Prévia do material em texto
Os Tratados iniciais Bases jurídicas • O Tratado que institui a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), ou Tratado de Paris, foi assinado em 18 de abril de 1951 e entrou em vigor em 25 de julho de 1952. Foi a primeira vez em que seis Estados europeus aceitaram empenhar-se na via da integração. Este Tratado permitiu lançar as bases da Comunidade, criando nomeadamente um órgão executivo designado «Alta Autoridade, uma Assembleia Parlamentar, um Conselho de Ministros, um Tribunal de Justiça e um Comité Consultivo. O Tratado CECA viria a expirar em 23 de julho de 2002, no final da sua vigência de 50 anos que tinha sido fixada no artigo 97.º. Nos termos do Protocolo n.º 37 anexo aos Tratados (Tratado da União Europeia e Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia), o ativo líquido do Tratado CECA, aquando da sua dissolução, seria afetado à investigação em setores relacionados com a indústria do carvão e do aço através de um fundo e de um programa de investigação do carvão e do aço • • Os Tratados que instituem a Comunidade Económica Europeia (CEE) e a Comunidade Europeia da Energia Atómica (CEEA), igualmente denominados Tratados de Roma, foram assinados em 25 de março de 1957 e entraram em vigor em 1 de janeiro de 1958. Ao contrário do Tratado CECA, os Tratados de Roma têm «uma vigência ilimitada» (artigo 240.º do Tratado CEE e artigo 208.º do Tratado CEEA), o que lhes conferiu um caráter quase constitucional. • Os seis países fundadores foram a Bélgica, a França, a Alemanha, a Itália, o Luxemburgo e os Países Baixos. Objetivos • Os fundadores do Tratado CECA não deixaram dúvidas quanto às suas intenções para o Tratado, nomeadamente de que constituiria apenas um primeiro passo no sentido de uma Federação Europeia. O mercado comum do carvão e do aço seria uma experiência que poderia ser gradualmente alargada a outros domínios económicos culminando numa Europa política. • A Comunidade Económica Europeia tinha por objetivo a criação de um mercado comum assente nas quatro liberdades de circulação (de mercadorias, de pessoas, de capitais e de serviços). • O Tratado Euratom, por sua vez, tinha por objetivo coordenar o fornecimento de materiais cindíveis e os programas de investigação dos Estados-Membros, tanto os que já estavam em curso como os que estavam a ser preparados, na pespectiva de uma utilização pacífica da energia nuclear. • Os preâmbulos dos três Tratados refletem uma unidade ao nível dos objetivos subjacentes à criação das Comunidades, nomeadamente a convicção de que tem de haver um empenho conjunto por parte dos Estados europeus no sentido da construção de um futuro comum, na medida em que esta é a única forma de poderem determinar o seu destino. Princípios fundamentais As Comunidades Europeias (CECA, CEE e Euratom) são o fruto do desejo de uma Europa unida, uma ideia que gradualmente tomou forma como resposta direta aos acontecimentos que tinham abalado o continente. Após a Segunda Guerra Mundial, as indústrias estratégicas, em particular a indústria siderúrgica, necessitavam de ser reorganizadas. O futuro da Europa, ameaçado pelo confronto Leste-Oeste, passava por uma reconciliação franco-alemã. 1. Pode-se considerar que o apelo lançado em 9 de maio de 1950 por Robert Schuman, Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, foi a pedra de toque da integração europeia. Nessa época, a escolha do carvão e do aço tinha um grande significado simbólico: com efeito, no início da década de 1950, a indústria do carvão e a indústria siderúrgica desempenhavam um papel fundamental na medida em que constituíam a base do poder económico de um país. Para além de um interesse económico patente, a congregação dos recursos da França e da Alemanha assinalou o fim do antagonismo entre estes dois países. Em 9 de maio de 1950, Robert Schuman declarava o seguinte: Não é possível construir a Europa de uma assentada e tampouco