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1 CAPÍTULOS DE HISTÓRIA MAÇÔNICA Por Ir.´. H.L. HAYWOOD, Editor - The Builder Magazine Tradução – José Antonio de Souza Filardo – M .´. I .´. – GOB/GOSP (Publicado originalmente em inglês no site: http://www.freemasons-freemasonry.com/ editado pelo Ir.´. Bruno Gazzo) http://www.freemasons-freemasonry.com/ 2 ÍNDICE PARTE I - A MAÇONARIA E OS CONSTRUTORES DE CATEDRAIS ..................................................................................... 3 PARTE II - MAÇONARIA E A CASA DOS HOMENS .......................................................................................................... 12 PARTE III - MITRAÍSMO: MAÇONARIA E OS MISTÉRIOS ANTIGOS ................................................................................ 18 PARTE IV - A MAÇONARIA E OS COLLEGIA ROMANA ................................................................................................... 24 PARTE V - AS ANTIGAS OBRIGAÇÕES DA MAÇONARIA E O QUE ELAS SIGNIFICAM PARA NÓS .................................... 29 PARTE VI. A MAÇONARIA E OS MESTRES COMACINE .................................................................................................. 37 PARTE VII. A MAÇONARIA E O SISTEMA DE CORPORAÇÕES ........................................................................................ 43 PARTE VIII - OS MAÇONS OPERATIVOS ........................................................................................................................ 49 PARTE IX - COMO A MAÇONARIA OPERATIVA SE TRANSFORMOU NA MAÇONARIA ESPECULATIVA: O PERÍODO DE TRANSIÇÃO .................................................................................................................................................................. 56 PARTE X - A PRIMEIRA GRANDE LOJA .......................................................................................................................... 63 PARTE XI - O GRANDE CISMA NA MAÇONARIA: UM RELATO DA GRANDE LOJA DOS “ANTIGOS” ............................... 70 PARTE - XII DIVERSAS GRANDES LOJAS: YORK, IRLANDA, ESCÓCIA ETC. ...................................................................... 78 PARTE XIII - DIVERSAS GRANDES LOJAS, FRANÇA, ALEMANHA, ETC. ........................................................................... 84 Este artigo é o primeiro de uma nova série de artigos do Clube de Estudo para cobrir, capítulo por capítulo, os períodos mais importantes e características da história maçônica. Condensei e simplifiquei até o limite da minha capacidade, mas mesmo assim, sei que os novatos podem achar difíceis algumas passagens. Esta dificuldade reside no assunto, que é teimoso e complicado até certo ponto e, portanto, significa que os próprios leitores devem cooperar por meio de uma vontade de ler, reler e estudar. Certamente o assunto vale a pena! ”A Maçonaria antes da existência de Grandes Lojas” de Vibert, ”História da Ordem” de Vibert, ”Os construtores” de Newton, e a “História Concisa da Maçonaria” de Gould podem ser lidos em conjunto com esses artigos. Serão impressas ao final de cada edição mensal, as listas dos muitos artigos sobre a história maçônica que já apareceram no THE BUILDER, assim também com os títulos dos livros consultados. Quando a série estiver completa, o leitor terá percorrido todo o campo da História Geral da Ordem, e será muito mais feliz em sua vida maçônica como consequência, e muito mais bem equipados para participar nas suas atividades. Até agora, vimos compilando no departamento, uma página estereotipada de sugestões aos membros do Clube de Estudo e líderes; por uma questão de espaço, que se torna mais valiosa a cada mês, estamos omitindo tal assunto. Em seu lugar imprimimos um folheto sobre ”Como organizar e manter um Clube de Estudos” que será fornecido gratuitamente a qualquer irmão que o solicitar. 3 PARTE I - A MAÇONARIA E OS CONSTRUTORES DE CATEDRAIS I - O QUE FOI O GÓTICO A palavra Gótico tornou-se associada em nossas mentes a muito do que é mais bonito no mundo - catedrais, igrejas, torres e uma forma antiga de decoração - mas para os artistas italianos da Renascença que lhe deram notoriedade ela tinha um significado bastante diferente, e era usada por eles como um termo de reprovação para significar a cultura dos bárbaros do norte, especialmente de sangue alemão, que tinham rompido com as tradições clássicas. Vasari parece ter sido o responsável, acima de qualquer outra pessoa, por este uso. O Gótico foi primeiro aplicado a toda a cultura bárbara (eu uso a palavra aqui em seu sentido renascentista); mas mais tarde, e depois que os homens começaram a entendê-la e apreciá-la, era mais restritivamente aplicada ao que era mais característica da cultura bárbara, a arquitetura; e em ainda no período mais tardio, e através do uso popular, tornou-se associada quase exclusivamente à arquitetura religiosa, e mais especialmente às catedrais, de modo que encontramos o grande Novo Dicionário Inglês dando-lhe a seguinte definição: “O termo para o estilo de arquitetura predominante na Europa Ocidental do século XII ao século XVI, cuja característica principal é o arco ogival; também aplicado aos edifícios, detalhes de arquitetura e ornamentação. Os nomes mais comuns para os períodos sucessivos neste estilo na Inglaterra são Inglês Antigo, Decorativa, e Perpendicular.” Arco Ogival Esta definição não é tão precisa quanto poderia ser. Muitas autoridades sobre história da arquitetura não concordariam com a afirmação de que ”a principal característica é o arco ogival”, pois eles têm outras teorias sobre o assunto. Também não é seguro aplicar a palavra apenas à arquitetura, porque existiam estilos góticos em roupas, pontes, paredes, móveis, na ornamentação, nos costumes, e até em utensílios domésticos. Acontece que pouco resta do gótico, exceto edifícios de igrejas, mas isso se deve às guerras que destruíram tudo o mais. Alguns dos melhores escritores sobre o assunto, Lethaby, por exemplo, cujo trabalho é recomendado por sua energia, interesse e erudição, torna o gótico equivalente a tudo especificamente medieval em arte, o que incluiria vitrais, manuscritos, poesias, etc. Esses autores destacam que só quando surgiram os arqueólogos do século XIX, sob a liderança de De Caumont e seus companheiros, os homens começaram a dar um uso restrito à palavra. ”A palavra”, escreve Arthur Kingsley Porter, ”aplicada pela primeira vez como um epíteto de opróbrio a todos os edifícios medievais pelos arquitetos do Renascimento, recebeu um significado técnico por De Caumont e os arqueólogos do século XIX, que a empregavam para distinguir prédios com arcos pontiagudos daqueles com arcos redondos, que eram chamados 4 Românicos. “Alguns autores continuam simplesmente a se recusar a usar a palavra; Rickman prefere ”Arquitetura Inglesa”, e Brion ”Arquitetura Cristã”. O Dr. Albert G. Mackey diz: ”que a arquitetura gótica foi, por conseguinte, muito justamente chamada de 'A Arquitetura da Maçonaria‟”, mas daquela de outros tempos. O antigo estilo romano de construção, no qual todos os estilos subsequentes na Europa Ocidental estavam baseados até a chegada do Gótico, e que vieram a serem chamados Românicos, era organizado com base em um princípio muito simples, e teve o seu início, pelo menos até onde se relacione com templos, igrejas e catedrais, na antiga basílica. Um telhado plano era colocado sobre quatro paredes, como a tampa de uma caixa. Se o telhado era ondulado ou arqueado, as paredes tinham que ser engrossadas, para suportar a pressão lateral, de modo que em edifícios maiores, onde era necessário muito espaço interior, as paredes recebiam necessariamente uma espessura maciça, e esta espessura, por sua vez, tornava necessário usar pequenas janelas, para que a ancoragem fornecida pelas paredes não fosse enfraquecida e o colapso do edifício evitado. Em consequência disto, os edifícios românicos eramcomo fortificações militares em seu achatamento, sua aparência pesada e seu interior sombrio. Os arquitetos góticos escaparam desses resultados infelizes através da utilização do arco ogival que lhes permitiram considerável aumento em sua altura interior, e eles aprenderam como anular a pressão lateral daqueles arcos por meio de contrafortes, ao invés de muros pesados como cais. Isso eliminou o grande peso das paredes laterais e permitiu que os construtores substituíssem pedra por vidro, destruindo imediatamente a obscuridade desagradável. No decorrer do tempo, o sistema de colunas, arcos e contrafortes arcobotantes tornou-se um tipo coisa em si, coma estrutura de uma máquina, de modo que o esqueleto de um prédio se tornou autossuficiente, e pode-se dizer que dispensava simplesmente as paredes. É nesta estrutura organizada para ser autossustentável, que mais distingue o gótico como um todo do seu antecessor, o Românico; sendo as características que tornaram possível esta façanha - o arco, a abóbada, e o arcobotante - secundárias. Este é o ponto da famosa descrição do gótico de Violet-le-Duc, habilmente resumida por C.H. Moore com estas palavras: ”Um sistema que foi uma gradual evolução a partir do estilo Romanesco, e aquele cuja característica distintiva é que todo o caráter do edifício é determinado por, e toda a sua força reside em uma estrutura finamente organizada e francamente confessada, ao invés de paredes.” Moore forneceu, ele mesmo, uma definição ainda mais famosa, e facilmente compreendida: “Em suma, então, a arquitetura gótica pode ser resumidamente definida como um sistema de construção em que a abóbada sobre um sistema independente de costelas, é sustentada por pilares e contrafortes, cujo equilíbrio é mantido pela ação contrária da impulsão e do contragolpe. Este sistema é adornado por esculturas cujos motivos são retirados da natureza orgânica, convencionada em obediência às condições arquitetônicas, e regidas pelas formas adequadas estabelecidas