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1 - FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA

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Prévia do material em texto

MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 
 
0800 283 8380 
 
www.ucamprominas.com.br 
 
 
Impressão 
e 
Editoração 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 
UNIDADE 2 – TEORIAS DA PERSONALIDADE ....................................................... 6 
2.1 Teorias Psicodinâmicas ..................................................................................... 8 
2.2 Teorias Comportamentalistas .......................................................................... 13 
2.3 Teorias Humanistas ......................................................................................... 16 
2.4 Teorias Culturalistas ........................................................................................ 20 
2.5 Bases biológicas da personalidade ................................................................. 22 
UNIDADE 3 – QUEIXA EM SAÚDE E ESCUTA CLÍNICA ....................................... 24 
3.1 Relações interpessoais e o papel do psicólogo ............................................... 25 
3.2 Psicoterapia ..................................................................................................... 27 
3.3 Psicologia hospitalar ........................................................................................ 28 
3.4 Psicoterapia breve ........................................................................................... 29 
UNIDADE 4 – ABORDAGENS TEÓRICO/CLÍNICAS QUE FUNDAMENTAM O 
TRABALHO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR E DA SAÚDE .................................. 30 
4.1 Behaviorismo / Terapia comportamental / Terapia Cognitivo-comportamental 31 
4.2 Gestalt ............................................................................................................. 32 
4.3 Neuropsicologia ............................................................................................... 33 
4.4 Psicanálise ....................................................................................................... 34 
4.5 Psicodrama ...................................................................................................... 35 
4.6 Psicologia Analítica .......................................................................................... 36 
4.7 Teoria Sistêmica .............................................................................................. 36 
4.8 Psicoterapia de grupo ...................................................................................... 37 
4.9 Reflexão final sobre as linhas de abordagem psicológica ............................... 38 
UNIDADE 5 – PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E SUA RELAÇÃO COM A 
SAÚDE E O ADOECIMENTO ................................................................................... 41 
5.1 O processo de desenvolvimento humano ........................................................ 41 
5.2 Desenvolvimento humano, saúde e adoecimento ........................................... 48 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 66 
 
3 
 
INTRODUÇÃO 
 
Enquanto orientadores, sempre recomendamos a pesquisa de materiais 
recentes, porém, ao se utilizar obras clássicas (como no caso deste material, em que 
grande parte do conteúdo foi embasado em obras de teóricos que abordam sobre 
diferentes autores) isso não se faz possível – ainda mais em caso de livros que já 
possuem edições mais recentes, porém lançamos mão de cópias mais antigas. Fora 
isso é sempre importante mantermos o conhecimento científico atualizado! Bons 
estudos! 
Iniciaremos aqui os nossos estudos sobre a psicologia hospitalar e da 
saúde. Antes de mencionarmos qualquer conteúdo teórico acerca da temática, 
propomos apresentar a figura a seguir, a qual não possui nenhuma legenda para 
que a comunicação verbal não interfira no objetivo da reflexão proposta. 
 
Figura 1: Sem título 
 
Fonte: M de mapa (2012). 
 
Contenha a sua curiosidade e não leia o conteúdo a seguir. Observe 
atentamente a ilustração anterior e reflita: 
4 
 
Qual a relação da mesma com o trabalho do psicólogo hospitalar? 
 
Sua interpretação pode ser diferente da nossa, visto que em muitas 
situações não há uma conclusão única, porém reflexões, possibilidades e pontos de 
vista. 
Descrevendo a imagem (claro que há vários outros detalhes que compõem a 
mesma), algumas coisas nos chamam a atenção: 
Do lado direito há uma série de pessoas, todas bem vestidas e, do lado 
esquerdo, o grupo de pessoas representa o povo, os pacientes. 
Analisando o que cada um dos grupos carrega em seus cartazes, do lado 
direito há uma placa frequentemente encontrada em hospitais, o símbolo de silêncio, 
o qual sinaliza que o hospital é um local de recuperação, onde os pacientes ali 
internos precisam repousar em tranquilidade e conversas podem atrapalhar sua 
convalescência. 
Do outro lado, o povo (nossos pacientes / clientes) traz uma reivindicação: 
de falar, de queixar-se, de serem ouvidos em suas angústias. 
Parece contrastante, pois de um lado, há a demanda do paciente de se 
expressar, porém, de outro, a realidade hospitalar apregoa que este é um local de 
silêncio. Além do silêncio, observamos também que todos ao lado direito parecem 
uniformizados, fazendo uma alusão aos trajes que a equipe de saúde utiliza nos 
hospitais: jalecos brancos, que tornam todos parecidos entre si, porém que 
diferenciam claramente os profissionais daqueles que vêm fazer seu pedido de 
ajuda. 
Porém, como pedir ajuda se não se pode falar? A demanda não parte da 
fala? Será que o processo de tratamento e cura implica apenas em administrar 
procedimentos e medicamentos em pessoas literalmente pacientes, apáticas, que 
não podem expressar suas dores e angústias? O tratamento no hospital visa apenas 
ao corpo? Mas o homem é um ser biopsicossocial e espiritual. Pode haver 
intervenções para o corpo sem a fala, mas como se atingir o psicológico, o social e o 
espiritual? 
O psicólogo hospitalar pode trazer alívio a esse grupo de manifestantes que 
reivindicam pelo seu direito de falar, pois, além de falarem, esse profissional irá ouvi-
los atentamente, buscando compreender suas queixas, seus sintomas, 
proporcionando-lhes conforto em suas angústias, além de serem profissionais 
5 
 