segundo um único plano. A Europa tem de ser construída através de realizações concretas que, antes de mais, contribuirão para criar uma solidariedade de facto. Foi com base neste princípio que a França, a Itália, a Alemanha e os países do Benelux (Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo) assinaram o Tratado de Paris que, fundamentalmente, garantia o seguinte: • a livre circulação de mercadorias e o livre acesso às fontes de produção; • um controlo permanente do mercado para evitar distorções suscetíveis de conduzirem à criação de quotas de produção; • o respeito das regras em matéria de concorrência e de transparência dos preços; • apoios à modernização e à reconversão dos setores do carvão e do aço. 2. Após a assinatura do Tratado de Paris e, embora a França se opusesse à reconstituição de uma força militar nacional alemã, René Pleven avançou com a ideia de se criar um exército europeu. A Comunidade Europeia de Defesa (CED), negociada em 1952, seria acompanhada por uma Comunidade de natureza política (CEP). Depois de a Assembleia Nacional francesa se ter recusado, em 30 de agosto de 1954, a ratificar o Tratado, ambos os projetos foram abandonados. 3. Na sequência do malogro da CED, os esforços no sentido de um relançamento do processo de integração europeia viriam a assumir a forma de propostas específicas no que respeita a uma união aduaneira e à energia atómica na Conferência de Messina, realizada em de junho de 1955. Estes esforços viriam a culminar na assinatura do Tratado CEE e do Tratado CEEA. a. As disposições do Tratado CEE (Tratado de Roma)[2] incluíam, nomeadamente, o seguinte: • a supressão dos direitos aduaneiros entre os Estados-Membros; • a criação de uma pauta aduaneira externa comum; • a introdução de uma política comum no domínio da agricultura e dos transportes; • a criação de um Fundo Social Europeu; • a criação de um Banco Europeu de Investimento; • o aprofundamento das relações entre os Estados-Membros. Para alcançar estes objetivos, o Tratado CEE definiu os princípios orientadores e o quadro para as atividades legislativas das instituições comunitárias. Estes incluíam as seguintes políticas comuns: a política agrícola comum (artigos 38.º a 43.º), a política dos transportes (artigos 74.º e 75.º) e a política comercial comum (artigos 110.º a 113.º). O mercado comum garantiria a livre circulação de mercadorias e a mobilidade dos fatores de produção (a livre circulação dos trabalhadores e das empresas, a liberdade de prestação de serviços e a livre circulação de capitais). b. O Tratado Euratom previa objetivos muito ambiciosos, nomeadamente, a formação e o crescimento rápido das indústrias nucleares». Contudo, o caráter complexo e sensível do setor nuclear, que afeta interesses fundamentais dos Estados-Membros (a defesa e a soberania nacional), fizeram com que as ambições do Tratado Euratom tivessem de ser revistas em baixa. 4. A Convenção relativa a certas instituições comuns às Comunidades Europeias, que foi assinada e que entrou em vigor ao mesmo tempo que os Tratados de Roma, previa que a Assembleia Parlamentar e o Tribunal de Justiça seriam instituições comuns. Esta Convenção caducou em 1 de maio de 1999. Só restava fundir os executivos; o Tratado que institui um Conselho único e uma Comissão única das Comunidades Europeias, de 8 de abril de 1965, conhecido por Tratado de Fusão concluiu devidamente o processo de unificação das instituições. Desde então, a CEE tem proeminência em relação às comunidades setoriais da CECA e da CEEA. Isto representou a vitória do sistema de caráter geral da CEE sobre a coexistência de duas organizações com competências setoriais assim como a criação das suas instituições. Desenvolvimentos que conduziram ao Ato Único Europeu Desenvolvimentos que conduziram ao Ato Único Europeu Os principais desenvolvimentos dos primeiros Tratados estão relacionados com a criação de recursos próprios da Comunidade, o reforço dos poderes do Parlamento em matéria orçamental, a eleição dos deputados europeuspor sufrágio universal direto e a criação do Sistema Monetário Europeu. A entrada em vigor do Ato Único Europeu em 1986, que veio alterar consideravelmente o Tratado de Roma, reforçou a ideia da integração através da criação de um grande mercado interno. Principais realizações na fase inicial de integração O artigo 8.