pela arte antiga, complementada por desenhos coloridos sobre chão opaco e, mais amplamente em vidro. É uma arquitetura da igreja popular - o produto dos artesãos seculares trabalhando sob o estímulo das aspirações nacionais e municipais, e inspirados por fé religiosa”. Moore acha a chave para o Gótico no arcobotante. Outras autoridades têm outras teorias. Porter acha que está na abóbada; Phillips no arco 5 ogival, o que ele transformou no alfa e o ômega de todo o sistema; Gould acredita que o as abóbadas de pedra são fundamentais, enquanto Lethaby parece achar a quintessência do gótico nesta ou naquela característica, mas no caráter medieval geral dela como um todo. II - QUEM INVENTOU O GÓTICO? Tem havido uma grande diferença de opinião entre os historiadores da arquitetura quanto a onde e quando começou o Gótico. Escritores ingleses, que têm um desejo muito natural de reivindicar para sua própria terra a glória da descoberta da arte, a datam de 1100 DC ou mais cedo, e encontram suas primeiras manifestações em Durham; enquanto que os escritores franceses sustentam quase unanimemente que o gótico começou primeiro de todas as regiões em redor de Paris, no que já foi chamado de Ile de France, e dizem que a Igreja da Abadia de St. Denis, iniciada em 1140, deve ser considerado como o primeiro monumento gótico conhecido. Parece que a maioria dos escritores mais modernos inclina-se a concordar com a teoria francesa. Porter data o novo estilo como se iniciando em Paris por volta de 1163, e diz que ele alcançou seu ponto culminante no ano de 1220, com a nave de Amiens. Nave de Amiens Goodyear, em seu “Arte Romana e Medieval”, faz um relato bastante preciso e muito condensado da origem e do crescimento do gótico em um parágrafo muito apropriado para citação a este respeito. Ele diz que ”o gótico tardio é conhecido na França como extravagante”, ou seja, florido (ou flamejante). Caso contrário, as designações do Gótico como 'inicial', „médio' e 'tardio' são aceitas. Deve ser entendido que não há limites definidos entre esses períodos. Falando de maneira geral, o final do século XII foi o tempo em que o Gótico surgiu da França, e ele é raramente encontrado em outros países antes do século XIII; os séculos XIII e XIV são, ambos, períodos de grande perfeição, e o século XV é o momento de relativa decadência. Tanto na Alemanha e quanto na Inglaterra o século XIII foi o momento da introdução do estilo gótico. Na Itália, ele nunca foi plena ou geralmente aceito. Dentro do campo do gótico propriamente dito (isto é, excluindo a Itália), a Inglaterra é o país onde as modificações locais e nacionais são mais evidentes, muitas delas mostrando que o estilo era praticado mais ou menos praticado de segunda mão. Na pitoresca beleza e atratividade geral, as catedrais inglesas podem ser comparadas a qualquer outra, mas a preferência deve ser dada aos franceses no estudo da evolução do estilo.” (Pág. 283.) De onde os arquitetos góticos tiraram o segredo de sua nova arte? As teorias são tão numerosas quanto diferentes, e elas vão desde as sublimes até as ridículas. Lascelles acreditava que os construtores haviam aprendido seus arcos ogivais de secções transversais da arca de Noé! Stukeley e Warburton sustentavam que eles tinham tropeçado em seu novo princípio ao tentar imitar os bosques secretos dos druidas. Ranking argumentava que o gótico é gnóstico por natureza para suportar uma grande massa de dados. Christopher Wren alegava que ele tinha sido tomado emprestado dos Sarracenos. Findel e Fort atribuíam, ambos, a descoberta da arte aos alemães, e com isso Leader Scott concorda em seu agora famoso 6 Construtores de Catedral, exceto que ela parece defender que os Mestres Comacine eram missionários que a levaram para a França e para a Inglaterra. O Dr. Milner acreditava que o gótico era uma alteração dos arcos do estilo românico, uma teoria com a qual muitos concordam. Em uma contribuição para a Ars Quatuor Coronatorum que fez uma grande celeuma na época, Hayter Lewis insistia em que tal princípio definido e claramente articulado devia ter sido obra de um único homem, e sugeriu Suger, o ministro do rei Louis, o Grande, da França, país que era, nessa época, pouco mais que uma pequena tira não muito maior que a Irlanda. O Governador Pownall acreditava que o gótico se originava de práticas de trabalho em madeira; enquanto alguns teóricos escoceses acreditavam que ele era provenientes de trabalhos em vime. Gilbert Scott, um escritor de grande autoridade na sua época, rejeitava todas estas derivações especiais e argumentava que o gótico evoluiu gradualmente, oral e inevitavelmente, a partir de condições já existentes na arquitetura e na sociedade; com o que Gould está de acordo, assim como a maioria dos escritores do presente. Gould coloca toda a questão em uma frase: ”As pesquisas de escritores posteriores e mais bem informados, no entanto, deixaram claro que o gótico não era imitação ou importação, mas um estilo nativo, que surgiu aos poucos, mas quase que simultaneamente em várias partes da Europa.” (História da Maçonaria, vol. I, p. 255.) III - FORAM ARQUITETOS GÓTICOS OS PRIMEIROS MAÇONS? Na época em que o gótico fez a sua aparição, quase toda a arte, incluindo a arquitetura, ainda estava sob o controle das ordens monásticas; mas com o desenvolvimento das catedrais a arte passou ao controle leigo. Alguns acreditam que a escassez de registros sobre os próprios construtores deve-se ao orgulho de cronistas, quase sempre eclesiásticos, que desprezavam mencionar os trabalhadores, exceto de forma mais geral. Esses trabalhadores, como quase todos os outros artesãos da época, eram organizados em corporações (guildas). As guildas diferenciaram muito entre si com o tempo e lugar, mas em todas as suas diferentes modificações retiveram características bem definidas. Cada guilda era uma organização estacionária que geralmente possuía o monopólio docomércio em sua própria comunidade, cujas leis eram obrigatórias para os artesãos. As guildas de um comércio não exerciam qualquer controle sobre os de outra, mas todos concordaram com determinadas regras e práticas, tais como aquelas relacionadas com aprendizagem, compra de matérias-primas, marketing, e tudo isso. Em algumas comunidades, as guildas tornaram-se tão poderosos que alguns historiadores têm confundido o seu governo com o governo de sua cidade, mas é provável que isto nunca tenha acontecido com frequência, se é que aconteceu. Acredita-se que, devido a peculiaridades de sua arte, as guildas que tinham a incumbência da construção da catedral tornaram-se diferenciadas de outras em alguns elementos muito importantes. Se isso realmente aconteceu, era um resultado muito natural das circunstâncias em que os construtores da catedral trabalhavam. A deles era uma vocação única. Todas as outras construções eram totalmente diferentes de catedrais, e não era frequente que as cidades pudessem dar-se o luxo de ter uma, de modo que nunca havia grande abundância de trabalho para elas. Além disso, sua arte era particularmente difícil, e envolvia a posse e aprendizagem de muitos segredos comerciais incomuns, de modo que a própria natureza do trabalho diferenciava o artesão construtor de catedrais de outros membros da guilda. Historiadores cautelosos acreditam que depois de um tempo, as autoridades, reconhecendo a especificidade da arte dos construtores de catedrais, concedeu-lhes certos privilégios e imunidades, e permitiram que eles se movessem à vontade de lugar para outro, o que por si só os definia nitidamente como diferentes das guildas estacionárias, cada uma delas não sendo autorizada a trabalhar fora de seus próprios limites incorporados; e muitos escritores acreditam que devido a essa liberdade para se movimentar sem restrições pelas limitações comuns de privilégios do costume medieval, que estas guildas, ou Maçons (a palavra significa “construtores”), vieram finalmente a serem chamadas de “maçons livres ou francos”. O Governador Pownall escreveu uma página certa vez, para provar que mesmo os papas concederam privilégios especiais a estes construtores, mas pesquisas posteriores na biblioteca do Vaticano não permitiram que ele, ou outros pesquisadores depois dele, descobrissem as bulas papais. 7 IV - OS CONSTRUTORES GÓTICOS FORMAVAM UMA GRANDE FRATERNIDADE? Escritores da velha guarda costumava acreditar, quase unanimemente que esses maçons medievais eram ligados em uma grande fraternidade unificada operando sob o controle individual de alguns centros, tais como Londres, Paris, Nova York, e argumentavam que esta “grande fraternidade única”, com certas mudanças importantes, mas não revolucionárias, existiu até ao nosso tempo, e que a Maçonaria de hoje é praticamente a mesma organização que era então. R. F. Gould, (ver nota), que falava por um grupo inteiro de estudiosos maçons ingleses de primeira classe, bem como por si mesmo, negava categoricamente toda essa teoria da forma mais ampla e inequívoca. ”Eu demonstrei”, disse ele na página 295 do primeiro volume de sua História da Maçonaria, ”que a ideia de um corpo universal de homens trabalhando com um só impulso, e segundo uma forma definida, a pedido de um organismo cosmopolita sob certa direção... é um mito.” Na página 262 do mesmo volume, ele comenta que a teoria de uma fraternidade universal“ é desmentida pelo silêncio absoluto de toda a história. “ Com este veredicto, Arthur Kingsley Porter, que escreveu apenas como historiador da arquitetura medieval, e não tendo qualquer um dos problemas da Maçonaria em mente, concorda, e em grande medida pelo mesmo motivo. Gould baseia sua negação quase totalmente nos testemunhos dos próprios edifícios, e argumenta que, embora um escritor aqui e ali possa errar, as construções não fazem, e ele sustenta que elas, todas e cada uma delas, oferecem um testemunho unificado de que não eram o trabalho de uma grande fraternidade”, mas