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Vanderlei Carlos Severiano LESÕES EM CORRIDAS DE RUA – PRINCIPAIS FATORES DE RISCO E PREVENÇÃO DAS LESÕES MAIS COMUNS SÃO PAULO 2017 Vanderlei Carlos Severiano LESÕES EM CORRIDAS DE RUA – PRINCIPAIS FATORES DE RISCO E PREVENÇÃO DAS LESÕES MAIS COMUNS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca examinadora da Universidade Estadual Paulista (UNIP), como condição parcial para obtenção do título de Especialista em Fisiologia do Exercício. SÃO PAULO 2017 SUMÁRIO 1. Introdução .............................................................................................................6 2. Revisão da literatura ............................................................................................8 2.1 Corridas de Rua ..............................................................................................8 2.2 Lesões .............................................................................................................9 2.3 Fatores de riscos .......................................................................................... 10 2.4 Prevenção .................................................................................................... 12 2.5 Experiência profissional (observação de casos) .......................................... 12 3. Conclusão .......................................................................................................... 15 4. Referências bibliográficas ................................................................................ 16 RESUMO O artigo visa a realizar uma revisão bibliográfica sobre lesões em corredores de longas distâncias, a fim de compará-las com a experiência profissional do autor, treinador de maratonistas e ultramaratonistas desde 1980. Para tanto, além da consulta a fontes secundárias, foi realizado um levantamento de dados reunidos ao longo de sete anos na forma de planilhas, relatórios de feedback, entrevistas em profundidade, relatórios de treinadores e colaboradores. Os resultados permitem concluir que Neuroma de Morton, lesões cardíacas e a falta de tempo de adaptação ainda não recebem uma atenção especializada correspondente à sua importância, considerada a frequência com que ocorrem e o impacto negativo que provocam não apenas na performance dos atletas, mas na qualidade de vida dos mesmos. Palavras-chave: corridas de rua; lesões; ultramaratona; prevenção. ABSTRACT The article aims to carry out a literature review on injuries in long distance runners, in order to compare them with the professional experience of the author as coach for marathon runners and ultramarathon runners since 1980. In addition to consulting secondary sources, a Data collection gathered over seven years in the form of spreadsheets, feedback reports, in-depth interviews, reports from coaches and collaborators. The results allow us to conclude that Morton’s neuroma, cardiac lesions and the lack of adaptive time still do not receive specialized attention corresponding to their importance, considering the frequency with which they occur and the negative impact they cause not only on the performance of the athletes, but also on their quality of life. Keywords: street running; injuries; ultramarathon; prevention 6 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, o aumento da prática de atividades esportivas pela população brasileira trouxe uma série de novos desafios para os profissionais de saúde e de educação física. Entre esses desafios, é possível citar a necessidade de consolidar uma cultura preventiva de conscientização junto a corredores amadores de perfis bastante diversos. Por se tratar de uma prática que combina fatores recreativos ao desenvolvimento progressivo de força e resistência, além de outras habilidades e resultados físicos que contribuem muito com a aquisição de uma boa autoestima, a corrida de rua ocupa, hoje, um lugar de destaque entre os esportes mais procurados por pessoas das mais variadas idades e estilos de vida. Empresas responsáveis pela criação de materiais esportivos voltados