º do Tratado de Roma que institui a Comunidade Económica Europeia (CEE), também conhecido por “Tratado de Roma, previa a realização de um mercado comum ao longo de um período transitório de 12 anos, dividido em três fases, cuja conclusão estava prevista para 31 de dezembro de 1969. O seu primeiro objetivo, a união aduaneira, concretizou-se mais cedo do que previsto. O período transitório previsto para o alargamento dos contingentes e a supressão progressiva das alfândegas internas acabaria em 1 de julho de 1968. Porém, no final do período transitório, subsistiam ainda grandes obstáculos à livre circulação. Nessa altura, a Europa adotou uma pauta externa comum que se aplicaria às trocas comerciais com países terceiros. A criação de uma «Europa verde» constituía outro grande projeto da integração europeia. Assim, viriam a adotar-se os primeiros regulamentos sobre a Política Agrícola Comum (PAC) e, em 1962, viria a criar-se o Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola (FEOGA). Primeiras alterações aos Tratados A. Melhorias institucionais A primeira modificação institucional foi introduzida pelo Tratado de Fusão de 8 de abril de 1965, que fusionou os órgãos executivos. Esta fusão entrou em vigor em 1967 com a criação de um Conselho e uma Comissão únicos para as Comunidades Europeias (CECA, CEE, CEEA) e a introdução do princípio da unidade orçamental. B. Recursos próprios e poderes orçamentais A Decisão do Conselho, de 21 de abril de 1970, criou um sistema de recursos próprios da Comunidade, em substituição das contribuições financeiras pelos Estados-Membros (vide O Tratado do Luxemburgo, de 22 de abril de 1970, conferiu ao Parlamento certos poderes em matéria orçamental • O Tratado de Bruxelas, de 22 de julho de 1975, conferiu ao Parlamento o direito de rejeitar o orçamento e de conceder quitação à Comissão pela execução do orçamento. Este mesmo Tratado instituiu o Tribunal de Contas, organismo responsável pela fiscalização das contas e pela gestão financeira da Comunidade C. Eleições O Ato de 20 de setembro de 1976 conferiu uma nova legitimidade e uma nova autoridade ao Parlamento, nomeadamente introduzindo a sua eleição por sufrágio universal direto. O Ato foi revisto em 2002, tendo-se introduzido o princípio geral da representação proporcional e outras disposições-quadro que regiam as eleições europeias nas legislações nacionais. D. Alargamentos O Reino Unido aderiu em 1 de janeiro de 1973, ao mesmo tempo que a Dinamarca e a Irlanda; o povo norueguês votou contra a adesão no âmbito de um referendo. A Grécia tornou-se membro em 1981; Portugal e Espanha aderiram em 1986. E. Orçamento da UE Após a primeira série de alargamentos surgiram apelos no sentido de um maior rigor orçamental e de uma reforma da PAC. Em 1979, o Conselho Europeu chegou a acordo sobre uma série de medidas adicionais. Os acordos de Fontainebleau, de 1984, previam uma solução sustentável com base no princípio de que é possível efetuar ajustamentos para ajudar um Estado-Membro com um encargo financeiro excessivo em termos da sua prosperidade relativa. Planos para uma maior integração Propiciado pelos primeiros êxitos da comunidade económica, o objetivo de também criar uma união política entre os Estados-Membros voltou a surgir no início da década de 1960, não obstante o malogro da Comunidade Europeia de Defesa (CED) em agosto de 1954. A. Fracasso da tentativa para alcançar uma união política Na Cimeira de Bona, de 1961, os Chefes de Estado e de Governo dos seis Estados- Membros fundadores da Comunidade