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ARTIGO - Incapacidade e emancaipação da pessoa nastural- 18.03.2020

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A PESSOA NATURAL: incapacidade relativa e absoluta, emancipação 
e suprimento judicial de consentimento 
 
........................................................................................................................................ 
Zilmar Wolney Aires Filho. É advogado e professor pós-graduado em Direito 
Processual Civil. Mestre em Direito Civil. Membro da União Literária de Anápolis-GO, 
e da Academia de Letras Brasileira. Integra o quadro docente da Faculdade FIBRA 
em Anápolis-GO. 
........................................................................................................................................ 
 
 A parte geral do Código Civil, de inescondível riqueza de 
conteúdo, diretrizes e arremedos, traz notações sobre a incapacidade 
relativa e absoluta da pessoa natural e os critérios norteadores do 
instituto da emancipação, bem assim os requisitos para suprimento de 
consentimento paterno ou materno. 
 
 
1. Da capacidade e incapacidade absoluta e relativa 
 
 
 Insta realçar que as pessoas naturais, apesar de nascidas com 
vida, adquirindo suas personalidades, poderão não possuir pleno 
discernimento para os atos da vida civil. Essa assertiva remete-se ao 
silogismo diferenciador entre capacidade de direito e de fato. Grife-se, 
pois, que em decorrência da aquisição da personalidade, todas as 
pessoas, segundo a capacidade de direito, tornam-se sujeitas de direitos 
e obrigações na ordem civil. Acentue, não obstante, que apenas as 
pessoas capazes, na seara da capacidade de fato, possuem aptidão 
para gozar esses direitos. 
 
 Impõe anotar que até o advento do Estatuto da Pessoa com 
Deficiência (Lei 13.146-15), o atual Código civil elencava três 
circunstâncias no rol das pessoas absolutamente incapazes, tais sejam: 
os menores de 16 anos; os que, por enfermidade ou deficiência mental, 
não tivessem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida 
civil e, por fim, aqueles que, mesmo por causa transitória, não 
pudessem exprimir suas vontades. (art. 3º, do CC de 2002).1 O 
Legislador estatutário excepcional, municiado de suas reflexões retifica- 
 
1 Art. 3
o
 São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: 
I - os menores de dezesseis anos; 
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a 
prática desses atos; 
2 
 
doras, nesta ordem, concluiu que, no universo da incapacidade 
absoluta, deveria permanecer apenas os menores de 16 (dezesseis) 
anos (art. 3º, do CC).2 
 
 No tocante às questões de enfermidade e deficiência mental 
preferiu flexibilizar essas circunstâncias, ao entendimento de que elas 
não mais seriam relevantes para limitar a capacidade de manifesto das 
partes, por ocasião da prática dos seus atos na ordem civil. No que 
alude à circunstância da pessoa que, mesmo por causa transitória, não 
pudesse exprimir sua vontade, o Estatuto do Deficiente altera, retirando 
essa circunstância do anterior rol de incapacidade absoluta (art. 3º, do 
CC de 2002), para inseri-la no atual contexto das situações que 
identificam os relativamente incapazes. 
 
 Diversas mudanças foram introduzidas por meio da Lei 13.146-
15, não só no universo da capacidade e incapacidade das pessoas, mas 
principalmente no contexto dos procedimentos e exigências legais para 
o casamento. Constata-se, agora, que pessoas com enfermidade ou 
deficiência mental não estarão inabilitados para o casamento. Presume-
se que o novel Legislador deduziu que, promovendo essa espécie de 
salvo conduto matrimonial, os cônjuges com as referidas limitações 
mentais encontrariam alguém que pudesse protegê-los e, quem sabe, 
abrigá-los na seara do matrimônio. 
 
 O citado Autor da normativa se esqueceu, porém, que nesta 
postura flexibilizadora aos requisitos para o casamento, também, 
poderia restar instituída, definitivamente, a velha prática antiética do 
golpe do baú, onde, por exemplo, pessoas conhecedoras do lastro 
patrimonial de um enfermo ou deficiente mental, poderiam se aproximar 
deste, com nítida má-fé, para usurpar o seu patrimônio posteriormente. 
Cabe, portanto, aguardar, nesta vertente, melhores estudos doutrinários 
e jurisprudenciais, para as reacomodações necessárias. 
 
