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Resposta à acusação

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AO JUIZO DA 2º VARA CRIMINAL DE NOVO HAMBURGO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Processo: XXX
Anita, já qualificada nos autos em epigrafe que lhe move o Ministério Público, por seu advogado infra-assinado (procuração em anexo), vem, à presença de Vossa Excelência, no prazo legal, oferecer
RESPOSTA À ACUSAÇÃO
Com fulcro no artigo 396 do Código de Processo Penal, pelos motivos e fatos que passa a expor.
I. Fatos
ANITA, nascida em 28/04/1994, terminou relacionamento amoroso com NEIMAR, não mais suportando as agressões físicas sofridas, sendo expulsa do imóvel em que residia com o companheiro em comunidade carente na cidade de Novo Hamburgo-RS, juntamente com o filho do casal, DALESSANDRO, de apenas 02 anos. 
Sem ter familiares no Rio Grande do Sul e nem outros conhecidos, passou a pernoitar com o filho em igrejas e outros locais de acesso público, alimentando-se a partir de ajudas recebidas de desconhecidos. Nessa época, ANITA fez amizade com MADONA, outra mulher em situação de rua que frequentava os mesmos espaços que ela. No dia 24/12/2013, não mais aguentando a situação e vendo o filho chorar e ficar doente em razão da ausência de alimentação, após não conseguir emprego ou ajuda, ANITA decidiu ingressar no supermercado Bourbon, onde escondeu na roupa dois pacotes de macarrão, cujo valor totalizava R$16,00.
 Ocorre que a conduta de ANITA foi percebida pelo fiscal de segurança MEDINA, que a abordou no momento em que ela deixava o estabelecimento comercial sem pagar pelos bens, e apreendeu os dois produtos escondidos. Em sede policial, ANITA confirmou os fatos, reiterando a ausência de recursos financeiros e a situação de fome e risco físico de seu filho DALESSANDRO.
Juntado à Folha de Antecedentes Criminais sem outras anotações, o laudo de avaliação dos bens subtraídos confirmando o valor, e ouvidos os envolvidos, inclusive o fiscal de segurança e o gerente do supermercado, o auto de prisão em flagrante e o inquérito policial foram encaminhados ao Ministério Público, que ofereceu denúncia em face de ANITA pela prática do crime do Art. 155, caput, c/c art. 14, inciso II, ambos do Código Penal, além de ter opinado pela liberdade da acusada.
O magistrado em atuação perante o juízo competente da 2ª Vara Criminal de Novo Hamburgo, no dia 28/03/2014, recebeu a denúncia oferecida pelo Ministério Público, concedeu liberdade provisória à acusada, deixando de converter o flagrante em preventiva, e determinou que fosse realizada a citação da denunciada. Contudo, foi concedida a liberdade para ANITA antes de sua citação e, como ela não tinha endereço fixo, não foi localizada para ser citada.
II. Fundamentos 
2.1 Da causa extintiva de punibilidade: Prescrição 
Como consta nos autos a ré só foi citada em 15/10/2019 devido à falta de endereço, o crime ocorreu em 24/12/2013, tendo um lapso de 4 (quatro) anos entre o fato e a citação. Não obstante, a ré na data do fato possui 19 (dezenove) anos, já que a ré nasceu em 28/04/1994. Vejamos o que diz o artigo 155 do Código Penal: 
Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.
Está notório, portanto, a existência da prescrição da pretensão punitiva do Estado, na qual, o Estado diante de sua inércia, pela não observância do requisito do lapso temporal previsto em lei, ficou proibido de utilizar-se de seu poder de império para punir o sujeito ativo no processo criminal.
Tal requisito deve ser analisado, uma vez que sua não observância acarreta a extinção da punibilidade, conforme previsão contida no capítulo VIII, artigo 109 do código penal:
 Art. 109.  A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:
 
 IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro;
A ré foi acusada pela prática do crime do artigo 155 c/c artigo 14, II ambos do Código Penal, pelo qual, consoante consta a denúncia, está sujeito à condenação de dois anos e oito meses, visto que o crime foi praticado em sua forma tentada. A prescrição se daria em 8 (oito) anos, porém como a ré possuía apenas 19 (dezenove) anos na data do fato, essa prescrição reduz à metade. 
Sendo assim, deve haver a absolvição sumária do denunciado, como consta no artigo 397 do código de processo penal brasileiro:
Art. 397.  Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: 
IV - extinta a punibilidade do agente.
As jurisprudências brasileiras já são pacíficas quanto ao assunto abordado, demonstrando a necessidade de que o acusado seja absolvido sumariamente, tão logo se vislumbre a prescrição no processo, podendo esta ser decretada ex officio:
PENAL E PROCESSO PENAL. ART. 184, § 1º, DO CPB. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. RECURSO MINISTERIAL. ANÁLISE DO MÉRITO RECURSAL PREJUDICADA PELA INCIDÊNCIA DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. DECRETAÇÃO EX OFFICIO. Recurso prejudicado. 1. Absolvidos os acusados, conta-se o prazo prescricional pela pena máxima cominada ao delito. 2. Assim, no caso do crime previsto no art. 184, § 1º, do Código Penal cuja pena máxima é de quatro anos de reclusão, há que se reconhecer a prescrição da pretensão punitiva estatal, declarando-se exofficio extinta a punibilidade do agente. Isso porque se verifica que, desde a última causa interruptiva do prazo prescricional (art. 117, I, Código Penal) recebimento da denúncia, publicada em 8 de fevereiro de 2007 , já se passaram mais de oito anos, ocorrendo assim a prescrição nos termos do art. 109, IV, do mesmo Diploma legal. 3. Recurso prejudicado. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Apelação nº 0058893-59.2011.8.06.0000, oriundos da 18ª Vara Criminal da Comarca de Fortaleza, em que é recorrente o Ministério Público e recorridos Claudio Ferreira da Silva Júnior, Jose Carneiro Monteiro Sobrinho e Jorge Henrique de Lima Dias. Acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, à unanimidade, em declarar a extinção da punibilidade dos apelados face à prescrição da pretensão punitiva estatal, com esteio nos artigos 107, inciso IV, primeira figura, c/c 109, IV, ambos do Código Penal Brasileiro e art. 61 do Código de Processo Penal, nos termos do voto da Relatora. Fortaleza, 16 de junho de 2015 Presidente do Órgão Julgador DESEMBARGADORA FRANCISCA ADELINEIDE VIANA Relatora Procurador (a) de Justiça
(TJ-CE - APL: 00588935920118060000 CE 0058893-59.2011.8.06.0000, Relator: FRANCISCA ADELINEIDE VIANA, 2ª Câmara Criminal, Data de Publicação: 16/06/2015)
Nota-se, vossa excelência, que não há mais motivos para se dar prosseguimento à ação, pois há a constatação de extinção da punibilidade pela prescrição.
2.2 Da excludente de tipicidade material: Principio da insignificância
 
É possível colher dos autos que a res furtiva em questão é de apenas R$ 16,00 (dezesseis reais), valor este que representa aproximadamente 5% (cinco por cento) do salário mínimo vigente. Ademais, a vítima do furto, Supermercado Bourbon, como é de domínio público, fatura milhões mensalmente. Fazendo com que o valor subtraído por Anita seja insignificante.
Além disso, Anita não é voltada para a prática de delitos, sendo primária e detentora de bons antecedentes.
Assim sendo, as circunstâncias descritas remetem à aplicação do Princípio da Insignificância, com a exclusão da tipicidade, como expresso no artigo 397, inciso III do Código de Processo Penal. Para levar a termo segue o entendimento jurisprudencial:
 APELAÇÃO. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO. TENTATIVA DE FURTO DE BARRAS DE CHOCOLATE. RECONHECIMENTO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA QUE SE IMPÕE. Caso em que ficou evidenciado no contexto dos autos que a conduta – tentativa de subtração de barras de chocolate avaliadas em R$ 67,20 (sessenta e sete reais e vinte centavos), asquais restaram restituídas ao estabelecimento comercial IMEC imediatamente – pelo réu, que era totalmente primário à época, não teve relevante repercussão no patrimônio da vítima, não havendo significância jurídico-penal da ação (desvalor da conduta), tampouco do resultado (desvalor do resultado), resultando em que a conduta, malgrado seja formalmente típica, é materialmente atípica. Absolvição com fulcro no Art. 386, III, do Código de Processo Penal que se impõe. RECURSO PROVIDO.(Apelação Criminal, Nº 70082306143, Sétima Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Conrado Kurtz de Souza, Julgado em: 17-10-2019) 
Portanto, inescusável a absolvição sumária, em razão da aplicação do princípio da insignificância, previsto no artigo 397, inciso III, do Código de Processo Penal, eis que a ré possui bons antecedentes, é primária, não teve periculosidade em sua ação e a lesão jurídica provocada foi mínima, sendo, portanto, atípico.
2.3 Da excludente de ilicitude: Estado de necessidade de terceiro
A ré foi denunciada pela prática de delito de furto tentado. Todavia, a ré agiu em estado de necessidade, uma vez que, não aguentando mais a situação de ver seu filho chorar e ficar doente em razão da ausência de alimentação bem como por não conseguir emprego ou ajuda, decidiu ingressar no supermercado e pegou dois pacotes de macarrão para alimentar o filho. 
Logo, trata-se, no caso, de furto famélico causa exclusão de ilicitude, consistente no estado de necessidade, previsto no artigo 24 do Código Penal, uma vez que a ré e o seu filho estavam em situação de risco, já que a criança estava ficando doente em razão da ausência de alimentação.
    Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
Diante disso, a ré deve ser absolvida sumariamente, com base no artigo 397, I, do Código de Processo Penal.
III. Pedidos
Diante do exposto, requer a denunciada:
a) Absolvição Sumária com base no 397, inciso IV, do Código de Processo Penal;
b) A absolvição sumária com base no 397, inciso III, do Código de Processo Penal; 
c) A absolvição sumária com base no 397, inciso I, do Código de Processo Penal;
d) A produção de provas, sobretudo a testemunhal.
Nestes termos, pede deferimento.
Novo Hamburgo, 25 de Outubro de 2019
_________________________________
Advogado
OAB/RS
ROL DE TESTEMUNHAS
1. Madona. Residente na rua XXX.

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