Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Como Resolver um Caso Clínico (Enteral) Exemplo Paciente F.C. , sexo feminino, 32 anos. Sofreu um acidente automobilístico grave sofrendo múltiplos traumas. Na chegada ao hospital, a paciente foi transferida para o CTI sendo intubada e em coma induzido. Dados antropométricos: Peso atual = 53 Kg Peso usual = 65 Kg a 1 mês Altura = 1,71 m DCT = 4,0 mm (< p5) CB = 25 cm (p5 – p15) Exames bioquímicos: Albumina = 3,2 mg/dL (3,5 – 5,5 g/dL) Hemoglobina = 12,1 g/dL (11,5 – 16,4 g/dL) Sódio = 142 mEq/L (135 – 145 mEq/L) Potássio = 4,0 mEq/L (3,6 – 5,0 mRq/L) Fósforo = 3,0 mEq/L (2,5 – 4,5 mEq/L) Exame físico: - Depleção da bola gordurosa de Bichart - Paciente em coma - Atrofia da musculatura temporal - Sem edema - Anictérico e acianótico. 1) Calcular dados do diagnóstico Nutricional – IMC, %PPC, CMB, RCQ. - IMC: IMC = 53 IMC = 18,12 kg/m2 -> Desnutrição grau I (1,71)2 - %PPC: %PPC = 65 – 53 x 100 %PPC = 18,4% perda de peso corporal em 1 mês -> perda de peso grave. 65 - CMB: CMB = 25 – (3,14 x 4 ÷ 10) CMB = 23,74 cm (< p5) -> desnutrição do compartimento proteico somático. 2) Calcular VET e Macronutrientes *Para calcular este VET podemos utilizar a faixa de 30 a 35 Kcal/Kg PC, pois visamos o ganho de peso, ou seja uma dieta hipercalórica, então: VET = 35 x 53 VET = 1855 Kcal/dia *Para calcular a quantidade de proteínas desta dieta podemos utilizar a faixa acima de 1 g/Kg, pois este paciente apresenta baixa de albumina, ou seja, uma possível depleção do compartimento proteico visceral e para reverter esse quadro precisamos ofertar mais proteínas, então a dieta deve ser hiperprotéica: PTN = 53 x 1,4 PTN = 74,2 g/dia Para saber em Kcal fazemos: 74,2 g x 4 = 297 Kcal/dia, ou seja, 16% do VET. *Para calcular a quantidade de carboidratos desta dieta podemos utilizar a faixa de 45 a 60% do VET, então: CHO = 54% do VET utilizamos regra de 3: 1855 = 100% X = 54% CHO = 1002 Kcal ÷ 4 CHO = 250 g/dia. *Para calcular a quantidade de lipídios desta dieta podemos utilizar a faixa de 15 a 30% do VET, então: LIP = 30% do VET utilizamos regra de 3: 1855 = 100% X= 30% LIP = 557 Kcal ÷ 9 LIP = 62 g/dia. *Temos que calcular também a ingestão hídrica e podemos utilizar a faixa de 1 a 1,5 ml/Kcal/dia, então: Ingestão Hídrica = 1,3 x 1855 Ingestão Hídrica = 2400 mL/dia. 3) Calcular e definir os dados da dieta enteral * Primeiro temos que definir a via da sonda, já que vamos dar uma dieta via enteral para este paciente pois ela está em coma, então devemos escolher entre: - Se for naso: Nasogástrica, nasojejunal ou nasoduodenal; - Se for oro: Orogástrica, orojejunal ou oroduodenal; - Se for ostomia: gastrostomia ou jejunostomia. Vamos escolher então a via nasogástrica, pois é a via mais fisiologia e não há motivo para fazermos ostomia já que não há nada que impeça a passagem da sonda. Porém se o paciente for ficar mais de 4 semanas com a sonda nasogástrica teremos então que fazer uma gastrostomia após esse período. * Depois temos que definir o tipo de infusão, que pode ser: - Gravitacional; - Bomba infusora. Vamos utilizar a bomba infusora, pois é o método mais fácil e o de maior confiança e precisão para administração de dieta enteral. * Agora temos que definir qual vai ser o tipo de administração da dieta, que pode ser: - Bolus: administração da dieta lentamente por seringa de 60 ml; - Intermitente: administração da dieta em 24 hrs com intervalos de descanço; - Noturna: administração da dieta no período da noite; - Contínuo: administração da dieta em até 20 hrs sem interrupções. Vamos utilizar a administração contínua neste paciente, mas poderia ser escolhida qualquer um dos 4 tipos. Depois definimos quanto ao modo de preparação, que pode ser: - Artesanal ou natural: Alimentos in natura geralmente preparada em casa; - Industrializadas