Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO FIAMFAAM CPPG CENTRO DE PESQUISA E PÓSGRADUAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PRODUÇÃO EXECUTIVA E GESTÃO DE TELEVISÃO O REAL E O IMAGINÁRIO NA TELENOVELA “ CÚMPLICES DE UM RESGATE” THE REAL AND THE IMAGINARY IN SOAP OPERA “CÚMPLICES DE UM RESGATE” HEITOR SANTOS DE SANTANA ORIENTADOR PROF JOSÉ AUGUSTO LOBATO São Paulo 2016 HEITOR SANTOS DE SANTANA 1 O REAL E O IMAGINÁRIO NA TELENOVELA “ CÚMPLICES DE UM RESGATE” THE REAL AND THE IMAGINARY IN SOAP OPERA “CÚMPLICES DE UM RESGATE” Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para aprovação ao curso de Pós Graduação de Produção Executiva e Gestão de Televisão – FIAM FAAM. Orientação do Professor José Augusto Lobato. São Paulo 2016 1 Heitor Santos de Santana, Pós Graduando em Produção Executiva e Gestão de Televisão pela FMU e Bacharel em Cinema e Audiovisual pela UNIMONTE. Fotógrafo e Analista de Mídias Sociais nas empresas Apuã e Transpol Indústria. Correspondência: Rua das Orquídeas, 438 Portais, Cajamar SP. CEP: 07790815. Tel: 11 44985364, Email: Heitorpump@gmail.com. Declaro, para os devidos fins, que o trabalho que ora apresento é inédito e original de minha autoria. Asseguro ainda que este trabalho não contém nenhuma forma de plágio ou transcrição indevida, isto é, cópia de frases ou pensamentos ou de ideias de outros autores sem a devida e correta citação de cada obra e publicação utilizada. (verso folha anterior) Santos de Santana, Heitor. Produção Executiva e Gestão em Televisão / nome – São Paulo: H. Santos de Santana, 2016. Quantidade de folhas.:30 cm. Orientador Artigo (especialização) – Faculdades Integradas Alcântara Machado, Faculdades de Artes Alcântara Machado. em CURSO, ANO. Palavras chaves. I.Autor.II. Faculdades Integradas Alcântara Machado, Faculdades de Artes Alcântara Machado. Especialização em CURSO. III.Título. AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, aos meus pais que me deram apoio e força para não desistir durante esse longo trajeto. Aos amigos que fizemos, principalmente, pelos laços que criamos, sempre ajudando ao máximo uns aos outros. Em segundo, mas não menos importante, ao meu professor orientador que me acompanhou compartilhando seus conhecimentos e experiências contribuindo para minha evolução pessoal e profissional. E por último, à todos aqueles, que direta ou indiretamente, contribuíram para não só este trabalho de conclusão de curso, mas para todos que fizeram parte da minha vida acadêmica num geral. RESUMO O presente projeto de pesquisa tem como objetivo destacar a função principal da combinação do real com o imaginário para dar mais intensidade e ilustrações no enredo de telenovelas que são elaboradas para o público infantil, o projeto terá como base de estudo a telenovela “Cúmplices de um Resgate” do SBT. A metodologia escolhida para análise é a análise de dados quantitativos e análise de conteúdo. Nossa hipótese é a de que a combinação do real com o imaginário não confunde ou manipula o público alvo da telenovela, mas, complementa o enredo, a contextualização da telenovela e a dramaticidade da situação a ser realizada para que os telespectadores consigam ter um entendimento melhor da telenovela. Palavraschave: Novela; SBT; Imaginário; Televisão; Infantil. ABSTRACT This research project aims to highlight the main real combination function with the imaginary to give more intensity and illustrations in telenovelas plot that are designed for children, the project will study based on the telenovela "Accomplices of a rescue "of the SBT. The methodology chosen for analysis is the analysis of quantitative data and content analysis. Our hypothesis is that the actual combination with the imagery does not confuse or manipulate the target audience of the soap opera, but complements the plot, the contextualisation of the soap opera and drama of the situation to be held so that viewers are able to have a better understanding Soap Opera. Keywords: Soap Opera; SBT; Imaginary; Television; Infant. SUMÁRIO I INTRODUÇÃO 07 II – DESENVOLVIMENTO 11 1. FICÇÃO 11 2. TELENOVELA 16 3. CRIANÇA X TELEVISÃO 21 4. ANÁLISE DA TELENOVELA 28 III CONSIDERAÇÕES FINAIS 36 IV – REFERÊNCIAS 37 I INTRODUÇÃO A produção de bens culturais em escala industrial para o público infantil sempre será um mercado altamente competitivo, diverso e por muitas vezes com as mesmas características em seus produtos licenciados. Os produtos com o maior alcance para o público infantil são, tradicionalmente, baseados no suporte audiovisual, principalmente pela televisão, já que é o meio de comunicação de massa que tem o maior alcance no Brasil. A televisão não é apenas um meio de comunicação para educar e entreter; nos dias de hoje, esta mídia opera múltiplos papéis na nossa vida cotidiana, seja dentro, seja fora de casa. A televisão se tornou também um processo de socialização e é um processo fundamental para o indivíduo. Também é possível observar que a televisão assume uma influência enorme nos adultos e principalmente nas crianças, já que ela forma opiniões, orienta o consumo, cria conceitos e representações sociais e influencia o comportamento. Entre os diversos meios de comunicação existentes, a televisão continua sendo o principal meio usado pelas crianças para o consumo de seus programas favoritos. De acordo com os dados que fazem parte do Painel Nacional de Televisão, do Ibope Media , o tempo 2 médio por dia em que as crianças e os adolescentes entre 4 e 17 anos de todas as classes sociais passam em frente à televisão tem aumentado constantemente, em 10 anos (entre 2004 e 2014). Em 2004 o tempo médio por dia de exposição à TV foi de 4h43, ao longo dos anos esse número aumentou e em 2014 chegou a 5h35, mais tempo que uma criança passa por dia na escola que é cerca de 3h15, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas de 2006. Os dados coletados em 2015 indicam que a tendência do tempo de exposição à TV é de subir ainda mais, até 27 de maio deste ano foram registrados 5h35, o mesmo tempo obtido no ano inteiro de 2014. (ALANA, 2015. p. 1) A telenovelaé um dos produtos da televisão que se estabeleceu e tornouse o produto televisivo com maior engajamento e público no Brasil, junto das séries e dos programas jornalísticos. Infelizmente, o cenário atual de produções televisivas para a televisão aberta com o foco no público infantil não é um dos melhores, já que apenas três canais de televisão 2http://criancaeconsumo.org.br/noticias/tempodiariodecriancaseadolescentesemfrenteatvaumentaem10 anos/ com sinal aberto no Brasil produzem e exibem produtos audiovisuais para o público infantil (SBT, TV Cultura e TV Brasil). Os produtos audiovisuais para o público infantil têm uma característica muito comum e notoriamente visível, o uso do imaginário no enredo, na dramaticidade e nos efeitos visuais para complementar a cena. A necessidade e a função do uso do elemento “imaginário” nas produções audiovisuais para o público infantil podem ser observadas e analisadas tanto a partir da necessidade de deixar uma cena ou a narrativa da telenovela mais objetiva e clara para as crianças ou para combinar a experiência de contato com o universo ficcional a memórias e referências de outros mitos e lendas pertencentes ao universo infantil. Assim como em outros produtos audiovisuais, a telenovela “Cúmplices de um Resgate ” é um grande exemplo do uso do elemento imaginário para complementar a dramaticidade. O público alvo que a telenovela alcança é da faixa etária de quatro até 11 anos de idade, representando 23%, e com um público residual na faixa de 35 até 49 anos, representando 21%. Os elementos que compõem o imaginário são inseridos no enredo da novela, nas situações que estão ocorrendo no capítulo (seja ela de comédia ou drama) ou nas referências à literatura infantil