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CAPÍTULO 3 Educação SExual E dEficiência intElEctual A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Refletir sobre o processo da educação sexual na escola do deficiente intelectual. 3 Discutir concepções de sexualidade na deficiência intelectual. 3 Abordar a descendência e o matrimônio de pessoas com deficiência intelectual. 52 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual 53 Educação SExual E dEficiência intElEctual Capítulo 3 Diferente da sexualidade dos adolescentes tidos como normais, a sexualidade dos deficientes não é um tema esclarecido nas salas de aula e nem é comumente tido como assunto em debates ou palestras. (MACEDO; TERRASSI, 2009). contExtualização O sexo na Idade Média era tido como pecado, com fim apenas de concepção em virtude dos dogmas religiosos. Essa compreensão do sexo no ocidente vem se alterando lentamente e culmina com a revolução sexual dos anos de 1960 e 1970, com o advento da pílula anticoncepcional e outros métodos de prevenção da gravidez. Com o surgimento da AIDS, nos anos de 1980, a questão sexual entra em debate e agora já não se trata apenas de prevenção contra gravidez e sim uma questão de saúde e risco de morte. Quando se trata da sexualidade da pessoa com deficiência intelectual, inúmeras dúvidas surgem. Diante disso discutiremos no decorrer dos capítulos como esses processos vêm se desdobrando, com todas as implicações do desenvolvimento da esfera social, que acaba influenciando a esfera privada. Outro ponto em discussão será o matrimônio entre pessoas com deficiência intelectual, que gera a preocupação por parte dos familiares quanto à questão da descendência que esses sujeitos irão gerar. Boa leitura! Educação SExual: dEficiência intElEctual, família E EScola Afinal, como debater na família e na escola sobre a educação sexual e os processos da sexualidade para a pessoa com deficiência intelectual? Pois, “Diferente da sexualidade dos adolescentes tidos como normais, a sexualidade dos deficientes não é um tema esclarecido nas salas de aula e nem é comumente tido como assunto em debates ou palestras.” (MACEDO; TERRASSI, 2009). Nesse aspecto, a educação sexual na escola torna-se uma tarefa complexa, pois traz em questão preceitos religiosos, falta de conhecimento e vergonha por parte das próprias famílias, deixando a escola numa posição vulnerável. É importante compreendermos como vem sendo discutido a sexualidade em ambientes familiares e escolares. Além disso, vamos refletir sobre como a escola aborda o tema para as pessoas com deficiência intelectual, sobre a forma como ocorre à sexualidade nesses sujeitos e suas implicações no cotidiano. Conforme Foucault (1998, p.9), 54 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual O termo sexualidade surgiu no século XIX, marcando algo diferente do que apenas um remanejamento de vocabulário. O termo sexualidade surgiu no século XIX, marcando algo diferente do que apenas um remanejamento de vocabulário. O uso desta palavra é estabelecido em relação a outros fenômenos, como o desenvolvimento de campos de conhecimento diversos; a instauração de um conjunto de regras e de normas apoiadas em instituições religiosas, judiciárias, pedagógicas e médicas; mudanças no modo pelo qual os indivíduos são levados a dar sentido e valor à sua conduta, desejos, prazeres, sentimento, sensações e sonhos. O termo já existe há muito tempo e tem outras implicações que não apenas uma referência ao contorno sexual, ao sexo em si, mas uma implicação de construção histórica e social. A sexualidade, nos Parâmetros Curriculares Nacionais – Pluralidade Cultura e Orientação Sexual, é entendida como uma concepção biológica inerente ao ser humano está na sua subjetividade, faz parte de suas vidas e deve ser encarada com naturalidade. É preciso desmistificar a relação sexual como um ato pecaminoso e abominável. Sobre isso, salienta Ballone (2008) que é importante lidar com questões sexuais como um instrumento de relacionamento, e não somente ao ato sexual. Diante disso, as famílias devem buscar um entendimento sobre a sexualidade das pessoas com deficiência intelectual, respeitando sua privacidade. Numa perspectiva histórico-cultural, a família tende a imprimir, geralmente, aos portadores de deficiências, a ideia de que são incapazes, inábeis, inseguros e assim vão sendo “educados” para serem indefesos, dependentes e até considerados por alguns como