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lfllilill11llilililIffiIlil { $ UFNG§ ruttonn ut lr/rr\ I't ,,ltt,' i .- I à § r ',iiirL F!Ir-'! / H -{i-A-- r,l pF) Í., I II 1 I I l I l t i I I I I I I I ! GnuPo lirrrtilÇflO ,rnullucfO ) 1 il IL ,lrrlJhr ü -t { 1 ,rt*r t ,lrçll I I I ü * ,dI lrl I a7 l I il J, 'l lr I '-l I d lll I flr, rll L I fr ,lII L "Í r,fr r:Tfi J I 1 l. , .1 r I htÍ'í $r l.iinrru ,\tlin* rr tr I t'rl!lut rltttl ttttt.t tmt.ltt' llililIitiillfitt][[ilil Lrr UNIVERSIDADE FEDERAI DO RIO GRANDE DO SUt Reitor Carlos Alexandre Netto Vice-Reitor e Pró-Reitor de C,xrrderr.rq.ro Ar lderrric.r Rui Vicente Oppermann EDITORA DA UFRCS Diretora Sara Viola Rodrigues Conselho Editorial Alexandre Ricardo dos Santos Carlos Alberto Steil Lavinia Schüler Faccini Mara Cristina de Matos Rodrigues Maria do Rocio Fontoura Teixeira Rejane Maria Ribeiro Teixeira Rosa Nívea Pedroso Sergio Antonio Carlos Sergio Schneider Susana Cardoso Valéria N. Oliveira Monaretto Sara Viola Rodrigues, presidente COORDENADORA DA COLEÇÁO: Tania N{ara Ga1li Fonscca CONSELHO EDITORIAL: Andréa Vieira Zlnella. - (UFSC) Cecília Bouças Coimbra - (UFF) Denise Bernuzzi Sant'Anna - (PUC/SP) Eugénia Vilela - (Universidade do Porto/PT) José Mário d'Ávi1a Neves - (UFRGS) José Nuno Gil - (Universidade Nova de Lisboa) Jusamara Souza - (UFRGS) Luis Gomes - (Editora Sulina/PUCRS) Lu,iz B.L. Orlandi - (Unicamp) Maria Elizabeth Barros - (UFES) Marisa Lopes da Rocha - (UERJ) Peter Pál Pelbart - (PUC/SP) Sandra Mara Corazza - (UFRGS) Suely Rolnik - (PUC/SP) Grupo: aaftrmação de um simulacro Regina Benevides de Barros s ,r»UFROS z' EDITORA Editora Sulina 1 pré-individualidades ainda informes. A experiência da diferença que assim se dá não é somente aquela concebida em níve1 molar, mas a que se vai construindo quando alguém se percebe diferente de si, quando se percebe diferindo em seus processos de singu- larizaçáo. Nesse sentido, quanto ao que nos perguntávamos acima, acerca da procedência de se referir ao tipo de trabalho que fazemos como prâtica grupal ou trabalho em grupos, cabe um esclarecimento. Tomado pelo nível molar, o gÍupo existe - as pessoas se reúnem, fazem coisas juntas, criam projetos que querem realizar etc. Neste nível - o fenomênico -, o grupo existe, e trabalhar com ele podc levar à construção de outras histórias, outras conquistas. O grupo assim concebido é passível de conduzir, pelo confronto clc identidades e dificuldades, a caminhos de solidariedadc c cidadanias3. Porém, o que ocorre se acompanharmos o grupo, como vimos pretendendo, em nível molecular? Encontraremos não mais o grupo, mas caÍtografias grupais, processos que entÍam em contrrl( ) com singularidades não individuadas, em um terreno em qLlc nr() cabem mais dualidades nem intermediários, apenas devires. Podemos, nesse caso, permanecer nomeando o que faz.crrr,,u de práticas grupais, cunhando, entretanto, outro sentido: prul icrrr experimentar-grupalidades-coletivas. Grupalidade, multipl i c i r I ; r, h' não entificada, produção de devires. tabalho-em-grupo, «rrrrlr' ,, "em" salta como mola, não mais se apegando às ligaçõcs ('nlr' pessoas, mas escapando delas, convocando-as em seus estriurlr()h estrangeiros seres. Em-grupo, devir-grupol. criaçáo de Íi,.',,', ,h' desindividualizaçáo, mutações que não advenham idcrtt it|;r, lre totalizadoras. Grupo, sim. Por que não? Grupo-tlispor,ilrt',r, instrumento de nossa caixa de ferramentas na pr«rtltrl,to rlrt