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Metodologia da Pesquisa

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METODOLOGIA DA 
PESQUISA 1
A CIÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS 
E A IMPORTÂNCIA DA 
PESQUISA CIENTÍFICA
A construção do pensamento científico remonta há pelo menos 40.000 
anos com o surgimento do Homo sapiens, espécie que dá origem ao homem 
moderno, capaz de se comunicar com língua falada e também usufruir 
os recursos naturais, através de adaptações ao meio e também através da 
construção de utensílios primitivos que permitiam a sua sobrevivência. Talvez 
há quem discorde dessa afirmação, mas é preciso deixar clara esta conexão 
entre a evolução da consciência do homem e o pensamento científico. E é 
desta forma que se percebe a evolução da humanidade, principalmente em 
relação à utilização do meio ambiente no qual está inserida. Obviamente 
que isso envolve a adoção e o domínio de práticas e métodos, visando à 
sobrevivência, exploração e perpetuação da espécie, cuja experiência foi 
amadurecendo com o passar dos séculos.
O psiquiatra Carl Gustav Jung (2008, p. 23) apresenta o processo de 
dissociação da consciência humana através da perda da “alma do mato”, 
fenômeno este que seria o responsável pela consciência do homem moderno 
e, consequentemente, do pensamento científico.
A seguir serão abordados assuntos relativos ao surgimento da ciência, 
construção do pensamento científico, a revolução científica e de que forma 
esses acontecimentos moldaram e contribuíram de forma significativa para 
o desenvolvimento da sociedade.
APRESENTAÇÃO
Organização
Elisabeth Penzlien 
Tafner
Reitor da 
UNIASSELVI
Prof. Hermínio Kloch
Pró-Reitora do EAD
Prof.ª Francieli Stano 
Torres
Edição Gráfica 
e Revisão
UNIASSELVI
Autor
Luis Augusto 
Ebert
 CURSO LIVRE - A CIÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS E A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
A CIÊNCIA E SUAS 
CARACTERÍSTICAS E A 
IMPORTÂNCIA DA PESQUISA 
CIENTÍFICA
.01
INTRODUÇÃO
A construção do pensamento científico remonta há pelo menos 40.000 
anos com o surgimento do Homo sapiens, espécie que dá origem ao homem 
moderno, capaz de se comunicar com língua falada e também usufruir 
os recursos naturais, através de adaptações ao meio e também através da 
construção de utensílios primitivos que permitiam a sua sobrevivência. Talvez 
há quem discorde dessa afirmação, mas é preciso deixar clara esta conexão 
entre a evolução da consciência do homem e o pensamento científico. E é 
desta forma que se percebe a evolução da humanidade, principalmente em 
relação à utilização do meio ambiente no qual está inserida. Obviamente 
que isso envolve a adoção e o domínio de práticas e métodos, visando à 
sobrevivência, exploração e perpetuação da espécie, cuja experiência foi 
amadurecendo com o passar dos séculos.
O psiquiatra Carl Gustav Jung (2008, p. 23) apresenta o processo de 
dissociação da consciência humana através da perda da “alma do mato”, 
fenômeno este que seria o responsável pela consciência do homem moderno 
e, consequentemente, do pensamento científico.
A seguir serão abordados assuntos relativos ao surgimento da ciência, 
construção do pensamento científico, a revolução científica e de que forma 
esses acontecimentos moldaram e contribuíram de forma significativa para 
o desenvolvimento da sociedade.
 CURSO LIVRE - A CIÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS E A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
1 O SURGIMENTO DA CIÊNCIA
Posterior ao desenvolvimento do homem moderno e seu processo de 
adaptação e sobrevivência na natureza, uma das primeiras pessoas a estruturar 
suas ações em decorrência de métodos foi o francês René Descartes, nascido 
em 31 de março de 1596. Assim, o surgimento da ciência e/ou pensamento 
científico pode ser relacionado à vida e à obra do primeiro filósofo moderno 
da história, que, pela primeira vez, sentiu a necessidade de verificar, analisar, 
sintetizar e enumerar todas as coisas a que se dispunha entender. E, desta 
forma, contribui de maneira significativa para as ciências naturais, a física e 
a matemática.
O francês também é conhecido como pai da fi losofia moderna e 
considerado um dos pensadores mais importantes da história. Muitos 
pesquisadores afirmam que a partir de René Descartes inaugura-se o 
racionalismo, oposto ao empirismo, ou seja, a ausência de métodos para se 
alcançar resultados.
E, de certa forma, toda a sociedade moderna pôde, através da matemática, 
da física e da observação de fenômenos naturais, entender o seu papel no 
universo e como contribuiu para a perpetuação da espécie humana. Desde a 
utilização de tecnologias sofisticadas para a cura de doenças degenerativas e 
letais, até viagens espaciais, visando à descoberta de novas galáxias e planetas. 
Dessa forma, fica evidente que sem a sistematização das observações, assim 
como a coleta de informações e observação dos diversos fenômenos, nada 
disso seria possível.
FIGURA 1 - RENÉ DESCARTES, O CIENTISTA PIONEIRO DO MOVIMENTO 
CIENTÍFICO
FONTE: Disponível em: <https://seuhistory.com/etiquetas/rene-descartes>. 
Acesso em: 12 mar. 2017.
 CURSO LIVRE - A CIÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS E A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
É a inda at ravés da cor rente do pensamento rac iona l i s ta e do 
desenvolvimento do método matemático que muitos dos principais pensadores 
dos séculos XVI e XVII afirmam a capacidade do intelecto humano para a 
descoberta das verdades, fundada na convicção de que a razão constitui o 
instrumento fundamental para a compreensão do mundo.
1.1 O PENSAR CIÊNCIA
De acordo com Pinker (1989), a evolução do homem teria produzido um 
cérebro capaz de realizar atividades especializadas, como já havia suposto 
Jung (2008), através da aquisição da consciência. Dessa forma, atividades 
complexas, como a matemática, a ciência e a arte, poderiam ser executadas 
e também aprimoradas. Pinker (1989) ainda se pergunta se tais habilidades 
poderiam conferir ao ser humano algum tipo de vantagem seletiva diante das 
outras espécies. Acredita-se que sim, pois dadas as condições morfológicas 
do próprio homem, ele não estaria no topo da cadeia alimentar caso não 
possuísse as habilidades acima mencionadas. Mas, como surgiu a ciência?
Para Mithen (2002), a capacidade de pensar cientificamente se origina 
na mente humana a partir do momento em que três propriedades críticas 
aparecem e interagem, a seguir apresentadas:
• Habilidade de gerar e testar hipóteses (uma propriedade presente não apenas 
em humanos, mas em outras espécies animais também);
• Capacidade para desenvolver e utilizar ferramentas para resolver problemas 
(para os humanos primitivos essa capacidade torna-se ainda mais relevante 
com o uso de sistemas externos de memória, por exemplo, pinturas rupestres 
e entalhes em madeira, que serviam para preservar as informações);
• Uso de metáforas e analogias comparativas. De acordo com Dennett (1991), 
esses atributos podem se restringir a um domínio apenas, mas se tornam 
muito mais poderosos quando ultrapassam os limites entre os domínios, 
como na associação de uma entidade viva com algo que é inerte, ou na 
geração de uma ideia sobre algo que é tangível.
Ainda segundo Mithen (2002), a capacidade de interligar essas três 
propriedades e, em particular, de explorar o uso de metáforas e analogias 
envolvendo elementos de diferentes domínios, se tornou possível entre 100 
e 30 mil anos atrás, quando a mente humana adquiriu o que ele chamou 
de “fluidez cognitiva” e consciência, como também observado e relatado 
anteriormente por Jung (2008).
Vale destacar que a ciência não surgiu de repente ou foi inventada num 
dado momento da história. Como condição permanente da raça humana, a 
ciência evoluiu ao longo do tempo. Conforme as pessoas descobriam novas 
 CURSO LIVRE - A CIÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS E A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
formas de viver, se relacionar, de utilizar o meio ambiente à sua volta, assim 
como usufruir os recursos naturais através de novas ferramentas e técnicas, 
também desenvolviam novas maneiras de pensar e explicar os fenômenos 
no seu entorno, fato este que continua evoluindo até os diasde hoje.
No entanto, existem alguns autores que reforçam a ideia de que 
o pensamento científico estivesse dissociado da condição de evolução 
humana, e sim, atrelado a uma entidade mística ou espiritual. Assim, a 
origem do pensamento científico poderia ter sido causada por um processo 
de gênese divina. Esse fato poderia ser evidenciado através de exemplos 
históricos e mesmo arqueológicos, que poderiam indicar esse fenômeno. 
Mas, ainda assim, coloca-se em xeque esse tipo da condição humana, visto 
que essa necessariamente precisa estar separada da condição do pensar 
cientificamente, e que até hoje sustenta religiões e credos. Ou seja, o pensar 
científico e o pensar amparado por crenças místicas e religiosas são duas 
correntes filosóficas que não podem ser misturadas, e que continuam a existir.
De acordo com o cientista e sociólogo Émile Durkheim (2003), o papel 
da religião é o de estruturar a sociedade, e para este mesmo autor, os rituais 
e práticas religiosas seriam mecanismos de manifestação da solidariedade e 
do espírito colaborativo. Já o pesquisador Rappaport (1999) vai mais além, 
e identifica o rito como responsável pelo surgimento da própria linguagem, 
característica essencial para a evolução humana.
Ainda dentro desse mesmo contexto, alguns pensadores julgam ser 
necessário que a construção do conhecimento possa evoluir através da 
conectividade entre as duas correntes, ou seja, a religiosa e a científica. Em 
uma visão mais sistêmica e holística, ambos os pensamentos poderiam se 
conectar a ponto de favorecerem um ao outro. No entanto, esse curso quer 
apresentar a origem do conhecimento científico, e é isso que vamos detalhar 
em seguida.
1.2 A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA
O período compreendido entre os séculos XVI e XVIII denomina-se de 
Revolução Científica, e a Ciência, que até então estava atrelada à Filosofia, 
separa-se desta e passa a ser um conhecimento mais estruturado e prático, 
principalmente atrelado a metodologias e técnicas que permitiam a um 
pesquisador alcançar determinado objetivo. Os principais movimentos estão 
atrelados ao renascimento cultural, à imprensa, à Reforma Protestante e 
ao hermetismo.
De acordo com Tosi (1998), a partir do século XVII, quando a tradição 
mágica ainda fazia um impacto substancial nas camadas populares, o prestígio 
desta linha de pensamento, do místico, tinha declinado fortemente na classe 
 CURSO LIVRE - A CIÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS E A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
erudita. A razão dessa mudança fundamental provocada nas mentalidades 
é atribuída à Revolução Científica, decorrente da obra de Copérnico, das 
descobertas de Galileu e Kepler e do triunfo da filosofia mecanicista.
