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Kant_-_a_revolução_copernicana_A_resposta_ao_problema_do_conhecimento_-_UOL_Educação

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Kant - a "revolução copernicana" - A resposta
ao problema do conhecimento
É em momentos como este que você
sabe que pode contar com a gente.
EDUCAÇÃO
Na Crítica da Razão Pura, o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-
1804) tinha um problema a resolver, que dizia respeito à seguinte
questão: como posso obter um conhecimento seguro e verdadeiro
sobre as coisas do mundo? A resposta de Kant iria mudar o rumo
da Filosofia Ocidental.
Duas escolas filosóficas, tradicionalmente, respondiam de formas
diversas ao problema do conhecimento. Para os filósofos
racionalistas (Platão, Descartes, Leibniz e Espinosa), todo
conhecimento provém da razão, enquanto que, para os
empiristas (Aristóteles, Hobbes, Locke, Berkeley e Hume), ao
contrário, somente os dados da experiência sensível forneceriam
as bases para o conhecimento humano.
Tanto em um como em outro caso, surgem obstáculos. A razão
especulativa, na medida em que deixa de validar suas
investigações em testes práticos, torna-se dogmática. Já o
empirismo encontra oposição no ceticismo, que argumenta que a
José Renato Salatiel, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Kant - teoria do conhecimento
P E S Q U I S A E S C O L A R
FILOSOFIA
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Natureza é o reino do contingente e, por esta razão, não pode ser
fonte de conhecimento universal.
O filósofo inglês David Hume (1711-1776), cuja obra Kant afirma
tê-lo acordado do "sono dogmático", colocou sob suspeita o
princípio de causalidade, que determina que, dado uma causa x,
tem-se um efeito y. Por exemplo, tenho uma pedra em minha mão
e a solto de certa altura (causa), tendo como consequência sua
queda no chão (efeito).
Segundo Hume, não existe nada na causa (solto a pedra da mão)
que contenha a relação objetiva de seu efeito (a queda no solo).
Por mais vezes que eu repita a experiência, nada no mundo me
dará a certeza de que a pedra cairá e não levitará, por exemplo.
Portanto, conclui o filósofo inglês, a causalidade não está no
mundo, mas é produto de nossos hábitos, ou seja, de tantas
vezes ver a pedra cair ao ser solta, acreditamos que haja uma
relação causal nos objetos, quando não passa de uma espécie
de condicionamento psicológico.
 
