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A ASSISTÊNC|A SOCIAL NA PRATICA PROFISSIONAL: HISïORIA E PERSPEGTIVAS. Maria Carmelita Yazbek RESUMO: Este texto trata da histórica relação entre Serviço Social e Assietência Social. Situa a ernergênpia da profissão no contexto de avanço da profissionalidade no tratamento da questão social e no crescimento da rcsponsabilidade do Estado na tarefa de asseguraÍ políticas no campo social.Mostra como as velhas formas de atender às seqüelas da questão gocial modificam-se até os anos mais rccentes, quando com a Constituição Federal de {988 e a implantação da Seguridade Social brasileira, a Aseistência Social alcança o patamar de política pública. Finalmente çploca em evidência o protagonismo dos assistentes sociais na construção de uma nova matriz analÍtiòa para a Assistência Social no país e para a implementação do atual Sistema Único de Assistência Sociat - SUAS. Palavras Chave: Serviço Social, Assistência Social, SUAS Gostaria de iniciar minhas reflexões apresentando como ponto de partida uma 'forma de apreender a prática profissional do assistente social, situada no movimento histórico da sociedade. Entendo que o surgimento do Serviço $ocial como profissão na sociedade brasileira, seu assalariamento e a ocupação de um espaço na dÍvisão social e técnica do trabatho, bem como a estruturação'de seu mercado de trabalho particular é resultante de relações históricas, $ociais, políticas e econômicas que moldam sua neçessidade sociale definem os seus usuários. "Portanto, buscamos ultrapassar a análise do Serviço social em si mesmo para situá-lo no contexto de relações sociaisl mais 4.mplas qìre o condicionam e lhe atribuem características particulares. Seu significado social, suas demandas, tarefas e atribuições devem ser identificados dentro da trama de relações que constituem a vida social e particularmente nas respostas que a sociedade e o Estado constroem frente às necessidades sociais dos homens Cf. Iamamdq Ìúüildq 1995 (Itr "diçaot em suas múltiplas dimensões {materiais, espirituais, culturais, subietivas etc}. Estas dimensões, constituem a sociabilidade humana e estão presentes no çotidiano da prática ds assistente social." {Yazbek, 2004: 13} O Serviço Social interfere nos processos relacionados com a reprodução social da vida, desenvolvendo sua ação profissional em situações sociais que afetam a qualidade de vida da população em geral e sobretudo dos . setores mais empobrecidos da sociedade, objetivando melhorar essas condições sob múltiplos aspectos, o'A intervenção profissional leva em consideração relaçÕes de classe, genêro, etnia, aspirações sociais, polÍticas, religiosas, culturais, além de componentes de ordem afetiva e emocional. O trabalho do assistente social pode produzir resultados concretos nas condiçÕes materiais, sociais e culturais da vida de seus usuários, em seu acesso e usufruto de políticas sociais, programas, serviços, recursos e bens, em seus comportamento$, valores, seu mods de viver e de pensar, suas formas de luta e organização, suas práticas de resistência." {yazbek, za04:r4l Âs polÍticas sociais são a rnediação para este exercicio. E, entre as políticas sociais é fundamental destacar a Assistência Social. A trajetória da profissão com diferentes conotações, acompanha a Assistência Social brasileira desde os anos 39 quando o Estado assumê uma intervenção reguladora frente à emergente questão sociar2 no paÍs. Com o desenvolvimento da urbanização e com a ernergência da classe operária e de euas reivindicações e mobilizaçõês, quê se expandem a partir desses anos, particularmente no$ espaços das cidades, a .,questão social,,, considerada legÍtima pelo Estado, passa a ser