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DIREITO ADMINISTRATIVO APLICADO NOTA DE AULA INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE PROF. Igor Moura Rodrigues Teixeira Introdução, fundamentos e competência; Modalidades: • Servidão administrativa, • Requisição, • Ocupação temporária, • Limitações administrativas, • Tombamento; e • Desapropriação. 1. Introdução. Conceito. Fundamento. Natureza Jurídica: Direito de Propriedade é o direito de gozar, usar, fruir, dispor e reaver o bem de quem quer que ele esteja, atendendo sempre o caráter absoluto, exclusivo e perpétuo. Art. 5º, XXII, CF - é garantido o direito de propriedade; Art. 5º, XXIII, CF - a propriedade atenderá a sua função social; Intervenção do Estado na propriedade privada é exceção. Eventual intervenção deve ser bem fundamentada, justificada, prevista na lei. Se caracteriza pela interferência nas características exclusividade, absolutismo e perpetuidade. A intervenção na propriedade tem fundamento no exercício do poder de polícia, salvo no caso da desapropriação. Observação: Excepciona-se a desapropriação, porque, nela, retira-se o bem do particular. Observação 2: Hely Lopes Meirelles dizia que o poder de polícia servia como fundamento somente para a limitação administrativa. Hoje, ele é minoria. A intervenção na propriedade, basicamente, se resume em duas situações justificadoras: 1. Supremacia do interesse público (ex. desapropria-se para fazer uma escola, um hospital); 2. Prática de uma ilegalidade. A intervenção na propriedade se divide em duas formas: 1. Intervenção restritiva, que não retira a propriedade do dono, mas apenas restringe seu direito sobre ela. Exemplo: limitação, requisição, servidão, ocupação temporária, servidão, tombamento. 2. Intervenção supressiva, que é aquela que retira a propriedade do particular para o Estado. Há a transferência da propriedade para o Estado. Exemplo: Desapropriação. 2. Limitação Administrativa A limitação é uma forma de intervenção na propriedade em que o poder público age estabelecendo obrigações de caráter geral. Ela é imposta por normas gerais e abstratas, de modo que o proprietário atingido é indeterminado. A limitação administrativa é, por excelência, exercício do poder de polícia, que vai atingir basicamente o direito de construir. Um exemplo: Construções na Beira-mar de Natal – construção de edifícios em até 4 andares. A limitação administrativa atinge o caráter absoluto da propriedade. Pode estar ligada a regras de segurança, questões ambientais, urbanísticas, questões de salubridade e de defesa nacional. Busca a compatibilização de interesses público e particular e o bem-estar social. Observação importante: Em regra, a limitação administrativa não gera obrigação de indenizar. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA ≠ LIMITAÇÃO CIVIL. O direito de vizinhança, por exemplo, estabelece algumas limitações civis. A limitação civil persegue o interesse privado, enquanto a limitação administrativa persegue o interesse público. Obs: Em Balneário Camburiu, em virtude de ausência de limitação administrativa, tem uma parte da praia que não pega sol. Em Santos, em razão da ausência de limitação administrativa, alguns prédios muito altos se inclinaram em razão dos efeitos da ventilação. Isso pode comprometer a segurança da cidade. 3. Servidão Administrativa Servidão administrativa é um instituto de natureza de direito real sobre coisa alheia. Isso significa que, se a servidão é um direito real, ela é um direito perpétuo, depende de transcrição e tem todas as características de um direito real. Exemplo: Tubulação de saneamento básico e encanamento passam pela propriedade particular. O objetivo da servidão administrativa é o serviço público e a finalidade pública. Cuidado! Algumas propriedades rurais têm fios elétricos e torres de alta tensão! Onde tem torres de alta tensão, geralmente há uma placa que proíbe que se plante, construa, ou utilize a área próxima à torre. (Desapropriação indireta) Na servidão, alguém utiliza a propriedade junto com o proprietário. Afeta o caráter de exclusividade da propriedade. Impõe ao proprietário que suporte um ônus parcial sobre o imóvel. É um direito real sobre coisa alheia que tem caráter perpétuo. Dependerá de registro. Pode gravar bens públicos e bens privados. A formalização da constituição da servidão se dá através de autorização legislativa. A servidão pode ocorrer de três maneiras diferentes: 1. Servidão legal – Decorre diretamente da previsão legal – a própria lei autoriza e cria a servidão, independendo para sua constituição de qualquer ato jurídico, unilateral ou bilateral. Ex.: Servidão ao redor dos aeroportos (serviço de navegação aérea); 2. Servidão por acordo entre as partes: nesse caso, deve ser precedida de declaração de utilidade pública. Ex.: Servidão de energia elétrica. 