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1 ODONTOLOGIA LEGAL ODONTOLOGIA LEGAL AUTORIA Karla Firme Leão Borges 2 ODONTOLOGIA LEGAL A Faculdade Multivix está presente de norte a sul do Estado do Espírito Santo, com unidades em Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999 atua no mercado capixaba, destacando-se pela oferta de cursos de graduação, técnico, pós-graduação e extensão, com quali- dade nas quatro áreas do conheci- mento: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, sempre primando pela quali- dade de seu ensino e pela formação de profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho. Atualmente, a Multivix está entre o seleto grupo de Instituições de Ensino Superi- or que possuem conceito de excelência junto ao Ministério da Educação (MEC). Das 2109 instituições avaliadas no Brasil, apenas 15% conquistaram notas 4 e 5, que são consideradas conceitos de excelência em ensino. Estes resultados acadêmicos colocam todas as unidades da Multivix entre as melhores do Estado do Espírito Santo e entre as 50 melhores do país. MISSÃO Formar profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho, com elevado padrão de qualidade, sempre mantendo a credi- bilidade, segurança e modernidade, visando à satisfação dos clientes e colaboradores. VISÃO Ser uma Instituição de Ensino Superior reconhe- cida nacionalmente como referência em quali- dade educacional. - R E I T O R GRUPO MULTIVIX 3 ODONTOLOGIA LEGAL Catalogação: Biblioteca Central Anisio Teixeira – Multivix 2020 • Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. As imagens e ilustrações utilizadas nesta apostila foram obtidas no site: http://br.freepik.com FACULDADE MULTIVIX Diretor Executivo Tadeu Antônio de Oliveira Penina Diretora Acadêmica Eliene Maria Gava Ferrão Penina Diretor Administrativo Financeiro Fernando Bom Costalonga Conselho Editorial Eliene Maria Gava Ferrão Penina (presidente do Conselho Editorial) Kessya Penitente Fabiano Costalonga Carina Sabadim Veloso Patrícia de Oliveira Penina Roberta Caldas Simões Revisão Técnica Alexandra Oliveira Alessandro Ventorin Graziela Vieira Carneiro Design Editorial e Controle de Produção de Conteúdo Carina Sabadim Veloso Maico Pagani Roncatto Ednilson José Roncatto Aline Ximenes Fragoso Genivaldo Félix Soares Multivix Educação a Distância Gestão Acadêmica - Coord. Didático Pedagógico Gestão Acadêmica - Coord. Didático Semipresencial Gestão de Materiais Pedagógicos e Metodologia Direção EaD Coordenação Acadêmica EaD EDITORIAL BIBLIOTECA MULTIVIX (DADOS DE PUBLICAÇÃO NA FONTE) Alexandra Barbosa Oliveira CRB/6 00396 B732o Borges, Karla Firme Leão. Odontologia legal / Karla Firme Leão Borges. – Vitoria : Multivix, 2019. 163 f. : il. ; 30 cm Inclui referências. 1. Odontologia – codigo de ética I. Faculdade Multivix II. Título. CDD: 617 4 ODONTOLOGIA LEGAL - R E I T O R APRESENTAÇÃO DA DIREÇÃO EXECUTIVA Aluno(a) Multivix, Estamos muito felizes por você agora fazer parte do maior grupo educacional de Ensino Superior do Espírito Santo e principalmente por você ter escolhido a Multi- vix para fazer parte da sua trajetória profissional. A Faculdade Multivix possui unidades em Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999, no mercado capixaba, destaca-se pela oferta de cursos de graduação, pós-graduação e extensão de quali- dade nas quatro áreas do conhecimento: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, tanto na modalidade presencial quanto a distância. Além da qualidade de ensino já comprovada pelo MEC, que coloca todas as unidades do Grupo Multivix como parte do seleto grupo das Instituições de Ensino Superior de excelência no Brasil, contando com sete unidades do Grupo entre as 100 melhores do País, a Multivix preocupa-se bastante com o contexto da realidade local e com o desenvolvimento do país. E para isso, procura fazer a sua parte, investindo em projetos sociais, ambientais e na promoção de oportunidades para os que sonham em fazer uma faculdade de qualidade mas que precisam superar alguns obstáculos. Buscamos a cada dia cumprir com nossa missão que é: “Formar profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho, com elevado padrão de quali- dade, sempre mantendo a credibilidade, segurança e modernidade, visando à satisfação dos clientes e colaboradores.” Entendemos que a educação de qualidade sempre foi a melhor resposta para um país crescer. Para a Multi- vix, educar é mais que ensinar. É transformar o mundo à sua volta. Seja bem-vindo! Prof. Tadeu Antônio de Oliveira Penina Diretor Executivo do Grupo Multivix 5 ODONTOLOGIA LEGAL EXERCÍCIO LÍCITO DA ODONTOLOGIA NO BRASIL 7 1.1 CONCEITO E CAMPO DE ESTUDO DA ODONTOLOGIA LEGAL 7 1.2 BREVE HISTÓRICO DA ODONTOLOGIA LEGAL 7 1.3 CIRURGIÃO-DENTISTA 10 1.4 TÉCNICO EM PRÓTESE DENTÁRIA 16 1.5 TÉCNICO EM HIGIENE DENTAL 17 1.6 ATENDENTE DE CONSULTÓRIO DENTÁRIO 18 1.7 AUXILIARES DE PRÓTESE DENTÁRIA 18 O EXERCÍCIO DA ODONTOLOGIA NO BRASIL 20 2.1 ATRIBUIÇÕES DO CIRURGIÃO-DENTISTA 24 2.2 REGULAMENTA O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO NO BRASIL 27 EXERCÍCIO ILÍCITO DA ODONTOLOGIA 37 3.1 SEM AUTORIZAÇÃO LEGAL 39 3.2 O TÉCNICO EM PRÓTESE DENTÁRIA E O EXERCÍCIO ILEGAL DA ODONTOLOGIA 40 3.3 O TÉCNICO EM HIGIENE DENTAL E O EXERCÍCIO ILEGAL DA ODONTOLOGIA 41 3.4 O ATENDENTE DE CONSULTÓRIO DENTÁRIO E O EXERCÍCIO ILEGAL DA ODONTOLOGIA 43 3.5 O AUXILIAR DE PRÓTESE DENTÁRIA E O EXERCÍCIO ILEGAL DA ODONTOLOGIA 44 3.6 O FARMACÊUTICO EM RELAÇÃO À ODONTOLOGIA 45 3.7 O MÉDICO EM RELAÇÃO À ODONTOLOGIA 45 3.8 O CIRURGIÃO-DENTISTA EM RELAÇÃO À FARMÁCIA E À MEDICINA 46 3.9 A PRÁTICA DA HIPNOSE PELO CIRURGIÃO-DENTISTA 47 ÉTICA PROFISSIONAL ODONTOLÓGICA 48 4.1 RELACIONAMENTO COM O PACIENTE 50 4.2 RELACIONAMENTO COM A EQUIPE DE SAÚDE 52 4.3 A CONCORRÊNCIA DESLEAL 52 4.4 O ERRO PROFISSIONAL 53 4.5 A COLABORAÇÃO ENTRE COLEGAS 54 4.6 A AIDS 55 ÉTICA NA PESQUISA ODONTOLÓGICA COM SERES HUMANOS 66 5.1 DIRETRIZES INTERNACIONAIS E NACIONAIS SOBRE PESQUISAS EM SERES HUMANOS 68 DOCUMENTAÇÃO ODONTOLÓGICA 84 6.1 REGISTRO DA ANAMNESE 85 6.2 FICHA CLÍNICA 86 6.3 PLANO DE TRATAMENTO 88 6.4 RECEITAS 89 1 2 3 4 5 6 SUMÁRIO 6 ODONTOLOGIA LEGAL 6.5 ATESTADOS ODONTOLÓGICOS 92 6.6 MODELOS 135 6.7 RADIOGRAFIAS 136 6.8 ORIENTAÇÃO PARA O PÓS-OPERATÓRIO OU SOBRE HIGIENIZAÇÃO 136 6.9 ABANDONO DE TRATAMENTO PELO PACIENTE 136 RESPONSABILIADE PROFISSIONAL DO CIRURGIÃO DENTISTA 137 PERÍCIAS ODONTOLEGAIS 149 8.1 CONCEITO GERAL DE PERÍCIA 135 8.2 TIPOS DE PERÍCIAS 151 8.3 PROFISSIONAL LIBERAL 135 8.4 PROFISSIONAL AUTÔNOMO 135 8.5 NOÇÃO DE BIOTIPOLOGIA 135 REFERÊNCIAS 1619 8 7 7 ODONTOLOGIA LEGAL 1 EXERCÍCIO LÍCITO DA ODONTOLOGIA NO BRASIL 1.1 CONCEITO E CAMPODE ESTUDO DA ODONTOLOGIA LEGAL A Odontologia Legal pode ser interpretada, de modo geral, como uma disciplina que visa fornecer esclarecimentos técnicos à Justiça referentes aos conhecimentos da Odontologia e de suas diversas especialidades. Os objetivos desta especialidade estão descritos na Seção IV, artigo 54, da Resolução número 185, estabelecidos pelo Conselho Federal de Odontologia (em 26 de abril de 1993), conforme transcrito abaixo: Art. 54. A odontologia Legal é a especialidade que tem como objetivo a pesquisa de fenômenos psíquicos, físicos, químicos e biológicos que podem atingir ou ter atingido o homem vivo, morto ou ossada, e mesmo fragmentos ou vestígios, resultando lesões parciais ou totais reversíveis ou irreversíveis. Parágrafo único. A Atuação da Odontologia Legal restringe-se à análise, perícia e ava- liação de eventos relacionados com a área de competência do cirurgião-dentista po- dendo, se as circunstâncias o exigirem, estender-se a outras áreas, se disso depender a busca da verdade, no estrito interesse da justiça e da administração. 1.2 BREVE HISTÓRICO DA ODONTOLOGIA LEGAL 1897 – Incêndio na Ópera Cômica de Paris (“Bazar de la Charité”), resultando na morte e carbonização de, aproximadamente, uma centena de pessoas. A identificação de diver- sas vítimas (cerca de 90%) somente foi possibilitada pela análise dos elementos dentais. 1903 – Estudo de Amoedo discursando sobre a importância dos dentes após a morte, sob o aspecto médico-legal. 8 ODONTOLOGIA LEGAL 1909 – Incêndio criminoso no Consulado da Legação Alemã em Santiago, no Chile. O cirurgião-dentista Germán Valenzuela de Basterrica determinou cientificamente a identidade de um carbonizado favorecendo a resolução do caso. 1912 – Naufrágio do Titanic determinando o falecimento de 1.513 pessoas. A análise das arcadas dentárias permitiu o reconhecimento de muitas vítimas. 1972 – Sognnaes determinou a identidade de Martin Bormann, chanceler do Terceiro Reich alemão durante a II Guerra Mundial, através de comparação com os registros do Dr Hugo Blaschke, então dentista dos nazistas dos altos escalões. 1973 – Incêndio no Hotel Hafnia, em Copenhague, ocasionando 35 mortes. Oito dentis- tas colaboraram equipe de identificação, comparando os dados ante-mortem e post- -mortem através de análises visuais, fotográficas e radiográficas. Foi possível o reconhe- cimento de 74% das vítimas (26 casos). 1983 – Bernstein dissertou sobre a relevância da utilização de fotografias para a acurácia da documentação odontológica post-mortem, justificada pelo fato das evidências den- tais, a despeito de sua resistência, serem compostas de materiais perecíveis. 1985 – Endris descreveu o emprego dos conhecimentos odontolegais no auxílio do reconhecimento do carrasco nazista Josef Mengele a partir de uma ossada suspeita. 