heterogênese, em modos de subjetivação que escapcnl tl,, ttt,,,l,, indivíduo. enrpldl 5 Entrada grupal: uma escolha ético - e s téti co - p olítica ,l última aia aberta por Foucault é extrentamente rica: os processos de subjetivação não tern nada a ,uer czrn a "aida prioada", rrl.as designam a operaçao pela qual os indivíduos ou as comunidades se constituem como sujeitos, à rnargem dos saberes constituídos e dos poderes estabelecidos, que ?assarn a dar lugar a noa,os saberes e noaos poderes. Signos e aconteciruentos Gil1es Deleuze ilil 312 313 I Cnrrrad.r 5 Entrada grupal: uma escolha ético - e stéti co -p olítrca A escolha que se faz Toda escolha tem uma história, melhor sertatalvez dizer que toda escolha é uma história, porque ela é produzidapor um conjunto de forças que faz irromper, em um dado momento, a si mesma como escolha. Em verdade, se nos pensamos colhidos nesse campo de forças, a escolha se faz no constitui ao mesmo tempo que a constituímos como escolha. Assim foi com o tema dos grupos. O desafio estava em como cair fora das dicotomias que o próprio grupo implanta, mesmo com um discurso de superação das individualidades? Seria esta a questão, a de superar individualidades? Seria o grupo um aliado nessa tarefal Como, se ele próprio estava constituído desde o lugar das dicotomias? Qre panorama se desenha para nós, pensadores/efetuadores dos processos de subjetivação? Poderia seÍ o grupo uma alternativa para neutralizar individualizaçóes tão bem constituídas? Uma resistência ao modo-inclivíduo? Qrais forças frzer,ltm cscolha ckr grup«r corrro tcma: se dar? Psicóloga formada em 1"975, vivi mcr.r tcnrp() cle univcrsidade impedida, muitas vezes, de estar cnr grupos. I-')les eram proibidos, pois supostamente criavam rcdcs clc pcnsrmcnto/afeto/açáo intoleráveis naqueles momentos dc repressão. As práticas individualizantes eram estimuladas, a psicologia contribuía fartamente. É irdi.p.nsável observar que na década de 70 houve grande proliferação dos cursos de psicologia e pedagogia no Brasil. 315 I Contra o isolamento imposto, o agrupar-se significava uma saída fundamental. Se haviam movimentos de esfacelamento e divisão, havia, igualmente, os de resistência e de agrupamento - de grupalização. Nessa mesma década, várias experiências se desenvolvem no chamado terreno grupaVinstitucional. De algumas nos aproximamos. V t/viv\ o desenvolvimento/experimentação de práticas grupa- listas/institucionais, mas também vi a queda dessas experiências. Vi o descrédito em relação às chamadas práticas grupais e a r ev alorização das individuali zantes. Por outro lado, também começara a problematizar a dicotomia indivíduo-grupo com novos instrumentos e, principalmente, com outro olhar, outra atitude. Experimentei nuances nas cores fortes com que os grupos se apresentavam. Teriam, de fato, havido matrizes diferentes na constituição das práticas ditas individuais e ditas grupais? Havia aigo que me inquietava nessa dicotomia. Comecei a formular uma hipótese: não estariam os grupos sendo vistos ta1 como os indivíduos - entidades unitárias, totalizadas, buscando identidade? Não seria, portanto, o caso de problematizl.r a própria noção de indivíduo e, pela mesmavia, a de grupo? Não sc haveriam forjado, ao longo dos séculos, modos de subjetivação constituidores tanto do indiüduo quanto do grupo, em uma mesr)l:r matriz? Como produzir um modo de subjetivação conectado rro devir e à multiplicidade, onde o grupo se