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Resumo Economia Política - Livro Paulo Netto e Marcelo Braz

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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Disciplina : Economia Política
Professor : Marcelo Braz
Aluna : Lorena Alleyne Vannelle
DRE: 118194319
Prova de conhecimento para equivalência de créditos na disciplina.
Resumo de: NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. 8. ed. São Paulo: Cortez, [c2006]. Introdução - cap.8. v.1. pg. 27-196.
Introdução: Economia Política: da origem à crítica marxiana
A Economia Política é uma teoria voltada para a explicação e compreensão da vida social. Abordando questões ligadas diretamente a interesses materiais, demonstra que não é possível haver neutralidade, pois suas teses e conclusões sempre estarão ligadas à interesses de grupos e classes sociais.
A Economia Política clássica
Ao longo dos séculos XVII e XVIII, desenvolveu-se e acumulou-se conhecimento para estruturar a Economia Política. Os maiores representantes da Economia Política clássica são Ricardo e Smith, os quais, apesar das diferenças, se encontram em duas características principais: primeiro, para os dois autores a disciplina não recortava um objeto específico para estudo, descolado da realidade, mas centrava sua atenção às questões relativas ao trabalho, ao valor e ao dinheiro porque à Economia Política interessava compreender o conjunto de relações sociais que estava surgindo na crise do Antigo Regime; e segundo, relativo ao modo como os autores mais significativos da Economia Política entendiam as categorias e instituições econômicas (dinheiro, capital, lucro, salário, mercado, propriedade privada, etc.), como descobertas pela razão humana, instauradas na vida social, permanentes e invariáveis em suas estruturas fundamentais. Tais categorias marcaram a luta da burguesia contra o Estado Absolutista durante o Antigo Regime. A Economia Política, por sua vez, expressou o conjunto principal de ideias da burguesia no período em que esta classe estava à frente das lutas sociais, liderando o processo revolucionário que acabou com o Antigo Regime. A teoria clássica encontrou lugar porque, de forma objetiva, entendeu-se que não havia neutralidade, mas uma defesa de ordem social mais livre e avançada que o feudalismo.
A crise da Economia Política clássica
	Entre os anos de 1825/1830 e 1848, num contexto de alteração da burguesia com a cultura ilustrada – um projeto de emancipação humana conduzido pela burguesia resumido no registro da liberdade, igualdade e fraternidade, se desenvolve um processo que finda com a Economia Política clássica. A emancipação advinda com o fim do Antigo Regime concedeu a emancipação econômica, mas não a emancipação política. Nesse sentido, o proletariado revolucionário entra em choque com a classe da burguesia conservadora. Para os clássicos, a teoria de que o valor do produto é o trabalho derrubou o Antigo Regime e tornou-se uma crítica ao regime burguês, teoria essa que servia também ara explicar a exploração do capital face ao trabalho. Os clássicos desenvolveram a teoria do valor-trabalho pesquisando a vida social e econômica a partir da produção dos bens materiais e não da sua distribuição, sendo assim, tanto a teoria do valor-trabalho quanto a pesquisa da vida social e econômica eram incompatíveis com os interesses da burguesia conservadora e, por isso mesmo, abandonadas por essa classe social após 1848. O que, de fato, resultou na dissolução da Economia Política clássica foram duas linhas de desenvolvimento teórico excludentes: uma, vinculada à ordem burguesa e outra, realizada pelos intelectuais vinculados ao proletariado. Em meio a uma diversidade de escolas advindas de diversos pensadores, construiu-se a ciência econômica, demarcando a total ruptura com a Economia Política clássica.
A crise da Economia Política
	A partir de 1844 até sua morte, Karl Marx muito contribuiu com a organização do proletariado, que rompendo com a burguesia, construiria a emancipação humana. Se dedicando por cerca 40 anos, Marx estudou a teoria social da burguesia e concluiu que o êxito do protagonismo revolucionário do proletariado dependia do seu conhecimento minucioso da realidade social, para compreender a dinâmica do movimento real e objetivo da sociedade capitalista. A teoria social de Marx foi construída a partir da cultura ilustrada e sua crítica demonstrou superação da teoria clássica que rompia com o naturalismo, incluindo um novo método na sua teoria social: o materialismo dialético. E foi através da análise das leis do capital que foi possível para Marx construiu a base para apreender a dinâmica da sociedade burguesa.
A Economia Política marxista
	A crítica da Economia Política clássica realizada por Marx permitiu o conhecimento teórico da estrutura e da dinâmica econômicas da sociedade burguesa. A nossa sociedade continua, até os dias de hoje, subordinada ao capital e, por conta disso, a análise da dinâmica das leis de movimento do capital permanecem válidas. Como ao longo do tempo as teorias de Marx foram alvo de diversas análises utilizando o método dialético, foi possível criar a Economia política marxista. Partindo de Engels, a base desse livro entende que a Economia Política em seu sentido mais amplo é a ciência das leis que regem a produção e a troca dos meios materiais de subsistência humana. Segundo Lênin, o objeto da Economia Política é o estudo das relações sociais que existem entre os homens na produção e na estrutural social da produção e não a produção em si.
Capítulo 1: Trabalho, sociedade e valor
O objetivo da Economia Política é o estudo das leis sociais, as relações próprias à atividade econômica, que é o processo que envolve a produção e a redistribuição dos bens que satisfazem as necessidades individuais ou coletivas dos membros de uma sociedade. Na base dessa atividade econômica se situa o trabalho, o qual torna possível a produção de bens.
