Buscar

Sebenta - Direitos Reais

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 119 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 119 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 119 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
Regência: Luís Menezes Leitão 
História ......................................................................................................................................................... 5 
PRINCÍPIOS GERAIS dos Direitos Reais ........................................................................................................ 6 
1. Princípio da Tipicidade ........................................................................................................................ 6 
2. Princípio da Especialidade .................................................................................................................... 6 
3. Princípio da Elasticidade ...................................................................................................................... 7 
4. Princípio da Transmissibilidade ............................................................................................................ 7 
5. Princípio da Publicidade ....................................................................................................................... 8 
6. Princípio da Boa Fé ............................................................................................................................... 8 
CONCEITO e ESTRUTURA dos Direitos Reais ............................................................................................... 8 
Teoria Clássica ou Realista ....................................................................................................................... 8 
Teorias Modernas ou Personalista ........................................................................................................... 8 
Teoria do Poder Direto e Imediato sobre uma Coisa........................................................................... 8 
Teoria do Poder Absoluto .................................................................................................................... 9 
Teorias Mistas ...................................................................................................................................... 9 
Orientações Doutrinárias Portuguesas .................................................................................................... 9 
CARACTERÍSTICAS dos Direitos Reais ........................................................................................................ 10 
I. Caráter Absoluto ................................................................................................................................. 10 
II. Inerência ............................................................................................................................................ 10 
III. Sequela .............................................................................................................................................. 11 
IV. Prevalência ........................................................................................................................................ 11 
Objeto dos Direitos Reais: COISAS ............................................................................................................ 13 
Situações Jurídicas Propter Rem ............................................................................................................... 18 
Obrigações Propter Rem ........................................................................................................................ 18 
Ónus Reais .............................................................................................................................................. 19 
Pretensões Reais .................................................................................................................................... 20 
CLASSIFICAÇÕES dos Direitos Reais........................................................................................................... 22 
Direitos Reais de Gozo, de Garantia e de Aquisição .............................................................................. 22 
Direito Real Maior e Menor ................................................................................................................... 22 
Direitos Reais sobre Coisa Própria e Coisa Alheia .................................................................................. 23 
Direitos Reais de Proteção Definitiva e Proteção Provisória ................................................................. 23 
Direitos Reais Simples e Complexos ....................................................................................................... 23 
Direitos Reais Autónomos e Subordinados ............................................................................................ 24 
Direitos Reais de Titularidade Imediata e Titularidade Mediata ........................................................... 24 
POSSE .......................................................................................................................................................... 25 
Fundamento da Proteção Possessória ..................................................................................................... 25 
POSSE E DETENÇÃO ................................................................................................................................ 27 
Solução da Lei .................................................................................................................................... 28 
Âmbito da Posse ..................................................................................................................................... 30 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
2 
 
Direitos abrangidos pela Tutela Possessória ...................................................................................... 30 
Concurso de Posses ............................................................................................................................ 31 
Classificações da Posse............................................................................................................................ 32 
Vicissitudes da Posse ............................................................................................................................... 34 
Constituição da Posse – art. 1263º..................................................................................................... 34 
Manutenção da Posse ........................................................................................................................ 36 
Modificação da Posse ......................................................................................................................... 36 
Sucessão na Posse .............................................................................................................................. 36 
Acessão na Posse ............................................................................................................................... 36 
Perda da Posse – art. 1267º ............................................................................................................... 37 
Efeitos da Posse ...................................................................................................................................... 38 
Direitos do Possuidor ......................................................................................................................... 38 
Deveres do Possuidor ......................................................................................................................... 39 
Defesa da Posse ...................................................................................................................................... 39 
Regime específico das Ações Possessórias ......................................................................................... 40 
Natureza da Posse ...................................................................................................................................42 
Conteúdo dos Direitos Reais ..................................................................................................................... 43 
Limitações aos Direitos Reais ....................................................................................................................... 45 
Limitação da Propriedade pela sua função social: o Abuso do Direito ................................................... 45 
1. Limitações de Direito Público ............................................................................................................. 46 
2. Limitações de Direito Privado ............................................................................................................. 48 
A. Deveres de Abstenção de certas condutas ...................................................................................... 49 
B. Dever de Tolerar o exercício de poderes sobre o prédio ................................................................. 51 
C. Deveres de Prevenção do perigo para o prédio vizinho ................................................................... 51 
D. Deveres de participar em atividades de interesse comum .............................................................. 53 
Contitularidade dos Direitos Reais ............................................................................................................ 54 
COMPROPRIEDADE – art. 1403º e ss. .................................................................................................... 54 
CONTITULARIDADE DAS ÁGUAS – art. 1398º e ss. ................................................................................. 57 
Constituição dos Direito Reais ................................................................................................................... 58 
Por Negócio Jurídico .............................................................................................................................. 58 
Por Lei .................................................................................................................................................... 58 
Por Sentença Judicial ............................................................................................................................. 58 
USUCAPIÃO – art. 1287º e ss. ................................................................................................................ 58 
Capacidade para a Usucapião ........................................................................................................... 58 
Direitos que podem ser objeto de Usucapião .................................................................................. 58 
Requisitos da Posse necessária para a Usucapião ........................................................................... 59 
PRAZOS .............................................................................................................................................. 59 
Invocação da Usucapião ................................................................................................................... 60 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
3 
 
ACESSÃO ................................................................................................................................................ 61 
Distinção das Benfeitorias ................................................................................................................ 61 
Art. 1326º tem as espécies de acessão ............................................................................................. 62 
Formas de Atuação da Acessão ........................................................................................................ 63 
Transmissão dos Direitos Reais ................................................................................................................. 65 
Contratos Reais...................................................................................................................................... 65 
Modificação dos Direitos Reais ................................................................................................................. 66 
Defesa dos Direitos Reais .......................................................................................................................... 67 
Extinção dos Direitos Reais .......................................................................................................................... 69 
REGISTO – Publicidade dos Direitos Reais ................................................................................................ 73 
Princípios do Registo Predial ................................................................................................................. 73 
Modalidades de Atos de Registo .......................................................................................................... 75 
Processo do Registo............................................................................................................................... 76 
Efeitos do Registo .................................................................................................................................. 76 
PROPRIEDADE ............................................................................................................................................. 81 
Art. 1305º - Conteúdo do Direito de Propriedade .................................................................................. 81 
Características do Direito de Propriedade .............................................................................................. 81 
Formas de Aquisição da Propriedade ..................................................................................................... 81 
Propriedade sobre as Águas – art. 1385º e ss. ....................................................................................... 82 
Natureza do Direito de Propriedade ....................................................................................................... 83 
PROPRIEDADE HORIZONTAL ........................................................................................................................ 84 
Requisitos Legais e Partes Comuns do Prédio ........................................................................................ 84 
Constituição da Propriedade Horizontal ................................................................................................. 85 
Título Constitutivo ............................................................................................................................ 85 
Condomínio ............................................................................................................................................ 86 
Poderes .............................................................................................................................................. 86 
Limitações aos Poderes – art. 1420º ................................................................................................ 86 
Obrigações ......................................................................................................................................... 87 
Administração das partes comuns ................................................................................................... 87 
Modificação e Extensão .......................................................................................................................... 88 
Natureza da Propriedade Horizontal ...................................................................................................... 89 
USUFRUTO ................................................................................................................................................. 90 
Características e Objeto .........................................................................................................................90 
Constituição do Usufruto – art. 1440º ................................................................................................... 91 
Poderes do Usufrutuário – art. 1446º .................................................................................................... 91 
Obrigações do Usufrutuário ................................................................................................................... 92 
Direitos do Proprietário de Raiz ....................................................................................................... 93 
Extinção do Usufruto – art. 1476º ......................................................................................................... 93 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
4 
 
