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GEOGRAFIA URBANA Djalma de Sá E d u ca çã o G E O G R A F IA U R B A N A D ja lm a d e S á Esta obra tem por objetivo organizar o estudo da Geografia Urbana como instrumento de compreensão do cenário urbano atual e das relações sociais e econômicas do homem com a cidade. Busca-se compreender as cidades, ten- do por fundamento conceitos como espaço urbano, território e lugar, fazendo uma conexão da disciplina com outras áreas de estudo. Desse modo, espera- mos que você, leitor, tenha uma visão multidisciplinar da Geografia e um melhor entendimento da relação do homem com o espaço. Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6305-5 9 788538 763055 CAPA_Geografia Urbana.indd 1 26/05/2017 11:03:11 Djalma de Sá IESDE BRASIL S/A Curitiba 2017 Geografia Urbana CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ S111g Sá, Djalma de Geografia urbana / Djalma de Sá. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2017. 160 p. : il. Inclui bibliografia ISBN: 978-85-387-6305-5 1. Geografia urbana - Brasil. I. Título. 17-41731 CDD: 327 CDU: 327 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. © 2017 – IESDE Brasil S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Produção FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão IESDE Projeto Gráfico Sandro Niemicz Capa Vitor Bernardo Backes Lopes Imagem Capa brainpencil/Shutterstock.com Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Conceitos iniciais de Geografia Urbana | 7 2. Desenvolvimento da Geografia Urbana | 25 3. Estudo do crescimento das cidades | 43 4. As relações econômicas no processo urbano | 59 5. Processo de formação e urbanização das cidades | 77 6. Planejamento e políticas urbanas | 93 7. A produção do espação urbano e das redes urbanas | 109 8. Urbanização e sustentabilidade | 125 Gabarito | 143 Referências | 151 Carta ao aluno O Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que 84% da população brasileira vive em áreas urbanas, demonstrando uma forte aglomeração populacional nas cidades. O Brasil apresenta maior grau de urbanização quando comparado a outros países emergentes – a Rússia apresenta uma taxa de 73%, a China, 47% e a Índia, ape- nas 30%. Inclusive nos Estados Unidos percebe-se que há um grau de urbanização um pouco menor que o do Brasil: 82%. Esses números demonstram um forte processo de concen- tração populacional que, consequentemente, gera impactos na for- mação e expansão das cidades, na estruturação das redes urbanas e nas configurações regionais. Por outro lado, apresentam-se desafios para o atendimento de novas demandas, como a organização e dis- tribuição do espaço urbano, o processo de expansão das cidades e a estruturação de novas redes urbanas. – 6 – Geografia Urbana Com base nesse contexto, esta obra tem por objetivo organizar o estudo da Geografia Urbana como instrumento de compreensão desse novo cenário urbano e das relações sociais e econômicas do homem com a cidade. Busca-se compreender as cidades tendo por fundamento conceitos como espaço urbano, território e lugar, fazendo uma conexão da disciplina com outras áreas de estudo e possibilitando, desse modo, uma visão multidisciplinar da Geografia e um melhor entendimento da relação do homem com o espaço. Este livro está assim estruturado: o Capítulo 1 trata de conceitos ini- ciais de Geografia Urbana, destacando seus fundamentos e as relações com o processo histórico de formação da disciplina. O Capítulo 2 aborda o desen- volvimento da Geografia Urbana, observando o papel e a importância do estudo do meio urbano; já o Capítulo 3 estuda o crescimento das cidades, destacando as teorias do crescimento urbano. No Capítulo 4, são estudadas as relações econômicas no processo urbano, enfocando-se as interações da economia com o espaço, ao passo que o Capítulo 5 destaca o processo de formação e urbanização das cidades. O Capítulo 6 discute o planejamento e as políticas urbanas e seus impactos nas cidades, enquanto o Capítulo 7 trata do estabelecimento das redes urbanas. Por fim, no Capítulo 8 é proposta uma discussão sobre as relações da cidade com a sustentabilidade e os impactos da urbanização no meio ambiente. Esperamos que você utilize esta obra para seu crescimento acadêmico e profissional, a fim de fazer a diferença no mercado de trabalho e em seu dia a dia. Desejamos uma boa leitura! Conceitos iniciais de Geografia Urbana Introdução A GeoGrafia Urbana é a área da ciência geográfica que tem como objetivo o estudo da formação das cidades, da estruturação do meio urbano, descrevendo e analisando temas como a urbani- zação, a metropolização e as redes urbanas, o processo de formação das cidades e o ordenamento espacial do território e suas diversas classificações e tipificações. Para simplificar o entendimento, pode- -se dizer que a Geografia Urbana tem como objetivo o estudo do espaço urbano. Para melhor compreensão dessa área da geografia, a dis- ciplina apresenta uma interdisciplinaridade com outras ciências, como a política, a economia, a demografia, a arquitetura e urba- nismo e outras que contribuem para sua construção. 1 Geografia Urbana – 8 – 1.1 A questão urbana na geografia 1.1.1 O espaço urbano na geografia Em termos gerais, pode-se dizer que o espaço urbano pode ser entendido como o uso do solo nas cidades, onde se desenvolve um conjunto de atividades que ocorrem em uma mesma conformação territorial. Entende-se que essas atividades são estabelecidas pelas relações sociais e de produção, isto é, nesse espaço as pessoas vivem, trabalham e estabelecem suas relações econômicas. Nesse espaço ocorrem também as relações políticas, pois a organização e a conformação do território se dão por práticas de políticas públicas, cabendo ao Estado e aos demais formadores do espaço o ordenamento territorial do espaço urbano. É preciso, no entanto, estabelecer a diferença conceitual entre o urbano e a cidade, isto é, nem toda cidade é urbana, mas o urbano ocorre nas cida- des. O IBGE define que cidades com população inferior a 20 mil habitantes são caracterizadas como espaço rural. Geralmente se conceitua como espaço rural, o município com uma pequena quantidade de habitantes e com baixa dinâmica econômica. Dessa forma, pode-se entender que o espaço urbano é produzido com base nas relações econômicas, isto é, o processo econômico tem seus reflexos nas cidades e na transformação do espaço, constituindo, assim, a cidade capitalista. No entanto, se a formação do espaço urbano tem início nas relações econômi- cas, ele é apropriado pelas relações sociais vivenciadas pela coletividade. Assim, o espaço urbano é o palco de diversas interações sociais e econô- micas e a expressão da base territorial para o desenvolvimento do capitalismo. Ao produzirem o espaço urbano, os sujeitos sociais determinam a base de suas relações, constituindo a ação política e a materialidade, experiências de vida e atitude cidadã (SANTOS, 2007). Devido à diferenciação das relações sociais, o espaço urbano passa a ser fragmentado, condicionando tais relações e sendo ao mesmo tempo um reflexo delas. Assim, esse espaço pode ser compreendido como uma arena de lutas entre as diversas classes sociaisque formam esse espaço. Ou seja, a – 9 – Conceitos iniciais de Geografia Urbana organização do espaço representa o resultado das lutas das classes sociais esta- belecidas na cidade (CORRÊA, 2006). As relações sociais historicamente construídas definem essa organiza- ção do espaço das cidades em um determinado período histórico. Assim, no decorrer do tempo, o espaço precisa ser novamente ordenado, para atender às novas características do desenvolvimento da localidade. Uma das características marcantes do espaço urbano, se comparado ao espaço rural, é a significativa presença de diferentes formas espaciais, mate- rializadas no uso do solo urbano. Se no espaço rural o solo é destinado basi- camente para a atividade econômica agrícola, no espaço urbano o uso do solo é diverso tanto para as relações econômicas, quanto para as relações sociais, definindo desse modo, um caráter heterogêneo à utilização do espaço (CORRÊA, 2006). Assim, como conceituação final, pode-se citar as palavras do geógrafo Milton Santos: “O espaço deve ser considerado como um conjunto indisso- ciável de que participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimento” (SANTOS, 1997, p. 26). 1.1.2 O conceito de território na geografia O território é um conceito muito utilizado e bastante difundido no estudo da Geografia Urbana, pois está estreitamente relacionado aos pro- cessos de construção e transformação do espaço geográfico. A terminologia adota várias definições, conforme a corrente de pensamento defendida, mas existe um ponto comum entre todos os pensadores: território trata do espaço apropriado com base nas relações de poder. Um dos pioneiros no estudo do conceito de território foi Friedrich Ratzel (1844-1904), que defendia a ideia de que tal conceito está vinculado ao poder e ao domínio exercido pelo Estado, definindo uma identidade da sociedade vinculada à expressão do território. No conceito jurídico, define-se território como um dos pilares para a existência do Estado: território, população e sobe- rania. O Estado somente existe ao exercer sua soberania sobre sua população dentro do seu território (CARVALHO, 1997). Geografia Urbana – 10 – O geógrafo suíço Claude Raffestin (1936-1971) também discutiu o conceito de território ressaltando a primazia anterior do conceito de espaço na geografia. Assim, Raffestin via o território como o espaço apropriado e construído pelas relações de poder. A expressão dessas relações se dá em todas as relações de poder, definindo diversos territórios dentro do mesmo espaço urbano (SANTOS, 1994). Atualmente, a geografia entende território como um espaço delimitado por fronteiras, que nem sempre são visíveis, expresso e imposto pelas relações de poder. O geógrafo Marcelo Lopes de Souza (2003) cita que nem sempre o processo de formação territorial ocorre por meio de expressões concretas sobre o espaço. Souza evidencia a existência de múltiplas territorialidades dentro das cidades, como o território do narcotráfico, do comércio ambu- lante, entre outros. Para Haesbaert (1997, p. 18), o território é analisado a partir de três enfoques: 1) jurídico-político, segundo o qual “o território é visto como um espaço delimitado e controlado sobre o qual se exerce um determinado poder, especialmente o de caráter estatal”; 2) cultural(ista), que “prioriza dimensões simbólicas e mais subjetivas, o território visto fundamentalmente como pro- duto da apropriação feita através do imaginário e/ou identidade social sobre o espaço”; 3) econômico, “que destaca a desterritorialização em sua perspectiva material, como produto espacial do embate entre classes sociais e da relação capital-trabalho”. Robert Sack (1986) afirma a territorialidade como estratégia de con- trole, chamando atenção para suas multiescalas (das relações espaciais de uma casa às de países) e para a variação temporal (territórios diferenciados em partes diferentes de um dia, por exemplo) definindo o conceito de geografia do poder. Bonnemaison busca uma aproximação dos conceitos de território e de lugar, pois, para ele, um território, antes de ser uma fronteira, é um conjunto de lugares hierárquicos, conectados por uma rede de itinerários [...]. No interior deste espaço-território os grupos e as etnias vivem uma certa ligação entre o enraizamento [...]. A territorialidade se situa na junção destas duas atitudes: ela engloba ao mesmo tempo o que é fixação e o que é mobilidade ou, falando de outra forma, os itinerários e os lugares. (BONNEMAISON, 1981 apud HOLZER, 1997, p. 83) – 11 – Conceitos iniciais de Geografia Urbana Por sua vez, Milton Santos (1994) explorou o conceito de território usado, segundo o qual o território não é organizado somente pelo Estado ou pelas relações sociais, não estando, assim, delimitado apenas pelas relações de poder. Para Santos (1997), o território é um sistema de ações que os agentes utilizam para se apropriar do espaço. O território usado é constituído pelo território forma – espaço geográfico do Estado – e seu uso, apropriação, pro- dução, ordenamento e organização pelos diversos agentes que o compõem: as firmas, as instituições e as pessoas. 1.1.3 O conceito de urbano na Geografia Apesar de as diferenças entre urbano e rural serem facilmente identifi- cáveis, torna-se difícil defini-los conceitualmente. Para Bernardes, Santos e Nalcacer (1983, p. 6), “o conceito mais comum de urbano refere-se à concen- tração, num ponto de espaço, de construções e de pessoas que não exerçam atividades rurais (ou que o façam em uma proporção reduzida em relação às atividades urbanas) desempenhadas no interior desse espaço concentrado” . Da mesma forma, a urbanização é a passagem do rural para o urbano, seja no aspecto estrutural do espaço, na questão demográfica, no ordena- mento do território ou no próprio estabelecimento das relações sociais e de produção (SANTOS, 1996). No aspecto comportamental, a geografia da percepção ou comportamental entende que os sentimentos de solidariedade e de grupo dão lugar à segregação do espaço urbano e das relações sociais, juntamente com os estudos da geografia humana. No aspecto estrutural, sabe-se que a cidade se organiza com base nas condições sociais e econômicas, ampliando a complexidade das relações. Já em relação ao aspecto demográfico, o urbano apresenta a condição de concentração populacional, devido ao processo de atração das cidades em função da comple- xidade das relações de produção, por meio do estudo da geografia da população. Para Léfèbvre (2004), o conceito de urbano está vinculado ao processo de construção capitalista do espaço, sem ser, no entanto, um produto da industrialização. De acordo com o autor, o urbano é o espaço construído para o estabelecimento das relações sociais e de produção, e, portanto, produto do humano. Para Castells (1983), o urbano é produto da evolução das formas espaciais, gerando uma independência das relações geográficas e uma maior Geografia Urbana – 12 – interação entre as forças produtivas, sociais e culturais. Assim, é no urbano que as pessoas se relacionam, trabalham e consomem. Nesses modelos apresentados, entende-se que a urbanização vai além das cidades, pois mesmo quem mora em áreas rurais desloca-se às áreas urba- nas para as relações de produção, como comprar, consumir ou investir. Esse entendimento pode ser melhor definido ao se observar pequenos municí- pios com predominância de áreas rurais, os quais estabelecem relações com o urbano, seja vendendo a produção, seja consumindo bens e produtos forne- cidos em grande escala pelas cidades. Resumindo: Espaço urbano é a organização espacial da cidade, que corresponde ao uso do solo, onde se desenvolve um conjuntode atividades. Esse espaço fragmentado pelas relações sociais apre- senta, também, uma articulação, pois cada uma das partes mantém relações com as demais. Território é a ocupação do espaço urbano, com base nas relações de poder impostas; assim, quem manda em determinada região também domina determinado território. 1.2 Elementos das geografias clássica e contemporânea e suas relações com a Geografia Urbana 1.2.1 O objeto de estudo da geografia clássica A ciência da geografia tem como foco de estudo as relações existentes entre os aspectos físicos, biológicos e humanos, bem como as características inter-relacionadas entre esses aspectos. Estuda, também, a organização do – 13 – Conceitos iniciais de Geografia Urbana espaço, constituída pelos diversos elementos da paisagem geográfica, como natureza, cultura e demais aspectos espaciais (BEZZI, 2004). O espaço geográfico compreende dois conceitos de natureza bastante distintas: 2 Espaço natural: É o espaço sem interferência antrópica (do homem), o qual mantém suas características naturais, conforme demonstrado pela imagem abaixo. Como exemplo, tem-se as flo- restas fechadas, o fundo dos mares, entre outros. Figura 1 – Espaço natural: vista aérea da Floresta Amazônica. Fonte: Ildo Frazão/iStockphoto. 2 Espaço construído: É o espaço modificado pelas atividades huma- nas, em que o aspecto natural foi alterado por interferências antró- picas. Como exemplo, tem-se as cidades, as praças, os portos e aeroportos, entre outros, configurando espaços de grande concen- tração e densidade, conforme demonstrado na imagem a seguir. Resulta das interações socioeconômicas, da produção da sociedade, e é fruto das relações sociais e de produção. O espaço construído tem como atores principais os proprietários dos meios de produção e o Estado, que almejam a acumulação do capital e a reprodução da força de trabalho (CORRÊA, 1982). Geografia Urbana – 14 – Figura 2 – Cidade de Nova Iorque, EUA: espaço construído e densamente ocupado. Fonte: TomasSereda/iStockphoto. Outro conceito bastante difundido na geografia é o conceito de espaço geográfico (Figura 3). Assim como o espaço construído, ele é resultado do processo de transformação do espaço natural. É composto pelas cidades (meio urbano) e pelas fazendas e propriedades do campo (meio rural). Figura 3 – Espaço geográfico. Fonte: filipefrazao/iStockphoto. – 15 – Conceitos iniciais de Geografia Urbana 1.2.2 Abordagens da geografia clássica e da contemporânea A Escola Determinista defendia a ideia de que o meio natural influen- cia totalmente o homem, ou seja, são as condições naturais que determinam a vida em sociedade. A partir dessa visão desenvolveu-se o conceito de espaço vital, que definiria as condições espaciais e naturais para que o Estado con- solide o poder sobre seu território. Sendo assim, as populações que apresen- tavam melhor espaço vital estariam mais aptas a se desenvolver e conquistar novos territórios (CARVALHO, 1997). A Escola Possibilista Francesa se contrapunha à Escola Determinista e entendia que a natureza oferece possibilidades para modificar a realidade e adequá-la a suas necessidades. Assim, a transformação do espaço fica à cri- tério da capacidade humana de adaptar-se para atender suas necessidades. Dessa forma, algumas condições, como a pobreza de determinada região, não seriam consequências da ação da natureza sobre o homem, mas sim da inca- pacidade social de se criar possibilidades para suprir o que lhe é necessário (FERREIRA; SIMÕES, 1986). O Método Regional é uma contraposição aos dois modelos anteriores e tem como base filosófica o estudo das diferenciações das áreas. Compara, assim, as similaridades dessas áreas, que definiriam suas classes (regiões), e as diferenças, que trariam suas delimitações (MORAES, 2005). A Nova Geografia nasce após a Segunda Guerra Mundial, quando os países passavam por uma fase de expansão capitalista e, assim, a Geografia e suas dimensões já não conseguiam explicar o novo desenho geográfico do pla- neta e suas relações econômicas, sociais e espaciais. Diante desse contexto, a Nova Geografia abrange os efeitos das associações do crescimento capitalista e os denominados deserdados da terra. Busca-se, nesse momento, compreender a conexão entre planejamento governamental, estatística, economia e teoria dos sistemas, conhecida também como Geografia Pragmática (MORAES, 2005). Em meados dos anos de 1970, surgiu a Geografia Crítica, também cha- mada de radical ou marxista, como resposta aos fenômenos sociais dos Estados Unidos. Naquele momento da história, os EUA viviam um período de inten- sas manifestações em defesa dos direitos civis, nas quais contestavam-se as Geografia Urbana – 16 – contradições do avanço do capitalismo. Dessa forma, os geógrafos dessa cor- rente defendem a ideia de que cabe à geografia o estudo dos impactos das rela- ções sociais sobre o meio e sobre a construção do espaço (MORAES, 2005). E, por último, tem-se o advento da Geografia Ambiental, que estuda os efeitos do homem sobre o espaço natural e seus impactos, como desma- tamento, poluição dos rios, lagos e mananciais, processos de desertificação, mudanças climáticas globais, entre outros (MORAES, 2005). Percebe-se, claramente, que a geografia migrou de um objeto de estudo estático e amplamente conhecido, como os espaços naturais e as fronteiras territoriais, para um aspecto mais dinâmico, compreendendo as alterações do ambiente devido aos cenários históricos ou sociais. Por exemplo, se na geografia clássica estudava-se o rio, seu desenho e seus afluentes, na geografia contemporânea estudam-se os efeitos antrópicos sobre esse rio e a relação deste com a cidade, tanto em termos de abastecimento de água quanto na forma de modal de transporte. Assim, a Geografia Urbana pode ser entendida como um fruto da Nova Geografia, buscando-se compreender a formação dos novos espaços basean- do-se no contexto social, histórico e econômico das cidades e suas diversas conformações e segmentações. Expoente da Geografia Urbana, o já citado geógrafo Milton Santos, a partir dos estudos de Nice Lecocq Müller e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, deu visibilidade à geografia bra- sileira e aos estudos da urbanização nos países subdesenvolvidos. A obra de Santos e a associação da geografia com as relações sociais e econômicas na formação do espaço urbano deu um salto no sentido de se ampliar o objetivo dos estudos da Geografia Urbana. 1.2.3 A interdisciplinaridade do estudo da Geografia Urbana A geografia tem uma aproximação com as mais diversas ciências sociais, pois analisa a relação do ambiente urbano com o ambiente natural, além das relações sociais e econômicas, para compreender as alterações no espaço decorrentes dessas associações. – 17 – Conceitos iniciais de Geografia Urbana Para compreensão das relações decorrentes da sociedade, o geógrafo precisa recorrer aos conhecimentos da sociologia, analisando as estruturas e relações sociais. A antropologia auxilia o geógrafo a compreender as resistên- cias que os agentes da sociedade apresentam às novas organizações do espaço. A economia política ajuda no entendimento do processo de produção do espaço por meio das atividades econômicas e de como o espaço urbano se adequa a essas conformações. Já no que diz respeito à relação do homem com o ambiente, o geógrafo lança mão da psicologia para explicar a representação mental do espaço urbano para a sociedade (MORAES, 1989). 1.3 Relação da Geografia Urbana com a geografia econômica 1.3.1 A geografia econômica e sua relação com as cidades Geografia econômica é o ramo do conhecimento responsável por com- preender a lógica da produção e distribuição das atividades econômicas no espaço geográfico, a influênciadas estruturas econômicas e produtivas sobre o ordena- mento espacial e vice-versa. Cabe lembrar que o espaço urbano é construído a partir das relações estabelecidas, sejam elas sociais ou econômicas, e, assim, a estrutura produtiva pode contribuir com sua formação (MORAES, 2005). Um exemplo prático de aplicação da geografia econômica foi a Revolução Industrial, que se estabeleceu como uma nova estrutura produtiva para aquele momento histórico (séc. XVIII). A cidade de Manchester, na Inglaterra, teve seu espaço urbano totalmente alterado com a implantação da indústria, o que impactou o ambiente natural e atraiu um fluxo migratório para a cidade, modificando a paisagem e as condições sociais da população. Portanto, as atividades econômicas (indústria, comércio, serviços ou turismo) alteram as conformações espaciais, caracterizando as cidades e dando-lhes diferentes identidades. Beaujeu-Garnier (1997) destaca as seguintes caracterizações: Geografia Urbana – 18 – 2 Cidades político-administrativas: nelas se localizam as sedes administrativas e parlamentares dos governos. Costumam ter uma oferta elevada de emprego na área pública, para o exercício da função política. Exemplos: Brasília (Brasil), Washington (EUA), Pretória (África do Sul), Ottawa (Canadá) etc. 2 Cidades religiosas: são as cidades que estruturam suas dinâmi- cas econômicas em algum tipo de atividade religiosa, atraindo um grande número de fiéis, em certo período do ano ou de forma regu- lar. Exemplos: Jerusalém (Israel), Meca (Arábia Saudita), Aparecida do Norte (Brasil), Santiago de Compostela (Espanha), entre outras. 2 Cidades turísticas: têm como principal dinâmica econômica seus aspectos turísticos ou de lazer, seja pelos recursos naturais preservados ou pelas possibilidades oferecidas no espaço geográfico urbano. Exemplos: Las Vegas (EUA), Porto Seguro (Brasil), Cancun (México), entre outras. 2 Cidades portuárias: são estruturadas para atender o comércio internacional por meio da carga e descarga de mercadorias nos por- tos nelas instalados. Exemplos: Santos (Brasil), Roterdã (Holanda) e Hamburgo (Alemanha). 2 Cidades industriais: destacam-se por centrarem sua estrutura econômica na dinâmica industrial, apresentando centros ou par- ques industriais em determinadas áreas. Exemplos: Camaçari (Brasil), Córdoba (Argentina), Manchester (Inglaterra), Dusseldorf (Alemanha), entre outras. 2 Cidades tecnopolos: concentram um grande número de empresas e profissionais ligados a diversas áreas da tecnologia, localizando- -se em sua região universidades e centros tecnológicos de pesquisa. Exemplos: Campinas (Brasil); Palo Alto, San Francisco e Santa Clara (Vale do Silício, EUA); Cambridge e Londres (Inglaterra); Munique (Alemanha); entre outras. Apesar dessas classificações, existem cidades que podem conter mais de uma dessas funções, devido ao fato de apresentarem grande dinamismo, ele- vada importância econômica regional e internacional, além de um forte con- tingente populacional. – 19 – Conceitos iniciais de Geografia Urbana 1.3.2 A teoria centro-periferia na geografia econômica Com base nas relações da estrutura econômica-social com a formação e organização espacial, os estudiosos da geografia econômica começaram a desenvolver estudos que culminaram na teoria centro-periferia, como forma de compreender o espaço a partir dos impactos da atividade econômica. Para entender essa teoria, é preciso compreender a existência de dois setores da economia: a agricultura e a indústria. A agricultura produz bens únicos e sem diferenciação, com preços determinados pelo mercado e um grande número de produtores. Os consumidores não buscam variedade produtiva e, por isso, fazem suas escolhas baseadas quase exclusivamente no preço, gerando rendimentos constantes para os agricultores. A indústria, por sua vez, produz bens altamente diferenciados, com preços determinados pelas empresas produtoras. Os consumidores dos produtos industrializados buscam variedade e pagam valores maiores conforme o grau de diferencia- ção apresentado, gerando retornos crescentes para as indústrias (FUJITA; KRUGMAN; VENABLES, 2002). A atividade industrial, considerada uma atividade de centro, consome o serviço de profissionais de elevada escolaridade para a geração de alta tecno- logia, além de ter mais apoio do sistema financeiro. Já a atividade agrícola, considerada uma atividade de periferia, utiliza menos recursos tecnológicos e profissionais com menor qualificação. Desse modo, a atividade industrial está concentrada espacialmente no centro, devido à centralização de profissionais melhores qualificados, de maiores rendi- mentos e do mercado consumidor. A periferia, por sua vez, passa a ter uma função de fornecimento de insumos para a produção e demanda na região central, estabe- lecendo uma relação entre o centro industrial e a periferia agrícola. Portanto, a industrialização passa a influenciar o processo de urbanização das cidades porque atrai toda uma rede de serviços, lazer, estudos e pesquisas. Como a cidade industrial expande sua atuação no território, ela demanda mais serviços públicos de mobilidade urbana, infraestrutura, saúde, educação e equipamentos públicos. Devido à demanda por esses serviços, que aumenta com a migração de outras regiões, as grandes cidades geram maiores receitas e necessitam de mais investimentos do Estado para melhor atendê-las. Geografia Urbana – 20 – O aumento das oportunidades de emprego, educação e acesso a servi- ços públicos gera uma atratividade aos municípios centrais, causando um fluxo migratório do campo para a cidade. Como as cidades geralmente não comportam toda essa demanda migratória, ocorre uma fragmentação maior do território, com espaços urbanizados desenvolvidos para aqueles que têm maior rendimento econômico e, muitas vezes, espaços não plenamente urbanizados para os que não têm as mesmas condições. Isso gera problemas urbanos como a formação de áreas irregulares, ocupação de áreas de manan- ciais e de preservação, entre outros. Ampliando seus conhecimentos Verticalização, densificação e qualidade do espaço residencial (SCUSSEL; SATTLER, 2010, p. 138-139) Ao discorrer sobre como as cidades podem contribuir para o desenvolvimento sustentável, Satterthwaite (2004) identifica, entre as categorias gerais em que se inserem os elementos de avaliação do desempenho ambiental das cidades, a “universa- lização de um ambiente urbano de boa qualidade para todos os habitantes” – por exemplo, em termos do índice de área verde e da qualidade de espaço aberto por pessoa (parques, praças públicas, instalações para esporte, brinquedos infantis) e da proteção do patrimônio natural e cultural. Nessa perspectiva, torna-se primordial o reconhecimento do espaço residencial, em que se desenvolve grande parte do cotidiano dos moradores de uma cidade, como tema central na questão da qualidade do espaço construído. Na conformação do espaço residencial identificam-se três grandes componentes, ou campos de análise: a moradia – 21 – Conceitos iniciais de Geografia Urbana propriamente dita; a infraestrutura, serviços e equipamentos urbanos; e o entorno ou paisagem. As principais variáveis de análise de cada componente podem ser descritas como segue: (a) moradia: tamanho/densidade de ocupação; funcionali- dade; material e técnica construtiva; tipo arquitetônico; estado de conservação; conforto térmico; (b) infraestrutura, serviços e equipamentos urbanos: água: tipo de abastecimento/tratamento; esgoto: coleta/destino/tra- tamento; lixo: coleta/destino; luz e telefone; transportes; escola; posto de saúde; áreas verdes, praças e parques; espaços culturais: museus/bibliotecas/teatro; comércio; e (c) entorno: ambiente construído – patrimônio arquitetônico; arborização; trânsito;ruído; ventilação; insolação – expo- sição solar; segurança; vizinhança. Entre esses componentes, estabelecem-se relações que cons- tituem parte fundamental do metabolismo diário