à corrida, bem como promotores de eventos, a imprensa especializadas e profissionais de equipes de corrida constituem grupos de interesse que mobilizam esforços e recursos cada vez mais significativos para conquistar o interesse e orientar práticas de consumo de produtos e serviços junto a essas pessoas. Entretanto, em meio a esse complexo conjunto de interesses mercadológicos, cabe a profissionais e pesquisadores da área de Fisiologia do Exercício buscar identificar os fatores mais comuns que provocam lesões e os tipos de lesões mais comuns que afetam os corredores de rua amadores, de modo a orientar e proteger esses praticantes, valorizando sua saúde e bem-estar em primeiro lugar. Considerando o contexto acima exposto, o objetivo principal desse artigo é identificar os principais fatores causadores de lesões e os principais tipos de lesões que acometem corredores de rua amadores envolvidos em ciclos de treinamento voltados especificamente para a realização de maratonas. Tal recorte justifica-se pelo fato de as maratonas serem provas psicologicamente e fisicamente muito exigentes, que demandam condicionamento específico, disciplina e uma disponibilidade de tempo bastante generosa, resultando em uma postura disciplinada e comprometida por parte do atleta, o que faz dessa modalidade de prova um símbolo de conquista e de desejo muito forte entre os corredores amadores. Assim, mesmo que muitos corredores jamais venham a realizar maratonas completas, com seus 42 quilômetros, 195 metros, tais corridas são consideradas um símbolo muito valorizado de esforço e superação, merecendo 7 interesse especial por parte de pesquisadores de diferentes áreas. Hoje, a tecnologia, as ciências e o design modificaram as condições de preparação, treinamento, execução e a cobertura midiática voltada às maratonas. Desse quadro, decorre uma urgente necessidade de atualização dos dados referentes à performance física dos maratonistas amadores, a fim de que se possa determinar com maior precisão quais desses novos incrementos vêm, de fato, contribuir e quais são aqueles que podem atrapalhar ou mesmo inviabilizar a prática longeva da corrida entre esses corredores. Entre as fontes consultadas para o levantamento de dados concernente a esse artigo, encontram-se artigos pregressos, bem como depoimentos de alunos e colaboradores diretos do autor em sua trajetória profissional que, já há mais de trinta anos, se mistura com a própria história do atletismo no Brasil. Dessa forma, é possível dizer que os métodos de pesquisa empregados passam da revisão de bibliografia especializada (método hipotético-dedutivo, no qual as premissas teóricas e resultados preliminares anteriores são apresentados e, depois, utilizados para amparar conclusões autorais) à coleta e apresentação de informações por amostragem qualitativa (método indutivo). Na primeira parte do artigo, a revisão bibliográfica será apresentada. Já na segunda seção, os pressupostos teóricos mais importantes serão destacados e relacionados ao trabalho de observação do autor. Finalmente, na terceira e última parte, as conclusões deste estudo serão apresentadas. 8 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Corridas de Rua Segundo autores como Mattson1 (2012), e baseando-se principalmente no já histórico artigo de Dennis M. Bramble & Daniel E. Lieberman2, é possível afirmar que hoje existem evidências muito fortes de que o corpo humano possui adaptações específicas para o deslocamento por meio da corrida, o que indica que não houve um momento da história da humanidade em quenosso organismo, por princípio genético de suas características, não estivesse plenamente apto a desempenhar o ato de correr adequadamente. Essas evidências fisiológicas são reforçadas ainda mais quando se realiza cuidadosa revisão histórica e se descobre, por meio de relatos como os de Mc Dougall (2010), que o ser humano sempre organizou eventos e promoveu competições e festividades onde a corrida representou importante papel recreativo, religioso, cívico e político, além dos comprovados benefícios à saúde que, segundo Moraes (2015,apud PILEGGI et al., 2010; Ishida et al., 2013), incluem a prevenção e o tratamento de doenças crônicas como hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, obesidade, osteopenia, osteoporose, hipercolesterolemia, insuficiência cardíaca, entre outras. Nos últimos 200 anos, os ditames do capitalismo orientaram as práticas atléticas de modo a transformá-las pouco a pouco em atividades lucrativas, pensadas e executadas dentro dos princípios e valores de mercado. Surgem, assim, as competições esportivas como negócios que vão da profissionalização da prática esportiva de alto desempenho ao estabelecimento de calendários para a organização de corridas de rua no Brasil (DALLARI, 2009). Segundo Gonçalves (2007), em 2007, organizavam-se cerca de 100 corridas de rua no país. Hoje, seguramente, esse número cresceu vertiginosamente. Segundo reportagem do Estado de S. Paulo3, baseando-se em números obtidos junto à Federação Paulista de Atletismo, só em São Paulo, o número de corridas de rua alcançou, em 2016, a incrível marca de 469 provas, com uma estimativa de 820 1 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3356485/ (acesso em 09/08/2017) 2 https://www.nature.com/nature/journal/v432/n7015/full/nature03052.html (acesso em 09/08/2017) 3 http://esportes.estadao.com.br/noticias/geral,corrida-de-rua-cresce-cada-vez-mais-no-pais-e-atrai-legiao-de- fas,70001815545 (acesso em 09/08/2017) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3356485/ https://www.nature.com/nature/journal/v432/n7015/full/nature03052.html http://esportes.estadao.com.br/noticias/geral,corrida-de-rua-cresce-cada-vez-mais-no-pais-e-atrai-legiao-de-fas,70001815545 http://esportes.estadao.com.br/noticias/geral,corrida-de-rua-cresce-cada-vez-mais-no-pais-e-atrai-legiao-de-fas,70001815545 9 mil participantes. Em agosto de 2017, o site “Corridas em São Paulo”4 informava 09 corridas com distâncias iguais ou superiores a 40km apenas no estado de SP a serem realizadas entre agosto e dezembro. A maioria absoluta dos inscritos é composta por corredores amadores com perfis diversos e, entre os autores e autoridades ouvidas para a produção deste artigo, é consenso a consideração de que a esse aumento de participantes corresponde um aumento preocupante do número de lesões. 2.2 Lesões De acordo com Hullemann (1978, apud FEITOSA; MARTINS JÚNIOR, 2000, p.139), Espanha (1989, idem, p. 139) e Horta e Custódio (1991, ibidem, p. 139), o termo “lesão” refere-se a “traumatismos e ferimentos que ocorrem com regularidade nos esportes” e também pode definir “uma anomalia física que impede o bom desempenho de um indivíduo ou impede a sua prática esportiva”. Os autores complementam informando que lesões podem ocorrer em qualquer fase da atividade e geralmente relacionam-se à realização de movimentos de repetição. Assim, no caso das corridas de rua, e ainda baseando-se nos autores citados acima, é possível afirmar que as lesões específicas dessa prática“ são condicionadas por traumatismos de repetição das estruturas osteotendinosas dos membros inferiores e da coluna vertebral, resultando em fraturas de fadiga, além de lesões dos tecidos moles” (FEITOSA; MARTINS JÚNIOR, 2000). Walker (2011, apud CABRAL et al., 2016), afirma que as principais lesões encontradas em corredores de longas distâncias são a disfunção dos músculos flexores do quadril, a osteíte púbica, fraturas por estresse, síndrome do piriforme, tendinite do iliopsoas, bursite trocantérica, síndrome do trato iliotibial, tendinite do quadríceps, síndrome patelofemoral, tendinite patelar, distensão muscular da panturrilha, tendinite do tendão do calcâneo, síndrome da dor tibial medial (canelite), tendinite do fibular, bursite retro calcânea e neuroma de Morton. Segundo Cabral et al. (2015), Diversas evidências indicam que o treinamento regular de corrida está associado à melhora na sensibilidade à insulina, reduções na quantidade de gordura 4 http://www.corridasbr.com.br/sp/calendario.asp (acesso em 09/08/2017) http://www.corridasbr.com.br/sp/calendario.asp 10 corporal e concentrações de triglicerídeos, LDL e