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Herança Complexa: Poligênica e Multifatorial Anna Karolinne Nascimento R2 Genética Médica Reuniões Teóricas da Residência em Genética Médica – SES-DF 1. Definições 2 Herança Multifatorial ◎ Demonstram aglomeração familiar “correm nas famílias” ◎ Não segue os padrões mendelianos de herança. ◎ Raramente associadas a um ou dois alelos ou a apenas um locus. ◎ Interações complexas: Variantes genéticas + ambiente ◎ Risco de recorrência é baseado no risco empírico populacional. ◎ Ex: defeitos congênitos, infarto do miocárdio, câncer, transtornos neuropsiquiátricos, diabetes e doença de Alzheimer. 3 Caracteres Qualitativos x Quantitativos ◎ Qualitativos: ○ A característica está ou não presente no indivíduo. ○ Ex: tem ou não câncer; tem ou não DM. ◎ Quantitativos: ○ Quantidade bioquímica ou fisiologicamente mensurável. ○ Ex: altura, peso, glicemia, PA, colesterol, etc. ○ Definir se está ou não alterado dependerá de um intervalo normal, baseado em uma distribuição normal. 4 Distribuição Normal ◎ Curva = média aritmética de caractere quantitativo de uma população. ◎ Variância (σ2) : o quanto os valores se distanciam da média, ou quantos desvios-padrões tem nossa curva. ◎ Ex: altura = maioria das pessoas estariam próximas ao pico da curva (média μ). 5 fornece diretrizes para se determinar os limites da variação normal 2. Agregação Familiar e Correlação 6 Agregação Familiar ◎ Alelos entre Familiares: quanto mais próximo o parentesco entre duas pessoas, mais alelos elas possuem em comum. ○ Gemeos monozigóticos: possuem os MESMOS alelos em cada locus. ○ Prole e genitor: o filho compartilha 50% dos alelos com cada genitor. 7 Agregação Familiar ◎ Irmãos: média de 50% de alelos em comum com seus outros irmãos. 8 Existem 16 combinações possíveis combinações de genótipos. - 4/16 chance de não ter nenhum alelo em comum = 25% - 4/16 chance de ter 2 alelos em comum = 25% - 8/16 chance de ter 1 alelo em comum = 50% Risco Relativo ◎ Avalia a prevalência de uma doença dentro de uma família em comparação a população geral = poder da agregação familiar. λr = Prevalência da doença nos parentes do afetado Prevalência da doença na população em geral ◎ λr = 1 probabilidade do familiar é igual a da população. ◎ λr > 1 probabilidade do familiar é maior que da população. 9 Risco Relativo 10 Doença Parentesco Risco Relativo Esquizofrenia Irmãos 12 Autismo Irmãos 150 Doença maníaco- depressiva (bipolar) Irmãos 7 DM 1 Irmãos 35 Doença de Chron Irmãos 25 Esclerose Múltipla Irmãos 24 Estudo de caso com história familiar controle ◎ Outro método para avaliar a agregação familiar. ◎ Comparação entre pessoas com as mesmas características geográficas, de hábitos, idade, exposição, etc, porém um com historia familiar positiva e outro com historia familiar negativa. ○ Esclerose múltipla = pessoas que tinham parentes de primeiro grau com EM tiveram a doença em 3,2% dos casos. Pessoas sem essa história familiar tiveram EM em 0,2% dos casos. Ou seja, ter um parente com EM aumentou em 18x o risco de desenvolver a doença. 11 Contribuição Genética para os Caracteres Quantitativos ◎ Correlação Familiar: tendências de valores semelhantes entre familiares de uma variável fisiológica. Por exemplo, medida de colesterol dos pais e da criança. ◎ Coeficiente de correlação (r): é uma medida estatística de correlação aplicada a um par de medições, como o nível de colesterol sérico de uma criança e de um dos pais. ○ Correlação positiva: se quanto mais elevado os níveis de colesterol dos pais, maior seria o da criança. ○ Correlação negativa: quanto maior for o colesterol dos pais, menor seria o do filho. 