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GEOGRAFIA URBANA
Djalma de Sá
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Esta obra tem por objetivo organizar o estudo da Geografia Urbana como 
instrumento de compreensão do cenário urbano atual e das relações sociais e 
econômicas do homem com a cidade. Busca-se compreender as cidades, ten-
do por fundamento conceitos como espaço urbano, território e lugar, fazendo 
uma conexão da disciplina com outras áreas de estudo. Desse modo, espera-
mos que você, leitor, tenha uma visão multidisciplinar da Geografia e um melhor 
entendimento da relação do homem com o espaço.
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6305-5
9 788538 763055
CAPA_Geografia Urbana.indd 1 26/05/2017 11:03:11
Djalma de Sá
IESDE BRASIL S/A
Curitiba
2017
Geografia Urbana
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S111g Sá, Djalma de
Geografia urbana / Djalma de Sá. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE 
Brasil, 2017.
160 p. : il. 
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-387-6305-5
1. Geografia urbana - Brasil. I. Título.
17-41731 CDD: 327
CDU: 327
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
© 2017 – IESDE Brasil S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer 
processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais.
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Produção
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão IESDE
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Capa Vitor Bernardo Backes Lopes
Imagem Capa brainpencil/Shutterstock.com
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Sumário
 Carta ao Aluno | 5
1. Conceitos iniciais de Geografia Urbana | 7
2. Desenvolvimento da Geografia Urbana | 25
3. Estudo do crescimento das cidades | 43
4. As relações econômicas no processo urbano | 59
5. Processo de formação e urbanização das cidades | 77
6. Planejamento e políticas urbanas | 93
7. A produção do espação urbano e das redes urbanas | 109
8. Urbanização e sustentabilidade | 125
 Gabarito | 143
 Referências | 151
Carta ao aluno
O Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que 84% da 
população brasileira vive em áreas urbanas, demonstrando uma forte 
aglomeração populacional nas cidades. O Brasil apresenta maior 
grau de urbanização quando comparado a outros países emergentes 
– a Rússia apresenta uma taxa de 73%, a China, 47% e a Índia, ape-
nas 30%. Inclusive nos Estados Unidos percebe-se que há um grau 
de urbanização um pouco menor que o do Brasil: 82%.
Esses números demonstram um forte processo de concen-
tração populacional que, consequentemente, gera impactos na for-
mação e expansão das cidades, na estruturação das redes urbanas e 
nas configurações regionais. Por outro lado, apresentam-se desafios 
para o atendimento de novas demandas, como a organização e dis-
tribuição do espaço urbano, o processo de expansão das cidades e a 
estruturação de novas redes urbanas.
– 6 –
Geografia Urbana
Com base nesse contexto, esta obra tem por objetivo organizar o estudo 
da Geografia Urbana como instrumento de compreensão desse novo cenário 
urbano e das relações sociais e econômicas do homem com a cidade. Busca-se 
compreender as cidades tendo por fundamento conceitos como espaço urbano, 
território e lugar, fazendo uma conexão da disciplina com outras áreas de 
estudo e possibilitando, desse modo, uma visão multidisciplinar da Geografia 
e um melhor entendimento da relação do homem com o espaço.
Este livro está assim estruturado: o Capítulo 1 trata de conceitos ini-
ciais de Geografia Urbana, destacando seus fundamentos e as relações com o 
processo histórico de formação da disciplina. O Capítulo 2 aborda o desen-
volvimento da Geografia Urbana, observando o papel e a importância do 
estudo do meio urbano; já o Capítulo 3 estuda o crescimento das cidades, 
destacando as teorias do crescimento urbano. No Capítulo 4, são estudadas 
as relações econômicas no processo urbano, enfocando-se as interações da 
economia com o espaço, ao passo que o Capítulo 5 destaca o processo de 
formação e urbanização das cidades. O Capítulo 6 discute o planejamento e 
as políticas urbanas e seus impactos nas cidades, enquanto o Capítulo 7 trata 
do estabelecimento das redes urbanas. Por fim, no Capítulo 8 é proposta uma 
discussão sobre as relações da cidade com a sustentabilidade e os impactos da 
urbanização no meio ambiente.
Esperamos que você utilize esta obra para seu crescimento acadêmico e 
profissional, a fim de fazer a diferença no mercado de trabalho e em seu dia 
a dia. 
Desejamos uma boa leitura!
Conceitos iniciais de 
Geografia Urbana
Introdução
A GeoGrafia Urbana é a área da ciência geográfica que tem 
como objetivo o estudo da formação das cidades, da estruturação 
do meio urbano, descrevendo e analisando temas como a urbani-
zação, a metropolização e as redes urbanas, o processo de formação 
das cidades e o ordenamento espacial do território e suas diversas 
classificações e tipificações. Para simplificar o entendimento, pode-
-se dizer que a Geografia Urbana tem como objetivo o estudo do 
espaço urbano.
Para melhor compreensão dessa área da geografia, a dis-
ciplina apresenta uma interdisciplinaridade com outras ciências, 
como a política, a economia, a demografia, a arquitetura e urba-
nismo e outras que contribuem para sua construção.
1
Geografia Urbana
– 8 –
1.1 A questão urbana na geografia
1.1.1 O espaço urbano na geografia
Em termos gerais, pode-se dizer que o espaço urbano pode ser entendido 
como o uso do solo nas cidades, onde se desenvolve um conjunto de atividades 
que ocorrem em uma mesma conformação territorial. Entende-se que essas 
atividades são estabelecidas pelas relações sociais e de produção, isto é, nesse 
espaço as pessoas vivem, trabalham e estabelecem suas relações econômicas.
Nesse espaço ocorrem também as relações políticas, pois a organização e 
a conformação do território se dão por práticas de políticas públicas, cabendo 
ao Estado e aos demais formadores do espaço o ordenamento territorial do 
espaço urbano.
É preciso, no entanto, estabelecer a diferença conceitual entre o urbano 
e a cidade, isto é, nem toda cidade é urbana, mas o urbano ocorre nas cida-
des. O IBGE define que cidades com população inferior a 20 mil habitantes 
são caracterizadas como espaço rural. Geralmente se conceitua como espaço 
rural, o município com uma pequena quantidade de habitantes e com baixa 
dinâmica econômica.
Dessa forma, pode-se entender que o espaço urbano é produzido com 
base nas relações econômicas, isto é, o processo econômico tem seus reflexos nas 
cidades e na transformação do espaço, constituindo, assim, a cidade capitalista. 
No entanto, se a formação do espaço urbano tem início nas relações econômi-
cas, ele é apropriado pelas relações sociais vivenciadas pela coletividade.
Assim, o espaço urbano é o palco de diversas interações sociais e econô-
micas e a expressão da base territorial para o desenvolvimento do capitalismo. 
Ao produzirem o espaço urbano, os sujeitos sociais determinam a base de suas 
relações, constituindo a ação política e a materialidade, experiências de vida e 
atitude cidadã (SANTOS, 2007).
Devido à diferenciação das relações sociais, o espaço urbano passa a 
ser fragmentado, condicionando tais relações e sendo ao mesmo tempo um 
reflexo delas. Assim, esse espaço pode ser compreendido como uma arena 
de lutas entre as diversas classes sociaisque formam esse espaço. Ou seja, a 
– 9 –
Conceitos iniciais de Geografia Urbana
organização do espaço representa o resultado das lutas das classes sociais esta-
belecidas na cidade (CORRÊA, 2006).
As relações sociais historicamente construídas definem essa organiza-
ção do espaço das cidades em um determinado período histórico. Assim, no 
decorrer do tempo, o espaço precisa ser novamente ordenado, para atender às 
novas características do desenvolvimento da localidade.
Uma das características marcantes do espaço urbano, se comparado ao 
espaço rural, é a significativa presença de diferentes formas espaciais, mate-
rializadas no uso do solo urbano. Se no espaço rural o solo é destinado basi-
camente para a atividade econômica agrícola, no espaço urbano o uso do 
solo é diverso tanto para as relações econômicas, quanto para as relações 
sociais, definindo desse modo, um caráter heterogêneo à utilização do espaço 
(CORRÊA, 2006).
Assim, como conceituação final, pode-se citar as palavras do geógrafo 
Milton Santos: “O espaço deve ser considerado como um conjunto indisso-
ciável de que participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, 
objetos naturais e objetos sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os 
anima, ou seja, a sociedade em movimento” (SANTOS, 1997, p. 26).
1.1.2 O conceito de território na geografia
O território é um conceito muito utilizado e bastante difundido no 
estudo da Geografia Urbana, pois está estreitamente relacionado aos pro-
cessos de construção e transformação do espaço geográfico. A terminologia 
adota várias definições, conforme a corrente de pensamento defendida, mas 
existe um ponto comum entre todos os pensadores: território trata do espaço 
apropriado com base nas relações de poder.
Um dos pioneiros no estudo do conceito de território foi Friedrich Ratzel 
(1844-1904), que defendia a ideia de que tal conceito está vinculado ao poder 
e ao domínio exercido pelo Estado, definindo uma identidade da sociedade 
vinculada à expressão do território. No conceito jurídico, define-se território 
como um dos pilares para a existência do Estado: território, população e sobe-
rania. O Estado somente existe ao exercer sua soberania sobre sua população 
dentro do seu território (CARVALHO, 1997).
Geografia Urbana
– 10 –
O geógrafo suíço Claude Raffestin (1936-1971) também discutiu o 
conceito de território ressaltando a primazia anterior do conceito de espaço 
na geografia. Assim, Raffestin via o território como o espaço apropriado e 
construído pelas relações de poder. A expressão dessas relações se dá em todas 
as relações de poder, definindo diversos territórios dentro do mesmo espaço 
urbano (SANTOS, 1994).
Atualmente, a geografia entende território como um espaço delimitado 
por fronteiras, que nem sempre são visíveis, expresso e imposto pelas relações 
de poder. O geógrafo Marcelo Lopes de Souza (2003) cita que nem sempre 
o processo de formação territorial ocorre por meio de expressões concretas 
sobre o espaço. Souza evidencia a existência de múltiplas territorialidades 
dentro das cidades, como o território do narcotráfico, do comércio ambu-
lante, entre outros.
Para Haesbaert (1997, p. 18), o território é analisado a partir de três 
enfoques: 1) jurídico-político, segundo o qual “o território é visto como um 
espaço delimitado e controlado sobre o qual se exerce um determinado poder, 
especialmente o de caráter estatal”; 2) cultural(ista), que “prioriza dimensões 
simbólicas e mais subjetivas, o território visto fundamentalmente como pro-
duto da apropriação feita através do imaginário e/ou identidade social sobre o 
espaço”; 3) econômico, “que destaca a desterritorialização em sua perspectiva 
material, como produto espacial do embate entre classes sociais e da relação 
capital-trabalho”.
Robert Sack (1986) afirma a territorialidade como estratégia de con-
trole, chamando atenção para suas multiescalas (das relações espaciais de uma 
casa às de países) e para a variação temporal (territórios diferenciados em 
partes diferentes de um dia, por exemplo) definindo o conceito de geografia 
do poder. Bonnemaison busca uma aproximação dos conceitos de território 
e de lugar, pois, para ele,
um território, antes de ser uma fronteira, é um conjunto de lugares 
hierárquicos, conectados por uma rede de itinerários [...]. No interior 
deste espaço-território os grupos e as etnias vivem uma certa ligação 
entre o enraizamento [...]. A territorialidade se situa na junção destas 
duas atitudes: ela engloba ao mesmo tempo o que é fixação e o que 
é mobilidade ou, falando de outra forma, os itinerários e os lugares. 
(BONNEMAISON, 1981 apud HOLZER, 1997, p. 83)
– 11 –
Conceitos iniciais de Geografia Urbana
Por sua vez, Milton Santos (1994) explorou o conceito de território 
usado, segundo o qual o território não é organizado somente pelo Estado ou 
pelas relações sociais, não estando, assim, delimitado apenas pelas relações de 
poder. Para Santos (1997), o território é um sistema de ações que os agentes 
utilizam para se apropriar do espaço. O território usado é constituído pelo 
território forma – espaço geográfico do Estado – e seu uso, apropriação, pro-
dução, ordenamento e organização pelos diversos agentes que o compõem: as 
firmas, as instituições e as pessoas.
1.1.3 O conceito de urbano na Geografia
Apesar de as diferenças entre urbano e rural serem facilmente identifi-
cáveis, torna-se difícil defini-los conceitualmente. Para Bernardes, Santos e 
Nalcacer (1983, p. 6), “o conceito mais comum de urbano refere-se à concen-
tração, num ponto de espaço, de construções e de pessoas que não exerçam 
atividades rurais (ou que o façam em uma proporção reduzida em relação às 
atividades urbanas) desempenhadas no interior desse espaço concentrado” .
Da mesma forma, a urbanização é a passagem do rural para o urbano, 
seja no aspecto estrutural do espaço, na questão demográfica, no ordena-
mento do território ou no próprio estabelecimento das relações sociais e de 
produção (SANTOS, 1996).
No aspecto comportamental, a geografia da percepção ou comportamental 
entende que os sentimentos de solidariedade e de grupo dão lugar à segregação 
do espaço urbano e das relações sociais, juntamente com os estudos da geografia 
humana. No aspecto estrutural, sabe-se que a cidade se organiza com base nas 
condições sociais e econômicas, ampliando a complexidade das relações. Já em 
relação ao aspecto demográfico, o urbano apresenta a condição de concentração 
populacional, devido ao processo de atração das cidades em função da comple-
xidade das relações de produção, por meio do estudo da geografia da população.
Para Léfèbvre (2004), o conceito de urbano está vinculado ao processo 
de construção capitalista do espaço, sem ser, no entanto, um produto da 
industrialização. De acordo com o autor, o urbano é o espaço construído para 
o estabelecimento das relações sociais e de produção, e, portanto, produto do 
humano. Para Castells (1983), o urbano é produto da evolução das formas 
espaciais, gerando uma independência das relações geográficas e uma maior 
Geografia Urbana
– 12 –
interação entre as forças produtivas, sociais e culturais. Assim, é no urbano 
que as pessoas se relacionam, trabalham e consomem.
Nesses modelos apresentados, entende-se que a urbanização vai além 
das cidades, pois mesmo quem mora em áreas rurais desloca-se às áreas urba-
nas para as relações de produção, como comprar, consumir ou investir. Esse 
entendimento pode ser melhor definido ao se observar pequenos municí-
pios com predominância de áreas rurais, os quais estabelecem relações com o 
urbano, seja vendendo a produção, seja consumindo bens e produtos forne-
cidos em grande escala pelas cidades.
Resumindo:
Espaço urbano é a organização espacial da 
cidade, que corresponde ao uso do solo, onde 
se desenvolve um conjuntode atividades. Esse 
espaço fragmentado pelas relações sociais apre-
senta, também, uma articulação, pois cada uma 
das partes mantém relações com as demais.
Território é a ocupação do espaço urbano, 
com base nas relações de poder impostas; 
assim, quem manda em determinada região 
também domina determinado território.
1.2 Elementos das geografias clássica 
e contemporânea e suas relações 
com a Geografia Urbana
1.2.1 O objeto de estudo da geografia clássica
A ciência da geografia tem como foco de estudo as relações existentes 
entre os aspectos físicos, biológicos e humanos, bem como as características 
inter-relacionadas entre esses aspectos. Estuda, também, a organização do 
– 13 –
Conceitos iniciais de Geografia Urbana
espaço, constituída pelos diversos elementos da paisagem geográfica, como 
natureza, cultura e demais aspectos espaciais (BEZZI, 2004).
O espaço geográfico compreende dois conceitos de natureza bastante 
distintas:
 2 Espaço natural: É o espaço sem interferência antrópica (do 
homem), o qual mantém suas características naturais, conforme 
demonstrado pela imagem abaixo. Como exemplo, tem-se as flo-
restas fechadas, o fundo dos mares, entre outros.
Figura 1 – Espaço natural: vista aérea da Floresta Amazônica.
Fonte: Ildo Frazão/iStockphoto.
 2 Espaço construído: É o espaço modificado pelas atividades huma-
nas, em que o aspecto natural foi alterado por interferências antró-
picas. Como exemplo, tem-se as cidades, as praças, os portos e 
aeroportos, entre outros, configurando espaços de grande concen-
tração e densidade, conforme demonstrado na imagem a seguir. 
Resulta das interações socioeconômicas, da produção da sociedade, 
e é fruto das relações sociais e de produção. O espaço construído 
tem como atores principais os proprietários dos meios de produção 
e o Estado, que almejam a acumulação do capital e a reprodução da 
força de trabalho (CORRÊA, 1982).
Geografia Urbana
– 14 –
Figura 2 – Cidade de Nova Iorque, EUA: espaço construído e densamente 
ocupado.
Fonte: TomasSereda/iStockphoto.
Outro conceito bastante difundido na geografia é o conceito de espaço 
geográfico (Figura 3). Assim como o espaço construído, ele é resultado do 
processo de transformação do espaço natural. É composto pelas cidades (meio 
urbano) e pelas fazendas e propriedades do campo (meio rural).
Figura 3 – Espaço geográfico.
Fonte: filipefrazao/iStockphoto.
– 15 –
Conceitos iniciais de Geografia Urbana
1.2.2 Abordagens da geografia 
clássica e da contemporânea
A Escola Determinista defendia a ideia de que o meio natural influen-
cia totalmente o homem, ou seja, são as condições naturais que determinam 
a vida em sociedade. A partir dessa visão desenvolveu-se o conceito de espaço 
vital, que definiria as condições espaciais e naturais para que o Estado con-
solide o poder sobre seu território. Sendo assim, as populações que apresen-
tavam melhor espaço vital estariam mais aptas a se desenvolver e conquistar 
novos territórios (CARVALHO, 1997).
A Escola Possibilista Francesa se contrapunha à Escola Determinista 
e entendia que a natureza oferece possibilidades para modificar a realidade e 
adequá-la a suas necessidades. Assim, a transformação do espaço fica à cri-
tério da capacidade humana de adaptar-se para atender suas necessidades. 
Dessa forma, algumas condições, como a pobreza de determinada região, não 
seriam consequências da ação da natureza sobre o homem, mas sim da inca-
pacidade social de se criar possibilidades para suprir o que lhe é necessário 
(FERREIRA; SIMÕES, 1986).
O Método Regional é uma contraposição aos dois modelos anteriores 
e tem como base filosófica o estudo das diferenciações das áreas. Compara, 
assim, as similaridades dessas áreas, que definiriam suas classes (regiões), e as 
diferenças, que trariam suas delimitações (MORAES, 2005).
A Nova Geografia nasce após a Segunda Guerra Mundial, quando os 
países passavam por uma fase de expansão capitalista e, assim, a Geografia e 
suas dimensões já não conseguiam explicar o novo desenho geográfico do pla-
neta e suas relações econômicas, sociais e espaciais. Diante desse contexto, a 
Nova Geografia abrange os efeitos das associações do crescimento capitalista e 
os denominados deserdados da terra. Busca-se, nesse momento, compreender a 
conexão entre planejamento governamental, estatística, economia e teoria dos 
sistemas, conhecida também como Geografia Pragmática (MORAES, 2005).
Em meados dos anos de 1970, surgiu a Geografia Crítica, também cha-
mada de radical ou marxista, como resposta aos fenômenos sociais dos Estados 
Unidos. Naquele momento da história, os EUA viviam um período de inten-
sas manifestações em defesa dos direitos civis, nas quais contestavam-se as 
Geografia Urbana
– 16 –
contradições do avanço do capitalismo. Dessa forma, os geógrafos dessa cor-
rente defendem a ideia de que cabe à geografia o estudo dos impactos das rela-
ções sociais sobre o meio e sobre a construção do espaço (MORAES, 2005).
E, por último, tem-se o advento da Geografia Ambiental, que estuda 
os efeitos do homem sobre o espaço natural e seus impactos, como desma-
tamento, poluição dos rios, lagos e mananciais, processos de desertificação, 
mudanças climáticas globais, entre outros (MORAES, 2005).
Percebe-se, claramente, que a geografia migrou de um objeto de estudo 
estático e amplamente conhecido, como os espaços naturais e as fronteiras 
territoriais, para um aspecto mais dinâmico, compreendendo as alterações 
do ambiente devido aos cenários históricos ou sociais. Por exemplo, se na 
geografia clássica estudava-se o rio, seu desenho e seus afluentes, na geografia 
contemporânea estudam-se os efeitos antrópicos sobre esse rio e a relação 
deste com a cidade, tanto em termos de abastecimento de água quanto na 
forma de modal de transporte.
Assim, a Geografia Urbana pode ser entendida como um fruto da Nova 
Geografia, buscando-se compreender a formação dos novos espaços basean-
do-se no contexto social, histórico e econômico das cidades e suas diversas 
conformações e segmentações. Expoente da Geografia Urbana, o já citado 
geógrafo Milton Santos, a partir dos estudos de Nice Lecocq Müller e do 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, deu visibilidade à geografia bra-
sileira e aos estudos da urbanização nos países subdesenvolvidos. A obra de 
Santos e a associação da geografia com as relações sociais e econômicas na 
formação do espaço urbano deu um salto no sentido de se ampliar o objetivo 
dos estudos da Geografia Urbana.
1.2.3 A interdisciplinaridade do 
estudo da Geografia Urbana
A geografia tem uma aproximação com as mais diversas ciências sociais, 
pois analisa a relação do ambiente urbano com o ambiente natural, além 
das relações sociais e econômicas, para compreender as alterações no espaço 
decorrentes dessas associações.
– 17 –
Conceitos iniciais de Geografia Urbana
Para compreensão das relações decorrentes da sociedade, o geógrafo 
precisa recorrer aos conhecimentos da sociologia, analisando as estruturas e 
relações sociais. A antropologia auxilia o geógrafo a compreender as resistên-
cias que os agentes da sociedade apresentam às novas organizações do espaço. 
A economia política ajuda no entendimento do processo de produção do 
espaço por meio das atividades econômicas e de como o espaço urbano se 
adequa a essas conformações. Já no que diz respeito à relação do homem com 
o ambiente, o geógrafo lança mão da psicologia para explicar a representação 
mental do espaço urbano para a sociedade (MORAES, 1989).
1.3 Relação da Geografia Urbana 
com a geografia econômica
1.3.1 A geografia econômica e sua 
relação com as cidades
Geografia econômica é o ramo do conhecimento responsável por com-
preender a lógica da produção e distribuição das atividades econômicas no espaço 
geográfico, a influênciadas estruturas econômicas e produtivas sobre o ordena-
mento espacial e vice-versa. Cabe lembrar que o espaço urbano é construído a 
partir das relações estabelecidas, sejam elas sociais ou econômicas, e, assim, a 
estrutura produtiva pode contribuir com sua formação (MORAES, 2005).
Um exemplo prático de aplicação da geografia econômica foi a Revolução 
Industrial, que se estabeleceu como uma nova estrutura produtiva para aquele 
momento histórico (séc. XVIII). A cidade de Manchester, na Inglaterra, teve 
seu espaço urbano totalmente alterado com a implantação da indústria, o 
que impactou o ambiente natural e atraiu um fluxo migratório para a cidade, 
modificando a paisagem e as condições sociais da população.
Portanto, as atividades econômicas (indústria, comércio, serviços 
ou turismo) alteram as conformações espaciais, caracterizando as cidades 
e dando-lhes diferentes identidades. Beaujeu-Garnier (1997) destaca as 
seguintes caracterizações:
Geografia Urbana
– 18 –
 2 Cidades político-administrativas: nelas se localizam as sedes 
administrativas e parlamentares dos governos. Costumam ter uma 
oferta elevada de emprego na área pública, para o exercício da 
função política. Exemplos: Brasília (Brasil), Washington (EUA), 
Pretória (África do Sul), Ottawa (Canadá) etc.
 2 Cidades religiosas: são as cidades que estruturam suas dinâmi-
cas econômicas em algum tipo de atividade religiosa, atraindo um 
grande número de fiéis, em certo período do ano ou de forma regu-
lar. Exemplos: Jerusalém (Israel), Meca (Arábia Saudita), Aparecida 
do Norte (Brasil), Santiago de Compostela (Espanha), entre outras.
 2 Cidades turísticas: têm como principal dinâmica econômica seus 
aspectos turísticos ou de lazer, seja pelos recursos naturais preservados ou 
pelas possibilidades oferecidas no espaço geográfico urbano. Exemplos: 
Las Vegas (EUA), Porto Seguro (Brasil), Cancun (México), entre outras.
 2 Cidades portuárias: são estruturadas para atender o comércio 
internacional por meio da carga e descarga de mercadorias nos por-
tos nelas instalados. Exemplos: Santos (Brasil), Roterdã (Holanda) 
e Hamburgo (Alemanha).
 2 Cidades industriais: destacam-se por centrarem sua estrutura 
econômica na dinâmica industrial, apresentando centros ou par-
ques industriais em determinadas áreas. Exemplos: Camaçari 
(Brasil), Córdoba (Argentina), Manchester (Inglaterra), Dusseldorf 
(Alemanha), entre outras.
 2 Cidades tecnopolos: concentram um grande número de empresas 
e profissionais ligados a diversas áreas da tecnologia, localizando-
-se em sua região universidades e centros tecnológicos de pesquisa. 
Exemplos: Campinas (Brasil); Palo Alto, San Francisco e Santa 
Clara (Vale do Silício, EUA); Cambridge e Londres (Inglaterra); 
Munique (Alemanha); entre outras.
Apesar dessas classificações, existem cidades que podem conter mais de 
uma dessas funções, devido ao fato de apresentarem grande dinamismo, ele-
vada importância econômica regional e internacional, além de um forte con-
tingente populacional.
– 19 –
Conceitos iniciais de Geografia Urbana
1.3.2 A teoria centro-periferia na geografia econômica
Com base nas relações da estrutura econômica-social com a formação 
e organização espacial, os estudiosos da geografia econômica começaram a 
desenvolver estudos que culminaram na teoria centro-periferia, como forma 
de compreender o espaço a partir dos impactos da atividade econômica.
Para entender essa teoria, é preciso compreender a existência de dois 
setores da economia: a agricultura e a indústria. A agricultura produz bens 
únicos e sem diferenciação, com preços determinados pelo mercado e um 
grande número de produtores. Os consumidores não buscam variedade 
produtiva e, por isso, fazem suas escolhas baseadas quase exclusivamente no 
preço, gerando rendimentos constantes para os agricultores. A indústria, 
por sua vez, produz bens altamente diferenciados, com preços determinados 
pelas empresas produtoras. Os consumidores dos produtos industrializados 
buscam variedade e pagam valores maiores conforme o grau de diferencia-
ção apresentado, gerando retornos crescentes para as indústrias (FUJITA; 
KRUGMAN; VENABLES, 2002).
A atividade industrial, considerada uma atividade de centro, consome o 
serviço de profissionais de elevada escolaridade para a geração de alta tecno-
logia, além de ter mais apoio do sistema financeiro. Já a atividade agrícola, 
considerada uma atividade de periferia, utiliza menos recursos tecnológicos e 
profissionais com menor qualificação.
Desse modo, a atividade industrial está concentrada espacialmente no centro, 
devido à centralização de profissionais melhores qualificados, de maiores rendi-
mentos e do mercado consumidor. A periferia, por sua vez, passa a ter uma função 
de fornecimento de insumos para a produção e demanda na região central, estabe-
lecendo uma relação entre o centro industrial e a periferia agrícola.
Portanto, a industrialização passa a influenciar o processo de urbanização 
das cidades porque atrai toda uma rede de serviços, lazer, estudos e pesquisas. 
Como a cidade industrial expande sua atuação no território, ela demanda 
mais serviços públicos de mobilidade urbana, infraestrutura, saúde, educação 
e equipamentos públicos. Devido à demanda por esses serviços, que aumenta 
com a migração de outras regiões, as grandes cidades geram maiores receitas e 
necessitam de mais investimentos do Estado para melhor atendê-las.
Geografia Urbana
– 20 –
O aumento das oportunidades de emprego, educação e acesso a servi-
ços públicos gera uma atratividade aos municípios centrais, causando um 
fluxo migratório do campo para a cidade. Como as cidades geralmente não 
comportam toda essa demanda migratória, ocorre uma fragmentação maior 
do território, com espaços urbanizados desenvolvidos para aqueles que têm 
maior rendimento econômico e, muitas vezes, espaços não plenamente 
urbanizados para os que não têm as mesmas condições. Isso gera problemas 
urbanos como a formação de áreas irregulares, ocupação de áreas de manan-
ciais e de preservação, entre outros.
Ampliando seus conhecimentos
Verticalização, densificação e qualidade do 
espaço residencial
(SCUSSEL; SATTLER, 2010, p. 138-139)
Ao discorrer sobre como as cidades podem contribuir para o 
desenvolvimento sustentável, Satterthwaite (2004) identifica, 
entre as categorias gerais em que se inserem os elementos de 
avaliação do desempenho ambiental das cidades, a “universa-
lização de um ambiente urbano de boa qualidade para todos 
os habitantes” – por exemplo, em termos do índice de área 
verde e da qualidade de espaço aberto por pessoa (parques, 
praças públicas, instalações para esporte, brinquedos infantis) 
e da proteção do patrimônio natural e cultural.
Nessa perspectiva, torna-se primordial o reconhecimento do 
espaço residencial, em que se desenvolve grande parte do 
cotidiano dos moradores de uma cidade, como tema central 
na questão da qualidade do espaço construído.
Na conformação do espaço residencial identificam-se três 
grandes componentes, ou campos de análise: a moradia 
– 21 –
Conceitos iniciais de Geografia Urbana
propriamente dita; a infraestrutura, serviços e equipamentos 
urbanos; e o entorno ou paisagem. As principais variáveis de 
análise de cada componente podem ser descritas como segue:
(a) moradia: tamanho/densidade de ocupação; funcionali-
dade; material e técnica construtiva; tipo arquitetônico; 
estado de conservação; conforto térmico;
(b) infraestrutura, serviços e equipamentos urbanos: água: tipo 
de abastecimento/tratamento; esgoto: coleta/destino/tra-
tamento; lixo: coleta/destino; luz e telefone; transportes; 
escola; posto de saúde; áreas verdes, praças e parques; 
espaços culturais: museus/bibliotecas/teatro; comércio; e
(c) entorno: ambiente construído – patrimônio arquitetônico; 
arborização; trânsito;ruído; ventilação; insolação – expo-
sição solar; segurança; vizinhança.