colesterol total, aumentos de massa magra e óssea, potência aeróbica e capacidade antioxidante, redução de pressão arterial pós-exercício e como conseqüência dos fatores citados, melhora na qualidade de vida, porém, apesar de todos os efeitos benéficos, tem-se observado uma elevada incidência de lesões, sobretudo em membros inferiores (PILEGGI etal., 2010). Tendo em vista a grande incidência de lesões na corrida, percebe-se que a prevenção primária de lesões requer previamente a identificação dos fatores de risco aos qual uma população é exposta (PILEGGI et al., 2010). Assim, diante dessa necessidade de identificação, passa-se à realização de revisão bibliográfica cujo objetivo é definir os principais fatores de risco e as principais formas de prevenção para lesões em corridas de longa distância. 2.3 Fatores de risco Segundo Cosialls etal. (2016), estudos progressivos têm identificado crescimento no número de lesões que, entre outras causas, podem estar associadas a desequilíbrios nos músculos do joelho. Para chegar a essa conclusão, os autores realizaram um estudo bibliográfico e compararam as observações encontradas com um estudo próprio, no qual vinte atletas foram avaliados com uso de um dinamômetro computadorizado isocinético. Ao final do período de três meses de avaliação, os autores concluíram que foi encontrada associação entre o pico de torque avaliado nas velocidades de 60, 180 e 300o/s com o surgimento de lesões em corredores de longa distância. A taxa de incidência de lesões foi de 21% e a região do corpo mais acometida foi a articulação femoro tibio patelar. Os resultados deste estudo corroboram os estudos existentes na literatura (COSIALLS et al., 2016). Essas conclusões podem ser associadas ao entendimento de Bento et al. (2014), que realizaram um estudo transversal com aplicação de questionários junto a 220 corredores de rua amadores a fim de verificar frequência de lesões desportivas e cutâneas e esclarecem que as principais lesões relatadas foram dor no joelho (30,4%), distensão/estiramento muscular (16,7%), tendinites (10,1%), dor nos quadris (7,3%) e dor na coluna (7%), sem diferenças estatísticas entre os gêneros. Houve associação significativa entre quilômetros percorridos em treino e lesões 11 musculares nos homens (p = 0,0477, x = 9,60). O calçado esportivo teve relação com presença de unhas encravadas e perdas ungueais nas mulheres. (...)Os homens apresentaram maior frequência de lesões musculares e as mulheres, de afecções cutâneas e ungueais (BENTO et al., 2014). Ainda de acordo com esse estudo, foi percebido que as causas principais das lesões musculares e esqueléticas identificadas envolvem “erros de técnica, alongamento e aquecimento insuficientes, equipamentos inadequados, falta de acompanhamento médico” (idem) enquanto as lesões cutâneas podem ocorrer em conjunto com os danos ortopédicos, geralmente resultantes de traumas, infecções, exacerbações de condições pré-existentes e fatores ambientais, como a exposição à luz solar, a constante fricção da pele contra os materiais de treino (calçados e vestuário) e o impactono solo. Nos praticantes de esporte ao ar livre tem sido relatados hematomas, escoriações, eritema, edema, bolhas e queimaduras na pele decorrente da exposição ambiental desprotegida e aos micros traumas causados pelo atrito dos calçados, roupas e demais equipamentos. O ar frio, névoas, garoa, chuva e a poluição ambiental, além da radiação ultravioleta, podem isolados ou simultaneamente provocar reações cutâneas irritativas, inflamatórias e neoplásicas. Durante a corrida, o suor gera aumento da perda transepidérmica de água tornando a pele mais ressecada e vulnerável a riscos e danos, podendo apresentar amplo espectro clínico de lesões iniciadas, mantidas ou agravadas pelo esporte (ibidem). No artigo consultado, os autores esclarecem também quais dermatoses podem provocar lesões músculo esqueléticas, pois criam desajustes no posicionamento corporal devido às sobrecargas sobre os pés e à influência sobre fatores ergonômicos como força, repetitividade, posturas inadequadas e compressão