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AÇÃO POPULAR Trata-se de ação de natureza constitucional que estabelece exercício de direito político de participação dos cidadãos no processo de formação da vontade estatal. A ação popular permite ao cidadão promover a tutela do bem coletivo e fiscalizar a atuação das autoridades estatais, impedindo atos que lesam o meio ambiente, o patrimônio histórico, a moralidade administrativa, o erário e também os consumidores quando o Poder Público for prestador de serviços essenciais contínuos. O controle da Administração Pública é preventivo ou repressivo. Os cidadãos provocam o Poder Judiciário para exercer sua função de controle, preservando a moralidade e legalidade da vida pública. O conceito de moralidade administrativa pode ser extraído da Lei 9.874, que afirma que impõe a adoção de padrões éticos e atuação de boa-fé. Seriam, portanto, sujeitas a ação popular condutas da administração em que houver abuso de direito ou desvio de poder. A ação popular é a única ação constitucional para defesa de interesses gerais (metaindividuais) que pode ser exercida pelos cidadãos. Mas, na prática, é pouco utilizada, em razão da interpretação restritiva dada pela doutrina e pela jurisprudência e da tímida atuação dos cidadãos. Legitimado ativo: A ação popular tem como legitimado o cidadão, isto é, os titulares do direito político ativo. São os brasileiros, natos ou naturalizados, maiores de 16 anos e os portugueses residentes no Brasil sob condição de reciprocidade. O cidadão deve comprovar sua condição de gozo dos direitos políticos apresentando cópia do título de eleitor ou documento equivalente. Quem tiver seus direitos políticos suspensos não pode propor ação popular. De todas as formas, não podem propor ação popular os estrangeiros, as pessoas jurídicas e o Ministério Público. Mas o Ministério Público pode opinar pela procedência ou improcedência da ação, como parte pública autônoma, agindo em nome dos interesses da sociedade e da ordem jurídica. O Ministério Público não está obrigado a participar da ação popular, devendo fazê-lo se houver interesse público a ser defendido. Legitimado passivo: A ação popular deve ser proposta em face de Pessoas jurídicas cujo patrimônio se pretende proteger. Podem ser os entes da Federação, autarquias e fundações públicas, agências executivas e agências reguladoras que administram recursos públicos, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações de direito privado, pessoas jurídicas subvencionadas pelo Poder Público. Pessoas que causam ou ameaçam causar lesão a bens tutelados pela ação popular, como os funcionários ou administradores que houverem praticado ou autorizado o ato impugnado ou tiverem dado oportunidade à lesão (art. 6 o da Lei 4.717) e ainda os beneficiários diretos do ato ou omissão. Uma peculiaridade da ação popular é que a pessoa jurídica, cujo ato foi impugnado, não figura necessariamente no polo passivo, podendo também atuar junto ao autor. Com isso, a Lei 4.717 prevê, no art. 6º, §3º, a possibilidade de a pessoa jurídica cujo ato é impugnado abster-se de contestar o pedido e até atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público. Competência: O art. 5 o da Lei 4.717 estabelece que a competência se define pela origem do ato impugnado (federal, estadual ou municipal). O § 3º o do art. 5 o prevê que a propositura da ação faz com que o juízo seja competente para todas as ações posteriormente intentadas contra as mesmas partes e sob os mesmos fundamentos. É competente a justiça eleitoral para questão relativa à impugnação de eleição. No que diz respeito à competência territorial, tratando-se da administração direta federal prevalece o foro de domicílio do autor, nos termos do art. 109, § 2º da Constituição Federal. A Lei 4.717 estabelece competência por equiparação no art. 5º, § 1º, as empresas públicas municipais e estaduais, as sociedades de economia mista municipal e estaduais, bem como as instituições privadas que recebam recursos estaduais e municipais serão julgadas pelas Varas da Fazenda Pública de cada Estado. Tem por objeto fiscalizar atos do Poder Público com a finalidade de assegurar sua lisura, impedindo ou invalidando os ilegais ou lesivos ao patrimônio público. A ação popular pode impugnar atos administrativos vinculados e discricionários que apresentam vício. Tutelam-se também o patrimônio imaterial e ambiental. Não podem ser objeto de ação popular, atos jurisdicionais, leis e outros atos sem efeito concreto. A lesão ao patrimônio público pode consistir em omissão? A resposta é positiva, pois o decisivo não é a forma da conduta, mas o dano causado. Se a omissão resulta em dano, é possível a utilização do remédio constitucional. O autor da ação popular deve proteger interesses da coletividade e não próprios, não podendo ser o beneficiário imediato da ação. A ação popular tem como parâmetro as normas de regularidade e legalidade da Administração Pública, constitucionais e infraconstitucionais (art. 2º da Lei 4.717). Toda vez que o ato for lesivo ao patrimônio público havendo vício quanto à forma, ilegalidade do objeto, inexistência de motivos ou desvio de finalidade, pode ser anulado. A jurisprudência exige a presença do binômio ilegalidade e lesividade para ser possível a propositura da ação popular. O rito é o ordinário. Além dos requisitos gerais de uma petição inicial, o autor deve comprovar: A condição de cidadão (possibilidade de exercer o direito de voto no momento da impetração). A ilegalidade do ato atacado. A lesão, ocorrida ou presumida, comprovando, no primeiro caso, o dano. No despacho da petição inicial o juiz deve determinar a citação pessoal da pessoa jurídica, dos funcionários que praticaram o ato e dos beneficiários, intimar o Ministério Público e determinar a eventual requisição de documentos. O prazo para