 Neste mesmo contexto modificativo, introduzido pelo Estatuto 
do Deficiente, analisa-se ainda que o Código Civil de 2002, até o 
advento da mencionada normativa, trazia em seu art. 4º, o rol de 
pessoas reconhecidas por relativamente incapazes, na seguinte 
perspectiva: os menores de 18 (dezoito) e maiores de 16 (dezesseis) 
 
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. (BRASIL. Código de 
Processo Civil de 2002). 
2 Art. 3 º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 
16 (dezesseis) anos. (BRASIL. Código de Civil de 2002). 
3 
 
anos; ébrios habituais, viciados em tóxicos, e os que, por deficiência 
mental, tivessem discernimento reduzido; os excepcionais sem 
desenvolvimento completo, e por fim, os pródigos. (art. 4º, do CC de 
2002).3 Insta consignar, não obstante, que a partir das alterações 
entronizadas por meio da Lei 13.146-15, a circunstância excepcionais 
sem desenvolvimento completo deixou de existir e, de outro lado, foi 
acrescentado o parâmetro, agora, de incapacidade relativa, referente 
àqueles que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir suas 
vontades. (art. 4º, do CC de 2002).4 
 
 Insta consignar, neste universo de incapacidade absoluta e 
relativa, que os menores impúberes, ou seja, aqueles situados na faixa 
etária inferior a 16 anos, muito embora possam ser lúcidos, deverão ser 
representados nos atos da vida civil. Consigne, noutra banda, que os 
relativamente incapazes deverão ser assistidos nos atos da vida civil. 
(art. 1.634, V, do CC).5 Registre-se, nesta seara, que os menores 
púberes, ou seja, aqueles constantes da faixa, maiores de 16 e menores 
de 18 anos, muito embora possam praticar determinados atos da vida 
civil, a exemplo de outorgar poderes em procuração; prestar 
depoimento; firmar testamento; fazer doação e renúncia e, enfim, 
assinar contrato de trabalho na condição de menor aprendiz, deverão 
ser assistidos para certos atos da vida civil. 
 
 Impende realçar que não se deve confundir as faixas etárias 
estipuladas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente com as demais 
Legislações. Note-se, pois, que na citada Legislação estatutária, a 
criança está compreendida na faixa etária inferior a 12 (doze) anos, ao 
passo que o adolescente na faixa etária superior a 12 (doze) e inferior a 
18 (dezoito) anos. Consigne que há reivindicações no sentido de 
ajustamento e padronização etária entre os regramentos do Código 
Civil, ECA, Estatuto do Idoso, e da Legislação penal. 
 
3 Art. 4
o
 São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: 
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; 
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o 
discernimento reduzido; 
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; 
IV - os pródigos. (BRASIL. Código Civil de 2002). 
4 Art. 4 º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: 
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; 
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; 
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; 
IV - os pródigos. (BRASIL. Código Civil de 2002). 
5 Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: 
V - representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos 
atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; (BRASIL. Código Civil de 2002).4 
 
 Cabe realçar, neste âmbito de relativamente incapazes, que os 
pródigos, ou seja, aqueles que não exercem controle sobre o patrimônio, 
também conhecidos por perdulários, exigem melhor atenção. Referidas 
pessoas deverão ser assistidas nos atos da vida civil, que envolverem 
interesse patrimonial. Grife-se, porém, que mencionados pródigos 
poderão praticar atos meramente administrativos, sem qualquer 
assistência. Eles também poderão casar, sem assistência, desde que o 
regime de casamento seja o da separação absoluta de bens. (art. 1.782, 
do CC).6 
 
 A situação dos índios, silvícolas, surdos-mudos, cegos, 
analfabetos, nesta seara de incapacidade, possui tratamento especial. 
Eles serão analisados se, por outras circunstâncias ou faculdades, 
possuem discernimento para a prática de determinados atos. Registre-
se, a título de ilustração, que os índios só poderão ser emancipados a 
partir dos 21 (vinte e um) anos, nos termos da Lei 6.001-73, desde que 
possuam economia própria e esclarecimento necessário para a prática 
dos atos da vida civil. Cabe analisar, também, caso a caso, a situação 
daqueles que estejam em transe mediúnico, hipnotizados e em estado 
sonambúlico, a fim de averiguar se restam constatadas essas 
circunstâncias inibidoras do livre manifesto. 
 