clássica, como os contos de fadas. A combinação do realismo com o imaginário na telenovela será o principal tema tratado nessa pesquisa, com o objetivo de investigar a função desse trabalho e sua contribuição para a maior intensidade dos laços de identificação entre a telenovela e o público infantil. Usaremos o método de análise narrativa para contextualizar, identificar e analisar o elemento imaginário e o real na telenovela “Cúmplices de um Resgate”. Examinaremos cenas de três episódios da telenovela, que serão necessários para o entendimento do significado do elemento “real” e “imaginário” que está inserido na telenovela. Este texto tem como estudo de caso um produto audiovisual voltado para o público infantil, porém a pesquisa busca abrir caminho para a compreensão de outros produtos audiovisuais que têm a mesma natureza, como, por exemplo, “Sítio do Pica Pau Amarelo” (Rede Globo). A abordagem de nossa pesquisa se baseará nos estudos sobre a linguagem e as narrativas de ficção, dentro e fora do audiovisual. Além disso, a contextualização deverá tratar do significado do real e do imaginário, na concepção de Michel Maffesoli, bem como discutirá a relação da criança com a televisão e os atuais produtos audiovisuais para essa faixa etária. Nesse sentido, por meio da pesquisa, propomos uma contribuição para que, junto de emissoras, estudantes de comunicação, professores e pesquisadores, possamos repensar e analisar a principal função dos elementos lúdicos, realistas e referenciais na configuração de uma narrativa e sua relação de dependência com a identificação do público em relação às histórias de ficção. A hipótese a ser observada e verificada na análise de cenas é de que, de modo geral, a combinação do real com o imaginário permite o enriquecimento no conteúdo audiovisual da telenovela, porém, sua principal função é de aproximação do público com o conteúdo e, também, de redução das dúvidas e do estranhamento quanto ao enredo, tornando mais claras as cenas e os diálogos da trama – em especial para as crianças de quatro a 11 anos. Consideramos, ainda, que essa ação responde a uma demanda específica das crianças de nosso tempo, cada vez mais abertas e questionadoras. Segundo Mario Corso e Diana Lichtenstein: “[...]crianças modernas adoram opinar, são filhas de um ideal democrático e não aceitam nada que não tenham compreendido ou elaborado. Questionam leis, regras, e o tema dos limites é o motivo de constante polémica, da qual elas participam ativamente”. (CORSO, 2006. p.56 e 57). Entretanto, a presença dos elementos lúdicos e a referência ao imaginário na telenovela não figuram como um elemento didático; são um elemento para melhor entendimento sobre o enredo da telenovela e aprimoramento da experiência lúdica. As crianças não gostam de produtos audiovisuais ou da literatura que têm como base uma narrativa didática; preferem algo como uma espécie de válvula de escape para uma fantasia que nos transporte para outra “realidade” que não se insere no nosso cotidiano ou no cotidiano das crianças. De acordo com Mario Corso e Diana Lichtenstein: “[...]deveríamos elaborar narrativas mais educativas, que transmitissem valores positivos para nossas crianças. Mas, como Pinocchio já demonstrou muito bem, elas não se engatam em posturas francamente didáticas e preferem histórias que não tenham embutida a intenção de educálas” (CORSO, 2006. p.56 e 57). Nos próximos capítulos, falaremos sobre o conceito do real e o imaginário do ponto de vista do sociólogo Michel Maffesoli. Trataremos também do ponto de vista de alguns autores, teóricos e críticos que têm concepções sobre a ficção, a telenovela, a relação da criança com a televisão e a atual situação dos produtos audiovisuais voltados para o público infantil. Tais componentes nos ajudarão a promover uma análise mais detalhada para as narrativas de “Cúmplices de um resgate”. II DESENVOLVIMENTO 1. A REALIDADE E O IMAGINÁRIO NAS NARRATIVAS DE FICÇÃO Conforme indicam diversos estudiosos da linguagem, a narrativa existe desde tempos remotos; pode ser exposta por meio da escrita, da linguagem verbal e da música, por exemplo, além das próprias imagens em diferentes suportes, com destaque para as atuais produções audiovisuais. Dentro desse campo, a ficção é uma das formas de discurso mais presentes na história da humanidade, tendo como principal funcionalidade a estruturação do pensamento, o lúdico e, segundo Calligaris (2007), a criação de “repertóriosdo possível”. Segundo Ataíde (1973) a narrativa ficcional é constituída por elementos como enredo, personagens, tempo, espaço, situaçãoambiente e ponto de vista. O enredo só existe a partir da fábula e da trama. Já para Vassalo (1984), a ficção é uma “reelaboração da realidade”. É uma espécie de narrativa que se inspira nas experiências humanas e na realidade (mundo real) para configurar novas cenas e situações, nas quais se encaixam personagens e suas respectivas funções. Segundo estudiosos como Umberto Eco (1994), a característica principal das narrativas ficcionais é a verossimilhança, aqui podendo ser entendida como uma conexão referencial com o mundo real. Por mais que as histórias e os enredos que estão sendo trabalhados não contenham fatos verdadeiros, é necessária a verossimilhança para que o leitor aceite as regras e acredite no conteúdo em que está lendo ou assistindo, aceitando o efeito de realidade como sistema de suposição de equivalência entre as formas fictícias da narrativa não factual e regras e acontecimentos potenciais da realidade cotidiana. A norma básica para se lidar com uma obra de ficção é a seguinte: o leitor precisa aceitar tacitamente um acordo ficcional, que Coleridge chamou de “suspensão da descrença”. O leitor tem que saber que o que está sendo narrado é uma história imaginária, mas nem por isso deve pensar que o escritor está contando mentiras (...). Aceitamos o acordo ficcional e fingimos que o que é narrado de fato aconteceu (ECO, 1994, p.81). Segundo Umberto Eco, toda história parte de um ponto de vista/vivência (autormodelo / autor “real”), destinase a alguém (leitormodelo) e é interpretada livremente por um leitor “real”. Ou seja, a ficção trabalha em cima de expectativas geradas dentro do contrato de comunicação elaborado com seu público, bem como a partir de modos de se dirigir do autor (estilo) e da situação concreta de consumo, ou seja, de quem será o consumidor desta narrativa na prática. Outro ponto destacado pelo autor é que a ficção é uma versão “reduzida”, recortada ou “parasita” do mundo real: por isso mesmo, poderá aprofundálos e reforçar seus traços expressivos a partir de técnicas como o melodrama, o tempo psicológico e o uso de sequências em diferentes temporalidades narrativas. É como uma oportunidade de olhar “em detalhe” o real, a partir de situações fictícias específicas. Sendo assim, a ficção busca no mundo real os fatos, histórias e motivações para que os conteúdos sejam preparados. Por mais irreal, inventado ou imaginário que o conteúdo possa ser, a ficção tem um vínculo com o mundo real que nunca é plenamente perdido. Isso explica, por exemplo, a capacidade de projeção e identificação existentes em contos populares, fábulas e narrativas míticas que utilizam personagens não humanos – animais, por exemplo – e situações impensáveis na realidade cotidiana (aspectos mágicofantasiosos). Conforme Jost argumenta, enfim, a ficção é parasita da realidade: Isso significa que os mundos ficcionais são parasitas do mundo real. Não existe nenhuma regra relativa ao número de elementos ficcionais aceitáveis numa obra. E, com efeito, aqui há uma enorme variedade formas como a fábula, por exemplo, a todo instante nos levam a aceitar correções em nosso conhecimento do mundo real. No entanto, devemos entender que tudo aquilo que o texto não diferencia explicitamente