1.1 Trabalho: transformação da natureza e constituição do ser social
Trabalho é o que transforma matérias naturais em produtos que atendam às necessidades do homem. Ele se difere das atividades naturais porque, ao longo do tempo ele foi se estruturando e desenvolvendo-se de forma a romper com o padrão natural dessas outras atividades, pois o trabalho: exige instrumentos; exige habilidades e conhecimentos que se transmitem por aprendizado; e suas formas são diversas e atendem a praticamente ilimitadas novas necessidades. O trabalho como instrumento é sempre mediador entre o sujeito e a matéria natural a ser trabalhada. Bem como, tem sempre uma intencionalidade prévia, pois é uma atividade projetada, sem a qual o trabalho não se realiza. O trabalho é também sempre uma atividade coletiva, sendo seu sujeito continuamente inserido num conjunto de outros sujeitos. É esse caráter coletivo do trabalho que se denomina de social. O homem como ser social surge através de um processo histórico denominado trabalho. Esse trabalho é a atividade de seres sociais que se utilizam de formas naturais para transformá-las em produtos, os quais se tornam riqueza social, que é a riqueza produzida pelo ser social.
1.2 Trabalho, natureza e ser social
A sociedade não pode existir sem a natureza e a reprodução da sociedade depende da existência dela, mas a própria natureza pode existir sem a sociedade. E a espécie humana, complexamente diferente e maior que os seres inorgânicos e outros seres orgânicos, que, através do trabalho, constituiu-se como humanidade. O que se denomina como sociedade são os modos de existir do ser social: a sociedade e seus membros constituem o ser social e dele se constitui. Os homens assim se autoproduziram e tornaram-se, além de seres naturais, seres sociais, por meio do trabalho. Esse é o processo da história, como desenvolvimento do ser social num processo de humanização, ou seja, produção da humanidade pela sua autoatividade. Desenvolvimento histórico é então o desenvolvimento do ser social. E quanto mais o homem se humaniza, mais se torna ser social e menos o ser natural é determinante em sua vida. De tal forma, o homem é natureza historicamente transformada, pois o queé propriamente humano reside justamente nessa transformação. O ser social se particulariza pelas seguintes características: realiza atividades teleologicamente orientadas; objetiva-se material e idealmente; comunica-se e expressa-se pela linguagem articulada; trata suas atividades e a si mesmo de modo reflexivo, consciente e autoconsciente; escolhe entre alternativas concretas; e universaliza-se e sociabiliza-se.
1.3 Práxis, ser social e subjetividade
O trabalho constitui o ser social, mas o ser social não se resume exclusivamente ao trabalho, que no ser social desenvolvido, é uma das esferas de objetivação. Já que se verifica a existência de esferas de objetivação, autonomizadas das exigências imediatas do trabalho, como a ciência, a filosofia ou a arte. É a categoria da práxis que denota que o ser social é mais que trabalho. A práxis envolve o trabalho, o qual é o seu modelo, e inclui todas as objetivações humanas. Em dado momento da práxis, também resultam não apenas produtos, obras e valores, mas em algumas condições a criatura passa a dominar o criador, o que gera a alienação mediante o trabalho. A alienação é gerada pela divisão social do trabalho juntamente com a propriedade privada dos meios de produção pela classe dominante. Ela é própria de sociedades nas quais os homens são explorados por outros homens e promovem a regressão do ser social, através do processo de desumanização desse ser explorado e alienado. Nesse sentido, entende-se que o homem social é um processo de construção dado pela subjetividade de cada indivíduo social. Sendo todos os homens iguais em possibilidades de sociabilizarem-se, para a construção da personalidade de cada indivíduo é preciso as mesmas condições de sociabilização.
1.4 Trabalho, valor e “fim da sociedade do trabalho”
É importante não perder de vista a historicidade no tratamento da Economia Política, para que não ocorra a naturalização das relações sociais, dentre as quais, aquelas existentes entre os homens no processo de produção são seu objeto de estudo. É de teoria social que a Economia Política se funda. Para Ricardo, a teoria do valor-trabalho é o valor de uma mercadoria ou a quantidade de qualquer outra pela qual possa ser trocada, dependendo da quantidade relativa de trabalho necessário para sua produção. Esse valor, que é a riqueza nacional, é resultante exclusivamente do trabalho. Já o tempo de trabalho necessário é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário para a sua produção. Entretanto, o preço é o valor da mercadoria expressa monetariamente, nem sempre havendo correlação entre preço e valor. Para a riqueza social, o trabalho é a fonte para o valor. Nos últimos trinta anos a centralidade do trabalho vem sendo posta em questão por algumas correntes das Ciências Sociais por conta da redução de trabalhadores para a produção de bens materiais e o desemprego constante, dando margem para discursos acerca do “fim da sociedade do trabalho”, mas esses dois fatos não autorizam a desconsideração da centralidade do trabalho. A terceirização e a simples assistência social passam a ser as alternativas propostas nessa sociedade burguesa, que não tem como responder de forma progressista e humanizadora para seus problemas intrínsecos.
Capítulo 2: Categorias da (crítica da) Economia Política
Sabemos que a Economia Política estuda as relações sociais no processo de produção dos bens que asseguram sua manutenção e reprodução da vida social, bem como o objeto da Economia Política é histórico, mas precisamos entender que essas duas categorias têm duplo sentido: ontológico e reflexivo (ou intelectivo). Ontológico na medida que existem na realidade e concretamente; e reflexivo porque pelo pensamento racional, da análise teórica, é
aparecem como produto do pensamento.
2.1 A comunidade primitiva e o excedente econômico
O regime social em que viviam os grupos de humanos há cerca de quarenta mil anos atrás pode ser considerado como primitivo, já que os abrigos eram bastante rudimentares, a alimentação era obtida pela coleta de vegetais e da caça eventual, além de serem nômades. A partir da domesticação dos animais e do cultivo da agricultura, há um maior desenvolvimento dessas comunidades primitivas. A grande transformação foi, de fato, a produção de excedentes. Através do excedente econômico, foi possível diminuir a penúria em que viviam, além de possibilitar a acumulação. A partir de então, ocorre uma maior divisão do trabalho e as mercadorias (excedente), possibilitam as primeiras trocas, gerando o comércio. De tal maneira, a possibilidade de acumulação também gera a possibilidade de exploração do trabalho humano, dividindo a comunidade entre produtores diretos dos bens e aqueles que se apropriam dos bens excedentes produzidos pelos produtores diretos. A comunidade primitiva se dissolve e dá lugar para o escravismo.
