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Responsabilidade Civil

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CAPÍTULO I – A RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
1.1- NOÇÕES GERAIS SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL 
A responsabilidade civil apresenta-se como uma figura jurídica com 
nítida expressão e com actualidade social e isso advém do crescente 
desenvolvimento científico e extraordinário avanço material da humanidade 
que cria benefícios e facilidades que elevam a exposição das pessoas aos 
inúmeros danos, suscitando em cada estante o dilema da responsabilidade 
como meio reparador dos danos causados de forma intencional ou não. A 
reparação visa restabelecer o equilíbrio económico-jurídico abalado pelo 
dano, cujo fundamento e a justiça e a solidariedade consagradas como 
objectivos fundamentais da República, segundo o artigo 1.º da C.R.A. 
Etimologicamente a palavra responsabilidade deriva do latim 
respondere, que significa, obrigação que alguém tem de assumir com as 
consequências. 
Não obstante as noções apresentadas por vários autores1, entendemos 
que a perspectiva de MARIA HELENA DINIZ é a que melhor se adequa ao 
presente estudo. Assim, para esta autora “a responsabilidade civil é a 
aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou 
 
1 Para ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO responsabilidade civil [é uma] forma de constituição 
das obrigações pela qual uma pessoa (o agente) fica adstrita a uma obrigação de indemnizar (a 
indemnização) outra pessoa (0 lesado). ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito 
Civil Português – Vol. II – Direito Das Obrigações, Tomo III, 2.ª edição, Almedina, Coimbra, 2010, 
p. 288. 
Para JOSÉ DUARTE NOGUEIRA; EDUARDO VERA-CRUZ PINTO “a responsabilidade civil é a 
situação em que se encontra alguém que tendo praticado um acto ilícito é obrigado a indemnizar 
outrem dos prejuízos que lhe causou” JOSÉ DUARTE NOGUEIRA; EDUARDO VERA-CRUZ 
PINTO, Lusíada. Direito, N.6, Responsabilidade Civil. Enquadramento Jus-Romanístico, Lisboa, 
2008, p. 156. 
 Para LUIS MANUEL TELES DE MENEZES LEITÃO “denomina-se responsabilidade civil o 
conjunto de factos que dão origem à obrigação de indemnizar os danos sofridos por outrem.”- cf. 
LUIS MANUEL TELES DE MENEZES LEITÃO, Direito das Obrigações –Volume I: Introdução 
da Constituição das Obrigações, 9ª ed., Almedina Editora, Coimbra, 2010, p.291. 
 Para INOCÊNCIO GALVÃO TELLES “A responsabilidade civil consiste na obrigação de 
reparar os danos sofridos por alguém” INOCÊNCIO GALVÃO TELLES, Direito das Obrigações, 
7ª ed., Wolters Kluwer, Coimbra Editora, Coimbra, 2010, p. 208. 
patrimonial causado a terceiros, em razão de acto do próprio imputado, de 
pessoa por quem ele responde, ou de facto, de coisa ou animal sob sua 
guarda, ou, ainda, de simples imposição legal”2. Definição esta que guarda, 
na sua estrutura, a ideia da culpa quando se cogita da existência de ilícito 
(responsabilidade subjectiva), e a do risco, ou seja, da responsabilidade sem 
culpa (responsabilidade objectiva). 
Desponta nas situações em que por força da lei, uma pessoa (devedor) 
está obrigada a consertar um dano sofrido por outra (credor). Traduz-se na 
obrigação de indemnização. 
A responsabilidade civil, fonte das obrigações3 faz parte do direito civil, 
ramo do direito privado, ela posiciona-se ao lado da responsabilidade penal 
ou criminal; da disciplinar; tributária e contraordenacional como modalidades 
da responsabilidade jurídica4, mas delas distancia-se de acordo com a 
natureza do dever violado. Uma vez que manifestam-se em campos 
diferentes: a responsabilidade civil tem como propósito, consertar de forma 
patrimonial os danos suportados por uma pessoa (interesses privados); a 
finalidade da responsabilidade penal é a protecção da sociedade contra os 
autores de episódios que atentam contra a ordem social (interesses 
colectivos), factos que pela sua gravidade são qualificados como crimes, cuja 
sanção (penas ou medidas de segurança) é diferente da simples 
indemnização patrimonial; já a responsabilidade disciplinar revela-se quando 
à violação de deveres impostos pela incorporação ou inclusão em 
determinada organização; a responsabilidade tributária tem como fito principal 
 
