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UNIVERSIDADE
FEDERAI DO RIO
GRANDE DO SUt
Reitor
Carlos Alexandre Netto
Vice-Reitor e Pró-Reitor
de C,xrrderr.rq.ro Ar lderrric.r
Rui Vicente Oppermann
EDITORA DA UFRCS
Diretora
Sara Viola Rodrigues
Conselho Editorial
Alexandre Ricardo dos Santos
Carlos Alberto Steil
Lavinia Schüler Faccini
Mara Cristina de Matos Rodrigues
Maria do Rocio Fontoura Teixeira
Rejane Maria Ribeiro Teixeira
Rosa Nívea Pedroso
Sergio Antonio Carlos
Sergio Schneider
Susana Cardoso
Valéria N. Oliveira Monaretto
Sara Viola Rodrigues, presidente
COORDENADORA DA COLEÇÁO:
Tania N{ara Ga1li Fonscca
CONSELHO EDITORIAL:
Andréa Vieira Zlnella. - (UFSC)
Cecília Bouças Coimbra - (UFF)
Denise Bernuzzi Sant'Anna - (PUC/SP)
Eugénia Vilela - (Universidade do
Porto/PT)
José Mário d'Ávi1a Neves - (UFRGS)
José Nuno Gil - (Universidade Nova
de Lisboa)
Jusamara Souza - (UFRGS)
Luis Gomes - (Editora Sulina/PUCRS)
Lu,iz B.L. Orlandi - (Unicamp)
Maria Elizabeth Barros - (UFES)
Marisa Lopes da Rocha - (UERJ)
Peter Pál Pelbart - (PUC/SP)
Sandra Mara Corazza - (UFRGS)
Suely Rolnik - (PUC/SP)
Grupo: aaftrmação de
um simulacro
Regina Benevides de Barros
s ,r»UFROS z'
EDITORA Editora Sulina
1
pré-individualidades ainda informes. A experiência da diferença
que assim se dá não é somente aquela concebida em níve1 molar,
mas a que se vai construindo quando alguém se percebe diferente
de si, quando se percebe diferindo em seus processos de singu-
larizaçáo.
Nesse sentido, quanto ao que nos perguntávamos acima, acerca
da procedência de se referir ao tipo de trabalho que fazemos como
prâtica grupal ou trabalho em grupos, cabe um esclarecimento.
Tomado pelo nível molar, o gÍupo existe - as pessoas se reúnem,
fazem coisas juntas, criam projetos que querem realizar etc. Neste
nível - o fenomênico -, o grupo existe, e trabalhar com ele podc
levar à construção de outras histórias, outras conquistas. O grupo
assim concebido é passível de conduzir, pelo confronto clc
identidades e dificuldades, a caminhos de solidariedadc c
cidadanias3.
Porém, o que ocorre se acompanharmos o grupo, como vimos
pretendendo, em nível molecular? Encontraremos não mais o
grupo, mas caÍtografias grupais, processos que entÍam em contrrl( )
com singularidades não individuadas, em um terreno em qLlc nr()
cabem mais dualidades nem intermediários, apenas devires.
Podemos, nesse caso, permanecer nomeando o que faz.crrr,,u
de práticas grupais, cunhando, entretanto, outro sentido: prul icrrr
experimentar-grupalidades-coletivas. Grupalidade, multipl i c i r I ; r, h'
não entificada, produção de devires. tabalho-em-grupo, «rrrrlr' ,,
"em" salta como mola, não mais se apegando às ligaçõcs ('nlr'
pessoas, mas escapando delas, convocando-as em seus estriurlr()h
estrangeiros seres. Em-grupo, devir-grupol. criaçáo de Íi,.',,', ,h'
desindividualizaçáo, mutações que não advenham idcrtt it|;r, lre
totalizadoras. Grupo, sim. Por que não? Grupo-tlispor,ilrt',r,
instrumento de nossa caixa de ferramentas na pr«rtltrl,to rlrt
heterogênese, em modos de subjetivação que escapcnl tl,, ttt,,,l,,
indivíduo.
enrpldl 5
Entrada grupal: uma escolha
ético - e s téti co - p olítica
,l última aia aberta por Foucault é extrentamente
rica: os processos de subjetivação não tern nada a
,uer czrn a "aida prioada", rrl.as designam a operaçao
pela qual os indivíduos ou as comunidades se
constituem como sujeitos, à rnargem dos saberes
constituídos e dos poderes estabelecidos, que ?assarn
a dar lugar a noa,os saberes e noaos poderes.