Ainda segundo a mesma autora, esse triunfo foi duplo, pois envolvia a 
rejeição e o descrédito das duas filosofias aceitas até então: a escolástica e 
a magia natural. A convicção de que o universo estava sujeito a leis naturais 
acabou com a crença na eficácia de fórmulas de inspiração divina. O impacto 
mais decisivo foi dado pela filosofia cartesiana, ao estabelecer que não existem 
forças ocultas, nem simpatias ou antipatias; que os fenômenos naturais podem 
ser explicados em termos de tamanhos, formas e velocidades de partículas. Os 
fenômenos ocultos ou não são reais ou têm explicação mecânica. A matéria é 
inerte e desprovida de sensação e consciência. A mente humana e seu poder 
de raciocínio não são propriedades materiais. A mente humana, considerada 
um presente de Deus, é imaterial e imortal. A separação do mundo do espírito 
do mundo da matéria foi um passo fundamental para o desenvolvimento da 
ciência, pois deixava intacto o poder e a autoridade da religião no primeiro, 
e permitia utilizar a experimentação para investigar o segundo.
A “filosofia cartesiana” ou “racionalismo cartesiano”  é um pensamento 
estabelecido pelo filósofo René Descartes em suas obras o “Discurso do 
Método” (1637) e “Meditações Metafísicas” (1641), em que expressa sua 
preocupação com o problema do conhecimento. O ponto de partida é a 
busca de uma verdade primeira que não possa ser posta em dúvida, e por 
isso busca, através de um método, a verdade.
O pensamento cartesiano pregava a utilização de um senso crítico 
mais elevado e uma maior atenção às necessidades humanas, ao contrário 
do teocentrismo da Idade Média, que pregava a atenção total aos assuntos 
divinos e, portanto, um senso crítico menos elevado. Este maior senso crítico 
exigido pelo humanismo permitiu ao homem observar mais atentamente os 
fenômenos naturais em vez de renegá-los à interpretação da Igreja Católica.
Houve antes muitas teorias revolucionárias que diferem na intensidade 
com que influenciaram o pensamento humano. Algumas representaram 
profundas modificações na forma do homem examinar a natureza, por exemplo, 
a introdução de um tratamento matemático na descrição dos movimentos 
dos planetas, pelos babilônios e depois aperfeiçoada pelos gregos. Outras 
representaram microrrevoluções, como o sistema de classificação de seres 
vivos, introduzido por Aristóteles.
 CURSO LIVRE - A CIÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS E A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
Com esta revolução, a ciência mudou sua forma e sua função, passando 
a ser repensada nos moldes da nova sociedade que estava emergindo nesta 
época. Os objetivos do homem da ciência e da própria ciência acabaram sendo 
redirecionados para uma era livre das influências místicas da Idade Média.
Lenzi e Brambila (2006) destacam o fato de ainda sermos influenciados 
por conceitos, métodos e pensamentos que hoje não são mais apropriados 
e adequados à complexidade do mundo atual. Dessa forma, ocorre uma 
quebra de paradigmas, necessitando-se de novas teorias e novos instrumentos 
que nos auxiliam na interpretação e na conceituação da vida pós-moderna. 
Na figura a seguir podem-se observar os principais eventos relacionados à 
revolução científica.
FIGURA 2 - ALGUNS DOS PRINCIPAIS EVENTOS QUE DERAM ORIGEM À REVOLUÇÃO 
CIENTÍFICA
FONTE: Disponível em: <https://pt.slideshare.net/HCA_10I/lumininsmo-a-revoluo-
cientfica-e-o-iluminismo-na-europa>. Acesso em: 20 mar. 2017.
O fato é que hoje não mais vivemos sem ciência. Muitas descobertas 
derivaram e ainda estão sujeitas às leis pensadas na época. Ou seja, foi a 
forma como concebemos estar aqui hoje e perpetuando a espécie humana. 
E a curiosidade através de métodos científicos nos fez pensar através de 
caminhos que permitissem isso. Basta olharmos para a Teoria da Evolução de 
Darwin, que explica a sucessão das espécies de plantas e animais na Terra, 
baseada na seleção natural.
De acordo com Gleiser (2007), essas teorias poderiam ser suposições de 
ideias propostas com a intenção de explicar algo, com base em princípios ou 
leis que são independentes daquilo que está sendo explicado. E também, vale 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_M%C3%A9dia
 CURSO LIVRE - A CIÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS E A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
muito a intenção do cientista. Não importa se o mesmo está fazendo ciência 
teórica ou experimental, o que vale é o fato do seu comprometimento de 
explicar da melhor forma possível determinado fenômeno natural. E dessa 
mesma forma que nos seres humanos, caminhamos até os dias atuais.
2 O CONCEITO DA CIÊNCIA
Definido o período de revolução científica e suas principais contribuições 
para a humanidade, vamos entrar agora no que vem a ser ciência. Por conceito 
e epistemologia da palavra, ciência deriva do latim “scientia”, que significa 
“saber” ou, ainda, “conhecimento”. Assim, podemos entender que é um 
conceito que abarca diversos tipos de saberes, e que todo o conhecimento 
gerado deriva de práticas e métodos de estudo, baseados em princípios certos. 
Muitas vezes está relacionada a teorias científicas, que são a comprovação de 
hipóteses, ou seja, ideias sobre o comportamento de “algo” em determinada 
área do conhecimento.
Mas ciência vai muito mais além. E, por isso, a ausência de preconceitos 
e juízos de valor é tão importante parase alcançar o resultado esperado. 
Normalmente a ciência falha, por tentativa e erro, e em muitos casos, aquilo 
que é considerado correto hoje, pode não ser amanhã. E justamente é esse 
o ponto que faz com que a ciência evolua. Pois se existem evidências que 
comprovam determinado fenômeno hoje, mas não mais amanhã, toda a 
teoria e resultados observados devem ser revistos e, se possível, deve-se 
propor novas ideias. Dessa forma, a ciência não é dogmática, ou seja, não 
tem “verdades absolutas”, como a maioria das religiões assim descreve.
2.1 CIÊNCIA E FÉ
Em aparente contradição, aos olhos de muitos cientistas, fé, religião 
e ciência se conectam de modo interdisciplinar e buscam a compreensão 
sistêmica e holística do universo. Porém, ainda existem muitas barreiras 
a serem ultrapassadas. Se, por um lado, a ciência explica boa parte dos 
fenômenos naturais, e através de leis universais da física se comprova parte 
da origem do universo, por outro lado, muitos aspectos relacionados à sua 
origem e expansão continuam sem explicação, e para isso, acreditar em um 
Deus parece ser a única explicação.
Durante muitos anos, as ciências e as religiões se confrontam em ideias 
numa disputa sem razão alguma. Se pensarmos nos campos em que cada 
uma atua, veremos que ambas podem coexistir e discursar a respeito de um 
mesmo assunto. A religião tem por finalidade "ligar" o ser humano a Deus, 
divulgando uma vontade divina. Em razão disto, a Igreja deve sempre interagir 
 CURSO LIVRE - A CIÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS E A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
sobre os mais diversos campos da sociedade para garantir que a vontade de 
Deus está sendo atendida pela humanidade. A religião vem também explicar 
o "porquê" das coisas, dos acontecimentos e de tudo o que nos cerca. Através 
dela sabemos que tudo que existe na natureza procedeu de Deus, foi uma 
vontade divina que deu origem ao nosso planeta, aos mares, às plantas, aos 
animais e aos seres humanos (LENZI; BRAMBILA, 2006).
De acordo com os mesmos autores, para se fazer ciência é necessário 
testar várias vezes a mesma hipótese até que se possa dizer se ela é verdadeira 
ou não. Dentro dessa perspectiva, existem muitos pesquisadores que são 
devotos de uma ou outra religião, porém o que ocorre com os cientistas é que 
em suas pesquisas eles simplesmente ignoram a existência de Deus, mas isso 
não significa que eles neguem a sua existência. Os cientistas que creem em 
Deus sabem que os fatos se deram pela vontade de Deus, mas eles querem 
saber explicar determinado fenômeno.
Existem ainda outras questões, quando aqueles devotos da corrente 
religiosa afirmam que Deus, como criador universal, poderia ser entendido 
como uma entidade que explicaria o porquê das coisas. Já cientistas estariam 
mais preocupados em saber como tudo no universo foi criado. Assim 
poderíamos ter a origem da Teoria do Big Bang, ou mesmo da evolução, de 
Charles Darwin. Dessa forma, o inconformismo entre religião e ciência deveria 
ter acabado há muito tempo, pois não há razões para esta disputa, sendo 
que ambas teriam processos de entendimento completamente distintos. Se 
ambos se respeitassem e ouvissem as ideias do outro, não teríamos tantas 
diferenças entre os próprios seres humanos.
3 CARACTERÍSTICAS DA CIÊNCIA E DO SEU PESQUISADOR
No dia a dia, a vida de cientista depende muito do tipo de ciência que 
se deseja fazer e que se pratica. Existem aqueles que trabalham na indústria e 
que, portanto, usam a sua pesquisa para aprimorar processos ou produtos para 
a empresa que os abrigam. Isso pode ocorrer, por exemplo, com a indústria 
farmacêutica, que emprega biólogos e químicos, ou ainda, na indústria 
aeroespacial, que emprega físicos e engenheiros (GLEISER, 2007).
Nesse tipo de trabalho existe muita prática experimental, e esse tipo de 
trabalho também é muito comum em universidades e centros de pesquisa. 
No entanto, nas instituições de ensino, normalmente busca-se aprofundar o 
conhecimento sobre determinada prática ou experimento, assim como nosso 
entendimento sobre o meio ambiente que nos cerca. E nas universidades 
vamos encontrar ainda os pesquisadores que, além de conduzirem seus 
experimentos práticos, dividem suas horas em sala de aula, dedicando-se 
ao ensino. Os mais teóricos tendem a trabalhar em suas salas, com ou sem 
 CURSO LIVRE - A CIÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS E A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
computadores, sozinhos, ou mais comumente, em grupos de pesquisa. 
Discutem-se ideias, equações e gráficos, e têm como objetivos principais a 
validação de hipóteses, antes mesmo de testá-las em um laboratório.
Os cientistas que trabalham nas universidades funcionam como um tipo 
de “controle de qualidade”. Isso para evitar que os cientistas experimentais 
percam o seu tempo com ideias que não têm a mínima chance de estarem 
corretas. E isso ocorre através da busca de erros matemáticos na formulação 
da teoria, ou ainda, por erros em programas de computadores e conceitos 
aplicados erroneamente.
3.1 A CIÊNCIA NO BRASIL
Diferentemente de países do primeiro mundo, no Brasil a pesquisa se faz 
essencialmente nas universidades. Como vimos anteriormente, os docentes 
pesquisadores normalmente validam e testam ideias ou hipóteses, mas não 
é comum o desenvolvimento de produtos ou serviços. E dentro dessa ótica, 
o cientista da universidade deveria se aproximar das empresas, ou ainda, 
a indústria deveria investir mais em inovação. Ou seja, o cientista deveria 
encontrar muito mais espaço de trabalho nas empresas, e não buscar somente 
nas escolas espaços para seguir uma carreira profissional.
 