2 – cf. MARIA HELENA DINIZ, Curso de Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil, 24ª ed. 
São Paulo: Saraiva, 2010, p. 3. 
3 Segundo EDUARDO VERA-CRUZ PINTO, O conceito actual de obrigação encerra duas 
noções agora fundidas, que, primeiramente, estavam definidas com independência: de um lado 
o débito, o dever de cumprir a obrigação, do outro a responsabilidade, ou a sujeição ao 
recebimento de um prejuízo, se não se quer cumprir o débito. A noção de débito não é, com 
rigor, uma definição jurídica. Já resulta de uma construção jurídica a teia de vínculos que leva à 
sujeição do património, ou da pessoa do devedor, ao poder do credor, no sentido do cumprimento 
do débito. A este vínculo, garantia do dever, chamaram os romanos obligatio (obrigação). cf. 
EDUARDO VERA-CRUZ PINTO, O Direito das Obrigações em Roma, AAFDL, Lisboa, 1997, 
p.29. 
4 A responsabilidade jurídica constitui-se na situações em que determinada conduta viola uma 
norma jurídica ou direitos absolutos, causando prejuízos a sociedade ou ao individuo. Distingue-
se da responsabilidade moral que é completamente dominada pela consciência e que a 
manifestação exterior é desnecessária. 
responsabilizar alguém para o pagamento do imposto; e a responsabilidade 
contraordenacional é a consequência da prática de ilícitos de mera ordenação 
social, podendo ainda resultar da violação de regras de conduta de cariz 
predominantemente administrativo. 
1.1- BREVE HISTÓRICO SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL 
Antes do aparecimento das primeiras normas jurídicas, a humanidade 
foi marcada por um período em que estava instaurado o sistema de vingança 
privada aonde predominava a ideia de reação do mal pelo mal, ou seja, a 
pessoa aquém foi infringida determinado dano, tinha o direito de retribuir o 
dano, que poderia ser na esfera do seu agressor ou de um familiar dele. Uma 
retribuição apoiada na ligação da conduta humana e o dano, sem qualquer 
relevância na intenção do agente, caracterizava-se como uma resposta 
impensada em oposição ao mal suportado. 
A retribuição era quase sempre desproporcionada. O cumprimento da 
vingança corresponderia à realização de um código de honra, nele encontrado 
o seu fundamento e sentido exclusivo. 
Era uma forma de fazer justiça extremamente prejudicial, pois gerava 
um novo dano, que se traduzia na punição do agente ofensor. Uma forma 
negativa de reparar o dano com a punição do agressor. 
Com o desenvolvimento da humanidade o sistema de justiça privado foi 
perdendo a sua notoriedade. 
O Código de Hamurabi5 (século XVIII a. C.), não abandonou o sistema 
da vingança privada como meio de ressarcimento dos danos, mas, estipulou 
as situações que a vítima tinha direito de executar. A lei (ou pena) de talião é 
o ponto principal e fundamental para o Código de Hamurabi. 
 
5 Visto como a primeira legislação escrita de que se tem noticia, foi criado na Mesopotâmia 
(actual Iraque), pelo Rei Hamurabi, escrito em um bloco, tinha duzentos e oitenta e dois artigos. 
Aparentemente o objectivo do Código era fazer justiça através das suas leis taliônicas. 
Posteriormente a interferência dos poderes públicos com a ponto de 
evitar a anarquia e as contendas derivadas da vingança privada, manifestou-
se em duas vertentes: por um lado, os poderes públicos fixaram o montante 
das várias indemnizações pecuniárias e obrigaram os ofendidos a aceitá-las; 
por outro lado, passaram a punir certos factos que, em virtude de não 
afectarem directamente os particulares, ficavam desprovidos de sanção6. 
Num dado momento, e em paralelo a reparação do dano a que o 
causador se encontrava adstrito para com a vítima, as autoridades tambémo 
puniam, porque, apesar de circunscrever-se na esfera privada, a conduta do 
agressor acabava por desestabilizar a ordem social7. 
 A lei das XII tábuas8 (século V a. C.), escrita pelos romanos, 
reconheceu a possibilidade, de o causador do dano esgueirar-se da 
retribuição da mesma acção por parte do lesado, colocando em seu poder 
uma certa quantia monetária. O lesado em certas situações, era obrigado pela 
lei a permitir a composição com o agressor em troca de valores renunciando 
assim a justiça privada. 
Podemos falar numa socialização ou, se preferir numa linguagem de 
tipo “análise económica”, numa maior eficiência das sanções. Digamos que o 
sofrimento do agente, para além dos efeitos retorsivos e dissuasórios, nada 
adiantaria, no tocante à riqueza perdida pela vítima. Já o dever de ressarcir 
apresentaria um plano mais construtivo: permitiria, ao lesado, sair sem danos 
da situação criada9. 
A responsabilidade obrigacional (incumprimento de um contrato) teve a 
sua génese na tábua III ao consagrar “Aquele que confessar divida perante o 
 
