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Livro - Geografia Urbana

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GEOGRAFIA URBANA
Djalma de Sá
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Esta obra tem por objetivo organizar o estudo da Geografia Urbana como 
instrumento de compreensão do cenário urbano atual e das relações sociais e 
econômicas do homem com a cidade. Busca-se compreender as cidades, ten-
do por fundamento conceitos como espaço urbano, território e lugar, fazendo 
uma conexão da disciplina com outras áreas de estudo. Desse modo, espera-
mos que você, leitor, tenha uma visão multidisciplinar da Geografia e um melhor 
entendimento da relação do homem com o espaço.
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6305-5
9 788538 763055
CAPA_Geografia Urbana.indd 1 26/05/2017 11:03:11
Djalma de Sá
IESDE BRASIL S/A
Curitiba
2017
Geografia Urbana
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S111g Sá, Djalma de
Geografia urbana / Djalma de Sá. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE 
Brasil, 2017.
160 p. : il. 
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-387-6305-5
1. Geografia urbana - Brasil. I. Título.
17-41731 CDD: 327
CDU: 327
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
© 2017 – IESDE Brasil S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer 
processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais.
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Produção
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão IESDE
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Capa Vitor Bernardo Backes Lopes
Imagem Capa brainpencil/Shutterstock.com
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Sumário
 Carta ao Aluno | 5
1. Conceitos iniciais de Geografia Urbana | 7
2. Desenvolvimento da Geografia Urbana | 25
3. Estudo do crescimento das cidades | 43
4. As relações econômicas no processo urbano | 59
5. Processo de formação e urbanização das cidades | 77
6. Planejamento e políticas urbanas | 93
7. A produção do espação urbano e das redes urbanas | 109
8. Urbanização e sustentabilidade | 125
 Gabarito | 143
 Referências | 151
Carta ao aluno
O Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que 84% da 
população brasileira vive em áreas urbanas, demonstrando uma forte 
aglomeração populacional nas cidades. O Brasil apresenta maior 
grau de urbanização quando comparado a outros países emergentes 
– a Rússia apresenta uma taxa de 73%, a China, 47% e a Índia, ape-
nas 30%. Inclusive nos Estados Unidos percebe-se que há um grau 
de urbanização um pouco menor que o do Brasil: 82%.
Esses números demonstram um forte processo de concen-
tração populacional que, consequentemente, gera impactos na for-
mação e expansão das cidades, na estruturação das redes urbanas e 
nas configurações regionais. Por outro lado, apresentam-se desafios 
para o atendimento de novas demandas, como a organização e dis-
tribuição do espaço urbano, o processo de expansão das cidades e a 
estruturação de novas redes urbanas.
– 6 –
Geografia Urbana
Com base nesse contexto, esta obra tem por objetivo organizar o estudo 
da Geografia Urbana como instrumento de compreensão desse novo cenário 
urbano e das relações sociais e econômicas do homem com a cidade. Busca-se 
compreender as cidades tendo por fundamento conceitos como espaço urbano, 
território e lugar, fazendo uma conexão da disciplina com outras áreas de 
estudo e possibilitando, desse modo, uma visão multidisciplinar da Geografia 
e um melhor entendimento da relação do homem com o espaço.
Este livro está assim estruturado: o Capítulo 1 trata de conceitos ini-
ciais de Geografia Urbana, destacando seus fundamentos e as relações com o 
processo histórico de formação da disciplina. O Capítulo 2 aborda o desen-
volvimento da Geografia Urbana, observando o papel e a importância do 
estudo do meio urbano; já o Capítulo 3 estuda o crescimento das cidades, 
destacando as teorias do crescimento urbano. No Capítulo 4, são estudadas 
as relações econômicas no processo urbano, enfocando-se as interações da 
economia com o espaço, ao passo que o Capítulo 5 destaca o processo de 
formação e urbanização das cidades. O Capítulo 6 discute o planejamento e 
as políticas urbanas e seus impactos nas cidades, enquanto o Capítulo 7 trata 
do estabelecimento das redes urbanas. Por fim, no Capítulo 8 é proposta uma 
discussão sobre as relações da cidade com a sustentabilidade e os impactos da 
urbanização no meio ambiente.
Esperamos que você utilize esta obra para seu crescimento acadêmico e 
profissional, a fim de fazer a diferença no mercado de trabalho e em seu dia 
a dia. 
Desejamos uma boa leitura!
Conceitos iniciais de 
Geografia Urbana
Introdução
A GeoGrafia Urbana é a área da ciência geográfica que tem 
como objetivo o estudo da formação das cidades, da estruturação 
do meio urbano, descrevendo e analisando temas como a urbani-
zação, a metropolização e as redes urbanas, o processo de formação 
das cidades e o ordenamento espacial do território e suas diversas 
classificações e tipificações. Para simplificar o entendimento, pode-
-se dizer que a Geografia Urbana tem como objetivo o estudo do 
espaço urbano.
Para melhor compreensão dessa área da geografia, a dis-
ciplina apresenta uma interdisciplinaridade com outras ciências, 
como a política, a economia, a demografia, a arquitetura e urba-
nismo e outras que contribuem para sua construção.
1
Geografia Urbana
– 8 –
1.1 A questão urbana na geografia
1.1.1 O espaço urbano na geografia
Em termos gerais, pode-se dizer que o espaço urbano pode ser entendido 
como o uso do solo nas cidades, onde se desenvolve um conjunto de atividades 
que ocorrem em uma mesma conformação territorial. Entende-se que essas 
atividades são estabelecidas pelas relações sociais e de produção, isto é, nesse 
espaço as pessoas vivem, trabalham e estabelecem suas relações econômicas.
Nesse espaço ocorrem também as relações políticas, pois a organização e 
a conformação do território se dão por práticas de políticas públicas, cabendo 
ao Estado e aos demais formadores do espaço o ordenamento territorial do 
espaço urbano.
É preciso, no entanto, estabelecer a diferença conceitual entre o urbano 
e a cidade, isto é, nem toda cidade é urbana, mas o urbano ocorre nas cida-
des. O IBGE define que cidades com população inferior a 20 mil habitantes 
são caracterizadas como espaço rural. Geralmente se conceitua como espaço 
rural, o município com uma pequena quantidade de habitantes e com baixa 
dinâmica econômica.
Dessa forma, pode-se entender que o espaço urbano é produzido com 
base nas relações econômicas, isto é, o processo econômico tem seus reflexos nas 
cidades e na transformação do espaço, constituindo, assim, a cidade capitalista. 
No entanto, se a formação do espaço urbano tem início nas relações econômi-
cas, ele é apropriado pelas relações sociais vivenciadas pela coletividade.
Assim, o espaço urbano é o palco de diversas interações sociais e econô-
micas e a expressão da base territorial para o desenvolvimento do capitalismo. 
Ao produzirem o espaço urbano, os sujeitos sociais determinam a base de suas 
relações, constituindo a ação política e a materialidade, experiências de vida e 
atitude cidadã (SANTOS, 2007).
Devido à diferenciação das relações sociais, o espaço urbano passa a 
ser fragmentado, condicionando tais relações e sendo ao mesmo tempo um 
reflexo delas. Assim, esse espaço pode ser compreendido como uma arena 
de lutas entre as diversas classes sociaisque formam esse espaço. Ou seja, a 
– 9 –
Conceitos iniciais de Geografia Urbana
organização do espaço representa o resultado das lutas das classes sociais esta-
belecidas na cidade (CORRÊA, 2006).
As relações sociais historicamente construídas definem essa organiza-
ção do espaço das cidades em um determinado período histórico. Assim, no 
decorrer do tempo, o espaço precisa ser novamente ordenado, para atender às 
novas características do desenvolvimento da localidade.
Uma das características marcantes do espaço urbano, se comparado ao 
espaço rural, é a significativa presença de diferentes formas espaciais, mate-
rializadas no uso do solo urbano. Se no espaço rural o solo é destinado basi-
camente para a atividade econômica agrícola, no espaço urbano o uso do 
solo é diverso tanto para as relações econômicas, quanto para as relações 
sociais, definindo desse modo, um caráter heterogêneo à utilização do espaço 
(CORRÊA, 2006).
Assim, como conceituação final, pode-se citar as palavras do geógrafo 
Milton Santos: “O espaço deve ser considerado como um conjunto indisso-
ciável de que participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, 
objetos naturais e objetos sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os 
anima, ou seja, a sociedade em movimento” (SANTOS, 1997, p. 26).
1.1.2 O conceito de território na geografia
O território é um conceito muito utilizado e bastante difundido no 
estudo da Geografia Urbana, pois está estreitamente relacionado aos pro-
cessos de construção e transformação do espaço geográfico. A terminologia 
adota várias definições, conforme a corrente de pensamento defendida, mas 
existe um ponto comum entre todos os pensadores: território trata do espaço 
apropriado com base nas relações de poder.
Um dos pioneiros no estudo do conceito de território foi Friedrich Ratzel 
(1844-1904), que defendia a ideia de que tal conceito está vinculado ao poder 
e ao domínio exercido pelo Estado, definindo uma identidade da sociedade 
vinculada à expressão do território. No conceito jurídico, define-se território 
como um dos pilares para a existência do Estado: território, população e sobe-
rania. O Estado somente existe ao exercer sua soberania sobre sua população 
dentro do seu território (CARVALHO, 1997).
Geografia Urbana
– 10 –
O geógrafo suíço Claude Raffestin (1936-1971) também discutiu o 
conceito de território ressaltando a primazia anterior do conceito de espaço 
na geografia. Assim, Raffestin via o território como o espaço apropriado e 
construído pelas relações de poder. A expressão dessas relações se dá em todas 
as relações de poder, definindo diversos territórios dentro do mesmo espaço 
urbano (SANTOS, 1994).
