Passagem Calha de Beiral Condutor Vertical Caixa deAreia Válvula de retenção Tubo de Drenagem SISTEMA DE ÁGUAS PLUVIAIS – COMPONENTES DE INSTA1L3AÇÃO PRINCIPAIS PRESCRIÇÕES DA NBR 10.844: ❖ A condução das águas pluviais deve ser feita por um sistema completamente independente de qualquer outro (esgotamento sanitário, água potável, etc.). Deve-se prever dispositivo de proteção contra o acesso de gases no interior da tubulação de águas pluviais, quando houver risco de penetração destes. ❖ Nas junções e, no máximo de 20 em 20 metros, deve haver uma caixa de inspeção. ❖ Quando houver risco de obstrução, deve-se prever mais de uma saída. ❖ Quando um extravasamento não pode ser tolerado, pode-se prever extravasores de calha que descarregam em locais adequados ❖ Sempre que possível, usar declividade maior que 0,5% para os condutores horizontais. PROJETO DAS INSTALAÇÕES PREDIAIS INTENSIDADE PLUVIOMÉTRICA Para se determinar a intensidade pluviométrica (I) para fins de projeto, deve ser fixada a duração da precipitação e do período de retorno adequado, com base em dados pluviométricos locais. DURAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO Deve ser fixada em 5min. PERÍODO DE RETORNO Parâmetros sugeridos pela norma: ➢ T = 1 ano: para áreas pavimentadas, onde empoçamentos possam ser tolerados; ➢ T = 5 anos: para coberturas e/ou terraço; ➢ T = 25 anos: para coberturas e áreas onde empoçamentos ou extravasamentos não possam ser tolerados. PROJETO DAS INSTALAÇÕES PREDIAIS 16 INTENSIDADE DE PRECIPITAÇÃO A intensidade de precipitação (I) a ser adotada deve ser de 150mm/h quando a área de projeção horizontal for menor que 100m². Se a área exceder a 100m², utilizar a Tabela 1 a seguir. PROJETO DAS INSTALAÇÕES PREDIAIS 17 Tabela 1 – Chuvas intensas no Brasil (Duração 5 min) ÁREA DE CONTRIBUIÇÃO • Para coberturas inclinadas (telhados), o efeito da ação do vento deve ser considerado, adotando-se uma inclinação da chuva igual a 1:2 em relação à vertical (ângulo de inclinação da chuva com a horizontal igual a arc tg2θ). O vento deve ser considerado na direção que ocasionar maior quantidade de chuva interceptada pelas superfícies consideradas; • No caso desuperfícies verticais (paredes ou platibandas), o acréscimo de área a ser considerado é igual a metade da área respectiva. ÁREA DE CONTRIBUIÇÃO ÁREA DE CONTRIBUIÇÃO ÁREA DE CONTRIBUIÇÃO – NBR 10844 EXERCÍCIO Calcular a área de contribuição e a vazão de projeto do telhado indicado na Figura. Adotar para efeito de cálculo i = 150mm/h SOLUÇÃO Cálculo da área de contribuição (superfície inclinada) Cálculo da vazão de projeto CÁLCULO DA VAZÃO DE CONTRIBUIÇÃO DO TELHADO: Para calcular a vazão de contribuição do telhado, utiliza-se a seguinte fórmula: 𝑄 = 𝑖. 𝐴 60 Sendo: Q: vazão de escoamento (L/min) i: intensidade pluviométrica (mm/h) Ac: área de contribuição (m2) 20 DIMENSIONAMENTO COBERTURA HORIZONTAL DA LAJE ❖ As coberturas horizontais de laje devem ser projetadas para evitar empoçamento, exceto os temporários, durante as tempestades ❖ As superfícies horizontais devem ter declividade mínima de 0,5% ❖ A drenagem deve ser feita por mais de uma saída, exceto quando não houver risco de obstrução ❖ Quando necessário, a cobertura deve ser subdivida em áreas menores com caimentos de orientações diferentes, para evitar grandes percursos de água ❖ Os trechos da linha perimetral da cobertura e das suas eventuais aberturas (escadas, claraboias, etc.) que posam receber água, em virtude do caimento, devem ser dotadas de platibanda ou calha ❖ Os ralos hemisféricos devem ser preferidos aos planos onde estes possam causar obstruções ❖ A inclinação das calhas