Signos e aconteciruentos
Gil1es Deleuze
ilil
312 313
I
Cnrrrad.r 5
Entrada grupal: uma escolha
ético - e stéti co -p olítrca
A escolha que se faz
Toda escolha tem uma história, melhor sertatalvez dizer que toda
escolha é uma história, porque ela é produzidapor um conjunto de
forças que faz irromper, em um dado momento, a si mesma como
escolha. Em verdade, se nos pensamos colhidos nesse campo de
forças, a escolha se faz no constitui ao mesmo tempo que a
constituímos como escolha.
Assim foi com o tema dos grupos. O desafio estava em como
cair fora das dicotomias que o próprio grupo implanta, mesmo com
um discurso de superação das individualidades? Seria esta a questão,
a de superar individualidades? Seria o grupo um aliado nessa tarefal
Como, se ele próprio estava constituído desde o lugar das
dicotomias?
Qre panorama se desenha para nós, pensadores/efetuadores
dos processos de subjetivação? Poderia seÍ o grupo uma alternativa
para neutralizar individualizaçóes tão bem constituídas? Uma
resistência ao modo-inclivíduo?
Qrais forças frzer,ltm cscolha ckr grup«r corrro tcma: se dar?
Psicóloga formada em 1"975, vivi mcr.r tcnrp() cle univcrsidade
impedida, muitas vezes, de estar cnr grupos. I-')les eram proibidos,
pois supostamente criavam rcdcs clc pcnsrmcnto/afeto/açáo
intoleráveis naqueles momentos dc repressão. As práticas
individualizantes eram estimuladas, a psicologia contribuía
fartamente. É irdi.p.nsável observar que na década de 70 houve
grande proliferação dos cursos de psicologia e pedagogia no Brasil.
315
I
Contra o isolamento imposto, o agrupar-se significava uma
saída fundamental. Se haviam movimentos de esfacelamento e
divisão, havia, igualmente, os de resistência e de agrupamento - de
grupalização. Nessa mesma década, várias experiências se
desenvolvem no chamado terreno grupaVinstitucional. De algumas
nos aproximamos.
V t/viv\ o desenvolvimento/experimentação de práticas grupa-
listas/institucionais, mas também vi a queda dessas experiências.
Vi o descrédito em relação às chamadas práticas grupais e a
r ev alorização das individuali zantes.
Por outro lado, também começara a problematizar a dicotomia
indivíduo-grupo com novos instrumentos e, principalmente, com
outro olhar, outra atitude. Experimentei nuances nas cores fortes
com que os grupos se apresentavam. Teriam, de fato, havido
matrizes diferentes na constituição das práticas ditas individuais e
ditas grupais? Havia aigo que me inquietava nessa dicotomia.
Comecei a formular uma hipótese: não estariam os grupos sendo
vistos ta1 como os indivíduos - entidades unitárias, totalizadas,
buscando identidade? Não seria, portanto, o caso de problematizl.r
a própria noção de indivíduo e, pela mesmavia, a de grupo? Não sc
haveriam forjado, ao longo dos séculos, modos de subjetivação
constituidores tanto do indiüduo quanto do grupo, em uma mesr)l:r
matriz? Como produzir um modo de subjetivação conectado rro
devir e à multiplicidade, onde o grupo se pusesse como dispositivo
paÍa novos processos de constituição de subjetividade.
Processos de subjetivaçáo e grupo
A redução dos modos de constituição da subjetividurlt' :r,, ,1,,
modo-indivíduo tem sido uma das maneiras utilizadirs l)1r rr :rÍir rrr,rr
concepções fechadas, unitárias e totais para os sercs lrrrnr.ur,,', \
própria expressão seres humanos é generalista, visto «1trr' ,,'' lr, ,rr,, ,,'.
estão sempre marcados por seus lugares nlls clltss,'', ',,( r.r',
condições (femininas ou masculinas), faixas etárias, posições
profissionais, hierarquias diversas etc.
