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DIREITO PROCESSUAL PENAL III DAS NULIDADES (Dr Sergio Gomes)

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Direito Processual Penal III
Das Nulidades
1. Conceito de Nulidade:
É o vício, que impregna determinado ato processual, praticado sem a observância da forma prevista em lei, podendo levar à sua inutilidade e consequentemente renovação. Na lição de Borges da Rosa, “nulidade é o defeito jurídico que torna sem valor ou pode invalidar o ato ou o processo, no todo ou em parte” (Nulidades do processo, p. 97). Dividem-se em: a) nulidades absolutas, aquelas que devem ser proclamadas pelo magistrado, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, porque produtoras de nítidas infrações ao interesse público na produção do devido processo legal. Ex.: não conceder o Juiz ao réu ampla defesa, cerceando a atividade do seu advogado; b) nulidades relativas, aquelas que somente serão reconhecidas caso arguidas pela parte interessada, demonstrando o prejuízo sofrido pela inobservância da formalidade legal prevista para o ato realizado. Ex.: o defensor não foi intimado para comparecer à audiência de inquirição de uma última testemunha de defesa, cujos esclarecimentos referem-se apenas aos antecedentes do réu, tendo havido a nomeação de defensor ad hoc para acompanhar o ato. Nessa hipótese, inexistindo demonstração de prejuízo, mantém-se a validade do ato, que foi incapaz de gerar uma desconsideração e renovação do ato, vale dizer, embora irregular a colheita do depoimento, sem a presença do defensor constituído, disso nenhum mal resultou ao acusado, até pelo fato da testemunha ter pouco a esclarecer. Confira-se o critério fornecido por Borges da Rosa para diferenciá-las: “se o espirito da lei foi atingido pela violação, esta é intolerável, ocorre nulidade, porque ocorre prejuízo, porque o fim colimado pela lei não foi conseguido. Mas, se ao invés, somente o texto da lei foi violado, porém não o seu espirito, visto como o fim colimado foi conseguido, então a violação é tolerável, não há motivo, de ordem superior, que exija a decretação da nulidade” (Nulidades do processo, p. 77).
2. Atos Inexistentes e Irregulares:
À margem das nulidades, existem atos processuais que, por violarem tão grotescamente a lei, são considerados inexistentes. Nem mesmo de nulidade se trata, uma vez que estão distantes do mínimo aceitável para o preenchimento das formalidades legais. Não podem ser convalidados, nem necessitam de decisão judicial para invalidá-los. Ex.: audiência presidida por promotor de justiça ou por advogado. Como partes que são no processo, não possuindo poder jurisdicional, é ato considerado inexistente. Deve, logicamente, ser integralmente renovado.
3. Provas Obtidas por Meios Ilícitos:
Devem ser desentranhadas dos autos, nos termos do art. 157, caput, do Código de Processo Penal, não podendo auxiliar para a formação do convencimento do Juiz. Logo, quando a prova for considerada ilícita, não se inclui no contexto das nulidades. Não há que se discutir se a prova gera nulidade absoluta ou relativa, pois ela é ilícita. Deve ser retirada dos autos e não se trata de entendimento do magistrado considera-la absolutamente nula ou relativamente nula. A nulidade é reservada para as falhas procedimentais em reservada para as falhas procedimentais em geral, vale dizer, para vícios que não podem ser sanados (nulidades absolutas) e os que podem ser corrigidos (nulidades relativas). As provas ilícitas não são meras falhas ou vícios, mas atos ilegais, podendo até ser criminosos, conforme o caso. Logo, fogem às regras comuns das nulidades, vez que ganham parâmetro e status constitucionais (art. 5°, LVI, CF).
Art. 563. Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa.
4. Nulidade em Inquérito Policial:
Inexiste. Trata-se de procedimento administrativo, destinado, primordialmente, a formara a opinião do Ministério Público, a fim de saber se haverá ou não acusação contra alguém. Logo, não há razão alguma para proclamar-se a nulidade de ato produzido durante a investigação.
Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
I – por incompetência, suspeição ou suborno do Juiz;
II – por ilegitimidade de parte;
III – por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
a) A denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais, a portaria ou o auto de prisão em flagrante;
b) O exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no art. 167;
c) A nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador ao menor de 21 (vinte e um) anos;
d) A intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos da intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública;
e) A citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os prazos concedidos à acusação e à defesa;
f) A sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de testemunhas, nos processos perante o Tribunal do Júri;
g) A intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei não permitir o julgamento à revelia;
h) A intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos estabelecidos pela lei;
i) A presença pelo menos de 15 (quinze) jurados para a constituição do júri;
j) O sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua incomunicabilidade;
k) Os quesitos e as respectivas respostas;
l) A acusação e a defesa, na sessão de julgamento;
m) A sentença;
n) O recurso de ofício, nos casos em que a lei o tenha estabelecido;
o) A intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e despachos de que caiba recurso;
p) No supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quórum legal para o julgamento;
IV – por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.
Parágrafo único. Ocorrerá ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das suas respostas, e contradição entre estas.
5. Divisão entre Nulidades Absolutas e Relativas:
São consideradas relativas as seguintes: (a) falta de intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos da intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública (inciso III, d, deste artigo); (b) não concessão dos prazos legais à acusação e à defesa, para manifestação ou produção de algum ato (inciso III, e, 2° parte, deste artigo); (c) falta de intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei não permitir o julgamento à revelia (inciso III, g, deste artigo). Não mais se exige a presença do acusado na sessão de julgamento (art. 457, caput), embora seja indispensável a sua intimação; (d) ausência de intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, conforme estabelecido em lei (inciso III, h, deste artigo). Foram eliminadas as peças libelo e contrariedade ao libelo, razão pela qual as testemunhas passaram a ser arroladas (art. 422). Devem as testemunhas, quando requerido, ser intimadas de toda forma; (e) omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato (inciso IV, deste artigo). As demais são absolutas, embora a jurisprudência venha convertendo algumas delas em relativas (ex.: a ausência de curador ao réu menor de 21 anos, em determinados atos. Ver nota 19, abaixo). Aliás, o mesmo se faz em sentido inverso, ou seja, a jurisprudência chega a converter nulidade tipicamente relativa em absoluta. A realização de laudo para a avaliação da capacidade de entendimento do silvícola constitui formalidade essencial ao ato (art. 564, IV, CPP), logo, figura no rol do art. 572 do CPP (nulidade relativa).
6. Incompetência da Autoridade Policial:
Não vicia o ato ou a diligência efetuada. Autoridades policiais não exercem poder jurisdicional, limitando pela competência.
7. Exame de Corpo de Delito:
Quando o crime deixa vestígios, é indispensável a realização do exame de corpo de delito, direto ou indireto, conforme preceitua o art.158 deste Código. 
Assim, havendo um caso de homicídio, por exemplo, sem laudo necroscópico, nem outra formaválida de produzir a prova de existência da infração penal, deve ser decretada a nulidade do processo. Trata-se de nulidade absoluta. O inciso em comento, entretanto, ajustado ao disposto nos arts. 158 e 167 do Código de Processo Penal, estabelece a possibilidade de se formar o corpo de delito de modo indireto, ou seja, por meio de testemunhas. 
De um modo ou de outro, não pode faltar o corpo de delito. Outra possibilidade é a realização do exame sem o respeito às formulas legais, como a participação de dois peritos nomeados pelo Juiz (art. 159,§ 1°). Pode ser causa de nulidade, neste caso, no entanto, relativa.
8. Defesa ao Réu:
É imprescindível. Preceitua a Constituição Federal que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (art. 5°, LV). Nessa esteira, o Código de Processo Penal prevê que “nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor” (art. 261). Assim, a falta de defesa é motivo de nulidade absoluta. Ver, a respeito, a próxima nota.
9. Não Nomeação de Defensor Ad Hoc:
Nulidade absoluta. Se o defensor constituído ou dativo do acusado não comparecer na audiência de instrução, é fundamental que o magistrado nomeie defensor ad hoc (para o ato). Se o ato processual se realizar, ausente a defesa, constitui prejuízo presumido, logo, nulidade absoluta. Conferir: STJ: HC 40.673-AL, 5° T., rel. Gilson Dipp, 26.04.2005, v. u., Boletim AASP 2.437, set. 2005.
