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DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 1 DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 2 SUMÁRIO 1. PETIÇÃO INICIAL ................................................................................................................ 03 2. RESPOSTA DO RÉU ............................................................................................................. 16 3. PARTES E PROCURADORES ................................................................................................ 35 4. AUDIÊNCIA ......................................................................................................................... 61 5. PROVAS .............................................................................................................................. 78 6. RECURSOS ........................................................................................................................ 104 7. PROCESSO DE EXECUÇÃO ................................................................................................ 131 8. JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA ......................................................................................... 150 9. RITO SUMARÍSSIMO ........................................................................................................ 164 10. DISSÍDIOS COLETIVOS .................................................................................................... 171 DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 3 PETIÇÃO INICIAL ASPECTOS GERAIS Nos dissídios individuais, há conflito de interesses concretos de pessoas determinadas, enquanto nos dissídios coletivos se discutem interesses abstratos de uma categoria composta por um número indeterminado de pessoas. O primeiro visa a aplicação de norma jurídica ao caso concreto, enquanto o segundo busca a criação de normas gerais ou a interpretação de norma geral já existente1. Amauri Mascaro Nascimento explica que a fase constitutiva do dissídio individual se denomina postulatória. Há dois modos de iniciar o dissídio individual trabalhista: a petição inicial e o termo de reclamação. São neles que se constitui a demanda2. De acordo com o art. 2º do CPC, o pro- cesso começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo exceções previstas em lei. A petição inicial é, desta forma, a peça inaugural do processo3. O artigo 840 da CLT4, que define os requisitos da petição inicial trabalhista, usa a palavra “reclamação”, a qual indica também é utilizada na prática processual laboral no lugar de petição inicial5. Todavia, trata-se apenas do nomen iuris (nome de direito) atribuído à peça na ação trabalhista. Neste sentido, ela também é conhecida como “exordial”, “peça vestibular”, ou simplesmente “inicial”6. O adjetivo “inicial” significa que é o primeiro requerimento dirigido pela parte à autoridade judiciária para, segundo os preceitos legais, iniciar o processo.7 Por ser uma das peças mais importantes do processo, a petição inicial deve ser redigida cuidadosamente, de modo não só que a parte contrária a entenda perfeitamente, como também o juiz, ao proferir a sentença, compreenda o que o autor está postulando. Assim, a petição inicial deve obedecer um encadeamento lógico, histórico e cronológico dos fatos sobre os quais será feito o pedido. Inclusive com os cálculos dos valores pretendidos. A forma do documento, sinteticamente, é apontada da seguinte maneira: “A petição inicial representa um silogismo. A 1 GIGLIO, Wagner D. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 175. 2 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 26ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. pp. 577 - 578 3 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 10. ed. São Paulo: Ltr, 2012, p. 655. 4 Art. 840. A reclamação poderá ser escrita ou verbal. § 1o Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação do juízo, a qualificação das partes, a breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio, o pedido, que deverá ser certo, determinado e com indicação de seu valor, a data e a assinatura do reclamante ou de seu representante. § 2o Se verbal, a reclamação será reduzida a termo, em duas vias datadas e assinadas pelo escrivão ou secretário, observado, no que couber, o disposto no § 1o deste artigo. § 3o Os pedidos que não atendam ao disposto no § 1o deste artigo serão julgados extintos sem resolução do mérito. 5 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 36ª ed. São Paulo: Atlas, 2015. . p.248. 6 Leite. Op. Cit. p. 655. 7 Leite. Op. Cit. p. 655. user Realce user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 4 premissa menor é representada pelos fatos, os fundamentos de direito são a premissa maior. A conclusão é o pedido”8. A petição inicial trabalhista pode ser formulada pelos sujeitos da relação de emprego (em- pregados e empregadores, ou pelos trabalhadores avulsos por equiparação constitucional), pessoalmente (no exercício do ius postulandi) ou por seus representantes. Pode igualmente se formulada pelos sindicatos, em defesa dos interesses ou direitos da categoria que representam, e ainda pelo Ministério Público do Trabalho, nos casos previstos em lei9 (art. 839, CLT10). Com a ampliação da competência da Justiça do Trabalho trazida pela Emenda Constitucional nº 45/2004, a petição inicial poderá ainda vir a ser apresentada por outros titulares da relação de trabalho (trabalhadores autônomos, eventuais, voluntários, estagiários e tomadores dos seus serviços), pela União (na hipótese de ação de cobrança de multas impostas aos empregadores pela Superintendência Regional do Trabalho), pelos sindicatos (nas hipóteses de lides intersindicais ou entre eles e seus representados ou filiados) ou pelos empregadores ou tomadores de serviço (quando sujeitos de uma relação de emprego ou de trabalho)11. REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL Quanto à forma, a petição pode ser escrita ou verbal. Sendo verbal, deverá ser reduzida a termo pelo órgão auxiliar onde foi apresentada (termo de reclamação), contendo duas vias datadas e assinadas pelo escrivão ou chefe de secretaria, adotando-se, depois disto, os demais procedimentos para as reclamações escritas (§2º do art. 840 da CLT)12. A petição inicial no Processo Trabalhista é mais abreviada do que aquela que é elaborada nas ações de direito civil e comercial. Via de regra, o pedido é cumulativo, abrangendo diversos direitos pretendidos pelo trabalhador, que de vem ser objetivamente indicados com uma sumária explicação dos motivos determinantes da pretensão13. Bezerra Leite indica que a utilização da petição inicial verbal é compatível com ação oriunda de relação de trabalho distinta da relação de emprego ou da relação de trabalho avulso, uma vez que o art. 840 da CLT não tem por destinatários exclusivos o empregado e o empregador. Todavia, sua opinião é diferente no tocante a lides sobre representação sindical, mandados de segurança, habeas corpus, habeas data e ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores Ministério do Trabalho. Isto, pois tais demandas envolveriam matérias eminentemente técnicas, exigindo-se representação por parte de advogado. Neste sentido dispõe a Súmula 425 do TST14. O autor ainda indica que, por interpretação lógica, o mesmo se daria a res- 8 Martins. Op. Cit. p. 250. 9 Leite. Op. Cit. P. 656. 10 Art. 839. A reclamação poderá ser apresentada: a) pelos empregados e empregadores, pessoalmente, ou por seus representantes, e pelos sindicatos de classe; b) por intermédio das Procuradorias Regionais da Justiça do Trabalho. 11 Leite. Op. Cit. p. 656. 12 Martins. Op. Cit. p.248. 13 Nascimento. Op. Cit.p. 578. 14 Súmula 425. O jus postulandi das partes, estabelecido no art. 791 da CLT, limita-se às Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, não alcançando a ação rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança e os recursos de competência do Tribunal Superior do Trabalho. user Realce user Realce user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 5 peito das iniciais da ação civil pública, ação civil coletiva e ação anulatória de cláusulas convencionais15. No inquérito de apuração por falta grave, a petição deverá ser escrita (art. 853 da CLT), não sendo admitida a reclamação verbal16. Nas localidades em que houver apenas uma Vara do Trabalho (ou Juiz de Direito), a petição inicial será protocolada diretamente na secretaria da Vara ou no cartório do Juízo (CLT, art. 837). Nas localidades com mais de uma Vara ou Juízo, a petição será distribuída. Distribuição é o ato pelo qual é designado o órgão jurisdicional perante o qual o procedimento será desenvolvido. O critério adotado para a distribuição é o da ordem de apresentação, assim, conforme a ordem de entrega ao distribuidor, a inicial é encaminhada a uma das Varas. A parte recebe um documento comprobatório da distribuição do qual constam o nome das partes, a data da distribuição, o objeto da reclamação e a Vara a que cabe a distribuição. Atualmente, a distribuição é feita por via eletrônica17. ENDEREÇAMENTO OU DESIGNAÇÃO DA AUTORIDADE JUDICIÁRIA A QUEM FOR DIRIGIDA Quanto ao requisito para que se designe a autoridade judiciária a quem é dirigida a peça; o dispositivo ordena que o reclamante indique a autoridade competente, que apreciará os termos contidos na peça vestibular. Em primeira instância, a inicial deverá ser dirigida ao “Juiz do Trabalho da Vara do Trabalho” da localidade onde esta for distribuída. Nos Tribunais (regionais e superior), a petição deverá ser encaminhada, em regra, ao “Juiz Presidente do Tribunal Regional do Trabalho”18 (Resolução CSJT n. 104/2012, art. 1º). Nas localidades onde existe mais de um órgão judicial com igual competência, da petição não é possível constar a designação do juízo, porque esse ele mento só será conhecido após a distribuição. Assim, deixa-se espaço para posterior colocação pela Justiça do Trabalho do número da Vara para onde o processo tiver sido distribuído19. No processo judicial eletrônico, a distribuição da petição inicial em formato digital pode ser feita diretamente pelos advogados públicos e privados, sem necessidade de intervenção do cartório ou da secretaria judicial, situação em que a autuação deverá se dar de forma automática, fornecendo-se recibo eletrônico do protocolo (art. 10, Lei. 11.419/0620)21. 