do que existe no mundo real corresponde às leis e condições do mundo real. (ECO, 1994, p.89). Além das funções que a ficção apresenta, como o uso criativo do mundo e dos sentidos, há também o divertimento e a contribuição da comunicação com o indivíduo. Eco classifica, também, como uma “função consoladora” a capacidade da narrativa de ficção de explorar sentidos, possibilidades e possíveis explicações para os acontecimentos da própria realidade. (...) Da mesma forma, ler ficção significa jogar um jogo através do qual damos sentido à infinidade de coisas que aconteceram, estão acontecendo ou vão acontecer no mundo real. Ao lermos uma narrativa, fugimos da ansiedade que nos assalta quando tentamos dizer algo de verdadeiro a respeito do mundo. Essa é a função consoladora da narrativa —a razão pela qual as pessoas contam histórias e têm contado histórias desde o início dos tempos. E sempre foi a função suprema do mito: encontrar uma forma no tumulto da experiência humana. (ECO, 1994, p.94). Sendo assim, a ficção serve também como uma forma de escape do mundo real, sempre lembrando que não é certo confundir a educação alienada (tanto em crianças quanto em adultos) com a oferta de fantasia para saciar desejos e brincadeiras, conforme argumentam Diana Corso e Mário Corso: (...) A ficção infantil ou adulta supre os indivíduos de algo que não se encontra facilmente em outros lugares: todos precisamos de fantasia, não é possível viver sem escape. Para suportar o fardo da vida comum, é preciso sonhar. Mas, não devemos confundir a oferta de fantasia através da ficção, que fornece tramas capazes de alimentar devaneios e brincadeiras, com uma educação alienante (...) e pinta o mundo em tons pastéis. (CORSO, 2006, p.544). A ficção é, em resumo, uma forma de representação da realidade que consegue afetar os leitores/telespectadores de maneira tão forte quanto as narrativas factuais, como o jornalismo, por exemplo. Por vezes – e isso se destaca especialmente nos estudos sobre a telenovela brasileira, muitas vezes tomada como instrumento efetivo de educação –, o ficcional acaba servindo tanto ou mais para a formação dos indivíduos do que as narrativas de não ficção. Como mencionado anteriormente, a ficção tem um vínculo com o mundo real (um recorde, um molde) e, por conta disso, acaba contendo, em maior ou menor medidas, elementos de informação. Mesmo em conteúdos que tendem ao surreal, ao fabuloso, ao imaginativo, as narrativas de ficção trabalham em vínculo direto com a realidade e com a construção do imaginário. Tornase necessário, agora, para nossa discussão neste artigo, discutir rapidamente as relações entre realidade e imaginário na ficção. Para François Laplantine e Liana Trindade, o real é completamente diferente da 3 realidade – e o imaginário, por sua vez, está ligado no campo da interpretação e darepresentação do real, constituindo determinadas representações que “modulam” e organizam a experiência de contato com o mundo cotidiano segundo referenciais coletivamente construídos. O imaginário possui um compromisso com o real e não com a realidade. A realidade consiste nas coisas, na natureza, e em si mesmo o real é 3 Importante reforçar que, neste texto, não estamos adotando as noções de Real e Imaginário conforme a acepção da psicanálise, notadamente nos estudos de Jacques Lacan. Notase isso, por exemplo, na discussão de François Laplantine e Liana Trindade, na qual a diferenciação entre Real e Realidade segue organização bastante diferente da empreendida nos estudos psicanalíticos e da filosofia da linguagem. interpretação, é a representação que os homens atribuem às coisas e à natureza. Seria, portanto, a participação ou a intenção com as quais os homens de maneira subjetiva ou objetiva se relacionam com a realidade, atribuindolhe significados. Se o imaginário recria e reordena a realidade, encontrase no campo da interpretação e da representação, ou seja, do real (LAPLANTINE; TRINDADE, 1997. P.29, 30). O imaginário faz parte do campo de representações que povoam os mais diversos sistemas narrativos – inclusive os relacionados à ficção, à fábula e à fantasia –, evocando determinados elementos que geram conexão, familiaridade, sensações de pertencimento e vínculos entre a experiência de consumo da narrativa ou a situação de comunicação e a realidade cotidiana vivida. . Segundo Michel Maffesoli (2001, p. 26, apud ANAZ; AGUIAR; LEMOS; FREIRE; COSTA, 2014, p. 9), em seus estudos sociológicos, existem dois tipos de imaginário (representações): o individual e o coletivo. O individual basicamente se dá por meio da identificação (reconhecimento de si no outro), da apropriação (desejo de ter o outro em si) e da distorção (reelaboração do outro pra si). Já para o imaginário coletivo, propõese algo que ultrapassa o individual e que corresponde também ao imaginário de um grupo no qual determinado indivíduo se encontra inserido. É, portanto, o escopo das representações coletivamente instituídas. Conforme Maffesoli (2001, 76, apud ANAZ; AGUIAR; LEMOS; FREIRE; COSTA, 2014, p. 10) argumenta, “o imaginário estabelece um vínculo. É cimento social. Logo, se o imaginário liga, une numa mesma atmosfera, não pode ser individual”. Conforme discutido pelos autores, que debatem as noções de imaginário segundo diferentes autores, como Maffesoli e Bachelard, o real e o imaginário são algo que não se vê, mas que se sente. Imaginários podem ser diferentes para cada individuo e, ao mesmo tempo, constituíremse como terreno comum e de familiaridade para um certo grupo de pessoas, em uma tensão entre percepções e sentidos pessoais e construções coletivas, que evocam a memória, a identidade social e a sensação de pertencimento a determinado universo. Maffesoli refere o imaginário como uma fonte racional e não racional de impulsos para a ação. É, também, uma represa de sentidos, emoções, vestígios, imagens, sentimentos de afetos, símbolos e valores. Aponta que, de uma maneira geral, o imaginário opõese ao real, ao verdadeiro. Seria uma ficção, algo sem consistência ou realidade. Algo diferente da realidade econômica, política ou social, que seria, digamos, palpável, tangível. (ANAZ; AGUIAR; LEMOS; FREIRE; COSTA, 2014, p. 9) Com as tecnologias e os meios de comunicação, que dão maior abrangência à circulação de representações em todo o mundo, o imaginário tem obtido uma evidência grande. Cada vez mais, trabalhase com o referenciamento e a reconstrução dos imaginários a partir das formas de comunicação contemporâneas, que circulam globalmente e precisam evocar sentidos a um só tempo particulares para cada receptor e capazes de gerar sensação de identificação, pertencimento e estabelecimento de vínculos entre as narrativas e seus consumidores. “A técnica é um fator de estimulação imaginal (...), ainda mais nas tecnologias de comunicação, pois o imaginário, enquanto comunhão é sempre comunicação. Internet é uma tecnologia da interatividade que alimenta e é alimentada por imaginários” (2001, p. 80, apud ANAZ; AGUIAR; LEMOS; FREIRE; COSTA, 2014, p. 11). Essas reflexões nos permitem visualizar de que modo as narrativas de ficção trabalham, constantemente, com referências ao imaginário e alimentando essas construções. Seja em histórias adultas, seja nas tramas infantis – que aqui estudaremos em maior detalhe –, as narrativas que ouvimos e contamos dizem muito sobre o imaginário que é construído a partir de reinterpretações criativas, ressignificações e transformações da realidade circundante na forma dos discursos. 