de beiral e platibanda deve ser uniforme, com valor mínimo de 0,5%. ❖ As calhas de água-furtada têm inclinação de acordo com o projeto da cobertura. ❖ Quando a saída não estiver colocada em uma das extremidades, a vazão de projeto para o dimensionamento das calhas de beiral ou platibanda deve ser aquela correspondente à maior das áreas de contribuição ❖ Quando não se pode tolerar nenhum transbordamento ao longo da calha, extravasores podem ser previstos como medida adicional de segurança. Nestes casos, eles devem descarregar em locais adequados. ❖ Em calhas de beiral ou platibanda, quando a saída estiver a menos de 4 m de uma mudança de direção, a Vazão de projeto deve ser multiplicada pelos coeficientes da Tabela a seguir: CALHAS 19 ❖ As calhas devem ter a capacidade de escoar a chuva correspondente ao período de retorno de 5 anos. ❖ As calhas de beiral ou platibanda devem ter inclinação uniforme (mínimo de 0,5%). ❖ Seções mais usuais: 25 DIMENSIONAMENTO DAS CALHAS As calhas devem ter a capacidade de escoar a chuva correspondente ao período de retorno de 5 anos. Dimensionamento pela fórmula de Manning-Strickler: onde: Q = vazão de projeto (l/min); S = área da seção molhada (m²); P = perímetro molhado (m); RH = raio hidráulico = S/P (m); i = declividade da calha (m/m); n = coeficiente de rugosidade; K = 60.000 (coeficiente para transformar a vazão em m³/s para l/min). DIMENSIONAMENTO DAS CALHAS A Tabela a seguir fornece as capacidades de calhas semicirculares, usando coeficiente de rugosidade n = 0,011 para alguns valores de declividade. Os valores foram calculados utilizando a fórmula de Manning-Strickler, com lâmina de água igual à metade do diâmetro interno. 28 EXERCÍCIO SOLUÇÃO ❖ Devem ser projetados, sempre que possível, em uma só prumada. Quando houver necessidade de desvio, devem ser usadas curvas de 90º de raio longo ou curvas de 45º e devem ser previstas peças de inspeção para desobstrução. ❖ Podem ser colocados externa ou internamente aos edifícios ❖ O diâmetro interno mínimo dos condutores verticais de seção circular é 70mm. ❖ A NBR 10.844/1989 adota, para o seu dimensionamento, ábacos que associam a vazão (L/min), a altura da lâmina d´água na calha (mm) e o comprimento do condutor vertical (m). ❖ Há diversas outras metodologias. Trabalharemos, adicionalmente, com os estudos do Professor Carlito Flávio Pimenta, da USP. CONDUTORES VERTICAIS O dimensionamento dos condutores verticais deve ser feito a partir dos seguintes dados: Q = Vazão de projeto, em L/min H = altura da lâmina de água na calha, em mm L = comprimento do condutor vertical, em m Para calhas com saída em aresta viva ou com funil de saída, deve-se utilizar, respectivamente, o ábaco (a) ou (b). Os ábacos foram construídos para condutores verticais rugosos (coeficiente de atrito f=0,04) com dois desvios na base. CONDUTORES VERTICAIS - ABNT 31 Procedimento: 1.Levantar uma vertical por Q até interceptar as curvas de H e L correspondentes. 2.Se não haver curvas dos valores de H e L, interpolar entre as curvas existentes. 3. Transportar a interseção mais alta até o eixo D. 4.Adotar o diâmetro nominal cujo diâmetro interno seja superior ou igual ao valor encontrado. 