Entre esses componentes, estabelecem-se relações que cons-
tituem parte fundamental do metabolismo diário da cidade e 
que são afetadas pelos padrões urbanísticos vigentes.
Os padrões urbanísticos sempre foram discutidos como gran-
des diretrizes conformadoras do espaço das cidades, sejam 
as consagradas máximas da Carta de Atenas, que imprimiu 
às cidades modernas o ideário das funções urbanas comparti-
mentadas, dos zoneamentos exclusivos de usos, sejam aque-
les padrões prescritos por urbanistas como Howard e Camilo 
Sitte, que, no século XIX, buscaram alternativas à situação 
de caos instalada nas cidades pós-Revolução Industrial 
(KOHLSDORF, 1985; RYKWERT, 2004).
Para o arquiteto Cristopher Alexander, que ofereceu impor-
tante contribuição ao desenho urbano, os padrões tornam-se 
elementos constituintes de uma linguagem atemporal de cons-
trução do espaço (ALEXANDER, 1977). Numa concepção 
integral e integradora do ambiente, este é definido pelo enca-
deamento de um conjunto de padrões que determinam a 
Geografia Urbana
– 22 –
estrutura do espaço socialmente construído. Ao propugnar 
pela diversidade de usos convivendo no mesmo espaço, pela 
proximidade do trabalho e da casa, pela integração dos cami-
nhos e percursos à paisagem natural, Alexander sinalizava para 
um conjunto de princípios adotados pela matriz da sustenta-
bilidade, embora, à época, sequer se esboçasse formulação 
teórica nesse sentido. Pesquisadores a ele associados, como 
Salingaros (2003), trabalham, hoje, com sua consagrada 
premissa de que “a cidade não é uma árvore”, ao defender 
padrões urbanísticos que tornam a cidade mais orgânica, 
capaz de oferecer respostas a uma realidade em que tudo 
está conectado – não apenas em um caminho de ramificações 
que se vão desdobrando, em capilaridades menores, mas em 
redes que se lançam em múltiplos sentidos e dimensões.
A descrição e os preceitos preconizados por essa linha de 
autores convergem com a defesa do padrão da cidade mediter-
rânea de Rueda (2002), a cidade compacta e diversa. Aqui se 
reúnem princípios como o da multiplicidade de usos e ativida-
des, que encurta distâncias e busca a redução da locomoção, 
mediante o estímulo ao desenvolvimento de relações locais, em 
que habitação, trabalho e lazer estejam próximos.
Ainda segundo Rueda (2002), o modelo compacto e diverso 
se aproxima muito mais de uma “cidade sustentável” do que o 
padrão anglo-saxão de conurbação difusa, que constituiu cida-
des com zoneamento de funções, segmentadas, que propi-
ciam menor interação e maiores deslocamentos e segregação.
Diferentes autores parecem acordar em eleger a cidade con-
centrada e densificada como mais viável (SOMEKH; LEITE, 
2008; LEITE, 2010), em contraponto à cidade dispersa, do 
subúrbio americano, tributária das facilidades de locomoção 
permitidas pelo uso massivo de energia proveniente do petró-
leo. A partir da visão de que todas as formações urbanas, 
ao longo da história, foram resultado da articulação tecnoló-
gica da rede de recursos e fontes energéticas disponíveis no 
– 23 –
Conceitos iniciais de Geografia Urbana
território, Droege (2008) aponta a necessidade de se fazer 
uma “revolução urbana” para que se tenha uma cidade renová-
vel, assentada em novos paradigmas, que rompam o modelo 
de dependência dos combustíveis fósseis. No entanto, 
embora geralmente associadas, a densificação propugnada 
não implica, necessariamente, a verticalização acentuada 
como solução edilícia – veja-se o caso de Paris.
Evidentemente, para além dos padrões urbanísticos, o enten-
dimento dos processos de verticalização e densificação das 
cidades passa por questões vinculadas às múltiplas dimensões 
da produção do espaço – econômica, social, política, cultural.
Somekh (1997) aponta para a natureza das relações estabele-
cidas entre o arranha-céu e a cidade: não apenas volumétrica, 
mas essencialmente simbólica, na medida em que o edifício 
alto supõe desenvolvimento tecnológico, constitui mani-
festação das forças de mercado e implica novas formas de 
consumo. Os usos simbólicos da verticalidade, do domínio 
sobre a paisagem ao poder que multiplica o solo e os ganhos 
imobiliários também são abordados por Corrêa (2007).
Já Roaf, Crichton e Nicol (2009) discorrem exaustivamente 
acerca das características dos edifícios altos, envolvendo 
aspectos relativos à construção, uso, manutenção e impacto 
no entorno, entre os quais:
(a) custos de construção, operação e manutenção elevados, 
quanto mais alto for o edifício, por exigir sistemas cons-
trutivos e de proteção (contra incêndio, intempéries) 
mais complexos;
(b) no caso de inserção em áreas consolidadas, sobrecarga aos 
sistemas de infraestrutura urbana previamente existentes – 
abastecimento de água, esgotamento sanitário, energia elé-
trica, sistema viário –, além de multiplicação da demanda 
aos serviços e equipamentos de uso coletivo; e
Geografia Urbana
– 24 –
(c) modificação do clima local, com aumento da velocidade 
dos ventos ao nível da rua, sombreamento; prejuízo ao 
conforto térmico, lumínico e acústico, não só do entorno 
mas também do próprio edifício, conforme a altura e o 
posicionamento de determinada unidade – quanto mais 
alto o edifício, maior o problema de estratificação térmica 
e maior o consumo de energia para climatização (ROAF; 
CRICHTON; NICOL, 2009).
Em estudo comparativo realizado por Souza (1994), que ana-
lisou cerca de 70 metrópoles mundiais quanto a seu processo 
de crescimento, São Paulo e México apresentaram caracte-
rísticas similares entre si e distintas em relação a metrópoles 
como Nova York, Tóquio, Londres e Paris: o ritmo de cresci-
mento das latinoamericanas mostrou-se muito mais acelerado. 
Nesse processo, ao analisar o papel dos agentes produtores 
(incorporadores, construtores e vendedores), a autora des-
taca a peculiar importância da figura do incorporador na área 
habitacional brasileira (SOUZA, 1994).
Atividades
1. Desenvolva um fluxograma que explique o impacto das migrações 
dos trabalhadores das áreas rurais para as cidades e suas consequências 
para a organização do espaço geográfico.
2. Apresente uma estrutura que demonstre os diversos territórios que 
podem existir dentro do espaço urbano das cidades.
3. Explique por que o desenvolvimento econômico das grandes cidades 
confirma a teoria centro-periferia.
Desenvolvimento da 
Geografia Urbana
Introdução
A Geografia Urbana tem como foco de estudo a formação 
das cidades, o processo de urbanização, os territórios e lugares em 
seus aspectos quantitativos, qualitativos e espaciais. No tocante ao 
espaço urbano, as cidades passam por um processo de evolução 
da cidade política para a cidade comercial, chegando, por fim, à 
cidade industrial.
O aspecto de identificação com a cidade também é contem-
plado no estudo sobre o lugar, isto é, o espaço que apresenta pontos 
de identificação com aqueles que ali se estabelecem. A ausência de 
identificação com o ambiente também é estudada com a definição 
dos não lugares.
2
Geografia Urbana
– 26 –
2.1 Tipos de estudos geográficos urbanos
Os estudos geográficos urbanos clássicos tratavam apenas da organização 
da superfície terrestre, buscando a compreensão do processo de construção 
do espaço urbano, por meio das interações e influências entre o homem e 
o espaço. Albert Demangeon escreveu, em 1942, que estudos urbanos “são 
os estudos dos grupos humanos nas suas relações com o meio geográfico” 
(DEMANGEON apud CHRISTOFOLETTI, 1982, p. 52). Assim, os 
estudos clássicos buscavam compreender as relações do homem com o meio 
físico. A partir do século XX, os estudos geográficos urbanos passam a ter 
diversas tipificações, dentre as quais se destacam:
 2 Estudo sobre as cidades: abordam a formaçãoe o crescimento das 
cidades, o estabelecimento das redes urbanas e das regiões metro-
politanas. Estudam, também, a relação entre as cidades, definidas 
pela hierarquia urbana e o futuro dessas localidades, promovendo 
novas formas de organização do espaço urbano e configurando a 
dicotomia entre o campo e a urbe.
 2 Estudos sobre a urbanização: estudam a estruturação e a expansão 
territorial para organizar as aglomerações urbanas nas localidades. 
Estão diretamente ligados à centralidade nas atividades comerciais 
e industriais, criando uma força de atração populacional em relação 
ao campo. Tratam, também, das modificações e das obras impostas 
pelos gestores e pelos atores da cidade na conformação do território.
 2 Estudos territoriais: tratam da estruturação do espaço urbano por 
meio das relações de poder estabelecidas pelos grupos organizados 
no local. Esses grupos se apropriam dos espaços definindo terri-
tórios, que impactam a urbanização, bem como a formação e o 
crescimento das cidades.
Além desses estudos, a geografia também pesquisa a territorializa-
ção econômica da cidade, definindo o lugar das atividades econômicas, 
– 27 –
Desenvolvimento da Geografia Urbana
notadamente a indústria. No âmbito regional, a estrutura econômica tem 
o poder de direcionar o crescimento das atividades econômicas e a própria 
expansão da urbanização (BRITO; HORTA, 2002). Para melhor compreen-
são dos processos de urbanização e de seus fenômenos e reflexos na cidade, a 
Geografia Urbana se utiliza de outras ciências auxiliares, como a economia e o 
urbanismo, distinguindo, assim, as relações sociais e econômicas que formam 
o espaço urbano.
As pesquisas também contemplam o desenvolvimento regional e territo-
rial, propondo a articulação e a interação entre o espaço urbano das cidades em 
uma mesma região. Esses estudos colaboram para a compreensão da formação 
do espaço regional, suas similaridades e diferenças, estabelecendo uma política 
de ordenamento da região. Por exemplo, nos anos de 1970, estudos regionais 
realizados em regiões metropolitanas demonstraram haver áreas que necessita-
vam ser preservadas e áreas que deviam ser direcionadas à atividade industrial.
Os dados coletados sobre a urbanização brasileira geram bases de dados 
que podem ser tratados e especializados em representações gráficas. Dessa 
forma, é possível realizar a análise da Geografia Urbana também por meio 
de mapas que retratem o fenômeno analisado, além de figuras, ícones ou 
infográficos explicativos para facilitar a compreensão da informação. Pode-se, 
ainda, contemplar aspectos da organização funcional urbana, como o uso 
da terra, a distribuição da vegetação e das águas, além do mapeamento das 
atividades da cidade e outros dados que designem funções específicas desse 
espaço. Essas informações sistematizadas e organizadas em mapas têm um 
papel fundamental para a elaboração e a consequente comunicação dos pla-
nos diretores nas cidades.
Ressalta-se que a organização do espaço, suas interações e configurações 
podem ser avaliadas de forma quantitativa ou qualitativa, ampliando o enten-
dimento das formas espaciais urbanas:
Geografia Urbana
– 28 –
 2 Aspectos quantitativos: a realidade do espaço urbano pode ser quan-
tificável como área, densidade, superfície, fluxo etc. Permite a análise, 
a comparação, a espacialização por meio de modelos matemáticos.
Assim, alguns aspectos, como população urbana, porcentagem de 
urbanização e crescimento urbano, são quantificáveis, permitindo 
que as informações sejam especializadas e, ainda, a geração de uma 
base de dados a serem compilados, organizados e tratados.
 2 Aspectos qualitativos: refere-se ao tratamento dado aos espaços, 
proporcionando uma melhor qualidade ao espaço urbano. Podem 
tratar da qualidade da pavimentação, da acessibilidade, da adapta-
ção do espaço ao clima, da melhor utilização dos recursos naturais 
etc. (SANTOS, 1985).
Figura 1 – Área revitalizada para adequação ao uso urbano no município de Curitiba.
Fonte: CURITIBA, 2012.
A Figura 1 mostra o Parque das Pedreiras, em Curitiba, capital do Paraná. 
Esse parque, inaugurado no ano de 1992 no espaço em que havia uma antiga 
pedreira da cidade, contempla o teatro Ópera de Arame (estrutura tubular 
na parte inferior da imagem) e a Pedreira Paulo Leminski (área central da 
– 29 –
Desenvolvimento da Geografia Urbana
imagem), utilizados em grandes eventos na cidade. Assim, a área foi revitali-
zada e destinada para outro fim, readequando-se o espaço e reduzindo-se os 
impactos ambientais e urbanos. Determinou, dessa forma, o aspecto quali-
tativo do estudo geográfico urbano, garantindo a manutenção da paisagem 
urbana como um espaço de interação na cidade.
Os aspectos quantitativos e qualitativos também são estudados pela 
ótica da arquitetura e utilizados como base de informações para melhorias e 
revitalização da paisagem urbana. Os aspectos quantitativos são quantificáveis 
na paisagem urbana, buscando controlar os aspectos físicos da cidade. Já os 
aspectos qualitativos referem-se ao tratamento dos espaços, a seu conforto, 
comodidade e qualidade ambiental, como a insonorização, o isolamento tér-
mico e a insolação, entre outros, que dependem do tipo e estado de pavimen-
tos e da adaptação ao clima local (LAMAS, 2004).
2.2 Desenvolvimento da Geografia Urbana
A Geografia Urbana tem como objeto de estudo as áreas urbanas, bem 
como a produção do espaço urbano e suas alterações causadas pela ação antró-
pica. Dessa forma, o desenvolvimento da Geografia Urbana está diretamente 
ligado ao desenvolvimento e à evolução das cidades.
Em primeiro lugar, é importante compreender que as cidades sempre 
existiram e, no contexto da Geografia Urbana, apresentam construções dife-
rentes, decorrentes de sua evolução histórica. Dessa forma, desconstrói-se a 
imagem clássica da cidade que nasce a partir da Revolução Industrial, caracte-
rizando a dicotomia campo-cidade. Essa dicotomia clássica permitiu a cons-
trução de uma visão da urbe como um espaço onde há um ritmo de urbaniza-
ção constantemente acelerado, com alta densidade populacional e problemas 
urbanos comuns, como falta de moradia, de mobilidade urbana e de trabalho 
para a mão de obra excedente, que é atraída pela imagem popularizada da 
cidade. O espaço rural, por outro lado, é visto como um espaço bucólico, dis-
tante das inovações dos espaços urbanos, carente de equipamentos públicos e 
sem os problemas encontrados na área urbana.
Geografia Urbana
– 30 –
O estabelecimento de uma visão dicotômica que possibilita a constru-
ção de uma imagem fantasiosa do campo e da cidade apresenta um grande 
problema para o entendimento da Geografia Urbana: o distanciamento entre 
espaço rural e espaço urbano não permite estabelecer uma relação entre ambos. 
Entretanto, a construção do espaço urbano contempla as relações existentes 
entre a cidade e o campo: assim como algumas atividades do campo interagem 
com a urbe, como as produtivas e econômicas (por exemplo, fornecimento 
de materiais e insumos para fábricas e estabelecimentos das cidades), o espaço 
urbano também se relaciona com o rural (no turismo, lazer, entre outros).
Então, quando se pensa na dicotomia clássica entre o campo e a cidade 
dificulta-se a percepção da dinâmica que ocorre no espaço urbano. O desen-
volvimento da Geografia Urbana, assim, passa pela desconstrução dessa pers-
pectiva segmentada e pela proposta de uma nova visão do espaço urbano, que 
compreenda as características espaciais e temporais próprias das cidades. A 
cidade precisa ser entendida como um espaço percebido pela ótica da socie-
dade, contrariamente à sua interpretação tradicional como um espaço predo-
minantemente desenvolvido e, consequentemente, melhor.
Nessa concepção, a Geografia Urbana estuda a cidade como resultado das 
aglomerações urbanase das relações econômicas e sociais estabelecidas. Sendo 
assim, a cidade não é uma invenção moderna, mas sim consequência de inte-
rações advindas da concentração urbana. O desenvolvimento da Geografia 
Urbana, portanto, perpassa a evolução da urbe e de seu papel na construção 
social e na organização dos agrupamentos urbanos (CLARK, 1998).
Para entender a dinâmica do processo de evolução urbana, é importante 
traçar uma linha histórica destacando o papel das cidades num contexto his-
tórico, demonstrando a sua evolução como espaço de agregação urbana. Essa 
linha histórica tem início com a ausência da urbanização e evolui até a conso-
lidação do processo, com a cidade industrial (SÁ et al., 2013).
A cidade (num conceito de concretização do urbano) tem início com a 
cidade política. A função da cidade nesse período era o poder, pois nela se agre-
gavam os nobres, os escribas e os administradores. Nessas cidades, a base eco-
nômica era agrícola, cuja função era a manutenção do poder centralizado nos 
– 31 –
Desenvolvimento da Geografia Urbana
reis sobre a sociedade. Essas áreas dominadas e colonizadas serviam como bases 
administrativas e mercantis das aglomerações urbanas do Império, numa forma 
de extensão do poder imperial sobre o espaço urbano (LÉFÈBVRE, 1999).
Outra função da cidade é a mercantil, que denota sua primeira função 
urbana (como fator agregador populacional e de reprodução de relações de 
produção). Embora o campo ainda tivesse a primazia econômica, inicia-se a 
dicotomia cidade-campo, tendo seus limites espacialmente estabelecidos. As 
atenções começam a se voltar para as cidades, a realidade urbana começa a 
ganhar forma e começam a surgir sua imagem e estrutura. A cidade mercantil 
é a cidade voltada para as trocas comerciais, que antes aconteciam em entron-
camentos fora dos limites da cidade. Ela ganha força com a burguesia, uma 
classe intermediária surgida da nova vida comercial nos burgos (ou cidades) 
(LÉFÈBVRE, 1999).
A partir disso, as cidades ganham autonomia administrativa e tem início 
um forte conflito social, demonstrado pela segmentação das classes (nobreza, 
clero e plebe), gerando o isolamento urbano. Elas se tornam espaços caracte-
risticamente segregados e isolados, havendo uma forte dicotomia cidade-
-campo. O trabalho agrícola e as feiras mercantis são atividades isoladas na 
cidade, cuja função é administrativa, atendendo à monarquia e à administra-
ção e fortalecendo o espaço urbano (ULTRAMARI, 2009).
A cidade industrial surge inicialmente com uma proposta contrária à 
formação das cidades, pois havia uma tendência inicial de estabelecimento 
das indústrias próximas aos fatores de produção: terra, recursos naturais, 
mão de obra e energia, criando, assim, novas cidades tipicamente industriais. 
Nesse período, o forte movimento de urbanização da sociedade para atender 
a demanda industrial fez com que o tecido urbano se estendesse, atingindo as 
cidades que ainda preservavam características mercantis. Com essas mudan-
ças, a sociedade passou por um rompimento total com o conceito de campo 
(como oposição à cidade), criando a sociedade urbana, advinda do processo 
de industrialização (CASTELLS, 1983).
Assim, as cidades tiveram sua importância fortalecida pela instalação 
dessas indústrias, devido ao grande contingente de mão de obra que migrou 
do campo (em função da revolução agrícola). Outra grande importância no 
Geografia Urbana
– 32 –
contexto industrial foi a formação de um vasto mercado consumidor. Nessas 
novas cidades, a função política é descartada e a indústria domina a paisagem 
(MONTE MÓR, 2007).
A Revolução Industrial e o surgimento da cidade industrial são a consoli-
dação do processo de formação da sociedade urbana. Com o advento da cidade 
industrial, a sociedade urbana atinge seu ápice em relação à transformação da 
paisagem e ocupação dos espaços, dando lugar a uma prioridade aos problemas 
dessa “nova sociedade”. A partir da consolidação de um processo histórico e 
menos civilizatório de urbanização ocorrido no final do século XIX, com a 
assimilação da Revolução Industrial pela sociedade, seria obrigatória a busca 
de soluções para problemas criados por um novo uso do espaço antigo e dos 
espaços naturais, de um modo nunca visto anteriormente (CASTELLS, 1983).
A cidade industrial passa a ter uma função integradora, fazendo com 
que o tecido urbano se estendesse até o campo. Desse modo, o campo é 
então integrado à cidade por intermédio dos meios de produção, seja para 
suprimento de matéria-prima para a indústria, seja no consumo de bens 
industriais. Essas cidades industriais foram, assim, marcadas pela entrada da 
produção no seio do espaço do poder, trazendo com ela a classe trabalhadora, 
o proletariado. A cidade passou a não mais apenas controlar e comercializar 
a produção do campo, mas também a transformá-la e a ela agregar valor em 
formas e quantidades jamais vistas (SÁ et al., 2013).
A evolução das cidades demonstra a importância da articulação do 
espaço urbano na organização das aglomerações urbanas, sempre acompa-
nhando o desenvolvimento espacial dessas localidades, bem como as circuns-
tâncias históricas que acompanham sua estrutura social.
2.3 Os lugares urbanos
2.3.1 O conceito de lugar
Para entender os lugares urbanos, é importante conhecer o conceito geo-
gráfico de lugar. De acordo com Moreira (2007), o lugar pode ser compreen-
dido como uma fragmentação do espaço onde se estabelecem as relações de 
– 33 –
Desenvolvimento da Geografia Urbana
afetividade e de interação bastante próximas. Essa proximidade permite a 
construção de uma ligação sentimental com o espaço, contribuindo para a 
formação do aspecto cultural, com a construção dos valores de uma sociedade 
(MOREIRA, 2007).
Qualquer cidade, independentemente de seu tamanho ou sua configu-
ração, possui lugares urbanos, onde as pessoas estabelecem relações sociais, 
vivendo em sociedade, trabalhando, realizando seus negócios, fazendo suas 
compras, morando e se divertindo. Assim, a organização do espaço nas cida-
des é feita de acordo com um zoneamento urbano definido, respeitando as 
necessidades de uso desse território pelos habitantes. O zoneamento define 
a divisão e a expansão urbana a partir de determinações legais, constituindo 
lugares especializados, com predominância de atividades definidas, como os 
centros industriais, as áreas residenciais, entre outros. Um exemplo particu-
lar são as indústrias de montagem, como a automobilística, as quais atraem 
para suas proximidades numerosas outras indústrias de peças e componen-
tes, assim como outros serviços que complementem a atividade industrial. 
Além disso, o zoneamento urbano estabelece as restrições de uso do espaço, 
definindo assim o poder de polícia do Estado e o ordenamento das cidades 
(DORNELES, 2010).
2.3.2 A teoria dos lugares centrais
Outro conceito importante é o da teoria dos lugares centrais, desenvol-
vida pelo geógrafo alemão Walter Christaller. Segundo Christaller (1966), 
existiriam princípios gerais que regulam o número, o tamanho e a distribui-
ção dos núcleos de povoamento em grandes, médias e pequenas cidades, e 
ainda em minúsculos núcleos semi-rurais, os quais também são considerados 
como localidades centrais. Todos esses núcleos são dotados de funções cen-
trais e teriam uma importância singular como distribuidores de bens e servi-
ços, conforme aponta Corrêa (1989):
Todas são dotadas de funções centrais, isto é, atividades de distri-
buição de bens e serviços para uma população externa, residente 
na região complementar (hinterlândia, área de mercado, região de 
influência), em relação à qual a localidade central tem uma posição 
central. A centralidade de um núcleo, por outro lado, refere-se ao 
seu grau de importância a partir de suas funções centrais: maior o 
Geografia Urbana
– 34 –
númerodeles, maior a sua região de influência, maior a população 
externa atendida pela localidade central, e maior a sua centralidade. 
(CORRÊA, 1989, p. 21)
Além dos lugares destinados aos espaços das indústrias, existem espaços 
destinados a atividades de comércio e serviços. Esses espaços são denominados 
pelos estudiosos da questão urbana de localidades centrais intra-urbanas. Esse 
conceito trata de lugares na cidade que são mais centrais em relação às demais 
áreas. Dessa forma, assim como existem lugares destinados a atividades específicas 
como comércio e serviços, existem, no espaço intra-urbano, lugares de uso misto, 
destinados a moradias, trabalho, serviços e lazer. Podemos, assim, entender que a 
cidade não é um lugar específico, mas um conjunto integrado de lugares.
Durante o século XIX e início do século XX, as grandes cidades euro-
peias eram conhecidas como lugares de pobres e desempregados sem residên-
cia, gerando áreas configuradas com moradias precárias, carentes de serviços 
como água encanada, saneamento básico, ruas pavimentadas, eletricidade e 
transporte coletivo.
Mesmo com a evolução do processo urbano, no século XXI encontra-
mos municípios brasileiros que apresentam as mesmas características das 
cidades europeias do passado. Nesses municípios, há, ainda, a ausência de 
equipamentos urbanos como escolas, postos de saúde, creches, hospitais, 
entre outros. Esse fato gera problemas como a poluição dos rios, a ocupação 
de espaços irregulares e a precária condição das moradias. Tal cenário somente 
tende a mudar com a organização social dos moradores dessas regiões, reivin-
dicando seus direitos de habitação, lazer e mobilidade urbana como forma de 
garantir o pleno acesso à cidade.
Assim, alguns processos como a expansão urbana descontrolada e a 
migração para os grandes centros dificultam a organização do espaço, gerando 
a periferização das cidades e o surgimento de lugares como os subúrbios, 
favelas ou ocupações irregulares, como demonstrado na figura a seguir, que 
retrata o município de Ponta Grossa, no Paraná.
– 35 –
Desenvolvimento da Geografia Urbana
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Geografia Urbana
– 36 –
2.3.3 Os “não lugares”
No estudo da Geografia Urbana há, ainda, a ideia de não lugares, con-
ceito criado pelo antropólogo francês Marc Augé (1994) para tratar do espaço 
de passagem que não permite a formação de uma identidade. Segundo Augé, 
todo e qualquer espaço que sirva apenas como espaço de transição e com o 
qual não se cria qualquer tipo de relação é um não lugar.
Os não lugares podem ser definidos como espaços de anonimato, des-
caracterizados e impessoais, os quais não expressam nenhum traço de iden-
tidade ou história. De acordo com Augé (1994), cada vez mais as pessoas 
deixam de dar significados aos lugares, transformando o ambiente urbano 
em lugar de passagem. Consequentemente, grande parte dos centros urba-
nos se transformam em não lugares, gerando padrões de comportamento e 
relações sociais nos grupos. São exemplos de não lugares: aeroportos, portos, 
terminais de ônibus, áreas de concentração de refugiados, grandes superfícies 
urbanas, shopping centers, supermercados, entre outros.
É importante também destacar, no estudo dos não lugares, os conceitos 
de topofobia e topofilia. A palavra topofilia é um neologismo criado por 
Yi-Fu Tuan (1980, p. 107) que sintetiza o amor pelo lugar, ou seja, “todos 
os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material [...]” 
que podem ser diferenciados em intensidade, sutileza e modo de expressão. 
Bachelard (2000, p. 19) usa o termo topofilia para determinar a investigação 
das imagens do espaço feliz que desperta o valor humano, as quais podem 
se referir a espaços de posse, espaços amados, espaços louvados, como, por 
exemplo, a casa.
A topofobia, por sua vez, pode ser traduzida também nas “paisagens do 
medo”, que são objeto de repulsão, dificultando a identificação e caracterização 
desses sentimentos, com uma valorização negativa desses lugares. Os sentimen-
tos topofóbicos também compreendem aspectos estéticos, quando os lugares 
são feios e desagradáveis para as pessoas. A falta de segurança nas cidades pode 
ser um elemento topofóbico importante nos dias atuais, o que tem levado mui-
tas pessoas a deixar um lugar em busca de outro, na procura por cidades de 
pequeno e médio porte para moradia, por exemplo (TUAN, 1998).
– 37 –
Desenvolvimento da Geografia Urbana
Ampliando seus conhecimentos
Definir o lugar?
(CARLOS, 2007, p. 17-20)
Nas Ciências Humanas e na geografia, em particular, o pro-
blema da redefinição do lugar emerge como uma necessidade 
diante do esmagador processo de globalização, que se rea-
liza, hoje, de forma mais acelerada do que em outros momen-
tos da história. Nesse contexto, é possível, ainda pensar o 
lugar enquanto singularidade? O lugar é uma noção que e se 
desfaz e se despersonaliza diante da massacrante tendência 
ao homogêneo, num mundo globalizado? Ou lugar ganha 
uma outra dimensão explicativa da realidade como, por exem-
plo “enquanto densidade comunicacional, informacional e 
técnica”, como afirma Milton Santos?
Há hoje um debate muito profícuo sobre o sentido da noção 
de lugar. Podemos iniciar a reflexão com Milton Santos que 
afirma que existe uma dupla questão no debate sobre o lugar. 
O lugar visto “de fora“ a partir de sua redefinição, resultado 
do acontecer histórico e o lugar visto de “dentro”, o que impli-
caria a necessidade de redefinir seu sentido. Para o Autor o 
lugar poderia ser definido a partir da densidade técnica (que 
tipo de técnica está presente na configuração atual do territó-
rio), a (densidade informacional (que chega ao lugar tecnica-
mente estabelecido) a ideia da densidade comunicacional (as 
pessoas interagindo) e, também em função de uma densidade 
normativa (o papel das normas em cada lugar como definitó-
rio). À esta definição seria preciso acrescentar a dimensão do 
tempo em cada lugar que poderia ser visto através do evento 
no presente e no passado.
Geografia Urbana
– 38 –
Acredito, no entanto, que podemos acrescentar ao que foi 
dito pelo professor o fato de que há também a dimensão 
da história que entra e se realiza na prática cotidiana (esta-
belecendo um vínculo entre o “de fora” e o “de dentro“), 
instala-se no plano do vivido e que produziria o conhecido-
-reconhecido, isto é, é no lugar que se desenvolve a vida em 
todas as suas dimensões. Também significa pensar a história 
particular de cada lugar se desenvolvendo, ou melhor, se rea-
lizando em função de uma cultura/tradição/língua/hábitos que 
lhe são próprios, construídos ao longo da história e o que vem 
de fora, isto é, o que se vai construindo e se impondo como 
consequência do processo de constituição do mundial. Mas 
o que ligaria o mundo e o lugar?
O lugar é a base da reprodução da vida e pode ser anali-
sado pela tríade habitante – identidade – lugar. A cidade, 
por exemplo, produz-se e revela-se no plano da vida e do 
indivíduo. Este plano é aquele do local. As relações que os 
indivíduos mantêm com os espaços habitados se exprimem 
todos os dias nos modos do uso, nas condições mais banais, 
no secundário, no acidental. É o espaço passível de ser sen-
tido, pensado, apropriado e vivido através do corpo.