pusesse como dispositivo paÍa novos processos de constituição de subjetividade. Processos de subjetivaçáo e grupo A redução dos modos de constituição da subjetividurlt' :r,, ,1,, modo-indivíduo tem sido uma das maneiras utilizadirs l)1r rr :rÍir rrr,rr concepções fechadas, unitárias e totais para os sercs lrrrnr.ur,,', \ própria expressão seres humanos é generalista, visto «1trr' ,,'' lr, ,rr,, ,,'. estão sempre marcados por seus lugares nlls clltss,'', ',,( r.r', condições (femininas ou masculinas), faixas etárias, posições profissionais, hierarquias diversas etc. E mais ainda: mesmo quando tomados em relação a tantos lugares/condições, isso não esgota a realidade, sendo apenas uma de suas dimensões - a molar, a das formas constituídas. Nesse, os fatos estão aí para serem apreendidos, relacionados, articulados, modificados. Há lutas a serem travadas, reivindicações a serem conquistadas poÍ indivíduos, gl.rrpos e organizações. Têntamos mostraÍ como o indivíduo, a sociedade e os grupos foram se constituindo como objetos de interesse ao longo dosúltimos séculos. Nesse percurso, para além de uma forma entre tantas, um modo de existência, o indivíduo se fez o modo de subjetividade dominante. No caminho dessa dominância, encon- trou outras linhas de subjetivação que procuraram combater sua força, como no caso dos movimentos de massa. Apesar das fundamentais conquistas desses últimos, porém, o modo-indi- víduo prevaleceu, deixando à mingua as linhas-massa que recém se desenhavam. Um dos efeitos de tal predomínio foi a instauração de uma série de dualidades, até hoje persistentes, a retroalimentar o mesmo modo-indivíduo. Indivíduo/sociedade, pessoal/social, desejo/ política são algumas destas díades fortemente implantadas que, irssim tomadas, se referem a unidades em oposição, ou seja, aindir it unidade, o modo-indivíduo.Tirclrt mírquinrr birrirril proccrlc rk:strr rnaneira: cria oposiçõcs rlrrc I)irrtcnr tl«r rrrtt. Assirrr, rr:r tlílrlt' indivíduo-sociedade unril novlr cislro st' Ílt'li, t'r'ilrrrrlo otrlllls oposições. O grupo é, cntir«r, Íirrrrrrrllrrlo t'lr»r'rlrrlo irrsliltrir,:r,», pltssando a instaurar campos tlc rcltl, lrt'ttt ..',,ttr,r rttottollrilios rlc Ir:gitimidade e redes de espcr:iirlisllrs prrr-rr gt'r'i los. Novrts oposi- 1'r)cs se constroem : indivíduo/gnr p« r, grr r 1 ro/soc i cclade, marcadas, ,rinda, pelo modo-indivíduo dc protlrrção dc subjetividade. O laço de equivalência entre subjetividade e indivíduo é, por , ,rrrseguinte, resultado de um longo processo histórico em que UM 31Ó 317 tornou-se O, onde um caso tornou-se aÍegÍaronde a singularidade tornou-se generalidade. A tradiçao binarizante - pensar o indivíduo de um lado e o grupo de outro - apoia-se, dentre outras, nas teses monádicas e racionalistas do período pós-revoluçáo francesa. O indivíduo, referendado pelos ideais liberais, será impulsionado à busca de um reforço de si. A verdade estarâ guardada, como tesouro a ser descoberto, em sua intimidade, em seu interior. O grupo como novo ser é concebido como cruz;amento de desejos/fantasmas individuais ou de forças que constroem um campo de intersubjetividade. Pode- se observar que na oposição indivíduo/grupo há comple- mentaridade (o indivíduo sempre está em grupo: família, escola, trabalho etc.) e também indiferenciação (no grupo acredita-se que o indivíduo perde sua individualidade). Vemos, entáo, que muitas vezes o grupo é definido segundo os princípios que Mc Dougall