da cidade e que são afetadas pelos padrões urbanísticos vigentes. Os padrões urbanísticos sempre foram discutidos como gran- des diretrizes conformadoras do espaço das cidades, sejam as consagradas máximas da Carta de Atenas, que imprimiu às cidades modernas o ideário das funções urbanas comparti- mentadas, dos zoneamentos exclusivos de usos, sejam aque- les padrões prescritos por urbanistas como Howard e Camilo Sitte, que, no século XIX, buscaram alternativas à situação de caos instalada nas cidades pós-Revolução Industrial (KOHLSDORF, 1985; RYKWERT, 2004). Para o arquiteto Cristopher Alexander, que ofereceu impor- tante contribuição ao desenho urbano, os padrões tornam-se elementos constituintes de uma linguagem atemporal de cons- trução do espaço (ALEXANDER, 1977). Numa concepção integral e integradora do ambiente, este é definido pelo enca- deamento de um conjunto de padrões que determinam a Geografia Urbana – 22 – estrutura do espaço socialmente construído. Ao propugnar pela diversidade de usos convivendo no mesmo espaço, pela proximidade do trabalho e da casa, pela integração dos cami- nhos e percursos à paisagem natural, Alexander sinalizava para um conjunto de princípios adotados pela matriz da sustenta- bilidade, embora, à época, sequer se esboçasse formulação teórica nesse sentido. Pesquisadores a ele associados, como Salingaros (2003), trabalham, hoje, com sua consagrada premissa de que “a cidade não é uma árvore”, ao defender padrões urbanísticos que tornam a cidade mais orgânica, capaz de oferecer respostas a uma realidade em que tudo está conectado – não apenas em um caminho de ramificações que se vão desdobrando, em capilaridades menores, mas em redes que se lançam em múltiplos sentidos e dimensões. A descrição e os preceitos preconizados por essa linha de autores convergem com a defesa do padrão da cidade mediter- rânea de Rueda (2002), a cidade compacta e diversa. Aqui se reúnem princípios como o da multiplicidade de usos e ativida- des, que encurta distâncias e busca a redução da locomoção, mediante o estímulo ao desenvolvimento de relações locais, em que habitação, trabalho e lazer estejam próximos. Ainda segundo Rueda (2002), o modelo compacto e diverso se aproxima muito mais de uma “cidade sustentável” do que o padrão anglo-saxão de conurbação difusa, que constituiu cida- des com zoneamento de funções, segmentadas, que propi- ciam menor interação e maiores deslocamentos e segregação. Diferentes autores parecem acordar em eleger a cidade con- centrada e densificada como mais viável (SOMEKH; LEITE, 2008; LEITE, 2010), em contraponto à cidade dispersa, do subúrbio americano, tributária das facilidades de locomoção permitidas pelo uso massivo de energia proveniente do petró- leo. A partir da visão de que todas as formações urbanas, ao longo da história, foram resultado da articulação tecnoló- gica da rede de recursos e fontes energéticas disponíveis no – 23 – Conceitos iniciais de Geografia Urbana território, Droege (2008) aponta a necessidade de se fazer uma “revolução urbana” para que se tenha uma cidade renová- vel, assentada em novos paradigmas, que rompam o modelo de dependência dos combustíveis fósseis. No entanto, embora geralmente associadas, a densificação propugnada não implica, necessariamente, a verticalização acentuada como solução edilícia – veja-se o caso de Paris. Evidentemente, para além dos padrões urbanísticos, o enten- dimento dos processos de verticalização e densificação das cidades passa por questões vinculadas às múltiplas dimensões da produção do espaço – econômica, social, política, cultural. Somekh (1997) aponta para a natureza das relações estabele- cidas entre o arranha-céu e a cidade: não apenas volumétrica, mas essencialmente simbólica, na medida em que o edifício alto supõe desenvolvimento tecnológico, constitui mani- festação das forças de mercado e implica novas formas de consumo. Os usos simbólicos da verticalidade, do domínio sobre a paisagem ao poder que multiplica o solo e os ganhos imobiliários também são abordados por Corrêa (2007). Já Roaf, Crichton e Nicol (2009) discorrem exaustivamente acerca das características dos edifícios altos, envolvendo aspectos relativos à construção, uso, manutenção e impacto no entorno, entre os quais: (a) custos de construção, operação e manutenção elevados, quanto mais alto for o edifício, por exigir sistemas cons- trutivos e de proteção (contra incêndio, intempéries) mais complexos; (b) no caso de inserção em áreas consolidadas, sobrecarga aos sistemas de infraestrutura urbana previamente existentes – abastecimento de água, esgotamento sanitário, energia elé- trica, sistema viário –, além de multiplicação da demanda aos serviços e equipamentos de uso coletivo; e Geografia Urbana – 24 – (c) modificação do clima local, com aumento da velocidade dos ventos ao nível da rua, sombreamento; prejuízo ao conforto térmico, lumínico e acústico, não só do entorno mas também do próprio edifício, conforme a altura e o posicionamento de determinada unidade – quanto mais alto o edifício, maior o problema de estratificação térmica e maior o consumo de energia para climatização (ROAF; CRICHTON; NICOL, 2009). Em estudo comparativo realizado por Souza (1994), que ana- lisou cerca de 70 metrópoles mundiais quanto a seu processo de crescimento, São Paulo e México apresentaram caracte- rísticas similares entre si e distintas em relação a metrópoles como Nova York, Tóquio, Londres e Paris: o ritmo de cresci- mento das latinoamericanas mostrou-se muito mais acelerado. Nesse processo, ao analisar o papel dos agentes produtores (incorporadores, construtores e vendedores), a autora des- taca a peculiar importância da figura do incorporador na área habitacional brasileira (SOUZA, 1994). Atividades 1. Desenvolva um fluxograma que explique o impacto das migrações dos trabalhadores das áreas rurais para as cidades e suas consequências para a organização do espaço geográfico. 2. Apresente uma estrutura que demonstre os diversos territórios que podem existir dentro do espaço urbano das cidades. 3. Explique por que o desenvolvimento econômico das grandes cidades confirma a teoria centro-periferia. Desenvolvimento da Geografia Urbana Introdução A Geografia Urbana tem como foco de estudo a formação das cidades, o processo de urbanização, os territórios e lugares em seus aspectos quantitativos, qualitativos e espaciais. No tocante ao espaço urbano, as cidades passam por um processo de evolução da cidade política para a cidade comercial, chegando, por fim, à cidade industrial. O aspecto de identificação com a cidade também é contem- plado no estudo sobre o lugar, isto é, o espaço que apresenta pontos de identificação com aqueles que ali se estabelecem. A ausência de identificação com o ambiente também é estudada com a definição dos não lugares. 2 Geografia Urbana – 26 – 2.1 Tipos de estudos geográficos urbanos Os estudos geográficos urbanos clássicos tratavam apenas da organização da superfície terrestre, buscando a compreensão do processo de construção do espaço urbano, por meio das interações e influências entre o homem e o espaço. Albert Demangeon escreveu, em 1942, que estudos urbanos “são os estudos dos grupos humanos nas suas relações com o meio geográfico” (DEMANGEON apud CHRISTOFOLETTI, 1982, p. 52). Assim, os estudos clássicos buscavam compreender as relações do homem com o meio físico. A partir do século XX, os estudos geográficos urbanos passam a ter diversas tipificações, dentre as quais se destacam: 2 Estudo sobre as cidades: abordam a formaçãoe o crescimento das cidades, o estabelecimento das redes urbanas e das regiões metro- politanas. Estudam, também, a relação entre as cidades, definidas pela hierarquia urbana e o futuro dessas localidades, promovendo novas formas de organização do espaço urbano e configurando a dicotomia entre o campo e a urbe. 2 Estudos sobre a urbanização: estudam a estruturação e a expansão territorial para organizar as aglomerações urbanas nas localidades. Estão diretamente ligados à centralidade nas atividades comerciais e industriais, criando uma força de atração populacional em relação ao campo. Tratam, também, das modificações e das obras impostas pelos gestores e pelos atores da cidade na conformação do território. 2 Estudos territoriais: tratam da estruturação do espaço urbano por meio das relações de poder estabelecidas pelos grupos organizados no local. Esses grupos se apropriam dos espaços definindo terri- tórios, que impactam a urbanização, bem como a formação e o crescimento das cidades. Além desses estudos, a geografia também pesquisa a territorializa- ção econômica da cidade, definindo o lugar das atividades econômicas, – 27 – Desenvolvimento da Geografia Urbana notadamente a indústria. No âmbito regional, a estrutura econômica tem o poder de direcionar o crescimento das atividades econômicas e a própria expansão da urbanização (BRITO; HORTA, 2002). Para melhor compreen- são dos processos de urbanização e de seus fenômenos e reflexos na cidade, a Geografia Urbana se utiliza de outras ciências auxiliares, como a economia e o urbanismo, distinguindo, assim, as relações sociais e econômicas que formam o espaço urbano. As pesquisas também contemplam o desenvolvimento regional e territo- rial, propondo a articulação e a interação entre o espaço urbano das cidades em uma mesma região. Esses estudos colaboram para a compreensão da formação do espaço regional, suas similaridades e diferenças, estabelecendo uma política de ordenamento da região. Por exemplo, nos anos de 1970, estudos regionais realizados em regiões metropolitanas demonstraram haver áreas que necessita- vam ser preservadas e áreas que deviam ser direcionadas à atividade industrial. Os dados coletados sobre a urbanização brasileira geram bases de dados que podem ser tratados e especializados em representações gráficas. Dessa forma, é possível realizar a análise da Geografia Urbana também por meio de mapas que retratem o fenômeno analisado, além de figuras, ícones ou infográficos explicativos para facilitar a compreensão da informação. Pode-se, ainda, contemplar aspectos da organização funcional urbana, como o uso da terra, a distribuição da vegetação e das águas, além do mapeamento das atividades da cidade e outros dados que designem funções específicas desse espaço. Essas informações sistematizadas e organizadas em mapas têm um papel fundamental para a elaboração e a consequente comunicação dos pla- nos diretores nas cidades. Ressalta-se que a organização do espaço, suas interações e configurações podem ser avaliadas de forma quantitativa ou qualitativa, ampliando o enten- dimento das formas espaciais urbanas: Geografia Urbana – 28 – 2 Aspectos quantitativos: a realidade do espaço urbano pode ser quan- tificável como área, densidade, superfície, fluxo etc. Permite a análise, a comparação, a espacialização por meio de modelos matemáticos. Assim, alguns aspectos, como população urbana, porcentagem de urbanização e crescimento urbano, são quantificáveis, permitindo que as informações sejam especializadas e, ainda, a geração de uma base de dados a serem compilados, organizados e tratados. 2 Aspectos qualitativos: refere-se ao tratamento dado aos espaços, proporcionando uma melhor qualidade ao espaço urbano. Podem tratar da qualidade da pavimentação, da acessibilidade, da adapta- ção do espaço ao clima, da melhor utilização dos recursos naturais etc. (SANTOS, 1985). Figura 1 – Área revitalizada para adequação ao uso urbano no município de Curitiba. Fonte: CURITIBA, 2012. A Figura 1 mostra o Parque das Pedreiras, em Curitiba, capital do Paraná. Esse parque, inaugurado no ano de 1992 no espaço em que havia uma antiga pedreira da cidade, contempla o teatro Ópera de Arame (estrutura tubular na parte inferior da imagem) e a Pedreira Paulo Leminski (área central da – 29 – Desenvolvimento da Geografia Urbana imagem), utilizados em grandes eventos na cidade. Assim, a área foi revitali- zada e destinada para outro fim, readequando-se o espaço e reduzindo-se os impactos ambientais e urbanos. Determinou, dessa forma, o aspecto quali- tativo do estudo geográfico urbano, garantindo a manutenção da paisagem urbana como um espaço de interação na cidade. Os aspectos quantitativos e qualitativos também são estudados pela ótica da arquitetura e utilizados como base de informações para melhorias e revitalização da paisagem urbana. Os aspectos quantitativos são quantificáveis na paisagem urbana, buscando controlar os aspectos físicos da cidade. Já os aspectos qualitativos referem-se ao tratamento dos espaços, a seu conforto, comodidade e qualidade ambiental, como a insonorização, o isolamento tér- mico e a insolação, entre outros, que dependem do tipo e estado de pavimen- tos e da adaptação ao clima local (LAMAS, 2004). 2.2 Desenvolvimento da Geografia Urbana A Geografia Urbana tem como objeto de estudo as áreas urbanas, bem como a produção do espaço urbano e suas alterações causadas pela ação antró- pica. Dessa forma, o desenvolvimento da Geografia Urbana está diretamente ligado ao desenvolvimento e à evolução das cidades. Em primeiro lugar, é importante compreender que as cidades sempre existiram e, no contexto da Geografia Urbana, apresentam construções dife- rentes, decorrentes de sua evolução histórica. Dessa forma, desconstrói-se a imagem clássica da cidade que nasce a partir da Revolução Industrial, caracte- rizando a dicotomia campo-cidade. Essa dicotomia clássica permitiu a cons- trução de uma visão da urbe como um espaço onde há um ritmo de urbaniza- ção constantemente acelerado, com alta densidade populacional e problemas urbanos comuns, como falta de moradia, de mobilidade urbana e de trabalho para a mão de obra excedente, que é atraída pela imagem popularizada da cidade. O espaço rural, por outro lado, é visto como um espaço bucólico, dis- tante das inovações dos espaços urbanos, carente de equipamentos públicos e sem os problemas encontrados na área urbana. Geografia Urbana – 30 – O estabelecimento de uma visão dicotômica que possibilita a constru- ção de uma imagem fantasiosa do campo e da cidade apresenta um grande problema para o entendimento da Geografia Urbana: o distanciamento entre espaço rural e espaço urbano não permite estabelecer uma relação entre ambos. Entretanto, a construção do espaço urbano contempla as relações existentes entre a cidade e o campo: assim como algumas atividades do campo interagem com a urbe, como as produtivas e econômicas (por exemplo, fornecimento de materiais e insumos para fábricas e estabelecimentos das cidades), o espaço urbano também se relaciona com o rural (no turismo, lazer, entre outros). Então, quando se pensa na dicotomia clássica entre o campo e a cidade dificulta-se a percepção da dinâmica que ocorre no espaço urbano. O desen- volvimento da Geografia Urbana, assim, passa pela desconstrução dessa pers- pectiva segmentada e pela proposta de uma nova visão do espaço urbano, que compreenda as características espaciais e temporais próprias das cidades. A cidade precisa ser entendida como um espaço percebido pela ótica da socie- dade, contrariamente à sua interpretação tradicional como um espaço predo- minantemente desenvolvido e, consequentemente, melhor. Nessa concepção, a Geografia Urbana estuda a cidade como resultado das aglomerações urbanase das relações econômicas e sociais estabelecidas. Sendo assim, a cidade não é uma invenção moderna, mas sim consequência de inte- rações advindas da concentração urbana. O desenvolvimento da Geografia Urbana, portanto, perpassa a evolução da urbe e de seu papel na construção social e na organização dos agrupamentos urbanos (CLARK, 1998). Para entender a dinâmica do processo de evolução urbana, é importante traçar uma linha histórica destacando o papel das cidades num contexto his- tórico, demonstrando a sua evolução como espaço de agregação urbana. Essa linha histórica tem início com a ausência da urbanização e evolui até a conso- lidação do processo, com a cidade industrial (SÁ et al., 2013). A cidade (num conceito de concretização do urbano) tem início com a cidade política. A função da cidade nesse período era o poder, pois nela se agre- gavam os nobres, os escribas e os administradores. Nessas cidades, a base eco- nômica era agrícola, cuja função era a manutenção do poder centralizado nos – 31 – Desenvolvimento da Geografia Urbana reis sobre a sociedade. Essas áreas dominadas e colonizadas serviam como bases administrativas e mercantis das aglomerações urbanas do Império, numa forma de extensão do poder imperial sobre o espaço urbano (LÉFÈBVRE, 1999). Outra função da cidade é a mercantil, que denota sua primeira função urbana (como fator agregador populacional e de reprodução de relações de produção). Embora o campo ainda tivesse a primazia econômica, inicia-se a dicotomia cidade-campo, tendo seus limites espacialmente estabelecidos. As atenções começam a se voltar para as cidades, a realidade urbana começa a ganhar forma e começam a surgir sua imagem e estrutura. A cidade mercantil é a cidade voltada para as trocas comerciais, que antes aconteciam em entron- camentos fora dos limites da cidade. Ela ganha força com a burguesia, uma classe intermediária surgida da nova vida comercial nos burgos (ou cidades) (LÉFÈBVRE, 1999). A partir disso, as cidades ganham autonomia administrativa e tem início um forte conflito social, demonstrado pela segmentação das classes (nobreza, clero e plebe), gerando o isolamento urbano. Elas se tornam espaços caracte- risticamente segregados e isolados, havendo uma forte dicotomia cidade- -campo. O trabalho agrícola e as feiras mercantis são atividades isoladas na cidade, cuja função é administrativa, atendendo à monarquia e à administra- ção e fortalecendo o espaço urbano (ULTRAMARI, 2009). A cidade industrial surge inicialmente com uma proposta contrária à formação das cidades, pois havia uma tendência inicial de estabelecimento das indústrias próximas aos fatores de produção: terra, recursos naturais, mão de obra e energia, criando, assim, novas cidades tipicamente industriais. Nesse período, o forte movimento de urbanização da sociedade para atender a demanda industrial fez com que o tecido urbano se estendesse, atingindo as cidades que ainda preservavam características mercantis. Com essas mudan- ças, a sociedade passou por um rompimento total com o conceito de campo (como oposição à cidade), criando a sociedade urbana, advinda do processo de industrialização (CASTELLS, 1983). Assim, as cidades tiveram sua importância fortalecida pela instalação dessas indústrias, devido ao grande contingente de mão de obra que migrou do campo (em função da revolução agrícola). Outra grande importância no Geografia Urbana – 32 – contexto industrial foi a formação de um vasto mercado consumidor. Nessas novas cidades, a função política é descartada e a indústria domina a paisagem (MONTE MÓR, 2007). A Revolução Industrial e o surgimento da cidade industrial são a consoli- dação do processo de formação da sociedade urbana. Com o advento da cidade industrial, a sociedade urbana atinge seu ápice em relação à transformação da paisagem e ocupação dos espaços, dando lugar a uma prioridade aos problemas dessa “nova sociedade”. A partir da consolidação de um processo histórico e menos civilizatório de urbanização ocorrido no final do século XIX, com a assimilação da Revolução Industrial pela sociedade, seria obrigatória a busca de soluções para problemas criados por um novo uso do espaço antigo e dos espaços naturais, de um modo nunca visto anteriormente (CASTELLS, 1983). A cidade industrial passa a ter uma função integradora, fazendo com que o tecido urbano se estendesse até o campo. Desse modo, o campo é então integrado à cidade por intermédio dos meios de produção, seja para suprimento de matéria-prima para a indústria, seja no consumo de bens industriais. Essas cidades industriais foram, assim, marcadas pela entrada da produção no seio do espaço do poder, trazendo com ela a classe trabalhadora, o proletariado. A cidade passou a não mais apenas controlar e comercializar a produção do campo, mas também a transformá-la e a ela agregar valor em formas e quantidades jamais vistas (SÁ et al., 2013). A evolução das cidades demonstra a importância da articulação do espaço urbano na organização das aglomerações urbanas, sempre acompa- nhando o desenvolvimento espacial dessas localidades, bem como as circuns- tâncias históricas que acompanham sua estrutura social. 2.3 Os lugares urbanos 2.3.1 O conceito de lugar Para entender os lugares urbanos, é importante conhecer o conceito geo- gráfico de lugar. De acordo com Moreira (2007), o lugar pode ser compreen- dido como uma fragmentação do espaço onde se estabelecem as relações de – 33 – Desenvolvimento da Geografia Urbana afetividade e de interação bastante próximas. Essa proximidade permite a construção de uma ligação sentimental com o espaço, contribuindo para a formação do aspecto cultural, com a construção dos valores de uma sociedade (MOREIRA, 2007). Qualquer cidade, independentemente de seu tamanho ou sua configu- ração, possui lugares urbanos, onde as pessoas estabelecem relações sociais, vivendo em sociedade, trabalhando, realizando seus negócios, fazendo suas compras, morando e se divertindo. Assim, a organização do espaço nas cida- des é feita de acordo com um zoneamento urbano definido, respeitando as necessidades de uso desse território pelos habitantes. O zoneamento define a divisão e a expansão urbana a partir de determinações legais, constituindo lugares especializados, com predominância de atividades definidas, como os centros industriais, as áreas residenciais, entre outros. Um exemplo particu- lar são as indústrias de montagem, como a automobilística, as quais atraem para suas proximidades numerosas outras indústrias de peças e componen- tes, assim como outros serviços que complementem a atividade industrial. Além disso, o zoneamento urbano estabelece as restrições de uso do espaço, definindo assim o poder de polícia do Estado e o ordenamento das cidades (DORNELES, 2010). 2.3.2 A teoria dos lugares centrais Outro conceito importante é o da teoria dos lugares centrais, desenvol- vida pelo geógrafo alemão Walter Christaller. Segundo Christaller (1966), existiriam princípios gerais que regulam o número, o tamanho e a distribui- ção dos núcleos de povoamento em grandes, médias e pequenas cidades, e ainda em minúsculos núcleos semi-rurais, os quais também são considerados como localidades centrais. Todos esses núcleos são dotados de funções cen- trais e teriam uma importância singular como distribuidores de bens e servi- ços, conforme aponta Corrêa (1989): Todas são dotadas de funções centrais, isto é, atividades de distri- buição de bens e serviços para uma população externa, residente na região complementar (hinterlândia, área de mercado, região de influência), em relação à qual a localidade central tem uma posição central. A centralidade de um núcleo, por outro lado, refere-se ao seu grau de importância a partir de suas funções centrais: maior o Geografia Urbana – 34 – númerodeles, maior a sua região de influência, maior a população externa atendida pela localidade central, e maior a sua centralidade. (CORRÊA, 1989, p. 21) Além dos lugares destinados aos espaços das indústrias, existem espaços destinados a atividades de comércio e serviços. Esses espaços são denominados pelos estudiosos da questão urbana de localidades centrais intra-urbanas. Esse conceito trata de lugares na cidade que são mais centrais em relação às demais áreas. Dessa forma, assim como existem lugares destinados a atividades específicas como comércio e serviços, existem, no espaço intra-urbano, lugares de uso misto, destinados a moradias, trabalho, serviços e lazer. Podemos, assim, entender que a cidade não é um lugar específico, mas um conjunto integrado de lugares. Durante o século XIX e início do século XX, as grandes cidades euro- peias eram conhecidas como lugares de pobres e desempregados sem residên- cia, gerando áreas configuradas com moradias precárias, carentes de serviços como água encanada, saneamento básico, ruas pavimentadas, eletricidade e transporte coletivo. Mesmo com a evolução do processo urbano, no século XXI encontra- mos municípios brasileiros que apresentam as mesmas características das cidades europeias do passado. Nesses municípios, há, ainda, a ausência de equipamentos urbanos como escolas, postos de saúde, creches, hospitais, entre outros. Esse fato gera problemas como a poluição dos rios, a ocupação de espaços irregulares e a precária condição das moradias. Tal cenário somente tende a mudar com a organização social dos moradores dessas regiões, reivin- dicando seus direitos de habitação, lazer e mobilidade urbana como forma de garantir o pleno acesso à cidade. Assim, alguns processos como a expansão urbana descontrolada e a migração para os grandes centros dificultam a organização do espaço, gerando a periferização das cidades e o surgimento de lugares como os subúrbios, favelas ou ocupações irregulares, como demonstrado na figura a seguir, que retrata o município de Ponta Grossa, no Paraná. – 35 – Desenvolvimento da Geografia Urbana F ig ur a 3 – M ap ea m en to d e oc up aç õe s ir re gu la re s do m un ic íp io d e P on ta G ro ss a, P R . F on te : P O N TA G R O SS A , 2 0 0 9 . Geografia Urbana – 36 – 2.3.3 Os “não lugares” No estudo da Geografia Urbana há, ainda, a ideia de não lugares, con- ceito criado pelo antropólogo francês Marc Augé (1994) para tratar do espaço de passagem que não permite a formação de uma identidade. Segundo Augé, todo e qualquer espaço que sirva apenas como espaço de transição e com o qual não se cria qualquer tipo de relação é um não lugar. Os não lugares podem ser definidos como espaços de anonimato, des- caracterizados e impessoais, os quais não expressam nenhum traço de iden- tidade ou história. De acordo com Augé (1994), cada vez mais as pessoas deixam de dar significados aos lugares, transformando o ambiente urbano em lugar de passagem. Consequentemente, grande parte dos centros urba- nos se transformam em não lugares, gerando padrões de comportamento e relações sociais nos grupos. São exemplos de não lugares: aeroportos, portos, terminais de ônibus, áreas de concentração de refugiados, grandes superfícies urbanas, shopping centers, supermercados, entre outros. É importante também destacar, no estudo dos não lugares, os conceitos de topofobia e topofilia. A palavra topofilia é um neologismo criado por Yi-Fu Tuan (1980, p. 107) que sintetiza o amor pelo lugar, ou seja, “todos os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material [...]” que podem ser diferenciados em intensidade, sutileza e modo de expressão. Bachelard (2000, p. 19) usa o termo topofilia para determinar a investigação das imagens do espaço feliz que desperta o valor humano, as quais podem se referir a espaços de posse, espaços amados, espaços louvados, como, por exemplo, a casa. A topofobia, por sua vez, pode ser traduzida também nas “paisagens do medo”, que são objeto de repulsão, dificultando a identificação e caracterização desses sentimentos, com uma valorização negativa desses lugares. Os sentimen- tos topofóbicos também compreendem aspectos estéticos, quando os lugares são feios e desagradáveis para as pessoas. A falta de segurança nas cidades pode ser um elemento topofóbico importante nos dias atuais, o que tem levado mui- tas pessoas a deixar um lugar em busca de outro, na procura por cidades de pequeno e médio porte para moradia, por exemplo (TUAN, 1998). – 37 – Desenvolvimento da Geografia Urbana Ampliando seus conhecimentos Definir o lugar? (CARLOS, 2007, p. 17-20) Nas Ciências Humanas e na geografia, em particular, o pro- blema da redefinição do lugar emerge como uma necessidade diante do esmagador processo de globalização, que se rea- liza, hoje, de forma mais acelerada do que em outros momen- tos da história. Nesse contexto, é possível, ainda pensar o lugar enquanto singularidade? O lugar é uma noção que e se desfaz e se despersonaliza diante da massacrante tendência ao homogêneo, num mundo globalizado? Ou lugar ganha uma outra dimensão explicativa da realidade como, por exem- plo “enquanto densidade comunicacional, informacional e técnica”, como afirma Milton Santos? Há hoje um debate muito profícuo sobre o sentido da noção de lugar. Podemos iniciar a reflexão com Milton Santos que afirma que existe uma dupla questão no debate sobre o lugar. O lugar visto “de fora“ a partir de sua redefinição, resultado do acontecer histórico e o lugar visto de “dentro”, o que impli- caria a necessidade de redefinir seu sentido. Para o Autor o lugar poderia ser definido a partir da densidade técnica (que tipo de técnica está presente na configuração atual do territó- rio), a (densidade informacional (que chega ao lugar tecnica- mente estabelecido) a ideia da densidade comunicacional (as pessoas interagindo) e, também em função de uma densidade normativa (o papel das normas em cada lugar como definitó- rio). À esta definição seria preciso acrescentar a dimensão do tempo em cada lugar que poderia ser visto através do evento no presente e no passado. Geografia Urbana – 38 – Acredito, no entanto, que podemos acrescentar ao que foi dito pelo professor o fato de que há também a dimensão da história que entra e se realiza na prática cotidiana (esta- belecendo um vínculo entre o “de fora” e o “de dentro“), instala-se no plano do vivido e que produziria o conhecido- -reconhecido, isto é, é no lugar que se desenvolve a vida em todas as suas dimensões. Também significa pensar a história particular de cada lugar se desenvolvendo, ou melhor, se rea- lizando em função de uma cultura/tradição/língua/hábitos que lhe são próprios, construídos ao longo da história e o que vem de fora, isto é, o que se vai construindo e se impondo como consequência do processo de constituição do mundial. Mas o que ligaria o mundo e o lugar? O lugar é a base da reprodução da vida e pode ser anali- sado pela tríade habitante – identidade – lugar. A cidade, por exemplo, produz-se e revela-se no plano da vida e do indivíduo. Este plano é aquele do local. As relações que os indivíduos mantêm com os espaços habitados se exprimem todos os dias nos modos do uso, nas condições mais banais, no secundário, no acidental. É o espaço passível de ser sen- tido, pensado, apropriado e vivido através do corpo. Como o homem percebe o mundo? É através de seu corpo de seus sentidos que ele constrói e se apropria do espaço e do mundo. O lugar é a porção do espaço apropriável para a vida – apropriada através do corpo – dos sentidos – dos pas- sos de seus moradores, é o bairro é a praça, é a rua, e nesse sentido poderíamosafirmar que não seria jamais a metrópole ou mesmo a cidade latu sensu a menos que seja a pequena vila ou cidade – vivida/conhecida/reconhecida em todos os can- tos. Motoristas de ônibus, bilheteiros, são conhecidos e reco- nhecidos como parte da comunidade, cumprimentados como tal, não simples prestadores de serviço. As casas comerciais são mais do que pontos de troca de mercadorias, são também pontos de encontro. É evidente que é possível encontrar isso – 39 – Desenvolvimento da Geografia Urbana na metrópole, no nível do bairro, que é o plano do vivido, mas definitivamente, não é o que caracteriza a metrópole. A tríade cidadão-identidade-lugar aponta a necessidade de considerar o corpo, pois é através dele que o homem habita e se apropria do espaço (através dos modos de uso). A nossa existência tem uma corporeidade pois agimos através do corpo. Ele nos dá acesso ao mundo, para Perec é o nó vital, imediato visto, pela sociedade como fonte e suporte de toda cultura. Modos de aproximação da realidade, pro- duto modificado pela experiência do meio, da relação com o mundo, relação múltipla de sensação e de ação, mas também de desejo e, por consequência de identificação com a proje- ção sobre o outro. Abre-se aqui, a perspectiva da análise do vivido através do uso, pelo corpo. Por outro lado, a metrópole não é “lugar” ela só pode ser vivida parcialmente, o que nos remeteria a discussão do bairro como o espaço imediato da vida das relações cotidianas mais finas – as relações de vizinhança o ir as compras, o caminhar, o encontro dos conhecidos, o jogo de bola, as brincadeiras, o percurso reconhecido de uma prática vivida /reconhecida em pequenos atos corriqueiros, e aparentemente sem sentido que criam laços profundos de identidade, habitante-habitante, habitante-lugar. São os lugares que o homem habita dentro da cidade que dizem respeito a seu cotidiano e a seu modo de vida onde se locomove, trabalha, passeia, flana, isto é, pelas formas atra- vés das quais o homem se apropria e que vão ganhando o significado dado pelo uso. Trata-se de um espaço palpável – a extensão exterior, o que é exterior a nós, no meio do qual nos deslocamos. Nada também de espaços infinitos. São a rua, a praça, o bairro, – espaços do vivido, apropriados através do corpo – espaço públicos, divididos entre zonas de veículos e a calçada de pedestres dizem respeito ao passo e a um ritmo que é humano e que pode fugir aquele do tempo da técnica (ou Geografia Urbana – 40 – que pode revelá-la em sua amplitude). É também o espaço da casa e dos circuitos de compras dos passeios, etc. Os percursos realizados pelos habitantes ligam o lugar de domicílio aos lugares de lazer, de comunicação, mas o impor- tante é que essas mediações espaciais são ordenadas segundo as propriedades do tempo vivido. Um mesmo trajeto convoca o privado e o público, o individual e o coletivo, o necessário e o gratuito. Enfim o ato de caminhar é intermediário e parece banal – é uma prática preciosa porque pouco ocultada pelas representações abstratas; ela deixa ver como a vida do habi- tante é petrificada de sensações muito imediatas e de ações interrompidas. São as relações que criam o sentido dos “luga- res” da metrópole. Isto porque o lugar só pode ser compre- endido em suas referências, que não são específicas de uma função ou de uma forma, mas produzidos por um conjunto de sentidos, impressos pelo uso. [...] A história do indivíduo é aquela que produziu o espaço e que a ele se imbrica por isso que ela pode ser apropriada. Mas é também uma história contraditória de poder e de lutas, de resis- tências compostas por pequenas formas de apropriação. [...] Atividades 1. No século XXI, muitas das relações sociais estabelecidas nas cidades acontecem de forma virtual, pois diversos serviços são disponibiliza- dos na internet, eliminando deslocamentos e otimizando o tempo. Essa nova relação virtual altera a interação com o ambiente urbano. Assim, responda: Qual relação pode existir entre o acesso ao mundo virtual e a ampliação dos não lugares nas cidades? – 41 – Desenvolvimento da Geografia Urbana 2. A ausência de organização do espaço urbano pode levar à ocupação da cidade de forma desorganizada, gerando impactos no ambiente. Cite alguns desses impactos nas cidades. 