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ARQUIVO-E-CULTURA-BRASILEIRA

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1 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2 
2 CONCEITOS GERAIS ................................................................................ 3 
2.1 Cultura .................................................................................................. 3 
2.2 Identidade cultural ................................................................................ 6 
2.3 Memória ............................................................................................... 7 
2.4 Arquivos ............................................................................................. 11 
2.5 Instituições Arquivísticas .................................................................... 15 
3 A SOCIEDADE E A CULTURA BRASILEIRA ........................................... 17 
3.1 A Arquivística no Brasil ....................................................................... 19 
3.2 O Arquivo Nacional Brasileiro ............................................................. 25 
3.3 O Papel dos Arquivistas ..................................................................... 28 
3.4 Programa de Modernização Institucional ........................................... 34 
3.5 Contexto Atual .................................................................................... 37 
4 Usuários de arquivos públicos e internet .................................................. 40 
4.1 Lei de Acesso à informação e internet ............................................... 44 
5 Disposições gerais .................................................................................... 48 
5.1 Distinção entre Arquivo, Biblioteca e Museu ...................................... 51 
5.2 Ciclo de Vida dos Documentos ou Teoria das 3 Idades ..................... 54 
5.3 Avaliação ............................................................................................ 59 
5.4 Tabela de Temporalidade e Plano de Destinação .............................. 60 
5.5 Modelo de Tabela de Temporalidade ................................................. 63 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 67 
 
 
2 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
 
 O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
 
 Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
 
 A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
 
Bons estudos! 
 
3 
2 CONCEITOS GERAIS 
 
Fonte: lusoleituras.files.wordpress.com 
2.1 Cultura 
Cultura é constantemente associada à sabedoria, educação e, até mesmo, à 
sofisticação. Sob esse ponto de vista, cultura significa nível social e educacional, 
sendo atribuída àqueles considerados letrados; apreciadores e conhecedores das 
artes, ciências e outros campos do conhecimento. 
Em “Você tem cultura?”, Roberto da Matta faz uma distinção entre os conceitos 
de cultura, considerando que o termo também é usado para discriminar – quando os 
que não têm erudição são considerados “sem cultura”: 
Cultura aqui é equivalente a um volume de leituras, a controle de informações, 
a títulos universitários e chega até mesmo a ser confundida com inteligência, como se 
a habilidade para realizar certas operações mentais e lógicas (que definem de fato a 
 
4 
inteligência) fosse algo a ser medido ou arbitrado pelo número de livros que uma 
pessoa leu, as línguas que pode falar, ou os quadros e pintores que pode, de memória 
enumerar. (DA MATTA, 1986, p. 122) 
De acordo com o conceito antropológico, cultura refere-se à personalidade e à 
vida social do indivíduo. Nesse contexto, cultura é conceituada como o conjunto de 
características que estabelecem normas comuns de comportamento, identificando um 
ser ao grupo: 
Para nós, “cultura” não é simplesmente um referente que marca uma 
hierarquia de “civilização”, mas a maneira de viver total de um grupo, 
sociedade, país ou pessoa. Cultura é, em Antropologia Social e Sociologia, 
um mapa, um receituário, um código através do qual as pessoas de um dado 
grupo pensam, classificam, estudam e modificam o mundo e a si mesmas. 
(DA MATTA, 1986) 
A cultura, para Anna Flávia Rocha e Silva, estabelece, portanto, normas 
básicas de comportamento, mas ela é regulada por um número finito de regras, 
permitindo diversas variações dentro de uma única cultura. Esse conjunto de regras 
define como classificamos o mundo. 
Uma única cultura possui várias formas de atualização e expressão: 
“Apresentada assim, a cultura parece ser um bom instrumento para compreender as 
diferenças entre os homens e as sociedades. “ 
Essas diferenças seriam resultado das diversas configurações ou relações que 
as sociedades estabelecem no decorrer de suas histórias. (DA MATTA,1986) 
Wendy Griswold apresenta exemplos nos quais a cultura é entendida pelas 
sociedades. A cultura pode ser analisada como o conjunto de costumes nacionais, 
atividades consideradas elitistas, eventos de entretenimento, e variações no 
significado de símbolos ou objetos. Assim, constituem aspectos da cultura, a maneira 
respeitosa como um executivo japonês recebe um cartão de visitas, o hábito de assistir 
apresentações de música clássica, a situação cotidiana manifestada numa tira de 
história em quadrinhos, ou a forma distinta como a classe trabalhadora e a classe alta 
tratam animais de estimação. 
Assim, Griswold (2003) define cultura, “Cultura refere-se ao lado expressivo da 
vida humana, em outras palavras, ao comportamento, objetos, e ideias que podem 
ser entendidas para expressar, ou para significar alguma outra coisa.” 
Roque de Barros Laraia trata cultura como “uma lente através da qual o homem 
vê o mundo.” (1986, p.74). Segundo ele, “nenhum indivíduo é capaz de participar de 
 
5 
todos os elementos de sua cultura.” - ele pode conservar aspectos de sua cultura e 
também acolher outros costumes culturais, independentemente de sua nacionalidade. 
As sociedades estão em constante interação e cada cultura possui sua maneira 
de funcionar. Se as culturas são entendidas em seus contextos particulares, evitamos 
conflitos e criação de estereótipos. 
Todo sistema cultural tem a sua própria lógica e não passa de um ato primário 
de etnocentrismo tentar transferir a lógica de um sistema para outro. 
Infelizmente, a tendência mais comum é de considerar lógico apenas o 
próprio sistema e atribuir aos demais um alto grau de irracionalismo. 
(LARAIA, 1986, p.90). 
Essa tendência de condenar o diferente como irracional e bárbaro é um 
fenômeno universal, chamado de etnocentrismo, o qual Laraia define como um 
fenômeno universal: 
O ponto fundamental de referência não é a humanidade, mas o grupo. Daí a 
reação, ou pelo menos, a estranheza, em relação aos estrangeiros (...) 
comportamentos etnocêntricos resultam também em apreciações negativas 
dos padrões culturais de povos diferentes. Práticas de outros sistemas 
culturais são catalogadas como absurdas, deprimentes e imorais. (LARAIA, 
1986) 
Já Lévi-Strauss afirma que 
“a diversidade das culturas é de fato no presente, e também de direito nopassado, muito maior e mais rica que tudo o que estamos destinados a dela 
conhecer.” (2000) Segundo ele, “duas culturas elaboradas por homens 
pertencentes a uma mesma raça podem diferir tanto ou mais que duas 
culturas provenientes de grupos racialmente afastados. 
As culturas não se diferem do mesmo modo. Para Lévi-Strauss as sociedades 
humanas nunca se encontram isoladas e o contato entre elas provoca 
estranhamentos e desejos de oposição: 
É na própria medida em que pretendemos estabelecer uma discriminação 
entre as culturas e os costumes, que nos identificamos mais completamente 
com aqueles que tentamos negar. Recusando a humanidade àqueles que 
surgem como os mais “selvagens” ou “bárbaros” dos seus representantes, 
mais não fazemos que copiar-lhes as suas atitudes típicas. O bárbaro é em 
primeiro lugar o homem que crê na barbárie. (Lévi-Strauss, 2000) 
Tanto na negação ou aceitação de novos costumes, é no contato com outras 
culturas que as sociedades reafirmam ou modificam sua própria cultura na construção 
de sua identidade. 
 
6 
2.2 Identidade cultural 
Na descoberta de novos hábitos, o indivíduo revê, e reafirma ou modifica sua 
cultura original, identificando-se ou estranhando uma dada cultura. Lévi-Strauss 
afirma que todo o processo cultural é função de uma coligação entre as culturas: 
Esta coligação consiste em pôr em comum (consciente ou inconsciente, 
voluntário ou involuntário, intencional ou acidental, procurado ou obrigado) 
das possibilidades que cada cultura encontra no seu desenvolvimento 
histórico; finalmente admitimos que esta coligação era tanto mais fecunda 
quanto se estabelecia entre culturas mais diversificadas. (Lévi-Strauss, 2000) 
Manuel Parés i Maicas caracteriza a identidade cultural como o sentimento de 
pertencer a uma sociedade, relacionada com a reafirmação das raízes. Segundo ele, 
as características que definem a identidade cultural diferem em cada comunidade, 
ainda que estas sejam partes da mesma nação. A identificação com um grupo pode 
ocorrer de acordo com características como etnia, língua, religião, compartilhamento 
de um território, classe social, entre outras. A identidade cultural está sujeita às 
mudanças advindas do contato com outras culturas e outras influências externas: 
A identidade cultural sempre leva implícita em si a ideia de alteridade, e de 
relação com o outro, a par do sentido de pertencimento ao que consideramos 
que nos é próprio. Não podemos concebê-la como algo estático, senão como 
uma obra, um fenômeno mutante. (MAICAS, 1996) 
Mas esse contato entre diversas culturas, ao mesmo tempo em que reforça a 
cultura originária, também ressalta a identidade como efêmera. Stuart Hall explica que 
as sociedades modernas estão em mudança constante e nesse contexto, as sujeitas 
também assume identidades distintas, “variáveis”, “provisórias” e “problemáticas”, 
dependendo do momento: 
Esse processo produz o sujeito pós-moderno, conceptualizado como não 
tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se 
uma “celebração móvel”: formada e transformada continuamente em relação 
às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas 
culturais que nos rodeiam. (HALL, 1999) 
Com a diversidade cultural, Hall argumenta que as identidades nacionais 
também são afetadas pela globalização; antes centradas, hoje elas estão sendo 
deslocadas: 
Colocadas acima do nível da cultura nacional, as identificações “globais” 
começam a deslocar e, algumas vezes, a apagar, as identidades nacionais (...) Os 
 