capacitados para tentar melhorar a dinâmica da comunicação que existe na 
instituição de saúde. Esse profissional poderia ser a lâmpada que se acende na 
escuridão e traz amparo, conforto, além de apontar que os dois grupos não devem 
ser antagônicos, porém devem falar a mesma língua, de forma a exercer o cuidado 
integral do paciente. 
E essa reflexão torna-se a maior parte da nossa introdução. Se buscamos 
um curso de pós-graduação em psicologia hospitalar e da saúde é porque 
desejamos dar ao paciente o direito de se expressar, queremos ouvir suas queixas, 
sem romper o silêncio que realmente é benéfico à recuperação dos pacientes 
enquanto fonte de tranquilidade. Não podemos confundir o silêncio da tranquilidade 
com o direito do paciente de se expressar. 
Nesta apostila não falaremos tão diretamente sobre a psicologia hospitalar e 
da saúde. Antes disso, faz-se necessário compreender a personalidade do paciente, 
ou seja, as características que garantem ao ser humano o status de único e 
individual. Diversas teorias propõem estudar a personalidade, porém selecionamos 
algumas delas para ilustrar este primeiro momento. 
Também está no escopo deste material falar brevemente sobre a psicologia 
hospitalar, a psicoterapia e a abordagem psicoterápica mais desenvolvida na 
instituição hospitalar: a psicoterapia breve. Abordaremos a importância das relações 
interpessoais que se estabelecem entre equipe de saúde, paciente e família, áreade 
interesse da psicologia. 
Em seguida, apresentaremos algumas linhas teóricas que fundamentam a 
escuta clínica do psicólogo hospitalar e da saúde, as quais foram apontadas por 
Lazzaretti et al. (2007). 
Para finalizar, uma ampla parte desse material será destinada ao estudo do 
desenvolvimento humano a partir da perspectiva de Papalia, Olds e Feldman (2006), 
pretendendo-se contextualizar a experiência de saúde e adoecimento em diferentes 
etapas do ciclo vital. 
Este material foi embasado nas ideias de Papalia, Olds e Feldman (2006), 
Lazzaretti et al. (2007), Gazzaninga e Heatherton (2005), Hall e Lindzey (1984), 
Fadiman; Frager (1986), Cordioli (2008), dentre outros autores de livros e artigos 
científicos que serão enumerados no decorrer da apostila. 
6 
 
UNIDADE 2 – TEORIAS DA PERSONALIDADE 
 
Compreender o conceito de personalidade (ou aprofundar o seu estudo) se 
faz necessário para o psicólogo que deseja atuar em diferentes áreas, inclusive a 
hospitalar. Antes de realizarmos um estudo mais minucioso sobre a psicologia 
hospitalar e da saúde, além dos processos saúde - doença, envolvidos na dinâmica 
psicológica daquele que adoece (ou busca estratégias preventivas), faz-se 
necessário compreender que o adoecimento acarreta em algumas modificações no 
estado biopsicossocial do paciente. 
Antes de entender quais são essas mudanças e por que as mesmas 
ocorrem, faz-se necessário conhecer o paciente e sua estrutura psicológica. 
Partimos do pressuposto de que a personalidade garante a singularidade psicológica 
do indivíduo (assim como comparamos que sua composição genética carrega 
componentes que o caracterizam como indivíduo único). 
Procuraremos abordar nessa seção algumas teorias da personalidade, 
considerando a diversidade de aspectos, segundo os teóricos seguidores da 
mesma, que influenciam na estrutura da personalidade humana. Existem diversas 
teorias de personalidade, porém, para fins didáticos, selecionamos apenas algumas. 
Assim, serão apresentadas teorias de base psicodinâmica, humanista, culturalista, 
behaviorista e biológica. Algumas delas servem como base nas linhas de 
abordagem em clínica pelas quais o psicólogo hospitalar e da saúde pode embasar 
o seu trabalho (tema que será abordado a seguir). Sabemos que cada teoria da 
personalidade carrega consigo características de extrema importância, mas como o 
intuito desse material é relacionar as teorias com a práxis do psicólogo hospitalar e 
da saúde, procuraremos abordar apenas as mais relacionadas ao assunto. 
 