3. O desenvolvimento da Geografia Urbana acompanha o processo de evolução das cidades, suas funções e configurações. Qual a relação entre a evolução das cidades e a formação de seu espaço urbano? Estudo do crescimento das cidades Introdução O fenômeno do crescimento urbano que teve seu auge nos anos 1960 quando a população urbana ultrapassou a população rural pode ser comprovado pelos indicadores do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) que destacam que mais de 80% da população brasileira está estabelecida em espaços urbanos. Para compreender o impacto desses números, faz-se necessário entender o processo de crescimento das cidades, seja pela aglomeração populacional, seja pelos padrões de renda. O padrão populacional busca compreender os fenôme- nos de migração e atração de novos habitantes para as cidades. Os padrões de renda, por sua vez, explicam a geração de riquezas na cidade e o acúmulo de fatores de produção: capital, terra e renda. A junção desses fatores ajuda a explicar o crescimento urbano e a concentração populacional. 3 Geografia Urbana – 44 – 3.1 O crescimento das cidades O estudo do crescimento das cidades passa pela investigação e análise dos padrões de crescimento urbano, contemplando a organização das aglo- merações urbanas, os padrões de crescimento populacional, as migrações e os movimentos pendulares e os padrões de crescimento da renda – refletindo no desempenho econômico dos espaços urbanos e nos custos relativos a imóveis e migrações. O sucesso de uma cidade pode ser compreendido como a inter- -relação de indicadores relacionados à alteração do tamanho da população e a produtividade da economia local. A aglomeração urbana pode ser compreendida como um conjunto de pessoas ou atividades que se concentram em espaços físicos relativamente pequenos, daí a sua forte aplicação na área urbana. O Estatuto da Metrópole a define como a unidade territorial urbana constituída pelo agrupamento de dois ou mais municípios limítrofes, caracterizada por complementari- dade funcional e integração das dinâmicas geográficas, ambientais, políticas e socioeconômicas (BRASIL, 2015). A existência de aglomerações urbanas também é importante para a com- preensão dos movimentos pendulares, que ocorrem, via de regra, na escala urbana ou regional e tem por contexto temporal o cotidiano dos indivíduos. São deslocamentos comuns em muitos centros urbanos, sobretudo os de grande e médio porte (MOURA; CASTELLO BRANCO; FIRKOWSKI, 2005). Esses movimentos “que caracterizam mobilidades de curta duração [...] dizem-se pendulares porque, realizados a horas mais ou menos fixas, refletem a estruturação do espaço e a existência ou não de hierarquias” (INE, 2003, p. 7). Para Milton Santos e Maria Laura Silveira (2001), esse crescimento dos centros urbanos está ligado à concentração dos fatores de produção: capi- tal (representado pelo dinheiro aplicado nos investimentos); terra (represen- tando os espaços urbanos e os imóveis); e trabalho (representando a alocação da mão de obra no mercado de trabalho). Numa economia de livre mercado, o capital e a mão de obra têm liberdade de mobilidade, podendo se movimen- tar entre as cidades. As cidades crescem porque, entre outros motivos, atraem um contingente de trabalhadores ou um volume maior de investimentos, levando à expansão do espaço urbano. Os trabalhadores migram para espaços – 45 – Estudo do crescimento das cidades urbanos maiores emais desenvolvidos, procurando aperfeiçoar a alocação do trabalho e maximizar suas rendas. As cidades que apresentam um crescimento bem-sucedido são aque- las que disponibilizam infraestrutura e suporte administrativo à atração de investimentos e negócios, aumentando a produtividade e pagando salários maiores. Da mesma forma, a qualidade dos serviços públicos (educação, saúde, transporte, entre outros) oferecidos atraem novos residentes e mão de obra mais qualificada para a cidade. Desse modo, a organização dos fatores de atração de novos residentes tende a fortalecer e expandir as aglomerações urbanas, gerando municípios com tamanhos diferentes e com volume de concentração diferente. Assim, temos, no país, cidades como São Paulo, com 11,89 milhões de habitantes, que contrasta com o município de Santos, por exemplo, com uma população de 419.086 habitantes (IBGE, 2010). Devido à concentração de um volume maior de empregos na região de São Paulo e uma maior oferta de serviços públicos, há um crescimento maior dessa cidade (LEMOS, 2003). 3.1.1 Padrões no crescimento populacional Nos anos de 1940 tem início a concentração populacional nos gran- des centros motivada pela migração interna, marcada por deslocamentos de trabalho em direção às novas fronteiras agrícolas do Paraná, Centro-Oeste e Maranhão, bem como das áreas industriais do Sudeste. Na década de 1970, a concentração das atividades industriais nos gran- des centros urbanos contribuiu para a aceleração do processo de migração, fazendo com que novas cidades surgissem no entorno das principais cidades e alterando a dinâmica demográfica brasileira. Esse fluxo migratório em dire- ção às cidades levou a um crescimento da população urbana, e a demografia brasileira passou a seguir uma tendência natural de superação da população urbana em relação à rural. Nesse cenário, houve uma elevação do total da população urbana, saltando de 56% nos anos 1970 a mais de 80% nos anos 2010. As Nações Unidas estimam que esse percentual será superior a 90% até os anos 2040, aumentando a população brasileira a um total de 200 milhões de habitantes (ONU-HABITAT, 2012). Geografia Urbana – 46 – Figura 1 – População rural e urbana do mundo (1950–2050). Urbana Rural Fonte: UN, 2015, p. 7. Para fins de compreensão, entende-se aglomeração urbana como a con- centração de pessoas, serviços, atividades etc. em espaços compactos, não ultrapassando necessariamente os limites político-administrativos de uma cidade (MIYAZAKI, 2008). Matos (2000), por sua vez, expande o con- ceito, compreendendo a aglomeração urbana numa perspectiva mais ampla, segundo a qual o urbano se processa em um conjunto mais complexo e extenso, que engloba mais de uma cidade. No caso brasileiro, os dados demográficos apontam que o crescimento populacional nos últimos anos tem sido mais intenso nas regiões Norte e Centro-Oeste e mais lento no Sudeste e no Sul (conforme demonstrado na Tabela 1), ao contrário do que ocorreu nos anos 1970, com o destino para os grandes centros produtivos industriais. – 47 – Estudo do crescimento das cidades Tabela 1 – População censitária total e taxa de crescimento demográfico (2000–2010). BRASIL Censo 2000 Censo 2010 Taxa de crescimento demográfico 169.799.170 190.755.799 12,34% Região Norte 12.900.704 15.864.454 22,97% Região Nordeste 47.741.711 53.081.950 11,19% Região Sudeste 72.412.411 80.364.410 10,98% Região Sul 25.107.616 27.386.891 9,08% Região Centro-Oeste 11.636.728 14.058.094 20,81% Fonte: IBGE, 2010. Adaptado. O crescimento populacional na região Centro-Oeste demonstra que exis- tem fatores que podem alterar a composição demográfica em uma década, como: 2 A alteração do perfil econômico da região que, atrelada à expansão da fronteira da atividade agrícola, atraiu novos estabelecimentos agroindustriais e novos habitantes para os municípios da região, levando ao crescimento das cidade. 2 A expansão territorial da área agrícola que levou à maior utilização do solo para atividades econômicas, acarretando uma redução das áreas disponíveis e dificultando a formação de novas cidades, o que resulta no fortalecimento do papel das cidades existente. 2 A expansão da atividade agrícola que, apesar da concentração popula- cional nas cidades, leva ao fortalecimento das áreas rurais, incentivando a fixação dos trabalhadores no campo e definindo um novo padrão de migração rural-urbano, o qual atrai mais habitantes de outras regiões do que do próprio estado (HADDAD; PASTRE, 2016). Geografia Urbana – 48 – No entanto, cabe destacar que a ausência de políticas de desenvolvi- mento regional, que organizem o espaço e a formação de novas cidades, faz com que as cidades cresçam e possuam um tamanho maior que o recomen- dado, comprometendo a gestão e a organização dessas cidades. Existe uma relação diretamente positiva entre o crescimento das cidades e das aglomerações urbanas e a disponibilidade de empregos em atividades não agrícolas. As cidades industriais vão atrair mais trabalhadores e concentrar mais habitantes, acumulando maior capital humano e mão de obra capacitada, estando mais preparadas para se adaptar às inovações tecnológicas. Por esse motivo, essas cidades acabam se tornando polos de desenvolvimento tecnoló- gico, por ter capital humano acumulado e mão de obra mais capacitada. Portanto, o crescimento das cidades está relacionado à capacidade de atração e concentração demográfica baseado em trabalho e educação. A capa- cidade institucional de articular as políticas públicas de educação, trabalho e emprego contribui para a migração de habitantes para as cidades, ampliando o processo de concentração populacional. Uma visão geral do sistema urbano brasileiro mostra que o crescimento das cidades é desigual, com um número reduzido de cidades grandes que dominam a concentração populacional e, consequentemente, a concentração de capital humano. 3.1.2 Padrões no crescimento da renda Uma segunda explicação para o crescimento das cidades passa pelo desempenho econômico, entendido aqui como a riqueza produzida pelas ati- vidades produtivas e a renda média domiciliar, correlacionado com os salários pagos nessa economia (CARVALHO, 2003). Uma variável importante para análise é o preço dos imóveis urbanos que, mesmo variando de forma signi- ficativa entre as cidades, demonstra a renda da família. O preço dos imóveis geralmente está relacionado a alguns fatores como a urbanização da região onde está localizado, o transporte que garanta a facilidade de acesso, proxi- midade de infraestrutura de serviços públicos e privados, entre outros. Com o aumento do preço da terra, há elevação dos custos de aluguel, elevando também a renda dos locadores. – 49 – Estudo do crescimento das cidades É importante entender o conceito de uso do solo como a forma pela qual o espaço está sendo ocupado pelo homem. Exemplos desses usos do solo são: área urbana, pastagens, florestas e locais de mineração. As decisões sobre o uso do solo também podem ocorrer pelo interesse particular dos agentes, como na especulação imobiliária, que é a compra ou aquisição de bens imóveis com a finalidade de vendê-los ou alugá-los posteriormente, na expectativa de que seu valor de mercado aumente durante o lapso de tempo decorrido. O desempenho econômico das cidades não depende apenas da orga- nização e do planejamento das cidades, mas também é consequência das políticas públicas federais e estaduais adotadas. A economia brasileira, numa análise dos últimos 50 anos, apresenta uma flutuação de resultados, partindo de um crescimento exponencial nos anos 1970 ao declínio nos anos de 1980 e à recuperação e estabilidade econômica nos anos 1990. Observando esses dados, percebe-se que o cenário positivo dos anos 1970 ocorreu no con- texto da desconcentraçãoindustrial em direção aos grandes centros urbanos, atraindo trabalhadores do campo em direção a eles. Nos anos 1980, a crise estancou o crescimento das cidades, que somente volta a ser recuperado nos anos 1990, com um novo processo de desconcentração da indústria nos espa- ços urbanos (CARVALHO, 2003). Outro ponto relevante para o crescimento das cidades é a convergência de renda entre as cidades e as regiões do Brasil. Mas, caso haja tal convergên- cia, ela é relacionada com o processo migratório ou com a convergência na produtividade total dos fatores e da tecnologia? O desempenho econômico também está ligado à questão da especiali- zação das cidades. As cidades produzem diferentes tipos de produtos e ser- viços orientados por fatores de decisão, como a existência de infraestrutura urbana e de logística de transportes, a qualificação da mão de obra local, bem como a localização e os acessos municipais. Esses fatores contribuem para a formação da economia urbana, pois permitem o desenvolvimento de uma diversificação produtiva que amplia as possibilidades locais. Nesse contexto, pode-se compreender um padrão de desempenho econômico que demonstra as seguintes características: 2 As indústrias de alta e médio-alta tecnologia estão concentradas nas cidades de grande porte (editorial e gráfica, produtos químicos, Geografia Urbana – 50 – material elétrico e eletrônico e equipamentos de transporte), além dos setores de tecnologia de informação e serviços financeiros. 2 As indústrias de média tecnologia (têxtil, papel e papelão) estão concentradas em cidades de médio porte. 2 As indústrias de baixa tecnologia, ligadas à extração de recursos naturais, estão concentradas em pequenos municípios. O desenvolvimento econômico do país contribui para a melhoria dos serviços públicos disponíveis, da rede de telecomunicações e da infraestrutura de transportes. Isso leva, consequentemente, à desconcentração industrial para municípios próximos aos grandes centros, fazendo com que essas cidades também cresçam. A ocorrência da desconcentração industrial para cidades menores abre espaço para que os grandes centros urbanos se especializem em setores mais dinâmicos, como os de alta tecnologia. Com um contínuo crescimento das cidades, outros setores de atividades se deslocam para tais localidades, o que resulta na maior diversificação da economia, oferecendo mais oportunidades econômicas e menor susceptibilidade a choques em seto- res específicos. Pode-se observar que, com o processo de desconcentração industrial, tem-se um novo padrão de economia estabelecido. As indústrias menos dinâ- micas se estabelecem nas pequenas e médias cidades, enquanto as indústrias mais dinâmicas, ligadas à alta tecnologia, concentram-se nas grandes aglo- merações urbanas, pois requerem mão de obra com nível de educação mais elevado ou maior número de instituições de ensino e pesquisa. A descentralização da indústria pode ser compreendida como uma con- sequência do desenvolvimento dos sistemas urbanos, que desloca a atividade industrial num primeiro momento para as áreas periféricas e, num segundo momento, para cidades menores, devido ao baixo custo dos fatores de pro- dução como mão de obra e aluguel. A descentralização leva à melhoria da infraestrutura e do nível de qualificação dos trabalhadores dos municípios menores. Naturalmente, a expansão do processo de urbanização, quando acarreta redução da atividade industrial nos grandes centros, amplia a partici- pação da indústria na economia das pequenas cidades. – 51 – Estudo do crescimento das cidades 3.2 Teorias do crescimento urbano O crescimento da população pode ser compreendido por meio de dois fatores fundamentais: 2 crescimento vegetativo: diferença entre o número de nascimentos e o número de óbitos registrados em dado momento; 2 taxa de imigração: diferença registrada entre o total de pessoas que entram e saem de determinado espaço (DIAS, 1995). Esse crescimento pode apresentar indicadores negativos, devido a fenô- menos sociais que influenciam o total da população, como, por exemplo, o novo papel da mulher na sociedade e no mercado de trabalho e as possibili- dades de adoção de métodos anticoncepcionais. Para melhor compreensão do papel do crescimento populacional, seguem algumas teorias do crescimento urbano: a teoria de Malthus, a teoria neomathusiana e a teoria reformista. 3.2.1 Teoria de Malthus Thomas Malthus publicou sua obra Ensaio sobre a população, em 1798, na qual defendia claramente duas ideias sobre o crescimento populacional. A primeira ideia afirma que o crescimento é regulado por fatores não con- trolados, como guerras, epidemias e desastres naturais. O segundo argu- mento é o de que a produção de alimentos cresce em progressão aritmética, enquanto a população apresenta uma progressão geométrica, fazendo com que a produção de alimentos seja insuficiente para atender a demanda. Para Malthus, a população cresce numa proporção maior que a produ- ção de alimentos, tendo como consequência a falta destes para abastecer a demanda do planeta. Dessa forma, Malthus defendia a ideia de que as pessoas somente poderiam ter filhos se tivessem condição de alimentá-los. A teoria malthusiana, no entanto, não previu os avanços tecnológicos na atividade agrícola, que ampliaram a produção de alimentos. Outro ponto divergente da visão de Malthus foi a incapacidade de prever a redução do crescimento populacional, fato que ocorre em grande parte do mundo neste início de século, contrapondo-se a sua teoria. Geografia Urbana – 52 – 3.2.2 Teoria neomalthusiana A teoria neomalthusiana buscava compreender os fatores que explica- vam o atraso dos países subdesenvolvidos e os impactos sociais desse processo. Segundo essa teoria, a renda per capita é menor quanto maior é a população, reduzindo a capacidade de investimento das atividades produtivas na econo- mia. A teoria explica que, devido à alta taxa de natalidade nos países desenvol- vidos, os gastos com a população jovem e adulta são elevados, inviabilizando os investimentos nas atividades econômicas. Essa teoria, assim como no modelo de Malthus, apresenta uma relação diretamente proporcional entre o crescimento da população e o aumento da pobreza. Com base nesse pensamento, desenvolveram-se métodos de controle de natalidade da população. O modelo neomalthusiano justifica o subdesen- volvimento com base no fator demográfico, desconsiderando as condições de vida precárias e o problema da distribuição de renda. 3.2.3 Teoria reformista Contrariando a teoria neomalthusiana, desenvolveu-se a teoria reformista, que buscava um novo foco sobre a situação social dos países subdesenvolvidos. Na visão reformista, o crescimento populacional não é um fator gerador de pobreza, mas consequência da ausência de investimentos em políticas sociais, como educação e saúde. A aplicação dessa teoria demonstra que as famílias dos países subdesenvolvidos passam a ter menos filhos e a buscar uma melhor quali- dade de vida quando passam a ter mais investimentos em saúde, escola e acesso à informação. Nesse caso, a teoria reformista demonstra que o crescimento populacional deve vir acompanhado de investimentos sociais que reduzam os efeitos da miséria e da pobreza. No caso brasileiro, a dinâmica demográfica tem apresentado importan- tes mudanças como a redução da natalidade e o aumento da expectativa de vida, bem como uma maior atração que influenciou o processo de migração, alterando a pirâmide demográfica e a estrutura populacional, criando um novo perfil da população. – 53 – Estudo do crescimento das cidades 3.3 Estágios do crescimento urbano O estudo dos estágios do crescimento urbano passa pela compreensão do conceito de transição demográfica. Essa transição pode ser vista como a variaçãodas taxas de crescimento e oscilações da população para contestar a teoria malthusiana. Warren Thompson (1929) define que existem variações periódicas da população, alternando-se crescimento e desaceleração demográ- ficos e os estágios de estabilidade. Para melhor compreensão desse conceito, precisamos entender também os conceitos de natalidade e mortalidade: Taxa de natalidade (TN): número de nascidos vivos em permila- gem, ou seja, número de crianças nascidas para cada mil habitantes. Exemplo: se em uma cidade de cem mil pessoas nasceram 15.000 crianças durante um ano, então a taxa de natalidade é de 15‰ (quinze por mil). Taxa de mortalidade (TM): número de falecimentos em permila- gem, ou seja, o número de mortes para cada mil habitantes. Exemplo: se na mesma cidade, de cem mil pessoas, houve 10.000 mortes durante um ano, então a taxa de mortalidade é de 10‰ (dez por mil). (PENA, 2017) As oscilações periódicas são classificadas em quatro estágios principais, como apresentado no quadro a seguir: Quadro 1 – Estágios da transição demográfica. 1º estágio Neste estágio, as taxas de natalidade e mortalidade são eleva-das, apresentando um crescimento pequeno ou quase nulo. 2º estágio Neste estágio reduzem-se as taxas de mortalidade e per- manecem crescentes as taxas de natalidade, apresentan- do-se uma aceleração do crescimento populacional. 3º estágio Neste estágio reduzem-se as taxas de natalidade devido ao melhor acesso à informação, apresentando um nível moderado de crescimento populacional. 4º estágio Neste estágio apresentam-se taxas reduzidas de natalidade e mortalidade, com um crescimento demográfico próximo a zero. Fonte: Elaborado pelo autor. Geografia Urbana – 54 – Os estágios se caracterizam pelo crescimento da população nos grandes centros urbanos, atraída por ofertas de emprego e melhores oportunida- des, apresentando uma relação direta com o processo de urbanização. Essa migração populacional gera pressão sobre o uso do solo, devido à necessi- dade de habitação para essas pessoas. A concentração da população leva a uma aceleração do processo de urbanização, para atender à demanda por serviços públicos e infraestrutura nos novos espaços ocupados, muitas vezes em ocupações irregulares e com moradias em situação precária. Ampliando seus conhecimentos Regiões metropolitanas: desaceleração no ritmo de crescimento (BAENINGER, 2010, p. 212-215) Considerando a importância das regiões metropolitanas no processo de urbanização e de redistribuição da população nacional, cerca de 57 milhões de brasileiros viviam nessas localidades em 2000. Contudo, sua participação no total da população urbana decresce de 48%, em 1970, para 41%, em 2000. Os núcleos metropolitanos passam a per- der peso relativo, desde a década de 70, reforçando os processos de mobilidade intrametropolitana e de periferiza- ção da população. [...] Na verdade, o cenário recente das metrópoles, em termos de crescimento populacional e de menor absorção migratória, reflete-se fortemente no sistema de cidades brasileiras, com o espraiamento populacional e com a formação de espacia- lidades marcadas pela concentração da população em um – 55 – Estudo do crescimento das cidades espaço regional que ultrapassa limites político-administrativos municipais. Desse modo, da mesma forma que a Metrópole foi o espaço definidor da grande parte do processo de con- centração urbana no Brasil, é esta mesma expressão territorial – a Metrópole – que redefine a urbanização brasileira no século XXI. As taxas de crescimento da população metropolitana segundo núcleo e periferia permitem observar que as regiões metropo- litanas antigas (nove RMs) e novas (Campinas, Goiânia e Brasília) já apresentam taxas de crescimento do núcleo bas- tante semelhantes, em torno de 1% a.a. (e até bem abaixo deste valor), à exceção de Fortaleza, Curitiba e Brasília, com taxas superiores a 2% a.a.. No que se refere às áreas periféri- cas, as taxas são muito elevadas desde os anos 70, passando por uma transição deste crescimento – para níveis bem mais baixos – apenas a periferia de São Paulo (2,8% a.a.), a do Rio de Janeiro (1,6% a.a.) e a do Recife (1,8% a.a.). [...] O padrão de urbanização que se processou no Brasil foi mar- cado por um crescimento rápido, amplo e concentrado da população, contribuindo, de um lado, para a emergência de grandes metrópoles, e de outro, para a expansão de uma diver- sificada rede urbana nacional, com o crescimento acelerado das capitais regionais e sub-regionais, bem como com o aumento da população urbana em grande número de cidades de diferen- tes tamanhos (FARIA, 1983). Esse processo de concentração urbana em determinadas localidades teve momentos de maior intensidade e, ao que tudo indica, atualmente está-se frente a um movimento de desaceleração no ritmo de crescimento populacional dos grandes centros urbanos. Geografia Urbana – 56 – As novas formas de estruturação do espaço urbano têm se caracterizado por um crescente processo de conurbação e de complexa interação entre as cidades, configurando a emergên- cia de novas áreas metropolitanas e a formação de aglomera- ções urbanas não metropolitanas no interior do País. Na dinâmica do processo de redistribuição espacial da população, portanto, essas novas espacialidades vêm assu- mindo importância crescente, já que podem ser capazes tanto de absorver quanto de reter grande parte dos fluxos migratórios que, anteriormente, se dirigiriam às grandes con- centrações metropolitanas. Nesse sentido, os padrões recentes do processo de urbaniza- ção no Brasil possibilitam apreender as seguintes tendências: 2 Decréscimo no ritmo de crescimento das áreas metropolitanas; 2 Novas formas de distribuição da população no interior das metrópoles (com menores taxas de crescimento, inclusive para as áreas periféricas); 2 Adensamento da rede de cidades no interior e seu con- sequente processo de aglomeração urbana; 2 Relativa desconcentração populacional metropolitana; 2 Interiorização da população. [...] Atividades 1. Observa-se que as cidades brasileiras vêm passando por uma fase de transição demográfica importante. Qual dos quatro estágios de cresci- mento das cidades se refere ao atual momento dessa transição no Brasil? – 57 – Estudo do crescimento das cidades 2. O aumento dos investimentos sociais, destacadamente em educação e saúde, tem um impacto direto no aumento da população. Explique como esses investimentos refletem no crescimento das cidades no século XXI. 3. A desconcentração industrial ocorre, em primeiro lugar, nas cidades limítrofes ou próximas aos grandes centros industriais. Explique por que essas cidades são as primeiras a receber os novos investimentos da atividade industrial. As relações econômicas no processo urbano Introdução A cidade pode ser compreendida como a concretização do processo de formação e construção do urbano. Esse processo de for- mação é composto por agentes políticos, que organizam e regula- mentam o uso do espaço; agentes sociais, que reivindicam o direito de uso do solo; e agentes econômicos, que nesse espaço estabelecem atividades produtivas capazes de atrair e mobilizar os habitantes de uma cidade. Esse contexto de construção apresenta características diferentes em países centrais e periféricos, as quais auxiliam na compreensão do planejamento e funcionamento das cidades. Nesse processo, é preciso também olhar para o futuro e buscar compreender quais as possibilida- des de novas relações sociais e econômicas no espaço urbano. 