15 Leite. Op. Cit. p. 657. 16 Martins. Op. Cit. p. 248. 17 Nascimento. Op. Cit. p. 584. 18 SARAIVA, Renato; Manfredini, Aryanna. Curso de Direito Processual do Trabalho. 12 § ed. Salvador: Editora Jus Podvm, 2015. p. 299. 19 Nascimento. Op. Cit. p 579. 20 Art. 10. A distribuição da petição inicial e a juntada da contestação, dos recursos e das petições em geral, todos em formato digital, nos autos de processo eletrônico, podem ser feitas diretamente pelos advogados públicos e privados, sem necessidade da intervenção do cartório ou secretaria judicial, situação em que a autuação deverá se dar de forma automática, fornecendo-se recibo eletrônico de protocolo. § 1o Quando o ato processual tiver que ser praticado em determinado prazo, por meio de petição eletrônica, serão considerados tem- pestivos os efetivados até as 24 (vinte e quatro) horas do último dia. § 2o No caso do § 1o deste artigo, se o Sistema do Poder Judiciário se tornar indisponível por motivo técnico, o prazo fica automatica- mente prorrogado para o primeiro dia útil seguinte à resolução do problema. § 3o Os órgãos do Poder Judiciário deverão manter equipamentos de digitalização e de acesso à rede mundial de computadores à dispo- sição dos interessados para distribuição de peças processuais. user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 6 QUALIFICAÇÃO DAS PARTES Sobre a qualificação das partes, a inicial deverá conter o nome completo do reclamante e reclamado, nacionalidade, estado civil, profissão, endereço completo com CEP, e, preferencialmente, indicação do número da CTPS, identidade, CPF e PIS. Caso o reclamado seja pessoa jurídica, a inicial deverá conter o nome ou razão social da empresa, a personalidade jurídica (se é empresa de direito público ou privado), o CNPJ e endereço completo, com indicação do CEP, sendo desnecessária a indicação dos nomes dos sócios22. Nos casos de representação processual, além da qualificação da parte é necessária a individualização do representante, que também é mencionado na petição inicial, declarando-se essa sua qualidade. A indicação do domicílio deve ser precisa, para fins de notificação postal. Se não houver distribuição postal na residência do autor, essa circunstância deverá ser mencionada, para que a notificação postal de atos que venham a ocorrer no curso do processo seja feita por diligência do oficial de justiça23. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos artigos 319 e 320, CPC/1524, ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de quinze dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado (Art. 321 do CPC). Nas reclamações plúrimas devem constar do polo ativo todos os reclamantes, com as respectivas qualificações25. Havendo litisconsortes passivos, como nos casos de grupo de empresa, empreitada ou de terceirização, Bezerra Leite aponta que a inclusão de cada uma das empresas tomadoras de serviço no polo passivo é condição necessária, a fim de que elas constem no título executivo judicial e possam ser executadas26. BREVE EXPOSIÇÃO DOS FATOS DE QUE RESULTE O DISSÍDIO (CAUSA DE PEDIR) A expressão “breve exposição dos fatos” significa que na petição deveria haver apenas a narração dos fatos. O §1º do artigo 840 da CLT não exige que seja indicado o fundamento jurídico do pedido. Bastaria a parte narrar os fatos e o juiz iria enquadrá-los dentro do Direito. Contudo, ressalva Sergio Pinto Martins que há casos em que não basta apenas a narração do ocorrido, sendo 21 Leite. Op. Cit. p. 659. 22 Saraiva. Op. Cit. p. 299. 23 Nascimento. Op. Cit. p. 579. 24 Art. 319. A petição inicial indicará: I - o juízo a que é dirigida; II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV - o pedido com as suas especificações; V - o valor da causa; VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação. Art. 320. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação. 25 Martins. Op. Cit. p. 249. 26 Leite. Op. Cit. p. 660. user Realce user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 7 necessária a causa de pedir e a fundamentação jurídica do pedido, especialmente quando a matéria é de direito27. O Direito do Trabalho segue a teoria da substanciação, segundo a qual a petição inicial deve conter a descrição dos fatos oriundos da relação de direito material e os fundamentos jurídicos do pedido. A esta teoria opõe-se a teoria da individualização, na qual bastaria ao autor apontar o título com que age em juízo(por exemplo, o de proprietário, locatário ou credor) para formular o pedido. Não é suficiente que o empregado simplesmente alegue ser empregado e formule o pedido de anotação na CTPS, pois no direito processual brasileiro (civil ou trabalhista), exige-se que o de- mandante justifique a razão pela qual afirma o que afirma. A petição inicial da ação trabalhista individual, deste modo, deve conter os fundamentos fáticos e jurídicos, mas não há necessidade de indicação do fundamento legal28. Amauri Mascaro Nascimento aponta que devem ser excluídos os fatos não vinculados diretamente com a demanda, devendo ser relacionados apenas os fatos que possam influir de algum modo na solução da causa29. A causa de pedir compreende os fundamentos de fato e de direito pelos quais o autor faz o seu pedido30. Os fatos narrados na petição inicial correspondem à chamada causa de pedir próxima ou imediata. São os fatos que dão origem à ameaça ou lesão do direito material da parte. Geralmente diz respeito ao descumprimento, pelo empregador, das normas contratuais e legais que guarnecem o contrato individual de trabalho. Assim, o autor deve apontar as datas de admissão e dispensa, a função que exercia na empresa, o salário, jornada de trabalho etc.31 A causa de pedir remota ou mediata, por sua vez, consiste nos fundamentos jurídicos do pedido. Ou seja, o “porquê” do pedido do autor. Assim, se o autor pede aviso prévio, deve indicar na inicial que a dispensa se deu sem justa causa. Se pede horas extras, deve indicar que cumpria jornada além do limite máximo permitido. PEDIDO Pedido é o objeto da ação, sendo assim a parte mais importante da petição. Estabelece os limites de atuação do magistrado no julgamento da lide. Diante de um pedido certo e determinado, não será licito ao juiz deferir ao demandante bem diverso ou superior ao postulado32 (art. 832, CLT33). 27 Martins. Op. Cit. p. 249. 28 Leite. Op. Cit. pp. 663 – 664. 29 Nascimento. Op. Cit. p. 580. 30 Martins. Op. Cit. p. 249. 