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CAPÍTULO V - FITOTERAPIA E DIABETES MELLITUS Andressa Mendes Jacó da Fonseca e Olívia Almeida DIABETES O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença que a cada ano vem aumentando a incidência em crianças, adolescentes, adultos e idosos (SBD, 2014). O diabetes pode ser classificado em tipo 1 (DM1), tipo 2 (DM2), outros tipos específicos de DM e Diabetes Gestacional. O primeiro é classificado pela deficiência de células pancreáticas liberando pouca ou nenhuma insulina; o segundo é quando o organismo produz uma quantidade de insulina insuficiente para o controle das taxas de glicemia; já o diabetes gestacional ocorre por fatores hormonais que diminuem a ação da insulina durante a gestação (SBD, 2014). Para o diagnóstico de diabetes, considera-se glicemia de jejum ≥126 mg/dL, glicemia pós-prandial de 2 horas ≥ 200mg/dL e, no teste de tolerância à glicose (em qualquer horário) ≥ 200mg/dL, em pacientes sintomáticos (poliúria, polidipsia e perda de peso) (SBD, 2014). Atualmente, os tratamentos mais utilizados para diabetes são hipoglicemiantes, insulinoterapia e a terapia nutricional. Além desses, o tratamento à base de plantas medicinais vem sendo recomendado na prevenção e controle da doença (TABATABAEI-MALAZY; LARIJANI; ABDOLLAHI, 2015). O uso de plantas medicinais entre os países em desenvolvimento desempenha um papel importante nas comunidades, devido ao baixo custo e ao fácil acesso às mesmas (SSENYANGE et al., 2015). Deve-se ter cuidado em relação ao uso de plantas medicinais por não existir muitos estudos relatando sua toxicidade. Cada planta tem seus princípios ativos e agem de formas especificas no organismo, por isso, a importância do estudo da fitoterapia para se identificar os sintomas ou a predisposição à patologia e administrar a melhor opção ao paciente. Nesse capítulo será relatado o uso de Allium sativum (alho), Camellia sinensis (chá verde), Punica granatum L (romã) e Cinnamomum verum (canela) no tratamento do Diabetes Mellitus (Quadro 1). 61 Quadro 1. Levantamento de estudos clínicos e experimentais com utilização de plantas medicinais no tratamento de diabetes. Referência Planta Nome científico Participantes Parte da planta usada Tempo de uso Posologia Efeito positivo EIDI; EIDI; ESMAELI, 2006 Alho Allium sativum Ratos diabéticos e normais Bulbo fresco 14 dias Extrato alcoólico 1mL Baixa da glicemia dos diabéticos SHER et al., 2012 Alho Allium sativum Coelhos não diabéticos e normais Bulbo Não informa Extrato seco 250mg para não diabéticos e 250mg, 300mg e 350mg para os animais diabéticos Baixa da glicose, triglicerídeos e colesterol SARKAKI et al., 2013 Alho Allium sativum Ratos Bulbo 14 dias Extrato alcoólico 1 mL Baixa da glicemia ASHRAF; RKHAN; ASHRAF, 2011 Alho Allium sativum 60 participantes (homens e mulheres) usando medicação para diabetes Bulbo 24 semanas Extrato seco 300mg Baixa da glicose, triglicerídeos e colesterol SULIBURSKA et al., 2012 Chá verde Camellia sinensis Homens e mulheres Toda planta 12 semanas Extrato seco - 379mg de extrato seco de chá verde e 208mg de EGCG Baixa nos níveis de glicose 62 FUKINO et al., 2008 Chá verde Camellia sinensis 61 participantes (homens e mulheres) usando medicação para diabetes 2 grupos: grupo A intervenção precoce e B intervenção tardia Toda planta 16 semanas Extrato seco. 544mg de polifenóis, 456mg de catequinas e 102mg de cafeína dissolvidos em água morna. Grupo A tomou nos 2 primeiros meses e B nos dois últimos meses. Baixa na glicose nos dois grupos JOSIC et al., 2010 Chá verde Camellia sinensis Homens e mulheres Toda planta 17 dias Chá junto com a refeição (tomar no prazo de 1 minuto) Baixa da glicemia PARSAEYAN et al., 2012 Romã Punica granatum L Homens e mulheres diabéticos Todo fruto 6 semanas 200mL de suco de romã Baixa da glicemia e jejum BASU et al., 2013 Romã Punica granatum L Homens e mulheres diabéticos e não diabéticos Não informa 4 semanas Extrato seco cápsulas POMx (2 cápsulas/dia de polifenóis, 1500mg) Baixa da peroxidação lipídica em diabéticos WANG et al., 2015 Romã Punica granatum L Ratos Casca de ambos 4 semanas Casca da romã 40% de polifenois, com casca do feijão 40% de antocianinas Efeitos inibitórios na glicemia. Níveis de insulina foram reduzidos. 63 NEKOOEIAN et al., 2014 Romã Punica granatum L Ratos Semente 68 semanas Óleo da romã Melhorou secreção de insulina sem alterar glicemia de jejum. TSANG et al., 2012 Romã Punica granatum L Humanos Todo fruto 4 semanas 500ml Suco da romã Redução da insulina e resistência a insulina KHAN et al., 2003 Canela Cinnamomum verum 60 indivíduos diabéticos tipo 2 Casca 8 semanas Extrato seco - G1 consumiu 1g da canela, G2 consumiu 3g, G3 6g Reduziu glicose, triglicérides e colesterol total BEEJMOHUN et al., 2014 Canela Cinnamomum verum Humanos Casca Não informa Extrato seco 1g 30 min antes das refeições Redução da glicemia após a absorção da refeição HLEBOWICZ et al., 2007 Canela Cinnamomum verum 14 indivíduos saudáveis Casca Não informa Pó 6g juntamente com preparação de pudim de arroz Redução da glicose pós-prandial MARKEY et al., 2011 Canela Cinnamomum verum 9 indivíduos saudáveis Casca 28 dias Extrato seco 3g Não mudou respostas glicêmicas Legenda: EGCG - epigalocatequina galato; POMx – marca do suplemento utilizado para o estudo. 