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Aula 08 - Doença de Chagas ➝ Características Gerais Essa doença é uma doença grave e origem antiga. Também conhecida como tripanossomíase americana. Carlos Chagas em 1909 descobriu em uma paciente a infecção por Trypanosoma cruzi e então estudou todo o ciclo biológico, tratamento e diagnóstico. É uma antropozoonose frequente na América Latina. ➝ Agente Etiológico e É um protozoário unicelular, flagelado e sanguíneo chamado Trypanosoma cruzi que pertence ao filo sarcomastigophora. É da ordem kinetoplastida, pois possui uma estrutura chamada de cinetoplasto . 1 Ele possui como reservatório, além do homen, mamíferos domésticos e silvestres (cães, gatos, porco doméstico, rato doméstico, macaco, sagui, tatu, gambá, morcego, etc.). Aves e animais de sangue frio (lagarto, sapos, etc) são refretários (resistentes) à infecção causada por ele. ➝ Morfologia Esse parasita apresenta 3 formas evolutivas: amastigotas, epimastigotas e tripomastigotas. ● Amastigotas ➝ possui formato bem arredondado, um núcleo único, cinetoplasto e um começo de flagelo (não é exteriorizado). É a forma intracelular, presente em células do sistema mononuclear fagocitário (SMF) do hospedeiro vertebrados (HV), principalmente macrófagos, e em células teciduais (intracelular) do hospedeiro vertebrado (HV) na fase crônica da doença e possuem divisão binária formando ninhos. ● Tripomastigota ➝ é extracelular, possui uma forma alongada com presença de cinetoplasto posterior ao núcleo que é centralizado. Possui uma membrana ondulante que se exterioriza ao flagelo tornando-se livre na porção posterior. Essa forma está presente no reto do hospedeiro invertebrado e no sangue circulante do hospedeiro vertebrado. É a forma infectante, porém não se reproduz no sangue. ● Tripomastigota sanguícolas de forma fina ➝ possui forma fina ou delgada e medem de 20µm de comprimento por 1µm de largura e são sinuosas. Possuem cinetoplasto mais afastado da extremidade posterior, que é alongada e delgada. O núcleo é estreito e longo, contendo grânulos cromáticos frouxamente reunidos e flagelo livre e muito curto. A movimentação é rápida e direcional. São mais sensíveis à anticorpos e desaparecem rapidamente da circulação, ou por penetrarem em células dos tecidos dos hospedeiros, ou por se mostrarem muito sensíveis à reações imunológicas. São chamadas de macrofagotrópicas porque possuem um tropismo para células do SMF, principalmente no baço, fígado e medula. ● Tripomastigota sanguícola de forma larga ➝ possuem características que lembram as letras ‘C’ ou ‘U’ ou com dupla curvatura em ’S’. Medem até 15µm com cinetoplasto muito próximo da extremidade posterior e núcleo elipsóide ou redondo. A membrana ondulante é bem visível e o flagelo longo. Sua movimentação é lenta e não direcional. Tendem a acumular-se no sangue e caracterizam a antrozoonose nos períodos crônicos da infecção. São mais resistentes ao sistema imune/lise ao soro e são sujeitas à fagocitose pelos macrófagos. Também são conhecidas como miotrópicas por possuir um tropismo por células musculares lisa, cardíaca e esquelética. É a forma infectante para o triatomíneo. ● Epimastigota ➝ é extracelular, possui uma forma alongada com presença de flagelo e um núcleo. O seu cinetoplasto é justanuclear e anterior ao núcleo. Possui divisão binária e está presente, exclusivamente, no hospedeiro invertebrado (vetor). Não é infectante ao hospedeiro vertebrado. Possuímos anticorpos capazes da destruição. Cinetoplasto é uma mitocôndria alongada que percorre todo o corpo do parasita e na região anterior é onde o DNA mitocondrial está mais concentrado, por isso na lâmina é mais 1 vísível anteriormente devido ao corante. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Amastigotas - T. cruzi Amastigotas no miocárdio - T. cruzi Tripomastigota - T. cruzi 1 - Flagelo livre (região anterior) 2 - Flagelo aderido ao corpo celular 3 - Núcleo 4 - Cinetoplasto arrendondado (região posterior) 5 - Hemácias Tripomastigota - T. cruzi Esquema amastigotas - T. cruzi Epimastigota - T. cruzi ➝ Ciclo Biológico O triatomíneo, tanto macho, quanto fêmea, quando está fazendo o hematofagismo, distende o seu aparelho digestivo e defeca próximo ao local da picada com tripomastigotas metacíclicas . Quando a pessoa picada tem o reflexo de coçá-2 la, as formas tripomastigotas metacíclicas penetram por esse orifício. Elas precisam de ‘uma porta de entrada’ não conseguem penetrar a pele íntegra. Ao cair na corrente sanguínea elas vão invadir qualquer célula com núcleo (ou seja, exceto hemácias). Quando há a invasão de células elas se transformam na forma amastigota, que começa a se dividir por divisão binária até chegar em uma quantidade próxima de romper/lisar a célula. Nesse momento elas se transformam novamente em tripomastigota e saem para a corrente sanguínea novamente. Lembrando que tripomastigota não se multiplica no sangue. Na corrente sanguínea, as tripomastigotas, encontram nova célula que invadirão novamente e assim por diante. Até o momento em que o sistema imune do hospedeiro vertebrado começa a combater essas formas e elas migram para outras localidades, caracterizando o curso crônico da doença. Quando um outro tiatomíneo ingere o sangue de um hospedeiro vertebrado contaminado, ele ingere essas formas tripomastigotas. Então no momento em que ele ingerir e chegar o TGI, elas se transformação em epimastigota. Essas formas se multiplicam por divisão binária e quando estão