Europeia encarregaram uma comissão intergovernamental presidida pelo Embaixador francês Christian Fouchet de apresentar propostas sobre o estatuto político de uma união dos povos da Europa. Entre 1960 e 1962, essa comissão de estudo tentou, em vão, por duas vezes, submeter aos Estados-Membros um projeto de Tratado que fosse aceitável para todos, embora o Plano Fouchet se baseasse no respeito estrito pela identidade de cada Estado-Membro, recusando assim uma solução federal. Na ausência de uma comunidade política, criou-se, em substituição, a Cooperação Política Europeia, ou CPE. Na Conferência da Cimeira de Haia, de dezembro de 1969, os Chefes de Estado e de Governo decidiram estudar a melhor forma de alcançar progressos no domínio da união política. O Relatório Davignon, aprovado pelos Ministros dos Negócios Estrangeiros em outubro de 1970 e ampliado posteriormente por outros relatórios, constituiu a base da CPE até à entrada em vigor do Ato Único Europeu. B. Crise de 1966 Na terceira fase do período de transição, o projeto que visava alterar as modalidades de votação no Conselho para substituir a regra da unanimidade em determinados domínios pela da votação por maioria qualificada provocou uma crise grave. A França, que não concordava com algumas das propostas da Comissão, que incluíam medidas para financiar a Política Agrícola Comum, deixou de participar nas principais reuniões comunitárias (a chamada política da cadeira vazia). Chegou-se finalmente a um acordo com o chamado Compromisso do Luxemburgo (vide ficha, nos termos do qual, sempre que estivessem em jogo interesses muito importantes de um ou vários países, os membros do Conselho deveriam envidar esforços para encontrar soluções que pudessem ser adotadas por todos, sem que tal prejudicasse os respetivos interesses. C. Importância crescente das cimeiras europeias Ainda que fora do quadro institucional das Comunidades, as Conferências dos Chefes de Estado e de Governo dos Estados-Membros começaram a nortear a ação política e a resolver problemas que o Conselho de Ministros não lograva solucionar. Após as primeiras reuniões de 1961 e 1967, estas conferências ganharam mais relevo com a Cimeira da Haia, de 1 e 2 de dezembro de 1969, que conduziu à abertura das negociações sobre o alargamento da Comunidade e permitiu um acordo sobre o regime financeiro da Comunidade, e com a Cimeira de Fontainebleau (em dezembro de 1974), durante a qual foram tomadas importantes decisões políticas sobre a eleição direta do Parlamento Europeu e o processo de decisão do Conselho. Nessa cimeira, os Chefes de Estado e de Governo também decidiram reunir-se três vezes por ano enquanto Conselho Europeu para debater assuntos comunitários e a cooperação política D. Reforma institucional e política monetária O final da década de setenta foi marcado por várias iniciativas dos Estados-Membros para alinharem as suas políticas económicas e orçamentais. Para resolver o problema da instabilidade monetária e dos seus efeitos adversos na Política Agrícola Comum e na coesão entre os Estados-Membros, os Conselhos Europeus de Bremen e de Bruxelas criaram, em 1978, o Sistema Monetário Europeu (SME). Estabelecido numa base voluntária e diferenciada, o Reino Unido decidiu não participar no mecanismo de taxas de câmbio, o SME assentava numa unidade de conta comum, o ECU. No Conselho Europeu de Londres, de 1981, os Ministros dos Negócios Estrangeiros da Alemanha e da Itália, Hans-Dietrich Genscher e Emilio Colombo, apresentaram uma proposta de «Ato Europeu» abrangendo os seguintes domínios: cooperação política, cultura, direitos fundamentais, harmonização das legislações não abrangidas pelos Tratados comunitários e combate à violência, ao terrorismo e à criminalidade. Este ato nunca chegou a ser adotado enquanto tal, mas alguns dos seus elementos foram integrados na Declaração Solene sobre a União Europeia», adotada em Estugarda, em 19 de junho de 