3. Servidão pode decorrer de sentença judicial. Observação: Enquanto direito real, a servidão dependerá de registro (transcrição). Menos a servidão legal Atinge o caráter exclusivo da propriedade, pois o Estado passará a utilizar o bem juntamente com o proprietário. A servidão traz uma “relação de dominação”, que será diferente no direito civil e no direito administrativo. A relação de dominação do direito civil (bem sobre bem); A relação de dominação de direito administrativo (serviço sobre bem). Indenização? Se houver dano efetivo, há dever de indenizar. DISTINÇÕES IMPORTANTES Servidão Civil Servidão Administrativa Interesse Há interesse privado Há interesse Público Disciplina Direito Civil Direito Administrativo Relação de Dominação Bem sobre bem Serviço sobre bem Servidão Administrativa Limitação Administrativa É ato específico Atinge proprietários determinados É ato geral e abstrato Atinge proprietários indeterminados Há relação de dominação Não há relação de dominação É direito real Não é direito real Atinge o caráter exclusivo da propriedade Atinge o caráter absoluto da propriedade 4. Requisição Administrativa: A requisição está prevista no art. 5º, XXV, da CF, que diz que em caso de iminente perigo o poder público poderá requisitar a propriedade particular, sendo a indenização posterior. Art. 5º, XXV, CF - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano; O fundamento da requisição é o iminente perigo. Pode atingir bens móveis, imóveis e serviços (ex. requisição de carro por um policial que está perseguindo um assaltante). Pode ocorrer em tempo de guerra e em tempo de paz (ex. caso de desabamento, chuvas fortes, etc.). É ato unilateral do Poder Público e é ato autoexecutável. Atinge o caráter exclusividade da propriedade (ex. poder publico requisita o imóvel do particular para abrigar os desabrigados das chuvas). É temporária e acontece enquanto durar o perigo. Há indenização? A indenização é possível se houver dano. A indenização é ulterior à utilização desse bem. Havendo indenização sem a comprovação do dano, teremos a caracterização de enriquecimento ilícito. 5. Ocupação Temporária É utilizada no Brasil em duas hipóteses: 1. Diz respeito a um instituto complementar à desapropriação. Exemplo: Ocupa-se temporariamente um patrimônio não edificado vizinho à obra pública, com o objetivo de guardar os materiais da obra. Ver Art. 36, do Dec-lei 3.365/41, norma geral de desapropriação: Art. 36, DL 3.365/41 - É permitida a ocupação temporária, que será indenizada, afinal, por ação própria, de terrenos não edificados, vizinhos às obras e necessários à sua realização. O expropriante prestará caução, quando exigida. 2. Diz respeito à pesquisa de minérios e à pesquisa arqueológica. Se há suspeita de minério na propriedade de uma pessoa, o Estado faz uma ocupação temporária para pesquisar, e se seencontrar o minério, desapropria-se o bem. Essa medida serve para evitar uma desapropriação desnecessária: faz-se uma desapropriação de acordo com a necessidade do poder público. Ocupação temporária é temporária, transitória ou permanente? A ocupação temporária é transitória, temporária, enquanto durar a necessidade. Essa ocupação atinge o caráter exclusivo da propriedade. Pode ter indenização, desde que caracterizado qualquer dano ou prejuízo. A doutrina diz que a ocupação temporária pode ser gratuita ou remunerada. Essa modalidade de intervenção também não se confunde com as anteriores. 