64 ALHO (Allium sativum) O Allium sativum, conhecido popularmente como alho, tem como seu princípio ativo principal a alicina (CHEN et al. 2016). Eidi, Eidi e Esmaeli (2006), realizaram um estudo com 54 ratos, sendo 30 diabéticos e 24 ratos normais, divididos em nove grupos. Após 14 dias de tratamento com 1mL de extrato alcoólico de alho, observou-se uma redução significativa das taxas de glicemia, tendem a trazer de glicose no soro (p<0,001) e insulina (p <0,05) significativamente para valores normais em ratos diabéticos, enquanto ratos normais não apresentaram alterações significativas em duração níveis de glicose e de insulina. Os níveis de triglicérides também apresentaram redução (p<0,001) e colesterol total (p<0,001), quando comparado com o controle ratos diabéticos. Sher et al. (2012), em estudo com coelhos machos adultos, administraram extrato seco de bulbo de alho. Os animais foram divididos em diabéticos e não diabéticos, utilizando doses de 250, 300 e 350mg de alho e uma dose placebo de 250mg. O tratamento feito em três doses diferentes causou redução na glicose, triglicérides e colesterol, porém a diminuição de todos os três parâmetros foi significativa apenas com a dose mais elevada, ou seja, a de 350mg. Nível de glicose no sangue (270,3 ± 0,8mg/dL) foi significativamente (p<0,05) reduzido, em comparação com o nível do grupo controle (303,8 ± 1,8mg/dL). Os níveis de triglicérides (44,0 ± 0,9mg/dL) e colesterol (32,8 ± 0,7mg/dL), também reduziu de forma significativa (p<0,05) em coelhos normais, após 4 horas da administração de extrato. Sarkaki et al. (2013), em estudo experimental com ratos, testaram pó de alho macerado em etanol a 80%, durante 72 horas, à temperatura ambiente, por um período de 14 dias. O tratamento com extrato de alho reduziu a glicose no sangue de forma clinicamente significativa (p<0,05 e p<0,01). Ashraf, Rkhan e Ashraf (2011) em estudo clínico, avaliaram 60 pacientes com DM 2, apresentando glicemia acima de 126mg/dL. Os pacientes foram divididos em dois grupos, onde um recebeu 300mg de extrato de alho com 500mg de metformina, e o segundo, placebo com a mesma dose de metformina, por 24 semanas. Glicemia de jejum e perfillipídico foi dosado em 0,12 e 24 semanas. Grupo tratado com alho apresentou redução significativa da glicemia de jejum (-3,12%) comparado ao grupo 65 de recebeu placebo (0,59%). Após as 24 semanas o grupo controle também apresentou redução em todo perfil lipídico. CHÁ VERDE (Camellia sinensis) A Camellia sinensis conhecida popularmente como chá verde, apresenta comprovada eficácia na redução da glicemia, inclusive, a partir de resultados de estudos com humanos. Suliburska et al. (2012) realizaram estudo com 46 participantes (23 homens, 23 mulheres), com duração de 3 meses. Todos os participantes foram randomizados para receber uma cápsula por dia contendo 379mg de extrato de chá verde e 208mg de epigalocatequina galato (EGCG), sendo que o grupo placebo recebeu uma cápsula que não continha o chá. Observou-se que a suplementação foi associada com diminuição dos níveis de glicose e triglicerídeos no soro do grupo que utilizou o chá verde tratamento causou significativa redução no TC e TG (respectivamente, p<0.034 e p<0.042), LDL (p<0.035), glicose (p<0.043), Fe (p<0.048), e aumento significativo nos níveis de HDL (p<0.044), Zn (p<0.037) e Mg (p<0.047) (SULIBURSKA et al., 2012). Em estudo de Fukino et al. (2008), 61 participantes com idades entre 32 e 73 anos, receberam a administração de um suplemento em sachê composto por uma mistura de extrato de chá verde padronizado e de chá verde em pó. Nele continha um total de 544mg de polifenóis, 456mg de catequinas e 102mg de cafeína, podendo ser consumido diariamente sem dificuldade. Os participantes foram orientados a beber 1/3 a 1/4 do conteúdo dissolvido em água quente, no final de cada refeição ou lanche. O estudo mostrou que a suplementação durante 2 meses melhorou a glicose entre os indivíduos com glicemia limítrofe (p = 0,03) (FUKINO et al., 2008). Josic et al. (2010) realizaram um estudo no qual ofereceram chá verde para o grupo teste e, para o grupo placebo, água quente, por 17 dias. Em cada refeição o chá e a água tinham que ser consumidos no prazo de 10 minutos. A ingestão de chá verde juntamente com a refeição resultou numa redução de glicose no sangue. A ingestão do suplemento de chá verde resultou em um aumento significativo (p=0,019) de insulina em resposta à glicose no sangue. A mudança pós-prandial 66