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Ação de Indenização por Danos Morais

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE PORTO ALEGRE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
SERGIO SILVA, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da cédula de identidade RG sob nº XXX, inscrito no CPF sob nº XXX residente e domiciliado na rua XXX, n° XXX, bairro Partenon, município de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, CEP XXX, endereço eletrônico XXX, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, por intermédio de seus procuradores signatários (Documento 1, em anexo), com fulcro no artigo 14 do CDC (lei 8.078/90) e artigos 186 e 927 do Código Civil Brasileiro:
AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO CUMULADA COM AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA PARCIAL
em face da empresa de telefonia ALFA, inscrita no CNPJ sob nº XXX, endereço eletrônico XXX, com sede na rua XXX, n° XXX, bairro XXX, município de Florianópolis, no estado de Santa Catarina, CEP XXX, o que faz em vista das seguintes razões de fato e de direito a seguir expostos:
I. DOS FATOS
Sergio Silva, foi comunicado pela empresa de telefonia ALFA, que sua fatura, vencida no mês de janeiro de 2020, constava em aberto e, caso não pagasse o valor correspondente, no total de R$ 1.849,00, no prazo de 15 dias após o recebimento da comunicação, seu nome seria lançado nos cadastros dos órgãos de proteção ao crédito. Consultando a documentação pertinente ao serviço utilizado, encontrou o comprovante de pagamento da fatura supostamente em aberto, enviando-o via e-mail para a empresa ALFA a fim de dirimir o problema. 
Sucede, entretanto, que, ao tentar concretizar a compra de um veículo mediante financiamento alguns dias depois, viu frustrado o negócio, ante a informação de que o crédito lhe fora negado, uma vez que seu nome estava inscrito nos cadastros de maus pagadores pela empresa ALFA, em virtude de débito vencido em janeiro de 2020, no valor de R$ 1.849,00. Junto ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), Sérgio confirmou a existência do registro desabonador em seu nome. 
Constrangido, Sérgio dirigiu-se a este escritório de advocacia a fim de que fosse proposta a ação cabível, a fim de ver cancelada a inscrição, bem como a reparação dos danos que lhe foram causados.
II. DOS FUNDAMENTOS 
a. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA – APLICAÇÃO DO CDC
O ônus da prova, em regra, incumbe a quem alega o fato gerador do direito mencionado ou a quem o nega fazendo nascer um fato modificativo, como disposto no artigo 373, inciso I e II do Código de Processo Civil:
Art. 373. O ônus da prova incumbe:
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.
Mas o Código do Direito do Consumidor, representando uma atualização do direito vigente e procurando amenizar a diferença de forças existentes entre polos processuais onde se tem num ponto, o consumidor, como figura vulnerável e em outro, o fornecedor, como detentor dos meios de prova que são muitas vezes buscados pelo primeiro, e às quais este não possui acesso, adotou a teoria moderna onde se admite a inversão do ônus da prova justamente em face desta problemática. 
No caso em tela, podemos ver que há uma relação de vulnerabilidade entre as partes, por isso deve ser agraciado com as normas atinentes na Lei 8.078/90. Vejamos o que diz a jurisprudência: 
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA COM BASE NO ART. 6º, INCISO VIII, DO CDC. CABIMENTO, REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. 1. A aplicação da inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º, VIII, do CDC, não é automática, cabendo ao magistrado singular analisar as condições de verossimilhança da alegação e de hipossuficiência, conforme o conjunto fático-probatório dos autos. 2. Dessa forma, rever a conclusão do Tribunal de origem demandaria o reexame do contexto fático-probatório, conduta vedada ante o óbice da Súmula 7/STJ. 3. Recurso a que se nega provimento. (STJ – AgRg no REsp: 1181447 PR 2010/0031847-3, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 15/05/2014, T4 – QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 22/05/2014)
Diante exposto com fundamentos acima apurados, requer o autor a inversão do ônus da prova, incumbindo o réu à demonstração de todas as provas referente ao pedido desta peça.
b. DO DIREITO
A jurisprudência e a legislação brasileira estão abarrotadas, no sentido de garantir o direito a indenização àquele que sofre prejuízo de ordem moral e material, em função da ação ou omissão de outrem.
O texto nos artigos 186 e 927 do Código Civil brasileiro não deixa dúvida quanto a responsabilidade do réu na questão de seu dever em indenizar:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Assim, verifica-se que a lei, de forma expressa, não dá guarida a postura do réu, e ainda, prevê a indenização pelos danos causados por essa postura negligente e irresponsável perpetrada pela empresa Alfa.
O dano moral já se encontra devidamente qualificado pela jurisprudência pátria, vejamos:
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. CLIENTE DE TELEFONIA MÓVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. Nos contratos de consumo é da fornecedora o ônus da prova da contratação de serviços quando a solicitação é negada. Interpretação favorável ao consumidor hipossuficiente. Violação, por parte da demandada, da lealdade e boa-fé contratual. Prejuízo moral reconhecido, pois a parte autora foi cobrada indevidamente. Observância das funções reparatória, punitiva e dissuasória da responsabilidade civil. Quantum arbitrado no valor de R$ 9.370,00. APELAÇÃO PROVIDA. (Apelação Cível Nº 70073655375, Décima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Roberto Imperatore de Assis Brasil, Julgado em 26/07/2017). 