1990 – Ocorre um dos maiores acidentes navais da história, o do Scandinavian Star, vitimando 158 pessoas. Os exames dentários viabilizaram o reconhecimento de 107 corpos (68%). Moacyr da Silva; Ida T.P. Cavielli Embora o exercício da odontologia no Brasil seja regulado pela Lei nº 5.081, de 24 de agosto de 1966, a edição da Resolução CFO/185, de 26 de abril de 1993, que aprovou a Consolidação das Normas para Procedimentos nos Conselhos de Odontologia, re- vogando a Resolução CFO-155/84, veio trazer profundas modificações ao campo do exercício legal da odontologia. A citada Lei nº 5.081/66, ao regular o exercício da odontologia em todo o território na- cional, contemplou apenas a figura do cirurgião-dentista, estabelecendo os requisitos exigidos para a sua “capacitação legal”. Assim sendo, o exercício legal da odontologia no 9 ODONTOLOGIA LEGAL Brasil era sinônimo de atuação do cirurgião-dentista. Esse enfoque pode ser considerado, hoje, ultrapassado, na medida em que a Resolu- ção CFO-185/93 acima mencionada estabelece, já em seu artigo 1o, que: “Estão obrigados ao registro no Conselho Federal e à inscrição nos Conselhos Regionais de Odontologia em cuja jurisdição estejam estabelecidos ou exerçam suas atividades: a) os cirurgiões-dentistas; b) os técnicos em prótese dentária; c) os técnicos em higiene dental; d) os atendentes de consultório dentário; e) os auxiliares de prótese dentária; f) os especialistas, desde que assim se anunciem ou intitulem; g) as entidades prestadoras de assistência odontológica; h) os laboratórios de prótese dentária; i) os demais profissionais auxiliares que vierem a ter suas ocupações regulamentadas; j) as atividades que vierem a ser, sob qualquer forma, vinculadas aos Conselhos de Odontologia.” O exercício da odontologia deve ser entendido, então, não mais como aquela ativida- de exercida exclusivamente pelo cirurgião-dentista, mas compreendendo as atividades desenvolvidas por um grupo de profissionais “em benefício da saúde do ser humano e da coletividade, sem discriminação de qualquer forma ou pretexto” (art. 2º do Código de Ética Odontológica). Com essa filosofia, expressa no Código de Ética, a Resolução CFO-185/93 estabelece a competência de cada um dos integrantes da profissão odontológica. Ainda com respeito à questão do exercício legal da odontologia, não se pode perder de vista que a definição dos requisitos exigidos para a inscrição de cada profissional discriminado no artigo 1º da Resolução CFO-185/93 e dos exatos contornos dos atos a eles consignados é de extrema importância legal, já que a outra face da licitude dos atos praticados por esses profissionais pode dizer respeito ao crime de exercício ilegal, previsto no artigo 282 do Código Penal Brasileiro. É claro que nos referimos não ape- 10 ODONTOLOGIA LEGAL nas à hipótese de falta de autorização legal para o exercício da profissão de dentista (e teremos de redefinir o que se deve entender por “profissão de dentista”, face às nossas considerações iniciais), mas, também, aos limites de cada uma das categorias agora trazidas para o seio da profissão odontológica. Serão analisados a seguir os requisitos exigidos para a obtenção da autorização legal, para cada profissional. 1.3 CIRURGIÃO-DENTISTA Para inscrever-se como cirurgião-dentista no Conselho Regional sob cuja jurisdição vai exercer a sua atividade, o profissional deverá comprovar que atende a um dos seguintes requisitos, de acordo com o artigo 5º, da Resolução CFO-185/93: a) Ser diplomado por Curso de Odontologia reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura. O ensino superior é livre no Brasil, isto é, está aberto à iniciativa privada, competindo à União a inspeção e o reconhecimento dos estabelecimentos particulares de ensino. Os estabelecimentos oficiais de ensino superior são aqueles criados e mantidos pelo Poder Público e, assim, dispensam o reconhecimento que já está implícito no próprio ato de criação do curso superior. O reconhecimento do curso, escola ou faculdade não-oficial é condição sine qua non para a validade do diploma e é consequência de todo um processo de acompanha- mento pelo Conselho Federal de Educação, desde a criação do curso até a colação de grau de sua primeira turma, após o que, verificada a regularidade do processo, o esta- belecimento de ensino obterá o reconhecimento. Após a colação de grau e a expedição dos respectivos diplomas, seja pela instituição oficial seja pela particular, devem os mesmos sofrer dois registros: o primeiro tem por finalidade atestar a idoneidade do título, através da verificação da regularidade da vida escolar pregressa do interessado, da autenticidade do diploma e do competente re- conhecimento da escola ou faculdade, quando se tratar de instituição particular, e é realizado por delegação do Ministério da Educação, por algumas universidades federais ou estaduais. Não são pouco frequentes, infelizmente, os casos de fraudes as mais varia- das, o que nos transporta aos desdobramentos penais do exercício enquanto protegido pela inscrição provisória. 11 ODONTOLOGIA LEGAL Esse primeiro registro constitui o atestadopelo Poder Público de que aquele é um título idôneo. Após esse primeiro registro, os diplomas, agora já considerados “título idôneo”, devem sofrer um segundo registro, anteriormente realizado junto ao Serviço Nacional de Fisca- lização da Odontologia, a quem incumbia “superintender e fiscalizar em todo o país as atividades relacionadas com o exercício da odontologia e profissões afins, diretamente ou por intermédio das autoridades federais, estaduais e municipais”. Após a criação do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de Odontologia, em 14 de abril de 1964, pela Lei no 4.324, a fiscalização do exercício da odontologia passou para a competência desses órgãos, e o registro dos diplomas, para o fim de submissão de seu portador à fiscalização do exercício profissional, cabe agora ao Conselho Federal de Odontologia. Convém lembrar, finalmente, que os portadores de diplomas expedidos, seja pela es- cola ou faculdade oficial seja por aquelas reconhecidas, podem, por sua vez, ser brasi- leiros, natos ou naturalizados, e estrangeiros que aqui cumprem o aprendizado de nível superior. Para que os estrangeiros possam inscrever-se no Conselho Regional, é preciso que, além do título idôneo (diploma já registrado), apresentem prova de permanência regular no Brasil e não se incluam na categoria de estudantes beneficiados pelo Pro- grama de Estudante-Convênio (PEC), nem estejam sujeitos às restrições do Decreto Federal no 89.758/84, que trata das matrículas de cortesia para o pessoal diplomático e seus dependentes. b) Ser diplomado por escola estrangeira, cujo diploma tenha sido revalidado e/ou obrigatoriamente registrado para a habilitação ao exercício profissional em todo o território nacional. A condição abriga duas hipóteses: revalidação e registro obrigatório (este último, no Conselho Federal de Odontologia), que, por sua vez, se desdobram em: A primeira: I. O estrangeiro formado no exterior que fixa residência no país para aqui exercer as suas atividades. II. O brasileiro, nato ou naturalizado, formado no exterior, que regressa ao país para exercer a sua atividade profissional. 12 ODONTOLOGIA LEGAL A segunda: III. Diplomados por instituições de ensino superior sediadas nos países que ratificaram a “Convenção Regional sobre o Reconhecimento de Estudos, Títulos e Diplomas de Ensino Superior na América Latina e no Caribe”, aprovada pelo Decreto Federal nº 80.429, de 27 de setembro de 1977. IV. Diplomados por instituições de ensino superior de Portugal, por força do Acordo Cultural assinado em 7 de setembro de 1966 e Protocolo Adicional aprovado pelo Decreto Legislativo nº 60, de 17 de agosto de 1971, e promulgado pelo Decreto nº 69.271, de 23 de setembro de 1971. V. O estrangeiro formado no exterior que fixa residência no Brasil para aqui exercer as suas atividades e que aqui revalide o seu diploma. – Em linhas gerais, o processo de revalidação visa a verificar se os estudos realizados na instituição estrangeira são equivalentes aos ministrados pelas nossas instituições de ensino superior, validando novamente (revalidando) o documento que tinha valor no país de origem, com o fim de tornar aquele diploma um título idôneo no Brasil. O processo de revalidação é conduzido pelas universidades que recebem delegação do Ministério da Educa- ção e Cultura para fazê-lo (uma delas, em São Paulo, é a Universidade de São Pau- lo), e o interessado na revalidação pode escolher a instituição na qual vai requerer a revalidação, porque o seu título, após o processo, vai ser equivalente ao daquela instituição de ensino (o que explica por que obter a revalidação por algumas insti- tuições é mais difícil do que por outras). A revalidação pressupõe a idoneidade do título, que, com a revalidação, sofre auto- maticamente o primeiro registro no Ministério da Educação. O segundo registro, re- alizado pelo Conselho Federal de Odontologia, se completará quando o interessado der entrada no seu pedido de inscrição no Conselho Regional. É evidente que o estrangeiro deverá, ainda, apresentar prova de permanência regu- lar e não-temporária no país. VI. Brasileiro, nato ou naturalizado, formado por escola estrangeira. – O processo de re- validação é, em tudo, similar ao do estrangeiro. Até bem pouco tempo, ao brasileiro, e apenas a ele, portador de título estrangeiro era exigida prova de suficiência em Estudo de Problemas Brasileiros, disciplina eliminada, agora, do currículo mínimo e que era ministrada no Brasil em todos os níveis (graduação e pós-graduação) e não ministrada, obviamente, em alguma instituição estrangeira. 