representavam peculiaridades locais que não devem ser negligenciadas. Sua análise da arquitetura gótica dos diferentes países, com o propósito em vista de revelar o seu testemunho sobre este ponto importante é uma das conquistas mais belas de sua monumental História. É provável que a grande maioria dos historiadores atuais de arquitetura medieval concordaria com ele. A história das diferentes artes e artefatos que tornaram possível o gótico parece corroborar esta posição. Todos os fatos conhecidos sobre a evolução do gótico provam que ele passou a existir de forma gradual, e que nenhuma organização jamais possuiu os seus segredos em momento algum, e que o arco, o arcobotante, abóbada, e outros recursos tão característicos foram aprendidas através de dolorosa experiência, e independentemente uns dos outros. Porter fala sobre o arcobotante como ”um novo princípio“ e um ”que mais do que qualquer outro assegurou o triunfo da abóbada e um princípio cuja descoberta marca o momento em que a arquitetura gótica apareceu pela primeira vez. “Na página 92 do volume II de sua grande obra, Arquitetura Medieval, uma produção magistral cuja leitura todo estudante da Maçonaria deveria empreender, ele escreve o seguinte: “Dai ser provável que as vantagens e possibilidades do arcobotante não fossem imediatamente totalmente apreciadas, e, embora nova construção fosse livremente aplicada nos casos em que diante de ameaça de queda da abóbada sua aplicação fosse exigida, mesmo edifícios de dimensões consideráveis continuaram a ser erguidos sem o seu auxílio. “Esta característica importante, sem a qual o gótico nunca poderia ter surgido foi o trabalho de experimentação gradual, e os construtores aprenderam sobre ele lentamente, um pouco aqui, um pouco ali, e em alguns lugares eles nunca o dominaram completamente: se o segredo do arcobotante tivesse sido conhecido antecipadamente por qualquer grande fraternidade de artesãos, toda esta evolução dolorosa e cara teria sido desnecessária.” O mesmo pode ser dito do arco ogival que foi tão essencial ao gótico que frequentemente seu próprio nome tem sido dado ao estilo. Porter mostra que o arco como unidade de construção era muito antigo e usado muito antes de os Cruzados terem tomado Jerusalém; e que ele foi adotado pelos construtores góticos lentamente e só sob coação; seu uso para fins ornamentais só veio tarde e no início do gótico os construtores se apegavam ao uso de antigo arco redondo, enquanto foi possível. 8 Arco Românico Não há necessidade de multiplicar os exemplos. A geometria, que era às vezes utilizada como sinônimo da própria arte de construir e, mais particularmente, com o gótico, e que foi obviamente de tanta importância nunca foi conhecida como uma ciência meramente abstrata, e se impôs gradualmente depois de inúmeras experiências e testes de tentativa e erro. Não há evidência de que qualquer grupo de homens a tenha jamais possuído e em sua totalidade, que é o que teria sido necessário para que ”uma grande fraternidade” tivesse a empresa de construção medieval na mão. A história de ornamentação românica em estruturas gótico conta uma história semelhante, e assim o faz o uso de vitrais, que Porter mapeia até a Ile de France, e que passou a existir de forma gradual e lenta. Em suma, a história da arte verifica o testemunho dos próprios edifícios; tudo foi uma evolução gradual, e de acordo com a moda do momento, com base em condições contemporâneas e a partir de métodos e costumes pré-existentes. Quando se olha casualmente para trás na história medieval no conforto de uma poltrona, e se olha para ela como um espetáculo pairando no ar, o gótico pode parecer ter começado a existir quase imediatamente, como uma deusa saindo da cabeça de Zeus; mas um exame mais cuidadoso dos fatos mostra que a velha teoria de uma grande fraternidade conferindo ao mundo uma arte completamente nova e toda uma nova cultura é uma ilusão agradável.Poderíamos ainda acrescentar ao argumento o testemunho da história, que é o testemunho de silêncio. Se a arte gótica estava na posse de uma única grande fraternidade, então aquela surpreendente sociedade também devia ter em mãos a construção de estradas, pontes, muros, residências particulares, fortalezas, moinhos, e também teria ensinado às pessoas como fazer as suas roupas e ornamentar suas residências, pois, como já foi dito, a arte gótica era uma continuação da arte medieval. Uma sociedade dotada de tal sabedoria, e trabalhando em todos os centros na Europa teria sido tão universal quanto a Igreja Católica da época, e teria deixado um registro volumoso; mas o fato é que existe essa falta de registros, até mesmo dos construtores de catedrais, que mesmo agora, e após um século de constantes pesquisas no terreno por peritos, muito pouco se sabe dos construtores de catedrais, de modo que é necessário descobrir o caminho no escuro, sempre que alguém se dispõe a aprender algo sobre eles. A arquitetura gótica não foi o resultado do trabalho de qualquer grupo isolado, mas de todos os grupos e classes que compunham o décimo segundo, o décimo terceiro e o décimo quarto séculos na Europa e na Inglaterra. Neste último país, basta recordar os reinados de Henrique II e do Rei João, de quem a Carta Magna foi arrancada para lembrar em que efervescência estava tudo, e quão vigorosa era a vida comunitária. Na Europa ocidental, ocorria a mesma coisa. Os sucessores dos Capeto criaram nos territórios francos, e com Paris como seu centro, um império comparável ao da própria Roma. Foi a época em que as cidades alcançaram a independência, quando reis se tornaram poderosos monarcas contra a regra divisiva de senhores feudais e barões; quando o papado estendeu seu poder aos limites da cristandade, com a consequência de que algo como unidade estivesse afetado à vida moral e religiosa das 9 partes constitutivas; e esta vida moral e religiosa tornou-se poderosa o suficiente para enviar os cruzados à Palestina para a captura de Jerusalém. ”A maior de todas as maravilhas da catedral gótica é a idade que a produziu. No meio das brigas de barões ladrões; em meio ao clamor das comunas e facções em conflito; em meio à ignorância e superstição da Igreja, essa arte encantadora, ao mesmo tempo tão intelectual e tão ideal, floresceu como uma explosão. Parece quase como um anacronismo, que esta arquitetura devesse ter surgido durante a turbulenta Idade Média. Mesmo assim, a arquitetura gótica, embora em um sentido tão claramente oposto ao espírito dos tempos, estava, no entanto, profundamente imbuída desse espírito dos tempos, e só pode ser entendida quando considerada em relação às condições políticas, eclesiásticas, econômicas e sociais contemporâneas. Porque o século XII, apesar de sua escuridão era ainda um período muito avançado em relação ao que tinha acontecido antes - tanto que M. Luchaire não hesita em chamá-lo 'A Renascença francesa'. “A revolução intelectual foi acompanhada por uma revolução econômica não menos radical. Herr Schmoller até mesmo o comparou ao que ocorreu no século XIX. Nas cidades, os trabalhadores foram liberados da servidão, e começaram a se unir em corporações livres, e o mesmo processo operou em menor grau entre os vilões ou servos do país. As vantagens econômicas desta emancipação foram incalculáveis. As romarias, as jornadas dos cavaleiros franceses a todas as partes da Europa, e acima de tudo as cruzadas, abriram aos comerciantes um campo de atividade até então inimaginável. As guildas de mercadores, que nunca tinham sido tão numerosas e tão fortes; as relações comerciais que foram estabelecidas entre a Normandia e a Inglaterra; a prosperidade redobrada de Montpellier e Marselha; a multiplicação de mercados; a crescente importância das grandes feiras de Champagne - todas essas condições traem uma transformação radical nas condições materiais da população. Em toda parte, a condição do trabalhador foi facilitada; em toda parte as cidades aumentaram sua produção econômica, e ampliaram seus negócios; em todos os lugares as pontes foram reconstruídas e reparadas; e por todos os lugares novas estradas foram abertas. E com o comércio, veio a riqueza.” (Páginas 145, 147, Arquitetura Medieval, Porter Vol. II) Esta nova vida também se manifestou na especulação teológica, algumas das quais eram tão audaciosas que homens foram martirizados na fogueira por suas opiniões; na filosofia e do estudo do direito; em organizações políticas e em arte. Uma nova vida rompeu em todos os lugares, e de sua riqueza veio, como sua flor consumada, a catedral gótica. Duomo de Milão Mas como, pode-se perguntar razoavelmente, podemos entender a unidade da arte gótica em um momento em que o mundo estava muito dividido, e a intercomunicação entre os países muito difícil? A questão é bem levantada, mas ela pode ser facilmente respondida. A unidade do ofício era devida à união do trabalho realizado pelo ofício; a técnica gótica impôs sua própria unidade sobre os trabalhadores e suas atividades, como essas coisas sempre fazem. Phillips mostrou que se alguém traçar um gráfico mostrando a construção de cada uma das catedrais francesas em sucessão, os locais começarão, grosso modo, próximos a Paris e, em seguida, se ampliarão em curvas concêntricas, provando assim que os novos conhecimentos de arquitetura aprendidos no centro irradiavam-se para fora, como o conhecimento é capaz de fazê-lo. 10 Temos em nosso meio abundantes exemplos de tal evolução. O mundo está cheio de motores a vapor de vários tipos, mas nem por isso acreditamos que o segredo de vapor foi propriedade privada de uma organização secreta; sabemos que o motor a vapor começou com Watt, em 1789, e que cada inventor copiou o trabalho de seu antecessor e adicionou suas próprias melhorias e modificações. Existem centenas de escolas médicas neste e em outros países que usam a mesma terminologia técnica (comparável à ”linguagem secreta” dos cultos antigos); elas