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1 IMPOSTO SOBRE PROPRIEDADE PREDIAL E TERRITORIAL URBANA - IPTU Atualizado em 30.08.2018 Helton Kramer Lustoza Márcio André Lopes Cavalcante (Dizer o Direito) Leandro Paulsen Ricardo Alexandre Eduardo Sabbag Rafael Novais Roberval Rocha 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 1 2. ASPECTO MATERIAL ........................................................................................................................... 4 3. ASPECTO TEMPORAL ........................................................................................................................ 11 4. ASPECTO ESPACIAL ........................................................................................................................... 11 5. ASPECTO SUBJETIVO ........................................................................................................................ 16 5.1. Promessa de compra e venda ................................................................................................... 24 5.2. Arrematação de imóvel em hasta pública ................................................................................ 25 5.3. Desapropriação do imóvel ........................................................................................................ 26 5.4. Invasões de Terras ..................................................................................................................... 27 5.5. Terras da marinha ..................................................................................................................... 29 5.6. Exigência do IPTU no caso de loteamento irregular ................................................................ 30 5.7. Imunidades de terrenos baldios de Templos Religiosos e de Entidades Educacionais e Assistenciais ...................................................................................................................................... 34 5.8. Imunidades e sucessão tributária - caso da RFFSA .................................................................. 36 6. ASPECTO QUANTITATIVO................................................................................................................. 37 6.1. Base de cálculo .......................................................................................................................... 37 6.2. Alíquota ..................................................................................................................................... 40 ATENÇÃO - IPTU Verde ou Ecológico: .............................................................................................. 41 6.3. Antes da Emenda Constitucional 29/2000 ............................................................................... 42 6.4. Após a Emenda Constitucional 29/2000 .................................................................................. 44 7. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES ................................................................................................ 44 7.1. Lançamento ............................................................................................................................... 44 7.2. Exceção ao Bem de Família ....................................................................................................... 46 7.3. Repetição de indébito ............................................................................................................... 47 7.4. Princípio da Anterioridade Tributária ...................................................................................... 50 8. JURISPRUDÊNCIA .............................................................................................................................. 50 9. QUESTÕES ......................................................................................................................................... 60 1. INTRODUÇÃO 2 O IPTU (imposto sobre propriedade predial e territorial urbana) é um tributo de competência dos Municípios, previsto no art. 156, I, CF/88 e no art. 32 e ss, CTN. No sistema tributário brasileiro dois impostos sobre a propriedade imobiliária, de forma que o IPTU incide sobre os imóveis localizados em áreas urbanas e o ITR sobre aqueles situados em área rural. O ITR é imposto precipuamente extrafiscal, pois o art. 153, § 4º, I, da CF/88, determina a fixação de suas alíquotas de forma a desestimular a manutenção de propriedades improdutivas. O IPTU, por sua vez, possui característica predominantemente fiscal, sendo importante fonte de arrecadação municipal, sem prejuízo da sua excepcional utilização extrafiscal. Normas que regem o IPTU: • CF/88 (arts. 156, I, e § 1º; art. 182, § 4º, II); • CTN (arts. 32 a 34); • Estatuto da Cidade - Lei federal n° 10.257/2001 (art. 7º); • Lei municipal que institua o imposto (verificar a lei local). Trata-se de um imposto: ·Real: incide sobre uma coisa (propriedade imobiliária urbana); ·Direto: o próprio contribuinte é quem suporta o encargo financeiro da tributação (não há repercussão econômica); ·Fiscal: a função precípua deste imposto é a arrecadação (imposto fiscal). Vale ressaltar, no entanto, que, em alguns casos, ele poderá assumir também um caráter extrafiscal (forma de estimular o cumprimento da função social da propriedade); 3 · Progressivo: pode ser progressivo no tempo caso a propriedade não esteja cumprindo sua função social (art. 182, § 4º), além de poder ser progressivo em razão do valor do imóvel (art. 156, § 1º, I); Para compreender melhor qualquer tributo, é necessário abordar a REGRA MATRIZ DE INCIDÊNCIA DE TRIBUTOS, nos seus aspectos material, temporal e espacial (Antecedente Normativo), nos aspectos pessoal e quantitativo (Consequente Normativo). Ou seja, verificando-se determinada situação prevista em lei (antecedente normativo), um sujeito passivo deverá pagar ao ente público determinado valor a título de tributo (consequente normativo). ANTECEDENTE NORMATIVO Aspecto MATERIAL: Conduta, comportamento, condicionada pelas circunstâncias de tempo e espaço. É a descrição do fato ensejador da obrigação tributária. Por exemplo: propriedade imobiliária (IPTU ou ITR) ou de veículo automotor (IPVA), atuação pública (taxas ou contribuições de melhoria) etc. Aspecto TEMPORAL: Momento em que surge o dever jurídico de pagar tributo É o marco para se definir a LEI VIGENTE e as ALÍQUOTAS APLICÁVEIS. Aspecto ESPACIAL: Local em que o fato deve ocorrer. CONSEQUENTE NORMATIVO Aspecto SUBJETIVO: Define quem é o credor (sujeito ativo) da obrigação tributária, bem como os respectivos devedores (sujeito passivo) - arts. 119 e 120, CTN Aspecto QUANTITATIVO: O quanto o devedor deve pagar de tributo: base de cálculo e alíquota 4 2. ASPECTO MATERIAL No tocante ao aspecto material, conduta que revela um fato gerador, em que a pese Constituição Federal elencar apenas a propriedade como aspecto material, é possível abranger também a posse e domínio útil, como faz o CTN, pois estes são exercícios de alguns dos elementos do direito de propriedade. CF, Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: I - propriedade predial e territorial urbana; CTN, Art. 32. O imposto, de competência dos Municípios, sobre a propriedade predial e territorial urbana tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do Município. A hipótese de incidência do IPTU é a disponibilidade econômica da propriedade, do domínio útil ou da posse, o que exclui dessa perspectiva a posse de conteúdo não econômico, como a exercida pelo locatário ou mero detentor (vigia, empregados etc.). Desse modo,não há incidência do IPTU nas hipóteses em que a posse ocorre precariamente, bem como nos casos em que os direitos reais não estejam relacionados com a aquisição da propriedade. O imposto incide sobre a propriedade territorial ou predial urbana. No primeiro caso é a área sem aproveitamento e no segundo são terrenos edificados. Perceba a diferença para o ITR, imposto federal que incide apenas sobre a propriedade territorial, ou seja, sobre a área, não incidindo sobre eventual edificação no terreno. O ITR incide apenas sobre o bem imóvel por natureza, enquanto o IPTU incide sobre os bens imóveis por natureza e também sobre os imóveis por acessão física. Lorrane Andriani Realce Lorrane Andriani Realce Lorrane Andriani Realce Lorrane Andriani Realce Lorrane Andriani Realce 5 Segundo Leandro Paulsen: “Propriedade é o direito real mais amplo, envolvendo as faculdades de usar, de gozar e de dispor. Prédio é toda porção de terra ou de solo, constituída em propriedade de alguém, haja nele, ou não, construções. A combinação com “territorial”, no entanto, leva ao entendimento de que o constituinte quis ressaltar a possibilidade de tributação da riqueza revelada não apenas pela propriedade da terra (territorial) como desta com as construções nela edificadas (predial).” Mesmo limitações legais à utilização da propriedade, como a existência de APP - Área de Preservação Permanente, não afasta a incidência do IPTU, já que o fato gerador, exercício da propriedade, não foi prejudicado. Lembre-se que o direito de propriedade está condicionado à sua função social, o que vem a englobar a preservação da flora, da fauna, do equilíbrio ecológico e do patrimônio histórico e artístico (art. 1228, § 1°, Código Civil) CC/02, Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. §1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. 