Esse cenário é completamente diferente nos países desenvolvidos, onde 
as indústrias mais competitivas admitem pesquisadores para pensarem novos 
produtos, processos e serviços. E muitas dessas ideias poderiam ter origem 
na universidade, já testadas como protótipos e projetos, e se desenvolverem 
para a produção em escala nas empresas. O Brasil ainda adota uma postura 
passiva e prefere esperar a aquisição das tecnologias emergentes. Em suma, 
não desenvolve e paga por aquilo que outros países desenvolvem. Prova 
disso é que em muitos casos e áreas do conhecimento, sempre figura atrás 
em rankings de inovação e desenvolvimento. Outras áreas ainda podem ser 
consideradas inovadoras no Brasil, como é o caso da exploração de petróleo 
em águas profundas, mas são exceção à regra. Em nosso país, o “ouro negro” 
só existe em grandes profundidades, e para que esse recurso natural pudesse 
ser utilizado, se fez necessário o desenvolvimento de novas tecnologias que 
nem mesmo outros países dispunham.
 
Ao que parece, as autoridades brasileiras sabem qual é o caminho a seguir 
para tornar o país mais competitivo. Nossos cientistas estão entre os mais 
proeminentes, porém ainda sem o prestígio que lhes deveria ser dado. Outros 
seguem carreira no exterior, nas mais prestigiosas empresas e universidades. 
Enquanto isso, nadamos contra a maré, em total desvantagem na corrida do 
desenvolvimento.
 CURSO LIVRE - A CIÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS E A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
Universidade: doutores que não chegam às empresas e à pesquisa na 
indústria do Brasil
A maior parte dos pesquisadores brasileiros está nas instituições de Ensino 
Superior – 67,5% do total em 2010 –, enquanto nas empresas a proporção 
é de apenas 26,2%, bastante abaixo dos índices de Estados Unidos, Coreia, 
Japão, China, Alemanha, França e Rússia. Essa situação, reconhece o 
documento  Balanço das Atividades Estruturantes 2011, do MCTI, é uma 
das causas da dissociação entre o avanço científico e a incorporação da 
inovação tecnológica à base produtiva, especialmente na indústria do 
Brasil.
De acordo com o presidente do CNPq, Glaucius Oliva, uma pesquisa 
feita em 2008 com todos os doutores brasileiros formados entre 1996 e 
2006 revelou que quase 80 mil deles estavam no Brasil, 97% empregados. 
Desse total, 80% atuavam no setor educacional. Outros 11% estavam na 
administraçãopública e menos de 5% nas empresas. Nos Estados Unidos, 
a proporção de doutores na indústria chega a 40%, informou Oliva.
Segen Estefen, diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação 
e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de 
Janeiro (UFRJ), afirmou durante o seminário promovido pela CCT do 
Senado que, “no Brasil, os doutores não vão para as indústrias, com raras 
exceções, como as estatais, a Petrobras e algumas empresas do setor 
elétrico. As empresas privadas não criam núcleos para fazer interface com a 
universidade. Sem um grupo de doutores, não tem como fazer a interface”.
Não é possível esperar que os menos de 50 mil cientistas que trabalham 
em pesquisa na indústria brasileira possam competir com os 166 mil que 
trabalham em empresas na Coreia do Sul e mais de 1 milhão de cientistas 
em empresas nos EUA, de acordo com Carlos Cruz, professor da Fapesp. 
“Mesmo que o Brasil tenha demonstrado alguns sucessos nessa área — 
como a Embraer, a Petrobras ou o agronegócio movido pela Embrapa —, 
falta-nos a capacidade de realizar isso repetida e continuamente”, alerta.
Exigências para professores das universidades públicas do Brasil, como a 
dedicação exclusiva ou em tempo integral, foram consideradas por vários 
dos palestrantes como entraves à parceria com empresas e à participação 
desses pesquisadores em projetos inovadores fora do ambiente das 
universidades. A excessiva regulamentação, a falta de autonomia das 
universidades para firmar parcerias com a indústria e dispor do tempo dos 
professores e dos recursos completam o cenário inóspito para a pesquisa 
traçado pelos participantes do seminário.
 CURSO LIVRE - A CIÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS E A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
Glaucius Oliva cita o exemplo norte-americano: “O professor universitário 
nos Estados Unidos pode abrir uma empresa no seu departamento, sem 
que esteja violando a legislação do tempo integral e educação exclusiva. 
No Brasil não pode. Se abrir uma empresa, pode ser processado, porque 
está violando o tempo integral e você é um funcionário público”. 
“Nos Estados Unidos, um projeto entre uma empresa e uma universidade 
não passa pelo governo. Tem que ser feito dentro das linhas oficiais, mas 
não existe controle governamental sobre o que a indústria pode ou não 
fazer com a universidade. Se a Sloan Foundation, que dá muito dinheiro à 
pesquisa, resolve dar US$ 20 milhões para pesquisa em desenvolvimento 
de tecnologia de raios X espacial, por exemplo, várias universidades 
vão apresentar projetos para a fundação. É uma competição duríssima, 
completamente desligada do governo”, exemplifica o cientista Marcelo 
Gleiser. Eles têm carga horária de seis a 12 horas de aula por semana, 
devendo dedicar o restante do tempo à pesquisa.
Fonte: BRASIL, 2010. Universidade: doutores que não chegam às empresas 
e à pesquisa na indústria do Brasil. Disponível em: <http://www.senado.
gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/inovacao/universidade-doutores-
empresas-pesquisa-na-industria-do-brasil.aspx>. Acesso em: 3 abr. 2017.
3.2 FINANCIAMENTO DOS PROJETOS DE PESQUISA NO 
BRASIL
No Brasil, algumas agências de fomento à pesquisa atuam de forma 
expressiva. Normalmente, essas autarquias provêm recursos para que os 
pesquisadores, seja na indústria, ou ainda nas universidades, possam dar 
continuidade a suas pesquisas. Normalmente, a cada ano, os editais são 
lançados, e os cientistas precisam disputar parte dos recursos disponibilizados 
pelo governo federal. É o caso do Conselho Nacional de Desenvolvimento 
Científico e Tecnológico (CNPQ), que todos os anos disponibiliza recursos para 
diversas modalidades de pesquisa, seja para acadêmicos ou pesquisadores 
seniores.
 
O grande problema ainda é a dependência dos recursos públicos. Se 
houvesse maior integração entre os setores público e privado, as chances 
de caminharmos a passos mais largos seria maior. A dependência de 
aporte de recursos financeiros somente dos recursos públicos diminuiria e 
o desenvolvimento de produtos e processos pensados à necessidade das 
empresas alcançaria patamares expressivos.
 