12 Herdabilidade ◎ Herdabilidade (H2): avalia o quanto as diferenças genéticas entre os indivíduos de uma população contribuem para a variabilidade dessa característica na população. Valores de H2 entre 0 e 1. ○ H2 = 0, o genótipo não contribuiu para a variação fenotípica. ○ H2=1, o genótipo é totalmente responsável pela variabilidade do fenótipo 13 3. Ambiente x Genes na Herança Complexa 14 Ambiente x Gene = Estudo de Família ◎ Genótipo + Ambiente semelhantes = sobreposição de contribuições na característica final. ◎ Diferenciação: ○ Comparar Risco Relativo entre familiares de diferentes graus. ◉ Ex: fenda labiopalatina ○ Comparar Risco Relativo entre parentes adotados e biológicos ◉ EM: RR para gêmeos MZ é 190, para familiares em primeiro grau é 20 a 40, e para familiares adotados o risco relativo é de 1. 15 Ambiente x Gene = Estudo de Família ◎ Fenda labiopalatina: ○ 1,4 : 1000 nascidos ○ Doença multifatorial ○ ♂ > ♀ ○ Sindrômica x Isolada ○ Risco = proximidade familiar + número de familiares 16 Ambiente x Gene = Estudo de Gêmeos ◎ Gêmeos MZ = genótipos e padrões de expressão gênica idênticos. ◎ Usados para determinar se o genótipo sozinho pode determinar a presença da doença. ◎ Gêmeos DZ = genótipo tão parecido quanto de irmãos não gêmeos. 17 Ambiente x Gene = Estudo de Gêmeos ◎ Concordância < 100% em MZ = evidencia de fator não genético na predisposição a doença. ◎ Concordância de MZ > DZ é evidencia para fatores genéticos como predisposição a doença. 18 Taxas de Concordância em Gêmeos MZ e DZ para Vários Distúrbios Multifatoriais Herdabilidade com Base nos Estudos de Gêmeos ◎ Se o ambiente é o responsável pela variabilidade de uma característica, a correlação entre gêmeos DZ será semelhante que a de MZ, logo rMZ − rDZ = ≈0 e H2 será próxima de 0. ◎ Caso apenas o genótipo seja o determinante da característica avaliada, a correlação de MZ será 1 e a de DZ será 50% (0,5), logo rMZ − rDZ = ≈½, H2 será aproximadamente 2 × (½) = 1. ◎ H2=2×(rMZ−rDZ) 19 Estudos de famílias e Gêmeos = Viés ◎ Viés de averiguação: famílias com mais de um irmão afetado chamam a atenção de pesquisadores = superestimado. ◎ Viés de memória: familiares afetados são mais lembrados que os outros = superestimado. ◎ Diferenças entre MZ: rearranjos ou mutações somáticas pós zigóticas, alterações epigenéticas. ◎ ♀ MZ = inativação aleatória do X ◎ Nenhum estudo de gêmeo pode ser perfeitamente controlado quanto a influência genética ou ambiental. 20 3. Exemplos de doenças multifatoriais 21 Malformações Congênitas Multifatoriais 22 Malformações Congênitas Multifatoriais ◎ Defeitos de tubo neural: ○ anencefalia / espinha bífida ○ Causas: multifatorial, teratógenos, cromossomopatias, brida amniótica, doenças monogênicas. ○ Fator ambiental associado: deficiencia de acido fólico. 23 Malformações Congênitas Multifatoriais ◎ Defeitos cardíacos: Agregação familiar principalmente em lesões de fluxo. 24 Distúrbios Neuropsiquiátricos ◎ Esquizofrenia: ○ Concordância entre MZ de 40 a 60%, entre DZ de 10%. ○ Apenas um subgrupo de genes foi associado. ○ < 2% casos de esquizofrênicos apresentam deleções intersticiais em determinados cromossomos ○ deleção em 22q11: 25% desenvolvem esquizofrenia. ○ Descrição de outras deleções associadas como causa em um pequeno número de pacientes: 1q21.1, 15q11.2 e 15q13.3 25 Doença Arterial Coronariana ◎ Hereditariedade = indivíduos jovens e mulheres ◎ Existem poucas doenças mendelianas associadas a DAC ○ Hipercolesterolemia familiar ◎ Multifatorial: ○ Ambiente ○ Hábitos ○ Doenças crônicas associadas: obesidade, HAS, DM 26 Doença de Alzheimer ◎ Frequência de 1-2% nos EUA ◎ Doença neurodegenerativa = progressiva e incurável. ◎ Morte dos neurônios corticais ◎ Perda de memória crônica progressiva ◎ Causa mais comum de demência em idosos (>60 anos). ◎ 27 Doença de Alzheimer ◎ Alvos monogênicos (AD):30-50 anos, forma rara. ○ APP (proteína percursora amiloide):21q21.3 ○ PSEN1 (presenilina 1): 14q24.3 ○ PSEN2 (presenilina 2): 1q42.1 ◎ Herança complexa: >60 anos, APOE (apolipoproteína E), 19q13 ○ Componente do LDL e placa amiloide na doença de Alzheimer. ○ Agregação familiar ○ Risco relativo entre irmãos 4 a 5 ○ MZ: 50% e DZ 18% ○ Fatores ambientais ainda não bem determinados. 