6 Incidência de IPTU sobre imóvel parcialmente situado em APP com nota non aedificandi Comentários Dizer o Direito João é dono de um imóvel urbano que foi declarado área de preservação permanente (APP). Além disso, em 2/3 do seu imóvel foi instituída nota “non edificandi”, ou seja, ele ficou proibido de construir qualquer coisa em 2/3 desse terreno. Diante disso, João ajuizou ação contra o Município pedindo que o IPTU fosse cobrado proporcionalmente e incidisse somente sobre 1/3 da área. O pedido de João pode ser aceito? NÃO. O IPTU continuará sendo pago sobre a totalidade do imóvel. Segundo decidiu o STJ, o fato de parte de um imóvel urbano ter sido declarada como Área de Preservação Permanente (APP) e, além disso, sofrer restrição administrativa consistente na proibição de construir (nota “non aedificandi”) não impede a incidência de IPTU sobre toda a área do imóvel. Mesmo com todas essas restrições, o fato gerador do imposto (propriedade de imóvel urbano) permanece íntegro, de forma que deve incidir o tributo normalmente. STJ. 2ª Turma. REsp 1.482.184-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 17/3/2015 (Info 558). TRIBUTÁRIO. IPTU. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE CUMULADA COM A NOTA DE NON AEDIFICANDI. INCIDÊNCIA DO IMPOSTO. 1. Discute-se nos autos a incidência de IPTU sobre imóvel urbano declarado em parte como área de preservação permanente com nota non aedificandi. 2. Nos termos da jurisprudência do STJ, "A restrição à utilização da propriedade referente a área de preservação permanente em parte de imóvel urbano (loteamento) não afasta a incidência do Imposto Predial e Territorial Urbano, uma vez que o fato gerador da exação permanece íntegro, qual seja, a propriedade localizada na zona urbana do município. Cuida-se de um ônus a ser suportado, o que não gera o cerceamento total da disposição, utilização ou alienação da propriedade, como ocorre, por 7 exemplo, nas desapropriações."(REsp 1128981/SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/03/2010, DJe 25/03/2010). 3. O fato de parte do imóvel ser considerada como área non aedificandi não afasta tal entendimento, pois não há perda da propriedade, apenas restrições de uso, a fim de viabilizar que a propriedade atenda à sua verdadeira função social. Logo, se o fato gerador do IPTU, conforme o disposto no art. 32 do CTN, é a propriedade de imóvel urbano, a simples limitação administrativa de proibição para construir não impede a sua configuração. 4. Não há lei que preveja isenção tributária para a situação dos autos, conforme a exigência dos arts. 150, § 6º, da Constituição Federal e 176 do CTN. Recurso especial provido. (REsp 1482184/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/03/2015, DJe 24/03/2015) CESPE/AGU/2015 - O princípio da isonomia tributária impõe que o tributo incida sobre as atividades lícitas e, igualmente, sobre as atividades ilícitas, de modo a se consagrar a regra da interpretação objetiva do fato gerador. Dessa forma, é legítima a cobrança de IPTU sobre imóvel construído irregularmente, em área non aedificandi, não significando tal cobrança de tributo concordância do poder público com a ocupação irregular. CERTO. O domínio útil pode ser entendido como o conjunto de atributos conferidos ao titular de enfiteuse ou aforamento. E a posse será a visibilidade do domínio sobre o imóvel, de forma que sua aquisição ocorre no momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. CC/02, Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. 8 CC/02, Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. Atente-se que não é qualquer posse que enseja a cobrança de IPTU, mas apenas a posse com animus definitivo. A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que somente a posse com animus domini é apta a gerar a exação predial urbana, o que não ocorre com o condomínio, in casu, que apenas possui a qualidade de administrador de bens de terceiros. (REsp 1327539/DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/08/2012, DJe 20/08/2012) DIREITO TRIBUTÁRIO. IPTU. CESSIONÁRIA DE IMÓVEL DA UNIÃO. O IPTU é exigível de cessionária de imóvel pertencente à União, salvo quando aquela detém a posse mediante relação pessoal, sem animus domini. Precedentes citados: AgRg no REsp 1.121.332-RJ, DJe 29/10/2009; AgRg no REsp 885.353-RJ, DJe 6/8/2009; AgRg no Ag 1.129.472-SP, DJe 1º/7/2009; AgRg no Ag 878.938-RJ, DJ 18/10/2007; REsp 696.888-RJ, DJ 16/5/2005, e REsp 325.489-SP, DJ 24/2/2003. AgRg no REsp 1.337.903-MG, Rel. Min. Rel. Min. Castro Meira, julgado em 9/10/2012. 9 Sociedade de economia mista com finalidade lucrativa e que for arrendatária de imóvel público não goza de imunidade tributária Comentários Dizer o Direito A imunidade recíproca, prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal, não se estende a empresa privada arrendatária de imóvel público, quando seja ela exploradora de atividade econômica com fins lucrativos. Nessa hipótese é constitucional a cobrança do IPTU pelo Município. Ex: a União, proprietária de um grande terreno localizado no Porto de Santos, arrendou este imóvel para a Petrobrás (sociedade de economia mista), que utiliza o local para armazenar combustíveis. Antes do arrendamento, a União não pagava IPTU com relaçãoa este imóvel em virtude da imunidade tributária recíproca. Depois que houve o arrendamento, a Petrobrás passa a ter que pagar o imposto. STF. Plenário. RE 594015/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 6/4/2017 (repercussão geral) (Info 860). IMUNIDADE – SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA ARRENDATÁRIA DE BEM DA UNIÃO – IPTU. Não se beneficia da imunidade tributária recíproca prevista no artigo 150, inciso VI, alínea “a”, da Constituição Federal a sociedade de economia mista ocupante de bem público. RE 594015, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 06/04/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-188 DIVULG 24-08-2017 PUBLIC 25-08-2017 10 Se uma pessoa jurídica de direito público faz contrato de cessão de uso de imóvel com empresa privada, esta última não goza de imunidade e deverá pagar IPTU Comentários Dizer o Direito Incide o IPTU, considerado imóvel de pessoa jurídica de direito público cedido a pessoa jurídica de direito privado, devedora do tributo. Ex: a União celebrou contrato de concessão de uso de imóvel com uma empresa privada por meio da qual esta última poderia explorar comercialmente determinado imóvel pertencente ao patrimônio público federal. A empresa privada queria deixar de pagar IPTU alegando que o imóvel gozaria de imunidade tributária. O STF não aceitou a tese e afirmou que não incide a imunidade neste caso. STF. Plenário. RE 601720/RJ, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 6/4/2017 (repercussão geral) (Infos 860 e 861). IPTU – BEM PÚBLICO – CESSÃO – PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO. Incide o imposto Predial e Territorial Urbano considerado bem público cedido a pessoa jurídica de direito privado, sendo esta a devedora. RE 601720, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 19/04/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-200 DIVULG 04-09-2017 PUBLIC 05-09-2017 Por fim, são considerados • bens imóveis por natureza: o solo com a sua superfície, os seus acessórios e adjacências naturais, compreendendo as árvores e frutos pendentes, o espaço aéreo e o subsolo. • bens imóveis por acessão física: tudo quanto o homem incorporar permanentemente ao solo, como a semente lançada à terra, os edifícios e construções, de modo que se não possa retirar sem destruição, modificação, fratura ou dano. 11 Em resumo, constitui aspecto material do IPTU: • propriedade, • domínio útil • ou posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física localizado na zona urbana do Município 3. ASPECTO TEMPORAL Na falta de legislação complementar federal que regule o tema, cada Município possui discricionariedade para definir o aspecto temporal do IPTU, ou seja, o momento em que considera ocorrido o fato gerador. No geral, os Municípios elegem 1° de janeiro de cada ano como aspecto temporal, exigindo o tributo com o envio de um carnê de cobrança aos contribuintes. No caso de imóvel novo, em construção, a legislação municipal regulamentará a situação, devendo, no entanto, respeitar o momento em que o imóvel esteja apto à moradia. Helton Kramer, citando Aires F. Barreto, diz que a municipalidade pode se embasar nos seguintes momentos para considerar concretizado o fato gerador do IPTU nesses casos: • Concessão do auto de vistoria (habite-se); • Conclusão das obras: quando independem do auto de vistoria (habite-se) ou que tenha sido requerido fora do prazo; • Ocupação efetiva do prédio: caso ocorra antes da autorização legal. 4. ASPECTO ESPACIAL O IPTU incide sobre propriedade imobiliária localizada na zona urbana do Município. O CTN elenca requisitos mínimos para que a localidade seja considerada zona urbana, de 12 modo que as áreas definidas como zonas urbanas devem, ao menos, ter 2 (dois) dos 5 (cinco) elementos indicados pelo art. 32, §1º. CTN, art. 32, §1º Para os efeitos deste imposto, entende-se como zona urbana a definida em lei municipal; observado o requisito mínimo da existência de melhoramentos indicados em pelo menos 2 (dois) dos incisos seguintes, construídos ou mantidos pelo Poder Público: I - meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais; II - abastecimento de água; III - sistema de esgotos sanitários; IV - rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição domiciliar; V - escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três) quilômetros do imóvel considerado. O art. 32, §2°, CTN prevê que a lei municipal pode considerar urbanas as áreas urbanizáveis, ou de expansão urbana, constantes de loteamentos aprovados pelos órgãos competentes, destinados à habitação, à indústria ou ao comércio, mesmo que localizados fora da zona urbana. Observa Aires F. Barreto que, para configurar como áreas urbanizáveis ou de expansão urbana, deve haver uma lei municipal em conjunto com a aprovação oficial do loteamento, sem isso a equiparação não será possível. CTN, art. 32, §2º A lei municipal pode considerar urbanas as áreas urbanizáveis, ou de expansão urbana, constantes de loteamentos aprovados pelos órgãos competentes, destinados à habitação, à indústria ou ao comércio, mesmo que localizados fora das zonas definidas nos termos do parágrafo anterior. 