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Noções Básicas de Direito Administrativo THALLIUS

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Noções Básicas de Direito Administrativo - THALLIUS 
Introdução
 O Direito Administrativo compreende o conjunto de normas e institutos que disciplinam as relações da Administração Pública, seu funcionamento e sua organização, dentre várias outras situações.
Ramos do Direito
DIREITO PRIVADO → prevalece a autonomia de vontade das partes envolvidas, sem a existência de superioridade de uma sobre a outra, isto é, elas estão em uma relação de igualdade (horizontal). 
DIREITO PÚBLICO → nas relações regidas pelo direito público, as partes envolvidas encontramse em uma relação desigual (vertical), em que uma parte exerce determinada superioridade sobre a outra. As relações em que o Estado está presente são regidas, predominantemente, pelo direito público, em face da supremacia do interesse público sobre o privado
Fontes do Direito Administrativo 
 1) LEI (em sentido amplo) → trata-se da fonte primária (ou primordial) do Direito Administrativo (enquadram-se as súmulas vinculantes). 
 2) DOUTRINA e JURISPRUDÊNCIA → são consideradas fontes secundárias do Direito Administrativo. 
 3) COSTUMES → trata-se do conjunto de regras que, embora não escritas, são observadas de maneira uniforme. São reconhecidas como fontes indiretas do Direito Administrativo. 
Regime Jurídico Administrativo 
Princípio Da Supremacia Do Interesse Público Sobre O Privado
 De acordo com esse princípio, o interesse público, isto é, da coletividade, é mais importante que os interesses privados. Desse princípio extraímos os Poderes da Administração Pública.
 Princípio Da Indisponibilidade Do Interesse Público
 O administrador público é um mero gestor da coisa alheia, não podendo dispor (abrir mão) dos interesses públicos. Esse princípio é o fundamento dos deveres da Administração.
Conceitos Importantes
Personalidade Jurídica 
Trata-se, de modo resumido, da aptidão para ser sujeito de direitos e de obrigações, conferida às pessoas físicas (ou naturais) e jurídicas. Desse modo, os possuidores de personalidade jurídica poderão ter, dentre outras características, patrimônio próprio e capacidade processual (ser autor ou réu em um processo judicial).
Noções de Estado e Governo 
O Estado pode ser conceituado como a pessoa jurídica territorial soberana, sendo formado por três elementos: 
1) POVO → reunião de indivíduos, submetidos, reunidos em determinado território, submetidos ao controle de um poder central (trata-se do elemento humano do Estado).
 2) TERRITÓRIO → trata-se base fixa do Estado, do espaço geográfico onde determinada população reside (abrange o solo, o subsolo, o mar e o espaço aéreo). 
3) GOVERNO soberano → trata-se da vontade suprema do Estado, não sujeito a nenhuma vontade externa.
Forma de Estado → Federativa
Caracteriza-se pela descentralização política, na qual existem diversas entidades políticas autônomas, de modo que o poder não está centralizado em um único ente. “CF - Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.”
Forma de Governo → República
É marcada pela eletividade do governante e também pelo caráter temporário dessa representação. Como ele apenas administra a “coisa do povo”, ele tem o dever de prestar contas e pode ser responsabilizado.
Sistema de Governo → Presidencialismo
No presidencialismo, existe uma separação entre o Poder Legislativo e o Poder Executivo, predominando a separação dos Poderes. O Presidente da República cumula as funções de chefe de Estado (relações internacionais) e chefe de Governo (relações internas, ele é o chefe da Administração Pública).
Regime de Governos → Democracia Conforme extraído do texto Constitucional, no Brasil, temos uma democracia semidireta ou participativa. “CF - Art. 1º, parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”
Organização da Administração Pública Administração Pública
Poderes do Estado (Ou Poderes da República)
No Brasil, temos a tripartição dos Poderes: “CF - Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.” Cada um desses poderes desempenha funções típicas (principais) e atípicas (secundárias).
Administração Pública
A Administração Pública tem sua base legal no Art. 37 da Constituição Federal:
 “Art. 37. A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:...”
A definição de quem é Administração Direta e Indireta, no âmbito federal, é encontrada no Decreto 200/67:
“ Art. 4° A Administração Federal compreende:
 I - A Administração Direta, que se constitui dos serviços integrados na estrutura administrativa da Presidência da República e dos Ministérios.
 II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias de entidades, dotadas de personalidade jurídica própria: 
a) Autarquias;
b) Empresas Públicas; 
c) Sociedades de Economia Mista. 
d) fundações públicas. “
Dessa forma, foi adotada, no Brasil, a classificação de Administração Pública em sentido FORMAL , SUBJETIVO ou ORGÂNICO (a lei define quem é Administração Pública).