Tipos Especiais do Usufruto ................................................................................................................... 94 
Natureza ................................................................................................................................................. 95 
Uso e Habitação ......................................................................................................................................... 95 
Conteúdo e Regime ................................................................................................................................ 96 
Tipos Especiais de Uso e Habitação ....................................................................................................... 96 
Natureza ................................................................................................................................................. 96 
SUPERFÍCIE .................................................................................................................................................. 97 
Objeto e Duração ................................................................................................................................... 97 
Constituição do Direito de Superfície – art. 1528º ................................................................................. 98 
Poderes e Direitos do Superficiário ........................................................................................................ 98 
Poderes e Direitos do Proprietário do Solo ............................................................................................ 99 
Extinção da Superfície – art. 1536º ...................................................................................................... 100 
Natureza ............................................................................................................................................... 101 
SERVIDÕES PREDIAIS ................................................................................................................................. 102 
Características das Servidões Prediais .................................................................................................. 102 
Modalidades de Servidões .................................................................................................................... 103 
Servidões Legais ............................................................................................................................... 104 
Constituição, Conteúdo e Mudança ..................................................................................................... 105 
Extinção das Servidões – art. 1569º ..................................................................................................... 107 
Natureza ............................................................................................................................................... 108 
DIREITO REAL DE HABITAÇÃO PERIÓDICA .................................................................................................. 109 
DL 275/93, de 5 de agosto .................................................................................................................... 109 
DIREITOS REAIS DE GARANTIA ................................................................................................................... 111 
Consignação de Rendimentos (art. 656º-665º) ..................................................................................... 111 
Penhor (art. 666º-685º) ........................................................................................................................ 113 
Hipoteca (art. 686º-732º) ...................................................................................................................... 115 
Privilégios Creditórios (art. 736-753º) ................................................................................................... 117 
Direito de Retenção (art. 754º-761º) .................................................................................................... 118 
Penhora ................................................................................................................................................ 118 
DIREITOS REAIS DE AQUISIÇÃO .................................................................................................................. 119 
Promessa Real ....................................................................................................................................... 119 
Preferência Real .................................................................................................................................... 119 
 
 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
5 
 
História 
Origem na categoria de ações romanística: 
• Actio in personam – formulavam pretensão contra pessoa, não podendo a pretensão 
extravasar a relação obrigacional. 
o Deu origem ao iura in personam 
• Action in rem – formulavam pretensão contra uma coisa, visando estabelecer a sua 
defesa contra qualquer pessoa que de alguma forma perturbasse o aproveitamento 
pelo titular, podendo este perseguir a coisa onde quer que ela se encontrasse. 
o Deu origem ao iura in rem – Direitos Reais, que incidem sobre coisas, tendo 
eficácia real1. 
 
Os Direitos Reais são um ramo do Direito Civil. 
Desde a pandectística alemã e a partir da classificação germânica do Direito Civil – instituída por 
Savigny. 
• Livro III do CC de base estrutural – sempre que surja estruturalmente a atribuição de 
coisas corpóreas2 a determinada pessoas, essa situação jurídica3 é potencialmente 
regulada pelo Direito das Coisas. 
o Os direitos reais de gozo estão no Livro III; os direitos reais de garantia estão no 
Livro II; os direitos reais de aquisição estão no II e no III. 
• É o direito que regula a atribuição das coisas corpóreas com eficácia real, i.e., eficácia 
absoluta perante terceiros. 
 
Gomes da Silva: não há dois direitos reais iguais 
➢ Daí que não seja possível estabelecer uma teoria geral dos Direitos Reais, pois há uma 
diferença vasta entre os vários direitos reais 
o ML: é vantajoso pensar-se numa teoria geral dos Direitos Reais em que se 
estude, a um nível mais geral e abstrato, todas as características comuns a 
essa categoria (como o é a eficácia real). 
o Não havendo uma parte geral o Direito Real paradigmático é a Propriedade, 
que está regulado no CC e se aplicará a outros direitos reais (como servidões, 
superfície, usufruto e etc.) 
 
Tutela Constitucional dos Direitos Reais 
Garantia constitucional da propriedade -> art. 62º CRP: permite aos cidadãos um espaço de 
liberdade, no âmbito do qual eles podem desenvolver livremente a sua vida, através do pleno 
aproveitamento dos bens de que são titulares. 
• Extensiva a todos os Direitos Reais 
• Análoga aos DLG – tese do TC, desde 1984, por força do art. 17º CRP 
• Limites do art. 18º/2 e 18º/3 CRP. 
 
Jurisprudência do TC tem reiterado que propriedade deve ser entendida amplamente – 
componente estática de proteção e componente dinâmica da tutela dessa propriedade.1 Eficácia do direito contra qualquer pessoa – direito de cariz absoluto 
2 Havendo semelhança de consequências jurídicas geradas a partir da atribuição de direitos reais sobre 
coisas corpóreas. 
3 Situações da vida humana valoradas pelo Direito – aquelas situações da vida às quais o Direito confere 
relevância para os fins próprios do Direito 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
6 
 
PRINCÍPIOS GERAIS dos Direitos Reais 
Ideias gerais subjacentes a este ramo do Direito4, cuja doutrina discute. 
• Henrique Mesquita: tipicidade, consensualidade, causalidade 
• Carlos Mota Pinto: especialidade, transmissibilidade, elasticidade, tipicidade, 
publicidade, consensualidade 
• José Alberto Vieira: tipicidade (numerus clasus), inerência, especialidade, 
consensualidade, causalidade e unidade, territorialidade, publicidade. 
o Menezes Leitão: muitos destes são características dos direitos reais e não 
princípios, que correspondem aos fundamentos dogmáticos específicos do 
Direito das Coisas. 
 
1. Princípio da Tipicidade 
Numerus clausus dos direitos reais – art. 1306º CC 
➢ Proíbe a inexistência de direitos reais que não se encontrem previstos na lei. 
o Se as partes quiserem criar novos direitos reais, ao abrigo da sua autonomia 
privada, a lei nega-lhes a pretendida eficácia real, atribuindo-lhes apenas 
natureza obrigacional – vincula inter partes. 
➢ Limitação do número de realidades que podem ser qualificadas como direitos reais. 
o Infração a esta regra leva a conversão legal. 
▪ OA: apenas as restrições ao direito de propriedade estão sujeitas a 
conversão legal; constituição de figuras parcelares é nula nos termos 
gerais. 
▪ ML: não há base para estabelecer essa distinção e estando em causa a 
criação de um novo direito real, o tratamento dado é o mesmo. 
 
Justificação do princípio: cariz absoluto dos direitos reais pode ser entrave à circulação dos bens 
(o titular pode opô-lo eficazmente a qualquer adquirente de boa fé); sobreposição sucessiva de 
direitos pode dar origem a litígios, afetando a possibilidade de exploração dos bens; Estado deve 
criteriosamente instituir a ordenação jurídica dos bens. 
 
Críticas: parte mais rígida e menos mutável do Direito Privado patrimonial – congelado e 
cristalizado na forma clássica 
 
2. Princípio da Especialidade 
Tem que ser possível individualizar concretamente a coisa que constitui o objeto do direito 
real: coisas corpóreas, determinadas, com existência presente e autónomas de outras coisas. 
• Subprincípio da determinação: a coisa tem de estar determinada – se o titular tiver 
direito a receber coisas genéricas não tem direito real e sim direito de crédito (art. 539º). 
o Só há direito real a partir do momento em que as coisas sejam determinadas 
(art. 408º/2). 
o Não há direitos reais autónomos sobre universalidades, incidindo o direito 
individualmente sobre cada uma das coisas que compõe a universalidade. 
 
4 JAV: a autonomização de um ramo do Direito depende da existência de princípios jurídicos próprios que 
lhe permitam constituir um subsistema autónomo dentro do sistema geral da ordem jurídica. 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
7 
 
• Subprincípio da atualidade: coisa tem de ter existência presente – se o titular tiver 
direito a coisa futura, então isso não é direito real e sim direito obrigacional a uma 
prestação futura. 
o Não existe também direito sobre coisas passadas (perdidas ou cujo direito sobre 
a mesma se extinguiu). 
• Subprincípio da autonomização/totalidade: coisa tem de ser autónoma, não havendo 
direito real sobre partes de uma coisa. 
o Não dá direito real de coisas ligadas materialmente a outras. 
o Se coisa separada for unida e incorporada noutra coisa, há extinção do direito e 
sua aquisição ex novo por acessão (art. 1325º e ss.) – não é possível manter a 
reserva de propriedade a partir do momento em que as coisas passem a 
constituir partes integrantes dos prédios.5 
o Consequência de os negócios sobre direitos reais serem de disposição e não 
obrigacionais. 
 
3. Princípio da Elasticidade 
Admissibilidade das compressões e expansões dos Direitos Reais, em virtude da constituição 
de um novo Direito Real que onere a coisa ou extinção posterior desse Direito. 
➢ Conteúdo do direito não é imutável – varia conforme se vão constituindo e extinguindo 
os direitos reais que incidem sobre a coisa – pode haver mudanças no conteúdo do 
direito real. 
➢ Em consequência da extinção do direito real menor, o direito real maior pode retomar 
o seu conteúdo originário. 
 
No caso de sobreposição de direitos sobre a mesma coisa há necessidade de harmonizarem-se, 
havendo mecanismos de compressão, na lei. Não se podem constituir sucessivamente 2 
propriedades sobre a mesma coisa, mas tal resulta da falta de legitimidade para a realização de 
uma segunda disposição do mesmo direito e não da falta de compatibilidade dos direitos entre 
si. 
 