Sendo assim, a inscrição indevida no cadastro de inadimplente é, por si, suficiente para ensejar a reparação.
A Constituição Federal garante em seu artigo 5º, inciso X, a proteção a honra e a indenização por eventual violação causadora de dano material ou moral. Do mesmo modo, o Código de Defesa do Consumidor também estabelece a possibilidade de reparação por danos morais e materiais causado ao consumidor na relação do consumo (art.14 CDC). 
O que ocorreu, de fato, foi que o réu negativou o autor no órgão de proteção ao crédito (SPC), indevidamente, expondo-o a situação vexatória ao tentar realizar a compra de um veículo. É visível que o autor sofreu grande prejuízo e abalo emocional, visto que nunca deixou de pagar suas contas e ainda sofreu humilhação ao ter seu crédito restrito, impossibilitando-lhe compras a prazo.
Quando se trata de inscrição indevida no SPC, como no caso em tela, o dano moral independe de prova adicional, baseando-se em simples demonstração dos fatos, conforme leciona Roberto Lisboa:
A prova do dano moral decorre, destarte, da mera demonstração dos fatos (damnum in re ipsa). Basta a causação adequada, não sendo necessária a indagação da intenção do agente, pois o dano existe no próprio fato violador. A presunção da existência do dano no próprio fator violador é absoluta (presunção iure et de iure), tornando-se prescindível a prova do dano moral. (LISBOA, 2009, p. 251)
Já em relação ao quantum indenizatório, Caio Rogério Costa, citando Maria Helena Diniz, afirma que: 
Na reparação do dano moral o juiz determina, por equidade, levando em conta as circunstâncias de cada caso, o quantum da indenização devida, que deverá corresponder à lesão, e não ser equivalente, por ser impossível a equivalência. (COSTA, Caio Rogério apud DINIZ, Maria Helena, 2005).
Diante exposto, fica evidente que a ré causou danos à parte autora, devendo, assim, repará-los.
III. DA TUTELA ANTECIPADA
O artigo 303 do Código de Processo Civil diz que:Art. 303. Nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, a petição inicial pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela final, com a exposição da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo.
Visto que o autor é pessoa muito integra que sempre cumpriu com suas obrigações civis e patrimoniais, não merece a inscrição de seu nome no SPC. Todo protesto e negativação gera perigo de dano, constituindo abuso e grave ameaça, abalando o prestígio creditício que o autor gozava na praça.
Não obstante, o autor nada deve, razão pela qual a negativação no cadastro de inadimplentes é totalmente descabida. Concluindo assim, que a atitude da requerida, de negativar o nome do autor, não passa de uma arbitrariedade, sendo mero descontrole administrativo, que, ao final, deverá ser declarada insubsistente, em caráter definitivo.
 Verifica-se Vossa Excelência, que a situação do autor atende perfeitamente a todos os requisitos esperados para a concessão da medida antecipatória, pelo que busca, antes da decisão do mérito em si, a ordem judicial para sustação dos efeitos da negativação de seu nome junto ao SPC; para tanto, requer-se de Vossa Excelência, que se digne determinar a expedição de Ofício à empresa ré, nesse sentido. 
IV. DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer o julgamento procedente da ação, determinando desde já as seguintes providências:
a) A citação da empresa ré no endereço supra, para que, querendo, venha contestar os fatos narrados, sob pena de arcar com os efeitos da revelia;
b) A concessão, liminarmente, a tutela antecipada, para os fins de a requerida ser obrigada, de imediato, a tomar as providências administrativas necessárias, para a exclusão do nome do autor do cadastro do SPC;
c) A inversão do ônus da prova, conforme disposto no artigo 6º, inciso VII, do CDC, caso seja necessário, naquilo que o autor for de difícil comprovação em virtude da hipossuficiência do consumidor;
d) Seja declarado o reconhecimento da inexistência da dívida que originou a inscrição no órgão de proteção ao crédito pela empresa Alfa, no valor de R$ 1.849,00 (um mil, oitocentos e quarenta e nove reais). 
e) A condenação do réu ao pagamento de indenização por danos morais a serem atribuídos por Vossa Excelência, em quantia suficiente para alcançar o caráter pedagógico da medida, considerando ainda os danos causados ao autor, em valor não inferior a R$ 15.000,00 (quinze mil reais), corrigidos monetariamente e com juros de 1% a.m., até a liquidação da sentença;
f) Requer a condenação do réu a pagamento das custas processuais e honorários de sucumbência.
Dá se presente causa o valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), somente para fins fiscais. 
Nestes termos, pede deferimento
Porto Alegre, 20 de março de 2020
____________________________
Advogada OAB/RS nº XXX

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