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Monografia LESÕES EM CORRIDAS DE RUA - Definida

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Vanderlei Carlos Severiano 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LESÕES EM CORRIDAS DE RUA – PRINCIPAIS FATORES DE RISCO E 
PREVENÇÃO DAS LESÕES MAIS COMUNS 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2017 
Vanderlei Carlos Severiano 
 
 
 
 
LESÕES EM CORRIDAS DE RUA – PRINCIPAIS FATORES DE RISCO E 
PREVENÇÃO DAS LESÕES MAIS COMUNS 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado à banca 
examinadora da Universidade 
Estadual Paulista (UNIP), como 
condição parcial para obtenção do 
título de Especialista em Fisiologia 
do Exercício. 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2017 
SUMÁRIO 
1. Introdução .............................................................................................................6 
2. Revisão da literatura ............................................................................................8 
 2.1 Corridas de Rua ..............................................................................................8 
 2.2 Lesões .............................................................................................................9 
 2.3 Fatores de riscos .......................................................................................... 10 
 2.4 Prevenção .................................................................................................... 12 
 2.5 Experiência profissional (observação de casos) .......................................... 12 
3. Conclusão .......................................................................................................... 15 
4. Referências bibliográficas ................................................................................ 16 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
O artigo visa a realizar uma revisão bibliográfica sobre lesões em corredores de 
longas distâncias, a fim de compará-las com a experiência profissional do autor, 
treinador de maratonistas e ultramaratonistas desde 1980. Para tanto, além da 
consulta a fontes secundárias, foi realizado um levantamento de dados reunidos ao 
longo de sete anos na forma de planilhas, relatórios de feedback, entrevistas em 
profundidade, relatórios de treinadores e colaboradores. Os resultados permitem 
concluir que Neuroma de Morton, lesões cardíacas e a falta de tempo de adaptação 
ainda não recebem uma atenção especializada correspondente à sua importância, 
considerada a frequência com que ocorrem e o impacto negativo que provocam não 
apenas na performance dos atletas, mas na qualidade de vida dos mesmos. 
Palavras-chave: corridas de rua; lesões; ultramaratona; prevenção. 
ABSTRACT 
The article aims to carry out a literature review on injuries in long distance runners, in 
order to compare them with the professional experience of the author as coach for 
marathon runners and ultramarathon runners since 1980. In addition to consulting 
secondary sources, a Data collection gathered over seven years in the form of 
spreadsheets, feedback reports, in-depth interviews, reports from coaches and 
collaborators. The results allow us to conclude that Morton’s neuroma, cardiac 
lesions and the lack of adaptive time still do not receive specialized attention 
corresponding to their importance, considering the frequency with which they occur 
and the negative impact they cause not only on the performance of the athletes, but 
also on their quality of life. 
Keywords: street running; injuries; ultramarathon; prevention 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
1. INTRODUÇÃO 
Nos últimos anos, o aumento da prática de atividades esportivas pela 
população brasileira trouxe uma série de novos desafios para os profissionais de 
saúde e de educação física. Entre esses desafios, é possível citar a necessidade de 
consolidar uma cultura preventiva de conscientização junto a corredores amadores 
de perfis bastante diversos. Por se tratar de uma prática que combina fatores 
recreativos ao desenvolvimento progressivo de força e resistência, além de outras 
habilidades e resultados físicos que contribuem muito com a aquisição de uma boa 
autoestima, a corrida de rua ocupa, hoje, um lugar de destaque entre os esportes 
mais procurados por pessoas das mais variadas idades e estilos de vida. Empresas 
responsáveis pela criação de materiais esportivos voltados à corrida, bem como 
promotores de eventos, a imprensa especializadas e profissionais de equipes de 
corrida constituem grupos de interesse que mobilizam esforços e recursos cada vez 
mais significativos para conquistar o interesse e orientar práticas de consumo de 
produtos e serviços junto a essas pessoas. Entretanto, em meio a esse complexo 
conjunto de interesses mercadológicos, cabe a profissionais e pesquisadores da 
área de Fisiologia do Exercício buscar identificar os fatores mais comuns que 
provocam lesões e os tipos de lesões mais comuns que afetam os corredores de rua 
amadores, de modo a orientar e proteger esses praticantes, valorizando sua saúde e 
bem-estar em primeiro lugar. 
Considerando o contexto acima exposto, o objetivo principal desse artigo é 
identificar os principais fatores causadores de lesões e os principais tipos de lesões 
que acometem corredores de rua amadores envolvidos em ciclos de treinamento 
voltados especificamente para a realização de maratonas. Tal recorte justifica-se 
pelo fato de as maratonas serem provas psicologicamente e fisicamente muito 
exigentes, que demandam condicionamento específico, disciplina e uma 
disponibilidade de tempo bastante generosa, resultando em uma postura 
disciplinada e comprometida por parte do atleta, o que faz dessa modalidade de 
prova um símbolo de conquista e de desejo muito forte entre os corredores 
amadores. Assim, mesmo que muitos corredores jamais venham a realizar 
maratonas completas, com seus 42 quilômetros, 195 metros, tais corridas são 
consideradas um símbolo muito valorizado de esforço e superação, merecendo 
7 
 