31 Leite. p. 664 32 Saraiva. Op. Cit. p. 300 33 Art. 832. Da decisão deverão constar o nome das partes, o resumo do pedido e da defesa, a apreciação das provas, os fundamentos da decisão e a respectiva conclusão. § 1º Quando a decisão concluir pela procedência do pedido, determinará o prazo e as condições para o seu cumprimento. § 2º A decisão mencionará sempre as custas que devam ser pagas pela parte vencida. § 3o As decisões cognitivas ou homologatórias deverão sempre indicar a natureza jurídica das parcelas constantes da condenação ou do acordo homologado, inclusive o limite de responsabilidade de cada parte pelo recolhimento da contribuição previdenciária, se for o caso. user Realce user Realce user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 8 A CLT não detalha o conteúdo e as especificações do pedido, de modo que fica autorizada a aplicação subsidiária do CPC, desde que observadas as adequações exigidas pelo princípio da simplicidade, que informa o Processo Trabalhista. De acordo com os artigos 322 e 324 do CPC, o pedido deve ser certo (expresso, exteriorizado e inconfundível) e determinado (definido e delimitado em sua quantidade e qualidade)34. A palavra “determinado” diz respeito à certeza do pedido, à qualidade e quantidade, ao an debeatur e não aos valores. O termo “certo” empregado no dispositivo supracitado quer dizer valor, pois, se apresentado pedido certo, é vedado ao juiz proferir sentença ilíquida35. A lei permite, no entanto, que o autor formule pedido genérico nas hipóteses do §1º do art. 324 do CPC. Explica Bezerra Leite que o dispositivo permite que o pedido mediato seja genérico, na medida em que o pedido imediato deverá ser sempre certo e determinado36. O pedido genérico é certo quanto à sua existência e determinado quanto ao seu gênero, sendo indeterminado apenas quantitativamente, e determinável na liquidação da sentença37. Nas ações de indenização por acidente de trabalho o pedido poderá ser genérico se as consequências do ato ilícito perpetrado pelo réu não puderem ser apuradas de modo definitivo. Tal é o caso das sequelas nos tratamentos de saúde que se prolongarão no tempo depois da propositura da ação. Há certas situações em que o juiz pode conceder tutela jurisdicional diferente da postulada pelo autor. Os artigos 497 e 53638 do CPC autorizam o magistrado a prestar tutela específica ou conceder tutela que propicie à parte resultado equivalente. Pode o juiz também prolatar sentença mandamental, desde que esta se mostre a mais adequada e efetiva, ainda que o autor tenha postulado sentença executiva39. CLASSIFICAÇÃO DOS PEDIDOS § 4o A União será intimada das decisões homologatórias de acordos que contenham parcela indenizatória, na forma do art. 20 da Lei no 1 1.033, de 21 de dezembro de 2004, facultada a interposição de recurso relativo aostributos que lhe forem devidos. § 5o Intimada da sentença, a União poderá interpor recurso relativo à discriminação de que trata o § 3o deste artigo. § 6o O acordo celebrado após o trânsito em julgado da sentença ou após a elaboração dos cálculos de liquidação de sentença não prejud icará os créditos da União. § 7o O Ministro de Estado da Fazenda poderá, mediante ato fundamentado, dispensar a manifestação da União nas decisões homologat óri- as de acordos em que o montante da parcela indenizatória envolvida ocasionar perdade escala decorrente da atuação do órgão jurídico. 34 Leite. Op. Cit. p. 671. 35 Martins. Op. Cit. p. 251. 36 Leite. Op. Cit. p. 672. 37 Leite. Op. Cit. p. 672. 38 Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente. Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente. 39 Leite. Op. Cit. p 670. user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 9 Bezerra Leite indica as formas de classificação dos pedidos em simples ou cumulado; principal, acessório e implícito; alternativo; sucessivo; sucessivo eventual ou subsidiário; líquido e ilíquido40. Pedido simples e cumulado: Simples é o que contém uma única postulação. Por exemplo, pede-se apenas o pagamento do salário do último mês em que trabalhou na empresa. Cumulado ocorre quando o autor postula mais de um pedido na inicial, buscando que todos sejam apreciados na sentença (art. 327, CPC41). Havendo cumulação de pedidos e sendo a Justiça do Trabalho incompetente para julgar qualquer deles, deverá extingui-lo sem decisão de mérito por ausência de pressuposto processual (art. 485, IV, CPC42). Quando para cada tipo de pedido corresponder um procedimento diferente, será admitida a cumulação sob o procedimento comum (art. 327, §2º, CPC).43 Pedidos principal, acessório e implícito: importa esclarecer que não se deve confundir pedido acessório com implícito, uma vez que, regra geral, o autor deve formular expressamente o pedido44. O §2º, art. 322, do CPC dispõe que a interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé. Assim, se o autor pede o pagamento do salário do último mês trabalhado, este será o pedido principal, enquanto os juros de mora serão pedidos acessórios. Tal orientação difere da disposta no antigo código de processo, onde juros eram compreendidos no pedido principal45. Juros legaise correção monetária ficam compreendidos no pedido principal por força do §1º do art. 322 e da Súmula 211 do TST46. Outra hipótese de pedido implícito são as prestações sucessivas, independentemente de declaração expressa do autor (art. 323, CPC). Pedido implícito e extrapetição: Bezerra Leite defende que o atual modelo constitucional de direito processual permite a quebra de congruência entre pedido e sentença. Depreende tal conclusão dos artigos 497 e 536 do CPC, que conferem ao juiz o poder de conceder tutelas específicas ou assegurar o resultado útil do processo, fixando multas ou adotando “medidas necessárias”. Aponta o autor, que a aplicação de julgamento extra petita também é autorizado no artigo 496 da CLT e na Súmula 396 do TST, que afirma que “Não há nulidade por julgamento extra 40 Leite. Op. Cit. p. 673. 41 Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão. 42 Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; 43 Leite. Op. Cit. pp. 674 – 675. 44 Leite. Op. Cit. p. 675. 45 Leite. Op. Cit. p. 675. 46 Súmula 211. Os juros de mora e a correção monetária incluem-se na liquidação, ainda que omisso o pedido inicial ou a condenação. user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 10 petita da decisão que deferir salário quando o pedido for de reintegração, dados os termos do art. 496 da CLT”47. Esta posição, porém, é controversa, pois o princípio da congruência é um dos pilares do devido processo legal, sendo garantia da racionalidade, ao estabelecer uma relação entre causa e efeito e a limitação de que, daquilo que é pedido, não se pode extrapolar. Pedidos alternativos: pedido alternativo é aquele no qual a obrigação pode ser cumprida de mais de uma forma, por força de contrato ou de lei (art. 325, CPC). Exemplo é o do empregador que se compromete a oferecer um prêmio ao funcionário mais assíduo, cabendo ao empregador escolher entre duas possibilidades de prêmio. Neste caso, haveria uma obrigação alternativa, cabendo ao réu a escolha, se procedente o pedido48. Pedidos sucessivos: O artigo 326 do CPC adotou a nomenclatura “subsidiário” no lugar de “sucessivo”, presente no antigo código. Subsidiariedade na análise de um pedido significa uma ordem lógica de análise. Tal ordem pode ser explicada no sentido de que, a “pretensão subsidiária deduzida pelo autor, no sentido de que se o juiz não puder acolher o pedido principal, passa a examinar o sucessivo”49. Deste modo, se for acolhido o primeiro, o juiz não poderá apreciar os demais pedidos sucessivos trazidos na inicial. Neste sentido observe-se o item II da Súmula 396 do TST50. A diferença entre pedidos alternativos e sucessivos é de que nos alternativos um exclui o outro, nos sucessivos o posterior só poderá ser apreciado na impossibilidade de acolhimento do anterior51. Pedido sucessivo eventual ou subsidiário: se no pedido sucessivo há uma cumulação, onde o segundo pedido só poderá ser acolhido se o primeiro for rejeitado, na modalidade eventual ou subsidiária, o segundo pedido só poderá ser deferido se o primeiro for acolhido. O primeiro é, deste modo, pressuposto lógico essencial para a análise dos sucessivos. A base para a cumulação sucessiva encontra-se no art. 327 do CPC.52 Exemplo desta modalidade no Processo do Trabalho se dá nos casos de terceirização, quando o autor pede a condenação direta da empresa que o contratou formalmente pelas verbas trabalhistas por ela não adimplidas e a condenação subsidiária da empresa tomadora do serviço (TST, Súmula 331, IV53). O segundo pedido só será apreciado se o juiz acolher o primeiro.54 47 Leite. Op. Cit. p. 678. 48 Leite. Op. Cit. p. 678. 49 NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil – N ovo C P C – Lei 13.105/2015. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 896. Apud Leite. Op. Cit. p. 678. 50 Súmula 396. II - Não há nulidade por julgamento “extra petita” da decisão que deferir salário quando o pedido for de reintegração, dados os termos do art. 496 da CLT. 51 Leite. Op. Cit. p. 680. 52 Leite. Op. Cit. p. 682. 53 Súmula 331. IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste também do título executivo judicial. 