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2020319_105048_Tópico 03 3

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CONCEPÇÕES SOBRE A FILOSOFIA DO DIREITO –
EIXO HISTÓRICO I – O DIREITO CLÁSSICO E 
MEDIEVAL
Tópico 3
A FILOSOFIA DO DIREITO NA IDADE 
MÉDIA
Tópico 3.3
DO “HOMEM PARA POLIS” AO “HOMEM PARA O 
HOMEM
• Declínio do pensamento clássico grego – as invasões de Alexandre, o Grande.
• Em Aristóteles, o homem era visto como animal político. Ou seja, em relação com a
polis.
• Depois de Alexandre, o homem passa a ser visto como indivíduo, pois foi quebrada
a noção de/relação com a polis.
• Noção de “humanidade” – concepção universal do indivíduo: “Mediante o uso de
sua razão, o homem compreende a verdadeira ordem das coisas e o seu lugar nessa
ordem; é assim que ele se dá conta de que tudo obedece às leis da existência. O
homem deve, portanto, associar seu comportamento à ordem do direito ‘natural’”
MORRISON, W. p.61.
CÍCERO – O ESTADISMO ROMANO
• Antecedente: estoicismo e lei natural universal que
dirige a conduta humana.
• Filósofo eclético. Fundamentou-se, sobretudo, nas
filosofias dos estoicos e dos céticos.
• A mais alta realização humana é a utilização dos
conhecimentos (filosóficos) na orientação das
atividades humanas.
• “Uma sociedade livre é uma república
constitucional onde a persuasão, e não a coerção, é
o instrumento do poder político” (MORRISON, W.
p.63).
• “Todos os homens são iguais perante [a] lei eterna, não perante os artefatos
exteriores de nossas propriedades ou de nossa posição social, mas sim na
posse da razão” (MORRISON, W. p.63).
• A origem da desigualdade é a ordem social, não a ordem natural:
“Nascemos para a justiça, e só os maus hábitos e as falsas crenças nos
impedem de compreender a igualdade e a semelhança humanas subjacentes”
(De legibus, 1.10).
• “Existe um direito da natureza que independe do fato de o direito criado
pelo homem (ou direito positivo) existir ou não” (MORRISON, W. p.64).
• “A mais tola das ideias é a crença em que tudo o que se encontra nos
costumes ou nas leis das nações é justo. Seria tal ideia verdadeira mesmo que
essas leis tivessem sido promulgadas por tiranos? (...) [ou se uma lei
propusesse] que um ditador pudesse condenar impunemente à morte qualquer
cidadão que desejasse eliminar, mesmo sem julgamento? Pois a justiça é uma
só; une toda a sociedade humana e tem por fundamento uma única lei, que é
a razão legítima aplicada ao poder e à proibição (De Legibus, 1.15.42).
SANTO AGOSTINHO [SÉC. IV/V d.C.] 
DIREITO NATURAL TEOLÓGICO
• “Cristianização” das concepções de Platão;
• Papel da Graça divina na vida humana;
• História da vida individual como subconjunto da história geral da ordem social.
Portanto, “a vida política ou pública de um Estado encontra-se sob o mesmo conjunto
de leis morais que regem a do indivíduo” (MORRISON, W. p.72);
• Divergência: Estoicos – lei da natureza, lei “divina”, forças naturais no universo.
Agostinho – lei eterna como razão e vontade do Deus cristão que estabelece uma
relação pessoal.
• “A lei eterna é a razão de Deus no comando da regularidade, e a apreensão
intelectual humana dos princípios eternos é chamada de direito natural”
(MORRISON, W. p.72).
• “Para que as leis criadas pelo Estado sejam totalmente justas, dizia Santo Agostinho, as leis
temporais devem estar de acordo com o princípio do direito natural, que, por sua vez, deriva
do direito eterno” (MORRISON, W. p.72);
• A ideia de justiça é anterior ao homem, precede o Estado e é eterna. Contudo, “... a
realidade da justiça devia ser encontrada na estrutura da natureza humana em sua relação
com Deus” (MORRISON, W. p. 73);
• “Enquanto a problemática prática da jurisprudência grega – aprisionada pela questão
pragmática de como criar uma estrutura intelectual capaz de governar racionalmente uma
sociedade que girava em torno da participação na pólis – contava com a justiça para
encontrar um conceito através do qual se pudesse, legitimamente, distribuir as recompensas
devidas no contexto da participação variável na pólis, Santo Agostinho procurava, no
conceito de justiça, um critério que transcendesse qualquer configuração social específica, isto
é, que remetesse ao cosmo – à criação – como um todo” (MORRISON, W. p.72-73).