próxima da porção final do TGI do triatomíneo, elas se transforma em tripomastigotas metacíclicas para que então sejam liberadas nas fezes. ➝ Vetor - agente transmissor São triatomíneos hematófagos, conhecido como barbeiros. Possuem 3 espécies: Triatoma, Rhodnius e Panstrongylus. ➝ Vias Transmissão ● Via vetorial ➝ é a principal forma e a abordada no ciclo biológico do parasita anteriomente. ● Via oral ➝ via relativamente nova, que pode acontecer, principalmente em estados do nordeste, onde há a ingestão do triatomíneo contaminado juntamente com açaí ou caldo- de-cana quando triturados juntamente, sem higienização prévia. ● Transfusão sanguínea e transplante de órgãos ● Via congênita ● Acidentes de laboratório ● Via sexual ➝ somente se houver contato com o sangue do parceiro ➝ Patogenia e Sintomatologia A patogenia e sintomatologia da doença está muito relacionada a linhagem do Trypanosoma cruzi e fatores dependentes do hospedeiro. Quando o parasita penetra nosso organismo há ativação de respostas imune, porém ele possui mecanismos de escape para sua sobrevivência. Fase Aguda Geralmente é assintomática, mas pode ser sintomática, principalmente na 1ª infância. Nessa fase, temos uma alta parasitemia (alta quantidade de parasitas no sangue). Há alta de IgM e baixa de IgG. A nomenclatura metacíclica é somente uma maneira de dizer que essa forma é infectante, não muda nada em sua morfologia.2 Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Ciclo do parasita dentro do TGI do triatomíneo Ciclo Biológico Heteroxênico HV: Homens e outros animais HI: inseto triatomíneo As manifestações locais podem aparecer até 10 dias após a picada do vetor e é comum o sinal de Romaña e chagam de inoculação. Os sintomas gerais são febre e cefaleia por mais de 7 dias, edema, dores no corpo, poliadenia, sensação de fraqueza, hepatoesplenomegalia e, às vezes, insuficiência cardíaca e alterações neurológicas. ● Sinal de Romaña ➝ é um edema inflamatório bipalpebral, associado a conjuntivite e aumento ganglionar pré-auricular. Ocorre quando o vetor pica a conjuntiva. ● Chagoma de Inoculação ➝ é uma formação cutânea, ligeiramente saliente, arredondada, eritematosa, dura, incolor, quente e circundada por edema elástico. Aparece no local que o veto picou, sem ser a conjuntiva. Fase Crônica Inaparente É a fase assintomática (+50% dos pacientes). O paciente pode ficar de 10- 30 anos em um período assintomático, porém os exames sorológicos e parasitológicos são positivos e o ECG e radiologia normais. Fase Crônica Sintomática Pode se apresentar na forma: cardíaca, digestiva, mista ou nervosa. Sendo as duas primeiras as principais. Doença de Chagas Cardíaca - cardiomegalia O paciente apresenta insuficiência cardíaca congestiva, cardiomegalia, arritmia, fenômenos tromboembólicos, dispneia aos esforços, insônia, congestão visceral e edema de MMII. Doença de Chagas Digestiva: megacólon e megaesôfago É a fase crônica sintomática que apresenta os ‘megas’. Apresenta hipertrofia muscular e consequente dilatação e perda da motilidade. Com lesões no cólon haverá: constipação, obstrução intestinal, distensão abdominal e perfuração. Quando se trata do esôfago o paciente terá: dificuldade de deglutição, tendência a regurgitação, dor epigástrica, soluços, intensa salivação, emagrecimento e constipação. ➝ Diagnósticos ➝ Tratamento A doença de chagas não possui cura em sua fase crônica e seu tratamento causa muitos efeitos colaterais. Temos como medicamento para o tratamento: benznidazol e nifurtimox . Esses medicamentos não são ideias para o 3 tratamento porque, possuem efeitos colaterais, só funcionam na fase aguda da doença, requerem administração por longos períodos sob supervisão médica, há grande variação na susceptibilidade das cepas em relação às drogas, muitas populações do parasita já são resistentes, apresentam altos custo e não há formulação pediátrica. O critério de cura na fase aguda é a negativa dos exames parasitológicos e sorológicos. Na fase crônica, a sorologia pode permanecer positiva. Não é mais utilizado no Brasil, porém, se ocorrer um caso de resistência ao benizdazol, os órgãos de saúde podem contatar outro país que utilize-o e fornecer ao paciente para o 3 tratamento. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Sinal de Romaña Chagoma de Inoculação Cardiomegalia Megaesôfago Megacólon Fase Aguda (Alta parasitemia) Fase Crônica (baixa parasitemia) Exame parasitológico de sangue a fresco, gota espessa ou gota estirada Hemocultura Hemocultura Cultura in Vivo Xenodiagnóstico Xenodiagnóstico Testes Sorológios (IFI, ELISA, reação de preciptação e HAI) - IgM e IgE Testes Sorológicos (IFA, ELISA, HAI) Métodos Moleculares Lise mediada por complemento Testes de Concentração (Método de Strout) Sondas de DNA-PCR ➝ Epidemiologia A doença vem se ‘urbanizando’ e possui ampla distribuição devido ao desmatamento da zona rural. Possui reservatórios doméstico (animais) e relaciona-se à más condições de higiene. É uma doença típica de moradias de pau-a-pique, que favorecem a presença do barbeiro durante o dia e sua saída a noite para fazer hematofagia. ➝ Profilaxia Uso de inseticida; Melhores condições de habitação; Modificação do hábito de desmatamento; Educação sanitária; Tratamento de doentes; Controle de transmissão congênita; Controle de doadores de sangue; Não existe vacina. ➝ Resumo Esquemático da Morfologia Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG
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