empregam os mesmos tipos de instrumentos, têm regras semelhantes, e todas proporcionam a seus alunos uma educação que é formalmente reconhecida em outras escolas em todo o mundo. Sabemos que esta unidade de organização médica nunca foi criada no início por ”uma grande fraternidade”; ela cresceu a partir da natureza da técnica empregada; a unidade formal agora nas mãos de associações médicas nacionais não é a causa, mas o resultado da unidade imposta pela própria profissão. Eu acredito que alguma coisa semelhante aconteceu no que diz respeito às guildas de construtores da Idade Média. Estes corpos tinham uma unidade, mas era devido à natureza do trabalho, e surgiu inevitavelmente. Eles trocavam associações, como fazem hoje as sociedades médicas, ou de direito, ou de arte, porque o trabalho realizado era basicamente o mesmo. Eles desenvolveram uma ética de sua própria profissão e mantiveram todas as guildas rigorosamente sob a mesma, assim como fizeram as guildas estacionárias, e como fazem hoje as sociedades médicas locais e similares, sempre autogovernadas. A unidade assim desenvolvida a partir da natureza do trabalho em si gradualmente se cristalizou em constituições e tradições; e essa unidade, finalmente, na Inglaterra do século XVIII, e devido a mudanças profundas nas condições sob as quais as guildas, ou lojas operavam, transformaram-se em unidade formal que é representada pela autoridade e poder de Grandes Lojas. Desde o momento no início do século XII, quando as guildas construtoras de catedrais começaram a existir, até que a Maçonaria especulativa nascesse em 1717 como uma sociedade formalmente organizada, nunca houve uma ruptura na continuidade histórica, mas ocorreram importantes mudanças evolutivas. Legal e tecnicamente, nossa atual Maçonaria começou em Londres em 1717; historicamente, e em uma visão mais ampla, ela começou na Europa nos séculos XI ou XII. Mas, mesmo naqueles primeirosdias, os construtores não começaram desde o começo. Eles tiveram antecessores e antepassados em cujos ombros eles se apoiaram, e de cuja arte eles desenvolveram as suas próprias. Será necessário considerar isso, para completar o quadro; isso será feito em alguns próximos capítulos, e como introdução para um desenvolvimento ainda maior do tema apresentado nesta Nota: A ”História da Maçonaria” de Gould foi, na realidade, o trabalho de um grupo de homens, e era a intenção inicial ter os nomes de todos na página de título. Tenho esta informação diretamente de um dos membros do grupo. H. L. H. O que significa originalmente a palavra gótico? Qual é a definição dada pelo Novo Dicionário Inglês? Como Lethaby define gótico? Dê a substância da descrição de Porter do gótico. Qual era o princípio sobre o qual a arquitetura românica estava baseada? Descrever o princípio geral da arquitetura gótica, conforme explicado pelo irmão Haywood. Dê a explicação de Moore com suas próprias palavras. Você pode citar qualquer espécime de arquitetura gótica em sua própria comunidade? Você pode citar alguma catedral gótica nos Estados Unidos? Por que a arquitetura gótica é considerada particularmente adequada para edifícios de igrejas? Alguma vez em sua própria mente você ligou a arquitetura gótica à maçonaria? Se sim, qual foi a sua teoria daquela conexão? Onde e quando começou o gótico? Dê em suas próprias palavras um esboço da história gótica. Quais são algumas das várias teorias sobre a origem do gótico? O que tudo isso tem a ver com a história da Maçonaria? O que era uma Guilda? Por que os edifícios góticos são diferentes dos outros? Qual é o significado da palavra Maçom? Como surgiu a palavra ”Maçonaria”? Qual era a teoria da ”única grande fraternidade”? Qual é o veredicto de Gould sobre essa teoria? De que maneira a história da arte gótica tende a desmentir a ”teoria de uma só grande fraternidade”? Dê exemplos para mostrar que a arquitetura gótica desenvolveu-se gradualmente. Diga algo sobre a época em que gótico surgiu. Como você explica a unidade da Arte da Maçonaria na Idade Média? Dê alguns exemplos modernos. A maioria dos historiadores da ”Maçonaria” concorda que nossa fraternidade teve sua origem entre as guildas da Idade Média: como você afirma aquela teoria em suas próprias palavras? Que importância tem esta teoria em nossas interpretações e obrigações da maçonaria nos dias de hoje? LIVROS CONSULTADOS Medieval Art - W.R. Lethaby. ; Westminster Abbey and the King's Craftsmen - W.R. Lethaby. ; Architecture - W.R. 11 Lethaby; Freemasonry before the Existence of Grand Lodges - Lionel Vibert. ; Story of the Craft - Lionel Vibert. ; Ars Quatuor Coronatorum, Vol. III, p. 13; 70. Ibid., Vol. XXXIII, p. 114. ; New English Dictionary on Historical Principles. History of Freemasonry - R.F. Gould, Vol. I, chapter 6, p.253. ; Medieval Architecture - Arthur Kingsley Porter, Vol. II. ; Mackey's Revised History of Freemasonry - Robert I. Clegg, p. 814. ; Early History and Antiquities of Freemasonry - G.F. Fort. ; History of Freemasonry - J.G. Findel, p. 76, (1869 edition). ; Freemason's Monthly Magazine, (Boston), Vol. XIX, p. 281. ; Hole Craft and Fellowship of Masonry - Edward Conder ; The Cathedral Builders - Leader Scott The Comacines - W. Ravenscroft. ; A Concise History of Freemasonry - R.F. Gould, 1920. ; Roman and Medieval Art - Wm. H. Goodyear. ; Development and Character of Gothic Architecture - Charles Herbert Moore. ; History of Architecture - James Fergusson. ; History of Architecture - Russell Sturgis. ; Art and Environment - L.M. Phillips REFERÊNCIAS SUPLEMENTARES Mackey's Encyclopedia - (Revised Edition) Antiquity of the Arch, p. 74; Architecture, p. 75; Basilica, p. 99; Bridge Builders of the Middle Ages, p. 117; Builder, p. 123; Cathedral of Cologne, p. 159; Cathedral of Strasburg, p. 729; Freemasons of the Church, p. 150; Gilds, p. 296; Giblim or Stone-squarers, p. 296; Geometry, p. 295; Gothic Architecture, p. 304; Implements, p. 348; Operative Masonry, p. 532; Secret Vault p 822; Sir Christopher Wren, p. 859; Stone-Masons of the Middle Ages, p. 718; Stone of Foundation, p. 722; Stone Worship, p. 727; Symbolism of the Temple, p. 774; Traveling Masons, p. 792. REFERÊNCIAS DO BUILDER Vol 1 - Regensburg Stonemason's Regulations, pp. 171, 195; Whence Came Freemasonry? p. 181. Vol. II (1916) - Masonry Universal, p. 29; Steinbrenner, p. 158; Masonic Traditions, p. 189; Joseph Findel, p. 221; A Significant Chapter in the Early History of Freemasonry, Nov. C.C.B. 4; Operative Masonry, Dec. C.C B. 1. Vol. III (1917) - Antiquities, p. 181; Masonic History, p. 204; The Guild and York Rites, p. 242; Freemasonry and the Medieval Craft Guilds, pp. 342, 361; Worthy Operatives Cathedral Builders, p. 349. Vol. IV (1918) - George Franklin Fort, p. 171; The Masonic Writings of George Franklin Fort, p. 210. Vol. V (1919) - Mackey's History of Freemasonry, p. 53; Legendary Origin of Freemasonry, p. 297; Quatuor Coronate, p. 300. Vol. VI (1920) - Speculative Masonry, p. 130; A Bird's-Eye View of Masonic History, p. 236. Vol. VII (1921) - Whence Came Freemasonry? p. 90; Three Good Books on the Guild Question, p. 195; “The Evolution of Freemasonry,” p. 360. Vol. VIII (1922) - Gould's Concise History of Freemasonry, p. 23; Masonic Legends and Traditions, p. 57; Craft Guilds and Trade Unions, p. 63; Travelling Craftsmen, p. 102; A New Brief History of Freemasonry, p. 120; “Freemasonry and the Ancient Rites,” p. 151; Freemasonry of the Middle Ages and International Society, p. 331. 12 PARTE II - MAÇONARIA E A CASA DOS HOMENS I - ANTROPÓLOGOS DESCOBREM A CASA DOS HOMENS DESDE QUE Heinrich Schurtz publicou seu Altersklassen und Maennerbunde em 1902, os antropólogos têm se interessado cada vez mais no papel desempenhado pelas sociedades secretas entre os povos primitivos. Herr Schurtz descobriu que as sociedades secretas não eram de forma alguma uma coisa privada, de pouco interesse e menor consequência, conforme antropólogos antigos acreditavam que elas fossem, mas que eram de igual importância na vida primitiva à de outras instituições sociais. Ele descobriu que “em íntima conexão com as faixas etárias, e mais particularmente com o papel dominante desempenhado pelos solteiros organizados, ali se desenvolvia a casa dos homens. Ela é caracterizada como uma estrutura na qual homens adultos, porém solteiros preparam suas refeições, trabalham, jogam e dormem, enquanto os homens casados moram separados com suas famílias. As mulheres e crianças são geralmente proibidas de entrar nos locais, enquanto as meninas amadurecidas se relacionam livremente com os ocupantes.” O Prof. Hutton Webster da Universidade de Nebraska, trabalhando independentemente e sem conhecimento das conclusões de Schurtz, chegou à mesma conclusão, e escreveu um tratado sobre o assunto que se revelou de extrema importância para os estudantes de sociedades secretas. Este artigo foi publicado em 1908 sob o título de Primitive Secret Societies: A Study in Early Politics and Religion. (Sociedades Secretas Primitivas: Um estudo de Política e Religião Primitivos) O conceito central deste livro é o da casa de homens. O Prof. Webster descreve isso até certo ponto na primeira página deste livro, como segue: “A separação dos sexos que existe nas sociedades civilizadas é o resultado, em parte, das diferenças naturais de sexo e função econômica; em parte, ela encontra uma explicação nos sentimentos de solidariedade sexual aos quais devemos a existência dos nossos clubes e sindicatos. A solidariedade sexual em si é apenas outra expressão para o funcionamento dessa lei universal da empatia humana, ou em frase mais moderna, de consciência da espécie, que está na base de todas as relações sociais. Mas, em sociedades primitivas, a essas forças produzindo separação sexual, acrescenta-se uma força ainda mais poderosa, que tem origem na crença generalizadaquanto à transmissibilidade das características sexuais de um