32 Ábaco para a determinação de diâmetros de condutores verticais. Q = 700L/min H = 60mm L = 6m 33 Ábaco para a determinação de diâmetros de condutores verticais. ESTUDOS PROF. CARLITO FLÁVIO PIMENTA O Prof. Carlito identificou 3 estágios no escoamento da água em um conduto vertical, alimentado pela sua extremidade superior e com superfície livre sujeita à pressão atmosférica: 1º Estágio – escoamento livre com franca ventilação, correspondente a pequenos valores da relação h/D (h = altura da lâmina sobre a borda do conduto e D= diâmetro do conduto) 2º Estágio – escoamento semi-afogado para valores intermediários da relação h/D, no qual o conduto transporta uma emulsão de água e ar, podendo ocorrer a formação de um vórtice. ESTUDOS PROF. CARLITO FLÁVIO PIMENTA 2º Estágio – escoamento semi-afogado O vórtice atua sobre a vazão escoada, reduzindo-a devido a sucção de ar, aumentando a altura da lâmina, o que faz desaparecer o vórtice; isto provoca aumento da vazão, fazendo reaparecer o vórtice, repetindo todo o fenômeno. Quando ocorre o vórtice, é comum a lâmina d´água atingir valores próximos a 3D. Há um grande risco de transbordamento das calhas e há formação de ruídos pelo escoamento do ar nos condutos. A “solução” é buscar a eliminação do vórtice 3º Estágio – escoamento afogado para grandes valores de h/D ESTUDOS PROF. CARLITO FLÁVIO PIMENTA Possíveis soluções para eliminação do vórtice: Criação de uma perda de carga descontínua a montante da embocadura, capaz de evitar valores importantes de rotação. A solução proposta pelo Prof. Pimenta é uma grelha de formato especial que atenda também às condições de afogamento do condutor, evitando o descolamento da veia líquida que reduz a vazão Outra possibilidade é o uso de uma embocadura com diâmetro maior e comprimento suficientes para o afogamento do condutor ESTUDOS PROF. CARLITO FLÁVIO PIMENTA CONCLUSÃO a) Com diâmetros constantes e escoamento no 1º estágio (livre), os condutores verticais esgotam com segurança vazões maiores que as indicadas em critérios conservadores, sem utilizar dispositivos anti- vórtices. b) Com escoamento no 2º estágio (semi-afogado) obtém-se rendimento maior, dependendo do comprimento L* = L/D. Para o caso do condutor DN 75, com 3m de comprimento e bocal tipo A, as vazões máximas são: Q = 1.239 L/min e h = 0,054 m, com grelha anti-vórtice Q = 1.239 L/min e 0,079 ≤ h ≤ 0,215m, sem grelha anti-vórtice c) Obtém-se melhor rendimento do condutor utilizando-se embocadura alargada, o que provoca escoamento estável, eliminando os inconvenientes do vórtice sem a necessidade de dispositivo anti- vórtice. ➢ Os condutores horizontais devem ser projetados, sempre que possível, com declividade uniforme, com valor mínimo de 0,5%. ➢ O dimensionamento dos condutores horizontais de seção circular deve ser feito para escoamento com lâmina de altura igual a 2/3 do diâmetro interno (D) do tubo. ➢ Nas tubulações aparentes devem ser previstas inspeções sempre que houver conexões com outra tubulação, mudança de declividade, de direção e ainda a cada trecho de 20m. ➢ Nas tubulações enterradas devem ser previstas caixas de areia sempre que houver conexões com outra tubulação, mudançade declividade ou de direção e, ainda, a cada 20m. CONDUTORES HORIZONTAIS 36 EXERCÍCIO Dimensionar as redes coletoras de águas pluviais em PVC indicadas na Figura, para uma declividade de 2%, supondo uma precipitação de 160mm/h SOLUÇÃO BIBLIOGRAFIA BÁSICA ❖ AZEVEDO NETTO, J. et al. Manual de Hidráulica. 8ª ed. at. São Paulo: Edgard Blucher, 2003. ❖ MACINTYRE, Archibald Joseph. Instalações Hidráulicas Prediais e Industriais. 4 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2010. ❖ CREDER, H. Instalações hidráulicas e sanitárias. 6ª Ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. ❖ CARVALHO Jr., R. de. Instalações Prediais Hidráulico - Sanitárias. 2ª Ed. Rev. Amp. São Paulo: Edgard Blucher, 2016. ❖ NBR 10844/1989 - Instalações Prediais de Águas Pluviais ❖ NBR 15.527/2007 – Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis 58
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