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Fora o CNPQ, outras instituições financiam projetos. Não somente 
públicas, obviamente. Nos dias atuais é mais comum termos convênio entre 
empresas e universidades, para a prestação de serviços ou desenvolvimento 
de projetos com alguma necessidade específica, mas ainda longe do ideal. 
Fundações sem fins lucrativos e de diversas naturezas oportunizam a 
pesquisadores premiações distintas ou ainda valores significativos na busca 
de incentivar a pesquisa nos campos experimental e teórico. Outras autarquias 
públicas são as Fundações de Amparo à Pesquisa Estaduais (FAPESC, FAPESP 
etc.), ou ainda, a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Bolsas de 
pesquisa também são mais comuns entre professores-pesquisadores, e se 
comprovadas experiências na sua produtividade científica, recebem recursos 
para continuidade da pesquisa. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal 
de Nível Superior (CAPES) também auxilia professores do Ensino Superior 
a realizarem seus trabalhos, seja com aporte de insumos financeiros e/ou 
bolsas para mestrado e doutorado. Em alguns casos essas bolsas levam o 
cientista para outros países, a fim de compartilhar experiências e fomentar o 
intercâmbio e desenvolvimento de uma área específica desses países.
Em resumo, o Brasil, ainda que tenha proporcionado oportunidades aos 
seus pesquisadores, precisa perceber a necessidade de investir cada vez mais 
em pesquisa e desenvolvimento. Isso não implica necessariamente inventar a 
roda, mas de não depender única e exclusivamente de tecnologias importadas 
a um custo bem alto. Crescemos muito em nossa produção científica, ou 
seja, publicação de artigos em revistas científicas, mas ainda não somos 
referenciados por outros pesquisadores, justamente por não termos tradição 
nessa área.
Como brasileiros, precisamos aprender a dar valor às ideias originadas 
em nosso país. Nas escolas e universidades precisamos entender que a pura 
repetição de conhecimento não leva a caminhos profundos de aprendizado. 
E assim, entender de uma vez por todas que nosso modelo de educação 
também está atrasado. Os acadêmicos e professores precisam ensinar através 
de projetos e em um ambiente em que o aluno seja o protagonista. Em uma era 
cada vez mais dependente de tecnologia, ainda caminhamos a passos muito 
lentos dentro de uma proposta robusta para o desenvolvimento científico e 
tecnológico, e muito há de ser feito. Precisamos acordar!
3.3 INÍCIO DA CARREIRA CIENTÍFICA
Certamente, todo início da carreira de um cientista, não só no Brasil, 
começa com o seu envolvimento em projetos de pesquisa de caráter básico 
e experimental. E nessa frente o professor que orienta o acadêmico tem papel 
decisivo em estimular ou anular o futuro pesquisador. Digo isso, pois, muitas 
vezes, por pura vaidade, o professor-orientador apenas utiliza a “mão de obra 
aprendiz” para executar tarefas que ao cientista sênior já não interessam mais.
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E nessa etapa da educação universitária, os professores deveriam 
estimular todo e qualquer candidato que se proponha a desenvolver alguma 
ideia, por mais absurda que pareça. Obviamente que muitos dos acadêmicos 
surgem com projetos que precisam ser lapidados, e torná-los exequíveis é 
parte do processo de entendimento de que ciência se constrói de forma 
contínua. É preciso entender que às vezes nossas ideias são uma pequena 
porção de um todo.
Todo o processo de construção de um projeto de pesquisa, assim como 
as possibilidades de financiamento, iremos ver mais adiante. Para agora, é 
preciso entender que as possibilidades existem, mesmo para alunos do início 
da faculdade. Normalmente, esse perfil de estudante irá seguir a carreira 
acadêmica, e posterior à graduaçãoinicia o seu mestrado, doutorado e pós-
doutorado. Por exemplo, o CNPQ, citado anteriormente, tem um programa 
chamado de PIBIC, que auxil ia jovens em início de carreira científica, 
concedendo ao professor-orientador do projeto e também ao acadêmico, 
bolsas de iniciação científica. Alguns estados da federação também concedem 
esse tipo de benefício. É o caso do Estado de Santa Catarina com o programa 
UNIEDU, no qual acadêmicos podem desenvolver ideias e terem descontos 
em suas mensalidades.
 