o fator impulsionador de medidas estatais de proteção ao trabalhador e sua familia. Nesse período, a regulação das tensões entre as classes sociais se efetiva mediante a consolidaçâo das Leis do Trabalho (CLT|, o Satário MÍhimo e outras medidas de cunho controtador, assistencial e paternalista, É também nessê contexto que emergê como profissão o Serviçà'Social brasileiro marcado pelo proieto politico da lgreja Católica expresso "pela doutrina e pela ação social católica". Nêste momento histórico a prafissão prioriza a Ação 9ocial {intervenção direcionada para mudanças sociais sob a ótica do ideário ?o questiio social entendennos a dispúa pela riquaa social na sociedde capitalista pelas classes sociais. católico) em relação à Assistência Social.3 Ainda assim, a Assistência Social era considerada um avanço em relação às práiicas fiiantrópicas prevalecentes até então. Em 1942 o governo brasileiro çria a LBA com a finalidade de prestar às familias dos expedicionários brasileiros. Terminada a Guerra a LBA se volta para â Assistência à maternidade e à infãncia e já nessê momento se inicia a politica de convênios com as entidades socials. Tratava-se de um "modelo de regufação pela benemerência" {Sposati, 1994; 8} e que está na raiz da relação sirnbiótica que a emergente Assistência $ocial brasileira vai estabelecer com a Filantropia e com a benemerência {cf. Mestriner,200í }4. Caracterizada por ações paternatistas e de prestação de auxilios emergeneiais e paliativos à miséria vai interferir junto aos segmentos mais pobres da sociedade, mobilizando a sociedade civil, o trabalho feminino e a profissionalização dos assistentes sociais. Essa modalidade de intervenção está na raiz da relação simbiótica que a emergente Assistência Social brasileira vai estabelecercom a Filantropia e com a benemerência {cf. Mestriner,200í}u.O caráter dessa relaçâo nunca foi claro e a históriça inexistência de fronteiras entre o público e o privado na constituição da sociedade bnasileira vai compor a tessitura básica dessa relaçâo que çontinuamente repõe tradições clientelistas e assistencialistas seculares. portanto, o que se observa é que, historicamente a Assistência Social brasileira e juntamente com ela, o Serviço Social profissional, se estruturam vinculados: í l ao conjunto de iniciativas benemerentes e filantrópicas da sociedade civil e 2l aa avanço da profissionalização no tratamento da questão social e ao crescimento da centralidade do Estado na tarefa de assegurar o bern estar da @hcirÉraFeÍeira Reüsa serviço social e sociedadeno 12, sâopauto, CorIez- agostode 1983. Partilho com Netto (20O1) s enátisp segundo a qual a pofissionalização do Serviço Social não se explica 4p€nas como cmtinuidde da filmtropia qr da caridade (desenvotvidas desde a da sociedade burguesa) mas vincúa-se à dinâmica da oçdem rumpólican0 camiotto da profissionalaafio do Serviço Social é, na verdadq o prooesso pelo qual sets ag€mtes - atúa qn ãesenvdwrdo rerra arÍorepresentação e um discurso centradas ra autaania dw sus rla/,çvls ç & sts twtde - s insereÍn cm atiüddes interventivas cuja dinâmica, orgmizaçâo, rcursm e oliaivos são Mcrmir:dos para além do seu controle.n (Netto, 2001 ; ?l ) 3 - Para a autcra ..Asi$focia S€ci4 Fikoda e Ferrsssàciô tenn si& tratdas no [kasil como irrnãs siamesas, *6r1ilutas irrnas da outrm" (lvMim:- M):14). 