2.2 Forças produtivas, relações de produção e modos de produção
O excedente econômico sinalizou historicamente o enorme desenvolvimento do processo de trabalho, o qual envolve os seguintes elementos: os meios de produção, os objetos do trabalho e a força de trabalho, quais, juntos, denomina-se forças produtivas. Já o crescimento da produtividade do trabalho depende da força de trabalho e da mobilidade de perícia e conhecimentos. Com o aumento da produtividade, passa-se para a divisão social do trabalho, que se dá a partir de relações sociais, as quais se constituem a partir das relações de produção. Já as relações técnicas de produção (grau de especificação, tecnologias empregadas, etc.) se subordinam às relações sociais de produção, as quais são determinadas pelo regime de propriedade dos meios de produção fundamentais. E é a partir da propriedade privada, na qual as relações são antagônicas, que surgem as classes sociais. A articulação das forças produtivas e relações de produção denomina-se modo de produção. No modo de produção encontra-se a estrutura (ou base) econômica da sociedade, formado por um grupo de instituições e ideias compatíveis com ela, formando a superestrutura, compreendendo fenômenos e processos extra-econômicos. A partir da comunidade primitiva, há um histórico demonstrando que sempre há um modo de produção dominante e outro(s) que já foram substituídos de forma massiva, mas co-existem e por isso utiliza-se a expressão formação econômico-social para designar essa estrutura econômica e social.
2.3 Produção, distribuição e consumo
O estudo está centrado na questão da produção das condições materiais que permitem que a sociedade se mantenha com seus membros produzindo e reproduzindo suas próprias vidas. Mas cientes estamos que a vida social não se resume apenas a esse aspecto. Nesse sentido, a produção de um bem deve ser vinculada aos processos econômico-sociais e, de tal maneira, para que se cumpra a função de um bem ele deve ser distribuído e também consumido. Numa determinada sociedade e num determinado espaço de tempo o conjunto de bens produzidos é chamado de produto social global ou total. A distribuição é a forma pela qual é repartido o produto social global entre os diferentes membros de uma determinada sociedade. Se a propriedade dos meios de produção é coletiva, essa repartição tende a ser igualitária; se a essa mesma propriedade é privada, essa distribuição tende a ser bastante desigual. Nesse sentido, entendemos que as relações de distribuição são determinadas pelas relações de produção. Há também aqueles bens que são consumidos quase que imediatamente e fazem parte da continuidade do processo produtivo, esses são chamados de consumo produtivo. Já o consumo improdutivo designa o consumo de bens que não contribuem para a continuidade do processo de produção. Há também os bens de consumo coletivo, realizados por um grupo de membros da sociedade e o consumo individual, feito por um membro da sociedade.
2.4 O escravismo e o feudalismo
Já vimos que o excedente econômico é o que possibilita e torna compensador utilizar-se do trabalho escravo. E foi através desse modo de produção escravista que foidiversificada a produção de bens e incrementada a produção de mercadoria, estimulado o comércio entre diferentes sociedades. Mas o modo de produção feudal substituiu o modo de produção escravista com a queda do Império Romano. A base da economia era fundada na terra, os feudos, que eram as unidades econômico-sociais desse novo modo de produção, pertenciam aos nobres juntamente com os servos, que eram ligados à terra. A condição de servo a que eram submetidos os camponeses era, mesmo que duramente explorada, distinta da condição de escravo. O senhor lhe protegia a vida e o servo lhe devia prestar serviços, já que o senhor é dono da terra e o servo é “preso à terra”. Já as rotas comerciais dinamizam as atividades comerciais e contribuem para o fim do Antigo Regime feudal. Com o desenvolvimento do comércio estimula-se o consumo que passa a trocar mercadoria por dinheiro; o comércio estimula o surgimento das cidades e, nesse momento uma classe começa a ganhar importância: os comerciantes/mercadores. A partir do século XVI os grandes comerciantes dentro de uma determinada conjuntura política e econômica, associados ao povo, derrotam o feudalismo através de uma revolução. Esses grandes comerciantes são conhecidos como a classe burguesa.
2.5 A crise do feudalismo e a Revolução Burguesa
A crise do feudalismo inicia-se no século XIV e vai até o final do século XVIII. A produção que estava fundamentando o regime feudal, agricultura e pecuária, ficou comprometida, pois as terras já estavam esgotadas, as novas terras para cultivo tiravam espaço das terras para pecuária, os recursos técnicos eram precários para expandir a mineração de prata bem como a peste-negra dizimou cerca de ¼ da população europeia. Com tantas dificuldades, as lutas entre as classes fundamentais tornam-se cada vez mais acirradas, no campo político, fortalece-se o poder nas mãos do rei e diminui-se o poder dos senhores feudais e, economicamente, aumenta o poder dos grupos de comerciantes e mercadores. Nesse momento o Estado Absolutista era um bom regime para o conjunto de senhores feudais e também facilitava o comércio. Mas no momento em que se iniciam as grandes navegações, comércio se expande ainda mais e os camponeses não mais suportam os encargos a pagar, começam as exigências de uma mudança social e política. Todo esse cenário político, econômico e social associado a revoltas e à crescente estrutura da burguesia desencadeiam na Revolução Burguesa em 1789, na França, quando a burguesia lidera o povo para acabar com o Antigo Regime, apresentando-se o modo de produção capitalista (MPC), fundado no ventre do feudalismo.
Capítulo 3: Produção de mercadorias e modo de produção capitalista
Este capítulo tem como intenção o entendimento de alguns elementos teóricos e históricos para a compreensão da historicidade daquilo que, em muitos casos, nos parece algo natural, quando é, na realidade, algo socialmente construído.
