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TCC - Contestação Cognitiva - Um Guia para Estudantes de Terapia Cognitiva - Julio Almeida - 2012

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Julio Almeida
CONTESTAÇÃO
COGNITIVA
Um gula para estudantes de Terapia Cognitiva
 
Julio Almeida
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CONTESTAÇÃO
COGNITIVA
 
Um guia para estudantes de Terapia Cognitiva
 
 
 
 
 
2
 
 
 
 
3
 
 
 
SUMÁRIO
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 5
 
SEÇÃO I: TERAPIA COGNITIVA 7
1. Teoria do construto pessoal 7
2. Modelo cognitivo 8
3. Crenças disfuncionais 10
 
SEÇÃO II: CONTESTAÇÕES 20
4. Conceito 20
5. Técnicas 23
6. Exemplos de Contestações 39
 
SEÇÃO III: RELAÇÃO TERAPÊUTICA 49
7. Recomendações 49
8. Evitações 52
9. Empirismo colaborativo 55
10. Confrontação 59
 
Considerações finais 64
Referências 66
 
 
 
 
 
4
INTRODUÇÃO
 
 
Este trabalho apresenta uma pesquisa bibliográfica sobre a prática das contestações na terapia
cognitiva, cuja função é desconstruir as cren​ças disfuncionais manifestas pelo paciente, ajudando-lhe
a alcançar uma ava​liação dos acontecimentos mais adaptada à realidade.
A produção deste livro foi toda embasada no meu Trabalho de Con​​clusão de Curso para
graduação em Psicologia, apresentado à banca em de​zem​bro de 2011. O título original foi Con​tes​ta​-
ção das Crenças Disfun​cio​nais na Terapia Cognitiva. Obviamente, aqui o texto foi adaptado para
um formato mais adequado de livro.
A expressão Contestação Cognitiva me pareceu ser a mais apro​pria​da síntese para designar
com exatidão o conteúdo deste livro, por isso a escolha deste título. Este volume poderia muito bem
ser de​no​mi​nado de A Ciência da Contestação ou ainda Contestação Assertiva.
Até os dias de hoje ainda recebo frequentemente solicitações de co​le​gas profissionais e
estudantes para fornecer uma cópia do TCC por sua utilidade prática, sendo este também um dos
principais motivos que mo​ti​va​ram esta publicação.
O tema deste trabalho foi escolhido devido ao interesse pessoal de obter maior conhecimento
sobre as técnicas de intervenção na terapia cogni​​tiva, especialmente aquelas destinadas a contestar
os pensamentos e crenças disfuncionais expressas pelo paciente.
Pessoalmente, sempre tive o hábito de questionar meus pensa​men​tos e opor mentalmente tudo
aquilo que eu identificasse como sendo irra​cio​nal em minhas interpretações sobre os acontecimentos
da vida e per​ce​bidos no mundo ao meu redor. Mais tarde, soube que ajudar a criar e aper​​feiçoar esta
habilidade psíquica nos pacientes é um dos principais obje​tivos na terapia cognitiva.
Do ponto de vista interpessoal, penso que a capacidade de con​tes​tar assertivamente é uma
habilidade importante não somente dentro da clínica – durante a psicoterapia –, mas exigida a cada
dia mais nas re​la​ções humanas, num mun​do onde as diferenças crescem e as posturas de
inconformidade pre​cisam de pacificação.
 
Concernente ao aspecto metodológico, o problema de pesquisa foi descrito na seguinte ques​-
tão: Quais as habilidades e conhecimentos ne​ces​sá​rios para o terapeuta con​testar de maneira
assertiva as crenças dis​fun​cio​nais do paciente na te​ra​pia cognitiva? A partir desta questão esta​be​le​-
cemos como objetivo ge​ral exatamente a identificação destas habilidades e conhecimentos fun​da​men​-
tais para a realização das contestações. Deste objetivo geral derivaram os seguintes objetivos
específicos:
 
• Entender o conceito de contestação e sua função terapêutica na terapia cognitiva;
• Conhecer as principais técnicas de como realizar as con​tes​ta​ções;
• Entender a melhor forma de aplicar as técnicas de contestação, incluindo posturas a serem
evitadas e os momentos mais apropriados para aplicá-las;
• Identificar, na forma de listagem, quais os principais tipos de cren​ças disfuncionais,
exemplos das mesmas e respectivos argumentos pos​​síveis para contestá-las.
 
5
O trabalho está dividido em três partes que relacionam as con​tes​ta​ções com os principais
aspectos envolvidos em sua prática.
Inicialmente, são abordados os princípios da terapia cognitiva con​ver​gentes com o tema deste
livro, incluindo a teoria do construto pessoal, o modelo cognitivo e as concepções sobre as crenças
disfuncionais.
O segundo capítulo apresenta as implicações terapêuticas da con​testação propriamente dita,
iniciando pelo aprofundamento do con​cei​to, percorrendo as principais técnicas de intervenção e
finalizando com di​fe​rentes exemplos referidos pela bibliografia consultada.
Por fim, o terceiro capítulo versa sobre os elementos necessários para o estabelecimento de
uma relação terapêutica adequada durante a rea​lização das contestações na terapia cognitiva.
 
 
 
6
SEÇÃO I: TERAPIA COGNITIVA
 
 
1. TEORIA DO CONSTRUTO PESSOAL
 
 
Para entendermos o papel das contestações na terapia cognitiva, precisamos antes recorrer a
alguns princípios teóricos que antecederam e embasaram a formulação da terapia cognitiva,
especialmente a teoria do construto pessoal, de George Kelly.
A teoria do construto pessoal considera cada pessoa um cientista amador de si mesmo ou
teórico da personalidade, condição também denominada pelo autor como o Homem (pessoa)-
Cientista. De maneira análoga a um cientista, desenvolvemos teorias para explicar o mundo,
formando um sistema de construtos usados para compreender e predizer comportamentos pessoais e
alheios. Nesse sentido, as experiências pes​soais servem para validar ou não estas teorias,
reorganizando as próprias versões da realidade (Friedman e Schustack, 2007).
 
Essa metáfora vê as pessoas agindo como cientistas no sentido de que elas formulam hipóteses sobre o
mundo na forma de construções pessoais e depois põem-se a testar essas ideias de maneira muito
semelhante ao que um cientista faria para obter certeza preditiva e algum controle sobre os eventos.
(Fadiman e Frager, 2004, p. 327)
 
O aspecto central da teoria de Kelly refere-se à permanente ca​pa​cidade que as pessoas
possuem de modificarem a si mesmas, reinventando-se dentro da realidade flexível e criativa do
mundo em constante mutação. Segundo o autor, “os homens mudam as coisas primeiro mudando a si
mesmos e só atingem seus objetivos se pagarem o preço de mudarem a si mesmos – como
descobriram alguns para sua tristeza e outros para sua salvação” (Kelly apud Fadiman e Frager,
2004, p. 330).
A posição filosófica básica da teoria do construto pessoal de Kelly é conhecida como
alternativismo construtivo, isto é, a ideia de que são possíveis diferentes alternativas de
interpretações para os fatos do mundo real, com os quais cada indivíduo mantém um relacionamento
(através das próprias percepções) dando-lhes significados.
 
Os fatos que hoje enfrentamos estão sujeitos a uma variedade de construções tão grande quanto nossas
faculdades mentais nos permitem conceber [...] Todas as nossas atuais percepções estão sujeitas a
questionamento e reconsideração e sugere, de modo geral, que mesmo as ocorrências mais óbvias da
vida cotidiana podem parecer totalmente transformadas se formos inventivos o suficiente para
interpretá-las de modo diferente. (Kelly apud Fadiman e Frager, 2004, p. 330)
 
Segundo Kelly, as pessoas podem reperspectivar o sentido de suas existências a qualquer
momento, inclusive o sentido construído no início da vida, pois sempre podem reinterpretar a
realidade.
 
 
7
2. MODELO COGNITIVO
 
 
O modelo da terapia cognitiva segue as bases da teoria do construto pessoal, como nos
explica Leahy (2006, p. 24):
 
O modelo cognitivo de terapia baseia-se no modelo de George Kelly (1955) do “homem (ou mulher)
como cientista” – isto é, que os humanos podem identificar “constructos” ou crenças pessoais e testá-
los. O atual modelo cognitivo, proposto por Beck e colaboradores, enfatiza o aspecto do pensamento
científico que busca a “desconfirmação” ou “falsificação” da crença – isto é, examinar como podemos
provar que a crença é errada ou inadequada.
 
O modelo cognitivo daterapia desenvolvida por Aaron Beck propõe que o modo disfuncional
de interpretar as situações – por meio dos pensamentos e crenças – determina os sentimentos e
comportamentos das pessoas nos transtornos psicológicos. Judith Beck (1997, p. 17) diz:
 
O modelo cognitivo propõe que o pensamento distorcido ou disfuncional (que influencia o humor e o
comportamento do paciente) seja comum a todos os distúrbios psicológicos. A ava​liação realista e a
modificação no pensamento produzem uma melhora no humor e no comportamento. A melhora dura​-
doura resulta da modificação das crenças disfuncionais básicas dos pacientes.
 
Albert Ellis, em seus métodos também fundamentadores da terapia cognitiva, parte do
pensamento de antigos filósofos, a exemplo de Epicteto, para ilustrar esta abordagem psicoterápica:
“Perturbam aos homens não as coisas, senão a opinião que delas tem” (Rangé, 2001, p. 34).
No momento de explicar para o paciente o funcionamento do mo​delo cognitivo, da terapia e
da relação entre pensamentos e emoções, Leahy (2006) sugere que os terapeutas usem linguagem
simples, dizendo, por exemplo:
 
Antes de você contestar e mudar pensamentos, precisa compre​en​der como os pensamentos afetam os
seus sentimentos […] Quando você se sente triste ou ansioso na sua vida cotidiana, diferentes
pensamentos passam por sua mente. (p. 25)
 
 
A fim de distinguir pensamentos, sentimentos e fatos, os tera​peutas podem utilizar a técnica A-B-C, em
que os pacientes têm a oportunidade de reconhecer como o mesmo evento Ativador pode levar a
diferentes crenças (Belifs) (pensamentos) e Consequências (sentimentos e comportamentos). Se eu
acre​ditar que nunca poderei me sair bem no exame (pensa​mento), talvez me sinta desesperançado e me
comporte de acordo com isso – por exemplo, não me dando o trabalho de estudar. Por outro lado, se
acreditar que tenho uma boa chance de me sair bem no exame, talvez me sinta esperançoso e, conse​-
quen​te​mente, estude bastante. (p. 27)
 
O objetivo da terapia cognitiva, portanto, é ajudar o paciente a des​fazer as interpretações
distorcidas da realidade por meio dos pensa​mentos e crenças, aliviando assim seus sintomas.
 