2. TELENOVELA: HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS E RECEPÇÃO Desde que foi elaborado, produzido e exibido pela primeira vez, no início da década de 1950, o gênero telenovela tem atraído um grande público e índices de audiência comparáveis a renomados programas jornalísticos e de não ficção, consolidandose como um dos produtos audiovisuais de ficção com maior penetração e potencial de engajamento na sociedade brasileira. A telenovela no Brasil começou de forma amadora e sem um planejamento claro, sob forte influência de produtos anteriores, como as radionovelas e os folhetins; porém, a necessidade de se criar um conteúdo para ser veiculado na primeira emissora fez com que o improviso fosse gradativamente substituído pela formação de uma linguagem e um modelo de produção próprios. “Sua Vida me Pertence” foi a primeira telenovela veiculada na televisão brasileira, na TV Tupi; por não ter o recurso do videoteipe a telenovela era exibida sempre 4 às terças e às quintasfeiras, ao vivo, com improviso e com histórias divididas em capítulos parcelados em duas vezes por semana. Conforme a demanda, os produtores e responsáveis por esse novo formato que estava sendo implantado na televisão brasileira tiveram a necessidade de manter a telenovela sempre em um horário (noturno), repetidamente ao longo da semana, a fim de criar um hábito para manter o público na televisão, em um modelo horizontalizado de grade. A partir dos anos 1960, as outras emissoras também optaram por esse gênero, que passou a dominar a programação de ficção das emissoras. Nesse período, o melodrama e a improvisação ainda eram elementoschave. Apenas no final dosanos 1960 as emissoras de televisão sentiram a real necessidade de transformar o estilo das telenovelas, afim de tornar sua linguagem e seu eixo temático verdadeiramente brasileiros. Novas linguagens foram inseridas no enredo das telenovelas, como em “Beto Rockfeller” (1969), que inaugurou um modelo de novela “cotidianizada” ou realista (CAMPEDELLI, 1987). Nesse tipo de enredo, o elemento imaginário é “substituído” pela referência à realidade, por meio do cotidiano. 4 Sistema de gravação de imagens televisivas que utiliza, como suporte, uma fita magnética. Atualmente, o modo de produzir a telenovela tem escala industrial. Por isso, as produções também necessitam de profissionais e necessariamente precisam render lucro para a emissora. A narrativa da telenovela manteve o melodrama diário, com uma mutabilidade com maior frequência por conta das influências externa, passando, assim, a ter um modelo mais ativo e de influência do público e da sociedade sobre seus conteúdos. A literatura pode ter sido a matriz para esse gênero ficcional, porém, a circulação do gênero se encontra hoje na televisão, no cinema, na publicidade e até mesmo no jornalismo. Paralelamente, o gênero também absorve elementos externos à sua linguagem, mesclando o fictício e o trabalho com o imaginário a elementos documentais e das narrativas de informação.al. (..) Os gêneros ficcionais, portanto, em permanente estado de fluxo e redefinição, articulamse, mesclando particularidades, conformando novas sínteses, restituindo velhas histórias. (...) os gêneros encontramse presentes em toda e qualquer forma literária, e também em produções sonoras e audiovisuais. (LOPES; BORELLI; RESENDE, 2002. p. 253) A televisão, hoje, se tornou parte da rotina de quase todos os brasileiros e se fez parte integrante da família, de círculos de amigos e de ambientes educacionais, influenciando as conversações e tematizações cotidianas. Segundo Maria Immacolata Vassallo de Lopes, a telenovela é uma espécie de texto televisivo para ser lido e fruído em coletivo. (..) A televisão é hoje parte integrante da vida familiar, tal a familiarização desse meio de comunicação dentro da vida cotidiana, tal a incorporação que a família faz da televisão na sua rotina de atividades diárias. (...) A família é não só o modelo de assistência da telenovela, como a telenovela é um texto melodramático televisivo para ser lido e fruído de forma coletiva, especificamente em contato com outros, em grupo, em família (LOPES; BORELLI; RESENDE, 2002. p.141). Por mais que o conteúdo da telenovela seja um produto narrativo para ser assistido no coletivo, cada membro da família ou de um grupo terá uma leitura individual sobre o produto audiovisual que está sendo consumido. A leitura que a família faz da telenovela é uma experiência cultural ativa e complexa, sujeita a uma série de disposições culturais habilitadas , produto tanto do habitus de cada família quanto das trajetórias especificas de seus membros. Destacamos três categorias de análise na relação famíliatelenovela. São elas: a espacialidade familiar, a temporalidade familiar , e a competência cultural (LOPES; BORELLI; RESENDE, 2002. p.141). No livro “Vivendo a Telenovela”, as autoras explicam há três categorias que realizam a mediação fundamental para entender o cotidiano familiar e a importância que a telenovela tem sobre os brasileiros na atualidade. A espacialidade familiar é a primeira categoria citada pelas autoras, que nada mais é do que a forma como as famílias organizam a limitação de territorialidade, tanto física quanto estética e dos bens de consumo. Aqui entram os acordos físicos e emocionais pelos quais se estabelecem as fronteiras do mundo social da família e do mundo particular de cada membro. Nas famílias de classe média, que são as que dispõem de mais espaço e um número maior de televisores, uma pessoa geralmente não tem que disputar com o resto da família uso da televisão, por que dispõe de maior mobilidade doméstica. Nesses casos há menos conflito, já que a falta de acordo nos horários pessoais e nas preferências por programas pode ser resolvida se cada membro da família estiver em um lugar diferente da casa. Nas famílias de classes populares, que dispõem de menos espaço, há necessidade de usar a mesma dependência para diversos propósitos. (LOPES; BORELLI; RESENDE, 2002. p.141 e p.142) A espacialidade familiar não é apenas a limitação de espaço e bens de consumo; é, também, um espaço de circulação e reapropriação dos conteúdos ficcionais. A Espacialidade familiar permite revelar não apenas os espaços domésticos de assistência da televisão, mas também os espaços de circulação da telenovela. Tivemos oportunidade de observar esses lugares de sociabilidade, onde a telenovela é (re)contada, discutida, avaliada, como num verdadeiro trabalho de semiose social : na sala, na cozinha, no quintal, na churrasqueira, na piscina. Reconstruímos, também, através dos relatos, o circuito extradoméstico de circulação da telenovela: na casa de parentes (familia extensa), na escola, no trabalho, nas bancas de jornais. (LOPES; BORELLI; RESENDE, 2002. p.142) Outra categoria citada pelas autoras é a temporalidade familiar, que consiste em uma regulamentação do tempo em termos de sequência, frequência, ritmo, duração e horário das atividades de cada famíliaSão as rotinas diárias de cada família e de seus membros (LOPES; BORELLI; RESENDE, 2002), que ajuda a explicar os diferentes modos com os quais a teleficção mergulha e invade a intimidade, as práticas e os hábitos de seus consumidores. Como veremos mais adiante, nos estudos sobre a alternância entre o real e o imaginário na telenovela infantil, esse aspecto é relevante por enfatizar como experiências externas podem ser absorvidas pela ficção e, na outra mão, determinar de que modo determinados grupos e subgrupos socioculturais ou etários – como as crianças – exigem adaptações na linguagem das telenovelas. Há também outra questão levantada pelas autoras sobre a temporalidade familiar, porém, voltada para o papel da televisão. Segundo as autoras, as emissoras de televisão organizam a sua programação, impondo e conformando o cotidiano da sociedade sem lembrar que essa temporalidade não é exclusiva. É dentro desse tempo familiar rotinizado e ritualizado que a televisãoinscreve o mercado (...) porém essa temporalidade não é exclusiva, pois necessariamente vai ter que ser negociada com a temporalidade interna, específica, da família (...) cada