3.1 Mercadoria e produção mercantil
Mercadoria é um objeto externo ao homem e que satisfaz as necessidades humanas, seja material ou espiritual, e sua utilidade faz dela um valor de uso que, vem também, sempre associada ao seu valor de troca. A existência da sociedade sempre depende da produção de valores de uso (e valores de troca). Para que haja mercadoria, é necessário atender a duas condições de forma concomitante: existência da divisão social do trabalho e existência de propriedade privada dos meios de produção. E apenas o modo de produção capitalista é também um modo de produção de mercadorias.
3.2 Produção mercantil simples e produção capitalista
	De forma geral, a produção mercantil surgiu sob o escravismo e desenvolveu-se durante o período feudal. Ela se assentava sob duas condições absolutamente necessárias: a divisão social do trabalho e a propriedade privada dos meios de produção. Basicamente, esse sistema de produção era baseado na troca com uso do dinheiro apenas como câmbio, com uma dinâmica mais localizada e que os vendedores conheciam as demandas dos seus compradores. A partir do momento em que a demanda de mercadoria passa a ser aumentada, juntamente com a expansão do uso do dinheiro, afastam-se os vendedores dos compradores e, esse intermeio, passa a ser feito pelos comerciantes. Estes, por sua vez, buscavam comprar as mercadorias por um preço mais baixo e vendê-las por um preço mais alto. Já a produção capitalista, além das duas condições básicas da produção mercantil, se particulariza pela exploração da força de trabalho para garantir o lucro, ao mesmo tempo que introduz dois sujeitos historicamente demarcados: o capitalista (ou burguês), que é quem faz a exploração da força de trabalho e detém os meios de produção e o trabalhador (ou proletário), que é quem vende sua força de trabalho, ou seja, para essa dinâmica acontecer, a produção capitalista envolve o trabalho assalariado. Capitalista é o representante do capital e proletário o representante do trabalho. Quando se passa a entender que até a força de trabalho pode se tornar mercadoria, abre-se a possibilidade de mercantilizar o conjunto das relações sociais. Nesse sentido, o modo de produção capitalista universaliza a relação mercantil.
3.3 A acumulação primitiva
Para que o modo de produção capitalista de desenvolva é preciso que duas classes sociais, a burguesa, que tem recursos para comprar a força de trabalho como mercadoria e, a proletária, que possui apenas sua força de trabalho para vender, se encontrem. Foi dessa forma que foi sendo gestada a acumulação primitiva, desde o interior do regime feudal, quando se criaram condições ideais para o surgimento da relação capital/trabalho.
3.4 Valor e dinheiro
	
	O valor de uma mercadoria é igual à quantidade de trabalho média para sua produção, ou seja, o trabalho socialmente necessário. Ao longo da história, uma mercadoria passou a representar o valor de outras mercadorias e, no momento em que as trocas de mercadorias se intensificaram, o dinheiro passou a ser utilizado como essa “mercadoria” de troca. Quando o valor de uma mercadoria é expressa em dinheiro, tem-se o seu preço. Em maiores proporções de produção e comércio, o dinheiro passa a funcionar como: equivalente geral, meio de troca, medida de valor, meio de acumulação ou entesouramento e meio de pagamento universal.
3.5 A lei do valor
	O preço expressa o valor, mas não se identifica come ele. Já a lei do valor é um marco na produção mercantil, pois passa a regular as relações econômicas quando a produção mercantil, no capitalismo, se universaliza. Essa lei do valor é quando as mercadorias são trocadas conforme a quantidade de trabalho necessário investido para sua produção. Mas não há produção realizada de forma consciente entre os capitalistas, que estão em busca de produzir de forma desenfreada para obter lucros. Por isso é a concorrência que aciona a lei do valor, causando uma ordenação da produção social.
3.6 O fetichismo da mercadoria
	O fetichismo da mercadoria é, para Marx, quando a produção, na sociedade capitalista, se universaliza de tal forma que chega ao seu nível máximo, ou seja, quando as próprias relações sociais tomam a aparência de relações entre mercadorias. Na medida em que a produção é regulada de forma independente de cada produtor (o qual só se confronta com o caráter social do seu trabalho no momento da venda, quando ocorre a concorrência entre produtores), o movimento das mercadorias se apresenta de forma independente. Nesse sentido, as mercadorias criadas pelos homens lhes dominam e os seus criadores são subordinados a elas. A partir desse momento, o que importa nessa sociedade são as coisas, as mercadorias, é a reificação, é o ter em detrimento do ser.
Capítulo 4: O modo de produção capitalista: a exploração do trabalho
	O modo de produção capitalista (MPC) é um sistema que podemos considerar planetário, já que não encontra concorrência em regimes externos à sua própria dinâmica e se funda na exploração do trabalho.
4.1 Lucro: o objetivo da produção capitalista
	O objetivo específico da ação capitalistaé a partir do dinheiro, produzir mercadorias para conseguir mais dinheiro. Independente de ideologias moralizadoras sobre os sujeitos sociais, capitalistas e empresas capitalistas existem e somente podem existir se o lucro for o objetivo primordial. Aqueles que, intencionalmente ou não, deixarem de alcançar esse objetivo, serão liquidados. No entanto, não é a simples diferença de valores entre comprar uma mercadoria mais barata e vendê-la mais cara que interessa ao capitalista, mas o processo de produção P que ocorre, com um acréscimo de valor na mercadoria produzida M’, que se concretiza a partir do excedente econômico, apropriado pelo capitalista, que é a fonte de seu lucro e denominada como mais-valia.