Segundo a abordagem psicodinâmica, os motivos e conflitos inconscientes 
que são experienciados durante toda a vida, mas especialmente na infância, 
moldam a personalidade. Os humanistas acreditam que cada pessoa é 
única e capaz de realizar um grande potencial. Os teóricos do traço 
descrevem o comportamento das pessoas com base em disposições de 
traços. Os teóricos cognitivo-sociais focalizam como as interpretações e 
crenças cognitivas afetam a percepção das pessoas de seu ambiente 
social. Essas variadas abordagens não se opõem, necessariamente, umas 
às outras. Elas compartilham o objetivo comum de tentar compreender de 
que maneira as pessoas são semelhantes e diferentes entre si 
(GAZZANINGA; HEATHERTON, 2005, p.479). 
 
7 
 
Existem várias teorias, as quais divergem e convergem em vários aspectos, 
e podem ser definidas como tentativas desses diferentes teóricos para formular ou 
representar aspectos significativos do comportamento humano. Falamos sobre 
personalidade desde em rodas de conversa informais até nos meios acadêmicos, 
mas o que é personalidade? 
Gazzaninga e Heatherton (2005) definem que: 
 
A personalidade se refere às características, respostas emocionais, 
pensamentos e comportamentos do indivíduo que são relativamente 
estáveis ao longo do tempo e em diferentes circunstâncias. Os psicólogos 
da personalidade estudam os processos básicos que influenciam o 
desenvolvimento da personalidade em diversos tipos de análise, tal como a 
influência da cultura, aprendizagem, biologia e fatores cognitivos. Ao 
mesmo tempo, os que estudam a personalidade estão mais interessados 
em compreender pessoas na sua totalidade. Isto é, eles tentam entender o 
que torna cada pessoa única. (p.471) 
 
Já Hall e Lindzey (1984), importantes teóricos sobre o assunto, afirmam que 
é impossível definir personalidade de forma geral, sem, para isso, lançar mão dos 
conceitos de determinada teoria. Os autores enumeram alguns aspectos que se 
relacionam ao conceito, como habilidades sociais (caracterizam-se o indivíduo a 
partir de traços de personalidade, sejam eles positivos, ou negativos, como, por 
exemplo, uma “personalidade agressiva”); mediadora ao ajustamento do indivíduo; 
essência do homem (aquilo que é mais característico do indivíduo). 
Gazzaninga e Heatherton (2005) acrescentam que, dentre as diferentes 
teorias da personalidade existentes, atribuem-se como fatores determinantes da 
personalidade fatores biológicos e genéticos, cultura, padrões de reforço ou 
processos mentais e inconscientes. 
Falamos em traços de personalidade ao nos referirmos a características das 
pessoas, como, por exemplo, extrovertidas e introvertidas. Esses traços de 
personalidade podem ser definidos como uma tendência para a pessoa agir de 
determinada maneira, ao longo dos anos, em diferentes situações (GAZZANINGA; 
HEATHERTON, 2005). 
A seguir, tentaremos expor diferentes teorias que realizaram o estudo da 
personalidade, porém vale a pena ressaltar que todas são teorias bastante 
complexas e muito embasadas. Para fins didáticos, selecionamos apenas aspectos 
de cada teoria que irão se relacionar com os temas abordados ao longo do curso, 
8 
 
portanto, muitos pontos também importantes de cada uma não serão abordados 
aqui. 
 