Enfim, as oportunidades existem. Porém, o que se observa nas universidades 
é que é cada vez menor o interesse do acadêmico pesquisador. Afinal de 
contas, você precisa dedicar parte do seu tempo à pesquisa que se propõe. 
E corroborando o fato de que estamos em um tempo onde a informação 
já não é mais o problema, afinal de contas, está em todos os lugares, gerar 
novo conhecimento é a grande chave para o sucesso profissional. É preciso 
entender que são atividades desse caráter que irão desenvolver e diferenciar 
cada acadêmico em sua trajetória profissional. É esse tipo de profissional, 
criativo e inovador, que pensa soluções para as suas necessidades e empresas, 
que terá as mais ricas experiências e oportunidades.
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LEITURA COMPLEMENTAR
A ciência da fé
“Como você professa sua fé?”, pergunta o médico Paulo de Tarso Lima 
a seus pacientes na primeira consulta. Conversar sobre isso virou rotina no 
setor de oncologia em um dos mais conceituados hospitais do Brasil, o Albert 
Einstein, em São Paulo, onde Lima é coordenador do Serviço de Medicina 
Integrativa. Se o doente vai à missa, ele anota na receita: aumentar a frequência 
aos cultos. Se deseja a visita de um padre, rabino ou pastor, o hospital manda 
chamar. Se quiser meditar, professores de ioga são convocados. No hospital, 
a fé é uma arma no tratamento de doenças graves.
A Santa Casa de Porto Alegre também trabalha nesse sentido. O hospital 
está realizando uma pesquisa inédita, em parceria com a Universidade 
Duke, nos Estados Unidos, para mensurar os benefícios biológicos da fé. O 
objetivo é descobrir se os pacientes espiritualizados submetidos à cirurgia 
de ponte de safena têm menos inflamações no pós-operatório – hipótese já 
levantada por outros estudos. “Existe um marcador de inflamação que parece 
apresentar menores níveis em religiosos”, explica o cardiologista Mauro Pontes, 
coordenador do Centro de Pesquisa do Hospital São Francisco, um dos sete 
hospitais do complexo Santa Casa da capital gaúcha.
Hoje, as principais faculdades de medicina americanas dedicam uma 
disciplina exclusiva ao assunto. E, na última década, uma série de estudos 
mostrou que os benefícios da fé à saúde têm embasamento científico. Devotos 
vivem mais e são mais felizes que a média da população. Após o diagnóstico 
de uma doença, apresentam níveis menores de estresse e menos inflamações. 
“O paciente com fé tem mais recursos internos para lidar com a doença”, diz 
Paulo Lima. Fé tem uma participação especial no que médicos e terapeutas 
chamam de coping: a capacidade humana de superar adversidades. “Não 
posso prescrever bem-estar, mas posso estimular que o paciente vá em busca 
de serenidade para encarar um momento difícil”, explica o médico. É por isso 
que mais profissionais têm defendido essa relação. “Atender às necessidades 
espirituais tem de ser, sim, tarefa do médico”, defende o cirurgião cardíaco 
Fernando Lucchese, que está escrevendo o livro A Revolução Espiritual com 
o psiquiatra americano Harold Koenig, autoridade no assunto.
Há um século, o canadense William Osler, ícone da medicina moderna, 
já defendia isso. Em 1910, ele escreveu um artigo cheio de floreios elogiosos 
às crenças das pessoas: “a fé despeja uma inesgotável torrente de energia”.
A designer Juliana Lammel, 33 anos, vivenciou isso. Em 2005, cansada de 
tantas operações sem sucesso para corrigir um estreitamento no ureter, canal 
que liga os rins à bexiga, ela resolveu fazer uma cirurgia espiritual, mesmo 
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sem ter nenhuma ligação com o espiritismo. “Para mim, era sinônimo de filme 
de fantasma”, lembra. Ela topou – e sem ceticismo. Para ter resultado, Juliana 
teria de acreditar piamente, já que o tratamento espírita exige fé do paciente.
Uma vez por semana, por um mês, na mesma hora, ela deitava na 
própria cama por 30 minutos, ao mesmo tempo em que o grupo espírita fazia 
a concentração. Ela em São Paulo, eles no Rio de Janeiro. No fim, Juliana 
voltou ao médico com novos exames. Ele viu os resultados e não conseguia 
explicar por que os componentes alterados do rim tinham voltado a níveis 
quase normais. Juliana foi operada mesmo assim, mas o procedimento foi bem 
menos agressivo do que o previsto, graças, segundo ela, à cirurgia espiritual. 
O episódio mudou a forma como a designer lida com a fé. “Antes, me forçava 
a acreditar em algo. Depois disso, passei a acreditar de verdade”.
Vantagens no dia a dia
Uma das maiores pesquisas feitas até hoje, divulgada em 2009, revisou 
42 estudos sobre o papel da espiritualidade na saúde, que envolveram mais 
de 126 mil pessoas. O resultado mostrou que quem frequenta cultos religiosos 
pelo menos uma vez por semana tem 29% mais chances de aumentar seus 
anos de vida em relação àqueles que não frequentam. Não é intervenção 
divina. Não é feitiçaria. É comportamento. Os entrevistados que são religiosos 
apresentaram um comprometimento maior com a própria saúde. Iam mais 
ao dentista, tomavam direitinho remédios prescritos, bebiam e fumavam 
menos. A pesquisa confirmou ainda os dados de um estudo populacional 
feito em 2001 pelo Centro Nacional de Adição e Abuso de Drogas dos EUA: 
adultos que não consideram religião importante em suas vidas consomem 
muito mais álcool e drogas do que os que acham os credos relevantes. É a 
versão real dos Simpsons e seus exageros estereotipados. Homer faz pouco 
de qualquer fé, é obeso e alcoólatra. Já seu vizinho, o carola Ned Flanders, é 
regrado, tem saúde perfeita e corpo sarado.
Andar na linha é mais comum entre os crentes, e a razão está no poder 
de autocontrole, dizem os cientistas. É o que defende o psicólogo Michael 
McCullough. Professor da Universidade de Miami e parceiro de Harold Koenig 
em pesquisas sobre espiritualidade, ele diz que a fé facilita a árdua tarefa 
de adiar recompensas, algo fundamental para muita coisa, de fazer dieta a 
estudar para concursos.
A fé também tem uma relação íntima com a felicidade. Um estudo feito 
na Europa mostrou que pessoas espiritualizadas se dizem mais satisfeitas 
do que aquelas que não se consideram como tal. Parte disso se explica na 
natureza de ateus e céticos em geral. Quem não acredita em nada pode ter 
mais propensão ao pessimismo porque faz uma leitura objetiva da vida, sem 
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crer em algo divino que mude as coisas. Por outro lado, a certeza da existência 
de uma recompensa divina muda a vida das pessoas. E não é questão somente 
de otimismo. Tem algo pragmático aí.
Religiões estimulam algo essencial para o ser humano: o espírito de 
comunidade. Devotos normalmente não estão sozinhos, o que ajuda nos 
problemas da vida. Para Andrew Clark, um dos autores desse estudo europeu 
e professor da Escola de Economia de Paris, as religiões ajudam as pessoas a 
superar choques ou a pelo menos não se desesperar tanto com os tropeços 
da vida. Por exemplo, segundo a pesquisa, a queda no indicador de bem-estar 
foi menor entre os desempregados religiosos do que entre os não religiosos. 
“A religião oferece ‘proteção’ contra o desemprego”, diz Clark. Na hora do 
aperto, há sempre alguém para estender a mão. Outra pesquisa, feita pela 
Universidade de Michigan, EUA, comparou duas formas de amparo recebidas 
por idosos: o oferecido pelas igrejas e o proporcionado por serviços sociaisestatais. A discrepância a favor do suporte religioso foi tão significativa que o 
autor do estudo, o gerontologista Neal Krause, acredita haver algo de único 
nesse tipo de apoio.
Até mesmo os ateus são beneficiados pelo espírito solidário oferecido 
pelas instituições religiosas. Um estudo feito por Clark investigou o efeito da 
religiosidade dos outros sobre o bem-estar de uma comunidade. A descoberta 
foi intrigante. As pessoas sem religião de regiões de maioria ateia são menos 
felizes do que aquelas sem religião de áreas onde a maior parte da população 
professa uma fé. “Isso não é nada bom para os ateus: eles parecem menos 
felizes e também fazem os outros menos felizes”, concluiu Clark. A explicação 
para isso pode estar na compaixão incentivada pelas religiões. A escritora e 
ex-freira inglesa Karen Armstrong, autora de mais de 20 livros sobre o tema, 
acredita que o princípio da compaixão está no centro de todas as tradições 
religiosas. É ela que nos leva a pensar no próximo e a fazer de tudo para aliviar 
o sofrimento e as angústias dele.
Antônio Gilberto Lehnen, 78 anos de catolicismo ativo, sentiu os efeitos 
dessa rede de apoio após enfrentar duas cirurgias que quase lhe custaram a 
vida. Aos 67 anos, ele teve de passar por um transplante cardíaco. Na lista de 
espera por um novo coração, sem saber ao certo se aguentaria, sua atitude era 
de gratidão. “Lembro de ele me dizer, com toda a tranquilidade: ‘Planeja tudo 
aqui que o papai do céu está cuidando de mim’. Era uma atitude confiante”, 
lembra o cirurgião Fernando Lucchese, que fez a operação. Antônio é grato 
até hoje. “Não sei quem foi o doador, mas não deixo nem um dia de rezar por 
ele e pela felicidade da sua família”, diz.
Na Antiguidade, as religiões eram essenciais para unir uma comunidade. 
“Nas sociedades primitivas, a religião sempre exigiu tanto esforço (de união) 
que não pode ser encarada só como um acidente evolutivo”, diz Nicholas Wade, 
autor de The Faith Instinct (“O instinto da fé”, sem edição no Brasil). Essa união 
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foi questão de sobrevivência por milênios. É o que afirma Karen Armstrong 
em Os 12 Passos para uma Vida de Compaixão. Organizado em pequenos 
grupos, o homem primitivo precisava partilhar os parcos recursos a mão. 
Muito antes do surgimento das grandes religiões, altruísmo e generosidade 
já eram características primordiais a um bom líder tribal.
A genética também ajuda a explicar a origem da fé. O geneticista 
americano Dean Hamer causou rebuliço no meio científico em 2004 ao 
anunciar a descoberta dos genes da fé – ou, como ele preferiu chamar, o 
gene de Deus. Batizado de VMAT2, trata-se de um conjunto de genes que 
ativam substâncias químicas que dão significado às nossas experiências. 
Eles atuam no cérebro regulando a ação dos neurotransmissores dopamina, 
ligada ao humor, e serotonina, relacionada ao prazer. Durante a meditação, 
por exemplo, esses neurotransmissores alteram o estado de consciência. 
“Somos programados geneticamente para ter experiências místicas. Elas 
levam as pessoas para algo novo, ouvem Deus falar com elas”, explica Hamer. 
O pesquisador aplicou um questionário para medir o grau de espiritualidade 
em um grupo de 1.001 voluntários. Desenvolvido pelo psiquiatra Robert 
Cloninger, da Universidade de Washington, o levantamento trazia perguntas 
ligadas a crenças e rituais. Hamer avaliou os genes dos voluntários e percebeu 
que as diferenças nas respostas estavam relacionadas com as variações no 
gene de Deus. Essas variações explicariam por que algumas pessoas são mais 
espiritualizadas que outras.
Dá para visualizar isso, literalmente. Exames de neuroimagem mostram 