7 
fluxos culturais entre as nações, e o consumismo global criam possibilidades de 
“identidades partilhadas” – como “consumidores” para os mesmos bens, “clientes” 
para os mesmos serviços, “públicos” para as mesmas mensagens e imagens – entre 
pessoas que estão bastante distantes umas das outras no espaço e no tempo. Á 
medida em que as culturas nacionais tornam-se mais expostas a influências externas, 
é difícil conservar as identidades culturais intactas ou impedir que elas se tornem 
enfraquecidas através do bombardeamento e da infiltração cultural. 
Por sua vez, Everardo P. Guimarães Rocha afirma que a diferença cultural é 
ameaçadora porque fere nossa própria identidade. Dessa forma, negamos a cultura 
do diferente para reafirmar a nossa própria identidade cultural, considerando o 
estranho “atrasado”, o que reforça a identidade do nosso próprio grupo. 
Contrapondo-se à ideia de etnocentrismo, existe a relativização - quando o 
diferente é compreendido através dos seus próprios valores e não através do olhar de 
quem julga: 
Quando vemos que as verdades da vida são menos uma questão de essência 
das coisas e mais uma questão de posição: estamos relativizando (...) 
Relativizar é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores e 
inferiores ou em bem e mal, mas vê-la na sua dimensão de riqueza por ser 
diferença. (ROCHA, 1984) 
A relativização é não somente um processo para evitar conflitos e negação da 
cultura do outro. Entendendo o diferente em seu contexto, reforçamos nossa própria 
identidade ao reconhecermos nossas raízes culturais. 
2.3 Memória 
“Memória” significa aquisição, formação, conservação e evocação de 
informações. A aquisição é também chamada de aprendizado ou aprendizagem: só 
se “grava” aquilo que foi aprendido. A evocação é também chamada de recordação, 
lembrança, recuperação. Só lembramos aquilo que gravamos, aquilo que foi 
aprendido. 
Podemos afirmar, conforme Norberto Bobbio, que somos aquilo que 
recordamos, literalmente. Izquierdo nos relata que não podemos fazer aquilo que não 
sabemos, nem comunicar nada que desconheçamos, isto é, nada que não esteja na 
nossa memória. Também não estão a nossa disposição os conhecimentos 
 
8 
inacessíveis, nem formam parte de nós episódios dos quais esquecemos ou os quais 
nunca atravessamos. O acervo de nossas memórias faz com que cada um de nós 
seja o que é: um indivíduo, um ser para o qual não existe outro idêntico. 
Alguém poderia acrescentar: “...e também somos o que resolvemos esquecer”. 
Sem dúvida; mas não há como negar que isso já constitui um processo ativo, uma 
prática da memória: nosso cérebro “lembra” quais são as memórias que não quer 
trazer à tona, e evita recordá-las: as humilhações, por exemplo, ou as situações 
profundamente desagradáveis ou inconvenientes. De fato, não as esquece, pelo 
contrário: as lembra muito bem e muito seletivamente, mas as torna de difícil acesso. 
O passado, nossas memórias, nossos esquecimentos voluntários, não só nos 
dizem quem somos, como também nos permitem projetar o futuro; isto é, nos dizem 
quem poderemos ser. O passado contém o acervo de dados, o único que possuímos, 
o tesouro que nos permite traçar linhas a partir dele, atravessando, rumo ao futuro, o 
efêmero presente em que vivemos. Não somos outra coisa senão isso; não podemos 
sê-lo. Se não temos hoje a Medicina entre nossas memórias, não poderemos praticá-
la amanhã. Se não nos lembramos de como se faz para caminhar, não poderemos 
fazê-lo. Se não recebemos amor quando crianças, dificilmente saberemos oferecê-lo 
quando adultos. 
O conjunto das memórias de cada um determina aquilo que se denomina 
personalidade ou forma de ser. Um humano ou um animal criado no medo será mais 
cuidadoso, introvertido, lutador ou ressentido, dependendo de suas lembranças 
específicas mais do que de suas propriedades congênitas. Nem sequer as memórias 
dos seres clonados (como os gêmeos univitelinos) são iguais; as experiências de vida 
de cada um são diferentes. Uma vaca clonada de outra vaca terá mais ou menos 
acesso à comida do que a vaca original, ficará prenhe mais ou menos vezes, seus 
partos serão mais ou menos dolorosos, sofrerá mais a chuva ou o calor que a outra; 
e as duas não serão exatamente iguais, exceto na aparência física. 
Memória têm os computadores, as bibliotecas, o cachorro que nos reconhece 
pelo cheiro depoisde vários anos, os elefantes de quem se diz terem muita (mas 
ninguém mediu), os povos ou países e, logicamente, nós, os humanos. 
Mas cada elefante, cada cachorro e cada ser humano é quem é, um indivíduo 
diferente de qualquer congênere, graças justamente à memória; a coleção pessoal de 
lembranças de cada indivíduo é distinta das demais, é única. Todos recordamos 
nossos pais, mas os pais de cada um de nós foram diferentes. Todos recordamos, 
 
9 
geralmente vaga, mas prazerosamente, a casa onde passamos nossa primeira 
infância; mas a infância de uns foi mais feliz que a de outros, e as casas de alguns 
desafortunados trazem más lembranças. Todos recordamos nossa rua, mas a rua de 
cada um foi diferente. Eu sou quem sou, cada um é quem é, porque todos lembramos 
de coisas que nos são próprias e exclusivas e não pertencem a mais ninguém. Nossas 
memórias fazem com que cada ser humano ou animal seja um ser único, um indivíduo. 
O acervo das memórias de cada um nos converte em indivíduos. Porém, tanto 
nós como os demais animais, embora indivíduos, não sabemos viver muito bem em 
isolamento: formamos grupos. “Deus os cria e eles se juntam”, afirma o ditado popular. 
Esse fenômeno é tanto mais intenso e importante quanto mais evoluído seja o animal. 
A necessidade da interação entre membros da mesma espécie, ou entre diferentes 
espécies inclui, como elemento-chave, a comunicação entre indivíduos. Essa 
comunicação é necessária para o bem-estar e para a sobrevivência. Nas espécies 
mais avançadas, o altruísmo, a defesa de ideais comuns, as emoções coletivas são 
parte de nossa memória e servem para nossa intercomunicação. Os golfinhos ajudam-
se uns aos outros quando passam por dificuldades. Os humanos, embora às vezes 
pareça o contrário, também. Procuramos laços, geralmente culturais ou de afinidades 
e, com base em nossas memórias comuns, formamos grupos: comarcas, tribos, 
povos, cidades, comunidades, países. Consideramo-nos membros de civilizações 
inteiras e isso nos dá segurança, porque nos proporciona conforto e identidade 
coletiva. Nos sentimos apoiados pelo resto do grupo, chame-se este família, bairro, 
cidade, país ou continente. Os europeus e os norte-americanos, por exemplo, 
claramente pertencem à Civilização Ocidental. Mas dentro desta, pertencem de 
maneira mais entranhável aos grupos que sentem mais próximos porque com eles 
compartilham uma série de memórias e uma história. É comum que morando, 
digamos, nos Estados Unidos, os europeus tendam a se associar entre si e os latino-
americanos também; geralmente mais do que com os nativos do lugar. A recordação 
de hábitos, costumes e tradições que nos são comuns leva a preferências afetivas e 
sociais. 
A identidade dos povos, dos países e das civilizações provém de suas 
memórias comuns, cujo conjunto denomina-se História. A França é a França porque 
seus habitantes se lembram de coisas francesas: Carlos Magno, Napoleão, Victor 
Hugo, Verlaine. O conjunto dessas lembranças faz com que os franceses se sintam e 
sejam franceses. O mesmo acontece com os demais países e as memórias em 
 
10 
comum de seus habitantes. Nós somos membros da Civilização Ocidental porque 
nossa história comum inclui Moisés, César, Jesus, o monoteísmo, os gregos, os 
romanos, os bárbaros, os celtas, os ibéricos, Colombo, Lutero, Michelangelo, as 
línguas europeias que todos falamos. Fora desse acervo histórico comum a todos, os 
povos do Ocidente temos uma identidade individual que depende da história de cada 
um de nós. Assim, espanhóis, ingleses, estadunidenses, brasileiros, paraguaios e 
argentinos possuímos memórias (histórias) próprias de cada país e que nos 
distinguem dentro do marco maior da Civilização Ocidental. Como foi dito, ao nos 
encontrarmos num meio cujo acervo coletivo de memórias é outro, descobrimos elos 
entre os diferentes grupos, baseados na memória coletiva que promove novas 
associações. Assim, para um brasileiro na Filadélfia ou em Newark será em geral mais 
fácil estabelecer amizade com um paraguaio do que com um nativo de Idaho. 
Em seu sentido mais amplo, então, a palavra “memória” abrange desde os 
ignotos mecanismos que operam nas placas de meu computador até a história de 
cada cidade, país, povo ou civilização, incluindo as memórias individuais dos animais 
e das pessoas. Mas a palavra “memória” quer dizer algo diferente em cada caso, 
porque os mecanismos de aquisição, armazenamento e evocação são diferentes. 
Não convém, portanto, entrar no terreno fácil das generalizações e considerar 
que nossa memória é “igual” a tal ou qual tipo de memória dos computadores. Meu 
computador tem chips e precisa estar ligado na tomada para funcionar; eu, certamente 
não. Aliás, se eu colocar os dedos na tomada sofrerei um choque, e aprenderei uma 
memória da qual meu computador é profundamente incapaz: a de evitar colocar os 
dedos na tomada. Também não convém fazer demasiadas analogias entre memórias 
de índole diferente, como a memória individual dos seres vivos pessoas e a memória 
coletiva dos países. Fora o aspecto mais amplo de sua definição, são coisas 
diferentes. Os processos subjacentes a cada uma são completamente distintos. A 
memória humana é parecida com a dos demais mamíferos no referente a seus 
mecanismos essenciais, às áreas nervosas envolvidas e ao seu mecanismo molecular 
de operação; mas não no relativo a seu conteúdo. Um ser humano lembra melodias e 
letras de canções, ou como praticar Medicina; um rato, não. Os seres humanos 
utilizam, a partir dos 2 ou 3 anos, a linguagem para adquirir, codificar, guardar ou 
evocar memórias; as demais espécies animais, não. Mas, fora as áreas da linguagem, 
usamos mais ou menos as mesmas regiões do cérebro e mecanismos moleculares 
 