4.2 A produção capitalista: produção de mais-valia
	Uma parte D de capital é investida na aquisição dos meios de produção M, os quais não criam valores no processo de produção P, apenas transferem seu valor à mercadoria produzida M’. O valor que se investe nas mercadorias é o capital constante C. Uma outra parte de D é investida na compra da força de trabalho dos proletariados – capital variável v -, que é um tipo de mercadoria especial, já que cria valor. Nesse sentido, o capitalista compra a força de trabalho pelo seu valor de troca (o salário), adquirindo o direito de utilizar dele por um determinado período de tempo (jornadas de trabalho). Quando a mercadoria M’, que foi produzida, é vendida, a mais-valia se realiza e o capitalista obtém D’. A mais-valia é criada a partir da força de trabalho que se denomina de trabalho vivo. A relação entre o capital constante c dividido pelo capital variável v é a composição orgânica do capital q, o qual pode ser alto ou baixo dependendo da proporção de um e de outro.
4.3 Salário e trabalho concreto/abstrato
	Salário é o preço da força de trabalho comprada como mercadoria, pelo capitalista, e tal preço é regido pela lei do valor, fazendo-o flutuar para cima ou para baixo. Com frequência os capitalistas querem pagar apenas pelo valor das necessidades fisiológicas da força de trabalho, garantindo sua reprodução. São as organizações da classe trabalhadora que evitam que os salários caiam abaixo do seu valor e que também as necessidades de natureza histórico-social possam ser satisfeitas. Cada tipo de trabalho é realizado de forma diferente, por pessoas diferentes, resultando em dois tipos de trabalho: trabalho concreto e trabalho abstrato. O concreto é aquele que cria valor de uso, o chamado valor útil. Já o trabalho abstrato é aquele que dispende energia física e psíquica, é o trabalho de forma geral. Entretanto, todo trabalho contém parte de trabalho concreto e parte de trabalho abstrato.
4.4 A exploração do trabalho
Durante a jornada de trabalho, o tempo de trabalho se divide em duas partes: o tempo de trabalho necessário, que é aquele em que o trabalhador produz valor correspondente à sua reprodução e o tempo de trabalho excedente, que acontece quando ele produz o valor excedente (a mais-valia). O objetivo do capitalista, portanto, é a ampliação máxima do trabalho excedente. Quando, para isso, ele se utiliza do aumento da jornada de trabalho sem alteração do salário, trata-se da produção da mais-valia absoluta. No entanto, quando o capitalista investe em tecnologia e inovação para reduzir o tempo de trabalho necessário, significando reduzir o valor da força de trabalho (reduzindo o valor dos bens necessários para sua reprodução), produção de mais-valia relativa. Quando essas inovações ocorrem de forma generalizada, a força de trabalho tende a ter o seu valor reduzido de forma geral. A tendência da pauperização dos trabalhadores é diretamente proporcional à produção de mais-valia: quando absoluta, a pauperização tende a ser também absoluta; quando relativa, a pauperização tende a ocorrer também de forma relativa, com exploração, mas sem aviltação dos seus padrões de vida.
4.5 O capital comanda o processo de trabalho
	Dentro do processo de produção há a criação de valor, ocorrida durante o tempo de trabalho necessário, e o processo de valorização do capital, produzida no tempo de trabalho excedente. O capitalista então controla o processo de trabalho para poder incrementar o excedente. O capitalista comanda o processo de trabalho na medida quando se introduz a divisão social do trabalho na produção. Assim, ao dividir o processo de trabalho de forma a especializá-lo, abre-se espaço para os trabalhos femininos e infantis, pois seriam de menor complexidade na execução. Com a introdução das máquinas da grande indústria o trabalhador passa a ser um apêndice das máquinas, o que aprofunda ainda mais a divisão do trabalho para o capitalista: a divisão entre a concepção dos processos produtivos e a sua execução, abrindo espaço para a separação entre a propriedade e a gerência/administração dos meios de produção.
4.6 Trabalhador coletivo e trabalho produtivo/improdutivo
Trabalhador coletivo é uma expressão para designar o conjunto de envolvidos na produção, desempenhando atividades manuais ou não. E quanto mais se desenvolve a produção capitalista, mais se expande as fronteiras do trabalhador coletivo. O problema advindo dessa dinâmica está relacionada às categorias de trabalho, produtivo e improdutivo, que surgem, o que nada se compara ao julgamento de algo como bom ou ruim. Trabalho produtivo ou improdutivo é aquele que gera ou não produção material, em termos de utilidade ou necessidade social. E o que de fato determina o caráter produtivo ou não de um trabalho é o fato dele criar valor que possa ser apropriado por capitalistas, aquele que aumenta a massa global de valor.
4.7 A repartição da mais-valia
	O processo de produção tem o objetivo de gerar a mais-valia, que é o excedente apropriado do trabalhador pelo capitalista. A mais-valia se divide em três partes: lucro industrial, que é a parte apropriada pelo capitalista dentro do processo produtivo; o juro, que é a parte que o capitalista industrial cede aos que lhe emprestaram dinheiro, e nesse caso, os banqueiros obtêm os lucros; e o lucro comercial, que é cedida aos comerciantes.
4.8 A distribuição da renda nacional
	Já sabemos que a distribuição da riqueza social está determinada pelo regime de produção e, na sociedade burguesa, essa distribuição é determinada pelo capital e em detrimento dos trabalhadores. Uma parcela do produto social global, o capital constante, repõe o valor dos meios de produção utilizados; a outra parcela, que é o capital variável e a mais-valia, é o novo valor criado. Essa parcela resultante do trabalho produtivo constitui a renda nacional. E a renda nacional se divide em duas partes: o salário que cabe aos trabalhadores e a mais-valia que é apropriada pelos capitalistas. Esta é a divisão primária da rena nacional, a qual se reparte entre as classes fundamentais da sociedade burguesa. A divisão secundária ocorre entre as camadas sociais intermediárias (que estão entre a burguesia e o proletariado), dividindo o que restou da divisão primária entre os que recebem os pagamentos pelos serviços que prestam. Normalmente, através do orçamento público, o Estado, durante o estágio imperialista, torna-se o principal responsável pela divisão da renda nacional. E compõe o fundo público os impostos, diretos e indiretos. Na medida em que o Estado é comandado pelos interesses do capital, a destinação do fundo público atende, principalmente, a tais interesses, fazendo com que o orçamento geral repasse a renda dos trabalhadores à produção capitalista e aos segmentos produtivos em detrimento dos eventuais serviços públicos, por exemplo.