contestação é de 20 dias, prorrogáveis por mais 20 (art. 7º, II, da Lei 4.717). Todas as espécies de defesa do processo tradicional são admitidas na ação popular, menos a reconvenção e a exceção de incompetência, por serem incompatíveis com as finalidades do procedimento. No caso de desistência imotivada ou de abandono da causa, outro cidadão ou o Ministério Público pode assumir a titularidade da ação. É possível o pedido de Medida Liminar, art. 5º da Lei 4.717, para suspender ato lesivo ao patrimônio público. Trata-se de medida cautelar que assegura a utilidade da decisão final. O art. 21 da Lei 4.717 prevê que a ação prescreve cinco anos após a edição do ato ou a ocorrência da omissão. A sentença pode ter qualquer carga de eficácia, dependendo do pedido apresentado. A sentença condenatória pode ser líquida ou ilíquida, mas a quantificação do dano obedece a critérios estabelecidos nos §1º o e §2º o do art. 14 da Lei 4.717: (a) quando a lesão resultar da falta ou isenção de qualquer pagamento, a condenação imporá o pagamento devido, com acréscimo de juros de mora e multa legal ou contratual; (b) quando a lesão resultar da execução fraudulenta, simulada ou irreal de contratos, a condenação versará sobre a reposição do débito, com juros de mora; (c) quando o réu condenado perceber dos cofres públicos, a execução fará por desconto em folha, até o integral ressarcimento do dano causado, se assim convier ao interesse público; (d) a parte condenada a restituir bens ou valores fica sujeita a sequestro e penhora, desde a prolação da sentença condenatória. A reparação de danos relativos a patrimônio cultural, artístico, meio ambiente se fixa através de perícia. Os valores, tratando- se de lesão ao patrimônio público, devem ser revertidos à entidade pública lesada. A sentença que julga procedente a ação popular e invalida o ato impugnado condenará ao pagamento de perdas e danos os responsáveis e os beneficiários, podendo ainda ser promovidaação regressiva contra os funcionários causadores de dano, quando incorrerem em culpa, nos termos do art. 11 da Lei 4.717. A sentença que condena o réu a restituir bens ou valores deve determinar o desconto em folha de pagamento, o sequestro ou penhora de bens, garantindo a reparação ao patrimônio público (art. 14, § 3º e § 4º o da Lei 4.717). Quando a ação for claramente infundada, o cidadão será condenado ao pagamento do décuplo das custas conforme o art. 13 da mesma lei. A sentença da ação popular não está submetida ao princípio processual da correspondência entre o pedido e a decisão. O juiz pode condenar, de ofício, o pagamento de perdas e danos, conforme o art. 11 da Lei 4.717. Qualquer cidadão brasileiro pode questionar judicialmente atos lesivos ao patrimônio público, bem como à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. A previsão, expressa na Constituição de 88, é um reforço feito pelo legislador ao conceito da ação popular, medida presente no ordenamento jurídico brasileiro desde 1824. Atualmente, além do texto constitucional, a ação popular é regulamentada pela Lei 4.717/65. Direito político de todos os cidadãos, a ação popular é uma forma de aumentar a participação popular na proteção de valores e bens especificados pela Constituição. Na história do Brasil, apenas as Constituições de 1891 e 1937 não previram a ação popular. O STJ já pacificou o entendimento de que, para a existência de uma ação popular, são necessários três pressupostos: a condição de eleitor do proponente, a ilegalidade ou ilegitimidade do ato e a lesividade decorrente do ato praticado. No julgamento do REsp 1.447.237, os ministros da 1ª Turma ratificaram o entendimento dos pré-requisitos da ação: “Tem-se como imprescindível a comprovação do binômio ilegalidade-lesividade, como pressuposto elementar para a procedência da ação popular e consequente condenação dos requeridos no ressarcimento ao erário em face dos prejuízos comprovadamente atestados ou nas perdas e danos correspondentes”. Nos questionamentos que chegam até o STJ, um dos pontos contestados é a legitimidade do cidadão proponente. O entendimento da corte é que basta a apresentação de um título de eleitor válido para justificar a legitimidade ativa do proponente. No REsp 1.242.800, os ministros da 2ª Turma resumiram a polêmica em torno da legitimidade ativa: “Aquele que não é eleitor em certa circunscrição eleitoral não necessariamente deixa de ser eleitor, podendo apenas exercer sua cidadania em outra circunscrição. Se for eleitor, é cidadão para fins de ajuizamento de ação popular”. Requisito subjetivo, somente tem legitimidade para a propositura da ação popular o cidadão; Requisito objetivo refere-se à natureza do ato ou da omissão do poder público a ser impugnado, que deve ser, obrigatoriamente, lesivo ao patrimônio público, seja por ilegalidade, seja por imoralidade. Conforme decidiu o Supremo Tribunal Federal, a ação popular é destinada “a preservar, em função de seu amplo espectro de atuação jurídico-processual, a intangibilidade do patrimônio público e a integridade da moralidade administrativa”. De acordo com o artigo 5º da Lei 4.717/65, que regula a ação popular, a competência para julgamento da ação popular é determinada pela origem do ato lesivo a ser anulado, via de regra, do juízo competente de primeiro grau, conforme as normas de organização judiciária. Ainda que se trate de ato praticado pelo Presidente da República, não haverá foro privilegiado, sendo competente a justiça de primeira instância. A competência originária do Supremo Tribunal Federal é admitida nos casos previstos no artigo 102, I, f e n , da Constituição Federal de 1988: CF/88, Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta; n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos, ou seja, direta ou indiretamente interessados.
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