13 Nessa esteira, José Eduardo Soares de Melo preleciona: “Poderá a legislação municipal considerar urbanas, para efeito do IPTU, as áreas urbanizáveis e as de expansão urbana, destinadas à habitação, inclusive residencial de recreio, à indústria ou ao comércio, ainda que realizadas fora da zona urbana do Município, a saber: a) as áreas pertencentes a parcelamentos de solos regularizados pela Administração Municipal, mesmo que executados irregularmente; b) as áreas pertencentes a loteamentos aprovados de conformidade com a legislação; c) as áreas dos conjuntos habitacionais, aprovados e executados nos termos da legislação pertinentes; d) as áreas com uso ou edificação aprovada de acordo com a legislação urbanística de parcelamento, uso e ocupação do solo e de edificações”. Contudo, observa-se que apenas os requisitos elencados pelo CTN (critérios de localização) são insuficientes para solucionar eventuais conflitos de competência tributária em relação ao ITR, pois, para tanto, devem ser combinados os critérios da localização e da destinação econômica. O art. 4º, I, Lei 4.504/64 (Estatuto da Terra) define Imóvel Rural como: Lei 4.504/64, Art. 4º Para os efeitos desta Lei, definem-se: I - "Imóvel Rural", o prédio rústico, de área contínua qualquer que seja a sua localização que se destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou agro- industrial, quer através de planos públicos de valorização, quer através de iniciativa privada; Além disso, o art 15, Decreto-Lei 57/66 dispõe que “o disposto no art. 32 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (CTN), não abrange o imóvel de que, comprovadamente, 14 seja utilizado em exploração extrativa vegetal, agrícola, pecuária ou agro-industrial, incidindo assim, sobre o mesmo, o ITR e demais tributos com o mesmo cobrados.” Conjugando as informações acima, temos que incide o ITR, e não o IPTU, sobre imóveis nos quais são comprovadamente utilizados em exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial, ainda que localizados em áreas consideradas urbanas por legislação municipal. (STJ. AgRg no AREsp 80.947/ES, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 2810212012, DJe 08/03/2012) Porque aplicar esse Decreto-Lei e não somente o CTN? Isso ocorre por razões históricas: o CTN foi publicado em outubro de 1966 e permaneceu em vacatio legis até janeiro de 1967. Ocorre que em novembro de 1966 foi editado o Decreto-Lei 57/66 (ou seja, durante o período de vacatio do CTN), o qual trouxe novas regras para o ITR, e o art. 15desse Decreto- Lei dispõe, em outras palavras, que o ITR incide sobre imóvel rural, ainda que em área urbana, afetando, assim, o critério topográfico que fora adotado pelo CTN. Ele foi recepcionado como lei complementar, assim como o CTN, pela CF/67, bem como pela CF/88. Em razão de ter sido recepcionado como lei complementar, suas disposições prevalecem sobre qualquer lei ordinária que disponha em contrário e prevalece sobre o CTN em razão do critério cronológico e da especialidade. TRIBUTÁRIO. IPTU x ITR. IMÓVEL LOCALIZADO EM ÁREA URBANA. EXPLORAÇÃO DE ATIVIDADE AGROINDUSTRIAL. ITR. INCIDÊNCIA. TEMA JÁ APRECIADO NA SISTEMÁTICA DOS RECURSOS REPETITIVOS (REsp 1112646/SP). NATUREZA DO IMÓVEL. REVISÃO DAS CONCLUSÕES DO TRIBUNAL DE ORIGEM. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N. 7 DESTA CORTE SUPERIOR. 1. A jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de que incide o ITR e, não, o IPTU sobre imóveis nos quais são comprovadamente utilizados em exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial, ainda que localizados em áreas consideradas urbanas por legislação municipal. 2. No REsp 1112646/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, DJe 28/08/2009, submetido ao Colegiado pelo regime da Lei nº 11.672/08 (Lei 15 dos Recursos Repetitivos), que introduziu o art.543-C do CPC, reafirmou-se o posicionamento acima exposto 3. No presente caso, o acórdão recorrido é claro em afirmar que o imóvel destina-se à exploração econômica agroindustrial. Assim, para mudar tal entendimento, seria imprescindível adentrar a seara dos fatos para apurar, conforme alega o recorrente, que o imóvel em questão possui natureza industrial, o que esbarra na Súmula 7/STJ: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial". 4. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 80.947/ES, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 28/02/2012, DJe 08/03/2012) Assim, temos que: Incide… Sobre imóvel… IPTU - em perímetro urbano, definido pela legislação municipal, desde que o imóvel não possua destinação rural. - em áreas urbanizáveis ou de expansão urbana, constantes em loteamentos aprovados pelos órgãos competentes. ITR - na zona rural, ou seja, que estejam fora da zona urbana . - com destinação rural (exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial) localizado em zona urbana. 16 5. ASPECTO SUBJETIVO O sujeito ativo do IPTU é o Município em que está localizado o imóvel. No caso de territórios federais: • sem Municípios → União arrecada o imposto. • com Municípios → o próprio Município arrecada o imposto. Lembre-se que ao Distrito Federal também cabem os impostos municipais. CF, Art. 147. Competem à União, em território federal, os impostos estaduais e, se o Território não for dividido em Municípios, cumulativamente, os impostos municipais; ao Distrito Federal cabem os impostos municipais. Quanto ao sujeito passivo, em regra, o indivíduo que é proprietário, titular do domínio útil ou possuidor de imóvel urbano deverá pagar IPTU. CTN, Art. 34. Contribuinte do imposto é o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título. Súmula 399 STJ: Cabe à legislação municipal estabelecer o sujeito passivo do IPTU. PROPRIETÁRIO é o sujeito que consta no competente Cartório de Registro de Imóveis nos termos da lei civil (arts. 1.227 e 1.245, § 1º, do CC). 17 TITULAR DO DOMÍNIO ÚTIL é o sujeito que conserva o domínio direto do bem para usar, gozar e dispor, como o caso do usufrutuário ou do enfiteuta ou foreiro nos casos de constituição de enfiteuses. TRIBUTÁRIO – IPTU – CONTRIBUINTE: ART. 34 DO CTN – IMÓVEL ENFITÊUTICO. 1. Por força do disposto no art. 34 do CTN, cabe ao detentor do domínio útil, o enfiteuta, o pagamento do IPTU. 2. A imunidade que possa ter o senhorio, detentor do domínio indireto, não se transmite ao enfiteuta. 3. Bem enfitêutico dado pela UNIÃO em aforamento. 4. Recurso especial conhecido e provido. (REsp 267.099/BA, rel. Min. Eliana Calmon, 2ª T., j. em 16-04-2002) EMENTA: TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. RESTITUIÇÃO DE INDÉBITO. IPTU. USUFRUTUÁRIO. LEGITIMIDADE. I – Consoante jurisprudência desta Corte, o usufrutuário tem legitimidade para questionar a cobrança de IPTU. II – “Segundo lição do saudoso mestre Pontes de Miranda, “o direito de usufruto compreende o usar e fruir, ainda que não exerça, e a pretensão a que outrem, inclusive o dono, se o há, do bem, ou do patrimônio, se abstenha de intromissão tal que fira o uso e a fruição exclusivos. É direito, erga omnes, de exclusividade do usar e do fruir’. O renomado jurista perlustra, ainda, acerca do dever do usufrutuário de suportar certos encargos, que “os encargos públicos ordinários são os impostos e taxas, que supõem uso e fruto da propriedade, como o imposto territorial e o predial”. Na mesma linha de raciocínio, este Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar a matéria, assentou que, “em tese, o sujeito passivo do IPTU é o proprietário e não o possuidor, a qualquer título (...) Ocorre que, em certas circunstâncias, a posse tem configuração jurídica de título próprio, de investidura do seu titular como se proprietário fosse. É o caso do usufrutuário que, como todos sabemos, tem a obrigação de proteger a coisa 18 como se detivesse o domínio” (REsp 203.098/SP, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 8.3.2000).” (REsp 691.714/SC, rel. Min. Franciulli Netto, 2ª T., j. em 22-03-2005) Eduardo Sabbag afirma que, embora o usufruto não se confunda com o direito de superfície, convém apresentar a possível tributação do IPTU sobre o superficiário. O direito de superfície é um direito real sobre imóvel alheio. O proprietário do bem imóvel pode, por escritura, outorgar a alguém, chamado superficiário, de modo gratuito ou oneroso, o direito de utilizar o solo (subsolo ou espaço aéreo), de modo temporário ou perpétuo. O art. 21, § 3º, do Estatuto das Cidades (Lei 10.257/2001), dispõe ser o superficiário contribuinte do IPTU. Lei 10.257/2001, Art. 21, §3º. O superficiário responderá integralmente pelos encargos e tributos que incidirem sobre a propriedade superficiária, arcando, ainda, proporcionalmente à sua parcela de ocupação efetiva, com os encargos e tributos sobre a área objeto da concessão do direito de superfície, salvo disposição em contrário do contrato respectivo. CC, art. 1.371. O superficiário responderá pelos encargos e tributos que incidirem sobre o imóvel. Já o POSSUIDOR seria qualquer sujeito que exerce algum dos poderes inerentes à propriedade com animus domini. Estão excluídas da figura de contribuinte do IPTU as pessoas que exerçam mera detenção do imóvel, como o locatário e o comodatário, uma vez que a posse, nestes casos, ocorre de maneira precária e transitória. 