1983. E. Projeto Spinelli Alguns meses depois da primeira eleição direta em 1979, as relações doParlamento com o Conselho sofreram uma profunda crise com o orçamento para o ano de 1980. Por iniciativa do Deputado Altiero Spinelli, fundador do Movimento Federalista Europeu e ex-Comissário, um grupo de nove eurodeputados reuniu-se, em julho de 1980, para debater formas de revitalizar o funcionamento das instituições. Em julho de 1981, o Parlamento criou uma Comissão dos Assuntos Constitucionais, da qual Spinelli fazia parte como relator- coordenador, que foi encarregada de elaborar um projeto de alteração dos Tratados existentes. Esta comissão decidiu elaborar um projeto que viria a tornar-se a constituição da União Europeia. O projeto de Tratado foi aprovado por larga maioria em 14 de fevereiro de 1984. Este prevê que o poder legislativo será exercido por um sistema bicamerário muito semelhante ao de um Estado federal. Este sistema visava alcançar um equilíbrio entre o Parlamento e o Conselho, mas este não era aceitável para os Estados-Membros. Ato Único Europeu O Conselho Europeu, na sua reunião de Fontainebleau de junho de 1984, depois de ter resolvido o contencioso em matéria orçamental na Comunidade do início dos anos 1980, decidiu criar um comité ad hoc de representantes pessoais dos Chefes de Estado e de Governo, denominado Comité Dooge em homenagem ao seu presidente. Este comité foi incumbido de apresentar propostas para melhorar o funcionamento do sistema comunitário e da cooperação política. O Conselho Europeu de Milão, que teve lugar em junho de 1985, decidiu, por maioria (7 votos a favor e 3 votos contra), num procedimento excecional para esta instância, convocar uma Conferência Intergovernamental encarregada de estudar as competências das instituições, o alargamento dos domínios de atividade da Comunidade a novos domínios e a criação de um «verdadeiro» mercado interno. Em 17 de fevereiro de 1986, nove Estados-Membros procederam à assinatura do Ato Único Europeu (AUE), a que se seguiram, em 28 de fevereiro de 1986, a Dinamarca (na sequência do resultado favorável de um referendo), a Itália e a Grécia. O Ato foi ratificado pelos parlamentos dos Estados-Membros em 1986, mas, devido a um recurso interposto junto dos tribunais irlandeses por um particular, a sua entrada em vigor sofreu um atraso de seis meses e só se concretizou em 1 de julho de 1987. O AUE constituiu a primeira modificação substancial do Tratado de Roma. As suas principais disposições são as seguintes: A. Alargamento das competências da União 1. Através da criação de um grande mercado interno O objetivo consistia em criar, até 1 de janeiro de 1993, um mercado interno totalmente operacional que retomasse e alargasse o objetivo do mercado comum criado em 1958 2. Através da criação de novas competências nos seguintes domínios: • política monetária, • política social; • coesão económica e social; • investigação e desenvolvimento tecnológico; • ambiente; • cooperação no domínio da política externa. B. Melhoria da capacidade de decisão do Conselho de Ministros A votação por maioria qualificada substituiu a votação por unanimidade em quatro dos domínios de competência existentes da Comunidade (modificação da pauta aduaneira comum, liberdade de prestação de serviços, livre circulação de capitais e política comum dos transportes marítimos e aéreos). A votação por maioria qualificada também foi introduzida em várias novas áreas de competência, como o mercado interno, a política social, a coesão económica e social, a investigação e o desenvolvimento tecnológico, bem como a política ambiental. Por fim, a votação por maioria qualificada foi objeto de uma alteração do regulamento interno do Conselho tendo em vista adaptá-lo a uma declaração da Presidência anterior, segundo a qual, no futuro, o Conselho poderia ser chamado a votar não apenas por iniciativa do seu Presidente, mas também a pedido da Comissão ou de um