4 Geografia Urbana – 60 – 4.1 Renda da terra e o valor na produção do urbano 4.1.1 A renda da terra A terra é um dos fatores de produção clássicos e, diferentemente de outras mercadorias, não é produzidapelo trabalho humano, tendo suas características de localização, condições e estrutura de solos pré-definidas pelas condições apresentadas. A terra é um requisito essencial para a formação e expansão urbana, pois há necessidade desse espaço para a reprodução social e econômica. Além disso, é um ativo que apresenta, por suas características, um alto valor de aquisição, e, por esse motivo, estabelecem-se disputas por sua posse e uso no ambiente urbano (CARLOS, 2011). O Estado utiliza-se de instrumentos jurídicos para o planejamento e a organização da utilização da terra por meio das políticas de zoneamento e uso do solo, procurando garantir o acesso de todos ao espaço urbano e uma dis- tribuição mais justa dele. No entanto, o Estado não é dono de todo o espaço, mas de uma fração dele, cabendo aos proprietários de terras sua utilização ou a geração de renda por sua remuneração advinda enquanto fator de produ- ção. Isso gera, segundo Marx (1980), um tributo da sociedade em favor dos proprietários da terra pelo direito de utilizá-la. Na visão marxista, a hipótese da propriedade fundiária pressupõe que certas pessoas têm o direito de dis- ponibilizar o uso da terra conforme a sua vontade, a partir de uma concessão de Estado, que define quais áreas podem ou não ser utilizadas. Dessa forma a terra, com suas características de alta demanda e limitações espaciais, passa a ser comercializada como uma mercadoria qualquer. A renda gerada por meio da terra pode ser influenciada pela ação direta do Estado, como as melhorias advindas dos investimentos em infraestrutura e equipamentos públicos, como pontes, estradas, hospitais, escolas, faculdades etc., que valorizam a terra nos espaços urbanos. Com base nesse conceito, Marx (1980) define que a terra precisa ser corretamente distribuída e ocu- pada, pois quem a utiliza se apropria tanto do capital privado, representado – 61 – As relações econômicas no processo urbano pela terra em si, quanto do capital público, advindo dos investimentos do Estado no espaço urbano. A utilização da terra pode ser compreendida como o conjunto das ati- vidades distribuídas no espaço geográfico, caracterizando tipos de uso (ativi- dades econômicas) e tipos de assentamento (edificações). Nos municípios, as leis de zoneamento ou leis de uso do solo são usadas para regular a distribui- ção desses diversos usos da terra (CORRÊA, 1995). Um conceito bastante estudado pelos pesquisadores da Geografia Urbana e de outras ciências como o Urbanismo é o de “vazio urbano”. Vazios urbanos são áreas vazias, não ocupadas ou subutilizadas, as quais podem estar localizadas no espaço urbano, que se apropriam dos capitais públicos e priva- dos (SPOSITO, 2001). Na visão marxista, os proprietários dos vazios urba- nos geram uma reserva de valor, por meio da apropriação de investimentos públicos e privados, o que impacta as relações sociais e econômicas no espaço urbano. Nesse caso, quando o proprietário vende a terra (mesmo que seja um vazio urbano), ele recebe um ágio (um valor adicional) pela valorização do espaço a partir das ações públicas (de investimento na região) e privadas (de investimento dos demais proprietários). Dessa forma, acredita-se que o ganho da terra adquirido advém de outras esferas da sociedade, e não dos esforços pessoais de seu proprietário. O monopólio do uso do solo a partir da propriedade da terra permite a apropriação da construção coletiva do espaço urbano, além da apropria- ção da renda pelas condições monopolistas, sem a participação no processo de produção da riqueza. Como exemplo, pense num terreno vazio em um bairro qualquer. Com os investimentos da prefeitura na região e dos próprios habitantes do bairro, a propriedade (mesmo que vazia) se valoriza e, nesse caso, o dono do terreno vazio se apropria da valorização do imóvel sem con- tribuir para ela. Portanto, a renda da terra pode ser aumentada pela influên- cia do capital privado e público, pelas ações da especulação imobiliária, pela demanda crescente devido ao aumento da população das cidades, pela oferta de equipamentos e infraestrutura urbanos e pela própria regulamentação do Estado, por meio do instrumento de zoneamento de uso do solo. Geografia Urbana – 62 – Segundo Sposito (1991), a terra apresenta duas características intrínse- cas: o valor do uso para os que a detêm, contemplando o preço e a valorização da propriedade, e o valor de troca, ou seja, o valor de uso para quem não possui a terra, como no caso de aluguel, arrendamento, entre outros. A renda advinda da terra pode inviabilizar o investimento nas regiões com preços mais altos, expandindo o capital para as áreas onde o imóvel tem um preço inferior. 4.1.2 O valor na produção do urbano Quando se observa o processo de formação do espaço urbano, nota-se uma produção desigual do espaço das cidades. Para a compreensão dessa produção desigual, é importante identificar os agentes e os sujeitos que participam da construção do espaço, bem como as ações empreendidas nas atividades desses agentes. No quadro a seguir, são destacados os principais agentes que colaboram com a formação do espaço: Quadro 1 – Agentes produtores do espaço urbano. Proprietários dos meios de produção Necessitam de grandes áreas para o desen- volvimento de suas atividades. Proprietários fundiários Buscam os maiores rendimentos fundiários a par- tir da oferta e da distribuição dos preços. Promotores imobiliários Realizam a conversão do capital-mercado- ria (terra) em capital-dinheiro (moeda). Estado Regula, organiza e planeja o uso da terra, além de utili-zá-lo para a oferta de infraestrutura e serviços públicos. Grupos sociais excluídos Não possuem acesso à terra e produ- zem o seu próprio espaço. Fonte: CORRÊA, 1995. Adaptado. As estratégias e ações estabelecidas e identificadas para cada um dos agentes são determinantes para a formação do espaço urbano, e a relação entre eles tem como consequência conflitos e desigualdades. Os conflitos são decorrentes dessas próprias desigualdades na ocupação do solo, como nos espaços destinados à habitação e a moradias, bem como a áreas para lazer, – 63 – As relações econômicas no processo urbano entre outras. Assim, é importante a definição dos atores e seus papéis distintos que, sob a regulação do Estado, contribuem para a construção das cidades. A pesquisadora Ana Fani Alessandri Carlos (2011) destaca que a produ- ção do espaço envolve sujeitos de ação, sendo eles: O Estado, a quem cabe a dominação política; o capital, com suas estratégias objetivando sua reprodução continuada (e aqui nos refe- rimos às frações do capital, o industrial, o comercial e o financeiro e suas articulações com os demais setores da economia, como o mer- cado imobiliário); os sujeitos sociais que, em suas necessidades e seus desejos vinculados à realização da vida humana, têm o espaço como condição, meio e produto de sua ação. Esses níveis correspondem àqueles da prática socioespacial real (objetiva e subjetivamente) que ganha sentido como produtora dos lugares, encerrando em sua natu- reza um conteúdo social dado pelas relações sociais que se realizam num espaço-tempo determinado, como um processo de produção, apropriação, reprodução da vida, da realidade e do espaço em seus descompassos, portanto fundamentalmente em suas contradições. (CARLOS, 2011, p. 64) Portanto, o espaço urbano é um produto do trabalho e das relações sociais e econômicas, sendo que o Estado regula a distribuição espacial das atividades, dos processos produtivos etc. O valor da terra não está relacionado somente com a forma física da cidade, mas com essas relações estabelecidas no espaço. Por exemplo, as cidades históricas, por questões legais de preservação, não alteram sua forma física, mas estabelecem novas relações de consumo e de serviçospraticados no espaço (SPOSITO, 1991). Conforme a estrutura do espaço urbano é melhorada, eleva-se o valor da terra, definindo-se a organização do espaço por meio do poder de interação dos agentes. Esse processo também gera sujeitos excluídos, que não conse- guem adquirir um espaço na cidade, definindo os conflitos pela ocupação da terra (SOUZA, 2003). 4.2 O crescimento urbano em países de centro e periferia A urbanização pode ser entendida como um processo de concentração da população, levando ao predomínio do espaço urbano e das cidades sobre Geografia Urbana – 64 – o espaço rural. Inicialmente o espaço urbano era caracterizado por atividades rurais, que dependiam do campo para a realização das práticas comerciais nas cidades. Com a Revolução Industrial, houve o crescimento demográfico no espaço urbano, levando as cidades a ter um papel preponderante sobre o campo (SPOSITO, 2001). Os países centrais ou desenvolvidos apresentam uma economia dinâ- mica, com estrutura industrial completa, produzem bens de alto valor agregado e desenvolvimento tecnológico e científico elevado. Esses países apresentam meios de comunicação e transporte modernos e eficientes, alto nível de qualidade de vida, baixos índices de analfabetismo, reduzido cres- cimento populacional e elevada expectativa de vida. Os países periféricos ou subdesenvolvidos, por outro lado, apresentam grandes desigualdades sociais e de distribuição de renda, com dependência econômica em rela- ção aos países centrais, controle das atividades econômicas sobre influência de empresas transnacionais, economia baseada em recursos naturais, baixo nível científico e tecnológico, sistema de transporte e comunicação ine- ficientes, número elevado de analfabetos, elevado crescimento natural da população e baixa expectativa de vida (SANTOS, 1993). As características do crescimento urbano, desse modo, são diferentes nos países centrais e periféricos, como exposto a seguir. 4.2.1 O crescimento urbano em países centrais Os países centrais (desenvolvidos) foram pioneiros no processo de industria- lização devido aos impactos da Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, o que levou à formação de importantes cidades, como Londres, Paris e Nova Iorque, que, devido a isso, apresentaram os maiores contingentes populacionais. Os países centrais têm um processo de urbanização mais antigo, que ocorreu de forma lenta e articulada com a área rural. Esse processo articulado incentivou as migrações, que aumentaram com a evolução das cidades, ins- talando equipamentos urbanos e infraestrutura. Num primeiro momento, as cidades se horizontalizaram e expandiram o espaço urbano e, num segundo momento, passaram por um processo de verticalização (SPOSITO, 2001). – 65 – As relações econômicas no processo urbano A urbanização moderna está intrinsecamente ligada ao sistema econô- mico, principalmente à industrialização. A concentração populacional causada pelos movimentos migratórios expandiu o processo de urbanização nas cidades. Como esse processo foi mais bem planejado nos países centrais, suas cidades se prepararam para atender e resolver os problemas advindos dessa industrializa- ção e urbanização. Nesses países também há uma rede de cidades mais articula- das e com a concentração urbana melhor distribuída. A urbanização dos países centrais contribui para que os fatores atrativos se destaquem, como maior oferta de empregos gerados pela industrialização, melhores condições de renda e de qualidade de vida, rápido e fácil acesso a mercados consumidores e produtores, existência de infraestrutura moderna e de equipamentos urbanos, como amplos espaços de convivência ou a grande oferta habitacional por meio da verticalização do espaço (Figura 1). Figura 1 – Urbanização em países centrais. Fonte: sasacvetkovic33/iStockphoto. Fonte: SeanPavonePhoto/iStockphoto. 4.2.2 O crescimento urbano em países periféricos Os países periféricos ou subdesenvolvidos apresentam características heterogêneas, dependendo do grau de industrialização na formação de seu espaço urbano. 2 Países subdesenvolvidos industrializados, ou mercados emer- gentes: A contradição entre as cidades e o campo foi acentuada após a Segunda Guerra Mundial, com a rápida urbanização cau- sada pelo intenso movimento de êxodo rural. Geografia Urbana – 66 – 2 Países subdesenvolvidos não industrializados, ou mercados periféricos: Apresentam baixos índices de urbanização, geralmente localizados nos continentes da África e Ásia, em virtude do pre- domínio de atividades primárias. Nesses países, há um processo de intensa urbanização em virtude do êxodo rural elevado, devido ao baixo padrão de vida no campo e à falta de políticas governa- mentais que promovam a fixação e o acesso à terra. A ausência dessas políticas leva a uma pressão populacional sobre as cidades (SANTOS, 1965). O processo de urbanização dos países periféricos contribui para o desen- volvimento dos fatores repulsivos, ou seja, que causam a “expulsão” da população do campo para as cidades, geralmente num processo de êxodo rural. Dentre esses fatores, destacam-se a concentração fundiária, má con- dições de renda e qualidade de vida, existência de infraestrutura deficiente e ausência de equipamentos urbanos. O desenvolvimento dos fatores repulsivos contribui para o deslocamento das populações rurais em direção às regiões urbanizadas, devido à concentra- ção das atividades econômicas e, por consequência, à concentração popula- cional, constituindo o fenômeno da macrocefalia urbana. Esse fenômeno também pode ser observado em países desenvolvidos, mas geralmente ocorre em proporções menores e de forma mais organizada (ROSSATO, 1996). Marx (1980) destaca que, com a incapacidade de absorver a mão de obra advinda do campo, aumenta-se o número de pessoas desempregadas, as quais acabam buscando refúgio no subemprego (emprego não qualificado e de remuneração muito baixa, sem vínculos ou garantias legais). A situação de subemprego leva a problemas como aumento da violência, proliferação de moradias irregulares, pressão social para a instalação de equipamentos urba- nos e infraestrutura. A Figura 2 apresenta um exemplo de ocupação irregular em país subdesenvolvido, configurando um cenário de vulnerabilidade social para as populações locais. – 67 – As relações econômicas no processo urbano Figura 2 – Ocupações irregulares e formação de favela em Déli, na Índia. Fonte: YavuzSariyildiz/iStockphoto. 4.3 O futuro das cidades Os geógrafos urbanos, assim como os urbanistas, os gestores municipais e outros profissionais, debatem sobre o futuro das cidades. Há uma grande dúvida sobre como os gestores municipais devem atuar para aproximar os cidadãos e a cidade, garantindo o acesso da sociedade ao espaço urbano, prin- cipalmente com o crescente processo de urbanização, desordenado e defei- tuoso, com dificuldade de atendimento das necessidades e da demanda por infraestrutura e equipamentos urbanos. Assim, a formação social do espaço urbano passa a ser uma construção conjunta entre os planejadores urbanos do Estado e os agentes dos demais setores envolvidos no processo de desenvolvimento da cidade, buscando-se organizar as demandas públicas e as particulares. Geografia Urbana – 68 – Outro importante elemento para as cidades do futuro é a discussão sobre o papel da sustentabilidade nas dimensões econômica, social e ambiental. Na dimensão econômica, a cidade precisa diversificar suas atividades econô- micas e produtivas no espaço, organizando a utilização do solo e a distribui- ção espacial da terra. Na dimensão social, a cidade necessita garantir a capa- cidade de o espaço atender às aglomerações urbanas e suas demandas sociais (notadamente educação e saúde) de equipamentos urbanos e infraestrutura. Na dimensãoambiental, precisa haver a articulação da concentração popu- lacional com a capacidade do espaço e suas relações com o ambiente natural (ACSELRAD, 2009). Para o estudo das cidades, é importante entender as tendências que podem mudar sua formação e construção, bem como a organização do espaço público para o estabelecimento de novas relações sociais e econômicas. 4.3.1 Megatendências globais para as cidades As cidades podem ser compreendidas como organismos vivos que se orientam por um modelo sistêmico que, como tal, precisa interagir com as mudanças no ambiente, definindo um novo padrão e um novo modo de desenvolvimento dos grandes centros urbanos. 2 A inserção das cidades no processo de globalização: A globaliza- ção pode ser entendida como um processo de integração econômica, social e cultural que ocorre em âmbito mundial. Esse processo teve um forte impulso a partir dos anos de 1990, com a evolução das tecnologias de informação e comunicação, eliminando distâncias e barreiras e constituindo uma “aldeia global”. Para Milton Santos (2001), significa o auge do capitalismo aplicado em nível global, buscando uma realocação e maior eficiência dos recursos produ- tivos. Essa realocação é necessária para atingir a competitividade exponencial entre empresas em mercados cada vez mais dinâmicos. Um dos primeiros efeitos do processo de globalização no espaço urbano foi o surgimento de grandes aglomerações urbanas com a formação das metrópoles, das regiões metropolitanas e das cida- des conurbadas (agrupadas em um espaço contínuo). Também foram definidas as cidades globais, que são pontos da rede – 69 – As relações econômicas no processo urbano econômica e política global. A globalização permitiu que as grandes indústrias deslocassem suas atividades produtivas para as cidades médias e, até mesmo, para espaços rurais. Com essa movimentação, as grandes cidades passaram a ter um novo papel, concentrando atividades de serviços, financeiras, burocráticas ou conectadas à alta tecnologia, reduzindo distâncias e afetando as percepções do espaço e do tempo (HARVEY, 1989). 2 A interação das políticas de migração e urbanização: O pro- cesso migratório é uma consequência natural do desenvolvimento urbano, pois municípios urbanizados atraem mais populações em busca de novas oportunidades. Esse movimento migratório pode ser observado em cenários como o do êxodo rural, ou migração campo-cidade. Esse processo esvazia o espaço rural e gera aglome- rações populacionais no espaço urbano. Com a redução e/ou eliminação das fronteiras, os fluxos migrató- rios tendem a se intensificar, com a busca de novas oportunida- des de trabalho e de educação. O futuro definirá a necessidade de estabelecimento de políticas públicas integradas (ou consorciadas) entre diversos municípios, para atuarem em problemas regionais comuns. As migrações que ocorrem geralmente entre cidades vizi- nhas, dentro do próprio estado ou do país, podem ser estendidas para movimentos migratórios com origem em outros países. 2 O desenvolvimento da economia da inovação: O desenvolvi- mento econômico das cidades passa pelo planejamento e pela orga- nização do uso do solo urbano, fazendo-se a correta distribuição da terra entre as atividades econômicas agrícolas, industriais e de serviços. Quanto mais dinâmica e moderna é a economia de uma cidade, mais ela concentra população e demanda organização e pla- nejamento para o atendimento das necessidades sociais. O debate sobre inovação tem ganhado espaço nas políticas de desenvolvimento econômico das cidades, estabelecendo-se as rela- ções econômicas entre o global e o local e definindo um novo papel político-econômico para os planejadores municipais. Nessa pers- pectiva, o desenvolvimento de parques tecnológicos como fator Geografia Urbana – 70 – de atração econômica surge como uma possibilidade de implan- tar novas práticas para dinamizar o desenvolvimento econômico (LASTRES et al., 1999). A sociedade da informação pode ser compreendida, segundo Castells (1999), como o desenvolvimento de um modelo informa- cional que engloba tanto a economia quanto as comunicações e as relações sociais, organizadas em uma nova estrutura social (que o autor chama de sociedade em rede), na qual as tecnologias de infor- mação são o principal instrumento para alcançar a produtividade e o poder. Nesse contexto, muitas cidades que estruturavam sua economia ancoradas nas atividades dos centros industriais, con- centrados em espaços determinados, iniciaram paulatinamente um processo de migração para uma nova economia, baseada nas oportunidades advindas da expansão das tecnologias. Esse modelo econômico contempla novos fatores produtivos, como a existência de uma infraestrutura que permite o tráfego e o armazenamento de dados, bem como uma capacidade de banda larga e de estrutura física de servidores e hardwares para o desenvolvimento e suporte das atividades (ALBERTIN; ALBERTIN, 2012). 2 As interações da cidade com o meio ambiente: Cabe às cidades estabelecer políticas adequadas para movimentação e o descarte dos insumos e resíduos, para as práticas e técnicas adequadas de susten- tabilidade dos ambientes construídos e redes de governança que fiscalizem as políticas ambientais, bem com estabeleçam normas e padrões técnicos. Da mesma forma, cabe aos gestores municipais estabelecer políticas de educação ambiental para alterar as dinâmi- cas de relações sociais com o meio ambiente. As redes de governança estabelecidas são fundamentais para que o futuro das cidades contemple as necessidades ambientais, utilizando instrumentos como: zoneamento ambiental; normas ambientais, com estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; avalia- ção de impacto ambiental e os procedimentos de licenciamento ambiental; políticas públicas; planos e programas setoriais; e ações de fiscalização ambiental. – 71 – As relações econômicas no processo urbano Além disso, um dos desafios das cidades do futuro é disponibilizar energia de forma sustentável para todas as atividades urbanas que, devido às demandas de inovação e expansão, necessitam cada vez mais desse recurso. Assim, as cidades passam a ter como foco de ação a investigação de novos modelos de geração de energia, de acordo com as características do espaço urbano, seja com a captação energética eólica, solar, das marés, hidroelétricas ou geotérmicas. 2 Cidade digital e smart cities – estabelecendo as novas relações urbanas: Um importante desafio para o futuro é a integração das funções urbanas com as tecnologias de informação e comunicação, tornando as cidades mais eficientes e inteligentes, o que requisi- tará da geografia estudos sobre uma nova organização espacial e novos uso para a terra. Para os pesquisadores, as cidades inteligentes se diferenciarão pela prestação de serviços, como a automação da coleta de lixo e a distribuição e organização do transporte de acordo com a demanda, em horários específicos. Esse cenário permitirá, ainda, novos espaços de debate e de relações sociais, com uma inte- ração mais ágil e melhores resultados. As cidades contemplam, assim, novas dinâmicas com seus habitantes, configurando diferentes formas de atuação no espaço urbano. Um espaço de interação virtual, ancorado em novas tecnologias, é desse modo estabelecido, tornando mais eficientes os serviços públicos. Ampliando seus conhecimentos O futuro das cidades: a insustentabilidade da cidade desigual (PEREIRA, 2006) Há uma grande interrogação sobre o futuro das cidades. O processo de urbanização crescente, desordenado e defei- tuoso ao atendimento direto à população, principalmente em Geografia Urbana – 72 – áreas mais carentes de equipamentos públicos, deixa muitas dúvidas sobre como o poder público, através de políticas publicas,aproximará os cidadãos ao direito à cidade. Por isso, a tarefa de encontrar soluções mediatas e imediatas para o mal-estar urbano não deve estar localizada apenas nas mãos de planejadores e do estado, mas sim corrigido com a participação e fiscalização de amplos setores e sujeitos envol- vidos no processo de construção social do espaço urbano. Dessa forma, reunir amplos e complexos setores da sociedade com interesses opostos exigirá esgrimar com interesses gerais e particulares, assanhando os múltiplos aspectos das relações sociais entre as duas principais classes, trabalhadores e bur- gueses, e outros setores sociais emanados por conflitos de interesses particulares. Está em voga, atualmente, debater, discursar e apresentar como título de teses e seminários a palavra sustentabilidade. É um atrativo, uma fórmula para a cura dos males sociais, eco- nômico e ambiental através de um pretenso consenso social, ou nos dias atuais, idealizar um novo “contrato social” com base no interesse comum. Razão pela qual defende-se o meio ambiente, afastando a política, instável na sua essência, da malha decisória do planejamento do espaço urbano, enco- brindo de forma indisfarçável o conflito social. A sustentabilidade social e ambiental está travada em uma concepção mais geral de organização de sociedade, sem sustentação, o que nos leva a crer que a industrialização, promovida pelo sistema capitalista, não teve como desiderato preocupar-se com ordenamento igualitário, territorialmente e economicamente, de todos nas cidades. Incluídos e excluí- dos permanecem divididos economicamente e socialmente. A palavra sustentável, dessa forma, pode não estar acima de “modelos” totalizantes que determinam a face do sistema polí- tico e social. Para as elites econômicas, as habitações neces- sitam ser autossuficientes, precisam estar fora do mundo que – 73 – As relações econômicas no processo urbano a industrialização criou. A “segurança” é pensada para que o “mundo marginal” não penetre no seu espaço; portanto, no seu mundo. A arquitetura, aos olhares do senso comum apenas concreto e beleza plástica ou feiúra estética, o modelo e as constru- ções, as ruas como estão alinhadas, as moradias onde estão localizadas e quem nelas habita, muito mais do que a aparên- cia pode revelar, serve a um propósito que afirma o sistema político que a cidade e seus habitantes acolhem. Concretamente, a ocupação urbana desordenada, a indus- trialização, as novas introduções tecnológicas, fruto da radica- lização do capitalismo (reestruturação produtiva do capital), visando ao lucro e não ao bem-estar do homem, destroem relações culturais e sociais solidárias. Aqui vale um comentário a respeito do entendimento de Henri Lefebvre sobre a diferenciação das cidades para a “sociedade urbana” (aspas do autor). Os modos de produ- ção nas diferentes realidades históricas das sociedades força- ram diferenças da organização do ponto de vista da absorção de espaços, onde as relações sociais objetivas e subjetivas se entrelaçam. A “sociedade urbana” é, então, uma hipó- tese de interseção entre a cidade industrial e a zona critica. A “sociedade urbana” nasce da industrialização que domina e absorve a produção agrícola e ao mesmo tempo se dis- tancia do mundo rural. Essa particularidade, assinalada, pode melhor ser identificada quando estamos diante de uma região como São Paulo, ou outra grande metrópole, que passou por um processo de industrialização, afastou-se do rural, vive na zona crítica, ou seja, da “implosão-explosão”; “a concentração urbana, o êxodo rural, subordinação completa do agrário ao urbano” (Henri Lefebvre, 1999). Desta feita, caminhamos ine- xoravelmente rumo à “sociedade urbana”. Geografia Urbana – 74 – O processo se daria da ausência de urbanização até o urbano, ilustrado por Lefebvre da seguinte forma: Partimos da cidade política: Grega e oriental; transitamos pela cidade comercial que sofre a interseção da inflexão do agrário para o urbano tendo como base à cidade industrial e “finalmente” estaríamos passando pela zona crítica. Para Lefebvre, o eixo traçado: (...) é ao mesmo tempo espacial e temporal: espacial porque o processo se estende no espaço que ele modifica; tempo- ral, uma vez que se desenvolve no tempo, aspecto de início menor, depois predominante, da prática e da história (...) No caminho percorrido pelo “fenômeno urbano” (numa palavra: o urbano), coloquemos algumas balizas. No inicio o que há? Populações destacadas pela etnologia, pela antropologia. Em torno desse zero inicial, os primeiros grupos humanos (coleto- res, pescadores, caçadores, talvez pastores) marcaram e nomea- ram o espaço; eles o exploraram balizando. Indicaram os lugares nomeados, as topias fundamentais. (...) O que importa é saber que muitos lugares no mundo, e sem dúvida em todos os luga- res onde a história aparece, a cidade acompanhou ou seguiu de perto a aldeia” (Henri Lefebvre, 1999). O conceito de gestão urbana, apreciado neste trabalho, não tem intimidade com o mesmo conceito mercadológico da vida urbana expressado na concepção de planejadores urbanos que trataram prefeitos como gerentes de uma grande empresa. As cidades são despossuídas de relação humanas, apresenta- das em mostruário, colocadas no mercado globalizado. Não há como não reconhecer a importância do plane- jamento urbano para permitir que haja uma cidade mais humana, seja numa sociedade que preze pelas relações democráticas e iguais em direitos; ou seja, numa sociedade de relações insustentáveis e profundamente contraditórias. Nelas há que se reconhecer o conflito nas relações sociais, – 75 – As relações econômicas no processo urbano para inicio de negociação dos riscos; e não poderá se tran- sigir da presença dos setores excluídos e organizados no processo de elaboração do planejamento urbano. Essas questões que penso poderão suscitar e aprofundar o debate sobre o futuro das cidades. Atividades A urbanização é um fenômeno crescente e que precisa passar por um processo de planejamento e regulação do Estado, garantindo a todos o acesso à terra como direito à cidade, bem como o desenvolvimento de atividades econômicas para atender a demanda do aglomerado urbano. Nesse cenário, o espaço urbano pode impactar todo o ambiente da cidade. Com base nessa premissa, responda às questões a seguir: 1. Pensando na relação entre renda da terra e urbanização, por que as pessoas mais carentes habitam as regiões mais distantes dos grandes centros urbanos e as periferias? 2. Por que nas áreas urbanizadas há uma preocupação maior com o meio ambiente e com a preservação das boas condições ambientais? 