indivíduo a outro. Dessas crenças surgiram muitos tabus curiosos e interessantes destinados a evitar o perigo real ou imaginado incidente no contato entre os sexos. A separação sexual é ainda mais garantida e perpetuada pela instituição conhecida como “casa dos homens”, exemplos da qual podem ser encontrados entre os povos primitivos em todo o mundo. “A casa dos homens geralmente é o maior edifício em um assentamento tribal. Ela pertence em comum aos moradores; serve como sala do conselho e prefeitura, como casa de hóspedes para estranhos, e como local de repouso dos homens. Frequentemente, assentos na casa são designados a idosos e outros líderes de acordo com sua dignidade e importância. Aqui, os bens preciosos da comunidade, tais como troféus tomados na guerra ou na perseguição, e símbolos religiosos de vários tipos são preservados. Dentro do seu recinto, mulheres, crianças, e homens membros da tribo não completamente iniciados, raramente ou nunca entram. Quando o casamento e a posse exclusiva de uma mulher não ocorrem imediatamente após a iniciação na tribo, a instituição da casa dos homens torna-se uma contenção eficiente sobre as predileções sexuais dos jovens solteiros. Ela serve, então, como um clube para os solteiros, cuja permanência nela pode ser considerada como uma perpetuação daquela separação formal entre rapazes e as mulheres, que deve ser conseguida com as cerimônias de iniciação em primeiro lugar. Essa vida comunitária dos jovens é um sinal visível da sua separação do círculo restrito da família e da sua introdução aos deveres e responsabilidades da vida tribal. A existência de tal instituição enfatiza o fato de que uma vida familiar estabelecida com uma residência privada é privilégio dos homens mais velhos, que sozinhos têm direitos conjugais sobre as mulheres da tribo. Porque a promiscuidade, seja antes ou depois do casamento, é exceção entre os povos primitivos, que não apenas tentavam regular através de sistemas de casamento complicados e rigorosos os desejos sexuais daqueles que são competentes para se 13 casar, mas na verdade para evitar qualquer relação sexual com aqueles que não são membros plenamente iniciados da comunidade. “Pode-se esperar que uma instituição tão firmemente estabelecida sobrevivesse por devoção a outros usos, à medida que as ideias anteriores que levaram à sua fundação desaparecem. Como postos de guarda onde os jovens são confinados em serviço militar e onde são exercitadas artes da guerra, estas casas muitas vezes se tornam um meio útil de defesa. O culto religioso da comunidade frequentemente está centrado neles. Muitas vezes, eles constituem o teatro para representações dramáticas. Em raros casos, estas instituições parecem ter perdido sua finalidade original, e ter facilitado o comunismo sexual, ao invés da separação sexual. Entre algumas tribos, a casa dos homens é usada como centro de cerimônias de iniciação da puberdade. Com o desenvolvimento das sociedades secretas, substituindo as instituições tribais de puberdade anteriores, a casa dos homens frequentemente se torna a sede dessas organizações e constituem uma “loja“ secreta. A presença, então, da casa dos homens em qualquer de suas numerosas formas em uma comunidade primitiva indica fortemente a existência, agora ou no passado, de cerimônias secretas de iniciação.“ (Primitive Secret Societies, páginas 1, 2, 3) Pode-se duvidar da precisão do Prof. Webster quando ele diz que “exemplos podem ser encontrados entre os povos primitivos em todo o mundo. “Não há muitos exemplos a serem encontrados na Ásia, e que pode muito bem ser que em determinadas partes do continente, a sociedade secreta primitiva nunca tenha sido conhecida: algumas autoridades têm a mesma opinião, Schurtz, por exemplo, que não foi capaz de descobrir vestígios das sociedades secretas de homens em grandes partes do continente. Em seu capítulo sobre “Difusão de Antigas Cerimônias”, o próprio Webster não forneceu exemplos asiáticos, mas limitou-se à Austrália, Tasmânia, Melanésia, Polinésia, América do Sul, América Central e América do Norte. É impossível nas presentes limitações de espaço, estabelecer muitos exemplos do culto primitivo secreto: algumas amostras serão suficientes. Entre os ilhéus de Andaman existem três tipos de barracas, para os solteiros, solteiras e casais, respectivamente. Aos onze anos, meninos e meninas são submetidos a diferentes provas e em cada caso devem participar de cerimônias elaboradas ao passar de um grau de idade a outro. As mulheres participam nestes mistérios, assim como os homens. A maioria das tribos australianas têm cerimônias de iniciação em ou perto da época da puberdade. Na maioria dos casos, essas cerimônias são muito rigorosas, somente os homens são admitidos; e o rito aparece geralmente como uma forma de preparação para o matrimônio. Os Masai dividem seus membros do sexo masculino em três classes de meninos, guerreiros e anciãos; suas cerimônias são acompanhadas de circuncisão. Entre os Ilhéus de Banks, os homens constituem uma espécie de sociedade secreta tripla, mas a entrada neste grupo não ocorre através de iniciação, mas através do pagamento de uma taxa. Os homens vivem na casa do clube da vila, que é um lugar de repouso e refeição durante o dia e dormitório à noite: eles são divididos em classes com poder e prestígio respectivos, e só os homens ricos podem chegar a posições mais elevadas. Este mesmo povo tem “Sociedades Fantasmas”, que são muito secretas por natureza e têm sede nos lugares mais recônditos. Entre os índios Pueblo, os Zunis tinha uma sociedade “Dançarino Mascarado”, na qual havia graus, iniciações e muita palhaçada primitiva: cada sociedade tem sua sede própria loja onde havia compartimentos que representam os quatro cantos da bússola, o zênite, e o nadir. Os índios Hopi tinham fraternidades secretas semelhantes, assim como os Crows, que tinham uma “Sociedade do Tabaco”, com cerimônias de iniciação, diplomas, etc. O Hidatsas tinha muitos clubes sociais, onde a entrada era adquirida através de compra: suas mulheres tinham organizações semelhantes. Por outro lado, o Shoshoneans de Great Basin, aparentemente, nunca tiveram qualquer coisa que possa ser corretamente classificada como uma sociedade secreta. Estes casos são apenas típicas do inúmeros casos em que povos primitivos - ou selvagens como os chamamos - fizeram uso de organizações secretas. II - A INICIAÇÃO TRIBAL É UMA PROVAÇÃO RIGOROSA Na maioria dos casos, as cerimônias de iniciação têm a natureza de provas, e muitas vezes são tão rigorosas que morte ou permanente incapacitação não são inéditos. “A diversidade de provas é muito interessante. Assim, depilação, mordidas na cabeça, remoção de dentes, 14 aspersão com sangue humano, imersão em poeira ou sujeira, flagelação pesada, escarificação, fumo e queimaduras, circuncisão e sub-incisão são algumas das formas em que as provas aparecem, só entre os australianos... De todas essas provações, a circuncisão tem o maior destaque... Quase universalmente, os ritos de iniciação incluem uma representação mímica da morte e ressurreição do noviço. A nova vida para a qual ele acorda da iniciação é uma totalmente esquecida da antiga, um novo nome, uma nova linguagem e novos princípios são o seu acompanhamento natural. Uma nova linguagem está intimamente associada ao novo nome. A posse de um discurso esotérico conhecido apenas aos membros iniciados é muito útil pois empresta um mistério adicional ao processo... As diferentes cerimônias que se realizam sobre a chegada das meninas à puberdade são nitidamente menos impressionantes que as dos meninos. Como regra, não há admissão em uma iniciação formal possuindo aspectos tribais e ritos secretos... Não há dúvida que diversas crenças originárias de muitas fontes diferentes se uniram para estabelecer a necessidade de separar meninos e meninas na puberdade.“O isolamento das coisas da carne e do sentido tem sido uma atitude não raramente empregado por pessoas de cultura avançada para a promoção da vida espiritual, e não precisamos ficar surpresos ao encontrar o homem não civilizado recorrendo a atitudes semelhantes para fins mais práticos. Os jejuns prolongados, privação de sono, a constante excitação do novo e inesperado, a reação nervosas sob tormentos longos e continuados resultam em uma condição de extrema sensibilidade - hiperestesia, que é certamente favorável à recepção de impressões que serão indeléveis. As lições aprendidas em uma escola tribal dessa natureza, como o é a instituição da puberdade, perduram por toda a vida. “Outro motivo óbvio ditando um período de reclusão é encontrado na sabedoria da separação completa dos jovens púberes das mulheres, até que aulas de contenção sexual tenham sido aprendidas. Nativos de Nova Guiné, por exemplo, dizem que “quando os meninos atingem a idade da puberdade, eles não devem ser exposto aos raios do sol, para que eles não sofram com isso; assim, eles não devem realizar trabalho manual pesado, ou o seu desenvolvimento físico será parado, todas as possibilidades de misturá-los com mulheres devem ser evitadas, sob pena de se tornarem imorais, ou a ilegitimidade se torna comum na tribo. Quando a casa dos homens é encontrada em uma comunidade tribal, essa instituição muitas vezes serve para prolongar o isolamento dos homens mais jovens iniciados por muitos anos após a puberdade ter sido atingida. “(Primitive Secret Societies, páginas 36, 37, 38, 41, 45, 47.) “As instituições da puberdade para a iniciação dos jovens na idade adulta estão entre as características mais difundidas e presentes na vida primitiva. Elas são encontradas entre povos considerados os menos desenvolvidos da humanidade: entre Andamaneses, hotentotes, fueguinos e australianos, e eles existem em vários estágios de desenvolvimento entre os povos emergentes da selvageria até a barbárie. Seus fundamentos remontam a uma antiguidade desconhecida; seus