13 ODONTOLOGIA LEGAL VII. Diplomados por instituições de ensino superior beneficiados pela “Convenção Re- gional sobre o Reconhecimento de Estudos, Títulos e Diplomas”. Não necessitam revalidar os seus diplomas, cujo registro para os fins do Ministério da Educação (re- alizado pelas universidades) é processado como se o diploma fosse originário de instituição de ensino superior brasileira. Embora a Convenção designe América Lati- na e Caribe, ratificaram essa Convenção os seguintes países: Panamá, México, Chile, Venezuela, Cuba, Colômbia, El Salvador, Equador, Suriname, Aruba, Curaçao, Santa Sé, Iugoslávia e Holanda. Da mesma forma, esses diplomas são obrigatoriamente registrados no Conselho Federal de Odontologia. VIII. Portugueses e brasileiros diplomados por instituições de ensino superior de Portu- gal, por força do acordo Cultural firmado pelos dois países. Portugueses e brasileiros, segundo o Acordo firmado em 7 de setembro de 1966, gozam da reciprocidade de reconhecimento de títulos e diplomas. Os títulos profissionais idôneos expedidos em Portugal, por força do acordo mencionado, deveriam ser automaticamente re- gistrados no Brasil. É bom que se diga, porém, que, a partir de 1986, os pedidos de registro de diplomas oriundos de instituições portuguesas de ensino superior têm sido submetidos a uma acurada análise de conteúdo, sendo registrados somente após a constatação de equivalência ou conciliação curricular. Levado a efeito, então, esse primeiro registro, o Conselho Federal de Odontologia deve, obrigatoriamente, proceder ao registro que lhe compete (2° registro) como primeira exigência para a inscrição nos Conselhos Regionais sob cuja jurisdição seus portadores pretendam exercer a odontologia. a. Ser diplomado por escola ou faculdade estadual, que tenha funcionado com auto- rização de governo estadual, quando beneficiado pelo Decreto-Lei no 7.718, de 09 de julho de 1945, e comprovada a habilitação para o exercício profissional até 26 de agosto de 1966. A hipótese está voltada apenas para o passado, eis que o prazo esgotou-se em 26 de agosto de 1966, data da publicação da Lei nº 5.081/66 no Diário Oficial da União, e contemplava aqueles profissionais que haviam se formado em escolas de odontolo- gia que não foram reconhecidas, mas que tiveram seu direito de inscrição assegura- do. É bem verdade que a Lei nº 1.3l4/51 (a primeira que regulamentou o exercício da odontologia) não fazia menção a essa categoria. Apenas por razões históricas, relem- bra-se que esses profissionais carregavam as seguintes restrições: a. Poder exercer a profissão apenas nos limites territoriais do estado onde funcionou a escola. 14 ODONTOLOGIA LEGAL b. Poder desempenhar apenas cargos ou funções públicas estaduais ou municipais. c. Não poder registrar os seus diplomas no Departamento Nacional de Educação (que era o equivalente ao registro atual realizado pelas universidades) nem no Departa- mento Nacional de Saúde (o que é hoje realizado no Conselho Federal de Odon- tologia). d. Os diplomas não concediam o direito ao exercício de cargos ou funções públicas federais, nem ao desempenho de funções privativas dos cirurgiões-dentistas regular- mente diplomados por estabelecimento de ensino superior federal ou reconhecido. e. Ser licenciado nos termos dos Decretos 20.862, de 28 de dezembro de 1931; 21.703, de 22 de fevereiro de 1932; ou 22.501,de 27 de fevereiro de 1933. Os decretos enumerados referem-se aos dentistas práticos. Note-se que todos foram editados entre 1931 e 1933, porque datam dessa época as primeiras medidas efetivas para a monopolização do exercício da odontologia pelos portadores de diploma de curso superior. Em 4 de dezembro de 1933, foi expedido o Decreto nº 23.540, fixando a data de 30 de junho de 1934 como a data limite para a concessão do benefício. Esses práticos, até a data limite, deveriam requerer à autoridade sanitária competente a expedição de licença, que os habilitava a exercer a odontologia dentro dos limites territoriais da localidade para a qual era expedida. e) Ter colado grau há menos de dois anos da data do pedido. Desde que seja possuidor de uma declaração da instituição de ensino, firmada por autoridade competente e da qual constem expressamente, por extenso: nome, na- cionalidade, data e local do nascimento, número de cédula de identidade e data da colação de grau. Além das hipóteses analisadas até aqui, três outras devem ser consideradas: • Estran- geiro beneficiário do Programa Estudante-Convênio (PEC), coordenado pelos Ministé- rios das Relações Exteriores e da Educação. Frequentam as nossas escolas superiores estrangeiros que para aqui vêm especialmente para estudar, beneficiados por acordos culturais abrigados pelo PEC, firmados pelo Brasil com países cuja formação de recur- sos humanos encontra-se em desenvolvimento, e cujo ingresso nas escolas superiores dispensa a prestação do concurso de habilitação (vestibular) para a matrícula inicial. Terminado o curso, os diplomas desses alunos estrangeiros devem ser registrados no 15 ODONTOLOGIA LEGAL Ministério da Educação, tal como ocorre com os diplomas dos brasileiros, para que este diploma seja considerado um título idôneo. Tendo em vista, porém, que a condição para usufruir do programa é o retorno ao país de origem, o registro do diploma é realizado com apostila restritiva do exercício profissional no Brasil, o que impede aquele segundo registro no Conselho Federal de Odontologia. Evidentemente, pode ocorrer que, após a expedição do diploma, esse estrangeiro (a), seja pelo casamento com brasileiro(a), seja pela naturalização, permaneça no Brasil. Nesse caso, a apostila restritiva poderá ser cancelada e/ou poderá ser expedido novo di- ploma, quando então esse título deverá permitir-lhe concorrer no mercado de trabalho no Brasil, após o preenchimento dos demais requisitos, inclusive o registro no Conselho Federal de Odontologia. • Estrangeiros beneficiados pelas matrículas de cortesia, nos termos do Decreto Fe- deral nº 89.758, de 6 de junho de 1984. Os estrangeiros sediados no país em virtude de trabalho ou função em Missões Diplomáticas, Repartições Consulares de Carreira e Organismos Internacionais e seus dependentes legais, portadores de vistos diplo- máticos ou oficiais, gozam da prerrogativa de matricular-se em curso superior com isenção do concurso vestibular. Esses diplomas, a exemplo do que acontece com aqueles expedidos para benefici- ários do PEC, são expedidos e registrados com apostila restritiva de exercício profis- sional no Brasil. No entanto, diferentemente do que ocorre com aqueles, a apostila restritiva pode ser cancelada, bastando a concessão da residência temporária (pará- grafo único do artigo 2º do Decreto 89.758/84), com o que seus diplomas poderão ser registrados no Conselho Federal de Odontologia, adquirindo validade para o exercício profissional no país, satisfeitas as demais exigências legais. • Estrangeiro com visto temporário, portador de contrato de trabalho ou que com- prove prestação de serviço ao Governo Brasileiro. Há casos em que o estrangeiro vem ao Brasil para, temporariamente, exercer as suas atividades profissionais. Nesses casos, deverá ser requerida ao Conselho Regional sob cuja jurisdição estiver a região em que prestará os seus serviços uma inscrição temporária, que será concedida pelo prazo constante no seu contrato de trabalho, visado pelo Ministério do Traba- lho, ou no documento que comprovar a prestação de serviço ao Governo Brasileiro. 16 ODONTOLOGIA LEGAL A inscrição temporária, nesses casos, será cancelada automaticamente ao término do prazo concedido para a estada do profissional no território nacional. Ao estrangeiro, portador de “registro temporário” no Ministério da Justiça, será concedi- da a inscrição temporária, pelo prazo de dois anos, a contar da data do referido registro (Art.124, da Resolução CFO-185/93). 1.4 TÉCNICO EM PRÓTESE DENTÁRIA As atividades do técnico em prótese dentária não devem ser confundidas com as que são exercidas por alguns protéticos, que, a exemplo do que acontecia com os barbeiros de épocas passadas e, mais tarde, com os dentistas práticos, assolam a população com lesões bucais dos mais diversos graus. Os técnicos em prótese dentária pertencem, hoje, a uma categoria profissional perfei- tamente definida, sindicalizada, conhecedora dos limites de seu campo de atuação e que continua emprestando uma valiosa contribuição à odontologia. A institucionalização da profissão foi obtida a partir da Lei nº 6.710, de 05 de novembro de 1979, que “Dispõe sobre a profissão de Técnico em Prótese Dentária...”, sujeito, a par- tir de então, à inscrição obrigatória no Conselho Regional de Odontologia da jurisdição onde irá exercer sua atividade e a quem passa a ser subordinado. Tal como ocorre com o cirurgião-dentista, para inscrever-se no Conselho Regional de sua jurisdição, o técnico em prótese dentária deverá preencher um dos requisitos exigi- dos para a sua categoria, estabelecidos no artigo 8º da Resolução CFO-185/93. São eles: a. Possuir diploma ou certificado de conclusão de curso de Prótese Dentária, ao nível do 2º grau, conferido por estabelecimento oficial ou reconhecido. b. Possuir diploma ou certificado, devidamente revalidado e registrado no país, ex- pedido por instituições estrangeiras de ensino, cujos cursos sejam equivalentes ao mencionado na alínea a. c. Possuir registro no Serviço de Fiscalização do Exercício Profissional, em data anterior a 06 de novembro de 1979. d. Possuir prova de que se encontrava legalmente autorizado ao exercício profissional, em 06 de novembro de 1979. 17 ODONTOLOGIA LEGAL Nas suas devidas proporções, o entendimento do que seja um estabelecimento de ensino oficial ou reconhecido, os trâmites da revalidação e os requisitos que se referem ao direito adquirido acompanham o raciocínio exposto na análise sobre os requisitos exigidos para a inscrição do cirurgião-dentista. 