6 MÁRIO JÚLIO DE ALMEIDA COSTA, Direito das Obrigações, 12ª ed., Almedina, Coimbra, 
2014, p. 525. 
7 A responsabilidade civil e a responsabilidade penal estavam unidas, isto é, a reparação do 
dano para a vítima e a punição para os poderes públicos. Esta união desfez-se ao longo do 
tempo. 
8 Criada em Roma, é uma das consequências do conjunto de exigências promovidas em pelos 
Plebeus (homens e mulheres livres que se dedicavam na prática da agricultura, comércio e 
artesanato, que apesar de constituírem a maioria da população, não eram considerados como 
cidadãos) em defesa da igualdade entre os cidadãos. 
9 ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil Português – Vol. II – Direito Das 
Obrigações, Tomo III, 2.ª edição, Almedina, Coimbra, 2010, p. 294-295. 
juiz, ou for condenado, terá trinta dias para pagar”. Expirado o prazo legal e 
não tendo pago, o devedor era levado à presença do juiz, se o devedor ou 
terceiro não liquidasse a dívida, o credor, tinha o direito de o amarrar e levá-
lo sob custódia durante sessenta dias. Terminado o prazo e caso não 
houvesse uma forma de liquidar a dívida, o devedor tornava-se escravo do 
credor, ou era vendido fora da cidade de Roma, ou ainda, ser esquartejado 
em função da pluralidade de credores. A supressão da escravidão, da morte 
e prisão do devedor e a permissão da apreensão dos bens marcaram a 
evolução da responsabilidade obrigacional. 
O instituto da responsabilidade civil ganhou um grande contributo com 
a aprovação da lex aquilia de damno10 que possuindo três capítulos, a lei 
congregava no primeiro capítulo disposições que tratavam da morte de 
escravos ou de animais, o indivíduo que deu causa a morte, estava obrigado 
a pagar ao dono, o preço mais alto que o escravo ou o animal valia no mercado 
no ano em que o dano se verificou; o segundo capítulo, consagrava que o 
adstipulator (mandatário para realização de certo negócio) que enganava ou 
prejudicava o mandante, estava obrigado a pagar-lhe outro tanto; o terceiro 
capítulo estipulava que deve responder pelo prejuízo todo aquele que causa 
a um escravo, ou a um animal quadrúpede alheio, qualquer espécie de dano 
que não o da morte, deve pagar ao proprietário, o preço mais alto que o 
escravo ou animal quadrúpede alcançaria no mercado, nos trinta dias 
precedentes. 
O terceiro capítulo da Lex Aquilia, constitui a parte de maior relevância 
para a compreensão do desenvolvimento da responsabilidade civil, de modo 
especial para a figura da responsabilidade extracontratual, se bem que, no 
segundo capítulo também encontramos laivos da responsabilidade contratual. 
 
10 De acordo com ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, "A lex aquilia foi, na realidade, um 
plebiscito, rogado por Aquilius, tribuno da plebe. A sua data exacta não é conhecida; vários 
estudos permitem colocá-la no mesmo ano em que foi aprovada lex hortensia (Lei Hortênsia) e 
portanto: 287 ou 286 a. C., ou entre 289 e 286 a. C. também as exactas circunstâncias, em que 
surgiu, levantam dúvidas e questões, que têm sido enfrentadas com especulações razoáveis, 
mas não comprovadas”. Tratado de Direito Civil Português – Vol. II – Direito Das Obrigações, 
Tomo III, 2.ª edição, Almedina, Coimbra, 2010, p. 295. 
Com um âmbito de aplicação restrito, a Lex Aquilia consagrou o facto 
ilícito como figura autónoma de qualquer relação obrigacional preexistente e 
trouxe o elemento culpa como fundamento da reparação do dano. Com o final 
da República a responsabilidade aquiliana estendeu o seu campo de 
aplicação e permitiu abranger cada vez mais danos, praticados com “injúria”; 
paralelamente, ficava assente, de uma vez por todas, que a sanção consistia 
num dever de indemnizar, por oposição a composições pessoais ou a práticas 
retorsivas ou taleónicas11. 
O Corpus Iuris Civilis12 aperfeiçoou, mas preservou a divisão da 
responsabilidade aquiliana e obrigacional. 
Realçando o modelo romano, o Código Civil Francês, de 21 de Março 
de 1804, afastou a regra de composição obrigatória e concebeu um princípio 
geral de responsabilidade civil, tornando-se num padrão de inspiração para a 
legislação moderna que moldou a culpa como critério fundamental. 
Contudo a revolução industrial veio demostrar que a culpa como 
condição da responsabilidade civil, não era suficiente para abranger todas as 
situações de dano, originado a restruturação da teoria da responsabilidade 
civil com a justificação de que todo risco decorrente de actividades que 
ofereçam perigo deve ser assegurado. A responsabilidade civil passou a 
basear-se não só na culpa (subjectiva), mas também no risco (objectiva). 
Em Angola a evolução da responsabilidade civil está estreitamente 
ligada ao desenvolvimento do direito português13 por força dos laços 
históricos, uma vez que Angola é uma antiga colónia portuguesa. O Código 
 
11 ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil Português – Vol. II – Direito Das 
Obrigações, Tomo III, 2.ª edição, Almedina, Coimbra, 2010, p. 297. 
12 Em português Corpo de Direito Civil é uma Lei que foi publicada entre 529 e 534 d. C. pelo 
imperador bizantino Justiniano I, com o objectivo de regular os litígios entre os particulares no 
império Bizantino. 
13 Segundo MÁRIO JÚLIO DE ALMEIDA COSTA, Pelo que toca à evolução do nosso direito, o 
problema ainda não está completamente esclarecido. Sabe-se, no entanto, que o seu rumo foi 
paralelo ao dos outros direitos europeus. Desde cedo se começou a distinguir, mais ou menos 
nitidamente, a responsabilidade civil da responsabilidade penal. Ao mesmo tempo que, 
superando-se a concepção arcaica da responsabilidade objectiva e colectiva, se caminhou para 
uma responsabilidade subjectiva e individual. Direito das Obrigações, 12ª ed., Almedina, 
Coimbra, 2014, p. 525-526. 
Civil Angolano14 adaptou a teoria subjectiva como regra, tal como consagra o 
n.º do 1 do Artigo 483.º do C.C., tendo em atenção a insuficiência da teoria 
subjectiva o legislador introduziu como excepção a teoria da responsabilidade 
civil objectiva baseada no risco conforme se depreende da leitura do n.º 2 do 
mesmo artigo. 
 FUNÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL 
A responsabilidade civil manifesta-se como forma de manutenção da 
paz e estabilidade socioeconómica nas relações pessoais e na vida em 
sociedade. Na qualidade de principais destinatários dos danos causados por 
alguém, a vítima e a sociedade reagem em unidade e solidariedade de que o 
dano deve ser reparado. 
A doutrina é unanime ao reconhecer que reparação do dano constitui a 
função primária da responsabilidade civil, traduz-se na reposição da vítima ao 
estado anterior à lesão, ou tornando-se impossível, indemnizando-opelo valor 
em dinheiro equivalente aos prejuízos causados. É com a existência do dano 
que o instituto da responsabilidade civil realiza a sua finalidade reparadora ou 
reintegrativa. 
O Código Civil consagra essencialmente a concepção clássica de que 
a função da responsabilidade civil é a reparação dos danos causados tal como 
prescreve o artigo 562.º: “Quem estiver obrigado a reparar um dano deve 
reconstituir a situação que existiria, se não se tivesse verificado o evento que 
obriga à reparação”. 
Este artigo, determina como princípio geral da obrigação de 
indemnização, o dever de restabelecimento das coisas no estado em que 
estariam, se não se tivesse produzido o dano. “Neste aspecto, tem-se 
 