uma das famílias tem uma temporalidade específica, fruto de sua dinâmica inter e transfamiliar (...) Observamos, por exemplo, que enquanto uma pessoa tem compromissos diários com a escola no mesmo horário da telenovela, iso a obriga a assistila apenas aos sábados; este hábito se altera assim que tem inicio as ferias escolares. (LOPES; BORELLI; RESENDE, 2002. p.143) A última categoria citada pelas autoras é a competência cultural familiar, que nada mais é do que a experiência cultural quando o público assiste à telenovela. Essa experiência prévia é determinante para o consumo da telenovela e se dá por meio da presença de uma “matriz cultural” (MartínBarbero) e da construção de um “sensorium ” (Benjamin), ou seja, um terreno que gera a polissemia na recepção das obras e alimenta sua própria riqueza narrativa. (LOPES; BORELLI; RESENDE, 2002. p. 144). (...) A noção de competência cultural (...) permitiu explorar tanto as especificidades quanto as semelhanças de interpretações da telenovela, através da remessa à matriz popular do melodrama e também do (...) “repertório compartilhado” entre a produção e o público da telenovela, expressão do “pacto de recepção” que entre eles implicitamente se constrói (LOPES; BORELLI; RESENDE, 2002. p.145). A telenovela, em suma, é um produto televisivo que tem uma representação e incorporação das relações sociais muito grande na sociedade brasileira, com entradas subjetivas e negociadas realizadas para cada telespectador. A experiência subjetiva implícita no ato de ver telenovela pode ser resgatada na imitação ou recriação de discursos e imagens; pode ser produzida na captura de mecanismos de apropriação e reapropriação deste produto; e pode, também, ser reelaborada a partir, por exemplo, da representação melodramática da vida social. (LOPES; BORELLI; RESENDE, 2002. p.182) A compreensão desses modos de se relacionar com a ficção televisiva nos permite observar, de maneira mais atenta, como a narrativa de ficção televisiva trabalha com elementos imaginários para cativar o público infantil. Considerando o viés estratégico da formação de repertórios simbólicos e do entendimento das competências culturais e demanda de cada telespectador para o bom desempenho da teleficção, bem como sua natureza de narrativa que invade, transforma e é influenciada pelo cotidiano, podemos, agora, observar as relações entre a criança e a mídia, enfatizando de que modo a produção de sentido se pode dar a partir da evocação de elementos imaginários e lúdicos, em diálogo com o eixo referencial das histórias. 3. A televisão e o público infantil Entre as obras que buscam compreender os hábitos, preferências e características do consumo de televisão pelo público infantil, destacase “Televisão, Criança, Imaginário e Educação” (1998), que traz de forma rápida dados de pesquisas sobre esse público e sua relação com os meios audiovisuais. Conforme argumenta Beth Carmona, “as crianças brasileiras ficam, no Brasil, em torno de três horas diárias assistindo à TV e são expostas constantemente a programas de adultos. Assistem e gostam” (CARMONA, 1998. p.65). Como os dados mencionados acima são referentes ao ano de 1998, encontramos, também, alguns dados referentes ao período entre 2004 e 2014, do Painel Nacional de Televisão, do Ibope Media. Em 2004 o tempo médio por dia de exposição à TV foi de 4h43, ao longo dos anos esse número aumentou e em 2014 chegou a 5h35, mais tempo que uma criança passa por dia na escola que é cerca de 3h15, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas de 2006. Os dados coletados em 2015 indicam que a tendência do tempo de exposição à TV é de subir ainda mais, até 27 de maio deste ano foram registrados 5h35, o mesmo tempo obtido no ano inteiro de 2014. (ALANA, 2015. p. 1) É possível notar, com esses dados, um fenômeno bastante perceptível no cotidiano: ao longo dos anos, as horas que crianças e adolescentes dedicam à TV só têm crescido. Em 1998, a duração era de apenas 3h diárias; hoje, esse número chega a 5h35 diárias. Conforme notam estudiosos do campo, a televisão, para as crianças, tem como principal papel o entretenimento ou distração; já para os pais, atua como uma “babá” e, em alguns casos, como algo que impacta negativamente esse público: Numa modernidade carregada de mandos e exigências fora do círculo familiar, pais e mães trabalhadores podem ter na televisão um recurso para “distrair” os filhos em casa enquanto eles estão fora, ou quando retornam exauridos de suas lutas do diaadia profissional. Assim, a TV passa a ser justificada como um meio eficaz. Mas não faltam a muitos os discursos panfletários sobre o maquiavelismo de tal uso, e as idéias persecutórias sobre o “mal” inerente à TV (REZENDE, 1998. p.72). Quando as crianças estão consumindo a televisão, levam essa prática como forma de divertimento. Por conta disso, os produtos audiovisuais para esse público obrigatoriamente têm que ser claros, econômicos em informações e com roteiros bem estruturados, reduzindo as dúvidas do público infantil. Não haverá sentido em elaborar um programa teleeducativo de longa duração e com grande quantidade de informações, por mais bem realizado que seja. Um programa que combine as técnicas do filme trash (imagens rápidas e animação em câmara rápida) com a técnica narrativa da história será mais indicado para transmitir a mensagem pra as crianças (TÁVOLA, 1998. p. 48). A televisão para o público infantil, segundo Pedrinho A. Guareschi – com base teórica de M.R. Kehl (1991) –, apenas estimula a criança a ter uma imaginação alienada, ao invés da imaginação criativa. Esse papel ficaria reservado a outras mídias com maior potencial de estímulo criativo, como a literatura. Há uma diferença fundamental nas duas práticas: na primeira (ler livros), a criança imagina, cria tipo, imagina lugares, situações, paisagens, cores, odores, ruídos etc., de acordo com o estímulo escrito, mas imaginado por ela; na segunda prática (assistir TV), porém, ela já tem tudo isso dado. Elanão necessita construir. É poupada dessa tarefa criativa. O que lhe resta é conferir, interiorizar, como que “copiar”, reproduzir e repetir o que alguém já fez por ela (GUARESCHI, 1998. p. 89, grifos nossos). Nessa perspectiva, o que restaria à criança seria a representação, fornecida por todos os produtos audiovisuais. De acordo com Arthur da Távola, “as crianças usam a TV como uma das fontes de onde extraem material para organizar e interpretar suas experiências vividas, só que essa fonte tem uma energia tremenda” (TÁVOLA, 1998, p.48). Já Carmona (1998, p.65) afirma que “a criança que assiste à TV recebe um tipo de representação que acaba se refletindo no desenvolvimento e na continuação dos papéis representados na sociedade”. Ou seja, a TV atua como rotinizadora de hábitos e determinadora de condutas, comportamentos e modos de ver o mundo – função que também abrange o público adulto, mas possui influência ainda mais relevante sobre indivíduos em plena formação intelectual e fisiológica. Segundo Pedrinho A. Guareschi, a prática de assistir à televisão estimula a criança a não realizar práticas de movimentos corporais. No máximo, a criança irá realizar exercícios com o controle remoto. A criança também não irá sair de casa, tornando a sala de estar o seu mundo. Por conta disso, seu vínculo com outras pessoas e lugares pode ser perdido (GUARESCHI, 1998, p.88). Outros pesquisadores, como Ana Lúcia Rezende, explicam que a televisão estimula a comunicação não verbal, por meio do espaçotempo na programação televisiva, além de incentivar a criança a ter uma comunicação mais desenvolvida, impulsionando a verbalização, a socialização e o cruzamento entre referências concretas e das narrativas midiáticas. Na turminha da escola ou das brincadeiras, no grupo do condomínio ou do clube não são necessários muitos