A priori, a posteriori, juízo analítico e juízo sintético
Kant também vai se voltar para o sujeito em sua réplica ao
ceticismo humeano, mas revestido de um caráter lógico e
transcendental (e não psicológico, como em Hume). Antes de
analisar a resposta de Kant, vamos ver como ele a formula a
questão nos conceitos de a priori, a posteriori, analítico e
sintético.
Um conhecimento que seja totalmente independente dos
sentidos é chamado a priori. São, por exemplo, equações
matemáticas, que posso fazer mentalmente sem me apoiar em
qualquer evidência material. Um conhecimento que possui sua
fonte na experiência é dado a posteriori, como as leis da física
clássica, que necessitam de testes práticos para serem
comprovadas.
Quando emito um juízo em que o predicado está contido no
sujeito, ele é chamado juízo analítico. Por exemplo, quando digo
"Azul é uma cor", o predicado "cor" já é uma qualidade do sujeito
"azul" e a informação, por isso, é redundante. Mas quando faço
um juízo em que um predicado é acrescentado ao sujeito, ele é
chamado sintético. Por exemplo, na frase "A cadeira de minha
sala é azul", acrescento ao sujeito "cadeira de minha sala" o
predicado "azul" (afinal, ela poderia ser verde, vermelha, etc.). É
uma informação nova, pois você poderia imaginar que a cadeira
fosse de qualquer outra cor.
Todos os juízos da experiência são sintéticos, uma vez que, para
obter um juízo analítico, não é preciso sair do próprio conceito,
isto é, recorrer à experiência (não preciso sair de "azul" para
saber que é uma cor, mas preciso ver a "cadeira" para saber de
que cor ela é).
Agora podemos entender a questão central da Crítica da Razão
Pura, que é "Como são possíveis os juízos sintéticos a priori?". Ou
seja, como podemos ter um conhecimento a priori de questões
de fato, de coisas do mundo? Em outros termos, como posso,
observando um fato A, dizer algo a respeito de um fato B, uma
vez que somente tenho a experiência deste fato A? Para voltar ao
exemplo de Hume, como, tendo uma pedra em minha mão (fato
A), antes mesmo de soltá-la sei que, ao soltá-la, ela irá cair no
solo (fato B)? (Lembrando que, para Hume, não há na Natureza
nada que demonstre a relação causal entre A e B.)
Formulado ainda de outra maneira: como posso, ao observar
fatos particulares (uma pedra que cai), tirar daí uma regra de
caráter universal (a lei da gravidade), que seja aplicada a todos
outros fatos da mesma natureza?
Sujeito transcendental
Kant chamou de "revolução copernicana" sua resposta ao
problema do conhecimento. O astrônomo Nicolau Copérnico
(1473-1543) formulou a teoria heliocêntrica - a teoria de que os
planetas giravam em torno do Sol - para substituir o modelo
antigo, de Aristóteles e Ptolomeu, em que a Terra ocupava o
centro do universo, o que era mais coerente com os dogmas da
Igreja Católica.
Como pode ser constatado pela observação direta, o Sol se
"levanta" e se "põe" todos os dias, o que tornava óbvio, aos
antigos, que a Terra estava fixa e que os astros giravam em torno
dela. Copérnico demonstrou que este movimento é ilusório,
porque, na verdade, a Terra é que gira em torno do Sol.
Kant propôs inversão semelhante em filosofia. Até então, as
teorias consistiam em adequar a razão humana aos objetos, que
eram, por assim dizer, o "centro de gravidade" do conhecimento.
Kant propôs o contrário: os objetos, a partir daí, teriam que se
regular pelo sujeito, que seria o depositário das formas do
conhecimento. As leis não estariam nas coisas do mundo, mas no
próprio homem; seriam faculdades espontâneas de sua natureza
transcendental. Como Kant afirma no prefácio da segunda edição
da Crítica da Razão Pura:
"Até agora se supôs que todo nosso conhecimento tinha que se
http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u328.jhtm
regular pelos objetos; porém todas as tentativas de mediante
conceitos estabelecer algo a priori sobre os mesmos, através do
que ampliaria o nosso conhecimento, fracassaram sob esta
pressuposição. Por isso tente-se ver uma vez se não progredimos
melhor nas tarefas da Metafísica admitindo que os objetos têm
que se regular pelo nosso conhecimento, o que concorda melhor
com a requerida possibilidade de um conhecimento a priori dos
objetos que deve estabelecer algo sobre os mesmos antes de
nos serem dados."
O que Kant quer dizer é que o sujeito possui as condições de
possibilidade de conhecer qualquer coisa. Ele possui as regras
pela quais os objetos podem ser reconhecidos. Não adianta
buscar essas regras no mundo exterior, pois se cairia no
problema de Hume. O mundo não tem sentido a não ser que o
homem dê algum sentido a ele. O que conhecemos, então, é
profundamente marcado pela maneira - humana - pela qual
conhecemos.
O computador no qual escrevo, a janela do escritório que me
permite ver todas as coisas do mundo, tudo isso é matéria de
conhecimento não porque exista um Deus que me faculte
entender as leis dos objetos por meio da razão (como no caso de
filósofos racionalistas) ou porque estes objetos sejam imprimidos
em minha mente pela percepção (empirismo), mas porqueeles
são capturados por formas lógicas no sujeito.
Coisa-em-si
Mas ao voltar o foco para o sujeito que conhece, que "constrói" o
mundo, é bloqueado todo pretenso acesso à essência dos
objetos do mundo. Só temos acesso às coisas enquanto
fenômenos para uma consciência. O que a realidade é, em si
mesma, o que Kant chama de coisa-em-si, não é matéria de
conhecimento humano, sendo, portanto, incognoscível (aquilo
que não pode ser conhecido).
A coisa-em-si não pode ser conhecida mas pode ser pensada,
desde que seja contraditório (conhecer, em Kant, diz respeito ao
que é possível de ser objeto da experiência).
Três objetos de estudo da metafísica podem ser pensados mas
não conhecidos: Deus, a imortalidade da alma e a liberdade.
Deus e a alma não podem ser conhecidos porque não aparecem
como fenômenos no espaço e no tempo. A liberdade, porque
contraria o princípio de causalidade: liberdade é aquilo que não
tem causa, e o que é absolutamente livre não pode ser matéria
de conhecimento. São, no entanto, postulados para a ética de
Kant, da qual não trataremos neste artigo.
A filosofia crítica de Kant consiste, desta forma, em impor à razão
os limites da experiência possível. O filósofo alemão pretende,
com isso, fornecer rigor metodológico à metafísica, livrando-a de
seu caráter dogmático e trazendo-a para o rumo seguro da
ciência. Este método que analisa as possibilidades do
conhecimento a priori do sujeito, dentro dos limites da
experiência, é chamado de transcendental.
Sugestões de leitura
A Crítica da Razão Pura foi traduzida para o português e
publicada pela Editora Abril, na coleção "Os Pensadores", e pela
editora portuguesa Calouste Gulbenkian. Ambas são
recomendadas. É de grande ajuda, para o domínio do
vocabulário kantiano, o Dicionário Kant (Jorge Zahar Editor), de
Howard Caygill. Também da Jorge Zahar, o livro Kant & A Crítica
da Razão Pura, de Vinicius Figueiredo, propõe introduzir o leitor
nessa obra densa e de difícil leitura.
COMUNICAR ERRO
José Renato Salatiel, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação é jornalista e
professor universitário
René Descartes: Descartes e o gênio maligno
René Descartes: O método cartesiano e a revolução na história
da filosofia
Filosofia antiga: Panorama dos pré-socráticos ao helenismo
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/rene-descartes-2-descartes-e-o-genio-maligno.amp.htm
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/rene-descartes-1-o-metodo-cartesiano-e-a-revolucao-na-historia-da-filosofia.amp.htm
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/filosofia-antiga-2-panorama-dos-pre-socraticos-ao-helenismo.amp.htm

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