Os clientes raramente estão conscientes das premissas de seus pensamentos. Mais frequentemente,
focalizam apenas as con​clusões que, se distorcidas, tentem a gerar problemas emo​cio​nais. O
pensamento racional envolve raciocínio lógico baseado em afirmações empiricamente verificáveis. Se
pensar​mos Ra​cionalmente, é improvável chegarmos a conclusões que levem a sentimentos
extremamente perturbadores. (Rangé, 2001, p. 35)
8
 
As intervenções na terapia cognitiva podem ser descritas em três etapas gerais (Shinohara,
2003, p. 63), existindo diferentes técnicas para a realização de cada uma:
 
1. Identificação: “No primeiro momento, o terapeuta ajuda o cliente a identificar os
pensamentos e as crenças que estão relacionados com as emoções e os comportamentos trazidos
como queixas”. 
2. Avaliação: “No segundo momento, o cliente é ajudado a ana​lisar os pensamentos para
testar a validade ou utilidade deles, segundo a lógica própria do cliente”.
3. Reestruturação: “No terceiro momento, o terapeuta acompanha o cliente na
identificação e reformulação das crenças consideradas por ele como disfuncionais ou irrealistas”.
 
A necessidade das contestações pode surgir em qualquer uma destas três etapas. Porém, em
geral, iniciam após a etapa 1 através da conceituação cognitiva, pois é necessário primeiro
identificar o que será contestado. Leahy (2006, p. 53) recomenda a prática das contestações após o
paciente e o terapeuta terem identificado, categorizado e examinado os pensamentos negativos em
relação às perturbações emocionais.
 
 
3. CRENÇAS DISFUNCIONAIS
 
 
No universo das interpretações da realidade, foram identificados pelo menos três níveis de
pensamento: os pensamentos automáticos, as crenças intermediárias e as crenças centrais.
 
Os pensamentos automáticos são espontâneos e fluem em nossa mente a partir dos acontecimentos do
dia-a-dia [...] As cren​ças intermediárias correspondem ao segundo nível de pen​samento e não são
diretamente relacionadas às situações, ocor​rendo sob a forma de suposições ou de regras [...] As
crenças centrais constituem o nível mais profundo da estrutura cogni​tiva e são compostas por ideias
absolutistas, rígidas e globais. (Rangé, 2001, p. 50)
 
Sobre tais convicções rígidas, Kelly (apud Fadiman e Frager, 2004, p. 333) nos diz
 
Em última instância, o homem define a medida de sua própria liberdade e de sua própria servidão pelo
nível em que opta firmar suas convicções. O homem que organiza sua vida em termos de muitas
convicções especiais e inflexíveis sobre questões temporárias faz de si uma vítima das circunstâncias.
 
Descoberta Orientada
 
O terapeuta precisará saber que nem todos os pensamentos mani​festos pelo paciente são
irracionais ou distorcidos, e que por meio da des​co​berta orientada é realizada uma contínua revisão
dos dados obtidos. 
A descoberta orientada também tem por objetivo transformar a relação terapêutica numa
experiência humana educativa, por meio do bom humor e de uma diversificação nas estratégias de
comunicação, por exem​plo, variando o modo de apresentar hipóteses e ilustrar pontos impor​tantes.
9
De acordo com Beck, Freeman e Davis (2005, p. 77)
 
Parte da arte da terapia cognitiva consiste em transmitir um senso de aventura – ao desemaranhar e pôr
às claras as origens das crenças do paciente, ao explorar os significados de eventos traumáticos e ao
aproveitar a riqueza da imaginação. De outra forma, a terapia pode se transformar em um processo
repetitivo que se torna cada vez mais tedioso com o passar do tempo.
 
As crenças disfuncionais são estudadas a partir de uma variedade de tipos e níveis de
pensamentos errôneos, conforme veremos agora de acordo com os principais autores.
 
Distorções Cognitivas
 
Conforme Beck, Rush, Shaw e Emery (1997, p. 12), as distorções cognitivas são falhas no
processamento de informações, ou seja, erros sistemáticos que mantém a validade de determinada
crença disfuncional, mesmo com evidências contrárias a ela. Geralmente envolvem juízos am​plos
dos acontecimentos de maneira extrema, negativa, categórica, abso​luta e sentenciosa; ao contrário de
um pensamento presumivelmente mais ma​du​ro, com padrões relativos e não absolutos. Neste estudo,
Leahy (2006) lista 17 distorções cognitivas:
 
1. Leitura mental: achar que sabe o que os outros pensam, sem ter evidências.
2. Previsão do futuro: fazer previsões negativas para o futuro.
3. Catastrofização: acreditar que determinado acontecimento é terrível e insuportável.
4. Rotulação: atribuir traços negativos que englobam a pessoa completamente.
5. Desqualificação dos aspectos positivos: menosprezar aspectos positivos de si ou dos
outros.
6. Filtro negativo: enxergar somente a faceta negativa da pessoa ou situação.
7. Hipergeneralização: padrão global negativo baseado em um único evento.
8. Pensamento dicotômico: avaliar fatos e pessoas em termos de tudo-ou-nada.
9. Afirmações do tipo “Deveria”: enfatizar como as coisas de​ve​riam ser em vez de focar o
que são.
10. Personalização: atribuir somente a si a culpa por fatos nega​tivos.
11. Culpa: focar somente outra pessoa como fonte de seus sen​ti​mentos negativos.
12. Comparações injustas: interpretar os fatos segundo padrões irrealistas, comparando-se a
outros superiores.
13. Tendência à lamentação: enfatizar exageradamente que poderia ter feito melhor ao invés
de focar no que pode fazer agora.
14. “E se?”: fazer mil e uma conjecturas do tipo “e se isso ou aquilo acontecer” e nunca se dá
por satisfeito e seguro.
15. Raciocínio emocional: a pessoa se guia pelas emoções e sen​timentos para interpretar a
realidade.
16. Incapacidade de refutar: negar as evidências e argumentos que contradizem os
pensamentos negativos.
17. Foco no julgamento: ver tudo como avaliações do tipo bom-mau ou superior-inferior,
10
focando em julgamentos.Crenças Irracionais
 
Ellis (apud Rangé, 2001, p. 39) aponta 11 crenças irracionais que são consideradas aspectos
centrais no desencadeamento das perturbações emocionais e do comportamento humano:
 
1. Existe uma extrema necessidade de ser amado e aprovado por outra pessoa significativa.
2. Se deva ser inteiramente competente, adequado e realizador em todos os aspectos
possíveis para se ter valor.
3. É catastrófico quando as coisas não são do jeito que gostaríamos.
4. Certas pessoas são más e perversas, e que por isso deveriam ser punidas severamente.
5. A infelicidade é externamente causada.
6. Devemos ficar imensamente preocupados e ruminando as coisas que podem ser perigosas
ou assustadoras.
7. É mais fácil evitar do que enfrentar dificuldades e responsabi​lidades.
8. Precisamos nos apoiar em alguém ou coisa vista como sendo mais forte do que nós.
9. A história/passado de alguém é determinante do seu compor​tamento hoje e sempre.
10. Os problemas e preocupações dos outros devem nos preocupar muito.
11. Há uma solução certa (perfeita) para os problemas e é terrível não encontrá-la.
 
Crenças Centrais
 
Judith Beck (1997, p. 177) explica que as crenças centrais são desenvolvidas a partir da
infância, e envolvem ideias sobre si, outras pessoas e o mundo. São “ideias consideradas pela
pessoa como verdades absolutas, exatamente o modo como as coisas ‘são’”. Diz também que as
crenças centrais são “entendimentos que são tão fundamentais e pro​fun​dos que as pessoas
frequentemente não os articulam, sequer para si mesmas.” A autora distingue dois tipos de crenças
centrais disfuncionais e nos apresenta alguns exemplos:
 
1. Crenças centrais de desamparo: eu sou desamparado; eu sou impotente; eu sou fora de
controle; eu sou fraco; eu sou vulnerável; eu sou carente; eu estou sem saída; eu sou inadequado; eu
sou ineficiente; eu sou incompetente; eu sou um fracasso; eu sou desrespeitado; eu sou defeituoso (ou
seja, eu não chego à altura dos outros); eu não sou bom o suficiente (em termos de conquistas).
2. Crenças centrais de não ser querido (falta de amor): eu não sou capaz de ser amado; eu
não sou capaz de ser querido; eu sou indesejável; eu não sou atraente; ninguém me quer; ninguém liga
para mim; eu sou mau; eu não tenho valor; eu sou diferente; eu sou imperfeito (ou seja, então os
outros não irão me amar); eu não sou bom o suficiente (para ser amado pelos outros); eu estou a
ponto de ser rejeitado; eu estou con​denado a ser abandonado; eu estou a ponto de ficar sozinho.
 
Crenças Intermediárias
 
A autora ainda aborda as crenças intermediárias considerando três aspectos: atitude,
suposição e regras. As obras que tratam de terapia cognitiva geralmente abordam diferentes crenças
11
intermediárias. Judith Beck (1997, p. 31) apresenta alguns exemplos:
 
• Atitude: Por exemplo, “é horrível ser incompetente” ou “é ter​ri​vel ser inadequada”.
• Regras / expectativas: Por exemplo, “eu devo trabalhar o mais arduamente que puder o
tempo todo”, “eu deveria sempre me esforçar ao máximo” ou “eu deveria ser excelente em tudo o que
tento fazer”.
• Suposição: Por exemplo, “se eu trabalhar o mais arduamente que puder, posso ser capaz
de fazer algumas coisas que as outras pessoas fazem facilmente” ou “se eu trabalhar muito duro, eu
posso fazer bem as coisas”.
 