a atividade de crenças espirituais no cérebro. O time de cientistas liderado 
por Andrew Newberg, professor da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, e 
autor do livro How God Changes Your Brain (“como Deus muda o seu cérebro”, 
sem edição no Brasil), demonstrou que Deus é parte da nossa consciência: 
quanto mais pensamos nele, mais nossos circuitos neurais são alterados. 
No primeiro de seus estudos a respeito, Newberg avaliou o impacto da 
fé ao analisar imagens cerebrais de freiras rezando e budistas meditando. 
Ele detectou aumento de atividade em áreas relacionadas às emoções e 
ao comportamento e redução na zona que dá senso de quem somos. A 
diminuição de trabalho nessa região específica, segundo Newberg, representa 
a possibilidade de atingir com a meditação um estado em que se perde a 
noção de individualidade, espaço e tempo. “Você se torna um único ser com 
Deus ou com o Universo”, escreveu. É o mesmo efeito descrito por Hamer. A 
ciência não pode provar que Deus existe, mas consegue medir os efeitos da 
crença no divino nas pessoas.
Seria possível, então, transformar esses efeitos da fé em um botão no 
cérebro, que poderíamos ativar quando quiséssemos? O canadense Michael 
Persinger quis provar que sim ao criar o “capacete de Deus”. Trata-se de 
um aparelho que estimula uma área específica do cérebro, onde nascem 
pensamentos místicos e espirituais. Persinger queria saber se dava para simular 
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a sensação de uma prece intensa ou da meditação apenas estimulando essa 
região cerebral. Ele recrutou voluntários religiosos e não religiosos para o teste. 
Depois de ficarem uma hora com o capacete, quatro de cada cinco pacientes 
relataram sentir um estado de transe, com uma sensação de deslocamento 
para fora do corpo. A maioria dessas pessoas tinha uma predisposição à fé, 
mas, mesmo assim, o aparelho conseguiu simular experiências religiosas em 
laboratório. Ou seja, com ele não é preciso rezar para sentir os mesmos efeitos 
benéficos descritos na reportagem. Da mesma forma que não é preciso seguir 
uma religião para ter esses benefícios.
Como trabalhar sua fé
Que fique claro, fé e religião são coisas diferentes. A religião é uma 
maneira institucionalizada para se praticar a fé, por meio de regras específicas 
e dogmas. Já a fé é algo pessoal, ligado à espiritualidade, à busca para 
compreender as respostas a grandes questões sobre a vida, o universo e 
tudo mais. Isso pode ou não levar a rituais religiosos. Você pode buscar essas 
respostas pulando sete ondinhas, acendendo velas, consultando o horóscopo 
da Susan Miller, pregando faixas de Santo Expedito ou investigando quilos de 
livros de física quântica. Cada um tem seu jeito próprio.
Vale até ficar louco de cogumelo. Foi o que Roland Griffiths, professor 
da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, propôs. Sua equipe deu a 36 
voluntários cápsulas com altas doses de psilocibina, substância presente em 
cogumelos alucinógenos. O grupo deitou em sofás com olhos vendados 
ao som de música clássica. Depois de uma sessão de seis horas, passado o 
efeito, a maioria relatou ter experimentado uma forte conexão com os outros, 
um sentimento de união, amor e paz. Até aí, parecia papo de doidão. Mas 
o professor voltou a falar com os voluntários um ano depois. Eles disseram 
que se sentiam diferentes. A experiência os tornou pessoas melhores, o que 
foi confirmado pelas famílias deles. “Se a psilocibina pode causar sensações 
místicas idênticas àquelas que ocorrem naturalmente, isso prova que esse 
tipo de experiência é biologicamente normal”, disse Griffiths no fórum de 
palestras TED. Mais que isso: talvez, drogas alucinógenas tenham benefícios.
Mesmo sem cogumelos alucinógenos ou um capacete de Deus, é 
possível atingir artificialmente as benesses da fé. Cientistas garantem que 
basta ter uma forte crença em algo – e nem precisa ser uma divindade ou 
força superior. Pode ser qualquer coisa realmente importante para a pessoa. 
“Se para os crentes é Deus, para os ateus pode ser família ou amigos”, diz 
Michael Shermer, diretor da Sociedade Cética e autor do livro The Believing 
Brain (“o cérebro crente”, sem edição no Brasil). “Teoricamente, um ateu pode 
ter uma poderosaexperiência mística”, endossa Andrew Newberg. O pai do 
gene de Deus, Dean Hamer, segue a mesma linha. “Algumas das pessoas mais 
espiritualizadas que conheço não acreditam em divindade nenhuma”, escreveu 
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no trabalho em que relatou a descoberta genética. Outra grande autoridade 
no assunto, o psicólogo Kenneth Pargament, do Instituto de Espiritualidade e 
Saúde do Centro Médico do Texas, sugere cultivar a espiritualidade exercitando 
o que ele chama de santificação ateísta. Significa dar a algo importante da 
vida um status sagrado, mesmo sem acreditar em Deus. A foto do seu filho 
quando bebê pode ser muito mais sagrada para você que a imagem de Santo 
Antônio, por exemplo.
Não se trata de banalizar a sacralização, mas o contrário: exercitar a fé 
dessa forma é uma postura antibanalização da vida, qualquer aspecto pode 
assumir um caráter divino. E esse hábito de sacralizar aspectos do cotidiano 
é capaz até de alterar nosso comportamento, segundo uma pesquisa que 
acompanhou recém-casados. Os casais que consideravam o casamento e 
o sexo sagrados estavam mais felizes – e transavam mais! No trabalho é a 
mesma história. Outro estudo, realizado no ano passado, avaliou 200 mães 
de família que haviam acabado de concluir uma pós-graduação. Apesar da 
dupla jornada, aquelas que encaravam a carreira como parte de algo maior 
(e não só a fonte de renda para pagar as contas do mês) se disseram muito 
mais felizes profissionalmente – e menos cansadas.
Em tese, portanto, é possível usufruir de benefícios semelhantes aos 
proporcionados pelas crenças divinas apenas focando as energias naquilo 
que faz bem a você. O psicólogo Elisha Goldstein, autor do best-seller The 
Now Effect (“o efeito ‘agora'”, sem edição no Brasil), desenvolveu um método 
que consiste em cultivar momentos sagrados. Primeiro, você escolhe objetos 
que trazem boas lembranças. Valem fotos de infância, o relógio do avô, uma 
carta de amor, o primeiro gibi. Todos os dias, preste atenção a esse amuleto 
por no mínimo cinco minutos. Deixe que os pensamentos invadam sua 
mente. Relaxe. Após três semanas, avalie suas emoções. Segundo Goldstein, 
os voluntários que participaram do experimento relataram sentimentos de 
gratidão, humildade e empatia. Isso porque eles se reconectaram àquilo 
que realmente importa. Consequentemente, se sentiram menos ansiosos e 
pessimistas e mais dispostos a ajudar quem precisa. Isso sem ter de orar ou 
meditar seguindo preceitos religiosos.
Esses benefícios dependem da intensidade da crença. Quem vai à igreja 
e fica jogando Candy Crush Saga no celular dificilmente vai usufruir das 
vantagens da fé. Newberg resolveu passar isso a limpo e pediu a um grupo de 
ateus que pensassem em Deus. Nenhuma mudança significativa ocorreu. Para 
eles, não fazia o menor sentido. Então, o melhor é se engajar em atividades 
em que você realmente acredita. Se seu negócio não é integrar uma igreja, 
o psicólogo Michael McCullough lembra que algumas ONGs têm regras de 
conduta e convivência semelhantes, reproduzindo os mesmos mecanismos 
das religiões que incentivam compaixão, autocontrole, senso de comunidade 
e comportamento ético.
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Da mesma forma que é possível ter os benefícios da fé mesmo sem 
religião, há ocasiões em que ela faz mal – e nem precisamos entrar no mérito 
das guerras religiosas. Atribuir a Deus poder milagroso pode levar pacientes a 
abandonar tratamentos. Há também um outro componente preocupante. Em 
algumas pessoas, ocorre o que os especialistas chamam de conflito religioso, 
sentimento que leva a acreditar que a doença ou os sofrimentos são punição 
divina. Nesses casos, a religião tem um efeito desastroso. Um estudo publicado 
na revista científica americana Archives of Internal Medicine mostrou que esse 
conflito está associado a depressão, ansiedade e maior índice de mortalidade. 
Se fosse bom, fé cega não teria esse nome.
Fonte: REVISTA SUPERINTERESSANTE, 2015. A Ciência da Fé. Disponível em: <http://super.abril.com.br/
ciencia/a-ciencia-da-fe/>. Acesso em: 3 abr. 2017.
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REFERÊNCIAS
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paixões. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
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2008.
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Company, 1991.
DESCARTES, René. Discurso do método. Brasília: UnB, 1985.
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Fontes, 2003.
LENZI, L. A. F.; BRAMBILA, E. Z. Ciência da informação, ciência e revolução 
científica: Breve histórico e reflexões. Inf. Inf., Londrina, v. 11, n.1, jan./
jun. 2006. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/informacao/include/
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LÍVIA, A. F. L.; EDNÉA, Z. B. Ciência da informação, ciência e revolução 
científica: breve histórico e reflexões. Londrina, v. 11, n. 1, jan. / jun. 2006.
MITHEN, S. A pré-história da mente: uma busca das origens da arte, da 
religião e da ciência. São Paulo: Editora UNESP, 2002.
PINKER, S. Learnability and cognition. Cambridge, MA: MIT Press, 1989.
RAPPAPORT, R. Ritual and religion in the making of humanity. 
Cambridge: Cambridge University Press, 1999.
TOSI, L. Mulher e ciência: a revolução científica, a caça às bruxas e a 
ciência moderna. Cadernos Pagu 10: 369-397. 1998.
http://www.uel.br/revistas/informacao/include/getdoc.php?id=494&article=99&mode=pdf
http://www.uel.br/revistas/informacao/include/getdoc.php?id=494&article=99&mode=pdf
METODOLOGIA DA 
PESQUISA 2
MÉTODOS CIENTÍFICOS
Por um longo período histórico, a pessoa com deficiência esteve às 
margens da escolarização e percebemos nesta caminhada movimentos 
para a criação de leis na tentativa de reconfigurar a inserção da pessoa com 
deficiência no ensino comum. A educação inclusiva é um movimento ainda 
em construção e que necessita de um constante repensar sobre as políticas 
públicas e as práticas pedagógicas nas escolas
Neste capítulo você estudará sobre as principais leis e documentos 
norteadores da Educação Especial, notas técnicas e os programas e ações de 
apoio ao desenvolvimento inclusivo dos sistemas de ensino. 
APRESENTAÇÃO
Organização
Elisabeth Penzlien 
Tafner
Reitor da 
UNIASSELVI
Prof. Hermínio Kloch
Pró-Reitora do EAD
Prof.ª Francieli Stano 
Torres
Edição Gráfica 
e Revisão
UNIASSELVI
Autora
Jeice 
Campregher
 CURSO LIVRE - MÉTODOS CIENTÍFICOS
MÉTODOS 
CIENTÍFICOS
.02
INTRODUÇÃO
Realizar uma investigação, de qualquer natureza, sugere alguns cuidados. 
O primeiro deles é escolher, passo a passo, os rumos da investigação. Para 
isso, os métodos e técnicas se tornam essenciais tendo em vista os objetivos 
da pesquisa. 
 
