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Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp “Dor é uma desagradável experiência sensorial e emocional associada a uma lesão tecidual já existente ou potencial, ou relatada como se uma lesão existisse.” A dor é também um mecanismo básico de defesa, nos impede de nos machucar ou de piorar a lesão. A dor é um sintoma apenas, é totalmente subjetiva. Ela compreende 3 mecanismos básicos: transdução, transmissão e modulação. Transdução é o mecanismo de ativação dos nociceptores por estímulo mecânico, térmico ou químico. A transmissão é o conjunto de vias e mecanismos que possibilita que o impulso nervoso chegue no SNC. As fibras que vem de estruturas somáticas apresentam uma distribuição dermatomérica (dermátomos). Já a modulação são vias responsáveis pela supressão da dor. 1. CLASSIFICAÇÃO FISIOPATOLÓGICA DA DOR • Dor Nociceptiva: causada pela ativação dos nociceptores por agressões externas, dor visceral, neuralgia do trigêmio, invasão neoplásica etc. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Começa junto com o fator causal e quando tira ele, a dor passa. Pode ser espontânea (pontada, facada, agulhada, aguda, rasgando, surda, profunda etc) ou evocada (desencadeada por movimento, por manobras). • Dor Neuropática: dor por lesão neural, quando há desintegração dos tratos e o axônio perde sua aferência com o nociceptor e ficam supersensíveis. Pode ser constante, intermitente ou evocada. Na evocada pode ter alodínia, que é quando o simples tato causa dor absurda (reinervação dos axônios nociceptivos por receptores táteis). Causada por traumas, inflamação, desordens vasculares, infecções, neoplasias, doenças degenerativas etc. Ocorre junto ou depois do fator causal, não podendo tirá-lo. Exemplos: polineuropatias (alcólica, diabética), neuralgia pós-herpética (HZV), no membro fantasma, etc. • Dor Mista: junção da nociceptiva e neuropática. Por exemplo, numa neoplasia pode ter superestimulação de nociceptores e destruição deles. • Dor Psicogênica: gerada apenas por mecanismos psíquicos, sem nenhum fator orgânico (tudo está perfeito, mas o componente psíquico causa a dor física). É difusa, generalizada e imprecisa. Geralmente onde o paciente diz que está doendo não corresponde a região do órgão (dor referida errada). A irradiação não segue o trajeto de nenhum nervo. Geralmente descrevem de maneira dramática (“como tendo a pele arrancada”). 2. TIPOS DE DOR Depende do local de origem da dor. → Dor Somática Superficial: estimulação dos nociceptores da pele. Bem localizada, de intensidade variável. Pode ser em pontada, picada, rasgando, queimação. → Dor Somática Profunda: estimulação dos nociceptores dos músculos, tendões, ligamentos e articulações. Um pouco mais difusa, tipo dolorido, surda, profunda, isquêmica (cãibra). → Dor Visceral: estimulação dos nociceptores viscerais. Profunda, difusa, dolorimento ou dor surda, vaga. Pode ser por lesão na víscera, membranas (peritônio, pleura), nos nervos ou por dor referida. Dor víscera maciça: surda Dor víscera ocas obstruídas: cólica Dor da pleura parietal: pontada ou fincada Dor da isquemia: em aperto Dor da gastrite, úlceras: queimação → Dor Referida: é a sensação da dor numa estrutura superficial longe da estrutura profunda que realmente está com dor. É causada pela convergência de neurônios nociceptivos comuns da região somática com a visceral. Ex.: dor na parte medial do braço esquerdo durante o infarto; dor periumbilical na apendicite; dor no ombro direito em úlcera duodenal perfurada. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp → Dor Irradiada: é sentida a distância da origem mas que segue o trajeto do nervo. Ex.: ciatalgia (hérnia de disco lombar), se irradia pela bunda, face postarolateral da coxa e da perna. 3. CARACTERÍSTICAS SEMIOLÓGICAS DA DOR Temos que avaliar todos os pacientes com dor usando as 10 características da dor. I. LOCALIZAÇÃO – Onde dói? Região onde o paciente sente a dor. Temos que descrever de modo anatômico na anamnese, como “dor em hipocôndrio direito”. Se o paciente falar que é na vesícula, não aceitar isso, pedir para apontar onde dói. II. IRRADIAÇÃO – A dor anda, muda de lugar? Se a dor é localizada, irradiada ou referida. Perguntar se a dor irradia, se ela muda de lugar, se “anda”. III. QUALIDADE/CARÁTER – Como é essa dor? Perguntar qual a sensação dessa dor. Se o paciente tiver dificuldade para descrever, devemos falar a lista de termos para ele. Primeiro definir que é espontânea (constante ou intermitente) ou evocada. Dores intermitentes podem ser latejante/pulsátil, em choque, em cólica ou torcer, em queimação, constritiva/aperto, em pontada, surda etc. IV. INTENSIDADE – Quão forte ela é? Como é subjetiva, devemos utilizar escalas de dor. Há escalas com expressões, uma linha, com imagens tipo emoji. Para o adulto a melhor é a escala analógica visual da dor, uma linha que vai da extremidade sem dor até a pior dor possível. Para analfabetos, crianças e idosos, utilizamos