Desse Decreto, ampliando para as demais esferas, podemos dizer que a Administração Pública é dividida da seguinte forma:
Administração Pública DIRETA 
» União 
» Estados 
» Distrito Federal 
» Municípios
Administração pública INDIRETA
» Autarquias 
» Fundações Públicas 
» Sociedades de Economia Mista 
» Empresas Públicas
Trata-se de um rol taxativo, isto é, são considerados como integrantes da Administração Pública apenas esses oito entes.
Administração Direta
São pessoas jurídicas de direito público e podem também receber a denominação de entes ou pessoas políticas (possuem capacidade de legislar). Entre esses entes não existe hierarquia nem subordinação. Eles trabalham em cooperação e com independência, cada um dentro da sua esfera de competência. Possuem autonomia política, administrativa e financeira, sendo que suas competências são hauridas do texto constitucional. Dentro da Administração Direta, encontram-se os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Administração Indireta
 Os entes da Administração Indireta são criados pelos entes da Administração Direta. Contudo, para tanto, é necessária lei específica. Não existe hierarquia ou subordinação entre os entes da Administração Direta e Indireta, mas, sim, uma relação de vinculação. Por meio dessa vinculação, a Administração Direta exerce o controle finalístico ou supervisão ministerial (Tutela Administrativa), somente intervindo em caso de fuga de finalidade.
Administração Indireta
Os entes da Administração Indireta possuem autonomia administrativa e financeira, mas não possuem capacidade política (não podem legislar). São pessoas jurídicas de direito privado (salvo as autarquias, que são de direito público). Não existe hierarquia ou subordinação entre os entes da Administração Direta e Indireta, mas, sim, uma relação de vinculação. Por meio dessa vinculação, a Administração Direta exerce o controle finalístico ou supervisão ministerial (Tutela Administrativa), somente intervindo em caso de fuga de finalidade.
Administração Indireta em Espécie
Encontramos a forma de criação na Constituição Federal, Art. 37: “XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação.”
Autarquias
As autarquias são pessoas jurídicas de direito público, criadas diretamente por lei específica. Possuem capacidade de autoadministração, desempenham serviços públicos de maneira descentralizada e possuem patrimônio próprio. Elas têm personalidade jurídica de direito público (seus bens são considerados públicos,sua responsabilidade civil é objetiva etc.). Exemplos: INSS e Banco Central.
Fundação Pública
É a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para o desenvolvimento de atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de direção, e funcionamento custeado por recursos da União e de outras fontes. 
 Caso uma Fundação Pública seja de direito público, ela na verdade será uma autarquia (fundação autárquica ou autarquia fundacional). A sua criação é autorizada por lei. Ela depende do registro dos seus atos constitutivos para que exista no mundo jurídico e terá seu campo de atuação definido em lei complementar. » Exemplo: Biblioteca Nacional e FUNAI.
Empresa Pública e Sociedade de Economia Mista
 São pessoas jurídicas de direito privado que têm sua criação autorizada pela lei (dependem de inscrição de seus atos constitutivos no registro competente para que adquiram personalidade jurídica). Elas têm como finalidade a prestação de serviços públicos ou a exploração de atividades econômicas.
 Quando estiverem prestando serviços públicos, possuirão algumas características próprias de direito público, como responsabilidade civil objetiva. Os bens ligados diretamente à prestação do serviço público serão considerados públicos, e seus débitos judiciais serão pagos mediante precatórios. Elas adotam o regime de pessoal celetista (empregados públicos). 
 Se forem exploradoras de atividade econômica, não terão direito a benefícios não extensíveis à iniciativa privada, respondendo subjetivamente pelos danos causados pelos seus agentes.
Diferenças:
Empresa Pública
 ˃ Seu capital é 100% público.
 ˃ Podem adotar qualquer forma societária
 ˃ Exemplos: Caixa Econômica Federal e Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
Sociedade de Economia Mista
 ˃ Capital misto, mas deve prevalecer o capital público (no mínimo, 50% + 1 ação nas mãos do Poder Público - ele deve manter o controle acionário). 
˃ Constituídas apenas na forma de Sociedade Anônima. 
˃ A competência para apreciar suas ações será sempre da Justiça Estadual nas ações sujeitas à Justiça Comum (ainda que se trate de uma SEM federal). 
˃ Exemplos: Banco do Brasil e Petrobras.
Órgãos Públicos
Os órgãos públicos constituem um feixe despersonalizado de competências. Eles não possuem personalidade jurídica, tratando-se de uma divisão interna das competências de uma pessoa jurídica da Administração Pública (direta ou indireta).
Principais Características dos Órgãos Públicos
→ Localizam-se dentro da estrutura de uma pessoa jurídica da Administração Pública (direta ou indireta).