10. Ausência de Defesa ou Deficiência de Defesa:
Há natural distinção entre as duas hipóteses. No primeiro caso, não tendo sido nomeado defensor ao réu, caso este não possua advogado constituído, gera-se nulidade absoluta, mesmo porque presumido é o prejuízo (vide art. 263, CPP, além do princípio constitucional da ampla defesa). Na segunda situação, a deficiência de defesa não é causa obrigatória de nulidade, relativa neste caso, devendo ser evidenciado o prejuízo sofrido pelo acusado. É o conteúdo da Súmula 523 do STF: “No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a causa deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu”. Deve-se salientar, no entanto, que há casos de deficiência tão grosseira que podem equivaler à ausência de defesa, razão por que deve o Juiz zelar pela amplitude de defesa, no processo penal, considerando o réu indefeso e nomeando-lhe outro defensor. Caso não o faça, constituída está uma nulidade absoluta, inclusive pelo fato de ter infringido preceito constitucional, natural consequência do devido processo legal (ampla defesa).
11. Ausência do Réu Durante a Instrução:
Como regra, é um direito do réu participar das audiências e acompanhar a produção da prova. Não se trata de uma obrigação ou dever, até mesmo pelo fato de ter ele o direito ao silêncio, logo, de se manter calado e distante da colheita probatória (ao menos pessoalmente). Entretanto, deve o acusado ser intimado, para as audiências (no mínimo para a primeira). Caso, entretanto, deixe de ser intimado, mas seu defensor compareça normalmente, cuida-se de nulidade relativa, dependente de alegação e demonstração de prejuízo, passível de preclusão caso nada se fale até as alegações finais.
12. Nulidade em Caso de Defesas Antagônicas Produzidas por Advogado Único de Corréus:
Não é viável que dois ou mais acusados possuam o mesmo defensor, se as linhas de defesa de cada um forem antagônicas, pois o prejuízo à ampla defesa torna-se evidente. Deve o Juiz zelar por isso, impedindo que a escolha se mantenha e dando prazo para que os réus constituam defensores diversos. Não o fazendo, a deficiência provada a nulidade do feito.
13. Defesa Patrocinada por Falso Advogado:
Equivale à falta de defesa técnica, gerando, portanto, nulidade absoluta. 
Nesse prisma: STF: “A defesa patrocinada por pessoa não inscrita na OAB é causa de nulidade do processo (Estatuto da OAB, art. 4°: ‘São nulos os atos privativos de advogado praticados por pessoa não inscrita na OAB’)”.
14. Intervenção do Ministério Público:
Menciona o inciso que é causa de nulidade se o representante do Ministério Público não interferir nos feitos por ele intentados (ação pública), bem como naqueles que foram propostos pela vítima, em atividade substitutiva do Estado-acusação (ação privada subsidiária da pública). Entendemos, no entanto, que a intervenção do Ministério Público também é obrigatória, nos casos de ação exclusivamente privada, uma vez que a pretensão punitiva é somente do Estado (sujeito passivo formal de todas as infrações penais). Por isso, nas hipóteses em que é o titular da ação penal, a sua não intervenção causa nulidade absoluta, mas, naqueles feitos conduzidos pelo ofendido, trata-se de relativa, necessitando-se da prova do prejuízo.
15. Ampla Defesa e Contraditório:
Essa causa de nulidade-ausência de citação-é corolário natural dos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório. Naturalmente, sem ser citado ou se a citação for feita em desacordo com as normas processuais, prejudicando ou cerceando o réu, é motivo para anulação do feito a partir da ocorrência do vício. Trata-se de nulidade absoluta.