3 - Para a autora '?ssistêmia Sociaf filmtrqlia e Benrqqrfub *m si& tratdas no Brasil como irmãs siamesas, subsührtas umas da ou8as" {}v{estriner: 2001:14) sociedade. Trata-se de um çontexto no qual o Estado passa a operacionalizar suas responsabilidades a paÉir do reconhecimento das competências profissionais e do trabalho baseado no saber técnico para a prestação de serviços sociais. $em dúvida a profissionalidade e a intervenção especializada como "modêlo de ação competentê" se tornaram componentes fundamentais das polÍticas de bem estar no Welfare contemporâneo. Gom o tempo as velhas formas de socorrer os pobres gestadas na filantropia e na. benemerência evoluem {p. ex. Na LBA}, passando desde 'oa arïêGadação de fundos para a manutenção de instituições carentes, auxílio econômico, amparo e apoio à família, orientação maternal, campanhas de higiene, fornecimento de filtros, assistênciamédico odontológica, manutenção de creches e orfanatos, lactários, concessão de instrumentos de trabalho etc" {Falcão e Sposati, 1989:Í9} até políticas, programas e projetos explicitamente anunciados como de combate à pobreza. Esse processo, çontou sempre com a interuenção dos assistentes sociais brasileiros. Eu diria mais: os assistentes sociais fomm operadores centrais nesse processo. O pobre, trabalhador eventual e destituído, é o usuário dessas polÍticas pelas quais é visto como "indivíduo necessitado", I muitas vezes como pessoa açomodada, passiva em relação à sua própria condição, dependente de ajuda, não cidadão enfim. Sua figura é desenhada em negativo. {Cf Telles, í999} No contexto desenvolvimentista as instituições soçiais direcionam seus programas para uma polÍtica de integração participativa dos mais pobres no processo de desenvolvimento nacional. E,nos anos que se seguiram ao golpe militar de 1964 as politicas sociais vão combinar assistència à pobreza com repressão. eom a ampliação da desigualdade na distribuição de renda que Gresce sobretudo nos ano$ 80 {a década perdida para a CEPAL} a pobreza vai se converter em tema central na agenda social, quer por sua crescente visibilidade, pois a década deixou um aumento considerável do número abeoluto de pobres, quer pelas pressões de democratização que çaracterizaram a transição. Tratava-se de uma conjuntura econômica dramática, dominada pela distância entre minorias abastadas e massas miseráveis. Permanecerir as antinomias entre pobreza e cidadania. A situação de endividamento {que cresce 61% no$ anos 80}, a presença dos organismos de Washington {Fffil,Banco Mundial}, o consenso de Washington' as reforrnas neoliberais e a redução da autonomia nacional, a adoção de medidas econômicas e o aiuste fiscal vão se expressar no crescimento dos indices de pobreza e indigência. "É sempre oportuno lembrar que' nos anos 90 a somatória de extorsões que configurou um novo perfil para a questão social brasileira, particularmente pela via da vulnerabilização do trabalho' conviveu com a erosão do sistema público de proteção social, caraeterizada por uma perspectiva de retração dos investimentos públicos no campo social' geu reordenamento e pela crescente subordinação das politicas saciais às politicas de aiuete da econornia, com suas restrições aos gastos públicos e sua perspectiva privatizadora." {Cf. Yazbek, 2004} É nesse contexto, e na ,,contra mão'o das tranSformações que OGOffem na Ordern eConÕmiCa internacional mundializada que o Brasil vai instituir constitucionalmente em 1988, seu sistema de seguridade social no qual vâmos de*tacar a Assistência Social. Com esse sistema tem inicio a construção de uma nova concepção para a Assistência social brasileira, que é regulamentada em í993, como política social púbtica, e inicia seu transito para um Gampo novo: o campo dos direitoso da universalização dos açessos e da responsabilidade estatal. O protagonismo dos assistentes sociais brasileiros na elaboração da LOAS foi fundamental. É nesse sentido, que tantas vezes aÍirmamos que a LOAS estabelece uma nova matriz para a Assistência Social brasileirao inieiando um processo que