6. Tombamento Tombamento tem como fundamento o art. 216, §1º, da CF e o Decreto-lei de 25/37. Tombamento nada mais é do que a conservação. Congela-se o bem para preservá-lo. O objetivo é contar a história de um povo. Trata-se de uma referência à identidade de um povo (ex. parte ambiental, cultural, um fato memorável, uma questão arqueológica, histórica, etc.). O tombamento pode atingir 4 searas diferentes. O mais comum é o tombamento histórico. Mas, o tombamento pode ser também artístico, paisagístico ou cultural (ex. tombamento de uma árvore, de danças folclóricas, de uma obra de arte, etc). Ver Art. 216, CRFB: Art. 216, CF - Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: § 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. >>> Ler o decreto-lei 25/1937!!! Quando um bem é tombado, a partir desse momento, não mais se pode modificar as características desse bem. O caráter da propriedade que se pode utilizar é o absoluto. Restringe-se a liberdade do proprietário. O tombamento é uma forma de intervenção restritiva, sendo que o dono continua dono. 6. Tombamento O tombamento têm algumas características importantes: Pode ser sobre bens públicos ou privados; Pode ser sobre bens móveis ou imóveis. Não há obrigação de indenizar. Mas, excepcionalmente, se houver um gravame muito grande, pode haver indenização. A competência para legislar o tombamento é concorrente entre os estados, União e DF (art. 24, VII, da CF). A competência material (para executar o tombamento) é comum, cf. art. 23, III, CF, de modo que todos os entes podem executar tombamento. A ideia é que se observe a órbita de interesses. Se todos os entes tiverem interesse, nada impede que todos, ao mesmo tempo, constituam tombamento. Há bens tombados pelo Estado, município, União e pela Humanidade. Obrigações inerentes ao tombamento: 1. Conservação e preservação do patrimônio. É importante notar que se a conservação não for feita, em razão da obrigação de preservar o patrimônio, poderá haver incidência de multa. Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico Art. 165, do CP - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico ou histórico: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. 6. Tombamento O patrimônio tombado gera direito de preferência quando da alienação desse bem. Em caso de alienação onerosa há direito de preferência, sob pena de nulidade do ato. Se o patrimônio tombado for um bem público, ele se torna inalienável. Se o bem for objeto de extravio ou furto, o proprietário tem 5 dias para comunicar à autoridade. Os bens móveis tombados não podem sair do país. Mas, o art. 14, do Dec. 25/37, excepciona essa regra, de modo que poderão sair do país os bens móveis, por curto prazo, para fins de intercâmbio, a critério do instituto que tombou. Art. 14, Dec. 25/37 - A. coisa tombada não poderá saír do país, senão por curto prazo, sem transferência de domínio e para fim de intercâmbio cultural, a juízo do Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O patrimônio tombado não pode ser objeto de exportação e esse fato pode caracterizar crime e sofrer a incidência de multa. O proprietário tem suportar a fiscalização. O vizinho do patrimônio tombado não pode prejudicar a visibilidade do bem. Ela não pode colocar placas e cartazes que prejudique a visibilidade, nem construir (nesse caso, o vizinho terá que desfazer a obra, retirar o objeto e ainda pode incidir multa). A ideia é que o patrimônio seja visto. O tombamento pode ser realizado/classificado por algumas modalidades. Pode haver: 1. Tombamento quanto à constituição ou procedimento: a.1) Tombamento Voluntário – É aquele que se constitui a pedido do interessado, ou o poder público tomba o bem e o particular aceita. Está previsto no art.7º, do Decreto 25/37. a.2) Tombamento de Ofício e/ou Compulsório – O poder público tomba, independentemente da vontade do proprietário. Está previsto no art. 5º, do Decreto 25/37. Art. 5º, Dec. 25/37 - O tombamento dos bens pertencentes à União, aos Estados e aos Municípios se fará de ofício, por ordem do diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, mas deverá ser notificado à entidade a quem pertencer, ou sob cuja guarda estiver a coisa tombada, afim de produzir os necessários efeitos. 2. Tombamento quanto à sua eficácia: b.1) Tombamento provisório – É o tombamento feito durante o procedimento administrativo. Quando o poder público anuncia o procedimento, ele já faz o tombamento provisório, que produz todos os efeitos do definitivo, salvo a transcrição no Livro do Tombo. Isto está no art.10, do Dec.25/37. b.2) Tombamento definitivo – Ocorre quando é feita a transcrição nos livros especializados (Livros do Tombo), depois do procedimento. cidade,...; 3. Tombamento quanto aos destinatários: c.1) Tombamento geral – Atinge todos os bens situados em um bairro, uma rua, uma c.2) Tombamento individual – Atinge um bem determinado. Esse procedimento de tombamento é importante. Para isso, deve-se estudar o decreto-lei. 7. DESAPROPRIAÇÃO 7.1. Conceito e características gerais: É uma forma supressiva de intervenção na propriedade, razão pela qual Celso Antônio Bandeira de Melo chama a desapropriação de “sacrifício de direito”. A desapropriação é forma de aquisição originária da propriedade, de modo que não é necessário existir relação anterior entre o antigo proprietário e o Estado. Ela independe da anuência do proprietário, portanto, é compulsória. A desapropriação se realiza mediante indenização, ora em título, ora em dinheiro. 