Como o homem percebe o mundo? É através de seu corpo 
de seus sentidos que ele constrói e se apropria do espaço e 
do mundo. O lugar é a porção do espaço apropriável para a 
vida – apropriada através do corpo – dos sentidos – dos pas-
sos de seus moradores, é o bairro é a praça, é a rua, e nesse 
sentido poderíamosafirmar que não seria jamais a metrópole 
ou mesmo a cidade latu sensu a menos que seja a pequena vila 
ou cidade – vivida/conhecida/reconhecida em todos os can-
tos. Motoristas de ônibus, bilheteiros, são conhecidos e reco-
nhecidos como parte da comunidade, cumprimentados como 
tal, não simples prestadores de serviço. As casas comerciais 
são mais do que pontos de troca de mercadorias, são também 
pontos de encontro. É evidente que é possível encontrar isso 
– 39 –
Desenvolvimento da Geografia Urbana
na metrópole, no nível do bairro, que é o plano do vivido, 
mas definitivamente, não é o que caracteriza a metrópole.
A tríade cidadão-identidade-lugar aponta a necessidade de 
considerar o corpo, pois é através dele que o homem habita 
e se apropria do espaço (através dos modos de uso). A 
nossa existência tem uma corporeidade pois agimos através 
do corpo. Ele nos dá acesso ao mundo, para Perec é o nó 
vital, imediato visto, pela sociedade como fonte e suporte 
de toda cultura. Modos de aproximação da realidade, pro-
duto modificado pela experiência do meio, da relação com o 
mundo, relação múltipla de sensação e de ação, mas também 
de desejo e, por consequência de identificação com a proje-
ção sobre o outro. Abre-se aqui, a perspectiva da análise do 
vivido através do uso, pelo corpo.
Por outro lado, a metrópole não é “lugar” ela só pode ser vivida 
parcialmente, o que nos remeteria a discussão do bairro como o 
espaço imediato da vida das relações cotidianas mais finas – as 
relações de vizinhança o ir as compras, o caminhar, o encontro 
dos conhecidos, o jogo de bola, as brincadeiras, o percurso 
reconhecido de uma prática vivida /reconhecida em pequenos 
atos corriqueiros, e aparentemente sem sentido que criam laços 
profundos de identidade, habitante-habitante, habitante-lugar. 
São os lugares que o homem habita dentro da cidade que 
dizem respeito a seu cotidiano e a seu modo de vida onde 
se locomove, trabalha, passeia, flana, isto é, pelas formas atra-
vés das quais o homem se apropria e que vão ganhando o 
significado dado pelo uso. Trata-se de um espaço palpável – a 
extensão exterior, o que é exterior a nós, no meio do qual nos 
deslocamos. Nada também de espaços infinitos. São a rua, a 
praça, o bairro, – espaços do vivido, apropriados através do 
corpo – espaço públicos, divididos entre zonas de veículos e a 
calçada de pedestres dizem respeito ao passo e a um ritmo que 
é humano e que pode fugir aquele do tempo da técnica (ou 
Geografia Urbana
– 40 –
que pode revelá-la em sua amplitude). É também o espaço da 
casa e dos circuitos de compras dos passeios, etc.
Os percursos realizados pelos habitantes ligam o lugar de 
domicílio aos lugares de lazer, de comunicação, mas o impor-
tante é que essas mediações espaciais são ordenadas segundo 
as propriedades do tempo vivido. Um mesmo trajeto convoca 
o privado e o público, o individual e o coletivo, o necessário 
e o gratuito. Enfim o ato de caminhar é intermediário e parece 
banal – é uma prática preciosa porque pouco ocultada pelas 
representações abstratas; ela deixa ver como a vida do habi-
tante é petrificada de sensações muito imediatas e de ações 
interrompidas. São as relações que criam o sentido dos “luga-
res” da metrópole. Isto porque o lugar só pode ser compre-
endido em suas referências, que não são específicas de uma 
função ou de uma forma, mas produzidos por um conjunto de 
sentidos, impressos pelo uso. [...]
A história do indivíduo é aquela que produziu o espaço e que 
a ele se imbrica por isso que ela pode ser apropriada. Mas é 
também uma história contraditória de poder e de lutas, de resis-
tências compostas por pequenas formas de apropriação. [...]
Atividades
1. No século XXI, muitas das relações sociais estabelecidas nas cidades 
acontecem de forma virtual, pois diversos serviços são disponibiliza-
dos na internet, eliminando deslocamentos e otimizando o tempo. 
Essa nova relação virtual altera a interação com o ambiente urbano. 
Assim, responda: Qual relação pode existir entre o acesso ao mundo 
virtual e a ampliação dos não lugares nas cidades?
– 41 –
Desenvolvimento da Geografia Urbana
2. A ausência de organização do espaço urbano pode levar à ocupação da 
cidade de forma desorganizada, gerando impactos no ambiente. Cite 
alguns desses impactos nas cidades.
3. O desenvolvimento da Geografia Urbana acompanha o processo de 
evolução das cidades, suas funções e configurações. Qual a relação 
entre a evolução das cidades e a formação de seu espaço urbano?
Estudo do crescimento 
das cidades
Introdução
O fenômeno do crescimento urbano que teve seu auge nos 
anos 1960 quando a população urbana ultrapassou a população 
rural pode ser comprovado pelos indicadores do último censo do 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) que 
destacam que mais de 80% da população brasileira está estabelecida 
em espaços urbanos. Para compreender o impacto desses números, 
faz-se necessário entender o processo de crescimento das cidades, 
seja pela aglomeração populacional, seja pelos padrões de renda.
O padrão populacional busca compreender os fenôme-
nos de migração e atração de novos habitantes para as cidades. Os 
padrões de renda, por sua vez, explicam a geração de riquezas na 
cidade e o acúmulo de fatores de produção: capital, terra e renda. 
A junção desses fatores ajuda a explicar o crescimento urbano e a 
concentração populacional.
3
Geografia Urbana
– 44 –
3.1 O crescimento das cidades
O estudo do crescimento das cidades passa pela investigação e análise 
dos padrões de crescimento urbano, contemplando a organização das aglo-
merações urbanas, os padrões de crescimento populacional, as migrações e os 
movimentos pendulares e os padrões de crescimento da renda – refletindo no 
desempenho econômico dos espaços urbanos e nos custos relativos a imóveis 
e migrações. O sucesso de uma cidade pode ser compreendido como a inter-
-relação de indicadores relacionados à alteração do tamanho da população e a 
produtividade da economia local.
A aglomeração urbana pode ser compreendida como um conjunto de 
pessoas ou atividades que se concentram em espaços físicos relativamente 
pequenos, daí a sua forte aplicação na área urbana. O Estatuto da Metrópole 
a define como a unidade territorial urbana constituída pelo agrupamento 
de dois ou mais municípios limítrofes, caracterizada por complementari-
dade funcional e integração das dinâmicas geográficas, ambientais, políticas e 
socioeconômicas (BRASIL, 2015).
A existência de aglomerações urbanas também é importante para a com-
preensão dos movimentos pendulares, que ocorrem, via de regra, na escala 
urbana ou regional e tem por contexto temporal o cotidiano dos indivíduos. 
São deslocamentos comuns em muitos centros urbanos, sobretudo os de 
grande e médio porte (MOURA; CASTELLO BRANCO; FIRKOWSKI, 
2005). Esses movimentos “que caracterizam mobilidades de curta duração [...] 
dizem-se pendulares porque, realizados a horas mais ou menos fixas, refletem a 
estruturação do espaço e a existência ou não de hierarquias” (INE, 2003, p. 7).
Para Milton Santos e Maria Laura Silveira (2001), esse crescimento dos 
centros urbanos está ligado à concentração dos fatores de produção: capi-
tal (representado pelo dinheiro aplicado nos investimentos); terra (represen-
tando os espaços urbanos e os imóveis); e trabalho (representando a alocação 
da mão de obra no mercado de trabalho). Numa economia de livre mercado, 
o capital e a mão de obra têm liberdade de mobilidade, podendo se movimen-
tar entre as cidades. As cidades crescem porque, entre outros motivos, atraem 
um contingente de trabalhadores ou um volume maior de investimentos, 
levando à expansão do espaço urbano. Os trabalhadores migram para espaços 
– 45 –
Estudo do crescimento das cidades
urbanos maiores emais desenvolvidos, procurando aperfeiçoar a alocação do 
trabalho e maximizar suas rendas.
As cidades que apresentam um crescimento bem-sucedido são aque-
las que disponibilizam infraestrutura e suporte administrativo à atração de 
investimentos e negócios, aumentando a produtividade e pagando salários 
maiores. Da mesma forma, a qualidade dos serviços públicos (educação, 
saúde, transporte, entre outros) oferecidos atraem novos residentes e mão 
de obra mais qualificada para a cidade.
Desse modo, a organização dos fatores de atração de novos residentes 
tende a fortalecer e expandir as aglomerações urbanas, gerando municípios 
com tamanhos diferentes e com volume de concentração diferente. Assim, 
temos, no país, cidades como São Paulo, com 11,89 milhões de habitantes, 
que contrasta com o município de Santos, por exemplo, com uma população 
de 419.086 habitantes (IBGE, 2010). Devido à concentração de um volume 
maior de empregos na região de São Paulo e uma maior oferta de serviços 
públicos, há um crescimento maior dessa cidade (LEMOS, 2003).
3.1.1 Padrões no crescimento populacional
Nos anos de 1940 tem início a concentração populacional nos gran-
des centros motivada pela migração interna, marcada por deslocamentos de 
trabalho em direção às novas fronteiras agrícolas do Paraná, Centro-Oeste e 
Maranhão, bem como das áreas industriais do Sudeste.
Na década de 1970, a concentração das atividades industriais nos gran-
des centros urbanos contribuiu para a aceleração do processo de migração, 
fazendo com que novas cidades surgissem no entorno das principais cidades 
e alterando a dinâmica demográfica brasileira. Esse fluxo migratório em dire-
ção às cidades levou a um crescimento da população urbana, e a demografia 
brasileira passou a seguir uma tendência natural de superação da população 
urbana em relação à rural. Nesse cenário, houve uma elevação do total da 
população urbana, saltando de 56% nos anos 1970 a mais de 80% nos anos 
2010. As Nações Unidas estimam que esse percentual será superior a 90% até 
os anos 2040, aumentando a população brasileira a um total de 200 milhões 
de habitantes (ONU-HABITAT, 2012).
Geografia Urbana
– 46 –
Figura 1 – População rural e urbana do mundo (1950–2050).
Urbana
Rural
Fonte: UN, 2015, p. 7.
Para fins de compreensão, entende-se aglomeração urbana como a con-
centração de pessoas, serviços, atividades etc. em espaços compactos, não 
ultrapassando necessariamente os limites político-administrativos de uma 
cidade (MIYAZAKI, 2008). Matos (2000), por sua vez, expande o con-
ceito, compreendendo a aglomeração urbana numa perspectiva mais ampla, 
segundo a qual o urbano se processa em um conjunto mais complexo e 
extenso, que engloba mais de uma cidade.
No caso brasileiro, os dados demográficos apontam que o crescimento 
populacional nos últimos anos tem sido mais intenso nas regiões Norte e 
Centro-Oeste e mais lento no Sudeste e no Sul (conforme demonstrado na 
Tabela 1), ao contrário do que ocorreu nos anos 1970, com o destino para os 
grandes centros produtivos industriais.
– 47 –
Estudo do crescimento das cidades
Tabela 1 – População censitária total e taxa de crescimento demográfico 
(2000–2010).
BRASIL
Censo 2000 Censo 2010 Taxa de crescimento demográfico
169.799.170 190.755.799 12,34%
Região Norte 12.900.704 15.864.454 22,97%
Região Nordeste 47.741.711 53.081.950 11,19%
Região Sudeste 72.412.411 80.364.410 10,98%
Região Sul 25.107.616 27.386.891 9,08%
Região Centro-Oeste 11.636.728 14.058.094 20,81%
Fonte: IBGE, 2010. Adaptado.
O crescimento populacional na região Centro-Oeste demonstra que exis-
tem fatores que podem alterar a composição demográfica em uma década, como:
 2 A alteração do perfil econômico da região que, atrelada à expansão 
da fronteira da atividade agrícola, atraiu novos estabelecimentos 
agroindustriais e novos habitantes para os municípios da região, 
levando ao crescimento das cidade.
 2 A expansão territorial da área agrícola que levou à maior utilização 
do solo para atividades econômicas, acarretando uma redução das 
áreas disponíveis e dificultando a formação de novas cidades, o que 
resulta no fortalecimento do papel das cidades existente.
 2 A expansão da atividade agrícola que, apesar da concentração popula-
cional nas cidades, leva ao fortalecimento das áreas rurais, incentivando 
a fixação dos trabalhadores no campo e definindo um novo padrão de 
migração rural-urbano, o qual atrai mais habitantes de outras regiões 
do que do próprio estado (HADDAD; PASTRE, 2016).
Geografia Urbana
– 48 –
No entanto, cabe destacar que a ausência de políticas de desenvolvi-
mento regional, que organizem o espaço e a formação de novas cidades, faz 
com que as cidades cresçam e possuam um tamanho maior que o recomen-
dado, comprometendo a gestão e a organização dessas cidades.
Existe uma relação diretamente positiva entre o crescimento das cidades 
e das aglomerações urbanas e a disponibilidade de empregos em atividades 
não agrícolas. As cidades industriais vão atrair mais trabalhadores e concentrar 
mais habitantes, acumulando maior capital humano e mão de obra capacitada, 
estando mais preparadas para se adaptar às inovações tecnológicas. Por esse 
motivo, essas cidades acabam se tornando polos de desenvolvimento tecnoló-
gico, por ter capital humano acumulado e mão de obra mais capacitada.
Portanto, o crescimento das cidades está relacionado à capacidade de 
atração e concentração demográfica baseado em trabalho e educação. A capa-
cidade institucional de articular as políticas públicas de educação, trabalho e 
emprego contribui para a migração de habitantes para as cidades, ampliando 
o processo de concentração populacional.
Uma visão geral do sistema urbano brasileiro mostra que o crescimento 
das cidades é desigual, com um número reduzido de cidades grandes que 
dominam a concentração populacional e, consequentemente, a concentração 
de capital humano.
3.1.2 Padrões no crescimento da renda
Uma segunda explicação para o crescimento das cidades passa pelo 
desempenho econômico, entendido aqui como a riqueza produzida pelas ati-
vidades produtivas e a renda média domiciliar, correlacionado com os salários 
pagos nessa economia (CARVALHO, 2003). Uma variável importante para 
análise é o preço dos imóveis urbanos que, mesmo variando de forma signi-
ficativa entre as cidades, demonstra a renda da família. O preço dos imóveis 
geralmente está relacionado a alguns fatores como a urbanização da região 
onde está localizado, o transporte que garanta a facilidade de acesso, proxi-
midade de infraestrutura de serviços públicos e privados, entre outros. Com 
o aumento do preço da terra, há elevação dos custos de aluguel, elevando 
também a renda dos locadores.
– 49 –
Estudo do crescimento das cidades
É importante entender o conceito de uso do solo como a forma pela qual 
o espaço está sendo ocupado pelo homem. Exemplos desses usos do solo são: 
área urbana, pastagens, florestas e locais de mineração. As decisões sobre o uso 
do solo também podem ocorrer pelo interesse particular dos agentes, como na 
especulação imobiliária, que é a compra ou aquisição de bens imóveis com a 
finalidade de vendê-los ou alugá-los posteriormente, na expectativa de que seu 
valor de mercado aumente durante o lapso de tempo decorrido.
O desempenho econômico das cidades não depende apenas da orga-
nização e do planejamento das cidades, mas também é consequência das 
políticas públicas federais e estaduais adotadas. A economia brasileira, numa 
análise dos últimos 50 anos, apresenta uma flutuação de resultados, partindo 
de um crescimento exponencial nos anos 1970 ao declínio nos anos de 1980 
e à recuperação e estabilidade econômica nos anos 1990. Observando esses 
dados, percebe-se que o cenário positivo dos anos 1970 ocorreu no con-
texto da desconcentraçãoindustrial em direção aos grandes centros urbanos, 
atraindo trabalhadores do campo em direção a eles. Nos anos 1980, a crise 
estancou o crescimento das cidades, que somente volta a ser recuperado nos 
anos 1990, com um novo processo de desconcentração da indústria nos espa-
ços urbanos (CARVALHO, 2003).
Outro ponto relevante para o crescimento das cidades é a convergência 
de renda entre as cidades e as regiões do Brasil. Mas, caso haja tal convergên-
cia, ela é relacionada com o processo migratório ou com a convergência na 
produtividade total dos fatores e da tecnologia?
O desempenho econômico também está ligado à questão da especiali-
zação das cidades. As cidades produzem diferentes tipos de produtos e ser-
viços orientados por fatores de decisão, como a existência de infraestrutura 
urbana e de logística de transportes, a qualificação da mão de obra local, bem 
como a localização e os acessos municipais. Esses fatores contribuem para a 
formação da economia urbana, pois permitem o desenvolvimento de uma 
diversificação produtiva que amplia as possibilidades locais. Nesse contexto, 
pode-se compreender um padrão de desempenho econômico que demonstra 
as seguintes características:
 2 As indústrias de alta e médio-alta tecnologia estão concentradas 
nas cidades de grande porte (editorial e gráfica, produtos químicos, 
Geografia Urbana
– 50 –
material elétrico e eletrônico e equipamentos de transporte), além 
dos setores de tecnologia de informação e serviços financeiros.
 2 As indústrias de média tecnologia (têxtil, papel e papelão) estão 
concentradas em cidades de médio porte.
 2 As indústrias de baixa tecnologia, ligadas à extração de recursos 
naturais, estão concentradas em pequenos municípios.
O desenvolvimento econômico do país contribui para a melhoria dos 
serviços públicos disponíveis, da rede de telecomunicações e da infraestrutura 
de transportes. Isso leva, consequentemente, à desconcentração industrial 
para municípios próximos aos grandes centros, fazendo com que essas cidades 
também cresçam. A ocorrência da desconcentração industrial para cidades 
menores abre espaço para que os grandes centros urbanos se especializem 
em setores mais dinâmicos, como os de alta tecnologia. Com um contínuo 
crescimento das cidades, outros setores de atividades se deslocam para tais 
localidades, o que resulta na maior diversificação da economia, oferecendo 
mais oportunidades econômicas e menor susceptibilidade a choques em seto-
res específicos.
Pode-se observar que, com o processo de desconcentração industrial, 
tem-se um novo padrão de economia estabelecido. As indústrias menos dinâ-
micas se estabelecem nas pequenas e médias cidades, enquanto as indústrias 
mais dinâmicas, ligadas à alta tecnologia, concentram-se nas grandes aglo-
merações urbanas, pois requerem mão de obra com nível de educação mais 
elevado ou maior número de instituições de ensino e pesquisa.
A descentralização da indústria pode ser compreendida como uma con-
sequência do desenvolvimento dos sistemas urbanos, que desloca a atividade 
industrial num primeiro momento para as áreas periféricas e, num segundo 
momento, para cidades menores, devido ao baixo custo dos fatores de pro-
dução como mão de obra e aluguel. A descentralização leva à melhoria da 
infraestrutura e do nível de qualificação dos trabalhadores dos municípios 
menores. Naturalmente, a expansão do processo de urbanização, quando 
acarreta redução da atividade industrial nos grandes centros, amplia a partici-
pação da indústria na economia das pequenas cidades.
– 51 –
Estudo do crescimento das cidades
3.2 Teorias do crescimento urbano
O crescimento da população pode ser compreendido por meio de dois 
fatores fundamentais:
 2 crescimento vegetativo: diferença entre o número de nascimentos 
e o número de óbitos registrados em dado momento;
 2 taxa de imigração: diferença registrada entre o total de pessoas que 
entram e saem de determinado espaço (DIAS, 1995).
Esse crescimento pode apresentar indicadores negativos, devido a fenô-
menos sociais que influenciam o total da população, como, por exemplo, o 
novo papel da mulher na sociedade e no mercado de trabalho e as possibili-
dades de adoção de métodos anticoncepcionais.
Para melhor compreensão do papel do crescimento populacional, 
seguem algumas teorias do crescimento urbano: a teoria de Malthus, a teoria 
neomathusiana e a teoria reformista.
3.2.1 Teoria de Malthus
Thomas Malthus publicou sua obra Ensaio sobre a população, em 1798, 
na qual defendia claramente duas ideias sobre o crescimento populacional. 
A primeira ideia afirma que o crescimento é regulado por fatores não con-
trolados, como guerras, epidemias e desastres naturais. O segundo argu-
mento é o de que a produção de alimentos cresce em progressão aritmética, 
enquanto a população apresenta uma progressão geométrica, fazendo com 
que a produção de alimentos seja insuficiente para atender a demanda.
Para Malthus, a população cresce numa proporção maior que a produ-
ção de alimentos, tendo como consequência a falta destes para abastecer a 
demanda do planeta. Dessa forma, Malthus defendia a ideia de que as pessoas 
somente poderiam ter filhos se tivessem condição de alimentá-los.
A teoria malthusiana, no entanto, não previu os avanços tecnológicos 
na atividade agrícola, que ampliaram a produção de alimentos. Outro ponto 
divergente da visão de Malthus foi a incapacidade de prever a redução do 
crescimento populacional, fato que ocorre em grande parte do mundo neste 
início de século, contrapondo-se a sua teoria.
Geografia Urbana
– 52 –
3.2.2 Teoria neomalthusiana
A teoria neomalthusiana buscava compreender os fatores que explica-
vam o atraso dos países subdesenvolvidos e os impactos sociais desse processo. 
Segundo essa teoria, a renda per capita é menor quanto maior é a população, 
reduzindo a capacidade de investimento das atividades produtivas na econo-
mia. A teoria explica que, devido à alta taxa de natalidade nos países desenvol-
vidos, os gastos com a população jovem e adulta são elevados, inviabilizando 
os investimentos nas atividades econômicas.
Essa teoria, assim como no modelo de Malthus, apresenta uma relação 
diretamente proporcional entre o crescimento da população e o aumento da 
pobreza. Com base nesse pensamento, desenvolveram-se métodos de controle 
de natalidade da população. O modelo neomalthusiano justifica o subdesen-
volvimento com base no fator demográfico, desconsiderando as condições de 
vida precárias e o problema da distribuição de renda.
3.2.3 Teoria reformista
Contrariando a teoria neomalthusiana, desenvolveu-se a teoria reformista, 
que buscava um novo foco sobre a situação social dos países subdesenvolvidos. 
Na visão reformista, o crescimento populacional não é um fator gerador de 
pobreza, mas consequência da ausência de investimentos em políticas sociais, 
como educação e saúde. A aplicação dessa teoria demonstra que as famílias dos 
países subdesenvolvidos passam a ter menos filhos e a buscar uma melhor quali-
dade de vida quando passam a ter mais investimentos em saúde, escola e acesso 
à informação. Nesse caso, a teoria reformista demonstra que o crescimento 
populacional deve vir acompanhado de investimentos sociais que reduzam os 
efeitos da miséria e da pobreza.
No caso brasileiro, a dinâmica demográfica tem apresentado importan-
tes mudanças como a redução da natalidade e o aumento da expectativa de 
vida, bem como uma maior atração que influenciou o processo de migração, 
alterando a pirâmide demográfica e a estrutura populacional, criando um 
novo perfil da população.
– 53 –
Estudo do crescimento das cidades
3.3 Estágios do crescimento urbano
O estudo dos estágios do crescimento urbano passa pela compreensão 
do conceito de transição demográfica. Essa transição pode ser vista como a 
variaçãodas taxas de crescimento e oscilações da população para contestar a 
teoria malthusiana. Warren Thompson (1929) define que existem variações 
periódicas da população, alternando-se crescimento e desaceleração demográ-
ficos e os estágios de estabilidade.
Para melhor compreensão desse conceito, precisamos entender também 
os conceitos de natalidade e mortalidade:
Taxa de natalidade (TN): número de nascidos vivos em permila-
gem, ou seja, número de crianças nascidas para cada mil habitantes. 
Exemplo: se em uma cidade de cem mil pessoas nasceram 15.000 
crianças durante um ano, então a taxa de natalidade é de 15‰ 
(quinze por mil).
Taxa de mortalidade (TM): número de falecimentos em permila-
gem, ou seja, o número de mortes para cada mil habitantes. Exemplo: 
se na mesma cidade, de cem mil pessoas, houve 10.000 mortes 
durante um ano, então a taxa de mortalidade é de 10‰ (dez por 
mil). (PENA, 2017)
As oscilações periódicas são classificadas em quatro estágios principais, 
como apresentado no quadro a seguir:
Quadro 1 – Estágios da transição demográfica.
1º estágio Neste estágio, as taxas de natalidade e mortalidade são eleva-das, apresentando um crescimento pequeno ou quase nulo.
2º estágio
Neste estágio reduzem-se as taxas de mortalidade e per-
manecem crescentes as taxas de natalidade, apresentan-
do-se uma aceleração do crescimento populacional.
3º estágio
Neste estágio reduzem-se as taxas de natalidade devido 
ao melhor acesso à informação, apresentando um 
nível moderado de crescimento populacional.
4º estágio Neste estágio apresentam-se taxas reduzidas de natalidade e mortalidade, com um crescimento demográfico próximo a zero.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Geografia Urbana
– 54 –
Os estágios se caracterizam pelo crescimento da população nos grandes 
centros urbanos, atraída por ofertas de emprego e melhores oportunida-
des, apresentando uma relação direta com o processo de urbanização. Essa 
migração populacional gera pressão sobre o uso do solo, devido à necessi-
dade de habitação para essas pessoas. A concentração da população leva a 
uma aceleração do processo de urbanização, para atender à demanda por 
serviços públicos e infraestrutura nos novos espaços ocupados, muitas vezes 
em ocupações irregulares e com moradias em situação precária.
Ampliando seus conhecimentos
Regiões metropolitanas: desaceleração 
no ritmo de crescimento
(BAENINGER, 2010, p. 212-215)
Considerando a importância das regiões metropolitanas no 
processo de urbanização e de redistribuição da população 
nacional, cerca de 57 milhões de brasileiros viviam nessas 
localidades em 2000. Contudo, sua participação no total 
da população urbana decresce de 48%, em 1970, para 
41%, em 2000. Os núcleos metropolitanos passam a per-
der peso relativo, desde a década de 70, reforçando os 
processos de mobilidade intrametropolitana e de periferiza-
ção da população.
[...]
Na verdade, o cenário recente das metrópoles, em termos 
de crescimento populacional e de menor absorção migratória, 
reflete-se fortemente no sistema de cidades brasileiras, com 
o espraiamento populacional e com a formação de espacia-
lidades marcadas pela concentração da população em um 
– 55 –
Estudo do crescimento das cidades
espaço regional que ultrapassa limites político-administrativos 
municipais. Desse modo, da mesma forma que a Metrópole 
foi o espaço definidor da grande parte do processo de con-
centração urbana no Brasil, é esta mesma expressão territorial 
– a Metrópole – que redefine a urbanização brasileira no 
século XXI.
As taxas de crescimento da população metropolitana segundo 
núcleo e periferia permitem observar que as regiões metropo-
litanas antigas (nove RMs) e novas (Campinas, Goiânia e 
Brasília) já apresentam taxas de crescimento do núcleo bas-
tante semelhantes, em torno de 1% a.a. (e até bem abaixo 
deste valor), à exceção de Fortaleza, Curitiba e Brasília, com 
taxas superiores a 2% a.a.. No que se refere às áreas periféri-
cas, as taxas são muito elevadas desde os anos 70, passando 
por uma transição deste crescimento – para níveis bem mais 
baixos – apenas a periferia de São Paulo (2,8% a.a.), a do Rio 
de Janeiro (1,6% a.a.) e a do Recife (1,8% a.a.).
[...]
O padrão de urbanização que se processou no Brasil foi mar-
cado por um crescimento rápido, amplo e concentrado da 
população, contribuindo, de um lado, para a emergência de 
grandes metrópoles, e de outro, para a expansão de uma diver-
sificada rede urbana nacional, com o crescimento acelerado das 
capitais regionais e sub-regionais, bem como com o aumento da 
população urbana em grande número de cidades de diferen-
tes tamanhos (FARIA, 1983). Esse processo de concentração 
urbana em determinadas localidades teve momentos de maior 
intensidade e, ao que tudo indica, atualmente está-se frente 
a um movimento de desaceleração no ritmo de crescimento 
populacional dos grandes centros urbanos.
Geografia Urbana
– 56 –
As novas formas de estruturação do espaço urbano têm se 
caracterizado por um crescente processo de conurbação e de 
complexa interação entre as cidades, configurando a emergên-
cia de novas áreas metropolitanas e a formação de aglomera-
ções urbanas não metropolitanas no interior do País.
Na dinâmica do processo de redistribuição espacial da 
população, portanto, essas novas espacialidades vêm assu-
mindo importância crescente, já que podem ser capazes 
tanto de absorver quanto de reter grande parte dos fluxos 
migratórios que, anteriormente, se dirigiriam às grandes con-
centrações metropolitanas.
Nesse sentido, os padrões recentes do processo de urbaniza-
ção no Brasil possibilitam apreender as seguintes tendências:
 2 Decréscimo no ritmo de crescimento das áreas 
metropolitanas;
 2 Novas formas de distribuição da população no interior 
das metrópoles (com menores taxas de crescimento, 
inclusive para as áreas periféricas);
 2 Adensamento da rede de cidades no interior e seu con-
sequente processo de aglomeração urbana;
 2 Relativa desconcentração populacional metropolitana;
 2 Interiorização da população.
[...]
Atividades
1. Observa-se que as cidades brasileiras vêm passando por uma fase de 
transição demográfica importante. Qual dos quatro estágios de cresci-
mento das cidades se refere ao atual momento dessa transição no Brasil?
– 57 –
Estudo do crescimento das cidades
2. O aumento dos investimentos sociais, destacadamente em educação e 
saúde, tem um impacto direto no aumento da população. Explique como 
esses investimentos refletem no crescimento das cidades no século XXI.
3. A desconcentração industrial ocorre, em primeiro lugar, nas cidades 
limítrofes ou próximas aos grandes centros industriais. Explique por 
que essas cidades são as primeiras a receber os novos investimentos da 
atividade industrial.