Atualmente, a geografia entende território como um espaço delimitado 
por fronteiras, que nem sempre são visíveis, expresso e imposto pelas relações 
de poder. O geógrafo Marcelo Lopes de Souza (2003) cita que nem sempre 
o processo de formação territorial ocorre por meio de expressões concretas 
sobre o espaço. Souza evidencia a existência de múltiplas territorialidades 
dentro das cidades, como o território do narcotráfico, do comércio ambu-
lante, entre outros.
Para Haesbaert (1997, p. 18), o território é analisado a partir de três 
enfoques: 1) jurídico-político, segundo o qual “o território é visto como um 
espaço delimitado e controlado sobre o qual se exerce um determinado poder, 
especialmente o de caráter estatal”; 2) cultural(ista), que “prioriza dimensões 
simbólicas e mais subjetivas, o território visto fundamentalmente como pro-
duto da apropriação feita através do imaginário e/ou identidade social sobre o 
espaço”; 3) econômico, “que destaca a desterritorialização em sua perspectiva 
material, como produto espacial do embate entre classes sociais e da relação 
capital-trabalho”.
Robert Sack (1986) afirma a territorialidade como estratégia de con-
trole, chamando atenção para suas multiescalas (das relações espaciais de uma 
casa às de países) e para a variação temporal (territórios diferenciados em 
partes diferentes de um dia, por exemplo) definindo o conceito de geografia 
do poder. Bonnemaison busca uma aproximação dos conceitos de território 
e de lugar, pois, para ele,
um território, antes de ser uma fronteira, é um conjunto de lugares 
hierárquicos, conectados por uma rede de itinerários [...]. No interior 
deste espaço-território os grupos e as etnias vivem uma certa ligação 
entre o enraizamento [...]. A territorialidade se situa na junção destas 
duas atitudes: ela engloba ao mesmo tempo o que é fixação e o que 
é mobilidade ou, falando de outra forma, os itinerários e os lugares. 
(BONNEMAISON, 1981 apud HOLZER, 1997, p. 83)
– 11 –
Conceitos iniciais de Geografia Urbana
Por sua vez, Milton Santos (1994) explorou o conceito de território 
usado, segundo o qual o território não é organizado somente pelo Estado ou 
pelas relações sociais, não estando, assim, delimitado apenas pelas relações de 
poder. Para Santos (1997), o território é um sistema de ações que os agentes 
utilizam para se apropriar do espaço. O território usado é constituído pelo 
território forma – espaço geográfico do Estado – e seu uso, apropriação, pro-
dução, ordenamento e organização pelos diversos agentes que o compõem: as 
firmas, as instituições e as pessoas.
1.1.3 O conceito de urbano na Geografia
Apesar de as diferenças entre urbano e rural serem facilmente identifi-
cáveis, torna-se difícil defini-los conceitualmente. Para Bernardes, Santos e 
Nalcacer (1983, p. 6), “o conceito mais comum de urbano refere-se à concen-
tração, num ponto de espaço, de construções e de pessoas que não exerçam 
atividades rurais (ou que o façam em uma proporção reduzida em relação às 
atividades urbanas) desempenhadas no interior desse espaço concentrado” .
Da mesma forma, a urbanização é a passagem do rural para o urbano, 
seja no aspecto estrutural do espaço, na questão demográfica, no ordena-
mento do território ou no próprio estabelecimento das relações sociais e de 
produção (SANTOS, 1996).
No aspecto comportamental, a geografia da percepção ou comportamental 
entende que os sentimentos de solidariedade e de grupo dão lugar à segregação 
do espaço urbano e das relações sociais, juntamente com os estudos da geografia 
humana. No aspecto estrutural, sabe-se que a cidade se organiza com base nas 
condições sociais e econômicas, ampliando a complexidade das relações. Já em 
relação ao aspecto demográfico, o urbano apresenta a condição de concentração 
populacional, devido ao processo de atração das cidades em função da comple-
xidade das relações de produção, por meio do estudo da geografia da população.
Para Léfèbvre (2004), o conceito de urbano está vinculado ao processo 
de construção capitalista do espaço, sem ser, no entanto, um produto da 
industrialização. De acordo com o autor, o urbano é o espaço construído para 
o estabelecimento das relações sociais e de produção, e, portanto, produto do 
humano. Para Castells (1983), o urbano é produto da evolução das formas 
espaciais, gerando uma independência das relações geográficas e uma maior 
Geografia Urbana
– 12 –
interação entre as forças produtivas, sociais e culturais. Assim, é no urbano 
que as pessoas se relacionam, trabalham e consomem.
Nesses modelos apresentados, entende-se que a urbanização vai além 
das cidades, pois mesmo quem mora em áreas rurais desloca-se às áreas urba-
nas para as relações de produção, como comprar, consumir ou investir. Esse 
entendimento pode ser melhor definido ao se observar pequenos municí-
pios com predominância de áreas rurais, os quais estabelecem relações com o 
urbano, seja vendendo a produção, seja consumindo bens e produtos forne-
cidos em grande escala pelas cidades.
Resumindo:
Espaço urbano é a organização espacial da 
cidade, que corresponde ao uso do solo, onde 
se desenvolve um conjuntode atividades. Esse 
espaço fragmentado pelas relações sociais apre-
senta, também, uma articulação, pois cada uma 
das partes mantém relações com as demais.
Território é a ocupação do espaço urbano, 
com base nas relações de poder impostas; 
assim, quem manda em determinada região 
também domina determinado território.
1.2 Elementos das geografias clássica 
e contemporânea e suas relações 
com a Geografia Urbana
1.2.1 O objeto de estudo da geografia clássica
A ciência da geografia tem como foco de estudo as relações existentes 
entre os aspectos físicos, biológicos e humanos, bem como as características 
inter-relacionadas entre esses aspectos. Estuda, também, a organização do 
– 13 –
Conceitos iniciais de Geografia Urbana
espaço, constituída pelos diversos elementos da paisagem geográfica, como 
natureza, cultura e demais aspectos espaciais (BEZZI, 2004).
O espaço geográfico compreende dois conceitos de natureza bastante 
distintas:
 2 Espaço natural: É o espaço sem interferência antrópica (do 
homem), o qual mantém suas características naturais, conforme 
demonstrado pela imagem abaixo. Como exemplo, tem-se as flo-
restas fechadas, o fundo dos mares, entre outros.
Figura 1 – Espaço natural: vista aérea da Floresta Amazônica.
Fonte: Ildo Frazão/iStockphoto.
 2 Espaço construído: É o espaço modificado pelas atividades huma-
nas, em que o aspecto natural foi alterado por interferências antró-
picas. Como exemplo, tem-se as cidades, as praças, os portos e 
aeroportos, entre outros, configurando espaços de grande concen-
tração e densidade, conforme demonstrado na imagem a seguir. 
Resulta das interações socioeconômicas, da produção da sociedade, 
e é fruto das relações sociais e de produção. O espaço construído 
tem como atores principais os proprietários dos meios de produção 
e o Estado, que almejam a acumulação do capital e a reprodução da 
força de trabalho (CORRÊA, 1982).
Geografia Urbana
– 14 –
Figura 2 – Cidade de Nova Iorque, EUA: espaço construído e densamente 
ocupado.
Fonte: TomasSereda/iStockphoto.
Outro conceito bastante difundido na geografia é o conceito de espaço 
geográfico (Figura 3). Assim como o espaço construído, ele é resultado do 
processo de transformação do espaço natural. É composto pelas cidades (meio 
urbano) e pelas fazendas e propriedades do campo (meio rural).
Figura 3 – Espaço geográfico.
Fonte: filipefrazao/iStockphoto.
– 15 –
Conceitos iniciais de Geografia Urbana
1.2.2 Abordagens da geografia 
clássica e da contemporânea
A Escola Determinista defendia a ideia de que o meio natural influen-
cia totalmente o homem, ou seja, são as condições naturais que determinam 
a vida em sociedade. A partir dessa visão desenvolveu-se o conceito de espaço 
vital, que definiria as condições espaciais e naturais para que o Estado con-
solide o poder sobre seu território. Sendo assim, as populações que apresen-
tavam melhor espaço vital estariam mais aptas a se desenvolver e conquistar 
novos territórios (CARVALHO, 1997).
A Escola Possibilista Francesa se contrapunha à Escola Determinista 
e entendia que a natureza oferece possibilidades para modificar a realidade e 
adequá-la a suas necessidades. Assim, a transformação do espaço fica à cri-
tério da capacidade humana de adaptar-se para atender suas necessidades. 
Dessa forma, algumas condições, como a pobreza de determinada região, não 
seriam consequências da ação da natureza sobre o homem, mas sim da inca-
pacidade social de se criar possibilidades para suprir o que lhe é necessário 
(FERREIRA; SIMÕES, 1986).
O Método Regional é uma contraposição aos dois modelos anteriores 
e tem como base filosófica o estudo das diferenciações das áreas. Compara, 
assim, as similaridades dessas áreas, que definiriam suas classes (regiões), e as 
diferenças, que trariam suas delimitações (MORAES, 2005).
A Nova Geografia nasce após a Segunda Guerra Mundial, quando os 
países passavam por uma fase de expansão capitalista e, assim, a Geografia e 
suas dimensões já não conseguiam explicar o novo desenho geográfico do pla-
neta e suas relações econômicas, sociais e espaciais. Diante desse contexto, a 
Nova Geografia abrange os efeitos das associações do crescimento capitalista e 
os denominados deserdados da terra. Busca-se, nesse momento, compreender a 
conexão entre planejamento governamental, estatística, economia e teoria dos 
sistemas, conhecida também como Geografia Pragmática (MORAES, 2005).