E mais ainda: mesmo quando tomados em relação a tantos
lugares/condições, isso não esgota a realidade, sendo apenas uma
de suas dimensões - a molar, a das formas constituídas. Nesse, os
fatos estão aí para serem apreendidos, relacionados, articulados,
modificados. Há lutas a serem travadas, reivindicações a serem
conquistadas poÍ indivíduos, gl.rrpos e organizações.
Têntamos mostraÍ como o indivíduo, a sociedade e os grupos
foram se constituindo como objetos de interesse ao longo dosúltimos séculos. Nesse percurso, para além de uma forma entre
tantas, um modo de existência, o indivíduo se fez o modo de
subjetividade dominante. No caminho dessa dominância, encon-
trou outras linhas de subjetivação que procuraram combater sua
força, como no caso dos movimentos de massa. Apesar das
fundamentais conquistas desses últimos, porém, o modo-indi-
víduo prevaleceu, deixando à mingua as linhas-massa que recém
se desenhavam.
Um dos efeitos de tal predomínio foi a instauração de uma
série de dualidades, até hoje persistentes, a retroalimentar o mesmo
modo-indivíduo. Indivíduo/sociedade, pessoal/social, desejo/
política são algumas destas díades fortemente implantadas que,
irssim tomadas, se referem a unidades em oposição, ou seja, aindir
it unidade, o modo-indivíduo.Tirclrt mírquinrr birrirril proccrlc rk:strr
rnaneira: cria oposiçõcs rlrrc I)irrtcnr tl«r rrrtt. Assirrr, rr:r tlílrlt'
indivíduo-sociedade unril novlr cislro st' Ílt'li, t'r'ilrrrrlo otrlllls
oposições. O grupo é, cntir«r, Íirrrrrrrllrrlo t'lr»r'rlrrlo irrsliltrir,:r,»,
pltssando a instaurar campos tlc rcltl, lrt'ttt ..',,ttr,r rttottollrilios rlc
Ir:gitimidade e redes de espcr:iirlisllrs prrr-rr gt'r'i los. Novrts oposi-
1'r)cs se constroem : indivíduo/gnr p« r, grr r 1 ro/soc i cclade, marcadas,
,rinda, pelo modo-indivíduo dc protlrrção dc subjetividade.
O laço de equivalência entre subjetividade e indivíduo é, por
, ,rrrseguinte, resultado de um longo processo histórico em que UM
31Ó 317
tornou-se O, onde um caso tornou-se aÍegÍaronde a singularidade
tornou-se generalidade.
A tradiçao binarizante - pensar o indivíduo de um lado e o
grupo de outro - apoia-se, dentre outras, nas teses monádicas e
racionalistas do período pós-revoluçáo francesa. O indivíduo,
referendado pelos ideais liberais, será impulsionado à busca de um
reforço de si. A verdade estarâ guardada, como tesouro a ser
descoberto, em sua intimidade, em seu interior. O grupo como novo
ser é concebido como cruz;amento de desejos/fantasmas individuais
ou de forças que constroem um campo de intersubjetividade. Pode-
se observar que na oposição indivíduo/grupo há comple-
mentaridade (o indivíduo sempre está em grupo: família, escola,
trabalho etc.) e também indiferenciação (no grupo acredita-se que
o indivíduo perde sua individualidade).
Vemos, entáo, que muitas vezes o grupo é definido segundo
os princípios que Mc Dougall propõe sobre as massas, no início
do século: continuidade material e moral; formação de uma ideia
sobre o grupo; relaçáo com outras formações coletivas; tradiçáo,
usos e instituições próprias; organizaçáo por divisão de tarefas. Com
isso, mantém-se a dicotomia indivíduo/grupo, baseando as condi-
ções de formação desse último em uma organizaçáo exterior c
apriorística dos diferentes movimentos empreendidos.
Nesta mesma cadeia de conexões, alguns indivíduos (todos-
em-si), sob certas condições, formam o grupo (todo-em-si).
Prevalece a ideia da unidade/totalidade: os indivíduos são unidatlcs
totais que, ao serem reunidas por certas operações, configuram trrrr
todo unitário. Como bem se vê, o gmpo, eleito intermediári«r rrir
querela indivíduo/sociedade, se tem apresentado sob a mesma ógitlc
individualizante.