→ Não possuem personalidade jurídica
˃ Não possuem patrimônio próprio (o patrimônio pertence à pessoa jurídica da qual fazem parte da estrutura). ˃ Não possuem capacidade processual (em regra, pois os órgãos independentes e autônomos podem utilizar-se do mandado de segurança para defesa de suas prerrogativas funcionais).
» São fruto de desconcentração administrativa.
 » Sua criação e extinção somente podem ser feitas por lei. 
» São hierarquizados. 
» Podem celebrar contrato de gestão:
“CF - Art. 37, § 8º “A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou entidade(...)”
Teoria do Órgão
 A pessoa jurídica manifesta sua vontade por meio de seus órgãos públicos, sendo que os agentes públicos, por sua vez, manifestam a vontade dos órgãos públicos. Dessa forma, essa atuação é imputada à pessoa jurídica à qual o órgão público pertence (relação de imputação).
Classificações
Quanto à Posição Estatal 
→ Órgãos Independentes 
˃ Trata-se do mais alto escalão do poder público. Não estão subordinados a outros órgãos ocupados por agentes políticos. Sua competência é haurida diretamente do texto constitucional. 
» Exemplos: Presidência da República, Câmara dos Deputados, Senado Federal e Tribunais.
Órgãos Autônomos
 ˃ Embora estejam hierarquizados aos órgãos independentes, eles possuem uma ampla autonomia administrativa, financeira e técnica. São órgãos diretivos. 
» Exemplos: Ministérios e Secretarias.
Órgãos Superiores 
˃ São órgãos de direção, chefia, controle e decisão. Possuem uma reduzida autonomia (apenas autonomia técnica, não possuindo autonomia administrativa ou financeira)
» Exemplos: coordenadorias e gabinetes.
Órgãos Subalternos 
˃ São órgãos de mera execução. Possuem um reduzido poder decisório
. » Exemplos: seções de expediente ou de materiais.
Quanto à Estrutura 
→ Órgão Simples ˃ Representam apenas um centro de competências, sem ramificações em outros órgãos, independentemente do número de cargos. 
→ Órgão Composto ˃ Sua estrutura é composta por diversos órgãos (ele se divide em outros órgãos).
Quanto à Sua Composição (ou Atuação Funcional) 
→ Órgãos Singulares (ou Unipessoais)
 ˃ As decisões são atribuições de um único agente.» Exemplo: Presidência da República. 
→ Órgãos Colegiados (ou Pluripessoais) ˃ As decisões são oriundas da manifestação de vontade de um conjunto de membros. » Exemplos: Câmara, Senado e Tribunais.
Quanto à Esfera de Ação
 → Órgãos Centrais ˃ São aqueles que exercem suas atribuições em todo o território nacional, estadual, distrital ou municipal (dependo de qual esfera pertence). » Exemplos: Ministérios e Secretarias. 
→ Órgãos Locais ˃ Possuem competência para exercer suas atribuições em apenas parte do território. » Exemplos: delegacias e postos de saúde.
Centralização, Descentralização, Concentração e Desconcentração
Centralização Administrativa
 A centralização administrativa ocorre quando a Administração Pública Direta presta os serviços públicos diretamente, por meio de seus órgãos e agentes.
Descentralização Administrativa
A descentralização administrativa é uma técnica administrativa em que a Administração Direta transfere a atividade administrativa, serviço ou obra pública para outras pessoas (Administração Indireta ou para um particular). 
 Quando feita para a Administração Indireta, temos a descentralização por serviços (por outorga, material ou funcional), sendo transferida, nessa hipótese, tanto a execução dos serviços públicos como também a titularidade dos mesmos (prevalece que a titularidade somente pode ser transferida para pessoas jurídicas de direito público). 
 Ao descentralizar para um particular (concessionários, permissionários e autorizatários), temos a transferência apenas da execução dos serviços públicos, permanecendo a titularidade dos mesmos com a Administração Pública. Nesses casos temos, a descentralização por delegação (ou por colaboração)
 Na descentralização, não existe subordinação ou hierarquia. O ente da Administração Indireta fica vinculado aos fins para o qual foi criado, em relação à pessoa jurídica da Administração Direta que o criou. Já em relação ao particular, a Administração irá apenas fiscalizar a execução desses serviços, mas também sem vínculo de natureza hierárquica.
Concentração e Desconcentração Administrativa 
Técnica de subdivisão de órgãos públicos para que melhor desempenhem o serviço público ou atividade administrativa. Somente ocorre na Administração Direta ou Indireta, pois particulares não podem criar órgãos públicos.
 Diferentemente da descentralização, a desconcentração é uma situação marcada pela existência de hierarquia e de subordinação, não havendo a criação de uma nova pessoa jurídica.

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