Estudar esses caminhos, as possibilidades mais utilizadas em sua área, 
explorar possibilidades, analisar caminhos trilhados por outras pesquisas, 
enfim, tudo isso amplia o olhar do pesquisador. Não se trata de copiar. É nessa 
exploração que o investigador começa a delinear possibilidades e lapidar 
interesses que, a princípio, podem ser somente uma curiosidade, um tema 
de interesse, um assunto que o provoca de alguma forma.
 
A presente unidade tem essa pretensão: apresentar alguns delineamentos 
possíveis à investigação. Antes disso, algumas questões gerais se fazem 
importantes. Voltar à história amplia a visão sobre o momento presente e 
aquilo que hoje se oferece à escolha. 
1 MÉTODOS CIENTÍFICOS: QUESTÕES GERAIS
Como foi visto na unidade anterior, no Brasil, as pesquisas são realizadas, 
essencialmente, nas universidades e centros de pesquisa. Estamos tão 
acostumados a pensar dessa forma – pesquisa se faz na universidade – que 
podemos considerar que sempre foi assim. Que as universidades sempre 
existiram, queestão sempre aí. Para desfazer esse senso comum, precisamos 
voltar e olhar um pouco a história.
O que entendemos hoje como universidade é uma construção. Foi sendo 
materializada e, ainda, em nosso país, foi sendo inspirada pelo surgimento 
de universidades em outras partes do mundo. Precisaremos voltar até a 
 CURSO LIVRE - MÉTODOS CIENTÍFICOS
criação das primeiras “universidades, nos séculos XII e XIII, na Idade Média, 
como a Universidade de Bolonha, criada em 1190, a Universidade de Oxford, 
fundada em 1214, e a Universidade de Paris, criada em 1215” (PAULA, 2009, p. 
71). Nesta origem, podemos ver forte relação com a Igreja – submetidas aos 
regulamentos e disciplina religiosa.
O surgimento das primeiras universidades, na virada dos séculos XII e XIII, é 
um momento capital da história cultural do Ocidente medieval [...]. Pode-se 
compreender que ela comportou, em relação à época precedente, elementos 
de continuidade e elementos de ruptura. Os primeiros devem ser buscados 
na localização urbana, no conteúdo dos ensinamentos, no papel social 
atribuído aos homens de saber. Os elementos de ruptura foram inicialmente 
de ordem institucional. Mesmo que se imponham aproximações entre o 
sistema universitário e outras formas contemporâneas de vida associativa e 
comunitária (confrarias, profissões, comunas), este sistema era, no entanto, 
no domínio das instituições educativas, totalmente novo e original, [...] o 
agrupamento dos mestres e/ou dos estudantes em comunidades autônomas 
reconhecidas e protegidas pelas mais altas autoridades leigas e religiosas 
daquele tempo, permitiu tanto progressos consideráveis no domínio dos 
métodos de trabalho intelectual e da difusão dos conhecimentos, quanto 
uma inserção muito mais eficiente das pessoas de saber na sociedade da 
época (VERGER, 2001, p. 189-190, grifos nossos).
A proximidade com o poder oportunizava que os intelectuais tivessem 
uma vida de atuação política e cultural dentro das cidades. Com isso, 
ganhavam espaço para desenvolver o pensamento – em relação aos saberes 
sagrados ou filosóficos. 
Falando dessa forma, ainda parece bastante distante da universidade que 
conhecemos na atualidade – fundada na tríade ensino-pesquisa e extensão.
Atualmente, a universidade brasileira tem amadurecido – tanto na teoria 
quanto na prática, na realização de projetos – na compreensão de seu papel 
na sociedade brasileira. Amparada em muitas discussões oportunizadas 
por teorias e por experiências, hoje compreende-se que há um elo entre 
ensino-pesquisa-extensão. Por meio dessas três atividades, a universidade 
amplia sua inserção social. 
Caso centrasse suas atividades somente na pesquisa, esqueceria que 
a própria pesquisa necessita da sociedade para ser realizada – como 
poderá ser visto adiante, há pesquisas que se inserem, vão a campo, usam 
metodologias de observação para coletar dados. Em outras palavras, 
a universidade vai até os espaços sociais, as comunidades, extrai delas 
conhecimento e leva esse conhecimento para a forma de ensino – somente 
àqueles que ingressam e fazem parte daquela universidade. Sabemos que, 
atualmente, muitos podem fazer uma faculdade. Contudo, ainda é um 
grupo seleto, se considerarmos quantos seguem analfabetos, sem concluir 
o Ensino Fundamental ou Médio. 
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Ao compreender que a pesquisa só existe pela sociedade – e em virtude de 
melhorar a sociedade –, assim sendo, a universidade reduz as fronteiras por 
meio de atividades de extensão. Esta, podendo ser realizada de variadas 
formas: como projetos em que a comunidade é envolvida – descentralizando 
o conhecimento; levando-o ao maior número de pessoas possível. Nessa 
postura, entende-se que o conhecimento não é de um grupo – é um bem 
público (BOTOMÉ, 1996; NOGUEIRA, 2001).
Como vimos na origem das universidades, não percebemos ênfase em 
pesquisa. De que forma podemos, então, observar a origem daquilo que 
hoje entendemos como universidade, debruçada sobre investigações e em 
conhecimento científico? Segundo Paula (2009, p. 72):
Da França e da Prússia emergiram, no início do século XIX, as primeiras 
universidades modernas e laicas: a napoleônica, para formar quadros para o 
Estado, e a de Berlim, com ênfase na integração entre ensino e pesquisa e 
na busca da autonomia intelectual.
Segundo Paula (2009), esses dois modelos influenciaram a formação 
universitária no Brasil. Do modelo francês, ainda segundo a autora, herdamos 
a formação profissionalizante, voltada para o mercado de trabalho. Do modelo 
alemão, a pretensão de uma formação humanística, geral, não pragmática, 
baseada no tripé francês: Filosofia, Ciências e Letras. Assim vemos surgir os 
modelos que chegam ao Brasil, construindo aquilo que entendemos como 
universidade na atualidade. 
Na Unidade 1, destacamos o papel do francês René Descartes – nascido 
em 31 de março de 1596 – na estruturação de métodos. O pensamento 
científico pode ser, portanto, relacionado a esse filósofo, que viu a necessidade 
de verificar, analisar, sintetizar e enumerar aquilo que se pretende entender. 
Contudo, como quase tudo na história, nada acontece instantaneamente. 
Descartes trouxe a sua visão e ela, aos poucos, consolidando-se e ligando-
se ao que veio depois. Isso compreendemos ancorados em Foucault sobre a 
produção do conhecimento. 
Na fase genealógica, Foucault compreende que certo conjunto de 
crenças/saberes (aquilo que forma uma espécie de Arquivo) fica à disposição 
dos sujeitos (dos mesmos ou dos outros, no futuro). Foucault compreende que 
esses discursos não se deram suavemente, não são frutos de simples acordos 
ou arranjos/encaixes de saberes/verdades. Foucault passa a compreender que 
o conjunto de crenças que hoje temos, as verdades nas quais podemos hoje 
acreditar, são, antes de tudo, efeitos de muitas disputas ao longo da história – 
disputas para chegarem a ser aceitos (como um conhecimento válido). Muitos 
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daqueles que hoje são respeitados não chegaram a receber condecorações 
e/ou reconhecimento em vida. Por vezes, após muito tempo é que essas 
produções são aceitas e são citadas em outras teorias (umas fundamentando 
as outras) (FOUCAULT, 2002, p. 117). Por esse motivo, a ciência, hoje como ela 
é, foi lapidada, elaborada pela história e pelo embate e combate dos discursos.
Essas universidades são apontadas como as primeiras, uma vez que 
estejamos estudando as origens da universidade brasileira. Enquanto há 
outros autores que apontam universidades mais antigas, em configurações 
diferentes. Há correntes que afirmam que a primeira universidade do mundo 
foi o Museu de Alexandria (ROSA, 2012), com mais de 500 mil rolos de papiro 
e 100 professores trabalhando nela. 
Caso o foco desta unidade fosse investigar a origem de todas as correntes 
e pensadores que contribuíram para a construção da ciência, esta unidade, de 
fato, ficaria bastante extensa e perderia seu foco. O interesse dessa discussão 
inicial está em compreender melhor a universidade brasileira hoje. Fazer 
ciência também é isso: não entender os fatos do presente como algo pronto 
e acabado, sem origem, sem história. Falar sobre ciência, modelos, técnicas, 
portanto, antes de tudo, é entender as influências dessas nossas práticas. Se 
hoje a universidade brasileira faz ensino, pesquisa e extensão – sendo essa 
a busca, aquilo que é defendido e discutido em congressos e eventos das 
mais variadas áreas –, faz-se necessário entender, ainda que brevemente, os 
modelos que seguimos e almejamos no presente.
O modelo norte-americano também deixa marcas na organização e 
na estrutura da universidade brasileira. A reforma de 68 – durante o período 
militar – coloca a universidade mais vinculada ao mercado de trabalho. Afinal 
de contas, a educação também havia sido atrelada ao desenvolvimento 
econômico. Entre outras alterações estruturais feitas, Paula (2009, p. 77) 
destaca a incorporação da “ideia moderna de extensão universitária”. Contudo, 
citarextensão universitária dessa forma, a nosso ver, dá a impressão de que 
nada, anteriormente, estava sendo feito no país em termos de extensão 
universitária. Ainda que fossem práticas pontuais, a extensão já tinha uma 
história própria, já estava sendo desenvolvida em nosso país.
Como vimos, no nascimento da universidade brasileira, podemos observar 
as atividades de pesquisa (mais fortemente valorizada no modelo alemão) 
e de ensino (valorizada no modelo francês). A partir disso, pode surgir uma 
pergunta: como surgiu então a extensão universitária no país? 
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A extensão, antes dessa reforma de 68, já havia sofrido algumas mudanças 
conceituais e práticas nas universidades brasileiras. A primeira instituição que 
iniciou um movimento extensionista no Brasil foi a Universidade Livre de São 
Paulo, entre 1911 e 1917, por meio de conferências e semanas abertas, cujos 
temas eram problemáticos sociais (não da própria comunidade) e problemas 
políticos da época. Segundo Fagundes (1985, p. 29, grifos no original):
ao contrário do que ocorreu na universidade inglesa, berço da extensão 
– onde esta foi implementada a partir das pressões e reivindicações das 
massas marginalizadas no processo de educação e na fruição dos benefícios 
da cultura –, aqui as primeiras atividades extensionistas aconteceram mais por 
um ato de vontade ou “idealismo” de segmentos da comunidade acadêmica 
universitária do que em função ou a partir dos interesses e necessidades 
da população a que se destinavam, como se pode constatar na primeira 
universidade de São Paulo.
As práticas e o conceito de extensão foram sendo alterados ao longo do 
tempo. Botomé (1996) considera que as ideias de Paulo Freire influenciaram 
alguns dos que elaboraram os documentos sobre a Extensão, na época da 
criação da Coordenação de Atividades de Extensão (CODAE). 
Essa talvez seja a primeira sinalização para uma das mudanças conceituais 
mais concretas apontadas por teóricos da Extensão: de via de mão-única para 
via de mão-dupla. Na primeira compreensão, via de mão-única, a universidade 
é a detentora de conhecimentos e, assim sendo, é capaz de levar, estender 
isso a todo o mais que não está dentro dela (BOTOMÉ, 1996). Na segunda, 
via de mão-dupla, criticou-se esse discurso, questionando se a universidade 
também não deveria aprender com a comunidade (FREIRE, 1971). Isso não 
quer dizer que não haja mais ações extensionistas de via de mão-única. O 
que há é uma defesa maior por ações que vão ao encontro desse conceito 
de Extensão: em via de mão-dupla.
As ações de pesquisa, atualmente, são também pautadas por essas 
concepções. A extensão, portanto, trouxe contribuições ao ensino e à 
pesquisa – uma vez que professores e pesquisadores estão abertos às 
provocações feitas a partir da extensão universitária. Na visão atual de 
universidade, há um trânsito, uma comunicação, uma vinculação entre 
setores e grupos da sociedade e a universidade.
Essa breve contextualização teve o objetivo de levar um outro olhar 
para a produção científica: compreendendo que não é um processo do dia 
para o outro e, ainda, que hoje a pesquisa é entendida como indissociável do 
ensino e da extensão. Essas compreensões, por sua vez, ajudam-nos a ampliar 
nossas ideias, projetos, perguntas de partida, objetivos, seleção de métodos. 
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Quanto mais a fundo se compreender a história da ciência e como ela 
hoje é entendida nas universidades brasileiras, com mais propriedade – e 
profundidade nas discussões –, as pesquisas podem ser realizadas. Desde a 
idealização do movimento investigativo, escolhas dos caminhos, métodos, 
organização de dados e redação do trabalho a ser apresentado. 
Pesquisar, portanto, é compreender a instituição na qual se investiga, 
a sociedade pesquisada e, também, como a pesquisa pode gerar impacto 
social e acadêmico. Essas reflexões iniciais podem contribuir, do início 
ao fim, à realização de pesquisas bem fundamentadas e com produção 
de conhecimento útil – tanto internamente, aos pares, àqueles que estão 
inseridos na instituição, assim como à sociedade como um todo.
2 ESCOLHA ADEQUADA DO MÉTODO
Os métodos são particulares a uma ciência ou a um conjunto de ciências. 
São mais úteis em uma área do que seriam em outra. Os métodos, portanto, 
fazem sentido em pesquisas e em áreas específicas – não há um padrão de 
pesquisa que diga respeito a todos os campos do saber. As metodologias 
se constroem com base em métodos particulares, específicos e que fazem 
sentido dentro das ciências. Nisso, se vê diferenças específicas entre as 
ciências sociais e naturais, por exemplo (NUNES, 1993). 
O conhecimento científico é o exercício do pensamento humano sobre 
a realidade. Essa realidade é composta pela existência do homem em relação 
a esse mundo – integrante, constituinte. Em outras palavras, ao conhecer, o 
homem conhece a si mesmo. Lança um olhar sobre si (no mundo) (NUNES, 
1993). 
O saber vem antes da ciência – ele é acumulado, organizado e estruturado. 
A ciência se desenvolve durante o caminhar, durante o exercício e as práticas 
realizadas na área, métodos seguidos desde o conteúdo até a produção das 
técnicas (NUNES, 1993). Por esse motivo, há caminhos e compreensões que 
são acumulativas em cada uma das áreas. Assim, inserir-se em uma área, 
estudar bases teóricas, conhecer perspectivas e abordagens costuma ser um 
dos primeiros movimentos investigativos de um pesquisador. 
Aqui chegamos a um ponto crucial deste tópico: para selecionar bem 
os caminhos é preciso conhecer bem a área, as práticas sociais, os objetos 
de interesse daquela área. Esse é um movimento inicial e essencial ao 
delineamento da pesquisa. Este não é feito apenas ao iniciar a pesquisa; é 
feito e refeito assim que alguma inconsistência seja percebida. Do início ao 
fim esse olhar sensível precisa ser parte da investigação.
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Como decidir sobre esses métodos? Essa(s) escolha(s) exige(m) certo 
domínio do campo científico (saber o que é pesquisar, para que pesquisar) e, 
ainda, domínio naquela forma de investigar a partir de tal corrente. Convém, 
portanto, em início de caminhada, ser orientado por pesquisador mais 
experiente. Um pesquisador que conheça ferramentas, técnicas, métodos e 
a corrente teórica. 
Essa orientação não é feita de qualquer forma. A caminhada exige que 
o orientando vá caminhando passo a passo. Compreenda qual pesquisa está 
realizando. Caso só faça porque mandam, essa fragilidade irá aparecer em 
algum momento da caminhada investigativa. Aparece na redação – na firmeza 
da condução da linha de raciocínio – ou em alguma apresentação ou, ainda, 
ao exercer a profissão para a qual foi formado(a). 
 