assexuados e desinteressantes (TOLEDO 2000 apud MACEDO; TERRASSI, 2009, p. 205) Ao tratar da sexualidade devemos considerar a questão do preparo do corpo, a idade que é mais adequada para o início de uma relação sexual e todas as implicações que podem vir com o início das relações sexuais, como gravidez não desejada e Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s). O texto a seguir irá auxiliá-lo no entendimento da crença da sexualidade relacionada à deficiência intelectual 55 Educação SExual E dEficiência intElEctual Capítulo 3 Algumas das crenças mais comuns, relacionadas à sexualidade e deficiência: Crença 1: jovens com deficiência não são sexualmente ativos. Embora alguns adolescentes, com deficiência profunda possam ser menos aptos que seus pares para serem sexualmente ativos, a crença é infundada, pois não se deve assumir que a condição de deficiência por si só preveja o comportamento sexual. Crença 2:as aspirações sociais e sexuais de pessoas com deficiência são diferentes dos seus pares. Apesar do isolamento social que muitos deficientes vivenciam, estudos demonstram que estes jovens gostariam de ter relações sexuais, de casar e de ter filhos. Na verdade, o que ocorre é que essas pessoas têm menos oportunidades de explorar alguma relação com seus semelhantes, o que dificulta o alcance de suas aspirações. Crença 3:problemas quanto à expressão sexual do deficiente ocorrem em função de sua deficiência. Estudos demonstram que problemas físicos e mentais têm menor influência sobre a expressão sexual do deficiente do que sua integração social. Os deficientes têm maior possibilidade do que os jovens “normais” de ficar isolados da sociedade. Se a expressão sexual ocorre num contexto social, então o isolamento tem como consequência a incapacidade do deficiente em aprender e desenvolver habilidades sociais. A conduta sexual é aprendida, formada e reforçada por fatores ambientais. Os ambientes integrados oferecem maiores probabilidades de reforçar condutas integradas. Crença 4:pais de adolescentes com deficiência proporcionam suficiente educação sexual para seus filhos. Uma das consequências do isolamento social para estes jovens é que eles recebem menos informações sobre sexualidade, reprodução, contracepção e prevenção de DST e AIDS. Estudos mostram que a maioria dos jovens deficientes nunca recebeu educação sexual. Crença 5: jovens com deficiências são sexualmente vulneráveis a assédios sexuais. Essa preocupação sobre a vulnerabilidade de adolescentes deficientes parece ter fundamento. Portanto, o médico que trabalha com esses jovens deve discutir essas preocupações com eles e com seus pais e não esperar que os pais expressem esses receios. Para alguns adolescentes, 56 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual Qualquer que possa ser o interesse ou o conhecimento sexual desses jovens, eles devem entender tudo o que for possível sobre sexualidade. apenas a educação sexual será suficiente. Para outros, precisará ser complementado com contracepção. Por tudo isso, fica claro que, desde muito cedo, esses adolescentes necessitam conhecer atitudes saudáveis em relação ao seu corpo e às funções desse corpo. Qualquer que possa ser o interesse ou o conhecimento sexual desses jovens, eles devem entender tudo o que for possível sobre sexualidade. Se a eles é oferecida a vantagemda integração, também devem ser orientados em relação a habilidades e atitudes de comportamento social apropriada. Fonte: Disponível em: <http://www.indianopolis.com.br/ artigo.php?id=52>. Acesso em: 27 ago. 2012. Como você acabou de ler, uma relação de diálogo pode ajudar a pessoa com deficiência intelectual a manter suas interações sociais, familiares e sexuais, desde que sejam bem orientados sobre o assunto. Teremos enfrentado o desafio do futuro quando deixarmos de nos sentir ameaçados ou engolidos pela enormidade desse desafio e quando cada um de nós assumir a responsabilidade de tornar o amanhã pelo menos um pouquinho melhor do que hoje (KRATOVILLE apud BUSCAGLA, 2006, p. 384). Atividades de Estudos: 1) Você estudou no início desse capítulo que a escola e a família têm certo grau de dificuldade em discutir a sexualidade das pessoas com deficiência. Em sua opinião, como esse assunto deveria ser abordado em sala de aula, pensando numa concepção inclusiva? ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ 57 Educação SExual E dEficiência intElEctual Capítulo 3 ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ 2) Como Foucault define sexualidade? ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ 3) De acordo com o estudado, há crenças, mitos sobre a sexualidade da pessoa com deficiência intelectual. Como você percebe esses mitos e crenças sobre a sexualidade através dos tempos? _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ 58 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual De acordo com Chauí (1991, p. 9), “[...] a repressão sexual pode ser considerada como um conjunto de interdições, permissões, normas, valores, regras estabelecidos histórica e culturalmente para controlar o exercício da sexualidade”. Agora que você está mais familiarizado com alguns dos aspectos e procedimentos que envolvem os preceitos da sexualidade das pessoas com deficiência sexual, daremos continuidade com assuntos que envolvem a sociedade e a expressão corporal do deficiente intelectual. a SExualidadE E SociEdadE De acordo com Chauí (1991, p. 9), “[...] a repressão sexual pode ser considerada como um conjunto de interdições, permissões, normas, valores, regras estabelecidos histórica e culturalmente para controlar o exercício da sexualidade”. Mesmo que a nomenclatura repressão sexual tenha caído em desuso na atualidade, ainda é muito fácil encontrar familiares que entendem a relação sexual como “nojenta” e “pecaminosa”, pois os processos históricos, sociais e culturais demandam tempo para serem internalizados na subjetividade. Há possibilidades de que, quem tem suas habilidades psicológicas comprometidas, seja considerado por outros como “fora do padrão”, assim como suas práticas sexuais, que podem não ser compreendidas pelas esferas sociais, às quais estão intrinsecamente ligadas, como um ato que é inerente ao aspecto físico e mental do ser humano. No aspecto da sexualidade, para Giami (2004), essa atuação é encarada pela coletividade como “problema”. Até mesmo os meios de comunicação muitas vezes abordam esse assunto como “incômodo”, como também os familiares e as pessoas que possam por ventura serem “cuidadoras” desses sujeitos. Isso não implica que esses procedimentos não estão sendo alterados pela sociedade, escola e família. Esse processo, embora de forma lenta, ocorre na medida em que as relações sexuais para os ditos “normais” são percebidas pela esfera social como um procedimento que é intrínseco ao ser humano, como uma atitude natural e saudável que faz parte das atividades da espécie humana. Já na perspectiva de Maia (2007), a sexualidade toma nova dimensão mais aberta, que abrange emoção, atos, afeição, aspiração e deleite. A sociedade, mesmo na atualidade, quase sempre compreende a sexualidade como ato sexual em si, no entanto, deve-se entender que sexualidade conglomera muitos outros anseios que envolvem atitudes de relações sociais e principalmente amorosas. 59 Educação SExual E dEficiência intElEctual Capítulo 3 Figura 2 – Casal de deficiente intelectual Fonte: Disponível em: <http://atitudeinclusao.com.br/secao/ comportamento/541/casal-com-defic.aspx>. Acesso em: 27 ago. 2012 A sexualidade quando se revela apenas no ato sexual em si, procura o envolvimento de duas pessoas que buscam complementos, envolvendo emoções, mesmo que para alguns seja apenas um ato que alivia tensões atendendo ao desejo corpóreo. Isso não é diferente para a pessoa com deficiência intelectual, apenas é necessário que as mesmas estejam informadas e compreendam essa manifestação física e mental como uma atitude referente às suas relações sexuais, que devem ser percebidas como atitude normal. Gikovate (2007) escreve que o sexo é pessoal, destacando que as estimulações das partes do corpo, que são mais propícias ao prazer, podem ser feitas pela própria pessoa, ou seja, pode se tocar e, através desse estímulo, sentirem por conta própria o prazer, levando-o a conhecer suas partes íntimas. Dessa forma, podem realizar o ato sexual sempre que sentirem desejo, o que é considerado como um acontecimento necessariamente individualizado. Gordon apud Buscaglia (2006) enfatiza que pessoas com deficiência possuem os mesmos direitos sobre desejos e impulsos sexuais normais e com plena responsabilidade como qualquer pessoa. Alguns apresentam aspectos limitados, sendo eles físicos ou mentais, mas isso não significa que essa pessoa seja limitada em tudo o que faz. A sociedade é rigorosa, se o indivíduo apresentar uma limitação, podendo ser física ou mental, a maior parte da população evita