Em meados dos anos de 1970, surgiu a Geografia Crítica, também cha-
mada de radical ou marxista, como resposta aos fenômenos sociais dos Estados 
Unidos. Naquele momento da história, os EUA viviam um período de inten-
sas manifestações em defesa dos direitos civis, nas quais contestavam-se as 
Geografia Urbana
– 16 –
contradições do avanço do capitalismo. Dessa forma, os geógrafos dessa cor-
rente defendem a ideia de que cabe à geografia o estudo dos impactos das rela-
ções sociais sobre o meio e sobre a construção do espaço (MORAES, 2005).
E, por último, tem-se o advento da Geografia Ambiental, que estuda 
os efeitos do homem sobre o espaço natural e seus impactos, como desma-
tamento, poluição dos rios, lagos e mananciais, processos de desertificação, 
mudanças climáticas globais, entre outros (MORAES, 2005).
Percebe-se, claramente, que a geografia migrou de um objeto de estudo 
estático e amplamente conhecido, como os espaços naturais e as fronteiras 
territoriais, para um aspecto mais dinâmico, compreendendo as alterações 
do ambiente devido aos cenários históricos ou sociais. Por exemplo, se na 
geografia clássica estudava-se o rio, seu desenho e seus afluentes, na geografia 
contemporânea estudam-se os efeitos antrópicos sobre esse rio e a relação 
deste com a cidade, tanto em termos de abastecimento de água quanto na 
forma de modal de transporte.
Assim, a Geografia Urbana pode ser entendida como um fruto da Nova 
Geografia, buscando-se compreender a formação dos novos espaços basean-
do-se no contexto social, histórico e econômico das cidades e suas diversas 
conformações e segmentações. Expoente da Geografia Urbana, o já citado 
geógrafo Milton Santos, a partir dos estudos de Nice Lecocq Müller e do 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, deu visibilidade à geografia bra-
sileira e aos estudos da urbanização nos países subdesenvolvidos. A obra de 
Santos e a associação da geografia com as relações sociais e econômicas na 
formação do espaço urbano deu um salto no sentido de se ampliar o objetivo 
dos estudos da Geografia Urbana.
1.2.3 A interdisciplinaridade do 
estudo da Geografia Urbana
A geografia tem uma aproximação com as mais diversas ciências sociais, 
pois analisa a relação do ambiente urbano com o ambiente natural, além 
das relações sociais e econômicas, para compreender as alterações no espaço 
decorrentes dessas associações.
– 17 –
Conceitos iniciais de Geografia Urbana
Para compreensão das relações decorrentes da sociedade, o geógrafo 
precisa recorrer aos conhecimentos da sociologia, analisando as estruturas e 
relações sociais. A antropologia auxilia o geógrafo a compreender as resistên-
cias que os agentes da sociedade apresentam às novas organizações do espaço. 
A economia política ajuda no entendimento do processo de produção do 
espaço por meio das atividades econômicas e de como o espaço urbano se 
adequa a essas conformações. Já no que diz respeito à relação do homem com 
o ambiente, o geógrafo lança mão da psicologia para explicar a representação 
mental do espaço urbano para a sociedade (MORAES, 1989).
1.3 Relação da Geografia Urbana 
com a geografia econômica
1.3.1 A geografia econômica e sua 
relação com as cidades
Geografia econômica é o ramo do conhecimento responsável por com-
preender a lógica da produção e distribuição das atividades econômicas no espaço 
geográfico, a influênciadas estruturas econômicas e produtivas sobre o ordena-
mento espacial e vice-versa. Cabe lembrar que o espaço urbano é construído a 
partir das relações estabelecidas, sejam elas sociais ou econômicas, e, assim, a 
estrutura produtiva pode contribuir com sua formação (MORAES, 2005).
Um exemplo prático de aplicação da geografia econômica foi a Revolução 
Industrial, que se estabeleceu como uma nova estrutura produtiva para aquele 
momento histórico (séc. XVIII). A cidade de Manchester, na Inglaterra, teve 
seu espaço urbano totalmente alterado com a implantação da indústria, o 
que impactou o ambiente natural e atraiu um fluxo migratório para a cidade, 
modificando a paisagem e as condições sociais da população.
Portanto, as atividades econômicas (indústria, comércio, serviços 
ou turismo) alteram as conformações espaciais, caracterizando as cidades 
e dando-lhes diferentes identidades. Beaujeu-Garnier (1997) destaca as 
seguintes caracterizações:
Geografia Urbana
– 18 –
 2 Cidades político-administrativas: nelas se localizam as sedes 
administrativas e parlamentares dos governos. Costumam ter uma 
oferta elevada de emprego na área pública, para o exercício da 
função política. Exemplos: Brasília (Brasil), Washington (EUA), 
Pretória (África do Sul), Ottawa (Canadá) etc.
 2 Cidades religiosas: são as cidades que estruturam suas dinâmi-
cas econômicas em algum tipo de atividade religiosa, atraindo um 
grande número de fiéis, em certo período do ano ou de forma regu-
lar. Exemplos: Jerusalém (Israel), Meca (Arábia Saudita), Aparecida 
do Norte (Brasil), Santiago de Compostela (Espanha), entre outras.
 2 Cidades turísticas: têm como principal dinâmica econômica seus 
aspectos turísticos ou de lazer, seja pelos recursos naturais preservados ou 
pelas possibilidades oferecidas no espaço geográfico urbano. Exemplos: 
Las Vegas (EUA), Porto Seguro (Brasil), Cancun (México), entre outras.
 2 Cidades portuárias: são estruturadas para atender o comércio 
internacional por meio da carga e descarga de mercadorias nos por-
tos nelas instalados. Exemplos: Santos (Brasil), Roterdã (Holanda) 
e Hamburgo (Alemanha).
 2 Cidades industriais: destacam-se por centrarem sua estrutura 
econômica na dinâmica industrial, apresentando centros ou par-
ques industriais em determinadas áreas. Exemplos: Camaçari 
(Brasil), Córdoba (Argentina), Manchester (Inglaterra), Dusseldorf 
(Alemanha), entre outras.
 2 Cidades tecnopolos: concentram um grande número de empresas 
e profissionais ligados a diversas áreas da tecnologia, localizando-
-se em sua região universidades e centros tecnológicos de pesquisa. 
Exemplos: Campinas (Brasil); Palo Alto, San Francisco e Santa 
Clara (Vale do Silício, EUA); Cambridge e Londres (Inglaterra); 
Munique (Alemanha); entre outras.
Apesar dessas classificações, existem cidades que podem conter mais de 
uma dessas funções, devido ao fato de apresentarem grande dinamismo, ele-
vada importância econômica regional e internacional, além de um forte con-
tingente populacional.
– 19 –
Conceitos iniciais de Geografia Urbana
1.3.2 A teoria centro-periferia na geografia econômica
Com base nas relações da estrutura econômica-social com a formação 
e organização espacial, os estudiosos da geografia econômica começaram a 
desenvolver estudos que culminaram na teoria centro-periferia, como forma 
de compreender o espaço a partir dos impactos da atividade econômica.
Para entender essa teoria, é preciso compreender a existência de dois 
setores da economia: a agricultura e a indústria. A agricultura produz bens 
únicos e sem diferenciação, com preços determinados pelo mercado e um 
grande número de produtores. Os consumidores não buscam variedade 
produtiva e, por isso, fazem suas escolhas baseadas quase exclusivamente no 
preço, gerando rendimentos constantes para os agricultores. A indústria, 
por sua vez, produz bens altamente diferenciados, com preços determinados 
pelas empresas produtoras. Os consumidores dos produtos industrializados 
buscam variedade e pagam valores maiores conforme o grau de diferencia-
ção apresentado, gerando retornos crescentes para as indústrias (FUJITA; 
KRUGMAN; VENABLES, 2002).
A atividade industrial, considerada uma atividade de centro, consome o 
serviço de profissionais de elevada escolaridade para a geração de alta tecno-
logia, além de ter mais apoio do sistema financeiro. Já a atividade agrícola, 
considerada uma atividade de periferia, utiliza menos recursos tecnológicos e 
profissionais com menor qualificação.
Desse modo, a atividade industrial está concentrada espacialmente no centro, 
devido à centralização de profissionais melhores qualificados, de maiores rendi-
mentos e do mercado consumidor. A periferia, por sua vez, passa a ter uma função 
de fornecimento de insumos para a produção e demanda na região central, estabe-
lecendo uma relação entre o centro industrial e a periferia agrícola.
Portanto, a industrialização passa a influenciar o processo de urbanização 
das cidades porque atrai toda uma rede de serviços, lazer, estudos e pesquisas. 
Como a cidade industrial expande sua atuação no território, ela demanda 
mais serviços públicos de mobilidade urbana, infraestrutura, saúde, educação 
e equipamentos públicos. Devido à demanda por esses serviços, que aumenta 
com a migração de outras regiões, as grandes cidades geram maiores receitas e 
necessitam de mais investimentos do Estado para melhor atendê-las.
Geografia Urbana
– 20 –
O aumento das oportunidades de emprego, educação e acesso a servi-
ços públicos gera uma atratividade aos municípios centrais, causando um 
fluxo migratório do campo para a cidade. Como as cidades geralmente não 
comportam toda essa demanda migratória, ocorre uma fragmentação maior 
do território, com espaços urbanizados desenvolvidos para aqueles que têm 
maior rendimento econômico e, muitas vezes, espaços não plenamente 
urbanizados para os que não têm as mesmas condições. Isso gera problemas 
urbanos como a formação de áreas irregulares, ocupação de áreas de manan-
ciais e de preservação, entre outros.
Ampliando seus conhecimentos
Verticalização, densificação e qualidade do 
espaço residencial
(SCUSSEL; SATTLER, 2010, p. 138-139)
Ao discorrer sobre como as cidades podem contribuir para o 
desenvolvimento sustentável, Satterthwaite (2004) identifica, 
entre as categorias gerais em que se inserem os elementos de 
avaliação do desempenho ambiental das cidades, a “universa-
lização de um ambiente urbano de boa qualidade para todos 
os habitantes” – por exemplo, em termos do índice de área 
verde e da qualidade de espaço aberto por pessoa (parques, 
praças públicas, instalações para esporte, brinquedos infantis) 
e da proteção do patrimônio natural e cultural.