propõe sobre as massas, no início do século: continuidade material e moral; formação de uma ideia sobre o grupo; relaçáo com outras formações coletivas; tradiçáo, usos e instituições próprias; organizaçáo por divisão de tarefas. Com isso, mantém-se a dicotomia indivíduo/grupo, baseando as condi- ções de formação desse último em uma organizaçáo exterior c apriorística dos diferentes movimentos empreendidos. Nesta mesma cadeia de conexões, alguns indivíduos (todos- em-si), sob certas condições, formam o grupo (todo-em-si). Prevalece a ideia da unidade/totalidade: os indivíduos são unidatlcs totais que, ao serem reunidas por certas operações, configuram trrrr todo unitário. Como bem se vê, o gmpo, eleito intermediári«r rrir querela indivíduo/sociedade, se tem apresentado sob a mesma ógitlc individualizante. No entanto, se acreditamos que esse é um dos modos 1lr»ssívt'ir, de criação de subjetividades, é porque existem outros... C) irrtlivr.lttu náo é um dado, mâs um produto produtor da histórirr. Nrt, tttrtir história que venha para dizer quem somos - como ttos lt'tttl,t,t Foucault -, mas aquilo em que nos diferimos. História e devir na história. Pensar a subjetividade como produção é pensá-la em sua multiplicidade de devires, em modos que não se totalizam, em componentes de subjetivação tanto de ordem extraindividual (sistemas maquínicos econômicos, sociais, tecnológicos, ecológicos etc.), como de ordem infrapessoal (sistemas perceptivos, de afeto, de desejo, orgânicos etc.). Essa subjetividade múltipla, circulando nos conjuntos sociais, poderá ser apropriada pelos indivíduos e grupos, destituindo-os, por tal via, de seus lugares naturalizados e substancializados. Qrando dizemos que a subjetividade é múltipla, está configurado seu caráter coletivo ou de grupo, que nessa dimensão se equivalem. A subjetividade é, portânto, sempre de grupo (Guattari, 1981), o que implica um funcionamento de experimentação e criação. Dizer da dimensão processual é, justamente, não torní-la exclusiva de uma ou outra máscara com a qual se upteserrte. É contÍa qualquer tipo de retificação - do indivíduo ou do grupo - que nos estamos posicionando. Portanto, tomamos o grupo como uma das possíveis - e não a única - matérias de expressão através das quais se possa efetuar uma singularizaçáo. Qrando estamos frente a um indivíduo isso também é possível poÍque: A questão, [portanto], não se situa a nível do agrupamento de indivíduos, e sim de uma pragmática de processos de produção de desejo que nada tem aver com esse tipo de individuação. Tal pragmática, quando esmagadora, pode atingir tanto o indivíduo quanto o grupo (Guattari, E; Rolnik, S., 1986, p. 233). No trabalho em grupo, será o confronto com outÍas matérias rlt' cxpressão a invocar a "constituição de complexos de subje- ? to316 l tivação: indivíduo-máquina-trocas múltiplas, que oferecem à pessoa possibilidades diversificadas de recompor uma corporeidade existencial, de sair de seus impasses repetitivos e, de alguma forma, de se resingularizar" (Guattari, F., 19 9 2, p. 17) . Nossa tese: o grupo, bem como o indivíduo e a sociedade, tem funcionado em um mesmo registro - um modo que é, ao mesmo tempo, totahzante e individualizante. Unidades monádicas que mantêm entre si relações complementaÍes, os três termos se arran- jando conforme os acordos que fazem, dependendo das contin- gências histórico-sociais. Vamos ainda mais longe: justamente por estar o grupo gerido pelo