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PROCESSO DE CONHECIMENTO: PROCEDIMENTO COMUM SUMÁRIO DISPOSIÇÕES GERAIS: ........................................................................................................ 1 DA PETIÇÃO INICIAL (UM ATO DA FASE POSTULATÓRIA) ................................................. 4 JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DA PETIÇÃO INICIAL ........................................................... 53 DA CITAÇÃO DO RÉU (BREVES CONSIDERAÇÕES) ........................................................... 75 DA AUDIÊNCIA PRELIMINAR DE CONCILIAÇÃO OU DE MEDIAÇÃO ................................ 85 DISPOSIÇÕES GERAIS: No CPC/73 o processo de conhecimento seguia a seguinte divisão: No NCPC/2015, DESAPARECE o rito sumário, bem como a nomenclatura “rito ordinário”; MANTENDO-SE somente a nomenclatura “procedimento comum” e alguns procedimentos especiais tanto dentro quanto fora do código de processo civil. Assim sendo, importa observar que o processo de conhecimento, ainda hoje se desenvolve através de diferentes “caminhos” ou de diferentes sequências de atos processuais: - Um destes procedimentos, estabelecido pelo NCPC/2015 como um procedimento padrão, recebe o nome de PROCEDIMENTO COMUM e deve ser usado como regra geral a teor do caput do art. 318, NCPC. Art. 318. Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo disposição em contrário deste Código ou de lei. O procedimento comum é, então, o modelo, o padrão, em outras palavras o standart dos procedimentos cognitivos. E, exatamente por conta disso, encontra-se minunciosamente regulado pela lei processual. - Por outro lado, existem ainda os chamados PROCEDIMENTOS ESPECIAIS, os quais são regulamentados apenas naquilo que possuem de diferente em relação ao procedimento comum e, por tal razão, o §único do já citado art. 318 é categórico ao dispor que: Parágrafo único. O procedimento comum aplica-se subsidiariamente aos demais procedimentos especiais e ao processo de execução. Por tais razões de ser, o estudo do procedimento comum é medida que se impõe. O CPC trata do procedimento comum a partir do art. 318, dividindo-o em QUATRO FASES: a postulatória, na qual o autor formula sua pretensão por meio da petição inicial e o réu apresenta a sua resposta; a ordinatória, em que o juiz saneia o processo e aprecia os requerimentos de provas formulados pelas partes; a instrutória, em que são produzidas as provas necessárias ao convencimento do juiz; e a decisória. OBS.: Isso não significa que, em cada uma das fases, sejam praticados apenas atos processuais do tipo que lhes dá o nome. A classificação leva em conta apenas o tipo de ato predominante. EX.: em qualquer das quatro fases, não apenas na última, o juiz proferirá decisões interlocutórias. Há possibilidade de atos instrutórios, como a juntada de documentos em qualquer fase. E o juiz, a quem cumpre fiscalizar o bom andamento do processo, poderá a todo tempo determinar atos de saneamento, de regularização de eventuais vícios ou deficiências. DA PETIÇÃO INICIAL (UM ATO DA FASE POSTULATÓRIA) Assim como acontece com todo e qualquer procedimento, o Procedimento Comum INICIA-SE com o ajuizamento de uma PETIÇÃO INICIAL (primeiro ato da chamada fase postulatória). Sendo a inércia uma característica da atividade jurisdicional, a petição inicial pode ser definida como o ato formal responsável por rompê-la através da apresentação, perante o judiciário, dos contornos, objetivos e subjetivos, que indicam a demanda que se pretende ver apreciada. Em outras palavras, a petição inicial é o ato formal responsável por instaurar o processo. Como ato formal que é, alguns REQUISITOS se fazem de observância obrigatória: 1º) FORMA: - Via de regra a petição inicial DEVE SER ESCRITA, admitindo-se sua postulação oral apenas em alguns casos previamente autorizados em lei, sendo que ainda assim deverá ser reduzida a termo escrito. Ex.: art. 14 da Lei n. 9.099/1999 (juizados Especiais Cíveis); art. 12, Lei 11.340/2006 (referente ao pedido de concessão de medidas protetivas de urgência em favor da mulher que se afirma vítima de violência doméstica ou familiar); e do art. 3°, § 1°, Lei n. 5.478/1968 (que trata do procedimento especial da ação de alimentos). 2º) INDICAÇÃO DO “JUÍZO A QUE É DIRIGIDA” A DEMANDA (ART. 319, I, NCPC/2015): - Como a petição contém um requerimento dirigido ao Poder Judiciário, e como este é composto por inúmeros órgãos, entre os quais é dividida a competência (ou seja, o limite dentro do qual um juízo pode exercer sua função jurisdicional), o autor deve indicar para quem a sua petição é dirigida. - Para que seja possível identificar corretamente o juízo para o qual a petição inicial dever ser dirigida, imperioso se faz a adoção dos chamados “CRITÉRIOS DE DETERMINAÇÃO DA COMPETÊNCIA” os quais, segundo disposição legal contida no art. 44 do NCPC, podem ser encontrados na Constituição Federal, em lei federal (especial no CPC), nas leis estaduais de organização jurídica e nas Constituições dos Estados. - No que se refere ao regramento dado pelo NCPC/2015, os critérios de determinação da competência encontram-se disciplinados do art. 42 ao art. 66. - O endereçamento far-se-á no cabeçalho da petição inicial, devendo sempre ser observadas as designações corretas: a) “Comarca” é unidade territorial da justiça dos Estados; “Seção judiciária”, da justiça Federal; b) “Juiz Federal” qualifica o magistrado da justiça federal; e “Juiz de direito”, o da justiça estadual; c) com a entrada em vigor do CPC/2015, o mais correto é se dirigir ao “Juízo” e não mais ao juiz ou tribunal como era a praxe do CPC/1973. Ex.1 CPC/1973: "Exmo. Sr. Juiz de Direito da Vara de Família da Comarca de Belo Horizonte, Minas Gerais". Ex.2 CPC/1973: "Exmo. Sr. Juiz Federal da Vara Federal da Seção Judiciária de Belo Horizonte, Minas Gerais". Ex.3 CPC/2015: "Ao Juízo da Vara de Família da Comarca de Belo Horizonte, Minas Gerais". Ex.4 CPC/2015: "Ao Juízo da Vara Federal da Seção Judiciária de Belo Horizonte, Minas Gerais". - Um eventual erro em relação ao endereçamento não ensejará o indeferimento da inicial, mas tão somente a remessa da mesma ao correto destinatário; PAUSA PRÁTICA: Mario dos Santos (solteiro, engenheiro, domiciliado e residente, na cidade do Rio de Janeiro, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, n.º 1000, apto. 608, inscrito no CPF sob o n.º 000.000.001-00) adquiriu em estabelecimento comercial da Vende Tudo Ltda. (sociedade estabelecida, na cidade de Petrópolis, RJ, na Rua Imperial, n.º 10 e inscrita no CNPJ sob o n.º 123/0001-00) um aquecedor elétrico, fabricado por ABC Produtos Elétricos e Eletrônicos S/A (sociedade estabelecida na cidade de Campos dos Goytacazes, RJ, na Avenida Desembargador Amaro Martins de Almeida, n.º 271, e inscrita no CNPJ sob o n.º 456/0001-00). Em virtude de um defeito de fabricação, o aquecedor elétrico explodiu, provocando incêndio em uma pequena casa que Mário tem na cidade de Petrópolis (RJ). Em decorrência da explosão, além dos danos causados ao imóvel, Mário sofreu ferimentos nas mãos e no rosto, ficando parcialmente desfigurado e impossibilitado de desenvolver suas atividades profissionais pelo prazo de 6(seis) meses. Você, como advogado, foi procurado por Mário, que lhe expõe os fatos, acrescentando que não tem, neste momento, como saber qual o exato montante dos prejuízos sofridos em razão da parcial destruição do imóvel de Petrópolis, e que tão pouco pode precisar, de antemão, o que deixou de ganhar no período de cessação de suas atividades profissionais, por ser engenheiro que trabalha como profissional liberal. COM BASE NO CASO ACIMA, REDIJA O ENDEREÇAMENTO DA PETIÇÃO INICIAL DA AÇÃO QUE, A SEU VER, DEVE SER PROPOSTA, NAS CIRCUNSTÂNCIAS DESCRITAS. RESPOSTA: Versando a demanda sobre relação jurídico material envolvendo, de um lado, consumidor como autor e, do outro lado, fornecedor como réu, buscando o autor impor ao réu responsabilidade civil em razão do fornecimento de produtos ou serviços, poderá o consumidor (autor) optar pelo foro do seu domicílio, como define o CDC: Art. 101 – Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste Título, serão observadas as seguintes normas: I – a ação pode ser proposta no domicílio do autor; (...) Estamos diante de regra especial que uma vez sendo exercida pelo consumidor-autor afasta a regra geral do artigo 46, CPC (domicílio do réu), bem como uma regra mais específica ainda ditada pelo art. 53, IV, a, do CPC; ou seja, o consumidor-autor poderá propor a demanda no seu domicílio, no lugar do fato ou no domicílio do réu-fornecedor. “O foro do domicílio do autor é uma regra que beneficia o consumidor, dentro da orientação fixada no inc. VII do art. 6º do Código, de facilitar o acesso aos órgãos judiciários. Cuida-se, porém, de opção dada ao consumidor, que dela poderá abrir mão para, em benefício do réu, eleger a regra geral, que é a do domicílio do demandado (art. 46, CPC).” Diante do caso concreto e da opção legislativa do foro, em se tratando de um caso concreto é preciso verificar a melhor opção para o seu cliente; em se tratando do exame da Ordem, sugiro que a apresentação da demanda seja feita no FORO DO DOMICÍLIO DO AUTOR, qual seja: comarca do Rio de Janeiro/RJ, por ser, em tese, mais benéfica ao mesmo. Ao juízo da Vara Cível da Comarca do Rio de Janeiro/RJ 