 Insta pontuar, que no Código Civil de 1916, os surdos-mudos 
faziam parte do rol dos absolutamente incapazes. Na atual Legislação 
civil, porém, foram excluídos dessa relação. Nesta seara, impende grifar 
que a expressão, loucos de todo gênero, é muito abrangedora e 
estigmatizante. Reflita-se, pois, que: “de poeta e louco, todos têm um 
pouco”. Nesse caso, uma adequada expressão a ser utilizada em 
substituição à citada expressão seria: os portadores de anomalia 
psíquica. 
 
 O Legislador civilista, também, pondera sobre a questão dos 
intervalos de lucidez, que inexiste para o ordenamento jurídico. Deve-se 
observar, neste sentido, se antes da prática do ato a pessoa possuía 
lucidez, e após tornou-se incapaz, oportunidade em que o ato produzirá 
todos os efeitos. Acentue-se, de outro lado, que caso aquela tenha 
praticado o ato em estado de incapacidade e, após alcançou a lucidez, 
referido ato não produzirá nenhum efeito. Insta consignar, deste modo, 
que pessoas interditadas, que posteriormente alcançam lucidez, terão 
 
6 Art. 1.782. A interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar quitação, 
alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de mera 
administração. (BRASIL. Código Civil de 2002). 
5 
 
levantadas a interdição. 
 
 
2. Emancipação 
 
 
 O atual Código Civil exalta que a capacidade plena da pessoa 
natural se dá aos 18 (dezoito) anos, em substituição à antiga assertiva 
do Código de 1916, que era aos 21 (vinte e um) anos de idade. (art. 5º, 
do CC).7 Grife-se, não obstante, que a pessoa natural atingindo essa 
faixa etária, e não possuindo o pleno discernimento, deverá ser assistida 
ou representada nos atos da vida civil, por quem de direito. 
 
 Nesta perspectiva, contudo, surgirão hipóteses em que a 
pessoa natural, não atingida a capacidade plena através da maioridade, 
necessitará de mecanismos judiciais, a exemplo da emancipação, para 
realização de contratos. Registre-se, aliás, que o ato emancipatório se 
dá apenas, a partir dos 16 (dezesseis) anos de idade. (art. 5º, parágrafo 
único, inciso I, do CC).8 
 
 A Legislação civilista orienta que circunstâncias, a exemplo da 
prática de atos comerciais, com economia própria e, do mesmo modo, a 
conclusão de curso de ensino superior, o casamento, e aprovação em 
concurso público, exsurgem enquanto circunstâncias emancipatórias da 
capacidade civil da pessoa natural. (art. 5º, parágrafo único, incisos III, 
IV, V, do CC).9 Anote-se, porém, que apenas o ingresso na instituição de 
ensino superior não dá ensejo à emancipação e, no mesmo sentido, o 
ingresso no serviço público na condição de estagiário em cargo de 
comissão ou confiança. Grife-se, enfim, que a união estável, uma vez 
equiparada ao casamento, pela atual Constituição Federal (art. 226, § 3 
 
7 Art. 5
o
 A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática 
de todos os atos da vida civil. (BRASIL. Código Civil de 2002). 
8 Art. 5
o
 […] 
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: 
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, 
independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver 
dezesseis anos completos; (BRASIL. Código Civil de 2002). 
9 Art. 5
o
 […] 
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: 
II - pelo casamento; 
III - pelo exercício de emprego público efetivo; 
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; 
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em 
função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. (BRASIL. Código Civil 
de 2002). 
6 
 
º),10 presta-se a esse fim emancipatório, após ser declarada judicialmen-
te. 
 