mecânica. Entretanto, advertem também para o fato de que a literatura disponível é inconclusiva sobre a relação entre aumento de treino, aumento de participações em provas e aumento de lesões, uma vez que estudos de pesquisadores diferentes, como Yeung e Yeung (2001) e Pazin et al. (2008),levam a resultados contraditórios. Após extensa revisão bibliográfica, Cabral et al. (2015) informam que os principais fatores de risco de lesões musculoesqueléticas em corredores são a má periodização, o excesso de treino (overuse), a dor, excessiva pronação e supinação do pé, um grande valor do ângulo Q, pés varos, valgos ou planos, desigualdade estrutural média de membros inferiores, fatores biomecânicos associados, pisos irregulares, calçados e roupas inapropriados, distúrbios do sono, alterações de 12 humor, mudanças de apetite, desmotivação, letargia e infecções, além de acréscimo na frequência cardíaca de repouso. 2.4 Prevenção Entre os métodos preventivos destacados pelos autores pesquisados, encontram-se práticas relativamente simples e amparadas pelo puro bom senso, como a consulta a profissionais especializados para a escolha de um tênis adequado, mas mesmo esse aconselhamento pode não ser tão simples, uma vez que especialistas vêm discordando sobre as características preferenciais de um tênis adequado à prática da corrida de longa distância e alguns até mesmo vêm questionando os efeitos dos tênis no desempenho atlético (WARBURTON, 2001; MAGNESS, 2010). Cabral et al. (2016) esclarecem que os modos de prevenção fundamentais mais citados na literatura especializada são: o aquecimento, roupas e calçados apropriados, bons hábitos alimentares, hidratação, acomodações desportivas apropriadas, busca de orientações antes do início de qualquer prática de atividade física, avaliação postural, avaliação da composição corporal, testes de mobilidade articular, testes de campo, avaliação da pisada, histórico de lesões, ritmo, treinamento periodizado, intervalo de descanso, além de conhecer os fatores de risco. Já pesquisadores como Cabiedes et al. (2016) reforçam a importância de procedimentos mais específicos, como planejamento nacional integrado entre grupos de treinadores e uso de períodos de treinamento em altas altitudes para melhorar o desempenho de corredores de longa distância e alta performance. 2.5 Experiência profissional (observação de casos) O autor deste artigo trabalha como treinador de atletas profissionais e amadores desde 1980, quando iniciou sua carreira como instrutor na Escola de Educação Física da Polícia Militar de São Paulo, a primeira escola de educação física do Brasil, fundada em 1910. Desde então, realizou treinamento para esportistas de variadas modalidades, de judocas a pilotos de automobilismo, além 13 de ter trabalhado durante oito anos com deficientes físicos, mentais e pessoas com problemas de adicção. Em 1994, associou-se ao Doutor Milton Mizumoto, reconhecida autoridade nas áreas de Nutrologia e Medicina do Esporte e, desde 2000, tornou-se dono de sua própria assessoria esportiva, Branca Esportes. No papel de principal coordenador de sua equipe de treinadores, é responsável, hoje e já há pelo menos sete anos, pelo treinamento de cerca de 230 corredores associados com os mais diversos perfis e objetivos dentro da prática esportiva. Desde o final da década de 90, vem treinando centenas de corredores de longas distâncias e calcula já ter acompanhado e treinado mais de 300 ultramaratonistas, o que lhe permitiu reunir e analisar uma extensa quantidade de dados sobre lesões, além de testar e implementar uma série de técnicas preventivas. Hoje, seu principal foco profissional é entender as dores provocadas pelas atividades físicas. De acordo com a documentação de acompanhamento levantada (planilhas, relatórios de feedback, entrevistas em profundidade, relatórios de treinadores e colaboradores), entre os ultramaratonistas treinados pela assessoria Branca Esportes, as lesões mais comuns ocorrem nos joelhos. Além dessa, são frequentes também os casos de Neuroma de Morton, bolhas (lesões cutâneas que acarretam