4. Princípio da Transmissibilidade 
Comum aos outros direitos patrimoniais – mais importante nos direitos reais, tendo mesmo 
garantia constitucional. 
➢ Implica que os direitos reais possam ser objeto de sucessão por morte e que possam 
ser transmitidos por ato inter vivos. 
o Mas há direitos reais que não podem exceder a vida do titular (art. 1444º) e 
outros inalienáveis (art. 1488º). 
 
Princípio da Consensualidade: para a constituição ou transmissão do direito real basta o acordo 
das partes – celebração do contrato acarreta a transferência do direito real (art. 408º/1 e 
1317º/a – quod constitutionem). 
➢ Portanto, transferência do direito real é imediata e instantânea, apenas com o acordo 
das partes. 
 
 
5 STJ decidiu assim, em 1996, em relação aos elevadores – a partir do momento que estão incorporados 
no prédio faze parte dele e não podem haver direitos reais autónomos sobre o elevador. 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
8 
 
5. Princípio da Publicidade 
Factos jurídicos relativos aos direitos reais devem ser dados a conhecer ao público em geral. 
• Forma mais comum de assegurar a publicidade dos direitos reais: Posse (art. 1268º/1) 
• Forma mais perfeita de assegurar a publicidade dos direitos reais: Registo 
 
6. Princípio da Boa Fé 
Princípio geral do Direito Civil. 
• Aplicação mais restrita do que no Direito das Obrigações – não há princípio que protege 
o possuidor de boa fé contra a reivindicação de móveis. 
o Mas releva para efeitos da posse, usucapião e acessão industrial. 
 
CONCEITO e ESTRUTURA dos Direitos Reais 
Teoria Clássica ou Realista 
 Relação entre Pessoa e Coisa 
 Grotius: direito real é um direito de propriedade entre uma pessoa e uma coisa, sem relação 
necessária com outra pessoa. 
 
Natureza ontológica das relações: direitos reais estruturam-se com base na relação de uma 
pessoa com uma coisa, através da qual esta era afetada ao sujeito – tutelada pela actio in rem 
e dirigida contra qualquer pessoa. 
 
Teorias Modernas ou Personalista 
Criticam a Teoria Clássica: 
• Pufendorf – jusracionalistas concluíram que as relações jurídicas só se podem 
estabelecer entre pessoas; propriedade das coisas resulta de convenção, expressa ou 
tácita, entre pessoas. 
• Kant – o que existia era uma vinculação dos outros para com o proprietário da coisa. 
• Thibaut – direito absoluto pois era tutelado por uma ação absoluta. 
• Feuerbach – direito real era direito sobre determinado objeto, que teria validade contra 
todas as pessoas, mediante o qual o seu titular poderia ser considerado em relação com 
todos os outros seres humanos; qualquer pessoa teria o dever de reconhecer esse 
direito, não perturbar o seu titular e não limitar por qualquer forma o seu exercício. 
 
Após a pandectística alemã surgiram várias teses: 
Teoria do Poder Direto e Imediato sobre uma Coisa 
O que caracteriza o direito real consistena circunstância de ele recair direta e imediatamente 
sobre uma coisa corpórea, ou seja, não necessitar da colaboração de ninguém para ser 
exercido. 
 
Defensores: Wäcther, Guilherme Moreira, Pessoa Jorge e etc. 
Críticas: excessivamente empírica e não explicativa da forma como são juridicamente atribuídos 
ao titular os poderes que sobre ela tem. 
 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
9 
 
Teoria do Poder Absoluto 
O que caracteriza o direito real não é a relação com a coisa, mas antes a relação com os outros 
sujeitos da ordem jurídica, através da qual o titular teria a faculdade de exigir dos outros 
sujeitos que se abstenham de, por alguma forma, perturbar o exercício de poderes sobre a 
coisa. 
➢ Relação entre o titular do direito real e todos os outros sujeitos da ordem jurídica, ou 
com todos aqueles que se encontrem em condições de lesar o seu gozo sobre a coisa, 
sendo essa relação que explicaria juridicamente os seus poderes sobre a coisa. 
➢ Relação de uma pessoa (lado ativo) com todas as outras (lado passivo = universalidade 
de sujeitos) 
 
Críticas: direito real não estabeleceria poderes para o titular e apenas deveres de abstenção a 
terceiros, sendo um dever universal de respeito ou obrigação passiva universal (Windscheid); é 
muito abstrata e faz esquecer o núcleo fundamental do direito que é precisamente a relação 
com a coisa. 
 
Teorias Mistas 
Conjugam as duas conceções, considerando que o direito real tem: 
• Lado interno – poder direto e imediato sobre a coisa 
• Lado externo – relação com todos os outros sujeitos da ordem jurídica 
o Jaime de Gouveia: é a relação jurídica que se estabelece entre o titular do direito 
e todas as outras pessoas que se obrigam a respeitar o poder que o titular tem 
de tirar da coisa, objeto do direito, todas as utilidades que a ordem jurídica 
consente. 
 
Defensores: Pires de Lima, Galvão Telles, Henrique Mesquita, Antunes Varela, Mota Pinto, 
Santos Justo. 
Críticas: estão sujeitas às críticas de qualquer uma das anteriores. 
 
Orientações Doutrinárias Portuguesas 
Gomes da Silva: “Só pode ser direito real o que representa a afetação da coisa a um fim. Neste 
sentido temos a inerência do direito à coisa. O bem afetado pela lei à realização do fim é a 
própria coisa.” 
 
Oliveira Ascensão: “Direitos absolutos, inerentes a uma coisa e, funcionalmente dirigidos a 
outorgar vantagens intrínsecas desta ao titular.” 
➢ Direitos erga omnes inerentes a uma coisa numa relação tão intensa que leva o direito 
a perseguir a coisa. 
 
Menezes Cordeiro: “Permissão normativa específica de aproveitamento de uma coisa 
corpórea.” 
José Alberto Vieira: “Direito real é aquele que atribui um determinado aproveitamento 
de uma coisa corpórea.” 
 
Menezes Leitão 
Direito Real: direito absoluto e inerente a uma coisa corpórea, que permite 
ao seu titular determinada forma de aproveitamento jurídico desta. 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
10 
 
Permissão normativa específica de aproveitamento de uma coisa corpórea existe nos direitos 
reais mas também noutros, tendo que se acrescentar outros traços distintivos como o caráter 
absoluto e a inerência. 
➢ É um direito absoluto porque pode ser oponível a qualquer pessoa e incide sobre uma 
coisa corpórea, à qual é inerente. 
 
 
CARACTERÍSTICAS dos Direitos Reais 
≠ Princípios – que são os fundamentos dogmáticos específicos. 
As características dos Direitos Reais são analisadas numa ótica do direito subjetivo. 
 
JAV: eleva algumas destas características a princípios (a absolutidade e a inerência) e não 
autonomiza a Sequela. 
 
I. Caráter Absoluto 
Consiste no facto de os direitos reais não se estruturarem com base em qualquer relação 
jurídica, sendo oponíveis erga omnes. 
➢ MC discorda pois também entende os direitos de crédito como oponíveis a terceiros.6 
 
Consequência é a 1) existência dum dever genérico de respeito desse direito por parte dos 
outros sujeitos, aos quais o 2) titular do direito pode sempre opor eficazmente o seu direito. 
1) Atribuem ao titular um domínio reservado de atuação, que todos os outros sujeitos têm 
de respeitar. 
2) Oponíveis a qualquer pessoa que se pretenda ingerir no domínio reservado ao seu 
titular – grande potencial de reação 
 
Direitos reais de gozo – propriedade pode constituir-se por ocupação (art. 1318º); ação de 
reivindicação (art. 1311º a 1315º). 
Direitos reais de garantia – faculdade da satisfação do crédito a partir dos rendimentos da coisa 
ou do produto da sua venda. 
Direitos reais de aquisição – aquisição pode ser desencadeada independentemente do atual 
titular do bem/feita contra qualquer pessoa. 
 
II. Inerência 
Consiste no facto de os direitos reais estabelecerem com a coisa uma ligação especialmente 
intensa, não podendo ser dela separados, designadamente para passarem a ter outra coisa 
como objeto. 
 
Carvalho Fernandes: O interesse do titular é realizado pela coisa. 
 
Estão de tal forma ligados à coisa que é o seu objeto que a ela inerem e não podem ser 
desligados – coisa tem de ser existente, certa e determinada para poder ser objeto do direito 
real. 
 