1.5 TÉCNICO EM HIGIENE DENTAL A profissão de técnico em higiene dental ainda não alcançou, no Brasil, o reconheci- mento de que goza em outros países, nos quais a sua atividade tem proporcionado a otimização do atendimento odontológico à população, principalmente na área social. A formação do técnico em higiene dental, em cursos profissionalizantes de 2º grau, obedece ao disposto no Parecer nº 460/75 da Câmara de 1º e 2º graus, do Conselho Federal de Educação. Contudo, o mais comum era, até bem pouco tempo atrás, a for- mação desses profissionais dentro do próprio Serviço Público que deles carecia. A inscrição do técnico em higiene dental no Conselho Regional se processa mediante a apresentação do diploma, certificado ou documento que atenda, integralmente, às exigências contidas no Parecer nº 460/75 referido acima, podendo, ainda, o documento estrangeiro sofrer revalidação (art.11 e §§, da Resolução CFO-185/93). Disposição inusitada e insólita sobre a inscrição de técnico em higiene dental no Con- selho Regional é a trazida pelo § 2º do artigo 11 da Resolução CFO-185/93. Determina a referida disposição que: “§ 2º A inscrição de cirurgião-dentista em Conselho Regional, como técnico em higiene dental, somente poderá ser efetivada mediante apresentação de certificado ou diplo- ma que comprove a respectiva titulação.” Com exceção da profissão de técnico em prótese dentária,regulamentada em lei, as demais categorias criadas pelo Conselho Federal foram objeto, apenas, de regulamen- tações de ordem educacional, que as incluíram como possibilidades de formação pro- fissionalizante em cursos de 1º ou 2º graus, através de Pareceres do Conselho Federal de Educação. Essas atividades só podem ser exercidas sob a supervisão e com a presença física do 18 ODONTOLOGIA LEGAL cirurgião-dentista, havendo, portanto, total subordinação daqueles a este último profis- sional. Ora, que razão faria com que um profissional de nível de formação escolar superior pre- tendesse inscrever-se em atividade de formação inferior e a ele mesmo subordinada? A explicação talvez seja encontrada em episódio ocorrido em um concurso público para preenchimento de cargos de técnico em higiene dental, no qual muitos classi- ficados eram cirurgiões-dentistas, alguns recém-formados, mas outros já com alguns anos de profissão e aos quais se teria tentado negar a posse sob a alegação de que não possuíam titulação para o cargo. O referido episódio deixa clara a distorção existente no mercado de trabalho, cuja solu- ção não passa, evidentemente, pela edição de medidas como a ora comentada. 1.6 ATENDENTE DE CONSULTÓRIO DENTÁRIO Ao contrário do profissional citado no item anterior, o atendente de consultório den- tário, ou auxiliar odontológico, como era chamado, é, juntamente com o protético, o mais antigo auxiliar da profissão odontológica. Por esta razão, até o advento das novas normas, o seu treinamento era levado a efeito pelo próprio cirurgião-dentista (ou pelo “prático”). Ainda hoje, em que pesem as exigências legais, a formação desses profis- sionais se dá, preponderantemente, no âmbito do consultório, não obstante algumas tentativas isoladas de ministração de cursos específicos. Segundo o artigo 19 e seu parágrafo único da Resolução CFO-185/93, a inscrição dos atendentes de consultório dentário se fará mediante a apresentação de “certificado expedido por curso ou exames que atendam, integralmente, aos dispostos na Lei nº 5.692/71 e nos Pareceres 460/75 e 699/72 do CFE” ou título revalidado. 1.7 AUXILIARES DE PRÓTESE DENTÁRIA Diferentemente do técnico em higiene dental e do atendente de consultório dentário, cuja supervisão foi deferida ao cirurgião-dentista, o auxiliar de prótese dentária trabalha sob a supervisão do técnico em prótese dentária. 19 ODONTOLOGIA LEGAL A habilitação ao registro e a inscrição no Conselho Regional se fazem através da apre- sentação de certificado de curso que preencha as condições do Parecer nº 540/76, do Conselho Federal de Educação (art.25, da Resolução CFO-185/93). Vedação inexplicável, a nosso ver, atinge apenas esse profissional. O artigo 26 da Reso- lução CFO-185/93 estabelece que esse profissional somente pode exercer suas ativida- des nos limites territoriais do Conselho Regional que deferiu a sua inscrição, sendo-lhe vedada a transferência para a jurisdição de outro Conselho Regional. 20 ODONTOLOGIA LEGAL 2 O EXERCÍCIO DA ODONTOLOGIA NO BRASIL Como já tivemos a oportunidade de enfatizar, até bem pouco tempo, o cirurgião-den- tista era auxiliado no exercício de suas atividades pelos protéticos e pelos auxiliares de consultório. A evolução da profissão odontológica e as transformações ocorridas no mercado de trabalho se refletiram, também, nesse segmento profissional, fortalecendo algumas ca- tegorias, como é o caso dos protéticos, hoje denominados técnicos em prótese dentá- ria, e ensejando o reconhecimento de outras, como a dos higienistas, que receberam o nome de técnicos em higiene dental. Os primeiros contam, inclusive, com sindicato representativo e atuante, passando por uma marcante evolução. Optou o Conselho Federal de Odontologia, assim, por incluí-los entre aqueles que se devem subordinar à sua fiscalização, fazendo-o, definitivamente, através da Resolução CFO-185/93, a qual sinaliza que, além do cirurgião-dentista, devem inscrever-se nos Conselhos Regionais o técnico em prótese dentária, os técnicos em higiene dental, os atendentes de consultório dentário e os auxiliares de prótese dentária. Cabe, ainda, chamar a atenção para o fato de que uma Resolução, como é o caso da CFO-185/93, tem caráter supletivo, razão pela qual apenas repete, complementa ou atualiza aquilo que já foi objeto de textos legais hierarquicamente superiores. Assim, a profissão de cirurgião-dentista no Brasil ainda é regida pela Lei n° 5.081, de 24 de agosto de 1966, publicada no Diário Oficial da União em 26 de agosto de 1966, que “regulamenta o exercício da odontologia em todo o território nacional”. A Lei n° 5.081/66 substituiu a Lei n° 1.314, de janeiro de 1951, que primeiramente ins- tituiu o monopólio do exercício da odontologia para portadores de diplomas obtidos em cursos oficiais ou reconhecidos de odontologia, impedindo, assim, o exercício da odontologia por quem não satisfizesse os requisitos de capacitação que estabelecia. A nova lei (5.081/66) foi editada dois anos após a criação dos Conselhos Federal e Re- gionais de Odontologia, através da Lei n° 4.324, de 14 de abril de 1964, que atestou 21 ODONTOLOGIA LEGAL definitivamente a maioridade da profissão odontológica. A partir dela, compete aos Conselhos a fiscalização do exercício da odontologia no Bra- sil, nos seguintes termos: Art. 1º- – O exercício da odontologia no território nacional é regido pelo disposto na presente Lei. Ainda que a nova lei não tivesse feito menção expressa à revogação de dispositivos contrários, o artigo em exame traz como consequência a revogação tácita da lei ante- rior que versa sobre o mesmo objeto, ao estabelecer que o exercício da odontologia no território nacional é regido pela presente lei. Art. 2º- – O exercício da Odontologia no território nacional só é permitido ao cirurgião- -dentista habilitado por escola ou faculdade oficial ou reconhecida, após o registro do diploma na Diretoria do Ensino Superior, no Serviço de Fiscalização da Odontologia, na repartição sanitária estadual competente e inscrição no Conselho Regional sob cuja jurisdição se achar o local de sua atividade. Modificações estruturais e administrativas ocorridas nos órgãos oficiais citados no artigo em exame, somadas às autorizações decorrentes de outras fontes legislativas, tornaram ultrapassadas as exigências nele contidas. A primeira exigência diz respeito à capacitação profissional, que só poderá ser obtida através de curso de graduação em odontologia ministrado por escola ou faculdade oficial ou reconhecida. Embora o ensino superior seja livre no Brasil, a instalação e o funcionamento dos cursos superiores dependem da autorização da União, a quem compete a inspeção e fiscali- zação dos estabelecimentos de ensino. O diploma assim obtido necessita transformar-se em título idôneo, o que acontecia com o seu registro na Diretoria do Ensino Superior e que tinha por objetivo a verificação da regularidade da vida escolar pregressa do portador do diploma, bem como a da escola ou faculdade que o diplomou. Esse registro é agora obtido nas próprias univer- sidades federais ou estaduais. Obtida a capacitação profissional, é preciso que sejam cumpridas outras exigências 22 ODONTOLOGIA LEGAL para se obter a capacitação legal. Essas exigências se compunham dos registros que eram realizados no Serviço Nacional de Fiscalização da Odontologia, na Divisão do Exercício Profissional (repartição estadual competente) e na inscrição no Conselho Re- gional de Odontologia. O registro no Serviço Nacional de Fiscalização da Odontologia, que se destinava a pos- sibilitar a fiscalização sobre o exercício da odontologia, é realizado agora pelo Conselho Federal de Odontologia, a quem cabe atualmente, como já vimos, essa competência. O registro na repartição sanitária estadual competente (Divisão do Exercício Profissio- nal), que tinha por finalidade a fiscalização mais direta sobre as instalações profissionais, está agora sob a jurisdiçãodos Escritórios Regionais de Saúde, os ERSA, aos quais com- pete, através do Centro de Vigilância Sanitária, conceder o alvará de funcionamento para o profissional que pretenda exercer a profissão autonomamente. Para aqueles que não vão exercer de forma autônoma a profissão, isto é, para aqueles que não pretendem “montar consultório”, esse registro é, atualmente, dispensado. Finalmente, a inscrição no Conselho Regional de Odontologia sob cuja jurisdição se achar o local de sua atividade completa a aquisição da capacidade legal Art. 3º- – Poderão exercer a odontologia no território nacional os habilitados por escolas estrangeiras, após