19 TRIBUTÁRIO. CONTRATO DE CONCESSÃO DE USO. IPTU. INEXIGÊNCIA. (...) 3. O contribuinte do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana é o proprietário do imóvel, titular do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou seu possuidor a qualquer título (art. 32 do CTN). 4. Só é contribuinte do IPTU quem tenha o “animus dominis”, que pode ser expresso pelo exercício da posse ou do próprio domínio. 5. A concessão de uso é um contrato bilateral típico que não caracteriza expressão de “animus dominis”. 6. A posse exercida pelo cessionário, no contrato de concessão de uso, é expressiva, apenas, no negócio jurídico pessoal celebrado. Não exterioriza propriedade, nem abre espaço para se considerar o cessionário como possuidor. 7. Recurso improvido. (REsp 681.406/RJ, rel. Min. José Delgado, 1ª T., j. em 07-12-2004) TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. IPTU. LOCATÁRIO. ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. ARTS. 34, 121 E 123 DO CTN. PRECEDENTES. (...) 3. “Contribuintedo imposto é o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título” (art. 34 do CTN). O “possuidor a qualquer título” refere-se, tão somente, para situações em que ocorre posse ‘ad usucapionem’, não inserida nesta seara a posse indireta exercida pelo locatário. (...) (REsp 818.618/RJ, rel. Min. José Delgado, 1ª T., j. em 06-04-2006) Em tese, o sujeito passivo do IPTU é o proprietário e não o possuidor, a qualquer título ( ... ) Ocorre que, em certas circunstâncias, a posse tem configuração jurídica de título próprio, de investidura do seu titular como se proprietário fosse. E o caso do usufrutuário que, como todos sabemos, tem a obrigação de proteger a coisa como se detivesse o domínio. STJ. AgRg no REsp 698.041/RJ, Rei. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 06.12.2005 20 É muito comum, nos contratos de locação, que o locador transfira o encargo tributário do IPTU para o locatário. Contudo, essa previsão não atinge o Fisco, em razão do art. 123 do CTN, já que responsabilidade tributária é matéria regulada apenas por lei e não pela autonomia privada das partes. Assim, essa cláusula terá valor somente entre as partes contratantes. O locatário, embora possuidor, não se enquadra nem como contribuinte, nem como responsável tributário do IPTU (é pessoa estranha à relação jurídico-tributária adstrita ao referido imposto, haja vista não possuir animus domini). CTN, Art. 123. Salvo disposições de lei em contrário, as convenções particulares, relativas à responsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas à Fazenda Pública, para modificar a definição legal do sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes. É possível ainda aos Municípios escolherem responsáveis tributários, sendo aqueles que, embora não estejam investidos de contribuinte, são identificados pela lei tributária para pagamento do tributo. Ao legislador municipal cabe eleger o sujeito passivo do tributo, contemplando qualquer das situações previstas no CTN. (STJ. REsp 475.078/SP, Rel. Min. Teon Albino Zavascki, DJ 27.9.2004) Eduardo Sabbag também leciona que “a Fazenda Pública poderá escolher quem será o alvo na execução fiscal – se o proprietário, o titular do domínio útil ou o possuidor a qualquer título. A existência de um não implica a exclusão automática de outro, para fins de legitimidade passiva nos processos executivos. A autoridade poderá optar por um ou por outro, visando facilitar o procedimento de arrecadação. Esse é o entendimento o STJ (I) REsp 475.078/SP, rel. Min. Teori Albino Zavascki, 1ª T., j. em 14-09-2004; (II) REsp 752.815/SP, rel. Min. Luiz Fux, 1ª T., j. em 27-02-2007; (III) REsp 927.275/SP, rel. Min. Teori Albino Zavascki, 1ª 21 T., j. em 17-04-2007; (IV) REsp 712.998/RJ, rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., j. em 04-09- 2007; e (V) REsp 1.022.439/SP, rel. Min. Teori Albino Zavascki, 1ª T., j. em 17-04-2008”. Com efeito, a jurisprudência já decidiu ser possível eleger o promissário comprador como responsável solidário pelo pagamento de IPTU, uma vez possuir interesse comum sobre o direito de propriedade imobiliária: A jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de que tanto o promitente comprador (possuidor a quaquer título) do imóvel quanto seu proprietário/promitente vendedor (aquele que tem a propriedade registrada no Registro de Imóveis) são contribuintes responsáveis pelo pagamento do IPTU (REsp 1.110.557/SP, 1° Seção, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 18.6.2009 - recurso submetido à sistemática prevista no art. 543-C do CPC). (AgRg no AREsp 114.617/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 08/05/2012, DJe 14/05/2012) "Conforme ficou consignado na decisão agravada, a Jurisprudência desta Corte perfilha o entendimento de que o promitente comprador é legitimado para figurar no pólo passivo conjuntamente com o proprietário, qual seja, aquele que tem a propriedade registrada no Registro de Imóveis, em demandas relativas à cobrança do IPTU. E, assim, cabe, ao legislador municipal, eleger o sujeito passivo do tributo, contemplando qualquer das situações previstas no CTN. No caso sub examine, não se há falar em solidariedade, a questão em foco refere-se à responsabilidade tributária que é atribuída ao proprietário, qual seja, aquele que tem a propriedade registrada no Registro de Imóveis. Ademais, verifico que o recurso especial informa o dispositivo previsto pela lei municipal que tenha concluído pela responsabilidade do possuidor indireto pelo pagamento do IPTU [...], e, como há propriedade formalizada no registro competente, não há como se excluir a responsabilidade tributária do proprietário. [...] Na hipótese, 22 portanto, a responsabilidade pelo pagamento do tributo é de ambos." (AgRg no REsp 1022614 SP, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 08/04/2008, DJe 17/04/2008). A jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de que tanto o promitente comprador (possuidor a qualquer título) do imóvel quanto seu proprietário/promitente vendedor (aquele que tem a propriedade registrada no Registro de Imóveis) são contribuintes responsáveis pelo pagamento do IPTU. Segundo o art. 34 do CTN, consideram-se contribuintes do IPTU o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil ou o seu possuidor a qualquer título. Quando o CTN considera contribuinte do IPTU o possuidor a qualquer título, refere-se às hipóteses de relações de direito real, no qual se inclui o contrato de promessa de compra e venda irretratável. Assim, analisando-se o art. 34 do CTN, conclui-se que o proprietário do imóvel, na qualidade de promitente vendedor, é contribuinte do IPTU, cuja responsabilidade deve ser somada a do promitente comprador (possuidor do imóvel).[...] Salienta-se, ainda, que, havendo mais de um contribuinte responsável pelo pagamento do IPTU, pode o legislador tributário municipal optar prioritariamente por um deles. Porém, caso a lei aponte ambos ou não aponte qualquer um deles, a escolha será da autoridade tributária. Assim, só há a exclusão do proprietário do imóvel da qualidade de contribuinte do IPTU caso a própria legislação municipal retire sua responsabilidade, não havendo informação nos autos acerca da existência de norma nesse sentido." (REsp 1111202 SP, submetido ao procedimento dos recursos especiais repetitivos, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 10/06/2009, DJe 18/06/2009). PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. IPTU. AÇÃO ANULATÓRIA DE LANÇAMENTO FISCAL. LEGITIMIDADE PASSIVA DO 23 PROMITENTE VENDEDOR DO IMÓVEL. OFENSA AO ART. 34 DO CTN. OCORRÊNCIA. DEVOLUÇÃO DOS AUTOS À ORIGEM. 1. A orientação do STJ, firmada em recurso repetitivo, é de que o art. 34 do CTN considera contribuintes do IPTU o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil ou o seu possuidor a qualquer título. Assim, "tanto o promitente comprador (possuidor a qualquer título) do imóvel quanto seu proprietário/promitente vendedor (aquele que tem a propriedade registrada no Registro de Imóveis) são contribuintes responsáveis pelo pagamento do IPTU." (REsp 1.111.202/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, DJe de 18.6.2009). 2. O STJ já definiu que "ao legislador municipal cabe eleger o sujeito passivo do tributo, contemplando qualquer das situações previstas no CTN. Definindo a lei como contribuinte o proprietário, o titular do domínio útil, ou o possuidor a qualquer título, pode a autoridade administrativa optar por um ou por outro visando a facilitar o procedimento de arrecadação" (REsp 475.078/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 27.9.2004). 3. Sendo assim, aplica-se a Súmula 399/STJ e a jurisprudência do STJ que admite a legitimidade passiva do promitente vendedorde imóvel para responder pela cobrança do IPTU, como nestes autos. (REsp 1719871/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 27/02/2018, DJe 02/08/2018) Portanto, o art. 34 do CTN permite incluir como contribuinte somente o proprietário, titular de domínio útil e possuidor a qualquer título. 