as escalas de representação gráfica não numérica, que tem expressões faciais (desenhos). Perguntar se ela limita, se interfere com atividades do dia a dia, como sono, trabalhar, andar, sexo etc. V. DURAÇÃO – A quanto tempo dói? Data de início da dor, se for intermitente tem que perguntar quanto tempo dura até passar um pouco e depois voltar. Podemos classificar em aguda (<1 mês) ou crônica (>1 mês). VI. EVOLUÇÃO – Essa dor muda ao longo do tempo? Primeiro perguntar se o início foi súbito ou insidioso (gradual). Depois perguntar se a dor muda de forma. VII. RELAÇÃO COM FUNÇÕES ORGÂNICAS Se tem relação com órgãos e estruturas próximas. Por exemplo, perguntar se diante da dor torácica, tem alguma relação com a respiração, movimentos do tórax, tosse, espirro, esforços físicos etc. Se for epigástrica, perguntar o que acontece quando come. Em geral, a dor piora quando o órgão é muito requisitado. VIII. FATORES DESENCADEANTES OU AGRAVANTES – O que piora a dor? Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp São coisas que pioram ou geram a dor. Incluem as funções orgânicas mas também coisas externas, como medicamentos, ambientes, clima, alimentos, dias do mês, etc. IX. FATORES ATENUANTES – O que melhora a dor? São coisas que melhoram a dor, podendo ser orgânicas ou não. Posturas (atitudes antálgicas), repouso, distração, ambientes, medicamentos etc. X. MANIFESTAÇÕES CONCOMITANTES – O que mais você sente quando está com dor? São outras manifestações relacionadas com a dor, por exemplo, lacrimejamento, sudorese, fotofobia, vômitos, tosse, etc. A temperatura corporal tem muita pouca variação (0,6), sendo muito bem regulada por áreas do hipotálamo. A medição da temperatura pode ser axilar, oral, retal, timpânica, arterial pulmonar, esofágica, nasofaringiano e vesical. A mais comum é a axilar e nessa que devemos nos atentar mais. Sempre devemos fazer a higiene da axila e do termômetro antes da medição. Axilar: 35,5 a 37ºC (média 36-36,5) Bucal: 36 a 37,4ºC Retal: 36 a 37,5ºC (0,5 maior que axilar) Quando a temperatura corporal está acima do limite de normalidade, temos a febre. É causada por lesões centrais ou por substâncias tóxicas (toxinas bacterianas, proteínas virais, proteínas de tecidos lesionados = pirogênios) que influenciam no centro termorregulador do hipotálamo. Na febre a produção de calor aumenta e a dissipação do calor também aumenta, pois o fluxo sanguíneo está aumentado (dilatação) e por isso há sudorese e calafrios. As causas da febre podem ser várias, como infecções, lesões teciduais, inflamação, neoplasias etc. Em algumas infecções a febre pode ajudar no combate dos sintomas, mas na maioria não muda nada, só serve como um alerta. Febre alta pode ser nociva por aumentar o metabolismo e o trabalho + FC. Há desidratação por sudorese, mal estar geral por cefaleia, fotofobia, indisposiçãogeral, taquicardia, vômitos, delírios, convulsões. Tudo isso e muitos outros sintomas relacionados estão associados a síndorme febril. 1. CARACTERÍSTICAS SEMIOLÓGICAS DA FEBRE I. INÍCIO: súbito ou gradual. Quando é súbito, geralmente ocorre síndrome febril, há sensação de calafrios. Na gradual geralmente tem cefaleia, sudorese e inapetência. II. INTENSIDADE: sempre em relação com a temperatura axilar. Não necessariamente a intensidade da febre tem a ver com a gravidade da infecção, por exemplo, em idosos infecções graves quase não causam febre, Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp só dá uns 37,3ºC (maturação do centro termorregulador). Já em crianças, qualquer infecçãozinha já aumenta a febre pra uns 39ºC, por imaturidade do centro termorregulador. Leve (febrícula): até 37,6ºC [ou de 37,3 a 37,8] Moderada: 37,6 a 38,5ºC [acima de 37,8] Alta: >38,6ºC [acima de 39] *Sinal de Lenander: temperatura retal maior que 1ºC da axilar sugere inflamação intra-peritoneal. III. DURAÇÃO: se a febre é curta ou prolongada (~ >1 semana). IV. MODO DE EVOLUÇÃO: como se comportou a febre durante o tempo, se teve picos, se caiu, se teve momentos sem febre. Para isso, devemos fazer um gráfico térmico ou pela anamnese mesmo. A febre pode ser contínua, séptica, remitente, intermitente ou recorrente. → Febre Contínua: sempre com febre, com variações até 1ºC. Ex.: pneumonia. → Febre Irregular (Séptica): picos altos intercalados por quedas da temperatura ou temperatura normal (sem febre=apirexia). Totalmente sem padrão. Ex.: septicemia, tuberculose. → Febre Remitente: sempre febre, com grandes variações, mas nunca sem febre. Ex.: septicemia, tuberculose. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp → Febre Intermitente: febre com períodos de temperatura normal. Ex.: malária. → Febre Recorrente (Ondulante): grandes períodos de temperatura normal interrompidos por febre. A febre não tem grandes variações. Ex.: linfoma de Hodgkin. V. TÉRMINO: em crise ou em lise. Em crise a febre some subitamente, com sudorese e prostração. Em lise a febre vai sumindo gradualmente em dias.
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