a revalidação do diploma e satisfeitas as demais exigências do artigo anterior. Existem outras hipóteses de capacitação legal além daquelas representadas pelos bra- sileiros ou estrangeiros portadores de diplomas revalidados. Os diplomas expedidos pelas instituições de ensino superior sediadas nos países que assinaram a “Convenção Regional sobre o Reconhecimento de Estudos, Títulos e Diplomas”, e os diplomas de portugueses e brasileiros expedidos por escolas portuguesas, conforme se explicitou no inciso III do mesmo item b, são automaticamente registrados pela universidade na qual esse registro é requerido. Outras duas hipóteses não previstas na Lei n° 5.081/66 decorrem de situações nascidas da edição de textos legais posteriores: os estrangeiros portadores de diplomas obti- dos em escolas ou faculdades oficiais ou reconhecidas beneficiados pelo Programa de Estudante-Convênio (PEC) que tenham obtido visto permanente no Brasil e aqueles beneficiados com a Matrícula de Cortesia Diplomática, na mesma situação, e que de- 23 ODONTOLOGIA LEGAL verão, apenas, após terem a idoneidade do título regularizada, procederem aos demais registros e inscrição já analisados para estarem legalmente capacitados para o exercício no Brasil. Art. 4º- – É assegurado o direito ao exercício da odontologia, com as restrições legais, ao diplomado nas condições mencionadas no Decreto-Lei no 7.718, de 9 de julho de 1945, que regularmente se tenha habilitado para o exercício profissional, somente nos limites territoriais do estado onde funcionou a escola ou faculdade que o diplomou. A Lei n° 5.081/66, ao mesmo tempo em que assegurou o direito ao exercício da odon- tologia aos beneficiados pelo Decreto-Lei n° 7.718/45, revogou-o expressamente, daí porque a data limite para a comprovação do direito às vantagens por ela concedidas é a da publicação da lei nova no Diário Oficial da União, em 26 de agosto de 1966. Como já se chamou a atenção, a Lei n° 1.314/51, que regulamentava a profissão até o advento da Lei n° 5.081/66, não contemplava esse grupo de profissionais. Se considerarmos que a habilitação dos profissionais de que trata esse artigo remonta ao ano de 1945, portanto há mais de 50 anos, podemos convir que, profissionalmente, trata-se de categoria em extinção. Art. 5º- – É nula qualquer autorização administrativa a quem não for legalmente habili- tado para o exercício da odontologia. A demora na expedição dos diplomas e o longo tempo requerido pelo seu registro têm, desde há muito, dificultado a vida dos recém-graduados em qualquer carreira. Atento a essa realidade, o Conselho Federal de Odontologia baixou resolução admitin- do a inscrição provisória para o recém-formado, inicialmente por um ano, aumentando esse prazo para dois anos posteriormente. É o que estabelece a alínea e do artigo 5° da Resolução CFO-185/93. No entanto, é importante observar que, em razão da hierarquia das leis, uma Resolução não pode dispor contrariamente a uma lei. A Lei n° 5.081/66 determina expressamente, em seu artigo 2°, que o exercício da odon- tologia só é permitido ao cirurgião-dentista habilitado por escola ou faculdade oficial ou reconhecida após o registro do diploma e inscrição no Conselho Regional. 24 ODONTOLOGIA LEGAL É óbvio, então, que a apresentação do certificado de conclusão de curso não supre o requisito da lei, até porque, como ficaria eventual arguição de responsabilidade profis- sional decorrente da prática de atos privativos de cirurgião-dentista por alguém que tivesse obtido a inscrição provisória mediante apresentação de certificado falso, ou cuja falsidade estivesse sediada até no certificado de conclusão do 2° grau etc. (o que, como tivemos a oportunidade de observar, não é assim tão raro). A solução poderia estar, ao que nos parece, na alteração da lei mediante proposta do Conselho Federal de Odontologia ao Legislativo, o que seria muito oportuno, na medi- da em que este dispositivo e mesmo outros da referida lei encontram-se ultrapassados. 2.1 ATRIBUIÇÕES DO CIRURGIÃO-DENTISTA A questão da competência atribuída ao cirurgião-dentista, isto é, do elenco de atos que podem ser praticados por ele, nem sempre é pacífica, até mesmo porque, em virtude dos avanços técnicos e científicos experimentados pela odontologia, algumas de suas áreas de atuação têm sido superpostas a campos de competência outrora exclusivos da medicina, fazendo-se necessário tentar não a delimitação dos respectivos campos, mas o estudo das hipóteses em que possa ocorrer, com vistas à adequada arguição da responsabilidade profissional. O campo de competência do cirurgião-dentista, ou a explicitação do que ele pode praticar, decorre do exame do artigo 6º e seus incisos. Art. 6º- Compete ao cirurgião-dentista: I. praticar todos os atos pertinentes à odontologia, decorrentes de conhecimentos adquiridos em curso regular ou em cursos de pós-graduação; II. prescrever e aplicar especialidades farmacêuticas de uso interno e externo, indica- das em odontologia; III. atestar, no setor de sua atividade profissional, estados mórbidos e outros, inclusive para justificação de faltas ao emprego; IV. proceder à perícia odontolegal em foro civil, criminal, trabalhista e em sede admi- nistrativa; V. aplicar anestesia local e troncular; 25 ODONTOLOGIA LEGAL VI. empregar a analgesia e a hipnose, desde que comprovadamente habilitado, quan- do constituírem meios eficazes para o tratamento; VII. manter, anexos ao consultório, laboratório de prótese, aparelhagem e instalação adequadas para pesquisas e análises clínicas, relacionadas com os casos específicos de sua especialidade, bem como aparelhos de raios X, para diagnóstico, e aparelha- gem de fisioterapia; VIII. prescrever e aplicar medicação de urgência no caso de acidentes graves que com- prometam a vida e a saúde do paciente; IX. utilizar, no exercício da função de perito-odontólogo, em casos de necropsia, as vias de acesso do pescoço e da cabeça. I. Praticar Todos os Atos Pertinentes à Odontologia, Decorrentes de Conhecimen- tos Adquiridos em Curso Regular de Graduação ou em Cursos de Pós-Graduação O inciso I consagra a uniformidade da formação odontológica em todo o território nacional, quando estabelece que a prática dos atos profissionais deve ser decorrente de conhecimentos adquiridos em curso regular, que só podem ser entendidos, então, como os de graduação, cujo currículo mínimo é estabelecido pelo Conselho Federal de Educação. Em que pese a diversidade na qualidade dos órgãos formadores, não será possível in- dagar, no caso concreto, em qual escola o profissional se formou; se seguia o currículo mínimo ou, pelo contrário, adotava o currículo pleno; se tal parte programática incluía, ou não, noções aprofundadas, ou não, sobre fisiologia do coração, por exemplo. Os co- nhecimentos exigíveis são aqueles estabelecidos no currículo mínimo. Por outro lado, quando a lei fala em cursos de pós-graduação, estes devem ser entendi- dos como aqueles aptos a conferir aos profissionais o aprofundamento de seus conhe- cimentos em determinado campo, e não qualquer um, de pequena duração, realizado apenas após a graduação. As especialidades odontológicas são regulamentadas pela Resolução CFO-185/93, que baixou a nova Consolidação das normas para procedimentos nos Conselhos de Odon- tologia.Em consequência dessas alterações, passaram a ser reconhecidas 14 especiali- dades: cirurgia e traumatologia bucomaxilofaciais, dentística restauradora, endodontia, odontologia legal, odontologia em saúde coletiva, odontopediatria, ortodontia, patolo- 26 ODONTOLOGIA LEGAL gia bucal, periodontia, prótese bucomaxilofacial, prótese dentária, radiologia, implanto- dontia e estomatologia. Tal como ocorre com a autorização legal para o exercício da odontologia, o especialista, para anunciar-se como tal, deve estar devidamente autorizado pelo Conselho Federal de Odontologia, isto é, deve estar registrado e inscrito como especialista. O artigo 38, da Resolução CFO-185/93, do Conselho Federal de Odontologia, elenca os requisitos exigidos para o registro e a inscrição como especialista, dos quais o cirurgião- -dentista deve preencher ao menos um: a. possuir título de livre-docente ou de doutor, na área da especialidade; b. possuir título de mestre, na área da especialidade, conferido por curso que atenda às exigências do Conselho Federal de Odontologia; c. possuir certificado conferido por curso de especialização em odontologia que aten- da às exigências do Conselho Federal de Odontologia; d. possuir diploma ou certificado de curso de especialização registrado pelo extinto Serviço Nacional de Fiscalização da Odontologia; e. possuir diploma expedido por curso regulamentado por lei, realizado pelos serviços de Saúde das Forças Armadas, que dê direito especificamente a registro e inscrição; f. possuir diploma ou certificado conferido por curso de especialização ou residência na vigência das resoluções do Conselho Federal de Odontologia ou legislação es- pecífica anterior, desde que atendidos todos os seus pressupostos e preenchidos os seus requisitos legais. § 1o- O certificado de curso referido na alínea c deste artigo somente dará direito a registro caso o profissional o tenha iniciado após dois anos de inscrito em Conselho Regional. § 2o- São vedados o registro e a inscrição de duas especialidades com base no mesmo curso realizado. § 3o- Quando se tratar de curso de mestrado e doutorado, com área de concentração em duas ou mais especialidades, poderão ser concedidos registro e inscrição em ape- nas uma delas, desde que: 27 ODONTOLOGIA LEGAL a. no certificado expedido conste a nomenclatura correta da especialidade pretendida; b. a carga horária na área seja igual ou superior ao número de horas previsto para a especialidade; e, c. a soma dos alunos das diversas áreas não ultrapasse o número estabelecido nestas normas para cada especialidade.” 