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Um enfermeiro foi nomeado para a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de um munícipio de médio porte. Ao assumir a SMS, solicitou um diagnóstico geral da situação de saúde dos habitantes do município, que seria apresentado em reunião com profissionais da saúde e do Conselho Municipal de Saúde. O diagnóstico de saúde revelou as seguintes situações: RMM (razão de mortalidade materna) = 92/100.000 NV (nascidos vivos); CMI (coeficiente de mortalidade infantil) = 30/1.000 NV; ausência de registro de casos de hanseníase e tuberculose. Durante a reunião, alguns profissionais se pronunciaram para complementar as informações necessárias à gestão da SMS. A enfermeira coordenadora do Programa Saúde da Família (PSF) informou a existência de 15 equipes de saúde da família (10 completas e 5 incompletas) e os problemas relacionados à alta rotatividade dos profissionais médicos, o que gerava conflitos na organização e atribuições dos membros das equipes. O presidente do Conselho Municipal de Saúde reivindicou a construção de mais Unidades Básicas de Saúde da Família, pois, devido às características geográficas do município, em algumas áreas, era difícil o acesso da população. Ficou decidido, ao final da reunião, que o primeiro passo seria uma nova territorialização do município. Considerando a situação hipotética apresentada, faça o que se pede nos itens a seguir. a) Enumere os passos a serem seguidos para a realização da territorialização e do diagnóstico situacional do município. b) Entre os problemas de saúde apontados, escolha dois e trace um plano de intervenção para resolvê-los. Curso de Graduação em Enfermagem (5º/6º Período) Disciplina: Práticas Gerenciais em Saúde Coletiva Profa. Dra. Kitéria Ribeiro Ferreira Profa. Dra. Patricia Stella Silva Sampaio Introdução teórica: Territorialização e Estratégia Saúde da Família Em 1994, o Programa Saúde da Família (PSF) foi proposto pelo Ministério da Saúde do Brasil como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial vigente no País, fundamentado no trabalho de equipes multiprofissionais em Unidades Básicas de Saúde. (UBS), atuando conforme os preceitos do Sistema Único de Saúde (SUS) (PEREIRA e BARCELLOS, 2006; SANTOS e RIGOTTO, 2011). A Estratégia Saúde da Família (ESF) diferencia-se do modelo hegemônico médico- hospitalocêntrico em função de diferenças marcantes: incorporação do conceito de saúde como qualidade de vida e defesa da prestação de serviços de saúde como um direito de cidadania; concentração das ações na coletividade, inserção do indivíduo nesse contexto, com centro na atenção integral à saúde por meio de ações de promoção à saúde, à proteção, à cura e à recuperação de doenças; hierarquização da rede de atendimento em níveis de atenção primária, secundária e terciária, articulados entre si e coordenados pela atenção básica; distribuição dos serviços de saúde no território dos municípios, possibilitando o acesso da população à atenção à saúde; predomínio da intervenção por equipe multidisciplinar, com planejamento e programação pautados em dados epidemiológicos, priorizando famílias ou grupos com maior risco de adoecer ou de morrer; estímulo à participação comunitária; e trabalho embasado na organização da demanda e no acolhimento dos problemas da população adscrita (SANTOS e RIGOTTO, 2011). A ESF representa o estabelecimento de vínculos e de corresponsabilização da equipe de saúde e da comunidade, centra-se na família como objeto de atuação e intervenção, compreendida em seu contexto relacional com o ambiente em que vive e responsabiliza-se pelas ações sanitárias de uma população adscrita, além de alicerçar suas práticas de saúde para o território (PEREIRA e BARCELLOS, 2006; SANTOS e RIGOTTO, 2011). A territorialização constitui um dos pressupostos básicos da ESF, haja vista que a unidade operacional do Agente Comunitário de Saúde (ACS), definida como microárea, é formada por um conjunto de famílias residentes em uma região delimitada, enquanto a área de atuação da equipe é formada pelo conjunto de microáreas (BRASIL, 2012). Portanto, o trabalho da ESF está fundamentado no território. De acordo com Pereira e Barcellos (2006), o território define um espaço político- operativo do sistema de saúde, caracterizando-se por uma população específica e vivendo em tempo e espaço determinados, com problemas de saúde definidos. Desse modo, o território apresenta um perfil demográfico, epidemiológico, administrativo, tecnológico, político, social e cultural ímpar. Também é resultado da acumulação de situações históricas, ambientais e sociais que promovem condições particulares para a produção de doenças. O reconhecimento do território é um passo fundamental para a caracterização da população e de seus problemas de saúde, bem como para a avaliação do impacto dos serviços sobre os níveis de saúde dessa comunidade (PEREIRA e BARCELLOS, 2006). Nesse sentido, para garantir a qualidade da assistência à saúde no território, os profissionais de saúde atuantes na ESF devem, entre outras ações: participar do processo de territorialização e mapeamento da área de atuação da equipe, identificando as famílias e os indivíduos expostos a riscos; cadastrar as famílias e indivíduos no sistema de informação e atualizar esse cadastramento; realizar o cuidado da saúde da população adscrita, considerando suas necessidades de saúde; fazer busca ativa e notificar as doenças e agravos de notificação compulsória no território; e realizar reuniões de equipes para a discussão, planejamento, acompanhamento e avaliação das ações da equipe (BRASIL, 2011). Portanto, a realização do diagnóstico situacional e a elaboração de um plano de ação fundamentado nos determinantes de saúde da população adscrita são elementos primordiais para que os gestores em saúde e os profissionais da ESF atuem de modo resolutivo, impactando positivamente na situação de saúde das pessoas e da coletividade. A ESF integra uma proposta de reestruturação dos serviços de saúde no Brasil, com ênfase no cuidado à família e à comunidade, por meio de uma abordagem coletiva, multi e interprofissional. Nesse sentido, o enfermeiro, profissional integrante da equipe de saúde que compõe a ESF, em função da sua capacidade e da sua habilidade para compreender o ser humano como um todo, assistindo integralmente ao indivíduo, à família e à comunidade, apresenta expressivo potencial para colaborar na construção e no aprimoramento desse novo paradigma assistencial e para possibilitar a efetivação de estratégias mais eficazes e resolutivas no cuidado em saúde.
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