Estado-Membro caso houvesse uma maioria simples dos membros do Conselho que se pronunciasse a favor. C. Reforço do papel do Parlamento Europeu Os seguintes aspetos contribuíram para reforçar os poderes do Parlamento: • a conclusão, pela Comunidade, de acordos de alargamento e de acordos de associação deve obter o parecer favorável do Parlamento; • a introdução de um processo de cooperação com o Conselho, que conferiu ao Parlamento verdadeiros poderes legislativos, se bem que limitados, que se aplicou, na altura, a cerca de uma dezena de bases jurídicas e que marcou um ponto de viragem decisivo para a transformação do Parlamento num verdadeiro órgão colegislador. Os Tratados de Maastricht e de Amesterdão I. O Tratado de Maastricht O Tratado da União Europeu, assinado em Maastricht a 7 de fevereiro de 1992, entrou em vigor em 1 de novembro de 1993. A. Estruturas da União Ao instituir a União Europeia, o Tratado de Maastricht marcou uma nova etapa no processo, criando uma união cada vez mais estreita entre os povos europeus. A União Europeia foi instituída com base nas Comunidades Europeias e é apoiada pelas políticas e formas de cooperação instauradas pelo Tratado da União Europeia. A União dispunha de um quadro institucional único, composto pelo Conselho Europeu, o Parlamento Europeu, a Comissão Europeia, o Tribunal de Justiça e o Tribunal de Contas, que, em sentido estrito, constituíam, nessa altura, as únicas instituições da União e exerciam os seus poderes em conformidade com as disposições dos Tratados. O Tratado instituiu o Comité Económico e Social e o Comité das Regiões, que exercem funções consultivas. Nos termos do Tratado, foram instituídos o Sistema Europeu de Bancos Centrais e o Banco Central Europeu, além das instituições financeiras existentes no grupo BEI, nomeadamente o Banco Europeu de Investimento e o Fundo Europeu de Investimento. B. Competências da União A União criada pelo Tratado de Maastricht foi investida de determinadas competências, classificadas em três grandes grupos, habitualmente designados por pilares: o primeiro pilar era constituído pelas Comunidades Europeias e fornecia um quadro no âmbito do qual deveriam ser exercidas pelas instituições comunitárias as competências que eram objeto de transferência de soberania pelos Estados-Membros nos domínios visados pelo Tratado; o segundo pilar era constituído pela política externa e de segurança comum, regida pelas disposições do Título V do Tratado da União Europeia; o terceiro pilar era constituído pela cooperação nos domínios da justiça e dos assuntos internos, prevista no Título VI do Tratado. As disposições dos títulos V e VI estabeleciam uma cooperação de tipo intergovernamental que recorria a instituições comuns e se encontrava dotada de certos elementos supranacionais, nomeadamente a associação da Comissão Europeia e a consulta do Parlamento Europeu. 1. A Comunidade Europeia (primeiro pilar) A Comunidade tinha por missão garantir o bom funcionamento do mercado único, um desenvolvimento harmonioso, equilibrado e sustentável das atividades económicas, um elevado nível de emprego e de proteção social e a igualdade entre mulheres e homens. Eram estes os objetivos a concretizar pela Comunidade, dentro dos limites dos poderes que lhe tinha sido confiados, através do estabelecimento de um mercado comum e de medidas afins, consignadas no artigo 3.º do Tratado CE, bem como da adoção de uma política económica e de uma moeda única, nos termos do artigo 4.º. A ação da Comunidade devia respeitar o princípio da proporcionalidade e, nos domínios que não fossem da sua competência exclusiva, o princípio da subsidiariedade (artigo 5.º do Tratado CE). 