54 Leite. Op. Cit. p. 682. user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 11 Pedidos líquidos e ilíquidos: o pedido líquido é aquele no qual o autor já delimita na inicial os valores que julga ser credor do réu. Ou seja, especifica o quantum debateur (quantia devida). O pedido ilíquido, por outro lado, indica apenas que certa parcela é devida (an debateur).55 No procedimento sumaríssimo o autor deve formular o pedido certo e determinado, indicando o valor correspondente (art. 852-B, I, CLT). Caso não indique o valor, a lei indica que o processo deverá ser extinto sem resolução de mérito, arcando o autor com o pagamento das custas calculadas sobre o valor da causa. Todavia, defende Bezerra Leite ser mais correto adaptá-lo ao procedimento ordinário. À luz do princípio da congruência, quando o autor formula pedido liquido é vedado ao juiz produzir sentença ilíquida56. Pedido cominatório: diz respeito às obrigações de fazer ou não fazer, obrigações de entregar coisa, sendo incabível nas ações que tenham por objeto obrigação de dar57 ou pagar. Infere-se a possibilidade das tutelas específicas da interpretação dos artigos 497 a 500 do CPC.58 Exemplificativamente, é lícito ao dirigente sindical formular pedi- do cominatório em face do empregador que o dispensou sem ter ajuizado o competente inquérito judicial para apuração de falta grave, requerendo aplicação de multa diária enquanto não cumprida a decisão59. VALOR DA CAUSA O valor da causa é a determinação da expressão econômica da pretensão. É certo quando o pedido é liquido, ou por estimativa quando o pedido depende de liquidação ou em se tratando de obrigação de fazer.60 Renato Saraiva aponta que doutrina e jurisprudência divergem quanto à obrigatoriedade de indicação do valor da causa na inicial.61 Entende o autor que após a edição da Lei 9.957/00, que instituiu o procedimento sumaríssimo, é obrigatória a inclusão na petição inicial do valor da causa correspondente, para que se defina se a demanda será submetida ao procedi- mento ordinário, sumaríssimo (para causas de até quarenta salários mínimos) ou sumário (até dois salários). Neste sentido, Amauri Mascaro Nascimento explica que a importância do valor da causa é relacionada com a determinação do tipo de procedimento62. O valor da causa é requisito obrigatório apenas para as causas sujeitas ao procedimento sumaríssimo, por força da aplicação conjunta dos arts. 852-A e 852-B, inciso I e §1º da CLT, e deve corresponder ao valor do pedido liquido.63 Todavia, de acordo com o artigo 3º, IV da Instrução Normativa nº 39 do TST64, que disciplina a aplicabilidade dos dispositivos do novo CPC ao Processo 55 Leite. Op. Cit. pp. 682 - 683 56 Leite. Op. Cit. p. 683. 57 Súmula 500/ STF. Não cabe a ação cominatória para compelir-se o réu a cumprir obrigação de dar. 58 Leite. Op. Cit. p. 685. 59 Leite. Op. Cit. p. 685. 60 Nascimento. Op. Cit. p. 581. 61 Saraiva. Op. Cit. p. 301. 62 Nascimento. Op. Cit. p. 581. 63 Leite. Op. CIt. p. 690. 64 Art. 3° Sem prejuízo deoutros, aplicam-se ao Processo do Trabalho, em face de omissão e compatibilidade, os preceitos do Código de Processo Civil que regulam os seguintes temas: IV - art. 292, V (valor pretendido na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral); user Realce user Realce user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 12 do Trabalho, aplica-se à disciplina o artigo 292, V, do CPC, o qual indica que o valor da causa constará na petição inicial, sendo, no caso de ação indenizatória, o valor pretendido. Nas ações individuais submetidas aos procedimentos ordinário e sumário, entende que se o autor não indicar o valor da causa, o juiz deverá fixá-lo antes de passar à instrução da causa, para determinação da alçada (art. 2º, Lei n. 5.584/70). Indica ainda que se a petição inicial for omissa quanto a este requisito, cabe ao juiz fixar o valor de ofício, mesmo que na sentença. Se o recurso ordinário impugnar tal parte da sentença, pode o recorrente ter êxito, pois a fixação do valor da causa pelo juiz deveria ter sido feita antes da instrução, dando possibilidade à parte de impugnar o valor em suas razões finais.65 Em se tratando de mandado de segurança e ação rescisória, o entendimento do TST tem sido em não admitir majoração de valor da causa (OJ n. 155 da SBDI-2).66 DATA E ASSINATURA DO SUBSCRITOR Sobre a data e assinatura do subscritor, sendo escrita a petição inicial, ela deverá ser datada e assinada pela própria parte, em função do jus postulandi, ou por seu representante. Sendo verbal, a data a ser considerada será aquela em que o demandante comparecer à Vara do Trabalho para apresentar sua reclamação, devendo também ser assinada pela parte ou representante, após reduzida a termo. Neste contexto, petição inicial sem assinatura será considerada apócrifa, importando na inexistência do processo.67 Nada impede que o juiz, em audiência, permita o saneamento deste vício, desde que não traga prejuízo ao réu, sob pena de extinção do processo (485, IV, CPC). De acordo com a Resolução nº 185/13 do CNJ, que institui o Sistema Processo Judicial Eletrônico: Art. 4º Os atos processuais terão registro, visualização, tramitação e controle exclusiva- mente em meio eletrônico e serão assinados digitalmente, contendo elementos que permitam identificar o usuário responsável pela sua prática. § 1º A reprodução de documento dos autos digitais deverá conter elementos que permi- tam verificar a sua autenticidade em endereço eletrônico para esse fim, disponibilizado nos sítios do Conselho Nacional de Justiça e de cada um dos Tribunais usuários do Siste- ma Processo Judicial Eletrônico - PJe. § 2º O usuário é responsável pela exatidão das informações prestadas, quando de seu credenciamento, assim como pela guarda, sigilo e utilização da assinatura digital, não sendo oponível, em qualquer hipótese, alegação de uso indevido, nos termos da Medida Provisória n. 2.200-2, de 24 de agosto de 2001. § 3º Somente serão admitidas assinaturas digitais de pessoas físicas e de pessoas físicas representantes de pessoas jurídicas, quando realizada no sistema PJe ou a este destina- da, se utilizado certificado digital A3 ou equivalente que o venha a substituir, na forma da normatização do ICP-Brasil. § 4º A assinatura digital por meio de aparelhos móveis que não possam ser acoplados a dispositivo criptográfico portável (tokens ou cartões) com certificado A3 será realizada na forma a ser definida pelo Comitê Gestor Nacional do PJe. DOCUMENTOS QUE DEVEM ACOMPANHAR A PETIÇÃO INICIAL 65 Leite. Op. Cit. p. 690. 66 Leite. Op. Cit. p. 692. 67 Saraiva. Op. Cit. p. 301. user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 13 O artigo 787 da CLT prescreve que a petição inicial escrita “deverá ser formulada em duas vias e desde logo acompanhada dos documentos em que se fundar”. Assim, indica Sergio Pinto Martins que se o autor pede, por exemplo, salário-família, deve trazer aos autos a certidão de nascimento dos filhos e o atestado de vacinação para ter direito àquele benefício. Se pede verbas decorrentes da norma coletiva, deve colacionar aos autos a referida norma68, etc. Documentos novos podem ser juntados após a propositura da ação. Bezerra Leite, contudo, aponta que esta regra raramente é observada, pois dificilmente o autor da ação, que geralmente é o trabalhador, dispõe dos documentos alusivos à comprovação dos fatos pertinentes à relação empregatícia. Quase sempre a petição inicial é acompanhada apenas de cópia da CTPS. Se o pedido é de reconhecimento de vínculo empregatício, a inicial geralmente não é acompanhada de nenhum documento.69 Quando o pedido é fundado em acordo ou convenção coletiva de trabalho, direito municipal, estadual ou estrangeiro, os documentos correspondentes devem acompanhar a petição inicial. Outra hipótese se dá quando o autor pede algum crédito trabalhista e diz que houve interrupção da prescrição, caso em que a inicial deverá ser acompanhada de documento que prove tal fato.70 Se o juiz entender que algum documento deve obrigatoriamente acompanhar a petição inicial, não poderá, de plano, indeferi-la, mas conceder um prazo de dez dias para que o autor a complete. Se o autor não cumprir a diligência, aponta Bezerra Leite que o juiz indeferirá a inicial ou o pedido pertinente, nos termos do art. 321 do CPC71. PETIÇÃO INICIAL NO PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO De acordo com o art. 19 da Resolução CSJT n. 185/17, a petição inicial no sistema do Processo Judicial Eletrônico da Justiça do Trabalho – PJe-JT “conterá, além dos requisitos referidos no art. 840, §1º da CLT, a indicação do CPF ou CNPJ das partes, na forma do art. 15, caput, da Lei nº 11.419/06”. O sistema PJe-JT fornecerá, na ocasião da distribuição da ação, o número atribuído ao processo, o órgão julgador para o qual foi distribuída e, se for o caso, o local, data e horário de realização da audiência, da qual estará a parte autora imediatamente intimada (art. 19, §2º). ADITAMENTO E EMENDA DA INICIAL É consequência dos princípios da estabilização da demanda e da preclusão que, feita a citação, o autor não poderá alterar o pedido ou a causa de pedir sem o consentimento do réu. Todavia, há duas exceções para tais princípios: são eles o aditamento (art. 329, I, CPC72) e a emenda à inicial (art. 321, CPC73). 68 Martins. Op. Cit. p. 256. 69 Leite. Op. Cit. p.686. 70 Leite. Op. Cit. p. 686. 