interesse especial por parte de pesquisadores de diferentes áreas. Hoje, a 
tecnologia, as ciências e o design modificaram as condições de preparação, 
treinamento, execução e a cobertura midiática voltada às maratonas. Desse quadro, 
decorre uma urgente necessidade de atualização dos dados referentes à 
performance física dos maratonistas amadores, a fim de que se possa determinar 
com maior precisão quais desses novos incrementos vêm, de fato, contribuir e quais 
são aqueles que podem atrapalhar ou mesmo inviabilizar a prática longeva da 
corrida entre esses corredores. 
Entre as fontes consultadas para o levantamento de dados concernente a esse 
artigo, encontram-se artigos pregressos, bem como depoimentos de alunos e 
colaboradores diretos do autor em sua trajetória profissional que, já há mais de trinta 
anos, se mistura com a própria história do atletismo no Brasil. Dessa forma, é 
possível dizer que os métodos de pesquisa empregados passam da revisão de 
bibliografia especializada (método hipotético-dedutivo, no qual as premissas teóricas 
e resultados preliminares anteriores são apresentados e, depois, utilizados para 
amparar conclusões autorais) à coleta e apresentação de informações por 
amostragem qualitativa (método indutivo). 
Na primeira parte do artigo, a revisão bibliográfica será apresentada. Já na 
segunda seção, os pressupostos teóricos mais importantes serão destacados e 
relacionados ao trabalho de observação do autor. Finalmente, na terceira e última 
parte, as conclusões deste estudo serão apresentadas. 
 
 
 
 
 
 
8 
 
2. REVISÃO DA LITERATURA 
2.1 Corridas de Rua 
Segundo autores como Mattson1 (2012), e baseando-se principalmente no já 
histórico artigo de Dennis M. Bramble & Daniel E. Lieberman2, é possível afirmar que 
hoje existem evidências muito fortes de que o corpo humano possui adaptações 
específicas para o deslocamento por meio da corrida, o que indica que não houve 
um momento da história da humanidade em quenosso organismo, por princípio 
genético de suas características, não estivesse plenamente apto a desempenhar o 
ato de correr adequadamente. Essas evidências fisiológicas são reforçadas ainda 
mais quando se realiza cuidadosa revisão histórica e se descobre, por meio de 
relatos como os de Mc Dougall (2010), que o ser humano sempre organizou eventos 
e promoveu competições e festividades onde a corrida representou importante papel 
recreativo, religioso, cívico e político, além dos comprovados benefícios à saúde 
que, segundo Moraes (2015,apud PILEGGI et al., 2010; Ishida et al., 2013), incluem 
a prevenção e o tratamento de doenças crônicas como hipertensão arterial, diabetes 
mellitus tipo 2, obesidade, osteopenia, osteoporose, hipercolesterolemia, 
insuficiência cardíaca, entre outras. Nos últimos 200 anos, os ditames do capitalismo 
orientaram as práticas atléticas de modo a transformá-las pouco a pouco em 
atividades lucrativas, pensadas e executadas dentro dos princípios e valores de 
mercado. Surgem, assim, as competições esportivas como negócios que vão da 
profissionalização da prática esportiva de alto desempenho ao estabelecimento de 
calendários para a organização de corridas de rua no Brasil (DALLARI, 2009). 
Segundo Gonçalves (2007), em 2007, organizavam-se cerca de 100 corridas 
de rua no país. Hoje, seguramente, esse número cresceu vertiginosamente. 
Segundo reportagem do Estado de S. Paulo3, baseando-se em números obtidos 
junto à Federação Paulista de Atletismo, só em São Paulo, o número de corridas de 
rua alcançou, em 2016, a incrível marca de 469 provas, com uma estimativa de 820 
 