28 http://dx.doi.org/10.1016/j.biopsych.2014.05.006 29 Genes Modificadores nos Distúrbios Mendelianos ◎ Genótipos de outros loci poderiam atuar como modificadores genéticos em um loci e determinar variação no fenótipo. ◎ Variantes alélicas que NÃO causam a doença em questão, porem que podem mudar o fenótipo clinico associado aos alelos envolvidos no locus da doença. ◎ Fibrose cística: ○ Gene MBL2 e gene TGFB1, determinantes genéticos para a modificação da gravidade da doença pulmonar. 30 Herança Digênica ◎ Efeito aditivo de genótipos de dois ou mais loci. ◎ Retinite pigmentosa: heterozigotos para alelos mutantes em dois loci diferentes (duplos heterozigotos). ○ Periferina e Rom1. 31 Herança Digênica ◎ Retinite Pigmentosa 32 Herança Digênica ◎ Síndrome de Bardet-Biedl: ○ AR ○ 14 genes já identificados ○ Relato de famílias com herança digênica, onde os afetados são HMZ para um loci e HTZ para outro. 33 Interações Gene x ambiente: Hipercoagulabilidade ◎ Trombose Venosa Cerebral Idioática: 3 fatores: 2 genéticos e 1 ambiental ○ 1) Alelo polimórfico no fator V (FV de Leiden), com uma troca de arginina por glutamina na posição 506 9Arg506Gln): pessoas HTZ tem risco 7x> e pessoas MNZ tem risco 80x > ○ 2) Mutação no gene da protrombina na posição 20210 na UTR 3’ do gene, onde G é substituída por A (protrombina g.20210G > A): aumenta o nível de RNAm da protrombina, aumentando seus níveis. Pessoas HTZ tem 3 a 6x > risco. ○ 3) ACHO: estrogênio sintético (> 14 a 22x risco), independente dos alelos no loci do fator V. 34 Interações Gene x ambiente: Hipercoagulabilidade 35 ◎ Gene FLV: ○ Arginina Glutamina ○ Alteração no sítio de clivagem ○ Efeito pró coagulante duradouro Risco de Trombose 𝐹𝐿𝑉+/𝑚𝑢𝑡= 7x 𝐹𝐿𝑉𝑚𝑢𝑡/𝑚𝑢𝑡= 80X Interações Gene x ambiente: Hipercoagulabilidade 36 ◎ Gene Ptb: ○ Mutação G>A (20210) ○ 3’UTR ○ > níveis de RNAm e da protrombina Risco de Trombose 𝑃𝑡𝑏+/𝑚𝑢𝑡= 3 a 6x Interações Gene x ambiente: Hipercoagulabilidade 37 ◎ ACHO ○ A base de estrógeno ○ Aumento de todos os fatores de coagulação Risco de Trombose 𝑃𝑡𝑏+/𝑚𝑢𝑡= 3 a 6x 𝑃𝑡𝑏+/𝑚𝑢𝑡 + ACHO = 14 a 22 x Múltiplos Elementos Codificantes e não Codificantes na Doença de Hirschsprung ◎ Doença de Hirschsprung (HSCR): ausência de células ganglionares nos plexos mesentérico e submucoso do colón. ◎ Defeito congênito isolado em 70% dos casos, parte de uma cromossomopatia em 12%. Restante em outras condições. ◎ HSCR como defeito isolado: 80% tem apenas um segmento afetado curto no reto (HSCR-S), 20% possuem um longo segmento afetado (HSCR-L). 38 Doença de Hirschsprung ◎ HSCR-L: ○ Padrões que sugerem herança dominante ou recessiva, mas consistentemente com penetrância reduzida. ○ Mutações de perda de função missense ou nonsense no gene RET ◎ HSCR-S: ○ Mais comum, sem padrão de herança mendeliana óbvio ○ Características de herança complexa (entre eles estão alelos em três loci, incluindo RET) 39 Doença de Hirschsprung 40 Diabetes Mellitus 1 ◎ DM1: 10% ; DM2 88%; outras formas 2% ◎ DM1: ○ 1/500 pessoas ○ Risco relativo entre irmãos: 35 ○ Concordância MZ: 40% e DZ 5% ○ Destruição autoimune das células b das ilhotas pancreáticas ○ Relação com alelos do locus do complexo principal de histocompatibilidade (MHC). ○ Relação com outros locus: repetições no promotor de insulina e SNPs em fosfatases. 41 Diabetes Mellitus 1 e MHC ◎ Cromossomo 6: ○ locus mais altamente polimórfico do genoma humano. ◎ Duas classes principais: HLA 1 e 2 ◎ Proteínas de superfície celular nas células apresentadoras de antígenos. 42 Desafio da Herança Complexa ◎ Avanço cientifico = melhor compreensão da relação ambiente x gene ◎ Epidemiologia genética. ◎ Melhor entendimento = possibilidade de orientação da população. 43 Obrigada 44