Nessa perspectiva, torna-se primordial o reconhecimento do 
espaço residencial, em que se desenvolve grande parte do 
cotidiano dos moradores de uma cidade, como tema central 
na questão da qualidade do espaço construído.
Na conformação do espaço residencial identificam-se três 
grandes componentes, ou campos de análise: a moradia 
– 21 –
Conceitos iniciais de Geografia Urbana
propriamente dita; a infraestrutura, serviços e equipamentos 
urbanos; e o entorno ou paisagem. As principais variáveis de 
análise de cada componente podem ser descritas como segue:
(a) moradia: tamanho/densidade de ocupação; funcionali-
dade; material e técnica construtiva; tipo arquitetônico; 
estado de conservação; conforto térmico;
(b) infraestrutura, serviços e equipamentos urbanos: água: tipo 
de abastecimento/tratamento; esgoto: coleta/destino/tra-
tamento; lixo: coleta/destino; luz e telefone; transportes; 
escola; posto de saúde; áreas verdes, praças e parques; 
espaços culturais: museus/bibliotecas/teatro; comércio; e
(c) entorno: ambiente construído – patrimônio arquitetônico; 
arborização; trânsito;ruído; ventilação; insolação – expo-
sição solar; segurança; vizinhança.
Entre esses componentes, estabelecem-se relações que cons-
tituem parte fundamental do metabolismo diário da cidade e 
que são afetadas pelos padrões urbanísticos vigentes.
Os padrões urbanísticos sempre foram discutidos como gran-
des diretrizes conformadoras do espaço das cidades, sejam 
as consagradas máximas da Carta de Atenas, que imprimiu 
às cidades modernas o ideário das funções urbanas comparti-
mentadas, dos zoneamentos exclusivos de usos, sejam aque-
les padrões prescritos por urbanistas como Howard e Camilo 
Sitte, que, no século XIX, buscaram alternativas à situação 
de caos instalada nas cidades pós-Revolução Industrial 
(KOHLSDORF, 1985; RYKWERT, 2004).
Para o arquiteto Cristopher Alexander, que ofereceu impor-
tante contribuição ao desenho urbano, os padrões tornam-se 
elementos constituintes de uma linguagem atemporal de cons-
trução do espaço (ALEXANDER, 1977). Numa concepção 
integral e integradora do ambiente, este é definido pelo enca-
deamento de um conjunto de padrões que determinam a 
Geografia Urbana
– 22 –
estrutura do espaço socialmente construído. Ao propugnar 
pela diversidade de usos convivendo no mesmo espaço, pela 
proximidade do trabalho e da casa, pela integração dos cami-
nhos e percursos à paisagem natural, Alexander sinalizava para 
um conjunto de princípios adotados pela matriz da sustenta-
bilidade, embora, à época, sequer se esboçasse formulação 
teórica nesse sentido. Pesquisadores a ele associados, como 
Salingaros (2003), trabalham, hoje, com sua consagrada 
premissa de que “a cidade não é uma árvore”, ao defender 
padrões urbanísticos que tornam a cidade mais orgânica, 
capaz de oferecer respostas a uma realidade em que tudo 
está conectado – não apenas em um caminho de ramificações 
que se vão desdobrando, em capilaridades menores, mas em 
redes que se lançam em múltiplos sentidos e dimensões.
A descrição e os preceitos preconizados por essa linha de 
autores convergem com a defesa do padrão da cidade mediter-
rânea de Rueda (2002), a cidade compacta e diversa. Aqui se 
reúnem princípios como o da multiplicidade de usos e ativida-
des, que encurta distâncias e busca a redução da locomoção, 
mediante o estímulo ao desenvolvimento de relações locais, em 
que habitação, trabalho e lazer estejam próximos.
Ainda segundo Rueda (2002), o modelo compacto e diverso 
se aproxima muito mais de uma “cidade sustentável” do que o 
padrão anglo-saxão de conurbação difusa, que constituiu cida-
des com zoneamento de funções, segmentadas, que propi-
ciam menor interação e maiores deslocamentos e segregação.
Diferentes autores parecem acordar em eleger a cidade con-
centrada e densificada como mais viável (SOMEKH; LEITE, 
2008; LEITE, 2010), em contraponto à cidade dispersa, do 
subúrbio americano, tributária das facilidades de locomoção 
permitidas pelo uso massivo de energia proveniente do petró-
leo. A partir da visão de que todas as formações urbanas, 
ao longo da história, foram resultado da articulação tecnoló-
gica da rede de recursos e fontes energéticas disponíveis no 
– 23 –
Conceitos iniciais de Geografia Urbana
território, Droege (2008) aponta a necessidade de se fazer 
uma “revolução urbana” para que se tenha uma cidade renová-
vel, assentada em novos paradigmas, que rompam o modelo 
de dependência dos combustíveis fósseis. No entanto, 
embora geralmente associadas, a densificação propugnada 
não implica, necessariamente, a verticalização acentuada 
como solução edilícia – veja-se o caso de Paris.
Evidentemente, para além dos padrões urbanísticos, o enten-
dimento dos processos de verticalização e densificação das 
cidades passa por questões vinculadas às múltiplas dimensões 
da produção do espaço – econômica, social, política, cultural.
Somekh (1997) aponta para a natureza das relações estabele-
cidas entre o arranha-céu e a cidade: não apenas volumétrica, 
mas essencialmente simbólica, na medida em que o edifício 
alto supõe desenvolvimento tecnológico, constitui mani-
festação das forças de mercado e implica novas formas de 
consumo. Os usos simbólicos da verticalidade, do domínio 
sobre a paisagem ao poder que multiplica o solo e os ganhos 
imobiliários também são abordados por Corrêa (2007).
Já Roaf, Crichton e Nicol (2009) discorrem exaustivamente 
acerca das características dos edifícios altos, envolvendo 
aspectos relativos à construção, uso, manutenção e impacto 
no entorno, entre os quais:
(a) custos de construção, operação e manutenção elevados, 
quanto mais alto for o edifício, por exigir sistemas cons-
trutivos e de proteção (contra incêndio, intempéries) 
mais complexos;
(b) no caso de inserção em áreas consolidadas, sobrecarga aos 
sistemas de infraestrutura urbana previamente existentes – 
abastecimento de água, esgotamento sanitário, energia elé-
trica, sistema viário –, além de multiplicação da demanda 
aos serviços e equipamentos de uso coletivo; e
Geografia Urbana
– 24 –
(c) modificação do clima local, com aumento da velocidade 
dos ventos ao nível da rua, sombreamento; prejuízo ao 
conforto térmico, lumínico e acústico, não só do entorno 
mas também do próprio edifício, conforme a altura e o 
posicionamento de determinada unidade – quanto mais 
alto o edifício, maior o problema de estratificação térmica 
e maior o consumo de energia para climatização (ROAF; 
CRICHTON; NICOL, 2009).
Em estudo comparativo realizado por Souza (1994), que ana-
lisou cerca de 70 metrópoles mundiais quanto a seu processo 
de crescimento, São Paulo e México apresentaram caracte-
rísticas similares entre si e distintas em relação a metrópoles 
como Nova York, Tóquio, Londres e Paris: o ritmo de cresci-
mento das latinoamericanas mostrou-se muito mais acelerado. 
Nesse processo, ao analisar o papel dos agentes produtores 
(incorporadores, construtores e vendedores), a autora des-
taca a peculiar importância da figura do incorporador na área 
habitacional brasileira (SOUZA, 1994).
Atividades
1. Desenvolva um fluxograma que explique o impacto das migrações 
dos trabalhadores das áreas rurais para as cidades e suas consequências 
para a organização do espaço geográfico.
2. Apresente uma estrutura que demonstre os diversos territórios que 
podem existir dentro do espaço urbano das cidades.
3. Explique por que o desenvolvimento econômico das grandes cidades 
confirma a teoria centro-periferia.
Desenvolvimento da 
Geografia Urbana
Introdução
A Geografia Urbana tem como foco de estudo a formação 
das cidades, o processo de urbanização, os territórios e lugares em 
seus aspectos quantitativos, qualitativos e espaciais. No tocante ao 
espaço urbano, as cidades passam por um processo de evolução 
da cidade política para a cidade comercial, chegando, por fim, à 
cidade industrial.
O aspecto de identificação com a cidade também é contem-
plado no estudo sobre o lugar, isto é, o espaço que apresenta pontos 
de identificação com aqueles que ali se estabelecem. A ausência de 
identificação com o ambiente também é estudada com a definição 
dos não lugares.
2
Geografia Urbana
– 26 –
2.1 Tipos de estudos geográficos urbanos
Os estudos geográficos urbanos clássicos tratavam apenas da organização 
da superfície terrestre, buscando a compreensão do processo de construção 
do espaço urbano, por meio das interações e influências entre o homem e 
o espaço. Albert Demangeon escreveu, em 1942, que estudos urbanos “são 
os estudos dos grupos humanos nas suas relações com o meio geográfico” 
(DEMANGEON apud CHRISTOFOLETTI, 1982, p. 52). Assim, os 
estudos clássicos buscavam compreender as relações do homem com o meio 
físico. A partir do século XX, os estudos geográficos urbanos passam a ter 
diversas tipificações, dentre as quais se destacam:
 2 Estudo sobre as cidades: abordam a formaçãoe o crescimento das 
cidades, o estabelecimento das redes urbanas e das regiões metro-
politanas. Estudam, também, a relação entre as cidades, definidas 
pela hierarquia urbana e o futuro dessas localidades, promovendo 
novas formas de organização do espaço urbano e configurando a 
dicotomia entre o campo e a urbe.