detalhes dos episódios vistos na TV. Às vezes, basta um nome, o do superherói ou do desenho animado, para que a comunicação baseada na cumplicidade da audiência se estabeleça. Mais do que um grupo, essas crianças formam uma tribo, no sentido que Maffesoli atribui ao termo, e espalhase a proxemia, que é uma ocupação simbólica de um tempoespaço comum e efêmero (REZENDE, 1998, p. 78). Na TV, consolidase um complexo processo entre a emissão e a recepção, envolvendo tanto o público adulto quanto o infantil. Na apreciação das narrativas audiovisuais, são envolvidos inúmeros filtros, com níveis de interesse e graus de atenção igualmente variados, guiando uma recepção que se distancia do modelo passivoacrítico classicamente atribuído ao telespectador (ROCCO, 1998, p.132). Uma evidência clara do poder desses filtros e dessas mediações , que caracterizam as relações de emissão e recepção, é dada pela conjunção de dois fatores que são, a um só tempo, independentes, mas que acabam por se interligar. O primeiro, gerador de muitos outros, consiste na separação nítida que fazem os pequenos entre ficção e realidade . O segundo fator, que reafirma a importância das mediações dos filtros invisíveis próprios à recepção, revelase pela ação de zapping (mudar constantemente de canal), que é o grande desafio da TV clássica hoje (ROCCO, 1998, p.132). Segundo Maria Thereza Rocco, os comerciais são os principais alvos da prática do zapping , tanto em adultos quanto em crianças. Nas crianças, a prática dos zapping começa a partir dos 6 anos de idade, sempre tentando evitar os comerciais. Maria diz ainda: “(...) as crianças raramente zapam quando assistem desenhos ou telenovelas. Sabese, além disso, que as crianças se utilizam muito do zapping quando estão sozinhas. (ROCCO, 1998. p.132 e 133). É possível concluir, assim, que a fidelização do público infantil com o produto audiovisual que o agrada é muito maior do que o público adulto. Em mais de 35% do tempo dedicado à TV, as crianças permanecem sós. Portanto, é pertinente concluir que as crianças se servem do zapping com grande frequência. (...) O zapping traduz de forma muito competente a natureza das formas como adulto e criança se relacionam com a TV. O zapping torna evidentes o papel e a função dos filtros e das mediações que são elementos constitutivos do processo de recepção de produtos televisivos (ROCCO, 1998, p.133). Pouco depois da inauguração das primeiras emissoras de televisão no Brasil, os programas para o público infantil estavam começando a ser testados e analisados. Nos anos 1950, a televisão estava no período inicial, apenas com dois canais: TV Tupi (1950 – 1980) e TV Record (1952). Nessa época, os programas infantis eram consideravelmente importantes, e sempre pensavam em transmitir cultura, fosse no teleteatro ou nos programas de gincana. No final dos anos 1950, os desenhos começaram a conquistar seu lugar na grade de programação. Já nos anos 1960, com a inauguração de mais emissoras, como a Excelsior (19601969), a Cultura (1962), a TV Record (1965) e a Rede Globo (1967), a diversificação da programação para o público infantil ganha corpo. A ditadura militar é claramente refletida nos programas infantis que têm agora como apresentadores vestidos com fardas, Capitão AZA (TV Tupi) e Capitão Furação (Globo). A imagem heróica do militar, o melhor exemplo para as crianças, um modelo a ser seguido, que os militares continham a sabedoria, a chave para uma boa vida. O mito do herói sendo explorado como forma de controle das massas. Ficando evidenciada também a competição entre ambas as redes que rivalizavam a liderança do mercado (VIANNA, 2007. p.5). A padronização e a consolidação da rede de televisão em todo o território nacional são um marco nos anos 1970, incluindo os produtos audiovisuais infantis. Nesse período, os programas infantis passam a ser “padronizados” com a linguagem dos programas de auditório, os especiais musicais e as telenovelas infantojuvenis (principalmente da Globo). Fica clara a diminuição tanto das redes de televisão quanto das produções para o público infantil. A substituição do Sítio do Pica Pau Amarelo em 1986 pelo Xou da Xuxa já apresenta uma das rupturas mais importantes e um elemento fundamental para entendermos o que aconteceu com a programação infantil. A competição entre emissoras e aexploração do mercado infantil como fatores decisivos da programação em detrimento da preocupação com a educação e as mensagens a serem veiculadas às crianças (VIANNA, 2007, p.8). Para definir os anos 1980, separamos uma citação que explica exatamente um pouco da televisão e a produção infantil no Brasil. Muitos consideram a década de 80 com a década perdida, sem grandes perspectivas, sem grandes marcos culturais. A criança passa a ser explorada como um consumidor em potencial que precisa desde cedo ser educado para o consumo. Destaque para os musicais produzidos por grandes indústrias fonográficas, continuidade de um movimento que tomaria grandes proporções. (...) No final desta fase temse aquele que se tornaria o modelo padrão da programação atual (VIANNA, 2007. p.11). Por mais que nos anos 1990 o número de programas lançados para o público infantil tenha sidomaior, as produções não tinham o mesmo apelo cultural e educativo das décadas de 1960 e 1970. Programas como “Xou da Xuxa” e “Mundo Maravilha” têm um conteúdo essencialmente focado no divertimento. Porém, programas como “TV Colosso”, “Eliana”, “Cometa da Alegria” e a telenovela “Chiquititas” tornaramse sucessos de audiência e exemplos para uma programação de sucesso voltada ao público infantil. Nos anos 2000, a popularização da internet e a TV a cabo fizeram com que a produção de programas infantis sofresse declínio: Se a reflexão for pela quantidade de programas, têmse na programação 219 programas, destes 36 são do gênero infantil, 6% dos programas. Ao excluir os programas da TV Cultura, o quadro se torna menos representativo ainda, são 28 programas que se reflete em 10 horas e meia. Isto é, na exclusão da TV Cultura, reduz para 12 horas o tempo de programação infantil e restam apenas oito programas (VIANNA, 2007, p.16). Segundo Ruth Vianna, “em relação aos programas infantis, temos uma redução brusca de programação”. A autora aponta que crianças de quatro a nove anos perdem espaço, uma vez que a programação atualmente tem se voltado para uma camada até então pouco explorada, os préadolescentes. Esse cenário demonstra um elemento marcante de nossa televisão: a redução no volume de programas voltados ao público infantil na TV aberta e em todas as emissoras, com exceção para as segmentadas (como TV Brasil, TV Escola e TV Cultura), que ainda mantêm produções com foco educativocultural para crianças e jovens. A partir dos anos 2010, as produções da televisão aberta para o público infantil têm declínio significativo. Entre os fatores de influência estão a expansão da TV fechada e a migração do público para plataformas digitais, reduzindo a viabilidade econômica de uma programação segmentada. A seguir, apresentamos uma lista de canais de televisão brasileira (emissoras públicas comerciais e não comerciais), com suas as produções televisivas voltadas ao público infantojuvenil. Globo Não tem. SBT Mundo Disney; Bom dia e cia; Carrossel; Cúmplices de um Resgate. Rede TV Não tem. Cultura Quintal da Cultura; Cocoricó; Banana de Pijamas; Dora Aventureira; A Mansão Maluca do Professor Ambrósio; Andy e as Aventuras com Dinossauros; Angelina Balerina;; A Pantera Corderosa; Barney; Bubble Guppies; Carrapatos e Catapultas; Castelo RáTimBum; Charlie e Lola; CyberChase; D.P.A Detetives do Prédio Azul; Eu e os Monstros; Familia Imperial; Historietas Assombradas; Inami; Masha e o Urso; Moranguinho; Nilba e os Desastronautas; Osmar, A Primeira Fatia do Pão de Forma; Os 7 Monstrinhos; Patrulha