Leahy (2006, p. 105) propõe um formulário com exemplos de pres​supostos, regras e padrões
típicos, ou seja, crenças intermediárias do tipo “deveria”, “se isso acontecer, então tal coisa é
verdadeira” e impe​rativas. Eis alguns:
 
• “Devo ser perfeito em tudo que faço.”
• “Se falhar em alguma coisa, então sou um fracasso.”
• “Preciso receber a aprovação de todos para gostar de mim mesmo.”
• “Se alguém pensa mal de mim, então devo também pensar mal de mim.”
• “Temos de impressionar as pessoas com nossa personalidade.”
• “Se eu não for perfeito, as pessoas não gostarão de mim.”
• “Algumas pessoas são melhores do que outras.”
• “Se eu não tiver certeza das coisas, elas provavelmente não darão certo.”
• “É importante ter todas as informações antes de tomar uma decisão.”
• “Eu não deveria ficar deprimido (zangado, ansioso).”
• “Os outros deveriam fazer as coisas à minha maneira.”
• “Se eu cometer um erro, devo criticar a mim mesmo.”
• “Se as pessoas me ofenderem, devo dar o troco.”
 
Judith Beck (1997, p. 157) lembra que a dificuldade em modificar as crenças dos pacientes
varia para cada indivíduo, e que a modificação das crenças centrais, normalmente mais rígidas,
ocorre em geral após as crenças intermediárias. 
 
Crenças nos Transtornos da Personalidade
 
Nas pesquisas de Beck, Freeman e Davis (2005, p. 54), os trans​tor​nos de personalidade
apresentam crenças bem específicas:
 
• Transtorno da Personalidade Esquiva: “é terrível ser rejeitado, desprezado”; “se as
pessoas conhecessem o meu verdadeiro eu, elas me rejeitariam”; “não posso tolerar sentimentos
desagradáveis”.
• Transtorno da Personalidade Dependente: “eu preciso das pessoas para sobreviver, ser
feliz”; “eu preciso ter uma fonte constante de apoio, de encorajamento”.
• Transtorno da Personalidade Passivo-Agressiva: “os outros interferem na minha
12
liberdade de ação”; “ser controlado pelos outros é in​to​lerável”; “eu tenho de fazer as coisas à minha
maneira”.
• Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsiva: “eu sei o que é melhor”; “os
detalhes são cruciais”; “as pessoas deveriam fazer melhor, se esforçar mais”.
• Transtorno da Personalidade Paranóide: “os motivos dos outros são suspeitos”;
“preciso estar sempre em guarda”; “eu não posso confiar nas pessoas”.
• Transtorno da Personalidade Anti-Social: “eu tenho direito de quebrar regras”; “os
outros são otários, covardes”; “eu sou melhor do que os outros”.
• Transtorno da Personalidade Borderline: “não consigo enfrentar as coisas sozinho”;
“preciso de alguém em quem confiar”; “não tolero sentimentos desagradáveis”; “se confiar em
alguém, serei maltratado, considerado insignificante e me abandonarão”; “a pior coisa possível seria
o abandono”; “é impossível me controlar”; “eu mereço ser punido”.
• Transtorno da Personalidade Narcisista: “já que sou especial, eu mereço regras
especiais”; “eu estou acima das regras”; “eu sou melhor do que os outros”.
• Transtorno da Personalidade Histriônica: “as pessoas estão aqui para me servir ou
admirar”; “as pessoas não tem direito de me negar o que eu mereço.”; “devo seguir meus
sentimentos”.
• Transtorno da Personalidade Esquizóide: “os outros são frus​trantes”; “os
relacionamentos são complicados, indesejáveis”.
• Transtorno da Personalidade Esquizotípica: “se eu tentar ser amigo das pessoas, elas
vão me rejeitar e me magoar”; “é melhor ficar isolado dos outros.”
 
Falácias Lógicas
 
Para McMullin (2005, p. 141), as falácias lógicas – premissas irra​cio​nais aparentemente
verdadeiras, são muitas vezes expressas pelo pa​cien​te na tentativa de manipular o exame das
evidências das crenças dis​fun​cionais. Segundo o autor, que faz um levantamento exaustivo dos tipos
de falácias, diz que elas
 
[...] derivam de distorções na percepção dos pacientes (por exemplo, generalizações), outras vêm de
distorções psicológicas (catastrofização), enquanto outras, ainda, são distorções lógicas (pensamento a
priori). Algumas vezes originam-se da confusão que as pessoas fazem entre correlações e
casualidades.
 
As falácias lógicas usadas para comprovar pressupostos devem ser identificadas e evitadas
(McMullin, 2005, p. 142):
 
A melhor maneira de educar nossos pacientes a respeito das falácias lógicas é identificá-las no exato
momento em que são expressas, observando como elas não trazem nenhuma contri​buição para a
avaliação acerca da falsidade ou da veracidade de uma crença. Muito frequentemente, elas são apenas
deri​vações que contribuem para que nossos pacientes evitem de lidar com as percepções distorcidas quevêm somando ao lon​go da vida.
 
Segundo McMullin, o terapeuta deve exemplificar as falácias e en​co​rajar o paciente a se opor
(contestação) a elas. Eis, resumidamente, os primeiros 15 tipos de falácias lógicas, dentre 37
13
apontadas pelo autor:
 
01. Sensacionalismo: Tornar simples emoções em emergências psiquiátricas. Exemplo: “é
muito perigoso ficar ansioso”.
02. Generalização: Escolher características específicas para repre​sentar o todo. Exemplo:
“quem não sabe gramática é burro”.
03. Personalização: Ver eventos casuais como ataques contra si. Exemplo: “Deus me fez
quebrar a perna como castigo por meus pecados”.
04. Antropomorfismo: Atribuir a objetos características humanas. Exemplo: “o carro
recusou-se a funcionar”.
05. Perenizar: Tornar permanente uma condição temporária. Exemplo: “nunca serei feliz”.
06. Culpabilizar: Colocar a culpa em alguém. Exemplo: “todos os criminosos são
produzidos por maus pais”.
07. Patologização: Transformar reações em doenças. Exemplo: “agressividade é uma
doença”.
08. Perfeccionismo: Usar padrões inalcançáveis. Exemplo: “devo ser melhor do que todo o
mundo, em tudo”.
09. Pensamento dicotômico: Tudo ou nada, oito ou oitenta. Exemplo: “neste mundo, ou se é
um vencedor ou se é um perdedor”.
10. Pessimizar: Esperar sempre o pior de tudo. Exemplo: “esta dor na minha perna deve
ser um sinal que estou com câncer”.
11. Obrigatoriedade: Tornar obrigatórios certos desejos. Exemplo: “tenho que conquistá-
la de volta”.
12. Auto-intitulação: Esperar privilégios especiais inexistentes. Exemplo: “é absurdo
mostrar a carteira de identidade para descontar cheque”.
13. Psicologizar: Atribuir sempre causas psicológicas. Exemplo: “esbarrei na mesa porque
estava tentando me punir”.
14. Raciocínio complexo: Explicar complicadamente. Exemplo: “você está transferindo sua
hostilidade infantil reprimida para mim”.
15. Reificação: Pressupor que abstrações sejam entidades reais. Exemplo: “justiça, beleza
e virtude são perfeitas manifestações da realidade”.
 
Esquemas
 
Representando um avanço na maneira de compreender as crenças, Young, Klosko e Weishaar
(2008, p. 22), na terapia do esquema – sistema psicoterápico que mescla elementos de diferentes
abordagens para tratar pacientes com transtornos da personalidade e transtornos do Eixo 1, focado
nos esquemas desadaptativos dos pacientes, ou seja, “padrões emocionais e cognitivos
autoderrotistas iniciados em nosso desenvolvimento desde cedo e repetidos ao longo da vida” –
propõem cinco categorias ou domínios para classificar dezoito esquemas desadaptativos. Eis a
listagens dos domínios e esquemas (p. 27-31):
 
I. Desconexão e Rejeição. Expectativa de que as necessidades de segurança e afeto não
14
serão satisfeitas:
 
• Abandono/Instabilidade: Percepção que os outros são instáveis, indignos e não
continuarão proporcionando apoio.
• Desconfiança/Abuso: Expectativa de que será machucada de alguma forma pelos outros,
de maneira intencional e injustificada.
• Privação Emocional: Expectativa que não receberá apoio emo​cional adequado e ficará
privada de cuidados, empatia e proteção.
• Defectividade/Vergonha: Sentimento de que é defeituoso, inde​se​jado e não merece amor
das pessoas, ficando sensível a diferentes opo​si​ções do convívio social.
• Isolamento Social/Alienação: Sentimento de isolamento e dife​ren​ças significativas em
relação aos outros indivíduos e grupos.
 
II. Autonomia e Desempenho Prejudicados. Expectativas sobre si e o meio que afetam a
percepção sobre a capacidade pessoal de ser inde​pendente:
 
• Dependência/Incompetência: Crença que necessita da ajuda alheia para ser responsável e
competente, apresentando-se como desam​paro.
• Vulnerabilidade a Danos ou Doenças: Medo exagerado de que não terá como impedir uma
catástrofe iminente em termos de saúde, emoções ou acidentes externos.
• Emaranhamento/Self Subdesenvolvido: envolvimento em excesso com uma ou mais
pessoas, afetando a própria individuação e desenvol​vi​mento social.
• Fracasso: Crença no fracasso pessoal permanente e generalizado, sentindo-se menos
exitoso em comparação aos outros.
 
III. Limites Prejudicados. Deficiência com limites, respeito, coope​ra​ção e responsabilidade:
 
• Arrogo/Grandiosidade: Crença na superioridade pessoal em relação aos outros,
merecendo direitos e privilégios que o eximem da reciprocidade social normal.
• Autocontrole/Autodisciplina Insuficientes: Dificuldade em lidar com a frustração em
relação aos objetivos pessoais e com os limites de sua expressão.
 
IV. Direcionamento para o outro. Foco excessivo nos sentimentos e vontades das outras
pessoas em detrimento de si próprio, a fim de ser aprovado e não rejeitado:
 
• Subjugação: Submissão para evitar raiva, retaliação e abandono, gerando a subjugação
das necessidades e/ou emoções pessoais.
• Auto-sacrifício: Foco excessivo no atendimento aos outros à custa da própria gratificação,
embasado numa sensibilidade intensa aos sentimentos alheios.
• Busca de Aprovação/Busca de Reconhecimento: Ênfase na busca pela aprovação social,
com as reações alheias determinando a própria autoestima.
 