mistérios, zelosamente guardado dos olhos de todos, exceto os iniciados, preservam a religião e a moralidade da tribo. Embora variando infinitamente em detalhes, suas características principais se reproduzem com uniformidade substancial entre os diferentes povos e em áreas muito distantes entre si no mundo. A iniciação dos jovens da tribo pelos anciãos tribais, seu isolamento rígido, às vezes por um longo período das mulheres e crianças; sua sujeição a certas provas e ritos destinados a mudar completamente sua natureza; a utilização desse período de confinamento para transmitir aos noviços um conhecimento das tradições e os costumes tribais e, finalmente, a inculcação através dos métodos mais práticos de hábitos de respeito e obediência aos homens mais velhos - todas estas características são bem descritas no elegante e vigoroso relato por um antigo escritor de cerimônias praticadas uma vez pelos índios Tuscarora da Carolina do Norte. “(Ibidem, p. 32.) Estas iniciações diferem notavelmente entre si, no entanto, todas e cada uma delas têm certas características fundamentais em comum. Em um parágrafo brilhante de um tratado sobre a Iniciação, na Enciclopédia de Religião e Ética de Hasting (Vol. VII, p. 317), o Conde Goblet d'Alvielia, que está tão alto entre os estudiosos maçônico europeus fornece uma lista dessas características: “As formalidades de iniciação, seja sua função dominante mágica ou religiosa, apresentam semelhanças marcantes. Andrew Lang observa as seguintes características gerais: (a) danças místicas, (b) a utilização do rombo, (c) rebocar com barro e lavar, (d) desempenho com serpentes e outros “feitos loucos”. A estes poderíamos acrescentar: (e) simulação de morte e 15 ressurreição, (f) a concessão de um novo nome aos iniciados, (g) o uso de máscaras ou outros disfarces. Em todo caso, podemos dizer que as cerimônias de iniciação incluem: (1) uma série de formalidades que afrouxar os laços de ligação do neófito com seu ambiente antigo, (2) outra série de formalidades admitindo-o ao mundo sobrenatural, (3) uma exposição de objetos sagrados e instruções sobre assuntos que lhes dizem respeito; (4) ritos de reentrada ou reintegração, facilitando o retorno do neófito ao mundo comum. Estes ritos, especialmente os das três primeiras divisões, são encontrados com uma função mais ou menos importante em todas as cerimônias de iniciação, tanto entre selvagens quanto entre civilizados.” De onde vieram esses clubes secretos? Será que todos são originários de um centro? NW Thomas, escrevendo no Volume XI da Enciclopédia de Hasting, página 297, oferece uma resposta com a qual a maioria das autoridades concordaria: “Talvez possamos resumir a posição, dizendo que rastrear todas as sociedades secretas até uma origem única é provavelmente tão errado quanto rastrear todas as formas de religião a uma única fonte, ou tentar desvendar todas as mitologias com uma única chave. Parece claro que graus de idade, clubes de sepultamento, escolas de iniciação, irmandades religiosas, grupos ocupacionais, e sociedades mágicas têm contribuído para a massa de diversos elementos agrupados em sociedades secretas. O que não pode ser definitivamente estabelecido é que qualquer um desses teve um tipo inicial como modelo; como encontramos todos os seus estágios rudimentares em várias partes da África, precisamos, a menos que suponhamos que esses rudimentos sejam derivadas de sociedades totalmente desenvolvidas de outras tribos, supor que eles são a semente da qual, em outras áreas, as sociedades secretas vêm se desenvolvendo e que todos são igualmente primitivos, embora não necessariamente da mesma idade.” III - A MAÇONARIA EVOLUIU DA CASA DOS HOMENS? Quando as sociedades secretas aparecem entre bárbaros e povos meio civilizados, eles mantêm muitas das características fundamentais descritas nas páginas acima, mas ao mesmo tempo, tornam-se extremamente diferentes e, muitas vezes são utilizados para fins completamente diferentes. Todos os leitores de literatura maçônica estão familiarizados com a história dos Druidas, dos Drusos, dos caldeus, dos Assassinos, etc., etc.: também as inúmeras sociedades secretas da China, que, parecem, na maioria dos casos, ser de caráter político, ao invés de moral ou religioso. Estas organizações bárbaras, ou semicivilizadas têm seus graus, sinais, segredos, palavras de passe e cerimônias de iniciação, assim como todas as outras, e não há necessidade, neste contexto, de particularizar entre elas ou prestar-lhes qualquer atenção adicional. O leitor já terá notado certa semelhança entre algumas dessas associações e a nossa própria. Em alguns casos, essas semelhanças são tão marcantes que quase equivalem à identidade, como quando um dos nossos sinais maçônico é encontrado na posse de alguma seita selvagem. Contos de como os maçons salvaram suas vidas ou obtiveram outras vantagens entre povos selvagens através do uso de um dos sinais maçônicos estiveram entre as anedotas de nossa literatura por muitos anos. O uso sensacional destes fatos tem sido feito recentemente pelo irmão J.S.M. Ward em seu “Maçonaria e os Deuses Antigos” publicado em 1921. O Irmão Ward corajosamente assume a posição de que as sociedades secretas primitivas, como aquelas descritas acima devem ser considerados parte integrante da Maçonaria, ou vice-versa. Ele assume essa posição muito claramente nos seguintes termos: “Corajosamente esta é a minha tese, de que o nosso sistema atual é derivado originalmente de ritos de iniciação primitivos de nossos ancestrais pré- históricos. Baseio esta afirmação no fato de que muitos dos nossos mais venerados sinais e símbolos, apertos e senhas são hoje utilizadas por raças selvagens precisamente com o mesmo significado que nós. Não posso concordar com aqueles que afirmam que isso é apenas uma questão de coincidência, ou ainda que eles sejam puramente sinais naturais que expressamsentimentos simples e elementares. “Esta declaração aparece na página 119 do seu livro. Na 123, ele repete isso em outras palavras: “Meu argumento, então, é que a Maçonaria deriva originalmente daqueles ritos primitivos que primeiro ensinaram um menino de onde ele veio, em seguida o preparou para ser um membro útil da sociedade e, finalmente, lhe ensinou a morrer e que a morte não era o fim de tudo. Em relação a estes ritos primitivos, eu 16 considero, o homem construiu os mistérios e as diferentes confissões religiosas do mundo antigo, alguns dos quais sobreviveram até os nosso dias, enquanto outros se desenvolveram em outras religiões, incluindo o cristianismo. “A tese é desenvolvida ainda em outras palavras, na página viii do seu prefácio, onde ele diz: “Resumidamente, a teoria que me atrevo a propor é que a Maçonaria se originou nos ritos de iniciação primitivos do homem pré-histórico, e a partir daqueles ritos foram construídos todos os mistérios antigos, e daí, todos os sistemas religiosos modernos. É por esta razão que os homens de todas as crenças religiosas podem entrar Maçonaria, e, ainda, a razão para não se admitir as mulheres é que estes ritos eram originalmente ritos de iniciação de homens, as mulheres tinham os seus próprios. Estes, por razões sociológicas pereceram, enquanto que os dos homens sobreviveram, e se desenvolveram nos mistérios.“ Se o irmão Ward fizesse valer a sua tese, ele provocaria uma revolução completa na antropologia. Uma sociedade secreta que existiu em todas as partes do mundo através de todos os muitos séculos da história seria o fato mais estupendo conhecidos da sociologia, e exigiria uma revisão completa de nossas teorias sociais. A coisa é estupenda demais para ter acontecido. Para se entender que a Maçonaria, como a conhecemos hoje, está em solidariedade com todas essas outras fraternidades secretas, é necessário ampliar os fatos em quase todos os pontos, para preencher as lacunas com suposições e hipóteses, e para ler nas cerimônias das tribos primitivas muitos significados e propósitos que nunca foram capazes de ter. Ficou abundantemente claro nas citações acima de várias autoridades que todas as sociedades secretas têm uma cultura em comum e na natureza do caso, inevitavelmente, fazem uso de sinais, símbolos, cerimônias, graus, lojas, iniciações, etc., de modo que se uma nova sociedade secreta surge, criada ab initio por seus próprios membros, ela terá, necessariamente, muitas características em comum com outras organizações similares, de modo que um pouco de imaginação sempre facilitará para os homens acreditar que o que foi recentemente criado já existia em outros lugares durante muitos séculos. Nada é mais fácil que criar tradições e história antiga para um culto secreto; e isso porque ele é munido de muitos usos que outros cultos secretos empregaram em tempos passados. A Maçonaria não é exceção a esta regra. Quase tudo nela pode encontrar paralelo em sociedades semelhantes que existiam há centenas de anos, e sempre há a tentação de emprestar delas a autoridade e o prestígio da antiguidade. Muitas vezes, encontram-se atribuído a uma época muito antiga símbolos que foram criados, de acordo com nosso conhecimento positivo em tempos recentes. “A Virgem chorando sobre uma coluna quebrada” é o caso abordado aqui. Ela foi idealizada por um Maçom Americano cerca de cem anos atrás, mas só recentemente eu li um artigo que procurava mostrar que este símbolo tinha sido emprestado de Mistérios Antigos pela Maçonaria. Irmão Ward tenta provar que Os Altos Graus são tão antigos quanto os Graus do Simbolismo. Para um leitor americano familiarizados com a história do Rito Escocês, ele não terá muito sorte. Sabemos que o próprio Albert Pike, sozinho e sem ajuda criou uma grande parte da estrutura elevada e bela do ritual do Rito Escocês, de modo que tem sido dito sobre ele que ele encontrou o Rito Escocês uma cabana de madeira e o deixou em um palácio de mármore. Mas, há muitas coisas nas cerimônias do Rito Escocês