No entanto, se acreditamos que esse é um dos modos 1lr»ssívt'ir,
de criação de subjetividades, é porque existem outros... C) irrtlivr.lttu
náo é um dado, mâs um produto produtor da histórirr. Nrt, tttrtir
história que venha para dizer quem somos - como ttos lt'tttl,t,t
Foucault -, mas aquilo em que nos diferimos. História e devir na
história.
Pensar a subjetividade como produção é pensá-la em sua
multiplicidade de devires, em modos que não se totalizam, em
componentes de subjetivação tanto de ordem extraindividual
(sistemas maquínicos econômicos, sociais, tecnológicos, ecológicos
etc.), como de ordem infrapessoal (sistemas perceptivos, de afeto,
de desejo, orgânicos etc.).
Essa subjetividade múltipla, circulando nos conjuntos sociais,
poderá ser apropriada pelos indivíduos e grupos, destituindo-os,
por tal via, de seus lugares naturalizados e substancializados.
Qrando dizemos que a subjetividade é múltipla, está configurado
seu caráter coletivo ou de grupo, que nessa dimensão se equivalem.
A subjetividade é, portânto, sempre de grupo (Guattari, 1981), o
que implica um funcionamento de experimentação e criação.
Dizer da dimensão processual é, justamente, não torní-la
exclusiva de uma ou outra máscara com a qual se upteserrte. É
contÍa qualquer tipo de retificação - do indivíduo ou do grupo -
que nos estamos posicionando. Portanto, tomamos o grupo como
uma das possíveis - e não a única - matérias de expressão através
das quais se possa efetuar uma singularizaçáo. Qrando estamos
frente a um indivíduo isso também é possível poÍque:
A questão, [portanto], não se situa a nível
do agrupamento de indivíduos, e sim de uma
pragmática de processos de produção de desejo
que nada tem aver com esse tipo de individuação.
Tal pragmática, quando esmagadora, pode atingir
tanto o indivíduo quanto o grupo (Guattari, E;
Rolnik, S., 1986, p. 233).
No trabalho em grupo, será o confronto com outÍas matérias
rlt' cxpressão a invocar a "constituição de complexos de subje-
? to316
l
tivação: indivíduo-máquina-trocas múltiplas, que oferecem à pessoa
possibilidades diversificadas de recompor uma corporeidade
existencial, de sair de seus impasses repetitivos e, de alguma forma,
de se resingularizar" (Guattari, F., 19 9 2, p. 17) .
Nossa tese: o grupo, bem como o indivíduo e a sociedade, tem
funcionado em um mesmo registro - um modo que é, ao mesmo
tempo, totahzante e individualizante. Unidades monádicas que
mantêm entre si relações complementaÍes, os três termos se arran-
jando conforme os acordos que fazem, dependendo das contin-
gências histórico-sociais. Vamos ainda mais longe: justamente por
estar o grupo gerido pelo modo*indivíduo é que ele vive os impasses
do indivíduo e com ele rivaliza.Tornam-se, ambos, pretendentes ao
lugar de verdade. O grupo - definido como todo, unidade, posse de
identidade etc. - está aprisionado no mesmo modelo uno que a díade
indivíduo/sociedade há séculos produz. Mas, se apontaÍmos para
um além/aquém-indivíduo, o grupo aparecerá como uma das formas-
funcionamentos de subjetividades possíveis.
Destituído também o grupo do caráter universal e unificado,
vislumbra-se a emergência de devires-outros, grupos-não-todos,
grupo-clevires, cartografias grupais. Qrando desmanchamos 1l
equivalência subj etividade/indivíduo, também o grupo-indivíduo
se desmancha, criando condições para que se montem, autonom2l-
mente, novos territórios com os componentes de subjetivação. o
grupo-substanctaltzado so faz sentido se reconhecemos o modo-
indivíduo como único, isto é, se acreditamos que o seÍ se esg-()l1r
em algum de seus modos.