Canina; Peppa Pig; Pocoyo; Pororo; Que monstro te mordeu?; Rocket Power; Shaun, o carneiro; Sitio do picapau amarelo; Thomaz e seus amigos; Tic Tic Tati; Timmy e seus amigos; Zupt com o Senninha; Winx Club; Vila Sésamo. Band Não tem. TV Escola Mimi e Lisa; O que são as coisas e outras 35 produções voltada para o público infantil. TV Brasil ABZ do Ziraldo; Amor Animal; Anabel; Angelina, a bailarina; Animania; Saga da Terra Vermelha Brotou o Sangue; Barney; Batatinhas; Bita e os animais; Brichos; Cocoricó na Cidade e outras 40 produções voltada para o público infantil. Aparecida Clubti Rede Vida Não tem. Record Não tem. Gazeta Não tem. A fim de aprofundar nossa reflexão sobre os vínculos entre o real e o imaginário nas produções ficcionais voltadas ao público infantil, ideia que centraliza a proposta de nosso trabalho e que exemplifica os mecanismos de captura da atenção das crianças e dos jovens na TV brasileira, analisaremos a seguir a construção narrativa da telenovela “Cúmplices de um resgate”, exibida pelo SBT. 4. ANÁLISE DA TELENOVELA: TODOS NÓS SOMOS CÚMPLICES. Para analisar o elemento imaginário e o real na telenovela “Cúmplices de um Resgate”, examinaremos cenas de três episódios da telenovela, tais como: 1, 72 e 133. Explicaremos também o elemento imaginário que é inserido pelos pensamentos dos animais. A telenovela “Cúmplices de um Resgate” começou a ser exibida em 03 de agosto de 2015, com previsão de 250 episódios. A telenovela é uma adaptação da novela mexicana Cómplices al Rescate e que também foi exibida pelo SBT em 2002. A telenovela foi pensada 5 em manter a mesma repercussão que as outras telenovelas que estavam em seus momentos finais e que obtiveram ótimos indices de audiência com o público infantojuvenil, como a telenovela “Carrossel” e “Chiquititas”. A telenovela é ambientada em São Paulo e tem como principal conflito o resgate das duas irmãs gêmeas que, após os planos de uma das gêmeas dar errado, elas correm riscos por causa da madastra Regina (interpretada por Maria Pinna). As gêmeas formam uma especie de Ying Yang , sempre opostas. Manuela (interpretada por Larisa Manoela) é uma das gêmeas, é 6 meiga, gentil, doce e muito talentosa para o meio músical. Tem uma boa relação com sua familia e seus amigos no Vilarejo dos Sonhos. Já Isabela (interpretada por Larisa Manoela) é mandona, mimada e por muitas vezes rebelde, ela vive com o seu pai Orlando (interpretado por Alexandre Barros), sua madastra Regina e sua empregada e babá de quem tem um carinho pela Marina (interpretado por Tânia Bondezan). A emissora de televisão SBT, resolveu começar a telenovela de um modo diferente, eles trouxeram para teledramartugia os contos de fadas que conhecemos muito bem. Como o público alvo da telenovela está entre quatro e 11 anos de idade, representando 23%, a emissora pensou que explicar o enredo, o conflito da telenovela relacionando com os contosde fadas, o objetivo era conseguir com que esse público alvo tivesse um entendimento melhor de todo o conflito, afinal, esse público é questionador e não aceita algo que não tenha entendido . 7 5 Escrita por Socorro González e Produzida por Rosy Ocampo (Televisa). 6 Ying Yang é um princípio da filosofia chinesa, onde Ying e Yang são duas energias opostas. 7 Como já mencionado na introdução com os pensamentos de Mario Corso e Diana Lichtenstein Nesta fase iremos analisar o primeiro episódio, mostraremos a relação que os personagens tem com os contos de fadas e a telenovela (seu papel no conto e na telenovela). Lembrando que o imaginário na telenovela é representado pelo conto de fadas e o mundo real é representado pela telenovela em si. Personagem Doris abrindo um livro de conto de fadas. A telenovela começa com um plano sequência da personagem Doris andando pelo Vilagejo dos Sonhos e é possivel concluir que esse plano sequência é para mostrar o elemento real que é representado na trama. Logo após, a pergonagem Doris se dirige até a biblioteca, pega um livro aparentemente de conto de fadas e abre o livro, para a sua surpresa a magia que a literatura oferece ganha forma e é onde o enredo da telenovela é explicada com referêncas dos contos de fada (imaginário). Personagem Rebeca na janela da sua cabana aguardando a chegada do seu bebê. Abaixo, a lista dos personagens principais e sua representação na telenovela (real) e a 8 representação nos contos de fadas (imaginário). ● Rebeca Agnes: É mãe das gêmeas Manuela e Isabela. Não sabe da existência de Isabela, porque nunca soube que estava grávida de gêmeas. Real: Costureira, mora no vilarejo com a mãe Nina, com a irmã Helena e a filha Manuela. Imaginário: Camponesa, mora com a mãe Nina e com a irmã Helena. ● Dona Nina Agnes: É mãe da Rebeca e da Helena. Também não sabia da existência de Isabela, porque nunca soube que a filha estava grávida de gêmeas. Real: Costureira, mora no vilarejo com as filhas Rebeca e Helena e com a neta Manuela. Imaginário: Camponesa, mora com as filhas Rebeca e Helena. ● Helena Agnes: É a irmã de Rebeca e filha da dona Nina Agnes. Não sabe da existência de Isabela, porque nunca soube que a irmã estava grávida de gêmeas. Real: Cursa medicina veterinária e ama os animais, mora no vilarejo com a mãe Nina, com a irmã Rebeca e a sobrinha Manuela. Imaginário: Camponesa, mora com a mãe Nina e com a irmã Rebeca. ● Manuela Agnes: É a filha da Rebeca, neta da dona Nina Agnes e sobrinha da Helena. Menina doce, delicada, amorosa e muito inocente. Não sabe da existência de Isabela, porque nunca soube que tinha uma irmã gêmea. Real: Mora no vilarejo com a mãe Rebeca, com a tia Helena e a avó dona Nina. Imaginário: Camponesa, mora com a mãe Rebeca, com a tia Helena e a avó dona Nina. 8 Todas as informações sobre os personagens foram obtidas pelo site: http://www.sbt.com.br/cumplicesdeumresgate/personagens/ ● Orlando Junqueira: É marido de Regina e pai de Isabela. Não sabe que a Isabela não é sua filha biológica. É um homem trabalhador e dono de vários negócios, o que o faz viajar bastante. Alheio, não percebe quando a esposa finge uma falsa gravidez. Real: Empresário, mora em uma mansão em um bairro nobre na cidade de São Paulo com a mulher (Regina) e madastra de sua filha Isabela. Imaginário: Um rei que comanda seu império para que o seu povo viva bem. Mora com a Rainha Regina que está a espera do herdeiro do reino. ● Regina Junqueira: Esposa de Orlando, mãe de criação de Isabela e irmã de Geraldo. É vaidosa, inescrupulosa e autoritária. Vive um casamento de aparência, pois está interessada apenas no dinheiro que Orlando pode lhe oferecer. Usou o irmão para conseguir um bebê para se passar por sua filha enquanto seu esposo viajava. Real: Do lar, mora em uma mansão em um bairro nobre na cidade de São Paulo com o marido (Orlando) e sua filha de criação Isabela. Imaginário: Rainha, mora com o rei Orlando no castelo. Dominadora, megera e manipuladora. Planeja o nascimento de um herdeiro para seu marido, apenas para continuar no poder e conseguir o que mais quer: riquiza. ● Geraldo Saldanha: Irmão de Regina, delinquente e ambicioso. Geraldo é cumplice do sequestro de umas das gêmeas para a suposta gravidez da Regina. Real: Geraldo é CEO (diretor executivo) na gravadora e se envolve em negócios ilícitos. Imaginário: Irmão da rainha, do conselho real. É o mediador com o médico para conseguir raptar o bebê de uma camponesa para o seu plano maligno. ● Marina Lopes: Trabalha como babá de Isabela e, às vezes, como empregada a mando de Regina. Pureza e bondade também estão entre suas qualidades. Por isso, tem muita paciência com Isabela e tolera suas malcriações. Cuida da menina como se fosse sua própria filha. Real: Trabalha na mansão como babá da Isabela. Imaginário: Empregada da Regina e babá da Isabela no castelo da princesa. ● Otávio Neto: É o dono do grupo OnEnterprise, que gerencia