problemas posturais e podem levar a lesões musculares) e problemas cardíacos resultantes da prática excessiva de exercícios de resistência, observação respaldada por estudos como O’Keefe et al. (2012)5. O autor entende que, entre as principais causas contemporâneas para a ocorrência desse tipo de lesões, é possível destacar a ansiedade dos atletas em querer pular etapas adaptativas e buscar resultados em provas de longa distância muito pouco tempo depois de se iniciarem na corrida. Essa mesma ansiedade, embalada por expectativas de desempenho irreais e potencializada pela falta de orientação profissional adequada, também leva os atletas a subestimar ou desconsiderar importantes sinais corporais de dor e fadiga. Entre as técnicas preventivas mais bem-sucedidas junto aos corredores de longa distância da assessoria, encontra-se a realização de treinos específicos, mas periodizados, a prática de modalidades físicas complementares como parte do 5 http://www.mayoclinicproceedings.org/article/S0025-6196(12)00473-9/abstract (acesso em 27/08/2017) 14 treinamento (natação, pilates, ginástica funcional, artes marciais, ioga, ciclismo) e a participação em provas que servem como treinos especiais, além do uso frequente dos canais de comunicação digitais para garantir uma alta frequência e detalhamento de feedbacks. 15 3. CONCLUSÃO Apesar da experiência profissional do autor apresentar, em grande medida, resultados comparativos compatíveis com a extensa variedade de estudos sobre lesões em corredores de longa distância foram percebido que alguns tipos de lesões, como o Neuroma de Morton e os problemas cardíacos decorrentes da prática constante de corridas de longa distância, ainda não recebem uma atenção especializada correspondente à sua importância, considerada a frequência com que ocorrem e o impacto negativo que provocam não apenas na performance dos atletas, mas na qualidade de vida dos mesmos. Já as técnicas preventivas descritas na literatura revisada de modo geral incluem procedimentos específicos bastante coerentes com os resultados práticos observados pelo autor ao longo de seus trinta e sete anos dedicados ao treinamento de atletas. Entretanto, vale destacar a necessidade de a produção acadêmica na área da fisiologia do exercício considerar cada vez mais os comportamentos atuais que se desenvolvem como resultado de valores, estilos de vida e interesses contemporâneos nem sempre bem sintonizados com algumas exigências da prática esportiva e que acabam comprometendo a formação de uma mentalidade que respeita os períodos de adaptação do corpo a provas mais longas e exigentes.16 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENTO, Paulo C. B. et al. Lesões desportivas e cutâneas em adeptos de corrida de rua. Revista Brasileira de Medicina do Esporte vol.20 no.4 São Paulo Julho/Agosto 2014. CABIEDES, Sergio R. C et al. Formation of middle and long distance junior runners of the Ecuador’s Andean region. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 21, Nº 219, Agosto de 2016. CABRAL, Celina R. Fatores de risco e prevenção das lesões musculoesqueléticas em praticantes de corrida. Revisão de literatura. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 20, Nº 207, Agosto de 2015. COSIALLS, Hernandez et al. Desequilíbrio muscular dos flexores e extensores do joelho associado ao surgimento de lesão musculo esquelética relacionada à corrida: um estudo de coorte prospectivo. Rev. Bras. Ciênc. Esporte vol.38 no.1 Porto Alegre Janeiro/Março 2016. DALLARI, Martha M. Corrida de rua: um fenômeno sociocultural contemporâneo. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. GONÇALVES, Luciano B. Corrida de rua – qualidade de vida e desempenho. Trabalho de Conclusão de Curso. Unicamp, Campinas, 2007. MORAES, Mikael S. et al. Principales lesiones y factores de riesgo en corredores recreativos. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Ano 20 - Nº 206 - Julio de 2015. SOUZA, Ananda S. V. LESÕES EM CORREDORES DE RUA: UMA REVISÃO DE LITERATURA. Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG, Belo Horizonte, 2011