mais antigas que a história, alguém poderia argumentar. É verdade, mas nós sabemos como elas chegaram ali: Albert Pike as tirou de sua própria aprendizagem dos livros antigos. Muito do material é muito antigo, mas a estrutura em ele as construiu e o uso em que ele os colocou data do trabalho de Albert Pike, ou, no máximo, de seus antecessores imediatos. O verdadeiro cerne de toda esta discussão pode ser colocando em forma da pergunta, Qual a idade da Maçonaria? Essa questão nunca perde a sua vitalidade, e parece ter um fascínio inesgotável para os maçons. A resposta depende do significado que se atribui à palavra Maçonaria. Se por Maçonaria queremos dizer qualquer tipo de organização secreta, então ela é tão velha quanto o mundo. Se for usada sobre qualquer sociedade secreta que emprega alguns de nossos sinais ou símbolos, então ela pode ser traçada aqui e ali, em muitas terras e através de muitos séculos. Se ela é usada no sentido mais estrito para indicar um homem que foi iniciado em uma loja regular da Maçonaria simbólica trabalhando sob a autoridade de uma Grande Loja regular, então a Maçonaria tem apenas 200 anos de idade. Se for para ser usado sobre organizações com as quais esta moderna maçonaria especulativa pode traçar uma continuidade histórica inegável, então ele pode ser datado até os séculos XII ou XIII. De uma coisa podemos ter certeza, a casa dos homens, uma loja em que irmãos encontram por trás de portas fechadas, não é uma coisa moderna e artificial, mas brota da própria natureza humana, 17 para satisfazer as necessidades que foram sentidas desde que o homem começou a ser. REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES DO THE BUILDER: Vol. I (1915) - Ancient Evidences, p. 18; The Golden Bough, p.22; The Men's House, p. 308. Vol. 11 (1916) - Masonic Tradition, p. 189; Indian Masonry, p. 190; The Meaning of Initiation, p. 205; Masonic Signs, p. 253; Indian Freemasonry, p. 371. Vol. III (1917) - A Central African Mystery, p. 15; The Origin of Druidism, p. 22; The Initiatory Rites of Druidism, p. 35; Masonry Among Primitive Peoples, p. 38; Secret Societies of Islam, p. 84; Aboriginal Races and Freemasonry, p. 96; Chinese Signs, p. 156; The Men's House, p. 209. Vol. IV (1918) - Definitions of Masonry, p. 125; The Voice of the Sign, October, C.C.B., p. 4; The Divine Mystery, p. 334; The Mysteries of the Art of the Caverns and Early Builders, p. 366. Vol. V (1919) - Legendary Origin of Freemasonry, p. 297, Vol. VI (1920) - A Bird's-Eye View of Masonic History, p. 236; The Purposes of Legends and Myths, p. 258; Freemasonry Among the American Indians, p. 295. Vol. VII (1921) - Whence Came Freemasonry, p. 90; Little Wolf Joins the Metawin, p. 281. Vol. VIII (1922) - American Indians and Freemasonry, P. 71; Freemasonry and the Ancient Gods, pp. 88, 151, 152, 153; Masonry Among the Chippewa Indians, p. 126; A Mediating Theory, p. 318; Traces of Masonry Among Indians and Worth Americans, p. 354. Mackey's Encyclopedia - (Revised Edition): Albert Pike, p. 563; Assassins, p. 82; China, p. 147; Chinese Secret Societies, p. 148; Civilization and Freemasonry, p.153; Culdees, p. 191; Degrees, p. 203; Druidical Mysteries, p. 220; Druses, p. 221; Initiation, p. 353; Man, p. 461; Primitive Freemasonry, p. 584; Scottish Rite, p. 671; Secret Societies, p. 677; Woman, p. 855. LIVROS CONSULTADOS NA PREPARAÇÃO DESTE ARTIGO: Lowie, Primitive Society. J.S.M. Ward, ; Freemasonry and the Ancient Gods. Webster, ; Primitive Secret Societies. Frazer, Golden Bough. ; Hasting's Encyclopedia of Religion and Ethics, Vol. VII, p. 314; XI, p. 287. Smith, ; Religion of the Semites. Heckethorn, ; Secret Societies. Lang, ; Myth, Ritual, and Religion. Thomas, ; Source Book For Social Origins. Rivers, ; The Todas. Tyler, ; Primitive Culture. Wallace, ; The Malay Archipelago. Coote, ; The Western Pacific. Upward, ; The Divine Mystery. Capart, ; Primitive Art. Evans, ; Tree and Pillar Cult. Harrison,; Ancient Art and Ritual. Maspero, ; Dawn of Civilization. Wright, ; Indian Masonry. Giles, ; Freemasonry in China. ; 18 PARTE III - MITRAÍSMO: MAÇONARIA E OS MISTÉRIOS ANTIGOS A TEORIA de que a Maçonaria moderna é em certo sentido, descendente direta dos antigos Mistérios tem sido uma atração peculiar para os escritores maçônicos durante todo este tempo, e o final ainda chegou, pois o mundo está repleto de homens que discutem sobre o assunto para cima e para baixo em infinitas páginas impressas. É um assunto sobre o qual é muito difícil escrever, de modo que quanto mais se aprende sobre ele, menos que se está inclinado a ventilar qualquer opinião própria. O assunto abrange tanto espaço e de selvas tão emaranhadas que é muito provável que quase toda generalização esteja errada, ou seja inútil. Mesmo Gould, que geralmente é um dos mais sólidos e mais cuidadosos entre os generalistas, fica bastante confuso sobre o assunto. Para os efeitos do presente trabalho, pareceu-me sensato dar atenção a um só dos mistérios, deixá-lo colocar-se como um tipo do restante, e eu escolhi para isso o MITRAÍSMO, um dos maiores e um dos mais interessantes, bem como um que possui muitos paralelismos com a Maçonaria quanto qualquer um dos outros. I - COMO MITRA CHEGOU A SER UM DEUS DE PRIMEIRA CLASSE Há muito tempo, no início das coisas, para que possamos aprender com o Avesta, Mitra era o jovem deus das luzes do céu que aparecia pouco antes do amanhecer, e permanecia após o sol se por. A ele foi atribuída o patronato das virtudes da verdade, que dá vida e força da juventude e alegria. Tais qualidades atraíram muitos devotos, aos cujos olhos Mitra cresceram mais a mais, até que finalmente ele se tornou um grande deus em seu próprio direito e quase igual ao próprio deus sol. “A juventude será servida”, ainda um jovem deus, e o Zoroastrismo, que começou dando a Mitra um lugar muito subalterno, finalmente veio a exalta-lo à mão direita do terrível Ormuz, que se tinha arrolado todos os atributos de absolutamente todos os deuses. Quando os persas conquistaram a Babilônia, que adorava as estrelas de uma forma mais profunda, Mitra colocou-se bem no centro dos cultos que adoravam estrelas e ganhou tanta força que, quando o Império Persa desmoronou e tudo se fundiu no mesmo pote, Mitra foi capaz de manter sua própria identidade, e emergiu da luta na cabeça de sua própria religião. Ele era um jovem deus cheio de vigor e transbordando de espírito, capaz de ensinar a seus seguidores as artes da vitória, e essas coisas apelavam poderosamente aos belicosos homens de tribos iranianas, que nunca deixaram de adorá-lo de uma forma ou outra, até que eles se tornaram tão profundamente convertidos séculos depois ao islamismo. Mesmo assim, eles não o abandonaram completamente, mas de acordo com a forma inevitável de os convertidos o reconstruírem em Alá e em Maomé, de modo que ainda hoje vai encontrar peças de Mitra espalhados aqui e ali em que os muçulmanos chamam sua teologia. Após o colapso do Império Persa, a Frígia, onde tantas religiões foram fabricados em um momento ou outro, assumiu Mitra e construiu um culto sobre ele. Deram-lhe o seu barrete frígio, que sempre se vê em suas estátuas, e incorporaram em seus ritos o uso do terrível “taurobolium”, que era um batismo no sangue de um jovem e saudável touro. No decorrer do tempo, esta cerimônia sangrenta se tornou o centro e ápice do ritual de Mitra, e produzia uma profunda impressão sobre as hordas de escravos e homens pobres e ignorantes que se reuniam no mithreum, como eram chamadas as casas de culto mitraico. Mitra nunca foi capaz de abrir caminho até a Grécia (o mesmo pode ser dito do Egito, onde a competição entre religiões era muito grande), mas aconteceu que ele pegou alguma coisa emprestada da arte grega. Algum desconhecido escultor grego, um dos gênios brilhantes de sua nação, fez uma estátua de Mitra, que serviu mais tarde como sempre a semelhança ortodoxa do deus, que era descrito como um jovem cheio de vitalidade, seu manto jogado para trás, um barrete frígio na sua cabeça, e matando um touro. 19 Por centenas de anos, esta estátua foi para todos os devotos Mitraistas o que o crucifixo agora é para os católicos romanos. Esta semelhança fez muito para abrir caminho para Mitra em direção ao ocidente, pois até essa imagem dele tinha sido terrível da maneira distorcida e repelente tão característica da escultura religiosa oriental. Os povos orientais, entre os quais nasceu Mitra, foram sempre capazes de grandeza sombria e terror religioso, mas de uma beleza que mal tinha tocado, ficou para os gregos recomendar Mitra aos homens de bom gosto. Após as conquistas Macedônicas, assim se acredita, o culto de Mitra ficou cristalizado; que obteve sua teologia ortodoxa, seu sistema de igreja, sua filosofia, seus dramas e ritos, sua imagem do universo e do grande final catastrófico de todas as coisas um dia terrível de julgamento. Muitas coisas tinham sido construídas nele. Havia cerimônias emocionantes para as multidões; muito misticismo para os devotos; uma grande máquina de salvação para os tímidos; um programa de atividade militante para os homens de valor e uma ética sublime para as classes superiores. O Mitraísmo teve uma história, tradições, livros sagrados, e um grande impulso a partir da adoração de milhões e milhões entre as tribos remotas e dispersas. Assim fornido e equipado, o jovem deus e sua religião estavam preparados para entrar no mundo mais complexo e sofisticado conhecido como Império Romano. II - COMO MITRA ENCONTROU SEU CAMINHO ATÉ ROMA Quando Mitrídates Eupator - ele que odiava os romanos com uma virulência igual à de Aníbal, e que travou uma guerra contra eles três ou quatro vezes - foi totalmente destruído em 66 aC, e seu reino de Pontus foi entregue aos cães, os fragmentos dispersos de seus exércitos se refugiaram entre os bandidos e piratas da Cilícia e levaram com eles a todos os lugares os ritos e as doutrinas do