6 Fala também em direitos reais relativos, como a servidão de vistas. 
JAV discorda pois a servidão de vistas é oponível a terceiros. 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
11 
 
➢ Não podem ser separados da coisa nem passarem a ter outra coisa como objeto – é 
juridicamente impossível transmitir o direito da coisa sem a própria coisa. 
o Transmissão do direito para outra coisa é juridicamente impossível. Ex: alguém 
tem usufruto do prédio X e quer que esse usufruto passe antes a incidir sobre o 
prédio Y – não o pode fazer; tem de extinguir o usufruto sobre X para constituir 
um novo sobre Y 
➢ Também não permite alargar o direito a uma realidade sobre a qual não incidia. 
Manifestação positiva no art. 1545º/2 
 
Implica que as vicissitudes da coisa se reflitam no direito real que incide sobre as mesmas – 
manifestando a inerência dos direitos reais (art. 730º/2, 1485º, 1535º/e). 
 
Questão da sub-rogação especial é controvertida. 
• Sub-rogação legal especial real – caso de quando desaparece a coisa que é objeto de 
direitos reais e há transmissão desses direitos para outra coisa (como uma 
indemnização) – art. 1480º 
o ML, JAV: não está em causa a inerência, pois passa é a haver outro direito real. 
Extingue-se o direito sobre a coisa destruída e surge um novo direito real, 
sobre uma nova realidade. Extinção do direito real, com a extinção do objeto, 
constituindo-se um novo direito real sobre outro objeto. 
 
III. Sequela 
Constitui uma manifestação dinâmica da inerência7 – titular pode ir buscar a coisa, 
independentemente de qual o seu atual possuidor, mesmo que ela venha a ser objeto de uma 
cadeia de transmissões (ubi rem invenio, ibi vindico). 
➢ Características dos direitos reais e apenas destes – res perit domino 
➢ Permite ao titular do direito atuar sobre a coisa para realizar o seu direito 
 
Direitos reais de garantia: possibilidade de executar o direito e ser-se satisfeito com a venda 
Direitos reais de aquisição: possibilidade de fazer sua a coisa (art. 1410º) 
 
IV. Prevalência 
Significa que o direito real que primeiro se constituir prevalece sobre todos os direitos reais de 
constituição ou registo posterior, bem como sobre todos os direitos de crédito que se venham 
a constituir. 
• Maior força dos direitos reais sobre os direitos de crédito – confrontando direitos de 
crédito com direitos reais, prevalece o real mesmo que os de crédito tenham sido 
constituídos primeiro. 
 
Direitos reais que não se compatibilizem sobre a mesma coisa são hierarquizados por uma 
ordem de precedência, que pode ser conferida pela prioridade na constituição ou pela 
prioridade no registo. 
• Direitos reais, no confronto com outros direitos reais incompatíveis, prevalecem se setiverem constituído/registado primeiro. 
 
 
7 JAV não liga à Inerência e sim ao Caráter Absoluto 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
12 
 
MC segue Pinto Coelho e OA e nega que a prevalência seja, em absoluto, uma característica dos 
direitos reais. 
➢ ML discorda: os direitos de crédito não possuem prevalência pois regem-se pela 
igualdade entre credores – o que não se verifica nos direitos reais, pois aquele que 
constituiu primariamente o direito tem prioridade (prior in tempore, prior in iure), 
aproximando-se à noção de prevalência (art. 604º/2). 
➢ Ela funciona é em termos divergentes. 
 
Direitos reais de gozo: implica que apenas o direito resultante da primeira alienação se 
constitua, não chegando o segundo direito a constituir-se. O segundo é inválido pois não há 
legitimidade. 
Direitos reais de garantia: credores não estão em pé de igualdade e um será satisfeito 
prioritariamente, tendo em conta a precedência do seu direito real. 
• Satisfação preferencial do direito real constituído em primeiro lugar. 
• Se o valor não chegar para satisfazer totalmente o direito que tem preferência, então 
satisfaz até onde pode e o que não for satisfeito é crédito obrigacional. 
Direitos reais de aquisição: constituindo-se um direito real, o direito de crédito extingue-se 
por impossibilidade – essa extinção resulta de ter sido constituído um direito real incompatível, 
que sobre ele prevalece. 
 
Há algumas exceções: privilégios creditórios (art. 745º e ss.); privilégio imobiliário especial (art. 
751º) 
 
Prevalência pode ser extensiva a direitos não reais: art. 733º, art. 736º, 747º/1/a. 
 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
13 
 
Objeto dos Direitos Reais: COISAS 
= BENS8 
O conceito de Direito Real pode ser essencialmente delimitado em função do seu objeto: as coisas 
corpóreas (art. 1302º)9 
➢ Por força do princípio da especialidade, as coisas, para serem objeto de direitos reais, 
têm que ser corpóreas, com existência presente, autónomas de outras coisas e 
determinadas. 
o Sem estas características não têm idoneidade para ser objeto de um direito real. 
 
Noção de Coisa – art. 202º 
“Tudo aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas” 
➢ A lei não tem que definir, a lei deve regular. A doutrina é que define. 
➢ Tem que se entender num sentido mais amplo (leitura atualista) que o da relação jurídica – pode ser uma 
situação jurídica (ex: direito de propriedade só supõe um sujeito e a coisa) 
o Neste caso a coisa só existia quando transacionada, conceito de relação (sujeito-sujeito) – 
aplicam-se as críticas feitas à relação jurídica. 
➢ Mas não num sentido tão amplo como o Código de Seabra que definia coisa como “tudo o que carece de 
personalidade” – se não é pessoa é coisa. Definição pela negativa que gera dificuldades em relação aos 
cadáveres, nascituros e etc. 
 
Delimitação das coisas (MC): 
1. Coisa opõe-se a pessoa – as pessoas são sujeitos e não objetos de negócios jurídicos. Pode não ser assim 
tão evidente, ex: escravos eram coisas 
2. Coisa pode ser material ou imaterial 
3. Coisa pode ter valor económico ou não – juridicamente é irrelevante 
4. Coisa é um conceito jurídico – a realidade “coisa” é uma criação do Direito. Ex: questão dos animais, para 
nós não são coisas, mas o Direito entende como tal 
a. Menezes Cordeiro tenta definir como “realidade delimitada pelo Direito a partir do conceito de 
seres inanimados” 
Palma Ramalho: fica-se pela definição do CC 
PPV: Só são coisas jurídicas aquelas que forem pessoalmente apropriáveis e utilizáveis para a realização 
de fins concretos, que puderem ser pelo Direito especialmente afetas à satisfação de fins. 
Menezes Cordeiro: as coisas podem ser inalcançáveis 
 
Classificação das coisas – art. 203º e ss. 
Qualquer classificação pode ser sobreponível a outra. 
O art. 202º precede uma classificação 
Coisas fora do comércio 
• Não podem ser objeto de transação (direitos privados) e/ou apropriação individual 
o Naturais: impossibilidade de apropriação individual. Ex: lua, sol e etc. 
o Jurídicas: impossibilidade de situações jurídicas privadas, excluem-se do comércio privado e/ou 
fazem parte do domínio público. Ex: um rim; Torre de Belém, praias, estradas 
▪ Na dúvida se está no domínio público ou não, é o Tribunal que decide 
o A não comercialidade das coisas fora do comércio é tributária da lei e não das próprias coisas. 
• PPV: As coisas fora do comércio são insuscetíveis de apropriação – logo não são coisas em sentido jurídico. 
 
Coisas corpóreas e incorpóreas 
 
8 PPV: tudo aquilo que não seja pessoa e tiver uma utilidade (apto a satisfazer necessidades) 
9 Art. 1303º - ML: é muito difícil verificar-se pois o regime dos Reais no CC pressupõe a existência 
de uma coisa corpórea, não se harmonizando com coisa não corpórea. 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
14 
 