24 PROPRIETÁRIO Registro Imobiliário (art. 1.245, CC) TITULAR DOMÍNIO ÚTIL Enfiteuse e o usufruto. POSSUIDOR • Detentor do direito de superfície (art. 1.369, CC) • Usufrutuário • Qualquer posse que demonstre a existência de animus domini • Promitente comprador na posse do imóvel * Não engloba o locatário, administrador, comodatário ou mero detentor. 5.1. Promessa de compra e venda O compromisso irretratável de compra e venda é um contrato mediante o qual o proprietário do imóvel (promitente vendedor) se compromete a aliená-lo a uma pessoa (promitente comprador) de maneira irrevogável. O contrato dá a este um direito real de aquisição de coisa alheia, mas não transfere a propriedade, o que será feito a posteriori, ao final do contrato. Uma pessoa que firma um compromisso irretratável de compra e venda com um Ente imune não tem ainda a propriedade do bem, o que alcançará ao final do contrato. Contudo, possui sobre o bem, desde então, o direito real de aquisição de coisa alheia. Isso, segundo o §3º do art. 150 da CF, já é bastante para impor-lhe o dever de recolher os impostos incidentes sobre este bem imóvel, a exemplo do IPTU, ainda que a propriedade se mantenha com a entidade imune. A imunidade recíproca não exonera o promitente comprador da obrigação de pagar imposto relativamente ao bem imóvel. CF, Art. 150. (...) § 3º. As vedações do inciso VI, “a”, e do parágrafo anterior (...), nem exoneram o promitente comprador da obrigação de pagar imposto relativamente ao bem imóvel. 25 Súmula STF 583 - Promitente-comprador de imóvel residencial transcrito em nome de autarquia é contribuinte do IPTU. No STJ, também prevalece que o possuidor, na qualidade de promitente-comprador, pode ser considerado contribuinte do IPTU: PROCESSO CIVIL. TRIBUTÁRIO. (...) LEGITIMIDADE ATIVA. CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA-E-VENDA. (...) 4. O possuidor, na qualidade de promitente-comprador, pode ser considerado contribuinte do IPTU, conjuntamente com o proprietário do imóvel, responsável pelo seu pagamento. (REsp 752.815/SP, rel. Min. Luiz Fux, 1ª T., j. em 27-02-2007) 5.2. Arrematação de imóvel em hasta pública Neste caso, o arrematante levará o imóvel desembaraçado e livre de quaisquer ônus pelo preço da arrematação. CTN, Art. 130. Os créditos tributários relativos a impostos cujo fato gerador seja a propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis, e bem assim os relativos a taxas pela prestação de serviços referentes a tais bens, ou a contribuições de melhoria, subrogam-se na pessoa dos respectivos adquirentes, salvo quando conste do título a prova de sua quitação. Parágrafo único. No caso de arrematação em hasta pública, a sub-rogação ocorre sobre o respectivo preço. Os créditos relativos a impostos decorrentes ela propriedade subrogam-se sobre o respectivo preço quando arrematados em hasta pública, não sendo 26 o adquirente responsável pelos tributos inadimplidos até a arrematação do bem, a teor do que disposto no parágrafo único do art. 130 do CTN. (STJ - AgRg no AREsp 605.272/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 09/12/2014, DJe 15/12/2014) 5.3. Desapropriação do imóvel Desapropriação é o procedimento administrativo pelo qual o Poder Público transfere para si, compulsoriamente, a propriedade de bem pertencente a terceiro, por razões de utilidade pública, de necessidade pública ou de interesse social, pagando, por isso, indenização prévia, justa e, como regra, em dinheiro. Divide-se em duas fases: a) Fase declaratória; b) Fase executória. Em regra, a posse do Poder Público sobre o bem somente ocorre quando tiver terminado o processo de desapropriação e paga a indenização. Enquanto isso não ocorrer, persiste a responsabilidade do proprietário. No entanto, o juiz pode determinar a imissão provisória na posse, ou seja, que o Poder Público fique com a posse do bem mesmo antes do processo chegar ao final. Neste caso, com a imissão provisória da posse é que a responsabilidade tributária referente ao IPTU cessará desde logo. A simples declaração de utilidade pública, para fins de desapropriação, não retira do proprietário do imóvel o direito de usar, gozar e dispor do seu bem, podendo até aliená-lo. Enquanto não deferida e efetivada a imissão de posse provisória, o proprietário do imóvel continua responsável pelos impostos a ele relativos (STJ. REsp 239.687/SP, Primeira Turma, Rel. Min. Garcia Vieira, DJ de 20.3.2000). 27 5.4. Invasões de Terras A jurisprudência se manifestou no sentido de que aquele que estiver desprovido ilegalmente dos direitos sobre a sua propriedade e sem possibilidade de reavê-la, não pode se enquadrar como sujeito passivo dos tributos sobre propriedade. Isso porque a propriedade deixa de ser plena, não sendo possível que o proprietário exerça as faculdades do art. 1.228, CC. PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. TRIBUTÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. ART. 535, II, DO CPC. OMISSÃO. NÃO OCORRÊNCIA. IPTU. COBRANÇA. SUJEITO PASSIVO. PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL. INVASÃO DA PROPRIEDADE POR TERCEIROS. DESAPROPRIAÇÃO. IMISSÃO NA POSSE PELO PODER PÚBLICO APÓS O FATO GERADOR. ARTIGO 34 DO CTN. EXAÇÃO INDEVIDA. POSSE DO MUNICÍPIO EXPROPRIANTE EXERCIDA ANTES DA AUTORIZAÇÃO JUDICIAL DE IMISSÃO PROVISÓRIA. LOTEAMENTO E BENFEITORIAS NA ÁREA. ANIMUS APROPRIANDI. Não se pode exigir do proprietário o pagamento do IPTU quando sofreu invasão de sua propriedade por terceiros, defendeu-se através dos meios jurídicos apropriados e foi expropriado pela municipalidade, sendo que esta, antes de receber a autorização judicial para imissão provisória, ingressou na área com o ânimo de desapropriante. (REsp 1.111.364/SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/08/2009, DJe 03/09/2009) ITR. IMÓVEL. INVASÃO. MOVIMENTO “SEM-TERRA”. Cinge-se a questão em verificar se é devido o ITR pelo proprietário que teve sua propriedade esbulhada pelo movimento dos “sem terra”. Para o Min. Relator, no caso, houve a efetiva violação do dever constitucional do Estado em garantir a propriedade da impetrante, configurando-se uma grave omissão do seu dever de garantir a observância dos direitos fundamentais da Constituição. 28 Há uma verdadeira iniquidade consubstanciada na possibilidade de o Estado, aproveitando-se da sua própria inércia, tributar propriedade que, devido à sua própria omissão em prover segurança, ocasionou a perda das faculdades inerentes ao direito de propriedade da recorrida. Em que pese ser a propriedade um dos fatos geradores do ITR, ela não é plena quando o imóvel encontra-se invadido (art. 1.228 do CC/2002). Com a invasão, seu direito ficou tolhido de praticamente todos seus elementos: não há mais posse, possibilidade de uso ou fruição do bem; consequentemente, não havendo a exploração do imóvel, não há, a partir dele, qualquer tipo de geração de renda ou de benefícios para a proprietária. Entendeu o Min. Relator que se espera, no mínimo, que o Estado reconheça que, diante da sua própria omissão e da dramaticidade dos conflitos agrários no País, aquele que não tem mais direito algum não possa ser tributado por algo que, somente em razão de uma ficção jurídica, detém sobre o bem o título de propriedade. Ofende o princípio da razoabilidade, o da boa-fé objetiva e o próprio bom-senso o Estado utilizar-se da aparência desse direito ou do resquício que ele deixou, para cobrar tributos que pressupõem a incolumidade e aexistência nos planos jurídicos (formal) e fáticos (material) dos direitos inerentes à propriedade. Na peculiar situação do caso, ao considerar-se a privação antecipada da posse e o esvaziamento dos elementos de propriedade sem o devido êxito do processo de desapropriação, é inexigível o ITR diante do desaparecimento da base material do fato gerador e da violação dos referidos princípios da propriedade, da função social e da proporcionalidade. Isso posto, a Turma negou provimento ao recurso da União. REsp 1.144.982-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 13/10/2009. 29 5.5. Terras da marinha Em relação aos imóveis situados em locais chamados de terras de marinha, dentro do perímetro urbano, seus ocupantes são obrigados a pagar um valor anual, denominado de taxa de ocupação, para o Governo Federal (art. 20, VII, da CF). De acordo com o art. 2º do Decreto-Lei 9.760/1946, “são terrenos de marinha, em uma profundidade de 33 metros, medidos horizontalmente, para a parte da terra, da posição da linha do preamar médio de 1831: a) os situados no continente, na costa marítima e nas margens dos rios e lagoas, até onde se faça sentir a influência das marés; b) os que contornam as ilhas situadas em zona onde se faça sentir a influência das marés”. A posse nos terrenos de marinha ocorre em dois regimes: • aforamento (art. 99, DL 9.760/46) → existe domínio útil, sendo possível eleger o particular como sujeito passivo cio IPTU, eis que é um caso que se enquadra na antiga hipótese de enfiteuse. • ocupação (art. 127, DL 9.760/46) → aqui há polêmica, uma vez que o ocupante, regularmente autorizado pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU), possui mera detenção do imóvel, sendo obrigado a pagar a taxa de ocupação. Helton Kramer afirma que existem poucos posicionamentos jurisprudenciais e doutrinários a respeito, mas pela análise da legislação é possível perceber que os terrenos de propriedade da União não geram uma posse exclusiva para os particulares. Essa ocupação é uma forma de posse precária, sendo que a União pode retomar o imóvel a qualquer tempo mediante o pagamento de indenização das benfeitorias (art. 132, DL 9.760/46) e insuscetível de haver usucapião (art. 191, p.