3º) QUALIFICAÇÃO DAS PARTES (ART. 319, II, NCPC/2015): - A qualificação é indispensável para que as partes sejam identificadas. Assim sendo, deve o autor apresentar todos os elementos de que dispõe e que tornem possível a individuação das partes da demanda. - Nos termos do art. 319, inciso II, NCPC/2015: Art. 319. A petição inicial indicará: (...) II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; - O que se pretende, com tal requisito, é evitar o processamento de pessoas incertas, bem como verificar a incidência de algumas normas que têm por suporte fático algum desses qualificativos. ex.: litisconsórcio necessário de pessoas casadas, art. 73, § 1°, do CPC; domicílio necessário de funcionários públicos, art. 76 do Código Civil; exigência de caução às custas para os autores estrangeiros ou nacionais não residentes no país, art. 83 do CPC; tratando-se de pessoa jurídica, é fundamental que a petição inicial venha acompanhada do estatuto social e da documentação que comprove a regularidade da representação; e etc. - Nenhuma dificuldade existirá em relação ao autor, mas é possível que o réu, no momento da propositura, seja incerto ou não esteja perfeitamente identificado1. Isso não impedirá o recebimento da inicial: No caso de RÉU INCERTO, a citação será então feita por edital, na forma do art. 256, I, do NCPC/2015. É o que ocorre, por exemplo, nas ações possessórias quando há grandes invasões de terra, em que nem sempre será possível identificar e qualificar os invasores. 1 Sobre o tema veja ainda Resolução nº 46 do Conselho Nacional de Justiça, bem como art. 15 da Lei 11.419/2006, a qual regulamenta o processo eletrônico. Para os casos em NÃO HAJA PERFEITA IDENTIFICAÇÃO do réu, o legislador trouxe os temperamentos dos §§ do art. 319: § 1o Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências necessárias a sua obtenção. § 2o A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações a que se refere o inciso II, for possível a citação do réu. § 3o A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao disposto no inciso II deste artigo se a obtenção de tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça. PAUSA PRÁTICA: Mario dos Santos (solteiro, engenheiro, domiciliado e residente, na cidade do Rio de Janeiro, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, n.º 1000, apto. 608, inscrito no CPF sob o n.º 000.000.001-00) adquiriu em estabelecimento comercial da Vende Tudo Ltda. (sociedade estabelecida, na cidade de Petrópolis, RJ, na Rua Imperial, n.º 10 e inscrita no CNPJ sob o n.º 123/0001-00) um aquecedor elétrico, fabricado por ABC Produtos Elétricos e Eletrônicos S/A (sociedade estabelecida na cidade de Campos dos Goytacazes, RJ, na Avenida Desembargador Amaro Martins de Almeida, n.º 271, e inscrita no CNPJ sob o n.º 456/0001-00). Em virtude de um defeito de fabricação, o aquecedor elétrico explodiu, provocando incêndio em uma pequena casa que Mário tem na cidade de Petrópolis (RJ). Em decorrência da explosão, além dos danos causados ao imóvel, Mário sofreu ferimentos nas mãos e no rosto, ficando parcialmente desfigurado e impossibilitado de desenvolver suas atividades profissionais pelo prazo de 6(seis) meses. Você, como advogado, foi procurado por Mário, que lhe expõe os fatos, acrescentando que não tem, neste momento, como saber qual o exato montante dos prejuízos sofridos em razão da parcial destruição do imóvel de Petrópolis, e que tão pouco pode precisar, de antemão, o que deixou de ganhar no período de cessação de suas atividades profissionais, por ser engenheiro que trabalha como profissional liberal. COM BASE NO CASO ACIMA, REDIJA O PREAMBULO DA PETIÇÃO INICIAL DA AÇÃO QUE, A SEU VER, DEVE SER PROPOSTA, NAS CIRCUNSTÂNCIAS DESCRITAS. RESPOSTA: No tocante a legitimidade ativa maiores problemas não se avizinham. A posição do Sr. Mario dos Santos como consumidor é patente, tendo adquirido no mercado produto como destinatário final (CDC art. 2º). Já a legitimidade passiva merece maior atenção. Como demonstrado no enunciado, o produto que causou o dano foi adquirido pelo consumidor no estabelecimento comercial denominado Vende Tudo Ltda, produto fabricado por ABC Produtos Elétricos e Eletrônicos S/A. Temos, assim, correta identificação do COMERCIANTE e do FABRICANTE do produto e a questão é: os dois comporão o pólo negativo da demanda em formação de litisconsórcio??? A resposta é não, somente o FABRICANTE figurará no processo como réu. Nos termos do artigo 12 do CDC, o fabricante responderá objetivamente (“independente da existência de culpa”) pelos danos causados a outrem por colocar no mercado produto defeituoso que não oferece a segurança convencional em razão do uso (CDC, art. 12, §1º, inc. II). Por sua vez, o comerciante somente será responsabilizado nos casos de inexistência de informações suficientes quanto ao fabricante (CDC, art. 13, incs. I e II). No caso apresentado, como o enunciado apresenta quem é o fabricante, precisando inclusive sua qualificação, nítido que o comerciante não será lançado como réu, restando afastada sua responsabilidade. Já em relação à nominação, tendo sido a demanda apresentada sob o procedimento comum, é preciso focar nos pedidos que serão formulados, no caso: Ação de Indenização por danos materiais e morais. MARIO DOS SANTOS, nacionalidade..., solteiro, engenheiro, portador do RG nº..., devidamente inscrito no CPF sob o n. 000.000.001-0, residente e domiciliado na Av. Nossa Senhora de Copacabana, n. 1000, apt. 608, Rio de Janeiro/RJ, portador do endereço eletrônico..., vem respeitosamente à presença de V. Exa., por seu advogado abaixo assinado (procuração anexa)(art. 320, CPC), com endereço profissional...(art. 77, V, CPC), propor AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS, em face de ABC PRODUTOS ELETRICOS E ELETRÔNICOS S/A, pessoa jurídica de direito privado, neste ato representada por seu representante legal (art. 75, VIII, CPC), o Sr. ... (qualificação...), com sede na Av. Desembargador Amaro Martins de Almeida, n. 271, Campos dos Goytacazes/RJ, inscrita no CNPJ sob o n. 456/0001-00, portadora do endereço eletrônico..., pelos fatos e fundamentos que a seguir apresenta. 4º) CAUSA DE PEDIR (ART. 319, III, NCPC/2015): - Como instrumento da demanda, a petição inicial deve revela-la integralmente. Assim sendo, para além dos sujeitos, deve o autor indicar quais são os fatos e os fundamentos jurídicos em que embasa o pedido, ou seja, o autor deve indicar a causa de pedir. - "Compõem a CAUSA DE PEDIR o fato (causa remota) e o fundamento jurídico (causa próxima)": Qualquer FATO DA VIDA é capaz de compor a causa de pedir?? Não, mas apenas aquele fato ou conjunto de fatos da vida que são jurisdicionados através de hipóteses normativas abstratamente dispostas, No que se refere ao FUNDAMENTO JURÍDICO, este se caracteriza por revelar a relação jurídica que surge em razão da incidência de tais fatos da vida na hipótese normativa, AMBOS DEVEM SER TRAZIDOS PELO DEMANDANTE COMO FUNDAMENTO DO SEU PEDIDO, a teor do disposto no art. 319, III, NCPC/2015. - Por tais razões de ser, em sua petição inicial, o autor tem que se preocupar em expor todo o quadro fático necessário à obtenção do efeito jurídico perseguido, bem como demonstrar como os fatos narrados autorizam a produção desse mesmo efeito (deverá o autor demonstrar a incidência da hipótese normativa no suporte fático concreto). - Esse é um dos requisitos de maior importância da petição inicial, sobretudo a descrição dos fatos, que, constituindo um dos elementos da ação, vinculam o julgamento (teoria da substanciação - o juiz não pode se afastar dos fatos declinados na inicial, sob pena de a sentença ser extra petita). - A causa de pedir e os pedidos formulados darão os LIMITES OBJETIVOS DA LIDE, dentro dos quais deverá ser dado o provimento jurisdicional. Por isso, mais uma vez se afirma, os fatos devem ser descritos com clareza, e manter correspondência com a pretensão inicial. - CONSEQUÊNCIA da ausência da causa de pedir: INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL (CPC, art. 330, §1º, incisos I e III NCPC/2015). PERGUNTA: A necessidade de apresentação do fundamento jurídico estará suprida com a simples indicação do direito a ser aplicável ao caso concreto?? NÃO!! Em primeiro lugar não se deve confundir fundamento jurídico, com fundamentação legal, essa inclusive dispensável. O magistrado está LIMITADO, na sua decisão, aos fatos jurídicos alegados e ao pedido formulado - NÃO O ESTÁ, PORÉM, ao dispositivo legal invocado pelo demandante, pois é sua a tarefa de verificar se houve a subsunção do fato à norma (ou seja, verificar se houve incidência). O juiz pode, inclusive, decidir com base em norma distinta daquela apresentada por autor e réu, preservado o direito afirmado e o pedido formulado - para tanto, porém, deverá observar o disposto no art. 10, que lhe impõe o dever de consultar as partes2. Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. 