 A emancipação, com propósitos didáticos e de assimilação, é 
classificada em legal, judicial e convencional. A legal dá-se nas 
hipóteses estipuladas por lei, a exemplo do casamento, ou de atos de 
comércio com economia própria, ingresso no serviço público, ou 
concurso e conclusão de curso superior de ensino. A judicial verifica-se 
quando o juiz tiver que decidir, havendo conflito entre pais e filhos a 
serem emancipados, bem assim quando o menor estiver sob tutela, 
hipótese em que o tutor não poderá emancipar o seu pupilo, abrindo 
mão da sua responsabilidade. A emancipação convencional, enfim, 
exsurge do ato voluntário das partes. 
 
 Anote-se que o ato emancipatório, por regra, dependerá da 
assinatura de ambos os pais e do emancipado. Cabe observar, no 
entanto, que nem sempre os genitores estarão vivos, ou ambos poderão 
se fazer presentes, caso em que teremos a emancipação firmada por 
apenas um desses, ou do representante legal, por meio do instrumento 
de mandato. Outro aspecto relevante, quanto à solenidade do ato de 
emancipação, diz respeito à forma pública exigida em relação às suas 
hipóteses, a título condição necessária para averbação à margem do 
registro de nascimento do emancipado. (art. 9º, II, do CC).11 Ressalte-
se, todavia, que a emancipação judicial dispensa a escritura pública, 
haja vista que a sentença judicial supre este ato, ficando pendente 
apenas a averbação no registro de nascimento do emancipado. 
 
 Cabe observar que a emancipação se dá apenas, a partir dos 
16 (dezesseis) anos, e uma vez formalizada, possui caráter irrevogável, 
salvo as hipóteses de nulidade. Nesta vertente de faixa etária há 
exceção, no que alude aos militares, que ao ingressarem nas forças 
militares, com 17 (dezessete) anos, serão considerados emancipados. 
Questão delicada, nesta seara emancipatória, diz respeito às pessoas 
que recebiam alimentos, e perderam esse direito, após o casamento, 
que é ato emancipatório, apesar de ainda menores. Acentue, neste 
particular, que mesmo os ex-alimentandos pondo fim à sociedade 
 
10 Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher 
como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. (BRASIL. Código Civil 
de 2002). 
11 Art. 9
o
 Serão registrados em registro público: 
II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz; (BRASIL. Código Civil de 2002). 
7 
 
conjugal, tal prática não restabelece o benefício alimentar. Esse 
restabelecimento poderá dar-se apenas nos casos comprovados de 
nulidade do referido enlace matrimonial. 
 
 Insta realçar que a emancipação civilnão produz reflexos em 
relação à idade penal. Note-se, pois, que a pessoa mesmo emancipada 
para alguns atos da vida civil, não responderá por um ilícito, nos termos 
do Código Penal, enquanto efetivamente não atingir a maioridade penal. 
Responderá, portanto, por medidas socioeducativas nos regramentos do 
Estatuto da Criança e do Adolescente. Compreende-se, em decorrência, 
porque o emancipado, enquanto não atingir os 18 anos, não poderá 
habilitar-se como motorista, e no mesmo raciocínio, adentrar recintos 
inapropriados para menores. Reflita-se, neste contexto, que não se pode 
equivocar-se quanto ao fato do adolescente, que vota aos 16 anos, e 
por consequência de tal permissivo legal, poderia ter reconhecido em 
seu favor, a emancipação para os demais atos da vida civil. 
 
 
2.1 O suprimento de consentimento para o casamento 
 
 
 Na seara de exigências prévias para o casamento, cabe realce 
o aspecto daqueles que estão em idade núbil, ou seja, 16 (dezesseis) 
anos, e, por isso, necessitam ser assistidos na formalização do referido 
ato, pelos genitores, ou apenas pelo genitor, tutor, ou representante 
legal, na ausência daqueles. (art. 1.517, do CC).12 Nesta seara, cabe 
registrar, que não raras vezes, os titulares do poder familiar recusam 
autorizar o casamento, por motivo justo ou não, como se vê da 
circunstância de mera discriminação. (art. 1.648, do CC).13 Nesses 
casos, caberá ao magistrado, após pleito formulado, analisar as razões, 
para suprir ou não a autorização dos detentores do poder familiar. (art. 
1.517, parágrafo único, do CC).14 
 