11 
semelhantes em cada uma delas para construir e evocar memórias totalmente 
diferentes. 
Os maiores reguladores da aquisição, da formação e da evocação das 
memórias são justamente as emoções e os estados de ânimo. Nas experiências que 
deixam memórias, aos olhos que veem se somam o cérebro – que compara – e o 
coração – que bate acelerado. No momento de evocar, muitas vezes é o coração 
quem pede ao cérebro que lembre, e muitas vezes a lembrança acelera o coração. 
2.4 Arquivos 
Para a compreensão de determinado objeto, é preciso ter conhecimento acerca 
de seu significado, que é assimilado a partir de suas características e de seu “corpus 
de significação” (Franco, 2005). Antes de compreendermos o significado de um objeto, 
tomamos consciência de sua existência; percepção que se faz imediata. Já o 
entendimento do conceito é algo mais demorado e envolve diferentes experiências, 
de modo que as faces desse objeto se apresentem e sejam compreendidas. Observa-
se, assim, que significado se constrói ao longo do tempo, sob forte influência de um 
processo social. 
Thomassen (2001), afirma que, de modo geral, as noções vagas são suficientes 
no cotidiano, porém, no âmbito profissional, mais especificamente na arquivística, isso 
muda na medida em que os: 
 “os arquivistas devem ter uma compreensão clara do que é um arquivo (ou 
um sistema de arquivos), de quais são suas funções e suas propriedades 
fundamentais, como elas se relacionam entre si e como a qualidade dos 
documentos e dos arquivos pode ser acessada e assegurada”. 
 Esse mesmo posicionamento é compartilhado por Heredia Herrera (2007) que 
afirma ser o uso indiscriminado das palavras uma característica da humanidade, mas 
aos arquivistas cumpre o dever de defender um rigor terminológico que dê 
sustentação à disciplina arquivística rumo a sua afirmação na dimensão científica. 
Outros estudiosos também entendem que a questão terminológica da área é 
de importância fulcral, na medida em que a convergência terminológica evita 
interpretações equivocadas (Lodolini, 1993). Um campo científico se legitima a partir 
da especificação de seu objeto por meio de adequada denominação.12 
Nesse sentido, esforços para a consolidação de uma terminologia arquivística 
acontecem com a criação do Conselho Internacional de Arquivos, que culminou no 
lançamento, em 1964, do primeiro instrumento terminológico intitulado Elsevier’s 
Lexicon of Archive Terminology. 
No Brasil, esses empreendimentos tiveram início na década de 1970, quando 
da criação da Associação de Arquivistas Brasileiros. Na ocasião, foi elaborado um 
glossário e apresentado no I Congresso Brasileiro de Arquivologia. Mais tarde, a 
mesma Associação criou um Comitê de Terminologia Arquivística, que, 
posteriormente, se uniria à Comissão de Estudos de Arquivologia da Associação 
Brasileira de Normas Técnicas. 
Outra iniciativa nesse sentido foi em 1989, quando um grupo de alunos do curso 
de especialização em arquivologia da Universidade Federal da Bahia elaborou o 
Dicionário de termos arquivísticos, sob a coordenação do professor Rolf Nagel. Mais 
tarde, outro grupo de especialistas do estado de São Paulo também se mobilizou em 
torno dessa mesma questão, e seus esforços culminaram na edição, no ano de 1996, 
do Dicionário de terminologia arquivística. 
Nessa obra, a definição do termo arquivo aparece como: 
 
1) Conjunto de documentos que, independentemente da natureza ou do suporte, 
são reunidos por acumulação ao longo das atividades de pessoas físicas ou jurídicas, 
públicas ou privadas; 
2) Entidade administrativa responsável pela custódia, pelo tratamento documental 
e pela utilização dos arquivos sob sua jurisdição; 
3) Edifício em que são guardados os arquivos; 
4) Móvel destinado a guarda de documento [...] (Camargo e Bellotto, 1996). 
 
Mais recentemente, o Arquivo Nacional publicou o que chamou de Dicionário 
brasileiro de terminologia arquivística, no qual encontramos, para o termo “arquivo”, a 
seguinte definição: 
1) Conjunto de documentos produzidos e acumulados por uma entidade coletiva, 
pública ou privada, pessoa ou família, no desempenho de suas atividades, 
independentemente da natureza do suporte; 
2) Instituição ou serviço que tem por finalidade a custódia, o processamento 
técnico, a conservação e o acesso a documentos; 
 
13 
3) Instalações onde funcionam arquivos; 
4) Móvel destinado a guarda de documentos (Brasil. Arquivo Nacional, 2005, 
p.27). 
As definições refletem o conhecimento e a compreensão que os teóricos têm 
acerca do arquivo. É uma representação conceitual particular construída com base 
em um saber técnico-científico. Tanto a definição do dicionário quanto a terminológica 
devem apre- sentar como categorias fundamentais para entendimento o gênero e a 
diferença específica (Finatto, 2002). 
O sentido da palavra “arquivo” foi mudando ao longo do tempo, em muito 
devido à evolução de suportes utilizados na elaboração dos documentos (Silva et al., 
2002). No caso de gregos e bizantinos, o suporte preferido era o papiro e, 
consequentemente, usavam o termo chartophilacium para indicar os arquivos, depois 
passou a ser empregado como chartarium e, mais tarde, “cartório”. Já os romanos se 
mantiveram fiéis ao termo archeion, significando não “apenas o local de depósito dos 
documentos, mas o espaço ou serviço onde eram preservados registos antigos, 
independentemente do tipo de suporte” (Silva et al., 2002). Como destaca Tanodi 
(1979), o mundo romano vale-se de uma gama de termos relativos à escrita, incluindo 
o ato de escrever, o material utilizado e mesmo o móvel para guardar: grapharium, 
chartarium, tabularium, sacrarium, sanctuarium, scrinium etc. 
Sob essa ótica, é possível afirmar que alguns dos elementos que caracterizam 
o conceito arquivo, na atualidade, surgiram na Antiguidade; outros foram agregados 
ao longo do tempo, em razão do uso e da compreensão adquiridos a partir do contexto 
social. A evolução do conceito de arquivo, portanto, é influenciada por uma série de 
fatores sociais, jurídicos e de investimentos científicos. 
De modo geral, é possível identificar três formas de abordagem do termo: a 
primeira identifica o arquivo com os documentos, a segunda liga o arquivo ao edifício 
e aos documentos que guarda e a terceira afirma que o arquivo é uma instituição que 
conserva e utiliza a archivalía* (Tanodi di Chiapero, 1987). Mais recentemente, alguns 
autores como Silva et al. (2002) propõem a abordagem do arquivo como um sistema 
de informação (social), o que atende ao paradigma informacional, trazido para o 
âmbito arquivístico como decorrência da atual conjuntura social. 
* archivalía - A expressão archivalía é usada para se referir ao conjunto de documentos que 
são objeto de tratamento da instituição arquivo. Trata-se de “todo material escrito, gráfico (dibujos, 
mapas, planos), multigrafiado, reprógrafos, sonoro, audiovisual (películas) 
 
14 
Trata-se, portanto, da concepção de cada autor e, nesse sentido, Lodolini 
(1993), com base em estudo que realizou, apresenta uma síntese a respeito das 
diferentes visões dos autores quanto à natureza e limites do arquivo. 
 
1) O arquivo compreende todos os documentos, desde o momento de sua 
produção em cada uma das entidades produtoras – também os documentos correntes 
fazem parte do “arquivo”. Esta é a condição para a existência do arquivo, que os 
documentos permaneçam nas entidades produtoras; 
a) os documentos passam a fazer parte do “arquivo corrente” no momento em que 
são produzidos por uma entidade visando a cumprir com a tramitação dos processos 
administrativos a que se referem; 
b) os documentos referentes a assuntos em trâmite encontram-se em fase pré-
arquivística; farão parte do “arquivo corrente” somente quando a tramitação for 
finalizada pela entidade produtora, de cada um dos processos administrativos a que 
se referem (Tanodi). 
 
2) O arquivo é formado somente pelos documentos que não tenham mais 
interesse para a entidade produtora deles e que tenham adquirido maturidade 
arquivística e sejam selecionados para conservação permanente – os documentos 
correntes não podem, portanto, fazer parte do arquivo, porque entre as condições para 
existir o arquivo está a de que os documentos não estejam mais na instituição 
produtora, mas tenham sido transferidos para uma instituição arquivística encarregada 
por sua conservação. 
 
3) O arquivo é produzido somente por uma autoridade pública; não podem, 
portanto, existir arquivos privados. 
 