Nosso percurso aponta exatamente em outra direção. O grrr1,,,
só é concebido como objeto na lógica do terceiro excluído, orr st.i:r,
naquela que maquin a a dtalização sujeito-objeto/teoria-práticu. l,)r r r
nossa perspectiva melhor seria falar em cartografias grrrp,rir,,
entrecruzamento de várias cartografias, por si tambónr q-r.ul):u,,,
porque múltiplas, porque coletivas. É ,ru trrr.rforrnrrç'rrr) (lu(. r,(,
conhece, é na montagem das cartografias que se pr«rttrrz.crrr n()\,(),,
sentidos. Aqui, a regência fica sob a batuta da inclusão, daquilo
que se insinua entre - no devir.
A opção pelo trrrbalho em grupo procura sesuir o eaminho
daquilo que chamamos de 1ógica do terceiro incluído, onde nào se
buscam significados, mas se produzem outros sentidos.-I]ês dircçt)es
norteiam a intervenção em grupos: a problcmatrzaçict, a
desindividu alizaçã"o e a experimentação.
O paradigma ético-estético-político e o grupo
Na via da experimentação encontramos o que pode nos ajudar
a pensar uma ética em grupos. Experimentar é procurar alterar os
processos hegemônicos de subjetivação em curso: os que remetem
aos indivíduos e esses a si mesmos, separando-os dos movimcntos
coletivos que os produzem. Uma vida para fora oupara um dentro
que seja apenas dobra do fora, uma vida para além das trocas
intersubjetivas (entre pessoas), com atenção voltada para as
ressonâncias mútuas. Nessas não há privilégio de nenhum estÍato:
cada um deles é criador, cada um ressoa no outÍo) emitindo ondas,
provocando movimentos desterritorializantes. A ética de que
firlamos é aquela que se põe a ouvir o estrangeiro que se produz no
cncontro com o outro, que trabalha as matérias de expressão como
rr transformaçã«r cl«r plrclciro, conformc propõe Deleuze:
'li»nlt-sc rrrrt tlrrltclrlrclo, csticrr-sc cm um
retângtrlo, r'ortlr-sc o rctâltgrrlo cnt rl«ris, rcblte-
se uma pltrtc rLr rctirrgrrlo sobrc lr outrrr, rnodi-
fica-se con stlu ) tcr ))c:l) tc ( ) r; ruxl rurlo rccsticando-
o, é a oper'.rção rl«r nlrssciro. Âo cirbo dc um certo
número de trirnsfirrrnlçõcs, dois pontos estarão
fatalmente em durrs mctadcs opostas, por mais
próximos quc tenham estado no quadrado
original (Deleuze, G.,1,99211990], p. 155).
220
Como padeiros da subjetividade, acompanhamos os movi-
mentos coletivos do desejo, sinalizamos as naturalizações que
endurecem linhas e territórios, nos pomos como intercessores -
sempre de passagemtpaÍa que devires possam se expressar.
A intercessáo estâ sempre a favor dos moúmentos de criaçáo.
Aqui está a úa estética. Por ela caminhamos acionando a proble-
matrzação. Criar problemas é pôr a pensar, implica diferenciação.
Foucault dizia que a liberdade existe quando se pode rejeitar um modo
de subjetivação em que se foi constituído para criar outros, se
diferenciando, afirmando essas diferenças. Criar é se diferenciar. A
diferença é a que produz no mundo capacidade de provocar outras
diferenças, é aquilo que consegue escapar da fala única, deixando vazar
a polifonia que habita as multiplicidades.
Em grupo, esta dimensão - estética - é muitas vezes confundida
com um comparar semelhanças paÍa que diferenças apareçam (e isso
no melhor dos casos, pois muitas vezÊs o trabalho incide na busca de
semelhanças). Continuam aqú as diferenças referendadas no indiúduo,
ou melhoç aquelas que,já exacerbadas pelo liberúsmo, aparecem âgora
maquiadas pelos signos do sécu1o )O(. EntraÍ em contato com
dGrenças é transformá-las em verbo. Ao invés de contato com as
diferenças, diferir, engendrar-se pela diferença, no singular. Singularizar
as diferenças, criando caminhos entre impossibilidades, tocando
ürtrialidades, fazendo proliferar ramos do riznma em que o grupo se
transforma para que a intercessão se faça entre os estrangeiros-em-
mim em contato com os estrangeiros-no-outro. A dimensão estética
é z da composição/recomposição de universos de subjetivação:
Não se tratalpara ela] de transmitir mensil-
gens, de investir imagens como suporte de iderrti-
ficação ou padrões formais como esteio de p«rcrli
mento de modelização, mas de catalisar opcrrttlorct
existenciais suscetíveis de adquirir c«rrtsistônciit t
persistência (Guattari, F., 1992,p. 3 1).