16. Oportunidade para Interrogatório:
É causa de nulidade relativa se o magistrado, estando o réu presente, deixar de lhe propiciar a oportunidade para ser interrogado, o que não significa que ele deva comparecer ou mesmo responder às perguntas às perguntas formuladas. Tem o acusado o direito ao silêncio, razão pela qual pode não querer ser interrogado. Apesar disso, deixar de designar data para a audiência onde o ato possa ser realizado provoca nulidade. Entretanto, segundo cremos e já afirmamos, é uma nulidade relativa. Atualmente, em função do direito de permanecer calado, pode a defesa manifestar que, a despeito de não ter sido designada data possibilitando a realização do interrogatório do acusado, não iria ele valer-se da oportunidade, desejando ficar em silêncio. Assim sendo, não houve prejuízo algum e não se necessita proclamar a nulidade. Aliás, o mesmo ocorre quando o réu, ausente, é encontrado durante a instrução. O Juiz designa data para seu interrogatório, proporcionando-lhe a oportunidade, o que não significa seja ela aceita, pois o réu pode não desejar falar. Caso seja localizado ou mesmo preso depois da sentença condenatória de primeiro grau, deve o tribunal proporcionar-lhe a oportunidade de ser ouvido, expedindo carta de ordem ao Juiz.
17. Concessão de Prazos à Acusação e à Defesa:
Ao longo da instrução, vários prazos para manifestações e produção de provas são concedidas às partes. Deixar de fazê-lo pode implicar um cerceamento de acusação ou de defesa, resultando em nulidade relativa, ou seja, se houver prejuízo demonstrado.
18. Intimação do Réu para Constituir outro Defensor antes do Julgamento de Recurso:
Como decorrência natural da aplicação da garantia constitucional da ampla defesa, sempre que o defensor constituído do acusado renunciar, é obrigatória a sua intimação para eleger outro de sua confiança, antes que o Juiz possa nomear-lhe um dativo. Portanto, o mesmo deve ocorrer em grau de recurso, ou seja, caso a renúncia ocorra quando o processo está no tribunal, aguardando julgamento de apelação ou outro recurso, é fundamental que o relator providencie a intimação do acusado para constituir outro defensor assim que tomar conhecimento da renúncia do anterior. Não o fazendo – e havendo prejuízo – é nulo o julgamento da apelação.
19. Ausência de Intimação do Defensor da data do Julgamento no Tribunal:
É causa de nulidade.
20. Sentença de Pronúncia:
É o juízo de admissibilidade da acusação, que remete o caso para a apreciação do Tribunal do Júri. Após a edição da Lei 11.689/2008, passa a denominar-se decisão de pronúncia e não mais sentença. É o correto, pois se trata de mera decisão interlocutória. A sua existência no processo é fundamental, assim como é essencial que respeite a forma legal. Trata-se de nulidade absoluta o encaminhamento de um réu ao júri semque tenha havido decisão de pronúncia ou quando esta estiver incompleta.
21. Libelo:
Era a exposição da acusação em formato articulado, baseado na pronúncia. Foi revogado.
22. Ausência do Réu e Realização da Sessão:
Tornou-se possível a realização do julgamento em plenário do Tribunal do Júri, mesmo estando o réu ausente (art. 457). Entretanto, é direito do acusado ter ciência de que se realizará a sessão, podendo exercer o seu direito de comparecimento. Logo, a falta de intimação pode gerar nulidade, porém relativa. Por outro lado, se o acusado, ainda que não intimado, comparecer para a sessão, supera-se a falta de intimação, pois a finalidade da norma processual foi atingida, que é permitir sua presença diante do júri.
23. Intimação de Testemunhas Residentes fora da Comarca do Tribunal do Júri:
Devem ser intimadas, para não configurar qualquer tipo de cerceamento – à acusação ou à defesa – , m as não estão obrigadas a comparecer.
24. Instalação da Sessão do Júri:
Trata-se de norma cogente, implicando nulidade absoluta a instalação dos trabalhos, no Tribunal do Júri, com menos de quinze jurados.
25. Sorteio do Conselho de Sentença em Número Legal:
Mais uma vez, demonstra o Código a preocupação com as formalidades existentes no Tribunal do Júri, para não haver qualquer tipo de burla ao espirito que norteia a instituição. Logo, não pode haver, em hipótese alguma, pois o prejuízo é presumido, um Conselho de Sentença formado com menos de sete jurados. Se houver, é nulidade absoluta.
26. Incomunicabilidade dos Jurados:
É causa de nulidade absoluta a comunicação dos jurados, entre si, sobre os fatos relacionados ao processo, ou com o mundo exterior – pessoas estranhas ao julgamento – ,sobre qualquer assunto.