V. Supervigilância e Inibição. Ênfase excessiva na supressão das próprias manifestações e no
15
comportamento ético à custa da felicidade, saúde e de relacionamentos íntimos:
 
• Negativismo/Pessimismo: Foco nos aspectos negativos e des​prezo aos aspectos positivos
ou otimistas, esperando sempre o pior.
• Inibição Emocional: Excesso de inibição ao agir para não ser desaprovado, envolvendo
inibição da raiva/agressão, de impulsos positivos e da comunicação livre.
• Padrões Inflexíveis/Postura Crítica Exagerada: Crença de que é necessário muito esforço
para atingir padrões internalizados de desem​pe​nho, gerando sentimentos de pressão e posturas
exageradamente críticas.
• Postura Punitiva: Crença de que as pessoas, quando erram, devem ser punidas, gerando em
si raiva, intolerância e incapacidade de perdoar.
 
O procedimento de contestar as crenças disfuncionais é passo im​pres​cindível para alcançar-
se a reestruturação cognitiva, pois como ajudar o paciente a incorporar novos pensamentos mais
adaptativos se ele ainda mantiver arraigadas visões distorcidas da realidade? Daí a impor​tância das
contestações, como veremos a seguir.
16
SEÇÃO II: CONTESTAÇÕES
 
 
4. CONCEITO
 
 
De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001), o termo contestar
apresenta 6 acepções que vem ao encontro a proposta desta pesquisa:
 
1. Não aceitar como válido; impugnar, refutar. 2. Recusar o reconhecimento de um direito. 3. Pôr em
dúvida a veracidade de ou questionar (algo) a (alguém); negar. 4. Mostrar oposição ou contrariedade;
opor-se, protestar. 5. Dizer como resposta; replicar, responder. 6. Atestar, confirmar.
 
Outras diferentes palavras mantêm relação direta com o termo contestação, inclusive algumas
sendo usadas como sinônimos e ideias afins. Eis alguns exemplos: antagonismo, argumentação,
conflito, confronto, con​futação, contradição, contraponto, controvérsia, crítica, debate, desacor​do,
desconstrução, discórdia, dissensão, dissonância, dúvida, falseabilidade, impugnação,
incongruência, negação, objeção, oposição, polêmica, refu​ta​ção, réplica.
 
As ciências humanas, especialmente a Filosofia e a Pedagogia, apresentam diferentes teorias
relevantes para o estudo das bases concei​tuais da contestação. O objetivo aqui, no entanto, não é
aprofundar tais conceitos, mas enfatizar a existência de estreitas relações entre os mesmos e o tema
aqui abordado. Eis a definição de quatro destes conceitos, de acordo com Houaiss e Villar (2001):
 
Dialética
 
Em sentido bastante genérico, oposição, conflito originado pela contradição entre princípios teóricos ou
fenômenos em​píricos.
1.1 no platonismo, processo de diálogo, debate entre inter​locutores comprometidos profundamentecom
a busca da verdade, através do qual a alma se eleva, gradativamente, das aparências sensíveis às
realidades inteligíveis ou ideias.
1.2 no aristotelismo, raciocínio lógico que, embora coerente em seu encadeamento interno, está
fundamentado em ideias apenas prováveis, e por esta razão traz sempre em seu âmago a possibilidade
de sofrer uma refutação.
1.3 no kantismo, raciocínio fundado em uma ilusão natural e inevitável da razão, que por isto permanece
no pensamento, mesmo quando envolvido em contradições ou submetido à refutação.
1.4 no hegelianismo, lei que caracteriza a realidade como um movimento incessante e contraditório,
condensável em três momentos sucessivos (tese, antítese e síntese) que se mani​festam simultaneamente
em todos os pensamentos humanos e em todos os fenômenos do mundo material.
 
Falseabilidade
 
[...] possibilidade inerente a qualquer teoria científica de ser submetida a uma refutação parcial,
decorrente de sua inca​pa​cidade constitutiva de refletir integralmente a natureza dos fatos; refutabilidade
[para o filósofo austríaco Karl Popper, característica essencial do método científico, que por este cri​tério
antidogmático se distingue da irrefutabilidade meta​fí​sica ou pseudocientífica].
17
 
Heurística
 
1 arte de inventar, de fazer descobertas; ciência que tem por objeto a descoberta dos fatos.
1.1 ramo da História voltado à pesquisa de fontes e documen​tos.
1.2 método de investigação baseado na aproximação progres​siva de um dado problema.
1.3 método educacional que consiste em fazer descobrir pelo aluno o que se lhe quer ensinar.
 
Maiêutica
 
[...] 2 método socrático que consiste na multiplicação de per​guntas, induzindo o interlocutor na
descoberta de suas pró​prias verdades e na conceituação geral de um objeto. 3 método heurístico.
 
 
O ato de contestar está entranhado nas relações humanas, pois ninguém é igual a ninguém e as
pessoas compartilham de diferentes per​cepções da realidade. As histórias de vida e experiências
pessoais, assim como o modo de pensar, sentir e agir de cada pessoa, se diversificam ao infinito,
tornando inevitáveis as relações humanas divergentes e, conse​quen​temente, opositivas. Observa-se,
portanto, que tal aspecto da subjeti​vidade humana não se exclui nem mesmo dentro da clínica de
Psicologia, neste caso, atribuindo às contestações uma função de ajuda psico​tera​pêutica.
Neste ponto, podemos questionar: existe psicoterapia sem contes​tação? É razoável presumir
que, num momento ou noutro, a contestação se faça presente na relação de ajuda, independente da
abordagem psico​lógica adotada. Entretanto, o objetivo deste trabalho não é analisar as contestações
em outras abordagens que não seja a terapia cognitiva. 
O termo contestação ou contestar é largamente empregado pela maioria dos autores em
terapia cognitiva e sua função prática – como importante procedimento psicoterapêutico – fica
evidente em quase todas as obras. No entanto, muito pouco encontramos em termos de definição clara
e específica deste conceito nas obras de referência consultadas. A explicação mais direta foi de
McMullin (apud Abreu e cols., 2003, p. 64):
 
As técnicas de contestação baseiam-se na lógica de que, quando o cliente discute repetidamente uma
crença, esta se torna progressivamente mais fraca. As raízes dessas técnicas estão na filosofia: disputar,
desafiar e discutir as ideias. As contestações são pensamentos que vão contra, que se opõem a uma
crença irracional: “Isto não é verdade!”, “Ninguém aqui está prestando tanta atenção assim em mim!”.
 
Com base nas obras consultadas, poderíamos definir a contestação das crenças disfuncionais
na terapia cognitiva como o ato ou efeito de opor-se às interpretações, pensamentos ou pressupostos
desadaptativos aceitos pelo paciente como verdades absolutas, colocando-as em dúvida e
desconstruindo-as de diferentes maneiras, seja questionando, argumen​tando ou testando tais
pensamentos com a realidade.
McMullin (2005, p. 205) diz que “muitas vezes eles estão tão bem-resguardados que a
argumentação racional não funciona. Nossa melhor chance para ajudar os pacientes é prescrever a
eles o tipo de experiência que fará com que descubram a verdade por si mesmos”, ou seja, realizan​-
do a contestação de maneira indireta, por meio da experiência. 
A contestação na terapia cognitiva objetiva desconstruir concepções prévias disfuncionais do
paciente por meio da reflexão – cogitando novas hipóteses, sugerindo outras explicações, indicando
18
ângulos de análise ainda não percebidos – e da testagem das mesmas na realidade, visando o aper​-
feiçoamento de determinada compreensão dos acontecimentos, dando lugar para uma visão renovada,
ampla, realista, flexível e funcional capaz de aliviar os sintomas. Judith Beck (1997, p. 30) enfatiza
que “em termos cognitivos, quando pensamentos disfuncionais são sujeitos à reflexão racio​nal,
nossas emoções em geral mudam”.
Nesse sentido, Leahy (2006, p. 17) também comenta:
 
Os terapeutas cognitivos engendram nos pacientes um pensa​mentos científico e racional ao pedir que
sejam examinados os pressupostos que levam a estados depressivos ou ansiosos [...] Os terapeutas
ajudam os pacientes a examinar a validade de certas afirmações, coletando evidências que as
contradizem.
 
Importa destacar que as contestações no universo da terapia cogni​tiva podem ser empregadas
em quatro “direções”: do terapeuta para con​sigo mesmo; do terapeuta para com o paciente; do
paciente para consigo mesmo; e do paciente para o terapeuta.
Os focos principais deste trabalho, no entanto, é aprofundar a con​tes​tação realizada do
terapeuta para o paciente e do paciente consigo mesmo.
 
 
5. TÉCNICAS
 
 
A terapia cognitiva disponibiliza um leque diversificado de técnicas que podem ser utilizadas
para contestar pensamentos e crenças disfun​cionais, como veremos ao longo deste trabalho, segundo
a ótica de vários autores que tratam do tema na prática terapêutica. Segundo Beck, Rush, Shaw e
Emery (1997, p. 5):
 
As técnicas terapêuticas são projetadas para identificar, testar a realidade e corrigir as conceituações
distorcidas e as crenças disfuncionais (esquemas) por trás destas cognições. Reavalian​do e corrigindo
seu pensamento, o paciente aprende a dominar problemas e situações que ele previamente considerou
insupe​rá​veis. O terapeuta cognitivo ajuda o paciente a pensar e agir de forma mais realística e
adaptativa em relação aos seus pro​ble​mas psicológicos e, deste modo, reduz os sintomas [...] Diver​sas
técnicas verbais são usadas para explorar a lógica subjacente e a base de cognições e pressuposições
específicas [...] As cognições e pressuposições subjacentes são discutidas e exami​na​das em relação à
lógica, validade, adaptatividade e aumento de comportamento positivo versus manutenção da patologia.
 
Nesse sentido, a terapia cognitiva demonstra e enfatiza o poder dos pensamentos mais
realistas, até onde se consegue conhecer a realidade, oferecendo métodos para “testar os próprios
pensamentos em compa​ração com a realidade”. Ninguém sabe tudo ou possui todas as respostas, nem
o terapeuta nem o paciente, ou seja, não existe um “manual de soluções ou respostas prontas”. Leahy
(2006, p. 17) afirma que a “reali​dade” é um sistema aberto:
 
[...] o modelo cognitivo é construtivista, na extensão em que o “conhecedor” – aqui, o terapeuta e o
paciente – jamais terá todos os fatos. Não existe nenhum teste completo das infor​mações. Conhecer, no
mundo empírico, é mais uma afirma​ção de probabilidades do que de certezas. As previsões baseiam-se
em informações incompletas – sempre. O reconhecimento de que o pensamento inferencial é sempre
incompleto, indetermi​nado e probabilístico é um componente essencial da pers​pecti​va do terapeuta
19
cognitivo.
 