1
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3356485/ (acesso em 09/08/2017) 
2
https://www.nature.com/nature/journal/v432/n7015/full/nature03052.html (acesso em 09/08/2017) 
3
http://esportes.estadao.com.br/noticias/geral,corrida-de-rua-cresce-cada-vez-mais-no-pais-e-atrai-legiao-de-
fas,70001815545 (acesso em 09/08/2017) 
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3356485/
https://www.nature.com/nature/journal/v432/n7015/full/nature03052.html
http://esportes.estadao.com.br/noticias/geral,corrida-de-rua-cresce-cada-vez-mais-no-pais-e-atrai-legiao-de-fas,70001815545
http://esportes.estadao.com.br/noticias/geral,corrida-de-rua-cresce-cada-vez-mais-no-pais-e-atrai-legiao-de-fas,70001815545
9 
 
mil participantes. Em agosto de 2017, o site “Corridas em São Paulo”4 informava 09 
corridas com distâncias iguais ou superiores a 40km apenas no estado de SP a 
serem realizadas entre agosto e dezembro. A maioria absoluta dos inscritos é 
composta por corredores amadores com perfis diversos e, entre os autores e 
autoridades ouvidas para a produção deste artigo, é consenso a consideração de 
que a esse aumento de participantes corresponde um aumento preocupante do 
número de lesões. 
2.2 Lesões 
De acordo com Hullemann (1978, apud FEITOSA; MARTINS JÚNIOR, 2000, 
p.139), Espanha (1989, idem, p. 139) e Horta e Custódio (1991, ibidem, p. 139), o 
termo “lesão” refere-se a “traumatismos e ferimentos que ocorrem com regularidade 
nos esportes” e também pode definir “uma anomalia física que impede o bom 
desempenho de um indivíduo ou impede a sua prática esportiva”. Os autores 
complementam informando que lesões podem ocorrer em qualquer fase da atividade 
e geralmente relacionam-se à realização de movimentos de repetição. Assim, no 
caso das corridas de rua, e ainda baseando-se nos autores citados acima, é 
possível afirmar que as lesões específicas dessa prática“ são condicionadas 
por traumatismos de repetição das estruturas osteotendinosas dos membros 
inferiores e da coluna vertebral, resultando em fraturas de fadiga, além de lesões 
dos tecidos moles” (FEITOSA; MARTINS JÚNIOR, 2000). 
Walker (2011, apud CABRAL et al., 2016), afirma que as principais lesões 
encontradas em corredores de longas distâncias são a disfunção dos músculos 
flexores do quadril, a osteíte púbica, fraturas por estresse, síndrome do piriforme, 
tendinite do iliopsoas, bursite trocantérica, síndrome do trato iliotibial, tendinite do 
quadríceps, síndrome patelofemoral, tendinite patelar, distensão muscular da 
panturrilha, tendinite do tendão do calcâneo, síndrome da dor tibial medial (canelite), 
tendinite do fibular, bursite retro calcânea e neuroma de Morton. 
Segundo Cabral et al. (2015), 
Diversas evidências indicam que o treinamento regular de corrida está 
associado à melhora na sensibilidade à insulina, reduções na quantidade de gordura 
 