As relações econômicas 
no processo urbano
Introdução
A cidade pode ser compreendida como a concretização do 
processo de formação e construção do urbano. Esse processo de for-
mação é composto por agentes políticos, que organizam e regula-
mentam o uso do espaço; agentes sociais, que reivindicam o direito 
de uso do solo; e agentes econômicos, que nesse espaço estabelecem 
atividades produtivas capazes de atrair e mobilizar os habitantes de 
uma cidade.
Esse contexto de construção apresenta características diferentes 
em países centrais e periféricos, as quais auxiliam na compreensão do 
planejamento e funcionamento das cidades. Nesse processo, é preciso 
também olhar para o futuro e buscar compreender quais as possibilida-
des de novas relações sociais e econômicas no espaço urbano.
4
Geografia Urbana
– 60 –
4.1 Renda da terra e o valor 
na produção do urbano
4.1.1 A renda da terra
A terra é um dos fatores de produção clássicos e, diferentemente de 
outras mercadorias, não é produzidapelo trabalho humano, tendo suas 
características de localização, condições e estrutura de solos pré-definidas 
pelas condições apresentadas. A terra é um requisito essencial para a formação 
e expansão urbana, pois há necessidade desse espaço para a reprodução social 
e econômica. Além disso, é um ativo que apresenta, por suas características, 
um alto valor de aquisição, e, por esse motivo, estabelecem-se disputas por 
sua posse e uso no ambiente urbano (CARLOS, 2011).
O Estado utiliza-se de instrumentos jurídicos para o planejamento e a 
organização da utilização da terra por meio das políticas de zoneamento e uso 
do solo, procurando garantir o acesso de todos ao espaço urbano e uma dis-
tribuição mais justa dele. No entanto, o Estado não é dono de todo o espaço, 
mas de uma fração dele, cabendo aos proprietários de terras sua utilização ou 
a geração de renda por sua remuneração advinda enquanto fator de produ-
ção. Isso gera, segundo Marx (1980), um tributo da sociedade em favor dos 
proprietários da terra pelo direito de utilizá-la. Na visão marxista, a hipótese 
da propriedade fundiária pressupõe que certas pessoas têm o direito de dis-
ponibilizar o uso da terra conforme a sua vontade, a partir de uma concessão 
de Estado, que define quais áreas podem ou não ser utilizadas. Dessa forma a 
terra, com suas características de alta demanda e limitações espaciais, passa a 
ser comercializada como uma mercadoria qualquer.
A renda gerada por meio da terra pode ser influenciada pela ação direta 
do Estado, como as melhorias advindas dos investimentos em infraestrutura e 
equipamentos públicos, como pontes, estradas, hospitais, escolas, faculdades 
etc., que valorizam a terra nos espaços urbanos. Com base nesse conceito, 
Marx (1980) define que a terra precisa ser corretamente distribuída e ocu-
pada, pois quem a utiliza se apropria tanto do capital privado, representado 
– 61 –
As relações econômicas no processo urbano
pela terra em si, quanto do capital público, advindo dos investimentos do 
Estado no espaço urbano.
A utilização da terra pode ser compreendida como o conjunto das ati-
vidades distribuídas no espaço geográfico, caracterizando tipos de uso (ativi-
dades econômicas) e tipos de assentamento (edificações). Nos municípios, as 
leis de zoneamento ou leis de uso do solo são usadas para regular a distribui-
ção desses diversos usos da terra (CORRÊA, 1995).
Um conceito bastante estudado pelos pesquisadores da Geografia 
Urbana e de outras ciências como o Urbanismo é o de “vazio urbano”. Vazios 
urbanos são áreas vazias, não ocupadas ou subutilizadas, as quais podem estar 
localizadas no espaço urbano, que se apropriam dos capitais públicos e priva-
dos (SPOSITO, 2001). Na visão marxista, os proprietários dos vazios urba-
nos geram uma reserva de valor, por meio da apropriação de investimentos 
públicos e privados, o que impacta as relações sociais e econômicas no espaço 
urbano. Nesse caso, quando o proprietário vende a terra (mesmo que seja um 
vazio urbano), ele recebe um ágio (um valor adicional) pela valorização do 
espaço a partir das ações públicas (de investimento na região) e privadas (de 
investimento dos demais proprietários). Dessa forma, acredita-se que o ganho 
da terra adquirido advém de outras esferas da sociedade, e não dos esforços 
pessoais de seu proprietário.
O monopólio do uso do solo a partir da propriedade da terra permite 
a apropriação da construção coletiva do espaço urbano, além da apropria-
ção da renda pelas condições monopolistas, sem a participação no processo 
de produção da riqueza. Como exemplo, pense num terreno vazio em um 
bairro qualquer. Com os investimentos da prefeitura na região e dos próprios 
habitantes do bairro, a propriedade (mesmo que vazia) se valoriza e, nesse 
caso, o dono do terreno vazio se apropria da valorização do imóvel sem con-
tribuir para ela. Portanto, a renda da terra pode ser aumentada pela influên-
cia do capital privado e público, pelas ações da especulação imobiliária, pela 
demanda crescente devido ao aumento da população das cidades, pela oferta 
de equipamentos e infraestrutura urbanos e pela própria regulamentação do 
Estado, por meio do instrumento de zoneamento de uso do solo.
Geografia Urbana
– 62 –
Segundo Sposito (1991), a terra apresenta duas características intrínse-
cas: o valor do uso para os que a detêm, contemplando o preço e a valorização 
da propriedade, e o valor de troca, ou seja, o valor de uso para quem não 
possui a terra, como no caso de aluguel, arrendamento, entre outros. A renda 
advinda da terra pode inviabilizar o investimento nas regiões com preços mais 
altos, expandindo o capital para as áreas onde o imóvel tem um preço inferior.
4.1.2 O valor na produção do urbano
Quando se observa o processo de formação do espaço urbano, nota-se 
uma produção desigual do espaço das cidades. Para a compreensão dessa 
produção desigual, é importante identificar os agentes e os sujeitos que 
participam da construção do espaço, bem como as ações empreendidas nas 
atividades desses agentes. No quadro a seguir, são destacados os principais 
agentes que colaboram com a formação do espaço:
Quadro 1 – Agentes produtores do espaço urbano.
Proprietários dos 
meios de produção
Necessitam de grandes áreas para o desen-
volvimento de suas atividades.
Proprietários 
fundiários
Buscam os maiores rendimentos fundiários a par-
tir da oferta e da distribuição dos preços.
Promotores 
imobiliários
Realizam a conversão do capital-mercado-
ria (terra) em capital-dinheiro (moeda).
Estado Regula, organiza e planeja o uso da terra, além de utili-zá-lo para a oferta de infraestrutura e serviços públicos.
Grupos sociais 
excluídos
Não possuem acesso à terra e produ-
zem o seu próprio espaço.
Fonte: CORRÊA, 1995. Adaptado.
As estratégias e ações estabelecidas e identificadas para cada um dos 
agentes são determinantes para a formação do espaço urbano, e a relação 
entre eles tem como consequência conflitos e desigualdades. Os conflitos são 
decorrentes dessas próprias desigualdades na ocupação do solo, como nos 
espaços destinados à habitação e a moradias, bem como a áreas para lazer, 
– 63 –
As relações econômicas no processo urbano
entre outras. Assim, é importante a definição dos atores e seus papéis distintos 
que, sob a regulação do Estado, contribuem para a construção das cidades.
A pesquisadora Ana Fani Alessandri Carlos (2011) destaca que a produ-
ção do espaço envolve sujeitos de ação, sendo eles:
O Estado, a quem cabe a dominação política; o capital, com suas 
estratégias objetivando sua reprodução continuada (e aqui nos refe-
rimos às frações do capital, o industrial, o comercial e o financeiro e 
suas articulações com os demais setores da economia, como o mer-
cado imobiliário); os sujeitos sociais que, em suas necessidades e seus 
desejos vinculados à realização da vida humana, têm o espaço como 
condição, meio e produto de sua ação. Esses níveis correspondem 
àqueles da prática socioespacial real (objetiva e subjetivamente) que 
ganha sentido como produtora dos lugares, encerrando em sua natu-
reza um conteúdo social dado pelas relações sociais que se realizam 
num espaço-tempo determinado, como um processo de produção, 
apropriação, reprodução da vida, da realidade e do espaço em seus 
descompassos, portanto fundamentalmente em suas contradições. 
(CARLOS, 2011, p. 64)
Portanto, o espaço urbano é um produto do trabalho e das relações 
sociais e econômicas, sendo que o Estado regula a distribuição espacial das 
atividades, dos processos produtivos etc. O valor da terra não está relacionado 
somente com a forma física da cidade, mas com essas relações estabelecidas no 
espaço. Por exemplo, as cidades históricas, por questões legais de preservação, 
não alteram sua forma física, mas estabelecem novas relações de consumo e 
de serviçospraticados no espaço (SPOSITO, 1991).
Conforme a estrutura do espaço urbano é melhorada, eleva-se o valor da 
terra, definindo-se a organização do espaço por meio do poder de interação 
dos agentes. Esse processo também gera sujeitos excluídos, que não conse-
guem adquirir um espaço na cidade, definindo os conflitos pela ocupação da 
terra (SOUZA, 2003).
4.2 O crescimento urbano em 
países de centro e periferia
A urbanização pode ser entendida como um processo de concentração 
da população, levando ao predomínio do espaço urbano e das cidades sobre 
Geografia Urbana
– 64 –
o espaço rural. Inicialmente o espaço urbano era caracterizado por atividades 
rurais, que dependiam do campo para a realização das práticas comerciais 
nas cidades. Com a Revolução Industrial, houve o crescimento demográfico 
no espaço urbano, levando as cidades a ter um papel preponderante sobre o 
campo (SPOSITO, 2001).
Os países centrais ou desenvolvidos apresentam uma economia dinâ-
mica, com estrutura industrial completa, produzem bens de alto valor 
agregado e desenvolvimento tecnológico e científico elevado. Esses países 
apresentam meios de comunicação e transporte modernos e eficientes, alto 
nível de qualidade de vida, baixos índices de analfabetismo, reduzido cres-
cimento populacional e elevada expectativa de vida. Os países periféricos 
ou subdesenvolvidos, por outro lado, apresentam grandes desigualdades 
sociais e de distribuição de renda, com dependência econômica em rela-
ção aos países centrais, controle das atividades econômicas sobre influência 
de empresas transnacionais, economia baseada em recursos naturais, baixo 
nível científico e tecnológico, sistema de transporte e comunicação ine-
ficientes, número elevado de analfabetos, elevado crescimento natural da 
população e baixa expectativa de vida (SANTOS, 1993).
As características do crescimento urbano, desse modo, são diferentes nos 
países centrais e periféricos, como exposto a seguir.
4.2.1 O crescimento urbano em países centrais
Os países centrais (desenvolvidos) foram pioneiros no processo de industria-
lização devido aos impactos da Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, 
o que levou à formação de importantes cidades, como Londres, Paris e Nova 
Iorque, que, devido a isso, apresentaram os maiores contingentes populacionais.
Os países centrais têm um processo de urbanização mais antigo, que 
ocorreu de forma lenta e articulada com a área rural. Esse processo articulado 
incentivou as migrações, que aumentaram com a evolução das cidades, ins-
talando equipamentos urbanos e infraestrutura. Num primeiro momento, as 
cidades se horizontalizaram e expandiram o espaço urbano e, num segundo 
momento, passaram por um processo de verticalização (SPOSITO, 2001).
– 65 –
As relações econômicas no processo urbano
A urbanização moderna está intrinsecamente ligada ao sistema econô-
mico, principalmente à industrialização. A concentração populacional causada 
pelos movimentos migratórios expandiu o processo de urbanização nas cidades. 
Como esse processo foi mais bem planejado nos países centrais, suas cidades se 
prepararam para atender e resolver os problemas advindos dessa industrializa-
ção e urbanização. Nesses países também há uma rede de cidades mais articula-
das e com a concentração urbana melhor distribuída.
A urbanização dos países centrais contribui para que os fatores atrativos 
se destaquem, como maior oferta de empregos gerados pela industrialização, 
melhores condições de renda e de qualidade de vida, rápido e fácil acesso a 
mercados consumidores e produtores, existência de infraestrutura moderna e 
de equipamentos urbanos, como amplos espaços de convivência ou a grande 
oferta habitacional por meio da verticalização do espaço (Figura 1).
Figura 1 – Urbanização em países centrais.
Fonte: sasacvetkovic33/iStockphoto. Fonte: SeanPavonePhoto/iStockphoto.
4.2.2 O crescimento urbano em países periféricos
Os países periféricos ou subdesenvolvidos apresentam características 
heterogêneas, dependendo do grau de industrialização na formação de seu 
espaço urbano.
 2 Países subdesenvolvidos industrializados, ou mercados emer-
gentes: A contradição entre as cidades e o campo foi acentuada 
após a Segunda Guerra Mundial, com a rápida urbanização cau-
sada pelo intenso movimento de êxodo rural.
Geografia Urbana
– 66 –
 2 Países subdesenvolvidos não industrializados, ou mercados 
periféricos: Apresentam baixos índices de urbanização, geralmente 
localizados nos continentes da África e Ásia, em virtude do pre-
domínio de atividades primárias. Nesses países, há um processo 
de intensa urbanização em virtude do êxodo rural elevado, devido 
ao baixo padrão de vida no campo e à falta de políticas governa-
mentais que promovam a fixação e o acesso à terra. A ausência 
dessas políticas leva a uma pressão populacional sobre as cidades 
(SANTOS, 1965).
O processo de urbanização dos países periféricos contribui para o desen-
volvimento dos fatores repulsivos, ou seja, que causam a “expulsão” da 
população do campo para as cidades, geralmente num processo de êxodo 
rural. Dentre esses fatores, destacam-se a concentração fundiária, má con-
dições de renda e qualidade de vida, existência de infraestrutura deficiente e 
ausência de equipamentos urbanos.
O desenvolvimento dos fatores repulsivos contribui para o deslocamento 
das populações rurais em direção às regiões urbanizadas, devido à concentra-
ção das atividades econômicas e, por consequência, à concentração popula-
cional, constituindo o fenômeno da macrocefalia urbana. Esse fenômeno 
também pode ser observado em países desenvolvidos, mas geralmente ocorre 
em proporções menores e de forma mais organizada (ROSSATO, 1996).
Marx (1980) destaca que, com a incapacidade de absorver a mão de 
obra advinda do campo, aumenta-se o número de pessoas desempregadas, 
as quais acabam buscando refúgio no subemprego (emprego não qualificado 
e de remuneração muito baixa, sem vínculos ou garantias legais). A situação 
de subemprego leva a problemas como aumento da violência, proliferação de 
moradias irregulares, pressão social para a instalação de equipamentos urba-
nos e infraestrutura. A Figura 2 apresenta um exemplo de ocupação irregular 
em país subdesenvolvido, configurando um cenário de vulnerabilidade social 
para as populações locais.
– 67 –
As relações econômicas no processo urbano
Figura 2 – Ocupações irregulares e formação de favela em Déli, na Índia.
Fonte: YavuzSariyildiz/iStockphoto.
4.3 O futuro das cidades
Os geógrafos urbanos, assim como os urbanistas, os gestores municipais 
e outros profissionais, debatem sobre o futuro das cidades. Há uma grande 
dúvida sobre como os gestores municipais devem atuar para aproximar os 
cidadãos e a cidade, garantindo o acesso da sociedade ao espaço urbano, prin-
cipalmente com o crescente processo de urbanização, desordenado e defei-
tuoso, com dificuldade de atendimento das necessidades e da demanda por 
infraestrutura e equipamentos urbanos.
Assim, a formação social do espaço urbano passa a ser uma construção 
conjunta entre os planejadores urbanos do Estado e os agentes dos demais 
setores envolvidos no processo de desenvolvimento da cidade, buscando-se 
organizar as demandas públicas e as particulares.
Geografia Urbana
– 68 –
Outro importante elemento para as cidades do futuro é a discussão sobre 
o papel da sustentabilidade nas dimensões econômica, social e ambiental. 
Na dimensão econômica, a cidade precisa diversificar suas atividades econô-
micas e produtivas no espaço, organizando a utilização do solo e a distribui-
ção espacial da terra. Na dimensão social, a cidade necessita garantir a capa-
cidade de o espaço atender às aglomerações urbanas e suas demandas sociais 
(notadamente educação e saúde) de equipamentos urbanos e infraestrutura. 
Na dimensãoambiental, precisa haver a articulação da concentração popu-
lacional com a capacidade do espaço e suas relações com o ambiente natural 
(ACSELRAD, 2009).
Para o estudo das cidades, é importante entender as tendências que 
podem mudar sua formação e construção, bem como a organização do espaço 
público para o estabelecimento de novas relações sociais e econômicas.
4.3.1 Megatendências globais para as cidades
As cidades podem ser compreendidas como organismos vivos que se 
orientam por um modelo sistêmico que, como tal, precisa interagir com as 
mudanças no ambiente, definindo um novo padrão e um novo modo de 
desenvolvimento dos grandes centros urbanos.
 2 A inserção das cidades no processo de globalização: A globaliza-
ção pode ser entendida como um processo de integração econômica, 
social e cultural que ocorre em âmbito mundial. Esse processo teve 
um forte impulso a partir dos anos de 1990, com a evolução das 
tecnologias de informação e comunicação, eliminando distâncias 
e barreiras e constituindo uma “aldeia global”. Para Milton Santos 
(2001), significa o auge do capitalismo aplicado em nível global, 
buscando uma realocação e maior eficiência dos recursos produ-
tivos. Essa realocação é necessária para atingir a competitividade 
exponencial entre empresas em mercados cada vez mais dinâmicos.
Um dos primeiros efeitos do processo de globalização no espaço 
urbano foi o surgimento de grandes aglomerações urbanas com a 
formação das metrópoles, das regiões metropolitanas e das cida-
des conurbadas (agrupadas em um espaço contínuo). Também 
foram definidas as cidades globais, que são pontos da rede 
– 69 –
As relações econômicas no processo urbano
econômica e política global. A globalização permitiu que as grandes 
indústrias deslocassem suas atividades produtivas para as cidades 
médias e, até mesmo, para espaços rurais. Com essa movimentação, 
as grandes cidades passaram a ter um novo papel, concentrando 
atividades de serviços, financeiras, burocráticas ou conectadas à alta 
tecnologia, reduzindo distâncias e afetando as percepções do espaço 
e do tempo (HARVEY, 1989).
 2 A interação das políticas de migração e urbanização: O pro-
cesso migratório é uma consequência natural do desenvolvimento 
urbano, pois municípios urbanizados atraem mais populações em 
busca de novas oportunidades. Esse movimento migratório pode 
ser observado em cenários como o do êxodo rural, ou migração 
campo-cidade. Esse processo esvazia o espaço rural e gera aglome-
rações populacionais no espaço urbano.
Com a redução e/ou eliminação das fronteiras, os fluxos migrató-
rios tendem a se intensificar, com a busca de novas oportunida-
des de trabalho e de educação. O futuro definirá a necessidade de 
estabelecimento de políticas públicas integradas (ou consorciadas) 
entre diversos municípios, para atuarem em problemas regionais 
comuns. As migrações que ocorrem geralmente entre cidades vizi-
nhas, dentro do próprio estado ou do país, podem ser estendidas 
para movimentos migratórios com origem em outros países.
 2 O desenvolvimento da economia da inovação: O desenvolvi-
mento econômico das cidades passa pelo planejamento e pela orga-
nização do uso do solo urbano, fazendo-se a correta distribuição 
da terra entre as atividades econômicas agrícolas, industriais e de 
serviços. Quanto mais dinâmica e moderna é a economia de uma 
cidade, mais ela concentra população e demanda organização e pla-
nejamento para o atendimento das necessidades sociais.
O debate sobre inovação tem ganhado espaço nas políticas de 
desenvolvimento econômico das cidades, estabelecendo-se as rela-
ções econômicas entre o global e o local e definindo um novo papel 
político-econômico para os planejadores municipais. Nessa pers-
pectiva, o desenvolvimento de parques tecnológicos como fator 
Geografia Urbana
– 70 –
de atração econômica surge como uma possibilidade de implan-
tar novas práticas para dinamizar o desenvolvimento econômico 
(LASTRES et al., 1999).
A sociedade da informação pode ser compreendida, segundo 
Castells (1999), como o desenvolvimento de um modelo informa-
cional que engloba tanto a economia quanto as comunicações e as 
relações sociais, organizadas em uma nova estrutura social (que o 
autor chama de sociedade em rede), na qual as tecnologias de infor-
mação são o principal instrumento para alcançar a produtividade 
e o poder. Nesse contexto, muitas cidades que estruturavam sua 
economia ancoradas nas atividades dos centros industriais, con-
centrados em espaços determinados, iniciaram paulatinamente 
um processo de migração para uma nova economia, baseada nas 
oportunidades advindas da expansão das tecnologias. Esse modelo 
econômico contempla novos fatores produtivos, como a existência 
de uma infraestrutura que permite o tráfego e o armazenamento 
de dados, bem como uma capacidade de banda larga e de estrutura 
física de servidores e hardwares para o desenvolvimento e suporte 
das atividades (ALBERTIN; ALBERTIN, 2012).
 2 As interações da cidade com o meio ambiente: Cabe às cidades 
estabelecer políticas adequadas para movimentação e o descarte dos 
insumos e resíduos, para as práticas e técnicas adequadas de susten-
tabilidade dos ambientes construídos e redes de governança que 
fiscalizem as políticas ambientais, bem com estabeleçam normas e 
padrões técnicos. Da mesma forma, cabe aos gestores municipais 
estabelecer políticas de educação ambiental para alterar as dinâmi-
cas de relações sociais com o meio ambiente.
As redes de governança estabelecidas são fundamentais para que o 
futuro das cidades contemple as necessidades ambientais, utilizando 
instrumentos como: zoneamento ambiental; normas ambientais, 
com estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; avalia-
ção de impacto ambiental e os procedimentos de licenciamento 
ambiental; políticas públicas; planos e programas setoriais; e ações 
de fiscalização ambiental.
– 71 –
As relações econômicas no processo urbano
Além disso, um dos desafios das cidades do futuro é disponibilizar 
energia de forma sustentável para todas as atividades urbanas que, 
devido às demandas de inovação e expansão, necessitam cada vez 
mais desse recurso. Assim, as cidades passam a ter como foco de 
ação a investigação de novos modelos de geração de energia, de 
acordo com as características do espaço urbano, seja com a captação 
energética eólica, solar, das marés, hidroelétricas ou geotérmicas.
 2 Cidade digital e smart cities – estabelecendo as novas relações 
urbanas: Um importante desafio para o futuro é a integração das 
funções urbanas com as tecnologias de informação e comunicação, 
tornando as cidades mais eficientes e inteligentes, o que requisi-
tará da geografia estudos sobre uma nova organização espacial e 
novos uso para a terra. Para os pesquisadores, as cidades inteligentes 
se diferenciarão pela prestação de serviços, como a automação da 
coleta de lixo e a distribuição e organização do transporte de acordo 
com a demanda, em horários específicos. Esse cenário permitirá, 
ainda, novos espaços de debate e de relações sociais, com uma inte-
ração mais ágil e melhores resultados.
As cidades contemplam, assim, novas dinâmicas com seus habitantes, 
configurando diferentes formas de atuação no espaço urbano. Um 
espaço de interação virtual, ancorado em novas tecnologias, é desse 
modo estabelecido, tornando mais eficientes os serviços públicos.
Ampliando seus conhecimentos
O futuro das cidades: a insustentabilidade 
da cidade desigual
(PEREIRA, 2006)
Há uma grande interrogação sobre o futuro das cidades. O 
processo de urbanização crescente, desordenado e defei-
tuoso ao atendimento direto à população, principalmente em 
Geografia Urbana
– 72 –
áreas mais carentes de equipamentos públicos, deixa muitas 
dúvidas sobre como o poder público, através de políticas 
publicas,aproximará os cidadãos ao direito à cidade.
Por isso, a tarefa de encontrar soluções mediatas e imediatas 
para o mal-estar urbano não deve estar localizada apenas nas 
mãos de planejadores e do estado, mas sim corrigido com a 
participação e fiscalização de amplos setores e sujeitos envol-
vidos no processo de construção social do espaço urbano. 
Dessa forma, reunir amplos e complexos setores da sociedade 
com interesses opostos exigirá esgrimar com interesses gerais 
e particulares, assanhando os múltiplos aspectos das relações 
sociais entre as duas principais classes, trabalhadores e bur-
gueses, e outros setores sociais emanados por conflitos de 
interesses particulares.
Está em voga, atualmente, debater, discursar e apresentar 
como título de teses e seminários a palavra sustentabilidade. 
É um atrativo, uma fórmula para a cura dos males sociais, eco-
nômico e ambiental através de um pretenso consenso social, 
ou nos dias atuais, idealizar um novo “contrato social” com 
base no interesse comum. Razão pela qual defende-se o meio 
ambiente, afastando a política, instável na sua essência, da 
malha decisória do planejamento do espaço urbano, enco-
brindo de forma indisfarçável o conflito social.
A sustentabilidade social e ambiental está travada em uma 
concepção mais geral de organização de sociedade, sem 
sustentação, o que nos leva a crer que a industrialização, 
promovida pelo sistema capitalista, não teve como desiderato 
preocupar-se com ordenamento igualitário, territorialmente e 
economicamente, de todos nas cidades. Incluídos e excluí-
dos permanecem divididos economicamente e socialmente. 
A palavra sustentável, dessa forma, pode não estar acima de 
“modelos” totalizantes que determinam a face do sistema polí-
tico e social. Para as elites econômicas, as habitações neces-
sitam ser autossuficientes, precisam estar fora do mundo que 
– 73 –
As relações econômicas no processo urbano
a industrialização criou. A “segurança” é pensada para que o 
“mundo marginal” não penetre no seu espaço; portanto, no 
seu mundo.
A arquitetura, aos olhares do senso comum apenas concreto 
e beleza plástica ou feiúra estética, o modelo e as constru-
ções, as ruas como estão alinhadas, as moradias onde estão 
localizadas e quem nelas habita, muito mais do que a aparên-
cia pode revelar, serve a um propósito que afirma o sistema 
político que a cidade e seus habitantes acolhem.
Concretamente, a ocupação urbana desordenada, a indus-
trialização, as novas introduções tecnológicas, fruto da radica-
lização do capitalismo (reestruturação produtiva do capital), 
visando ao lucro e não ao bem-estar do homem, destroem 
relações culturais e sociais solidárias.
Aqui vale um comentário a respeito do entendimento de 
Henri Lefebvre sobre a diferenciação das cidades para a 
“sociedade urbana” (aspas do autor). Os modos de produ-
ção nas diferentes realidades históricas das sociedades força-
ram diferenças da organização do ponto de vista da absorção 
de espaços, onde as relações sociais objetivas e subjetivas 
se entrelaçam. A “sociedade urbana” é, então, uma hipó-
tese de interseção entre a cidade industrial e a zona critica. 
A “sociedade urbana” nasce da industrialização que domina 
e absorve a produção agrícola e ao mesmo tempo se dis-
tancia do mundo rural. Essa particularidade, assinalada, pode 
melhor ser identificada quando estamos diante de uma região 
como São Paulo, ou outra grande metrópole, que passou por 
um processo de industrialização, afastou-se do rural, vive na 
zona crítica, ou seja, da “implosão-explosão”; “a concentração 
urbana, o êxodo rural, subordinação completa do agrário ao 
urbano” (Henri Lefebvre, 1999). Desta feita, caminhamos ine-
xoravelmente rumo à “sociedade urbana”.
Geografia Urbana
– 74 –
O processo se daria da ausência de urbanização até o urbano, 
ilustrado por Lefebvre da seguinte forma: Partimos da cidade 
política: Grega e oriental; transitamos pela cidade comercial 
que sofre a interseção da inflexão do agrário para o urbano 
tendo como base à cidade industrial e “finalmente” estaríamos 
passando pela zona crítica. Para Lefebvre, o eixo traçado:
 (...) é ao mesmo tempo espacial e temporal: espacial porque 
o processo se estende no espaço que ele modifica; tempo-
ral, uma vez que se desenvolve no tempo, aspecto de início 
menor, depois predominante, da prática e da história (...) No 
caminho percorrido pelo “fenômeno urbano” (numa palavra: 
o urbano), coloquemos algumas balizas. No inicio o que há? 
Populações destacadas pela etnologia, pela antropologia. Em 
torno desse zero inicial, os primeiros grupos humanos (coleto-
res, pescadores, caçadores, talvez pastores) marcaram e nomea-
ram o espaço; eles o exploraram balizando. Indicaram os lugares 
nomeados, as topias fundamentais. (...) O que importa é saber 
que muitos lugares no mundo, e sem dúvida em todos os luga-
res onde a história aparece, a cidade acompanhou ou seguiu de 
perto a aldeia” (Henri Lefebvre, 1999).
O conceito de gestão urbana, apreciado neste trabalho, não 
tem intimidade com o mesmo conceito mercadológico da vida 
urbana expressado na concepção de planejadores urbanos 
que trataram prefeitos como gerentes de uma grande empresa. 
As cidades são despossuídas de relação humanas, apresenta-
das em mostruário, colocadas no mercado globalizado.
Não há como não reconhecer a importância do plane-
jamento urbano para permitir que haja uma cidade mais 
humana, seja numa sociedade que preze pelas relações 
democráticas e iguais em direitos; ou seja, numa sociedade 
de relações insustentáveis e profundamente contraditórias. 
Nelas há que se reconhecer o conflito nas relações sociais, 
– 75 –
As relações econômicas no processo urbano
para inicio de negociação dos riscos; e não poderá se tran-
sigir da presença dos setores excluídos e organizados no 
processo de elaboração do planejamento urbano. Essas 
questões que penso poderão suscitar e aprofundar o debate 
sobre o futuro das cidades.
Atividades
A urbanização é um fenômeno crescente e que precisa passar por um 
processo de planejamento e regulação do Estado, garantindo a todos o acesso 
à terra como direito à cidade, bem como o desenvolvimento de atividades 
econômicas para atender a demanda do aglomerado urbano. Nesse cenário, 
o espaço urbano pode impactar todo o ambiente da cidade. Com base nessa 
premissa, responda às questões a seguir:
1. Pensando na relação entre renda da terra e urbanização, por que as 
pessoas mais carentes habitam as regiões mais distantes dos grandes 
centros urbanos e as periferias?