Capítulo 5: A acumulação capitalista e o movimento do capital
	A forma histórica de produção é também forma de sua reprodução e o modo de produção capitalista se particulariza pela acumulação de capital, sem a qual esse modo de produção não existiria.
5.1 A reprodução ampliada: a acumulação de capital
	Quando toda a mais-valia é utilizada para dar continuidade ao processo de produção, ocorre a reprodução simples. No entanto, como é o caso no MPC, a reproduçãoé ampliada, pois parte da mais-valia é empregada para cobrir gastos pessoais e outra parte é reconvertida em capital, utilizada para ampliar a escala de produção de mercadorias. Essa conversão de mais-valia em capital é chamada de acumulação de capital. Como a acumulação de capital ocorre mediante a exploração da força de trabalho, quanto maior e exploração, maior a mais-valia e maior a acumulação. Dois outros elementos que influenciam no processo de acumulação são: o aumento da produtividade do trabalho, que é capaz de acelerar a acumulação e a quantidade de capital investido, que quanto maior for, maior a acumulação.
5.2 O movimento do capital
O movimento do capital não termina na produção. Inicialmente, ele tem a forma de dinheiro, quando é investido para comprar meios de produção e força de trabalho para produzir mercadorias. Com isso, ele se transforma de capital monetário em capital produtivo, saindo da esfera da circulação e entrando na esfera da produção. Nesse momento os trabalhadores assalariados operam os meios de produção e produzem novas mercadorias, criando valores excedentes (mais-valia). No entanto, só fazem sentido para o capitalista se as novas mercadorias são vendidas, ou seja, quando a mais-valia se realiza. De tal maneira, sendo realizadas, tomam novamente a forma de capital monetário e retorna à esfera de circulação. Esses dois momentos do capital na circulação e na produção configuram-se como a chamada rotação do capital. O interesse do capitalista é sempre que o tempo de rotação do capital seja o menor possível.
5.3 Concentração e centralização
No processo de acumulação de capital os capitalistas exploram a força de trabalho e ainda competem entre si. Ou acumulam, ou desaparecem. Nesse sentido, aqueles que mais acumulam, enfrentam melhor a concorrência. E, para enfrentá-la é necessário diminuir os custos com a produção e, por esse motivo, são estimuladas as inovações tecnológicas. Nesse sentido, a tendência do capital é concentrar-se, pois quanto maior a massa de capital, mais se produz mais-valia e com maior mais-valia, maiores são os capitalistas. Além da concentração de massa de capital, está também a tendência da centralização, que ocorre pela fusão de vários outros capitais, como é o caso dos cartéis, trustes e holdings. De forma conjunta, a concentração e a centralização estimulam o surgimento dos monopólios. Dessa maneira, o capital nunca se estaciona, os pequenos capitalistas são derrotados e cada vez tomam mais espaço os grandes capitalistas.
5.4 A acumulação capitalista e os trabalhadores
	Essa acumulação de capital tem grande impacto sobre a classe trabalhadora, pois os grandes monopólios são os responsáveis pelo Engels denomina de exército industrial de reserva, que é uma grande massa de trabalhadores desempregados, o que é um componente necessário e constitutivo da dinâmica histórico-concreta do capitalismo. Esse exército é, até mesmo, uma formação intrínseca ao MPC. No entanto, não é somente o desemprego que atinge os trabalhadores, mas também os processos de pauperização, que pode ser absoluta ou relativa. A pauperização absoluta acontece quando as condições de vida e de trabalho dos proletariados é extremamente degradante de forma geral: queda dos salários, dos níveis de alimentação e moradia, aumento do ritmo de trabalho e do desemprego. A pauperização relativa ocorre mesmo quando as condições de vida dos trabalhadores melhoram em padrões de alimentação e moradia, e se caracteriza pela redução da parte total dos valores criados que cabe aos trabalhadores, aumentando a parte apropriada pelos capitalistas.
5.5 Acumulação capitalista e “questão social”
	Na sociedade fundada no MPC a produção é também reprodução, já que a produção traz em si os elementos que, ao final de cada fase produtiva, lhe permite reiniciar-se. Nesse sentido, a produção capitalista é mais que produção e reprodução de mercadoria e de mais-valia, mas também de relações sociais. Em resumo, a reprodução capitalista somente é viável se reproduz também as relações sociais que põem frente a frente capitalistas e proletários. Assim, ao final de cada processo produtivo encontram-se não apenas um conjunto de novas mercadorias, mas também as relações sociais que ali estavam no início do processo produtivo, defrontam-se assim capitalistas e proletários, como é necessário para a produção capitalista se inicie. A partir dessa dinâmica do MPC, ocorre uma polarização da acumulação de um lado e, de outro, uma imensa concentração de pobreza. De tal maneira, a acumulação de capital corresponde à acumulação de miséria. Pela análise teórico-histórica da acumulação, essa é a lei geral da acumulação capitalista. É claro que há variantes na análise da relação riqueza/pobreza nas mais diversas economias nacionais, mas o fato é que os elementos constitutivos que perduram no MPC são o exército industrial de reserva e a polarização, seja em maior ou menor grau, mas sempre presente, de riqueza social e pobreza social. Nesse sentido, a chamada “questão social”, que aparece em 1830, surge como decorrência da lei geral da acumulação capitalista. E por mais que existam novas dimensões e expressões da questão social com o avanço da acumulação capitalista e também das próprias mudanças do capitalismo, não existe uma nova questão social em si. E cogitar sua solução mantendo-se o MPC seria impossível.