as marcas de roupa infantojuvenil. Possui dificuldade em manter um relacionamento duradouro por perceber que a maioria das mulheres está interessada em seu dinheiro e não nele. É nobre, sensível e de bom coração. Real: É o dono do grupo OnEnterprise e mora na cidade grande (São Paulo). Imaginário: Duque do reino, se apaixona pela Rebeca. ● Nico: Tem nanismo, o que causa curiosidade entre as crianças. Mateus (um dos amigos da Manuela) sempre diz que Nico saiu do conto de fada “Branca de Neve e os sete anões” direto para o vilarejo. É mal humorado, mas, no fundo, é um homem bondoso. Real: Trabalha como auxiliar de Giuseppe na sapataria, mora no vilajero dos Sonhos. Imaginário: Nico é empregado do rei e da rainha. No primeiro episódio, a telenovela relaciona o mundo real com o imaginário (contos de fadas) para ilustrar toda a trama que a telenovela irá mostrar nos próximos capítulos. Os personagens foram muito bem representados perante a sua profissão, personalidade e importância na sociedade (mesmo no conto de fadas). É possivel notar também que há uma semelhança entre as duas representações: a hierarquia. No mundo real (telenovela) os personagens Isabela Junqueira, Orlando Junqueira, Regina Junqueira, Otávio Neto e Geraldo Saldanha fazem parte do topo na hierarquia no conto de fadas e da classe mais favorecida no mundo real. Já para os personagens Nico e Marina Lopes, são representados como a classe menos favorecida, mas, que trabalha no reino. E no mundo real, continuam fazendo parte da classemenos favorecida, porém, continuam trabalhando na casa dos mais favorecidos. Rebeca Agnes, Nina Agnes, Helena Agnes e Manuela Agnes são representados no conto de fadas como uma familia menos favorecida, do campo. No mundo real é a mesma classe, ficando assim na hierarquia mais básica. É importante notar que, o personagem Nico, é um personagem novo e acrescentado pelo SBT para ajudar no desenvolvimento na história da telenovela. Na primeira versão, não existia. Sendo assim, podese concluir que o personagem foi inserido na trama para dar referência no imaginário, ao conto de fadas. Tanto é que, Nico é um personagem coadjuvante e foi inserido no primeiro capitulo, na representação do imaginário por ser um anão e lembrar das referências que temos aos contos da Branca de Neve e os Sete anos. Outra situação que aparece na telenovela e que remete ao imaginário (conto de fadas) acontece no episódio 72, quando os personagens Omar e Sabrina afim de pregar uma pegadinha com a personagem Doris explica sobre um sapo encontrado por Omar é um sapo encantado que, quando beijado, se torna um principe e que precisa de sua ajuda. Personagem Doris olhando para o suposto sapo encantado. A referência é nitida sobre o conto de fadas do “O Principe Sapo” dos irmãos Grimm. 9 É relevante entender que, no público alvo da telenovela a literatura é algo que está sempre presente no cotidiano dessas crianças, por isso a necessitade da inserção dos contos de fadas é para dar maior aproximação e representação das crianças com a telenovela. Após alguns episódios sem referências ao mundo imaginário, no episódio 133 o elemento volta para transparecer os sentimentos que a personagem Manuela sente pelo 9 Ambos acadêmicos, linguistas, poetas e escritores. Joaquim, de quem ela tanto gosta. O elemento é o mesmo ao do primeiro episódio, porém, dessa vez está relacionado com os sonhos. Personagem Joaquim resgatanto sua princesa Manuela da Rainha Megera Regina. Nesta cena, por se tratar de apenas um sonho, o mundo real (telenovela) e o imaginário (conto de fadas) ganha uma mistura, juntando elementos dos dois lados. Segundo Sigmund Freud, no livro “A Interpretação dos Sonhos”, os sonhos são, na verdade, a “realização dos desejos”. O que explica a cena, já que Manuela estava presa na mansão da Isabela com a Regina e que, com a ajuda do Joaquim e seus amigos, estão tentando ser salvos das maldades da Regina. A Manuela quer ser salva, ir pra casa e ficar com a familia, porém os sonhos revelam que ela quer algo a mais, quer ser salva pelo seu principe Joaquim e se livrar da rainha megera. Os animais também ganharam um elemento do imaginário, tornando a telenovela mais intuitiva e cômica. Os animais ganharam pensamentos, são ilustrados com emoticons e falas. 10 Normalmente, quando há uma conversa de um humano e um dos animais, a conversa tem um sentido, porém os humamos não entendem, já os animais entendam perfeitamente. A maioria do animais que fazem parte do elenco fazem de tudo para ajudar a Manuela, Isabela e seus amigos para se livrar da Regina, o que os torna cúmplices de um resgate. 10 É uma ilustração para tornar uma conversa mais expressiva nas mensagens instantâneas. III CONSIDERAÇÕES FINAIS Para concluir, faremos uma análise desde o ínicio do trabalho para ressaltar os pontos mais importantes e conclusões sobre os objetivos e a análise de consumo. Portanto, no Capítulo I, é possivel concluir que: a narrativa ficcional é constituída por elementos como enredo, personagens, tempo, espaço, situaçãoambiente e ponto de vista. Ataíde (1973). E que a característica principal das narrativas ficcionais é a verossimilhança, aqui podendo ser entendida como uma conexão referencial com o mundo real. Umberto Eco (1994). No Capítulo II, a telenovela, em suma, é um produto televisivo que tem uma representação e incorporação das relações sociais muito grande na sociedade brasileira. Há três categorias que realizam a mediação fundamental para entender o cotidiano familiar e a importância que a telenovela tem sobre os brasileiros na atualidade: A espacialidade Familiar, a temporalidade familiar e a competência cultural familiar. No Capítulo III, é relevante notar que, as crianças brasileiras ficam em torno de 5h35 minutos em frente a televisão. Para as crianças a TV é apenas uma forma de distração e entretenimento, para os pais é uma babá eletrônica. A televisão para o público infantil, estimula a criança a ter uma imaginação alienada, ao invés da imaginação criativa. Nossa principal hipótese para essa pesquisa era a de que, a combinação do real com o imaginário permite o enriquecimento no conteúdo audiovisual da telenovela, porém, sua principal função é de aproximação do público com o conteúdo e, também, de redução das dúvidas e do estranhamento quanto ao enredo. A presença dos elementos lúdicos e a referência ao imaginário na telenovela não figuram como um elemento didático. Os elementos que compõem o imaginário são inseridos no enredo da novela, nas situações que estão ocorrendo no capítulo (seja ela de comédia ou drama) ou nas referências à literatura infantil clássica, como os contos de fadas. Essa hipótese foi confirmada quando a telenovela é análisada e relacionada com os teóricos usados neste trabalho. O elemento imaginário na telenovela ajuda a melhor compreenção do enredo, da situação e a aproximação do público alvo na telenovela “Cúmplices de um Resgate”. IV REFERÊNCIAS ALANA, Instituto. Tempo de crianças e adolescentes assistindo TV aumenta em 10 anos. São Paulo. 2015. Disponível em: http://criancaeconsumo.org.br/noticias/tempodiariodecriancaseadolescentesemfrenteat vaumentaem10anos/ ANAZ, Sílvio; AGUIAR, Grazyella; LEMOS, Lúcia; FREIRE, Norma; COSTA, Edwaldo. Noções do Imaginário: Perspectivas de Bachelard, Durand, Maffesoli e Corbin. São Paulo. Revista PUCSP. Disponível em: http://revistas.pucsp.br/index.php/nexi/article/view/16760/15660 ATAÍDE, Vicente de Paula. A narrativa de ficção. 2. ed. São Paulo: McGrawHill do Brasil, 1973 CARMONA, Beth. Emissão Consciente e Recepção Crítica. In: PACHECO, Elza Dias. (org.). Televisão, Criança, Imaginário e Educação. Campinas. Papirus, 1998. COLVADA, Lauren Ferreira. Os Programas Infantis e sua trajetória na TV aberta brasileira: os casos mais importantes. São Paulo. V Congresso
Compartilhar