3. Qual o papel do Estado para garantir o acesso de todos à terra e ao direito de ocupação do espaço urbano? Processo de formação e urbanização das cidades Introdução A formação das cidades está ligada à necessidade de fixação territorial das sociedades, o que contempla a correta distribuição do solo entre as atividades sociais e produtivas. O Estado tem uma fun- ção política de organização e planejamento do espaço para garantir a toda a sociedade o acesso igualitário à terra. As grandes cidades apresentam fatores que atraem migran- tes aos seus territórios, contribuindo para a formação de grandes concentrações populacionais. Esse tipo de concentração resulta em alta demanda por serviços públicos e de infraestrutura, o que gera impactos sobre o meio urbano, muitas vezes com o estabelecimento de ocupações irregulares. Esse processo também se expande em dire- ção às cidades de médio porte, instituindo uma nova interação e um novo tipo de relação entre as cidades. 5 Geografia urbana – 78 – 5.1 A localização urbana e o sistema urbano 5.1.1 A localização urbana A localização urbana é um fator muitoimportante na configuração da estrutura interna da cidade, sendo classificada como um bem que é incorpo- rado à terra. Esse valor da terra é adicionado na aquisição/compra da parcela do solo urbano ou no aluguel desta. Villaça escreve que “na cidade capitalista a localização é apropriada pelo proprietário do respectivo terreno, juntamente com a propriedade deste. Indistinguível do terreno transforma-se com ele em mercadoria” (VILLAÇA, 1978, p. 15). Entretanto, os diversos pontos dados pela localização variada dos terrenos urbanos possuem qualidades locacionais que variam no tempo e no espaço, de acordo com as modificações realizadas pelos proprietários da terra, pelas ações do Estado no espaço urbano ou pelo investimento financeiro realizado. A localização urbana é influenciada pela relação dos atributos locais, destacadamente pelos fatores de acessibilidade e de infraestrutura. A acessi- bilidade no espaço é determinada pelo conjunto de vias de circulação e pelo sistema de transporte urbano, influenciando assim o preço da terra. Os imó- veis localizados em áreas centrais tendem a ter preços mais elevados, devido à melhor acessibilidade, enquanto áreas mais afastadas geralmente apresentam preços mais baratos. Assim, nos países subdesenvolvidos a acessibilidade é um diferencial para determinação do preço do solo, pois neles os recursos para investimentos em vias de circulação e sistemas viários são limitados. Por sua vez, a existência de infraestrutura estabelece vantagens para a loca- lização urbana por meio dos investimentos diferenciados na cidade. A implan- tação de uma boa infraestrutura urbana contribui para a determinação do preço do solo e para melhorias nas cidades, principalmente em função das concentra- ções populacionais crescentes. O espaço urbano nos países subdesenvolvidos é marcado por uma infraestrutura precária e insuficiente para suprir as demandas sociais e econômicas, gerando desigualdade na distribuição do solo das cidades. Assim, uma infraestrutura adequada fica disponível apenas para uma parcela da sociedade, que tem mais recursos para adquirir os terrenos com valores eleva- dos, marginalizando as classes de menor poder aquisitivo. – 79 – Processo de formação e urbanização das cidades As transformações no espaço ocorrem mais rapidamente nas cidades, pois a concentração populacional leva a uma demanda crescente por serviços públicos e infraestrutura urbana. Dessa forma, a carência de infraestrutura leva a um processo de reformulação constante, tanto pelas modificações no uso do solo quanto pela reestruturação das atividades sociais e econômicas do espaço urbano. As melhorias na infraestrutura interna de uma cidade beneficiam cidades vizinhas, podendo haver valorização de alguma área desses espaços urbanos e desvalorização de outras. Assim, entende-se que a implantação de uma boa infraestrutura em áreas mais distantes, por exemplo, valoriza esses espaços, aumentando o preço da terra e beneficiando a cidade como um todo. Outros fatores de estruturação da cidade capitalista podem ser a disponibilidade de dinheiro na sociedade e de espaço para a expansão urbana. No aspecto econômico do uso do solo, o preço da terra também é deter- minado pela demanda no espaço urbano, o que gera novas subdivisões em forma de loteamentos, ampliando a oferta. Sendo a terra um requisito essencial para a reprodução das relações sociais e econômicas, em momentos de grande demanda, em que há elevação do preço, a oferta de loteamentos por meio das políticas pode levar ao equilibro de mercado, facilitando o acesso a ela. 5.1.2 O sistema urbano Geralmente a cidade é considerada um sistema de relações sociais e pro- dutivas, mas é incomum pensar que ela é um ecossistema. Todavia, as carac- terísticas de uma cidade se aproximam dos conceitos da teoria dos sistemas. Para melhor compreensão de tais conceitos, primeiro é preciso definir o que é um sistema: um conjunto de elementos que interagem entre si na busca de um objetivo comum e inserido num ambiente (BERTALANFFY, 2012). Por sua vez, as cidades podem ser entendidas como um sistema orgânico, apre- sentando um ciclo de vida semelhante aos ecossistemas naturais, com cresci- mento, desenvolvimento, maturidade, envelhecimento e morte. Atentando-se para o princípio da morfogênese1, contida na teoria dos sistemas, as cidades 1 O princípio da morfogênese trata da capacidade dos sistemas de modificarem a si mesmos e a própria estrutura. A morfogênese permite que os sistemas corrijam e modifiquem suas situa- ções a partir da correção dos erros observados e dos resultados obtidos. Geografia urbana – 80 – se adaptam às mudanças do ambiente onde estão inseridas para continuarem vivas, produtivas e atraentes (DE OLIVEIRA; PORTELA, 2006). O estudo das cidades como uma organização sistêmica foi formulado na década de 1960, pelo pesquisador russo Viktor Borisovich Sochava, tendo como enfoque a aplicação da teoria geral dos sistemas aos estudos geográfi- cos, destacadamente na Geografia Urbana, na paisagem urbana e na geografia física (MELO, 1997). O princípio básico desse estudo é o da conectividade do sistema aos fatores externos que influenciam o ambiente, levando o próprio sistema a passar por constantes processos de adaptação, para evitar sua entropia (morte do sistema). Dessa forma, todo sistema busca o equilíbrio por meio das trans- formações do ambiente externo (CHRISTOFOLETTI, 1987). Nesse contexto, pode-se compreender que as cidades centrais, geral- mente maiores, por apresentarem maior concentração populacional e de ati- vidades econômicas, consomem volumes maiores de bens, de energia e de matéria-prima. As cidades menores, periféricas, ficam com a responsabilidade de fornecer insumos para as cidades centrais, configurando assim um modelo de interação econômica entre as grandes cidades e as de menor porte. Essa concepção orgânica das cidades permite definir uma hierarquia urbana baseada nas características e no grau de concentração populacional, com níveis organizados de desenvolvimento e de interação entre as cidades maiores e as menores, localizadas no seu entorno. A organização das cidades passa pelo planejamento da distribuição regional do espaço dos bens e serviços. As cidades menores têm uma função de produção e abastecimento das cidades maiores, que, por sua vez, fazem a distribuição para os grandes centros ou internacionalmente. No sentido inverso, as grandes cidades recebem bens e produtos desses centros maiores e internacionais e os distribuem para as cidades de médio porte, que então os redistribuem para as cidades pequenas. Esse sistema permite a formação de um processo de alimentação e retroalimentação produtiva. Assim como no âmbito regional, os centros urbanos podem definir internamente um processo de hierarquia, no qual as cidades centrais apresentam maior concentração de pessoas e de atividades – 81 – Processo de formação e urbanização das cidades econômicas, demandando mais energia e mais construções. Com a expansão urbana e a formação de novas áreas afastadas das áreas centrais, especializam- -se as áreas periféricas, onde se concentra um volume menor de atividades, menor fluxo de pessoas e as ruas passam a ter o papel de conectar a periferia à região central. 5.2 A formação das cidades Para compreender o processo de formação das cidades, é necessá- rio entender seu contexto histórico. Por volta de 5.000 a.C., os povos não tinham moradia fixa, mudando de local quando os recursos naturais se esgo- tavam. Posteriormente, para evitar esses deslocamentos, esses grupos iniciam o desenvolvimento da agricultura e começam a compor o espaço nas margens dos rios, devido à necessidade de água para manutenção da atividade agrícola. As primeiras cidades surgiram nas regiões do Egito e da Mesopotâmia (cujo significadoé “entre rios”), em função de sua localização privilegiada para manutenção dos solos férteis, o que permitia a realização de duas colheitas anuais. A agricultura causou então uma concentração populacional, exigindo nova organização da sociedade, com a atividade comercial e especialização da produção para as relações de troca. Nesse cenário, é estabelecido também o Estado, para regular esse novo espaço formado (BENEVOLO, 2005). Entende-se, dessa forma, que as cidades surgiram pelo contexto político, e não pelo econômico, que era organizado pela própria população, definindo a urbe como lugar de produção (pelas atividades dos habitantes) e de domi- nação (pelo poder de ação do Estado). A organização interna das cidades era marcada pela implantação de uma infraestrutura de distribuição de água e transporte de produtos, com o estabelecimento de propriedades individuais protegidas por muros e torres. A formação desses centros foi fortemente impactada pelos antigos impé- rios, que tiveram grande influência nos processos de urbanização. As cidades passaram a desempenhar um papel político que então refletiu na organização e distribuição dos espaços a partir das especializações econômicas. Além disso, essas cidades se desenvolveram como pontos de ligação entre diferentes loca- lidades, possibilitando uma melhor relação entre elas e uma organização das aglomerações urbanas. Geografia urbana – 82 – O Império Romano teve um papel importante na formação dos centros urbanos, contribuindo para sua ordenação e para a urbanização em geral. Dentre as características desse momento histórico, destaca-se a divisão ter- ritorial baseada na especialização do trabalho, o estabelecimento da cidade como espaço de poder político e econômico, o aumento no número de cida- des e a sua segmentação espacial como reflexo da estrutura social existente (BENEVOLO, 2005). No entanto, esse processo de redes urbanas construídas pelos impérios teve fim com o declínio do Império Romano, fato que não somente deses- truturou o comércio entre as cidades, mas também dificultou a ligação entre elas, devido à falta de manutenção das estradas e dos portos existentes. Sem essa conexão entre os centros urbanos, as pequenas cidades desapareceram por perderem sua função política. Já na Idade Média, o modelo de relação entre reis, senhores feudais e ser- vos desenvolveu novas cidades, baseadas em dois tipos de aglomerações urba- nas: as cidades episcopais, sustentadas pelos impostos pagos e sem expressão econômica, e os burgos, sob controle dos senhores feudais e destacadamente fortificados. No entanto, nesse momento não são identificadas as característi- cas urbanas, devido ao controle das relações sociais e econômicas nas cidades. Com o desenvolvimento das rotas comerciais e a reabertura dos portos europeus, paulatinamente os centros urbanos apresentam um renascimento, reestabelecendo as relações urbanas entre as principais cidades (MUMFORD, 1998). A expansão do comércio levou ao surgimento da burguesia comercial, estabelecendo uma nova classe social, que se associou à monarquia contra as corporações de ofício e os senhores feudais, desestruturando o modelo feudal. No final da Idade Média, as cidades apresentavam as seguintes características (MUMFORD, 1998): 2 Local de produção de mercadorias e de comércio: as cidades são o espaço das relações econômicas. – 83 – Processo de formação e urbanização das cidades 2 Especialização funcional: as cidades passam a fazer a distribuição territorial com base nas atividades produtivas, que definem suas especialidades. 2 Centro da vida social e política da Europa: as cidades passam a ter uma função política, cabendo ao Estado a organização do espaço e a regulação da expansão urbana. Nesse cenário, os centros urbanos se estabelecem como espaços políticos e sociais, estruturando seu espaço com base nas relações econômicas e nas atividades produtivas, e nascem cidades especializadas na atividade portuária, no turismo, na religião, entre outras. Ao final do século XVIII, com o advento da Revolução Industrial, surgem as cidades industriais, que apresentam um forte poder de atração populacional e de centralização econômica. As pri- meiras fábricas se localizavam próximas às margens dos rios e às áreas rurais, devido à necessidade de recursos como água e insumos produtivos. Com o surgimento da máquina a vapor e novos processos de produção, essas fábricas passam a ser alocadas nas periferias das cidades, onde encontram uma maior disponibilidade de mão de obra (MUMFORD, 1998). O processo de industrialização altera as condições ambientais das cida- des, em função da poluição atmosférica, da alta concentração populacional, da centralização das atividades industriais e do uso desordenado da terra. O ambiente industrial era insalubre, devido à ausência de luz e ventilação, com precárias condições de trabalho. No aspecto urbano, destacava-se a ausência de esgoto e de uma política de coleta adequada de excrementos, o que, asso- ciado à falta de água, comprometia a higiene e a saúde (MUMFORD, 1998). O advento da cidade industrial levou ao aumento dos problemas urba- nos, que passaram a ser o foco de atenção e dos objetivos das ações de rees- truturação urbana. A gestão municipal passa a visar não mais a formação das cidades, mas sim a consolidação e expansão do processo urbano. Geografia urbana – 84 – 5.3 A urbanização 5.3.1 O processo de urbanização das cidades Para Léfèbvre (1999), a urbanização pode ser compreendida como o processo de transformação dos espaços rurais em espaços urbanos, com a expansão das cidades e das práticas urbanas, destacadamente as atividades comerciais e industriais. Mas o urbano não se limita às cidades (embora a cidade seja a concretização do urbano), podendo se estender até as áreas rurais. Pode-se dizer que historicamente o processo de urbanização teve início com o capitalismo comercial, sendo intensificado após a Revolução Industrial. Em relação à questão territorial, o espaço rural é mais extenso do que o espaço urbano. Isso se explica pela necessidade que a atividade rural tem de amplos espaços cultiváveis para as culturas agrícolas, a criação de animais e o extrativismo mineral e vegetal, além da delimitação das áreas de preservação ambiental e de florestas. No entanto, é perceptível que, em relação às ativi- dades produtivas e à concentração populacional, a cidade vem se sobrepondo às áreas rurais. Pode-se dizer que a urbanização trata-se da conformação dos espaços a aspectos modernos, com a transição da agricultura para atividades econô- micas mais dinâmicas, como a indústria e o setor de serviços, bem como a concentração populacional nesses locais. Assim, o espaço urbano representa o processo de interação entre as diversas relações sociais e econômicas que ocorrem nas cidades. A urbanização apresenta dois tipos de fatores populacionais associados: os atrativos e os repulsivos. Os fatores atrativos se desenvolvem pela expansão da oferta de empregos em atividades diferenciadas, que incentivam o deslocamento da população rural em direção às cidades. Esse processo de migração ocorre em função da busca por melhores condições de vida, mais acesso aos mercados, melhores oportunidades de educação, entre outros elementos que atraem as pessoas em direção às cidades (RAVENSTEIN, 1980). Por outro lado, os fato- res repulsivos ocorrem quando a migração em direção às cidades acontece pela “expulsão” de indivíduos do campo. Exemplos de fatores de repulsão são a con- centração de terras no campo, a baixa renda dos trabalhadores e a mecanização – 85 – Processo de formação e urbanização das cidades da atividade agrícola, causando o deslocamento dessa população em direção aos centros urbanos (RAVENSTEIN, 1980). Após o advento da Revolução Industrial,cidades europeias como Londres e Paris desenvolveram fatores atrativos, principalmente ligados a oportunidades de trabalho. Nos países subdesenvolvidos, por sua vez, a expansão das cidades inicialmente ocorreu devido a fatores repulsivos, motivados principalmente pela mecanização da atividade agrícola e pelos baixos salários do campo. Em geral, observa-se que a indústria funciona como o motor da urbaniza- ção das cidades, configurando uma divisão da atividade econômica, destinando ao campo a produção de matéria-prima e às cidades a produção de bens indus- trializados e realização de atividades ligadas ao setor terciário. Esse processo é seguido por uma elevada taxa de migração para as cidades, resultando na for- mação de grandes metrópoles e de cidades globais. Estrutura-se, desse modo, a rede urbana de pequenas, médias e grandes cidades. 5.3.2 A urbanização no mundo O processo de urbanização ocorreu de forma distinta nos países desen- volvidos e subdesenvolvidos. Nos países desenvolvidos, esse processo foi estabelecido gradualmente e de modo planejado, enquanto nos países sub- desenvolvidos ele foi mais tardio, rápido e desorganizado. O quadro a seguir apresenta alguns dados da urbanização no mundo: Quadro 1 – Urbanização nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Ano No mundo 1900 16 cidades com mais de 1 milhão de habitantes, sendo duas localizadas em países subdesenvolvidos. 1950 20 cidades com mais de 2,5 milhão de habitantes, sendo seis localizadas em países subdesenvolvidos. 2000 26 cidades com mais de 10 milhões de habitantes, sendo 20 localizadas em países subdesenvolvidos. Fonte: MORICONI-EBRARD, 1993. Adaptado. Geografia urbana – 86 – Assim, embora esse processo crescente seja comum em todos os países, quando ele ocorre em países subdesenvolvidos e emergentes têm-se fortes impactos urbanos, devido à rapidez da urbanização exigida diante das grandes demandas locais. 5.3.3 A urbanização no Brasil O processo de urbanização no Brasil teve início com a modernização da economia brasileira, alavancada pelo processo industrial iniciado nos anos de 1940, sendo que as primeiras indústrias se instalaram nas grandes cidades, devido à concentração populacional e à infraestrutura disponível. As cidades se modernizaram e desenvolveram novos atrativos sociais e culturais, além de expandirem suas atividades comerciais, que funcionaram como fatores de atração da população do campo, inclusive com a concentração de novas opor- tunidades de emprego. No entanto, as cidades não conseguiram absorver toda mão de obra dis- ponível, tendo como resultado o desemprego e o avanço das atividades infor- mais. Esse modelo de urbanização apresentou uma centralização nos grandes centros urbanos, destacadamente na região Sudeste, em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro (SANTOS, 1993). Nos anos de 1970, tem início o processo de desconcentração industrial, orientado pelo Governo Federal, visando estabelecer novas áreas de desen- volvimento. Esse processo incentivou um novo movimento migratório, em direção aos diferentes centros industriais, devido ao aumento da oferta de emprego. A concentração populacional e econômica nos grandes centros foi um importante fator para a implantação das regiões metropolitanas como forma de atuação integrada entre os municípios, no sentido de resolver pro- blemas comuns (CANO, 2007). A expansão dos movimentos migratórios culminou com o aumento dos problemas urbanos, como ocupações irregulares, oferta limitada de habita- ção, engarrafamentos e tráfego urbano, grande produção de lixo, degradação ambiental e o aumento na demanda por serviços públicos e infraestrutura. – 87 – Processo de formação e urbanização das cidades A urbanização apresenta, portanto, uma característica de concentração populacional em grandes cidades, que, por sua vez, centralizam as atividades econômicas, desenvolvendo fatores atrativos que estimulam as migrações. No entanto, as limitações do Estado em atender as demandas crescentes dessa população migrante por serviços públicos e infraestrutura urbana colaboram para a ocupação irregular dos territórios e aumentam as dificuldades no que diz respeito ao correto planejamento do uso do solo. Ampliando seus conhecimentos A urbanização brasileira: um breve retros- pecto histórico (CARVALHO; SILVA; MACÊDO, 2010, p. 83-85) [...] A nossa urbanização constitui um fenômeno da segunda metade do século XX e pode ser considerado um fenômeno recente. As características desse fenômeno estão expressas na paisagem urbana das cidades e metrópoles brasileiras e são decorrentes de vários fatores: a) o êxodo rural, que, por sua vez, está ligado ao exce- dente de mão de obra do campo; b) a industrialização tardia e a modernização das atividades agrícolas, conjugadas à concentração de pessoas nas grandes cidades; c) o aumento do poder aquisitivo da população, favoreci- dos pela expansão do capital financeiro na economia; Geografia urbana – 88 – d) a inovação tecnológica e o aumento da produtividade das indústrias de bens de consumo, para suprirem as necessidades da vida urbana. Esses são apenas alguns dos fatores que contribuíram para a urbanização brasileira. No decorrer da nossa aula vere- mos com mais propriedade os elementos que constituem a urbanização brasileira. Contudo, vale ressaltar que este texto representa apenas uma breve introdução ao tema, devendo o aluno se debruçar sobre a referência bibliográfica indicada, para a aquisição de uma maior fundamentação teórica. Para compreendermos a urbanização brasileira é necessário que voltemos um pouco no tempo e relembremos alguns mar- cos históricos relacionados ao crescimento urbano de nossas cidades. Segundo Santos (1993), o Brasil deixou o século XIX com aproximadamente 10% da sua população residindo em cidades. As raízes da urbanização brasileira são encon- tradas na sua história colonial. Os primeiros centros urbanos surgiram no século XVI, ao longo do litoral nordestino em razão da produção do açúcar, nos séculos XVII e XVIII, a descoberta de ouro fez surgir vários núcleos urbanos no inte- rior do território e no século XIX a produção de café foi importante no processo de industrialização. Desde o período colonial, o Brasil já apresentava cidades de grande porte, entretanto, foi a partir da virada do século XIX que o processo de urbanização da sociedade brasileira começa realmente a se consolidar. Essa urbanização foi impul- sionada por vários fatores, dentre eles: a libertação dos escra- vos em 1888, proclamação da República 1889 e a expansão da indústria, que, ainda incipiente, se desenrolava na esteira das atividades ligadas à cafeicultura e às necessidades básicas do mercado interno (MARICATO, 2001). – 89 – Processo de formação e urbanização das cidades Podemos dizer que só a partir de 1930 o Estado passa a inves- tir de fato nas cidades, dotando-as de uma melhor infraestru- tura urbana e de melhores condições físicas para o desenvol- vimento industrial, visando atender as demandas locais, mas, sobretudo, a substituição de importações. Assim, pouco a pouco, a burguesia industrial assume a hegemonia política, sem que se verificasse, no entanto, uma ruptura com os inte- resses das oligarquias rurais e com os interesses hegemônicos estabelecidos até então. Maricato (2001) ressalta, ainda, que a maneira como se pro- cessaram a Abolição e a República, ainda no século XIX, delineou a trajetória da cidade brasileira nas primeiras déca- das do século XX. Contudo, esses eventos não contribuíram para a melhoria das condições urbanas. Muitas das antigas províncias, entre elas as do Nordeste continuaram pobres, com a população ainda mais carente, padecendo de todos os tipos de dificuldades. As oligarquias assumiam agora o lugar do antigo impériounitário. Com isso, a chamada República Velha, de 1889 a 1930, é também denominada de República oligárquica, isto é, de predomínio das oligarquias. Mesmo assim, a industrialização que se afirma a partir de 1930 e irá até o fim da Segunda Guerra Mundial representa um fator de avanço para a urbanização da sociedade brasileira. Esse período será marcado pelo fortalecimento da economia interna, com grande desenvolvimento das forças produtivas e a modernização da sociedade. Segundo Santos (1993, p. 9), nesse período a urbanização brasileira se generaliza e o turbilhão demográfico e a terceirização da economia são fatos notáveis. No entanto, é a partir de 1940 que se verifica uma verdadeira inversão da população rural em urbana. Geografia urbana – 90 – Quadro 1 – População total e urbana no Brasil Ano do Censo População total População urbana Índice de urbanização Índice de crescimento populacional Índice de crescimento urbano 1900 17.438.434 – – – – 1920 27.500.000 4.552.000 16,55% 43,08% – 1940 41.326.000 10.891.000 26,35% 33,46% 37.19% 1950 51.944.000 18.783.000 36,16% 25,70% 72,46% 1960 70.191.000 31.956.000 45,52% 35,13% 70,13% 1970 93.139.000 52.905.000 56,80% 32.60% 65,55% Fontes: Cadernos Mcidades/Des. Urbano Política Nacional de Desenvolvimento Urbano 1, Brasília, Novembro de 2004; Ruben George Olivem, Urbanização e mudança social no Brasil, Vozes, Petrópolis, 19801, p. 69, tabela 1; IBGE, Censos de 1940-2000/estimativa maio/2006. Podemos verificar neste quadro citado que a população bra- sileira praticamente duplicou entre 1900 e 1920 no período inicial da República. Este grande crescimento se deu muito em função das imigrações estrangeiras para o Brasil provin- das da Europa, região do Mediterrâneo e Ásia, como os Italianos, Alemães, Poloneses, Ucranianos, Povos Árabes, Japoneses e outros, concentrados mais nos Estados das Regiões Sul e Sudeste. Esta imigração para o Brasil ocorreu também nas Regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, mas em função de vários fatores, entre eles, o clima, a economia, a ocupação já consoli- dada e o início de uma produção agroindustrial, ela ocorre de forma mais amena e há uma intensificação na Região Centro- Oeste durante o período entre as duas Grandes Guerras Mundiais. [...] – 91 – Processo de formação e urbanização das cidades Atividades 1. A grande concentração populacional contribuiu para a formação das megacidades, em todo o mundo, a partir de fatores diferenciados nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Aponte os fatores que fo- mentam a formação dessas megacidades nos países subdesenvolvidos. 2. As megacidades apresentam uma concentração econômica e popula- cional que leva a uma grande demanda por serviços urbanos e infraes- trutura. Os impactos dessa concentração ocorrem de forma diversa em países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Aponte alguns proble- mas relacionados à concentração populacional nas megacidades. 3. Qual a influência do êxodo rural no processo de urbanização? Planejamento e políticas urbanas Introdução A grande cidade capitalista urbanizada e fruto da indus- trialização culmina com a formação da sociedade que, impactada pelo cotidiano das cidades, constrói a cultura urbana, mutável e dinâmica. A expansão das cidades e as demandas crescentes dessa sociedade urbana levam à necessidade de estabelecimento do plane- jamento urbano para resolver os problemas oriundos desse processo. Para organizar o espaço urbano e ordenar o desenvolvi- mento econômico e social da cidade, são definidas as políticas urba- nas, tendo como base a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto das Cidades, destacando-se, neste último, o papel do Plano Diretor para os municípios. 6 Geografia Urbana – 94 – 6.1 Sociedade urbana e o cotidiano 6.1.1 A sociedade urbana Comumente, considera-se sociedade urbana toda cidade indistintamente da sua função (política, comercial ou industrial) ou de seu tamanho (uma pequena cidade ou uma megalópole), desconsiderando as especificidades de cada sociedade, que, por questões geográficas, econômicas ou demográficas, não podem ser diretamente comparadas. O conceito de sociedade urbana, no entanto, pode ser compreendido como a sociedade que resulta do processo concretizado da urbanização das cidades. Henri Léfèbvre (1999) a define como a sociedade que nasce a partir do processo de industrialização, que domina e absorve a produção agrícola e que se sobrepõe ao campo. Compreende-se, então, que uma sociedade urbana nasce com o pro- cesso de industrialização e a sucede, tornando-se uma sociedade pós-indus- trial, estabelecendo novos estudos sociais com base nas demais ciências, como a Economia, a Sociologia, a História, entre outras, e definindo novos focos de estudo, como a sociedade de consumo e a sociedade do lazer. Nesse cená- rio, o tecido urbano se expande (Figura 1), reduzindo as remanescências da vida rural e confirmando o conceito de sociedade urbana. Nesse contexto, Léfèbvre define como tecido urbano o conjunto das manifestações do predo- mínio da cidade sobre o campo. São exemplos da influência do tecido urbano sobre o campo, as rodovias e os grandes supermercados nas áreas rurais. Esse processo de expan- são urbana gera subprodutos como os subúrbios, os con- juntos residenciais, os distritos industriais, os municípios saté- lites, entre outros. Em termos regionais, a sociedade urbana configura a organização de Figura 1 – Expansão urbana. Fonte: TomasSereda/iStockphoto. – 95 – Planejamento e políticas urbanas municípios centrais (as metrópoles) e os municípios satélites no entorno do muni- cípio central. Podemos compreender que, no caso brasileiro, a sociedade urbana apresenta uma forte concentração nas regiões metropolitanas. Assim, as relações estabelecidas dentro da cidade e entre os municípios permitem dizer que a sociedade urbana passa por um processo de formação constante por meio do aprendizado (e reaprendizado) contínuo de expansão do espaço urbano, contribuindo para a construção da realidade das cidades. Léfèbvre (1999) destaca que a revolução urbana é o processo de trans- formações pelas quais passam as sociedades urbanas, inicialmente por uma caracterização política, migrando para uma conformação que privilegia a ati- vidade comercial, passando pela cidade industrial e chegando à cidade pós- -industrial. O advento da sociedade pós-industrial destaca a problemática das cidades, revelando a necessidade de um planejamento municipal baseado em políticas urbanas. Entende-se que a aplicação das políticas urbanas segue duas visões distin- tas. A primeira delas é uma visão técnica, para a elaboração do planejamento urbano, a qual compreenda o correto uso do solo, utilizando argumentos científicos de diversas ciências, como a geologia, a geografia, a hidrografia, o urbanismo, entre outras. A outra visão compreende a questão política desti- nada às políticas públicas, principalmente definindo o papel dos atores sociais conforme a ideologia adotada. Uma ideologia mais de direita abre caminho para a participação da iniciativa privada, para os capitalistas e seu capital; já a ideologia de esquerda defende uma participação crescente do Estado na distribuição e na organização do espaço. 