• Coisa Corpórea: existência exterior e apreensível pelos sentidos. Suscetíveis de posse (apropriação física) 
o Podem sofrer atuação humana direta, no sentido mais imediato de atuação física. 
o Palma Ramalho: podem ser consideradas Materiais ou Imateriais 
o Art. 1302º - só das coisas corpóreas se pode ser proprietário. Em qualquer dos estados físicos 
(gases e líquidos são corpóreos mas envolvem um recetáculo). 
o PPV: Coisas corpóreas dividem-se em coisas materiais (têm matéria e dimensão) e coisas imateriais (têm 
realidade e existência na natureza física mas não têm matéria como a eletricidade). 
• Coisa Incorpórea: produto do espírito (honra, memória, imagem, obras) 
o Bens Intelectuais 
▪ Obras literárias ou artísticas, independente da forma física de que se revestem. 
Reguladas pelo Direito de Autor. 
▪ Inventos, dão lugar a registo e a patente mesmo que impliquem descobertas científicas 
(que mais facilmente caem no domínio público). Regulados pelo Código da Propriedade 
Industrial. 
▪ Marcas, sinais distintivos (gráficos, desenhos, palavras) de uma coisa ou serviço. 
Reguladas pelo Código da Propriedade Industrial e Código da Publicidade. 
o Prestações – conduta humana devida por alguém (Castro Mendes). A prestação em si mesma é 
um bem jurídico (já o objeto da prestação é corpóreo) 
▪ De dare, de facere, de non facere/de pati 
o Quia Jurídicos – figurações técnicas e sociais relacionadas com uma situação jurídica em que um 
direito é perspetivado como uma coisa. A ordem jurídica perspetiva os direitos como um bem. 
▪ Ex: direitos inerentes aos imóveis (art. 204º/1/d) – pode-se transmitir o direito de 
usufruto que é um bem mas não deixa de ser um direito; quota dos sócios dá direito a 
votar e etc. mas ao lhe atribuir valor (para vender) é perspetivada como um bem 
o Bens de Personalidade – discute-se na doutrina se são bens ou não 
▪ Palma Ramalho: é um bem incorpóreo em termos gerais, sobretudo aqueles que podem 
ser objetos de negócios jurídicos (ao abrigo do art. 81º). Os não passíveis de serem 
transacionados são realidades intermédias. 
▪ Menezes Cordeiro: não são coisas os bens de personalidade – estão ligados 
intimamente com os direitos de personalidade. 
 
Coisas Imóveis – art. 204º 
É importante esta distinção pois os negócios jurídicos que têm como objeto as coisas imóveis são mais exigentes na 
forma e pode dar origem a deveres de registo – para tornar a situação conhecida de terceiros e assegurar a segurança 
jurídica. 
➢ Pois sociológica e historicamente dá-se mais valores aos bens imóveis. Hoje em dia há desvios pois há ações 
(móveis) que podem valer mais que um metro quadrado de terra (imóvel) 
➢ O Simplex de 2007 veio simplificar a formalidade dos negócios jurídicos associados a coisas imóveis 
 
Não se definem coisas imóveis, nem móveis, devido à sua grande heterogeneidade. O código decide enunciar, quer 
as de origem natural quer as construções humanas (incluindo as realidades jurídicas).Numeração enunciativa e não taxativa pois há muitas outras coisas imóveis não cobertas pelo artigo – 
pontes, estradas, aquedutos 
Núcleo essencial: um bem imóvel é um bem ligado ao solo com caráter de permanência, que dele não se 
pode desligar – critério de imobilidade material à exceção dos direitos. 
Pode-se também aplicar, residualmente, um critério da funcionalidade do bem. 
 
a) Prédios – noção jurídica – porção de terreno ou construção incorporada num terreno, há sempre um solo. 
i. Rústico: elemento predominante é o solo, mesmo que lá haja uma construção sem autonomia 
económica – o elemento do solo é predominante quando a sua afetação económica, a sua utilidade 
própria, residir principalmente no solo, tendo as edificações que nele existirem uma utilidade apenas 
instrumental ou acessória. 
 Art. 204º/2 
ii. Urbano: elemento predominante é a edificação (edifício incorporado no solo) – utilidade própria é a 
edificação servindo o solo apenas como suporte físico 
 Art. 204º/2 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
15 
 
Logradouro – terreno à volta do qual está implantado, sem autonomia e servente às necessidades 
dos habitantes prédio urbano. Ex: jardim 
Não se olha para o contexto, mas quando o elemento predominante não chega, olha-se 
à utilidade económica e à funcionalidade. 
Pode-se alterar a classificação dos prédios10 com a submissão à Câmara Municipal da 
alteração do registo – depende apenas do objetivo ou do elemento que agora 
predomine. 
iii. Frações Autónomas: decorrem da possibilidade de instituição do regime da propriedade 
horizontal (art. 1414º) 
Palma Ramalho -> Para reconhecer as partes comuns em copropriedade (escadas, 
elevador, garagens) enquadra-se como partes de imóveis mas a fração autónoma é um 
bem imóvel em si mesmo e segue as regras de bens imóveis. 
iv. CC reconhece que o direito de propriedade sobre um prédio abrange o subsolo e o espaço aéreo 
respetivos – art. 1344º (desde que não entre numa lógica de abuso de direito e má fé. Ex: espigões 
para furar os dirigíveis) 
b) Águas – as águas particulares (art. 1386º CC), nomeadamente as que nascem na nossa propriedade, passam 
pela nossa propriedade ou estão no subsolo da nossa propriedade, podem ser objeto de direitos privados. 
c) Árvores, arbustos e frutos naturais enquanto estiverem ligados ao solo – é tido em conta o critério de 
incorporação no solo. A partir do momento que há autonomia passa a ser uma coisa móvel. 
d) Direitos ligados aos anteriores – quia jurídico – aplica-se aos direitos sobre os bens imóveis o regime das 
coisas imóveis. Ex: terreno X tem registo, usufruto de X também está sujeito a registo. 
e) Partes integrantes – art. 204º/3 – quando uma coisa móvel está ligada materialmente a um prédio com 
carácter de permanência – coisas originalmente móveis que foram integradas com caráter de permanência numa 
coisa imóvel e que passaram, assim, a fazer parte dela, perdendo a individualidade e a autonomia. 
i. Critério da ligação material. Bens que não têm autonomia relativamente ao prédio. 
ii. Ao estarem separados podem ser tratadas como móveis, mas juntas são parte integrante de um 
bem imóvel. Ex: azulejos da cozinha, elevador. A escultura do jardim não é vendida juntamente 
com a casa porque não está a ela ligada materialmente, mas os azulejos estão. 
iii. O prédio ao ser transmitido, as partes integrantes têm que acompanhar o destino do prédio. 
 
Coisas Acessórias – art. 210º 
= Pertenças 
• Podem aplicar-se também a bens móveis enquanto as partes integrantes é só a bens imóveis 
o A doutrina critica e defende uma extensão do regime das partes integrantes. Ex: pneus do carro 
deviam ser partes integrantes e não acessórias – pois asseguram a funcionalidade da coisa 
principal 
o O adquirente da coisa principal deve explicitar quais as pertenças abrangidas pelo negócio. 
• É meramente ornamental, ao passo que a parte integrante assegura a funcionalidade da coisa. 
o A coisa acessória não assegura a manutenção da funcionalidade 
 
Coisas Móveis – art. 205º 
Determinadas por exclusão – determinação pela negativa (tudo o que não é imóvel) 
• A energia, o gás e etc. são também coisas móveis. 
Devido ao seu valor, há móveis sujeitos a registo e a matrícula – têm garantias do regime dos imóveis. 
Coisas semoventes – coisas que se mexem, animadas. Ex: animais, carros 
 
Coisas Compostas – art. 206º 
= Universalidades de Facto11 
 
10 Rustico vs. urbano 
Teoria do valor – será segundo a parcela que tiver maior valor 
Teoria da afetação económica – se visa o aproveitamento do terreno ou construção 
Teoria da consideração económica – será o que a comunidade jurídica entender 
11 Também pode haver Universalidades de Direito (ex: herança) ou um misto 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
16 
 
Favorece-se o tratamento unitário de um conjunto de coisas conglomeradas – o conjunto é que é objeto de Direito. 
Individualmente as coisas também podem ser objeto de situações jurídicas. Ex: somos donos de cada livro, mas 
também da biblioteca 
• Móveis pertencentes à mesma pessoa com o mesmo destino unitário 
o Analogicamente pode se aplicar a imóveis 
• Têm um tratamento jurídico individual autónomo, sem prejuízo da individualidade jurídica dos seus componentes. 
 