2.2 REGULAMENTA O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO NO BRASIL Chamamos a atenção para o fato de que a lei veda o anúncio da condição de especia- lista por quem não seja registrado como tal no Conselho Federal e inscrito no Conselho Regional de Odontologia. Anunciar-se especialista sem autorização legal poderá vir a constituir infração ética, mas não a infração penal prevista no artigo 282 do Código Penal. O exercício de atos para os quais o profissional não esteja preparado, no nosso entender, poderá caracterizar crime culposo, respondendo o profissional pela negligên- cia, imprudência ou imperícia, mas não por exercício ilegal, seja por falta de autorização legal seja por excesso de limites. II. Prescrever e Aplicar Especialidades Farmacêuticas de Uso Interno e Externo, In- dicadas em Odontologia A competência para prescrever e aplicar especialidades farmacêuticas não foi conquis- tada facilmente pela classe odontológica. Somente em 1951, com a edição da Lei nº 1.314, o cirurgião-dentista teve reconhecida a sua capacidade para prescrever e aplicar todo o arsenal medicamentoso. Diferentemente do que ocorre com os médicos, cuja atuação terapêutica é realizada preponderantemente através dos medicamentos, a ação curativa dos cirurgiões-den- tistas decorre, também de maneira preponderante, de sua atuação direta sobre os elementos dentários e tecidos de sustentação. A prescrição de especialidades farma- cêuticas, via de regra, constitui meio auxiliar do tratamento odontológico. O aspecto que interessa abordar neste momento é o que diz respeito ao problema dos limites de atuação do cirurgião-dentista no campo da prescrição e aplicação de espe- cialidades farmacêuticas. É evidente que a restrição “indicada em odontologia”, como 28 ODONTOLOGIA LEGAL chama a atenção Samico (1990), não precisa estar especificada no rótulo ou na bula do medicamento. O arsenal terapêutico é comum ao médico e ao cirurgião-dentista, e também ao médico-veterinário. Os antibióticos, os hemostáticos, os analgésicos e os anti-inflamatórios são de indicação comum às três profissões. A causa da indicação poderá determinar o excesso de limites. Um veterinário ou um médico, por exemplo, poderá, cada um deles, receitar um anticoncepcional para um animal e para um ser humano, respectivamente. Um cirurgião-dentista não poderá fazê-lo, sob pena de es- tar excedendo os limites de sua profissão, ainda que possua um vasto conhecimento técnico e científico de farmacologia. Como enfatiza aquele autor: “O cirurgião-dentista não deve prescrever medicações para o tratamento de patologias que não sejam de seu território legal de atividade.” A questão da prescrição de medicamentos, e mesmo a do diagnóstico de determinadas doenças, tem sido objeto de discussões nevrálgicas. Em função do fato de que muitas doenças têm manifestações precoces no meio bu- cal, alguns cirurgiões-dentistas afirmam ter competência para firmar seu diagnóstico. Temos chamado a atenção para o fato de que, realmente, muitos cirurgiões-dentistas têm competência técnica e científica para o diagnóstico. Falta-lhes, no entanto, a com- petência legal para fazê-lo, porque essas entidades noológicas, embora tenham mani- festação precoce bucal, têm sua sede em outros órgãos e não só na boca, e, portanto, a capacidade legal para atestá-las é somente dos médicos. Finalmente, não se pode deixar de chamar a atenção para as doenças iatrogênicas decor- rentes da ingestão de medicamento. A recomendação que sempre fazemos aos nossos alunos é a de que atentem para a relação existente entre o período de tempo durante o qual o paciente deverá fazer uso do medicamento, a sua dose e a quantidade em que a droga vem apresentada (embalagens com maior ou menor quantidade), tendo em vista os efeitos colaterais apresentados pela maioria das drogas existentes no mercado. III. Atestar, no Setor de Sua Atividade Profissional, Estados Mórbidos e Outros, Inclu- sive para Justificação de Faltas ao Emprego O atestado, médico ou odontológico, “constitui a afirmação simples e por escrito de um fato médico e suas consequências” (Souza Lima, 1904). São três as condições para que um atestado médico seja apto a produzir os seus efeitos: 1. A efetiva prática do ato profissional que originou as consequências atestadas. 2. A posse da “autorização legal” para o exercício profissional. 29 ODONTOLOGIA LEGAL 3. Não estar o profissional suspenso do exercício profissional (em razão de sentença judicial ou imposição de penalidade pelo órgão profissional). Embora tivesse competência para atestar os fatos odontológicos e suas consequências, ela só foi estendida para os fins de justificação de falta ao trabalho em 1975, quando o inciso III do artigo 6º da Lei nº 5.081/66 teve sua redação alterada pela Lei nº 6.215, de 30 de junho daquele ano. O reconhecimento, porém, da plena capacidade legal do cirurgião-dentista para ates- tar não se completou com a necessária alteração do artigo 302 do Código Penal, que prevê a figura do atestado falso firmado pelo médico, para estendê-lo ao cirurgião- -dentista, originando a injusta disparidade de tratamento, que leva a prática da infração cometida por este último a ser denunciada pelo artigo 299 do Código Penal, cuja pena é extremamente mais severa do que aquela cominada ao mesmo crime quando pra- ticado por médico. Não discutiremos aqui, os aspectos filosóficos dacongruência ou não do atestado falso firmado pelo dentista com o “crime do falso”, mas não podemos deixar de evidenciar a falta de visão dos representantes da classe odontológica ao não propugnarem, pelo menos imediatamente após a edição da Lei nº 6.215, de 30 de junho de 1975, pela competente alteração da redação do artigo 302 do Código Penal. IV. Proceder à Perícia Odontolegal em Foro Civil, Criminal, Trabalhista e em Sede Administrativa Ao graduar-se, o cirurgião-dentista adquire plena capacidade para atuar como perito. Convém, no entanto, refletir com Arbenz (1988), segundo o qual “as perícias são levadas a efeito por técnicos especializados, dotados de profundos conhecimentos teóricos e práticos do ramo a que se dedicam”, que os simples conhecimentos da graduação não permitem ao profissional desincumbir-se dessa delicada tarefa. O aumento da demanda de peritos em função do crescimento no número de lides envolvendo o exercício profissional; da necessidade de avaliação do dano na ocorrência de lesões dentomaxilofaciais decorrentes de acidentes de trânsito; da avaliação dos in- fortúnios do trabalho, dentre outras, tem deixado patente a necessidade de formação especializada, que não é obtida, seguramente, apenas com os ensinamentos ministra- dos nos cursos de graduação. 30 ODONTOLOGIA LEGAL Em excelente e recente monografia, na qual analisou a “ocorrência de traumatismos fa- ciais e de elementos dentários em ocupantes de veículos, decorrentes de acidentes de trânsito”, Cardozo (1990), ao discutir as avaliações encontradas nos laudos que constituí- ram o material de sua tese, afirma que: “É nesse campo que se evidencia o despreparo dos profissionais aos quais está afeta a responsabilidade da avaliação do dano sofrido pelas vítimas no que tange à valoração das lesões dentomaxilofaciais.” Agravando essa situação, geralmente essa avaliação é realizada por médicos-legistas que não possuem o necessário conhecimento especializado para fazerem um prog- nóstico adequado das lesões dentomaxilofaciais, apesar de, com exceção de alguns poucos estados, os Institutos Médico-Legais já contarem com cirurgiões-dentistas como odontolegistas. Esta realidade não é só nossa, pois Montagna (1969), do Chile, também chamou a atenção para o fato de que, naquele país, é o médico-legista quem avalia as lesões de interesse odontológico, e que “a lei tende a considerar as lesões maxilofaciais com prog- nósticos de escassa gravidade, baseada principalmente em que, graças aos progressos da ciência odontológica, estas se reparam com um alto grau de eficiência”. No entanto, como enfatiza Cardozo (op.cit.), as lesões da que ora tratamos diferem de qualquer outro prejuízo corporal, inclusive porque a vítima pode estar fisicamente apta para o trabalho, “mas não psicologicamente, em razão de alterações estéticas ou funcio- nais que demandam tratamento especializado, e às vezes longo, para serem reparadas”. Esses estudos e todos os outros que têm abordado o assunto evidenciam a absoluta necessidade de formação especializada, porque, como afirma Silva (Silva, M, da Facul- dade de Odontologia da USP. Comunicação pessoal, 1993) a visão exigida do perito odontólogo é uma visão “clínico-jurídica”, não bastando ao expert o conhecimento ape- nas da odontologia, o que se aplica a todos os campos das perícias odontológicas. Resumimos a seguir os tipos de perícias que podem ser realizados pelo cirurgião-den- tista, segundo Silva (Silva, M. Anotações de aulas). Em âmbito civil: a. Ressarcimento de danos b. Arbitramento judicial de honorários c. Exclusão da paternidade d. Estimativa da idade 31 ODONTOLOGIA LEGAL Em âmbito criminal: a. Identificação no vivo no cadáver b. Perícias antropológicas (no crânio esqueletizado) espécie animal estimativa do sexo estimativa da idade estimativa da estatura estimativa do biótipo c. Lesões corporais d. Determinação da idade e. Perícias de manchas f. Determinação da embriaguez alcoólica Em âmbito trabalhista: a. Acidentes-tipo b. Doenças profissionais com manifestação bucal c. Doenças profissionais do cirurgião-dentista Em sede administrativa: a. Auditorias b. Exames determinados por comissões de sindicância V. Aplicar Anestesia Local e Troncular Os anestésicos podem ser definidos como agentes que suprimem a sensibilidade. Desde a antiguidade buscam-se substâncias capazes de afastar a dor: o uso da man- drágora e do ópio constituiu-se em conquistas nesse campo, embora não tivesse al- cançado resultados plenamente satisfatórios. 