ú., CF). O que mostra não ser possível a identificação da existência de uma posse com animus domini dos ocupantes de terrenos de marinha. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINARIO. IPTU. IMÓVEL DE PPOPRIEDADE DA UNIÃO. CONTRATO DE CONCESSAO DE USO. POSSE 30 PRECARIA. PÓLO PASSIVO DA OBRIGAÇÃO TRIBUTARIA. IMUNIDADE RECÍPROCA. ART. 150, VI, ''A'; DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. IMPOSSIBILIDADE DA TRIBUTAÇÃO. 7. O Supremo Tribunal Federal, em caso análogo ao presente, o RE nº 451.152, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJ de 27.4.07, fixou entendimento no sentido da impossibilidade do detentor da posse precária e desdobrada, decorrente de contrato de concessão de uso, figurar no pólo passivo da obrigação tributária. Precedentes. 2. impossibilidade de tributação, pela Municipalidade, dos terrenos de propriedade da União, em face da imunidade prevista no art. 150, VI, a, da Constituição. (STF. RE 599417 AgR, Relator( a): Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em 29/09/2009) 5.6. Exigência do IPTU no caso de loteamento irregular Nas lições de Helton Kramer, a Fazenda Pública Municipal não está vinculada de maneira absoluta ao que dispõe a matrícula do imóvel, sendo permitido realizar o lançamento tributário com base em situação fática. No caso da situação fática demonstrar a existência de unidades divididas (terrenos autônomos), ainda que dentro de uma mesma matrícula, é possível, juridicamente, haver lançamentos individualizados. Nestas situações considera-se que há um verdadeiro condomínio, ou seja, posse conjunta sem identificação jurídica dos proprietários individuais. Mas, diante de identificação in loco (fática), será possível que o Município realize o levantamento dos lotes e proceda o lançamento com base nos imóveis pro diviso. Se a situação fática demonstrar que existem unidades divididas (terrenos autônomos), ainda que dentro de uma mesma matrícula, é possível, juridicamente, haver lançamentos individualizados. O Fisco, verificando a divisão do imóvel preexistente em unidades autônomas, pode cobrar o IPTU sobre as novas unidades autônomas, 31 mesmo que estas ainda não tenham sido previamente registradas no cartório de imóveis. STJ. 1ª Turma. REsp 1347693-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 11/4/2013 (Info 520). O STJ chegou à conclusão de que é dispensável a exigência de prévio registro imobiliário das novas unidades para que se proceda ao lançamento do IPTU individualizado, uma vez que basta a configuração da posse de bem imóvel para dar ensejo à exação. Para que haja cobrança do IPTU basta que se verifique que foram acrescidas unidades autônomas ao imóvel, uma vez que os impostos reais (como é o caso do IPTU e do ITBI) referem-se aos bens autonomamente considerados (REsp 722.752/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 11/11/2009). TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. IPTU. TRIBUTAÇÃO SOBRE NOVAS UNIDADES AUTÔNOMAS CONSTRUÍDAS EM EDIFÍCIO RESIDENCIAL. DESNECESSIDADE DA INSCRIÇÃO PRÉVIA INDIVIDUALIZADA NO REGISTRO DE IMÓVEIS. LEGALIDADE DA EXAÇÃO. INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 32, 34 E 116, INCISO I, DO CTN. 1. Cinge-se a controvérsia em se estabelecer a possibilidade de o Fisco, verificando alteração em imóvel pré-existente, que se dividiu em unidades autônomas, poder proceder a novas inscrições de IPTU, sem que haja registro das novas unidades em cartório de imóveis. 2. O art. 32 do CTN estabelece que o fato gerador do IPTU é a propriedade, o domínio útil ou a posse. O art. 34 do referido diploma preconiza que o "Contribuinte do imposto é o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título." 3. É absolutamente dispensável qualquer exigência de prévio registro imobiliário das novas unidades para que se proceda ao lançamento do IPTU individualizado, uma vez que basta a configuração da posse de bem imóvel para dar ensejo à 32 exação. Vários são os precedentes do STJ nesse sentido, dentre eles: REsp 735.300/SP, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, DJe 03/12/2008. 4. É suficiente para ensejar a cobrança do IPTU a verificação das unidades autônomas acrescidas ao imóvel, uma vez ser "cediço que os impostos reais (IPTU e ITBI, em especial) referem-se aos bens autonomamente considerados." (REsp 722.752/RJ, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 11/11/2009). REsp 1347693/RS, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 11/04/2013, DJe 17/04/2013 PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. IPTU. UNIDADES AUTÔNOMAS. LOTEAMENTO IRREGULAR. SUJEIÇÃO PASSIVA. QUESTÕES RELEVANTES NÃO APRECIADAS NO ACÓRDÃO RECORRIDO. OMISSÃO CONFIGURADA. 1. A controvérsia tem por objeto a definição do sujeito passivo do IPTU nas hipóteses em que a propriedade imobiliária é desmembrada em lotes autônomos, com cadastros individualizados na Prefeitura (para fins de cobrança do tributo), mas que não foram regularizados no Registro de Imóveis. 2. In casu, a Municipalidade utilizou seu cadastro para realizar o lançamento do IPTU de acordo com os lotes autônomos, mas indicou como sujeito passivo da exação um único proprietário, correspondente àquele que consta como tal nos registros imobiliários. 3. O Tribunal de origem concluiu pela nulidade do lançamento, pois o recorrente somente poderia indicar como sujeito passivo o proprietário ou possuidor de cada lote fracionado, e não o da gleba total. 4. Em Embargos de Declaração, o recorrente questionou a existência de omissão quanto à exegese do art. 34 do CTN e do art. 1.245, § 1º, do CC. Consignou que o fracionamento do loteamento é irregular, pois não foisubmetido à aprovação da Prefeitura, nem tampouco levado a registro 33 imobiliário, de modo que a responsabilidade tributária permanece tanto do proprietário da gleba total do imóvel (conforme dados existentes no Registro de Imóveis) como dos possuidores. 5. A jurisprudência do STJ admite, para fins tributários, que a cobrança do IPTU se dê por unidades autônomas de um lote, sendo desnecessária a regularidade dessa situação na transcrição do registro imobiliário (REsp 1.347.693/RS, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, DJe 17/04/2013). 6. De acordo com a orientação firmada em julgamento de recurso repetitivo (REsp 1.110.551/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, DJe 18/06/2009). 7. Nota-se, portanto, que o art. 34 do CTN admite a existência de solidariedade passiva entre o proprietário do imóvel, o titular do domínio útil e o possuidor a qualquer título. É justamente esta situação que não ficou esclarecida no acórdão hostilizado. 8. Com efeito, o Tribunal de origem se reporta à diligência probatória realizada nos autos, que se limitou a registrar que o lote foi fracionado em dez (10) estabelecimentos (depósitos/pavilhões) comerciais, dos quais "quatro estão ocupados" (fl. 137, e-STJ). 9. O termo "ocupados", por si só, não esclarece a contento se a relação jurídica entre o sujeito de direito (atual ocupante) e o bem (fração do lote) se deu com exclusão ou não do proprietário da gleba maior, que o abrange. Em caso positivo, efetivamente a cobrança não poderá ser feita contra o proprietário anterior, mas, em caso negativo (por exemplo, se as frações do lote encontram-se meramente alugadas para os atuais ocupantes - o imóvel, como um todo, ainda pertence ao locador), inexistirá irregularidade no lançamento, pois, diante da solidariedade passiva, a Fazenda credora pode optar por constituir o crédito tributário contra qualquer um dos devedores estabelecidos na lei. 10. Recurso Especial parcialmente provido, com determinação de devolução dos autos para novo julgamento dos Embargos de Declaração. 34 (REsp 1645888/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/02/2017, DJe 18/04/2017) 5.7. Imunidades de terrenos baldios de Templos Religiosos e de Entidades Educacionais e Assistenciais Comentários Dizer o Direito: Imóvel alugado a terceiros O art. 150, VI, “c” da CF/88 prevê que as “instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos” gozam de imunidade tributária quanto aos impostos, desde que atendidos os requisitos previstos na lei. A instituição de ensino continuará com a imunidade do imposto sobre o imóvel caso ele esteja alugado a terceiros? SIM. Súmula Vinculante 52-STF: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, c, da CF, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas. STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015. SV 52-STF pode se aplicada para a imunidade do art. 150, VI, “d”, da CF/88 Apesar da súmula referir-se à imunidade do art. 150, VI, “c”, seu enunciado também se aplica à imunidade religiosa prevista no art. 150, VI, “b” (imunidade religiosa: “templos de qualquer culto”). Nesse sentido: STF. 2ª Turma. ARE 694453/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe 09/08/2013. 