2.1 Teorias Psicodinâmicas 
A principal teoria psicodinâmica é a teoria de Freud, a qual será explicitada a 
seguir. Entende-se por psicodinâmicas, teorias que enfatizam os processos 
inconscientes e dinâmicos. O principal pressuposto da teoria da personalidade de 
Freud é que as forças inconscientes (instintos – pulsões), como os desejos e 
motivos, influenciam o comportamento humano. 
Para Freud, o corpo é a fonte básica de toda experiência mental. Ele 
apregoa a ideia do determinismo psíquico, ou seja, cada evento mental decorre de 
intenções conscientes ou inconscientes (a grande maioria), em outras palavras, do 
ponto de vista psíquico nada ocorre como obra do acaso (FADIMAN; FRAGER, 
1986). 
No estudo sobre a personalidade, numa perspectiva psicodinâmica, 
partiremos do ponto em que Freud propôs a divisão da mente em três partes: o 
consciente, o pré-consciente e o inconsciente. Na primeira tópica da personalidade, 
Freud propôs o modelo topográfico da mente, em que comparou a mente com um 
iceberg: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2: Modelo topográfico da mente 
 
 
9 
 
Em síntese, pode-se compreender sobre cada uma dessas instâncias que 
compõem a primeira tópica do aparelho psíquico (LAPLANCHE; PONTALIS, 1988; 
FADIMAN; FRAGER, 1986): 
 Consciente – contém pensamentos dos quais as pessoas estão cientes. 
Recebe informações do mundo exterior e interior (percepção, atenção, 
raciocínio – processos cognitivos); 
 pré-consciente – zona intermediária que abriga conteúdos que não estão 
corretamente no inconsciente, mas podem ser trazidos à consciência com um 
certo esforço. “O pré-consciente é como uma vasta área de posse das 
lembranças de que a consciência precisa para desempenhar suas funções” 
(FADIMAN; FRAGER, 1986, p.8); 
 inconsciente – parte maior, mais importante e mais profunda do iceberg. O 
inconsciente contém desejos e motivos que estão associados a conflitos, 
ansiedade, sofrimento e o mecanismo de recalque (ou repressão) os deixam 
inacessíveis, protegendo a pessoa da angústia. Os conteúdos inconscientes 
são impossíveis de serem lembradosde forma voluntária. Gazzaninga e 
Heatherton (2005) complementam que, para Freud, na mente inconsciente há 
desejos e motivos carregados de conflitos, ansiedade e sofrimento – por isso 
esses conteúdos não se localizam a nível consciente, protegendo, assim, a 
pessoa da angústia. Em algumas situações, esses conteúdos inconscientes 
escapam para o consciente de maneira involuntária, através dos sonhos, 
chistes, atos falhos (chistes e atos falhos são lapsos da linguagem), sintoma 
(quando os conflitos extrapolam o nível da linguagem e aparecem no corpo, 
na forma de dor ou doença), associação livre (o método do tratamento 
analítico). 
 
No inconsciente estão elementos instintivos, que nunca foram conscientes e 
que não são acessíveis à consciência. Além disso, há material que foi 
excluído da consciência, censurado ou reprimido. Esse material não é 
esquecido ou perdido, mas não é permitido de ser lembrado. O pensamento 
e a memória ainda afetam a consciência, mas apenas indiretamente 
(FADIMAN; FRAGER, 1986, p.7). 
 
O mecanismo de recalque (ou repressão) é compreendido como um 
mecanismo de defesa do ego. Opera inconscientemente, de modo que a pessoa não 
tem consciência do que está acontecendo. Ao reprimir (recalcar) um conteúdo, a 
10 
 
pessoa está enviando para o inconsciente algum tipo de conteúdo que causa dor, 
sofrimento, vergonha, repulsa ou medo muito grandes a ela, de forma que o 
sofrimento de lidar com esses sentimentos iria trazer prejuízos muito grandes ao seu 
ego. Hall e Lindzey (1984, p.39) ilustram sobre o processo de reclaque (repressão): 
 
As repressões, uma vez formadas, são difíceis de desfazer. A pessoa 
procura assegurar-se de que o perigo não existe mais, o que só consegue 
quando a repressão é suspensa e a realidade pode ser encarada de frente. 
É como um círculo vicioso. Essa é a razão por que o adulto conserva medos 
infantis. Nunca tem a possibilidade de descobrir que esses medos têm base 
na realidade. 
 
Para compreendermos melhor a dinâmica da personalidade, faz-se 
necessário aprofundar o estudo sobre um conceito que já foi abordado: os instintos 
(ou pulsões). A denominação pode variar de acordo com a tradução da obra original 
de Freud para outras línguas primeiramente até chegar ao português. 
“Os instintos são pressões que dirigem um organismo para fins particulares” 
(FADIMAN; FRAGER, 1986, p.8). Os instintos são fatores propulsores da 
personalidade, já que impulsionam o comportamento e determinam a direção do 
mesmo. Diferente dos instintos animais, nos seres humanos, os instintos exercem 
controle seletivo sobre a conduta. Os estímulos podem ser internos quanto externos 
e o desejo age como motivação para o comportamento. Alguns estímulos, como por 
exemplo, a fome, relacionam-se ao instinto de sobrevivência desde o nascimento e 
contribuem para a perpetuação das espécies (HALL; LINDZEY, 1984). 
 