Coisas Fungíveis – art. 207º 
Não se determinam pela coisa em si, mas sim pelo género, qualidade e quantidade quando são objeto de relações 
jurídicas. 
• Critério não pelas características específicas e que pode ser substituída por outra da mesma espécie. Ex: ao 
pedir um pastel de nata, não queremos um em específico. Pedimos aquele género e quantidade. O dinheiro 
é a coisa mais fungível 
o Manuel de Andrade – coisas fungíveis intervêm não in specie (individualmente determinadas) 
mas in genere (identificadas através de notas genéricas) 
• Só se sabe se é fungível olhando para a situação jurídica em questão. Ex: uma moeda pode ser fungível 
como infungível (se for de coleção) 
o A infungibilidade pode ser devido a ligações sentimentais 
• Influencia os contratos em que uns pressupõem a fungibilidade dos bens e outros não 
o Certas prestações podem ser infungíveis pois dependem das qualidades próprias do devedor 
 
Coisas Consumíveis – art. 208º 
Classificação que pode alargar-se a situações de Direito e não meramente naturalistas. 
• A vontade das partes pode atribuir a qualidade das coisas consumíveis ou não 
• Depende da sua utilidade. Ex: vela para iluminação ≠ vela para decoração 
• A coisa extingue-se ao ser consumida 
o As não consumíveis podem ser Deterioráveis ou Não Deterioráveis 
 
Coisas Divisíveis – art. 209º 
Não é a divisibilidade natural mas sim jurídica – critério de unidade da coisa reside na sua utilidade. 
Algo considera-se indivisível quando: 
1. A divisão determina uma alteração da sua substância 
2. Diminui o seu valor 
3. Deixa de ser adequada para o uso a que se destina – prejuízo de utilidade 
 
A doutrina considera que prevalece o critério do valor – dependendo da situação jurídica concreta e o negócio jurídico 
celebrado. 
Ex: Vaca. 1 – Ao cortar-se uma vaca ao meio ela continua uma vaca. 2 – Se for uma vaca para carne o seu valor pode 
aumentar; se for para leite pode passar a valer menos. 3 – Se for para carne, não prejudica o uso a que se destinava; 
se for para leite já prejudica. Uma vaca para carne é divisível. Uma vaca leiteira é indivisível. 
 
Coisas Futuras – art. 211º 
Podem ser futuras por 2 razões: 
1. Ainda não existem – objetivamente futuras. Ex: Faz-se um negócio jurídico sobre o quadro que A vai pintar 
de B 
2. Ainda não estão em poder do disponente, mas irão estar – subjetivamente futuras. Ex: bens que C herdará 
 
Venda de coisa alheia que se espera vir a ser própria – os efeitos do negócio jurídico dependem da aquisição ou posse 
por parte de quem negoceia. 
Coisas alheias são objeto de atos de disposição na expetativada sua futura aquisição pelo disponente. 
Disponente fica obrigado às diligências necessárias para que as coisas futuras se tornem presentes 
(art. 880º) – negócio só está concluído quando a coisa estiver junto da pessoa interessada. 
 
Frutos – art. 212º e ss. 
Advêm de coisas frutíferas. 
O fruto é uma coisa que provém periodicamente de outra e que não altera a substância dessa outra. 
• Periocidade é importante, regime dos frutos moldado à ideia de que eles vão surgindo 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
17 
 
• Podem ser frutos naturais (frutas das árvores, crias de animais) ou civis (renda que se recebe pelo 
arrendamento de um prédio) 
• Na coisa composta, como o rebanho, o excesso é que é o fruto. Não conta os que nascem e compensam os 
que morrem – só deve ser tido como fruto o que sobrar depois de descontado o necessário para a manutenção da 
coisa frutífera. 
o Ao nº3 do art. 212º do CC pode-se aplicar analogicamente para os frutos civis como por exemplo as 
aplicações de capital, cujos rendimentos só devem ser considerados frutos depois de deduzido o que for 
necessário à reposição do capital. Ex: juros do depósito após compensar a inflação. 
Frutos Pendentes: quando ainda estão integrados na coisa principal e não têm autonomia 
Em princípio os frutos pertencem ao proprietário da coisa frutífera, atendendo ao momento da colheita. 
 
As coisas produzidas aleatoriamente e as que sejam com prejuízo ou detrimento da substância da coisa são tidas juridicamente 
como produtos da coisa principal, não frutos. 
 
Benfeitorias – art. 216º 
Verdadeiramente são uma intervenção sobre uma coisa que existe: gasta-se dinheiro (despesa) com uma coisa para 
conservar ou melhorar essa coisa. 
• Envolve o dispêndio de dinheiro. 
• Envolve a conservação ou melhoramento da coisa. 
 
Necessárias: evitam a perda, destruição, deterioração. Ex: quando chove em casa 
Útil: aumenta o valor da casa. Ex: pinta-se a casa para tirar as manchas de humidade 
Voluptuária: não aumenta o valor da casa. Ex: não se gosta da cor que se pintou e pinta-se de novo 
Ex: construiu uma casa num prédio. É benfeitoria porque melhora a coisa e gastou-se dinheiro. É necessária? Não. O 
prédio não se perdia sem a casa. É útil? Sim. Valorizou o prédio. Colocou-se uma piscina, é útil? Sim. Valorizou o prédio. 
Colocou-se puxadores topo de gama mas que não trazem valor à casa, é útil? Não, essa despesa é voluptuária. Se se 
substitui os puxadores porque só assim se vendia a casa então foi útil. 
 
Quando as despesas não são feitas pelo proprietário da coisa, quem as faz tem o direito a ser reembolsado se elas 
forem necessárias mas não se forem voluptuárias. 
➢ Regime de benfeitorias serve para saber se se paga a quem fez a benfeitoria 
 
 
Domínio Público 
Determinado por lei – coisas que são propriedade da nação e todos podem utilizar. 
O Estado tem poder sobre estas coisas, sendo que esse domínio deve seguir regras mais apertadas daquelas que se 
aplicam aos privados. 
Reparte-se em várias esferas nomeadamente o natural, construído, monumental e histórico, militar. 
 
 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
18 
 
Situações Jurídicas Propter Rem 
Efeito resultante dos Direitos Reais 
Situações jurídicas cujo sujeito ativo ou passivo é determinado em virtude da titularidade dum 
direito real. 
➢ Correspondem a situações em que a existência do direito real atribui ao seu titular 
direitos ou obrigações em relação a outrem. 
 
Obrigações Propter Rem 
Obrigações em que o respetivo devedor é determinado pela titularidade de um direito real. 
• Aquelas em que o devedor é devedor em virtude de ser titular de um direito real 
• Sujeito passivo é variável, correspondendo ao que for titular, naquele momento, de 
determinado direito real – obrigações ambulatórias. 
 
Origem no Direito Romano – situações tuteladas por uma actio in rem scripta, em que o nome 
do demandado não figurava na intentio pois podia ser dirigida contra qualquer pessoa que se 
encontrasse em determinada situação. 
 
Regime jurídico 
Existem inúmeras situações em que surgem obrigações propter rem no âmbito dos direitos 
reais. 
Comproprietários (art. 1411º/1); Condóminos (art. 1424º/1); Pagamento de impostos e outros 
encargos anuais (art. 1474º); Usuário e morador usuário (art. 1489º); Canôn superficiário (art. 
1530º/1); Servidões prediais (art. 1567º/1) 
➢ Casos de obrigações propter rem injuntivas – tendo e conta que elas podem ser 
convencionais 
 
Obrigações propter rem constituem verdadeiras obrigações, sujeitas ao Direito das 
Obrigações12, mas integram o conteúdo do direito real, não tendo existência isolada do 
mesmo. 
 
Conteúdo positivo – Henrique Mesquita – deveres negativos correspondem a uma delimitação 
do próprio conteúdo do direito real. 
Conteúdo negativo – JAV; ML – usufrutuário tem que tolerar as obras e melhoramentos (art. 
1471º) e assume obrigação de não semear o terreno a cada três anos para respeitar o pousio – 
assume caráter de pati e de obrigação de non facere. 
 
Não é obrigação propter rem os casos de responsabilidade civil atribuídos ao proprietário que 
exigem um facto culposo para se poderem constituir – art. 492º e 1348º 
 
Fazem parte do conteúdo do direito real uma vez que este, como situação jurídica complexa, 
além do seu núcleo essencial, que consiste na faculdade de aproveitamento de uma coisa 
corpórea, pode incluir outros elementos, entre estes se incluindo essas obrigações. 
 
12 Não estão totalmente sujeitas ao regime vindo do Direito das Obrigações, uma vez que há várias 
exceções – quanto à prescrição 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
19 
 
• Em certos direitos a lei confere uma certa amplitude para a constituição de obrigações 
propter rem por via negocial – usufruto (art. 1445º), uso e habitação (art. 1485º), 
superfície (art. 1530º) e servidões prediais (art. 1564º). 
• Apesar disto, estão sujeitas ao princípio da tipicidade e só se podem constituir nos casos 
previstos na lei – pois elas vinculam o titular do direito real enquanto tal. 
 
Obrigações propter rem acompanham o direito real de que fazem parte nas suas vicissitudes, 
permanecendo ligadas a este. 
• São transmitidas caso o direito real também o seja. 
• Se a obrigação se venceu enquanto a coisa estava na titularidade do alienante, não é 
transmitida com o direito real pois o vencimento desta implicou que ela passasse a 
vincular pessoalmente o titular do direito. Ex: adquirente de fração autónoma não está 
obrigado a liquidar dívidas do anterior proprietário nem a custear obras anteriores à sua 
aquisição. 
• Extinguem-se quando se extingue o direito real. 
o Podem ainda extinguir-se por ter sido constituído, por via negocial ou 
usucapião, um direito real com elas incompatível (como as servidões 
desvinculativas)13. 
 
