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AD2 Africana II- Raphael Soares da Silva - Letras - Paracambi

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Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Universidade Federal Fluminense
Curso de Licenciatura em Letras - UFF / CEDERJ
Disciplina: Literatura Africana II
Aluno: Raphael Soares da Silva
Avaliação a Distância 2 – 2019/2
O que é: Aulas sobre do papel da mulher nas sociedades africanas, destacando-se as variações temporais e espaciais, considerada a diversidade tanto na diáspora quanto no tempo presente, utilizando obras de escritoras como Paulina Chiziane, Wole Soyinka, Mariama Ba, entre outras.
Por que é importante: Um dos temas mais discutidos na atualidade é a diversidade
cultural na comunidade lusófona e a necessidade de inclusão de temas ligados à comunidade africana no processo de valorização da diversidade cultural brasileira. O projeto é justificado na medida em que propicia uma reflexão sobre o papel da mulher literatura africana, fato que possibilita a valorização de elementos culturais da África no Brasil.
Quais os objetivos: Apresentar as diversas autoras africanas e debater o papel significativo que as mulheres africanas exerceram nesta literatura, através dos relatos de suas experiências complexas em um continente no qual as mulheres ainda enfrentam problemas típicos dos séculos passados, como a poligamia, ser mãe, a prostituição e a subjetividade feminina. Trabalhar com as formas encontradas para fugir da intensa repressão que sofrem e fazem de sua obra uma bandeira pela integração do feminino na sociedade africana, radicalmente patriarcal e machista, bem como nas decisões econômicas e na vivência cultural.
Como vou abordar: Será apresentada algumas mulheres importantes para a literatura africana, como Paulina Chiziane (Moçambique), sua trajetória, sua luta e sua obra (Anexo). Após esse primeiro momento, a turma será dividida em duplas, para que faça análise de algumas obras das autoras. Num terceiro momento, a turma será dividida em grupos, e esses grupos deverão pesquisar sobre outras autoras sorteadas previamente e apresentando em uma espécie de seminário. Por fim, o trabalho será revisado e apresentado em forma de feira literária em comemoração a semana da África no Brasil. 
Como avalio ou não: A avaliação será feita por etapas, sendo a primeira avaliação realizada pela analise da obra realizada no segundo momento, somada ao seminário realizado em sala e o seminário apresentado na semana da África no Brasil. 
O que espero alcançar com o projeto: Um olhar diferenciado sobre a história da África através da ótica feminina, levando em consideração o contexto histórico e social do continente. 
Referências Bibliográficas:
BAMISILE, Sunday Adetunji. QUESTÕES DE GÉNERO E DA ESCRITA NO FEMININA NA LITERATURA AFRICANA CONTEMPORÂNEA E DA DIÁSPORA AFRICANA. 2012. 519 f. Tese (Doutorado) - Curso de Letras, Literatura Comparada, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2012. Disponível em: https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/8699/1/ulsd65962_td_Sunday_Bamisile.pdf. Acesso em: 15 out. 2019.
CHIZIANE, Pauline. Niketche: Uma História de Poligamia. Disponível em: https://deliriumnerd.com/2017/10/16/niketche-paulina-chiziane-resenha/ Acesso em 15. out. 2019
Anexo
Material trabalhado em sala de aula no primeiro momento proposto acima. 
Biografia de Paulina Chiziane:
 Escritora moçambicana nascida em Manjacaze, no ano de 1955 na província de Gaza, uma região rural no sul de Moçambique. Aos sete anos muda-se para os subúrbios de Maputo, conhecida como Lourenço Marques, nos tempos coloniais. Filha de mãe camponesa, subsiste ali a trabalhar com o seu pai, como costureira pelas ruas da cidade capital. Tinha 20 anos quando se dá a independência do país, a 25 de Junho de 1975. Havia então, a esperança de uma verdadeira revolução que livrasse o país do atraso e do tacão colonialista. Mas os bons augúrios nacionalistas, gerados após se terem libertado das tropas portuguesas, dissipam-se rapidamente com o início da guerra civil, que só vai terminar em 1992 com o Acordo Geral de Paz.
 Na altura da guerra civil, Paulina Chiziane começou a frequentar a universidade para estudar Linguística na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, mas não acabou o curso por causa da insegurança que vivia se no país.
 Paulina considera-se si mesma como uma contadora de histórias, uma arte que, segunda ela, aprendeu com a sua avó – o que lhe serviu como fonte de inspiração e a ajudou na escrita e publicação de vários contos e obras literárias, tanto nos jornais do seu país, como na sua editora em Moçambique e nos vários países no estrangeiro. As histórias e os temas das suas obras tratam dos problemas diários e das experiências do povo moçambicano, em tempos de vida difícil, e falam também do amor e da esperança da mulher, na sociedade africana em geral, e em particular das mulheres da sua comunidade, de uma África passada e presente, que a autora soube transferir da oralidade para o papel.
 Um dos fatores que contribuiu para uma aproximação mais concreta à realidade dos efeitos da guerra vivida no seu país, em primeira mão, como também fica evidenciado na sua obra, é a sua colaboração com a Cruz Vermelha e com algumas organizações não-governamentais, em projetos de promoção cultural, social e política da mulher moçambicana. De acordo com Chiziane, há muito trabalho a fazer numa sociedade predominantemente patriarcal onde a mulher é considerada como cidadã de segunda, sem direitos nem voz. Paulina Chiziane já publicou os seguintes romances, A Balada de Amor ao Vento, em 1990. Ventos do Apocalipse (1993), O Sétimo Juramento (2000), Niketche: Uma História de Poligamia (2002) e O Alegre Canto da Perdiz (2008). Esta escritora reconhece que os seus temas não são fáceis, porque traz para a literatura assuntos incômodos, como as conseqüências da poligamia e a prática da feitiçaria em África.