32 ODONTOLOGIA LEGAL No campo da odontologia, a dor que acompanhava qualquer intervenção traduziu-se e ainda se faz presente nas representações da atuação do cirurgião-dentista, em que este é apresentado como torturador. Pode-se compreender, então, por que os cirurgiões-dentistas empenharam-se tanto na busca de métodos e substâncias que afastassem a dor, sendo as descobertas do protoxido de nitrogênio e do éter etílico como agentes anestésicos atribuídas a dois dentistas: Horace Wells e William T.G.Morton, ambas em meados do século passado. Em virtude dos inconvenientes apresentados e pelos riscos que representavam, inclu- sive com a ocorrência de inúmeros acidentes anestésicos, até letais, os odontólogos passaram a dirigir seus esforços no desenvolvimento de outros anestésicos que dimi- nuíssem esses riscos. Os agentes anestésicos podem ser divididos em dois grandes grupos: os que determi- nam a anestesia local e os que provocam a anestesia geral. Na anestesia local acontece a abolição da sensibilidade especial à dor; na anestesia geral ocorre a falta de sensibilida- de em todas as suas modalidades fisiológicas, acompanhada da perda da consciência. A anestesia local, a mais largamente utilizada pela odontologia, pode ser levada a cabo através de três procedimentos: por infiltração, por penetração diplóica e por condução (ou troncular). A anestesia por infiltração consiste na injeção da solução anestésica nos tecidos sub- mucosos; na diplóica, há penetração da solução anestésica no tecido esponjoso, através do periósteo; e a anestesia por condução, ou troncular (ou, ainda, regional), consiste no bloqueio do ramo nervoso através da aplicação do agente anestésico na entrada ou na saída do conduto do nervo que se pretende bloquear. O uso de produtos anestésicos para controlar o medo e afastar a dor assumiu nos últi- mos anos um papel muito grande nos programas de ensino odontológico das faculda- des de odontologia, principalmente da América do Norte. O Manual de Clínica Geral (de 1986-1987), do Baltimore College of Dental Surgery, da University of Maryland, descreve os tipos de modalidades anestésicas utilizadas naque- la faculdade, que incluem, além das anestesias locais, a medicação oral sedativa; a utilização do óxido nitroso; a sedação através de medicação intramuscular; a sedação endovenosa (definida como “técnica intravenosa consciente”); e a anestesia geral endo- 33 ODONTOLOGIA LEGAL venosa. No Brasil, o cirurgião-dentista pode prescrever e aplicar, de acordo com a competência que lhe é conferida no inciso I do artigo 6º, dentro do arsenal medicamentoso existen- te, especialidades farmacêuticas de uso interno e externo (portanto, por vias oral, retal, intramuscular ou endovenosa), o que inclui, obviamente, drogas que possuem efeito anestésico ou analgésico. O que ocorre é que a sedação endovenosa, intramuscular ou retal, entre nós, não é costumeiramente utilizada como técnica anestésica para possibilitar diretamente a atuação do cirurgião-dentista. As drogas são utilizadas como pré-anestésicas, como coadjuvantes da anestesia local e, geralmente, por via oral. A alegação para a contraindicação de seu uso mais abrangente é a da falta de preparo específico dos alunos nos cursos de graduação; a necessidade de um aprofundamento dos conhecimentos de farmacologia e de anestesiologia para a sua utilização, já que a ênfase do ensino, entre nós, recai sobre as modalidadesanestésicas local e troncular (ou regional, ou pterigomandibular). A anestesia geral somente pode ser realizada por médico anestesista, segundo a Reso- lução nº 852/78, do Conselho Federal de Medicina, o que não impede o cirurgião-den- tista de operar paciente a ela submetido. As observações relativas à atuação do cirurgião-dentista nesse campo serão examina- das no tópico seguinte. Finalmente, embora no currículo mínimo dos cursos de graduação em odontologia, baixado pela Resolução nº 04/82, do Conselho Federal de Educação, haja a determi- nação de ministração de conhecimentos de fisiologia e farmacologia, nem todas as faculdades ministram a anestesiologia como uma disciplina autônoma (por exemplo, a da Universidade de São Paulo). VI. VI. Empregar a Analgesia e a Hipnose, desde que Comprovadamente Habilitado, quando Constituírem Meios Eficazes para o Tratamento Empregar a Analgesia A falta de regulamentação da Lei nº 5.081/66 torna o exame desse inciso totalmente dependente da interpretação doutrinária. 34 ODONTOLOGIA LEGAL Segundo Paciornik (1975), analgesia significa “abolição da sensibilidade à dor” ou, como interpretam os Zacharias (1988), é a “abolição da sensibilidade à dor, sem perda da consciência”. Podendo a analgesia ser conseguida através da ministração de especialidades farma- cêuticas, a competência para sua utilização já teria sido prevista no inciso I do artigo 6º. Se, por outro lado, for decorrente da anestesia local ou troncular, a hipótese também já teria sido contemplada no inciso V, examinado no tópico anterior, o que nos leva a admitir que a sua inclusão neste tópico é redundante e desnecessária. Os termos analgesia e anestesia algumas vezes são encontrados na bibliografia odon- tológica como sinônimos. Ao procurarmos subsídios sobre anestesiologia na literatura, encontramos uma curiosa explicação para a utilização do termo analgesia no prefácio da obra Sedation, de Hamburg (1980). Diz esse autor que o termo “analgesia não pode ser usado em sentido genérico para a sedação por inalação e foi adaptado por Langa porque eufonicamente analgesia afasta uma subliminar, inintencional impressão men- tal de similaridade com o termo anestesia”. Sem dúvida, existe uma preocupação subjacente nos escritos odontológicos, princi- palmente norte-americanos, em afastar a ideia da anestesia geral quando se referem aos métodos anestésicos utilizados por eles. É muito utilizado o termo sedação ou a variante sedação consciente. Analisando-se a evolução histórica da anestesia e sabendo-se que a odontologia sem- pre encetou grandes esforços para resolver o problema da dor nos tratamentos odon- tológicos, tanto que a ela se deve a introdução do protóxido de azoto (ou óxido nitroso) e do éter etílico como agentes anestésicos – sabendo-se ainda que estes causavam a perda da consciência e que nos primórdios da sua utilização ocorreram muitos aciden- tes, inclusive fatais –, pode-se compreender a preocupação dos cirurgiões-dentistas em afastar a ideia de anestesia geral dos seus métodos anestésicos. A utilização da anestesia geral constituiu, no Brasil, um ponto de atrito entre a odonto- logia e a medicina, seguido de perto pela definição das áreas de competência relativas à cirurgia bucomaxilofacial. Em 1977, instituiu-se um grupo de trabalho composto por representantes do Conselho Federal de Medicina e do Conselho Federal de Odontologia, com a finalidade de es- tudar e normatizar a atuação de médicos e cirurgiões-dentistas no campo da cirurgia 35 ODONTOLOGIA LEGAL bucomaxilofacial. Durante a realização daquele trabalho, foram também discutidas as questões relacio- nadas com a anestesia geral, resultando na edição de resoluções de ambos os Con- selhos (Resolução CFM nº 851/78, de 4 de setembro de 1978, CFM nº 852/78, de 4 de outubro de 1978, e Resolução CFO-124, de 29 de outubro de 1978) normatizando a atuação de médicos e cirurgiões-dentistas na região bucomaxilofacial e determinando a competência exclusiva dos médicos-anestesistas para a realização da anestesia geral. Para uma apreciação histórica desse episódio, as atas da constituição da Comissão Mista e da síntese das várias reuniões acham-se transcritas na publicação anual do Con- selho Federal de Odontologia. A Resolução CFO-124/78 foi substituída pela Resolução CFO-155/84, alterada pela Resolução CFO-181/92, por sua vez revogada pela Resolução CFO-185/93, atualmente em vigor. O espírito dessas resoluções conjuntas transparece, ainda, na manutenção da antiga redação na atual normatização da especialidade de cirurgia e traumatologia bucoma- xilofaciais, podendo ser apreciada na transcrição do seu artigo 44: “Os cirurgiões-dentistas somente poderão realizar cirurgias sob anestesia geral em am- biente hospitalar, cujo diretor técnico seja médico, e que disponha das indispensáveis condições de segurança comuns a ambientes cirúrgicos, considerando-se prática aten- tatória à ética a solicitação e/ou realização de anestesia geral em consultório de cirur- gião-dentista, de médico, ou em ambulatório.” É ponto pacífico, pois, que a anestesia geral só pode ser realizada por médico-aneste- sista em ambiente hospitalar. No entanto, uma velha questão ressurge, atualmente, no âmbito da anestesiologia odontológica, sendo objeto de movimentações discretas no sentido de ser a sua práti- ca considerada legal: a utilização do óxido nitroso, em consultório odontológico, como agente anestésico. O Conselho Federal de Odontologia vinha recebendo consultas e pedidos de pronun- ciamento acerca da viabilidade legal da realização de cursos sobre analgesia gasosa e da utilização da anestesia por inalação do óxido nitroso. Disso resultou que, em 1991, o Conselho, pronunciando-se sobre o assunto, manifestou o entendimento daquele ór- gão máximo da odontologia acerca dos incisos V e VI, do artigo 6º, da Lei nº 5.081/66 e 36 ODONTOLOGIA LEGAL ° fez, a nosso ver inadequadamente, através da Resolução CFO-172/91, de 25 de janeiro daquele ano, uma vez que nada acrescentou às normas já existentes sobre a matéria. A interpretação, no entanto, tão necessária, antes de