4
http://www.corridasbr.com.br/sp/calendario.asp (acesso em 09/08/2017) 
http://www.corridasbr.com.br/sp/calendario.asp
10 
 
corporal e concentrações de triglicerídeos, LDL e colesterol total, aumentos de 
massa magra e óssea, potência aeróbica e capacidade antioxidante, redução de 
pressão arterial pós-exercício e como conseqüência dos fatores citados, melhora na 
qualidade de vida, porém, apesar de todos os efeitos benéficos, tem-se observado 
uma elevada incidência de lesões, sobretudo em membros inferiores (PILEGGI etal., 
2010). Tendo em vista a grande incidência de lesões na corrida, percebe-se que a 
prevenção primária de lesões requer previamente a identificação dos fatores de risco 
aos qual uma população é exposta (PILEGGI et al., 2010). 
Assim, diante dessa necessidade de identificação, passa-se à realização de 
revisão bibliográfica cujo objetivo é definir os principais fatores de risco e as 
principais formas de prevenção para lesões em corridas de longa distância. 
2.3 Fatores de risco 
Segundo Cosialls etal. (2016), estudos progressivos têm identificado 
crescimento no número de lesões que, entre outras causas, podem estar associadas 
a desequilíbrios nos músculos do joelho. Para chegar a essa conclusão, os autores 
realizaram um estudo bibliográfico e compararam as observações encontradas com 
um estudo próprio, no qual vinte atletas foram avaliados com uso de um 
dinamômetro computadorizado isocinético. Ao final do período de três meses de 
avaliação, os autores concluíram que foi encontrada associação entre o pico de 
torque avaliado nas velocidades de 60, 180 e 300o/s com o surgimento de lesões 
em corredores de longa distância. A taxa de incidência de lesões foi de 21% e a 
região do corpo mais acometida foi a articulação femoro tibio patelar. Os resultados 
deste estudo corroboram os estudos existentes na literatura (COSIALLS et al., 
2016). 
Essas conclusões podem ser associadas ao entendimento de Bento et al. 
(2014), que realizaram um estudo transversal com aplicação de questionários junto a 
220 corredores de rua amadores a fim de verificar frequência de lesões desportivas 
e cutâneas e esclarecem que as principais lesões relatadas foram dor no joelho 
(30,4%), distensão/estiramento muscular (16,7%), tendinites (10,1%), dor nos 
quadris (7,3%) e dor na coluna (7%), sem diferenças estatísticas entre os gêneros. 
Houve associação significativa entre quilômetros percorridos em treino e lesões 
11 
 
musculares nos homens (p = 0,0477, x = 9,60). O calçado esportivo teve relação 
com presença de unhas encravadas e perdas ungueais nas mulheres. (...)Os 
homens apresentaram maior frequência de lesões musculares e as mulheres, de 
afecções cutâneas e ungueais (BENTO et al., 2014). 
Ainda de acordo com esse estudo, foi percebido que as causas principais das 
lesões musculares e esqueléticas identificadas envolvem “erros de técnica, 
alongamento e aquecimento insuficientes, equipamentos inadequados, falta de 
acompanhamento médico” (idem) enquanto as lesões cutâneas podem ocorrer em 
conjunto com os danos ortopédicos, geralmente resultantes de traumas, infecções, 
exacerbações de condições pré-existentes e fatores ambientais, como a exposição à 
luz solar, a constante fricção da pele contra os materiais de treino (calçados e 
vestuário) e o impactono solo. Nos praticantes de esporte ao ar livre tem sido 
relatados hematomas, escoriações, eritema, edema, bolhas e queimaduras na pele 
decorrente da exposição ambiental desprotegida e aos micros traumas causados 
pelo atrito dos calçados, roupas e demais equipamentos. O ar frio, névoas, garoa, 
chuva e a poluição ambiental, além da radiação ultravioleta, podem isolados ou 
simultaneamente provocar reações cutâneas irritativas, inflamatórias e neoplásicas. 
Durante a corrida, o suor gera aumento da perda transepidérmica de água tornando 
a pele mais ressecada e vulnerável a riscos e danos, podendo apresentar amplo 
espectro clínico de lesões iniciadas, mantidas ou agravadas pelo esporte (ibidem). 
No artigo consultado, os autores esclarecem também quais dermatoses podem 
provocar lesões músculo esqueléticas, pois criam desajustes no posicionamento 
corporal devido às sobrecargas sobre os pés e à influência sobre fatores 
ergonômicos como força, repetitividade, posturas inadequadas e compressão 
mecânica. Entretanto, advertem também para o fato de que a literatura disponível é 
inconclusiva sobre a relação entre aumento de treino, aumento de participações em 
provas e aumento de lesões, uma vez que estudos de pesquisadores diferentes, 
como Yeung e Yeung (2001) e Pazin et al. (2008),levam a resultados contraditórios. 
Após extensa revisão bibliográfica, Cabral et al. (2015) informam que os principais 
fatores de risco de lesões musculoesqueléticas em corredores são a má 
periodização, o excesso de treino (overuse), a dor, excessiva pronação e supinação 
do pé, um grande valor do ângulo Q, pés varos, valgos ou planos, desigualdade 
estrutural média de membros inferiores, fatores biomecânicos associados, pisos 
irregulares, calçados e roupas inapropriados, distúrbios do sono, alterações de 
12 
 