Obra: Niketche: Uma História de Poligamia (2002)
 Em Niketche, Chiziane também denuncia a injustiça social que marginaliza as mulheres, na sociedade moçambicana. A autora começa a narrativa apresentando-nos numa situação em que as mulheres se encontram numa situação de desespero, motivada pela situação de desigualdade em que vivem, devido ao jugo patriarcal a que estão submetidas. Segundo Leite (2003), esta obra inscreve-se numa linha narrativa feminina de crítica à poligamia, que se tornou recorrente no cenário literário de mulheres africanas que buscam denunciar, por meio da paródia, a forma perversa como a poligamia foi adulterada na sociedade urbana, não se respeitando os direitos que as mulheres tinham na sociedade tradicional.
 Tony, um oficial de polícia, casado há vinte anos, mantém relações matrimoniais com outras quatro mulheres, além da sua, Rami. E tudo parece correr bem à personagem masculina, Tony, até que a sua primeira e legítima mulher, Rami, descobre que o seu o marido é polígamo. A protagonista, Rami, tem inicialmente uma atitude passiva face à traição do seu marido, mas, progressivamente, torna-se consciente de que deve lutar pelos seus direitos e vem a assumir uma atitude de rebeldia e clara contestação da ordem tradicional. Ela passa a ter um comportamento não conformista, no que é seguida pelas outras mulheres do seu marido e deste modo, ela torna-se também a voz de tantas mulheres que nunca tinham sido capazes de rebelar-se contra a ordem patriarcal vigente. 
Trecho da Obra: Uma História de Poligamia (2002)
“Um desfile de mulheres vem ao meu encontro. Consolam-se. Dona Rami, as crianças são assim. Elas falam das crianças e do vidro partido. E falam também dos maridos ausentes que nem cuidam dos filhos.
– Esta falta de ordem é falta de homem nesta casa – desabafo. – O Tony é o culpado de tudo isto. Sempre ausente. Primeiro foi uma noite de ausência, depois outra e mais outra. Tornou-se hábito. Ele diz-me que faz turnos à noite. Que supervisa o trabalho de todos os polícias pois é quando a noite cai que os ladrões atacam. Faço de contas que acredito nele. Mas os passos dos homens são rastode caracal, não se escondem. Sei muito bem por onde anda.
– Não és a única, Rami. O meu marido, por exemplo – diz uma vizinha –, largou-me faz anos e correu atrás de uma menininha de catorze anos, para começar tudo de novo. Um velho que se tornou criança.
– O meu tem aquelas concubinas que conheces, com filhos e tudo – diz outra. – Pensas que me ralo?
Olho para todas elas. Mulheres cansadas, usadas. Mulheres belas, mulheres feias. Mulheres novas, mulheres velhas. Mulheres vencidas na batalha do amor. Vivas por fora e mortas por dentro, eternas habitantes das trevas. […]
As minhas vizinhas consolam-me com histórias de espantar. Elas são mães. Para me embalar a dor, elas contam-me histórias das suas próprias dores e espinhos.”
Ao precisar justificar publicamente a ausência de Tony, Rami percebe também a situação dolorosa de suas vizinhas. O primeiro movimento da personagem é, no entanto, de buscar a culpa. Quem eram os responsáveis dessas “fugas” e dessas ausências? Apesar de cogitar culpar o marido pelo seu sofrimento, Rami volta-se para si mesma, examina-se ao espelho, culpa-se.
“Vou ao espelho tentar descobrir o que há de errado em mim. Vejo olheiras negras no meu rosto, meu Deus, grandes olheiras! Tenho andado a chorar muito por estes dias, choro até demais! Olho bem para a minha imagem. Com esta máscara de tristeza, pareço um fantasma, essa aí não sou eu.”
Porém, apesar da tristeza e do cansaço, a personagem consegue, de alguma forma, entrever um vislumbre da sua força e de sua beleza. Pacifica-se, por ora. Mais tarde na narrativa, a personagem explica, em um diálogo com outra mulher, que, desde sua infância, ela nunca havia sido ensinada a ter amor-próprio, a amar-se e respeitar-se. Pelo contrário, foi-lhe ensinado a subserviência, a obediência, a naturalização das hierarquias que colocam as mulheres à margem de tudo, em um segundo plano onde são permanentemente coadjuvantes de suas próprias vidas. De forma gradual, o exercício de olhar-se ao espelho, de dialogar consigo própria, de apropriar-se de sua própria voz e de sua própria história vão restituindo a confiança de Rami. Entretanto, a busca por culpados prossegue ainda, por um tempo, e a personagem vai confrontar suas rivais, cada uma das mulheres com quem Tony mantém uma vida paralela. Essas outras mulheres, a princípio, são vistas como inimigas, como rivais que devem ser destruídas.
“Penso muito nessa tal Julieta ou Juliana. Mulher bonita, ouvi dizer. Tem com o meu Tony muitos filhos, não sei quantos. É um segundo lar, sólido e fixo. Na minha mente correm ideias macabras. De repente, apetece-me ferver um pote de óleo e derramar na cara dessa Julieta ou Juliana, para eliminá-la do meu caminho. Apetece-me andar à pancadaria com uma peixeira. Rezo. Rezo com todo o fervor para que essa mulher morra e vá para o inferno. Mas ela não morre e nem o romance acaba.”

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