2 Enunciado n. 282 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: "Para julgar com base em enquadramento normativo diverso daquele invocado pelas partes, ao juiz cabe observar o dever de consulta previsto no art. 10". OBS. PARA OAB conforme veremos no 7º período, para o exame da OAB teremos sim que nos preocupar em dizer o direito a ser aplicável ao caso concreto, inclusive referenciando os dispositivos legais na medida do possível. Conforme veremos será preciso ter a aptidão necessária para, além de descrever os fatos e indicar fundamentação legal, demonstrar em que medida os dispositivos legais se adequam ao caso concreto (fundamento jurídico). AFINAL, MERA INDICAÇÃO OU REFERÊNCIA A DISPOSITIVO LEGAL NÃO PONTUA NA SEGUNDA ETAPA DA OAB!!! PAUSA PRÁTICA: Mario dos Santos (solteiro, engenheiro, domiciliado e residente, na cidade do Rio de Janeiro, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, n.º 1000, apto. 608, inscrito no CPF sob o n.º 000.000.001-00) adquiriu em estabelecimento comercial da Vende Tudo Ltda. (sociedade estabelecida, na cidade de Petrópolis, RJ, na Rua Imperial, n.º 10 e inscrita no CNPJ sob o n.º 123/0001-00) um aquecedor elétrico, fabricado por ABC Produtos Elétricos e Eletrônicos S/A (sociedade estabelecida na cidade de Campos dos Goytacazes, RJ, na Avenida Desembargador Amaro Martins de Almeida, n.º 271, e inscrita no CNPJ sob o n.º 456/0001-00). Em virtude de um defeito de fabricação, o aquecedor elétrico explodiu, provocando incêndio em uma pequena casa que Mário tem na cidade de Petrópolis (RJ). Em decorrência da explosão, além dos danos causados ao imóvel, Mário sofreu ferimentos nas mãos e no rosto, ficando parcialmente desfigurado e impossibilitado de desenvolver suas atividades profissionais pelo prazo de 6(seis) meses. Você, como advogado, foi procurado por Mário, que lhe expõe os fatos, acrescentando que não tem, neste momento, como saber qual o exato montante dos prejuízos sofridos em razão da parcial destruição do imóvel de Petrópolis, e que tão pouco pode precisar, de antemão, o que deixou de ganhar no período de cessação de suas atividades profissionais, por ser engenheiro que trabalha como profissional liberal. COM BASE NO CASO ACIMA, REDIJA OS FATOS E FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA PETIÇÃO INICIAL DA AÇÃO QUE, A SEU VER, DEVE SER PROPOSTA, NAS CIRCUNSTÂNCIAS DESCRITAS. RESPOSTA: Dos fatos: Deverá ser demonstrada, primeiro, a compra do produto, devendo inclusive ser citada a loja onde o mesmo foi adquirido. Após deverá ser narrado que, em razão de defeito de fabricação, o produto (aquecedor elétrico) veio a explodir. E, por fim, que em razão da explosão, o autor teve seu imóvel incendiado, bem como vários ferimentos em seu rosto e mãos, ficando, por tal motivo, parcialmente desfigurado, tendo que se ausentar de suas atividades laborais por 06 meses. DOS FATOS Conforme podem comprovar os documentos em anexo, o autor, Sr. Mario dos Santos, adquiriu, junto ao estabelecimento comercial Vende Tudo Ltda, um aquecedor elétrico fabricado pela empresa ré ABC Produtos Elétricos e Eletrônicos S/A, tendo sido referido aquecedor devidamente instalado em uma casa que o autor possui na cidade de Petrópolis. Ocorre que, em virtude de um defeito de fabricação, o aquecedor explodiu, incendiando o imóvel do autor, bem como lhe causando graves ferimentos nas mãos e no rosto de modo a desfigurar-lhe parcialmente e impedir-lhe de desenvolver suas atividades profissionais pelo prazo de 06 (seis) meses (documentos comprobatórios em anexo). Dos fundamentos: Demonstrado os fatos, deverá o autor demonstrar os danos sofridos e a consequentemente obrigação do réu em reparar os prejuízos, não esquecendo que, sendo relação consumerista, a responsabilidade do fabricante (fornecedor) é objetiva. Deverá indicar os dispositivos pertinentes: art. 5, inciso X da CF; art. 927, § único do CC/02; art. 949 do CC/02; art. 12 do CDC. Os danos que devem ser apresentados em sequenciados pedidos de indenização são os seguintes: - danos materiais pela parcial destruição do imóvel em Petrópolis; - danos materiais pelo tratamento médico submetido - danos materiais por ter ficado afastado de sua atividade produtiva pelo período de 06 meses - danos morais (estéticos) pela deformidade causada, DOS FUNDAMENTOS Inicialmente cumpre salientar que, nos termos do art. 5º, inciso X da Constituição da República: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. Neste mesmo sentido, o art. 927 do CC/02 e seu parágrafo único preceituam que todo: “aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.” Parágrafo único: “haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.” Dos fatos acima narrados, evidente que os danos sofridos pelo autor deverão ser suportados pelo réu que, no presente caso, encontra-se diante da responsabilidade civil objetiva pelo fato do produto, prevista no art. 12 do CDC, senão vejamos: “o fabricante, (...) respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação (...) de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos”. Em complemento, dispõe o parágrafo 1° do mencionado dispositivo consumerista que “o produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:(...) II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; (...)”. Quando da compra do produto (aquecedor) e correta instalação, o autor tinha regular expectativa de que o mesmo funcionasse de forma adequada e não que viesse a explodir, ou seja, não se poderia supor que o produto colocado no mercado pelo fabricante réu pusesse em risco os eventuais usuários. Nitidamente caracterizado, assim, os elementos necessários a impor, objetivamente ao réu, o dever de indenizar. Além disso, dos elementos probatórios trazidos aos autos, nítido que o acidente ocorreu por defeito de fabricação, devendo o fabricante suportar todos os prejuízos causados, indenizando o autor em toda a extensão dos direitos atingidos, tanto na esfera de direitos materiais quanto morais. No tocante aos danos materiais, o autor teve sua casa parcialmente destruída, bem como ficou afastado de suas atividades laborativas pelo prazo de 06 (seis) meses, período em que deixou de auferir renda e ainda teve elevados gastos com tratamento médico (despesas de hospital, cirurgias plásticas reparatórias, medicamentos, etc), os quais, com fulcro no art. 949 do CC/02, também devem ser ressarcidos, senão vejamos: “no caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido”. No tocante aos danos morais, o autor, como dito, ficou parcialmente desfigurado após a explosão, o que acabou por ensejar danos estéticos, os quais devem ser devidamente compensados. 5º) O PEDIDO COM SUAS ESPECIFICAÇÕES (ART. 319, IV, NCPC/2015): - O pedido nada mais é que a providência desejada pelo autor, a pretensão que o autor leva à apreciação do juiz. É desnecessário realçar a sua importância, já que, sendo um dos TRÊS ELEMENTOS DA AÇÃO, forma, com a causa de pedir e as partes, o núcleo central da petição inicial. - Em primeiro lugar, o PEDIDO BITOLA A PRESTAÇÃO JURISDICIONAL, que não poderá ser extra, ultra ou infra/citra petita3, conforme prescreve a regra da congruência (arts. 141 e 492 do NCPC): Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de 3 SENTENÇA CITRA PETITA é aquela que não examina em toda a sua amplitude o pedido formulado na inicial (com a sua fundamentação) ou a defesa do réu. Exemplo: o autor pediu indenização por danos emergentes e lucros cessantes. O juiz julgou procedente o pedido com relação aos danos emergentes, mas não fez qualquer referência aos lucros cessantes; Na SENTENÇA ULTRA PETITA, o defeito é caracterizado pelo fato de o juiz ter ido além do pedido do autor, dando mais do que fora pedido. Exemplo: se o autor pediu indenização por danos emergentes, não pode o juiz condenar o réu também em lucros cessantes. No JULGAMENTO EXTRA PETITA a providência deferida é totalmente estranha não só ao pedido, mas também aos seus fundamentos. Exemplo: o autor pede proteção possessória e o juiz decide pelo domínio, reconhecendo-o na sentença. questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte. Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado. Parágrafo único. A decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional. Além disso, o pedido serve também como ELEMENTO DE IDENTIFICAÇÃO DA DEMANDA, para fim de verificação da ocorrência de conexão, litispendência ou coisa julgada. Fora isso, o pedido é, finalmente, O PRINCIPAL PARÂMETRO PARA A FIXAÇÃO DO VALOR DA CAUSA (art. 292 do NCPC). - Importante percepção é aquele que realça o fato de que TODO PEDIDO CARREGA CONSIGO UM OBJETO MEDIATO E UM OBJETO IMEDIATO. É preciso que o autor indique com clareza um e outro: A) O OBJETO IMEDIATO relaciona-se ao tipo de provimento jurisdicional pretendido (condenatório, constitutivo, declaratório); B) O OBJETO MEDIATO relaciona-se ao bem da vida almejado. Ex.: Pede a procedência do pedido para que o réu seja condenado (OBJETO IMEDIATO) ao pagamento de indenização por danos materiais no importe de r$ 100.000,00 (cem mil reais) (OBJETO MEDIATO) acrescidos de correção monetária e juros legais. - Tanto o objeto imediato, quanto o objeto mediato, DE CERTA FORMA VINCULARÃO O JUIZ, já que servem para identificar o pedido, não podendo o julgador conceder nem um provimento jurisdicional E nem qualquer bem da vida, distintos daqueles fundamentos e postulados na inicial. - Sobre esse particular, o NCPC/2015 acaba por INOVAR em relação ao CPC/73 uma ver que, segundo o §2º do art. 322 daquele diploma legal: §2º A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé. O que com o CPC/73, não ficava claro, uma vez que segundo art. 293 deste diploma legal: Art. 293. Os pedidos são interpretados restritivamente, compreendendo-se, entretanto, no principal os