71 Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregulari- dades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial. 72 Art. 329. O autor poderá: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art319 user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 14 Aditar significa acrescentar, de modo que aditamento da inicial significa acrescentar algo ao pedido.74 Estabelece o art. 329, I, do CPC que antes da citação o autor poderá aditar o pedido, correndo por sua conta as custas acrescidas em razão desta iniciativa. Por outro lado, feita a citação, dispõe o art. 329, II do CPC que é proibido ao réu modificar o pedido ou a causa de pedir sem o consentimento do réu, mantendo-se as mesmas partes, salvo as substituições permitidas por lei.75 A CLT é omissa quanto à possibilidade de aditamento da inicial, permitindo a aplicação subsidiária do CPC. No entanto, aponta Renato Saraiva que, considerando que o Processo do Trabalho é dotado de regras e princípios próprios, e nele não havendo citação, mas mera notificação para comparecer à audiência, as normassobre o aditamento da inicial previstas no CPC devem ser adaptadas ao processo laboral. Assim, no Processo do Trabalho, permite-se o aditamento da petição inicial até a apresentação da defesa pelo reclamado, o que ocorre em audiência.76 O aditamento poderia, de acordo com Sergio Pinto Martins, ser feito até na própria audiência.77 Ao reclamado deverá ser concedido prazo para complementar a defesa, devendo a audiência ser adiada para tal finalidade, e a nova audiência ser designada em prazo não inferior a cinco dias (art. 841 da CLT). Após recebida a defesa, o aditamento só será possível com a concordância do reclamado.78 O artigo 321 do CPC prevê que o juiz, verificando que a petição inicial não preenche os requi- sitos exigidos nos arts. 319 e 320, ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido e completado. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial. Bezerra Leite indica que a petição apta é pressuposto processual de validade da relação processual, de modo que o seu indeferimento acarreta a extinção do processo sem resolução de mérito.79 Depois de apresentada a resposta do réu, em audiência (arts. 846 e 847, CLT), o caso não é mais de indeferimento da petição inicial irregular, mas de extinção do mérito (Súmula 263 do TST80). Todavia, os artigos 338 e 33981 do CPC permitem a alteração da petição inicial para modificar I - até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independentemente de consentimento do réu; II - até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa de pedir, com consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a possibilidade de manifestação deste no prazo mínimo de 15 (quinze) dias, facultado o requerimento de prova suplementar. 73 Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. 74 Nascimento. Op. Cit. p. 582. 75 Saraiva. Op. Cit. p. 303. 76 Saraiva. Op. Cit. p. 303. 77 Martins. Op. Cit. p 264. 78 Schiavi. Op. Cit. p 462. 79 Leite. Op. Cit. p. 695. 80 Súmula 263. Salvo nas hipóteses do art. 330 do CPC de 2015 (art. 295 do CPC de 1973), o indeferimento da petição inicial, por encontrar-se desacompanhada de documento indispensável à propositura da ação ou não preencher outro requisito legal, somente é cabível se, após intimada para suprir a irregularidade em 15 (quinze) dias, mediante indicação precisa do que deve ser corrigido ou completado, a parte não o fizer (art. 321 do CPC de 2015). 81 Art. 338. Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo invocado, o juiz facultará ao autor, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art319 user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 15 o polo passivo da demanda. Bezerra Leite indica serem tais dispositivos aplicáveis ao Processo do Trabalho (exceto o parágrafo único do art. 338).82 No procedimento sumaríssimo, verificados eventuais defeitos contidos na petição inicial (falta de pedido certo, determinado e liquido), o juiz, por força do art. 852-B, §1º da CLT, deverá, depois de observada a diligência que cuida a Súmula 263 do TST, extinguir o processo sem resolução de mérito e condenar o autor ao pagamento de custas sobre o valor atribuído à causa. Há entendimento, porém, no sentido de que no lugar de extinção do processo, deverá o juiz converte- lo ao procedimento ordinário.83 Por fim, conforme a Súmula 415 do TST84, em sede de mandado de segurança não cabe emenda à inicial (Súmula 415 do TST). INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL Indeferir a inicial significa rejeitá-la liminarmente, antes do recebimento da defesa85. Não é comum, no Processo do Trabalho, o indeferimento liminar da petição inicial pelos magistrados. Isto porque, em regra, o primeiro contato do juiz com a petição inicial ocorre na audiência, não havendo despacho citatório e sendo a notificação para a audiência ato automático realizado pelos servidores da vara do trabalho. Nada impede, todavia, que o juiz, mesmo antes da expedição de notificação pela secretaria da Vara analise e indefira a petição inicial, quando verificar que a peça não atende aos requisitos previstos nos arts. 840, §1º, CLT e 330 do CPC.86 Além disso, aponta Bezerra Leite a forte tendência em se aproveitar ao máximo os pedidos contidos na petição inicial, mormente quando a parte postula pessoalmente.87 Alguns juízes entendem que a petição inicial no Processo do Trabalho não pode ser indeferi- da, pois o empregado é o hipossuficiente. Essa tese, afirma Sergio Pinto Martins, pode ser admitida se o empregado estiver postulando em juízo sem patrocínio de advogado, pois não é técnico para saber fazer a petição inicial. Entretanto, se o empregado está acompanhado de advogado, este tem a obrigação de saber redigir a peça, de modo que, para o autor, é perfeitamente possível a inépcia da inicial.88 Verificando o juiz, mesmo antes da realização da audiência, que a petição inicial apresenta algum defeito, deverá, como medida de celeridade e economia processual, determinar que o autor emende a inicial no prazo de 10 dias, nos termos dos artigos 165 da CLT e 321 do CPC. Não em 15 (quinze) dias, a alteração da petição inicial para substituição do réu. Art. 339. Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação. 82 Leite. Op. CIt. p. 697. 83 Leite. Op. Cit. p. 697. 84 Súmula 415. Exigindo o mandado de segurança prova documental pré-constituída, inaplicável o art. 321 do CPC de 2015 (art. 284 do CPC de 1973) quando verificada, na petição inicial do “mandamus”, a ausência de documento indispensável ou de sua autenticação. 85 Schiavi. Op. Cit. p. 463. 86 Saraiva. Op. Cit. p. 306 87 Leite. Op. Cit. p. 698. 88 Martins. Op. Cit. p. 257. user Realce user Realce user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 16 emendada a inicial o juiz a indeferirá.89 Tal é o posicionamento adotado pelo TST na Súmula 263. Conforme o entendimento sumular, a inicial somente deverá ser indeferida, sem possibilidade de emenda, se contiver vícios insanáveis, a saber: se a petição for inepta, se a parte for manifestamente ilegítima ou se o autor carecer de interesse processual.90 Entende-se por inepta a inicial com defeitos e regularidades insanáveis.91 A inépcia pode e deve ser declarada por provocação do réu ou de ofício pelo juiz, em qualquer grau de jurisdição (segundo a jurisprudência, na instância ordinária), enquanto não transitada em julgado a sentença ou acórdão, devendo o juiz, sempre que possível, oferecer à parte a oportunidade de corrigir eventual vicio que ela contenha que inviabilize o julgamento do mérito.92 Algumas vezes os magistrados trabalhistas se deparam com petições iniciais que veiculam, de maneira lacônica, pedido de “reflexos nas verbas contratuais e resilitórias”. Indica o autor que tal pedido seria, ao seu ver, inepto, na medida em quem além do genérico, não indicariacausa de pedir. Deste modo, restaria impossível ou bastante difícil tanto para o réu exercer o direito de ampla defesa quanto para o juiz “adivinhar” quais parcelas devem contemplar os “reflexos” pretendidos pelo autor, dificultando a liquidação e gerando efeitos deletérios para a celeridade processual. Contudo, o comportamento do réu poderá elidir a inépcia do pedido quando este manifestar-se precisamente sobre a matéria pertinente, pois neste caso não haverá violação ao princípio da ampla defesa e haverá efetividade do princípio da celeridade processual.93 Não pode ser declarada de ofício a inépcia na instância extraordinária, em função da exigência do prequestionamento, que é pressuposto específico dos recursos extraordinários.94 RESPOSTA DO RÉU ASPECTOS GERAIS Na ação, o autor formula um pedido ao órgão jurisdicional. Com este pedido, busca produzir efeitos na esfera jurídica de uma outra pessoa: o réu. Ao réu, todavia, também se reconhece o direito de formular um pedido endereçado ao órgão, visando que a pretensão do autor seja rejeitada.95 A reação à ação é consequência lógica dos princípios do contraditório e da ampla defesa. O direito de resposta do réu tem sua validade fundamentada na Constituição, em especial nos princí- 89 Saraiva. Op. Cit. p. 306. 90 Schiavi. Op. Cit. p. 464. 91 Schiavi. Op. Cit. p.466. 92 Leite. Op. Cit. p. 698. 93 Leite. Op. Cit. p. 699. 94 Leite.Op. Cit. p. 689. 