Capítulo 6: Mais-valia, lucro e queda da taxa de lucro
	Entendemos que o objetivo da ação capitalista é obter o lucro. No entanto, o movimento do capital só faz sentido quando compreendido em escala social analisando a classe capitalista e o circuito que vai desde a produção até a venda das mercadorias, ou seja, da sua realização. Veremos, a partir de agora, as contradições que tensionam o MPC.
6.1 A mobilidade do capital: a taxa média de lucro
	A rotação do capital é a dinâmica de movimentação do capital, mas esse movimento não se reduz somente a essa rotação. A função dos capitalistas é da repartição da mais-valia entre capitais específicos: industriais, comerciais e banqueiros. Há concorrência entre eles e também dentro de cada dos grupos entre si, pois sem a concorrência não existe capitalismo. Todos querem obter mais lucro, mas as taxas de lucro sofrem variações tanto em empresas do mesmo ramo, como em empresas de ramos diferentes. E pela diferenciação orgânica do capital investido, há iguais investimentos totais com taxas de lucros diferentes. Dentro da dinâmica capitalista o que ocorre é que em pouco tempo as taxas de lucro de todas as empresas se nivelam, pois o fenômeno é o que migração de capitais para os setores mais avançados da economia, acarretando uma taxa média de lucro.
6.2 Preço de produção e mercado
O que importa para a sociedade não é o tempo de trabalho vivo que é gasto para a produção de uma mercadoria particular e sim o tempo de trabalho socialmente necessário. Quanto ao preço dessa mercadoria, ele se difere de valor, pois o primeiro é a expressão monetária do segundo e pode variar com relação a ele. No entanto, historicamente, os preços tendem a se aproximarem dos valores. Mas o preço de produção vem do nivelamento da taxa de juros. E, tomados em conjunto, as somas dos preços de produção equivalem à soma dos valores de todas as mercadorias. Há também o papel do mercado, a chamada lei da oferta e da procura, que define os valores das mercadorias. Essa necessidade social é que regula o princípio da procura. Po conta disso, o preço de mercado nem sempre coincide com o preço de produção. Nesse sentido, podemos dizer que a ação da oferta e da procura tende a alinhar o preço de mercado ao preço de produção.
	
6.3 A tendência à queda da taxa de lucro
	Entendendo que a teoria social deve ser compreendida pela dinâmica da totalidade social, identificamos que a sociedade não é a soma dos seus membros, mas é o sistema de relações que se estabelece entre eles. Nesse sentido, as tendências do movimento social resultam de realidades que não eram previstas pelos membros da sociedade. De forma singular,a realização da vontade de cada um dos sujeitos resulta em processos globais inteiramente opostos aos fins objetivados pelos sujeitos singulares. Percebe-se o paradoxo: o movimento particular de cada capitalista coíbe o interesse da classe capitalista como um todo, pois a medida que cada capitalista individualmente procura maximizar seus lucros, a taxa de lucro tende a cair de forma geral. Isso revela o fenômeno no qual o desenvolvimento da própria produção capitalista há obstáculos que limitam sua expansão. A classe burguesa, entretanto, utiliza-se de meios que operam como contra-tendências desses obstáculos que limitam sua expansão e, consequentemente, à queda da taxa de lucros. São eles: o barateamento do capital constante, a elevação da intensidade da exploração, a depressão dos salários abaixo do seu valor, o exército industrial de reserva e o comércio exterior.
Capítulo 7: As crises e as contradições do capitalismo
	O desenvolvimento do capitalismo é a história de uma sucessão de crises econômicas. E a análise teórica e histórica do MPC comprova que a crise não acontece de forma aleatória ou por acaso. Também não é uma anomalia, mas uma expressão concentrada das contradições inerentes ao MPC como constitutiva do capitalismo.
7.1 As crises capitalistas e o ciclo econômico
	Entender que as crises são elementos constitutivos do capitalismo não significa naturalizar a crise econômica, mas é entender como as ideologias burguesas buscassem transformar as crises em algo totalmente imprevisível. A realidade é que, sob o domínio capitalista, as crises são inevitáveis, mas é possível e viável uma organização da economia estruturalmente distinta da organização capitalista, aí sim capaz de suprimir as causas das crises. As crises próprias do MPC são diferentes das crises de subprodução de valores de uso, pois na crise capitalista ocorre exatamente o oposto: é a redução da produção que resulta na diminuição da força de trabalho utilizada (o desemprego), evidenciando que aquilo que é causa em outras crises, na crise capitalista é efeito. A crise capitalista é assim a expressão do caráter particularmente contraditório dado pela acumulação do capital. Entre uma crise e outra, ocorre o chamado ciclo econômico, o qual tem quatro fases: a crise, que pode ser detonada por qualquer incidente econômico ou político; a depressão, caracterizada pelo desemprego e os salários mantidos como na fase de crise, mercadorias estocadas, destruídas ou vendidas a baixo preço, além das empresas que sobrevivem procurando investir em tecnologias; a retomada, quando as empresas que sobreviveram absorvem as que quebraram, começam a produzir mais, o comércio se reanima, as mercadorias escoam, os preços se elevam e diminui o desemprego; e a fase do auge, quando a concorrência leva os capitalistas a investir nas suas empresas, fazem as chamadas inversões e produção é altamente alargada. Até que um incidente político ou econômico ocorre e o ciclo econômico é reiniciado.
7.2 As crises: pluralidade e função
	As crises capitalistas são o resultado da dinâmica contraditória do MPC, com uma multiplicidade de contradições que constituem o MPC e convergem nas crises. São elas: a anarquia da produção, com a produção capitalista não obedecendo nenhum planejamento ou controle global, inundando o mercado de mercadorias com destinação incerta; a queda da taxa de lucro, resultante da resposta da maioria dos capitalistas que contraria a intencionalidade de cada um deles; e o subconsumo das massas trabalhadoras, dado pelo desequilíbrio entre a enorme quantidade de mercadorias e a possibilidade de realização pela massa trabalhadora. A contradição principal de todas as crises é sempre a pobreza e a restrição ao consumo das massas diante do impulso da produção capitalista. Não são essas as únicas causas das crises do capitalismo, mas certamente são relevantes para que as crises ocorram. É através das crises que se realiza a queda da taxa média de lucro, ao mesmo tempo que essas mesmas crises constituem a reação do capitalismo contra essa queda. Nesse sentido, as crises podem ser entendidas como funcionais, possibilitando que o MPC restaure as condições necessárias à continuidade do sistema capitalista, por isso elas não conseguem destruir com o capitalismo, mas estimulam sua vigência.