4) Arquivo é tanto aquele produzido por uma autoridade públi-ca como também 
privada – os arquivos privados são considerados arquivos no sentido pleno do termo; 
a) por arquivos privados se entendem somente aqueles produzidos por pessoas 
jurídicas privadas, não os produzidos por pessoas físicas ou famílias (Schellenberg); 
b) por arquivos privados se entendem somente os produzidos por pessoas físicas 
ou famílias, não os produzidos por pessoas jurídicas privadas (Ellis); 
 
15 
5) O arquivo é constituído também por material não documental, quer dizer, por 
manuscritos de obras literárias ou científicas. 
2.5 Instituições Arquivísticas 
A instituição arquivística tal como a conhecemos hoje consolidou-se a partir de 
fatores como a urbanização das sociedades, a formação dos Estados nacionais e o 
consequente aumento das instituições públicas. 
O início da era moderna foi marcado por mudanças, tais como um crescimento 
sem paralelo dos papéis, causado pela então crescente centralização dos governos, 
e sua instalação em prédios como Versalhes, Escorial, Whitehall, entre outros. Essas 
mudanças tornaram os arquivos necessários e possíveis. À centralização do governo 
seguiu-se a dos documentos (BURKE, 2003). Um decisivo passo foi dado no século 
XVI, quando o aprofundamento das competências do Estado, o reforço do poder 
central e o aumento de burocracia contribuíram para a concentração de arquivos em 
depósitos centrais, com arquivistas especializados e suas equipes (DUCHEIN, 1992). 
Nessa época, os arquivos oficiais ainda mantinham certo caráterprivado. O 
acesso a eles era estritamente condicionado por seus detentores, muito ciosos de 
seus documentos, embora haja alguma aceitação de uso para benefício da 
comunidade. Apesar disso, a noção de arquivo público expandiu-se nesse período, 
pois diversos monarcas reclamaram o direito de propriedade sobre acervos 
documentais reunidos por funcionários no exercício de suas funções (FAVIER, 1975). 
A Revolução Francesa influenciou os arquivos de forma decisiva, pois o golpe 
no Antigo Regime passava também, inevitavelmente, pelos arquivos. Foram três as 
principais contribuições da Revolução Francesa, movimento que marcou o início de 
uma nova era na administração dos arquivos. Estabeleceu-se o quadro de uma 
gerência de arquivos públicos de âmbito nacional: 
- O Arquivo Nacional passou a ser um órgão central dos arquivos do Estado, 
ao qual se subordinaram os depósitos existentes. Pela primeira vez uma 
administração orgânica de arquivos englobou toda a rede de depósitos. 
 - O segundo efeito importante foi o fato de o Estado reconhecer sua 
responsabilidade em relação à preservação da herança documental do passado. 
- O terceiro se refere ao princípio da acessibilidade dos arquivos ao público, 
de acordo com o art. 37 do decreto de Messidor: “Todo cidadão tem o direito de pedir 
 
16 
em cada depósito […] a exibição dos documentos ali contidos”. Pela primeira vez os 
arquivos eram legalmente abertos e sujeitos ao uso público (POSNER, 1959, p. 7-9). 
A concepção de instituição arquivística de acordo com o modelo pioneiro criado 
na França foi amplamente reproduzida na Europa e nas Américas, guardadas as 
especificidades de cada país; estabeleceu-se um modelo institucional que 
permaneceu até meados do século XX, pelo qual a “instituição arquivística é aquele 
órgão responsável pelo recolhimento, preservação e acesso dos documentos gerados 
pela administração pública, nos seus diferentes níveis de organização” (FONSECA, 
1998). Esta concepção modificou-se depois da II Guerra Mundial. À luz da gestão de 
documentos, que revoluciona a arquivologia tradicional, as instituições arquivísticas 
ampliaram seu espectro e funções, e foram obrigadas a reformular suas estruturas e 
a redefinir seu papel (FONSECA, 1998). 
É preciso diferençar as instituições arquivísticas públicas dos serviços de 
arquivos internos de uma instituição pública. Nas primeiras, o arquivo é a atividade-
fim; estas são instituições cujo objetivo é a gestão dos acervos produzidos por outras 
instituições públicas de uma mesma esfera de poder, em função das atividades de 
uma administração, de um governo. No segundo caso, trata-se de atividade-meio; o 
serviço de arquivo também lida com documentos públicos, mas de uma instituição 
específica. Tanto a instituição arquivística quanto os serviços de arquivo de uma 
organização se caracterizam por gerir e disponibilizar um acervo documental com 
dupla função informativa: 
a) o apoio administrativo no dia a dia das instituições; 
b) a pesquisa histórico-cultural. 
Dessa maneira, os arquivos – produzidos e recebidos no decorrer das 
atividades de determinada instituição, pessoa ou família – possuem um tipo de 
conhecimento único, por gerarem representações de trajetórias institucionais e/ou 
pessoais advindas de conjuntos organicamente tratados e disponibilizados. Os 
documentos públicos são básicos para o funcionamento de um governo, estejam eles 
nos órgãos de origem ou em uma etapa posterior nas instituições arquivísticas. No 
Brasil, essas instituições se encontram em um locus periférico (JARDIM, 1999). 
O tempo atual é um tempo em que governos e cidadãos coexistem no mesmo 
ambiente informacional, pela primeira vez na história, e isso é resultado, 
principalmente da mudança tecnológica. Apesar disso, não será apenas o uso de 
novas tecnologias de informação e comunicação o suficiente para modificar a cultura 
 
17 
de opacidade que caracteriza o Estado e consequentemente as instituições 
arquivísticas públicas brasileiras. 
3 A SOCIEDADE E A CULTURA BRASILEIRA 
 
Fonte:3.bp.blogspot.com 
A cultura brasileira é diversa e tão extensa como o território do país. No exterior 
o Brasil é, constantemente, classificado como um lugar exótico – conhecido pelas 
belezas naturais, hospitalidade, futebol e carnaval. Mas em um país que também se 
manifesta pela multiplicidade de estilos, torna-se difícil definir a identidade brasileira. 
Ainda que dentro da sociedade brasileira existam grupos diferentes, a nossa 
identidade pode ser entendida como uma série de características que fazem parte do 
repertório comum de um brasileiro. Por exemplo, todos nós falamos português e 
identificamos uma série de características típicas de um brasileiro, ainda que não nos 
enquadremos a todas essas características. Da Matta exemplifica nossa identidade 
por meio de um processo de contraste com a cultura estadunidense: 
 
18 
Sei, então, que sou brasileiro e não norte-americano, porque gosto de comer 
feijoada e não hambúrguer; porque sou menos receptivo a coisas de outros 
países, sobretudo costumes e ideias; porque tenho um agudo sentido de 
ridículo para roupas, gestos e relações sociais; porque vivo no Rio de Janeiro 
e não em Nova York; porque falo Português (...) (DAMATTA, 1994, p.16) 
Para Da Matta, cultura exprime um estilo e um modo de fazer as coisas. Ele 
alerta que a sua definição foi feita sob um ponto de vista brasileiro e, portanto, 
reconhecida pelos brasileiros, “usei uma fórmula que me foi fornecida pelo Brasil.” 
(1994, p. 18) 
A identidade brasileira também é definida pela noção da família, a proteção dos 
laços sanguíneos, o lugar da tradição o qual resguardamos. A casa, sendo o local da 
confiança, é também é o local onde são aceitos agregados que não fazem parte da 
família, mas são acolhidos no ambiente, como um amigo que passa por dificuldades 
financeiras ou um velho empregado que não tem para onde ir. (DA MATTA) 
A rua também é um local importante para os brasileiros. Segundo Da Matta 
(1994), casa e rua se equilibram, numa perspectiva do mundo complementar: “Todos 
sabemos, por experiência respeitável e profunda, que na rua não se deve brincar com 
quem representa a ordem, pois naquele espaço se corre o grave risco de ser 
confundido com quem é ninguém.” 
O fator racial é outro ponto presente na cultura brasileira. Da Matta (1994) 
menciona o padre jesuíta José Antonil que define a estrutura racial brasileira como um 
triângulo formado por branco, mulato e negro -- associando o branco ao paraíso, o 
mulato ao purgatório e o negro ao inferno. O Brasil não é um país dual de caráter 
exclusivo, “ou seja, uma oposição que determina a inclusão de um termo e a 
automática exclusão do outro”. O mulato representa exatamente esse “conjunto 
infinito e variado de categorias intermediárias” que existem no Brasil. Ao contrário dos 
Estados Unidos onde o preconceito é explícito; no Brasil, existe um “preconceito 
velado”. 
Ainda sob um olhar brasileiro, a nossa cultura é tomada como a cultura da 
multiplicidade, na qual se dá importância a valores distintos como à família (local de 
segurança) e à rua (local de liberdade); ao carnaval (momento de excesso) e às festas 
religiosas (na manutenção das tradições e do culto). 
O Brasil é, portanto, o local das possibilidades. Da Matta o caracteriza como 
um local dividido entre o indivíduo e a pessoa. No primeiro caso, o brasileiro é aquele 
 
19 
das leis universais que modernizam a sociedade. No segundo, o brasileiro é o sujeito 
das relações sociais, que conduz ao polo tradicional do sistema: 
Entre os dois, o coração dos brasileiros balança. E no meio dos dois, a 
malandragem, o “jeitinho” e o famoso e antipático “sabe com quem está falando?” 
seriam modos de enfrentar essas contradições e paradoxos de modo tipicamente 
brasileiro. (DA MATTA, 1994, p.97) 
3.1 A Arquivística no Brasil 
No Brasil, o poder público é responsávelpela gestão dos documentos 
arquivísticos públicos, segundo determina a legislação. Compete às instituições 
arquivísticas, nas suas esferas de atuação correspondentes, promover a gestão, que 
inclui não apenas os documentos já recolhidos, mas também os que estão nos órgãos 
de origem, isto é, os documentos em suas três idades. Ressalte-se que a legislação 
é recente, tem raízes na Constituição de 1988, com dispositivos regulamentados pela 
Lei nº 8.159, de 9 de janeiro de 1991, ao passo que as instituições arquivísticas 
remontam a longa data. 
Para darmos início ao estudo sobre a trajetória e o desenvolvimento da 
Arquivologia no Brasil, Crivelli e Bizello (2012) consideram como ponto de partida a 
criação da instituição arquivística mais antiga e mais importante do país, conhecida 
atualmente por Arquivo Nacional. 
Não só aqui, mas em diversos outros países, o Arquivo Nacional atua de 
forma muito importante no sistema arquivístico nacional, em especial no que 
se refere aos poderes públicos, mas sem abrir mão de orientações e 
determinações que abarquem também a atividade arquivística das 
instituições privadas. (CRIVELLI e BIZELLO, 2012) 
Hoje o Arquivo Nacional exerce atividades neste sentido, o que demonstra 
considerável maturidade da instituição, em relação ao conhecimento técnico da 
arquivística e das ações pertinentes à Arquivologia, assim como também relacionado 
ao papel que lhe cabe frente ao país, enquanto a instituição central de um Sistema 
Nacional de Arquivos, influente sobre todos os demais arquivos, centros de 
documentação e memória, entre outras instituições arquivísticas, públicas ou 
privadas. 
 