95 Leite. Op. Cit. p. 674. user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 17 pios do devido processo legal (art. 5º, LIV da CF); da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV da CF); do contraditório e da ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.96 No Processo do Trabalho, a defesa do reclamado será apresentada em audiência. Presentes as partes, depois da leitura da reclamação, será proposta conciliação. Não havendo acordo, a CLT prevê que o reclamado terá vinte minutos para aduzir sua defesa (art. 847, CLT). Na prática, a defesa é escrita e dispensada a sua leitura. Com o PJe, a defesa é anexada ao processo sob a condição de sigilo, que é liberada pelo juiz quando da realização da audiência inaugural. A defesa a ser realizada pelo réu pode ser dividida em três modalidades: defesa indireta do processo; defesa indireta de mérito; e defesa direta do mérito. Na primeira serão discutidos pressupostos para o desenvolvimento válido do processo, as condições de ação e nulidades; na segunda, poder-se-ia chamar de prejudicial do mérito da ação, como se observa na prescrição e na decadência, em que o processo é resolvido com julgamento de mérito; a última é aquela em que o réu pretende ver a ação julgada em sua substância, com a rejeição da pretensão do autor.97 A defesa do reclamado pode ser apresentada tanto verbalmente como por escrito, sendo mais comum na praxe trabalhista a apresentação por escrito. Uma vez implantado o processo judiciário eletrônico, a peça escrita deverá ser encaminhada eletronicamente até a realização da proposta conciliatória infrutífera (art. 22 da Res. 185/17 do TST98).99 Por ser apresentada em audiência que ocorrerá no mínimo no prazo de 5 dias depois do recebimento da citação (art. 841 da CLT), o réu terá este prazo para preparar a sua resposta escrita. Todavia, se o prazo não for observado e o réu, ainda assim, comparecer e apresentar sua defesa sem alegar nulidade, o juiz deverá prosseguir normalmente com o processo. Isto, pois apenas se declara nulidade quando há manifesto prejuízo às partes. Tratando-se de pessoa jurídica de direito público, o prazo mínimo para a preparação da defesa do réu é de vinte dias contados da citação.100 Se for alegada nulidade, o juiz deverá marcar nova audiência, em prazo que observe o intervalo mínimo de 5 dias. O CPC/73 disciplinava a matéria da resposta do réu de tal modo que, após a citação, o réu poderia oferecer exceção, contestação e reconvenção. A resposta do réu, de acordo com Bezerra Leite, abrange essas três modalidades. Aponta ele, contudo, que apenas as exceções e a contestação são verdadeiramente modalidades de defesa. A reconvenção seria ação do réu em face do autor, dentro do mesmo processo em que aquele é demandado por este.101 O Código de Processo Civil de 2015 extingue as exceções como modalidades de resposta do réu, prevendo apenas a contestação (arts. 335 e 342) e a reconvenção (art. 343). O réu apresentará apenas a contestação e nesta poderá arguir a incompetência absoluta e relativa, impugnar o valor 96 Leite. Op. Cit. p. 674. 97 Martins. Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. 36ª ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 292. 98 Art. 22. A contestação, reconvenção, exceção e documentos deverão ser protocolados no PJe até a realização da proposta conciliatória infrutífera, com a utilização de equipamento próprio, sendo automaticamente juntados, facultada a apresentação de defesa oral, na forma do art. 847, da CLT. 99 Saraiva. Op. Cit. p. 311. 100 Leite. Op. Cit. p. 675. 101 Leite. Op. Cit. p. 674. user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 18 da causa e reconvir (arts. 337, II e III, e 34).102 Entretanto, o Processo do Trabalho tem normas próprias sobre as exceções, disciplinados nos artigos 799 a 802 da CLT. A CLT, por seu lado, prevê apenas o termo “defesa” (a ser entendida como contestação) de forma expressa, além duas modalidades de exceções: de foro e de suspeição. Não há regramento especial para reconvenção na CLT. Por razão desta lacuna, reporta-se ao uso do instituto do Direito Processual Civil, sendo admitida a reconvenção no Processo do Trabalho desde que observados os princípios e procedimentos que fundamentam a matéria.103 O reclamado poderá, na audiência para a qual foi notificado, apresentar simultaneamente contestação, exceção e reconvenção, ou mesmo oferecer uma ou duas espécies de resposta, ou até mesmo nenhuma. Isto, pois o reclamado não é obrigado a se defender. A apresentação da defesa é faculdade do réu.104 EXCEÇÕES Atualmente, a exceção compreende a defesa processual ou indireta contra o processo. Nelas, a parte denuncia a falta de capacidade do juiz. Qualquer das partes poderá fazê-lo, não apenas o réu.105 Ainda que as exceções tenham sido retiradas do novo CPC, permanecem no Processo do Trabalho, uma vez que há regras especiais prevendo-as na matéria. Trata-se de uma defesa contra defeitos, irregularidades, ou vícios do processo que impedem o seu desenvolvimento normal, não se discutindo o mérito da questão. É uma forma indireta pois o réu, sem negar os fatos articulados pelo autor, opõe fatos extintivos ou impeditivos ligados ao pro- cesso. Quem ingressa coma exceção é chamado excipiente, e chama-se exceto a pessoa contra a qual se ingressa com a exceção.106 O Direito Processual do Trabalho dispõe que são consideradas exceções apenas as alegações que devem ser decididas antes do exame do mérito: as de suspeição (desdobrada em suspeição e impedimento) e de incompetência. As demais serão alegadas como simples preliminares, matéria de defesa direta, a serem examinadas conjuntamente com o mérito, embora antes dele, na sentença final. Assim se dá com as alegações de litispendência, coisa julgada, prescrição, compensação e retenção, que não suspendem a instrução normal do feito.107 A CLT dispõe que “nas causas da jurisdição da Justiça do Trabalho, somente podem ser opostas, com suspensão do feito, as exceções de suspeição e incompetência” e que “as demais exceções serão alegadas como matéria de defesa” (art. 799, caput, e §1º da CLT). As exceções de suspeição e impedimento tem por objetivo incompatibilizar o juiz para o exercício da função jurisdicional em determinado processo, afim de evitar que ele aja com parcialidade,seja por motivos íntimos (suspeição) ou externos (impedimento). Ambas constituem 102 Saraiva. Op. Cit. p. 312. 103 Leite. Op. Cit. p.675. 104 Saraiva. Op. Cit. p. 312. 105 Martins. Op. Cit. p. 293. 106 Martins. Op. Cit. p. 293. 107 Giglio. Op. Cit. p. 205. user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 19 matérias de interesse público, pois dizem respeito à imparcialidade do juiz e à credibilidade do Poder Judiciário frente a sociedade.108 Distinção fundamental entre suspeição e impedimento é que a suspeição é gerada por motivos de ordem subjetiva, ao passo que o impedimento é de ordem objetiva, culminando em dúvida sobre a parcialidade do juiz.109 O impedimento é mais grave, e vicia até mesmo a coisa julgada. De acordo com o artigo 144 do CPC, o juiz fica impedido de exercer suas funções no processo em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha; de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão; quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no processo; quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços; em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório; quando promover ação contra a parte ou seu advogado. Exceção de suspeição é aquela arguida quando entre a parte e o juiz existe inimizade pessoal, amizade íntima, parentesco ou afinidade até o terceiro grau civil ou interesse particular na causa (CLT, art. 801). Quando esses mesmos fatos existem entre o procurador da parte e o juiz, também subsiste a suspeição.110 O parágrafo único do artigo 801 considera suprida tal irregularidade se “o recusante houver praticado algum ato pelo qual haja consentido na pessoa do juiz, não mais podendo alegar exceção de suspeição, salvo sobrevindo novo motivo”; ou “ constar no processo que o recusante deixou de alegá-la anteriormente, quando já a conhecia, ou que, depois de conhecida, aceitou o juiz recusado ou, finalmente, se procurou de propósito o motivo de que ela se originou”.111 O autor poderia alegar a suspeição ou impedimento do juiz na primeira vez que tiver de falar nos autos ou na audiência, ocasião em que pode alegar nulidades.112 O procedimento da exceção de suspeição e de impedimento está regulado no artigo 802 e seus parágrafos 1º e 2º da CLT: “Apresentada a exceção de suspeição, o juiz ou Tribunal designará audiência dentro de quarenta e oito horas, para instrução e julgamento da exceção. (§1º). Nas Jun- tas de Conciliação e Julgamento e nos Tribunais Regionais, julgada procedente a exceção de 108 Leite. Op. Cit. p. 680. 109 Alvim, Arruda. Apud em Nascimento. Op. Cit. p. 611. 110 Nascimento. Op. Cit. p. 610. 111 Leite. Op. Cit. p.681. 