tem como perspectiva tomá-la visível como politica pública e direits dos que dela necessitarem. A inserção na Seguridade aponta também para seu caráter de politica de proteção $ocial6 articulada a outras políticas do campo soçial voltadas à garantia de direitos e de condições dignas de vida. Desse modo, a assistência social configura-se como possibilidade de reconhecimento @ as formas 'à,s nezes mais, as vezes flrenos instihrcionalizadas qÌre as sociedades ccmstihrem para protÊg€r parte ou o @rnto de seus mernlrc- Tais sistemas decmrem de certas " -"iìriúao da .d'da ".t*"1 *, r*t"t, tais como a velbice, a dffiFs o inforírmiq as privações- Úncluo neste conceito, tarnbémtmto as formasseletivasdedistribüiçãoeredisrih(Sodeb€nsÍÍd6iais(mmoa comida e o dinheiro), qÌrmto os bens cútgrais (corno os saberes), furc permitirm a sotrevivàrcia e a integraçâo, sob várias formas na vida social.Incluo , ainda,os pimipios regúladAÍes € as IXtrïìas que,com o intuito de prcteção, fazem parte daüda das coletiüdades" (Di Giovami, 1998:lO) público da tegitimidade das demandas de seus usuários e e$paço de ampliação de seu Protagonismo. ,,Como lei, a LOAS inova ao afirmar paÍa a Assistência Social seu caráter de direito não contributivo, {independentemente de contribuição à Seguridade e para além dos interesses do mercadolo ao apontar a necessária integração entre o econômico e o social e ao apresentar novo desenho institucional para a assistência social. Inova também ao prçpor a participação da população e o êxercicio do controle da sociedade na gestão e execução das políticas de assistência social." {Yazbek, 2004:13} Tendência ambigua, de inspiração neoliberal, mas que contraditoriamente pode direcionar-se para os interesses de seus usuários. $em dúvida, uma mudança substantiva na concepção da assistência social, um avanço que permite sua passagem do assistenciqlismo e de sua tradição de não política para o carnpo da politica pública.Como política de Estado passa a ser um espaço para a defesa e atenção dos interesses e necessidades sociais dos segmentos mais empobrecidos da sociedade, configurando-se tambémn como estratégia fundamental no combate à pobreza, à discriminação e à subalternidade econÕrnica, cultural e politica em que vive grande parte da população brasileira. Assim, cabem à Assistência Social ações de prevenção e provimento de um conjunto de garantias ou seguranças que cubram, reduzam ou previnam exelusões, riscos e vulnerabilidadès sociais, {Sposati, ,lgg5l bem como atendam às necessidades emergentes ou permanentes decorrcntes de problemas pessoais ou sociais de seus usuários. {Cf Yazbek, 20041 Essas garantias se efetivam pela construção do que Mishra denomina de "rede de segurança da rede de Segurança" ou seia um coniunto de programas, projetes, serviços e benefícios voltados â proteção social e ao atendimento de necessidades da população usuária dessa política. Em geral caracterizada por sua heterogeneidade essa rede de segurança {constituída pelos órgãos governamentais e por entidades da sociedade civil} opera serviços vottadea ao atendimento de um vastíssimo conjunto de necessidades particularmente dos segmentos mais pobres da sociedade: atende à familias, idosQs, crs. e adolescentes, desempregados, portadores de deficiência, migrantes, portadores do HlV, dependentes de drogas, etc Arrecada e doa alimentos, alfabetiza adultos, protege testemunhas, defende direitos humanos e a cidadania, atende suicidas, adolescentes grávidas, órfãos, combate a violência, cria empreendimentos auto gestionados, cuida de çreches, de atendimento módico domiciliar e de outras iniciativas que compõem o complexo e divergificado campo da Assistência SocialT