modo*indivíduo é que ele vive os impasses do indivíduo e com ele rivaliza.Tornam-se, ambos, pretendentes ao lugar de verdade. O grupo - definido como todo, unidade, posse de identidade etc. - está aprisionado no mesmo modelo uno que a díade indivíduo/sociedade há séculos produz. Mas, se apontaÍmos para um além/aquém-indivíduo, o grupo aparecerá como uma das formas- funcionamentos de subjetividades possíveis. Destituído também o grupo do caráter universal e unificado, vislumbra-se a emergência de devires-outros, grupos-não-todos, grupo-clevires, cartografias grupais. Qrando desmanchamos 1l equivalência subj etividade/indivíduo, também o grupo-indivíduo se desmancha, criando condições para que se montem, autonom2l- mente, novos territórios com os componentes de subjetivação. o grupo-substanctaltzado so faz sentido se reconhecemos o modo- indivíduo como único, isto é, se acreditamos que o seÍ se esg-()l1r em algum de seus modos. Nosso percurso aponta exatamente em outra direção. O grrr1,,, só é concebido como objeto na lógica do terceiro excluído, orr st.i:r, naquela que maquin a a dtalização sujeito-objeto/teoria-práticu. l,)r r r nossa perspectiva melhor seria falar em cartografias grrrp,rir,, entrecruzamento de várias cartografias, por si tambónr q-r.ul):u,,, porque múltiplas, porque coletivas. É ,ru trrr.rforrnrrç'rrr) (lu(. r,(, conhece, é na montagem das cartografias que se pr«rttrrz.crrr n()\,(),, sentidos. Aqui, a regência fica sob a batuta da inclusão, daquilo que se insinua entre - no devir. A opção pelo trrrbalho em grupo procura sesuir o eaminho daquilo que chamamos de 1ógica do terceiro incluído, onde nào se buscam significados, mas se produzem outros sentidos.-I]ês dircçt)es norteiam a intervenção em grupos: a problcmatrzaçict, a desindividu alizaçã"o e a experimentação. O paradigma ético-estético-político e o grupo Na via da experimentação encontramos o que pode nos ajudar a pensar uma ética em grupos. Experimentar é procurar alterar os processos hegemônicos de subjetivação em curso: os que remetem aos indivíduos e esses a si mesmos, separando-os dos movimcntos coletivos que os produzem. Uma vida para fora oupara um dentro que seja apenas dobra do fora, uma vida para além das trocas intersubjetivas (entre pessoas), com atenção voltada para as ressonâncias mútuas. Nessas não há privilégio de nenhum estÍato: cada um deles é criador, cada um ressoa no outÍo) emitindo ondas, provocando movimentos desterritorializantes. A ética de que firlamos é aquela que se põe a ouvir o estrangeiro que se produz no cncontro com o outro, que trabalha as matérias de expressão como rr transformaçã«r cl«r plrclciro, conformc propõe Deleuze: 'li»nlt-sc rrrrt tlrrltclrlrclo, csticrr-sc cm um retângtrlo, r'ortlr-sc o rctâltgrrlo cnt rl«ris, rcblte- se uma pltrtc rLr rctirrgrrlo sobrc lr outrrr, rnodi- fica-se con stlu ) tcr ))c:l) tc ( ) r; ruxl rurlo rccsticando- o, é a oper'.rção rl«r nlrssciro. Âo cirbo dc um certo número de trirnsfirrrnlçõcs, dois pontos estarão fatalmente em durrs mctadcs opostas, por mais próximos quc tenham estado no quadrado original (Deleuze, G.,1,99211990], p. 155). 