2. Por que nas áreas urbanizadas há uma preocupação maior com o meio 
ambiente e com a preservação das boas condições ambientais?
3. Qual o papel do Estado para garantir o acesso de todos à terra e ao 
direito de ocupação do espaço urbano?
Processo de formação e 
urbanização das cidades
Introdução
A formação das cidades está ligada à necessidade de fixação 
territorial das sociedades, o que contempla a correta distribuição do 
solo entre as atividades sociais e produtivas. O Estado tem uma fun-
ção política de organização e planejamento do espaço para garantir 
a toda a sociedade o acesso igualitário à terra. 
As grandes cidades apresentam fatores que atraem migran-
tes aos seus territórios, contribuindo para a formação de grandes 
concentrações populacionais. Esse tipo de concentração resulta em 
alta demanda por serviços públicos e de infraestrutura, o que gera 
impactos sobre o meio urbano, muitas vezes com o estabelecimento 
de ocupações irregulares. Esse processo também se expande em dire-
ção às cidades de médio porte, instituindo uma nova interação e um 
novo tipo de relação entre as cidades.
5
Geografia urbana
– 78 –
5.1 A localização urbana e o sistema urbano
5.1.1 A localização urbana
A localização urbana é um fator muitoimportante na configuração da 
estrutura interna da cidade, sendo classificada como um bem que é incorpo-
rado à terra. Esse valor da terra é adicionado na aquisição/compra da parcela 
do solo urbano ou no aluguel desta. Villaça escreve que “na cidade capitalista 
a localização é apropriada pelo proprietário do respectivo terreno, juntamente 
com a propriedade deste. Indistinguível do terreno transforma-se com ele em 
mercadoria” (VILLAÇA, 1978, p. 15).
Entretanto, os diversos pontos dados pela localização variada dos terrenos 
urbanos possuem qualidades locacionais que variam no tempo e no espaço, de 
acordo com as modificações realizadas pelos proprietários da terra, pelas ações 
do Estado no espaço urbano ou pelo investimento financeiro realizado.
A localização urbana é influenciada pela relação dos atributos locais, 
destacadamente pelos fatores de acessibilidade e de infraestrutura. A acessi-
bilidade no espaço é determinada pelo conjunto de vias de circulação e pelo 
sistema de transporte urbano, influenciando assim o preço da terra. Os imó-
veis localizados em áreas centrais tendem a ter preços mais elevados, devido à 
melhor acessibilidade, enquanto áreas mais afastadas geralmente apresentam 
preços mais baratos. Assim, nos países subdesenvolvidos a acessibilidade é um 
diferencial para determinação do preço do solo, pois neles os recursos para 
investimentos em vias de circulação e sistemas viários são limitados.
Por sua vez, a existência de infraestrutura estabelece vantagens para a loca-
lização urbana por meio dos investimentos diferenciados na cidade. A implan-
tação de uma boa infraestrutura urbana contribui para a determinação do preço 
do solo e para melhorias nas cidades, principalmente em função das concentra-
ções populacionais crescentes. O espaço urbano nos países subdesenvolvidos é 
marcado por uma infraestrutura precária e insuficiente para suprir as demandas 
sociais e econômicas, gerando desigualdade na distribuição do solo das cidades. 
Assim, uma infraestrutura adequada fica disponível apenas para uma parcela da 
sociedade, que tem mais recursos para adquirir os terrenos com valores eleva-
dos, marginalizando as classes de menor poder aquisitivo.
– 79 –
Processo de formação e urbanização das cidades
As transformações no espaço ocorrem mais rapidamente nas cidades, 
pois a concentração populacional leva a uma demanda crescente por serviços 
públicos e infraestrutura urbana. Dessa forma, a carência de infraestrutura 
leva a um processo de reformulação constante, tanto pelas modificações no 
uso do solo quanto pela reestruturação das atividades sociais e econômicas do 
espaço urbano.
As melhorias na infraestrutura interna de uma cidade beneficiam cidades 
vizinhas, podendo haver valorização de alguma área desses espaços urbanos 
e desvalorização de outras. Assim, entende-se que a implantação de uma boa 
infraestrutura em áreas mais distantes, por exemplo, valoriza esses espaços, 
aumentando o preço da terra e beneficiando a cidade como um todo. Outros 
fatores de estruturação da cidade capitalista podem ser a disponibilidade de 
dinheiro na sociedade e de espaço para a expansão urbana.
No aspecto econômico do uso do solo, o preço da terra também é deter-
minado pela demanda no espaço urbano, o que gera novas subdivisões em 
forma de loteamentos, ampliando a oferta. Sendo a terra um requisito essencial 
para a reprodução das relações sociais e econômicas, em momentos de grande 
demanda, em que há elevação do preço, a oferta de loteamentos por meio das 
políticas pode levar ao equilibro de mercado, facilitando o acesso a ela.
5.1.2 O sistema urbano
Geralmente a cidade é considerada um sistema de relações sociais e pro-
dutivas, mas é incomum pensar que ela é um ecossistema. Todavia, as carac-
terísticas de uma cidade se aproximam dos conceitos da teoria dos sistemas. 
Para melhor compreensão de tais conceitos, primeiro é preciso definir o que 
é um sistema: um conjunto de elementos que interagem entre si na busca de 
um objetivo comum e inserido num ambiente (BERTALANFFY, 2012). Por 
sua vez, as cidades podem ser entendidas como um sistema orgânico, apre-
sentando um ciclo de vida semelhante aos ecossistemas naturais, com cresci-
mento, desenvolvimento, maturidade, envelhecimento e morte. Atentando-se 
para o princípio da morfogênese1, contida na teoria dos sistemas, as cidades 
1 O princípio da morfogênese trata da capacidade dos sistemas de modificarem a si mesmos e 
a própria estrutura. A morfogênese permite que os sistemas corrijam e modifiquem suas situa-
ções a partir da correção dos erros observados e dos resultados obtidos.
Geografia urbana
– 80 –
se adaptam às mudanças do ambiente onde estão inseridas para continuarem 
vivas, produtivas e atraentes (DE OLIVEIRA; PORTELA, 2006).
O estudo das cidades como uma organização sistêmica foi formulado 
na década de 1960, pelo pesquisador russo Viktor Borisovich Sochava, tendo 
como enfoque a aplicação da teoria geral dos sistemas aos estudos geográfi-
cos, destacadamente na Geografia Urbana, na paisagem urbana e na geografia 
física (MELO, 1997).
O princípio básico desse estudo é o da conectividade do sistema aos 
fatores externos que influenciam o ambiente, levando o próprio sistema a 
passar por constantes processos de adaptação, para evitar sua entropia (morte 
do sistema). Dessa forma, todo sistema busca o equilíbrio por meio das trans-
formações do ambiente externo (CHRISTOFOLETTI, 1987).
Nesse contexto, pode-se compreender que as cidades centrais, geral-
mente maiores, por apresentarem maior concentração populacional e de ati-
vidades econômicas, consomem volumes maiores de bens, de energia e de 
matéria-prima. As cidades menores, periféricas, ficam com a responsabilidade 
de fornecer insumos para as cidades centrais, configurando assim um modelo 
de interação econômica entre as grandes cidades e as de menor porte.
Essa concepção orgânica das cidades permite definir uma hierarquia 
urbana baseada nas características e no grau de concentração populacional, 
com níveis organizados de desenvolvimento e de interação entre as cidades 
maiores e as menores, localizadas no seu entorno.
A organização das cidades passa pelo planejamento da distribuição 
regional do espaço dos bens e serviços. As cidades menores têm uma função 
de produção e abastecimento das cidades maiores, que, por sua vez, fazem 
a distribuição para os grandes centros ou internacionalmente. No sentido 
inverso, as grandes cidades recebem bens e produtos desses centros maiores e 
internacionais e os distribuem para as cidades de médio porte, que então os 
redistribuem para as cidades pequenas.
Esse sistema permite a formação de um processo de alimentação e 
retroalimentação produtiva. Assim como no âmbito regional, os centros 
urbanos podem definir internamente um processo de hierarquia, no qual as 
cidades centrais apresentam maior concentração de pessoas e de atividades 
– 81 –
Processo de formação e urbanização das cidades
econômicas, demandando mais energia e mais construções. Com a expansão 
urbana e a formação de novas áreas afastadas das áreas centrais, especializam-
-se as áreas periféricas, onde se concentra um volume menor de atividades, 
menor fluxo de pessoas e as ruas passam a ter o papel de conectar a periferia 
à região central.
5.2 A formação das cidades
Para compreender o processo de formação das cidades, é necessá-
rio entender seu contexto histórico. Por volta de 5.000 a.C., os povos não 
tinham moradia fixa, mudando de local quando os recursos naturais se esgo-
tavam. Posteriormente, para evitar esses deslocamentos, esses grupos iniciam 
o desenvolvimento da agricultura e começam a compor o espaço nas margens 
dos rios, devido à necessidade de água para manutenção da atividade agrícola. 
As primeiras cidades surgiram nas regiões do Egito e da Mesopotâmia (cujo 
significadoé “entre rios”), em função de sua localização privilegiada para 
manutenção dos solos férteis, o que permitia a realização de duas colheitas 
anuais. A agricultura causou então uma concentração populacional, exigindo 
nova organização da sociedade, com a atividade comercial e especialização da 
produção para as relações de troca. Nesse cenário, é estabelecido também o 
Estado, para regular esse novo espaço formado (BENEVOLO, 2005).
Entende-se, dessa forma, que as cidades surgiram pelo contexto político, 
e não pelo econômico, que era organizado pela própria população, definindo 
a urbe como lugar de produção (pelas atividades dos habitantes) e de domi-
nação (pelo poder de ação do Estado). A organização interna das cidades era 
marcada pela implantação de uma infraestrutura de distribuição de água e 
transporte de produtos, com o estabelecimento de propriedades individuais 
protegidas por muros e torres.
A formação desses centros foi fortemente impactada pelos antigos impé-
rios, que tiveram grande influência nos processos de urbanização. As cidades 
passaram a desempenhar um papel político que então refletiu na organização 
e distribuição dos espaços a partir das especializações econômicas. Além disso, 
essas cidades se desenvolveram como pontos de ligação entre diferentes loca-
lidades, possibilitando uma melhor relação entre elas e uma organização das 
aglomerações urbanas.
Geografia urbana
– 82 –
O Império Romano teve um papel importante na formação dos centros 
urbanos, contribuindo para sua ordenação e para a urbanização em geral. 
Dentre as características desse momento histórico, destaca-se a divisão ter-
ritorial baseada na especialização do trabalho, o estabelecimento da cidade 
como espaço de poder político e econômico, o aumento no número de cida-
des e a sua segmentação espacial como reflexo da estrutura social existente 
(BENEVOLO, 2005).
No entanto, esse processo de redes urbanas construídas pelos impérios 
teve fim com o declínio do Império Romano, fato que não somente deses-
truturou o comércio entre as cidades, mas também dificultou a ligação entre 
elas, devido à falta de manutenção das estradas e dos portos existentes. Sem 
essa conexão entre os centros urbanos, as pequenas cidades desapareceram 
por perderem sua função política.
Já na Idade Média, o modelo de relação entre reis, senhores feudais e ser-
vos desenvolveu novas cidades, baseadas em dois tipos de aglomerações urba-
nas: as cidades episcopais, sustentadas pelos impostos pagos e sem expressão 
econômica, e os burgos, sob controle dos senhores feudais e destacadamente 
fortificados. No entanto, nesse momento não são identificadas as característi-
cas urbanas, devido ao controle das relações sociais e econômicas nas cidades.
Com o desenvolvimento das rotas comerciais e a reabertura dos portos 
europeus, paulatinamente os centros urbanos apresentam um renascimento, 
reestabelecendo as relações urbanas entre as principais cidades (MUMFORD, 
1998). A expansão do comércio levou ao surgimento da burguesia comercial, 
estabelecendo uma nova classe social, que se associou à monarquia contra as 
corporações de ofício e os senhores feudais, desestruturando o modelo feudal. 
No final da Idade Média, as cidades apresentavam as seguintes características 
(MUMFORD, 1998):
 2 Local de produção de mercadorias e de comércio: as cidades são 
o espaço das relações econômicas.
– 83 –
Processo de formação e urbanização das cidades
 2 Especialização funcional: as cidades passam a fazer a distribuição 
territorial com base nas atividades produtivas, que definem suas 
especialidades.
 2 Centro da vida social e política da Europa: as cidades passam 
a ter uma função política, cabendo ao Estado a organização do 
espaço e a regulação da expansão urbana.
Nesse cenário, os centros urbanos se estabelecem como espaços políticos 
e sociais, estruturando seu espaço com base nas relações econômicas e nas 
atividades produtivas, e nascem cidades especializadas na atividade portuária, 
no turismo, na religião, entre outras. Ao final do século XVIII, com o advento 
da Revolução Industrial, surgem as cidades industriais, que apresentam um 
forte poder de atração populacional e de centralização econômica. As pri-
meiras fábricas se localizavam próximas às margens dos rios e às áreas rurais, 
devido à necessidade de recursos como água e insumos produtivos. Com o 
surgimento da máquina a vapor e novos processos de produção, essas fábricas 
passam a ser alocadas nas periferias das cidades, onde encontram uma maior 
disponibilidade de mão de obra (MUMFORD, 1998).
O processo de industrialização altera as condições ambientais das cida-
des, em função da poluição atmosférica, da alta concentração populacional, 
da centralização das atividades industriais e do uso desordenado da terra. O 
ambiente industrial era insalubre, devido à ausência de luz e ventilação, com 
precárias condições de trabalho. No aspecto urbano, destacava-se a ausência 
de esgoto e de uma política de coleta adequada de excrementos, o que, asso-
ciado à falta de água, comprometia a higiene e a saúde (MUMFORD, 1998).
O advento da cidade industrial levou ao aumento dos problemas urba-
nos, que passaram a ser o foco de atenção e dos objetivos das ações de rees-
truturação urbana. A gestão municipal passa a visar não mais a formação das 
cidades, mas sim a consolidação e expansão do processo urbano.
Geografia urbana
– 84 –
5.3 A urbanização
5.3.1 O processo de urbanização das cidades
Para Léfèbvre (1999), a urbanização pode ser compreendida como o 
processo de transformação dos espaços rurais em espaços urbanos, com a 
expansão das cidades e das práticas urbanas, destacadamente as atividades 
comerciais e industriais. Mas o urbano não se limita às cidades (embora a 
cidade seja a concretização do urbano), podendo se estender até as áreas rurais. 
Pode-se dizer que historicamente o processo de urbanização teve início com o 
capitalismo comercial, sendo intensificado após a Revolução Industrial.
Em relação à questão territorial, o espaço rural é mais extenso do que o 
espaço urbano. Isso se explica pela necessidade que a atividade rural tem de 
amplos espaços cultiváveis para as culturas agrícolas, a criação de animais e o 
extrativismo mineral e vegetal, além da delimitação das áreas de preservação 
ambiental e de florestas. No entanto, é perceptível que, em relação às ativi-
dades produtivas e à concentração populacional, a cidade vem se sobrepondo 
às áreas rurais.
Pode-se dizer que a urbanização trata-se da conformação dos espaços 
a aspectos modernos, com a transição da agricultura para atividades econô-
micas mais dinâmicas, como a indústria e o setor de serviços, bem como a 
concentração populacional nesses locais. Assim, o espaço urbano representa 
o processo de interação entre as diversas relações sociais e econômicas que 
ocorrem nas cidades.
A urbanização apresenta dois tipos de fatores populacionais associados: os 
atrativos e os repulsivos. Os fatores atrativos se desenvolvem pela expansão da 
oferta de empregos em atividades diferenciadas, que incentivam o deslocamento 
da população rural em direção às cidades. Esse processo de migração ocorre em 
função da busca por melhores condições de vida, mais acesso aos mercados, 
melhores oportunidades de educação, entre outros elementos que atraem as 
pessoas em direção às cidades (RAVENSTEIN, 1980). Por outro lado, os fato-
res repulsivos ocorrem quando a migração em direção às cidades acontece pela 
“expulsão” de indivíduos do campo. Exemplos de fatores de repulsão são a con-
centração de terras no campo, a baixa renda dos trabalhadores e a mecanização 
– 85 –
Processo de formação e urbanização das cidades
da atividade agrícola, causando o deslocamento dessa população em direção aos 
centros urbanos (RAVENSTEIN, 1980).
Após o advento da Revolução Industrial,cidades europeias como Londres 
e Paris desenvolveram fatores atrativos, principalmente ligados a oportunidades 
de trabalho. Nos países subdesenvolvidos, por sua vez, a expansão das cidades 
inicialmente ocorreu devido a fatores repulsivos, motivados principalmente 
pela mecanização da atividade agrícola e pelos baixos salários do campo.
Em geral, observa-se que a indústria funciona como o motor da urbaniza-
ção das cidades, configurando uma divisão da atividade econômica, destinando 
ao campo a produção de matéria-prima e às cidades a produção de bens indus-
trializados e realização de atividades ligadas ao setor terciário. Esse processo é 
seguido por uma elevada taxa de migração para as cidades, resultando na for-
mação de grandes metrópoles e de cidades globais. Estrutura-se, desse modo, a 
rede urbana de pequenas, médias e grandes cidades.
5.3.2 A urbanização no mundo
O processo de urbanização ocorreu de forma distinta nos países desen-
volvidos e subdesenvolvidos. Nos países desenvolvidos, esse processo foi 
estabelecido gradualmente e de modo planejado, enquanto nos países sub-
desenvolvidos ele foi mais tardio, rápido e desorganizado. O quadro a seguir 
apresenta alguns dados da urbanização no mundo:
Quadro 1 – Urbanização nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos.
Ano No mundo
1900 16 cidades com mais de 1 milhão de habitantes, sendo duas localizadas em países subdesenvolvidos.
1950 20 cidades com mais de 2,5 milhão de habitantes, sendo seis localizadas em países subdesenvolvidos.
2000 26 cidades com mais de 10 milhões de habitantes, sendo 20 localizadas em países subdesenvolvidos.
Fonte: MORICONI-EBRARD, 1993. Adaptado.
Geografia urbana
– 86 –
Assim, embora esse processo crescente seja comum em todos os países, 
quando ele ocorre em países subdesenvolvidos e emergentes têm-se fortes 
impactos urbanos, devido à rapidez da urbanização exigida diante das grandes 
demandas locais.
5.3.3 A urbanização no Brasil
O processo de urbanização no Brasil teve início com a modernização da 
economia brasileira, alavancada pelo processo industrial iniciado nos anos de 
1940, sendo que as primeiras indústrias se instalaram nas grandes cidades, 
devido à concentração populacional e à infraestrutura disponível. As cidades 
se modernizaram e desenvolveram novos atrativos sociais e culturais, além 
de expandirem suas atividades comerciais, que funcionaram como fatores de 
atração da população do campo, inclusive com a concentração de novas opor-
tunidades de emprego.
No entanto, as cidades não conseguiram absorver toda mão de obra dis-
ponível, tendo como resultado o desemprego e o avanço das atividades infor-
mais. Esse modelo de urbanização apresentou uma centralização nos grandes 
centros urbanos, destacadamente na região Sudeste, em cidades como São 
Paulo e Rio de Janeiro (SANTOS, 1993).
Nos anos de 1970, tem início o processo de desconcentração industrial, 
orientado pelo Governo Federal, visando estabelecer novas áreas de desen-
volvimento. Esse processo incentivou um novo movimento migratório, em 
direção aos diferentes centros industriais, devido ao aumento da oferta de 
emprego. A concentração populacional e econômica nos grandes centros foi 
um importante fator para a implantação das regiões metropolitanas como 
forma de atuação integrada entre os municípios, no sentido de resolver pro-
blemas comuns (CANO, 2007).
A expansão dos movimentos migratórios culminou com o aumento dos 
problemas urbanos, como ocupações irregulares, oferta limitada de habita-
ção, engarrafamentos e tráfego urbano, grande produção de lixo, degradação 
ambiental e o aumento na demanda por serviços públicos e infraestrutura.
– 87 –
Processo de formação e urbanização das cidades
A urbanização apresenta, portanto, uma característica de concentração 
populacional em grandes cidades, que, por sua vez, centralizam as atividades 
econômicas, desenvolvendo fatores atrativos que estimulam as migrações. No 
entanto, as limitações do Estado em atender as demandas crescentes dessa 
população migrante por serviços públicos e infraestrutura urbana colaboram 
para a ocupação irregular dos territórios e aumentam as dificuldades no que 
diz respeito ao correto planejamento do uso do solo.
Ampliando seus conhecimentos
A urbanização brasileira: um breve retros-
pecto histórico
(CARVALHO; SILVA; MACÊDO, 2010, p. 83-85)
[...]
A nossa urbanização constitui um fenômeno da segunda 
metade do século XX e pode ser considerado um fenômeno 
recente. As características desse fenômeno estão expressas na 
paisagem urbana das cidades e metrópoles brasileiras e são 
decorrentes de vários fatores:
a) o êxodo rural, que, por sua vez, está ligado ao exce-
dente de mão de obra do campo;
b) a industrialização tardia e a modernização das atividades 
agrícolas, conjugadas à concentração de pessoas nas 
grandes cidades;
c) o aumento do poder aquisitivo da população, favoreci-
dos pela expansão do capital financeiro na economia;
Geografia urbana
– 88 –
d) a inovação tecnológica e o aumento da produtividade 
das indústrias de bens de consumo, para suprirem as 
necessidades da vida urbana.
Esses são apenas alguns dos fatores que contribuíram para 
a urbanização brasileira. No decorrer da nossa aula vere-
mos com mais propriedade os elementos que constituem a 
urbanização brasileira. Contudo, vale ressaltar que este texto 
representa apenas uma breve introdução ao tema, devendo 
o aluno se debruçar sobre a referência bibliográfica indicada, 
para a aquisição de uma maior fundamentação teórica.
Para compreendermos a urbanização brasileira é necessário 
que voltemos um pouco no tempo e relembremos alguns mar-
cos históricos relacionados ao crescimento urbano de nossas 
cidades. Segundo Santos (1993), o Brasil deixou o século 
XIX com aproximadamente 10% da sua população residindo 
em cidades. As raízes da urbanização brasileira são encon-
tradas na sua história colonial. Os primeiros centros urbanos 
surgiram no século XVI, ao longo do litoral  nordestino em 
razão da produção do açúcar, nos séculos XVII e XVIII, a 
descoberta de ouro fez surgir vários núcleos urbanos no inte-
rior do território e no século XIX a produção de café foi 
importante no processo de industrialização.
Desde o período colonial, o Brasil já apresentava cidades 
de grande porte, entretanto, foi a partir da virada do século 
XIX que o processo de urbanização da sociedade brasileira 
começa realmente a se consolidar. Essa urbanização foi impul-
sionada por vários fatores, dentre eles: a libertação dos escra-
vos em 1888, proclamação da República 1889 e a expansão 
da indústria, que, ainda incipiente, se desenrolava na esteira 
das atividades ligadas à cafeicultura e às necessidades básicas 
do mercado interno (MARICATO, 2001).
– 89 –
Processo de formação e urbanização das cidades
Podemos dizer que só a partir de 1930 o Estado passa a inves-
tir de fato nas cidades, dotando-as de uma melhor infraestru-
tura urbana e de melhores condições físicas para o desenvol-
vimento industrial, visando atender as demandas locais, mas, 
sobretudo, a substituição de importações. Assim, pouco a 
pouco, a burguesia industrial assume a hegemonia política, 
sem que se verificasse, no entanto, uma ruptura com os inte-
resses das oligarquias rurais e com os interesses hegemônicos 
estabelecidos até então.
Maricato (2001) ressalta, ainda, que a maneira como se pro-
cessaram a Abolição e a República, ainda no século XIX, 
delineou a trajetória da cidade brasileira nas primeiras déca-
das do século XX. Contudo, esses eventos não contribuíram 
para a melhoria das condições urbanas. Muitas das antigas 
províncias, entre elas as do Nordeste continuaram pobres, 
com a população ainda mais carente, padecendo de todos os 
tipos de dificuldades. As oligarquias assumiam agora o lugar 
do antigo impériounitário. Com isso, a chamada República 
Velha, de 1889 a 1930, é também denominada de República 
oligárquica, isto é, de predomínio das oligarquias.
Mesmo assim, a industrialização que se afirma a partir de 1930 
e irá até o fim da Segunda Guerra Mundial representa um 
fator de avanço para a urbanização da sociedade brasileira. 
Esse período será marcado pelo fortalecimento da economia 
interna, com grande desenvolvimento das forças produtivas e 
a modernização da sociedade. Segundo Santos (1993, p. 9), 
nesse período a urbanização brasileira se generaliza e o turbilhão 
demográfico e a terceirização da economia são fatos notáveis. 
No entanto, é a partir de 1940 que se verifica uma verdadeira 
inversão da população rural em urbana.
Geografia urbana
– 90 –
Quadro 1 – População total e urbana no Brasil
Ano do 
Censo
População 
total
População 
urbana
Índice de 
urbanização
Índice de 
crescimento 
populacional
Índice de 
crescimento 
urbano
1900 17.438.434 – – – –
1920 27.500.000 4.552.000 16,55% 43,08% –
1940 41.326.000 10.891.000 26,35% 33,46% 37.19%
1950 51.944.000 18.783.000 36,16% 25,70% 72,46%
1960 70.191.000 31.956.000 45,52% 35,13% 70,13%
1970 93.139.000 52.905.000 56,80% 32.60% 65,55%
Fontes: Cadernos Mcidades/Des. Urbano Política Nacional de 
Desenvolvimento Urbano 1, Brasília, Novembro de 2004; Ruben George 
Olivem, Urbanização e mudança social no Brasil, Vozes, Petrópolis, 19801, 
p. 69, tabela 1; IBGE, Censos de 1940-2000/estimativa maio/2006.
Podemos verificar neste quadro citado que a população bra-
sileira praticamente duplicou entre 1900 e 1920 no período 
inicial da República. Este grande crescimento se deu muito 
em função das imigrações estrangeiras para o Brasil provin-
das da Europa, região do Mediterrâneo e Ásia, como os 
Italianos, Alemães, Poloneses, Ucranianos, Povos Árabes, 
Japoneses e outros, concentrados mais nos Estados das 
Regiões Sul e Sudeste.
Esta imigração para o Brasil ocorreu também nas Regiões 
Nordeste, Norte e Centro-Oeste, mas em função de vários 
fatores, entre eles, o clima, a economia, a ocupação já consoli-
dada e o início de uma produção agroindustrial, ela ocorre de 
forma mais amena e há uma intensificação na Região Centro-
Oeste durante o período entre as duas Grandes Guerras 
Mundiais. [...]
– 91 –
Processo de formação e urbanização das cidades
Atividades
1. A grande concentração populacional contribuiu para a formação das 
megacidades, em todo o mundo, a partir de fatores diferenciados nos 
países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Aponte os fatores que fo-
mentam a formação dessas megacidades nos países subdesenvolvidos.
2. As megacidades apresentam uma concentração econômica e popula-
cional que leva a uma grande demanda por serviços urbanos e infraes-
trutura. Os impactos dessa concentração ocorrem de forma diversa 
em países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Aponte alguns proble-
mas relacionados à concentração populacional nas megacidades.
3. Qual a influência do êxodo rural no processo de urbanização?
Planejamento e 
políticas urbanas
Introdução
A grande cidade capitalista urbanizada e fruto da indus-
trialização culmina com a formação da sociedade que, impactada 
pelo cotidiano das cidades, constrói a cultura urbana, mutável e 
dinâmica. A expansão das cidades e as demandas crescentes dessa 
sociedade urbana levam à necessidade de estabelecimento do plane-
jamento urbano para resolver os problemas oriundos desse processo.
Para organizar o espaço urbano e ordenar o desenvolvi-
mento econômico e social da cidade, são definidas as políticas urba-
nas, tendo como base a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto 
das Cidades, destacando-se, neste último, o papel do Plano Diretor 
para os municípios.
6
Geografia Urbana
– 94 –
6.1 Sociedade urbana e o cotidiano
6.1.1 A sociedade urbana
Comumente, considera-se sociedade urbana toda cidade indistintamente 
da sua função (política, comercial ou industrial) ou de seu tamanho (uma 
pequena cidade ou uma megalópole), desconsiderando as especificidades de 
cada sociedade, que, por questões geográficas, econômicas ou demográficas, 
não podem ser diretamente comparadas.
 O conceito de sociedade urbana, no entanto, pode ser compreendido 
como a sociedade que resulta do processo concretizado da urbanização das 
cidades. Henri Léfèbvre (1999) a define como a sociedade que nasce a partir 
do processo de industrialização, que domina e absorve a produção agrícola e 
que se sobrepõe ao campo.
Compreende-se, então, que uma sociedade urbana nasce com o pro-
cesso de industrialização e a sucede, tornando-se uma sociedade pós-indus-
trial, estabelecendo novos estudos sociais com base nas demais ciências, como 
a Economia, a Sociologia, a História, entre outras, e definindo novos focos 
de estudo, como a sociedade de consumo e a sociedade do lazer. Nesse cená-
rio, o tecido urbano se expande (Figura 1), reduzindo as remanescências da 
vida rural e confirmando o conceito de sociedade urbana. Nesse contexto, 
Léfèbvre define como tecido urbano o conjunto das manifestações do predo-
mínio da cidade sobre o campo. São exemplos da influência do tecido urbano 
sobre o campo, as rodovias 
e os grandes supermercados 
nas áreas rurais.
Esse processo de expan-
são urbana gera subprodutos 
como os subúrbios, os con-
juntos residenciais, os distritos 
industriais, os municípios saté-
lites, entre outros. Em termos 
regionais, a sociedade urbana 
configura a organização de 
Figura 1 – Expansão urbana.
Fonte: TomasSereda/iStockphoto.
– 95 –
Planejamento e políticas urbanas
municípios centrais (as metrópoles) e os municípios satélites no entorno do muni-
cípio central. Podemos compreender que, no caso brasileiro, a sociedade urbana 
apresenta uma forte concentração nas regiões metropolitanas.
Assim, as relações estabelecidas dentro da cidade e entre os municípios 
permitem dizer que a sociedade urbana passa por um processo de formação 
constante por meio do aprendizado (e reaprendizado) contínuo de expansão 
do espaço urbano, contribuindo para a construção da realidade das cidades.