20 
Razão pela qual os autores supra consideram relevante se utilizar como ponto 
de partida acerca dessa discussão, a criação do Arquivo Nacional do Brasil, em 1838. 
Considerações devem ser feitas ao observarmos sua criação, pois o Brasil vivia um 
momento bastante adverso ao que temos atualmente, seja em suas condições 
políticas, administrativas, sociais e mesmo cultural. 
Neste ano de 1838, contavam-se exatos 30 anos que o Brasil havia recebido 
a transferência da Corte portuguesa em suas terras, em 1808, como 
consequência das invasões napoleônicas, em ação por toda a Europa. Este 
acontecimento é elementar para a história do Brasil, pois representa um 
momento de transição em sua construção estrutural político-administrativa e 
social, por considerarmos que, desde o ano 1500, o Brasil se via na condição 
de colônia de Portugal, onde se exercia a atividade econômica exploratória 
da cana-de-açúcar, plantada em grandes extensões de terra. A administração 
das terras brasileiras passou por algumas tentativas de pouco sucesso, que 
inclui também algumas alterações em sua divisão territorial, sendo a mais 
duradoura o Governo-Geral, que se baseia na nomeação de um responsável 
por todo o território da colônia, o Governador-Geral ou Vice-Rei, que atende 
diretamente os regimentos emanados da metrópole. O sistema cobre de 1550 
até a vinda da Coroa. (CRIVELLI e BIZELLO, 2012) 
Desta feita, como o todo território colonizado se encontrava dominado 
completamente pelos portugueses, o comando burocrático determinava que a 
documentação aqui produzida, basicamente administrativa, pertencia à Coroa. 
Em 1808, o Brasil, então, recebe a transferência da Coroa portuguesa, 
juntamente com toda sua corte, o que viria a exigir a quase total reestruturação do 
sistema administrativo local, para ter condições de incorporar toda a corte transferida. 
Relevante mudança se dá com a transferência da capital administrativa do 
Brasil, até então localizada na cidade de Salvador, na Bahia, para a cidade do Rio de 
Janeiro. 
Quando a família real chegou no país, trouxe consigo não só as pessoas que 
lhes davam suporte, mas, principalmente, todo o Poder Real, antes emanado de 
Lisboa, agora no Rio de Janeiro, que passa, então, a ser o centro do sistema 
administrativo do reino, e ganha ainda mais status quando o Brasil deixa de ser 
entendido enquanto colônia de Portugal, e é promovido à qualidade de Reino Unido. 
Crivelli e Bizello afirmam que nesse sentido, o Brasil, mais especificamente o Rio de 
Janeiro, passa a tomar uma proporção burocrática diferente da que tinha 
anteriormente. Acreditam que existiam lugares onde a administração acumulava seus 
documentos, entretanto ainda não havia regulamentado um arquivo central da 
administração real para este fim. 
 
21 
Em 1822, Dom Pedro I, filho de Dom João VI, Rei de Portugal, declara a 
independência brasileira do poder português. O Brasil, a partir daquele momento deixa 
de ser uma colônia, alçando à condição de país independente, administrado através 
de um sistema político imperial, onde seu declarante se coloca na posição de 
imperador. 
Decorrentes do império de administração autônoma, acontece a implantação 
do sistema político de base parlamentar, que garantiu a elaboração de uma 
assembleia constituinte, em 1823, que renderá a primeira constituição 
brasileira, em 1824. Nesta constituição já se tem o indicativo da existência de 
um arquivo público, responsável por recolher e abrigar a documentação 
produzida pela administração pública, dividida em quatro esferas de poder, o 
Poder Legislativo, Poder Executivo, Poder Judiciário e Poder Moderador. 
(CRIVELLI e BIZELLO, 2012) 
Crivelli e Bizello lecionam que mesmo já existindo um Arquivo Público, ele só 
seria oficialmente levado à feito no ano de 1838, num momento onde o governo 
brasileiro era regido não pelo seu imperador, pois Dom Pedro I havia se retirado para 
Portugal, mas por seu filho Dom Pedro II, naquela época ainda uma criança. A 
administração seria realizada através da regência de membros do Parlamento, 
enquanto o Príncipe Regente ainda não tinha idade para assumir seu papel de 
governante. 
E foi na regência de Pedro de Araujo Lima que, implantou-se o Arquivo Público 
do Império, vinculado diretamente à Secretaria de Estado dos Negócios do Império, 
braço do poder Moderador, o que lançava o Arquivo Público a um status bastante 
interessante, caso este fosse um elemento relevante. 
Costa (2000, apud CRIVELLI e BIZELLO, 2012) disserta sobre os objetivos do 
Arquivo Público no momento de sua criação: 
Criado como um dos instrumentos viabilizadores do projeto político nacional, 
o Arquivo brasileiro visava, ao mesmo tempo, fortalecer as estruturas do 
Estado recém-fundado e consolidar a própria ideia do regime monárquico em 
um continente totalmente republicano. Para alcançar tais objetivos seria 
necessário recolher não só a documentação produzida pela administração 
pública, a fim de realizar sua função instrumental em relação ao novo Estado, 
como também os documentos referentes ao passado colonial, que se 
encontravam dispersos nas províncias e deveriam subsidiar a escrita da 
história da nação, a exemplo dos arquivos europeus. 
Percebe-se assim que, quando de sua criação, o Arquivo Público do Império 
exercia funções similares às que cabia aos arquivos nacionais europeus, no que tange 
o auxílio à estruturação do Estado em suas diversas formas, assim como a posterior 
 
22 
manutenção. Entre as funções administrativas e históricas, os arquivos nacionais, 
encabeçados pelos Archives Nationales franceses, seguiam uma linha de atividades 
que fornecia o suporte administrativo ao governo através do recolhimento da 
documentação produzida no decorrer de suas atividades administrativas e também 
agia de forma direta na construção da história nacional ao recolher, organizar, 
preservar e dar acesso aos documentos que diziam respeito ao país. 
Explicam Crivelli e Bizello que no Brasil, o Arquivo Público do Império foi 
construído através dessas ideias desenvolvidas na Europa, com grandes influências 
portuguesas, justamente ao se considerar que todos os governantes do novo Estado, 
desde o Imperador até os Parlamentares, se não eram efetivamente portugueses, 
haviam saído do Brasil paraestudar em Lisboa e Coimbra, os grandes centros que 
recebiam os moradores da Colônia para sua formação universitária. Era comum os 
jovens da mais alta classe social do Brasil saírem para estudar em Portugal e 
retornarem para exercerem atividades políticas, o que fazia com que o sistema de 
pensamento político sofresse enorme influência portuguesa. 
Isso também ocorreu com o Arquivo Público. Costa (2000, apud Crivelli e 
Bizello, 2012) relata acerca da sua idealização, que seguia os pensamentos 
patrimonialistas aplicados ao governo monárquico português, e do funcionamento do 
Arquivo da Torre do Tombo, que preservava os documentos para o uso do Rei, sem 
que as demais pessoas pudessem ter acesso ao material ali preservado. Este sistema 
de sigilo absoluto das informações governamentais era regra entre todas as nações, 
sendo finalizado apenas após a Revolução Francesa e a criação de um novo conceito 
de arquivo público. 
Mas este novo conceito não chegou a influenciar a construção do Arquivo 
Público do Império, no Brasil, que ainda recebeu esse pensamento da burocracia 
centralizada portuguesa, e entendia que os arquivos do governo deveriam ser 
fechados, sem que a população fizesse uso deste material. 
Com relação à atuação do Arquivo Público do Império, tinha por objetivos o 
recolhimento e preservação dos documentos do governo, e auxiliar na construção da 
história do novo Estado independente. O recolhimento, apesar de ser uma atividade 
prevista, havia falhas em sua execução, também derivadas desse sistema burocrático 
herdado que, para fins de segurança e sigilo, demandava aos órgãos e secretarias 
que mantivessem seus próprios arquivos, e isso se transformava em um complicador 
para que futuramente essa documentação fosse transferida para o poder do Arquivo 
 