 
12 Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de 
ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil. (BRASIL. 
Código Civil de 2002). 
13 Art. 1.648. Cabe ao juiz, nos casos do artigo antecedente, suprir a outorga, quando um dos 
cônjuges a denegue sem motivo justo, ou lhe seja impossível concedê-la. (BRASIL. Código Civil de 
2002). 
14 Art. 1.517. [...] 
Parágrafo único. Se houver divergência entre os pais, aplica-se o disposto no parágrafo único do art. 
1.631. (BRASIL. Código Civil de 2002). 
8 
 
 Impende salientar, que à partir da Lei 13.811,15 de 12.03.2019, 
deixou de existir a possibilidade de suprimento de idade para 
casamento, haja vista a proibição de enlace matrimonial de menores de 
16 (dezesseis) anos. Essa inovação legislativa gerou alteração no art. 
1.520 do Código Civil, que permitia, em caráter excepcional, o 
casamento de quem ainda não tivesse atingido a idade núbil. Assimila-
se, deste modo, que casamento, agora, apenas a partir dos 16 
(dezesseis) anos, e mesmo assim, no citado parâmetro etário, com o 
consentimento de ambos os pais, ou na ausência de um desses, de 
apenas um, ou do representante legal. 
 
 Grassa anotar que, mesmo antes da Lei n. 13.811-19, o 
casamento de grávidas e sem idade núbil, não mais constituía causa de 
exclusão da pena do crime de estupro de vulnerável, uma vez que o 
inciso VII, do art. 107, do Código Penal,16 havia sido revogado por meio 
da Lei n. 11.106-2005. Grife-se, pois, que uma vez configurado o 
referido ilícito contra a nubente vulnerável, e não mais sendo possível o 
casamento antes da idade núbil, o autor do crime, caso seja 
adolescente, estará sujeito às sanções do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, e sendo maior, às penalidades do Código Penal. 
 
 Reconhece-se zelo especial por parte do Legislador no tocante 
à garantia da livre e consciente manifestação da pessoa natural para as 
práticas dos atos da vida civil. Restou, portanto, positivada na legislação 
correlata, faixas etárias e circunstâncias, onde os cidadãos, evidencian-
do incapacidade relativa ou absoluta, deverão ser representados ou 
assistidos nos atos da vida civil. Reflete-se, deste modo, que prejuízos 
poderão ser atenuados no universo dos negócios jurídicos, quando 
entabulados em sintonia com essas garantias, e no mesmo passo, os 
excepcionais protegidos em suas práticas jurídicas. 
 
 
 ZILMAR WOLNEY AIRES FILHO 
 - Advogado e Professor Universitário, Especialista- 
 em processo civil e Mestre em Direito. 
 
 
15 Art. 1º O art. 1.520 da Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a vigorar com a 
seguinte redação: "Art. 1.520. Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não 
atingiu a idade núbil, observado o disposto no art. 1.517 deste Código.”(BRASIL. Lei 13.811 de 
12.03.2019). 
16 Art. 107, extingue-se a punibilidade: 
VII - pelo casamento do agente com a vítima, nos crimes contra os costumes, definidos nos Capítulos 
I, II, e III do Título VI da Parte Especial deste Código. (BRASIL. Código Penal). 
9 
 
ROTEIRO PARA EXPOSIÇÃO – PESSOA NATURAL – 28.10.2019 
 
I - INCAPACIDADE RELATIVA E ABSOLUTA 
 
- Recentes alterações introduzidas por meio Lei 13.146-2015 
- Estatuto da pessoa Deficiente 
- Limitação ao contexto do absolutamente incapaz 
- Mitigação dos reflexos de Deficiência e Enfermidade Mentais 
- Reflexos no contexto do casamento 
- Críticas pela institucionalização do golpe do baú 
- Exclusão da circunstância – excepcionais sem desenvolvimento completo 
- A inserção no rol dos relativamente incapazes da circunstância – pessoas 
 que, mesmo por causa transitória, não pudessem exprimir sua vontade – 
 no rol dos relativamente incapazes 
- Limitação de absolutamente incapazes às pessoas menores de 16 anos 
- Ébrios habituais e viciados em drogas, excluindo dessa assertiva os 
 portadores de deficiência mental com discernimento reduzido. 
 