Léfèbvre (1999) destaca que a revolução urbana é o processo de trans-
formações pelas quais passam as sociedades urbanas, inicialmente por uma 
caracterização política, migrando para uma conformação que privilegia a ati-
vidade comercial, passando pela cidade industrial e chegando à cidade pós-
-industrial. O advento da sociedade pós-industrial destaca a problemática das 
cidades, revelando a necessidade de um planejamento municipal baseado em 
políticas urbanas.
Entende-se que a aplicação das políticas urbanas segue duas visões distin-
tas. A primeira delas é uma visão técnica, para a elaboração do planejamento 
urbano, a qual compreenda o correto uso do solo, utilizando argumentos 
científicos de diversas ciências, como a geologia, a geografia, a hidrografia, o 
urbanismo, entre outras. A outra visão compreende a questão política desti-
nada às políticas públicas, principalmente definindo o papel dos atores sociais 
conforme a ideologia adotada. Uma ideologia mais de direita abre caminho 
para a participação da iniciativa privada, para os capitalistas e seu capital; já 
a ideologia de esquerda defende uma participação crescente do Estado na 
distribuição e na organização do espaço.
6.1.2 O cotidiano urbano
É importante entender o funcionamento do cotidiano das cidades para 
assimilar o processo de formação da cultura urbana, que, por sua vez, é um 
processo em construção, não estando presa à formação histórica. A cultura 
urbana influencia os habitantes da cidade, os migrantes que chegam à cidade 
e os turistas que a visitam. Por outro lado, essa cultura é influenciada por 
seus habitantes e por aqueles que passam pela cidade de forma temporária ou 
como turista.
Geografia Urbana– 96 –
Como exemplo da relação entre o cotidiano urbano e a cultura urbana, 
pode-se citar: o bairro da Liberdade, que concentra a comunidade japonesa 
em São Paulo; o bairro Chinatown, em Nova Iorque, que concentra a comu-
nidade chinesa; os espaços de cultura nordestina em cidades como o Rio de 
Janeiro, onde a culinária, a música e a dança do Nordeste são difundidas; 
entre outros, que agrupam determinadas culturas e acabam influenciando o 
dia a dia das cidades.
Figura 2 – Bairro da Liberdade, na cidade de São Paulo: concentração da 
comunidade japonesa.
Fonte: Caio do Valle/Wikimedia Commons.
– 97 –
Planejamento e políticas urbanas
Entende-se, dessa forma, que o cotidiano das cidades define o modo de 
vida urbano. Nas cidades, as distâncias percorridas e a agitação são grandes, 
os habitantes dependem da disponibilização do transporte público para che-
gar a seus destinos e não há tempo para contemplação dos espaços urbanos. 
Devido à pressa nas cidades, há filas no transporte público, em espaços cole-
tivos, como restaurantes, lanchonetes, bancos, entre outros. As característi-
cas da pressa, das filas e do nervosismo nos grandes centros tornam difícil a 
adaptação dos habitantes do campo nas cidades.
As cidades também se destacam pela grande quantidade de oferta de ser-
viços especializados para seus habitantes. A cultura urbana é ampla e diversi-
ficada, abrangendo desde a cultura popular e clássica até a cultura inovadora e 
de vanguarda, o que permite existir, numa mesma cidade, a oportunidade de 
assistir a uma ópera, um espetáculo de rock, uma exposição de artes nacionais 
e internacionais, lançamentos de filmes nos cinemas e eventos de conteúdo 
local. A cultura urbana, de forma geral, permite a interação de culturas locais 
e internacionais no mesmo espaço urbano.
Os estudos do cotidiano urbano tiveram início com os relatos de Charles 
Baudelaire, poeta francês do século XIX, por meio da figura do flaneur (sujeito 
que caminha pela cidade observando o comportamento dos cidadãos), obser-
vando as ruas da cidade de Paris e seus transeuntes, a qual migrava do modo de 
vida rural para o modo urbano (MENEZES, 2009). Henri Léfèbvre destaca a 
importância do cotidiano ao afirmar que “quando as pessoas não podem mais 
viver sua cotidianidade, então começa uma revolução. Só então, enquanto 
puderem viver o cotidiano, as antigas relações se reconstituem” (LÉFÈBVRE, 
1991, p. 39).
O cotidiano urbano também apresenta uma “intranquilidade” cons-
tante devido a particularidades verificadas nas cidades, como o medo da vio-
lência, as novas demandas de consumo baseadas no modo de vida urbano, 
com novas tendências de moda, de comportamento, de música, de artes, 
de gastronomia, entre outras. Também nesse contexto formam-se grupos 
sociais diferenciados, como as tribos urbanas, por exemplo, os góticos, punks, 
roqueiros, emos e outros, em comunidades com hábitos ou modos de vida 
característicos, buscando e criando uma identidade para melhor se adaptar ao 
cotidiano das cidades.
Geografia Urbana
– 98 –
6.2 Planejamento urbano e política urbana
6.2.1 O planejamento urbano
O termo planejamento urbano surgiu na Inglaterra do século XVIII, 
como uma nova forma de compreender o processo de organização da for-
mação e crescimento das cidades e os problemas advindos do advento da 
Revolução Industrial. Desse modo, esse tipo de planejamento desponta como 
um meio de ordenação e de resposta às questões enfrentadas pelas cidades e 
não resolvidas pelo processo de urbanização.
A cidade, como um fenômeno urbano, passa por um processo de evolu-
ção que vai além de sua formação histórica, adquirindo uma característica de 
dinamismo que evolui no tempo. Portanto, a cidade passa a ser vista como o 
produto de um determinado contexto sócio-histórico, e não mais como um 
modelo ideal a ser concebido pelos urbanistas (KOHLSDORF, 1985).
Os planejadores urbanos têm a imagem conceitual da cidade ideal como 
solução dos problemas urbanos, definindo instrumentos e processos de gestão 
que se adaptem às mudanças de cenário. No entanto, essa visão passa a ter 
um foco secundário, pois as demandas de atendimento são as necessidades da 
cidade real, com seus problemas e suas limitações.
O planejamento urbano, com o passar do tempo, passou a ter um foco 
e uma atuação mais interdisciplinar, saindo da ação direta dos arquitetos e 
urbanistas para uma atuação em conjunto com geógrafos, economistas, his-
toriadores, gestores públicos e demais profissionais.
O planejamento urbano pode ser entendido, então, como o processo de 
escolher um conjunto de ações consideradas as mais adequadas para a condu-
ção da cidade aos objetivos propostos. O urbanista não deve ser o responsável 
por projetar a cidade, mas sim parte integrante de um novo planejamento 
sistêmico (SOUZA, 2003).
Brian McLoughlin (1969), autor clássico de planejamento regional 
e urbano, trata dos conceitos do planejamento sistêmico para as cidades. 
Segundo o autor, a cidade é um sistema composto por elementos humanos e 
espaciais que interagem de forma conectada por meio de fluxos e canais de cir-
culação. Dessa forma, faz-se necessário que vários profissionais, e não somente 
– 99 –
Planejamento e políticas urbanas
urbanistas, atuem na composição e formulação do planejamento urbano das 
cidades, a partir de etapas pré-definidas, da avaliação preliminar, passando pela 
definição de alternativas e culminando na implementação do projeto.
Souza (2003) destaca que o planejamento urbano e regional é sempre 
voltado para o futuro, buscando antever problemas e dificuldades. O planeja-
mento da cidade precisa considerar a sua função social, garantindo um papel 
ativo à sociedade na construção e formação do espaço urbano.
É importante destacar o papel e a importância do planejamento urbano 
e do urbanismo na formação e na expansão das cidades. Existem similarida-
des entre os conceitos, pois ambos estudam a dimensão espacial do fenômeno 
urbano, no entanto, eles diferem quanto à forma de atuação. O urbanismo 
trata do projeto das cidades por meio do desenho urbano, levando em consi-
deração o aspecto territorial e espacial das cidades. O planejamento urbano, 
por sua vez, é um processo interdisciplinar que trabalha em primeiro lugar 
com as relações de conflito entre os habitantes, para, depois, preocupar-se 
com o desenho e o ordenamento das cidades.
Atualmente, o planejamento urbano de uma cidade é geralmente feito 
pela interação entre agências governamentais e empresas privadas que cons-
troem o espaço urbano, modelo esse que vem sendo utilizado no Brasil nas 
últimas décadas.
6.2.2 Política urbana
A Constituição Federal de 1988 organiza e estrutura a política urbana 
brasileira traçando os preceitos para seu estabelecimento, com o seguinte texto:
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo 
Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, 
tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais 
da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.
§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório 
para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico 
da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende 
às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no 
plano diretor.
Geografia Urbana
– 100 –
§ 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e 
justa indenização em dinheiro.
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica 
para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei fede-
ral, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou 
não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, 
sucessivamente, de:
I – parcelamento ou edificaçãocompulsórios;
II – imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progres-
sivo no tempo;
III – desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida 
pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com 
prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessi-
vas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos 
e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e 
sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adqui-
rir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel 
urbano ou rural.
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao 
homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de 
uma vez.
§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. 
(BRASIL, 1988)
A Constituição tem, desse modo, uma grande importância para o regra-
mento da política urbana, pois estabelece a autonomia das cidades em relação 
às questões de ordenamento legal do território. O texto de 1988 também 
foi essencial na definição de critérios para a expansão urbana e o desenvolvi-
mento das cidades, buscando fortalecer as políticas de planejamento urbano.
Anos mais tarde, em 2001, é implementado o Estatuto das Cidades para 
regulamentar a política urbana brasileira, definindo mecanismos e instrumen-
tos para sua realização. O documento estabeleceu formas de atuação muni-
cipal para a garantia do pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade 
e a garantia de bem-estar dos habitantes. Além disso, o Estatuto definiu a 
– 101 –
Planejamento e políticas urbanas
implementação do Plano Diretor como “instrumento básico da política de 
desenvolvimento e de expansão urbana” (BRASIL, 2001).
O Plano Diretor é criado pelos planejadores urbanos de modo a mostrar 
como a cidade é hoje e como ela será num futuro determinado, contemplando 
os impactos para toda a localidade. O plano precisa estabelecer a distribui-
ção do uso do solo e as necessidades de implantação de serviços públicos e 
infraestrutura urbana para o cenário proposto, como vias públicas, sanea-
mento público, transporte público, além das funções públicas, como educação 
e saúde. O Estatuto das Cidades define a obrigatoriedade da elaboração do 
Plano Diretor para municípios com mais de 20 mil habitantes, integrantes de 
regiões metropolitanas, com áreas de interesse turístico ou situados em áreas 
de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto 
ambiental na região ou no país (BRASIL, 2001). Para o desenvolvimento do 
plano, é importante a organização de uma equipe com conhecimentos diver-
sos, como engenheiros, economistas, geógrafos, arquitetos, sociólogos, juristas, 
entre outros que, em conjunto com a sociedade civil organizada, representada 
por associações de moradores, associações de classe, terceiro setor e movi-
mentos sociais, definem um caminho para a organização e o planejamento da 
cidade, bem como o atendimento das demandas da população.
Os grandes municípios brasileiros têm uma estrutura própria de pla-
nejamento urbano, responsável pela formulação, alteração e implantação do 
Plano Diretor. As cidades pequenas, por sua vez, geralmente contratam uma 
empresa privada, que faz o diagnóstico municipal, organiza as audiências e 
conferências de participação popular e encaminha os dados para a aprovação 
das autoridades municipais.
No tocante à organização do plano, divide-se o espaço urbano em áreas 
distintas, destinadas à habitação (especificando o tipo de habitação: casas e 
apartamentos), áreas comerciais, centros industriais e espaços destinados à 
atividade pública. Com esse objetivo, limita-se a altura das construções, defi-
nem-se as áreas que não podem ter grandes edificações, solicita-se a demolição 
de prédios em dada região e a regulação da atividade econômica, podendo-se 
permitir pequenas indústrias e estabelecimentos comerciais e proibindo gran-
des indústrias, bem como o desenvolvimento de áreas mistas de habitação, 
comércio e indústrias.
Geografia Urbana
– 102 –
Com foco na qualidade de vida da população, outra preocupação dos 
planejadores é com a aparência e distribuição da cidade, com a implantação 
de parques, avenidas amplas e estruturas públicas destacadas como centros 
cívicos, museus e teatros.
6.3 Processos e formas espaciais
A reprodução social, as relações de produção e a acumulação de capital 
representam uma série de processos sociais que encontram um local privile-
giado de ação na grande cidade capitalista. Todos esses processos criam for-
mas e funções espaciais cuja organização é representada na distribuição do 
espaço urbano. Segundo Corrêa (2002), os processos espaciais e suas respecti-
vas formas podem ser definidos como descrito a seguir.
6.3.1 Centralização e área central
A área central concentra as principais atividades de comércio, servi-
ços e administração pública, além de apresentar a melhor infraestrutura de 
comunicação e transportes. A concentração de atividades leva ao interesse 
dos empresários por essa área, o que aumenta a demanda pelo espaço (que é 
limitado) e amplia o processo de verticalização da paisagem urbana, caracte-
rizando as cidades modernas.
A concentração das atividades e o grande fluxo de pessoas durante o dia 
justificam que o sistema de transporte tenha na área central seu foco prin-
cipal. De forma geral, acredita-se que a área central comanda a vida social, 
política e econômica das cidades.
Nesse contexto, num segundo momento, ocorre a formação de uma área 
periférica à área central, a qual é caracterizada pelo uso semiextensivo do solo, 
disponibilizando espaços (vazios urbanos) destinados a atividades vinculadas 
ao centro e que demandam grandes áreas. É nessas áreas que se destacam 
o comércio de automóveis, os centros comerciais, o comércio atacadista, os 
depósitos, as pequenas indústrias e as residências multifamiliares. A proxi-
midade com as áreas centrais faz com que essas atividades se beneficiem da 
estrutura de comunicação e transporte existentes.
– 103 –
Planejamento e políticas urbanas
Para os estudiosos da centralidade urbana, a área central conecta pro-
cesso, forma e função num único conceito. O processo porque se entende 
que a centralidade é resultante de um fenômeno de concentração do poder e 
das relações econômicas e sociais. Quanto à forma, entende-se que esse centro 
é um ponto equidistante de diversos outros pontos em uma área definida. E 
quanto à relação com a função, as áreas centrais, devido a suas características, 
concentram as atividades financeiras, de administração, de comércio e de ser-
viços, definindo assim uma multiplicidade de funções.
Compreende-se, ainda, que com o processo de expansão urbana e a aglo-
meração populacional em outras áreas, novos centros são definidos pelas fun-
ções exercidas, gerando novas centralidades dentro da cidade.
O processo de centralização traz alguns efeitos danosos, pois as van-
tagens da localização urbana das áreas centrais, como a disponibilidade de 
infraestrutura urbana, diversidade de vias de circulação e transporte público, 
elevam o preço da terra. Como consequência, os agentes imobiliários e os 
proprietários dos modelos de produção iniciam um processo de desloca-
mento em direção às áreas periféricas. Esse movimento faz com que grupos 
sociais excluídos se estabeleçam em áreas mais distantes, muitas vezes com 
ocupações irregulares e em áreas de risco, como fundos de vale, regiões de 
mananciais, margens de rios e encostas. Essas ocupações pressionam o Estado 
pela ampliação de políticas públicas de planejamento urbano que atendam às 
demandas e necessidades da população residente nessas áreas.
6.3.2 Descentralização e núcleos secundáriosEsse é um processo utilizado por empresas para reduzir os custos gerados 
pela centralização demasiada na área central das cidades. A descentralização 
representa um novo fator de atração para as áreas periféricas e de repulsa em 
relação às áreas centrais (CORRÊA, 2002).
Muitos fatores podem contribuir para a repulsão em relação à área cen-
tral, como o alto valor da propriedade urbana, que incentiva a mudança para 
as áreas periféricas da cidade. Outro problema das áreas centrais é a limitação 
do espaço, que impede a expansão das áreas, devido às restrições legais sobre 
seu uso. Além desses fatores, as questões relativas ao alto tráfego de veículos 
impactam o custo do sistema de transporte nas áreas centrais.
Geografia Urbana
– 104 –
Desse modo, as áreas periféricas passam a apresentar fatores de atração, 
deslocando os investimentos da área central. Dentre esses fatores, pode-se 
destacar: a oferta de terras com menores preços, num espaço com infraestru-
tura disponível; a facilidade de mobilidade e transporte; uma melhor estru-
tura de serviços básicos, como saneamento e coleta de lixo; e a possibilidade 
de maior controle do uso da terra (CORRÊA, 2002).
A descentralização cria diversos núcleos periféricos de atividades e gera 
economia de tempo e redução dos custos de transporte. Também possibilita 
diferentes oportunidades de negócios para empreendedores, incentivando o 
surgimento de novas atividades econômicas e mercados de atuação.
O setor industrial, que tende a ser mais descentralizado, apresenta um 
papel destacado nesse processo, porque consome mais espaço e demanda 
melhores condições de tráfego e transporte. Por outro lado, as atividades liga-
das à direção tendem a ser mais centralizadas, pois demandam menores espaços 
e dependem menos das condições da infraestrutura urbana (CORRÊA, 2002).
É possível compreender, assim, que o Estado tem um papel funda-
mental na formação do espaço urbano, ao orientar a distribuição e o pla-
nejamento do uso da terra. Essa organização é importante para programar e 
estruturar as áreas periféricas e as áreas centrais, atendendo as necessidades 
da sociedade e das atividades produtivas. Esse processo permite, também, 
a centralização ou descentralização das atividades e a expansão urbana em 
direção às áreas periféricas.
Ampliando seus conhecimentos
O processo espacial de descentralização: a 
área central e a cidade
(SCHWENK; CRUZ, p. 182-183)
A área central possui a maior concentração de atividades 
econômicas e de serviços. De acordo com Corrêa (1989), é 
constituída por um núcleo, em que predomina o uso intensivo 
– 105 –
Planejamento e políticas urbanas
do solo e por uma zona periférica ao centro de uso semi-
-intensivo. Devido a essa concentração, há uma competição 
pelo espaço, apresentando, consequentemente, elevação 
dos preços das terras, dos impostos e aluguéis e desecono-
mias de aglomeração. As firmas, empresas e atividades que 
não conseguem se manter e pagar pelo alto preço da terra, 
deslocam-se ou descentralizam-se.
Por outro lado, aparecem os camelôs ou os vendedores 
ambulantes, que se utilizam das calçadas ou abrigos de edi-
fícios competindo com o comércio local que, por sua vez, 
briga para expulsá-los da área central. A população de baixa 
renda que não consegue manter moradia nessa área busca 
fixar-se na periferia da cidade, se deslocando para a área cen-
tral apenas para trabalhar e realizar outras necessidades. De 
outro modo, se instala no setor residencial, caracterizado por 
residências populares e de baixa classe média (muitas des-
sas deterioradas) e nos cortiços, em torno do núcleo central, 
implicando no processo de segregação. No entanto, os pré-
dios deteriorados são frequentemente, substituídos por edifí-
cios de residências ou pelo comércio, constituindo o principal 
foco da política da renovação urbana. Esse aspecto implica no 
processo de segregação. A tendência, contudo, nessa área, é 
de que as residências da classe de maior renda se desloquem 
para outras partes da área urbana.
A área central, apontada por Hortwood e Boyce apud Corrêa 
(1989) como uma área de foco de transportes intra-urbanos 
e intra-regionais, devido à localização dos terminais ferroviá-
rios e rodoviários, ou zona de cais, quanto se trata de cidade 
portuária, apresenta alto congestionamento e alto custo do sis-
tema de transporte e comunicações, resultando em um gasto 
maior de tempo na movimentação e circulação. De acordo 
com Colby (1933), isso dificulta e onera as interações entre 
firmas que, para solucionarem o problema, deslocam-se para 
fora dessa área. Por outro lado, o setor industrial de transporte 
Geografia Urbana
– 106 –
tem interesse em manter e ampliar este setor, facilitando o des-
locamento de indivíduos dessa área para o restante da cidade 
e vice-versa. O próprio desenvolvimento de meios de trans-
porte mais flexíveis, como automóveis, ônibus e caminhões, 
viabiliza o deslocamento da área central, implicando em uma 
diminuição da acessibilidade dessa área e em um aumento 
relativo da acessibilidade de outros locais.
A descentralização industrial teve início nos primórdios do 
século XX, principalmente por aquelas indústrias em cresci-
mento, devido às deseconomias externas da área central ou 
à introdução de novas técnicas produtivas e ao aumento da 
escala de produção, já que necessitavam de terrenos maiores 
para ampliação. Entretanto, a dificuldade de obtenção desses 
terrenos na área central torna impraticável para muitas indús-
trias, a permanência e a localização nessa área, culminando 
com seu deslocamento para a periferia ou outras partes da 
cidade. As indústrias poluentes são também, aquelas que 
forçosamente, necessitam se deslocar para a periferia. Assim, 
esses estabelecimentos na área central são vendidos por alto 
preço, garantindo lucro, sendo substituídos por edifícios 
comerciais ou residenciais. Apenas suas sedes sociais ou 
administrativas permanecem na área central.
Por outro lado, as indústrias e empresas que se instalaram dire-
tamente na área externa à área central da cidade e em outras 
regiões ou que criaram cadeias de lojas diversas, atuando em 
toda a cidade, como supermercados, drogarias, eletrodomés-
ticos etc., têm igualmente suas sedes sociais ou escritórios 
regionais localizados na área central. Desta forma, as indústrias 
tendem a se descentralizar, enquanto as atividades de negó-
cios tendem a se estabelecer e se concentrar na área central 
(CORRÊA, 1989; MOORE e SMELSER, 1996).
Na mesma situação, estão as atividades terciárias que para 
atenderem à demanda fora da área central, vão, paulatina-
mente, deslocando-se, a começar por aquelas que atendem 
– 107 –
Planejamento e políticas urbanas
a demanda mais frequente. Verifica-se que a tendência da 
área central é de sua redefinição funcional, principalmente no 
núcleo, onde está o foco das principais atividades de gestão, 
escritórios e de serviços especializados, enquanto o comércio 
varejista e determinados serviços se descentralizam.
No entanto, nem todas as indústrias se deslocam. Algumas 
permanecem centralmente localizadas, principalmente as 
pequenas, que consomem pouco espaço e têm como mer-
cado a área central ou toda a cidade, com capacidade de 
suportar os elevados preços pelos imóveis (muitos desses 
adaptados) que ocupam (PRED apud CORRÊA, 1989). Tais 
indústrias se beneficiam das externalidades, uma vez que se 
encontram próximas de terminais de transportes, depósitos, 
comércio atacadista e das atividades do núcleo central.
Nas cidades portuárias, as indústrias, incluindo as de grande 
porte, encontram-se na zona periférica do centro e depen-
dem fortemente dos transportes principalmente, em relação às 
matérias-primas importadas.
Para Colby (1933), as restrições legais, implicando a ausência 
de controle do espaçoque limita a ação das firmas e a ausên-
cia ou perda de amenidades, são também motivos que levam 
ao deslocamento dos indivíduos, das instituições e de tipos 
de usos da terra para fora da área central.
Enfim, a descentralização da área central varia em função dos 
tipos de atividades realizadas na mesma e de suas tendências 
à descentralização e do tempo em sequência que essas levam 
para descentralizar, pela divisão territorial do trabalho e pela 
procura por outros setores da cidade (CORRÊA, 1997).
O deslocamento de indivíduos na área central, especialmente 
no núcleo, se manifesta no período diurno, sobretudo o de 
pedestres, que se concentram durante as horas de trabalho. 
À noite esse deslocamento é direcionado para fora dessa área 
fazendo com que o núcleo se torne deserto. Esse aspecto 
Geografia Urbana
– 108 –
do deslocamento está descrito por Moore e Smelser (1996) 
como processo de rotina. O fato de a periferia do centro 
possuir preços do solo menos elevados que do núcleo, levam 
algumas atividades e uso do solo a se deslocarem do núcleo 
para esse setor. Dessa forma, essas atividades estão fortemente 
vinculadas ao núcleo e a toda a cidade, beneficiandos e da 
acessibilidade que o conjunto da área central desfruta. [...]
Atividades
1. Destaque a diferença entre os conceitos de planejamento urbano e po-
lítica urbana.
2. Explique a relação existente entre a cultura urbana e o cotidiano das 
cidades.
3. Explique como a descentralização pode contribuir para a resolução do 
problema do tráfego e dos congestionamentos nas grandes cidades.
A produção do 
espação urbano e 
das redes urbanas
Introdução
O espaço urbano não é uma construção feita historicamente, 
mas sim com a atuação de diversos agentes que constroem esse 
espaço: os proprietários dos meios de produção; os proprietários 
fundiários; os promotores imobiliários; o Estado; e os grupos sociais 
excluídos. A presença desses diferentes atores incentiva os conflitos 
urbanos e a segregação espacial dentro das cidades.
A formação do espaço urbano leva à implementação de uma 
infraestrutura de comunicação e transportes que define a configura-
ção da rede urbana e a posição dos municípios dentro da hierarquia 
urbana, definindo o nível de influência econômica das cidades.
7
Geografia Urbana
– 110 –
7.1 Os agentes produtores do espaço urbano
7.1.1 A produção do espaço urbano
O espaço urbano reflete as ações e intenções da sociedade sobre o espaço. 
Assim, a formação do espaço é resultante das relações sociais e econômicas 
construídas na cidade por meio de diversos atores. Corrêa (1995) conceitua 
o espaço urbano como
o conjunto dos usos da terra justapostos entre si [que] definem 
áreas, como o centro da cidade, local de concentração de atividades 
comerciais, de serviços e de gestão, áreas industriais, áreas residen-
ciais distintas em termos de forma e conteúdo social, de lazer, e 
entre outras aquelas reservadas a futura expansão. Este complexo 
conjunto de usos da terra é, em realidade, a organização espacial da 
cidade, ou simplesmente, o espaço urbano, que aparece assim como 
espaço fragmentado. (CORRÊA, 1995, p. 7)
Nesse processo de formação, a fragmentação do espaço e a articulação 
entre os atores ocorrem ao mesmo tempo em que o espaço é construído, 
mantendo-se relações sociais, econômicas e espaciais com as demais partes, 
em intensidades variadas. Essas relações manifestam-se pelas atividades eco-
nômicas distribuídas no território, pela localização das áreas residenciais e 
comerciais e pelo deslocamento entre as diversas áreas, isto é, entre as habi-
tações e as áreas industriais e entre estas e as áreas comerciais, por exemplo.
As relações diversas são materializadas na cidade: as produtivas são repre-
sentadas pelas áreas industriais e comerciais, e as sociais, pelas áreas habita-
cionais, pelas atividades de lazer e pelos parques e praças. A configuração 
da cidade define e redefine essas relações, que tem por característica serem 
dinâmicas e mutáveis.
7.1.2 Os agentes produtores do espaço urbano
A produção do espaço urbano não é fruto da atuação de apenas um setor 
ou de um ator social, mas da interação entre diversos atores que, em conjunto, 
formam, alteram e configuram o espaço. Segundo Corrêa (2006, p. 12), 
esses agentes são: “Os proprietários dos meios de produção, os proprietários 
– 111 –
A produçao do espação urbano e das redes urbanas
fundiários, os promotores imobiliários, o Estado e os grupos sociais excluí-
dos”, como explicitado a seguir.
 2 Grandes proprietários industriais e grandes empresas comer-
ciais: Caracterizam-se como grandes consumidores de espaço 
devido a suas atividades econômicas. A teoria locacional mostra 
que um dos fatores para instalação das atividades produtivas é o 
baixo preço dos grandes terrenos, principalmente quando localiza-
dos junto a estruturas logísticas de portos, aeroportos e ferrovias, 
bem como locais com alta concentração populacional.
No entanto, as relações entre os atores sociais podem ser mais com-
plexas quando se trata de interesses diferenciados. Como exemplo 
dessa relação, pode-se citar a especulação imobiliária, que influencia 
a disposição das áreas habitacionais conforme o interesse comercial 
das imobiliárias e construtoras, em detrimento dos demandantes dos 
programas de habitação popular. A especulação influencia o valor 
dos imóveis na cidade pela necessidade da expansão dos negócios 
imobiliários, elevando o preço dos terrenos e, consequentemente, o 
preço dos imóveis. As pessoas que não possuem renda compatível 
com os elevados preços praticados acabam tendo de pagar um valor 
maior de aluguel ou se deslocar para lugares mais distantes, nas peri-
ferias das cidades. Essa relação entre os fundiários e os proprietários 
industriais define um conflito que apresenta algumas características:
a) A existência de um processo de segregação espacial controlado 
pela classe dominante de proprietários da estrutura fundiária, 
o que define um importante papel da política e do mercado 
habitacional na formação do espaço.
b) A aquisição da terra como pré-requisito para expansão da ati-
vidade da construção civil, absorvendo a mão de obra e incen-
tivando o mercado de emprego e a economia local.
c) A aquisição de terras como uma forma de acumulação de capi-
tal por parte da classe dominante;
Geografia Urbana
– 112 –
d) A busca pela aquisição da casa própria, minimizando as con-
tradições entre capital e trabalho e fomentando tanto o mer-
cado imobiliário quanto as políticas urbanas de habitação.
A conexão entre as atividades produtivas e as áreas habitacionais 
é influenciada pelo preço da terra e pode ser percebida na distri-
buição da atividade industrial. As indústrias geralmente ficam dis-
tantes dos bairros pertencentes à elite e próximas aos bairros com 
terrenos mais baratos, desenhando o espaço urbano e interferindo 
na utilização e na localização da terra.
 2 Proprietários de terras: Os rendimentos desses proprietários 
advêm da terra e, por isso mesmo, eles têm interesse na remune-
ração das propriedades, destinando-as a atividades econômicas, 
habitações de alta classe ou a investimentos do setor público para 
o desenvolvimento da infraestrutura urbana. Para os proprietários, 
é interessante que a demanda por terra seja constante, bem como 
o desenvolvimento e a expansão das classes sociais que demandem 
novas habitações e tenham condições de pagar o preço determi-
nado da terra.
Nesse sentido, os proprietários dependem também das políticas 
públicas do Estado para organizar, construir ou demandar novas 
habitações para as classes demandantes. O processo de valorização 
da terra contribui para o processo de segregação espacial das cida-
des com a diferenciação entre as habitações populares e aquelas que 
geram status, resultandonum conflito de interesses.