Kelly (apud Fadiman e Frager, 2004, p. 349) contribui:
 
O que achamos que sabemos se ancora somente em nossas suposições, não nos alicerces da verdade
propriamente dita, e o mundo que procuramos compreender permanece sempre nos horizontes denossos
pensamentos. Entender esse princípio plenamente é aceitar que tudo que acreditamos existir nos parece
como parece em função de nossas presentes cons​truções. Assim, até as coisas mais óbvias deste
mundo estão abertas à reconstrução no futuro.
 
As técnicas cognitivas se diversificam de acordo com os objetivos específicos de
reestruturação. Neste contexto, Judith Beck (1997) comenta que, após confirmar a crença mais
intensa a ser modificada, o terapeuta “formula em seu próprio raciocínio uma nova crença mais
funcional e menos rígida. Essa nova crença deve ser tematicamente relacionada à crença disfuncional
anterior, e o terapeuta deve acreditar resultar tal substituição em uma maior satisfação para o
paciente” (p. 160).
Na terapia do esquema, segundo Young, Klosko e Weishaar (2008, p. 93), a fase de mudança
envolve estratégias visando modificar esque​mas, ajudando o paciente a contestar os próprios
pensamentos e crenças disfuncionais de maneira mais saudável.
 
O terapeuta auxilia o paciente a construir uma argumentação lógica e racional contra o esquema. Em
geral, os pacientes não questionaram seus esquemas, e sim os aceitaram com algo dado, como verdades.
Em seus mundos psicológicos internos, os esquemas reinaram incontestes, e não houve modo adulto
saudável para se contrapor aos mesmos. Estratégias cognitivas ajudam os pacientes a distanciar-se do
esquema e a avaliar sua veracidade. Os pacientes percebem que existe uma verdade fora do esquema e
que podem combatê-lo com uma verdade mais objetiva e empiricamente consistente.
 
O terapeuta terá que identificar os esquemas do paciente e poderá tratá-los com diferentes
técnicas cognitivas e comportamentais. Para Young (2003, p. 51), “todas as vezes que vemos o
esquema surgindo durante a sessão, o apontamos e ajudamos o paciente a contestá-lo”. Mas as
contestações não se restringem somente ao momento da sessão. O autor diz que “sempre que ele
surgir fora da sessão, ensinamos o paciente a escrever o que aconteceu e a dar uma resposta
racional”.
 
As técnicas cognitivas destinadas a desafiar as crenças disfun​cio​nais do paciente, amplamente
apresentadas na bibliografia especializada sobre terapia cognitiva, buscam demonstrar para o
paciente, por exemplo, os seguintes aspectos listados a seguir, em contraposição às distorções
cognitivas mais comuns:
 
• As outras pessoas podem estar pensando algo diferente do que se presume.
• O futuro da própria vida ou de uma situação em particular pode não ser tão desfavorável
quanto se presume.
• Um determinado acontecimento potencialmente desconfortável pode ser plenamente
suportável.
• Qualquer pessoa possui diferentes facetas maduras e imaturas coexistindo em sua
personalidade, ou seja, ninguém é perfeito.
20
• Os fatos da vida em geral, mesmo aqueles relativamente aver​sivos, possuem aspectos
positivos a serem levados em consideração.
• Os fenômenos da existência humana, embora possam conter características comuns para
muitas pessoas, possuem elementos especí​fi​cos e únicos a serem levados em consideração.
• A responsabilidade pela maioria dos acontecimentos da vida é dividida entre as pessoas
participantes e não são culpa somente de alguém.
• Cada pessoa possui um histórico de vida particular e aproveita as oportunidades de
maneira diferente, em contextos diferentes, gerando níveis de desempenho diferentes.
• Os acontecimentos do passado tiveram seu contexto próprio e são importantes para
tirarmos lições deles, porém é no presente que agimos.
• A vida e o mundo oferecem imensuráveis possibilidades de interpretação e desfechos para
os acontecimentos.
• Refletir, escolher e agir num dado sentido atribuído para a vida é uma opção de cada um
no presente, inevitavelmente.
• A maneira mais vantajosa de interpretar a realidade é por meio dos atributos da
racionalidade e não das emoções.
• Qualquer conclusão alcançada, por mais convicto que estejamos dela, pode ser livremente
aperfeiçoada.
• A vida é feita de incertezas, sendo impossível controlar tudo e todos.
• Um pensamento negativo não é, necessariamente, verdadeiro.
• Os fatos ruins que ocorrem conosco não refletem, necessaria​mente, o que somos enquanto
pessoa.
• O fracasso num desempenho é humano e inevitável para todos.
• Eventuais emoções desagradáveis possuem um papel impor​tan​te no desenvolvimento
humano.
• Nem tudo tem uma solução imediata e definitiva.
 
Num outro sentido, McMullin (apud Abreu e cols., 2003, p. 64) chama a atenção para as
contestações construídas a partir da própria visão de mundo do paciente:
 
O cliente deve encontrar seu repertório específico de contesta​ções já que, sendo argumentos presentes
na sua própria orga​nização cognitiva, certamente elas serão mais efetivas. É pre​ciso que se procure
afirmações alternativas baseadas em evi​dên​cias concretas: “É impossível estar sempre certo”, “Não se
pode ser querido por todos”, etc. Cartões escritos podem fun​cio​nar como lembretes das afirmações a
serem usadas em mo​men​tos de ativação da crença irracional.
 
Podemos aplicar diferentes técnicas de contestação objetivando desa​fiar o mesmo
pensamento, crença ou distorção cognitiva; assim como a mesma técnica pode ser útil para desafiar
diferentes pensamentos, cren​ças ou distorções cognitivas. Sobre isto, Leahy (2006, p. 20) inclusive
recomenda que o terapeuta diversifique as técnicas utilizadas: “A vanta​gem na utilização de uma
variedade de técnicas para testar ou contestar o mesmo pensamento negativo é que o paciente terá
técnicas alternativas para uso futuro, caso sua contestação inicial não funcione”.
Por outro lado, nem toda técnica com o objetivo de contestar gera o efeito da contestação;
assim como nem todo efeito de contestação é provocado propositalmente por uma técnica. Neste
21
caso, é importante obser​var o perfil do paciente. Sobre este aspecto, Judith Beck (1997, p. 24) faz
suas considerações:
 
A terapia, no entanto, varia consideravelmente de acordo com o paciente individual, a natureza de suas
dificuldades, suas metas, sua habilidade de formar um vínculo terapêutico forte, sua motivação para
mudar, sua experiência prévia com terapia e suas preferências de tratamento. A ênfase no tratamento
de​pen​de do transtorno(s) particular do paciente.
 
As contestações também podem ser realizadas através da comuni​cação não-verbal que sugere
ao paciente rever certa interpretação. Dentro da subjetividade da comunicação interpessoal, elas
podem ser mais diretas (objetiva e explicitamente) ou indiretas. Um olhar e até mesmo o silêncio
podem ser contestadores em determinada ocasião. Depende do objetivo da intervenção e seus
efeitos. Por exemplo, uma simples expressão facial do terapeuta pode sinalizar o seguinte
questionamento: “você tem certeza disto que acabou de afirmar?”
 
 
Questionamento Socrático
 
A tarefa de contestar as crenças dependerá fundamentalmente da colaboração do terapeuta que
orientará, principalmente através do ques​tio​na​mento socrático, a análise das ideias do paciente, algo
que ainda não é realizado em nível satisfatório pelo paciente sozinho.
 
Uma série de perguntas cuidadosamente fraseadas, feitas no momento certo, pode ajudar o paciente a
isolar e considerar cuidadosamente um tópico, decisão ou noção específica. Uma série de questões pode
abrir o pensamento do paciente em torno de um tópico específico e por meio disso permitir-lhe consi​-
derar outras informações e experiências – quer recentes, quer passadas. A curiosidade do paciente pode
ser estimulada por uma série de perguntas. Suas visões rigidamente firmadas tornam-se hipóteses
experimentais. (Beck, Rush, Shaw e Emery, 1997, p. 52)
 
É importante destacar que o questionamento socrático pode ser utilizado tanto para identificar
pensamentos automáticos e crenças irracio​nais quanto para contestá-los. Beck, Rush, Shaw e Emery
(1997, p. 50) afirmam que “a maior parte das verbalizações do terapeutaestão estru​tu​ra​das na forma
de perguntas”, e que estas são úteis para diferentes fun​ções, sendo consideradas um instrumento
terapêutico fundamental.
 
A utilização de perguntas serve a uma ampla variedade de funções intrínsecas à terapia cognitiva. De
fato, uma única per​gunta pode simultaneamente tentar atrair a atenção do pacien​te para uma área
particular, avaliar suas respostas a este novo tópico de levantamento, obter informações diretas
referentes a este problema, gerar métodos para resolver problemas que foram considerados como
insolúveis e, por fim, levantar dúvi​das na mente do paciente sobre conclusões previamente distor​cidas.
(Beck, Rush, Shaw e Emery, 1997, p. 50)
 
Eis alguns exemplos destes questionamentos (Rangé, 2001, p. 280):
 
• Quais as evidências que apóiam esta ideia?
• Quais as evidências que vão contra esta ideia?
• Existe uma explicação alternativa?
22
• O que de pior pode acontecer? Você poderia superar isto?
• O que de melhor poderia acontecer?
• Qual o resultado mais realista?
 
Por meio dos questionamentos, o terapeuta cognitivo precisa ter a habilidade necessária para
ajudar o paciente a identificar os erros de inter​pretação e, mais importante ainda, indicar-lhe quais
pensamentos são mais funcionais. 
 
Por meio do diálogo e do questionamento, o terapeuta auxilia a pessoa a perceber em que ponto seus
pensamentos e crenças estão distorcidos e como isto está relacionado ao mal-estar. O objetivo é ajudar
a descobrir a verdade sobre si mesmo, quem eu sou verdadeiramente, o que está sendo encoberto por
essas crenças irrealistas, injustas e distorcidas. (Rangé, 2001, p. 282)
 
Beck, Rush, Shaw e Emery (1997, p. 23) contribuem:
 
O uso de perguntas é uma parte importante da terapia cogni​tiva. Pode ser fácil para o terapeuta apontar
que o paciente distorceu suas experiências, que há um pensamento interve​niente entre um evento e uma
experiência emocional. Porém pouco progresso pode ocorrer. É importante que o terapeuta faça
perguntas que elucidem a lógica fechada do paciente utili​zando uma abordagem indutiva.
 