a) Absolutamente incapazes – rol – os menores de 16 anos 
b) Relativamente incapazes – rol – os menores de 18 anos e maiores de 16 
 anos; ébrios habituais e viciados em tóxicos; os que, mesmo por causa 
 transitória não puderem exprimir suas vontades; e os pródigos. 
c) Casos atípicos e circunstâncias específicas: 
 
- Surdos-mudos 
- Cegos, analfabetos, silvícolas (índios) 
- Loucos de todo gênero - portadores de anomalia psíquica 
- Representação # Assistência – para os atos da vida civil 
- Voto dos adolescentes – discussão – plenitude civil 
- Exceções de práticas de atos por incapazes - testamento, contrato de tra- 
 balho aprendiz, oitiva como testemunha, mandato 
- Pródigos ou perdulários – atos de mera administração 
- Pródigos – venda, aquisição, transmissão, doação, casamento c/ pacto 
 antenupcial - impedimento 
- Cegos, analfabetos, idosos – apenas para determinados atos 
- Ausentes – no Código de 1916, sim, agora, não. 
- Surdo-mudos – podem ser absoluta ou relativamente incapazes 
- Loucos de todo gênero – anomalia psíquica – de poeta e louco todos têm.. 
- Sonâmbulos, hipnotizados, em transe mediúnico - 
- Anomalia psíquica, psicopatas, enfermidade congênita 
- Índios – segue a regra do Estatuto do Índio – Lei 6001/73 (Funai) 
- Índio – pratica de atos com conhecimento - validade 
- Intervalos de lucidez – impossibilidade 
- Ocultar idade p/ tirar proveito – impossibilidade 
- Incapacidade anterior e posterior – efeitos na prática dos atos 
10 
 
- Levantamento da interdição – inexistindo os motivos ensejadores 
- Índio, silvícola – Estatuto do Índio – 6001/73 - FUNAI 
- Cessação da incapacidade – circunstâncias – maioridade, emancipação, 
 casamento, emprego público efetivo; curso superior, estabelecimento civil 
 ou comercial, economia própria 
 
II - EMANCIPAÇÃO 
 
- Capacidade plena – de direito e de fato 
- Maioridade civil – aos 18 anos completos 
- Irrevogável – caráter 
- Separação, divórcio, anulação – não retorna a condição de incapaz 
- Casamento nulo com boa fé – retorna a condição de incapaz 
- Homicídio do cônjuge – responde pelo ECA 
- Capacidade # imputabilidade - efeitos civis e não penais – 
- Legal, Judicial, Convencional 
- Legal – hipóteses - casamento, comércio c/ economia própria, conclusãode curso superior, concurso público efetivo, militar aos 17 
anos. 
- Judicial – conflito entre os pais; sob tutela 
- Convencional – vontade de um ou ambos os cônjuges 
- Unilateral – Um só dos cônjuges 
- Convencional – escritura em Cartório com averbação no CRC 
- Através de tutor – impedimento legal – estaria livrando de uma obrigação 
 legal 
- Menor c/ tutor – emancipação judicial necessária – apenas consulta ao tutor 
- Perda dos direitos alimentícios 
- Emancipação do índio – c/ 21 anos – língua portuguesa e condição 
 profissional 
- Voto adolescente não é emancipação 
- Emprego público – exclui os diaristas, contratados e em comissão. 
- Alistamento e sorteio militar – emancipação aos 17 – lei especial 
- Ingresso em curso superior não emancipa apenas colação 
- Emprego público – há entendimento que deve ser funcionário da ad- 
ministração direta (excluindo-se, assim, os funcionários de 
autarquias e de entidades paraestatais). 
- Colação de grau e emprego público – pouca aplicação na vida prática. 
 
3.1 Suprimento judicial de consentimento para casar 
 
- Suprimento # Emancipação – 
- Suprimento judicial – não dá direito a voto, nem habilitação motorista 
- Suprimento judicial – não garante entrada em lugar vetado a meno- 
 res pelo ECA 
11 
 
- Suprimento de idade – idade núbil – inexiste (Lei 13.811, de 12.03.19) 
- Idade núbil – 16 anos para poder se casar 
- Consentimento – a partir da idade núbil 
- Suprimento de consentimento – discriminação 
- Recusa injusta no consentimento

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