As áreas localizadas nas melhores regiões demandam melhorias 
estruturais, áreas verdes e benfeitorias diversas que elevam o preço 
da terra, permitindo a construção de condomínios residenciais de 
alto padrão, em áreas consideradas de luxo. Devido à falta de espaço 
nas áreas centrais, muitos desses espaços estão localizados em áreas 
periféricas, embora apresentem o mesmo processo de formação 
social das áreas centrais. As áreas mal localizadas não exercem pres-
são de melhorias como áreas verdes e infraestrutura amplamente 
disponível, sendo esses espaços destinados a habitações popula-
res, não apresentando fatores e características de diferenciação e 
– 113 –
A produçao do espação urbano e das redes urbanas
valorização dos imóveis. Além disso, formam-se ocupações em 
áreas irregulares, como os morros ocupados na cidade do Rio de 
Janeiro pela população mais carente, por exemplo, na Favela da 
Rocinha (Figura 1).
Figura 1 – Distribuição dos modelos de residências: Favela da Rocinha e 
vista do Rio de Janeiro (RJ).
 
Fonte: dabldy/iStockphoto.
 2 Promotores imobiliários: São agentes profissionais que realizam 
incorporação, financiamento, estudo técnico e construção de imó-
veis. O objetivo dos promotores imobiliários é produzir habitações 
cujo valor se sobreponha às construções antigas, para a obtenção 
de lucro na negociação dos imóveis. O processo de valorização de 
imóveis antigos aumenta o preço dos imóveis e amplia a exclusão 
das camadas sociais mais populares. No entanto, a construção de 
habitações para a população de baixa renda também pode ser ren-
tável em alguns momentos específicos, como:
Geografia Urbana
– 114 –
a) quando a demanda por habitações é alta e crescente, elevando 
o preço das habitações populares;
b) quando se reduzem os custos para construção, comprome-
tendo a qualidade das edificações;
c) quando o nível de ocupação das habitações é alto, reduzindo 
a demanda por terra e destinando o espaço para construções 
mais rentáveis.
Os promotores imobiliários têm como foco primário a constru-
ção de imóveis de luxo, direcionando os melhores espaços para os 
maiores investimentos, garantindo a lucratividade do setor. Num 
segundo patamar, há a destinação dos espaços para as habitações 
populares financiadas pelas políticas públicas do governo.
Essa estratégia impacta a formação do espaço urbano, pois os imó-
veis de alto padrão ocupam os melhores bairros, com melhor acesso 
à rede de transportes, segurança, benfeitorias naturais (parques, 
lagos etc.) e equipamentos como museus, shopping centers, hiper-
mercados. Isso reduz a disponibilidade de imóveis nessas regiões e 
estabelece um alto padrão para as propriedades, elevando o preço 
da terra.
Os promotores imobiliários e os proprietários de terras contribuem 
para a segregação espacial, devido à necessidade de geração de 
lucros para ambos os agentes formadores do espaço.
 2 Estado: O Estado tem um papel relevante na formação do espaço 
urbano e a sua atuação reflete a dinâmica da sociedade.
O Estatuto das Cidades dispõe de diversos instrumentos para o 
exercício da desapropriação de terras e precedência no processo de 
compras. O Estado tem o poder de regulamentar, controlar e limi-
tar o uso da terra, organizar e planejar a distribuição e a dinâmica 
desse uso, além de determinar a cobrança de taxas e impostos. Esses 
instrumentos legais que ocorrem por meio de Lei de Zoneamento, 
Plano Diretor ou outros instrumentos buscam otimizar o uso da 
terra, contemplando o interesse de todos os agentes. Isso afeta 
o valor das propriedades e contribui para a formação do espaço 
– 115 –
A produçao do espação urbano e das redes urbanas
urbano, orientando investimentos públicos para o atendimento da 
demanda por serviços públicos e infraestrutura urbana.
 2 Grupos sociais excluídos: Trata-se daqueles que, devido à renda 
baixa, moram em habitações precárias, em áreas de risco ou favelas 
ou em conjuntos habitacionais financiados pelo Estado. Esse pro-
blema é consequência da grande concentração populacional nos 
centros urbanos, que gera desemprego e faz com que essas popula-
ções, que não possuem renda para comprar ou alugar imóveis em 
melhores condições, instalem-se nas áreas periféricas mais distantes 
das cidades. Esses espaços necessitam de maior intervenção quanto 
mais distante forem as regiões ocupadas, pois, no caso das ocupa-
ções irregulares e em situações precárias, é a própria população que 
organiza o espaço, muitas vezes sem intervenção ou interação com 
os demais agentes formadores do espaço.
De forma geral, os habitantes dessas áreas enfrentam resistência na for-
mação desses espaços, mas, uma vez estruturados, esses locais recebem 
a intervenção urbana do município como forma de política pública 
de urbanização. Busca-se, assim, melhorar a qualidade de vida nessas 
regiões, reduzir a segregação e integrar os espaços à cidade.
7.2 Rede urbana
Uma rede urbana pode ser compreendida como um conjunto de cidades 
que são interligadas em diversas escalas e por meio de fluxos de mercado-
rias, pessoas, capitais e informações, formando um modelo de hierarquia em 
que as cidades menores dependem economicamente das maiores. As cidades 
com economias e estruturas mais dinâmicas possuem melhor infraestrutura 
de transporte e de comunicações, estabelecendo uma maior integração entre 
os municípios e uma rede urbana mais estruturada (MONTE-MOR, 2006).
A ideia de redes urbanas nasceu na Idade Média, com o estabelecimento 
de uma rede de cidades estrategicamente localizadas para facilitar as transa-
ções e a logística comercial, formando as primeiras rotas comerciais. Com o 
advento da Revolução Industrial, esse processo se intensificou com a definição 
Geografia Urbana
– 116 –
dos papéis das cidades no contexto do sistema produtivo, estabelecendo as 
cidades industriais e as cidades fornecedoras de insumos.
A hierarquia urbana é uma organização da cidade em termos de comple-
xidade e dinâmica econômica, gerando um processo de influência em cidades 
menores, de modo a formar uma rede interligada entre todas elas. Nessa hie-
rarquia, há as cidades globais, as metrópoles nacionais, as metrópoles regio-
nais e as cidades de menor porte, assim definidas pelo IBGE (2007):
 2 Cidades globais: são as megacidades, caracterizadas pela alta 
concentração populacional (população superior a 10 milhões de 
habitantes) e por uma grande diversificação econômica, devido ao 
fato de terem sido as primeiras cidades a passar pelo processo de 
industrialização. Exemplos: Nova Iorque, Tóquio, Paris, Londres, 
Buenos Aires, Berlim, São Paulo, Rio de Janeiro, entre outras.
 2 Metrópoles nacionais: essas cidades também apresentam uma 
economia diversificada e organizada, atraindo investimentos. Ao 
contrário das cidades globais, a influência das metrópoles nacionais 
ocorre em nível regional ou, no máximo, em nível nacional, não se 
estendendo para fora do país. Exemplos: Curitiba, Belo Horizonte, 
Porto Alegre, Brasília, entre outras.
 2 Metrópoles regionais: são cidades cujo alcance de influência 
alcança, no máximo, o nível regional, subordinando-se às metró-
poles nacionais e às cidades globais, fazendo a ligação entre estas e 
as cidades menores.
7.2.1 A região de influência das cidades
O IBGE estuda a hierarquia urbana e a região de influência das cidades 
com base no fluxo de informações, bens e serviços (IBGE, 2007). A rede 
urbana brasileira está dividida em quatro tipos de centros, conforme demons-
trado no quadro a seguir:
– 117 –
A produçao do espação urbano e das redes urbanas
Quadro 1 – Tipos de centros urbanos no Brasil.
Metrópoles
Grande metró-
pole nacional São Paulo.
Metrópole nacional São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Metrópole
Manaus, Belém, Fortaleza, 
Recife, Salvador,Belo Horizonte, 
Curitiba, Goiânia e Porto Alegre.
Capitais 
regionais
Capital regional A 11 cidades com população média de 955 mil habitantes.
Capital regional B 20 cidades com população média de 435 mil habitantes.
Capital regional C 39 cidades com população média de 250 mil habitantes.
Centros 
sub-regionais
Centro sub-regional A 85 cidades com população média de 95 mil habitantes.
Centro sub-regional B 79 cidades com população média de 71 mil habitantes.
Centros 
de zona
Centro de zona A 192 cidades com população média de 45 mil habitantes.
Centro de zona B 364 cidades com população média de 23 mil habitantes.
Fonte: IBGE, 2007.
Além desses, existem ainda os centros locais, que se caracterizam por 
exercer influência somente em seu município e concentram uma média 
populacional inferior a 10 mil habitantes.
Geografia Urbana
– 118 –
7.3 Urbanização e classes sociais
A cidade pode ser entendida como a concretização do processo urbano, 
no momento em que o campo passa a produzir o excedente para atender a 
demanda dos centros urbanos, que, por sua vez, são dependentes do campo 
para o abastecimento de alimentos. As cidades também apresentam concen-
tração de poder político e econômico e segmentam de forma bastante clara 
(social e espacialmente) as classes sociais.
O campo, por ser produtor de alimentos, pode existir de forma indepen-
dente da cidade, mas torna-se dependente desta devido aos serviços especiali-
zados nela encontrados. Devido à alta concentração populacional nas cidades 
e à demanda por serviços, produtos e terra, o preço dos imóveis se eleva, defi-
nindo uma clara segmentação espacial e gerando desigualdade na distribuição 
do acesso à terra.
Outro ponto importante é a construção das relações econômicas. O 
processo produtivo, principalmente ligado à indústria de transformação, tem 
seu início no campo e sua materialização nas cidades, notabilizando assim 
a produção e o consumo do produto urbano, concretizando a relação entre 
campo e cidade.
A cidade é, assim, o centro dessas relações econômicas e amplia sua 
importância concentradora com a expansão da industrialização, atraindo a 
população e alavancando movimentos migratórios. A capacidade produtiva 
da cidade não é suficiente para absorver a demanda de mão de obra, o que 
acaba por gerar desemprego. Com os preços de terra elevados e o desemprego 
no espaço urbano, os indivíduos menos favorecidos buscam habitação por 
meio de programas estatais ou em ocupações irregulares, como as favelas.
Como um grande sistema, a cidade apresenta interação entre as diversas 
classes sociais dentro do mesmo espaço, dividido pelos interesses das diversas clas-
ses. Pode-se compreender, dessa forma, que a cidade é a sede do poder e da classe 
dominante, que tem acesso às melhores áreas e aos melhores serviços. Note-se 
que a participação da sociedade na formação do espaço e nas relações produtivas 
é diferenciada, segmentando as classes sociais dentro da cidade e possibilitando à 
classe dominante a ampliação do capital territorial por meio da aquisição de terra 
para novos investimentos.
– 119 –
A produçao do espação urbano e das redes urbanas
O processo de construção da cidade torna-a um centro dinâmico, mul-
tiplicando suas atividades pela incorporação de funções anteriormente exerci-
das pelo campo e por meio do processo de inovação tecnológica concentrado 
nos centros urbanos.
A urbanização, que tem seu desenvolvimento acelerado pela industriali-
zação, atinge seu ápice com a sociedade pós-industrial, indo, portanto, além 
do processo industrial, de modo que estabelece uma cultura e um modo de 
vida tipicamente urbanos. Ana Clara Torres Ribeiro, citando Milton Santos, 
destaca a importância do estudo das relações sociais como construção do 
urbano e como meio de apropriação das técnicas de configuração da cidade:
diferentemente dos que apostam no presente amplificado, ansiosos 
pela eternização da forma dominante de produzir, Milton Santos, ao 
valorizar o sentido do devir, convida à reflexão da passagem do pre-
sente ao futuro. Uma reflexão que implica no estudo das forças e inte-
resses sociais que criam e se apropriam da técnica, detendo o poder de 
comandar a atualização do urbano. (RIBEIRO, 2013, p. 214)
Compreende-se, dessa forma, que a configuração da cidade é uma cons-
trução das relações sociais estabelecidas, que se sobrepõem às técnicas do 
urbanismo e orientam a definição do urbano. Por sua vez, as relações estabele-
cidas entre o Estado e os setores econômicos dinâmicos dão uma nova veloci-
dade ao processo de urbanismo das cidades capitalistas, que se destacam pela 
função de concentração e reprodução do capital, com base em uma infraes-
trutura física, de comunicação e de transportes, bem como em instrumentos 
urbanos de planejamento e distribuição financeira e de valorização da terra.
Ampliando seus conhecimentos
São Paulo, cidade-global: 
o fato mediático
(FERREIRA, 2004, p. 27-28)
“São Paulo será, talvez, no Brasil, a principal candidata a 
cidade mundial”. Com essas palavras, durante um encontro 
Geografia Urbana
– 120 –
internacional sobre cidades, em 1995 (ALMEIDA, 2001), 
o então presidente Fernando Henrique Cardoso consolidava 
uma interpretação sobre as cidades contemporâneas que iria 
rapidamente tornar-se unanimidade nos meios empresarias, 
acadêmicos e governamentais.
Tal interpretação tornou-se especialmente festejada nos meios 
acadêmicos do urbanismo desde que, em 1991, a pesquisa-
dora Saskia Sassen publicou nos EUA seu trabalho intitulado 
“A Cidade-Global” (SASSEN, 1996). A ideia central é 
a de que no atual mundo globalizado, cujo paradigma é o 
da competitividade econômica, as cidades que se mantêm 
na liderança do cenário econômico são aquelas que conse-
guem apresentar vantagens comparativas para atrair empresas 
transnacionais e os fluxos internacionais de capital financeiro, 
mantendo-se assim em evidência na economia globalizada.
Partindo do exemplo de Nova York, Londres e Tóquio, e 
ampliando em seguida sua análise para uma rede hierarquizada 
de cidades, as teorias sobre a “cidade-global” argumentam por-
tanto que as novas dinâmicas de flexibilização e desregulação 
da economia, de aumento dos fluxos internacionais de capital, 
e de fortalecimento da economia de serviços em detrimento 
da atividade industrial fordista-taylorista, estariam obrigando as 
cidades a se adaptar à uma nova demanda por edifícios, servi-
ços e equipamentos capazes de atender às exigências de um 
novo e moderno setor econômico, que Sassen chamou de 
“terciário avançado”. Quase todos os autores, e Sassen em 
especial, incluem a cidade de São Paulo na lista das possíveis 
cidades-globais, embora em posições hierárquicas inferiores.
Essa suposta “vocação” da cidade de São Paulo para ser 
“cidade-global” passou então a ser discutida na academia, 
propagandeada pela mídia, festejada pelo capital imobiliário e 
incentivada pelo poder público, usando-se como prova o fato 
de que vêm surgindo na cidade, desde meados da década de 
80, novos bairros “de negócios”, concentrações de edifícios 
– 121 –
A produçao do espação urbano e das redes urbanas
que a nomenclatura “globalizada” convencionou chamar de 
“inteligentes”, justamente pela sua tecnologia de conexão com 
as mais avançadas técnicas da comunicação global. Assim 
como as cidades norte-americanas têm seus business districts, 
em São Paulo também temos um World Trade Center e 
outros tantos centros empresariais sofisticados, concentrados 
na região do Rio Pinheiros e da Avenida Luiz Carlos Berrini, 
uma área que alguns especialistas gostam de chamar de “nova 
centralidade globalizada” da cidade.
Como de fato houve ali um acréscimo de cerca de 2 milhões 
de metros quadrados construídos entre 1991 e 2000, com 
um número razoável de megaempreendimentosimobiliá-
rios terciários, isso parece ser prova suficiente de que afinal 
podemos sim ser uma cidade-global, sem que haja qualquer 
preocupação em verificar se as dinâmicas e as disputas de 
poder que regem essa produção têm de fato algo a ver com 
a chamada “globalização”. Em outras palavras, o que parece 
legitimar a condição de “cidade-global” é tão somente a exis-
tência de um mercado imobiliário terciário que abriga empre-
sas “transnacionais”.
As motivações que levaram cada um dos setores citados a 
patrocinar a nova classificação “global” da maior metrópole 
brasileira são aparentemente variadas. A academia parece ter 
seguido a velha tradição, em especial nos meios urbanísticos, 
de reproduzir quase que automaticamente por aqui teorias e 
interpretações em voga nos grandes centros universitários do 
exterior – e portanto capazes de dar destaque fácil e rápido à 
obras acadêmicas que os reproduzam – e que até hoje nunca 
se mostraram capazes de sustentar uma interpretação eficaz da 
nossa realidade urbana desigual, em um processo de impor-
tação intelectual que reitera o descompasso já apontado por 
Schwarz quando propôs a matriz das “ideias fora de lugar”. Na 
realidade, esse procedimento parece destinar-se a reproduzir 
e difundir por aqui teorias que sustentem academicamente os 
Geografia Urbana
– 122 –
interesses de hegemonia das classes dominantes nacionais. No 
caso da teoria da “cidade-global” desdobraram-se teorias mais 
instrumentais, também discutidas pela academia, verdadeiras 
“receitas” para alavancar a competitividade urbana global, ins-
piradas na reengenharia empresarial e nas modernas técnicas 
de propaganda, e que ficaram conhecidas como “Planejamento 
Estratégico” e “Marketing de cidades” (Vainer, 2000).
Para o mercado imobiliário, que se insere no grupo social das 
“classes dominantes”, a participação nesse esforço de constru-
ção da imagem de uma “cidade-global” parece natural, pela 
mobilização que ele representa em torno de possibilidades 
de investimentos e rentabilidade em um cenário recessivo. Se 
o modelo da “cidade-global” favorece as classes dominantes, 
é porque favorece essencialmente, como veremos, oligarquias 
arcaicas que atuam no mercado imobiliário. É sem dúvida o 
mercado quem tem mais a ganhar, e vem ganhando, com esse 
processo. A mídia, quanto a ela, sempre serviu no Brasil à 
reprodução dos mesmos interesses dominantes. Reforçando 
o coro da “cidade-global” paulistana, são inúmeros os artigos 
na grande imprensa, especializada ou não, festejando a “voca-
ção global” da cidade e suas “inquestionáveis” comprova-
ções, como os cerca de 4 milhões de “turistas de negócios”, a 
modernidade dos nossos Business Districts, a “substituição” da 
indústria pelos serviços, a moderna e “internacionalizada” rede 
hoteleira, a proliferação dos edifícios “inteligentes”, e assim 
por diante. [...]
Atividades
1. O Brasil está passando por um processo de desconcentração indus-
trial, no qual as indústrias se deslocam das áreas das grandes cidades 
e capitais para as demais cidades da região metropolitana. Como a 
– 123 –
A produçao do espação urbano e das redes urbanas
formação do espaço urbano e a valorização do preço da terra contri-
buem para esse processo?
2. As metrópoles nacionais exercem uma influência econômica que vai 
além da sua região e atinge outras regiões do país. Explique os moti-
vos que fazem essas cidades atraírem mais investimentos.
3. As favelas são um exemplo da segmentação espacial nas cidades e do 
conflito existente nos espaços urbanos. Aponte as consequências re-
sultantes desse conflito na cidade.
Urbanização e 
sustentabilidade
Introdução
A promoção do desenvolvimento econômico municipal é 
uma das funções reservadas para os gestores públicos, implantando 
políticas públicas que incentivem a distribuição das atividades eco-
nômicas no espaço. As cidades mais desenvolvidas e com economias 
mais diversificadas apresentam um fator de atração de mão de obra e 
uma concentração populacional que, por consequência, demandam 
maior grau de urbanização.
Por outro lado, a expansão urbana impacta o meio ambiente 
natural, devido a vários fatores, por exemplo, a ocupação irregular 
do espaço e a ausência de infraestrutura e de serviços básicos, como 
tratamento de esgoto, coleta de lixo e drenagem urbana.
8
Geografia Urbana
– 126 –
8.1 Determinação econômica do urbano
A formação do espaço urbano contempla as relações sociais existentes no 
ambiente das cidades e a distribuição do uso do solo no planejamento e orde-
namento territorial. Nesse contexto, pode-se destacar as relações econômicas 
estabelecidas pelas características da dinâmica produtiva das atividades distri-
buídas no espaço urbano. Para compreensão dessas relações, faz-se necessário 
o estudo da economia urbana, da localização industrial e de seus papéis na 
formação do espaço urbano.
8.1.1 Economia urbana
O desenvolvimento econômico não é realizado de forma homogênea no 
espaço. Assim, a Geografia Urbana tem estudado, ao lado de outras ciências, 
como a economia urbana e a geografia econômica, a distribuição espacial das 
atividades econômicas nas cidades.
Uma característica fundamental para a compreensão da economia 
urbana é a de que a relação entre as cidades não apresenta barreiras no que 
diz respeito à migração e circulação de bens, serviços, capital e pessoas. 
Essa característica contribui para a concentração populacional e financeira, 
gerando áreas de influência econômica de uma cidade sobre outras, além de 
contribuir para a capacidade de atração de investimentos destas por meio 
de fatores como dotações de recursos econômicos, tamanho dos mercados e 
qualificação de mão de obra.
Este cenário leva a um processo de pressão política sobre os gestores 
públicos, buscando-se investimentos para desenvolver as regiões menos favo-
recidas. O desenvolvimento desigual na distribuição das atividades econômi-
cas leva a uma relação política antagônica entre as classes sociais nas cidades.
No caso brasileiro, o sistema político permite que o Estado intervenha 
por meio de políticas públicas, como forma de eliminar ou minimizar as 
diferenças econômicas regionais. Essas políticas têm seu advento na década 
de 1970, com o processo de desconcentração econômica e as primeiras ações 
para os desenvolvimentos regionais, como a implantação das primeiras regiões 
metropolitanas e a distribuição da atividade industrial nos centros industriais 
no entorno da cidade de São Paulo.
– 127 –
Urbanização e sustentabilidade
Naquela época, a economia brasileira apresentava uma forte concen-
tração econômica no Estado de São Paulo, cujo esteio de crescimento era 
a atividade industrial, contribuindo para a centralização da produção e da 
riqueza nessa região. O Governo Federal buscou então, por meio do II Plano 
Nacional de Desenvolvimento, descentralizar a economia, criando polos 
regionais de desenvolvimento baseados na atividade industrial, desfragmen-
tando a distribuição do setor produtivo no país (BAER, 1996).
A descentralização econômica levou à formação dos centros industriais 
nas principais regiões do Brasil, atraindo investimentos nacionais e estrangei-
ros para o desenvolvimento econômico dessas localidades.
Esse processo de descentralização contribuiu para a expansão urbana 
das áreas limítrofes das grandes cidades e a configuração dos fatores atrati-
vos ligados ao mercado de trabalho industrial, culminando num movimento 
migratório do campo em direção aos centros urbanos impactados pela indus-
trialização. Essa conjuntura levou a uma expansão da urbanização e dos pro-
blemas urbanos, fazendo com que as cidades buscassem soluções conjuntas 
para questões comuns advindas desse novo modelo. Foi nesse contexto que se 
formaram as regiões metropolitanas nos anos de 1970 e as regiõesintegradas 
de desenvolvimento nos anos 2000.
As regiões metropolitanas podem ser defini-
das por um conjunto de cidades localizadas 
proximamente e integradas social e economi-
camente a um município de grande porte 
(a metrópole), que apresenta, de forma desta-
cada, boa infraestrutura urbana, oferta variada 
de serviços públicos, forte concentração 
populacional e amplo mercado de trabalho.
A partir dos anos de 1990, inicia-se no Brasil a discussão sobre o processo 
de desregulamentação e a redução do papel do Estado na economia, levando 
a uma reconcentração de novas atividades econômicas ligadas ao comércio, 
lazer e tecnologia. Inicia-se o desenvolvimento das atividades ligadas à tecno-
logia, que são novamente concentradas nos grandes centros urbanos devido 
à existência de infraestrutura de comunicação e de transmissão de dados e 
Geografia Urbana
– 128 –
a disponibilidade de faculdades e centros de pesquisas nessas regiões. Esse 
modelo econômico permite um novo direcionamento para o planejamento 
urbano, apresentando uma redução do impacto no uso do solo e contem-
plando uma nova relação com a cidade e com a formação do espaço urbano.
As Regiões Integradas de Desenvolvimento (RIDEs), hoje localizadas 
em várias regiões do país, conforme demonstra a imagem a seguir (Figura 1), 
têm como objetivo instituir políticas públicas harmonizadas entre a União, 
os estados e os municípios, as quais incentivem a dinamização econômica das 
regiões de baixo desenvolvimento. Busca-se, assim, promover o direciona-
mento dos recursos públicos, fazendo com que esses investimentos reduzam 
as desigualdades sociais.
Figura 1 – Estados e localização das capitais e cidades-sedes das dez maiores 
Regiões Metropolitanas e Regiões Integradas de Desenvolvimento – 2010.
PR
RS
SC
RJ
AC
AM
RO
RR AP
MA CE RN
PB
PE
AL
SETOMT
GO
MS
SP
MG
1
17
15
23
24
25
21
13
19
12
26
27
4
22
18
6
20
11
8
2
10
9
3
14
7
16
5
28
ES
BA
PI
PA
1. Belo Horizonte
2. Brasília
3. Curitiba
4. Fortaleza
5. Porto Alegre
6. Recife
7. Rio de Janeiro
8. Salvador
9. São Paulo
10. Campinas
11. Aracaju
12. Belém
13. Boa Vista
14. Campo Grande
15. Cuiabá
16. Florianópolis
17. Goiânia
18. João Pessoa
19. Macapá
20. Maceió
21. Manaus
22. Natal
23. Palmas
24. Porto Velho
25. Rio Branco
26. São Luiz
27. Teresina
28. Vitória
Fonte: SILVA; SILVA; SILVA, 2014. Adaptado.
– 129 –
Urbanização e sustentabilidade
Para melhor compreensão do desenvolvimento econômico das regiões, é 
preciso entender o conceito de espaço econômico como o conjunto de rela-
ções abstratas não relacionadas diretamente à localização geográfica, podendo 
apresentar três conceitos distintos, conforme descreve Perroux (1969):
Quadro 1 – Conceitos de espaço econômico.
Espaço de 
planejamento
Limitação geográfica do espaço de atuação e dos impactos 
das atividades de uma empresa ou das instituições públicas.
Espaço 
polarizado
Espaço hierarquizado que apresenta concentração 
populacional e de atividades econômicas, gerando efei-
tos de atração e repulsão sobre as demais regiões.
Espaço 
homogêneo
Espaço que apresenta características uniformes, coope-
rando, dessa forma, para a integração do território.
Fonte: PERROUX, 1969. Adaptado.
Dessa forma, compreende-se que a economia tem um papel relevante na 
formação do espaço urbano, pois define uma área limitada para a prática das 
atividades econômicas e as concentra, gerando um processo de atração devido 
à ampliação do mercado de trabalho e estabelecendo uma integração desses 
locais com a cidade.
8.1.2 Localização industrial
A atividade industrial é a atividade econômica mais dinâmica dos espa-
ços urbanos, apresentando um forte aspecto de atração demográfica, urbana e 
econômica no território. No entanto, a decisão sobre a localização desse tipo 
de atividade é determinada por diversos fatores regionais, destacados no qua-
dro a seguir, os quais determinam a implantação das indústrias, contribuindo 
para o início ou a expansão das atividades econômicas dentro das cidades:
Quadro 2 – Fatores locacionais para decisão de investimentos.
Transporte e 
infraestrutura 
logística
Envolve questões de infraestrutura relacionadas às necessidades 
de mobilidade e deslocamento de pessoas e mercadorias, além 
de uma estrutura de escoamento de produção e o desenvolvi-
mento de novas tecnologias de trânsito, transporte e tráfego.
Geografia Urbana
– 130 –
Energia e 
infraestrutura 
de dados
Refere-se ao desenvolvimento, geração e distribuição de 
energia, bem como tecnologias de informação e comunica-
ção que permitem o tráfego e o armazenamento de dados.
Acesso a mercados 
consumidores
Envolve o tamanho e a diversidade do mercado consumidor, 
as características socioeconômicas e culturais da população.
Matérias-primas
Diz respeito à existência, disponibilidade e qualidade 
dos insumos produtivos, bem como a disponibilidade de 
água e a proximidade com os mercados fornecedores.
Mão de obra e 
força de trabalho
Refere-se à disponibilidade, produtividade, qualificação e 
nível salarial dos trabalhadores, bem como o ordenamento 
jurídico que protege as relações trabalhistas. Envolve, ainda, 
a existência de universidades e centros de formação e pes-
quisa que capacitam e tornam mais produtiva a mão de obra.
Incentivos fiscais 
e benefícios
Trata-se dos benefícios ofertados para atração de 
novos investimentos ao território, envolvendo isen-
ções fiscais, concessão de terrenos, entre outros.
Disponibilidade 
de capital
Envolve a existência de uma estrutura de instituições 
financeiras que fomentem a possibilidade de financia-
mento dos investimentos nos processos produtivos.
Fonte: BNB-ETENE, 1968.
Pode-se compreender, desse modo, que a distribuição das atividades 
econômicas contribui para a formação do espaço urbano. As indústrias, em 
particular, causam forte impacto na composição do espaço, pois, além da 
demanda pelo uso do solo, necessitam de infraestrutura urbana para escoa-
mento da produção. O investimento na atividade industrial requer, portanto, 
fatores de atratividade que diferenciam a capacidade dos municípios e da 
consequente formação do espaço urbano.
8.2 A urbanização e a questão ambiental
As cidades se caracterizam pela grande concentração populacional, pola-
rizando as questões culturais, políticas e econômicas e ampliando a área de 
influência para outros municípios menores e dependentes. Para atender as 
– 131 –
Urbanização e sustentabilidade
demandas advindas dessa concentração, o homem transforma o ambiente 
natural, de modo a viabilizar a vida na cidade.
Os impactos da urbanização sobre o meio ambiente são mais perceptí-
veis nos grandes centros urbanos do que nas pequenas cidades ou em áreas 
rurais. Nas grandes cidades, entre as diversas consequências desse processo no 
meio natural (como na fauna, na flora, no relevo, no clima e nos rios), estão 
os diferentes tipos de poluição, conforme descritos no quadro a seguir:
Quadro 3 – Tipos de poluição nas cidades.
Poluição 
sonora
Trata-se do excesso de ruídos causado pelas intera-
ções urbanas, como o trânsito de automóveis, a ativi-
dade industrial, as sirenes e os alarmes, entre outros.