Friedberg e McClure (2004) apontam pelo menos três tipos de ques​tionamentos socráticos: os
lógicos, que desafiam as crenças ilógicas e o raciocínio causal; os empíricos, que pedem dados da
realidade; e os funcionais, que enfatizam custos e benefícios.
É importante evitar questionar o paciente muito frequentemente, pois pode “viciá-lo” em
responder, predispondo a ele perder a naturali​dade ou espontaneidade, bem como a fluência verbal.
Tal procedimento pode também criar um vínculo de dependência, desaconselhável na tera​pia
cognitiva.
 
[...] o questionamento aberto, às vezes, deixa o paciente na posição defensiva de tentar adivinhar o que
o terapeuta “espera” como resposta. O momento de fazer as perguntas deve ser cuidadosamente
considerado e elas devem ser frasea​das de modo a ajudar o paciente a reconhecer e considerar suas
noções reflexivamente – a pesar seus pensamentos com objetividade. (Beck, Rush, Shaw e Emery,
1997, p. 53)
 
Beck, Rush, Shaw e Emery (1997, p. 298) propõem a Lista de Verificação de Competência
para Terapeutas Cognitivos, comonze itens para avaliação específica da prática de questionamentos,
onde o terapeuta analisado deve assinalar “apropriadamente incluído ( √ )”, “inapro​pria​da​men​te
omitido (–)”, “opcionalmente omitido (0)” e “não aplicável (NA)”. Eis os itens:
 
___ a. Terapeuta habilmente combinou perguntas para extrair da​dos referentes a sintomas,
situação de vida, experiências atuais, pen​as​men​tos, sentimentos e experiências passadas (quando
aplicável).
___ b. Usou perguntas abertas apropriadamente.
___ c. Uso mínimo de perguntas requerendo respostas sim ou não.
___ d. Evitou questionamento “fogo rápido”.
___ e. Intercalou perguntas com afirmações reflexivas, exemplos ilus​trativos ou resumos
23
breves.
___ f. Usou perguntas para mostrar incongruências ou inconsis​tên​cias nas conclusões do
paciente sem rebaixar o paciente.
___ g. Usou perguntas para ajudar o paciente a explorar as diversas facetas do problema.
___ h. Usou perguntas para examinar as conclusões e pressu​posi​ções arbitrárias do
paciente.
___ i. Usou perguntas para eliciar modos alternativos de resolver um problema.
___ j. Usou perguntas para considerar explicações alternativas.
___ k. Usou perguntas para prever consequências positivas e negativas de uma ação
proposta (por exemplo, fazer tarefas de casa, demitir-se de um emprego ou ter um confronto pessoal).
 
Com o passar das sessões, tal procedimento de contestar será ensi​na​​do/treinado para que o
próprio paciente teste a validade dos seus pensa​men​tos por meio dos questionamentos
(metacognição). Um dos principais obje​tivos na terapia cognitiva é treinar o paciente para que ele
adquira a ca​pacidade de efetuar, por si, as autocontestações. O sexto princípio da te​ra​pia cognitiva
refere-se exatamente ao seu papel educativo ao ensinar o paci​en​te a desempenhar o próprio
terapeuta. Segundo Judith Beck (1997, p. 23):
 
Um benefício adicional deste procedimento indutivo é que o paciente pode praticar este comportamento
de autoquestiona​men​to posteriormente, quando está sem o terapeuta. Ou seja, ele “ouve” a voz do
terapeuta fazendo perguntas como “Quais as evidências?” “Qual é a coisa mais adaptativa que eu posso
fazer agora?” Além disso, aprendendo a reconhecer e testar suas hipóteses, o paciente desenvolve um
empiricismo sau​dá​vel que serve como uma salvaguarda contra formação de conclu​sões irrealistas.
 
 
Para Beck, Rush, Shaw e Emery (1997, p. 5)
 
Um dos componentes poderosos do modelo de aprendizagem da psicoterapia é que o paciente começa a
incorporar muitas das técnicas terapêuticas do terapeuta. Por exemplo, os pacien​tes frequentemente
percebem-se, espontaneamente, assumindo o papel do terapeuta, questionando algumas de suas conclu​-
sões ou predições.
 
Na visão de Leahy (2006, p. 138), quando o paciente evita as situa​ções que ativam crenças
disfuncionais ele perde uma grande oportu​nidade terapêutica consigo mesmo. O autor nos diz que,
por exemplo, “você su​pôs que ninguém gostaria de você, então não interage com as pessoas ou se
afasta delas tão logo se sente pouco à vontade. Como resultado, você teve poucas oportunidades de
contestar os pensamentos negativos”.
 
 
Debate
 
Na TREC – terapia racional-emotivo-comportalmental, proposta por Albert Ellis, o
funcionamento cognitivo está baseado no modelo “A-B-C”, onde “A” é o acontecimento ativador,
“B” a crença pessoal sobre o acontecimento e “C” as consequências emocionais e comportamentais.
Para o autor, a etapa de tentar mudar as crenças irracionais do cliente é o verdadeiro trabalho
terapêutico e ocorre no “D”, de Debater:
24
 
Debater significa combater, desafiar o sistema de crenças irra​cionais do cliente e portanto, é um
processo lógico-empí​rico no qual o paciente é ajudado a parar e pensar para poder inter​nalizar uma nova
filosofia que envolva uma solução elegante. Isso será feito por questionamentos de natureza cognitiva,
ima​ginária e/ou comportamental. (Rangé, 2001, p. 43)
 
A TREC consiste num tratamento essencialmente verbal, sendo propostas diferentes
estratégias de debate objetivando desafiar o sistema de crenças irracionais do cliente. Para Campos
(1999), o terapeuta se esforça para que “o cliente avalie de forma crítica e científica suas crenças
racionais e irracionais. É a etapa em que o cliente passa a perceber seu funcionamento cognitivo e
detecta as bases de sua irracionalidade”. Os argumentos são considerados importantes meios de
persuasão, capazes de provocar e manter mudanças cognitivas significativas. As perguntas, espe​cial​-
mente empregando “por ques”, são vistas como os mais úteis instru​men​tos nesse processo, pois
incitam o cliente a procurar explicações ló​gi​cas para justificar suas crenças.
 
A TREC, por sua vez, apóia-se no método científico e na obser​va​ção empírica. Na prática da TREC,
para cada crença expressapor uma pessoa uma pergunta adequada seria “Quais são as evidências de
que esta crença é verdadeira?”. Tenta-se fazer dos clientes melhores cientistas de modo que eles
possam ad​qui​rir informações corretas, usar as evidências logicamente e cons​truir crenças solidamente
embasadas. (Rangé, 2001, p. 35)
 
As principais perguntas de combate lógico dividem-se em 3 grupos (Walen, Di Giuseppe e
Dryden apud Rangé, 2001):
 
1. Racionalidade: Perguntas para testar a racionalidade, por exem​plo: “Isso é uma lógica
correta? Isso é verdade? Por que não? Por que é assim? Por que essa é uma informação não-
verdadeira? Por que tem que ser assim? Por que você deve?” (p. 44)
2. Realidade: Perguntas para testar a realidade, por exemplo: “Qual é a prova? Onde está a
evidência? Que aconteceria se...? Você pode aguentar? Vamos ser cientistas: o que os dados
mostram? Por que ela deve fazer isso? Alguém tem que fazer? Você pode se sentir feliz mesmo se não
conseguir o que quer?” (p. 44)
3. Valores: Perguntas para testar os valores hedônicos, por exem​plo: “Na medida em que
você acredita nisso, como você se sente? ‘Eu devo conseguir o que quer que seja.’ Aonde esse
comando pode levar você? Vale a pena o risco? Como você se sente quando pensa desse jeito? E
aonde isso leva você? Que acontece quando você pensa assim? Por que você mantém uma crença que
lhe causa tanto sofrimento?” (p. 45)
 
Além dos 3 grupos de questionamentos, a TREC apresenta outras 5 estratégias de debate
cognitivo (Rangé, 2001, p. 45):
 
• Didática: Uso de miniaulas, analogias e parábolas.
• Humor: Uso de abordagens com efeito humorístico.
• Modelação Vicária: Indicar que muitas pessoas passam pela mesma situação, sem
manifestar reações emocionais exageradas pois não possuem as mesmas crenças irracionais.
• Imagem: Imaginar-se passando pela situação negativa procurando modificar os
25
pensamentos e sentimentos vividos, ou comportando-se de maneira positiva e adequada.
• Comportamental: Exercitar ações, no mundo real, de modo oposto às crenças irracionais.
 
 
Técnicas de Oposição
 
A contestação gera relações de oposição entre a ideia irracional manifesta e o novo modo de
pensar, mais racional e apropriado, para com​preender/lidar com a situação em foco, evidenciando
incompatibilida​des e dissonâncias cognitivas.
Quando colocamos algo em dúvida, pressupomos a possibilidade da existência de um erro,
falta ou insuficiência na constituição deste objeto. Nesse sentido, a contestação assume o caráter
opositivo exatamen​te porque desafia a visão de uma realidade entendida equivocadamente, por parte
do paciente, como indefectível, completa, perfeita ou definitiva.
 
Na visão de McMullin (2005), a contestação das crenças e pensa​mentos irracionais pode ser
realizada através de diferentes técnicas de oposição realizadas pelo próprio paciente com a ajuda do
terapeuta, que consistem em argumentar persistentemente contra a ideia irracional a fim de
enfraquecê-la. O autor divide as técnicas de oposição em pelo menos três tipos básicas: intensas;
leves; e objetivas.
 
1. Intensas: Identificar o maior número possível de palavras, frases, sentenças ou
posicionamentos filosóficos fortes que se oponham a cada pensamento irracional. De acordo com o
autor, “a oposição intensa ideal é aquela que traz consigo uma hierarquia de valores, percepções e
experiên​cias, e expulsa o pensamento irracional na direção oposta” (p. 73).
2. Leves: Técnica de relaxamento e tranquilização, em muitos casos mais eficazes no
desafio às crenças distorcidas, reduzindo a exci​ta​ção emocional. “Em estado de relaxamento, a
crença irracional é desa​fiada tanto pelo pensamento quanto pela emoção, provendo assim dois
elementos de tratamento ativo.” (p. 102)
3. Objetivas: Requer a atuação do terapeuta na argumentação que possa persuadir o
paciente a seguir o mesmo estilo. “A oposição objetiva postula que as crenças do paciente podem ser
modificadas se o terapeuta ajudar-lhe a angariar mais evidências contrárias à crença do que aquelas
evidências com as quais o paciente a apóia.” (p. 119)
 
Ainda segundo o mesmo autor, as técnicas de oposição empre​gadas devem variar e serem
mais ou menos eficazes de acordo com o perfil de cada paciente e as crenças manifestas.
 