35 E se o imóvel do partido, entidade ou instituição estiver vago ou não edificado, ele, mesmo assim, gozará da imunidade? SIM. O fato de o imóvel estar vago ou sem edificação não é suficiente, por si só, para retirar a garantia constitucional da imunidade tributária. Não é possível considerar que determinado imóvel está voltado a finalidade diversa da exigida pelo interesse público apenas pelo fato de, momentaneamente, estar sem edificação ou ocupação. Em suma, essa imunidade tributária é aplicada aos bens imóveis, temporariamente ociosos, de propriedade das instituições de educação e de assistência social sem fins lucrativos que atendam os requisitos legais. Esse tema é polêmico, mas a posição acima é a que prevalece no STF e STJ. STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 444.193-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/2/2014 (Info 534). STF. Plenário. RE 767332/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 31/10/2013. Lembre-se, ainda, que compete à Administração tributária demonstrar a eventual tredestinação do bem gravado pela imunidade. O ônus probatório acerca do não atendimento aos requisitos legais para usufruir do benefício da imunidade tributária pertence à Fazenda Pública. • Em caso de isenção, benesse tributária derivada de lei, cabe ao contribuinte demonstrar que tem direito ao benefício, ou seja, que preenche os requisitos legais. O ônus de provar o enquadramento é do contribuinte. • Em caso de imunidade, benesse que decorre diretamente do texto constitucional, existe uma presunção de que a entidade se enquadra no direito à imunidade. O ônus de provar o contrário é do Fisco. 36 5.8. Imunidades e sucessão tributária - caso da RFFSA Comentários Dizer o Direito: A antiga RFFSA era uma sociedade de economia mista federal, que foi extinta, e a União tornou-se sua sucessora legal nos direitos e obrigações. A União goza de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88). A RFFSA não desfrutava do benefício pois se tratava de entidade exploradora de atividade econômica. Os débitos tributários que a RFFSA possuía foram transferidos para a União e devem ser pagos, não podendo este ente invocar a imunidade tributária recíproca. O STF concluiu que a imunidade tributária recíproca não afasta a responsabilidade tributária por sucessão, na hipótese em que o sujeito passivo era contribuinte regular do tributo devido. Tese fixada: “A imunidade tributária recíproca não exonera o sucessor das obrigações tributárias relativas aos fatos jurídicos tributários ocorridos antes da sucessão (aplicação “retroativa” da imunidade tributária).” STF. Plenário. RE 599176/PR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 5/6/2014 (repercussão geral) (Info 749). EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA. INAPLICABILIDADE À RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA POR SUCESSÃO. ART. 150, VI, A DA CONSTITUIÇÃO. A imunidade tributária recíproca não exonera o sucessor das obrigações tributárias relativas aos fatos jurídicos tributários ocorridos antes da sucessão (aplicação “retroativa” da imunidade tributária). Recurso Extraordinário ao qual se dá provimento. (RE 599176, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 05/06/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-2014) 37 6. ASPECTO QUANTITATIVO 6.1. Base de cálculo A base do cálculo é o valor venal do imóvel (art. 33 do CTN), ou seja o valor que o imóvel alcançaria em condições de compra e venda no mercado (preço real de venda). Leva- se em consideração o terreno acrescido de suas edificações, excluindo os bens móveis mantidos, em caráter permanente ou temporário, no imóvel (inclusive móveis por acessão intelectual). Leva-se em consideração o terreno acrescido de suas edificações, excluindo os bens móveis mantidos no imóvel (inclusive móveis por acessão intelectual). Assim, o valor do IPTU será a aplicação da alíquota (ex.: 3%) sobre o valor venal do imóvel (ex.: 100 mil reais). Em nosso exemplo, o IPTU seria de 3 mil reais. Planta de Valores Geralmente, o valor venal do imóvel é calculado com base em planta de valores elaborada pelo Fisco municipal. Helton Kramer ensina que a Planta Genérica de Valores é o documento ideal para definir a valorização imobiliária, fixando o valor venal com base em critérios técnicos de valoração, apuração e enquadramento dos imóveis. Leva em conta condições individuais do imóvel como seu tamanho, áreaconstruída, localização, infra-estrutura existente, condição do solo, entre outros elementos. Estas informações são mantidas em um cadastro imobiliário municipal, onde constam os dados necessários sobre os imóveis, como a existência de edificações, área, tipo número de pavimentos etc. A atualização do cadastro imobiliário é essencial para acompanhamento acerca da expansão urbana, por isso ela serve tanto para função fiscal quanto extrafiscal. 38 PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. IPTU. PLANTA GENÉRICA DE VALORES. PUBLICAÇÃO OFICIAL. NECESSIDADE. A Planta Genérica de Valores, por conter dados indispensáveis à apuração da base de cálculo do IPTU, deve ser objeto de publicação oficial. A mera afixação da Planta de Valores no átrio da sede do município não supre a mencionada exigência. Precedentes do STJ. (REsp 1645832/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/03/2017, DJe 19/04/2017) Comentários Dizer o Direito: Essa planta genérica de valores somente pode ser instituída e majorada por meio de lei, considerando que, segundo a jurisprudência, isso consiste na própria base de cálculo do IPTU, devendo, portanto, obedecer ao princípio da reserva legal (art. 150, I, da CF/88; art. 97, II e IV do CTN). Contudo, a simples atualização do valor monetário da base de cálculo poderá ser feita por decreto do Prefeito. Assim, os Municípios podem atualizar, anualmente, o valor dos imóveis, com base nos índices oficiais de correção monetária, visto que a atualização não constitui aumento de tributo (art. 97, § 2º do CTN) e, portanto, não se submete à reserva legal (princípio da legalidade tributária) imposta pelo art. 150, I, da CF/88. Art. 97 (...) § 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo. Vale ressaltar que atualizar o valor dos imóveis significa apenas aplicar, sobre o valor antigo, os índices oficiais de correção monetária referentes ao período. Se houver algo além disso, será considerado majoração, para a qual se exige lei. Nesse sentido: 39 Súmula 160-STJ: É defeso, ao Município, atualizar o IPTU, mediante decreto, em percentual superior ao índice oficial de correção monetária. A base de cálculo do IPTU é o VALOR VENAL do imóvel (art. 33 do CTN). Os Municípios não podem alterar ou majorar, por decreto, a base de cálculo do IPTU, sob pena de violação ao art. 150, I da CF/88. A simples atualização do valor monetário da base de cálculo poderá ser feita por decreto do Prefeito. Assim, os Municípios podem atualizar, anualmente, o valor dos imóveis, com base nos índices oficiais de correção monetária, visto que a atualização não constitui aumento de tributo (art. 97, § 1º do CTN) e, portanto, não se submete à reserva legal imposta pelo art. 150, I da CF/88. Conclusão: é inconstitucional a majoração, sem edição de lei em sentido formal, do valor venal de imóveis para efeito de cobrança do IPTU acima dos índices oficiais de correção monetária. STF. Plenário. RE 648245/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 1/8/2013 (repercussão geral) (Info 713). Alteração da base de cálculo do IPTU é exceção à anterioridade nonagesimal Se o município editar uma lei majorando a base de cálculo do IPTU, ou seja, aumentando o valor venal dos imóveis, tal lei deverá obedecer ao princípio da anterioridade anual (art. 150, III, “b” CF/88). Por outro lado, não precisa respeitar a anterioridade nonagesimal (art. 150, III, “c” e § 1º). Assim, se a lei municipal alterar o valor venal dos bens e for publicada em 10 de dezembro de 2013, esta majoração não poderá ser cobrada em 2013, mas já será exigível a partir de 1º de janeiro de 2014. 40 Já o aumento de alíquotas do IPTU não apresenta nenhuma exceção, devendo observar os princípios da Anterioridade de Exercício e Anterioridade Nonagesimal. Quadro-resumo (Dizer o Direito) Objetivo Instrumento Quando poderá ser cobrada? Fixar o valor dos imóveis Lei em sentido formal Em 1º de janeiro do ano seguinte. Majorar o valor dos imóveis Lei em sentido formal Em 1º de janeiro do ano seguinte. Mera atualização do valor dos imóveis (aplicar índices de correção monetária) Ato infralegal (decreto) Imediatamente. 6.2. Alíquota As alíquotas do IPTU poderão ser livremente estipuladas pelos Municípios, por meio de lei municipal, desde que, não sejam exorbitantes a ponto configurar confisco, o que é vedado constitucionalmente (art. 150, IV da CF/88). A CF/88 permite que as alíquotas do IPTU sejam progressivas. Progressividade é uma técnica de tributação que tem como objetivo fazer com que os tributos atendam à capacidade contributiva. É estabelecida uma função quase linear entre uma grandeza e outra, de forma que o crescimento de uma implicará a majoração da outra. Na prática, a progressividade funciona da seguinte forma: a lei prevê alíquotas variadas para o imposto e o aumento dessas alíquotas ocorre na medida em que se aumenta a base de cálculo. Assim, na progressividade, quanto maior a base de cálculo, maior será a alíquota. 