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Relações étnico-raciais e Educação infantil: a literatura como potencializadora
Cecília de Campos Saitu*
Kelly Xavier Madaleny**
Palavras chave: Educação infantil, Relações étnico-raciais, literatura infantil
Este trabalho tem por objetivo descrever, as intervenções realizadas no plano de curso da educação infantil, do município de Seropédica utilizando a literatura infantil como gatilho desencadeador para as experiências com os alunos. E nada melhor para a educação infantil do que aprender através do lúdico, que de acordo com os referenciais afro brasileiros, é justamente o prazer de viver que temos, e que se propaga na música, na oralidade (contos) e na corporeidade. 
Buscando valorizar a identidade étnico-racial negra, os hábitos e valores de matriz africana tão presentes em nossa cultura tomamos como base referenciais de identificação positivos, com o intuito de promover a autoestima e a afirmação da identidade negra. A ideia central consiste na construção de uma base ética de valorização do outro, da diferença, com o objetivo de romper com práticas discriminatórias ainda existentes no ambiente escolar, sendo reproduzidas e naturalizadas em nossa sociedade.
É importante ressaltar que o livro como recurso pedagógico (em oposição a um viés de pensamento utilitarista do livro) não basta para desconstruir as imagens estereotipadas amplamente trabalhadas no contexto escolar. Não basta listar livros que tratem da diferença étnico-racial de forma positiva e incluí-los nos currículos apenas para constar. Entendemos que a literatura para crianças na escola deva servir como suporte a uma práxis mais ampla, com a participação de toda a comunidade escolar, na perspectiva de construção de um projeto de escola e sociedade radicalmente distintas. Nesse sentido, o docente ocupa um lugar fundamental de mediação em um diálogo que deve ser crítico e plural, no sentido de possibilitar a expressão real de todas as culturas igualmente. As Leis Federais 10.639/03 e 11.645/08 abrem caminhos para reais mudanças nos currículos, entretanto, sozinhas não surtirão efeito algum. Para que se alcancem os objetivos propostos pelas mesmas, é imprescindível a ação daquele (a) que atua em sala de aula e dos demais componentes da comunidade escolar.
O projeto de intervenção, do qual trata o presente trabalho, foi realizado em uma escola da rede municipal de Seropédica. A partir da intervenção feita no plano de aula da educação infantil, tendo a literatura como elemento desencadeador, o trabalho tomou outras proporções. As atividades realizadas com os alunos dentro de sala de aula chegaram ao conhecimento da direção da escola e também da coordenação da Secretaria Municipal de Educação de Seropédica. O que originou na primeira formação para professores da educação infantil na temática étnico-racial no referido município. A impressão que se quer passar sobre a questão da cultura afro-brasileira e africana é de que precisa ser especialista no assunto para fazer esta abordagem em sala de aula. Em algumas conversas com alguns professores foi possível perceber a preocupação de como trabalhar os contos africanos. Durante a execução do projeto proposto pela educação infantil, algumas colegas manifestaram sua insegurança em trabalhar estes contos. Foi dito a elas que: “Como você trabalharia um conto de princesa tradicional?” A partir daí todas as professoras da educação infantil da escola em que atuava começaram um trabalho de pesquisa que, de acordo com suas falas, foi muito gratificante. E que já estavam pensando em outros contos. Este projeto foi exposto na semana da educação infantil que ocorreu de 24 a 28 de agosto de 2015 nas dependências da escola. Houve visitas da comunidade, e também de representantes da Secretaria de Educação.
A discussão a respeito das relações étnico-raciais precisa estar presente na escola de uma forma clara, livre de quaisquer estereótipos e que dê aos sujeitos do processo, tanto alunos como professores e demais membros da comunidade escolar, não só oportunidade de se deparar com a história e as culturas negra e indígena no Brasil, assim como com suas próprias questões identitárias. E isso não é fundamental somente para os indivíduos pertencentes a estas identidades étnicas, mas para todos, pois uma educação eurocêntrica, homogeneizadora e carregada de preconceitos afeta a todos. Dar voz às culturas normalmente silenciadas e subalternizadas significa romper com esse ciclo de dominação e possibilitar a crianças e adultos a construção de subjetividades críticas, de autoimagens positivas, e, de reconhecimento e identificação. 
* Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Gestora de uma creche da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Especialista em Educação e relações étnico-raciais pelo CEFET-RJ e em Gestão escolar e Coordenação pedagógica pela AVM
**Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Professora de Ensino Fundamental na Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, membro do GPMC ( Grupo de Pesquisas em Políticas Públicas, Movimentos sociais e Culturas).

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