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DIREITO DAS COISAS -INTRODUÇÃO

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DIREITO DAS COISAS 
 
1 – INTRODUÇÃO 
 
1.1 - Conceito de Direito das Coisas: Segundo Clóvis Beviláqua, direito das coisas “é o 
complexo de normas reguladoras das relações jurídicas referentes às coisas suscetíveis de 
apropriação pelo homem. Tais coisas são, ordinariamente, do mundo físico, porque sobre elas é 
que é possível exercer o poder de domínio”. 
Flávio Tartuce leciona que “O Direito das Coisas é o ramo do Direito Civil que tem como conteúdo 
relações jurídicas estabelecidas entre pessoas e coisas determinadas, ou mesmo determináveis” 
Como coisas pode-se entender tudo aquilo que não é humano. 
Coisa é o gênero do qual bem é espécie. É tudo o que existe objetivamente, com exclusão do 
homem. 
Direito das coisas ou direitos reais? 
1.2 – Evolução: 
O direito civil moderno edificou-se, em matéria de propriedade, sobre as bases do direito romano, 
o qual estabeleceu a estrutura da propriedade. 
A concepção da propriedade foi marcada, inicialmente, pelo aspecto nitidamente individualista. 
Sistema feudal: Havia um sistema hereditário para garantir que o domínio permanecesse numa 
dada família de tal forma que esta não perdesse o seu poder no contexto do sistema político. E 
esse sistema existiu durante todo o período do feudalismo. 
Revolução Francesa: propriedade com características fiéis à tradição romana e aos princípios 
individualistas. 
A concepção egoística e individualista foi-se modificando, passando a ser enfocado com mais 
frequência o aspecto da função social da propriedade. 
Século XX: predomínio do interesse público sobre o privado. A preponderância do interesse 
público sobre o privado. O direito de propriedade deixou de apresentar as características de 
direito absoluto e ilimitado para se transformar em um direito de finalidade social. Constituição 
Federal dispõe que a propriedade atenderá a sua função social (art. 5º, XXIII). 
CC/2002: art. 1.228, §§ 1º e 4º. 
 Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257, de 10-7-2001) : usucapião coletiva- áreas urbanas com mais 
de duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupadas por população de baixa renda para sua 
moradia por cinco anos, onde não for possível identificar os terrenos ocupados individualmente. 
 
1.3– Conteúdo: Além do Código Civil, o Direito das Coisas está regulado em leis especiais, 
como as que disciplinam, por exemplo, a alienação fiduciária, a propriedade horizontal, os 
loteamentos, o penhor agrícola, pecuário e industrial, o financiamento para aquisição da casa 
própria, além de Códigos especiais, concernentes às minas, águas, caça e pesca e florestas, e 
da própria Constituição Federal. 
 O Código Civil regula o direito das coisas no Livro III de sua Parte Especial. 
 
1.4. Classificação: 
a) Direito real sobre coisa própria: é a propriedade, que confere o título de dono ou 
domínio. Normalmente, a propriedade é ilimitada ou plena, conferindo poderes de uso, gozo, 
posse, reivindicação e disposição. 
b) Direito real sobre coisa alheia: é o desmembramento do direito real sobre coisa própria. 
Poderá somente ser temporário, visto que, dentro do princípio da elasticidade, a coisa tende a 
voltar à situação original, que é a propriedade plena. Divide-se em três grupos: 
 Direito real de fruição: é o desmembramento em relação ao uso da coisa. Pode ser enfiteuse 
(direito real em contrato perpétuo, alienável e transmissível para os herdeiros, pelo qual o proprietário atribui 
a outrem o domínio útil de imóvel, contra o pagamento de uma pensão anual certa e invariável; aforamento), 
servidão, usufruto, uso e habitação (arts. 1412 a 1416). 
 Direito real de garantia: é o desmembramento em relação à disposição da coisa (limita o direito 
de dispor da coisa). Se não cumprida a obrigação principal, o credor irá dispor da coisa. Pode 
ser hipoteca, penhor e anticrese (o devedor entrega um imóvel ao credor, transferindo-lhe o direito de 
auferir os frutos e rendimentos desse mesmo imóvel para compensar a dívida). 
 Direito real de aquisição: é o desmembramento do direito de aquisição. O titular transmite a 
propriedade para terceiros, paulatinamente. Pode ser compromisso irretratável de compra e 
venda, e alienação fiduciária em garantia. 
 
1.5 – Direito reais e pessoais: Direitos reais (jus in re: direito à coisa) e pessoais (jus ad rem: 
direito à uma coisa): reais deriva de res, rei, que significa coisa. 
 
1.5.1 – Conceitos: 
O direito real consiste no poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com 
exclusividade e contra todos. 
Elementos essenciais: o sujeito ativo, a coisa e a relação ou poder do sujeito sobre a coisa, 
chamado domínio. 
 (No polo passivo incluem-se os membros da coletividade, pois todos devem abster-se de 
qualquer atitude que possa turbar o direito do titular). 
 
O direito pessoal, consiste numa relação jurídica pela qual o sujeito ativo pode exigir do sujeito 
passivo determinada prestação. Constitui uma relação de pessoa a pessoa e tem, como 
elementos, o sujeito ativo, o sujeito passivo e a prestação. 
 
1.5.2 – Diferenças: 
Direitos reais Direitos pessoais de cunho patrimonial 
Relações jurídicas entre uma pessoa 
(sujeito ativo) e uma coisa. O sujeito 
passivo não é 
determinado, mas é toda a 
coletividade. 
 
Relações jurídicas entre uma pessoa 
(sujeito ativo – credor) e outra (sujeito 
passivo –devedor). 
Princípio da publicidade (tradição e 
registro). 
Princípio da autonomia privada 
(liberdade). 
Efeitos erga omnes. Os efeitos podem 
ser restringidos. 
Efeitos inter partes. Há uma tendência 
de ampliação dos efeitos. 
Rol taxativo (numerus clausus), 
segundo a visão clássica – art. 1.225 
do CC. 
Rol exemplificativo (numerus apertus) 
– art. 425 do CC – criação dos 
contratos atípicos. 
A coisa responde (direito de sequela- 
direito de perseguir a coisa objeto do 
direito, se ela for subtraída do sujeito). 
Os bens do devedor respondem 
(princípio da responsabilidade 
patrimonial). 
Caráter permanente. 
Instituto típico: propriedade. 
Caráter transitório, em regra, o que 
vem sendo mitigado pelos contratos 
relacionais ou cativos de longa 
duração. 
Instituto típico: contrato.

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