2. A Política Externa e de Segurança Comum (PESC) (segundo pilar) A União tinha por missão definir e implementar, através de métodos intergovernamentais, uma política externa e de segurança comum. Os Estados-Membros deviam apoiar esta política ativamente e sem reservas, num espírito de lealdade e de solidariedade mútuas. Esta política tinha como objetivos: a salvaguardados valores comuns, dos interesses fundamentais, da independência e da integridade da União, de acordo com os princípios da Carta das Nações Unidas; o reforço da segurança da União sob todas as formas; o fomento da cooperação internacional; o desenvolvimento e o reforço da democracia e do Estado de direito, bem como o respeito dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais. 3. A cooperação nos domínios da justiça e dos assuntos internos (terceiro pilar) Cabia à União desenvolver uma ação comum nestes domínios através de métodos intergovernamentais, a fim de proporcionar aos cidadãos um elevado nível de proteção num espaço de liberdade, segurança e justiça. Esta ação incidia sobre os seguintes domínios: • regras relativas à passagem das fronteiras externas da Comunidade e reforço dos controlos; • luta contra o terrorismo, a grande criminalidade, o tráfico de droga e a fraude internacional; • cooperação judiciária em matéria penal e civil; • criação de um Serviço Europeu de Polícia (Europol) dotado de um sistema de intercâmbio de informações entre as forças policiais nacionais; • luta contra a imigração clandestina; • política de asilo comum. II. O Tratado de Amesterdão O Tratado de Amesterdão, que modificou o Tratado da União Europeia e os Tratados que instituem as Comunidades Europeias e certos atos afins, foi assinado em Amesterdão, em 2 de outubro de 1997, e entrou em vigor em 1 de maio de 1999. A. Aumento das competências da União 1. Comunidade Europeia A nível dos objetivos, foi dada particular atenção ao desenvolvimento equilibrado e sustentável e a um elevado nível de emprego. Foi criado um mecanismo de coordenação das políticas de emprego dos Estados-Membros, bem como a possibilidade de implementação de determinadas medidas comunitárias neste domínio. O acordo sobre a política social foi integrado no Tratado CE com alguns melhoramentos (supressão do opt out). O método comunitário passou a aplicar-se a importantes domínios que até então se integravam no «terceiro pilar», tais como o asilo, a imigração, a passagem das fronteiras externas, a luta contra a fraude, a cooperação aduaneira e a cooperação judiciária em matéria civil, bem como a uma parte da cooperação «Schengen», cujo acervo completo foi assumido pela União e pelas Comunidades. 2. União Europeia A cooperação intergovernamental nos domínios da cooperação policial e judiciária em matéria penal foi reforçada com a definição de objetivos e tarefas específicas e com a criação de um novo instrumento jurídico análogo a uma diretiva. Os instrumentos da Política Externa e de Segurança Comum foram desenvolvidos posteriormente, em especial através da criação de um novo instrumento, a estratégia comum, cuja implementação deveria fazer- se normalmente através de decisão por maioria, de um novo cargo, o de «Secretário-Geral do Conselho responsável pela PESC», e de uma nova estrutura, a «Unidade de Planeamento de Política e de Alerta Precoce». B. Reforço do papel do Parlamento Europeu No âmbito do processo de codecisão, que passou a abranger também 15 bases jurídicas já existentes no Tratado CE, o Parlamento Europeu e o Conselho tornaram-se colegisladores praticamente em pé de igualdade. Com exceção da política agrícola e da política da concorrência, o processo de codecisão aplicava-se a todos os domínios nos quais o Conselho estava habilitado a deliberar por maioria qualificada. Em quatro casos (os artigos 18.º, 42.º e 47.º, bem como o artigo 151.º, sobre a política da cultura, que não sofreu alterações), o processo de codecisão era sempre conjugado com o requisito de uma decisão unânime do Conselho. Os restantes domínios legislativos que exigiam unanimidade não eram abrangidos pela codecisão. 2. Poder de controlo Além de aprovar a Comissão enquanto colégio, o Parlamento Europeu procedia, igualmente, a um voto prévio de aprovação do presidente designado da futura Comissão (artigo 214.