ou quimicamente definidas: pó para reconstituição, líquida semi-pronta para uso ou liquida de sistema aberto ou fechado. Para nosso paciente vamos escolher a dieta industrializada de sistema fechado por ela estar internada e por ser uma dieta mais segura microbiologicamente. * Temos que definir ainda quanto ao teor-calórico e quantidade de nutrientes, que pode ser: - Nutricionalmente completa: quando a dieta possui todos os macro e micronutrientes; - Nutricionalmente incompleta: quando a dieta é isenta de algum macro ou micronutriente. Para este paciente podemos utilizar uma dieta nutricionalmente completa, pois não há motivos para retirarmos algum macro ou micronutriente. * Agora vamos definir quanto a presença ou não de elementos específicos, como: - Lactose: ex. Isenta de lactose; - Sacarose: ex. Isenta de sacarose; - Fibras: ex. Isenta de fibras, rica em fibras solúveis ou insolúveis; - Glúten: ex. Isenta de glúten; - Nutrientes imunomoduladores: ex. Rica em arginina, nucleotídeos ou glutamina. Para este paciente podemos dar uma dieta normal, ou seja, sem elemento específico. * Definimos também quanto a complexidade de nutrientes, que pode ser: - Polimérica: nutrientes íntegros; - Oligomérica: nutrientes hidrolizados; - Monomérica: nutrientes cristalizados. Para este paciente podemos escolher a dieta polimérica, já que sua sonda é nasogástrica e a digestão ocorrerá normalmente a partir do estômago. *Por fim definimos quanto a fontes dos macronutrientes que pode ser: Proteínas: Extrato de soja, isolado de soja, lactoalbumina, caseína, Aas livres ou cristalinos; Carboidratos: Glicose, frutose, sacarose, maltose, lactose, maltodextrina ou hidrolisado de cereais; Lipídeos: TCL, TCM ou ômega 3 e 6. Essa informação vem descrita no rótulo na dieta que escolhemos para nosso paciente. 4) Por fim escrevemos o Diagnóstico Nutricional, a Conduta Nutricional, a Prescrição Dietética e o Parecer Nutricional. Diagnóstico Nutricional: O paciente apresenta desnutrição grau I de acordo com seu IMC de 18,12 Kg/m2; sua circunferência do braço de 25 cm indica risco para desnutrição; sua dobra cutânea triciptal de 4,0 mm indica desnutrição do tecido adiposo; sua circunferência muscular do braço de 25,73 cm indica eutrofia do compartimento proteico somático. Conduta Nutricional: Será ofertada uma dieta hipercalórica, hiperprotéica, normoglicídica, normolipídica, administrada via sonda nasogástrica podendo ser feito uma gastrostomia se houver permanência de dieta enteral mais de 4 semanas, administrada por bomba infusora de infusão contínua por 20 hrs, industrializada de sistema fechado, nutricionalmente completa e polimérica. Parecer Nutricional: Paciente F.C., sexo feminino, 32 anos, não LOTE, seu exame físico apresentou depleção da bola gordurosa de Bichart que indica possível desnutrição do compartimento adiposo, depleção da musculatura temporal que indica possível desnutrição do compartimento proteico somático e/ou longo período sem mastigação. Apresenta desnutrição grau I de acordo com seu IMC de 18,12 Kg/m2; sua circunferência do braço de 25 cm indica risco para desnutrição; sua dobra cutânea triciptal de 4,0 mm indica desnutrição do tecido adiposo; sua circunferência muscular do braço de 25,73 cm indica eutrofia do compartimento proteico somático. Sua avaliação bioquímica mostrou baixa de albumina que pode indicar depleção do compartimento proteico visceral. Será ofertada uma dieta hipercalórica, hiperprotéica, normoglicídica, normolipídica, administrada via sonda nasogástrica podendo ser feito uma gastrostomia se houver permanência de dieta enteral mais de 4 semanas, administrada por bomba infusora de infusão contínua por 20 hrs, industrializada de sistema fechado, nutricionalmente completa e polimérica. O paciente segue em observação.
Compartilhar