humor, mudanças de apetite, desmotivação, letargia e infecções, além de acréscimo 
na frequência cardíaca de repouso. 
 
2.4 Prevenção 
 
Entre os métodos preventivos destacados pelos autores pesquisados, 
encontram-se práticas relativamente simples e amparadas pelo puro bom senso, 
como a consulta a profissionais especializados para a escolha de um tênis 
adequado, mas mesmo esse aconselhamento pode não ser tão simples, uma vez 
que especialistas vêm discordando sobre as características preferenciais de um 
tênis adequado à prática da corrida de longa distância e alguns até mesmo vêm 
questionando os efeitos dos tênis no desempenho atlético (WARBURTON, 2001; 
MAGNESS, 2010). 
Cabral et al. (2016) esclarecem que os modos de prevenção fundamentais 
mais citados na literatura especializada são: o aquecimento, roupas e calçados 
apropriados, bons hábitos alimentares, hidratação, acomodações desportivas 
apropriadas, busca de orientações antes do início de qualquer prática de atividade 
física, avaliação postural, avaliação da composição corporal, testes de mobilidade 
articular, testes de campo, avaliação da pisada, histórico de lesões, ritmo, 
treinamento periodizado, intervalo de descanso, além de conhecer os fatores de 
risco. 
Já pesquisadores como Cabiedes et al. (2016) reforçam a importância de 
procedimentos mais específicos, como planejamento nacional integrado entre 
grupos de treinadores e uso de períodos de treinamento em altas altitudes para 
melhorar o desempenho de corredores de longa distância e alta performance. 
 
2.5 Experiência profissional (observação de casos) 
O autor deste artigo trabalha como treinador de atletas profissionais e 
amadores desde 1980, quando iniciou sua carreira como instrutor na Escola de 
Educação Física da Polícia Militar de São Paulo, a primeira escola de educação 
física do Brasil, fundada em 1910. Desde então, realizou treinamento para 
esportistas de variadas modalidades, de judocas a pilotos de automobilismo, além 
13 
 
de ter trabalhado durante oito anos com deficientes físicos, mentais e pessoas com 
problemas de adicção. 
Em 1994, associou-se ao Doutor Milton Mizumoto, reconhecida autoridade nas 
áreas de Nutrologia e Medicina do Esporte e, desde 2000, tornou-se dono de sua 
própria assessoria esportiva, Branca Esportes. No papel de principal coordenador de 
sua equipe de treinadores, é responsável, hoje e já há pelo menos sete anos, pelo 
treinamento de cerca de 230 corredores associados com os mais diversos perfis e 
objetivos dentro da prática esportiva. 
Desde o final da década de 90, vem treinando centenas de corredores de 
longas distâncias e calcula já ter acompanhado e treinado mais de 300 
ultramaratonistas, o que lhe permitiu reunir e analisar uma extensa quantidade de 
dados sobre lesões, além de testar e implementar uma série de técnicas 
preventivas. Hoje, seu principal foco profissional é entender as dores provocadas 
pelas atividades físicas. 
De acordo com a documentação de acompanhamento levantada (planilhas, 
relatórios de feedback, entrevistas em profundidade, relatórios de treinadores e 
colaboradores), entre os ultramaratonistas treinados pela assessoria Branca 
Esportes, as lesões mais comuns ocorrem nos joelhos. Além dessa, são frequentes 
também os casos de Neuroma de Morton, bolhas (lesões cutâneas que acarretam 
problemas posturais e podem levar a lesões musculares) e problemas cardíacos 
resultantes da prática excessiva de exercícios de resistência, observação 
respaldada por estudos como O’Keefe et al. (2012)5. 
O autor entende que, entre as principais causas contemporâneas para a 
ocorrência desse tipo de lesões, é possível destacar a ansiedade dos atletas em 
querer pular etapas adaptativas e buscar resultados em provas de longa distância 
muito pouco tempo depois de se iniciarem na corrida. Essa mesma ansiedade, 
embalada por expectativas de desempenho irreais e potencializada pela falta de 
orientação profissional adequada, também leva os atletas a subestimar ou 
desconsiderar importantes sinais corporais de dor e fadiga. 
Entre as técnicas preventivas mais bem-sucedidas junto aos corredores de 
longa distância da assessoria, encontra-se a realização de treinos específicos, mas 
periodizados, a prática de modalidades físicas complementares como parte do 
 