27. Inexistência dos Quesitos e suas Respostas:
Caso o Juiz presidente não elabore os quesitos obrigatórios para conduzir o julgamento na sala secreta, uma vez que os jurados decidem fatos e não matéria de direito, haverá nulidade absoluta.
28. Acusação e Defesa no Julgamento pelo Tribunal do Júri:
É fundamental que acusação e defesa estejam presentes e participando ativamente da sessão de julgamento, visto que os jurados são leigos e necessitam de todos os esclarecimentos possíveis para bem julgar. 
Lembremos, ainda, que são soberanos nas suas decisões e somente se assegura soberania quando há informação. Logo, se faltar acusação ou for esta deficiente o suficiente para prejudicar seriamente o entendimento das provas pelos jurados, é motivo de dissolução do Conselho, antes que a nulidade se instaure de modo irreparável. O mesmo se diga com relação à ausência ou grave deficiência da defesa. Havendo, no entanto, ausência ou deficiência grave, é nulidade absoluta. Outras deficiências configuram nulidade relativa.
29. Ausência da Sentença:
 	Não se concebe que exista um processo findo sem sentença. Logo, é um feito nulo. E mais: se a sentença não contiver os termos legais – relatório, fundamentação e dispositivo – também pode ser considerada nula. Trata-se de nulidade absoluta.
30. Falta das Fórmulas Legais que devem Revestir a Sentença:
É causa de nulidade absoluta o desrespeito aos requisitos formais da sentença (arts. 381 e 387, CPP).
31. Não Apreciação das Teses Expostas pela Defesa:
Constitui causa de nulidade absoluta, por prejuízo presumido, a não apreciação, pelo Juiz, na sentença, de todas as teses expostas pela defesa em alegações finais. A motivação das decisões judiciais é preceito constitucional, além do que analisar, ainda que seja para refutar, as teses defensivas caracteriza corolário natural do princípio da ampla defesa.
32. Intimação para Recurso:
As partes têm o direito a recorrer de sentenças e despachos, quando a lei prevê a possibilidade, motivo pelo qual devem ter ciência do que foi decidido. 
Omitindo-se a intimação, o que ocorrer, a partir daí, é nulo, por evidente cerceamento de acusação ou de defesa, conforme o caso. Cuida-se de nulidade relativa. Convém verificar o disposto na Lei 11.419/2006, vale dizer, defensores constituídos podem ser intimados por meio eletrônico. Permanece a intimação pessoal ao representante do Ministério Público e ao defensor dativo ou público.
Art. 565. Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para que tenha concorrido, ou referente a formalidade cuja observância só à parte contrária interesse.
33. Interesse para o Reconhecimento da Nulidade:
Do mesmo modo que é exigido interesse para a prática de vários atos processuais, inclusive para o início da ação penal, exige-se tenha a parte prejudicada pela nulidade interesse no seu reconhecimento. Logo, não pode ser ela a geradora do defeito, plantado unicamente para servir a objetivos escusos.
34. Processo Civil:
“Quando a lei prescrever determinada forma, sob pena de nulidade, a decretação desta não pode ser requerida pela parte que lhe deu causa” (art. 243, CPC).
35. Nulidade Irrelevante:
Baseado no princípio geral, já comentado na nota 40 supra, de que, sem prejuízo, não há que se falar em nulidade, é possível haver um ato processual praticado sem as formalidades legais que, no entanto, foi irrelevante para chegar-se à verdade real no caso julgado.
Art. 567. A incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o processo, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao Juiz competente.
Art. 568. A nulidade por ilegitimidade do representante da parte poderá ser a todo tempo sanada, mediante retificação dos atos processuais.
Art. 570. A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada, desde que o interessado compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o faz para o único fim de argui-la. O Juiz ordenará, todavia, a suspensão ou o adiamento do ato, quando reconhecer que a irregularidade poderá prejudicar direito da parte.
36. Regularização da Falta ou Nulidade da Citação, Intimação ou Notificação:
Outra vez fundado no princípio de que não se declara nulidade quando inexistir prejuízo à parte, torna o Código de Processo Penal a permitir que eventuais defeitos possam ser sanados. É o que se dá neste caso, quando houver falta ou nulidade da citação ou das intimações de um modo geral. Se o réu, embora não citado, por exemplo, comparece no processo e, por seu advogado, apresenta a defesa prévia, inexiste razão para considera-lo nulo. 