Pacientes deprimidos, particularmente, podem precisar de uma abordagem emocional mais suave para
reforçar seus oposi​to​res, enquanto pacientes com transtorno de pânico frequente​mente beneficiam-se
com a estratégia de ataque da oposição intensa. A análise objetiva das crenças do paciente é uma abor​-
dagem terapêutica cristalina e elegante. Nossa experiência nos mostra, no entanto, que muitos clientes
não valorizam a lógica na mesma medida do terapeuta. Para tais pacientes é neces​sário suplementar ou
substituir a oposição objetiva. (McMullin, 2005, p. 119)
 
 
Outras Técnicas
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Leahy (2006, p. 53) apresenta pelo menos 9 técnicas de avaliação e contestação dos
pensamentos:
 
1. Definição dos termos: Também chamada de “técnica semân​tica”, é usada para saber o
significado do termo ou conceito da crença (por exemplo, fracasso) na visão do paciente.
2. Análise de custo-benefício: Avaliação das consequências posi​ti​vas e negativas da crença
(custos versus benefícios; vantagens versus des​van​tagens), oferecendo a opção ao paciente de
escolher, posterior​men​te, por mantê-la ou substitui-la.
3. Exame das evidências: Avaliação das evidências contrárias e favoráveis da validade das
crenças negativas, comparando-as e avaliando-as em termos psicológicos, ou seja, o quanto cada
evidência convencem o paciente para um lado ou outro.
4. Exame da qualidade das evidências: Avaliar o quão boa são as evidências para o
paciente, considerando a consistência, validade, lógica e os fatos capazes de comprová-las
efetivamente, como se estivesse diante de um júri.
5. Advogado de defesa: Imaginar-se num julgamento onde os pensamentos automáticos são
representados pela acusação, tendo que o paciente (réu), na posição de advogado de defesa, atacar as
evidências e a lógica dos argumentos do acusador.
6. Dramatização de ambos os lados do pensamento: Paciente e terapeuta alternam-se na
posição racional versus a postura negativa, ten​tan​do convencer-se mutuamente e revezando-se no
apoio a cada papel, com o paciente identificando respostas e contestações mais úteis.
7. Distinção entre comportamentos e pessoas: Distinguir entre o comportamento errado e a
pessoa por inteiro, procurando isolar enganos ou erros e separá-los de um julgamento global de si
mesmo, sem persona​lização e hipergeneralizações.
8. Exame das variações do comportamento em diferentes situações: Focalizar para além
de determinado momento, considerando mais os fa​to​res situacionais que levaram ao comportamento e
compreender seu con​texto sem rotular os indivíduos (pensamento em termos de tudo-ou-nada).
9. Uso do comportamento para resolver o pensamento negativo: Usar a ação para iniciar a
mudança, colocando o foco na solução ou acei​ta​ção do problema, procurando o que pode ser feito
para melhorar habi​li​da​des (sociais, de comunicação, relacionadas ao trabalho), resolver proble​mas
ou mudar a situação.
 
Dentre as inúmeras técnicas apresentadas por Leahy (2006, p. 179), destacamos outros três
exemplos de como realizar as contestações, neste caso, de pensamentos ilógicos:
 
1. Exame das contradições internas: O terapeuta questiona o paciente se ele possui dois
pensamentos contraditórios, por exemplo, “Eu deveria ser perfeita, mas não quero me criticar” ou
“Eu gostaria de conhecer tantas pessoas quanto possível, mas nunca quero ser rejeitado”.
2. Redução ad absurdum: Levar a lógica do argumento a um nível absurdo, por exemplo, “Se
estou solteira, então não sou digna de amor”, sendo assim, “Todas as pessoas casadas foram solteiras
outrora; portanto, todas são indignas de amor”.
3. Contestação da autocrítica recursiva: Ajudar o paciente a ver se não está preso num
círculo de ser criticado por ser autocrítico, porexemplo, “Acho que sou um fracasso porque estou
27
deprimido, e estou deprimido porque acho que sou um fracasso”.
28
Leahy (2006, p. 280) ainda apresenta um formulário para contes​tação dos esquemas pessoais:
 
Técnica Resposta
Identifique o esquema pessoal 
Defina seu esquema 
Grau de crédito no esquema (0 a 100%) 
Emoções desencadeadas pelo esquema 
Que situações desencadeiam o esquema? 
Custo e benefício do esquema Custo
Benefício
Evidências contra e a favor A favor
Contra
Use a técnica do duplo-padrão. Você aplicaria
isso a mais alguém?
 
Por que este esquema é irreal? 
Imagine-se em um continuum – não em termos
de tudo-ou-nada (por exemplo, avalie-se e os
outros em uma escala de 0 a 100%)
 
Atue contra o esquema (O que você pode fazer
que se opõe a ele?)
 
Reavalie a crença no esquema 
 
 
Não-contestação
 
Na prática das contestações, o objetivo, obviamente, não é opor-se a pensamentos que se
mostrem verdadeiros. Leahy (2006, p. 27) destaca que os pensamentos causadores de perturbações
podem ser verdadeiros, falsos ou ter diferentes níveis de validade.
 
Só porque acredito que algo seja verdadeiro, isso não significa que seja verdade. Pensamentos são
hipóteses, descrições, pers​pec​tivas e até mesmo adivinhações. Eles podem revelar-se ver​da​deiros ou
falsos. Os pacientes precisam aprender a identi​fi​car seus pensamentos e depois examinar os fatos.
 
Além disso, Leahy (2006) destaca outras duas condições que não são contestáveis:
 
1. Pensamentos expressos como fatos: Por não serem testáveis, não são passíveis de
refutação. “Se não existe maneira de refutar uma afir​ma​ção, então ela não tem significado. Eis um
exemplo de afirmação que não é passível de refutação: 'Não importa o que eu faça, não tenho valor'.”
(p. 136). A própria afirmação já descarta todas as evidências contrárias, sendo o mesmo que dizer
“não tenho valor e nada do que você disser vai mudar essa crença”.
2. Sentimentos: Não contestamos sentimentos e sim os pensa​men​tos que originam os
sentimentos. 
 
Não teria sentido dizer a um paciente: “Você, na verdade, não está ansioso”. Isso seria equivalente a
dizer, em essência, que o ferro quente não feriu realmente o paciente quando ele excla​mou Ai!. “Ai!” é
o relato da sensação – exatamente como as palavras “Estou feliz” ou “Estou triste” são relatos de senti​-
29
mentos. (p. 25)
 
Judith Beck (1997, p. 105) também faz suas considerações quanto às emoções do paciente:
“Embora o terapeuta possa reconhecer a exces​sividade ou inadequação de uma emoção, ele se
abstém de rotulá-la como tal, especialmente no início da terapia”. A autora recomenda, ao contrário,
que o terapeuta reconheça e empatize “com o como o paciente se sente. Ele não desafia ou contesta
as emoções do paciente, mas, antes, focaliza em avaliar os pensamentos e crenças disfuncionais por
trás da sua aflição, a fim de reduzir a disforia”.
 
Dois autores consideram a função das emoções no momento de analisar as situações
perturbadoras para o paciente:
 
O terapeuta não analisa todas as situações nas quais o paciente se sente disfórico; a terapia cognitiva
visa reduzir a aflição emocional que está relacionada a interpretações errôneas de uma situação.
Emoções negativas ‘normais’ são tanto uma parte da riqueza da vida quanto emoções positivas e servem
a uma função tão importante quanto a dor física, nos alertando para um problema potencial que pode
precisar ser abordado. (Beck, J.; 1997, p. 105)
 
Pressão, estresse e sofrimento não são sempre necessariamente ruins. Mostram aos pacientes que há
algo errado, alguma coisa está doendo. É preciso que os pacientes identifiquem de onde vem a dor, para
que possam tratá-la, e não apenas aplacá-la. (McMullin, 2005, p. 82)
 
Por fim, Judith Beck (1997, p. 156) alerta os terapeutas para não desperdiçarem tempo e
esforço trabalhando sobre crenças tangenciais ou naquelas crenças menos fortalecidas pelo paciente.
 
 
Eficácia
 
Leahy (2006, p. 33) aponta a variação da força da crença como um indicativo de sua possível
modificação e, nesse sentido, também como um instrumento de avaliação sobre o quanto esta crença
já foi superada. 
 
Presumivelmente, o foco e a preocupação do paciente em rela​ção à crença irão variar de acordo com o
momento do dia, os acontecimentos e outros pensamentos. Essa variação reforça ainda mais a ideia de
que uma crença fortemente mantida pode ser modificada. Além disso, esta crença pode variar du​ran​te a
sessão.
 
A avaliação de eficácia das contestações pode ser realizada por meio da checagem do quanto
o paciente ainda enfatiza determinada crença. Sobre isso, Leahy (2006, p. 33) observa:
 
Periodicamente, durante a sessão, conforme paciente e tera​peu​ta se dedicam a contestar crenças e a
planejar comporta​men​tos, o terapeuta pode perguntar ao paciente quão forte está a crença naqueles
diferentes momentos. Não é raro o paci​en​te começar a sessão acreditando 90% em uma crença e aca​-
bar a mesma ses​são acreditando 40%.
 
Judith Beck (1997, p. 122) também indica outros parâmetros, nos dizendo que “Quão intensa a
sua emoção é antes e depois do questiona​men​to socrático, de modo que ele pode avaliar quão bem
30
esta intervenção funcionou”. E complementa:
 
Usualmente não é possível e nem necessariamente desejável reduzir o grau de uma crença a 0%. Saber
quando parar de trabalhar sobre uma crença é, portanto, uma questão de julga​mento. Em geral, uma
crença foi suficientemente atenuada quando o paciente a endossa de forma inferior a de 30% de quando
ele tende a continuar a modificar seu comportamento disfuncional, apesar de ainda agarrar-se a um
resquício dessa crença. (p. 160)
 
 
6. EXEMPLOS DE CONTESTAÇÕES
 
 
Muitas manifestações humanas estão sujeitas à contestação como, por exemplo, valores
pessoais, escolhas e até mesmo determinados obje​ti​vos do paciente ao aderir a um tratamento
psicológico. A proposta desta pes​quisa, no entanto, é apresentar as contestações aplicadas às cren​ças
dis​funcionais, também denominadas de errôneas, irracionais ou desa​dap​ta​​tivas, no contexto da
terapia cognitiva.
 