 2 Estudos sobre a urbanização: estudam a estruturação e a expansão 
territorial para organizar as aglomerações urbanas nas localidades. 
Estão diretamente ligados à centralidade nas atividades comerciais 
e industriais, criando uma força de atração populacional em relação 
ao campo. Tratam, também, das modificações e das obras impostas 
pelos gestores e pelos atores da cidade na conformação do território.
 2 Estudos territoriais: tratam da estruturação do espaço urbano por 
meio das relações de poder estabelecidas pelos grupos organizados 
no local. Esses grupos se apropriam dos espaços definindo terri-
tórios, que impactam a urbanização, bem como a formação e o 
crescimento das cidades.
Além desses estudos, a geografia também pesquisa a territorializa-
ção econômica da cidade, definindo o lugar das atividades econômicas, 
– 27 –
Desenvolvimento da Geografia Urbana
notadamente a indústria. No âmbito regional, a estrutura econômica tem 
o poder de direcionar o crescimento das atividades econômicas e a própria 
expansão da urbanização (BRITO; HORTA, 2002). Para melhor compreen-
são dos processos de urbanização e de seus fenômenos e reflexos na cidade, a 
Geografia Urbana se utiliza de outras ciências auxiliares, como a economia e o 
urbanismo, distinguindo, assim, as relações sociais e econômicas que formam 
o espaço urbano.
As pesquisas também contemplam o desenvolvimento regional e territo-
rial, propondo a articulação e a interação entre o espaço urbano das cidades em 
uma mesma região. Esses estudos colaboram para a compreensão da formação 
do espaço regional, suas similaridades e diferenças, estabelecendo uma política 
de ordenamento da região. Por exemplo, nos anos de 1970, estudos regionais 
realizados em regiões metropolitanas demonstraram haver áreas que necessita-
vam ser preservadas e áreas que deviam ser direcionadas à atividade industrial.
Os dados coletados sobre a urbanização brasileira geram bases de dados 
que podem ser tratados e especializados em representações gráficas. Dessa 
forma, é possível realizar a análise da Geografia Urbana também por meio 
de mapas que retratem o fenômeno analisado, além de figuras, ícones ou 
infográficos explicativos para facilitar a compreensão da informação. Pode-se, 
ainda, contemplar aspectos da organização funcional urbana, como o uso 
da terra, a distribuição da vegetação e das águas, além do mapeamento das 
atividades da cidade e outros dados que designem funções específicas desse 
espaço. Essas informações sistematizadas e organizadas em mapas têm um 
papel fundamental para a elaboração e a consequente comunicação dos pla-
nos diretores nas cidades.
Ressalta-se que a organização do espaço, suas interações e configurações 
podem ser avaliadas de forma quantitativa ou qualitativa, ampliando o enten-
dimento das formas espaciais urbanas:
Geografia Urbana
– 28 –
 2 Aspectos quantitativos: a realidade do espaço urbano pode ser quan-
tificável como área, densidade, superfície, fluxo etc. Permite a análise, 
a comparação, a espacialização por meio de modelos matemáticos.
Assim, alguns aspectos, como população urbana, porcentagem de 
urbanização e crescimento urbano, são quantificáveis, permitindo 
que as informações sejam especializadas e, ainda, a geração de uma 
base de dados a serem compilados, organizados e tratados.
 2 Aspectos qualitativos: refere-se ao tratamento dado aos espaços, 
proporcionando uma melhor qualidade ao espaço urbano. Podem 
tratar da qualidade da pavimentação, da acessibilidade, da adapta-
ção do espaço ao clima, da melhor utilização dos recursos naturais 
etc. (SANTOS, 1985).
Figura 1 – Área revitalizada para adequação ao uso urbano no município de Curitiba.
Fonte: CURITIBA, 2012.
A Figura 1 mostra o Parque das Pedreiras, em Curitiba, capital do Paraná. 
Esse parque, inaugurado no ano de 1992 no espaço em que havia uma antiga 
pedreira da cidade, contempla o teatro Ópera de Arame (estrutura tubular 
na parte inferior da imagem) e a Pedreira Paulo Leminski (área central da 
– 29 –
Desenvolvimento da Geografia Urbana
imagem), utilizados em grandes eventos na cidade. Assim, a área foi revitali-
zada e destinada para outro fim, readequando-se o espaço e reduzindo-se os 
impactos ambientais e urbanos. Determinou, dessa forma, o aspecto quali-
tativo do estudo geográfico urbano, garantindo a manutenção da paisagem 
urbana como um espaço de interação na cidade.
Os aspectos quantitativos e qualitativos também são estudados pela 
ótica da arquitetura e utilizados como base de informações para melhorias e 
revitalização da paisagem urbana. Os aspectos quantitativos são quantificáveis 
na paisagem urbana, buscando controlar os aspectos físicos da cidade. Já os 
aspectos qualitativos referem-se ao tratamento dos espaços, a seu conforto, 
comodidade e qualidade ambiental, como a insonorização, o isolamento tér-
mico e a insolação, entre outros, que dependem do tipo e estado de pavimen-
tos e da adaptação ao clima local (LAMAS, 2004).
2.2 Desenvolvimento da Geografia Urbana
A Geografia Urbana tem como objeto de estudo as áreas urbanas, bem 
como a produção do espaço urbano e suas alterações causadas pela ação antró-
pica. Dessa forma, o desenvolvimento da Geografia Urbana está diretamente 
ligado ao desenvolvimento e à evolução das cidades.
Em primeiro lugar, é importante compreender que as cidades sempre 
existiram e, no contexto da Geografia Urbana, apresentam construções dife-
rentes, decorrentes de sua evolução histórica. Dessa forma, desconstrói-se a 
imagem clássica da cidade que nasce a partir da Revolução Industrial, caracte-
rizando a dicotomia campo-cidade. Essa dicotomia clássica permitiu a cons-
trução de uma visão da urbe como um espaço onde há um ritmo de urbaniza-
ção constantemente acelerado, com alta densidade populacional e problemas 
urbanos comuns, como falta de moradia, de mobilidade urbana e de trabalho 
para a mão de obra excedente, que é atraída pela imagem popularizada da 
cidade. O espaço rural, por outro lado, é visto como um espaço bucólico, dis-
tante das inovações dos espaços urbanos, carente de equipamentos públicos e 
sem os problemas encontrados na área urbana.
Geografia Urbana
– 30 –
O estabelecimento de uma visão dicotômica que possibilita a constru-
ção de uma imagem fantasiosa do campo e da cidade apresenta um grande 
problema para o entendimento da Geografia Urbana: o distanciamento entre 
espaço rural e espaço urbano não permite estabelecer uma relação entre ambos. 
Entretanto, a construção do espaço urbano contempla as relações existentes 
entre a cidade e o campo: assim como algumas atividades do campo interagem 
com a urbe, como as produtivas e econômicas (por exemplo, fornecimento 
de materiais e insumos para fábricas e estabelecimentos das cidades), o espaço 
urbano também se relaciona com o rural (no turismo, lazer, entre outros).
Então, quando se pensa na dicotomia clássica entre o campo e a cidade 
dificulta-se a percepção da dinâmica que ocorre no espaço urbano. O desen-
volvimento da Geografia Urbana, assim, passa pela desconstrução dessa pers-
pectiva segmentada e pela proposta de uma nova visão do espaço urbano, que 
compreenda as características espaciais e temporais próprias das cidades. A 
cidade precisa ser entendida como um espaço percebido pela ótica da socie-
dade, contrariamente à sua interpretação tradicional como um espaço predo-
minantemente desenvolvido e, consequentemente, melhor.
Nessa concepção, a Geografia Urbana estuda a cidade como resultado das 
aglomerações urbanase das relações econômicas e sociais estabelecidas. Sendo 
assim, a cidade não é uma invenção moderna, mas sim consequência de inte-
rações advindas da concentração urbana. O desenvolvimento da Geografia 
Urbana, portanto, perpassa a evolução da urbe e de seu papel na construção 
social e na organização dos agrupamentos urbanos (CLARK, 1998).
Para entender a dinâmica do processo de evolução urbana, é importante 
traçar uma linha histórica destacando o papel das cidades num contexto his-
tórico, demonstrando a sua evolução como espaço de agregação urbana. Essa 
linha histórica tem início com a ausência da urbanização e evolui até a conso-
lidação do processo, com a cidade industrial (SÁ et al., 2013).
A cidade (num conceito de concretização do urbano) tem início com a 
cidade política. A função da cidade nesse período era o poder, pois nela se agre-
gavam os nobres, os escribas e os administradores. Nessas cidades, a base eco-
nômica era agrícola, cuja função era a manutenção do poder centralizado nos 
– 31 –
Desenvolvimento da Geografia Urbana
reis sobre a sociedade. Essas áreas dominadas e colonizadas serviam como bases 
administrativas e mercantis das aglomerações urbanas do Império, numa forma 
de extensão do poder imperial sobre o espaço urbano (LÉFÈBVRE, 1999).
Outra função da cidade é a mercantil, que denota sua primeira função 
urbana (como fator agregador populacional e de reprodução de relações de 
produção). Embora o campo ainda tivesse a primazia econômica, inicia-se a 
dicotomia cidade-campo, tendo seus limites espacialmente estabelecidos. As 
atenções começam a se voltar para as cidades, a realidade urbana começa a 
ganhar forma e começam a surgir sua imagem e estrutura. A cidade mercantil 
é a cidade voltada para as trocas comerciais, que antes aconteciam em entron-
camentos fora dos limites da cidade. Ela ganha força com a burguesia, uma 
classe intermediária surgida da nova vida comercial nos burgos (ou cidades) 
(LÉFÈBVRE, 1999).