7.2) Competências relacionadas à desapropriação: A competência para legislar sobre desapropriação é da União. (art. 22, II, da CF). Art. 22, CF - Compete privativamente à União legislar sobre: II - desapropriação; A competência material é da administração direta. A União, os Estados, os Municípios e o DF Podem realizar todas as etapas da desapropriação (fases declaratória e executiva). O Decreto-lei 3.365/41, no seu artigo 3º, trata da competência das pessoas delegadas do poder público. Observação: Esse Decreto é de 1.941, tempo em que existiam os chamados “delegados”, pessoas que, hoje, formam a administração indireta (autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista). Eles têm competência material para desapropriar. Também podem fazer desapropriação as concessionárias e permissionárias de serviços públicos, contanto que esteja previsto no contrato (Art. 31, Lei 8987) 7. DESAPROPRIAÇÃO 7.3. Elementos da Desapropriação: São 5 os elementos importantes da desapropriação: 1. Objeto (o que pode ser objeto da desapropriação); 2. Sujeito ativo (quem vai desapropriar);3. Fundamentos e pressupostos da desapropriação 4. Elemento condicionante (indenização, por exemplo); e 5. Procedimento administrativo. 7.3.1) Objeto de Desapropriação: No Brasil, é possível desapropriar bens móveis e imóveis; bens corpóreos (ex. carro) e incorpóreos (ex. ações, crédito); bens públicos e privados; espaço aéreo; subsolo. Observação: Não podem ser desapropriados: direito da personalidade, direitos autorais, direito à vida, direito à imagem e direito a alimentos. Art. 2o, Decreto-lei 3.365/41 - Mediante declaração de utilidade pública, todos os bens poderão ser desapropriados pela União, pelos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios. §1o A desapropriação do espaço aéreo ou do subsolo só se tornará necessária, quando de sua utilização resultar prejuizo patrimonial do proprietário do solo. Observação 2: No que diz respeito aos bens públicos, é importante notar que o art. 2º, §2º, do Dec-lei 3.365/41 diz que, para não comprometer a estrutura do Estado democrático, a União pode desapropriar bens dos Estados, do DF e dos municípios. Já os Estados, podem desapropriar os bens dos seus municípios. E aos municípios, resta o patrimônio privado do particular. O inverso não pode ser feito. 7. DESAPROPRIAÇÃO 7.4) Modalidades de Desapropriação quanto ao objeto: 7.4.1 - Desapropriação Ordinária ou Comum ou Geral: Aqui, a indenização será prévia, justa e em dinheiro. Todos os entes podem realizar essa desapropriação, não havendo limitação ou restrição. Art.5º, XXIV, CF - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição; A desapropriação ordinária pode acontecer em duas hipóteses: I.a) Desapropriação Ordinária por Necessidade ou utilidade pública – As situações de necessidade ou utilidade pública estão previstas no rol previsto no art. 5º, do Decreto-lei 3.365/41. 15 alíneas – LER EM CASA OBSERVAÇÃO: Essa lista é a mesma tanto para a utilidade quanto para a necessidade pública, não ganhando diferenciação pelo legislador. Mas, para a doutrina há uma diferença. Para a doutrina, necessidade ficou para situações mais emergenciais. NECESSIDADE X UTILIDADE. I.b) Desapropriação Ordinária Por Interesse Social – O rol de hipóteses de interesse social está previsto no art. 2º, da Lei 4.132/62. 08 INCISOS – LER EM CASA O interesse social está mais ligado à conveniência social. Também nesse caso a indenização é previa justa e em dinheiro. OBSERVAÇÃO 2: A desapropriação por interesse social pode se dar para fim de realização da reforma agrária. Mas, atenção! Nem todo caso de desapropriação para reforma agrária é por interesse social! Pode haver hipótese de desapropriação para reforma agrária com fim sancionatório. OSERVAÇÃO 3: Os bens desapropriados para interesse social podem ser vendidos. 