23 
Público. Com a ausência de políticas arquivísticas, a forma como se desenvolveram 
as atividades burocráticas e administrativas do governo não foram devidamente 
planejadas no que se refere aos seus trâmites e sua produção, deixando a cargo de 
critérios variados e esporádicos os recolhimentos para o Arquivo Público. 
Como agravante, a instabilidade existente na divisão territorial por todo o 
período colonial, que foi responsável por originar a divisão em províncias, 
com administrações locais próprias, subordinadas ao governo do império. 
Esta forma de administração territorial poderia simplificar as formas de 
administração, emanadas do poder central para as províncias, e facilitar a 
transferência de documentos destas para o Arquivo Público, se fosse o caso, 
se contássemos com arquivos públicos regionais em cada província para 
realizar essa gestão. Isso não ocorreu efetivamente até a implantação do 
governo republicano. Durante o período imperial, apenas três províncias 
contavam com um arquivo, que são Ceará, Goiás e Paraná. As demais 
províncias, que passaram a ser entendidas enquanto Estados, terão seus 
arquivos públicos estaduais implantados de forma fragmentada após o 
regime republicano (CRIVELLI e BIZELLO, 2012). 
A tarefa, de agir como auxiliar na construção da história do novo Estado 
demandou ao Arquivo Público a necessidade de busca pela documentação 
pertencente à administração durante o período colonial, que se encontrava espalhada 
entre as províncias e as secretarias. Uma vez que a construção da história de um novo 
Estado-nação é fundamental para seu sustento e sua permanência enquanto tal, pois 
será através destes elementos históricos, entre outros, que surgirão os sentimentos 
de identidade, memória, coesão social e histórica, bases do sentimento de 
nacionalidade, sem o qual, se instaura um período de crises no Estado, 
comprometendo inclusive a sua existência. 
Para os autores, essa consciência existia por parte dos governantes, havendo 
dedicação do governo para assuntos referentes à construção desse contexto de 
coesão social, e o fator histórico se mostrava como elementar para que dessem 
andamento ao trabalho de construção e sustento da Nação. 
Enquanto instituição central do tratamento de arquivos do governo, o Arquivo 
Público poderia exercer este papel, entretanto, no mesmo ano de sua implantação, foi 
criado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), visando buscar, recuperar 
e preservar documentos relevantes ao passado do Brasil, e a partir deles, desenvolver 
a história do país através dos trabalhos historiográficos (Camargo, 1999; Costa, 2000, 
apud CRIVELLI e BIZELLO, 2012). Por motivos políticos, o IHGB, naquele período, 
acabou por tomar proporções maiores às do Arquivo Público, o que lhe garantia 
melhores condições para exercer suas atividades. 
 
24 
O IHGB mantinha em sua estrutura, profissionais dedicados a realizar 
viagens por todo o território brasileiro em busca de identificar documentos 
importantes para a história do país e realizar a captação destes documentos 
para comporem o acervo do IHGB. O mesmo acontecia com viagens a outros 
países, em especial à Europa, para realizar o mesmo trabalho. O IHGB 
contava com sede própria e corpo profissional exclusivo. Ao Arquivo Público 
não era revertido, nem mesmo, verba básica. (CRIVELLI e BIZELLO, 2012) 
Esse contexto apresentado, referente à criação e implantação do Arquivo 
Público do Império do Brasil reflete como era pensado o sistema de arquivos do 
governo, ou seja, como não era pensado em termos arquivísticos, e por 
considerarmos que na Europa essas questões já eram pauta dos governos e das 
áreas científicas, notamos certo atraso brasileiro neste sentido. Costa (apud Crivelli e 
Bizello, 2018) nos diz: 
Estas descobertas conduzem à constatação de que o Arquivo Público foi 
coadjuvado por outras instituições, em atividades e funções que seriam de 
sua exclusiva competência. Nesse sentido, a ‘divisão de tarefas’ entre as 
agências culturais empenhadas no processo de construção da nacionalidade 
implicou a superposição de funções e a consequente fragilização do Arquivo 
enquanto principal instituição de guarda dos documentos da administração 
pública. 
Somente em meados de 1870 que o arquivo terá um pouco mais de destaque 
após a implantação de prazos para o encaminhamento de documentos das 
secretarias e órgãos do governo para o Arquivo Público e uma estratégia de ação na 
atividade histórica do Arquivo é lançada, com iniciativas de captação de documentos 
referentes à história e a geografia brasileiras. O que pode ser visto através da primeira 
publicação feita pelo Arquivo Público do Império, em 1886, intitulada “Catálogo das 
cartas régias, provisões, alvarás, avisos, portarias, de 1662 a 1821, existentes no 
Arquivo Nacional e dirigidas, salvo expressa indicação em contrário, ao governador 
do Rio de Janeiro, e, depois de 1763, ao vice-rei do Brasil.” 
Após a implantação da República, em 1889, o país por um processo geral de 
reestruturação. No ano de 1893 o Arquivo Público do Império passa por uma 
reestruturação, seu regimento é revisto e ele passa a se chamar, então, Arquivo 
Público Nacional. Dentre as mudanças políticas decorrentes desta transição, uma que 
interfere diretamente nas ações do Arquivo Público Nacional diz respeito ao conceito 
de liberdade de acesso à informação do governo por qualquer cidadão da república, 
antes limitado somente aos poderes da sociedade imperial. 
 
25 
3.2 O Arquivo Nacional Brasileiro 
Uma nova reorganização interna ocorre em 1911, que altera seu nome para 
Arquivo Nacional (AN). Neste ano é criado o Curso de Tratamento de Arquivos para o 
Serviço Público, organizado pelo AN para atender a demanda decorrente da estrutura 
social mais burocratizada do sistema republicano. Este curso visava qualificar 
funcionários atuantes no sistema público, a fim de otimizarem as atividades 
administrativas públicas. 
O Dasp, a FGV e o Arquivo Nacional, durante a administração José Honório, 
foram ‘lugares da arquivologia’ que, nas décadas de 1940 a 1960, experimentaram 
processosdistintos nos quais os arquivos alcançaram um lugar na cultura e no projeto 
de desenvolvimento institucional. 
O historiador José Honório Rodrigues tomou posse na direção do Arquivo 
Nacional em 29 de agosto de 1958, com a tarefa de modernizar o órgão, criado em 
janeiro de 1838 como Arquivo Público do Império, conforme previsto na Constituição 
monárquica de 1824. Para José Honório, sua missão resumia-se em encaminhar as 
soluções para a instituição tornar-se “um arsenal da Administração” e pudesse 
“assegurar ao povo as provas de seus direitos e o acesso legal ao conhecimento e à 
informação” (RODRIGUES, 1959, apud SANTOS e LIMA, 2016). Três meses após 
sua posse, José Honório obteve a aprovação do Regimento Interno (Decreto n. 44.862 
de 21/11/1958), transformando a estrutura do órgão, que passou a dispor de 
instrumentos mais compatíveis com a moderna arquivística europeia e norte-
americana. 
Santos e Lima relatam que nos primeiros meses, o intenso trabalho à frente da 
instituição seria revelado por sua correspondência com historiadores e outros 
profissionais do Brasil e de fora do país. Em uma carta de setembro, dirigida ao 
Professor Eurípides Simões de Paula da Universidade de São Paulo, José Honório 
demonstra preocupação com o quadro de uma “repartição obsoleta” e suas 
prioridades iniciais: 
Recebi sua carta de 25 de agosto, quatro dias depois de minha nomeação 
para o Arquivo Nacional e desde que assumi a 29 não pude mais responder 
nenhuma carta. Está tudo atrasado e não creio que nestes dois meses de 
outubro e novembro eu possa cuidar de outra coisa que não seja o Arquivo 
Nacional, pois encontrei uma repartição obsoleta, na estaca zero, com um 
regulamento de 1923. Já fiz um novo projeto de regulamento para uma 
reforma de base da instituição, preparei emendas no orçamento a fim de obter 
 
26 
verbas para o ano que vem e estou providenciando maiores acomodações. 
(RODRIGUES, José Honório, 2004, apud SANTOS e LIMA, 2016). 
Após um ano à frente da Instituição, José Honório produziu sua peça de 
resistência e de maior significado político: A situação do Arquivo Nacional. Pela 
primeira vez em sua história, o Arquivo Nacional contava com um diagnóstico 
detalhado de sua situação nos diversos aspectos relacionados à organização, 
recursos técnicos, infraestrutura, quadro de pessoal e orçamento. O problema técnico 
se resumia à ausência absoluta de uma política de recolhimento, procedimentos de 
seleção e eliminação de documentos, organização e arranjo do acervo, elaboração de 
instrumentos, registro e inventário. Superar a condição de “simples depósito de 
documentos entregues à sua guarda, sem controle técnico” era o desafio da principal 
instituição arquivística do país, que teria vivido “anos de desinteresse arquivístico, de 
tentativa de transformação do Arquivo Nacional, em Arquivo Histórico” (RODRIGUES, 
1959, apud SANTOS e LIMA, 2016). José Honório não se furtou a apresentar sua 
visão naquele contexto: “A atividade histórica aí, no momento, deve ser apenas 
marginal e assessorar a administração do Arquivo. Só depois da solução dos 
problemas administrativos e arquivísticos é que o Arquivo Nacional deverá cuidar de 
História” (Rodrigues, 1959, p. 66, apud SANTOS e LIMA, 2016). 
Quando assumiu o Arquivo Nacional, José Honório possuía como um de seus 
objetivos contar com a assessoria de técnicos europeus e norte-americanos que 
pudessem colaborar no estudo e no planejamento da reforma institucional que 
pretendia imprimir. E foi nesse contexto que ocorreu a vinda do técnico francês Henri 
Boullier de Branche, diretor dos Arquivos de Sarthe (Le Mans). Boullier colaborou no 
Curso de Arquivos e dirigiu um grupo de profissionais na elaboração do Inventário 
Sumário da Secretaria da Marinha. Ele deixou as bases de um método de 
classificação que, segundo sua análise, a instituição ainda não possuía. E elaborou 
um “Relatório sobre o Arquivo Nacional do Brasil”, no qual abordava os mais diversos 
aspectos do planejamento, gestão administrativa e técnica de uma instituição 
arquivística. Com relação à formação do pessoal, o arquivista francês estabelece uma 
ligação direta entre a formação de pessoal qualificado e o “futuro dos arquivos 
brasileiros”. Sem desqualificar o esforço do Dasp na criação de cursos destinados à 
formação de arquivistas, acompanhados de aulas práticas oferecidas no próprio 
Arquivo, Boullier afirmava que este esforço só teria prosseguimento e resultado 
satisfatório se viesse acompanhado da criação de uma escola de arquivistas da qual 
 