5
http://www.mayoclinicproceedings.org/article/S0025-6196(12)00473-9/abstract (acesso em 27/08/2017) 
14 
 
treinamento (natação, pilates, ginástica funcional, artes marciais, ioga, ciclismo) e a 
participação em provas que servem como treinos especiais, além do uso frequente 
dos canais de comunicação digitais para garantir uma alta frequência e 
detalhamento de feedbacks. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
3. CONCLUSÃO 
Apesar da experiência profissional do autor apresentar, em grande medida, 
resultados comparativos compatíveis com a extensa variedade de estudos sobre 
lesões em corredores de longa distância foram percebido que alguns tipos de 
lesões, como o Neuroma de Morton e os problemas cardíacos decorrentes da 
prática constante de corridas de longa distância, ainda não recebem uma atenção 
especializada correspondente à sua importância, considerada a frequência com que 
ocorrem e o impacto negativo que provocam não apenas na performance dos 
atletas, mas na qualidade de vida dos mesmos. 
Já as técnicas preventivas descritas na literatura revisada de modo geral 
incluem procedimentos específicos bastante coerentes com os resultados práticos 
observados pelo autor ao longo de seus trinta e sete anos dedicados ao treinamento 
de atletas. Entretanto, vale destacar a necessidade de a produção acadêmica na 
área da fisiologia do exercício considerar cada vez mais os comportamentos atuais 
que se desenvolvem como resultado de valores, estilos de vida e interesses 
contemporâneos nem sempre bem sintonizados com algumas exigências da prática 
esportiva e que acabam comprometendo a formação de uma mentalidade que 
respeita os períodos de adaptação do corpo a provas mais longas e exigentes.16 
 
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
BENTO, Paulo C. B. et al. Lesões desportivas e cutâneas em adeptos de corrida 
de rua. Revista Brasileira de Medicina do Esporte vol.20 no.4 São Paulo 
Julho/Agosto 2014. 
CABIEDES, Sergio R. C et al. Formation of middle and long distance junior 
runners of the Ecuador’s Andean region. EFDeportes.com, Revista Digital. 
Buenos Aires, Ano 21, Nº 219, Agosto de 2016. 
CABRAL, Celina R. Fatores de risco e prevenção das lesões 
musculoesqueléticas em praticantes de corrida. Revisão de literatura. 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 20, Nº 207, Agosto de 2015. 
 
COSIALLS, Hernandez et al. Desequilíbrio muscular dos flexores e extensores 
do joelho associado ao surgimento de lesão musculo esquelética relacionada 
à corrida: um estudo de coorte prospectivo. Rev. Bras. Ciênc. Esporte vol.38 
no.1 Porto Alegre Janeiro/Março 2016. 
 
DALLARI, Martha M. Corrida de rua: um fenômeno sociocultural 
contemporâneo. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. 
 
GONÇALVES, Luciano B. Corrida de rua – qualidade de vida e desempenho. 
Trabalho de Conclusão de Curso. Unicamp, Campinas, 2007. 
 
MORAES, Mikael S. et al. Principales lesiones y factores de riesgo en 
corredores recreativos. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Ano 20 - 
Nº 206 - Julio de 2015. 
 
SOUZA, Ananda S. V. LESÕES EM CORREDORES DE RUA: UMA REVISÃO DE 
LITERATURA. Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 
UFMG, Belo Horizonte, 2011

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