7. DESAPROPRIAÇÃO I.c) Modalidades de Desapropriação quanto à destinação determinada: Os bens desapropriados terão uma destinação determinada. (i) Desapropriação por zona ou extensiva – A desapropriação por zona abrange áreas contínuas ao entorno de uma obra pública que sofrerá valorização em razão desta mesma obra pública. Por causa dessa valorização, e da dificuldade de se instituir a contribuição de melhoria, para não perder possíveis lucros, o poder público desapropria, também, as áreas ao entorno da obra que vão se valorizar, para quando acabada a obra, ele as venda. (ii) Desapropriação urbanística (ou para urbanização) ou para industrialização – Essa desapropriação tem por finalidade a urbanização ou industrialização de uma região. Ex. Caso do parque industrial. 7.4.2 - Desapropriação Extraordinária ou Sancionatória: Essa desapropriação tem natureza de sanção, de pena. Aqui, a indenização será diferenciada. Existem duas categorias: II.a) Desapropriação Sancionatória em razão da função social da propriedade – Essa desapropriação decorre do art. 5º, XXII e XXIII, da CF, que garante o direito de propriedade desde que atendida a função social. Se o proprietário descumpre a função social ele poderá sofrer desapropriação. A função social está definida na Lei 8.629/93 (art.9º - p. rural) e na Lei 10.257/01 ( Art. 39 - p. urbana) Se o proprietário desrespeita a função social, ele sofrerá uma pena, que poderá ser de duas modalidades: (i) Desapropriação rural ou desapropriação para reforma agrária (com natureza de pena); (ii) Desapropriação para o Plano Diretor ou Urbanística. (i) Desapropriação rural ou desapropriação para reforma agrária (com natureza de pena) É fundamentada nos artigos 184 e 186, da CF, na Lei 8.629/93, na LC 76/93 e na LC 88/96 (que altera a LC 76/93). Art. 184, CF - Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. §1º - As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. §2º - O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de desapropriação. §3º - Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial de desapropriação. §4º - O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o montante de recursos para atender ao programa de reforma agrária no exercício. §5º - São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária. Art. 186, CF - A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Art. 1º, LC 76/93 - O procedimento judicial da desapropriação de imóvel rural, por interesse social, para fins de reforma agrária, obedecerá ao contraditório especial, de rito sumário, previsto nesta lei Complementar. Atenção! Aqui, estamos falando de desapropriação pena, que somente a União pode aplicar. o objeto pode ser bens imóveis rurais. Não pode atingir ou incidir sobre a pequena e a média propriedade, se o proprietário não possuir outra. Ela também não pode atingir a propriedade produtiva. (i) Desapropriação rural ou desapropriação para reforma agrária (com natureza de pena) Atenção! A indenização é paga em títulos da dívida agrária (TDA), resgatáveis em até 20 anos. - A indenização, nesse caso, é em relação a nua propriedade. As benfeitorias necessárias e úteis serão indenizadas em dinheiro. Art. 184, §1º, da CF e art. 5º, da Lei 8.629/93. Art. 5º, Lei 8.629/93 - A desapropriação por interesse social, aplicável ao imóvel rural que não cumpra sua função social, importa prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária. § 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. § 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor ação de desapropriação. § 3º Os títulos da dívida agrária, que conterão cláusula assecuratória de preservação de seu valor real, serão resgatáveis a partir do segundo ano de sua emissão, em percentual proporcional ao prazo, observados os seguintes critérios... Comparação entre as hipóteses de desapropriação para fim de reforma agrária, conforme seja ela ordináriaou comum, ou sancionatória por descumprimento de função social da propriedade rural. Assim: Desapropriação para Reforma Agrária Desapropriação Sanção Desapropriação Comum ou Ordinária Só pode ser promovida pela União União, Estados, Municípios, DF Só imóvel rural Imóvel rural ou urbano Indenização em títulos da dívida agrária, resgatáveis em até 20 anos. Indenização prévia, justa e em dinheiro. (ii) Desapropriação para o Plano Diretor ou Urbanística A desapropriação urbanística ocorre quando o proprietário está desrespeitando o Plano Diretor. O fundamento dessa desapropriação é o art. 182, §4º, III, CF e a Lei 10.257/01 (Estatuto da cidade). Art. 182, § 4º, CF - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. Art. 8º, Lei 10.257/01 - Decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietário tenha cumprido a obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do imóvel, com pagamento em títulos da dívida pública. O município pode ser sujeito ativo. O DF também pode promover essa desapropriação, pois ele soma as competências do Estado e do município. Somente imóveis urbanos podem ser objetos dessa desapropriação. Essa desapropriação terá indenização em títulos da dívida pública (TDP), em até 10 anos. Observação: Essa desapropriação tem uma gradação, ou seja, a desapropriação é a última providência a ser tomada pelo poder público quando descumprida a função social. Quando a Lei do plano diretor determina que a área seja edificada, a pessoa tem que urbanizar o bem. Nesse caso, o poder público primeiro determina a edificação ou parcelamento compulsória, para que a pessoa cumpra o plano diretor. O proprietário terá 1 ano para apresentar o projeto de edificação ou parcelamento, e 2 anos para começar a executar a obra. Não cumprindo a ordem, o Estado instituirá IPTU progressivo no tempo, durante 5 anos. Se o proprietário continuar não cumprindo as determinações do Poder Público, haverá a desapropriação. II.b) Desapropriação Sancionatória ou Desapropriação Extraordinária na modalidade Confisco: A desapropriação confiscatória acontecerá em razão do tráfico ilícito de entorpecentes. Ela está ligada à prática de ilegalidades. Por essa razão, trata-se de desapropriação sanção, confiscatória, conforme art. 243, da CF e Lei 8.257/91. Art. 243, caput, CF - As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014) O art. 243, da CF divide a desapropriação confisco em duas modalidades: (i) Desapropriação confisco (art. 243, caput, CF – propriedade rural): Nesse caso, o Estado desapropria sem indenização. O imóvel é destinado à reforma agrária e a programas de habitação popular. Expropriação é a desapropriação-sanção na hipótese de confisco (sem dever de indenizar). (ii) Desapropriação confisco (art. 243, parágrafo único, CF – bens de valor econômico destinados ao tráfico de entorpecentes): Art. 243, parágrafo único, CF - Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014) Mas o parágrafo único fala da desapropriação do bem de valor econômico destinado ao tráfico do entorpecente, como, por exemplo, um carro, avião, etc. A destinação dos bens também é determinada. Esses bens serão destinados especificamente para duas finalidades: utilização dos bens para auxiliar no combate ao tráfico (implementação da investigação) ou para as casas de recuperação de viciados. 7.4.3 - Desapropriação indireta: Às vezes, para evitar o procedimento detalhado e rigoroso da desapropriação, e principalmente o dever de indenizar, o poder público faz uma intervenção na propriedade, com caráter supressivo, mas sem dar o nome de desapropriação. É uma desapropriação disfarçada. A desapropriação indireta é uma tomada de propriedade de forma irregular, sem as providências necessárias. O Estado esbulha a propriedade, sumulando uma forma de intervenção (como, por exemplo, uma servidão), quando, na realidade, a intervenção é outra. Se equipara a um esbulho - “esbulho administrativo”, ou “apossamento administrativo”. Por ser de difícil identificação, a jurisprudência fixou alguns parâmetros. Segundo o STJ, os requisitos são: (1) O Estado tenha o apossamento desse bem, sem a observância do devido processo legal. (2) O Estado deve entrar no bem e dar uma finalidade pública ao bem – afetação. (3) Irreversibilidade da situação. Essa irreversibilidade que caracteriza a desapropriação indireta irá ocorrer, também, se houver a desvalorização total do bem. Observação: Havendo suspeita da desapropriação indireta, cabe ao proprietário manejar uma ação de interdito proibitório, que protege e resguarda o direito de posse contra ameaças. Se o Estado passa da ameaça para a turbação (por exemplo, tira as medidas da propriedade, entra e sai do imóvel), o proprietário deve ajuizar uma ação de manutenção de posse. Por fim, se houve esbulho, cabe reintegração de posse. Essas ações são de procedimentos especiais. Observação 2: Segundo a legislação, se o Estado entra no bem e afeta o bem, o juiz não pode mais devolver o patrimônio e reintegrar o proprietário. Se há ameaça, turbação ou esbulho simplesmente, pode-se reintegrar a posse ao particular. Mas, se houve esbulho e afetação, não se pode mais reintegrar. SÍNTESE – QUADRO ESQUEMÁTICO – MODALIDADES DE DESAPROPRIAÇÃO
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