Por outro lado, se comparecer no processo, após ter sido oferecida a defesa prévia por defensor dativo, pode pleitear a reabertura do prazo, para que o defensor constituído se manifeste, anulando-se o ato anteriormente praticado, evitando-se qualquer cerceamento de defesa. Se a parte não foi intimada da sentença condenatória, em outro exemplo, mas, ainda na fluência do prazo recursal, apresenta o apelo, está sanada a falha. Caso o prazo já tenha decorrido, o Juiz deve reabri-lo, anulando o que foi praticado depois disso.
37. Suspensão ou Adiamento do Ato em Função da Irregularidade:
Pode ocorrer de irregularidade havida, embora conhecida a tempo, prejudicar alguma das partes, motivo pelo qual o Juiz deve adiar o ato processual, não permitindo a sua consolidação. Imagine-se que a parte não foi intimada da sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri. Ainda que compareça à data da sessão, somente para alegar a falta de intimação, deve o magistrado adiar o julgamento, pois é crível que a parte não esteja preparada para proceder aos debates, uma vez que não teve tempo de examinar o processo.
Art. 571. As nulidades deverão ser arguidas:
I – as da instrução criminal dos processos da competência do júri, nos prazos a que se refere o art. 406;
II – as da instrução criminal dos processos de competência do Juiz singular e dos processos especiais, salvo os dos Capítulos V e VII do Título II do Livro II, nos prazos a que se refere o art. 500;
III – as do processo sumário, no prazo a que se refere o art. 537, ou, se verificadas depois desse prazo, logo depois de aberta a audiência e apregoadas as partes;
IV – as do processo regulado no Capítulo VII do Título II do Livro II, logodepois de aberta a audiência;
V – as ocorridas posteriormente à pronúncia, logo depois de anunciado o julgamento e apregoadas as partes (art. 447);
VI – as de instrução criminal dos processos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelação, nos prazos a que se refere o art. 500;
VII – se verificadas após a decisão da primeira instância, nas razoes de recurso ou logo depois de anunciado o julgamento do recurso e apregoadas as partes;
VIII – as do julgamento em plenário, em audiência ou em sessão do tribunal, logo depois de ocorrerem.
38. Alegações Finais no Processo Comum:
Argui-se a nulidade em preliminar, como já exposto na nota 50 ao inciso anterior.
39. Inaplicabilidade do Dispositivo:
Não há mais o procedimento sumário, que se iniciava na polícia, para apurar a prática de contravenções penais. Assim, adapta-se o procedimento à realidade atual e as nulidades devem ser arguidas, quando for o caso, na fase de apresentação das alegações finais, oralmente, em audiência.
40. Nulidades Após a Pronúncia:
Devem ser alegadas tão logo seja possível, embora o prazo máximo, para que não se considere preclusa a oportunidade – desde que não sejam absolutas –, seja o da abertura dos trabalhos no Tribunal do Júri. Desejando, a parte pede a palavra pela ordem e manifesta-se a respeito do que considerou viciado no procedimento preparatório da sessão de julgamento. É o que pode fazer o promotor ou o defensor, quando percebe que houve o cerceamento quanto à produção de qualquer prova, pleiteada após o trânsito em julgado da decisão de pronúncia.
41. Decretação de Nulidade Absoluta de Ofício pelo Tribunal:
Pode ocorrer, desde que favoreça o acusado. Lembremos que a nulidade relativa, porque submetida à preclusão, se não for alegada pela parte interessada, no prazo oportuno, não cabe ao Juiz ou tribunal reconhece-la.
42. Julgamento em Plenário, Audiência ou Sessão do Tribunal:
Trata-se de forma dinâmica de realização do julgamento, não havendo tempo para a parte juntar petição e proclamar a nulidade posteriormente. Se a sessão do Tribunal do Júri, por exemplo, está em pleno desenvolvimento, é natural que eventual vício ocorrido – não sendo absoluta a nulidade, que pode ser reconhecida a qualquer tempo – deve ser levantado no momento de sua ocorrência, possibilitando ao Juiz que resolva o caso de pronto, evitando a anulação futura do julgamento.