mitraísmo. Depois, os soldados da República de Tarso, que esses bandidos organizaram saíram saqueando e lutando por todo o Mediterrâneo, e levando com eles o culto a todos os lugares. Foi desta forma pouco promissora que Mitra fez sua entrada no mundo romano. As mais antigas de todas as inscrições foi feita por um liberto dos Flávios nessa época. No decorrer do tempo, Mitra ganhou ao seu serviço um exército de missionários muito diferente e muito mais eficiente. Comerciantes sírios iam e voltavam por todo o mundo romano como lançadeiras em um tear, e levaram o novo culto com eles onde quer que fossem. Escravos e libertos tornaram-se viciados e apoiadores leais. Oficiais do governo, especialmente aqueles pertencentes às fileiras mais humilde, criavam altares a cada oportunidade. Mas, os maiores de todos os propagandistas foram os soldados dos diferentes exércitos romanos. Mitra, que se acreditava amar a visão de brilhantes espadas e bandeiras esvoaçantes, apelava aos soldados irresistivelmente, e eles, por sua vez, eram tão leais a ele quanto a qualquer comandante em campo. O tempo chegou quando quase todos os campos romanos possuíam seu mithreum. Mitra começou bem em baixo, próximo ao chão, mas chegou a hora em que ele reuniu como seguidores os maiores homens sobre a terra. Antonino Pio, sogro de Marcus Aurelius erigiu um templo Mitraico em Ostia, porto da cidade de Roma. Com exceção de Marco Aurélio e, eventualmente, um ou dois outros, todos os imperadores pagãos após Antoninus eram devotos 20 do deus, especialmente Juliano, que era mais ou menos confuso e disposto a assumir qualquer coisa para evitar o crescente poder do cristianismo. Os Padres da Igreja primitiva apelidaram Juliano “O Apóstata”; o insulto não era totalmente justo porque o rapaz nunca tinha sido um cristão sob sua pele. Por que todos esses grandes homens, junto com os filósofos e literatos que obedientemente seguiam o exemplo, assumirama adoração de um deus estrangeiro, importado de entre os sírios odiados, quando havia tantos outros deuses lares fabricados tão à mão? Por que adotaram uma religião que tinham se tornado moda entre escravos e assassinos? A resposta é fácil de descobrir. Mitra era peculiarmente amante de governantes e dos poderosos da Terra. Seus sacerdotes declaravam que o próprio Deus estava à direita de imperadores, dentro e fora do trono. Foram esses sacerdotes que inventaram a boa e velha doutrina do direito divino dos reis. Quanto mais Mitra era adorado pelas massas, mais completo era o controle imperial dessas massas, pois era boa política de negócios para os imperadores dar a Mitra toda a assistência possível. Chegou um momento em que todo imperador era retratado por artistas com uma auréola acima da cabeça; este halo tinha originalmente pertencido a Mitra. Ela representava o esplendor excepcional do jovem e vigoroso sol. Após os imperadores romanos terem desaparecido, os papas e bispos da Igreja Católica Romana assumiram o costume; eles ainda têm o hábito de mostrar seus santos com auréolas. O Mitraísmo espalhou-se para cima e para baixo no mundo, com uma rapidez incrível. Todos ao longo da costa do norte da África e até mesmo no recesso do Saara; através das Colunas de Hércules até a Inglaterra e até a Escócia; através do canal até a Alemanha e os países do norte; e para baixo nas grandes terras ao longo do Danúbio, ele fez seu caminho em todos os lugares. Londres foi em algum momento um grande centro de seu culto. O maior número de mithreas foi construído na Alemanha. Ernest Renan disse uma vez que, se alguma vez o cristianismo tivesse sido cometido de uma doença fatal, o Mitraísmo poderia muito facilmente ter-se tornado a religião oficial de todo o mundo ocidental. Os homens estariam hoje rezando para Mitra, e seus filhos seriam batizados em sangue de touro. Não há aqui espaço para descrever de que maneira o culto tornou-se modificado por sua propagação bem-sucedida por em todo o Império Romano. Ele foi modificado, é claro, e de muitas maneiras profundamente, e ele, por sua vez modificou tudo com que entrou em contato. Aqui está um breve resumo da evolução deste Mistério. Tudo começou em uma época remota entre tribos primitivas iranianas. Ele pegou um corpo de doutrina dos adoradores de estrelas babilônicos, que criaram essa coisa estranha conhecida como astrologia. Ele se tornou um mistério, equipado com poderosos ritos, nos países da Ásia Menor. Ele recebeu uma aparência exterior decente nas mãos de artistas e filósofos gregos, e finalmente se tornou uma religião mundial entre os romanos. O Mitraísmo atingiu o seu apogeu no século II; ele morreu no século IV e desapareceu totalmente no século V, exceto por pedaços de seus destroços recuperados e utilizados por algumas seitas novas, tais como diversas formas de Maniqueísmo. III - A TEORIA MITRAICA DAS COISAS Depois de derrubar o seu odiado rival, a Igreja Cristã primitiva destruiu completamente tudo o que tinha a ver com o mitraísmo que havia sobrado, exceto alguns fragmentos que testemunham o que foi, uma vez uma religião vitoriosa. O pouco que é conhecido com precisão pode ser encontrado devidamente estabelecido e interpretado corretamente nas obras do erudito Dr. Franz Cumont, cujos livros sobre o assunto despertaram a ira da atual hierarquia católica romana que os colocou no Index e alertou os fiéis a se afastarem de seus capítulos da história. Hoje, como no tempo de Mitra, superstições e doutrinas vazias passam apertados quando confrontados com os fatos conhecidos. O Mitraísta piedoso acreditava que por trás do incrível esquema das coisas estava uma divindade grande e irreconhecível de nome Ormuz, e que Mitra era seu filho. Uma alma destinada a esta prisão da carne deixava a presença de Ormuz, descia pelas portas de Câncer, passava pelas esferas dos sete planetas e em cada um deles pegava alguma função ou faculdade para o uso na terra. Após o seu tempo aqui a alma estava preparada por sacramentos e disciplina para a sua re-ascensão após a morte. Em sua viagem de regresso ela 21 passava por uma grande provação do julgamento perante Mitra. Deixando algo para trás em cada uma das esferas planetárias, ela finalmente, passava de volta através das portas de Capricórnio, até a união extática com a grande Fonte de tudo. Também havia um inferno eterno, e aqueles que tinham se provado infiéis a Mitra eram enviadas para lá. Incontáveis deuses e demônios e outros monstros invisíveis assolavam todos os lugares da terra tentando as almas e presidiam as torturas na cova. Através dele todos os planetas continuavam a exercer boa ou má influência sobre o ser humano, de acordo como seu destino tivesse a chance de cair do alto, uma coisa embutida no culto desde seus velhos tempos da Babilônia. A vida de um Mitraísta era entendida como uma longa batalha na qual, com a ajuda de Mitra, ele guerreava contra os princípios e poderes do mal. No início de sua vida de fé, ele era purificado pelo batismo, e através de todos os seus dias recebia a força através dos sacramentos e refeições sagradas. O domingo era reservado como dia santo, e em vinte e cinco de dezembro começava uma época de celebração jubilosa. Os sacerdotes Mitraicos eram organizados em ordens, e eram consideradas como tendo um poder sobrenatural de alguma forma ou outra. Acreditava-se que Mitra tinha vindo uma vez à Terra para organizar os fiéis no exército de Ormuz. Ele lutou com o Espírito de todo o mal em uma caverna, o mal assumindo a forma de um touro. Mitra superou seu adversário e então voltou ao seu lugar no alto, como o líder das forças da justiça, e o juiz de todos os mortos. Todas as cerimônias Mitraicas centravam-se no episódio da matança do touro. Os antigos Padres da Igreja viram tantos pontos de semelhança entre esse culto e do Cristianismo que muitos deles aceitaram a teoria de que o Mitraísmo era uma religião falsa concebida por Satanás para desviar as almas. O tempo provou que eles estavam errados nisso, porque no fundo o mitraísmo era tão diferente do cristianismo quanto o dia é da noite. IV - EM QUE O MITRAÍSMO SE PARECIA COM A MAÇONARIA Escritores maçônicos muitas vezes professaram ver muitos pontos de semelhança entre o mitraísmo e a Maçonaria. Albert Pike declarou certa vez que a Maçonaria moderna é a herdeira dos Antigos Mistérios. É uma afirmação com a qual eu nunca fui capaz de concordar. Há semelhanças entre a nossa Fraternidade e os antigos cultos de mistérios, mas a maioria deles é de natureza superficial, e têm a ver com a externalidades do rito ou organização, e não com o conteúdo interno. Quando Sir Samuel Dill descreveu o mitraísmo como “uma Maçonaria sagrada”, ele usou esse nome em um sentido muito solto. No entanto, as semelhanças são muitas vezes surpreendentes. Somente homens eram admitidos como membros do culto. “Entre as centenas de inscrições que chegaram até nós, não se fala de uma sacerdotisa, ou de uma mulher iniciada, ou mesmo uma doadora”. Nisso o mithrea se diferenciava dos colégios, sendo que este último, embora quase nunca admitisse mulheres como membros, nunca hesitou em aceitar a ajuda ou o dinheiro delas. A participação no Mitraísmo era tão democrática como é com a gente, talvez até mais; escravos eram livremente admitidos e, muitas vezes ocupavam cargos de confiança, como também faziam os libertos de quem havia uma multidão nos últimos séculos do império. A associação era geralmente dividida em sete classes, cada qual com suas próprias cerimônias simbólicas adequadas. A iniciação era a experiência culminante de cada crente. Ele era vestido simbolicamente, fazia votos, passava por muitos batismos, e nos graus mais elevados comia refeições sagradas com seus companheiros. O grande acontecimento da experiência do iniciado era o taurobolium, já descrito. Era considerado muito eficaz, e supunha- se que unisse o adorador ao próprio Mitra.
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