Natureza Jurídica 
• Teoria Realista – correspondem a verdadeiros direitos reais, uma vez que não há 
obstáculos a que o direito real tenha por objeto um facere, podendo haver direitos reais 
in faciendo; são geradas pela propriedade e resultam duma oneração dessa 
propriedade; são inerentes às coisas e não às pessoas – Henrique Mesquita14, JAV 
• Teoria Personalista – correspondem a verdadeiras obrigações, uma vez que nelas existe 
o dever de uma pessoa realizar uma prestação, sendo consequentemente submetidas ao 
regime geral das obrigações; especialidade da pessoa do devedor é determinada através 
da relação com a coisa, mas, não há direito real pois não há atribuição de direito sobre 
essa coisa (que serve apenas para determinar o sujeito passivo da obrigação) e sim sobre 
uma prestação – Antunes Varela, MC, ML 
• Teoria Mista – têm uma natureza mista pois recolhem elementos dos direitos reais e dos 
direitos de crédito; relação de natureza complexa – Penha Gonçalves 
• Teoria Relativa – correspondem a direitos reais ou direitos de crédito consoanteo 
critério que se adotasse, o da estrutura dos direitos e o da vinculação e pertença do 
titular em relação a uma coisa determinada - Giorgianni 
 
Ónus Reais 
Constitui uma prestação de dare, em dinheiro ou géneros, única ou periódica, imposta ao 
titular de determinados bens, que atribui ao respetivo credor preferência no pagamento sobre 
esses bens. 
 
13 Outros exemplos são as obrigações propter rem relativas à distância de abertura de janelas (art. 1360º) 
e ao não gotejamento de águas sobre o prédio vizinho – estas extinguem-se se se constituir uma servidão 
de vistas (art. 1362º) ou servidão de estilício (art. 1365º/2) 
14 Para quem o conceito de direito real compreende não apenas os poderes conferidos ao seu titular e as 
restrições e limites a que está sujeito mas também as vinculações de conteúdo positivo (obrigações reais) 
que sobre ele recaiam. 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
20 
 
➢ Direito a certa quantia sobre bens doados (art. 959º); apanágio do cônjuge sobrevivo 
(art. 2018º); redução das doações sujeitas a colação (art. 2118º) 
 
Origem no Direito Romano – surge no Direito Público em virtude da imposição do pagamento 
de certas prestações (cânones) ao povo romano, representado pelo Senado, ou ao imperador, 
por parte dos cultivadores de terrenos (fundi) nas províncias senatoriais ou imperiais. 
Evolução na Idade Média – ocorre a generalização dos ónus reais, dada a organização feudal da 
propriedade e ausência de registo predial, o que levava à proliferação de vínculos sobre os 
imóveis para garantia do direito a prestações de certos credores. 
Abolidos com a Revolução Francesa – inspirou outros códigos, embora os de matriz germânica 
mantivessem-nos. Em Portugal foi sendo diminuída a sua importância, desde a Revolução Liberal 
à extinção do censo pelo CC de 1966. 
 
Regime Jurídico 
São, como as obrigações propter rem, constituídos em virtude da titularidade de determinados 
bens, aos quais permanecem ligados, mas, não fazem parte do conteúdo dos direitos reais. 
• Adquirentes respondem pelo cumprimento de prestações anteriores pois sucedem na 
titularidade da coisa a que essa obrigação se encontra unida. 
• Atribuem preferência no pagamento sobre a coisa que gravam, estando assim 
acopulados a uma garantia real, enquanto que nas obrigações propter rem não há 
nenhuma garantia real. 
o Mas não são meros direitos reais de garantia pois não se limitam a atribuir 
preferência no pagamento a um credor, vinculando o dono da coisa a uma 
verdadeira obrigação, que surge da titularidade dessa mesma coisa. 
 
Natureza Jurídica 
• Ónus reais têm a natureza de direitos reais – MC – existe inerência, dado que se 
produziria uma afetação jurídica de uma coisa a outrem, independentemente das 
situações jurídicas e materiais que afetem a coisa; têm as características dos direitos 
reais. 
• Ónus reais têm a natureza de obrigações propter rem – OA, JAC – são inerentes a uma 
coisa mas não são funcionalmente dirigidos para o aproveitamento desta; não incidem 
sobre coisas e sim sobre prestações. 
• Ónus reais têm a natureza de obrigações propter rem, acopuladas a direito real de 
garantia – Henrique Mesquita, ML – figura composta entre obrigação propter rem e 
garantia imobiliária; são créditos constituídos propter rem a que se encontra associada 
uma garantia real, que incide sobre a coisa gravada com o ónus. 
• Ónus reais são figura complexa com elementos reais e elementos obrigacionais – 
Carvalho Fernandes – elementos obrigacionais e reais que reagem uns sobre os outros 
criando um regime particular. 
 
Pretensões Reais 
Direitos reais têm caráter absoluto mas permitem atribuir pretensões de caráter relativo, com 
natureza obrigacional. 
➢ A partir do momento em que se verifique a violação de um direito real o titular desse 
direito tem o direito de exigir a cessação da violação. 
 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
21 
 
Direitos relativos com a especialidade de serem originados pelo direito real, estando, 
consequentemente, a ele ligados. 
➢ Não fazem parte do conteúdo desse direito real. 
➢ Estão sujeitas às normas do cumprimento das obrigações 
o Mas não se aplica art. 798º e ss. – indemnização por incumprimento pressupõe 
a violação de uma obrigação previamente constituída, enquanto que as 
pretensões reais surgem diretamente em resultado da violação do direito real. 
o Pretensões primárias – ação de reivindicação ou ação negatória – não podem 
ser cedidas a terceiro. 
 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
22 
 
CLASSIFICAÇÕES dos Direitos Reais 
Como se dá o aproveitamento da coisa 
 
Direitos Reais de Gozo, de Garantia e de Aquisição 
Direitos Reais de Gozo 
Atribuem ao titular o aproveitamento da coisa através de conjunto de poderes/faculdades (uso, 
fruição ou disposição de uma coisa corpórea). 
• Art. 1305º - poderes paradigmáticos de gozo mas existem mais, como o de transformar 
e reivindicar 
o Onde eles se aplicam todos é no Direito de Propriedade, nos outros depende do 
direito real em concreto. 
 
6 figuras no CC: Propriedade (art. 1302º a 1413º); Propriedade Horizontal (art. 1214º a 1238º); 
Usufruto (art. ); Uso e Habitação (art.); Superfície (art. 1524º); Servidão (art. 1543º) 
1 figura em legislação avulsa: Habitação Periódica (DL 275/93)15 
➢ Alguma doutrina inclui a Posse – ML discorda que constitua um direito real. 
 
Direitos Reais de Garantia 
Confere ao credor uma preferência no pagamento pelo valor de certa coisa, podendo assim esse 
credor ser pago à frente dos outros credores, evitando os riscos do património do devedor não 
chegar para a liquidação de todos os créditos. 
• Titular do direito garante a realização de determinado valor em dinheiro, com a venda 
da coisa.16 
• Aproveitamento indireto da coisa – apenas no assegurar o cumprimento de obrigação. 
 
Direitos Reais de Aquisição 
Confere ao titular a possibilidade de, pelo exercício desse mesmo direito, vir a adquirir um direito 
real sobre determinada coisa. 
• Determina afetação da coisa com destino à aquisição dum direito do titular. 
o Direito real é a aquisição de outro direito real. 
 
Direito Real Maior e Menor 
Direito Real Maior – atribui ao titular todas as faculdades relativas à coisa – propriedade 
Direito Real Menor – não atribui ao titular todas as faculdades relativas à coisa – todos os outros 
 
Relação entre eles: 
1. Teoria do Desmembramento/Clássica – AV / PL – nos direitos reais menores ocorre uma 
divisão da propriedade em vários direitos distintos. Fragmentação da propriedade em 2 
direitos diferentes, sendo uma parte do conteúdo da propriedade transferida para o 
direito real menor e ficando esta privada desse mesmo conteúdo – 
2. Teoria da Oneração – OA, MC, ML – na constituição de um direito real menor não se 
verifica qualquer desmembramento do direito da propriedade, nem o direito real menor 
recebe uma parte dos direitos que a lei atribui ao proprietário. 
 