juros legais. Assim sendo, a partir da entrada em vigor do novo CPC, resta evidente que o pedido não pode ser interpretado com base em uma única frase colocada no final da petição no tópico dos pedidos, mas levando-se em conta “o conjunto da postulação”. - A importância do pedido é tal que o NCPC, seguindo o CPC/73, manteve uma seção própria que vai do art. 322 ao art. 329, na qual são examinadas as possibilidades de pedido genérico, implícito e de cumulação de pedidos: A) PEDIDO GENÉRICO: Art. 322. O pedido deve ser certo. Art. 324. O pedido deve ser determinado. Partindo de uma leitura sistemática dos artigos 322 e 324 do NCPC/2015, é de se observar que o pedido há de ser certo E determinado: Isso significa dizer que incumbe ao demandante, no momento da formulação de seu pedido, indicar com precisão não só o PROVIMENTO JURISDICIONAL que busca obter, mas também a EXATA NATUREZA DO BEM JURÍDICO POSTULADO (PEDIDO CERTO) E, no caso de ser este BEM JURÍDICO QUANTIFICÁVEL, deve ser também indicada, na petição inicial, a exata quantidade pretendida (PEDIDO DETERMINADO). EX.: não basta o autor pedir a condenação do réu a pagar a ele uma soma em dinheiro devida em razão de um contrato de mútuo (pedido certo), é preciso afirmar também a quantidade de dinheiro que pretende receber (pedido determinado). DETERMINAÇÃO E CERTEZA SE COMPLETAM, SENDO ESSENCIAIS PARA QUE SE POSSA DELIMITAR O OBJETO DO PROCESSO. Analisando o §1º do art. 324, é de se perceber, porém, que EXCEPCIONALMENTE O PEDIDO PODERÁ SER GENÉRICO, ou seja, sem a mensuração do seu aspecto quantitativo: § 1o É lícito, porém, formular pedido genérico: I - nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados; II - quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato; III - quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu. I NAS AÇÕES UNIVERSAIS: as quais versam sobre uma universalidade de fato ou de direito. De acordo com o art. 90, do CC, “constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária” (ex.: um rebanho ou uma coleção de obras de arte ou de livros). E, segundo o art. 91, “constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor econômico” (ex.: a herança e o patrimônio). Ex. de ação universal: AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA autor postula o recebimento de um quinhão hereditário a que considera fazer jus quando não tenha sido parte no processo de inventário e partilha. Neste caso, basta o autor, na inicial, afirmar que pretende receber seu quinhão, indicando apenas a fração do monte que lhe corresponde (ex.: ¼ do total da herança) JUSTIFICA-SE a permissão de pedidos genéricos nesse caso, porque o autor pode não ter condições de individuar os bens que integram a universalidade. II QUANDO NÃO FOR POSSÍVEL DETERMINAR, DE MODO DEFINITIVO, AS CONSEQUÊNCIAS DO ATO OU FATO ILÍCITO: nas ações de indenização por ato ou fato ilícito, frequentemente não é possível, no momento da propositura da demanda, indicar com precisão todas as consequências que a vítima terá sofrido. Admite-se, nessa circunstância, que o autor formule pedido genérico. Ex.: às vezes, não se sabe se ela poderá se recuperar de uma lesão corporal ou se desta resultará incapacidade, nem se esta será permanente ou temporária e mais, se terá que se submeter a tratamento e por quanto tempo. Sob a égide do CPC/73, muito se invocou este inciso para permitir ao autor, nas ações de INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL, formular pedido genérico. Alguns doutrinadores, entretanto, já defendiam que tal formulação não deveria ser admitida, porque se o autor não indicasse o quanto pretendia receber, o juiz não teria parâmetros para, em caso de procedência, fixar o montante da condenação. Em razão disso, recomendava-se, desde então, que o autor indicasse, na inicial, ao menos um valor mínimo que pretendia a título de indenização. Com o advento do NCPC/2015, tal situação foi de uma ver por todas definida pela legislador, o qual acabou por exigir que o interessado lance um pretenso valor relativo ao dano moral, uma vez que conforme disposição do artigo 292 do citado diploma legal: Art. 292. O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será: (...) V - na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido; Fica claro, assim, que a lei processual exige que, nas demandas de compensação por danos morais, o autor indique o valor pretendido, formulando, deste modo, pedido DETERMINADO. Discorrendo sobre o assunto, ensina Alexandre Freitas Câmara (2015): “A formulação de pedido genérico nas demandas de compensação por danos morais gera uma inadmissível limitação ao princípio do contraditório. É que, deduzido pedido genérico neste caso, impede-se o exercício, pelo réu, de seu direito ao contraditório como garantia de influência na formação da decisão acerca do valor da condenação. Basta pensar o seguinte: se o autor formula pedido genérico, tudo o que o réu pode discutir em sua contestação é se existe ou não dano moral compensável; já se o autor formula pedido determinado, indicando o valor que pretende obter, permite-se ao réu, na contestação, defender-se afirmando não haver dano a ser compensado mas, na eventualidade de se reconhecer tal dano, ser exagerado o valor pretendido pelo demandante”. III QUANDO A DETERMINAÇÃO DO VALOR DA CONDENAÇÃO DEPENDER DE ATO QUE DEVA SER PRATICADO PELO RÉU: É o que ocorre, por exemplo, nas ações de prestação de contas, em que, só depois que o réu as prestar, se poderá verificar se há saldo em favor do autor. Desta sorte evidente é que, em casos assim, só se pode cogitar da determinação do valor a ser restituído depois da prestação contas por parte do réu e, portanto, não se pode exigir do autor que formule pedido determinado. AS HIPÓTESES DE PEDIDO GENÉRICO SÃO EXCEPCIONAIS, DEVENDO POR ISSO MESMO SER INTERPRETADAS RESTRITIVAMENTE. A REGRA SERÁ A FORMULAÇÃO DE PEDIDO CERTO E DETERMINADO, EM TODOS OS SEUS ASPECTOS, INCLUSIVE NO QUANTITATIVO. B) PEDIDO IMPLÍCITO: Em que pese a regra contida nos caputs dos arts. 322 e 324 do NCPC/2015, importa ressaltar ainda a existência de uma outra nuance relacionada à formulação do pedido, os doutrinariamente chamados de PEDIDOS IMPLÍCITOS. Mencionados pedidos nada mais são que pontos que independentemente de pedido por parte do autor, integram o objeto do processo por força da lei e, como tal, devem ser objeto de pronunciamento por parte do juiz. No contexto da petição inicial, destacam-se DUAS SITUAÇÕES: - a PRIMEIRA contida no §1º do artigo 322, segundo o qual: § 1o Compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorários advocatícios. OBS.: mencionada previsão não impede, entretanto, que o autor postule expressamente sobre específico índice de correção ou de juros, sua forma de influência e, bem assim, qual é o percentual dos honorários advocatícios que, à guisa de sucumbência, entende devido, observando-se os limites do art. 85 NCPC/2015. - a SEGUNDA contida no art. 323: Art. 323. Na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em prestações sucessivas, essas serão consideradas incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do autor, e serão incluídas na condenação, enquanto durar a obrigação, se o devedor, no curso do processo, deixar de pagá- las ou de consigná-las. OBS.: exemplos palpáveis da situação descrita pelo artigo 323 são, sem dúvida, os casos das demandas que envolvem pagamento de prestações alimentícias ou de benefícios previdenciários. Nestes casos, ainda que não se formule pedido expresso neste sentido, as prestações sucessivas incluem-se no objeto do processo e serão objeto da condenação enquanto durar a obrigação. C) CUMULAÇÃO DE PEDIDO: A lei processual admite ainda a possibilidade de o autor CUMULAR PEDIDOS numa só petição inicial: Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão. Pelo disposto no caput do artigo acima transcrito, é permitida a cumulação, num único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão4, havendo, entretanto, necessidade de se observar alguns REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE: Art. 327. (...) § 1º São REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DA CUMULAÇÃO que: I - os pedidos sejam compatíveis entre si; II - seja competente para conhecer deles o mesmo juízo; III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento. § 2º Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, será admitida a cumulação se o autor empregar o procedimento comum, sem prejuízo do emprego das técnicas processuais diferenciadas previstas nos procedimentos especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, que não forem incompatíveis com as disposições sobre o procedimento comum. § 3º O inciso I do § 1o não se aplica às cumulações de pedidos de que trata o art. 326. I - Pedidos compatíveis entre si - a compatibilidade não está ligada a causa de pedir, mas a uma real possibilidade dos pedidos serem acatados na sentença da forma que formulados. 