27 
o Brasil tinha necessidade premente. No segundo semestre de 1959, com a presença 
do técnico francês acontece o segundo curso em colaboração com o Dasp. 
Uma das recomendações formuladas por Boullier de Branche, a criação de uma 
escola ou uma série de cursos regulares para formação de arquivistas, começou a ser 
posta em prática já em 1960, com a criação do Curso Permanente de Arquivos, de 
dois anos de duração. Entretanto, nos primeiros anos o curso não funcionou com 
regularidade em decorrência da falta de recursos financeiros, levando algumas 
matérias a assumirem características de cursos avulsos. 
Para José Honório Rodrigues, o quadro de pessoal era um dos problemas 
mais graves e, por isso, deveria ser considerado uma prioridade. Para 
solucioná-lo, uma das medidas propostas era a criação de um curso 
permanente de formação de arquivistas para portadores de diploma do então 
curso secundário. Sua inspiração era a École des Chartes da França e os 
cursos universitários europeus e norte-americanos (1959, p. 65). A formação 
de arquivistas de nível superior ou destinados às tarefas executivas começou 
efetivamente a ser objeto de cursos regulares ou avulsos, no início da década 
de 1960. As únicas exceções antes disso foram os dois cursos promovidos 
pela administração de José Honório Rodrigues em 1959, com apoio do Dasp 
(SANTOS e LIMA, 2016) 
José Honório trouxe ao Brasil, em 1960, o vice-diretor do Arquivo Nacional dos 
Estados Unidos, Theodore Schellenberg, que ministrava cursos de arquivo na 
American University, de Washington, como parte da estratégia de contar com técnicos 
estrangeiros que pudessem orientar a reforma institucional que pretendia empreender. 
Ele estudou com profundidade o problema arquivístico brasileiro, sugeriu a tradução 
de obras fundamentais da bibliografia arquivística, realizou conferências e cedeu os 
direitos autorais de seus trabalhos. 
Produzir uma ‘coleção’ de obras de referência sobre os arquivos era um dos 
objetivos de José Honório Rodrigues que colocou à serviço deste programa editorial 
sua experiência e capacidade de interlocução com instituições e profissionais dos 
Estados Unidos e da Europa. 
As atividades realizadas pelo Arquivo Nacional durante a gestão de José 
Honório Rodrigues, ao final dos anos 1950 e começo dos 1960, são consideradas 
como marcos no desenvolvimento da Arquivologia no Brasil, por servirem de base 
para os passos futuros dados pela área, em todos os seus modos de atuação. 
Com relação à estrutura estadual de arquivos, do início da República até a 
década de 1960, são implantados 11 arquivos estaduais, o que mostra uma ampliação 
e regionalização das preocupações arquivísticas, seguindo os pensamentos do 
 
28 
governo federal. Este fenômeno deveu-se também ao sistema de governo 
burocratizado, aliado à consciência de acesso público à informação governamental, o 
que não quer dizer que esta última fosse efetivada. 
Entretanto, o sistema de arquivos no Brasil ainda era defasado por não contar 
com legislações que organizassem o tratamento e os trâmites administrativos dos 
poderes públicos. 
No ano de 1960 a estrutura administrativa pública do Brasil passou por uma 
reestruturação, com a construção da cidade de Brasília, desenvolvida e construída 
para ser a capital do país e centralizar todos os poderes federais, que até então se 
localizavam noRio de Janeiro, o que demandou a transferência de todos os órgãos 
para a nova capital. Foi incluído, necessariamente, dentre estes, o Arquivo Nacional. 
Foi promulgado então o Decreto Nº 48.936, em 14 de setembro de 1960, que “Cria 
um Grupo de Trabalho com a finalidade de estudar os problemas de arquivos no Brasil 
e sua transferência da Brasília” 
A proposta era criar uma unidade do AN em Brasília com a finalidade de dar 
suporte às tarefas administrativas federais, enquanto a sede continua no Rio 
de Janeiro, junto com o acervo histórico da instituição. Ao grupo cabe 
organizar esta transferência e, principalmente, determinar a divisão de seu 
acervo entre os conjuntos documentais que devem seguir para Brasília e 
auxiliar na administração e os que continuam na sede. (CRIVELLI e BIZELLO, 
2012) 
O acervo do Arquivo Nacional foi, então, dividido em dois. 
Em 18 de maio do ano seguinte, foi publicado o Decreto Nº 50.614, que realizou 
alterações no decreto de 1960, sendo que vale destacar a inclusão de mais uma 
competência deste grupo de trabalho. Foi incluído ao Artigo 3º, o item VII, com o 
seguinte teor: “elaborar anteprojeto de lei estabelecendo as diretrizes para uma 
política de recolhimento de documentos no país”. Tal alteração instituiu as bases para 
resoluções futuras que atuam no sentido de estabelecer legislações próprias para os 
arquivos brasileiros, não apenas públicos, como também os privados, e a criação de 
um sistema nacional de arquivos. 
3.3 O Papel dos Arquivistas 
Na década de 1970, realizam-se, por intermédio do associativismo arquivístico 
brasileiro, ações de definição de sua forma institucional: criação da Associação dos 
 
29 
Arquivistas Brasileiros (AAB) e constituição intersubjetiva de uma comunidade 
profissional. 
O associativismo é considerado decisivo para a institucionalização da área no 
país, reconhecendo, ainda, a falta de pesquisa acadêmica sobre o papel exercido pela 
a AAB entre 1971 e 1978 na organização do campo arquivístico no Brasil. 
Os depoimentos recolhidos por Gomes (2011) reafirmam o projeto coletivo 
de regulamentação da profissão de arquivista como meio de autoafirmação dos 
profissionais de arquivo e formação de uma comunidade arquivística. Essa ação 
coletiva com sua mobilização política de conotação corporativista configurou um 
espaço público no qual se passa a refletir sobre a atividade arquivística, 
compreendendo que o trabalho arquivístico é de interesse para a sociedade e o 
Estado. 
Gomes (2011) afirma que a formação de coletivo entre os profissionais de 
arquivo revela que os participantes passaram a reconhecer um tipo específico de 
identidade social que se forjava na apreensão e no exercício da práxis arquivística, 
dentro de um contexto histórico de repressão política e reconfiguração nos padrões 
de controle do Estado sobre a organização coletiva no Brasil. Esse associativismo 
arquivístico se caracteriza para além dos objetivos profissionais de melhoria das 
condições de vida e bem-estar social da categoria, isso na medida em que são 
propositivos também diante das condições dos arquivos brasileiros. “As atividades 
iniciais destas associações tiveram, para além da questão corporativista, a ação 
direcionada à atuação dos Estados no que se refere às políticas públicas de arquivos” 
Foi através da mobilização de profissionais de variadas áreas, com atuações 
voltadas aos trabalhos arquivísticos, que se formou a força política necessária para 
criar uma associação de classe com condições de ação no cenário nacional. 
A AAB, que aglutinou uma plêiade de profissionais de documentação e 
informação do país, com multidisciplinar formação em arquivologia, história, 
biblioteconomia, ciências sociais, administração, economia, letras, direito, 
medicina, enfermagem, dentre outras ciências, credencia-se como um dos 
agentes estruturantes da Arquivologia e da Arquivística brasileiras. (SILVA, 
Jaime, 2008, apud CRIVELLI e BIZELLO, 2012) 
O objetivo da Associação era desenvolver uma atuação no cenário nacional 
com vistas ao desenvolvimento de questões referentes aos arquivos, em decorrência 
das péssimas condições em que se encontravam os arquivos da época. A valorização 
dos arquivos em paralelo ao desenvolvimento e sistematização da Arquivologia 
 
30 
nacional tomava grande parte das preocupações destes profissionais encabeçados 
por José Pedro Pinto Esposel, professor do curso de História na Universidade Federal 
Fluminense, que inaugurou a cadeira de presidente da AAB logo no momento de sua 
fundação. 
A AAB dirigia suas ações almejando o desenvolvimento da área através dos 
profissionais enquanto agentes mobilizadores desta movimentação. Com esse 
objetivo, a associação desenvolvia debates, mesas-redondas, seminários e outros 
eventos que objetivavam movimentar as discussões referentes aos arquivos no Brasil. 
Decorrente deste trabalho, no período de 15 a 20 de outubro de 1972, aconteceu o I 
Congresso Brasileiro de Arquivologia, organizado pela AAB, na cidade do Rio de 
Janeiro, com a formidável participação de cerca de 1.300 pessoas, atuantes na área 
de arquivos em todo o território nacional (Esposel apud Castro, 2008, apud Crivelli e 
Bizello, 2012). 
A Revista Arquivo & Administração, uma das primeiras revistas especializadas 
em arquivos no Brasil, é posta em circulação com a finalidade também de propagar a 
ação da AAB. De responsabilidade da associação, a revista compilava artigos 
científicos e textos especializados à área de Arquivologia. 
Crivelli e Bizello, 2012, ressaltam que no início dos anos 1970, também com 
forte influência da criação da AAB, foi dado o passo inicial para o desenvolvimento da 
formação de profissionais arquivistas com qualificação, através da criação do primeiro 
curso de Arquivologia em nível superior, no Brasil. Em 1973 que o Curso Permanente 
em Arquivos, do Arquivo Nacional é encampado pela Universidade Federal do Rio de 
Janeiro (UNIRIO) e passa a integrar a grade de cursos de graduação da universidade, 
com o aval do Conselho Federal de Educação, que já havia autorizado a implantação 
de cursos de Arquivologia em universidades brasileiras no ano de 1972. 
A graduação em Arquivologia da UNIRIO, foi o único no Brasil da área no país 
até o ano 1976, quando então é criado o segundo curso de Arquivologia no Brasil, na 
estrutura da Universidade Federal de Santa Maria, no município de Santa Maria, no 
Rio Grande do Sul, e na sequência, em 1978, é aberto o curso da Universidade 
Federal Fluminense, na cidade de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro. 
No ano de 1974 foi aprovado o currículo mínimo do curso superior de arquivos, 
determinando a estrutura básica dos cursos de graduação em Arquivologia com um 
mínimo de 2.160 horas/aula ministradas num período mínimo de 3 anos e máximo de 
5 anos, incluindo uma carga horária de 10% do total do curso, não contabilizado no 
 