Sobre o exercício do pensar, uma diferenciação se faz útil: divagar não é 
o mesmo que uma reflexão sistemática. Divagar é passear por alguns tópicos, 
falar sobre, fazer algumas conexões ou mudar de assunto – sem nenhum 
compromisso com ordenação ou lógica. O ato de raciocinar é coerente e 
segue um percurso. Duas formas de raciocínio comuns para conduzir o fio 
da discussão científica são a indução e a dedução. Vamos a elas.
3 MÉTODOS: PERCURSOS LÓGICOS
Ao falar em método ou métodos, no plural, há algo pressuposto: a 
existência de uma(s) lógica(s) que permeia/permeiam as investigações. Em 
outras palavras, há procedimentos lógicos a serem seguidos tendo em vista 
objetivos da investigação, da natureza da investigação, dos recursos, da 
abrangência e da inspiração filosófica (autores de base) do pesquisador. 
Neste tópico serão apresentados métodos em sua essência. Interessa, 
nesse momento, compreender a lógica que move tais processos argumentativos. 
A partir disso, pode-se conversar com docente mais experiente para observar 
a aplicação desses caminhos – tendo em vista os objetivos e a natureza da 
investigação.
3.1 MÉTODO DEDUTIVO
 
Dedução vem do latim (de + ducere, “extrair”, “diminuir”). Há um percurso 
de raciocínio queconsiste em apresentar uma ou mais proposições conhecidas 
(aceitas como verdadeiras) e, a partir delas, conclui-se uma proposição – até 
então – desconhecida. Há, portanto, uma relação de consequência. Esta não 
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somente como uma extensão da(s) primeira(s) proposição(ões). Acima de tudo, 
vai mais a fundo, lança um olhar mais sensível – constrói uma compreensão 
(sobre a natureza-propriedades) (GIL, 2008).
 
Por vezes, a conclusão se apresenta mais geral do que as premissas. A 
conclusão se torna de difícil crítica, uma vez que parte de afirmações aceitas 
e que fazem sentido. Um exemplo de dedução é o silogismo. Dizer algo e 
extrair premissas ou conclusões dessa primeira afirmativa.
 
A dedução: “Parte de princípios reconhecidos como verdadeiros e 
indiscutíveis e possibilita chegar a conclusões de maneira puramente formal, 
isto é, em virtude unicamente de sua lógica” (GIL, 2008, p. 9).
Essa é uma característica que leva a dedução a apresentar fragilidades. 
A seguir, um exemplo de argumento dedutivo, a partir de Lakatos e Marconi 
(2007, p. 91).
Exemplo de conclusão a partir do método 
dedutivo
Todo mamífero tem um coração. 
Ora, todos os cães são mamíferos.
Logo, todos os cães têm um coração.
A partir do exemplo acima, observamos que o objetivo do método 
dedutivo é explicar o conteúdo presente nas premissas – essas consideradas 
universais (leis universais).
Os argumentos dedutivos estarão incorretos caso partam de uma 
premissa falsa. Esses argumentos, portanto, alcançam os dois extremos: ou 
estarão corretos ou incorretos. O mesmo não ocorre com o método a seguir.
3.2 MÉTODO INDUTIVO
No método indutivo, há argumentos que são mais ou menos coerentes. 
Esses são dependentes das premissas que sustentam a conclusão. 
 
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Tanto o método dedutivo quanto o indutivo procuram alcançar conclusões 
verdadeiras. Ponchirolli e Ponchirolli (2012) compreendem que os argumentos 
dedutivos alcançam tal objetivo, enquanto os indutivos conseguem somente 
apresentar uma afirmação que provavelmente está correta. Segundo os 
mesmos autores, desde Karl Popper essas fragilidades são discutidas.
Karl Popper foi um influente filósofo da ciência muito respeitado no seu 
tempo. Austríaco de nascimento e britânico por opção, costumava dizer 
que uma teoria científica é um modelo matemático que descreve e codifica 
as observações que fazemos. Assim, uma boa teoria deverá descrever uma 
vasta série de fenômenos com base em alguns postulados simples, como 
também deverá ser capaz de fazer previsões claras, as quais poderão ser 
testadas.
As premissas de um argumento dedutivo apresentam verossimilhança 
com a conclusão – mas não sustentam tal raciocínio, dando a sensação de 
que não se obtém dele uma conclusão sólida. 
Ponchirolli e Ponchirolli (2012) compreendem que o conhecimento é de 
fato imperfeito – seja este produzido por qualquer método. Eles consideram 
que o conhecimento está sujeito a revisões e que os erros podem ser 
corrigidos. Para eles, a maior incoerência ou inconsistência da indução é 
retirar de verdades particulares conclusões que se deseja produzir como se 
fossem gerais, aplicáveis de uma forma mais ampla. Essa é uma das críticas 
recebidas por essa forma de argumentar.
Para Lakatos e Marconi (2007, p. 86),
Indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados 
particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral 
ou universal, não contida nas partes examinadas. Portanto, o objetivo dos 
argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo 
do que o das premissas nas quais se basearam.
Em outras palavras, pode-se dizer que uma afirmação (tida como 
verdadeira) é referência para a construção de outra ou outras, mais gerais. 
Por esse motivo, é considerado o método responsável pela generalização. 
De algo particular para algo mais geral. Segue um exemplo de argumento 
indutivo, a partir de Lakatos e Marconi (2007, p. 91).
Há como aprimorar o uso dos argumentos indutivos. Por exemplo, pode-
se acrescentar aos argumentos evidências adicionais. Dessa forma, observa-se 
mais materialidade na condução do pensamento e da argumentação. Sem 
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algo nesse sentido, a indução tenta compreender uma lei geral que rege os 
(ou alguns) casos observados – sem algo mais sólido, ela virá a falhar. Vamos 
observar algumas orientações dos autores:
A indução possui as seguintes regras: (i) deve-se estar seguro de que a relação 
que se pretende generalizar seja verdadeiramente essência, isto é, relação 
causal quando se trata de fatos, ou relação da coexistência necessária de 
duas formas, quando se trata de seres ou coisas. Assim, sendo uma relação 
de dependência necessária a que une o calor à dilatação, tem-se o direito 
de gerenciar a lei segundo a qual o calor sempre dilata os corpos; (iii) é 
necessário que os fatos, a que se estende a relação, sejam verdadeiramente 
similares aos fatos observados e, principalmente, que a causa se torne no 
sentido total e completo (PONCHIROLLI; PONCHIROLLI, 2012, p. 62).
Tomados esses cuidados, os argumentos indutivos tornam-se mais 
sólidos. Há pesquisas em que esses mecanismos terão de ser usados e há 
outras em que não – depende da natureza da investigação. Abaixo, vamos 
observar um argumento indutivo.
Exemplo de conclusão a partir do método indutivo
Todos os cães que foram observados tinham um coração.
Logo, todos os cães têm um coração.
Trata-se somente de um exemplo. Em uma pesquisa, a conclusão, 
portanto, deve ser conduzida da melhor forma – incluindo novas evidências 
e outros cuidados acima apontados.
No exemplo acima, a partir das particularidades (os cães observados 
na pesquisa), parte-se para a generalização (todos os cães). Para Gil (2008, 
p. 10), “o método indutivo procede inversamente ao dedutivo: [no indutivo] 
parte do particular e coloca a generalização como um produto posterior do 
trabalho de coleta de dados particulares”.
 
Para Gil (2008, p. 11), a dedução chega a conclusões mais acertadas, 
uma vez que parte de premissas tidas como verdadeiras. Já na indução, chega 
a conclusões que são prováveis. Na sequência, iremos analisar o método 
hipotético-dedutivo.
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3.3 MÉTODO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO
Este método surgiu com Karl Popper como crítica ao método indutivo. 
Para Popper, “o salto indutivo de ‘alguns’ para ‘todos’ exigiria que a observação 
de fatos isolados atingisse o infinito, o que nunca poderia ocorrer, por maior 
que fosse a quantidade de fatos observados” (GIL, 2008, p. 12).
O método hipotético-dedutivo consiste na seguinte linha de raciocínio:
[...] quando os conhecimentos disponíveis sobre determinado assunto são 
insuficientes para a explicação de um fenômeno, surge o problema. Para tentar 
explicar as dificuldades expressas no problema, são formuladas conjecturas ou 
hipóteses. Das hipóteses formuladas, deduzem-se consequências que deverão 
ser testadas ou falseadas. Falsear significa tornar falsas as consequências 
deduzidas das hipóteses. Enquanto no método dedutivo se procura a todo 
custo confirmar a hipótese, no método hipotético-dedutivo, ao contrário, 
procuram-se evidências empíricas para derrubá-la (GIL, 2008, p. 12).
O método hipotético-indutivo, portanto, é um percurso investigativo 
iniciado com um problema ou uma lacuna deixada pelo próprio conhecimento 
científico. Depois desse movimento inicial, adiante, é produzida uma hipótese 
– segundo passo investigativo. A seguir, um esquema produzido por Gil (2008, 
p. 12):
Problema → Conjecturas → Dedução de consequências observadas → 
Tentativa de falseamento → Corroboração
Nesse método, as seguintes etapas são propostas (FERREIRA, 1998):
- estudo de teorias existentes;
- formulação de problemas a partir da(s) teoria(s) e do objeto estudado 
(experiência empírica).
- elaboração de hipóteses, dedução das consequências a partir de

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