15 Insere-se nos Direitos Reais pois resulta do regime as características dum direito real. 
16 Está no Livro das Obrigações mas tem características de direito real. 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
23 
 
• Constituição de um direito real menor implica antes o surgimento de um 
direito novo em termos de conteúdo, o qual comprime a propriedade, levando 
a que esta temporariamente se reduza. 
i. Devido à elasticidade da propriedade, ela pode recuperar o conteúdo 
primitivo com a extinção do direito real menor. 
• Enquanto vigorar o direito real menor há uma sobreposição de direitos sobre a 
mesma coisa, tendo o proprietário que suportar o exercício do direito real 
menor, mas podendo continuar a aproveitar a coisa em tudo o que não 
contenda com esse exercício. 
• Nunca poderia ser um desmembramento pois há aspetos novos do regime, 
como certas obrigaçõese causas próprias de extinção. 
 
Direitos Reais sobre Coisa Própria e Coisa Alheia 
Depende se a propriedade da coisa está atribuída ao titular ou se lhe está atribuído outro direito 
real. 
• Qualquer outro direito real tem de coexistir com a propriedade do titular – direitos 
reais sobre coisa alheia (iuria in re aliena) 
• A propriedade consiste num direito real sobre coisa própria 
 
Classificação clássica que não se coaduna com a superfície (em que o implante existente em 
solo alheio não pode deixar de ser visto como coisa própria do superficiário) nem com a 
propriedade horizontal (em que o direito sobre as frações autónomas incide sobre coisa 
própria). 
 
Direitos Reais de Proteção Definitiva e Proteção Provisória 
Paulo Cunha: 
• Proteção provisória = posse formal -> só era tutelada até ao momento em que o 
verdadeiro titular do direito real o fizesse valer ele próprio, pondo fim à proteção 
conferida ao possuidor. 
• Proteção definitiva = todos os outros direitos reais. 
 
MC: a proteção da posse é tão definitiva como a de qualquer outro direito real, só cessando essa 
proteção quando a posse cessa. 
➢ ML: a tutela da posse formal é provisória, tendo o possuidor que abandonar a coisa se 
vier a ser convencido na questão da titularidade do direito real. Classificação só não faz 
sentido porque a posse não é um direito real. 
 
Direitos Reais Simples e Complexos 
OA: 
• Simples – se a afetação da coisa é realizada por uma forma determinada 
• Complexo – se há conjugação de formas de afetação da coisa. Dividir-se-ia em direitos 
reais coletivos (direitos reais que não perdem autonomia entre si) e compostos (direitos 
reais em que perdem a autonomia entre si) 
 
 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
24 
 
Direitos Reais Autónomos e Subordinados 
Autónomos – existência não depende de nenhum outro direito. Ex: propriedade e o usufruto. 
Subordinados – estão dependentes da existência de outro direito. Ex: direitos reais de garantia 
dependem da existência do crédito que garantem; direitos legais de preferência e etc. 
 
Direitos Reais de Titularidade Imediata e Titularidade Mediata 
Os direitos reais são normalmente de Titularidade Imediata, pois são atribuídos diretamente a 
sujeitos determinados, que se tornam os seus titulares. 
➢ Podem ser de Titularidade Mediata quando a sua atribuição depende da atribuição de 
outro direito real. Ex: servidões prediais, que só podem ser atribuídas se for dono do 
prédio, não tenho esse direito como pessoa. 
 
 
 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
25 
 
A Ordenação Jurídica Provisória das Coisas 
POSSE 
 
Art. 1251º CC 
Posse corresponde à situação em que ocorre o exercício fáctico de poderes sobre as coisas, o 
que é objeto de proteção pelo Direito, independentemente da averiguação da efetiva 
titularidade do direito sobre essa coisa. 
➢ Tutela-se a exteriorização do direito, independentemente da averiguação da sua 
titularidade. 
 
Razões dessa proteção prendem-se com a defesa da paz pública e da continuidade do exercício 
das posições jurídicas. 
➢ O simples facto de se encontrar a exercer poderes sobre a coisa é suficiente para que 
a Ordem Jurídica lhe permita exigir a manutenção ou restituição da coisa, 
independentemente da discussão sobre a efetiva titularidade do direito. 
 
Posse Formal – exercício fáctico de poderes sobre a coisa não é acompanhado pela titularidade 
do direito real. 
Posse Causal – exercício fáctico de poderes sobre a coisa está a ser realizado pelo titular do 
direito. 
➢ Para efeitos de tutela possessória é irrelevante o facto do possuidor ser ou não titular 
do direito. 
o A posse, como situação de facto só pode ter como objeto uma coia, dado que 
não possuem direitos. 
o Mas a referência ao direito pode funcionar como delimitação dos termos em 
que o possuidor possui a coisa, daí que se refira que a coisa é possuída nos 
termos de um direito – verificar em que termos a posse é exercida tendo em 
conta o direito. 
 
Situação de Facto – está na origem da posse e corresponde ao simples exercício material de 
poderes sobre a coisa 
Situação Jurídica – além da situação de facto, atribui-se efeitos jurídicos da posse ao seu titular. 
➢ A posse é sempre uma situação jurídica, uma vez que sempre que ocorra o exercício 
fáctico de poderes sobre a coisa, o titular passa a beneficiar da proteção possessória. 
 
Fundamento da Proteção Possessória 
Teorias sobre a pose sistematizadas por Jhering 
 
Teorias Relativas 
Correspondem àquelas que buscam o fundamento da proteção possessória não na pose em si, 
mas antes em circunstâncias, objetivos ou proposições jurídicas exteriores a ela, considerando 
que a posse serve para defender outros institutos que, sem ela, não poderiam ser plenamente 
exercidos. 
• Tese da Proibição da Violência 
o Turbação da posse é delito contra o possuidor (Savigny) – posse não constitui 
relação jurídica pelo que a sua turbação/esbulho não consiste na violação de 
Sebenta Direitos Reais – 2017/2018 DNB 
26 
 
um direito, mas, como há uma proibição geral da violência o esbulho constitui 
delito contra o possuidor e pode recorrer aos interditos possessórios que lhe 
são conferidos com base no direito que o possuidor tem de que ninguém exerça 
violência contra ele. 
o Turbação da posse é delito contra a ordem pública (Rudorff) – proteção 
possessória não reside na tutela do próprio possuidor contra ilícitos mas antes 
nas consequências públicas da atividade violenta, considerada como violação da 
ordem pública; é consequência da proibição da autotutela. 
• Tese da exigência de um fundamento jurídico prevalecente (Thibaut) – ninguém pode 
ultrapassar juridicamente outrem sem apresentar um fundamento/causa jurídica 
prevalecente para o seu direito. Alguém que exerce juridicamente um direito deve ser 
provisoriamente protegido até que alguém, exibindo um direito melhor, o obrigue a 
abdicar dessa mesma situação fáctica. 
• Tese da preferência pela ilibação (Röder) – a menos que seja apresentada contraprova 
em sentido contrário, a posição do possuidor deve ser protegida. Existência de uma 
relação exterior, que liga uma pessoa à coisa que possui, corresponde possivelmente a 
um direito para cujo exercício a coisa é necessária, que assim existe por força dessa 
relação, a qual não é, por isso, ilícita. 
• Tese da Defesa da Propriedade 
o Posse constitui propriedade provável (tese clássica: Savigny) – proteção do 
possuidor resulta do facto de se presumir que quem possui uma coisa é 
igualmente proprietário dela; vê a posse como uma sombra da propriedade. 
o Posse corresponde a uma propriedade inicial (Gans) – isto porque a posse pode 
conduzir à usucapião; justificação da proteção da posse é o facto de ela permitir 
uma aquisição da propriedade. 
o Posse existe como interesse necessário num complemento da tutela da 
propriedade (Jhering) – como a prova da propriedade nem sempre é possível, 
concede-se um meio de defesa através da posse, o qual obriga a que seja o 
esbulhador a apresentar um título relativo ao seu direito; é em função da 
exteriorização do direito de propriedade que se concede proteção 
 
Teorias Absolutas 
Correspondem àquelas em que o fundamento da proteção possessória é encontrado no próprio 
instituto da posse. 
• Tese da vontade do possuidor na sua incorporação fáctica (Gans, Puchta, Bruns) – tem 
que se avaliar se a detenção está de acordo com a vontade universal (lei) ou é ato de 
vontade individual; existe direito de propriedade protegido por lei ou há proteção legal 
pois os atos de vontade individual são protegidos até que se demonstre que ofende a 
vontade universal. 
• Tese da preservação do controlo fáctico da coisa, atento o valor económico 
representado pelo mesmo (Stahl) – a proteção possessória constitui uma forma de 
apropriação das utilidades proporcionadas pelas coisas; estado de facto criador de 
utilidades que beneficia de

Continue navegando