14 Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47344, de 25 de Novembro de 1966, quando a República de 
Angola ainda era colônia portuguesa. Também denominado Código Vaz Serra em homenagem 
ao então Ministro da Justiça de Portugal. Com ligeiras alterações, vigora em Angola e trata da 
responsabilidade civil nos artigos 483.º a 510.º, mas ela encontra-se referenciada em mais de 
cem artigos do Código Civil. 
claramente em vista o dano real ou concreto (a perda ou deterioração da 
coisa, a violação do bom nome, etc.)”15. 
Excepcionalmente, sempre a que a reconstituição natural não seja 
possível, a indemnização é fixada em dinheiro, nos termos do artigo 566.º do 
Código Civil ou em renda conforme o vertido no artigo 567.º do mesmo 
diploma. 
Concordamos com MÁRIO JÚLIO DE ALMEIDA COSTA16 quando 
ressalta que “num ou noutro aspecto do regime da obrigação de indemnizar, 
pode ver-se aflorada a ideia de que a referida responsabilidade civil visa 
também, embora apenas assessoriamente, um escopo de repressão e 
prevenção desses actos ilícitos... O aspecto punitivo ou retributivo afigura-se 
estranho à responsabilidade objectiva ou por intervenções lícitas, dada a 
respectiva natureza. Todavia, não será, de algum modo, a ideia de prevenção, 
com vista a evitarem-se situações de risco e a estimular a vigilância das 
pessoas sobre os seus próprios comportamentos”. 
A obrigação de indemnização também apresenta-se como meio 
socioeducativo para a sociedade, constituindo uma forma de dissuasão de 
condutas geradoras de danos por parte dos membros da sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
15 PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, Vol. I, 4.ª ed., Coimbra, Coimbra 
Editora, 2011, p. 576. 
16 MÁRIO JÚLIO DE ALMEIDA COSTA, Direito das Obrigações, 12ª ed., Almedina, Coimbra, 
2014, p. 521 e 532. 
1.3 – CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL 
A origem ou o facto gerador da responsabilidade civil, bem como o 
elemento do dever de indemnizar obrigam a sua classificação em: a) 
responsabilidade civil contratual quando oriunda da inexecução de um 
negócio jurídico bilateral ou unilateral. Resulta de um ilícito contratual, ou seja, 
da falta de adimplemento ou da mora no cumprimento de qualquer obrigação. 
P. ex.: o escritor que, culposamente, não entrega ao editor, no prazo 
estipulado no contrato, a obra prometida; b) responsabilidade civil 
extracontratual ou aquiliana, não situações em que emerge do 
inadimplemento normativo, ou melhor, da prática de um acto ilícito, visto que 
não há vínculo anterior entre as partes, por não estarem ligadas por uma 
relação obrigacional ou contratual. A fonte dessa responsabilidade é a 
inobservância da lei, ou melhor, é a lesão a um direito, sem que entre o 
ofensor e o ofendido preexista qualquer relação jurídica. P. ex.: se alguém 
atropelar outrem, provocando lesão corporal, devera o causador do dano 
repara-lo (n.º 1 do artigo 483.º do C.C.) 
Em relação ao seu fundamento a responsabilidade civil pode ser: a) 
responsabilidade subjectiva quando encontrar justificação na culpa ou dolo 
por acção ou omissão, lesiva a determinada pessoa; b) responsabilidade 
objectiva, quando fundada no risco. 
Quanto ao agente, isto é, a pessoa que pratica a acção. A 
responsabilidade pode ser directa, quando for proveniente da própria pessoa 
imputada – o agente responderá, então por acto próprio; ou indirecta ou 
complexa, se promana de acto de terceiro, com o qual o agente tem vínculo 
legal de responsabilidade, de facto de animal e de coisas inanimadas sob sua 
guarda. 
1.3.1 - RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL E 
EXTRACONTRATUAL 
1.3.1.1 - RESPONSABILIDADE CONTRATUAL 
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A responsabilidade contratual17 nasce do incumprimento de um 
contrato, de negócios unilaterais ou da lei. É uma violação a um dever 
estipulado pelo arbítrio das partes envolvidas num negócio. Resulta de uma 
relação obrigacional preexistente. 
Surge como consequência do incumprimento em sentido amplo dos 
deveres relativos inerentes as obrigações, abarcando os deveres secundários 
de conduta, ainda que impostos por lei, no contexto da complexa relação 
obrigacional, por isso, para que exista, é necessário a preexistência de uma 
obrigação. O contrato é encarado como lei entre as partes e a sua violação e 
condição para que a responsabilidade contratual seja despoletada. 
A responsabilidade civil contratual encontra-se vertida nos artigos 798.º 
e seguintes do C. C., importante na regulação do contrato ou negócios 
unilaterais, o artigo 798.º do C.C. determina que: o devedor que falta 
culposamente ao cumprimento da obrigação torna-se responsável pelo 
prejuízo que causa ao credor. Desta norma, resulta uma clara equiparação 
dos pressupostos da responsabilidade contratual aos pressupostos da 
responsabilidade extracontratual18, uma vez que também aqui se estabelece 
 