4 Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art326 Assim, por exemplo, não poderá um adquirente de um bem com vício redibitório cumular o pedido de rescisão do contrato com o de abatimento do preço; tais pedidos só poderiam figurar em uma mesma petição cumulados se obedecessem a técnica da eventualidade definida no art.326 e abaixo analisada (§3º do art. 327). CONSEQUÊNCIA: caso o autor formule pedidos incompatíveis entre si, o juiz concederá prazo para que ele opte por um ou outro, sob pena de indeferimento da inicial por inépcia (art. 330, inciso I c/c §1º, inciso IV do mesmo dispositivo legal); II - Que seja competente para conhecer deles o mesmo juízo – em se tratando de cumulação de pedidos, o autor pretende que o juiz acolha, ou todas as pretensões, ou pelo menos alguma delas, razão pela qual o juiz tem de ser competente para todas. Assim, por exemplo, não se admite a cumulação de pedidos de alimentos e petição de herança quando houver juízo especializado em família e outro juízo especializado em órfãos e sucessão. Importa consignar que pode haver CONEXÃO ENTRE OS PEDIDOS e, nesta hipótese, será possível cumulá-los modificando os critérios relativos de determinação da competência, mas jamais os critérios absolutos. Não havendo conexão entre os pedidos, a cumulação nos termos do caput do art. 327 será possível, se o mesmo juízo for, a princípio, competente para conhecer de todos eles. CONSEQUÊNCIAS: caso haja incompetência absoluta para alguma das pretensões, o juiz indeferirá o pedido para o qual é incompetente, cabendo à parte postulá-lo perante o juízo competente. Caso a incompetência seja relativa, e haja a modificação de competência, seja por prorrogação, seja por força de conexão, continência ou derrogação, o juiz poderá examinar todos os pedidos. III - Que seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento – como haverá um único processo, é preciso que o procedimento seja adequado para todos os pedidos. Sendo diversos os procedimentos, determina o §2º do art. 327 que a cumulação só será admitida se para todos os pedidos cumulados puder ser usado o procedimento comum, caso em que será possível o emprego das técnicas diferenciadas previstas para o procedimento especial e que não sejam incompatíveis com o procedimento comum. Ex.: ação de consignação em pagamento de um bem e, no mesmo processo, a condenação do réu a entregar o referido bem, usando-se o procedimento comum, sem prejuízo de se admitir a realização de depósito judicial do valor ofertado e, até mesmo, a complementação do depósito insuficiente, técnicas diferenciadas estabelecidas para o procedimento especial da consignação em pagamento. Assim sendo, só se tem inviabilizada a cumulação quando as técnicas diferenciadas forem realmente incompatíveis com o procedimento comum, e seu uso desnaturaria o procedimento especial por completo. Ex.: uma situação na qual o autor apresente uma pretensão de investigação de paternidade, a qual segue o procedimento comum; E outra relativa à resolução do inventário e partilha, que segue procedimento especial, a impossibilidade da cumulação está justamente na desnaturação completa do procedimento especial de inventário e partilha. CABERÁ AO JUIZ, DE OFÍCIO, VERIFICAR A CONFIGURAÇÃO DOS REQUISITOS INDISPENSÁVEIS PARA A CUMULAÇÃO, salvo eventual incompetência relativa, que depende de manifestação do réu por ocasião da apresentação de sua defesa. NÃO SENDO POSSÍVEL A CUMULAÇÃO, o juiz verificará se é caso de indeferir a petição inicial (art. 330, inciso I c/c §1º, inciso IV), OU, em atenção ao princípio da primazia da resolução do mérito, de reduzir os limites objetivos da lide, determinando o prosseguimento apenas em relação a um ou alguns dos pedidos formulados. A CUMULAÇÃO DE PEDIDOS é também chamada cumulação OBJETIVA, que se diferencia da cumulação SUBJETIVA, a qual se estabelece a partir da constituição dos litisconsórcios. São diversas as FORMAS DE CUMULAÇÃO DE PEDIDOS. Não havendo por parte da doutrina uma forma única de classificação, mas, muito antes pelo contrário, são diversos os critérios conhecidos. Parece-me, porém, que a MELHOR CLASSIFICAÇÃO é aquela que adota a terminologia: CUMULAÇÃO PRÓPRIA E CUMULAÇÃO IMPRÓPRIA. Na CUMULAÇÃO PRÓPRIA o autor pretende que o juiz acolha todos os pedidos formulados, podendo ser de dois tipos: cumulação própria simples e cumulação própria sucessiva. Já na CUMULAÇÃO IMPRÓPRIA, conquanto o autor formule várias pretensões, pretende que o juiz acolha apenas uma delas, podendo ser também de dois tipos: cumulação imprópria alternativa e cumulação imprópria subsidiária/eventual. A rigor, na “cumulação imprópria” não há exatamente cumulação (daí a denominação imprópria), porque o que se pede ao juiz é que acolha apenas um dos pedidos formulados. a) CUMULAÇÃO PRÓPRIA SIMPLES: A cumulação própria é aquela em que o autor formula vários pedidos, postulando que todos sejam acolhidos pelo juiz. É dessa espécie que trata o art. 327, caput do CPC, quando prevê a possibilidade de cumulação, no mesmo processo, de vários pedidos. O que DISTINGUE A CUMULAÇÃO SIMPLES DA SUCESSIVA, é que na cumulação simples os pedidos formulados não dependem uns dos outros, isto é, não há relação de prejudicialidade5 e nem mesmo de preliminariedade6 entre uns e outros, sendo possível que o juiz acolha alguns e não os demais, decidindo cada demanda cumulada de 5 (Quando se diz que dois pedidos guardam entre si uma relação de prejudicialidade, implica dizer que o não acolhimento do primeiro implica na rejeição do segundo, ou seja, na necessidade do segundo ser julgado improcedente. EX.: investigação de paternidade e alimentos; declaratória de inexistência da relação jurídica e repetição do indébito; etc...) 6 (Quando se diz que dois pedidos guardam entre si uma relação de preliminaridade, implica dizer que o não acolhimento do primeiro implica na impossibilidade de exame do segundo, que, portanto, sequer seja julgado. EX.: pretensão formulada na ação rescisória – juízo de rescisão em primeiro lugar, para só depois falar na possibilidade de analisar o juízo de rejulgamento). uma forma diferente. Os pedidos são absolutamente independentes entre si, sendo certo que, nesta hipótese de demanda, em regra, o único elemento comum são as partes. OBS.: conquanto desnecessária a conexão, conforme visto acima, se faz indispensável a configuração dos requisitos dispostos no §1º do art. 327. b) CUMULAÇÃO PRÓPRIA SUCESSIVA: Por ser própria, configura-se como sendo aquela em que o autor formula dois ou mais pedidos em relação ao mesmo réu, buscando êxito em todos. No entanto, por ser sucessiva, a análise do posterior depende da procedência do que lhe precede, já que as pretensões guardam entre si relação de prejudicialidade. O segundo pedido configura, pois, demanda condicional, já que sua apreciação fica submetida a um evento futuro e incerto (a procedência do primeiro pedido) EX.: ações de investigação de paternidade cumulada com alimentos o acolhimento do segundo pedido depende do acolhimento do primeiro. Na cumulação sucessiva, há conexão entre os pedidos, o que é dispensado na simples. OBS.: também na cumulação sucessiva deve haver respeito aos requisitos necessários para a cumulação de pedidos (§1º do art. 327). c) CUMULAÇÃO IMPRÓPRIA ALTERNATIVA: A cumulação imprópria é aquela em que o autor formula mais de um pedido, mas pede ao juiz o acolhimento de APENAS UM e, sendo alternativa, o autor não manifesta sua preferência por este ou aquele (art. 326, §único, NCPC). O acolhimento de um dos pedidos exclui o dos demais: é uma coisa OU outra, e não uma coisa e outra, como na cumulação própria. Cumprirá ao juiz verificar, em caso de procedência, qual dos pedidos deve ser acolhido. ALGUNS DOUTRINADORES irão dizer que não se deve confundir a “cumulação alternativa” e o “pedido alternativo”, previsto no art. 325 do NCPC: “O pedido será alternativo, quando, pela natureza da obrigação, o devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo”. Nos PEDIDOS ALTERNATIVOS não há cumulação de demandas. O que existe é uma obrigação alternativa, em que a lei prevê seu cumprimento por mais de um modo. O pedido é único, já que a obrigação é só uma, e assume essa forma em razão das peculiaridades do direito substancial. EX.: devedor compromete-se a entregar ao credor um boi OU um cavalo, mas não cumpre a obrigação. Será lícito ao credor propor demanda pedindo a condenação do demandado a cumprir uma prestação que pode ser satisfeita de mais de um modo: ou entregar o boi ou entrega o cavalo. Observem que as duas obrigações encontram- se no mesmo plano, podendo o devedor entregar uma coisa ou outra. Há uma indeterminação do que lhe será entregue. O mesmo acontece nas OBRIGAÇÕES ACOMPANHADAS DE PRESTAÇÃO FACULTATIVA nas quais o devedor, desde o início da relação obrigacional se reserva o poder de liberar-se do vínculo entregando ao credor, ao invés da prestação principal devida, uma prestação diferente, desde já determinada ou ao menos determinável, configurando hipótese de pedido alternativo. EX.: Joana se compromete a entregar ao Robson um automóvel, ficando acertado desde já que aquela poderá se librar da obrigação pagando ao Robson o valor de R$50.000,00 (cinquenta mil reais) – neste caso Robson espera o automóvel como objeto da prestação, mas sabe que a Barbara poderá se liberar do vínculo entregando coisa diversa, previamente determinada. Já a CUMULAÇÃO ALTERNATIVA, conforme já descrito acima, se implementará quando determinado litígio puder ser solucionado por mais de um modo. O autor formula dois pedidos autônomos, devendo ser acolhido apenas um. EX.: autor ajuíza demanda sustentando ter adquirido um produto defeituoso e afirmando, em sua inicial, que pretende obter a devolução do dinheiro