A partir disso, as cidades ganham autonomia administrativa e tem início 
um forte conflito social, demonstrado pela segmentação das classes (nobreza, 
clero e plebe), gerando o isolamento urbano. Elas se tornam espaços caracte-
risticamente segregados e isolados, havendo uma forte dicotomia cidade-
-campo. O trabalho agrícola e as feiras mercantis são atividades isoladas na 
cidade, cuja função é administrativa, atendendo à monarquia e à administra-
ção e fortalecendo o espaço urbano (ULTRAMARI, 2009).
A cidade industrial surge inicialmente com uma proposta contrária à 
formação das cidades, pois havia uma tendência inicial de estabelecimento 
das indústrias próximas aos fatores de produção: terra, recursos naturais, 
mão de obra e energia, criando, assim, novas cidades tipicamente industriais. 
Nesse período, o forte movimento de urbanização da sociedade para atender 
a demanda industrial fez com que o tecido urbano se estendesse, atingindo as 
cidades que ainda preservavam características mercantis. Com essas mudan-
ças, a sociedade passou por um rompimento total com o conceito de campo 
(como oposição à cidade), criando a sociedade urbana, advinda do processo 
de industrialização (CASTELLS, 1983).
Assim, as cidades tiveram sua importância fortalecida pela instalação 
dessas indústrias, devido ao grande contingente de mão de obra que migrou 
do campo (em função da revolução agrícola). Outra grande importância no 
Geografia Urbana
– 32 –
contexto industrial foi a formação de um vasto mercado consumidor. Nessas 
novas cidades, a função política é descartada e a indústria domina a paisagem 
(MONTE MÓR, 2007).
A Revolução Industrial e o surgimento da cidade industrial são a consoli-
dação do processo de formação da sociedade urbana. Com o advento da cidade 
industrial, a sociedade urbana atinge seu ápice em relação à transformação da 
paisagem e ocupação dos espaços, dando lugar a uma prioridade aos problemas 
dessa “nova sociedade”. A partir da consolidação de um processo histórico e 
menos civilizatório de urbanização ocorrido no final do século XIX, com a 
assimilação da Revolução Industrial pela sociedade, seria obrigatória a busca 
de soluções para problemas criados por um novo uso do espaço antigo e dos 
espaços naturais, de um modo nunca visto anteriormente (CASTELLS, 1983).
A cidade industrial passa a ter uma função integradora, fazendo com 
que o tecido urbano se estendesse até o campo. Desse modo, o campo é 
então integrado à cidade por intermédio dos meios de produção, seja para 
suprimento de matéria-prima para a indústria, seja no consumo de bens 
industriais. Essas cidades industriais foram, assim, marcadas pela entrada da 
produção no seio do espaço do poder, trazendo com ela a classe trabalhadora, 
o proletariado. A cidade passou a não mais apenas controlar e comercializar 
a produção do campo, mas também a transformá-la e a ela agregar valor em 
formas e quantidades jamais vistas (SÁ et al., 2013).
A evolução das cidades demonstra a importância da articulação do 
espaço urbano na organização das aglomerações urbanas, sempre acompa-
nhando o desenvolvimento espacial dessas localidades, bem como as circuns-
tâncias históricas que acompanham sua estrutura social.
2.3 Os lugares urbanos
2.3.1 O conceito de lugar
Para entender os lugares urbanos, é importante conhecer o conceito geo-
gráfico de lugar. De acordo com Moreira (2007), o lugar pode ser compreen-
dido como uma fragmentação do espaço onde se estabelecem as relações de 
– 33 –
Desenvolvimento da Geografia Urbana
afetividade e de interação bastante próximas. Essa proximidade permite a 
construção de uma ligação sentimental com o espaço, contribuindo para a 
formação do aspecto cultural, com a construção dos valores de uma sociedade 
(MOREIRA, 2007).
Qualquer cidade, independentemente de seu tamanho ou sua configu-
ração, possui lugares urbanos, onde as pessoas estabelecem relações sociais, 
vivendo em sociedade, trabalhando, realizando seus negócios, fazendo suas 
compras, morando e se divertindo. Assim, a organização do espaço nas cida-
des é feita de acordo com um zoneamento urbano definido, respeitando as 
necessidades de uso desse território pelos habitantes. O zoneamento define 
a divisão e a expansão urbana a partir de determinações legais, constituindo 
lugares especializados, com predominância de atividades definidas, como os 
centros industriais, as áreas residenciais, entre outros. Um exemplo particu-
lar são as indústrias de montagem, como a automobilística, as quais atraem 
para suas proximidades numerosas outras indústrias de peças e componen-
tes, assim como outros serviços que complementem a atividade industrial. 
Além disso, o zoneamento urbano estabelece as restrições de uso do espaço, 
definindo assim o poder de polícia do Estado e o ordenamento das cidades 
(DORNELES, 2010).
2.3.2 A teoria dos lugares centrais
Outro conceito importante é o da teoria dos lugares centrais, desenvol-
vida pelo geógrafo alemão Walter Christaller. Segundo Christaller (1966), 
existiriam princípios gerais que regulam o número, o tamanho e a distribui-
ção dos núcleos de povoamento em grandes, médias e pequenas cidades, e 
ainda em minúsculos núcleos semi-rurais, os quais também são considerados 
como localidades centrais. Todos esses núcleos são dotados de funções cen-
trais e teriam uma importância singular como distribuidores de bens e servi-
ços, conforme aponta Corrêa (1989):
Todas são dotadas de funções centrais, isto é, atividades de distri-
buição de bens e serviços para uma população externa, residente 
na região complementar (hinterlândia, área de mercado, região de 
influência), em relação à qual a localidade central tem uma posição 
central. A centralidade de um núcleo, por outro lado, refere-se ao 
seu grau de importância a partir de suas funções centrais: maior o 
Geografia Urbana
– 34 –
númerodeles, maior a sua região de influência, maior a população 
externa atendida pela localidade central, e maior a sua centralidade. 
(CORRÊA, 1989, p. 21)
Além dos lugares destinados aos espaços das indústrias, existem espaços 
destinados a atividades de comércio e serviços. Esses espaços são denominados 
pelos estudiosos da questão urbana de localidades centrais intra-urbanas. Esse 
conceito trata de lugares na cidade que são mais centrais em relação às demais 
áreas. Dessa forma, assim como existem lugares destinados a atividades específicas 
como comércio e serviços, existem, no espaço intra-urbano, lugares de uso misto, 
destinados a moradias, trabalho, serviços e lazer. Podemos, assim, entender que a 
cidade não é um lugar específico, mas um conjunto integrado de lugares.
Durante o século XIX e início do século XX, as grandes cidades euro-
peias eram conhecidas como lugares de pobres e desempregados sem residên-
cia, gerando áreas configuradas com moradias precárias, carentes de serviços 
como água encanada, saneamento básico, ruas pavimentadas, eletricidade e 
transporte coletivo.
Mesmo com a evolução do processo urbano, no século XXI encontra-
mos municípios brasileiros que apresentam as mesmas características das 
cidades europeias do passado. Nesses municípios, há, ainda, a ausência de 
equipamentos urbanos como escolas, postos de saúde, creches, hospitais, 
entre outros. Esse fato gera problemas como a poluição dos rios, a ocupação 
de espaços irregulares e a precária condição das moradias. Tal cenário somente 
tende a mudar com a organização social dos moradores dessas regiões, reivin-
dicando seus direitos de habitação, lazer e mobilidade urbana como forma de 
garantir o pleno acesso à cidade.
Assim, alguns processos como a expansão urbana descontrolada e a 
migração para os grandes centros dificultam a organização do espaço, gerando 
a periferização das cidades e o surgimento de lugares como os subúrbios, 
favelas ou ocupações irregulares, como demonstrado na figura a seguir, que 
retrata o município de Ponta Grossa, no Paraná.
– 35 –
Desenvolvimento da Geografia Urbana
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Geografia Urbana
– 36 –
2.3.3 Os “não lugares”
No estudo da Geografia Urbana há, ainda, a ideia de não lugares, con-
ceito criado pelo antropólogo francês Marc Augé (1994) para tratar do espaço 
de passagem que não permite a formação de uma identidade. Segundo Augé, 
todo e qualquer espaço que sirva apenas como espaço de transição e com o 
qual não se cria qualquer tipo de relação é um não lugar.
Os não lugares podem ser definidos como espaços de anonimato, des-
caracterizados e impessoais, os quais não expressam nenhum traço de iden-
tidade ou história. De acordo com Augé (1994), cada vez mais as pessoas 
deixam de dar significados aos lugares, transformando o ambiente urbano 
em lugar de passagem. Consequentemente, grande parte dos centros urba-
nos se transformam em não lugares, gerando padrões de comportamento e 
relações sociais nos grupos. São exemplos de não lugares: aeroportos, portos, 
terminais de ônibus, áreas de concentração de refugiados, grandes superfícies 
urbanas, shopping centers, supermercados, entre outros.
É importante também destacar, no estudo dos não lugares, os conceitos 
de topofobia e topofilia. A palavra topofilia é um neologismo criado por 
Yi-Fu Tuan (1980, p. 107) que sintetiza o amor pelo lugar, ou seja, “todos 
os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material [...]” 
que podem ser diferenciados em intensidade, sutileza e modo de expressão. 
Bachelard (2000, p. 19) usa o termo topofilia para determinar a investigação 
das imagens do espaço feliz que desperta o valor humano, as quais podem 
se referir a espaços de posse, espaços amados, espaços louvados, como, por 
exemplo, a casa.