Poluição 
visual
É a poluição que esconde ou limita a visão do ambiente natural, devido 
à comunicação visual por meio de cartazes, placas, outdoors etc.
Poluição 
hídrica
Trata-se da contaminação dos lençóis freáticos, dos mananciais e 
reservatórios hídricos. Envolve, ainda, a poluição de rios, lagos e 
nascentes, comprometendo o abastecimento de água nas cidades.
Poluição 
atmosférica
É a emissão de gases nocivos na atmosfera, compro-
metendo a qualidade do ar e a visibilidade,produ-
zindo odores e danificando o meio ambiente.
Fonte: DERISIO, 2012. Adaptado.
O processo de urbanização leva aos problemas urbanos que impactam 
diretamente o meio ambiente e que são sentidos em toda a cidade. Esse cená-
rio causa uma demanda por políticas públicas de conservação do ambiente 
natural, as quais auxiliam na construção do planejamento urbano.
Outro problema comum nas grandes cidades é decorrente da ausência 
de saneamento básico, compreendendo a coleta de lixo, a drenagem da água 
e o tratamento do esgoto, sobretudo nas cidades dos países em desenvolvi-
mento, que não dispõem de uma infraestrutura que satisfaça essas necessida-
des. Uma das consequências da falta de políticas públicas de tratamento de 
esgoto é a poluição de rios, lagos e córregos, comprometendo a capacidade 
Geografia Urbana
– 132 –
de abastecimento de água potável, que também é impactada pelos efluentes 
industriais, além do lançamento irregular de resíduos sólidos.
O Brasil busca, desde 2007, com que a Lei do Saneamento, universali-
zar o acesso ao saneamento básico, que compreende coleta e tratamento de 
esgoto, abastecimento de água, serviços de drenagem urbana, bem como a 
coleta e destinação do lixo urbano, principalmente nas áreas mais carentes e 
menos desenvolvidas. No entanto, como mostram os dados pesquisados pelo 
Instituto Trata Brasil (Quadro 4), o Brasil precisa articular as políticas públi-
cas para atendimento da lei, principalmente nas regiões Norte e Nordeste.
Quadro 4 – As dez melhores e as dez piores: avaliação dos serviços de 
saneamento básico nas 100 maiores cidades brasileiras.
10 melhores 10 piores
Município UF
População 
com coleta de 
esgotos (%)
Município UF
População 
com coleta de 
esgotos (%)
Curitiba PR 100 Rio Branco AC 22,55
Diadema SP 100 Juazeiro do Norte CE 21,99
Londrina PR 100 Teresina PI 19,96
Maringá PR 100 Belém PA 12,8
Ponta Grossa PR 100 Manaus AM 10,4
Franca SP 99,96 Jaboatão dos Guararapês PE 6,66
Piracicaba SP 99,95 Macapá AP 5,44
Santos SP 99,88 Porto Velho RO 3,71
Volta Redonda RJ 98,96 Ananindeua PA 2,09
Santo André SP 98,56 Santarém PA 0
Fonte: INSTITUTO TRATA BRASIL, 2015.
Os países em desenvolvimento também apresentam carência de um sis-
tema de transporte público eficiente, fazendo com que o uso do automóvel 
seja privilegiado para o deslocamento dentro da cidade. Ao mesmo tempo, 
a expansão urbana leva à formação de subúrbios localizados cada vez mais 
– 133 –
Urbanização e sustentabilidade
distantes das áreas centrais, aumentando a necessidade de deslocamentos e de 
automóveis. Isso eleva o congestionamento nas ruas das cidades, ampliando a 
possibilidade de poluição atmosférica e sonora e os acidentes de tráfego, bem 
como a infraestrutura viária (pistas expressas, vias elevadas, viadutos, anéis 
periféricos), que demanda grandes espaços para sua construção, descaracteri-
zando a paisagem urbana.
Outro impacto da urbanização é a carência de arborização, comprome-
tendo o clima das cidades, a retenção de umidade do solo e do ar e a área de 
sombra para os pedestres. A ausência de árvores e áreas verdes também causa 
a redução da capacidade de infiltração da água no solo, pois a água das chuvas 
é direcionada aos rios mais rapidamente, os quais se tornam incapazes de dar 
vazão a todo esse volume hídrico, contribuindo para inundações e enchentes.
Além disso, as habitações nas periferias surgem como resultado da expan-
são urbana alavancada pelas necessidades da migração populacional. A dinâ-
mica do mercado imobiliário, por um lado, incentiva a ocupação das áreas 
mais próximas das regiões centrais, aproveitando características próprias des-
ses locais, como a infraestrutura e a acessibilidade existente. Por outro lado, as 
políticas públicas de habitação permitem a ocupação das áreas mais periféricas 
e com uma infraestrutura mais deficiente de serviços públicos. As áreas com 
declividade, mesmo tendo um valor ambiental ao dar suporte às áreas planas e 
contribuir para a infiltração de água no solo, são ocupadas pelo mercado imo-
biliário, muitas vezes com ausência de estrutura adequada, o que favorece os 
deslizamentos de terra nesses locais (SOUZA; MONTERO; LIESENBERG, 
2007). As áreas com declividade, mesmo tendo uma função importante de dar 
suporte às áreas planas e contribuir para a infiltração de água no solo, também 
são destinadas à habitação. No entanto, essa ocupação, que muitas vezes é feita 
de forma irregular e sem a estrutura adequada, contribui para o fenômeno dos 
deslizamentos de terra nessas áreas com declividade (SOUZA; MONTEIRO; 
LIDESENBERG, 2007). A ocupação dessas áreas também se dá de forma irre-
gular, nesse caso com impactos diretos sobre o meio ambiente, como nas áreas 
de mananciais, bacias hidrográficas e fundos de vale, contribuindo para desas-
tres ambientais diversos.
Geografia Urbana
– 134 –
8.3 A urbanização e a sustentabilidade
8.3.1 Desenvolvimento sustentável
Embora possa ter diversos conceitos, a definição mais comum de desen-
volvimento sustentável é “o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades 
da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades 
das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o 
futuro” (CMMAD, 1991). Seu objetivo é uma harmonia entre o desenvolvi-
mento econômico e a conservação ambiental.
Nos anos de 1970, o aumento da exploração dos recursos naturais incitou 
um debate mundial sobre os rumos do desenvolvimento. Em 1972, ocorre a 
Conferência de Meio Ambiente de Estocolmo, na Suécia. No mesmo ano, é 
publicado o relatório Limites do Crescimento, pelo Clube de Roma (MEADOWS 
et al., 1973), cuja conclusão demonstrou que o planeta não poderia suportar o 
crescimento baseado na utilização de recursos naturais, necessitando de políti-
cas de proteção ao meio ambiente. Isso acabou gerando uma nova abordagem 
para o desenvolvimento global: a do desenvolvimento sustentável.
A partir da Constituição Federal de 1988, iniciou-se uma correlação 
entre as questões urbanas e ambientais, contemplando os aspectos sociais des-
ses temas, inclusive com a participação direta do cidadão na formulação dos 
planos e projetos de desenvolvimento. Nessa visão, o desenvolvimento de 
uma cidade deve privilegiar o atendimento das necessidades básicas da popu-
lação e oferecer oportunidades de melhoria da qualidade de vida.
Para uma devida compreensão do desenvolvimento sustentável, ou ecode-
senvolvimento, é preciso primeiro reconhecer a limitação dos recursos disponí-
veis, que precisam ser alocados da melhor maneira possível. Em outras palavras, 
esse é um modelo de desenvolvimento econômico que leva em consideração o 
meio ambiente e seus aspectos de conservação. O desenvolvimento sustentável 
prioriza, de fato, qualidade em vez de quantidade, com a redução do uso de 
matérias-primas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem.
Ignacy Sachs (2002) destaca a interação entre os aspectos sociais, ambien-
tais e econômicos. O objetivo é um desenvolvimento que permita dinamizar 
modelos econômicos que interajam com o meio social, preservando o meio 
– 135 –
Urbanização e sustentabilidade
ambiente e seus recursos produtivos. Esse novo desenvolvimento estaria ali-
cerçado em um modo de gestão que leve em consideração o meio natural 
como um valor a ser assegurado para as futuras gerações.
Além disso, o caminho para o desenvolvimento sustentável nas cidades passa 
pelos instrumentos de política urbana, com destaque para o Plano Diretor de 
cada município, o qual contempla os objetivos e planos de desenvolvimento eco-
nômico e sua interação com os aspectos sociais e ambientais no espaço urbano.
8.3.2 Sustentabilidade urbana
A sustentabilidade urbana representa um grande desafio para as cidades, 
tendo em vista a necessidade imperiosa de modernizara economia e dina-
mizar as atividades produtivas, além de desenvolver fatores de atratividade 
que incentivem os investimentos nos territórios. Mais investimentos geram 
mais ofertas de empregos, que, por sua vez, servem como incentivo para a 
migração de trabalhadores, suscitando impactos sobre o meio urbano e uma 
maior pressão social para atendimento das demandas por serviços públicos e 
infraestrutura. As limitações e dificuldades do Estado em atender tais deman-
das fazem surgir os problemas ambientais urbanos, as ocupações irregulares 
(Figura 2) e os impactos sobre o meio ambiente natural.
Figura 2 – Ocupação irregular em áreas ambientais.
Fonte: teguhjatipras/iStockphoto.
Geografia Urbana
– 136 –
Também contribui para a insustentabilidade urbana a individualização 
das demandas, como a preferência por automóveis em detrimento dos trans-
portes públicos, residências unifamiliares ao invés de apartamentos e residên-
cias coletivas e o aumento do consumo, que eleva a produção de resíduos. 
O desafio para os gestores municipais, desse modo, é a procura por soluções 
de transporte, habitação e serviços urbanos que permitam a interação das 
demandas coletivas e individuais no equilíbrio do meio urbano.
Os países subdesenvolvidos apresentam um cenário mais complexo, pois 
sua urbanização desordenada é fruto da concentração de renda e da desigual-
dade social, gerando impactos ambientais, prevalência de soluções urbanas 
individualistas e dificuldades de atendimento das demandas da população. 
Nesses países, as cidades precisam buscar um equilíbrio entre o atendimento 
das demandas, o desenvolvimento econômico e a preservação do meio 
ambiente. No caso brasileiro, as migrações populacionais contribuíram para 
o aumento das ocupações irregulares, ampliando as áreas que não contam 
com uma regulação do Estado. Por outro lado, a indústria da construção 
civil tem recebido investimentos para atender a necessidade de moradia dos 
grandes centros urbanos, deslocando a população que ocupa as áreas de pre-
servação para áreas urbanizadas, de modo a minimizar o impacto sobre o 
meio ambiente natural.
A fim de auxiliar as cidades no combate às desigualdades sociais e na 
organização do território, o governo brasileiro estabeleceu instituições e ins-
trumentos para ordenar o crescimento e o desenvolvimento urbano. Em 
2001, foi concebido o Estatuto das Cidades, definindo-se instrumentos para 
a gestão territorial e organizando a política urbana. Em 2003, o Ministério 
das Cidades foi criado, com o objetivo de auxiliar os municípios na ampliação 
do acesso à moradia, saneamento e transporte. Mesmo com o aparato institu-
cional, esse desafio passa por questões de articulação entre as esferas federal, 
– 137 –
Urbanização e sustentabilidade
estadual e municipal para a efetivação plena das políticas públicas, muitas 
vezes desenhando políticas que não contemplam a preservação ambiental.
A cultura urbana no Brasil também é outro desafio a ser enfrentado, pois 
a visão de progresso é percebida com a verticalização dos espaços e a expan-
são do sistema viário, construindo um cenário de modernidade que não tem 
relação com um ambiente sustentável.
8.3.3 Cidades sustentáveis
Cidades sustentáveis são aquelas que adotam políticas públicas que equi-
libram o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental, visando 
desenvolver processos e modelos de gestão mais eficientes. Por caracterís-
tica, essas cidades tendem a ser planejadas e organizadas, com uma gestão 
que privilegia práticas sustentáveis, como as ações para reduzir a poluição 
ambiental e os efeitos do aquecimento global, transporte público de quali-
dade e novas fontes de energia limpa. Além disso, busca-se, nesses espaços 
urbanos: o desenvolvimento de modelos mais eficientes de transporte, com 
incentivo ao uso de bicicletas, maiores espaços para os pedestres e redução 
do tráfego de veículos; a reciclagem e destinação correta do lixo coletado; o 
desenvolvimento de modelos econômicos harmonizados com a justiça social 
e o meio ambiente; as práticas para uso racional da água; a arborização das 
ruas e ampliação de parques e áreas verdes (LEITE; AWAD, 2012).
Entre as cidades brasileiras consideradas sustentáveis, podemos citar as 
que se destacam por seu planejamento urbano, como Curitiba (PR) e Brasília 
(DF); pelas políticas ambientais, como João Pessoa (PB) e Paragominas 
(PA); ou pela política de coleta de lixo, Londrina (PR); entre outras. No 
âmbito mundial, temos outros exemplos, como Barcelona (Espanha), reco-
nhecida pelas políticas de mobilidade urbana e pelo uso de energia solar, ou 
Copenhague (Dinamarca), que se destaca pelo incentivo ao uso de bicicletas 
como solução para a melhoria do trânsito e do tráfego na cidade.
Geografia Urbana
– 138 –
Figura 3 – Parque Tanguá, na cidade de Curitiba (PR): exemplo de utilização 
de planejamento urbano com preservação do meio ambiente.
Fonte: Detanan/iStockphoto.
Exemplos de cidades com práticas sustentáveis no Brasil:
 2 Palhoça (SC) – destaque para o planejamento imobi-
liário sustentável.
 2 Campinas (SP) – referência na produção e utilização de 
tecnologias verdes.
 2 Curitiba (PR) – planejamento urbano voltado para a 
sustentabilidade.
 2 Afuá (PA) – desenvolvimento de sistema de mobili-
dade cicloviário.
 2 Santana do Paranaíba (SP) – cooperativa de catadores.
 2 Londrina (PR) – eficiente programa de coleta seletiva 
do lixo.
Exemplos de cidades com práticas sustentáveis no mundo:
 2 Barcelona (Espanha) – mobilidade urbana e grande 
uso de energia solar.
 2 Copenhague (Dinamarca) – excelente na infraestru-
tura para o uso de bicicletas.
 2 Freiburg (Alemanha) – programas eficientes voltados 
para o uso racional de veículos automotores.
– 139 –
Urbanização e sustentabilidade
 2 Amsterdã (Holanda) – mobilidade urbana.
 2 Viena (Áustria) – prioridade para a compra de produ-
tos ecológicos por parte da prefeitura.
 2 Zaragoza (Espanha) – sistema eficiente voltado para a 
economia de água.
 2 Thisted (Dinamarca) – 100% de uso de energia 
sustentável.
Fonte: BRASIL, 2016; LEITE, 2017.
Ampliando seus conhecimentos
Insustentabilidade urbana
(JORDÃO FILHO; OLIVEIRA, 2013, p. 60-63)
O processo de urbanização experimentada pela maioria das 
grandes cidades veio acompanhado do fenômeno da “fave-
lização”. Devido ao grande contingente populacional que 
migrou do campo ou de outras cidades em direção aos gran-
des centros, as cidades não conseguiram absorver tal popula-
ção com infraestrutura adequada, levando parte desse grupo a 
ocupar áreas de riscos como pontes, túneis, viadutos, encos-
tas, terrenos de terceiros e propriedades ilegais. De acordo 
com Leite & França (2007, p. 140), “estes fatores têm resul-
tado em cidades precárias e caóticas, apontando para uma 
problemática econômica, ambiental e social”. [...]
Tendo surgido como uma resposta aos problemas enfrentados 
pelas cidades, o planejamento urbano marca uma mudança na 
forma de encarar a cidade e seus problemas. O surgimento 
de cidades sem um adequado planejamento de infraestrutura 
reflete negativamente na qualidade de vida dos moradores.
Geografia Urbana
– 140 –
A busca da sustentabilidade urbana tem se constituído num 
dos maiores desafios da atualidade e está associada ao desen-
volvimento e às políticas urbanas. [...]
Sustentabilidade urbana: novas represen-
tações sobre as cidades
Em um planeta com população cada vez mais urbana e com 
cidades cada vez maiores, é necessário desenvolver mode-
los de sustentabilidade urbana capazes de alinhar o desen-
volvimento desses espaços com o respeito aos princípios da 
sustentabilidade, pois as cidades são elementos-chave para o 
desenvolvimento sustentável global.
Sem um adequado planejamento de infraestrutura, o apa-
recimento de cidades pode refletirnegativamente tanto na 
qualidade ambiental, quanto na qualidade de vida dos mora-
dores. Os fatores anteriormente destacados, quando aliados 
à concentração e à desigualdade de renda, entre outras con-
sequências podem provocar distúrbios e inseguranças sociais, 
insuficiência na oferta de infraestrutura e serviços urbanos ade-
quados, como também a degradação ambiental. (MOURA 
et al., 2005).
A sustentabilidade urbana é um tema que tem sido bastante 
discutido em diversos meios, entre eles o científico. Assumiu 
dimensões econômicas, sociais e ambientais, buscando emba-
sar uma nova forma de desenvolvimento, que possa atender 
as necessidades da geração atual, mas sem comprometer as 
necessidades das gerações futuras. Em virtude dos diversos 
problemas ambientais, a sustentabilidade urbana tem se consti-
tuído num dos maiores desafios da atualidade e está associada 
ao desenvolvimento das políticas urbanas.
De acordo com Sachs (1993 apud Jesus & Sousa, 2007, 
p. 3), “no planejamento do desenvolvimento sustentável é 
– 141 –
Urbanização e sustentabilidade
necessário considerar, simultaneamente, as seguintes dimen-
sões da sustentabilidade”, conforme mostra o Quadro 02.
O desenvolvimento econômico sustentável demanda uma 
gestão ambiental planejada que possa orientar, de forma ade-
quada, a ocupação territorial por parte das atividades produti-
vas, bem como a utilização dos recursos naturais de forma res-
ponsável. A conscientização uma ferramenta indispensável, 
capaz de transformar o indivíduo em relação à importância da 
sustentabilidade, pois um indivíduo consciente surge de um 
processo gradual e contínuo de educação em todos os cam-
pos em que atua. O alcance da sustentabilidade é um pro-
cesso que depende da consciência ecológica da sociedade, 
bem como dos governos nas suas representações municipal, 
estadual e federal.
Quadro – dimensões da sustentabilidade
Sustentabilidade 
social
Tem como finalidade a melhoria das 
condições de vida da população. Busca 
a equidade dos direitos e a redu-
ção das diferenças entre os padrões 
de vida dos ricos e dos pobres.
Sustentabilidade 
econômica
Por meio da alocação e gerencia-
mento eficiente dos recursos, deve ser 
mais avaliada sob critérios macros-
sociais, ao invés do microempresa-
rial, além dos fluxos contínuos de 
investimentos públicos e privados.
Sustentabilidade 
ecológica
Pode ser melhorada por meio de 
medidas de intensificação de pesqui-
sas com vistas à adoção de tecno-
logias limpas, de modo a otimizar 
a utilização dos recursos em favor 
do desenvolvimento urbano, rural e 
industrial, como também por meio de 
medidas que estabeleçam regras para 
uma adequada proteção ambiental.
Geografia Urbana
– 142 –
Sustentabilidade 
espacial
Tem por finalidade o equilíbrio da 
configuração rural-urbana, como 
também uma melhor distribuição 
do território, no tocante à economia 
e aos assentamentos humanos.
Sustentabilidade 
cultural
Tem por objetivo a busca de con-
cepções endógenas de desenvolvi-
mento, entendendo ecodesenvolvi-
mento como conjunto de soluções 
que considera as peculiaridades 
locais, culturais e ecossistêmicas
Fonte: SACHS (1993 apud JESUS & SOUSA 2007, p. 03)
[...]
Atividades
1. Aplicando os conhecimentos da teoria da localização industrial, faça 
uma pesquisa e explique os motivos que levaram à concentração eco-
nômica no eixo Sul e Sudeste do Brasil.
2. As características da economia urbana definem fatores de atração e 
repulsão que contribuem para o processo de urbanização. Com base 
nesse contexto, pesquise sobre a construção da cidade de Brasília, DF, 
e, depois, descreva sua importância para a urbanização brasileira.
3. O Brasil apresenta uma concentração populacional na zona costeira 
do país, faixa de localização de grandes centros urbanos. Destaque os 
impactos da ocupação dessas regiões para o meio ambiente local.
– 143 –
Gabarito
Gabarito
Geografia Urbana
– 144 –
1. Conceitos iniciais de Geografia Urbana
1. Nessa questão, você pode apresentar uma sequência ou um fluxo vi-
sualmente mais explicativo, contendo:
 2 mecanização da atividade agrícola;
 2 desemprego e migração para as cidades (em busca de emprego);
 2 falta de emprego ou empregos com baixos salários nas cidades;
 2 aumento da demanda por serviços públicos de habitação, sanea-
mento, transporte, saúde e educação;
 2 oferta insuficiente de serviços públicos para atendimento da 
nova demanda;
 2 impactos na urbanização: ocupações irregulares e crescimento 
urbano desordenado.
2. Você pode apresentar diversos territórios existentes, como:
 2 território do narcotráfico;
 2 território do hip-hop;
 2 território dos estudantes;
 2 território dos comerciantes;
 2 território da alta classe;
 2 entre outros.
3. O desenvolvimento econômico das grandes cidades faz com que elas 
criem mais riquezas e atraiam mais empresas e investimentos. Dessa for-
ma, trabalhadores de outras regiões migram para esses centros, os quais 
vão demandar mais alimentos, insumos e matérias-primas do campo. 
Com menos pessoas e menos recursos, as cidades rurais vão ampliar a 
produção para atender a demanda da cidade e, com isso, continuar na 
zona de periferia, como fornecedora de insumos para o centro.
– 145 –
Gabarito
2. Desenvolvimento da Geografia Urbana
1. A utilização das tecnologias digitais para as relações sociais e econô-
micas diminui a interação do indivíduo com o espaço urbano cons-
truído, reduzindo também sua identidade com o bairro e com a cida-
de, ampliando os não lugares.
2. Poluição dos rios, contaminação dos lençóis freáticos, desmatamen-
to de áreas de proteção ambiental, acúmulo de lixo e sujeira, além 
do perigo causado pela precariedade das moradias. Ademais, há a 
ausência de equipamentos urbanos e serviços públicos, gerando 
problemas sociais.
3. Conforme ocorre a evolução da função das cidades (política, comer-
cial e indústria), aumenta a necessidade de organização do espaço 
urbano. Assim, uma cidade industrial tem mais necessidade de or-
ganização de seu espaço urbano do que uma cidade política, pois 
apresenta uma maior concentração populacional e maior demanda 
por serviços públicos e equipamentos urbanos.
3. Estudo do crescimento das cidades
1. As cidades brasileiras encontram-se, no século XXI, no terceiro está-
gio de crescimento, apresentando uma redução da taxa de natalidade, 
com uma estabilidade no crescimento populacional.
2. Os investimentos em saúde levam à conscientização e adoção de métodos 
contraceptivos, bem como à redução das taxas de mortalidade. Os investi-
mentos em educação levam à uma conscientização sobre questões relacio-
nadas a métodos contraceptivos e melhores cuidados na relação sexual. A 
educação leva também a uma maior inserção da mulher no mercado de 
trabalho, reduzindo a taxa de natalidade no país.
Geografia Urbana
– 146 –
3. As primeiras cidades se localizam próximas aos grandes centros urba-
nos, devido aos fatores de atração destes, como o acesso a mercados 
consumidores e a proximidade às vias de escoamento, como rodovias, 
ferrovias, portos e aeroportos. A existência de instituições de ensi-
no e pesquisa também fortalece esse poder de atração, assim como a 
concentração de indústrias na região. Como essas cidades estão loca-
lizadas extremamente próximas a esses centros, os investimentos se 
direcionam para esses municípios.
4. As relações econômicas no processo urbano
1. Conforme vai se expandindo o processo de urbanização, com inves-
timentos de capital público e privado na melhoria do espaço, o valor 
da terra se eleva, ficando inviável sua aquisição pelos grupos mais 
carentes. Nesse caso, para atenderem sua necessidade de moradia, eles 
procuram os pontos mais distantes, onde o preço da terraé menor.
2. Quanto mais urbanizado é o local, maior é o impacto ao meio am-
biente, devido à concentração de veículos, à poluição difusa, à polui-
ção do ar e dos lençóis freáticos etc., fazendo com que seja necessária 
uma atuação mais dinâmica dos gestores da cidade.
3. O Estado, por meio de instrumentos legais, pode organizar o uso do 
solo definindo áreas para ocupação de atividades econômicas, sociais 
e de lazer. Por meio de políticas públicas de habitação, pode também 
fomentar a ocupação do solo urbano pelos grupos mais carentes. Nos 
espaços onde o preço da terra é mais alto, o Estado pode intervir, 
criando áreas de lazer e convivência, para que todos os habitantes 
possam ocupar a cidade.
– 147 –
Gabarito
5. Processo de formação e 
urbanização das cidades
1. Os fatores que impulsionam a urbanização mundial são a industria-
lização, a busca por melhor qualidade de vida nas cidades e o êxodo 
rural, provocado, entre outros fatores, pela mecanização do campo.
2. Como problemas relacionados à dinâmica do espaço urbano das me-
gacidades, há a favelização, o aumento da criminalidade e a precá-
ria infraestrutura de moradia, educação, saúde, transporte coletivo e 
saneamento básico, além de problemas de ordem ambiental, como 
poluição do ar e da água, lixo urbano e enchentes.
3. Com o êxodo rural, o contingente populacional aumentou conside-
ravelmente, favorecendo o processo de favelização e de carência de 
saneamento e infraestrutura urbana.
6. Planejamento e políticas urbanas
1. O planejamento urbano é uma forma de atuação da gestão municipal 
para resolver os problemas urbanos causados pela formação e expan-
são das cidades. A política urbana, por sua vez, trata do arcabouço 
legal necessário para o ordenamento e a organização do território.
2. As cidades apresentam um cotidiano de pressa, urgência e velocidade 
nos deslocamentos, formando uma cultura urbana. O migrante que 
chega às cidades precisa se adaptar a essa cultura para poder entender 
o modo de vida da sociedade urbana.
3. Com a formação de novos núcleos advindos do processo de descen-
tralização, há uma redução das distâncias, diminuindo o tráfego nes-
sas regiões devido à melhor utilização do transporte público. Por sua 
Geografia Urbana
– 148 –
vez, a redução do tráfego leva à diminuição dos congestionamentos 
nos espaços entre a área central e os novos núcleos.
7. A produçao do espação urbano 
e das redes urbanas
1. Como as grandes cidades e as capitais industrializadas se desenvolve-
ram e urbanizaram mais rapidamente, aumentou-se a concentração 
populacional e a demanda pela terra, elevando o preço dos imóveis. 
E como a atividade industrial precisa de terrenos amplos e baratos 
(características não encontradas nas cidades urbanizadas), a atividade 
industrial desloca-se para as demais cidades, onde há a disponibilida-
de de terra e preços mais baratos.
2. As metrópoles nacionais são cidades que apresentam redes urbanas 
desenvolvidas, com disponibilidade de infraestrutura de comunica-
ção e transportes. Devido a isso, apresentam vantagens locacionais, 
como a existência de boa infraestrutura e localização privilegiada, que 
não são encontradas nas metrópoles regionais.
3. As favelas geralmente se localizam em áreas periféricas de baixo valor, 
sem melhorias urbanas, como parques e áreas verdes, e estabelecidas 
de forma desordenada e sem planejamento. Essas áreas também se 
notabilizam pela baixa oferta de equipamentos públicos e a reduzida 
disponibilidade de infraestrutura. Diante disso, alguns problemas se 
apresentam: ausência de saneamento básico, esgoto tratado e coleta 
de lixo; reduzido acesso à água tratada e energia elétrica; habitações 
precárias e em áreas de risco, comprometendo a qualidade de vida e 
contribuindo para o aumento das enfermidades entre a população 
dessas áreas. Além disso, há problemas de mobilidade urbana, com 
reduzida oferta de transporte público e acesso à cidade.
– 149 –
Gabarito
8. Urbanização e sustentabilidade
1. O Sul e o Sudeste são as regiões tradicionalmente mais urbanizadas 
do país, em decorrência da maior industrialização e do desenvolvi-
mento do setor terciário, bem como a modernização agropecuária. 
Nessas regiões estão concentrados os grandes mercados consumidores 
e os grandes centros produtores e, devido a isso, concentram-se tam-
bém as universidades e os centros de pesquisa, qualificando a mão de 
obra. Por consequência, atraem-se novos investimentos e se fortalece 
o processo de concentração econômica no Sul e Sudeste.
2. Dentre as razões do desenvolvimento de Brasília, podemos destacar: 
estimular a ocupação e a integração econômica e humana do interior 
do país; diminuir a vulnerabilidade a agressões externas da capital, 
deslocando-a do litoral para o interior; colaborar para uma maior in-
tegração do território nacional, localizando o centro político do país 
numa área mais central; e afastar o centro de decisão política da pres-
são dos grandes aglomerados populacionais, incentivando a interiori-
zação do processo de urbanização.
3. Entre os impactos que a ocupação das áreas contíguas à linha de cos-
ta provoca no ambiente costeiro, estão a alteração ou destruição da 
forma do ambiente natural, das paisagens e dos ecossistemas costeiros 
(mangues, recifes, restingas, dunas), além da poluição das águas e da 
erosão das praias. Há, ainda, os impactos das ocupações irregulares 
decorrentes da falta de infraestrutura e serviços básicos, como cole-
ta de lixo e esgoto, e os problemas da vulnerabilidade desses locais, 
como a possibilidade de enchentes e deslizamentos.
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Djalma de Sá
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d
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S
á
Esta obra tem por objetivo organizar o estudo da Geografia Urbana como 
instrumento de compreensão do cenário urbano atual e das relações sociais e 
econômicas do homem com a cidade. Busca-se compreender as cidades, ten-
do por fundamento conceitos como espaço urbano, território e lugar, fazendo 
uma conexão da disciplina com outras áreas de estudo. Desse modo, espera-
mos que você, leitor, tenha uma visão multidisciplinar da Geografia e um melhor 
entendimento da relação do homem com o espaço.
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6305-5
9 788538 763055
CAPA_Geografia Urbana.indd 1 26/05/2017 11:03:11
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