Aqui reproduzimos as contestações de Ellis (apud Rangé, 2001, p. 40) às três crenças
irracionais consideradas pelo autor como as mais im​por​tantes e comuns:
 
Crença: Para mim, é absolutamente necessário ser amado e apro​vado pelas pessoas que
me são importantes.
 
Contestações:
1. É possível que, mesmo que você consiga 100 vezes amor e aprovação em 100 tentativas,
na vez seguinte alguém lhe negue isso?
2. É possível que, mesmo que você tenha obtido amor e apro​vação, isto possa não ser
suficiente, pois acabarão surgindo preocupações sobre o quanto você foi aprovado e amado, se ainda
o consegue e até quando o conseguirá?
3. É possível que, pelos próprios preconceitos ou tendenciosidades do outro, você possa só
receber indiferença ou reprovação, ao invés da​quilo que deseja?
4. É possível que o gasto de energia para tentar agradar todas as pessoas faça com que reste
muito pouca energia para seus outros obje​ti​vos na vida?
5. É possível que sua busca compulsiva de amor e aprovação aca​be gerando um
comportamento inseguro, que conduza mais à perda de apro​vação e respeito do que ao seu ganho?
6. É possível que amar alguém, que é algo prazeroso e absorvente, possa ficar inibido e
impedido de se expandir pela busca incessante de ser amado?
7. Não seria mais racional acreditar que:
• Você deseja amor, e não precisa dele.
• É muito mais prazeroso ser aprovado e amado pelas próprias realizações. Elas é que
sustentam uma forte autoestima: é por nossas con​quis​tas, principalmente as mais difíceis, que
gostamos cada vez mais de nós mesmos. A necessidade (infantil) de ser amado incondicionalmente
sustenta uma falsa e frágil autoestima, pois ela depende sempre de novas provas de amor e
31
aprovação em cada momento. Uma autoestima ver​da​deira e forte deriva de um comprometimento
determinado em seguir os próprios objetivos, não de aprovações alheias.
• É desagradávelnão receber amor ou aprovação de alguém im​portante, mas isso é
catastrófico?
• Suas ações devem ser guiadas pelos seus desejos, não pelo de​se​jo dos outros. Afinal, de
quem é a sua vida?
• A melhor forma de ganhar amor é dar amor genuinamente.
 
II. Crença: Para se ter valor, é necessário ser competente e bem-sucedido em todos os
aspectos da vida.
 
Contestações:
1. É possível ser competente em todos os aspectos da vida?
Tentar ser competente em alguns aspectos pode se saudável e re​com​pensador (prazer,
dinheiro), mas ter a obrigação de ser extremamente competente é um caminho direto ao medo e à
desvalorização, à ansiedade e à depressão.
2. É possível que uma busca desenfreada pelo sucesso ultrapasse os limites do corpo e
provoque doenças psicossomáticas?
3. É possível que, ao fazer comparações dos seus sucessos com os dos outros, você esteja
sendo guiado (a) por padrões externos, e não pelos seus objetivos pessoais?
Se você pensa que tem que ter sucesso marcante, você não estará apenas se desafiando e
testando suas próprias capacidades; está, invaria​velmente, comparando-se com os outros e tentando
superar os melhores. Assim, você passa a ser guiado (a) pelos outros mais do que por si mesmo (a).
Desse modo, sem se dar conta, estabelece metas inalcançáveis, pois, mesmo que você possa ser
extremamente destacado em algo, sempre po​derá aparecer alguém melhor. Não faz sentido comparar-
se aos outros, uma vez que não se pode ter controle sobre o comportamento dos outros, somente
sobre os próprios.
4. É possível que a concentração na crença de ter que ser com​pe​tente desvie você da meta
principal da vida, que é ser feliz?
Você já pensou que esta se alcança (1) experimentando e des​co​brindo quais são seus desejos
mais gratificantes na vida e (2) gastando corajosamente (não importando o que os outros pensem)
uma boa parte do pouco tempo que dura a sua vida perseguindo isso?
5. É possível que uma preocupação excessiva com a competência acabe resultando em muito
medo de correr riscos, de errar, de falhar em certos empreendimentos e que estes próprios medos
sabotem os objetivos que você quer alcançar pelo efeito negativo que produzem no desem​pe​nho?
6. Não seria mais racional acreditar que:
• É melhor tentar fazer mais do que “se matar” para tentar fazer bem, assim como é melhor
focalizar-se no processo mais do que no re​sul​ta​do.
• Ao tentar fazer algo, é melhor fazer pelo prazer de fazer bem-feito mais do que para
agradar alguém.
• Uma coisa é tentar fazer bem alguma coisa pela satisfação que isso dá; outra é tentar fazer
perfeitamente bem. Uma coisa é tentar o seu melhor; outra é tentar ser melhor do que os outros.
• Os esforços valem pela realização em si ou pela realização com a satisfação que ela traz?
32
• Os erros, mais do que algo para se recriminar, são muito vali​osos, pois é por meio deles
que se aprende. Aceite a necessidade de ter que praticar muito se você quiser ter sucesso em alguma
coisa, a neces​sidade de se forçar a fazer as coisas que você tem medo de fazer e o fato de que os
seres humanos são limitados, e você, particularmente, tem suas limitações especificas.
 
III. Crença: É terrível e catastrófico quando as coisas não acon​tecem do jeito que se quer.
 
Contestações:
1. Não há motivos para que as coisas devam ser diferentes do que são, não importando o
quanto elas sejam insatisfatórias ou injustas. É satisfatório quando as coisas acontecem do jeito que
desejamos, mas isso não é necessário ou obrigatório. A ideia de um mundo justo é apenas um ideal
social.
2. Sentir-se inconsolável frente a situações adversas não ajuda a transformar as coisas. O
contrário é o mais provável: quanto mais afetada pelas circunstâncias adversas, mais ineficiente
torna-se uma pessoa para tentar reverter as coisas e alcançar o que deseja.
3. Quando as coisas não são da forma que se quer, deve-se fazer o máximo para mudá-las;
porém quando isso é impossível, momenta​nea​mente ou para sempre, a única atitude saudável é
resignar-se.
4. Mesmo havendo uma grande relação entre frustração e raiva, pode-se constatar que são
nossas interpretações dos acontecimentos que geram a raiva. Uma pessoa só se sente necessariamente
infeliz e irada se ela estabelece suas preferências em termos de necessidades.
5. Ao invés de manter-se desnecessariamente exaltado (a) diante de circunstâncias frustrantes
ou de injustiças reais ou imaginárias, você pode tentar adotar as seguintes atitudes:
• Será que estou exagerando a dimensão negativa daquilo que está me acontecendo? Se
houver realmente aspectos negativos e des​pra​zer não será melhor trabalhar racionalmente no sentido
de alterar as cir​cuns​tâncias e, se for impossível, resignar-me, ao invés de ficar irritado ou me
lamentando da sorte ou da minha infelicidade?
• Será que estou vendo como catastrófico, terrível ou fatal algo que é apenas desagradável?
• De que modo posso aprender com essa experiência frustrante, usá-la como um desafio e
integrá-la de modo útil à minha vida? Será que não estou duplicando meu sofrimento ao me irritar
com a própria irrita​ção?
 
Beck, Rush, Shaw e Emery (1997) nos apresentam três exemplos de contestações por meio da
contra-argumentação:
 
Exemplo 1 (p. 195):
 
Paciente: Eu penso que qualquer um que não esteja preocupado com o que os outros pensam
seria socialmente atrasado e estaria funcio​nando em um nível bastante baixo.
Terapeuta: Quem são as duas pessoas que você mais admira?
P: Meu melhor amigo e meu chefe.
T: Estes dois estão superpreocupados com as opiniões dos outros?
P: Não, eu não acho que nenhum deles se preocupe em absoluto com o que os outros pensem.
33
T: Eles são socialmente atrasados e ineficientes?
P: Eu entendo o que você quer dizer. Ambos têm boas habilidades sociais e funcionam em
níveis elevados.
 
Exemplo 2 (p. 195):
 
P: O único modo pelo qual eu alguma vez seria feliz é se eu pudesse ser uma grande escritora.
T: Que nível de qualidade literária você teria que atingir?
P: Eu teria que ser tão boa quanto (a paciente citou uma poetiza).
T: Esta poetiza atingiu grande felicidade?
P: Não, eu acho que não. Ela se matou.
 
Exemplo 3 (p. 197):
 
T: Quanto dinheiro você precisaria para ser feliz?
P: Eu não sei, mais do que eu tenho agora.
T: Anteriormente na sua vida você pensou que se você tivesse tanto quanto tem agora você
seria feliz?
P: Provavelmente sim.
T: Sucessos, conquistas, dinheiro, tudo isso é aberto. Não é como pintar uma parede ou
construir uma mesa. Não há ponto final.
P: Mas eu acredito que se eu pudesse conseguir a quantia de di​nhei​ro que eu preciso, eu
ficaria contente.
T: Isso é uma necessidade real? Se você acreditasse que precisa de algo que você realmente
não precisa, você jamais seria capaz de conseguir suficiente disso. Você não pode conseguir o
suficiente de algo que você não precisa, mas acredita que precisa.
 
Reproduzimos aqui alguns exemplos de intervenções úteis, suge​ridas por Leahy (2006, p.
308-321), para contestar as principais distorções cognitivas:
 
1. Leitura mental:
 
“Ele acha que sou um perdedor”.
 
Você acha que a leitura mental lhe proporciona informações valiosas? Como você poderia provar que seu pensamento está
errado? Ele é testável? Se alguém não gostar de você, o que vai acontecer? Que coisas continuarão sendo as mesmas? Não importa o
que você faça, algumas pessoas não vão gostar de você. Atue contra o pensamento fazendo algo positivo em relação à pessoa que você
pensa não gostar de você.
 
2. Previsão do futuro:
 
“Não vou conseguir o emprego”.
 
Você acha que a preocupação o protege e o prepara? Não importa o que você faça, é sempre possível que algo ruim aconteça.
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Quantas vezes você fez previsões erradas? Qual é o pior, o melhor e o mais provável desfecho? Descreva em detalhes três desfechos
positivos.
 
3. Catastrofização:
 
“Seria terrível se eu fracassasse”.
 
Quantas vezes você fez previsões erradas? O que exatamente tornaria esse acontecimento

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