• “... se as leis do Estado não estiverem em harmonia com o direito e a justiça naturais,
não terão o caráter de verdadeiras leis nem haverá, no caso, um Estado verdadeiro.
Uma vez que ele definia uma comunidade como um Estado do povo, ‘não haverá
povo se este não estiver unido por um consenso do direito; tampouco haverá direito
que não esteja fundamentado na justiça. Segue-se daí que, onde não houver justiça,
não haverá comunidade’” (MORRISON, W. p.73);
• Ex.: “A cidade de Deus” – duas “cidades”, com dois princípios diversos – dois
amores.
UM ESTUDO SECULAR SOBRE AS RAÍZES DO DIREITO –
A ESCOLA DE DIREITO DE BOLONHA E SEGUINTES
• Queda do Império Romano do Ocidente – 476 d.C.
• Codificação de Justiniano [527 d.C. – 565 d.C.] – Corpus Iuris Civilis:
• Institutas: Manual dos juristas
• Digesto(Pandectas): comentários dos grandes juristas romanos;
• Código(Codex): Reunião de todas as constituições imperiais editadas desde o governo do
imperador Adriano (117 a 138);
•Novelas(Autênticas): Constituições elaboradas depois de 534
• Universidade de Bolonha – séc XI. Escola dos Glosadores. Glosas interlineares ou marginais.
Sumas (resultados dos estudos) e Aparatos (comentários à título). Base do direito privado moderno.
• Escola dos Comentadores (pós-glosadores) – séc XIII a XIV.
• Escola Culta (França) – séc XVI a XVIII. Mos Gallicus iura docendi contraposto ao mos italicus dos
Glosadores e Comentadores. Apenas para estudo acadêmico, sem aplicação prática. Método
histórico-crítico. Uso da filologia.
• Escola Elegante (Holandesa) – séc XVII e XVIII. Aplicação prática. Uso do estuo histórico-filológico,
herdado da Escola Culta. “Como adaptar o Direito Romano aos problemas do Direito Holandês?”.
• Escola de Direito Natural (Escola de Salamanca – jusnaturalistas) – séc XVII e XVIII. O Direito
Romano é expressão do Direito Natural (produto da razão humana, igual em todos os povos e
tempos).
• Escola Histórica Alemã – séc XIX. o direito de um povo é produto orgânico de sua história, e não
criação arbitrária do legislador; é uma adaptação de suas tradições às necessidades da
sociedade.
SANTO TOMÁS DE AQUINO [1225 -1274]
OS FINS DO HOMEM E O DIREITO NATURAL
• “Cristianização” de Aristóteles;
• A verdadeira felicidade é chegar ao conhecimento de Deus: o homem está vinculado a este
fim, a esta finalidade, a este telos;
• Tomás de Aquino = Aristóteles (alcançar a virtude e a felicidade mediante a satisfação de
suas aptidões ou seus fins naturais) + conceito cristão de fim sobrenatural.
• “... um ato só é humano se for livre. A liberdade implica o conhecimento de alternativas e a
capacidade de escolher entre elas. A virtude, ou o bem, consiste em fazer as escolhas certas;
é o meio-termo entre os extremos” (MORRISON, W. p.78).
• Praticar o bem e evitar o mal (cf. MORRISON, W. p.78-9).
• “Boa parte do impulso para essa teoria do direito natural já fora desenvolvida por
Aristóteles. Na Ética a Nicômaco, Aristóteles faz distinção entre justiça natural e justiça
convencional” (MORRISON, W. p.79).
• Direito Natural: melhor do que o Direito Positivo.
• “Cabe ao direito comandar e proibir ...” (MORRISON, p. 80).
• Relação entre lei eterna, natural, humana e divina:
Lei eterna – intelecto de Deus e seu plano;
Lei natural – parte da “lei eterna” que diz respeito ao ser humano;
Lei humana – devem derivar dos preceitos gerais da lei natural;
Lei divina – deve dirigir o homem ao céu; provém das fontes divinas (sagrada
escritura).
• “o Estado é uma instituição natural derivada da natureza humana, mas postula que
o Estado também tem um dever que lhe é imposto no sentido de ajudar o homem a
cumprir seu fim natural” (MORRISON, W. p. 82).

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