220 Como padeiros da subjetividade, acompanhamos os movi- mentos coletivos do desejo, sinalizamos as naturalizações que endurecem linhas e territórios, nos pomos como intercessores - sempre de passagemtpaÍa que devires possam se expressar. A intercessáo estâ sempre a favor dos moúmentos de criaçáo. Aqui está a úa estética. Por ela caminhamos acionando a proble- matrzação. Criar problemas é pôr a pensar, implica diferenciação. Foucault dizia que a liberdade existe quando se pode rejeitar um modo de subjetivação em que se foi constituído para criar outros, se diferenciando, afirmando essas diferenças. Criar é se diferenciar. A diferença é a que produz no mundo capacidade de provocar outras diferenças, é aquilo que consegue escapar da fala única, deixando vazar a polifonia que habita as multiplicidades. Em grupo, esta dimensão - estética - é muitas vezes confundida com um comparar semelhanças paÍa que diferenças apareçam (e isso no melhor dos casos, pois muitas vezÊs o trabalho incide na busca de semelhanças). Continuam aqú as diferenças referendadas no indiúduo, ou melhoç aquelas que,já exacerbadas pelo liberúsmo, aparecem âgora maquiadas pelos signos do sécu1o )O(. EntraÍ em contato com dGrenças é transformá-las em verbo. Ao invés de contato com as diferenças, diferir, engendrar-se pela diferença, no singular. Singularizar as diferenças, criando caminhos entre impossibilidades, tocando ürtrialidades, fazendo proliferar ramos do riznma em que o grupo se transforma para que a intercessão se faça entre os estrangeiros-em- mim em contato com os estrangeiros-no-outro. A dimensão estética é z da composição/recomposição de universos de subjetivação: Não se tratalpara ela] de transmitir mensil- gens, de investir imagens como suporte de iderrti- ficação ou padrões formais como esteio de p«rcrli mento de modelização, mas de catalisar opcrrttlorct existenciais suscetíveis de adquirir c«rrtsistônciit t persistência (Guattari, F., 1992,p. 3 1). O grupo tomado como dispositivo, como aquilo que põe a funcionar os modos de expressão de subjetividade, opera processos de desindiüdtalizaçáo. tris aqui nossa via política. Máquina de decomposição de verdades, de concepções tomadas como naturais e universais, o grupo pode acionar confron- tos entre expressões do modo-indivíduo vigente. Ao tomar os enunciados como remetendo náo a sujeitos individuais, mas a coletivos, ao percorrer os caminhos maquínicos do desejo que não se esgotam nas vivências individualizadas, o grupo dispara desconstmções dos territórios enclausurantes da subj etiüdade. Entrar em contato com as multiplicidades que flutuam, não almejando equilíbrios, mas a invenção de bifurcações de um tempo que é maquínico - tempo das intensidades -, eis a via política de nosso paradigma. Grupo-dispositivo, grupo-máquina: entrada que nos faz entender as armadilhas de um modo serializado de produção do indivíduo e do grupo. Dispositivo-instrumento que nos auxilia a pôr em questão a problemática da economia do desejo sob nova ótica, escapando à ideia de falta jamais preenõhida, dado que o que se quer é expansão. Máquina-instrumento que se conecta a outras máquinas: técnicas, ecológicas, sociais, semióticas... Eis a entrada grupal que o paradigma ético-estético-político nos abre: a de uma subjetividade que experimente, se arrisque em outros modos de composiçã"o; a de uma subjetividade que se produza heterogênea, sendo ao mesmo tempo heterogenética; a tlc uma subjetividade quc cste.ia comprometida com os processos t'oletivos que a produzem. Talvez estejamos começando a definir outras possibilidades r lt' cxistência, caso consigamos acionar modos-grupo que sustentem srur provisoriedade, que escapem às universalizações e substan- , irrlizações e se ponham a fazer funcionar redes transversais de ',rrh.ictividades coletivas. Esse parece ser o desafio paÍa" aqueles que r,t' intcrcssam pelos processos de singularizaçáo - sejam eles )2. 