17 Segundo JOÃO DE MATOS ANTUNES VARELA, “a expressão responsabilidade contratual 
não é inteiramente rigorosa, na medida em que a obrigação de reparação do dano por ela 
abrangida nem sempre resulta da violação de um contrato. Por isso, alguns autores sugerem 
outras designações, como fossem a de responsabilidade negocial (para abranger a violação das 
obrigações provenientes de negócio unilateral, inquestionavelmente sujeita ao mesmo regime) 
ou a de responsabilidade obrigacional (para compreender o não cumprimento das obrigações 
em sentido técnico, que não provenham de um negócio jurídico, mas da lei). 
 Simplesmente, a expressão responsabilidade obrigacional é equivoca, por não fazer a 
destrinça entre o dever de prestar, tendente ao cumprimento da obrigação, e o dever de 
indemnizar, correspondente ao seu não cumprimento, alem de não ser inteiramente liquida a 
aplicabilidade de todo o regime da responsabilidade proveniente do não cumprimento das 
obrigações negociais à violação das obrigações provenientes de outra fonte. 
 A fórmula responsabilidade negocial não tem nenhuma tradição por si, ao contrário da 
expressão responsabilidade contratual, que, pese embora a sua falta de rigor, está de há muito 
consagrada pelos usos linguísticos dos autores e dos tribunais, com sentido que se lhe dá no 
texto... A expressão responsabilidade delitual também suscita as suas reservas, já porque é vaga 
e imprecisa a noção de delito (quer no direito civil, quer no direito criminal, já porque a 
responsabilidade civil se estende muito para além dos casos de delitos tipificados na lei penal.” 
JOÃO DE MATOS ANTUNES VARELA, Das Obrigações Em Geral, vol. I, 10ª ed., Almedina, 
Coimbra, 2009, p. 519. 
18 ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO contesta essa equiparação porque segundo o autor 
“enquanto na esfera delitual, o legislador português tinha adoptado o sistema alemão baseado 
na distinção entre culpa e ilicitude, na esfera obrigacional já se tinha influenciado pelo sistema 
francês, que unifica culpa e ilicitude num conceito omnicompreensivo de faute. Haveria assim,por força do art. 799.º, n.º 1, uma presunção de faute na responsabilidade obrigacional, que não 
consistiria numa simples presunção de culpa, mas antes numa presunção simultânea de ilicitude, 
uma referência a um facto voluntario do devedor (“o devedor que”), cuja 
ilicitude resulta do não cumprimento da obrigação (“falta (...) ao cumprimento 
da obrigação”), exigindo-se da mesma forma a culpa (“culposamente), o dano 
(“torna-se responsável pelos prejuízos”) e o nexo de causalidade entre o facto 
e o dano (“que causa ao credor”)19. 
Na responsabilidade contratual são amparados todos os prejuízos 
sofridos e as vantagens que o credor deixou de angariar pelo facto de o 
devedor não realizar a prestação a que está vinculado, nos termos do artigo 
798.º do C.C., à esta obrigação de indemnização são aplicáveis as 
disposições dos artigos 562.º e seguintes do C.C. 
A responsabilidade contratual, só existe quando a violação da obrigação 
é imputada ao próprio devedor conforme verte o artigo 798.º do C.C. ou aos 
seus representantes legais ou auxiliares tal como estatui o artigo 800.º do C.C. 
Para obter o ressarcimento das perdas e danos, ao credor basta 
somente, provar o incumprimento, o credor não precisa provar a culpa do 
devedor. Na responsabilidade contratual o ónus da prova compete ao 
devedor. O n.º 1 do artigo 799.º determina que “incumbe ao devedor provar 
que a falta de cumprimento ou o cumprimento defeituoso da obrigação não 
procede de culpa sua.” 
A culpa20 é apreciada em função do padrão da diligência exigível do 
comum das pessoas (diligência de um bom de família), atendendo às 
circunstâncias de cada caso. 
 