O grupo tomado como dispositivo, como aquilo que põe a
funcionar os modos de expressão de subjetividade, opera processos
de desindiüdtalizaçáo. tris aqui nossa via política.
Máquina de decomposição de verdades, de concepções tomadas
como naturais e universais, o grupo pode acionar confron-
tos entre expressões do modo-indivíduo vigente. Ao tomar os
enunciados como remetendo náo a sujeitos individuais, mas a
coletivos, ao percorrer os caminhos maquínicos do desejo que não
se esgotam nas vivências individualizadas, o grupo dispara
desconstmções dos territórios enclausurantes da subj etiüdade. Entrar
em contato com as multiplicidades que flutuam, não almejando
equilíbrios, mas a invenção de bifurcações de um tempo que é
maquínico - tempo das intensidades -, eis a via política de nosso
paradigma.
Grupo-dispositivo, grupo-máquina: entrada que nos faz
entender as armadilhas de um modo serializado de produção do
indivíduo e do grupo. Dispositivo-instrumento que nos auxilia a
pôr em questão a problemática da economia do desejo sob nova
ótica, escapando à ideia de falta jamais preenõhida, dado que o que
se quer é expansão. Máquina-instrumento que se conecta a outras
máquinas: técnicas, ecológicas, sociais, semióticas...
Eis a entrada grupal que o paradigma ético-estético-político
nos abre: a de uma subjetividade que experimente, se arrisque em
outros modos de composiçã"o; a de uma subjetividade que se
produza heterogênea, sendo ao mesmo tempo heterogenética; a
tlc uma subjetividade quc cste.ia comprometida com os processos
t'oletivos que a produzem.
Talvez estejamos começando a definir outras possibilidades
r lt' cxistência, caso consigamos acionar modos-grupo que sustentem
srur provisoriedade, que escapem às universalizações e substan-
, irrlizações e se ponham a fazer funcionar redes transversais de
',rrh.ictividades coletivas. Esse parece ser o desafio paÍa" aqueles que
r,t' intcrcssam pelos processos de singularizaçáo - sejam eles
)2. 323
voltados paÍao indivíduo, ou para o grupo. Esse parece ser o desafio
para aqueles que acreditâm que ainda vale procurar novas entradas...
Notas
t 
Há o-, interessante rliscussão entre C. Garcia e G. Baremblitt a respeito da "ligação" no
grupo: "O que liga um grupo é o fato de ele se ca1a4 sem o saber sobre as mesmas coisas... é o
pânico frente à experiência da solidão essencial" (Garcia, C., 1987, p. 22). No contraponto
dessas afirmações, G. Baremblitt afirmará que náoltâvazio catsador deste pânico porque todo
o socitrs e qtadricuiado, habitado e, sendo assim, este "vâzio" estaria povoado de outros gmpos.
"Não se sai de uma otganização senão pata cair em outra, e o mesmo ocorre com os gÍupos"
(ibidem, p. 61).
- 
Esta experiência pode ser enconffada emLapassade, G. 11974), (1977) e em Anzieu, D. (1971)
Tàmbém em Athayde, M. (1986), em Rodrigues, H. et al. (1992, p. 776) e em Fernandé2, A. M
(1989) há importantes referências à experiência em questào.
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" Assim, essa formulação inicial se transmutará ao longo de sua obra. Como exemplo, em
Miot"opolítica: cartografras do deseyo (1 986) afirrra , àpâginaZ63: "E por isso que eu nâo retomaria
irhsolutamente essa minha antigâ formulaÇão de 'grupo sujeitol Falaria de 'processos de
rirrbjetivação' ou processos de semiotização', os quais não coincidem nem com um gruponem
rorn um indivíduo...". No mesmo livro, à página 293, volta a usar a noÇão de grupo-sujeito: "Essa
irlt:ia.já estava presente, há muito tempo, no texto sobre a 'transversalidade', quando eu dizia
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