A topofobia, por sua vez, pode ser traduzida também nas “paisagens do 
medo”, que são objeto de repulsão, dificultando a identificação e caracterização 
desses sentimentos, com uma valorização negativa desses lugares. Os sentimen-
tos topofóbicos também compreendem aspectos estéticos, quando os lugares 
são feios e desagradáveis para as pessoas. A falta de segurança nas cidades pode 
ser um elemento topofóbico importante nos dias atuais, o que tem levado mui-
tas pessoas a deixar um lugar em busca de outro, na procura por cidades de 
pequeno e médio porte para moradia, por exemplo (TUAN, 1998).
– 37 –
Desenvolvimento da Geografia Urbana
Ampliando seus conhecimentos
Definir o lugar?
(CARLOS, 2007, p. 17-20)
Nas Ciências Humanas e na geografia, em particular, o pro-
blema da redefinição do lugar emerge como uma necessidade 
diante do esmagador processo de globalização, que se rea-
liza, hoje, de forma mais acelerada do que em outros momen-
tos da história. Nesse contexto, é possível, ainda pensar o 
lugar enquanto singularidade? O lugar é uma noção que e se 
desfaz e se despersonaliza diante da massacrante tendência 
ao homogêneo, num mundo globalizado? Ou lugar ganha 
uma outra dimensão explicativa da realidade como, por exem-
plo “enquanto densidade comunicacional, informacional e 
técnica”, como afirma Milton Santos?
Há hoje um debate muito profícuo sobre o sentido da noção 
de lugar. Podemos iniciar a reflexão com Milton Santos que 
afirma que existe uma dupla questão no debate sobre o lugar. 
O lugar visto “de fora“ a partir de sua redefinição, resultado 
do acontecer histórico e o lugar visto de “dentro”, o que impli-
caria a necessidade de redefinir seu sentido. Para o Autor o 
lugar poderia ser definido a partir da densidade técnica (que 
tipo de técnica está presente na configuração atual do territó-
rio), a (densidade informacional (que chega ao lugar tecnica-
mente estabelecido) a ideia da densidade comunicacional (as 
pessoas interagindo) e, também em função de uma densidade 
normativa (o papel das normas em cada lugar como definitó-
rio). À esta definição seria preciso acrescentar a dimensão do 
tempo em cada lugar que poderia ser visto através do evento 
no presente e no passado.
Geografia Urbana
– 38 –
Acredito, no entanto, que podemos acrescentar ao que foi 
dito pelo professor o fato de que há também a dimensão 
da história que entra e se realiza na prática cotidiana (esta-
belecendo um vínculo entre o “de fora” e o “de dentro“), 
instala-se no plano do vivido e que produziria o conhecido-
-reconhecido, isto é, é no lugar que se desenvolve a vida em 
todas as suas dimensões. Também significa pensar a história 
particular de cada lugar se desenvolvendo, ou melhor, se rea-
lizando em função de uma cultura/tradição/língua/hábitos que 
lhe são próprios, construídos ao longo da história e o que vem 
de fora, isto é, o que se vai construindo e se impondo como 
consequência do processo de constituição do mundial. Mas 
o que ligaria o mundo e o lugar?
O lugar é a base da reprodução da vida e pode ser anali-
sado pela tríade habitante – identidade – lugar. A cidade, 
por exemplo, produz-se e revela-se no plano da vida e do 
indivíduo. Este plano é aquele do local. As relações que os 
indivíduos mantêm com os espaços habitados se exprimem 
todos os dias nos modos do uso, nas condições mais banais, 
no secundário, no acidental. É o espaço passível de ser sen-
tido, pensado, apropriado e vivido através do corpo.
Como o homem percebe o mundo? É através de seu corpo 
de seus sentidos que ele constrói e se apropria do espaço e 
do mundo. O lugar é a porção do espaço apropriável para a 
vida – apropriada através do corpo – dos sentidos – dos pas-
sos de seus moradores, é o bairro é a praça, é a rua, e nesse 
sentido poderíamosafirmar que não seria jamais a metrópole 
ou mesmo a cidade latu sensu a menos que seja a pequena vila 
ou cidade – vivida/conhecida/reconhecida em todos os can-
tos. Motoristas de ônibus, bilheteiros, são conhecidos e reco-
nhecidos como parte da comunidade, cumprimentados como 
tal, não simples prestadores de serviço. As casas comerciais 
são mais do que pontos de troca de mercadorias, são também 
pontos de encontro. É evidente que é possível encontrar isso 
– 39 –
Desenvolvimento da Geografia Urbana
na metrópole, no nível do bairro, que é o plano do vivido, 
mas definitivamente, não é o que caracteriza a metrópole.
A tríade cidadão-identidade-lugar aponta a necessidade de 
considerar o corpo, pois é através dele que o homem habita 
e se apropria do espaço (através dos modos de uso). A 
nossa existência tem uma corporeidade pois agimos através 
do corpo. Ele nos dá acesso ao mundo, para Perec é o nó 
vital, imediato visto, pela sociedade como fonte e suporte 
de toda cultura. Modos de aproximação da realidade, pro-
duto modificado pela experiência do meio, da relação com o 
mundo, relação múltipla de sensação e de ação, mas também 
de desejo e, por consequência de identificação com a proje-
ção sobre o outro. Abre-se aqui, a perspectiva da análise do 
vivido através do uso, pelo corpo.
Por outro lado, a metrópole não é “lugar” ela só pode ser vivida 
parcialmente, o que nos remeteria a discussão do bairro como o 
espaço imediato da vida das relações cotidianas mais finas – as 
relações de vizinhança o ir as compras, o caminhar, o encontro 
dos conhecidos, o jogo de bola, as brincadeiras, o percurso 
reconhecido de uma prática vivida /reconhecida em pequenos 
atos corriqueiros, e aparentemente sem sentido que criam laços 
profundos de identidade, habitante-habitante, habitante-lugar. 
São os lugares que o homem habita dentro da cidade que 
dizem respeito a seu cotidiano e a seu modo de vida onde 
se locomove, trabalha, passeia, flana, isto é, pelas formas atra-
vés das quais o homem se apropria e que vão ganhando o 
significado dado pelo uso. Trata-se de um espaço palpável – a 
extensão exterior, o que é exterior a nós, no meio do qual nos 
deslocamos. Nada também de espaços infinitos. São a rua, a 
praça, o bairro, – espaços do vivido, apropriados através do 
corpo – espaço públicos, divididos entre zonas de veículos e a 
calçada de pedestres dizem respeito ao passo e a um ritmo que 
é humano e que pode fugir aquele do tempo da técnica (ou 
Geografia Urbana
– 40 –
que pode revelá-la em sua amplitude). É também o espaço da 
casa e dos circuitos de compras dos passeios, etc.
Os percursos realizados pelos habitantes ligam o lugar de 
domicílio aos lugares de lazer, de comunicação, mas o impor-
tante é que essas mediações espaciais são ordenadas segundo 
as propriedades do tempo vivido. Um mesmo trajeto convoca 
o privado e o público, o individual e o coletivo, o necessário 
e o gratuito. Enfim o ato de caminhar é intermediário e parece 
banal – é uma prática preciosa porque pouco ocultada pelas 
representações abstratas; ela deixa ver como a vida do habi-
tante é petrificada de sensações muito imediatas e de ações 
interrompidas. São as relações que criam o sentido dos “luga-
res” da metrópole. Isto porque o lugar só pode ser compre-
endido em suas referências, que não são específicas de uma 
função ou de uma forma, mas produzidos por um conjunto de 
sentidos, impressos pelo uso. [...]
A história do indivíduo é aquela que produziu o espaço e que 
a ele se imbrica por isso que ela pode ser apropriada. Mas é 
também uma história contraditória de poder e de lutas, de resis-
tências compostas por pequenas formas de apropriação. [...]
Atividades
1. No século XXI, muitas das relações sociais estabelecidas nas cidades 
acontecem de forma virtual, pois diversos serviços são disponibiliza-
dos na internet, eliminando deslocamentos e otimizando o tempo. 
Essa nova relação virtual altera a interação com o ambiente urbano. 
Assim, responda: Qual relação pode existir entre o acesso ao mundo 
virtual e a ampliação dos não lugares nas cidades?
– 41 –
Desenvolvimento da Geografia Urbana
2. A ausência de organização do espaço urbano pode levar à ocupação da 
cidade de forma desorganizada, gerando impactos no ambiente. Cite 
alguns desses impactos nas cidades.
3. O desenvolvimento da Geografia Urbana acompanha o processo de 
evolução das cidades, suas funções e configurações. Qual a relação 
entre a evolução das cidades e a formação de seu espaço urbano?
Estudo do crescimento 
das cidades
Introdução
O fenômeno do crescimento urbano que teve seu auge nos 
anos 1960 quando a população urbana ultrapassou a população 
rural pode ser comprovado pelos indicadores do último censo do 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) que 
destacam que mais de 80% da população brasileira está estabelecida 
em espaços urbanos. Para compreender o impacto desses números, 
faz-se necessário entender o processo de crescimento das cidades, 
seja pela aglomeração populacional, seja pelos padrões de renda.
O padrão populacional busca compreender os fenôme-
nos de migração e atração de novos habitantes para as cidades. Os 
padrões de renda, por sua vez, explicam a geração de riquezas na 
cidade e o acúmulo de fatores de produção: capital, terra e renda. 
A junção desses fatores ajuda a explicar o crescimento urbano e a 
concentração populacional.
3
Geografia Urbana
– 44 –
3.1 O crescimento das cidades
O estudo do crescimento das cidades passa pela investigação e análise 
dos padrões de crescimento urbano, contemplando a organização das aglo-
merações urbanas, os padrões de crescimento populacional, as migrações e os 
movimentos pendulares e os padrões de crescimento da renda – refletindo no 
desempenho econômico dos espaços urbanos e nos custos relativos a imóveis 
e migrações. O sucesso de uma cidade pode ser compreendido como a inter-
-relação de indicadores relacionados à alteração do tamanho da população e a 
produtividade da economia local.