1) Progressividade no tempo em caso de imóvel que não esteja cumprindo sua função social (art. 182, § 4º, II): aumento de alíquotas para desestimular que o imóvel permaneça não edificado, inutilizado ou subutilizado - progressividade extrafiscal (tem por 41 finalidade fazer cumprir um mandamento constitucional, qual seja, a função social da propriedade). ATENÇÃO - IPTU Verde ou Ecológico: Roberval Rocha informa que vários estudiosos identificam nas normas do Estatuto da Cidade uma nova visão sobre as cidades, que passaram a natureza jurídica de bem ambiental, e, também, sobre o IPTU, que passou a ter natureza de tributo ambiental, de natureza eminentemente extrafiscal, quando sua hipóteses de incidência ocorrer subsumida à progressividade no tempo. A adoção do IPTU Verde, uma iniciativa que incentiva os moradores a investir em ações e práticas de sustentabilidade em suas construções, é uma maneira de oferecer descontos nas alíquotas do IPTU. O IPTU Verde segue uma lógica de prática internacional que certifica edificações que investiram em tecnologias sustentáveis em seus projetos de construção ou reforma. A aplicação dessas soluções sustentáveis vai somando pontos ao cidadão, que classificam seu empreendimento de acordo com essas tecnologias implementadas. Ocorre uma verdadeira indução positiva, que se dá quando a extrafiscalidade instrui a desoneração de tributos, por meio de redução de alíquotas, de diminuição da base de cálculo de incidência ou de isenções tributárias. A indução positiva acontece quando ocorrer o estímulo mediante desoneração ou isenção tributária, preferência de obtenção de crédito ou subsídios. 2) Progressividade em razão do valor do imóvel (art. 156, § 1º, I) - progressividade fiscal (com o objetivo de arrecadar mais). Vale destacar que, apesar da autorização expressa quanto à progressividade pelo valor do imóvel, permanece válido entendimento do STF quanto à impossibilidade de exigência de IPTU progressivo pelo número de imóveis do contribuinte. 42 Súmula 589 STF – É inconstitucional a fixação de adicional progressivo do imposto predial e territorial urbano em função do número de imóveis do contribuinte. 3) Diferenciadas de acordo com a localização e o uso do imóvel (art. 156, § 1º, II) - extrafiscalidade. Assim, imóveis localizados em determinados bairros do município poderiam sofrer incidência maior ou menor a depender de sua valorização, bem como a utilização comercial, industrial ou residencial poderia servir de elemento diferenciador da exação. Súmula 539 STF – É constitucional a lei do município que reduz o imposto predial urbano sobre imóvel ocupado pela residência do proprietário, que não possua outro.6.3. Antes da Emenda Constitucional 29/2000 Antes da vigência da Emenda Constitucional nº 29/00 a progressividade se dava apenas em razão da função social da propriedade urbana (art. 182, § 4º, II, CF). Prevalecia o entendimento de que não poderia haver a progressividade do IPTU, pois sendo este imposto de natureza real, não há permissivo constitucional para levar em consideração a capacidade econômica do contribuinte. Não havia previsão expressa da progressividade em razão do valor do imóvel (art. 156, § 1º, I). Contudo, mesmo antes da EC 29/2000, muitos Municípios editaram leis prevendo alíquotas progressivas em razão do valor do imóvel, o que foi rechaçado pelo STF. Súmula 668-STF: É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da emenda constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o 43 IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana. Com a declaração de inconstitucionalidade da lei municipal que previa alíquotas progressivas em razão do valor do imóvel, os contribuintes irão pagar o IPTU com base na alíquota mínima prevista. O STF firmou a seguinte tese: "Declarada inconstitucional a progressividade de alíquota tributária, é devido o tributo calculado pela alíquota mínima correspondente, de acordo com a destinação do imóvel." STF. Plenário. RE 602347/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 4/11/2015 (repercussão geral) (Info 806). RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL. DIREITO TRIBUTÁRIO. IMPOSTO TERRITORIAL PREDIAL URBANO - IPTU. PROGRESSIVIDADE DAS ALÍQUOTAS. INCONSTITUCIONALIDADE. EXIGIBILIDADE DO TRIBUTO. FATO GERADOR OCORRIDO EM PERÍODO ANTERIOR À EMENDA CONSTITUCIONAL 29/2000. ALÍQUOTA MÍNIMA. MENOR GRAVOSIDADE AO CONTRIBUINTE. PROPORCIONALIDADE DO CRITÉRIO QUANTITATIVO DA REGRA-MATRIZ DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA. 1. Tese de repercussão geral fixada: “Declarada inconstitucional a progressividade de alíquota tributária do Imposto Predial Territorial Urbano no que se refere à fato gerador ocorrido em período anterior ao advento da EC 29/2000, é devido o tributo calculado pela alíquota mínima correspondente, de acordo com a destinação do imóvel e a legislação municipal de instituição do tributo em vigor à época”. 2. O Supremo Tribunal Federal possui entendimento sumulado no sentido de que “É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da Emenda Constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana.” Súmula 668 do STF. Precedente: AI-QO-RG 712.743, de relatoria da Ministra Ellen Gracie, Tribunal Pleno, DJe 8.5.2009. 3. É constitucional a cobrança de IPTU, referente a período anterior à Emenda Constitucional 29/2000, mesmo que a progressividade das alíquotas tenha sido declarada 44 inconstitucional, em sede de representação de inconstitucionalidade em Tribunal de Justiça local. Função da alíquota na norma tributária. Teoria da divisibilidade das leis. Inconstitucionalidade parcial. 4. O IPTU é exigível com base na alíquota mínima prevista na lei municipal, de modo que o critério quantitativo da regra matriz de incidência tributária seja proporcional e o menos gravoso possível ao contribuinte. Precedentes. 5. Recurso extraordinário provido. RE 602347, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 04/11/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe- 067 DIVULG 11-04-2016 PUBLIC 12-04-2016 6.4. Após a Emenda Constitucional 29/2000 A partir deste momento passou a existir a autorização constitucional para o estabelecimento de alíquotas progressivas para o cumprimento de funções extrafiscais, levando em conta o valor, localização e uso do imóvel, além do estimulo ao cumprimento da função social da propriedade. 7. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES 7.1. Lançamento O crédito tributário referente ao IPTU é constituído através do lançamento de ofício (art. 149, CTN). A autoridade administrativa, utiliza-se das informações que constam no seu banco de dados relativas à propriedade de imóveis na área urbana no Município. O lançamento de ofício é aquele realizado direta e exclusivamente pelo Fisco: • quando a lei assim o determine • ou quando o tributo seja submetido por lei a lançamento mediante declaração ou por homologação, mas o contribuinte não tenha realizado os atos que lhe cabiam, ou seja, não tenha prestado as informações ou apurado e pago o 45 tributo devido. Neste caso, o lançamento de ofício terá caráter supletivo, sendo a única forma de o Fisco obter a formalização do seu crédito tributário. Tendo o carnê de cobrança sido encaminhado ao endereço do contribuinte, cabe a este provar o não envio, pois é seu dever manter atualizado o endereço junto ao Fisco municipal. Na prática, se o contribuinte quiser alegar que o crédito tributário foi atingido pela decadência, em virtude de o lançamento não haver sido realizado no prazo legal, terá o ônus de provar que o carnê não foi recebido, ou seja, será necessária a produção de prova negativa (prova de que algo não aconteceu). Súmula 397 STJ: O contribuinte do IPTU é notificado do lançamento pelo envio do carnê ao seu endereço. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO. RECURSO ESPECIAL. SUPOSTA OFENSA AO ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA DE VÍCIO NO ACÓRDÃO RECORRIDO. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU. PRESCRIÇÃO. EXERCÍCIO DE 1995. Adotada a premissa de que "o contribuinte do IPTU é notificado do lançamento pelo envio do carnê ao seu endereço" (Súmula 397/STJ), associada à orientação no sentido de que o "termo inicial da prescrição para sua cobrança é a data do vencimento previsto no carnê de pagamento, pois é esse o momento em que surge a pretensão executória para a Fazenda Pública" (REsp 1.180.299/MG, Rel. Min. ELIANA CALMON, Segunda Turma, DJe 08/04/2010), não há como afastar a prescrição reconhecida pelo Tribunal de origem, tendo em vista que o crédito tributário refere-se ao exercício de 1995 e a execução fiscal foi ajuizada apenas em outubro/2001. AgRg no AREsp 674.852/RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/06/2015, DJe 10/06/2015 46 Eduardo Sabbag afirma que o CTN não condiciona a forma de cientificação do sujeito passivo para o recolhimento dos impostos lançados de ofício, podendo a legislação de regência da exação disciplinar qualquer meio idôneo para essa finalidade. Em 2016, a 1ª Seção do STJ, no REsp 1.320.825/RJ (Rel. Min. Gurgel de Faria), analisando a sistemática de cobrança do IPVA, evidenciou que a cientificação do contribuinte para o recolhimento do imposto estadual em comento pode ser realizada por qualquer meio idôneo, como o envio de carnê ou a publicação de calendário de pagamento, com instruções para a sua efetivação. Com efeito, a remessa do carnê é apenas uma modalidade de cobrança do tributo do sujeito passivo, a qual não exclui outras eventualmente mais convenientes para a Administração. 7.2. Exceção ao Bem de Família A legislação brasileira impede que um imóvel que seja considerado bem de família possa ser utilizado para o pagamento de dívidas inadimplentes de seu proprietário. No entanto, um imóvel pode ser penhorado para o pagamento de dívidas tributárias relativas ao próprio imóvel. Se o proprietário deixar de pagar o IPTU, pode perder o bem de família. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. BEM DE FAMÍLIA. IMPENHORABILIDADE. EXCEÇÃO. DÉBITO PROVENIENTE DO PRÓPRIO IMÓVEL. IPTU. INTELIGÊNCIA DO INCISO IV DO ART. 3º DA LEI 8.009/90. 1. O inciso IV do art. 3º da Lei 8.009/1990 foi redigido nos seguintes termos: "Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial,
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