à' população. Biretamente envolvido tanto na gestão e implementação desses serviços e politicas, como na "execução terminal" {José Paulo Netto}, estão os á$sitentes sociais brasileiros. Dessa forrna a Assistência Social como campo de efetivação de direitos é, {ou deveria ser} polÍtica estratégica, não contributiva, voltada para a construção e provimento de mínimos ssciais de inclusão8 e para a universalização de direitoso buscando romper com a tradição clientelista e assistencialista que historicamente permeia a área onde semprê foi vista como prática secundária, em geral adstrita às atividades do plantão social, de atenções êm emergências e distribuição de auxílios financeiros. Nesses últimos anos tornaram-se evidentes as caracteristicas neoliberais da politica social brasileira, face às necessidades sociais da população. Quais são essas características? {muitas das quais nós assistentes sociais operacionalizamosl { - Uma retomada analÍtica dessas políticas sociaiso revela suadireção compensatória e seletiva, centrada em situações limites em termos de sobrevivência e seu direcionamento aos mais pobres dos pobres, incapazes de competir no mercado. Nesse sentido as politicas acabam sendo o lugar do não direito e da não cidadania...n'lugar a que o indivíduo tem acesso, não por t . Em São Paulo es{es servirps es{ão agrupados êÍn seguÍaÍças wiais a serern garart*las: Segurança de Âcolhida: opera corÍì a pro\risão de necessidadas humanas qüê começam com os direüos a coÍner, vest'r, dormk e abr[ar-se, píópdos à üda humana êrn soclêdadê. lntegram esta segnlÍançâ 6 sërviçoÉ al€ aHt|o, fnord}â píoìrlsóÍ-la, albeÍguês operando com a provisão dê ná;êssidadês básbas; Segurança de Corwívio: sêwiçaç voüa& ao dêsênvolviÍne{rto da sociabilidade como crectes, casas dê convivênci4 o€Íiros dê servÇos, proieacs socirêducdivo$ Fa*a sbnças e adobscentes e outros; Seguranp de Êencficias/Rendinrer*w: inctri f6gffin€s e pc|*e d,e rans#eÍêôciâ de renda. bolsas e au<ílios vincuhdos a fabalho soctal d€ ÍÌdü€sa sácb e*,rc#n. &Ìcfti aiÍxlr, Fograrr$ de dendinento emergencial, ÍestauÍarúes populares erúre orüos-; Suança de Trave**eÍ&*on*úa: fudd ser'*ps wlad6 à prwisão de apoios e denções paÍa quê o cidadão seja alcarçável pe*ae pomim sodais pc rn€b 4É srla iÍs€ngão íÉ ÍEde só€ieas8**cncíd, lrípnFa íìthoriâ da condição de üda e pÍovisão de mebs p6ra â can*t@ de at*ornr*t de soürevir€rria- lrcfui ryniro a proie*o* de geraçáo de rênda, foÍmação de cooperdivx ek.I Paa Sf,osài (1997:f0, grilos dâ ad*rr) *Fúopor rnír#noe saciab ê eslabdeÇsÌ o @raÍ de cobertura de riscos e de garartiras qrÉ irm socêdadê çrer gorarÉfr psrâ todc G sêüs ctdadãç. Trata-s de definir o patamar de dignidade abaixo do qual nenlnm cidadão dweria esta' sua condição de çidadania, mas peta prova de que dela está excluÍdo"{Telles' 200Í:95) 2.Aherançadosú|timosl0anos,olegadoquetemosqueenfrentaréeste:o legado da subordinação do soclal ao econômico' o social constrangido pelo econÕmico. o social refilantropizado e despolitizado e despublicizado. 3 - Outra constatação nesta análise ievela-se no o'deslocaÍnento"' no cenário brasileiro recente, da questão da pobreza "Gomo questão e como figuração pública de prohlemas nacicnais, de um lugar pcliticamente construído - lugar da ação, da intervenção, da crítica, da polêmica e do dissenso - para o lugar da não politica, onde é figurada como dado a ser administrado teçnicamente ou gerido pelas práticas da Filantropia.''