esclarecer as dúvidas, lançou novas sobre as já existentes. A referida Resolução estabelece que: “Considerando que atualmente não existe condição legal para o exercício da analgesia gasosa ou da anestesia geral inalatória executada por cirurgião-dentista, Resolve Art. 1o- O cirurgião-dentista poderá operar pacientes submetidos a qualquer um dos meios de anestesia geral, desde que sejam atendidas as exigências cautelares reco- mendadas para o seu emprego. Art. 2o- O cirurgião-dentista somente poderá executar trabalhos profissionais em pa- cientes sob anestesia geral quando a mesma for executada por profissional médico, especialista e em ambiente hospitalar que disponha das indispensáveis condições co- muns a ambientes cirúrgicos.” Que o cirurgião-dentista podia operar paciente submetido à anestesia geral, não era novidade. Já vimos que as resoluções conjuntas dos Conselhos de Medicina e de Odon- tologia, de 1978, já o previam. O atendimento às “exigências cautelares recomendadas para o seu emprego” só pode ser entendido como as que dizem respeito à atuação do médico-anestesista e em am- biente hospitalar, o que torna o artigo 2º, também, totalmente desnecessário. Não resolvida a questão, o que continua a alimentar as argumentações conflitantes so- bre o uso do óxido nitroso pelo cirurgião-dentista, em consultório odontológico, impõe- -se a necessidade de definir se o referido agente anestésico deve ser entendido como pertencente ao grupo dos agentes anestésicos gerais, ou não. 37 ODONTOLOGIA LEGAL 3 EXERCÍCIO ILÍCITO DA ODONTOLOGIA Quando se falava em exercício ilícito da odontologia, no Brasil, até o advento da Reso- lução CFO-185/93, do Conselho Federal de Odontologia, deveria entender-se a prática de qualquer ato odontológico, praticado diretamente no paciente, por alguém que não fosse cirurgião-dentistalegalmente habilitado. Esse entendimento hoje está ultrapassado, na medida em que alguns profissionais per- tencentes às outrora denominadas “profissões paraodontológicas” ou “profissões auxilia- res” passaram a integrar o grupo de profissionais que compõem, atualmente, a odon- tologia, e entre as suas atribuições algumas se referem à prática de atos antes privativos do cirurgião-dentista. No entanto, convém ressaltar, logo de início, que esses profissio- nais só podem atuar sob a supervisão direta e com a presença física do cirurgião-den- tista, sob pena de estarem praticando exercício ilegal da profissão de cirurgião-dentista. O artigo 282 do Código Penal Brasileiro estabelece que: Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal, ou excedendo-lhe os limites. Pena – detenção de seis meses a dois anos. Parágrafo único – Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa. A incolumidade pública, principalmente no que tange à saúde pública, é o bem jurídi- co tutelado pelo citado artigo, o que explica por que apenas o exercício da medicina, da odontologia e da farmácia é amparado pela lei penal. A proibição do exercício das “profissões de saúde” por aquele que não tinha autorização para fazê-lo é das mais antigas nas legislações e tem sua origem mais remota, ao que parece, na legislação de Rogério (1140), rei da Sicília, que proibiu “o exercício da medi- cina a todo aquele que não mostrasse, em exame de Estado, que tinha feito o curso necessário, a fim de que os súditos do Rei não corressem perigo pela inexperiência de seus médicos” (Castiglioni, 1947). 38 ODONTOLOGIA LEGAL “Essa proibição estendeu-se depois a outras classes de profissionais, que foram se ocu- pando de atividades (como a cirurgia, a sangria, a extração de dentes etc.) consideradas indignas de serem praticadas pelos médicos eruditos, isto é, aqueles que haviam fre- quentado os cursos das universidades.” (Calvielli, 1993) Aqueles que se dedicavam a cuidar dos problemas bucais, como as extrações, a con- fecção e a colocação de dentes artificiais, entre outros, eram os “cirurgiões” e também os “barbeiros”, que necessitavam de uma licença para realizar esse tipo de serviço. Posteriormente, já em época bem recente e já demonstrando uma certa evolução, es- ses cuidados passaram a ser prodigalizados pelos dentistas e pelos “práticos”, evoluindo, através da formação já institucionalizada, para os atuais cirurgiões-dentistas. Antes de mais nada, convém ressaltar que, embora a odontologia, como já tivemos a oportunidade de observar, se componha da atuação de vários profissionais, o exercício ilegal previsto no artigo 282 do Código Penal refere-se, apenas e tão-somente, à profis- são de cirurgião-dentista. Como veremos mais adiante, o exercício das profissões de téc- nico em prótese dentária, técnico em higiene dental, atendente de consultório dentário e auxiliar de prótese dentária poderá, eventualmente, caracterizar o crime de falsidade ideológica ou uma contravenção, mas não o ilícito penal previsto no referido tipo penal. Por outro lado, chame-se a atenção para o fato de que esses profissionais, no exercício de suas atividades, poderão exceder, com uma certa facilidade, os limites do que lhes é permitido, praticando o crime do exercício ilegal da odontologia, por falta de autori- zação legal. O exercício ilegal da odontologia pode consubstanciar-se de duas maneiras: (a) pela prática de atos próprios de cirurgião-dentista sem autorização legal; e (b), sendo médi- co, cirurgião-dentista ou farmacêutico, praticar atos próprios de profissão que não a sua, isto é, excedendo os limites da própria profissão. 3.1 SEM AUTORIZAÇÃO LEGAL A profissão de cirurgião-dentista, a partir da Lei nº 1.314/51, primeira que regulamen- tou o exercício da odontologia no Brasil, tornou-se privativa daqueles indivíduos que cursaram uma instituição de ensino de nível superior ou que preenchem as condições 39 ODONTOLOGIA LEGAL especiais hoje previstas na atual lei regulamentadora da odontologia, a Lei nº 5.081, de 24 de agosto de 1966. A autorização legal pressupõe que o indivíduo esteja incluído em alguma das catego- rias elencadas e já examinadas na abordagem do exercício lícito da odontologia e que tratou das várias hipóteses admitidas para a inscrição como cirurgião-dentista, exceto no que se refere ao recém-formado, cuja inscrição provisória não preenche, a nosso ver, os requisitos exigidos pela Lei nº 5.081/66, regulamentadora da profissão no Brasil. Chamamos a atenção para o fato de que os requisitos exigidos não são alternativos, são cumulativos, e a falta de qualquer deles implicará a afirmação de que o sujeito não possui autorização legal. Duas situações devem ser aqui analisadas, porque podem constituir motivo de apre- ciação errônea pelos menos avisados: a dos “dentistas práticos” e a dos beneficiários da Lei nº 7.718/45. Como tivemos a oportunidade de salientar (Calvielli, op.cit.), a partir de 1931 e até 1933, foram editados decretos garantindo aos práticos licenciados, ou dentistas práticos, cujos conhecimentos eram adquiridos através do “aprendizado prático” com algum “mestre da arte”, a possibilidade de pleitearem a sua inscrição junto aos órgãos da Saú- de Pública, para continuarem a exercer a sua “profissão” obedecendo a determinadas restrições. A data limite para a concessão do benefício foi fixada pelo Decreto nº 23.540, de 4/12/33, como sendo o dia 30 de junho de 1934. Considerando que já se passaram mais de 60 anos da data fixada, é evidente que aqueles que se poderiam beneficiar daquelas medidas devem contar, atualmente, mais de 80 anos. Inadmissível, portanto, que ainda se ouça falar de dentistas práticos, ou práticos licen- ciados. Qualquer pessoa, com menos de 80 anos de idade, que se intitule dentista sem preen- cher os requisitos exigidos pela Lei nº 5.081/66 estará exercendo ilegalmente a profissão de cirurgião-dentista. Chamamos a atenção para esse fato porque se têm tornado muito frequentes as notí- cias sobre a constituição de “associações de práticos-licenciados”; de indivíduos que se 40 ODONTOLOGIA LEGAL auto intitulam “dentistas-práticos”, sem pertencerem ao grupo etário acima assinalado; enfim, de um constante desafio às leis, com o consequente perigo trazido à incolumi- dade da saúde da população. Outra situação assemelhada refere-se aos beneficiados pela Lei nº 7.718/45. Obviamente, embora um pouco mais jovens que os possíveis “dentistas práticos”, os formados pelas escolas estaduais não reconhecidas também estarão contando mais de 65 anos atu- almente, o que os coloca, do mesmo modo, como categoria profissional em extinção. Por outro lado, como já tivemos a oportunidade de ressaltar, a edição da Resolução CFO-185/93, tornando obrigatória a inscrição de várias categorias profissionais, além dos cirurgiões-dentistas submetidos ao Conselho Federal de Odontologia pela Lei nº 4.324/64, faz com que seja necessário analisar as atribuições desses profissionais a par daquelas conferidas aos cirurgiões-dentistas pela Lei nº 5.081/66, não só para que fi- quem evidenciados os limites de cada uma delas, mas, principalmente, tendo em vista que esse exame possibilitará examinar quais atos esses profissionais podem praticar, e se o fazem sob a supervisão direta do cirurgião-dentista, com vistas ao eventual exercí- cio ilegal previsto no artigo 282 do Código Penal. 3.2 O TÉCNICO EM PRÓTESE DENTÁRIA E O EXERCÍCIO ILEGAL DA ODONTOLOGIA Não será demais lembrar que os profissionais aqui referidos devem executar o seu trabalho sob prescrição, supervisão e fiscalização do cirurgião-dentista, sendo-lhes ex- pressamente vedado prestar, sob qualquer forma, assistência direta a pacientes, bem como manter, em sua oficina, equipamento e instrumental específico de consultório dentário. Como enfatizado por Calvielli (op.cit.), embora a profissão tenha sofrido notá- vel evolução,
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