OU a substituição do bem defeituoso por outro sem defeito, sendo-lhe indiferente qual das duas providências será acolhida. É preciso verificar se a lei não dá ao réu o DIREITO DE OPTAR entre o cumprimento por uma ou outra forma, caso em que o juiz assegurará ao réu a escolha. d) CUMULAÇÃO IMPRÓPRIA SUBSIDIÁRIA OU EVENTUAL: Assemelha-se à alternativa, porque ambas são formas de cumulação imprópria, ou seja, em ambas o autor formula mais de um pedido, com a pretensão de que só um deles seja acolhido. Mas distingue-se, porque o AUTOR MANIFESTA A SUA PREFERÊNCIA, podendo-se dizer que há um pedido principal e um subsidiário, que só deverá ser examinado se o primeiro não puder ser acolhido. O magistrado está condicionado à ordem de apresentação dos pedidos, não podendo passar ao exame do posterior se não examinar e rejeitar o anterior. Nem mesmo se houver reconhecimento pelo réu da procedência do pedido subsidiário. Se o juiz acolher o principal, o autor não poderá recorrer; mas se acolher o subsidiário, sim, pois terá sucumbindo, uma vez que a pretensão preferencial não foi acolhida. Regula o Código de Processo Civil esta espécie de cumulação no seu art. 326, caput: Art. 326. É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de que o juiz conheça do posterior, quando não acolher o anterior. Ex.: autor pede a condenação do réu ao cumprimento específico de uma obrigação de entrega de coisa e, no caso de tal condenação ser impossível por ter a coisa perecido, a condenação do demandado ao pagamento de seu equivalente pecuniário. OBS.: por questões obvias, na cumulação impropria subsidiária não há que se falar na observância do requisito contido no inciso I do §1º do art. 327, qual seja: compatibilidade entre os pedidos, uma vez que jamais poderão ser acolhidos simultaneamente (§3º do art. 327). 6º) O VALOR DA CAUSA (art. 319, inciso V): - Após a identificação da demanda, com a indicação das partes, da causa de pedir e do pedido, exige a lei seja incluída na petição inicial a determinação do VALOR DA CAUSA (art. 319, inciso V); - Tal exigência nada mais reflete que uma regra contida nos art. 291 do NCPC, segundo o qual: Art. 291. A toda causa será atribuído um valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediatamente aferível. Em complemento é ainda de se referenciar o disposto no art. 292 do CPC, segundo o qual: Art. 292. O VALOR DA CAUSA CONSTARÁ SEMPRE DA PETIÇÃO INICIAL e será: (...) - O processo civil brasileiro é, em diversas passagens, ainda influenciado por um cunho essencialmente patrimonial, econômico. Por essa razão diversos fenômenos processualmente relevantes sofrem influência do valor da causa, a exemplo: a) a COMPETÊNCIA e o PROCEDIMENTO: pois o valor da causa, além de ser critério para fixação do juízo, também configura critério de determinação para adoção do procedimento do juizado especial cível (causas cujo valor sejam de até 40X o salário mínimo); c) o CÁLCULO DAS CUSTAS E DO PREPARO, que terão por base o valor da causa; d) a FIXAÇÃO DE INÚMERAS MULTAS IMPUTÁVEIS AO LONGO DO PROCESSO, inclusive as relativas à litigância de má-fé, tomam como referência o valor da causa (ex.: art. 77, §2º e art. 81); e) a POSSIBILIDADE DE O INVENTÁRIO SER SUBSTITUÍDO POR ARROLAMENTO SUMÁRIO (NCPC, art. 664, caput); f) os HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS que em regra tomam por base o valor da condenação, também podem, consoante o caso, ser atribuídos levando em conta o valor da causa (art. 85, §2º e art. 338, §único). - Qual deve ser o valor da causa?? Deve corresponder ao conteúdo econômico do que está sendo postulado, e não daquilo que é efetivamente devido. OBS.: O valor da causa não repercute sobre os limites objetivos da lide. Se o autor postula um montante, e atribui valor à causa menor, ainda que isso passe despercebido e o valor da causa seja mantido, o juiz ao arbitrar, por exemplo, honorários sucumbenciais na sentença, não ficará limitado ao valor de causa indicado, mas ao valor do que foi pedido e não deferido. Ex.: Autor pleiteia R$100.000,00 a título de indenização por danos materiais. Ainda que ele não tenha atribuído corretamente o valor da causa, tendo sido julgado totalmente improcedente o pedido inicial, o valor dos honorários sucumbências serão calculados com base no valor pleiteado e não deferido, o qual deveria, desde o início pautar o valor da causa. - CRITÉRIOS DE DETERMINAÇÃO DO VALOR DA CAUSA: sem qualquer pretensão se exaurir o tema, o art. 292 do NCPC fornece alguns critérios para fixação do valor da causa, que, em regra, deve corresponder ao conteúdo econômico da demanda e, naquelas que não têm conteúdo econômico, a fixação será feita por estimativa do autor. Art. 292. O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será: I - na ação de cobrança de dívida, a soma monetariamente corrigida do principal, dos juros de mora vencidos e de outras penalidades, se houver, até a data de propositura da ação; II - na ação que tiver por objeto a existência, a validade, o cumprimento, a modificação, a resolução, a resilição ou a rescisão de ato jurídico, o valor do ato ou o de sua parte controvertida; III - na ação de alimentos, a soma de 12 (doze) prestações mensais pedidas pelo autor; IV - na ação de divisão, de demarcação e de reivindicação, o valor de avaliação da área ou do bem objeto do pedido; V - na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido; VI - na ação em que há cumulação de pedidos, a quantia correspondente à soma dos valores de todos eles; VII - na ação em que os pedidos são alternativos, o de maior valor; VIII - na ação em que houver pedido subsidiário, o valor do pedido principal. § 1º Quando se pedirem prestações vencidas e vincendas, considerar-se-á o valor de umas e outras. § 2º O valor das prestações vincendas será igual a uma prestação anual, se a obrigação for por tempo indeterminado ou por tempo superior a 1 (um) ano, e, se por tempo inferior, será igual à soma das prestações. § 3º O juiz corrigirá, de ofício e por arbitramento, o valor da causa quando verificar que não corresponde ao conteúdo patrimonial em discussão ou ao proveito econômico perseguido pelo autor, caso em que se procederá ao recolhimento das custas correspondentes. - CONTROLE JURISDICIONAL DO VALOR DA CAUSA: O art. 293 do NCPC autoriza o réu a impugnar o valor da causa, por meio de preliminar de contestação. Art. 293. O réu poderá impugnar, em preliminar da contestação, o valor atribuído à causa pelo autor, sob pena de preclusão, e o juiz decidirá a respeito, impondo, se for o caso, a complementação das custas. Não havendo impugnação, diz a lei que presume-se aceito o valor atribuído à causa pelo autor, o que traz a falsa impressão de que o juiz não poderia, de ofício, determinar a retificação. Mas, em determinadas circunstâncias, ele poderá fazê-lo. São elas: a) o autor ter desrespeitado algum dos critérios fixados em lei (art. 292 por exemplo); b) ter atribuído valor à causa em montante incompatível com o conteúdo econômico da demanda, que possa repercutir sobre a competência ou o procedimento a ser observado. 7º) AS PROVAS COM QUE O AUTOR PRETENDE DEMONSTRAR A VERDADE DOS FATOS ALEGADOS (ART. 319, INCISO VI) - Em relação à necessidade ou não de requerimento contendo especificamente as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados, não se pode olvidar a existência DIVERGÊNCIAS DOUTRINÁRIAS: *Para alguns doutrinadores, como na petição inicial, o autor ainda não tem condições de saber o que será controvertido pelo réu, há certa tolerância quanto a este requisito da inicial. Defendem que a omissão de tal requerimento na inicial não é razão para preclusão, não havendo impedimento para que oportunamente sejam requeridas provas pelo autor. Em relação ao requisito em questão, importa salientar as considerações feitas pelo Prof. Fredie Didier, para quem a exigência desse requerimento possui pouca eficácia prática por duas razões em especial: a) o órgão julgador pode determinar ex officio a produção de provas (art. 370 do CPC); b) no momento próprio - fase de saneamento do processo - as partes são intimadas para indicar de quais meios de prova se servirão (art. 357, inciso II, NCPC). * Para outros doutrinadores, entretanto, o inciso Vl do art. 319 implica em uma clara exigência de especificação de provas, nem sempre respeitada pelos advogados que elaboram as petições iniciais. Defendem tais doutrinadores que a produção de prova documental deve ser feita com a petição inicial. Sendo que junto à mesma deve ser apresentado não só os documentos tidos como “indispensáveis” pelo art. 320, mas todos e quaisquer documentos que o autor conheça sobre os fatos por ele alegados, isso levando-se em conta interpretação decorrente do caput do art. 434: Art. 434. Incumbe à parte instruir a petição inicial ou a contestação com os documentos destinados a provar suas alegações. Assim sendo, para alguns doutrinadores, à exemplo do Cassio Scarpinella Bueno (2015), a regra contida no inciso VI do art.319 do NCPC, não deve ser entendida só na sua PERSPECTIVA FUTURA de o magistrado, entendendo que o processo deve ingressar na fase instrutória, determinar às partes que especifiquem as provas que nela pretendem produzir, decidindo a seu respeito nos termos do art. 357, inciso II. Mas muito mais que isso, deve ser entendida na sua PERSPECTIVA PRESENTE, de produção imediata de meios de prova pelo autor. - Ainda em relação ao tema, importa destacar o enunciado nº 283 do FPPC (Fórum Permanente dos Processualistas Civis): Aplicam-se os arts. 319, § 1º, 396 a 404 também quando o autor não dispuser de documentos indispensáveis à propositura da ação. Ou seja: caso não disponha dos meios de prova de que precisa para comprovar o alegado, o autor poderá na petição inicial, requerer ao juiz que proceda a diligências necessárias para a sua obtenção (aplicação analógica do art. 319, §1º, NCPC), bem como pode o autor solicitar a exibição de documento que, não obstante tenha sido alvo de sua referência na inicial, encontra-se em poder do réu ou de terceiro (artigos 396 a 404 do NCPC). 