{Telles' í998:15} Cabe|embrarqueestedeslocamento,quetemcomoexpressãomaioro crescimento do Terceiro Setor, vai inserir-se nos processoS de reestruturação dos sistemas de proteção social e da política social em geral, proce$sos quer por sua vez se explicam nos marcos da reestruturação dos mecanismos de acumulação do capitalismo glcbalizado e que vem sendo implementados' particularmente em sua periferia, por meio de uma reversão polÍtica neoliberal caracterizada,entreoutrascoisas,peladestituiçãodedireitostrabalhistase eociais e pela erosão das condições politicas que conferiam um caráter púb|icoàdemandapordireitossocials.{Cf.Yazbek,2002} É nesse contexto que cabe à Assistência Social brasileira atual, prover um conjuntodesegurançasquecubram,reduzamouprevinamriscose vulnerabilidades sociais, {Sposati, 1995} bem como necessidades ernergentes ou perrnanentes decorrentes de problemas pessoais ou sociais de seus usuários. Nesse sentido o seu conteúdo e diretrizes são reveladores da gxtensão e das paÉicularidades da Proteção Social adotada pelo Estado e expressa pela Politica de Assistência Social' Em setembro de 2004, atendendo ao çumprimento das deliberações da lV Conferência Nacional dé Assistêncian realizada em Brasilia em dezembra de 2003, o CNAS - consetho Nacional de Assistênçia socialaprovou' após amplo debate no pais, a Política Nacional de Assistência Social em vigor' na qual bcupa um lugar de destaque o (re) desenho desta polÍtica, na per$pectiva de implementação do suAs - sistema unico de Assistência social' A construção e implementação do Sistema Único da Assistência Social - SUAS, requisito essençiat da LoAS para dar efetividade à assistência social como politica pública, vem se caracterizando como uma das prioridades da Secretaria Nacional de Assistência social do Ministério do Desenvolvimento sscial e combate à Fome. Nesse processo está envolvido significativo contingente de assistentes sociais brasileiros. *A gestão proposta por esta Política se pauta no pacto federativo' no qual devem ser detalhadas as atribuições e competências dos três níveis de governo na provisão das ações socioassistenciaiso em conformidade cem o preconizado na LOAS e NOBsn a paÉir das indicações e deliberações das Conferências, dos Conselhos e das Gomissões de Gestão Compartilhada {comissões Intergestoras Tripartite e Ëipartites - clT e clB's}, as quais se constituem em espaços de discussão, negociação e pactuação dos instrumentos de gestão e formas de operacionalização da PolÍtica de Assistência $ocial." {PNAS, 2004:1 0} Nesse sentido, o sistema unico de Assistência $ocial - suAs estâ voltado à articulação em todo o território nacional das responsabilidades, vinculos e hierarquia, do sistema de serviços, benefÍcios e ações de assistência soçial' de earáter permanente ou eventual, executados e pfovidos por pessoas juridicas de direito público sob critério de universalidade e de ação em rede hierarquizada e em artiçulação com iniciativas da sociedade civil' o suAS é constituído pelo conjunto de serviços, progrãmas, proietos e beneficios no âmbito da assistência social prestados diretamente - ou através de convênios com organizações sem fins lucrativos -, por órgãos e instituiçÕes públicas federais, estaduais e municipais da administração direta e indireta e das fundações mantidas peto poder público' É modo de gestão compartilhada gue divide responsabilidades para instalar, regular, manter e €xpandir as ações de Assistência $ocial. - Énquanto sistema cabem ao SUAS: 1 - Ações de Proteção Básica: ffianoanode1999,oombasenaentãoPolíticaNaciona|.Apartirda "pr"*ção J".tã n*" puorct" ãe PctÍtica far-s+á imprescindível sua rerrisão, para que atenda às preüsões instituídas. - prevenção de situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortaiecimento de vinculos familiares e comunitários. A população alvo: sãs familias e indivíduos que vivem em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação {ausência de renda, precário