112 Martins. Op. Cit. p. 294. user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 20 suspeição, será logo convocado para a mesma audiência ou sessão, ou para a seguinte, o suplente do membro suspeito, o qual continuará a funcionar no feito até decisão final. Proceder-se-á da mesma maneira quando algum dos membros se declarar suspeito. (§2º). Se se tratar de suspeição de Juiz de Direito, será este substituído na forma da organização judiciária local.” Bezerra Leite, contudo, indica conflito entre o parágrafo primeiro do dispositivo e a Emenda Constitucional nº 24, na medida em que “não faz sentido o próprio juiz peitado (ou impedido) instruir e julgar a exceção de suspeição contra si oposta. A rigor, o julgamento deveria ser feito por um órgão colegiado, dele não participando o juiz ‘interessado’”.113 O dispositivo supramencionado era compatível quando o órgão julgador era a Junta de Conciliação e Julgamento, que era um órgão colegiado. A partir do momento em que a Vara do Trabalho passou a funcionar com um juiz singular, o julgamento da exceção de suspeição ou impedimento deve ser julgado pelo juízo ad quem, aplicando-se a regra dos artigos 144 a 147, CPC.114 O réu, no Processo do Trabalho, poderá oferecer mais de uma exceção ao mesmo tempo. A exceção de suspeição ou de impedimento, logicamente, deverá preceder a à de incompetência, pois o juiz suspeito ou impedido nem sequer poderá declarar-se incompetente. Se o fato que deu azo a suspeição ou impedimento for posterior à audiência, a parte deverá alegar a nulidade na primeira vez em que tiver de falar na audiência ou nos autos, sob pena de preclusão (art. 795 da CLT).115 A exceção de incompetência pode ser em razão da matéria, lugar ou das pessoas. Haveria in- competência em razão da matéria, por exemplo, caso se ingressasse com uma ação postulando separação de cônjuges. Haveria incompetência em razão das pessoas caso a Justiça do Trabalho tivesse de examinar questões relativas a funcionários públicos estatutários da União, dos Estados- membros ou dos Municípios. A incompetência em razão do lugar ocorreria se a Vara não fosse competente quanto ao lugar para apreciar a demanda.116 Sobre a exceção de incompetência, o artigo 799, §2º da CLT, estabelece que “das decisões sobre exceções de suspeição e incompetência, salvo, quanto a estas, se terminativas do feito, não caberá recurso que couber da decisão final”. A exceção de incompetência está regulada no art. 800 da CLT: Art. 800. Apresentada exceção de incompetência territorial no prazo de cinco dias a contar da notificação, antes da audiência e em peça que sinalize a existência desta exceção, seguir-se-á o procedimento estabelecido neste artigo. A expressão “exceção de incompetência terminativa do feito” significa que, se o juiz a acolher, deverá remeter os autos para outro órgão jurisdicional que não a Justiça do Trabalho. Será decisão interlocutória que implicará a terminação (ou saída) do processo na Justiça do Trabalho, e sua remessa a outro ramo do judiciário. A decisão “terminativa do feito” diz respeito à declaração judicial de incompetência absoluta, ou seja, em relação à matéria, pessoa, ou função, e a rigor não deveriam ser objeto de exceção, 113 Leite. Op. Cit. p. 681. 114 Leite. Op. Cit. p. 683. 115 Leite. Op. Cit. p.686. 116 Martins. Op. Cit. p. 298. user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 21 mas de preliminar apresentada na contestação. Tanto o é, que o §1º do artigo 795 da CLT determina que a incompetência de “foro” (foro, aqui, é o trabalhista: incompetência absoluta em relação à matéria ou da pessoa, e não territorial) deverá ser decretada de ofício pelo juiz.117 A exceção de incompetência em relação ao lugar é relativa e prorrogável. Deve ser arguida à primeira vez em que as partes tiverem de falar no processo e não poderá ser decreta- da de ofício, devendo haver provocação da parte, sob pena de o juízo incompetente em razão do lugar tornar-se competente.118 Na exceção territorial, o processo continua tramitando na Justiça do Trabalho.O juiz de uma Vara do Trabalho, ao acolher a exceção de incompetência, remeterá os autos do processo à Vara que entender competente para julgar a demanda.119 Neste sentido, importa apontar que a letra C da Súmula 214 dos TST120 passou a admitir re- curso ordinário da decisão interlocutória que, acolhendo exceção de incompetência em razão do lugar (ou seja, relativa), remete os autos para o Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o juízo trabalhista prolator da decisão interlocutória. Se ambos os juízes se derem por competentes, haverá conflito positivo competências. Se ambos se declararem incompetentes, haverá conflito negativo de competência (arts. 803 a 812 da CLT). Ainda que o artigo 340 do CPC disponha que, no caso de “alegação de incompetência relativa ou absoluta, a contestação poderá ser protocolada no foro de domicílio do réu, fato que será imediatamente comunicado ao juiz da causa, preferencialmente por meio eletrônico”. Tal regra não se aplica ao Processo do Trabalho, pois a CLT dispõe que resposta do réu, que pode abranger exceção, deve ser apresentada em audiência, com presença obrigatória das partes (arts. 843 e 844, CLT).121 No julgamento das exceções de suspeição, impedimento ou incompetência não há fixação de custas, que serão determinadas na sentença que julgar o mérito. Das decisões que as julgarem não cabe recurso, pois tratam-se de decisões interlocutórias, que somente poderão ser apreciadas quando for proferida a decisão final.122 CONTESTAÇÃO O vocábulo “contestação” significa lutar com alguém por meio de testemunhas (testis) e por meio de provas.123 Provém da litis contestatio, do Processo Romano, que representava o momento no qual o réu, diante do magistrado e acompanhado das suas testemunhas, opunha-se à pretensão 117 Leite. Op. Cit. p. 687. 118 Martins. Op. Cit. p.298. 119 Leite. Op. Cit. p. 688. 120 Súmula 214. Na Justiça do Trabalho, nos termos do art. 893, § 1º, da CLT, as decisões interlocutórias não ensejam recurso imediato, salvo nas hipóteses de decisão: a) de Tribunal Regional do Trabalho contrária à Súmula ou Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho; b) suscetível de impugnação mediante recurso para o mesmo Tribunal; c) que acolhe exceção de incompetência territorial, com a remessa dos autos para Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado, consoante o disposto no art. 799, § 2º, da CLT. 121 Leite. Op. Cit. p. 688 122 Martins. Op. Cit. p. 299. 123 Nascimento. Op. Cit. p. 609. user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 22 do autor. Contestação é a peça defensiva por excelência, em que o reclamado terá oportunidade de impugnar a pretensão aduzida na inicial, aduzindo ele mesmo toda a matéria de defesa que entender pertinente.124 Distingue-se da exceção, pois enquanto a exceção é uma defesa indireta em relação ao pro- cesso, a contestação é uma defesa direta do mérito. Na contestação, o réu deverá alegar toda a matéria com a qual pretende se defender na ação que lhe foi proposta, salvo incompetência, suspeição e impedimento, que são as matérias da exceção.125 A CLT não define a contestação. Emprega genericamente o vocábulo “defesa”, de modo que é compatível a aplicação subsidiária do artigo 336 do CPC126. Esta regra consagra o princípio da concentração da defesa e da eventualidade, de modo que o réu deve alegar todo e qualquer tipo ou modalidade de resistência à pretensão do autor (concentração), para que o juiz conheça das posteriores eventualmente, na medida em que as anteriores forem repelidas (eventualidade).127 Assim, mesmo se o réu estiver convicto de que um único argumento de sua peça será suficiente para rechaçar a pretensão do autor, deverá, mesmo assim, alegar toda a matéria de fato e de direito. Se não o fizer na audiência, ficará preclusa a sua pretensão no processo, salvo em se tratando de matéria de ordem pública.128 Por consequência, depois de apresentada a contestação, não se admite que o réu complemente a sua defesa. Isto, salvo se esta defesa versar sobre direito superveniente (matéria surgida após a apresentação da contestação), se tratar de questões de ordem pública, ou em caso de matérias que a lei permita que sejam conhecidas a qualquer tempo e grau de jurisdição. Nesta hipótese não ocorre a preclusão consumativa (extinção da faculdade de praticar um determinado ato processual, por já ter havido a oportunidade para tal - art. 342 do CPC).129 A contestação por negação geral é ineficaz tanto Processo Civil quanto no trabalhista, arcando o réu com o ônus de se considerarem verdadeiros os fatos reportados na petição.130 Isto, pois o princípio da impugnação especificada impede que o réu apresente contestação genérica. Na negação geral o demandado se limita a indicar que os argumentos do autor não merecem guarida, requerendo genericamente a improcedência do pedido sem especificar as razões que levam a esta conclusão.131 De toda sorte, esta questão pode ser relativizada em relação à defesa exercida com o jus postulandi. Quando a parte não tem advogado, o Juiz deve avaliar no caso concreto a especificidade da impugnação. Ao Processo do Trabalho não se aplica a parte final do art. 336 do CPC, pois é desnecessária a especificação das provas que as partes pretendem produzir, uma vez que, aqui, as partes deverão 124 Schiavi. Op. Cit. p. 531. 125 Martins. Sergio Pinto. Op. Cit. p. 297. 126 Art. 336. Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa, expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir. 127 Leite. Op. Cit. p.689. 128 Leite. Op. Cit. p.689. 129 Saraiva. Op. Cit. p.314. 130 Leite. Op. Cit. p. 689. 