Art. 572. As nulidades previstas no art. 564, III, d e e, segunda parte, g e h, e IV, considerar-se-ão sanadas:
I – se não forem arguidas, em tempo oportuno, de acordo com o disposto no artigo anterior;
II – se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido o seu fim;
III – se a parte, ainda que tacitamente, tiver aceito os seus efeitos.
Art. 573. Os atos, cuja nulidade não tiver sido sanada, na forma dos artigos anteriores, serão renovados ou retificados.
§ 1° A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam consequência.
§ 2° O Juiz que pronunciar a nulidade declarará os atos a que ela se estende.
43. Extensão da Nulidade:
Cabe ao magistrado ou tribunal que reconhecer a nulidade ocorrida mencionar, expressamente, todos os atos que serão renovados ou retificados, ou seja, cabe-lhe proclamar a extensão da nulidade.
Nulidades
Falhas e vícios nos atos processuais
1 – Atos inexistentes: São violações gravíssimas à lei, que não 
 podem nem mesmo ser considerados 
 processualmente existentes. Ex.:ofensas 
 às normas constitucionais que fixam 
 prerrogativa de foro, como processar 
 criminalmente um deputado federal em 
 juízo de 1° grau. 
2 – Atos absolutamente nulos: São vícios graves que podem ser 
 reconhecidos de ofício pelo Juiz, a
 qualquer tempo, sem possibilidade de 
 validação, devendo haver renovação. Ex.: 
 ausência de defesa técnica ao réu. 
 
3 – Atos relativamente nulos: São os que possuem falhas evidentes, mas 
 que admitem validação, somente podendo 
 ser apontados pelas partes interessadas,
 no prazo legal, sob pena de preclusão, 
 mediante demonstração de prejuízo. 
 Ex.: ausência de concessão de prazo 
 para a parte manifestar-se nos autos.
4 – Atos irregulares: São vícios superficiais que não chegam a 
 invalidar o ato. Ex.: o juramento do 
 Conselho de Sentença, no Tribunal do 
 Júri, é colhido informalmente, ou seja, 
 sem que todos os presentes e o Juiz 
 presidente se levantem.
Nulidades Absolutas (art. 564)
1 – Incompetência, suspeição ou suborno do Juiz (inciso I).
2 – Ilegitimidade de parte (inciso II).
3 – Ausência de denúncia ou queixa e representação nos crimes de ação pública condicionada (inciso III, a).
4 – Ausência de exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios materiais (inciso III, b).
5 – Falta de nomeação de defensor ao réu presente, que não o possuir, ou ao ausente, bem como de curador ao menor de 21 anos (inciso III, c).
6 – Falta de citação do réu para ver-se processar, do seu interrogatório, quando presente (inciso III, e 1° parte)
7 – Falta de decisão de pronúncia, no processo do Tribunal do Júri (inciso III, f).
8 – Instalação da sessão do júri sem a presença de pelo menos 15 jurados (inciso III, i).
9 – Não realização do sorteio dos jurados do Conselho de Sentença em número legal e sua incomunicabilidade (inciso III, j).
10 – Ausência dos quesitos e das respectivas respostas (inciso III, k).
11 – Ausência da acusação e da defesa na sessão de julgamento (inciso III, l).
12 – Falta da sentença (inciso III, m).
13 – Não processamento do recurso de ofício, quando a lei o tenha estabelecido (inciso III, n)
14 – Falta de intimação, nas condições legais, para ciência de sentenças e despachos de que caiba recurso (inciso III, o).
15 – Falta de quórum legal para julgamentos nos tribunais (inciso III, p).
Nulidades relativas (art. 564)
1 – Falta de intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos da intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública (inciso III, d).
2 – Não concessão dos prazos legais à acusação e defesa para manifestação ou produção de algum ato (inciso III, e, 2° parte).
3 – Falta de intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri (inciso III, g).
4 – Ausência de intimação das testemunhas arroladas pelas partes na fase de preparação do plenário (inciso III, h).
5 – Omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato (inciso IV).
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