ou nulo ãce$so aos serviços públicos, dentre outros) ê, ou fragilização de vinculos afetivos-relacionais ê de pertencimento soçial {discriminações etárias, étnicasu de gênero ou Boí deficiênclas, dentre outras}. Os serviços de proteção social básica serão executados de forma direta nos CRAS Centros de Referència da A. S. ou de forma indireta nas entidades e organizaçÕes de A. S. da área de abrangência dos CRAS. 2 - AçÕes de Proteção EsPecial: - atenção assistencial destinada a individuos que se encontram em situação de alta vulnerabilidade pessoal e social. $âo vulnerabilidades decorrentes do abandono, privação, perda de vinculos, exploração, violência, etc. Essas açÕee destinam-se ao enfrentamento de situaçÕes de risço em famílias e individuos cujos direitos tenham sido violados e, ou, em situações nas quais já tenha ocorrido o rompirnento dos laços famillares e comunitários. Podem ser: - de média complexidade: familias e indivíduos coffi seus direitos violados, nnas cujos vínculos familiares e comunitários não foram rompidos. - de alta cornplexidade: famÍlias e individuos com seus direitos violados, que se encontram sem referênria, e, ou, em situação de ameâça, necessitando ser retirados de seu núcleç familiar e, olt, comunitário. $ão os assistentes sociais que estão implementando o SUAS, apoiados pela NOB 2005, enfrentandoinúmeros desafios entre os quais destacamos a gonsolidação e a democratização dos Conselhos e dos mecanismos de participação e controle social; a organização e apoio à representação dos usuários; a participação nos debates sobre o $UAS, a NOB, os CRAS e o$ CREA$; a elaboração de diagnósticos de vuinerabilidade dos municipios; o monitoramento e a avaliação da politica; CI estabeleçimento de indicadorcs e padrões de qualidade e de custeio dos serviços; contribuindo para a construção de uma cultura democrática, do direito e da cidadania. 10 Estas questões nos interpelam "diretamente quando fazemos (ainda?) a aposta em uÍna cidadania ampliada,o' e quando buscamoS rcverter a figura do pobre como não cidadão. Tarefa difiçil, que esbarra na herança perversa de uma pobreza persistente e naturalizada, em uma sociedade cada vez mais desigual, que mesmo Gom o aumento visivel da pobreza, "não instaura o debate público sobre a iustiça e a igualdade, pondo em foco as iniqüidades inscritas na trama social." {Telles,200í} Romper com essa herança e instaurar esse debate na sociedade brasileira é parte de nosso proieto' É esse no$so sonho"' Bibliografia - lamamoto, Marilda. Relações sociais e serviço social no."Brasil: Esbôço de uma interpretação históricoímetodológica .são Paulon cortez, 1995, 10a ed'; - Mestrinern Maria Luiza. o Estado entre a Filantropia e a Assistência social' São Paulo, Cortez, 2001- -PNAS,2004. - sposati, Aldaiza. Assistênçia social Pública: Desafios para uma Politica Pública de seguridade social. In Cadernos ABONG no 3, São Paulo, 1995' cidadania ou Filantropia - um dilema para o GNAS. São Paulo, Núcleo de seguridade e Assistência $oclal da PUCI$P, oo 1, í994' sposati e Falcão. LBA ldentidade e Efetividade das ações no enfrentamento da pobreza brasileira. São Paulo, EDUC'1989' - Telles, Vera da Silva. Pobreza e Cidadania. São Paulo, Editora 34 ' 200í' No fio da Navalha: entre carências e direitos, Notas a propósito dos programas de renda mínima no Brasll' ln Programas de Renda l/linima no Brasil: impactos e potencialidades. São Paulo, Pó[is, 1998' Direitos sociais. Afinal do que se trata? Bela Horizonte, Éd. UFMG, 1999. - Yazbek, Maria Carmelita. lnstituto Polis, PUC-SP' A Assistência Social na cidade de São Pau.lo; {Observatório dos Direitos do Gidadão: t! 12
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