6.1.2 O cotidiano urbano É importante entender o funcionamento do cotidiano das cidades para assimilar o processo de formação da cultura urbana, que, por sua vez, é um processo em construção, não estando presa à formação histórica. A cultura urbana influencia os habitantes da cidade, os migrantes que chegam à cidade e os turistas que a visitam. Por outro lado, essa cultura é influenciada por seus habitantes e por aqueles que passam pela cidade de forma temporária ou como turista. Geografia Urbana– 96 – Como exemplo da relação entre o cotidiano urbano e a cultura urbana, pode-se citar: o bairro da Liberdade, que concentra a comunidade japonesa em São Paulo; o bairro Chinatown, em Nova Iorque, que concentra a comu- nidade chinesa; os espaços de cultura nordestina em cidades como o Rio de Janeiro, onde a culinária, a música e a dança do Nordeste são difundidas; entre outros, que agrupam determinadas culturas e acabam influenciando o dia a dia das cidades. Figura 2 – Bairro da Liberdade, na cidade de São Paulo: concentração da comunidade japonesa. Fonte: Caio do Valle/Wikimedia Commons. – 97 – Planejamento e políticas urbanas Entende-se, dessa forma, que o cotidiano das cidades define o modo de vida urbano. Nas cidades, as distâncias percorridas e a agitação são grandes, os habitantes dependem da disponibilização do transporte público para che- gar a seus destinos e não há tempo para contemplação dos espaços urbanos. Devido à pressa nas cidades, há filas no transporte público, em espaços cole- tivos, como restaurantes, lanchonetes, bancos, entre outros. As característi- cas da pressa, das filas e do nervosismo nos grandes centros tornam difícil a adaptação dos habitantes do campo nas cidades. As cidades também se destacam pela grande quantidade de oferta de ser- viços especializados para seus habitantes. A cultura urbana é ampla e diversi- ficada, abrangendo desde a cultura popular e clássica até a cultura inovadora e de vanguarda, o que permite existir, numa mesma cidade, a oportunidade de assistir a uma ópera, um espetáculo de rock, uma exposição de artes nacionais e internacionais, lançamentos de filmes nos cinemas e eventos de conteúdo local. A cultura urbana, de forma geral, permite a interação de culturas locais e internacionais no mesmo espaço urbano. Os estudos do cotidiano urbano tiveram início com os relatos de Charles Baudelaire, poeta francês do século XIX, por meio da figura do flaneur (sujeito que caminha pela cidade observando o comportamento dos cidadãos), obser- vando as ruas da cidade de Paris e seus transeuntes, a qual migrava do modo de vida rural para o modo urbano (MENEZES, 2009). Henri Léfèbvre destaca a importância do cotidiano ao afirmar que “quando as pessoas não podem mais viver sua cotidianidade, então começa uma revolução. Só então, enquanto puderem viver o cotidiano, as antigas relações se reconstituem” (LÉFÈBVRE, 1991, p. 39). O cotidiano urbano também apresenta uma “intranquilidade” cons- tante devido a particularidades verificadas nas cidades, como o medo da vio- lência, as novas demandas de consumo baseadas no modo de vida urbano, com novas tendências de moda, de comportamento, de música, de artes, de gastronomia, entre outras. Também nesse contexto formam-se grupos sociais diferenciados, como as tribos urbanas, por exemplo, os góticos, punks, roqueiros, emos e outros, em comunidades com hábitos ou modos de vida característicos, buscando e criando uma identidade para melhor se adaptar ao cotidiano das cidades. Geografia Urbana – 98 – 6.2 Planejamento urbano e política urbana 6.2.1 O planejamento urbano O termo planejamento urbano surgiu na Inglaterra do século XVIII, como uma nova forma de compreender o processo de organização da for- mação e crescimento das cidades e os problemas advindos do advento da Revolução Industrial. Desse modo, esse tipo de planejamento desponta como um meio de ordenação e de resposta às questões enfrentadas pelas cidades e não resolvidas pelo processo de urbanização. A cidade, como um fenômeno urbano, passa por um processo de evolu- ção que vai além de sua formação histórica, adquirindo uma característica de dinamismo que evolui no tempo. Portanto, a cidade passa a ser vista como o produto de um determinado contexto sócio-histórico, e não mais como um modelo ideal a ser concebido pelos urbanistas (KOHLSDORF, 1985). Os planejadores urbanos têm a imagem conceitual da cidade ideal como solução dos problemas urbanos, definindo instrumentos e processos de gestão que se adaptem às mudanças de cenário. No entanto, essa visão passa a ter um foco secundário, pois as demandas de atendimento são as necessidades da cidade real, com seus problemas e suas limitações. O planejamento urbano, com o passar do tempo, passou a ter um foco e uma atuação mais interdisciplinar, saindo da ação direta dos arquitetos e urbanistas para uma atuação em conjunto com geógrafos, economistas, his- toriadores, gestores públicos e demais profissionais. O planejamento urbano pode ser entendido, então, como o processo de escolher um conjunto de ações consideradas as mais adequadas para a condu- ção da cidade aos objetivos propostos. O urbanista não deve ser o responsável por projetar a cidade, mas sim parte integrante de um novo planejamento sistêmico (SOUZA, 2003). Brian McLoughlin (1969), autor clássico de planejamento regional e urbano, trata dos conceitos do planejamento sistêmico para as cidades. Segundo o autor, a cidade é um sistema composto por elementos humanos e espaciais que interagem de forma conectada por meio de fluxos e canais de cir- culação. Dessa forma, faz-se necessário que vários profissionais, e não somente – 99 – Planejamento e políticas urbanas urbanistas, atuem na composição e formulação do planejamento urbano das cidades, a partir de etapas pré-definidas, da avaliação preliminar, passando pela definição de alternativas e culminando na implementação do projeto. Souza (2003) destaca que o planejamento urbano e regional é sempre voltado para o futuro, buscando antever problemas e dificuldades. O planeja- mento da cidade precisa considerar a sua função social, garantindo um papel ativo à sociedade na construção e formação do espaço urbano. É importante destacar o papel e a importância do planejamento urbano e do urbanismo na formação e na expansão das cidades. Existem similarida- des entre os conceitos, pois ambos estudam a dimensão espacial do fenômeno urbano, no entanto, eles diferem quanto à forma de atuação. O urbanismo trata do projeto das cidades por meio do desenho urbano, levando em consi- deração o aspecto territorial e espacial das cidades. O planejamento urbano, por sua vez, é um processo interdisciplinar que trabalha em primeiro lugar com as relações de conflito entre os habitantes, para, depois, preocupar-se com o desenho e o ordenamento das cidades. Atualmente, o planejamento urbano de uma cidade é geralmente feito pela interação entre agências governamentais e empresas privadas que cons- troem o espaço urbano, modelo esse que vem sendo utilizado no Brasil nas últimas décadas. 6.2.2 Política urbana A Constituição Federal de 1988 organiza e estrutura a política urbana brasileira traçando os preceitos para seu estabelecimento, com o seguinte texto: Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. § 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. Geografia Urbana – 100 – § 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro. § 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei fede- ral, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I – parcelamento ou edificaçãocompulsórios; II – imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progres- sivo no tempo; III – desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessi- vas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adqui- rir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. § 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. (BRASIL, 1988) A Constituição tem, desse modo, uma grande importância para o regra- mento da política urbana, pois estabelece a autonomia das cidades em relação às questões de ordenamento legal do território. O texto de 1988 também foi essencial na definição de critérios para a expansão urbana e o desenvolvi- mento das cidades, buscando fortalecer as políticas de planejamento urbano. Anos mais tarde, em 2001, é implementado o Estatuto das Cidades para regulamentar a política urbana brasileira, definindo mecanismos e instrumen- tos para sua realização. O documento estabeleceu formas de atuação muni- cipal para a garantia do pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e a garantia de bem-estar dos habitantes. Além disso, o Estatuto definiu a – 101 – Planejamento e políticas urbanas implementação do Plano Diretor como “instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana” (BRASIL, 2001). O Plano Diretor é criado pelos planejadores urbanos de modo a mostrar como a cidade é hoje e como ela será num futuro determinado, contemplando os impactos para toda a localidade. O plano precisa estabelecer a distribui- ção do uso do solo e as necessidades de implantação de serviços públicos e infraestrutura urbana para o cenário proposto, como vias públicas, sanea- mento público, transporte público, além das funções públicas, como educação e saúde. O Estatuto das Cidades define a obrigatoriedade da elaboração do Plano Diretor para municípios com mais de 20 mil habitantes, integrantes de regiões metropolitanas, com áreas de interesse turístico ou situados em áreas de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental na região ou no país (BRASIL, 2001). Para o desenvolvimento do plano, é importante a organização de uma equipe com conhecimentos diver- sos, como engenheiros, economistas, geógrafos, arquitetos, sociólogos, juristas, entre outros que, em conjunto com a sociedade civil organizada, representada por associações de moradores, associações de classe, terceiro setor e movi- mentos sociais, definem um caminho para a organização e o planejamento da cidade, bem como o atendimento das demandas da população. Os grandes municípios brasileiros têm uma estrutura própria de pla- nejamento urbano, responsável pela formulação, alteração e implantação do Plano Diretor. As cidades pequenas, por sua vez, geralmente contratam uma empresa privada, que faz o diagnóstico municipal, organiza as audiências e conferências de participação popular e encaminha os dados para a aprovação das autoridades municipais. No tocante à organização do plano, divide-se o espaço urbano em áreas distintas, destinadas à habitação (especificando o tipo de habitação: casas e apartamentos), áreas comerciais, centros industriais e espaços destinados à atividade pública. Com esse objetivo, limita-se a altura das construções, defi- nem-se as áreas que não podem ter grandes edificações, solicita-se a demolição de prédios em dada região e a regulação da atividade econômica, podendo-se permitir pequenas indústrias e estabelecimentos comerciais e proibindo gran- des indústrias, bem como o desenvolvimento de áreas mistas de habitação, comércio e indústrias. Geografia Urbana – 102 – Com foco na qualidade de vida da população, outra preocupação dos planejadores é com a aparência e distribuição da cidade, com a implantação de parques, avenidas amplas e estruturas públicas destacadas como centros cívicos, museus e teatros. 6.3 Processos e formas espaciais A reprodução social, as relações de produção e a acumulação de capital representam uma série de processos sociais que encontram um local privile- giado de ação na grande cidade capitalista. Todos esses processos criam for- mas e funções espaciais cuja organização é representada na distribuição do espaço urbano. Segundo Corrêa (2002), os processos espaciais e suas respecti- vas formas podem ser definidos como descrito a seguir. 6.3.1 Centralização e área central A área central concentra as principais atividades de comércio, servi- ços e administração pública, além de apresentar a melhor infraestrutura de comunicação e transportes. A concentração de atividades leva ao interesse dos empresários por essa área, o que aumenta a demanda pelo espaço (que é limitado) e amplia o processo de verticalização da paisagem urbana, caracte- rizando as cidades modernas. A concentração das atividades e o grande fluxo de pessoas durante o dia justificam que o sistema de transporte tenha na área central seu foco prin- cipal. De forma geral, acredita-se que a área central comanda a vida social, política e econômica das cidades. Nesse contexto, num segundo momento, ocorre a formação de uma área periférica à área central, a qual é caracterizada pelo uso semiextensivo do solo, disponibilizando espaços (vazios urbanos) destinados a atividades vinculadas ao centro e que demandam grandes áreas. É nessas áreas que se destacam o comércio de automóveis, os centros comerciais, o comércio atacadista, os depósitos, as pequenas indústrias e as residências multifamiliares. A proxi- midade com as áreas centrais faz com que essas atividades se beneficiem da estrutura de comunicação e transporte existentes. – 103 – Planejamento e políticas urbanas Para os estudiosos da centralidade urbana, a área central conecta pro- cesso, forma e função num único conceito. O processo porque se entende que a centralidade é resultante de um fenômeno de concentração do poder e das relações econômicas e sociais. Quanto à forma, entende-se que esse centro é um ponto equidistante de diversos outros pontos em uma área definida. E quanto à relação com a função, as áreas centrais, devido a suas características, concentram as atividades financeiras, de administração, de comércio e de ser- viços, definindo assim uma multiplicidade de funções. Compreende-se, ainda, que com o processo de expansão urbana e a aglo- meração populacional em outras áreas, novos centros são definidos pelas fun- ções exercidas, gerando novas centralidades dentro da cidade. O processo de centralização traz alguns efeitos danosos, pois as van- tagens da localização urbana das áreas centrais, como a disponibilidade de infraestrutura urbana, diversidade de vias de circulação e transporte público, elevam o preço da terra. Como consequência, os agentes imobiliários e os proprietários dos modelos de produção iniciam um processo de desloca- mento em direção às áreas periféricas. Esse movimento faz com que grupos sociais excluídos se estabeleçam em áreas mais distantes, muitas vezes com ocupações irregulares e em áreas de risco, como fundos de vale, regiões de mananciais, margens de rios e encostas. Essas ocupações pressionam o Estado pela ampliação de políticas públicas de planejamento urbano que atendam às demandas e necessidades da população residente nessas áreas. 6.3.2 Descentralização e núcleos secundáriosEsse é um processo utilizado por empresas para reduzir os custos gerados pela centralização demasiada na área central das cidades. A descentralização representa um novo fator de atração para as áreas periféricas e de repulsa em relação às áreas centrais (CORRÊA, 2002). Muitos fatores podem contribuir para a repulsão em relação à área cen- tral, como o alto valor da propriedade urbana, que incentiva a mudança para as áreas periféricas da cidade. Outro problema das áreas centrais é a limitação do espaço, que impede a expansão das áreas, devido às restrições legais sobre seu uso. Além desses fatores, as questões relativas ao alto tráfego de veículos impactam o custo do sistema de transporte nas áreas centrais. Geografia Urbana – 104 – Desse modo, as áreas periféricas passam a apresentar fatores de atração, deslocando os investimentos da área central. Dentre esses fatores, pode-se destacar: a oferta de terras com menores preços, num espaço com infraestru- tura disponível; a facilidade de mobilidade e transporte; uma melhor estru- tura de serviços básicos, como saneamento e coleta de lixo; e a possibilidade de maior controle do uso da terra (CORRÊA, 2002). A descentralização cria diversos núcleos periféricos de atividades e gera economia de tempo e redução dos custos de transporte. Também possibilita diferentes oportunidades de negócios para empreendedores, incentivando o surgimento de novas atividades econômicas e mercados de atuação. O setor industrial, que tende a ser mais descentralizado, apresenta um papel destacado nesse processo, porque consome mais espaço e demanda melhores condições de tráfego e transporte. Por outro lado, as atividades liga- das à direção tendem a ser mais centralizadas, pois demandam menores espaços e dependem menos das condições da infraestrutura urbana (CORRÊA, 2002). É possível compreender, assim, que o Estado tem um papel funda- mental na formação do espaço urbano, ao orientar a distribuição e o pla- nejamento do uso da terra. Essa organização é importante para programar e estruturar as áreas periféricas e as áreas centrais, atendendo as necessidades da sociedade e das atividades produtivas. Esse processo permite, também, a centralização ou descentralização das atividades e a expansão urbana em direção às áreas periféricas. Ampliando seus conhecimentos O processo espacial de descentralização: a área central e a cidade (SCHWENK; CRUZ, p. 182-183) A área central possui a maior concentração de atividades econômicas e de serviços. De acordo com Corrêa (1989), é constituída por um núcleo, em que predomina o uso intensivo – 105 – Planejamento e políticas urbanas do solo e por uma zona periférica ao centro de uso semi- -intensivo. Devido a essa concentração, há uma competição pelo espaço, apresentando, consequentemente, elevação dos preços das terras, dos impostos e aluguéis e desecono- mias de aglomeração. As firmas, empresas e atividades que não conseguem se manter e pagar pelo alto preço da terra, deslocam-se ou descentralizam-se. Por outro lado, aparecem os camelôs ou os vendedores ambulantes, que se utilizam das calçadas ou abrigos de edi- fícios competindo com o comércio local que, por sua vez, briga para expulsá-los da área central. A população de baixa renda que não consegue manter moradia nessa área busca fixar-se na periferia da cidade, se deslocando para a área cen- tral apenas para trabalhar e realizar outras necessidades. De outro modo, se instala no setor residencial, caracterizado por residências populares e de baixa classe média (muitas des- sas deterioradas) e nos cortiços, em torno do núcleo central, implicando no processo de segregação. No entanto, os pré- dios deteriorados são frequentemente, substituídos por edifí- cios de residências ou pelo comércio, constituindo o principal foco da política da renovação urbana. Esse aspecto implica no processo de segregação. A tendência, contudo, nessa área, é de que as residências da classe de maior renda se desloquem para outras partes da área urbana. A área central, apontada por Hortwood e Boyce apud Corrêa (1989) como uma área de foco de transportes intra-urbanos e intra-regionais, devido à localização dos terminais ferroviá- rios e rodoviários, ou zona de cais, quanto se trata de cidade portuária, apresenta alto congestionamento e alto custo do sis- tema de transporte e comunicações, resultando em um gasto maior de tempo na movimentação e circulação. De acordo com Colby (1933), isso dificulta e onera as interações entre firmas que, para solucionarem o problema, deslocam-se para fora dessa área. Por outro lado, o setor industrial de transporte Geografia Urbana – 106 – tem interesse em manter e ampliar este setor, facilitando o des- locamento de indivíduos dessa área para o restante da cidade e vice-versa. O próprio desenvolvimento de meios de trans- porte mais flexíveis, como automóveis, ônibus e caminhões, viabiliza o deslocamento da área central, implicando em uma diminuição da acessibilidade dessa área e em um aumento relativo da acessibilidade de outros locais. A descentralização industrial teve início nos primórdios do século XX, principalmente por aquelas indústrias em cresci- mento, devido às deseconomias externas da área central ou à introdução de novas técnicas produtivas e ao aumento da escala de produção, já que necessitavam de terrenos maiores para ampliação. Entretanto, a dificuldade de obtenção desses terrenos na área central torna impraticável para muitas indús- trias, a permanência e a localização nessa área, culminando com seu deslocamento para a periferia ou outras partes da cidade. As indústrias poluentes são também, aquelas que forçosamente, necessitam se deslocar para a periferia. Assim, esses estabelecimentos na área central são vendidos por alto preço, garantindo lucro, sendo substituídos por edifícios comerciais ou residenciais. Apenas suas sedes sociais ou administrativas permanecem na área central. Por outro lado, as indústrias e empresas que se instalaram dire- tamente na área externa à área central da cidade e em outras regiões ou que criaram cadeias de lojas diversas, atuando em toda a cidade, como supermercados, drogarias, eletrodomés- ticos etc., têm igualmente suas sedes sociais ou escritórios regionais localizados na área central. Desta forma, as indústrias tendem a se descentralizar, enquanto as atividades de negó- cios tendem a se estabelecer e se concentrar na área central (CORRÊA, 1989; MOORE e SMELSER, 1996). Na mesma situação, estão as atividades terciárias que para atenderem à demanda fora da área central, vão, paulatina- mente, deslocando-se, a começar por aquelas que atendem – 107 – Planejamento e políticas urbanas a demanda mais frequente. Verifica-se que a tendência da área central é de sua redefinição funcional, principalmente no núcleo, onde está o foco das principais atividades de gestão, escritórios e de serviços especializados, enquanto o comércio varejista e determinados serviços se descentralizam. No entanto, nem todas as indústrias se deslocam. Algumas permanecem centralmente localizadas, principalmente as pequenas, que consomem pouco espaço e têm como mer- cado a área central ou toda a cidade, com capacidade de suportar os elevados preços pelos imóveis (muitos desses adaptados) que ocupam (PRED apud CORRÊA, 1989). Tais indústrias se beneficiam das externalidades, uma vez que se encontram próximas de terminais de transportes, depósitos, comércio atacadista e das atividades do núcleo central. Nas cidades portuárias, as indústrias, incluindo as de grande porte, encontram-se na zona periférica do centro e depen- dem fortemente dos transportes principalmente, em relação às matérias-primas importadas. Para Colby (1933), as restrições legais, implicando a ausência de controle do espaçoque limita a ação das firmas e a ausên- cia ou perda de amenidades, são também motivos que levam ao deslocamento dos indivíduos, das instituições e de tipos de usos da terra para fora da área central. Enfim, a descentralização da área central varia em função dos tipos de atividades realizadas na mesma e de suas tendências à descentralização e do tempo em sequência que essas levam para descentralizar, pela divisão territorial do trabalho e pela procura por outros setores da cidade (CORRÊA, 1997). O deslocamento de indivíduos na área central, especialmente no núcleo, se manifesta no período diurno, sobretudo o de pedestres, que se concentram durante as horas de trabalho. À noite esse deslocamento é direcionado para fora dessa área fazendo com que o núcleo se torne deserto. Esse aspecto Geografia Urbana – 108 – do deslocamento está descrito por Moore e Smelser (1996) como processo de rotina. O fato de a periferia do centro possuir preços do solo menos elevados que do núcleo, levam algumas atividades e uso do solo a se deslocarem do núcleo para esse setor. Dessa forma, essas atividades estão fortemente vinculadas ao núcleo e a toda a cidade, beneficiandos e da acessibilidade que o conjunto da área central desfruta. [...] Atividades 1. Destaque a diferença entre os conceitos de planejamento urbano e po- lítica urbana. 2. Explique a relação existente entre a cultura urbana e o cotidiano das cidades. 3. Explique como a descentralização pode contribuir para a resolução do problema do tráfego e dos congestionamentos nas grandes cidades. A produção do espação urbano e das redes urbanas Introdução O espaço urbano não é uma construção feita historicamente, mas sim com a atuação de diversos agentes que constroem esse espaço: os proprietários dos meios de produção; os proprietários fundiários; os promotores imobiliários; o Estado; e os grupos sociais excluídos. A presença desses diferentes atores incentiva os conflitos urbanos e a segregação espacial dentro das cidades. A formação do espaço urbano leva à implementação de uma infraestrutura de comunicação e transportes que define a configura- ção da rede urbana e a posição dos municípios dentro da hierarquia urbana, definindo o nível de influência econômica das cidades. 7 Geografia Urbana – 110 – 7.1 Os agentes produtores do espaço urbano 7.1.1 A produção do espaço urbano O espaço urbano reflete as ações e intenções da sociedade sobre o espaço. Assim, a formação do espaço é resultante das relações sociais e econômicas construídas na cidade por meio de diversos atores. Corrêa (1995) conceitua o espaço urbano como o conjunto dos usos da terra justapostos entre si [que] definem áreas, como o centro da cidade, local de concentração de atividades comerciais, de serviços e de gestão, áreas industriais, áreas residen- ciais distintas em termos de forma e conteúdo social, de lazer, e entre outras aquelas reservadas a futura expansão. Este complexo conjunto de usos da terra é, em realidade, a organização espacial da cidade, ou simplesmente, o espaço urbano, que aparece assim como espaço fragmentado. (CORRÊA, 1995, p. 7) Nesse processo de formação, a fragmentação do espaço e a articulação entre os atores ocorrem ao mesmo tempo em que o espaço é construído, mantendo-se relações sociais, econômicas e espaciais com as demais partes, em intensidades variadas. Essas relações manifestam-se pelas atividades eco- nômicas distribuídas no território, pela localização das áreas residenciais e comerciais e pelo deslocamento entre as diversas áreas, isto é, entre as habi- tações e as áreas industriais e entre estas e as áreas comerciais, por exemplo. As relações diversas são materializadas na cidade: as produtivas são repre- sentadas pelas áreas industriais e comerciais, e as sociais, pelas áreas habita- cionais, pelas atividades de lazer e pelos parques e praças. A configuração da cidade define e redefine essas relações, que tem por característica serem dinâmicas e mutáveis. 7.1.2 Os agentes produtores do espaço urbano A produção do espaço urbano não é fruto da atuação de apenas um setor ou de um ator social, mas da interação entre diversos atores que, em conjunto, formam, alteram e configuram o espaço. Segundo Corrêa (2006, p. 12), esses agentes são: “Os proprietários dos meios de produção, os proprietários – 111 – A produçao do espação urbano e das redes urbanas fundiários, os promotores imobiliários, o Estado e os grupos sociais excluí- dos”, como explicitado a seguir. 2 Grandes proprietários industriais e grandes empresas comer- ciais: Caracterizam-se como grandes consumidores de espaço devido a suas atividades econômicas. A teoria locacional mostra que um dos fatores para instalação das atividades produtivas é o baixo preço dos grandes terrenos, principalmente quando localiza- dos junto a estruturas logísticas de portos, aeroportos e ferrovias, bem como locais com alta concentração populacional. No entanto, as relações entre os atores sociais podem ser mais com- plexas quando se trata de interesses diferenciados. Como exemplo dessa relação, pode-se citar a especulação imobiliária, que influencia a disposição das áreas habitacionais conforme o interesse comercial das imobiliárias e construtoras, em detrimento dos demandantes dos programas de habitação popular. A especulação influencia o valor dos imóveis na cidade pela necessidade da expansão dos negócios imobiliários, elevando o preço dos terrenos e, consequentemente, o preço dos imóveis. As pessoas que não possuem renda compatível com os elevados preços praticados acabam tendo de pagar um valor maior de aluguel ou se deslocar para lugares mais distantes, nas peri- ferias das cidades. Essa relação entre os fundiários e os proprietários industriais define um conflito que apresenta algumas características: a) A existência de um processo de segregação espacial controlado pela classe dominante de proprietários da estrutura fundiária, o que define um importante papel da política e do mercado habitacional na formação do espaço. b) A aquisição da terra como pré-requisito para expansão da ati- vidade da construção civil, absorvendo a mão de obra e incen- tivando o mercado de emprego e a economia local. c) A aquisição de terras como uma forma de acumulação de capi- tal por parte da classe dominante; Geografia Urbana – 112 – d) A busca pela aquisição da casa própria, minimizando as con- tradições entre capital e trabalho e fomentando tanto o mer- cado imobiliário quanto as políticas urbanas de habitação. A conexão entre as atividades produtivas e as áreas habitacionais é influenciada pelo preço da terra e pode ser percebida na distri- buição da atividade industrial. As indústrias geralmente ficam dis- tantes dos bairros pertencentes à elite e próximas aos bairros com terrenos mais baratos, desenhando o espaço urbano e interferindo na utilização e na localização da terra. 