º). 3. Eleição e estatuto dos deputados Quanto ao procedimento de eleição por sufrágio universal direto do Parlamento Europeu (artigo 190.º do Tratado CE), cabia agora à Comunidade o estabelecimento de princípios comuns, além da adoção de um procedimento uniforme. No mesmo artigo foi inserida uma base jurídica que permitia a adoção de um estatuto único dos deputados. Todavia, ainda não existia uma disposição que permitisse tomar medidas com vista ao desenvolvimento de partidos políticos a nível europeu (cf. artigo 191.º). C. Cooperação reforçada Pela primeira vez, os Tratados continham disposições gerais que possibilitavam, em determinadas condições, que um certo número de Estados-Membros recorresse às instituições comuns para organizar uma cooperação reforçada entre si. Esta faculdade veio juntar-se aos casos de cooperação reforçada regida por disposições específicas, como a União Económica e Monetária, a criação do espaço de liberdade, segurança e justiça e a integração do acervo de Schengen. Os domínios suscetíveis de ser objeto de uma cooperação reforçada eram os do terceiro pilar e, em condições particularmente restritivas, as matérias que não dependessem da competência exclusiva da Comunidade. As condições necessárias a toda e qualquer cooperação reforçada, bem como os mecanismos de decisão previstos, foram concebidos por forma a garantir que esta nova modalidade do processo de integração fosse uma solução de exceção e que, em qualquer caso, só pudesse ser utilizada com o intuito de realizar progressos no processo de integração, e não provocar qualquer retrocesso. D. Simplificação O Tratado de Amesterdão eliminou dos Tratados europeus todas as disposições que caducaram ou se tornaram obsoletas pela evolução dos tempos, evitando que os efeitos jurídicos delas decorrentes no passado fossem afetados por esta supressão. Previa, igualmente, uma nova numeração dos Tratados. Por motivos jurídico-políticos, o Tratado foi assinado e submetido a ratificação sob a forma de alterações aos Tratados em vigor. E. Reformas institucionais na pespectiva do alargamento A. O Tratado de Amesterdão fixou o número máximo de deputados ao Parlamento Europeu, conforme solicitado por este, em 700 (artigo 189.º). B. A composição da Comissão e a questão da ponderação dos votos foram objeto de um protocolo relativo às Instituições» anexo ao Tratado. De acordo com as disposições deste último, numa União alargada a um máximo de 20 Estados-Membros, a Comissão seria composta por um nacional de cada Estado-Membro, desde que, nessa data, a ponderação dos votos no seio do Conselho tivesse sido modificada. Contudo, pelo menos um ano antes da adesão de um 21.º Estado-Membro, uma nova conferência intergovernamental deveria proceder a uma revisão completa das disposições institucionais dos Tratados. C. O recurso do Conselho à votação por maioria qualificada encontrava-se previsto num certo número de bases jurídicas recentemente criadas pelo Tratado de Amesterdão. No entanto, de entre as políticas comunitárias existentes, só no domínio da política de investigação são contemplados novos casos de votação por maioria qualificada e as outras políticas continuam a exigir a unanimidade. F. Outras questões O acervo da prática comunitária na aplicação do princípio de subsidiariedade foi retomado num protocolo sobre esta questão. A transparência foi melhorada por novas disposições que visam o acesso aos documentos (artigo 255.º) e a abertura dos trabalhos do Conselho no domínio legislativo (artigo 207.º, n.º 3). O papel do Parlamento Europeu O Parlamento Europeu era consultado antes da convocação de uma conferência intergovernamental, participando, além disso, nas conferências intergovernamentais numa base ad hoc. Nas últimas três conferências, foi representado, consoante o caso, pelo seu Presidente ou por dois dos seus membros.