131 Saraiva. Op. Cit. p. 313. user Realce user Realce user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 23 comparecer à audiência “acompanhadas de suas testemunhas, apresentando, nessa ocasião, as demais provas” (art. 845 da CLT).132 Se o réu não contestar a ação, serão reputados verdadeiros os fatos afirmados pelo autor (344 do CPC). No mesmo sentido, a CLT afirma que se o reclamado não comparecer à audiência, importará em revelia, além de confissão, quanto à matéria de fato (art. 844 da CLT). Assim, serão presumidas verdadeiras as alegações factuais do demandante (efeito material da revelia), de modo que não mais precisarão ser provados, impondo-se imediatamente o julgamento do mérito da de- manda (efeito processual da revelia).133 Todavia, há hipóteses nas quais, mesmo havendo revelia, não serão reputados verdadeiros os fatos afirmados pelo autor: Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se: I - havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação; II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis; III - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere indis- pensável à prova do ato; IV - as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou estiverem em contradição com prova constante dos autos. Importa apontar que no Processo do Trabalho, mesmo que ocorra revelia, o revel será notificado, via postal, da sentença proferida, conforme previsto no art. 852 da CLT134. Outra especificidade da matéria é que, ainda que consumada a revelia, caso o pedido do reclamante envolva adicional de insalubridade ou periculosidade, o juiz deverá determinar a realização da perícia (art. 195, § 2º, CLT135), nada obstando que o reclamado revel indique assistente técnico e produza provas em face de tal demanda. Ainda, ocorrendo a revelia, o autor não poderá alterar o pedido ou a causa de pedir, salvo se o réu for notificado novamente para apresentarresposta.136 CONTESTAÇÃO CONTRA O PROCESSO (PRELIMINARES OU DEFESA PROCESSUAL) A contestação pode ser dirigida contra o processo ou contra o mérito. A contestação contra o processo (ou defesa processual, ou ainda objeção) é uma defesa formal do demandado, baseando- se não no mérito da demanda, mas tão somente em aspectos processuais.137 Tais modalidades de defesa são conhecidas como “preliminares”, sendo classificadas pela doutrina em “peremptórias” e 132 Leite. Op. Cit. p. 689. 133 Saraiva. Op. Cit. p. 315. 134 Art. 852. Da decisão serão os litigantes notificados, pessoalmente, ou por seu representante, na própria audiência. No caso de revelia, a notificação far-se-á pela forma estabelecida no § 1º do art. 841. 135 Art. 195. A caracterização e a classificação da insalubridade e da periculosidade, segundo as normas do Ministério do Trabalho, far-se- ão através de perícia a cargo de Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho, registrados no Ministério do Trabalho. § 2º Argüida em juízo insalubridade ou periculosidade, seja por empregado, seja por Sindicato em favor de grupo de associado, o juiz designará perito habilitado na forma deste artigo, e, onde não houver, requisitará perícia ao órgão competente do Ministério do Trabalho. 136 Saraiva. Op. Cit. p. 316. 137 Saraiva. Op. Cit. p. 317. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art344 user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 24 “dilatórias”. A defesa processual peremptória, uma vez acolhida, põe fim ao processo. As dilatórias apenas suspendem ou dilatam o curso do processo, sem, contudo, extingui-lo, retomando-se ao curso normal uma vez sanado o vício.138 Aqui, o réu ataca não a lide, o pedido ou o bem da vida requerido pelo autor, e sim o processo ou a ação. O réu afirma, assim, que não foram satisfeitos os pressupostos processuais (CPC, arts. 337, I, II, III, V, VI, VII e VIII, e 485, IV), ou que não estão presentes as condições da ação (CPC, arts. 310, XI, e 485 VI).139 O art. 337 do CPC não estabelece uma sequência lógica das questões processuais que devem ser suscitadas preliminarmente pelo réu, mas há, todavia, uma ordem lógica a ser estabelecida. A saber: a) incompetência absoluta; b) inépcia da petição inicial; c) inexistência ou nulidade da citação; d) litispendência e coisa julgada; e) perempção e falta de caução; f) conexão e continência; g) incapacidade da parte, defeito de representação e falta de autorização; h) carência de ação.140 Ainda, pode alegar a existência de nulidades. a) Incompetência absoluta: A competência em razão da matéria e a funcional são absolutas. Ao contrário da competência em razão de lugar, que é relativa e deve ser invocada por meio de exceção (art. 799 e seguintes da CLT).141 A incompetência absoluta deverá ser a primeira a ser levantada, pois, se o juiz é absolutamente incompetente, não poderá praticar atos decisórios no processo. Não poderá nem mesmo extinguir o processo, devendo remetê-lo ao juízo competente (art. 64, §§3º e 4º, CPC142). Cumpre esclarecer que o Novo CPC alterou a ordem contida no código anterior, no sentido de que decisões do juiz absolutamente incompetente seriam nulas. O parágrafo 4º do artigo 64 do diploma atual afirma que, salvo decisão judicial em contrário, conservar-se-ão os efeitos da decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente.143 O juiz do trabalho e o desembargador do TRT têm o dever de decretar, de ofício, a incompetência absoluta. Para a parte, não há preclusão para arguir incompetência absoluta.144 b) Inépcia da petição inicial: A hipóteses de inépcia contaminam de tal forma a inicial que não há como serem sanadas posteriormente. Neste sentido é a Súmula 263 do TST.145 É considerada inepta a petição inicial que não preencher os requisitos formais exigidos pela legislação processual (art. 330, §1º, CPC). 138 Saraiva. Op. Cit. p.317. 139 Saraiva. Op. Cit. p. 316. 140 Leite. Op. Cit. p. 691. 141 Schiavi. Op. Cit. p.539. 142 Art. 64. A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão preliminar de contestação. § 3o Caso a alegação de incompetência seja acolhida, os autos serão remetidos ao juízo competente. § 4o Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente. 143 Leite. Op. Cit. p.691. 144 Leite. Op. Cit. pp. 693 – 694. 145 Schiavi. Op. Cit. p. 541. user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce user Realce DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 25 A inépcia da inicial deve ser suscitada preliminarmente na própria contestação. Ela implica na extinção do processo sem resolução de mérito. Contudo, se apenas um dos pedidos é inepto onde há cumulação de pedidos, o processo será extinto apenas em relação a este.146 c) Inexistência ou nulidade da citação: a citação é pressuposto de existência da relação processual. Sem ela, o processo não é válido. Sem citação (salvo nos casos do art. 239, CPC147), haverá vício insuperável, uma vez que não existiu processo nem sentença. Tanto na citação inexistente quanto na citação nula, se o réu comparecer espontaneamente à audiência e apresentar sua defesa, não haverá invalidade a ser decretada. Se o réu aparecer, contudo, apenas para arguir nulidade, a citação será considerada realizada na data em que ele ou seu advogado for intimado da respectiva decisão (art. 239, §1º do CPC).148 A Súmula 16 do TST149 presume o recebimento da notificação após 48 horas da sua postagem. d) Litispendência ou coisa julgada: Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada, quando se reproduz ação anteriormente ajuizada (art. 337, §1º do CPC). Uma ação é considerada idêntica a outra quando em ambas figuram as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido (art. 337, §2º do CPC). Litispendência ocorre quando a ação que está em curso é repetida, com duas ou mais tramitando em juízos diversos. Coisa julgada, por sua vez, ocorre quando se repete a ação que já foi decidida por sentença de que não caiba recurso. Verificado qualquer dos dois casos, o juiz deverá extinguir o processo sem resolução de mérito (art. 485, V do CPC).150 e) Perempção e falta de caução: trata-se da perda do direito de pleitear perante o judiciário, em decorrência da inércia da parte. Em princípio, não têm aplicação no processo do trabalho. Contudo, Bezerra Leite indica que com a ampliação da competência da Justiça do Trabalho para outras ações oriundas da relação de trabalho distintas da relação de emprego, haverá situações em que estes institutos serão aplicados ao Processo do Trabalho.151 As hipóteses de perempção são as previstas nos artigos 731 e 732, CLT: Art. 731. Aquele que, tendo apresentado ao distribuidor reclamação verbal, não se apre- sentar, no prazo estabelecido no parágrafo único do art. 786, à Junta ou Juízo para fazê- lo tomar por termo, incorrerá na pena de perda, pelo prazo de 6 (seis) meses, do direito de reclamar perante a Justiça do Trabalho. Art. 732. Na mesma pena do artigo anterior incorrerá o reclamante que, por 2 (duas) ve- zes seguidas, der causa ao arquivamento de que trata o art. 844. 146 Leite. Op. Cit. p. 692. 147 Art. 239. Para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de improcedência liminar do pedido. 148 Leite. Op. Cit. p. 693. 149 Súmula 16. Presume-se recebida a notificação 48 (quarenta e oito) horas depois de sua postagem. O seu não-recebimento ou a entrega após o decurso
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