8º) DOCUMENTOS INDISPENSÁVEIS À PROPOSITURA DA DEMANDA (ART. 320, NCPC) - Conforme já mencionado, nos termos do art. 320 do NCPC: Art. 283. A petição inicial será instruída com os documentos INDISPENSÁVEIS à propositura da ação. Desta forma, EM REGRA, deve o autor, ao ajuizar determinada demanda, se atentar ao fato de que sua inicial deverá vir acompanhada dos documentos indispensáveis à propositura da ação, assim entendidos como aqueles que se fazem de extrema importância para o deslinde do caso e os quais podem ser tanto expressamente exigidos por lei, como também podem se tornar indispensáveis porque o autor a eles fez referência na petição inicial, utilizando-os como fundamento do pedido. - Fato é que existem documentos que auxiliam no deslinde do caso mas que não são indispensáveis uma vez que não se relacionam de maneira crucial com a pretensão exarada pelo autor, mas que de certa maneira ajudam a clareá-la, estes não necessariamente serão juntados à inicial. É que, se no decorrer do processo forem acontecendo fatos novos ou se o réu em contestação apresenta fato novo, poderá o autor fazer juntar ao processo documentos novos a qualquer tempo, na forma do art. 435, do NCPC: Art. 435. É lícito às partes, em qualquer tempo, juntar aos autos documentos novos, quando destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados ou para contrapô-los aos que foram produzidos nos autos. Para além disso, ainda complementa o §único do citado dispositivo legal: Parágrafo único. Admite-se também a juntada posterior de documentos formados após a petição inicial ou a contestação, bem como dos que se tornaram conhecidos, acessíveis ou disponíveis após esses atos, cabendo à parte que os produzir comprovar o motivo que a impediu de juntá-los anteriormente e incumbindo ao juiz, em qualquer caso, avaliar a conduta da parte de acordo com o art. 5o. - EXEMPLOS DE DOCUMENTOS INDISPENSÁVEIS EM DETERMINADAS AÇÕES: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art5 A) Em se tratando de ação de divórcio, é indispensável juntar a certidão de casamento; B) Em se tratando de ação reivindicatória de imóveis, a certidão de propriedade; C) Em se tratando de ação de alimentos de procedimento especial, a prova da paternidade ou do parentesco – certidão de nascimento; D) Em se tratando de ação de anulação de contrato escrito, o contrato. 9º) OPÇÃO DO AUTOR PELA REALIZAÇÃO OU NÃO DE AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU DE MEDIAÇÃO (ART. 319, INCISO VII) - O autor tem de manifestar a sua opção pela realização ou não de audiência preliminar de conciliação ou mediação. - Essa audiência preliminar ocorrerá antes de o réu apresentar a sua resposta. Se autor e réu manifestarem expressamente a vontade de não resolverem o litígio por autocomposição, a audiência não ocorrerá (art. 334, §4º, I, NCPC). - A manifestação do autor nesse sentido tem de ser feita na petição inicial (art. 319, VII, NCPC). A do réu por simples petição nos autos, a qual deve ser apresentada com antecedência mínima de 10 dias da data da audiência (art. 334, §5º, NCPC). - Se o autor não observar esse requisito, a petição não deve ser indeferida por isso, nem há necessidade de o juiz mandar emendá-la. Deve o juiz considerar o silêncio do autor como indicativo da vontade de que haja a audiência de conciliação ou mediação. - Assim como o réu (art. 334, §5º), também o autor tem de dizer expressamente quando não quer a audiência; o silêncio pode ser interpretado como não-oposição à realização do ato. 10º) OUTRAS EXIGÊNCIAS Em que pese o NCPC/2015 ser omisso, incidindo no mesmo equívoco do CPC/73, há outras exigências a serem preenchidas pela petição inicial: - A petição inicial deve vir DATADA E ASSINADA POR QUEM DETENHA CAPACIDADE POSTULATÓRIA, ou seja, por quem detenha capacidade técnica para figurar em juízo. Em regra, tal capacidade não é atributo das pessoas em geral, mas apenas dos advogados regularmente inscritos nos quadros da ordem, dos defensores e dos membros do MP. Todavia, existem casos expressamente ressalvados em lei nos quais tal capacidade acaba por ser conferida ao leigo7; 7 (Ex.: ação de alimentos - art. 2º, da Lei n. 5478/1968; habeas corpus; juizados Especiais Cíveis, na primeira instância7, em causas cujo valor não - A petição inicial precisa conter também a INDICAÇÃO DO ENDEREÇO, eletrônico e não- eletrônico, DO ADVOGADO (art. 287, caput c/c art. 77, inciso V do NCPC/2015, devendo qualquer alteração, temporário ou definitiva, ser devidamente comunicada ao juízo, sob pena de presumirem-se como válidas as intimações dirigidas ao endereço constante dos autos (art. 274, § único, NCPC/2015); - Ainda tendo em vista o art. 287 do NCPC/2015, a petição inicial deve vir, EM REGRA, ACOMPANHADA DA PROCURAÇÃO, SALVO nos casos previstos no § único do citado dispositivo legal: Art. 287. A petição inicial deve vir acompanhada de procuração, que conterá os endereços do advogado, eletrônico e não eletrônico. Parágrafo único. Dispensa-se a juntada da procuração: I - no caso previsto no art. 104 (para evitar preclusão, decadência ou prescrição, ou para praticar ato considerado urgente); II - se a parte estiver representada pela Defensoria Pública; III - se a representação decorrer diretamente de norma prevista na Constituição Federal (como exceda a vinte salários-mínimos; pedido de concessão de medidas protetivas de urgência em favor da mulher que se afirma vítima de violência doméstica ou familiar - art. 27, Lei 11.340/2006). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm no caso da advocacia-geral da união ou do MP) ou em lei (como no caso da advocacia pública em geral). - Caso a petição inicial veicule PEDIDO DE “TUTELA PROVISÓRIA”, requisito que se impõe é a indicação da ocorrência dos respectivos pressupostos (art. 300 e art. 311, do NCPC/2015); - Caso a petição inicial traga em seu bojo uma DENUNCIAÇÃO DA LIDE, requisito que se impõe é a apresentação das razões que justifiquem o autor trazer ao processo, desde já, aquele em face de quem, sob o ponto de vista do direito material, entende possui direito de regresso e o qual deverá ser devidamente citado (art. 125 a 129, NCPC); - Caso a petição inicial apresente requerimento de DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA do réu (art. 134, §2º, NCPC/2015), requisito que se impõe é a apresentação das razões que a justificaria. - Caso o AUTOR DA PETIÇÃO INICIAL SEJA PESSOA JURÍDICA, é fundamental que a petição inicial venha acompanhada do estatuto social e da documentação que comprove a regularidade da representação - notadamente para que se averigue se quem outorgou a procuração ao advogado, em nome da pessoa jurídica, poderia fazê-lo. - Por fim, cabe ainda ao autor formular REQUERIMENTO DE CONCESSÃO DE JUSTIÇA GRATUITA (art. 99, caput, NCPC/2015), OU, não sendo o caso, demostrar, de plano, o RECOLHIMENTO DAS CUSTAS E DAS DESPESAS PROCESSUAIS. A sua falta levará à necessária intimação do procurador para realizá-la no prazo de 15 dias, sob pena de cancelamento da distribuição nos termos do art. 290 do NCPC/2015. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DA PETIÇÃO INICIAL Registrada e, se for o caso, distribuída nas localidades em que houver mais de um órgão jurisdicional abstratamente competente para conhecê-la (art. 284, NCPC), a petição inicial será autuada, numeradas e rubricadas as folhas (art. 207 e 208, NCPC), sendo que, em se tratando de processo eletrônico estas tarefas ficam extremamente simplificadas e agilizadas (art. 193 a 199, NCPC); Após tomadas as devidas providências cartorárias, o magistrado realizará o JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DA PETIÇÃO INICIAL e, segundo Cassio Scarpinella Bueno (2015), para fins didáticos, é possível identificar TRÊS ALTERNATIVAS possíveis de serem adotadas pelo juiz: a) JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE POSITIVO: neste caso deve o magistrado reconhecer na inicial uma peça formalmente adequada. Não há neste ato nenhum prejulgamento, no sentido de indicar que o autor é merecedor da tutela jurisdicional por ele pretendida. Trata-se tão só, do reconhecimento de que, do ponto de vista formal, o autor cumpriu a contento as exigências que lhe são feitas. Estando em ordem a petição inicial, O RÉU SERÁ CITADO, como regra, para comparecer à audiência de conciliação/mediação com pelo menos 20 dias de antecedência (art. 334, NCPC), intimando o autor, por intermédio de seu procurador, para nela também comparecer (art. 334, §3º, NCPC). Caso o autor e o réu manifestem seu desinteresse na autocomposição na forma do §5º do art. 334, bem como quando o direito reclamado pelo