2 Proprietários de terras: Os rendimentos desses proprietários advêm da terra e, por isso mesmo, eles têm interesse na remune- ração das propriedades, destinando-as a atividades econômicas, habitações de alta classe ou a investimentos do setor público para o desenvolvimento da infraestrutura urbana. Para os proprietários, é interessante que a demanda por terra seja constante, bem como o desenvolvimento e a expansão das classes sociais que demandem novas habitações e tenham condições de pagar o preço determi- nado da terra. Nesse sentido, os proprietários dependem também das políticas públicas do Estado para organizar, construir ou demandar novas habitações para as classes demandantes. O processo de valorização da terra contribui para o processo de segregação espacial das cida- des com a diferenciação entre as habitações populares e aquelas que geram status, resultandonum conflito de interesses. As áreas localizadas nas melhores regiões demandam melhorias estruturais, áreas verdes e benfeitorias diversas que elevam o preço da terra, permitindo a construção de condomínios residenciais de alto padrão, em áreas consideradas de luxo. Devido à falta de espaço nas áreas centrais, muitos desses espaços estão localizados em áreas periféricas, embora apresentem o mesmo processo de formação social das áreas centrais. As áreas mal localizadas não exercem pres- são de melhorias como áreas verdes e infraestrutura amplamente disponível, sendo esses espaços destinados a habitações popula- res, não apresentando fatores e características de diferenciação e – 113 – A produçao do espação urbano e das redes urbanas valorização dos imóveis. Além disso, formam-se ocupações em áreas irregulares, como os morros ocupados na cidade do Rio de Janeiro pela população mais carente, por exemplo, na Favela da Rocinha (Figura 1). Figura 1 – Distribuição dos modelos de residências: Favela da Rocinha e vista do Rio de Janeiro (RJ). Fonte: dabldy/iStockphoto. 2 Promotores imobiliários: São agentes profissionais que realizam incorporação, financiamento, estudo técnico e construção de imó- veis. O objetivo dos promotores imobiliários é produzir habitações cujo valor se sobreponha às construções antigas, para a obtenção de lucro na negociação dos imóveis. O processo de valorização de imóveis antigos aumenta o preço dos imóveis e amplia a exclusão das camadas sociais mais populares. No entanto, a construção de habitações para a população de baixa renda também pode ser ren- tável em alguns momentos específicos, como: Geografia Urbana – 114 – a) quando a demanda por habitações é alta e crescente, elevando o preço das habitações populares; b) quando se reduzem os custos para construção, comprome- tendo a qualidade das edificações; c) quando o nível de ocupação das habitações é alto, reduzindo a demanda por terra e destinando o espaço para construções mais rentáveis. Os promotores imobiliários têm como foco primário a constru- ção de imóveis de luxo, direcionando os melhores espaços para os maiores investimentos, garantindo a lucratividade do setor. Num segundo patamar, há a destinação dos espaços para as habitações populares financiadas pelas políticas públicas do governo. Essa estratégia impacta a formação do espaço urbano, pois os imó- veis de alto padrão ocupam os melhores bairros, com melhor acesso à rede de transportes, segurança, benfeitorias naturais (parques, lagos etc.) e equipamentos como museus, shopping centers, hiper- mercados. Isso reduz a disponibilidade de imóveis nessas regiões e estabelece um alto padrão para as propriedades, elevando o preço da terra. Os promotores imobiliários e os proprietários de terras contribuem para a segregação espacial, devido à necessidade de geração de lucros para ambos os agentes formadores do espaço. 2 Estado: O Estado tem um papel relevante na formação do espaço urbano e a sua atuação reflete a dinâmica da sociedade. O Estatuto das Cidades dispõe de diversos instrumentos para o exercício da desapropriação de terras e precedência no processo de compras. O Estado tem o poder de regulamentar, controlar e limi- tar o uso da terra, organizar e planejar a distribuição e a dinâmica desse uso, além de determinar a cobrança de taxas e impostos. Esses instrumentos legais que ocorrem por meio de Lei de Zoneamento, Plano Diretor ou outros instrumentos buscam otimizar o uso da terra, contemplando o interesse de todos os agentes. Isso afeta o valor das propriedades e contribui para a formação do espaço – 115 – A produçao do espação urbano e das redes urbanas urbano, orientando investimentos públicos para o atendimento da demanda por serviços públicos e infraestrutura urbana. 2 Grupos sociais excluídos: Trata-se daqueles que, devido à renda baixa, moram em habitações precárias, em áreas de risco ou favelas ou em conjuntos habitacionais financiados pelo Estado. Esse pro- blema é consequência da grande concentração populacional nos centros urbanos, que gera desemprego e faz com que essas popula- ções, que não possuem renda para comprar ou alugar imóveis em melhores condições, instalem-se nas áreas periféricas mais distantes das cidades. Esses espaços necessitam de maior intervenção quanto mais distante forem as regiões ocupadas, pois, no caso das ocupa- ções irregulares e em situações precárias, é a própria população que organiza o espaço, muitas vezes sem intervenção ou interação com os demais agentes formadores do espaço. De forma geral, os habitantes dessas áreas enfrentam resistência na for- mação desses espaços, mas, uma vez estruturados, esses locais recebem a intervenção urbana do município como forma de política pública de urbanização. Busca-se, assim, melhorar a qualidade de vida nessas regiões, reduzir a segregação e integrar os espaços à cidade. 7.2 Rede urbana Uma rede urbana pode ser compreendida como um conjunto de cidades que são interligadas em diversas escalas e por meio de fluxos de mercado- rias, pessoas, capitais e informações, formando um modelo de hierarquia em que as cidades menores dependem economicamente das maiores. As cidades com economias e estruturas mais dinâmicas possuem melhor infraestrutura de transporte e de comunicações, estabelecendo uma maior integração entre os municípios e uma rede urbana mais estruturada (MONTE-MOR, 2006). A ideia de redes urbanas nasceu na Idade Média, com o estabelecimento de uma rede de cidades estrategicamente localizadas para facilitar as transa- ções e a logística comercial, formando as primeiras rotas comerciais. Com o advento da Revolução Industrial, esse processo se intensificou com a definição Geografia Urbana – 116 – dos papéis das cidades no contexto do sistema produtivo, estabelecendo as cidades industriais e as cidades fornecedoras de insumos. A hierarquia urbana é uma organização da cidade em termos de comple- xidade e dinâmica econômica, gerando um processo de influência em cidades menores, de modo a formar uma rede interligada entre todas elas. Nessa hie- rarquia, há as cidades globais, as metrópoles nacionais, as metrópoles regio- nais e as cidades de menor porte, assim definidas pelo IBGE (2007): 2 Cidades globais: são as megacidades, caracterizadas pela alta concentração populacional (população superior a 10 milhões de habitantes) e por uma grande diversificação econômica, devido ao fato de terem sido as primeiras cidades a passar pelo processo de industrialização. Exemplos: Nova Iorque, Tóquio, Paris, Londres, Buenos Aires, Berlim, São Paulo, Rio de Janeiro, entre outras. 2 Metrópoles nacionais: essas cidades também apresentam uma economia diversificada e organizada, atraindo investimentos. Ao contrário das cidades globais, a influência das metrópoles nacionais ocorre em nível regional ou, no máximo, em nível nacional, não se estendendo para fora do país. Exemplos: Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, entre outras. 2 Metrópoles regionais: são cidades cujo alcance de influência alcança, no máximo, o nível regional, subordinando-se às metró- poles nacionais e às cidades globais, fazendo a ligação entre estas e as cidades menores. 7.2.1 A região de influência das cidades O IBGE estuda a hierarquia urbana e a região de influência das cidades com base no fluxo de informações, bens e serviços (IBGE, 2007). A rede urbana brasileira está dividida em quatro tipos de centros, conforme demons- trado no quadro a seguir: – 117 – A produçao do espação urbano e das redes urbanas Quadro 1 – Tipos de centros urbanos no Brasil. Metrópoles Grande metró- pole nacional São Paulo. Metrópole nacional São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Metrópole Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador,Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia e Porto Alegre. Capitais regionais Capital regional A 11 cidades com população média de 955 mil habitantes. Capital regional B 20 cidades com população média de 435 mil habitantes. Capital regional C 39 cidades com população média de 250 mil habitantes. Centros sub-regionais Centro sub-regional A 85 cidades com população média de 95 mil habitantes. Centro sub-regional B 79 cidades com população média de 71 mil habitantes. Centros de zona Centro de zona A 192 cidades com população média de 45 mil habitantes. Centro de zona B 364 cidades com população média de 23 mil habitantes. Fonte: IBGE, 2007. Além desses, existem ainda os centros locais, que se caracterizam por exercer influência somente em seu município e concentram uma média populacional inferior a 10 mil habitantes. Geografia Urbana – 118 – 7.3 Urbanização e classes sociais A cidade pode ser entendida como a concretização do processo urbano, no momento em que o campo passa a produzir o excedente para atender a demanda dos centros urbanos, que, por sua vez, são dependentes do campo para o abastecimento de alimentos. As cidades também apresentam concen- tração de poder político e econômico e segmentam de forma bastante clara (social e espacialmente) as classes sociais. O campo, por ser produtor de alimentos, pode existir de forma indepen- dente da cidade, mas torna-se dependente desta devido aos serviços especiali- zados nela encontrados. Devido à alta concentração populacional nas cidades e à demanda por serviços, produtos e terra, o preço dos imóveis se eleva, defi- nindo uma clara segmentação espacial e gerando desigualdade na distribuição do acesso à terra. Outro ponto importante é a construção das relações econômicas. O processo produtivo, principalmente ligado à indústria de transformação, tem seu início no campo e sua materialização nas cidades, notabilizando assim a produção e o consumo do produto urbano, concretizando a relação entre campo e cidade. A cidade é, assim, o centro dessas relações econômicas e amplia sua importância concentradora com a expansão da industrialização, atraindo a população e alavancando movimentos migratórios. A capacidade produtiva da cidade não é suficiente para absorver a demanda de mão de obra, o que acaba por gerar desemprego. Com os preços de terra elevados e o desemprego no espaço urbano, os indivíduos menos favorecidos buscam habitação por meio de programas estatais ou em ocupações irregulares, como as favelas. Como um grande sistema, a cidade apresenta interação entre as diversas classes sociais dentro do mesmo espaço, dividido pelos interesses das diversas clas- ses. Pode-se compreender, dessa forma, que a cidade é a sede do poder e da classe dominante, que tem acesso às melhores áreas e aos melhores serviços. Note-se que a participação da sociedade na formação do espaço e nas relações produtivas é diferenciada, segmentando as classes sociais dentro da cidade e possibilitando à classe dominante a ampliação do capital territorial por meio da aquisição de terra para novos investimentos. – 119 – A produçao do espação urbano e das redes urbanas O processo de construção da cidade torna-a um centro dinâmico, mul- tiplicando suas atividades pela incorporação de funções anteriormente exerci- das pelo campo e por meio do processo de inovação tecnológica concentrado nos centros urbanos. A urbanização, que tem seu desenvolvimento acelerado pela industriali- zação, atinge seu ápice com a sociedade pós-industrial, indo, portanto, além do processo industrial, de modo que estabelece uma cultura e um modo de vida tipicamente urbanos. Ana Clara Torres Ribeiro, citando Milton Santos, destaca a importância do estudo das relações sociais como construção do urbano e como meio de apropriação das técnicas de configuração da cidade: diferentemente dos que apostam no presente amplificado, ansiosos pela eternização da forma dominante de produzir, Milton Santos, ao valorizar o sentido do devir, convida à reflexão da passagem do pre- sente ao futuro. Uma reflexão que implica no estudo das forças e inte- resses sociais que criam e se apropriam da técnica, detendo o poder de comandar a atualização do urbano. (RIBEIRO, 2013, p. 214) Compreende-se, dessa forma, que a configuração da cidade é uma cons- trução das relações sociais estabelecidas, que se sobrepõem às técnicas do urbanismo e orientam a definição do urbano. Por sua vez, as relações estabele- cidas entre o Estado e os setores econômicos dinâmicos dão uma nova veloci- dade ao processo de urbanismo das cidades capitalistas, que se destacam pela função de concentração e reprodução do capital, com base em uma infraes- trutura física, de comunicação e de transportes, bem como em instrumentos urbanos de planejamento e distribuição financeira e de valorização da terra. Ampliando seus conhecimentos São Paulo, cidade-global: o fato mediático (FERREIRA, 2004, p. 27-28) “São Paulo será, talvez, no Brasil, a principal candidata a cidade mundial”. Com essas palavras, durante um encontro Geografia Urbana – 120 – internacional sobre cidades, em 1995 (ALMEIDA, 2001), o então presidente Fernando Henrique Cardoso consolidava uma interpretação sobre as cidades contemporâneas que iria rapidamente tornar-se unanimidade nos meios empresarias, acadêmicos e governamentais. Tal interpretação tornou-se especialmente festejada nos meios acadêmicos do urbanismo desde que, em 1991, a pesquisa- dora Saskia Sassen publicou nos EUA seu trabalho intitulado “A Cidade-Global” (SASSEN, 1996). A ideia central é a de que no atual mundo globalizado, cujo paradigma é o da competitividade econômica, as cidades que se mantêm na liderança do cenário econômico são aquelas que conse- guem apresentar vantagens comparativas para atrair empresas transnacionais e os fluxos internacionais de capital financeiro, mantendo-se assim em evidência na economia globalizada. Partindo do exemplo de Nova York, Londres e Tóquio, e ampliando em seguida sua análise para uma rede hierarquizada de cidades, as teorias sobre a “cidade-global” argumentam por- tanto que as novas dinâmicas de flexibilização e desregulação da economia, de aumento dos fluxos internacionais de capital, e de fortalecimento da economia de serviços em detrimento da atividade industrial fordista-taylorista, estariam obrigando as cidades a se adaptar à uma nova demanda por edifícios, servi- ços e equipamentos capazes de atender às exigências de um novo e moderno setor econômico, que Sassen chamou de “terciário avançado”. Quase todos os autores, e Sassen em especial, incluem a cidade de São Paulo na lista das possíveis cidades-globais, embora em posições hierárquicas inferiores. Essa suposta “vocação” da cidade de São Paulo para ser “cidade-global” passou então a ser discutida na academia, propagandeada pela mídia, festejada pelo capital imobiliário e incentivada pelo poder público, usando-se como prova o fato de que vêm surgindo na cidade, desde meados da década de 80, novos bairros “de negócios”, concentrações de edifícios – 121 – A produçao do espação urbano e das redes urbanas que a nomenclatura “globalizada” convencionou chamar de “inteligentes”, justamente pela sua tecnologia de conexão com as mais avançadas técnicas da comunicação global. Assim como as cidades norte-americanas têm seus business districts, em São Paulo também temos um World Trade Center e outros tantos centros empresariais sofisticados, concentrados na região do Rio Pinheiros e da Avenida Luiz Carlos Berrini, uma área que alguns especialistas gostam de chamar de “nova centralidade globalizada” da cidade. Como de fato houve ali um acréscimo de cerca de 2 milhões de metros quadrados construídos entre 1991 e 2000, com um número razoável de megaempreendimentosimobiliá- rios terciários, isso parece ser prova suficiente de que afinal podemos sim ser uma cidade-global, sem que haja qualquer preocupação em verificar se as dinâmicas e as disputas de poder que regem essa produção têm de fato algo a ver com a chamada “globalização”. Em outras palavras, o que parece legitimar a condição de “cidade-global” é tão somente a exis- tência de um mercado imobiliário terciário que abriga empre- sas “transnacionais”. As motivações que levaram cada um dos setores citados a patrocinar a nova classificação “global” da maior metrópole brasileira são aparentemente variadas. A academia parece ter seguido a velha tradição, em especial nos meios urbanísticos, de reproduzir quase que automaticamente por aqui teorias e interpretações em voga nos grandes centros universitários do exterior – e portanto capazes de dar destaque fácil e rápido à obras acadêmicas que os reproduzam – e que até hoje nunca se mostraram capazes de sustentar uma interpretação eficaz da nossa realidade urbana desigual, em um processo de impor- tação intelectual que reitera o descompasso já apontado por Schwarz quando propôs a matriz das “ideias fora de lugar”. Na realidade, esse procedimento parece destinar-se a reproduzir e difundir por aqui teorias que sustentem academicamente os Geografia Urbana – 122 – interesses de hegemonia das classes dominantes nacionais. No caso da teoria da “cidade-global” desdobraram-se teorias mais instrumentais, também discutidas pela academia, verdadeiras “receitas” para alavancar a competitividade urbana global, ins- piradas na reengenharia empresarial e nas modernas técnicas de propaganda, e que ficaram conhecidas como “Planejamento Estratégico” e “Marketing de cidades” (Vainer, 2000). Para o mercado imobiliário, que se insere no grupo social das “classes dominantes”, a participação nesse esforço de constru- ção da imagem de uma “cidade-global” parece natural, pela mobilização que ele representa em torno de possibilidades de investimentos e rentabilidade em um cenário recessivo. Se o modelo da “cidade-global” favorece as classes dominantes, é porque favorece essencialmente, como veremos, oligarquias arcaicas que atuam no mercado imobiliário. É sem dúvida o mercado quem tem mais a ganhar, e vem ganhando, com esse processo. A mídia, quanto a ela, sempre serviu no Brasil à reprodução dos mesmos interesses dominantes. Reforçando o coro da “cidade-global” paulistana, são inúmeros os artigos na grande imprensa, especializada ou não, festejando a “voca- ção global” da cidade e suas “inquestionáveis” comprova- ções, como os cerca de 4 milhões de “turistas de negócios”, a modernidade dos nossos Business Districts, a “substituição” da indústria pelos serviços, a moderna e “internacionalizada” rede hoteleira, a proliferação dos edifícios “inteligentes”, e assim por diante. [...] Atividades 1. O Brasil está passando por um processo de desconcentração indus- trial, no qual as indústrias se deslocam das áreas das grandes cidades e capitais para as demais cidades da região metropolitana. Como a – 123 – A produçao do espação urbano e das redes urbanas formação do espaço urbano e a valorização do preço da terra contri- buem para esse processo? 2. As metrópoles nacionais exercem uma influência econômica que vai além da sua região e atinge outras regiões do país. Explique os moti- vos que fazem essas cidades atraírem mais investimentos. 3. As favelas são um exemplo da segmentação espacial nas cidades e do conflito existente nos espaços urbanos. Aponte as consequências re- sultantes desse conflito na cidade. Urbanização e sustentabilidade Introdução A promoção do desenvolvimento econômico municipal é uma das funções reservadas para os gestores públicos, implantando políticas públicas que incentivem a distribuição das atividades eco- nômicas no espaço. As cidades mais desenvolvidas e com economias mais diversificadas apresentam um fator de atração de mão de obra e uma concentração populacional que, por consequência, demandam maior grau de urbanização. Por outro lado, a expansão urbana impacta o meio ambiente natural, devido a vários fatores, por exemplo, a ocupação irregular do espaço e a ausência de infraestrutura e de serviços básicos, como tratamento de esgoto, coleta de lixo e drenagem urbana. 8 Geografia Urbana – 126 – 8.1 Determinação econômica do urbano A formação do espaço urbano contempla as relações sociais existentes no ambiente das cidades e a distribuição do uso do solo no planejamento e orde- namento territorial. Nesse contexto, pode-se destacar as relações econômicas estabelecidas pelas características da dinâmica produtiva das atividades distri- buídas no espaço urbano. Para compreensão dessas relações, faz-se necessário o estudo da economia urbana, da localização industrial e de seus papéis na formação do espaço urbano. 8.1.1 Economia urbana O desenvolvimento econômico não é realizado de forma homogênea no espaço. Assim, a Geografia Urbana tem estudado, ao lado de outras ciências, como a economia urbana e a geografia econômica, a distribuição espacial das atividades econômicas nas cidades. Uma característica fundamental para a compreensão da economia urbana é a de que a relação entre as cidades não apresenta barreiras no que diz respeito à migração e circulação de bens, serviços, capital e pessoas. Essa característica contribui para a concentração populacional e financeira, gerando áreas de influência econômica de uma cidade sobre outras, além de contribuir para a capacidade de atração de investimentos destas por meio de fatores como dotações de recursos econômicos, tamanho dos mercados e qualificação de mão de obra. Este cenário leva a um processo de pressão política sobre os gestores públicos, buscando-se investimentos para desenvolver as regiões menos favo- recidas. O desenvolvimento desigual na distribuição das atividades econômi- cas leva a uma relação política antagônica entre as classes sociais nas cidades. No caso brasileiro, o sistema político permite que o Estado intervenha por meio de políticas públicas, como forma de eliminar ou minimizar as diferenças econômicas regionais. Essas políticas têm seu advento na década de 1970, com o processo de desconcentração econômica e as primeiras ações para os desenvolvimentos regionais, como a implantação das primeiras regiões metropolitanas e a distribuição da atividade industrial nos centros industriais no entorno da cidade de São Paulo. – 127 – Urbanização e sustentabilidade Naquela época, a economia brasileira apresentava uma forte concen- tração econômica no Estado de São Paulo, cujo esteio de crescimento era a atividade industrial, contribuindo para a centralização da produção e da riqueza nessa região. O Governo Federal buscou então, por meio do II Plano Nacional de Desenvolvimento, descentralizar a economia, criando polos regionais de desenvolvimento baseados na atividade industrial, desfragmen- tando a distribuição do setor produtivo no país (BAER, 1996). A descentralização econômica levou à formação dos centros industriais nas principais regiões do Brasil, atraindo investimentos nacionais e estrangei- ros para o desenvolvimento econômico dessas localidades. Esse processo de descentralização contribuiu para a expansão urbana das áreas limítrofes das grandes cidades e a configuração dos fatores atrati- vos ligados ao mercado de trabalho industrial, culminando num movimento migratório do campo em direção aos centros urbanos impactados pela indus- trialização. Essa conjuntura levou a uma expansão da urbanização e dos pro- blemas urbanos, fazendo com que as cidades buscassem soluções conjuntas para questões comuns advindas desse novo modelo. Foi nesse contexto que se formaram as regiões metropolitanas nos anos de 1970 e as regiõesintegradas de desenvolvimento nos anos 2000. As regiões metropolitanas podem ser defini- das por um conjunto de cidades localizadas proximamente e integradas social e economi- camente a um município de grande porte (a metrópole), que apresenta, de forma desta- cada, boa infraestrutura urbana, oferta variada de serviços públicos, forte concentração populacional e amplo mercado de trabalho. A partir dos anos de 1990, inicia-se no Brasil a discussão sobre o processo de desregulamentação e a redução do papel do Estado na economia, levando a uma reconcentração de novas atividades econômicas ligadas ao comércio, lazer e tecnologia. Inicia-se o desenvolvimento das atividades ligadas à tecno- logia, que são novamente concentradas nos grandes centros urbanos devido à existência de infraestrutura de comunicação e de transmissão de dados e Geografia Urbana – 128 – a disponibilidade de faculdades e centros de pesquisas nessas regiões. Esse modelo econômico permite um novo direcionamento para o planejamento urbano, apresentando uma redução do impacto no uso do solo e contem- plando uma nova relação com a cidade e com a formação do espaço urbano. As Regiões Integradas de Desenvolvimento (RIDEs), hoje localizadas em várias regiões do país, conforme demonstra a imagem a seguir (Figura 1), têm como objetivo instituir políticas públicas harmonizadas entre a União, os estados e os municípios, as quais incentivem a dinamização econômica das regiões de baixo desenvolvimento. Busca-se, assim, promover o direciona- mento dos recursos públicos, fazendo com que esses investimentos reduzam as desigualdades sociais. Figura 1 – Estados e localização das capitais e cidades-sedes das dez maiores Regiões Metropolitanas e Regiões Integradas de Desenvolvimento – 2010. PR RS SC RJ AC AM RO RR AP MA CE RN PB PE AL SETOMT GO MS SP MG 1 17 15 23 24 25 21 13 19 12 26 27 4 22 18 6 20 11 8 2 10 9 3 14 7 16 5 28 ES BA PI PA 1. Belo Horizonte 2. Brasília 3. Curitiba 4. Fortaleza 5. Porto Alegre 6. Recife 7. Rio de Janeiro 8. Salvador 9. São Paulo 10. Campinas 11. Aracaju 12. Belém 13. Boa Vista 14. Campo Grande 15. Cuiabá 16. Florianópolis 17. Goiânia 18. João Pessoa 19. Macapá 20. Maceió 21. Manaus 22. Natal 23. Palmas 24. Porto Velho 25. Rio Branco 26. São Luiz 27. Teresina 28. Vitória Fonte: SILVA; SILVA; SILVA, 2014. Adaptado. – 129 – Urbanização e sustentabilidade Para melhor compreensão do desenvolvimento econômico das regiões, é preciso entender o conceito de espaço econômico como o conjunto de rela- ções abstratas não relacionadas diretamente à localização geográfica, podendo apresentar três conceitos distintos, conforme descreve Perroux (1969): Quadro 1 – Conceitos de espaço econômico. Espaço de planejamento Limitação geográfica do espaço de atuação e dos impactos das atividades de uma empresa ou das instituições públicas. Espaço polarizado Espaço hierarquizado que apresenta concentração populacional e de atividades econômicas, gerando efei- tos de atração e repulsão sobre as demais regiões. Espaço homogêneo Espaço que apresenta características uniformes, coope- rando, dessa forma, para a integração do território. Fonte: PERROUX, 1969. Adaptado. Dessa forma, compreende-se que a economia tem um papel relevante na formação do espaço urbano, pois define uma área limitada para a prática das atividades econômicas e as concentra, gerando um processo de atração devido à ampliação do mercado de trabalho e estabelecendo uma integração desses locais com a cidade. 8.1.2 Localização industrial A atividade industrial é a atividade econômica mais dinâmica dos espa- ços urbanos, apresentando um forte aspecto de atração demográfica, urbana e econômica no território. No entanto, a decisão sobre a localização desse tipo de atividade é determinada por diversos fatores regionais, destacados no qua- dro a seguir, os quais determinam a implantação das indústrias, contribuindo para o início ou a expansão das atividades econômicas dentro das cidades: Quadro 2 – Fatores locacionais para decisão de investimentos. Transporte e infraestrutura logística Envolve questões de infraestrutura relacionadas às necessidades de mobilidade e deslocamento de pessoas e mercadorias, além de uma estrutura de escoamento de produção e o desenvolvi- mento de novas tecnologias de trânsito, transporte e tráfego. Geografia Urbana – 130 – Energia e infraestrutura de dados Refere-se ao desenvolvimento, geração e distribuição de energia, bem como tecnologias de informação e comunica- ção que permitem o tráfego e o armazenamento de dados. Acesso a mercados consumidores Envolve o tamanho e a diversidade do mercado consumidor, as características socioeconômicas e culturais da população. Matérias-primas Diz respeito à existência, disponibilidade e qualidade dos insumos produtivos, bem como a disponibilidade de água e a proximidade com os mercados fornecedores. Mão de obra e força de trabalho Refere-se à disponibilidade, produtividade, qualificação e nível salarial dos trabalhadores, bem como o ordenamento jurídico que protege as relações trabalhistas. Envolve, ainda, a existência de universidades e centros de formação e pes- quisa que capacitam e tornam mais produtiva a mão de obra. Incentivos fiscais e benefícios Trata-se dos benefícios ofertados para atração de novos investimentos ao território, envolvendo isen- ções fiscais, concessão de terrenos, entre outros. Disponibilidade de capital Envolve a existência de uma estrutura de instituições financeiras que fomentem a possibilidade de financia- mento dos investimentos nos processos produtivos. Fonte: BNB-ETENE, 1968. Pode-se compreender, desse modo, que a distribuição das atividades econômicas contribui para a formação do espaço urbano. As indústrias, em particular, causam forte impacto na composição do espaço, pois, além da demanda pelo uso do solo, necessitam de infraestrutura urbana para escoa- mento da produção. O investimento na atividade industrial requer, portanto, fatores de atratividade que diferenciam a capacidade dos municípios e da consequente formação do espaço urbano. 