os problemas da 60 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual Para Gherpelli (1991) questão da sexualidade é uma característica essencialmente do ser humano, e deve ser entendida como uma parte intrinsecamente ligada ao sujeito como todo o seu ser, ela é o ligação entre um ser e o outro. pessoa com deficiência. Outras pessoas pensam que quanto menos as pessoas portadoras de deficiência souberem sobre sexo, menos provável será praticá-lo irresponsavelmente. É importante mencionar que devem ser educativas asinformações que são oferecidas sobre a educação sexual. De acordo com Assumpção (1991), no que se refere à sexualidade da pessoa deficiente e suas formas de manifestações, de uma forma geral, a sexualidade desses sujeitos vai aos poucos se desenvolvendo. No entanto, só é possível entender se existe desvio de conduta ao analisarmos suas disposições que só se apresentam com o passar do tempo. Já para Krynski (1983), o desenvolvimento sexual para o deficiente intelectual não está apenas sugestivo ao amadurecimento físico e seus funcionamentos, diz respeito a como esse sujeito entende suas próprias relações intelectuais e emocionais, como ele compreende as alterações pelas quais seu corpo passa, quando inclui a sua percepção de gênero tanto social quanto cultural. Também são consideradas as manifestações de conduta relacionadas à família, ao grau de comprometimento de sua deficiência, pois quanto mais acentuada for sua deficiência, maior a possibilidade de dificuldade de relacionamento com o mundo que o rodeia. Nessa perspectiva, as relações familiares têm uma grande influência para que a atividade sexual seja assumida pelo sujeito com deficiência de forma saudável. Para Gherpelli (1991) questão da sexualidade é uma característica essencialmente do ser humano, e deve ser entendida como uma parte intrinsecamente ligada ao sujeito como todo o seu ser, ela é o ligação entre um ser e o outro. É preciso que todos os sujeitos dessa relação sejam orientados quanto a questões sexuais pelos profissionais da medicina e das áreas educativas. Essas informações devem ser repassadas aos que delas necessitam. Na vida sexual do deficiente intelectual todas as esferas, família escola comunidade e sociedade, devem estar conectadas a fim de orientar-lhes a melhorar a qualidade de vida sexual, para que os mesmos possam sentir-se mais independentes e responsáveis pelos seus atos. Essa forma de relação 61 Educação SExual E dEficiência intElEctual Capítulo 3 dialógica é fundamental para a educação não só ao deficiente, mas para todos que estão em fase de aprendizado. Livro: História da Sexualidade. O livro vai ajudá-lo a entender a construção social da sexualidade Autor: Michel Foucault. algumaS conSidEraçõES Caro pós graduando, esperamos que depois dos estudos do terceiro capítulo você tenha compreendido melhor como as questões de sexualidade com pessoas que apresentam deficiência intelectual. Temos a confiança de que esse assunto seja possível de ser discutido de uma forma natural, saudável, pensando sempre no bem estar do deficiente. Pretendemos que esses saberes lhe tragam um olhar mais sensível, colaborando para uma prática inclusiva. rEfErência ASSUMPÇÃO, Júnior Francisco Baptista. Introdução ao estudo da deficiência mental. São Paulo: Memnon, 1991. BALLONE GJ - Sexualidade das Pessoas Portadoras de Deficiência Mental - in. PsiqWeb, Internet, Disponível em : <www.psiqweb.med.br>. Acesso em: 27 ago. 2012 BUSCAGlIA, Leo F. Os deficientes e seus pais. In: GORDON, Sol. Os deficientes também são sexuados. 5. ed. - Rio de Janeiro: Record, 2006. _____. Leo F. In:KRATOVlLLE, Setty. O desafio para o amanhã. 5. ed.. - Rio de Janeiro: Record, 2006. 62 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual CHAUI, Marilena. Repressão sexual, essa nossa (des) conhecida: 12 ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. DÍAZ, Féliz; BORDAS, Miguel; GALVÃO, MIRANDA, Therezinha; Educação Inclusiva, Deficiência e Contexto Social: questões contemporâneas. Salvador: EDUFBA, 2009. FOUCAULT, Michel. Historia de laSexualidad I:lavoluntad de saber. 25. ed.Madrid: SigloVeintiuno, 1998. GEJER,Débora.Adolescente com deficiência mental e sua sexualidade. Disponível em: <http://www.indianopolis.com.br/artigo.php?id=52>. Acesso em: 27 ago. 2012. GHERPELU, Maria Helena Brandão Vilela. Diferente, mas não desigual: a sexualidade no deficiente mental. 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