culpa e nexo de causalidade entre o faco e os danos, sendo que essa conclusão implicaria rever 
o movimento tendente à unificação da responsabilidade delitual com a responsabilidade 
obrigacional”. Cfr. ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Da Responsabilidade Civil dos 
Administradores das Sociedades Comerciais, Lex, Lisboa, 1997, p. 469-470. 
19 LUIS MANUEL TELES DE MENEZES LEITÃO, Direito das Obrigações – Vol. I: Introdução 
da Constituição das Obrigações, 9ª ed., Almedina Editora, Coimbra, 2010, p.365. 
20 Para apreciação da culpa na responsabilidade contratual o legislador acolheu o mesmo 
princípio da responsabilidade extracontratual, ao consagrar no n.º 2 do artigo 799.º do C.C. que 
“a culpa é apreciada nos termos aplicáveis à responsabilidade civil”. A diligência de um bom pai 
de família, conceito padrão utilizado em direito como ponto de referência da diligência exigível 
na conduta. A culpa aprecia-se aferindo a diligência do agente pela do bom pai de família, sendo 
este o paradigma do cidadão médio, razoavelmente cuidadoso, atento, empenhado, qualificado 
e hábil. 
A responsabilidade contratual encontra-se sujeita ao prazo ordinário de 
prescrição de vinte (20) anos consagrado no artigo 309.º do C.C. 
Na esteira do artigo 513.º do C.C., se numa relação contratual existirem 
vários devedores ou uma pluralidade de incumpridores, a obrigação é sempre 
conjunta, isto é, só podem ser exigidas a cada um apenas a sua parte na 
prestação, estando cada um deles imune às eventuais consequências dos 
factos jurídicos praticados pelos restantes, salvo se resultar da lei ou da 
vontade das partes. 
 
1.3.1.2 - RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL 
A responsabilidade extracontratual deriva da violação dos direitos 
absolutos ou de uma disposição legal ou ainda da realização de certos actos 
que, apesar de lícitos, ocasionam prejuízo a outrem. Ao contrário da 
responsabilidade contratual, na responsabilidade extracontratual não se 
verifica nenhum vínculo jurídico preexistente entre o causador da lesão e o 
lesado no momento da ocorrência. 
Na responsabilidade extracontratual o agente não tem nenhum vínculo 
convencional, mas, tem uma ligação por força da lei, em virtude da 
inobservância de um dever legal. O comportamento do agente por acção ou 
omissão, com nexo de causalidade e culpa ou dolo, causa à vítima um dano 
que é censurado pela ordem jurídica. 
A responsabilidade extracontratual esta particionada em três núcleos 
fundamentais: a responsabilidade por factos ilícitos; a responsabilidade pelo 
risco e a responsabilidade por factos lícitos. 
Há autores que, “fiéis às linhas mestras do pensamento clássico, 
persistem em filiar a responsabilidade extracontratual na ideia de culpa 
(doutrina da responsabilidade subjectiva) e aqueles que, pelo contrário, 
tendem a desprender-se cada vez mais desse pressuposto, para olharem de 
preferência à necessidade ou conveniência social de reparar o dano sofrido 
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pelo lesado (teoria da responsabilidade objectiva), desde que este não tenha 
agido com culpa grave ou com dolo [...] e na pratica de factos lícitos que, 
aproveitando a determinadas pessoas, causem prejuízo a outrem”21. 
O legislador teve o cuidado de consagrar no Código Civil as três formas 
de responsabilidade extracontratual e adoptou a responsabilidade subjectiva 
ou por factos ilícitos22, cujo fundamento assenta na culpa como regime regra. 
Os pressupostos da responsabilidade subjectiva são elencados no n.º 1 
do artigo 483.º do C.C. ao consagrar que: “Aquele que, com dolo ou mera 
culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal 
destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado 
pelos danos resultantes da violação”. Para que haja lugar à reparação é 
necessário o preenchimento de todos os pressupostos da responsabilidade 
subjectiva. O legislador atribuiu ao lesado a incumbência de provar que a 
conduta do agente é a causa do dono e que este actuou com culpa. “É ao 
lesado que incumbe provar a culpa do autor da lesão23...” assim prescreve a 
primeira parte do n.º 1 do artigo 487.º do C.C., em harmonia com o princípio 
do ónus da prova estipulado no n.º 1 do artigo 342.º do C.C. “Aquele que 
invocar um direito cabe fazer a prova dos factos constitutivos do direito 
alegado”. Os pressupostos da responsabilidade civil: o facto, a ilicitude do 
facto, a culpa, o dano e o nexo de causalidade conforme o n.º 1 do artigo 483.º 
do C.C. são exemplos de factos constitutivos que o lesado deve provar para 
a reparação dos danos sofridos. Importa frisar que a culpa deve ser apreciada 
em abstracto, tendo em atenção à diligência de um bom pai de família. 
A responsabilidade pelo risco ou objectiva constitui uma excepção ao 
princípio geral da responsabilidade subjectiva ou por factos ilícitos. Plasmada 
 