8.2 A urbanização e a questão ambiental As cidades se caracterizam pela grande concentração populacional, pola- rizando as questões culturais, políticas e econômicas e ampliando a área de influência para outros municípios menores e dependentes. Para atender as – 131 – Urbanização e sustentabilidade demandas advindas dessa concentração, o homem transforma o ambiente natural, de modo a viabilizar a vida na cidade. Os impactos da urbanização sobre o meio ambiente são mais perceptí- veis nos grandes centros urbanos do que nas pequenas cidades ou em áreas rurais. Nas grandes cidades, entre as diversas consequências desse processo no meio natural (como na fauna, na flora, no relevo, no clima e nos rios), estão os diferentes tipos de poluição, conforme descritos no quadro a seguir: Quadro 3 – Tipos de poluição nas cidades. Poluição sonora Trata-se do excesso de ruídos causado pelas intera- ções urbanas, como o trânsito de automóveis, a ativi- dade industrial, as sirenes e os alarmes, entre outros. Poluição visual É a poluição que esconde ou limita a visão do ambiente natural, devido à comunicação visual por meio de cartazes, placas, outdoors etc. Poluição hídrica Trata-se da contaminação dos lençóis freáticos, dos mananciais e reservatórios hídricos. Envolve, ainda, a poluição de rios, lagos e nascentes, comprometendo o abastecimento de água nas cidades. Poluição atmosférica É a emissão de gases nocivos na atmosfera, compro- metendo a qualidade do ar e a visibilidade,produ- zindo odores e danificando o meio ambiente. Fonte: DERISIO, 2012. Adaptado. O processo de urbanização leva aos problemas urbanos que impactam diretamente o meio ambiente e que são sentidos em toda a cidade. Esse cená- rio causa uma demanda por políticas públicas de conservação do ambiente natural, as quais auxiliam na construção do planejamento urbano. Outro problema comum nas grandes cidades é decorrente da ausência de saneamento básico, compreendendo a coleta de lixo, a drenagem da água e o tratamento do esgoto, sobretudo nas cidades dos países em desenvolvi- mento, que não dispõem de uma infraestrutura que satisfaça essas necessida- des. Uma das consequências da falta de políticas públicas de tratamento de esgoto é a poluição de rios, lagos e córregos, comprometendo a capacidade Geografia Urbana – 132 – de abastecimento de água potável, que também é impactada pelos efluentes industriais, além do lançamento irregular de resíduos sólidos. O Brasil busca, desde 2007, com que a Lei do Saneamento, universali- zar o acesso ao saneamento básico, que compreende coleta e tratamento de esgoto, abastecimento de água, serviços de drenagem urbana, bem como a coleta e destinação do lixo urbano, principalmente nas áreas mais carentes e menos desenvolvidas. No entanto, como mostram os dados pesquisados pelo Instituto Trata Brasil (Quadro 4), o Brasil precisa articular as políticas públi- cas para atendimento da lei, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Quadro 4 – As dez melhores e as dez piores: avaliação dos serviços de saneamento básico nas 100 maiores cidades brasileiras. 10 melhores 10 piores Município UF População com coleta de esgotos (%) Município UF População com coleta de esgotos (%) Curitiba PR 100 Rio Branco AC 22,55 Diadema SP 100 Juazeiro do Norte CE 21,99 Londrina PR 100 Teresina PI 19,96 Maringá PR 100 Belém PA 12,8 Ponta Grossa PR 100 Manaus AM 10,4 Franca SP 99,96 Jaboatão dos Guararapês PE 6,66 Piracicaba SP 99,95 Macapá AP 5,44 Santos SP 99,88 Porto Velho RO 3,71 Volta Redonda RJ 98,96 Ananindeua PA 2,09 Santo André SP 98,56 Santarém PA 0 Fonte: INSTITUTO TRATA BRASIL, 2015. Os países em desenvolvimento também apresentam carência de um sis- tema de transporte público eficiente, fazendo com que o uso do automóvel seja privilegiado para o deslocamento dentro da cidade. Ao mesmo tempo, a expansão urbana leva à formação de subúrbios localizados cada vez mais – 133 – Urbanização e sustentabilidade distantes das áreas centrais, aumentando a necessidade de deslocamentos e de automóveis. Isso eleva o congestionamento nas ruas das cidades, ampliando a possibilidade de poluição atmosférica e sonora e os acidentes de tráfego, bem como a infraestrutura viária (pistas expressas, vias elevadas, viadutos, anéis periféricos), que demanda grandes espaços para sua construção, descaracteri- zando a paisagem urbana. Outro impacto da urbanização é a carência de arborização, comprome- tendo o clima das cidades, a retenção de umidade do solo e do ar e a área de sombra para os pedestres. A ausência de árvores e áreas verdes também causa a redução da capacidade de infiltração da água no solo, pois a água das chuvas é direcionada aos rios mais rapidamente, os quais se tornam incapazes de dar vazão a todo esse volume hídrico, contribuindo para inundações e enchentes. Além disso, as habitações nas periferias surgem como resultado da expan- são urbana alavancada pelas necessidades da migração populacional. A dinâ- mica do mercado imobiliário, por um lado, incentiva a ocupação das áreas mais próximas das regiões centrais, aproveitando características próprias des- ses locais, como a infraestrutura e a acessibilidade existente. Por outro lado, as políticas públicas de habitação permitem a ocupação das áreas mais periféricas e com uma infraestrutura mais deficiente de serviços públicos. As áreas com declividade, mesmo tendo um valor ambiental ao dar suporte às áreas planas e contribuir para a infiltração de água no solo, são ocupadas pelo mercado imo- biliário, muitas vezes com ausência de estrutura adequada, o que favorece os deslizamentos de terra nesses locais (SOUZA; MONTERO; LIESENBERG, 2007). As áreas com declividade, mesmo tendo uma função importante de dar suporte às áreas planas e contribuir para a infiltração de água no solo, também são destinadas à habitação. No entanto, essa ocupação, que muitas vezes é feita de forma irregular e sem a estrutura adequada, contribui para o fenômeno dos deslizamentos de terra nessas áreas com declividade (SOUZA; MONTEIRO; LIDESENBERG, 2007). A ocupação dessas áreas também se dá de forma irre- gular, nesse caso com impactos diretos sobre o meio ambiente, como nas áreas de mananciais, bacias hidrográficas e fundos de vale, contribuindo para desas- tres ambientais diversos. Geografia Urbana – 134 – 8.3 A urbanização e a sustentabilidade 8.3.1 Desenvolvimento sustentável Embora possa ter diversos conceitos, a definição mais comum de desen- volvimento sustentável é “o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro” (CMMAD, 1991). Seu objetivo é uma harmonia entre o desenvolvi- mento econômico e a conservação ambiental. Nos anos de 1970, o aumento da exploração dos recursos naturais incitou um debate mundial sobre os rumos do desenvolvimento. Em 1972, ocorre a Conferência de Meio Ambiente de Estocolmo, na Suécia. No mesmo ano, é publicado o relatório Limites do Crescimento, pelo Clube de Roma (MEADOWS et al., 1973), cuja conclusão demonstrou que o planeta não poderia suportar o crescimento baseado na utilização de recursos naturais, necessitando de políti- cas de proteção ao meio ambiente. Isso acabou gerando uma nova abordagem para o desenvolvimento global: a do desenvolvimento sustentável. A partir da Constituição Federal de 1988, iniciou-se uma correlação entre as questões urbanas e ambientais, contemplando os aspectos sociais des- ses temas, inclusive com a participação direta do cidadão na formulação dos planos e projetos de desenvolvimento. Nessa visão, o desenvolvimento de uma cidade deve privilegiar o atendimento das necessidades básicas da popu- lação e oferecer oportunidades de melhoria da qualidade de vida. Para uma devida compreensão do desenvolvimento sustentável, ou ecode- senvolvimento, é preciso primeiro reconhecer a limitação dos recursos disponí- veis, que precisam ser alocados da melhor maneira possível. Em outras palavras, esse é um modelo de desenvolvimento econômico que leva em consideração o meio ambiente e seus aspectos de conservação. O desenvolvimento sustentável prioriza, de fato, qualidade em vez de quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem. Ignacy Sachs (2002) destaca a interação entre os aspectos sociais, ambien- tais e econômicos. O objetivo é um desenvolvimento que permita dinamizar modelos econômicos que interajam com o meio social, preservando o meio – 135 – Urbanização e sustentabilidade ambiente e seus recursos produtivos. Esse novo desenvolvimento estaria ali- cerçado em um modo de gestão que leve em consideração o meio natural como um valor a ser assegurado para as futuras gerações. Além disso, o caminho para o desenvolvimento sustentável nas cidades passa pelos instrumentos de política urbana, com destaque para o Plano Diretor de cada município, o qual contempla os objetivos e planos de desenvolvimento eco- nômico e sua interação com os aspectos sociais e ambientais no espaço urbano. 8.3.2 Sustentabilidade urbana A sustentabilidade urbana representa um grande desafio para as cidades, tendo em vista a necessidade imperiosa de modernizara economia e dina- mizar as atividades produtivas, além de desenvolver fatores de atratividade que incentivem os investimentos nos territórios. Mais investimentos geram mais ofertas de empregos, que, por sua vez, servem como incentivo para a migração de trabalhadores, suscitando impactos sobre o meio urbano e uma maior pressão social para atendimento das demandas por serviços públicos e infraestrutura. As limitações e dificuldades do Estado em atender tais deman- das fazem surgir os problemas ambientais urbanos, as ocupações irregulares (Figura 2) e os impactos sobre o meio ambiente natural. Figura 2 – Ocupação irregular em áreas ambientais. Fonte: teguhjatipras/iStockphoto. Geografia Urbana – 136 – Também contribui para a insustentabilidade urbana a individualização das demandas, como a preferência por automóveis em detrimento dos trans- portes públicos, residências unifamiliares ao invés de apartamentos e residên- cias coletivas e o aumento do consumo, que eleva a produção de resíduos. O desafio para os gestores municipais, desse modo, é a procura por soluções de transporte, habitação e serviços urbanos que permitam a interação das demandas coletivas e individuais no equilíbrio do meio urbano. Os países subdesenvolvidos apresentam um cenário mais complexo, pois sua urbanização desordenada é fruto da concentração de renda e da desigual- dade social, gerando impactos ambientais, prevalência de soluções urbanas individualistas e dificuldades de atendimento das demandas da população. Nesses países, as cidades precisam buscar um equilíbrio entre o atendimento das demandas, o desenvolvimento econômico e a preservação do meio ambiente. No caso brasileiro, as migrações populacionais contribuíram para o aumento das ocupações irregulares, ampliando as áreas que não contam com uma regulação do Estado. Por outro lado, a indústria da construção civil tem recebido investimentos para atender a necessidade de moradia dos grandes centros urbanos, deslocando a população que ocupa as áreas de pre- servação para áreas urbanizadas, de modo a minimizar o impacto sobre o meio ambiente natural. A fim de auxiliar as cidades no combate às desigualdades sociais e na organização do território, o governo brasileiro estabeleceu instituições e ins- trumentos para ordenar o crescimento e o desenvolvimento urbano. Em 2001, foi concebido o Estatuto das Cidades, definindo-se instrumentos para a gestão territorial e organizando a política urbana. Em 2003, o Ministério das Cidades foi criado, com o objetivo de auxiliar os municípios na ampliação do acesso à moradia, saneamento e transporte. Mesmo com o aparato institu- cional, esse desafio passa por questões de articulação entre as esferas federal, – 137 – Urbanização e sustentabilidade estadual e municipal para a efetivação plena das políticas públicas, muitas vezes desenhando políticas que não contemplam a preservação ambiental. A cultura urbana no Brasil também é outro desafio a ser enfrentado, pois a visão de progresso é percebida com a verticalização dos espaços e a expan- são do sistema viário, construindo um cenário de modernidade que não tem relação com um ambiente sustentável. 8.3.3 Cidades sustentáveis Cidades sustentáveis são aquelas que adotam políticas públicas que equi- libram o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental, visando desenvolver processos e modelos de gestão mais eficientes. Por caracterís- tica, essas cidades tendem a ser planejadas e organizadas, com uma gestão que privilegia práticas sustentáveis, como as ações para reduzir a poluição ambiental e os efeitos do aquecimento global, transporte público de quali- dade e novas fontes de energia limpa. Além disso, busca-se, nesses espaços urbanos: o desenvolvimento de modelos mais eficientes de transporte, com incentivo ao uso de bicicletas, maiores espaços para os pedestres e redução do tráfego de veículos; a reciclagem e destinação correta do lixo coletado; o desenvolvimento de modelos econômicos harmonizados com a justiça social e o meio ambiente; as práticas para uso racional da água; a arborização das ruas e ampliação de parques e áreas verdes (LEITE; AWAD, 2012). Entre as cidades brasileiras consideradas sustentáveis, podemos citar as que se destacam por seu planejamento urbano, como Curitiba (PR) e Brasília (DF); pelas políticas ambientais, como João Pessoa (PB) e Paragominas (PA); ou pela política de coleta de lixo, Londrina (PR); entre outras. No âmbito mundial, temos outros exemplos, como Barcelona (Espanha), reco- nhecida pelas políticas de mobilidade urbana e pelo uso de energia solar, ou Copenhague (Dinamarca), que se destaca pelo incentivo ao uso de bicicletas como solução para a melhoria do trânsito e do tráfego na cidade. Geografia Urbana – 138 – Figura 3 – Parque Tanguá, na cidade de Curitiba (PR): exemplo de utilização de planejamento urbano com preservação do meio ambiente. Fonte: Detanan/iStockphoto. Exemplos de cidades com práticas sustentáveis no Brasil: 2 Palhoça (SC) – destaque para o planejamento imobi- liário sustentável. 2 Campinas (SP) – referência na produção e utilização de tecnologias verdes. 2 Curitiba (PR) – planejamento urbano voltado para a sustentabilidade. 2 Afuá (PA) – desenvolvimento de sistema de mobili- dade cicloviário. 2 Santana do Paranaíba (SP) – cooperativa de catadores. 2 Londrina (PR) – eficiente programa de coleta seletiva do lixo. Exemplos de cidades com práticas sustentáveis no mundo: 2 Barcelona (Espanha) – mobilidade urbana e grande uso de energia solar. 2 Copenhague (Dinamarca) – excelente na infraestru- tura para o uso de bicicletas. 2 Freiburg (Alemanha) – programas eficientes voltados para o uso racional de veículos automotores. – 139 – Urbanização e sustentabilidade 2 Amsterdã (Holanda) – mobilidade urbana. 2 Viena (Áustria) – prioridade para a compra de produ- tos ecológicos por parte da prefeitura. 2 Zaragoza (Espanha) – sistema eficiente voltado para a economia de água. 2 Thisted (Dinamarca) – 100% de uso de energia sustentável. Fonte: BRASIL, 2016; LEITE, 2017. Ampliando seus conhecimentos Insustentabilidade urbana (JORDÃO FILHO; OLIVEIRA, 2013, p. 60-63) O processo de urbanização experimentada pela maioria das grandes cidades veio acompanhado do fenômeno da “fave- lização”. Devido ao grande contingente populacional que migrou do campo ou de outras cidades em direção aos gran- des centros, as cidades não conseguiram absorver tal popula- ção com infraestrutura adequada, levando parte desse grupo a ocupar áreas de riscos como pontes, túneis, viadutos, encos- tas, terrenos de terceiros e propriedades ilegais. De acordo com Leite & França (2007, p. 140), “estes fatores têm resul- tado em cidades precárias e caóticas, apontando para uma problemática econômica, ambiental e social”. [...] Tendo surgido como uma resposta aos problemas enfrentados pelas cidades, o planejamento urbano marca uma mudança na forma de encarar a cidade e seus problemas. O surgimento de cidades sem um adequado planejamento de infraestrutura reflete negativamente na qualidade de vida dos moradores. Geografia Urbana – 140 – A busca da sustentabilidade urbana tem se constituído num dos maiores desafios da atualidade e está associada ao desen- volvimento e às políticas urbanas. [...] Sustentabilidade urbana: novas represen- tações sobre as cidades Em um planeta com população cada vez mais urbana e com cidades cada vez maiores, é necessário desenvolver mode- los de sustentabilidade urbana capazes de alinhar o desen- volvimento desses espaços com o respeito aos princípios da sustentabilidade, pois as cidades são elementos-chave para o desenvolvimento sustentável global. Sem um adequado planejamento de infraestrutura, o apa- recimento de cidades pode refletirnegativamente tanto na qualidade ambiental, quanto na qualidade de vida dos mora- dores. Os fatores anteriormente destacados, quando aliados à concentração e à desigualdade de renda, entre outras con- sequências podem provocar distúrbios e inseguranças sociais, insuficiência na oferta de infraestrutura e serviços urbanos ade- quados, como também a degradação ambiental. (MOURA et al., 2005). A sustentabilidade urbana é um tema que tem sido bastante discutido em diversos meios, entre eles o científico. Assumiu dimensões econômicas, sociais e ambientais, buscando emba- sar uma nova forma de desenvolvimento, que possa atender as necessidades da geração atual, mas sem comprometer as necessidades das gerações futuras. Em virtude dos diversos problemas ambientais, a sustentabilidade urbana tem se consti- tuído num dos maiores desafios da atualidade e está associada ao desenvolvimento das políticas urbanas. De acordo com Sachs (1993 apud Jesus & Sousa, 2007, p. 3), “no planejamento do desenvolvimento sustentável é – 141 – Urbanização e sustentabilidade necessário considerar, simultaneamente, as seguintes dimen- sões da sustentabilidade”, conforme mostra o Quadro 02. O desenvolvimento econômico sustentável demanda uma gestão ambiental planejada que possa orientar, de forma ade- quada, a ocupação territorial por parte das atividades produti- vas, bem como a utilização dos recursos naturais de forma res- ponsável. A conscientização uma ferramenta indispensável, capaz de transformar o indivíduo em relação à importância da sustentabilidade, pois um indivíduo consciente surge de um processo gradual e contínuo de educação em todos os cam- pos em que atua. O alcance da sustentabilidade é um pro- cesso que depende da consciência ecológica da sociedade, bem como dos governos nas suas representações municipal, estadual e federal. Quadro – dimensões da sustentabilidade Sustentabilidade social Tem como finalidade a melhoria das condições de vida da população. Busca a equidade dos direitos e a redu- ção das diferenças entre os padrões de vida dos ricos e dos pobres. Sustentabilidade econômica Por meio da alocação e gerencia- mento eficiente dos recursos, deve ser mais avaliada sob critérios macros- sociais, ao invés do microempresa- rial, além dos fluxos contínuos de investimentos públicos e privados. Sustentabilidade ecológica Pode ser melhorada por meio de medidas de intensificação de pesqui- sas com vistas à adoção de tecno- logias limpas, de modo a otimizar a utilização dos recursos em favor do desenvolvimento urbano, rural e industrial, como também por meio de medidas que estabeleçam regras para uma adequada proteção ambiental. Geografia Urbana – 142 – Sustentabilidade espacial Tem por finalidade o equilíbrio da configuração rural-urbana, como também uma melhor distribuição do território, no tocante à economia e aos assentamentos humanos. Sustentabilidade cultural Tem por objetivo a busca de con- cepções endógenas de desenvolvi- mento, entendendo ecodesenvolvi- mento como conjunto de soluções que considera as peculiaridades locais, culturais e ecossistêmicas Fonte: SACHS (1993 apud JESUS & SOUSA 2007, p. 03) [...] Atividades 1. Aplicando os conhecimentos da teoria da localização industrial, faça uma pesquisa e explique os motivos que levaram à concentração eco- nômica no eixo Sul e Sudeste do Brasil. 2. As características da economia urbana definem fatores de atração e repulsão que contribuem para o processo de urbanização. Com base nesse contexto, pesquise sobre a construção da cidade de Brasília, DF, e, depois, descreva sua importância para a urbanização brasileira. 3. O Brasil apresenta uma concentração populacional na zona costeira do país, faixa de localização de grandes centros urbanos. Destaque os impactos da ocupação dessas regiões para o meio ambiente local. – 143 – Gabarito Gabarito Geografia Urbana – 144 – 1. Conceitos iniciais de Geografia Urbana 1. Nessa questão, você pode apresentar uma sequência ou um fluxo vi- sualmente mais explicativo, contendo: 2 mecanização da atividade agrícola; 2 desemprego e migração para as cidades (em busca de emprego); 2 falta de emprego ou empregos com baixos salários nas cidades; 2 aumento da demanda por serviços públicos de habitação, sanea- mento, transporte, saúde e educação; 2 oferta insuficiente de serviços públicos para atendimento da nova demanda; 2 impactos na urbanização: ocupações irregulares e crescimento urbano desordenado. 2. Você pode apresentar diversos territórios existentes, como: 2 território do narcotráfico; 2 território do hip-hop; 2 território dos estudantes; 2 território dos comerciantes; 2 território da alta classe; 2 entre outros. 3. O desenvolvimento econômico das grandes cidades faz com que elas criem mais riquezas e atraiam mais empresas e investimentos. Dessa for- ma, trabalhadores de outras regiões migram para esses centros, os quais vão demandar mais alimentos, insumos e matérias-primas do campo. Com menos pessoas e menos recursos, as cidades rurais vão ampliar a produção para atender a demanda da cidade e, com isso, continuar na zona de periferia, como fornecedora de insumos para o centro. – 145 – Gabarito 2. Desenvolvimento da Geografia Urbana 1. A utilização das tecnologias digitais para as relações sociais e econô- micas diminui a interação do indivíduo com o espaço urbano cons- truído, reduzindo também sua identidade com o bairro e com a cida- de, ampliando os não lugares. 2. Poluição dos rios, contaminação dos lençóis freáticos, desmatamen- to de áreas de proteção ambiental, acúmulo de lixo e sujeira, além do perigo causado pela precariedade das moradias. Ademais, há a ausência de equipamentos urbanos e serviços públicos, gerando problemas sociais. 3. Conforme ocorre a evolução da função das cidades (política, comer- cial e indústria), aumenta a necessidade de organização do espaço urbano. Assim, uma cidade industrial tem mais necessidade de or- ganização de seu espaço urbano do que uma cidade política, pois apresenta uma maior concentração populacional e maior demanda por serviços públicos e equipamentos urbanos. 3. Estudo do crescimento das cidades 1. As cidades brasileiras encontram-se, no século XXI, no terceiro está- gio de crescimento, apresentando uma redução da taxa de natalidade, com uma estabilidade no crescimento populacional. 2. Os investimentos em saúde levam à conscientização e adoção de métodos contraceptivos, bem como à redução das taxas de mortalidade. Os investi- mentos em educação levam à uma conscientização sobre questões relacio- nadas a métodos contraceptivos e melhores cuidados na relação sexual. A educação leva também a uma maior inserção da mulher no mercado de trabalho, reduzindo a taxa de natalidade no país. Geografia Urbana – 146 – 3. As primeiras cidades se localizam próximas aos grandes centros urba- nos, devido aos fatores de atração destes, como o acesso a mercados consumidores e a proximidade às vias de escoamento, como rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. A existência de instituições de ensi- no e pesquisa também fortalece esse poder de atração, assim como a concentração de indústrias na região. Como essas cidades estão loca- lizadas extremamente próximas a esses centros, os investimentos se direcionam para esses municípios. 4. As relações econômicas no processo urbano 1. Conforme vai se expandindo o processo de urbanização, com inves- timentos de capital público e privado na melhoria do espaço, o valor da terra se eleva, ficando inviável sua aquisição pelos grupos mais carentes. Nesse caso, para atenderem sua necessidade de moradia, eles procuram os pontos mais distantes, onde o preço da terraé menor. 2. Quanto mais urbanizado é o local, maior é o impacto ao meio am- biente, devido à concentração de veículos, à poluição difusa, à polui- ção do ar e dos lençóis freáticos etc., fazendo com que seja necessária uma atuação mais dinâmica dos gestores da cidade. 3. O Estado, por meio de instrumentos legais, pode organizar o uso do solo definindo áreas para ocupação de atividades econômicas, sociais e de lazer. Por meio de políticas públicas de habitação, pode também fomentar a ocupação do solo urbano pelos grupos mais carentes. Nos espaços onde o preço da terra é mais alto, o Estado pode intervir, criando áreas de lazer e convivência, para que todos os habitantes possam ocupar a cidade. – 147 – Gabarito 5. Processo de formação e urbanização das cidades 1. Os fatores que impulsionam a urbanização mundial são a industria- lização, a busca por melhor qualidade de vida nas cidades e o êxodo rural, provocado, entre outros fatores, pela mecanização do campo. 2. Como problemas relacionados à dinâmica do espaço urbano das me- gacidades, há a favelização, o aumento da criminalidade e a precá- ria infraestrutura de moradia, educação, saúde, transporte coletivo e saneamento básico, além de problemas de ordem ambiental, como poluição do ar e da água, lixo urbano e enchentes. 3. Com o êxodo rural, o contingente populacional aumentou conside- ravelmente, favorecendo o processo de favelização e de carência de saneamento e infraestrutura urbana. 6. Planejamento e políticas urbanas 1. O planejamento urbano é uma forma de atuação da gestão municipal para resolver os problemas urbanos causados pela formação e expan- são das cidades. A política urbana, por sua vez, trata do arcabouço legal necessário para o ordenamento e a organização do território. 2. As cidades apresentam um cotidiano de pressa, urgência e velocidade nos deslocamentos, formando uma cultura urbana. O migrante que chega às cidades precisa se adaptar a essa cultura para poder entender o modo de vida da sociedade urbana. 3. Com a formação de novos núcleos advindos do processo de descen- tralização, há uma redução das distâncias, diminuindo o tráfego nes- sas regiões devido à melhor utilização do transporte público. Por sua Geografia Urbana – 148 – vez, a redução do tráfego leva à diminuição dos congestionamentos nos espaços entre a área central e os novos núcleos. 7. A produçao do espação urbano e das redes urbanas 1. Como as grandes cidades e as capitais industrializadas se desenvolve- ram e urbanizaram mais rapidamente, aumentou-se a concentração populacional e a demanda pela terra, elevando o preço dos imóveis. E como a atividade industrial precisa de terrenos amplos e baratos (características não encontradas nas cidades urbanizadas), a atividade industrial desloca-se para as demais cidades, onde há a disponibilida- de de terra e preços mais baratos. 2. As metrópoles nacionais são cidades que apresentam redes urbanas desenvolvidas, com disponibilidade de infraestrutura de comunica- ção e transportes. Devido a isso, apresentam vantagens locacionais, como a existência de boa infraestrutura e localização privilegiada, que não são encontradas nas metrópoles regionais. 3. As favelas geralmente se localizam em áreas periféricas de baixo valor, sem melhorias urbanas, como parques e áreas verdes, e estabelecidas de forma desordenada e sem planejamento. Essas áreas também se notabilizam pela baixa oferta de equipamentos públicos e a reduzida disponibilidade de infraestrutura. Diante disso, alguns problemas se apresentam: ausência de saneamento básico, esgoto tratado e coleta de lixo; reduzido acesso à água tratada e energia elétrica; habitações precárias e em áreas de risco, comprometendo a qualidade de vida e contribuindo para o aumento das enfermidades entre a população dessas áreas. Além disso, há problemas de mobilidade urbana, com reduzida oferta de transporte público e acesso à cidade. – 149 – Gabarito 8. Urbanização e sustentabilidade 1. O Sul e o Sudeste são as regiões tradicionalmente mais urbanizadas do país, em decorrência da maior industrialização e do desenvolvi- mento do setor terciário, bem como a modernização agropecuária. Nessas regiões estão concentrados os grandes mercados consumidores e os grandes centros produtores e, devido a isso, concentram-se tam- bém as universidades e os centros de pesquisa, qualificando a mão de obra. Por consequência, atraem-se novos investimentos e se fortalece o processo de concentração econômica no Sul e Sudeste. 2. Dentre as razões do desenvolvimento de Brasília, podemos destacar: estimular a ocupação e a integração econômica e humana do interior do país; diminuir a vulnerabilidade a agressões externas da capital, deslocando-a do litoral para o interior; colaborar para uma maior in- tegração do território nacional, localizando o centro político do país numa área mais central; e afastar o centro de decisão política da pres- são dos grandes aglomerados populacionais, incentivando a interiori- zação do processo de urbanização. 3. Entre os impactos que a ocupação das áreas contíguas à linha de cos- ta provoca no ambiente costeiro, estão a alteração ou destruição da forma do ambiente natural, das paisagens e dos ecossistemas costeiros (mangues, recifes, restingas, dunas), além da poluição das águas e da erosão das praias. Há, ainda, os impactos das ocupações irregulares decorrentes da falta de infraestrutura e serviços básicos, como cole- ta de lixo e esgoto, e os problemas da vulnerabilidade desses locais, como a possibilidade de enchentes e deslizamentos. – 151 – Referências Referências Geografia Urbana – 152 – ACSELRAD, H. (Org.). A duração das cidades: sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009. ALBERTIN, A. L.; ALBERTIN R. M. M. Dimensões do uso de tecnolo- gia da informação: um instrumento de diagnóstico e análise. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 46, n. 1, p. 125-51, jan./fev. 2012. AUGÉ, M. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermoderni- dade. Campinas: Papirus, 1994. BACHELARD, G. A poética do espaço. São Paulo: M. Fontes, 2000. BAENINGER, R. Crescimento das cidades: metrópole e interior do Brasil. In: ______. (Org.). População e cidades: subsídios para o planejamento e para as políticas sociais. 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Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6305-5 9 788538 763055 CAPA_Geografia Urbana.indd 1 26/05/2017 11:03:11 Página em branco Página em branco