A aglomeração urbana pode ser compreendida como um conjunto de 
pessoas ou atividades que se concentram em espaços físicos relativamente 
pequenos, daí a sua forte aplicação na área urbana. O Estatuto da Metrópole 
a define como a unidade territorial urbana constituída pelo agrupamento 
de dois ou mais municípios limítrofes, caracterizada por complementari-
dade funcional e integração das dinâmicas geográficas, ambientais, políticas e 
socioeconômicas (BRASIL, 2015).
A existência de aglomerações urbanas também é importante para a com-
preensão dos movimentos pendulares, que ocorrem, via de regra, na escala 
urbana ou regional e tem por contexto temporal o cotidiano dos indivíduos. 
São deslocamentos comuns em muitos centros urbanos, sobretudo os de 
grande e médio porte (MOURA; CASTELLO BRANCO; FIRKOWSKI, 
2005). Esses movimentos “que caracterizam mobilidades de curta duração [...] 
dizem-se pendulares porque, realizados a horas mais ou menos fixas, refletem a 
estruturação do espaço e a existência ou não de hierarquias” (INE, 2003, p. 7).
Para Milton Santos e Maria Laura Silveira (2001), esse crescimento dos 
centros urbanos está ligado à concentração dos fatores de produção: capi-
tal (representado pelo dinheiro aplicado nos investimentos); terra (represen-
tando os espaços urbanos e os imóveis); e trabalho (representando a alocação 
da mão de obra no mercado de trabalho). Numa economia de livre mercado, 
o capital e a mão de obra têm liberdade de mobilidade, podendo se movimen-
tar entre as cidades. As cidades crescem porque, entre outros motivos, atraem 
um contingente de trabalhadores ou um volume maior de investimentos, 
levando à expansão do espaço urbano. Os trabalhadores migram para espaços 
– 45 –
Estudo do crescimento das cidades
urbanos maiores emais desenvolvidos, procurando aperfeiçoar a alocação do 
trabalho e maximizar suas rendas.
As cidades que apresentam um crescimento bem-sucedido são aque-
las que disponibilizam infraestrutura e suporte administrativo à atração de 
investimentos e negócios, aumentando a produtividade e pagando salários 
maiores. Da mesma forma, a qualidade dos serviços públicos (educação, 
saúde, transporte, entre outros) oferecidos atraem novos residentes e mão 
de obra mais qualificada para a cidade.
Desse modo, a organização dos fatores de atração de novos residentes 
tende a fortalecer e expandir as aglomerações urbanas, gerando municípios 
com tamanhos diferentes e com volume de concentração diferente. Assim, 
temos, no país, cidades como São Paulo, com 11,89 milhões de habitantes, 
que contrasta com o município de Santos, por exemplo, com uma população 
de 419.086 habitantes (IBGE, 2010). Devido à concentração de um volume 
maior de empregos na região de São Paulo e uma maior oferta de serviços 
públicos, há um crescimento maior dessa cidade (LEMOS, 2003).
3.1.1 Padrões no crescimento populacional
Nos anos de 1940 tem início a concentração populacional nos gran-
des centros motivada pela migração interna, marcada por deslocamentos de 
trabalho em direção às novas fronteiras agrícolas do Paraná, Centro-Oeste e 
Maranhão, bem como das áreas industriais do Sudeste.
Na década de 1970, a concentração das atividades industriais nos gran-
des centros urbanos contribuiu para a aceleração do processo de migração, 
fazendo com que novas cidades surgissem no entorno das principais cidades 
e alterando a dinâmica demográfica brasileira. Esse fluxo migratório em dire-
ção às cidades levou a um crescimento da população urbana, e a demografia 
brasileira passou a seguir uma tendência natural de superação da população 
urbana em relação à rural. Nesse cenário, houve uma elevação do total da 
população urbana, saltando de 56% nos anos 1970 a mais de 80% nos anos 
2010. As Nações Unidas estimam que esse percentual será superior a 90% até 
os anos 2040, aumentando a população brasileira a um total de 200 milhões 
de habitantes (ONU-HABITAT, 2012).
Geografia Urbana
– 46 –
Figura 1 – População rural e urbana do mundo (1950–2050).
Urbana
Rural
Fonte: UN, 2015, p. 7.
Para fins de compreensão, entende-se aglomeração urbana como a con-
centração de pessoas, serviços, atividades etc. em espaços compactos, não 
ultrapassando necessariamente os limites político-administrativos de uma 
cidade (MIYAZAKI, 2008). Matos (2000), por sua vez, expande o con-
ceito, compreendendo a aglomeração urbana numa perspectiva mais ampla, 
segundo a qual o urbano se processa em um conjunto mais complexo e 
extenso, que engloba mais de uma cidade.
No caso brasileiro, os dados demográficos apontam que o crescimento 
populacional nos últimos anos tem sido mais intenso nas regiões Norte e 
Centro-Oeste e mais lento no Sudeste e no Sul (conforme demonstrado na 
Tabela 1), ao contrário do que ocorreu nos anos 1970, com o destino para os 
grandes centros produtivos industriais.
– 47 –
Estudo do crescimento das cidades
Tabela 1 – População censitária total e taxa de crescimento demográfico 
(2000–2010).
BRASIL
Censo 2000 Censo 2010 Taxa de crescimento demográfico
169.799.170 190.755.799 12,34%
Região Norte 12.900.704 15.864.454 22,97%
Região Nordeste 47.741.711 53.081.950 11,19%
Região Sudeste 72.412.411 80.364.410 10,98%
Região Sul 25.107.616 27.386.891 9,08%
Região Centro-Oeste 11.636.728 14.058.094 20,81%
Fonte: IBGE, 2010. Adaptado.
O crescimento populacional na região Centro-Oeste demonstra que exis-
tem fatores que podem alterar a composição demográfica em uma década, como:
 2 A alteração do perfil econômico da região que, atrelada à expansão 
da fronteira da atividade agrícola, atraiu novos estabelecimentos 
agroindustriais e novos habitantes para os municípios da região, 
levando ao crescimento das cidade.
 2 A expansão territorial da área agrícola que levou à maior utilização 
do solo para atividades econômicas, acarretando uma redução das 
áreas disponíveis e dificultando a formação de novas cidades, o que 
resulta no fortalecimento do papel das cidades existente.
 2 A expansão da atividade agrícola que, apesar da concentração popula-
cional nas cidades, leva ao fortalecimento das áreas rurais, incentivando 
a fixação dos trabalhadores no campo e definindo um novo padrão de 
migração rural-urbano, o qual atrai mais habitantes de outras regiões 
do que do próprio estado (HADDAD; PASTRE, 2016).
Geografia Urbana
– 48 –
No entanto, cabe destacar que a ausência de políticas de desenvolvi-
mento regional, que organizem o espaço e a formação de novas cidades, faz 
com que as cidades cresçam e possuam um tamanho maior que o recomen-
dado, comprometendo a gestão e a organização dessas cidades.
Existe uma relação diretamente positiva entre o crescimento das cidades 
e das aglomerações urbanas e a disponibilidade de empregos em atividades 
não agrícolas. As cidades industriais vão atrair mais trabalhadores e concentrar 
mais habitantes, acumulando maior capital humano e mão de obra capacitada, 
estando mais preparadas para se adaptar às inovações tecnológicas. Por esse 
motivo, essas cidades acabam se tornando polos de desenvolvimento tecnoló-
gico, por ter capital humano acumulado e mão de obra mais capacitada.
Portanto, o crescimento das cidades está relacionado à capacidade de 
atração e concentração demográfica baseado em trabalho e educação. A capa-
cidade institucional de articular as políticas públicas de educação, trabalho e 
emprego contribui para a migração de habitantes para as cidades, ampliando 
o processo de concentração populacional.
Uma visão geral do sistema urbano brasileiro mostra que o crescimento 
das cidades é desigual, com um número reduzido de cidades grandes que 
dominam a concentração populacional e, consequentemente, a concentração 
de capital humano.
3.1.2 Padrões no crescimento da renda
Uma segunda explicação para o crescimento das cidades passa pelo 
desempenho econômico, entendido aqui como a riqueza produzida pelas ati-
vidades produtivas e a renda média domiciliar, correlacionado com os salários 
pagos nessa economia (CARVALHO, 2003). Uma variável importante para 
análise é o preço dos imóveis urbanos que, mesmo variando de forma signi-
ficativa entre as cidades, demonstra a renda da família. O preço dos imóveis 
geralmente está relacionado a alguns fatores como a urbanização da região 
onde está localizado, o transporte que garanta a facilidade de acesso, proxi-
midade de infraestrutura de serviços públicos e privados, entre outros. Com 
o aumento do preço da terra, há elevação dos custos de aluguel, elevando 
também a renda dos locadores.
– 49 –
Estudo do crescimento das cidades
É importante entender o conceito de uso do solo como a forma pela qual 
o espaço está sendo ocupado pelo homem. Exemplos desses usos do solo são: 
área urbana, pastagens, florestas e locais de mineração. As decisões sobre o uso 
do solo também podem ocorrer pelo interesse particular dos agentes, como na 
especulação imobiliária, que é a compra ou aquisição de bens imóveis com a 
finalidade de vendê-los ou alugá-los posteriormente, na expectativa de que seu 
valor de mercado aumente durante o lapso de tempo decorrido.
O desempenho econômico das cidades não depende apenas da orga-
nização e do planejamento das cidades, mas também é consequência das 
políticas públicas federais e estaduais adotadas. A economia brasileira, numa 
análise dos últimos 50 anos, apresenta uma flutuação de resultados, partindo 
de um crescimento exponencial nos anos 1970 ao declínio nos anos de 1980 
e à recuperação e estabilidade econômica nos anos 1990. Observando esses 
dados, percebe-se que o cenário positivo dos anos 1970 ocorreu no con-
texto da desconcentração

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