31 
programa didático, para dedicação à realização de estágio supervisionado em 
instituição arquivística especializada e a redação de trabalho de conclusão de curso. 
Quanto à grade curricular, estabelecida com base na proposta de programa 
de ensino apresentado por Astréa de Moraes e Castro juntamente com o 
projeto do curso superior de arquivos ao CFE, define-se que deverá conter 
na grade dos cursos, ao menos, disciplinas que englobem os seguintes 
conhecimentos: Introdução ao Estudo de Direito; Introdução ao Estudo da 
História; Noções de Contabilidade; Noções de Estatística; Arquivos I-IV; 
Documentação; Introdução à Administração; História Administrativa, 
Econômica e Social do Brasil; Paleografia e Diplomática; Introdução à 
Comunicação; Notariado; Língua Estrangeira Moderna. 
O currículo mínimo para os cursos de Arquivologia estipula 12 matérias como 
obrigatórias a todos os cursos do país. Na prática, encontra-se a média de 35 
disciplinas obrigatórias nas grades curriculares das escolas de Arquivologia.Esta concentração de disciplinas obrigatórias se justifica por conta da grande 
carga de disciplinas de conhecimentos gerais, consideradas como 
necessárias à formação do profissional arquivista, que demanda uma 
formação humanística, atinada às diversas realidades sociais presentes no 
país e nas sociedades em geral. História, sociologia, antropologia, filosofia, e 
conceitos de educação são buscados de modo recorrente nas formações 
brasileiras, de modo que exija a carga de disciplinas dilatada (Britto, 1999; 
Jardim, 1999, apud CRIVELLI e BIZELLO, 2012) 
 
Em 04 de julho do ano de 1978, diante da grande formação de profissionais 
arquivistas, foi sancionada a Lei Nº 6.546, que dispõe sobre a regulamentação das 
profissões de arquivista e técnico de arquivos. Condizente à preparação universitária 
que recebe nos cursos superiores, compete ao arquivista todos os processos de 
gestão documental, atividades de preservação, pesquisas e pareceres técnicos 
relacionados à arquivística, entre outras atividades. 
Em de 25 de setembro de 1978, é promulgado o Decreto Nº 82.308, a partir do 
qual o Brasil passa a contar com o Sistema Nacional de Arquivos (SINAR), com a 
proposta de estabelecer um sistema de tratamento que dispusesse de um controle 
integrado dos arquivos públicos federais a partir das determinações estipuladas para 
o funcionamento do sistema. 
No decreto de 1978, para a implantação do SINAR, é determinado que 
Art. 1º - Fica instituído o Sistema Nacional de Arquivo (SINAR) com finalidade 
de assegurar, com vista ao interesse da comunidade, ou pelo seu valor histórico, a 
preservação de documentos do Poder Público. 
 Para a implantação do Sistema, entendia-se sua atuação direcionada apenas 
aos arquivos intermediários e permanentes e deixava de lado o tratamento dos 
arquivos administrativos. Era previsto o tratamento apenas dos documentos do Poder 
Executivo, sendo autorizada a inclusão dos documentos dos Poderes Legislativo e 
 
32 
Judiciário, mediante convênios. Foi instituído como órgão central do SINAR o Arquivo 
Nacional, subordinado ao Ministério da Justiça. 
Ainda assim a ideia de um Sistema Nacional de Arquivos é bastante 
interessante, demonstrando considerável avanço na dedicação governamental quanto 
ao tratamento documental e a preservação de seus arquivos. 
Durante toda a década de 1970 houve a intensificação por parte de órgãos 
governamentais no desenvolvimento de projetos de proteção ao patrimônio cultural 
nacional. O objetivo principal se voltava à preservação da memória nacional e de 
referências ao passado, como forma de se construir a história. 
A partir de 1975, ocorre uma proliferação de centros de documentação, centros 
de memória e centros de referência, em seguimento ao intento de preservação da 
memória nacional. 
Trata-se de um momento onde os arquivos históricos voltam a ter a 
valorização que lhes é pertinente, enquanto potenciais detentores de 
memória e fonte informacional para o desenvolvimento de pesquisas 
históricas, e demais trabalhos de investigação, para segmentos coletivos. 
(CRIVELLI e BIZELLO, 2012) 
Há que destacar também outro movimento social que serviu de estímulo para 
um fenômeno similar. Em meados do século XX, ocorre a intensificação no 
desenvolvimento de pesquisas científicas, em especial aos campos de tecnologia e 
de saúde, quando então surge uma demanda informacional ainda não presenciada 
nos núcleos científicos. O que acabou por acarretar a criação de centros de 
documentação especializados, desenvolvidos com vistas a atender a demanda 
informacional por parte do desenvolvimento das áreas. 
E por se tratar de uma movimentação altamente especializada, que demandaria 
de um suporte também especializado para atender às suas, viu-se a necessidade da 
criação destes serviços por parte de instituições de ensino superior, onde começa a 
se dedicar atenção aos arquivos universitários e científicos. 
Considera-se como fruto deste momento específico da sociedade, a 
implantação do Arquivo Edgar Leuenroth (AEL), que entrou em atividade em 
1974 na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no Estado de São 
Paulo, após o recebimento do acervo pessoal do militante anarquista que 
conferiu nome à instituição. Uma atividade planejada, a absorção do conjunto 
documental de Edgar Leuenroth foi realizada na intenção mesma de 
estruturar um local que oferecesse suporte ao programa de pós-graduação 
do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da universidade, atuando 
enquanto fonte de informações primárias, elementares ao desenvolvimento 
das pesquisas no campo em que foi inserido. Desde então, concomitante a 
 
33 
esta atividade primeiramente planejada, o AEL amplia sua proposta inicial e 
passa a agregar diversos conjuntos documentais, que correspondam à 
proposta estabelecida por suas políticas internas, concernentes a temáticas 
referentes aos movimentos sociais nacionais, movimentos políticos, atuação 
da esquerda política, antropologia, história da América Latina, em um amplo 
espectro. Na mesma instituição, onze anos depois, é criado o Centro de 
Memória da Unicamp (CMU), com o objetivo específico de resgatar e 
preservar a memória da Unicamp, da cidade de Campinas, onde se instala a 
universidade, e de sua região. Outros exemplos interessantes são o Instituto 
de Estudos Brasileiros (IEB-USP) da Universidade de São Paulo e o Centro 
de Documentação e Memória da Universidade Estadual Paulista (CEDEM-
UNESP), oriundos de pensamentos similares aos da Unicamp, entre outros 
exemplos distribuídos por universidades de todo o país. (CRIVELLI e 
BIZELLO, 2012) 
Destaca-se também o empenho de instituições autônomas, não 
necessariamente ligadas a alguma instituição de ensino superior, mas a instituições 
de ordem pública dedicadas ao desenvolvimento social de alguma área específica, 
assim como fundações e institutos. Como exemplo, temos no Estado do Rio de 
Janeiro, a Casa de Oswaldo Cruz (COC-FIOCRUZ), que corresponde a um braço de 
atuação da Fundação Oswaldo Cruz de pesquisas na área da saúde. Criada em 1985, 
a COC tinha por projeto inicial a preservação da memória da Fundação a que se 
relaciona, concomitante com a preservação da memória sanitária no país, por 
considerar um paralelo à atuação da FIOCRUZ na área da saúde. 
Crivelli e Bizello, 2012 destacam dentro deste movimento expansionista, a 
criação, em 1973, do Centro de Pesquisa e Documentação de História 
Contemporânea do Brasil, ligado à Fundação Getúlio Vargas (CPDOCFGV), com 
objetivos um tanto desafiadores para a época, mas que acabou por render frutos 
essenciais no atual contexto arquivístico, político e científico brasileiro. Tinha como 
propósito o recolhimento, tratamento, preservação e disseminação de acervos 
referentes às elites políticas do país através dos conjuntos documentais dos 
integrantes deste grupo. Se propunha, portanto, a trabalhar diretamente com os 
arquivos pessoais dos políticos atuantes no cenário político contemporâneo (século 
XX), contando ainda com o uso da história oral, a fim de ampliar o acúmulo de 
informações dentro de seu contexto de atuação (Ferreira, 2003, apud Crivelli e Bizello, 
2012). 
 
34 
3.4 Programa de Modernização Institucional 
Socióloga com curso de doutorado pela Sorbonne, Celina Vargas do Amaral 
Peixoto foi fundadora do Centro de Pesquisa e Documentação de História 
Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas e diretora-geral do 
Arquivo Nacional entre 1980 e 1990. 
No ano de 1981 Celina Vargas põe em prática o Programa de Modernização 
Institucional, com esforços de mãos de obra técnica e de desenvolvimento científico 
partilhado com o CPDOC-FGV, instituição essa também dirigida pela diretora-geral do 
AN. 
O Programa de Modernização executado na gestão de Celina Vargas abrangia 
não somente melhorias estruturais físicas: a revitalização do prédio, adequação às 
técnicas de conservação, aquisição de novos equipamentos,

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