323 voltados paÍao indivíduo, ou para o grupo. Esse parece ser o desafio para aqueles que acreditâm que ainda vale procurar novas entradas... Notas t Há o-, interessante rliscussão entre C. Garcia e G. Baremblitt a respeito da "ligação" no grupo: "O que liga um grupo é o fato de ele se ca1a4 sem o saber sobre as mesmas coisas... é o pânico frente à experiência da solidão essencial" (Garcia, C., 1987, p. 22). No contraponto dessas afirmações, G. Baremblitt afirmará que náoltâvazio catsador deste pânico porque todo o socitrs e qtadricuiado, habitado e, sendo assim, este "vâzio" estaria povoado de outros gmpos. "Não se sai de uma otganização senão pata cair em outra, e o mesmo ocorre com os gÍupos" (ibidem, p. 61). - Esta experiência pode ser enconffada emLapassade, G. 11974), (1977) e em Anzieu, D. (1971) Tàmbém em Athayde, M. (1986), em Rodrigues, H. et al. (1992, p. 776) e em Fernandé2, A. M (1989) há importantes referências à experiência em questào. '\ralr: rlcstlrr::rr clrtc;rs noções dr: horizontaliciacle e clr: vrrtic:rlirlrrrlt: s;-io rrsualrrrt:ntt: cnrPrcq;rri;rs l'ir:hor-l{ivii:rr:. Scc.untlo cssc iluiorl:r horizont:llicladr: t:st;i ligirtla ro processr) rlLr(j ocorrc no irrlrri c irgorir clo gnrpo a lrislorilr clo grtrpo , enqu:urto rlLrr: ir vr:rticrlidadr: so 1iu:rriir r lriskiria pcssorrl rlo sll jcito. làis r:onr:cpr.:õcs, clrtrclxnLo, rllerccorinrt crÍtir:as intportaltes {ronl ;r r'l(,(.i-r,, rlr: "tlrrrsvorsirliclarlr:" criacla por (;Lrirltirri, r plrtir t1t: surt r:xpr:riirrrr;ia (x)11 gm|ros ctrl Lit l.ii:r'tlr:. l ilir prctr:ncliir, r:onr isso, sllpcrírr il drrirllrlirdr: tla ver tical.irl;rrli: x )ror izontalicl;rde, itcpti tontirrlrrs (:nr scll outro scrlti(1o vcrti(i;)lial;trlr: r oDro (:stnrtLlrr ollt:iltl, rt tit;rttir rr:r,r:lacla pt:lo otqrtttoqt;tDr,t (lc cstrLlturils pilrnrirLris; horizorrlrrlirlrrrlr: tllrda pr:lo r:orrjrrrrlo tlrr rr:lrrr:irt:s rrr;ris orr rrrr:rros inÍotntitis, tll;lis olr nr,rrr,rs itrslilrrciort.rliz.rtl;rs, nos tliycrsos 11r';rtrs rl:r Pilrrrrirlr: lltrrrrr;ttrl, Nl., I t)77 ). \('nlosil(lUi(lLto()l1rrrorrlrclriivo;rlilrlr,rlrrvrrriosrrrrtlirlos:olrrrrlit,oprllrrrrliro,ttlil,rrprrtlivo r irtttgitrr, ittlttolc qtti: "1\1riti",rl1,l; r)plrirlr\'() rll,rr or:rr rll i rtlrrl ro (llr( r (,nslrllli lr()( il' ..\ psiclrriatria rle setorfbi ollr:i:rlizrrrl;r rrr lrr;rrrr.rr rr p;rrlir rl;r rlcr:lrrl;r rlc ljl) c, tlcsrlc crliro, tcnl ,;irlo ;tlvri de r:rÍticas poL ter itr:;rltrrrlo ;rrr s r vir, r:rrr rrrrril,rs silltrrr.:or:s, rr rrrrrr lrrltlir:rt rlc srttlrk: ;rrfvr:r'tlivist:rr:controladora.Ar:sscrfslr.itov|r(iuirlliri, l.llq'//1, l1)ill;Orrslcl, li. llttllll, l!)[t7; 1,,)rliru,Ii.fl970l,l975;Castel,tt.()irttlivtltrrtt,tsor:ittl,th',21).'íi.iio. " Assim, essa formulação inicial se transmutará ao longo de sua obra. Como exemplo, em Miot"opolítica: cartografras do deseyo (1 986) afirrra , àpâginaZ63: "E por isso que eu nâo retomaria irhsolutamente essa minha antigâ formulaÇão de 'grupo sujeitol Falaria de 'processos de rirrbjetivação' ou processos de semiotização', os quais não coincidem nem com um gruponem rorn um indivíduo...". No mesmo livro, à página 293, volta a usar a noÇão de grupo-sujeito: "Essa irlt:ia.já estava presente, há muito tempo, no texto sobre a 'transversalidade', quando eu dizia 19Lt