7.3 As contradições do capitalismo
	É certo que as crises não interessam a nenhum sujeito social que exista na sociedade burguesa, mas o fato é que seus impactos atingem de forma diferenciada cada uma das classes sociais, não tendo o mesmo custo para todos os sujeitos. Entretanto, as crises são inelimináveis, pois expressam o caráter contraditório do MPC, como vimos anteriormente. Nesse sentido, todas as contradições que vimos até agora derivam da contradição fundamental do MPC que é a contradição entre a produção socializada e a apropriação privada. Enquanto a produção é socializada, até mesmo em escala mundial, a apropriação continua a ser privada dos donos dos meios de produção. Essa contradição revela o antagonismo entre o proletariado e burguesia. Sendo a solução para essa contradição a substituição do MPC por uma transição socialista protagonizada politicamente pelos trabalhadores. Enquanto essa solução não se efetiva, o capitalismo continua avançando com seus conjuntos de contradições e gerando ainda novas contradições em fases mais avançadas.
Capítulo 8: O imperialismo
Todas as transformações ocorridas no âmbito do sistema capitalista convergiam para avançarem em um novo estágio do sistema que predomina ao longo do século XX, denominado, como imperialismo, consensualmente pelos críticos da Economia Política.
8.1 A evolução do capitalismo
Primeiramente, inicia-se a fase de acumulação primitiva do capital, passando para o estágio mercantil ou comercial, no qual os protagonistas foram os mercadores e comerciantes, entre os séculos XVI e XVIII. No período das Grandes Navegações o capital assume a tendência da mundialização e a partir da segunda metade do século XVIII começa um novo estágio que se estende até o século XIX. O capitalismo vai se consolidando nos principais países da Europa Ocidental, impondo suas dinâmicas e relações econômicas, políticas e sociais com base na grande indústria, na urbanização e no mercado mundial. É o capitalismo concorrencial, chamado assim no período em que se estabelecem integrações comerciais ao nível internacional, acentuando as desigualdades entre os países. Nessa fase do capitalismo surgem as lutas de classes modernas, fundadas nas contradições entre capital/trabalho, com os primeiros protestos e greves dos proletariados. Em resposta, a burguesia responde com inovações tecnológicas. O Estado restringia suas ações, mas assegurando as condições de acumulação de capital, mantendo a ordem e garantindo a propriedade privada. A partir de 1848, os proletários tomam consciência dos antagonismos entre as classes burguesa e trabalhadora e encontram formas de articulação internacional, transformando-se de “classe em si” para “classe para si”. Após 1848 a classe burguesa se torna mais conservadora, com foco na manutenção da propriedade privada. Alguns grupos burgueses mais lúcidos compreenderam que apenas a repressão aos movimentos operários seriam inúteis e assim a burguesia aceita reformas sociais para controlar e manter a ordem, auxiliando na exploração e na acumulação do capital.
8.2 A transição a um novo estágio
O surgimento dos monopólios e a modificação do papel dos bancos foram os dois processos, dentro do plano da economia, que se foram bastante importantes. Teoricamente, o surgimento dos monopólios não foi uma novidade, mas na efetividade da vida econômica, houve grande impacto, pois em poucas décadas gigantescos monopólios centrados na indústria pesada ultrapassariam as fronteiras nacionais e estenderiam sua dominação sobre enormes regiões de todo o mundo. Nesse sentido, surgem as formas de controle específico das atividades econômicas como o cartel, o sindicato, o truste, entre outras, que, uma vez estruturados, modificama fisionomia do capitalismo. E de forma paralela e, quase que simultânea, houve a mudança do papel dos bancos, que passaram a controlar as gigantes massas monetárias disponibilizadas para empréstimos. Os bancos passaram assim de intermediários de pagamentos a associados de capitalistas industriais. Assim, o surgimento dos monopólios industriais é acompanhado pela monopolização também no âmbito do capital bancário. A fusão dos capitais monopolistas industriais com os bancários formaram o capital financeiro, o qual ganha destaque no terceiro estágio de evolução do capitalismo: o estágio imperialista.
8.3 O estágio imperialista
O estágio imperialista do capitalismo inicia-se nas últimas décadas do século XIX e o capital financeiro passa a ter papel muitíssimo importante. Entende-se, a partir de Lênin, que o imperialismo tem as seguintes características: concentração da produção e do capital em um nível gigantesco criando os monopólios, os quais desempenham papel fundamental na vida econômica; fusão do capital bancário e do capital industrial, resultando no capital financeiro e fazendo surgir a oligarquia financeira; exportação de capitais; formação de associações internacionais monopolistas de capitalistas, que partilham o mundo entre si; termo de partilha do mundo entre as potências capitalistas mais importantes. No tocante à exportação de capitais, esta se realiza de duas formas: capital de empréstimo, quando capitalistas concedem, a juros determinados, créditos a governos ou capitalistas de outros países; capital produtivo, quando capitalistas implantam indústrias em outros países. Buscando o lucro máximo, estabelece-se uma relação de domínio e exploração entre credor e devedor. Os Estados monopolistas onde o capitalismo monopolista se desenvolve e cujos interesses representam, tornam-se Estados imperialistas e promovem uma verdadeira partilha do mundo. Essa partilha mundial tomou a forma de recolonização. Tal partilha foi posta em questão em 1914, durante a Primeira Guerra Mundial e também foi a expressão da eclosão de conflito para a Segunda Guerra Mundial.

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