autor não admitir autocomposição (art. 334, §4º), o magistrado determinará a citação do réu para que apresente, desde logo, sua contestação (art.335, inciso II, NCPC). OBS.: havendo litisconsórcio, o desinteresse na realização da audiência deve ser manifestado por todos os litisconsortes (art. 334, §6º, NCPC) b) JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE NEUTRO: pode ocorrer de a petição inicial não preencher as exigências que lhe são impostas, mas que ainda assim seja possível a supressão de seus vícios, viabilizando, com isso, o desenvolvimento válido e regular do processo. É a hipótese coberta pelo artigo 321 do NCPC: Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a EMENDE ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial. Na verdade, as regras decorrentes do art. 321 consagram o PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO (art. 6°, NCPC). O Código garante um direito à emenda: não se permite ao juiz indeferir a petição inicial sem que, antes, determine a correção do defeito, com especificação clara do que precisa ser corrigido ou completado. O princípio da cooperação se revela em dois momentos: dever de prevenção do juiz, que deve dar oportunidade de correção de defeito processual, e dever de esclarecimento, pois cabe ao juiz dizer precisamente qual foi o defeito que vislumbrou. Mesmo que efetuada a emenda após o prazo concedido, ainda assim entende-se não se justificar o indeferimento. Sempre que o defeito for sanável deve o magistrado determinar a emenda; não lhe sendo permitido indeferir a inicial sem que conceda ao autor a possibilidade de correção. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art319 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art319 Sendo, todavia, oportunizada a emenda e não sendo cumpridas as determinações do magistrado, o indeferimento da inicial será medida que se impõe, conforme determinação claramente disposta no §único do art. 321, NCPC. c) JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE NEGATIVO: envolve o INDEFERIMENTO DA INICIAL. Trata-se mencionado indeferimento da petição inicial de decisão judicial que OBSTA LIMINARMENTE O PROSSEGUIMENTO DA CAUSA, pois não se admite o processamento da demanda. O indeferimento da petição inicial somente ocorre no INÍCIO DO PROCESSO: só há indeferimento liminar antes da oitiva do réu. APÓS A CITAÇÃO, o juiz não mais poderá indeferir a petição inicial, de resto já admitida, devendo, se vier a acolher alguma alegação do réu, extinguir o feito por outro motivo. Essa é a característica que distingue o indeferimento da petição inicial das outras formas de extinção do processo: o indeferimento é uma hipótese especial de extinção do processo por falta de um "pressuposto processual". A petição inicial válida é um requisito processual de validade, que, se não preenchido, implica extinção do processo sem exame do mérito. Se o defeito se revelar macroscopicamente, é caso de indeferimento; se o magistrado tiver ouvido o réu para acolher a alegação de invalidade, não é mais o caso de indeferimento, mas sim de extinção com base no art. 485, IV, CPC. A distinção é importante, pois o regramento do art. 331 do CPC somente se aplica à decisão que indefira a petição inicial, bem como, sendo liminar a sentença, não se condenará o autor ao pagamento de honorários advocatícios em favor do réu ainda não citado. NÃO SE ADMITE, CONTUDO, O INDEFERIMENTO INDISCRIMINADO. Conforme visto, a petição inicial somente deve ser indeferida se não houver possibilidade de correção do vício ou, se houver, tiver sido conferida oportunidade para que o autor a emende e este não tenha atendido satisfatoriamente à determinação. O indeferimento da petição inicial é um dos casos de invalidade, má-formação, inépcia, defeito da petição inicial; por isso, ESSA DECISÃO JUDICIAL NÃO RESOLVE O MÉRITO DA CAUSA, LIMITANDO-SE A RECONHECER A IMPOSSIBILIDADE DE SUA APRECIAÇÃO (art. 485, I, NCPC). O indeferimento pode ser total ou parcial. Será parcial quando o juiz apenas rejeitar parte da demanda (ex.: havendo cumulação de pedidos, o juiz verifica a inépcia de um deles). Daí porque não se pode dizer que toda decisão que indefere a petição inicial é uma sentença e, portanto, submetida ao recurso de apelação. Se o indeferimento for parcial, não haverá extinção do processo, não se podendo falar, pois, de sentença; se ocorreu em juízo singular, será uma decisão interlocutória; se ocorreu em tribunal, será uma decisão unipessoal, se proferida por relator, ou um acórdão, se decisão colegiada. Em resumo: O INDEFERIMENTO PODE SER UMA DECISÃO INTERLOCUTÓRIA, UMA DECISÃO DE RELATOR, UM ACÓRDÃO E, TAMBÉM, UMA SENTENÇA, só se configurando como tal se se tratar de indeferimento total da petição inicial feito por juízo singular. Com base nisso, pode-se estabelecer o SISTEMA RECURSAL da decisão que indefere a petição inicial: se se tratar de um indeferimento parcial feito por juízo singular (decisão interlocutória), o recurso cabível é o agravo de instrumento (art. 354, §único NCPC); se se tratar de indeferimento total feito por juízo singular, será apelação (art. 1009, NCPC); contra o indeferimento total ou parcial feito por decisão do relator, caberá agravo interno (art. 1021, NCPC); contra indeferimento total ou parcial feito por acórdão, caberão, conforme o caso, recurso ordinário constitucional, recurso especial ou recurso extraordinário. O art. 331 do CPC afirma que, havendo APELAÇÃO contra a sentença que indefere a petição inicial, poderá o juiz, no prazo de 05 dias, rever a sua decisão e modificá-la, em JUÍZO DE RETRATAÇÃO. Se NÃO HOUVER RETRATAÇÃO, o juiz determinará a citação do réu para responder o recurso (art. 331, §1°, CPC). Se a APELAÇÃO FOR PROVIDA, o prazo para contestação começará a correr da intimação do retorno dos autos (art. 331, §2º). NÃO INTERPOSTA A APELAÇÃO, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença (art. 331, §3º). Trata-se de regra especial, pois confere ao magistrado a possibilidade de mudar a sua decisão após ter encerrado o seu ofício jurisdicional com a prolação da sentença (excepciona-se, assim, o art. 494 do NCPC). HIPÓTESES DE INDEFERIMENTO DA INICIAL Nos termos do art. 330 do NCPC, a petição inicial será indeferida quando: I - for inepta; A inépcia (ou inaptidão) da petição inicial gira em torno de defeitos vinculados à causa de pedir e ao pedido; são defeitos que não apenas dificultam, mas impedem o julgamento do mérito da causa. Conforme visto, a petição inicial é o veículo da demanda, que se compõe do pedido, da causa de pedir (elementos objetivos) e dos sujeitos (elemento subjetivo). A INÉPCIA diz respeito a vícios na identificação/formulação dos elementos objetivos da demanda. O §1º do art. 330 do CPC traz algumas hipóteses de inépcia: § 1º Considera-se inepta a petição inicial quando: I - lhe faltar pedido ou causa de pedir; (Conforme visto, sem pedido ou causa de pedir, será impossível ao órgão jurisdicional saber os limites da demanda e, por consequência, os limites da sua atuação). II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico; (Também conforme visto, o pedido tem de ser determinado (art. 324, CPC), salvo em algumas situações excepcionais (incisos I a III do art. 324). Se for indeterminado fora dessas hipóteses, o caso é de inépcia). III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; (A petição tem de ser coerente. Se o pedido não resulta logicamente da causa de pedir, há contradição, hipótese de inépcia. Um bom exemplo: o autor pede a invalidação do negócio em razão do inadimplemento; inadimplemento não é causa de invalidade, mas de resolução). IV - contiver pedidos incompatíveis entre si. (Também conforme visto, a compatibilidade dos pedidos é requisito para que se possa falar em cumulação. Deparando-se com uma petição inicial nessa situação, deve o órgão julgador determinar que o autor a corrija, escolhendo um dos pedidos ou trocando um deles por outro, desta feita compatível. Não pode juiz indeferir a petição inicial sem dar ensejo à correção pelo autor) O §2º e §3º do art. 330 do CPC trazem outra hipótese de inépcia: § 2º Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente de empréstimo, de financiamento ou de alienação de bens, o autor terá de, sob pena de inépcia, discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, além de quantificar o valor incontroverso do débito. § 3º Na hipótese do § 2o, o valor incontroverso deverá continuar a ser pago no tempo e modo contratados. Assim sendo, proposta demanda que tenha por objeto a discussão de dívida oriunda de empréstimo, financiamento ou alienação de bens, não basta o pedido de revisão de dívida, é preciso especificar o que se discute. Não discriminado este valor, cabe ao juiz determinar a intimação do autor para que emende a petição inicial; não retificado o defeito, a petição há de ser indeferida, por inépcia. OBS.: o §3º do art. 330 nos apresenta uma regra de direito material, a qual determina o adimplemento do valor incontroverso. Não adimplida a parcela incontroversa haverá mora. A pergunta cuja resposta não se encontra no texto normativo é a seguinte: NÃO ADIMPLIDA A PARCELA CONTROVERSA, HÁ MORA? Segundo o Prof. Fredie Didier (2015), se não houver decisão judicial provisória em sentido contrário (tutela antecipada), há mora. A simples
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