21 JOÃO DE MATOS ANTUNES VARELA, Das Obrigações Em Geral, vol. I, 10ª ed., Almedina, 
Coimbra, 2009, p. 523. 
22 Também denominada de responsabilidade aquiliana ou ainda delitual. 
23 Na responsabilidade civil extracontratual, esta regra não é absoluta, possui algumas 
excepções, na medida em que há várias situações de presunção de culpa como é o caso da 
mera presunção de culpa das pessoas obrigadas por lei ou negócio jurídico, a vigiar outras (artigo 
491.º do C.C.), a mera presunção de culpa que assiste ao proprietário ou possuidor de um edifício 
ou outra obra que ruir, no todo ou em parte, por vício de construção ou defeito de conservação 
(artigo 492.º do C.C.), ou ainda da presunção de culpa que recai a quem tem em seu poder a 
vigilância de coisas ou de animais ou exerce uma actividade perigosa (artigo 493.º do C.C.). 
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no n.º 2 do artigo 483.º e no artigo 499.º e seguintes do C.C., a 
responsabilidade pelo risco ou objectiva constitui-se sem que haja dolo ou da 
mera culpa da pessoa obrigada a reparação. Essa afirmação é retirada no n.º 
2 do artigo 483.º do C.C. ao prever que: “só existe obrigação de indemnizar 
independentemente de culpa nos casos especificados na lei”. Essa excepção 
ao regime geral baseado na culpa, só é admitidonos casos determinados pela 
lei24. 
Segundo MÁRIO JÚLIO DE ALMEIDA COSTA a lei e a doutrina 
admitem a responsabilidade objectiva alicerçada em vários fundamentos. No 
entanto [...] a responsabilidade pelo risco representa a mais importante e 
vasta categoria de hipóteses de responsabilidade objectiva25. Entende-se que 
se determinada pessoa realiza uma actividade geradora de perigos ou de 
situações de risco deve responder pelos eventuais danos que acarreta a 
terceiros. Ou como escreve JOÃO DE MATOS ANTUNES VARELA quem cria 
ou mantém um risco em proveito próprio, deve suportar as consequências 
prejudiciais do seu emprego, já que deles colhe o principal benefício (ubi 
emolumentum, ibi onus; ubi commodum, ibi incommodum)26. O fundamento 
da responsabilidade objectiva é o princípio da justiça distributiva, alicerçada 
na ideia do bem comum ao exigir-se do agente que retira proveitos de uma 
determinada actividade o dever de arcar com os prejuízos ou danos 
intrínsecos a actividade. 
Outra modalidade de responsabilidade civil extracontratual e a respo-
nsabilidade por factos lícitos27, cuja génese, radica na obrigação de 
 
24 O Código Civil limitou a responsabilidade pelo risco as situações de danos causados pelo 
comissário (500.º), pelos órgãos, agentes ou representantes do Estado ou de outras pessoas 
colectivas Públicas (501.º), por animais (502.º), por veículos (503.º e seguintes) e por instalações 
elétricas ou de gás (509.º). Mas o n.º 2 do artigo 483.º permite a que outras normas extravagantes 
consagrem a obrigação de reparação de um dano, sem que haja dolo ou mera culpa do agente 
obrigado a reparar o dano. 
25 MÁRIO JÚLIO DE ALMEIDA COSTA, Direito das Obrigações, 12ª ed., Almedina, Coimbra, 
2014, p. 613. 
26 JOÃO DE MATOS ANTUNES VARELA, Das Obrigações Em Geral, vol. I, 10ª ed., Almedina, 
Coimbra, 2009, p. 633. 
27 Denominação adaptada por JOÃO DE MATOS ANTUNES VARELA, Das Obrigações Em 
Geral, vol. I, 10ª ed., Almedina, Coimbra, 2009, p. 715 e MÁRIO JÚLIO DE ALMEIDA COSTA, 
Direito das Obrigações, 12ª ed., Almedina, Coimbra, 2014, p. 656. LUIS MANUEL TELES DE 
MENEZES LEITÃO denomina de responsabilidade pelo sacrifício. LUIS MANUEL TELES DE 
MENEZES LEITÃO, Direito das Obrigações – Vol. I: Introdução da Constituição das Obrigações, 
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indemnizar resultante de uma intervenção ou conduta licita. Apesar de a 
conduta ser lícita, o agente esta obrigado a reparar o prejuízo que a sua 
actividade possivelmente cause a outrem. No dizer de MÁRIO JÚLIO DE 
ALMEIDA COSTA, “é o que acontece quando – na eventualidade de uma 
pessoa ofender, em benefício de um direito ou interesse juridicamente 
protegido e mediante a prática de acto lícito, um direito ou interesse de outrem 
– a lei confira ao lesado uma pretensão de indemnização contra o 
beneficiário”28. 
Este instituto não se encontra expresso num regime comum, tal como 
sucede com a responsabilidade por factos ilícitos ou a responsabilidade pelo 
risco. As suas normas encontram-se dispersas em vários artigos do Código 
Civil e em diplomas avulsos, uma figura transversal ao direito privado29 e 
enquadra-se também na responsabilidade contratual30. 
Na responsabilidade extracontratual. o obrigado a reparar o dano, deve 
de acordo ao princípio geral previsto no artigo 562.º C.C. reconstituir o lesado 
na situação que estaria, se não se tivesse verificado ou produzido o dano. 
Sendo exigido para tal o nexo de ligação do facto ao dano, uma vez que “a 
obrigação de indemnização só existe em relação aos danos que o lesado 
provavelmente não teria sofrido se não fosse a lesão”31. 
O lesado ou quem se mostrar interessado a indemnização tem o prazo 
de prescrição de três (3) anos, a contar da data em que teve conhecimento 
do direito mesmo não conhecendo a extensão integral do dano e a pessoa 
 
9ª ed., Almedina Editora, Coimbra, 2010, p.365. e ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Tratado de 
Direito Civil Português – Vol. II – Direito Das Obrigações, Tomo III, 2.ª edição, Almedina, Coimbra, 
2010, p. 288. 
28 MÁRIO JÚLIO DE ALMEIDA COSTA, Direito das Obrigações, 12ª ed., Almedina, Coimbra, 
2014, p. 656-657. 
29 Também encontramos a responsabilidade por factos lícitos no direito público e a título de 
exemplo temos os institutos da requisição e da expropriação por utilidade pública consagradas 
nos artigos 15.º e 37.º da Constituição da República de Angola. 
30 A responsabilidade por factos lícitos ajusta-se tanto na responsabilidade extracontratual 
(caso da indemnização que resulta dos actos praticados em estado de necessidade consagrado 
no n.º 2 do artigo 339.º C.C; de escavações conforme o n.º 2 do artigo 1348.º do C.C., etc, etc.), 
como na responsabilidade contratual (caso da revogação de quaisquer limitações voluntárias 
aos direitos de personalidade tal como verte o n.º 1 do artigo 81.º do C.C. e da desistência do 
dono da obra no contrato de empreitada conforme o artigo 1229.º do C.C., etc, etc.) 
31 Artigo 563.º do Código Civil. 
que o praticou, para exigir a reparação do dano, sem prejuízo do prazo de 
vinte (20) anos de prescrição ordinária que começa a contar a partir da data 
do facto ilícito. O prazo curto de prescrição de três (3) anos é justificado para 
aproximar a data da análise da matéria em tribunal com o momento em que a 
lesão se verificou. 
Caso exista uma pluralidade de agentes agressores no mesmo facto, 
sobre eles incidirá o regime de solidariedade, isto é, qualquer um deles 
responde perante o lesado, pela reparação integral do dano, ficando com o 
direito de exigir o reembolso aos demais agentes na medida das respectivas 
culpas e das consequências que delas derivam, conforme o artigo 497.º do 
C.C., de salientar que esta norma não tem em vista apenas os que causaram 
o dano, mas também todos os responsáveis, como o comitente, a pessoa 
obrigada a vigilância, o proprietário ou possuidor do edifício, etc., se houver 
culpa somente da parte de um ou de alguns dos solidariamente responsáveis, 
abrangendo aqui os responsáveis pelo risco nos termos do artigo 507.º do 
C.C., só diante deles é permitido o direito de regresso, ao passo que, estes 
não têm em relação aos não culpados. 
 
Pressupostos da Responsabilidade Civil subjectiva 
Conforme já aludido, a responsabilidade civil (n.º 1 do artigo 483.º do 
C.C.) exige que a obrigação de indemnização, só pode ter lugar quando existe 
um facto voluntário do agente, que seja ilícito, com culpa do agente e que haja 
ocorrência de um dano que é consequência directa do facto voluntário. 
Vislumbramos assim, os seguintes elementos constitutivos da 
responsabilidade civil subjectiva: 
1. Facto humano 
2. Ilicitude 
3. Culpa 
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4. Dano 
5. Nexo de causalidade. 
Vamos agora examinar cada um dos elementos. 
1. Facto voluntário do agente. 
O primeiro elemento constitutivo da responsabilidade subjectiva é o 
facto voluntário do agente, isto é, um comportamento dominável pela vontade, 
atribuído a um ser humano quer este tenha intenção ou não na verificação do 
resultado. 
Exclui-se todos os factos não controláveis pela vontade humana32. 
O facto voluntário pode traduzir-se num comportamento positivo ou 
acção (artigo 483.º do C.C) ou num comportamento negativo ou omissão 
(artigo 486.º do C.C). 
2. Ilicitude 
A ilicitude consiste na violação de um dever legal. Podendo constituir-
se sobre a forma de violação de um direito subjectivo ou direito de outrem, ou 
sob a forma de violação de normas que protegem interesses alheios33. 
Na primeira forma, estão incluídas as ofensas de direitos absolutos34; já 
a segunda refere-se a violação de leis que tutelam interesses particulares, 
sem contudo atribuírem aos detentores desses interesses um verdadeiro 
direito subjectivo, e ainda a infracção de normas que tendem a prevenir,o 
 
32 Cfr. ANTUNES VARELA, Das Obrigações em geral pag. 529. 
33 Diferença que apenas se compreende no pressuposto de que nem todo o interesse 
juridicamente protegido de uma pessoa constitui um direito subjectivo. 
34 Máxime, de um direito absoluto, tal como o direito à vida que se encontra solenemente 
consignado no artigo 30.º da Constituição e no n.º 1 do artigo 70.º do C.C; direito à integridade 
pessoal (integridade moral, intelectual e física) que resulta do artigo 31.º da Constituição e n.º 1 
do artigo 70.º do C.C; direito à identidade, à privacidade e reserva da intimidade da vida privada, 
consagrados no artigo 32.º da Constituição e n.º 1 do artigo 70.º e artigo 80.º todos do C.C; etc. 
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perigo de dano e não a verificação do dano em concreto35. Esta forma de 
ilicitude exige os seguintes requisitos: a) a violação de interesses particulares 
deve corresponder a violação de uma norma legal; b) os interesses 
particulares devem possuir amparo na lei violada; c) o dano deve ocorrer na 
órbita de interesses privados que a lei protege. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 Assim sucede, por exemplo, com a violaçao de normas que protegem certos interesses 
públicos e particulares em simultâneo, sem todavia, conceder aos particulares um direito 
subjectivo .... 
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