Todo instinto tem quatro componentes: uma fonte, uma finalidade, uma 
pressão e um objeto. A fonte, quando emerge a necessidade, pode ser uma 
parte do corpo ou todo ele. A finalidade é reduzir a necessidade até que 
mais nenhuma ação seja necessária, e dar ao organismo a satisfação que 
ele no momento deseja. A pressão é a quantidade de energia ou força que 
é usada para satisfazer ou gratificar o instinto; ela é determinada pela 
intensidade ou urgência da necessidade subjacente. O objeto de um instinto 
é qualquer coisa, ação ou expressão que permite a satisfação da finalidade 
original (FADIMAN; FRAGER, 1986, p.8). 
 
O funcionamento mental saudável consiste na redução da tensão para níveis 
aceitáveis, o que faz o organismo voltar ao estado de equilíbrio que era atingido 
antes do surgimento da tensão. Entretanto, alguns pensamentos e comportamentos 
não reduzem a tensão, pelo contrário, criam tensão, pressão ou ansiedade 
(FADIMAN; FRAGER, 1986). 
11 
 
Para Freud, a personalidade é composta por três sistemas: id, ego e 
superego, os quais estão envolvidos em constantes conflitos e acordos psíquicos. “A 
um instinto opunha-se outro; proibições sociais bloqueavam pulsões biológicas e os 
modos de enfrentar situações frequentemente chocavam-se uns com os outros” 
(FADIMAN; FRAGER, 1986, p.10). Segundo Hall e Lindzey (1984): 
 o id é formado pelos aspectos psicológicos inatos, herdados, inclusive os 
instintos. Funciona de forma a descarregar a tensão interna do organismo e 
ocasionar prazer – o que ele denominou princípio do prazer; 
 o ego seleciona a quais aspectos do meio reagirá, além de decidir quais 
instintos devem ser satisfeitos e de que modo. “A diferença básica entre o id e 
o ego reside em que o primeiro conhece somente a realidade subjetiva da 
mente, enquanto que o segundo faz a distinção entre as coisas da mente e as 
do mundo exterior” (HALL; LINDZEY, 1984, p.27); 
 o superego é o representante interno dos valores da sociedade, os quais são 
transmitidos pelos pais e reforçados pelos castigos e recompensas que foram 
impostos à criança “De modo geral, podemos considerar o id como o 
componente biológico da personalidade, o ego como o componente 
psicológico e o superego como o componente social” (HALL; LINDZEY, 1984, 
p.28). 
 
A meta fundamental da psique é manter – e recuperar, quando perdido – 
um nível aceitável de equilíbrio dinâmico que maximiza o prazer e minimiza 
o desprazer. A energia que é usada para acionar o sistema nasce no id, que 
é de natureza primitiva, instintiva. O ego, emergindo do id, existe para lidar 
realisticamente com as pulsões básicas do id e também age como mediador 
entre as forças que operam no id e no superego e as exigências da 
realidade externa. O superego, emergindo do ego, atua como um freio 
moral ou força contrária aos interesses práticos do ego. Ele fixa uma série 
de normas que definem e limitam a flexibilidade deste último (FADIMAN; 
FRAGER, 1986, p.12). 
 
Os constantes conflitos entre o id e o superego podem levar à ansiedade e, 
em resposta a esta, o ego utiliza alguns mecanismos de defesa, que consistem em 
estratégias mentais inconscientes que a mente utiliza para proteger o indivíduo da 
angústia (GAZZANINGA HEATHERTON, 2005). 
Os principais mecanismos de defesa são a sublimação (não patológico), 
repressão, projeção, formação reativa e regressão – os quais são muito presentes 
no paciente doente e/ou hospitalizado. Os mecanismos de defesa (exceto a 
12 
 
sublimação) negam, falsificam ou distorcem a realidade e operam 
inconscientemente (FADIMAN; FRAGER, 1986; HALL, LINDZEY, 1984). 
A tabela a seguir sintetiza os principais mecanismos de defesa: 
 
Tabela 01: Principais Mecanismos de Defesa 
Mecanismo de 
defesa 
Definição Exemplo 
Sublimação  Energia destinada para 
fins agressivos ou 
sexuais é canalizada para 
outras finalidades, como 
artísticas, culturais e 
acadêmicas. 
Pessoa com instinto 
sádico sublima os 
impulsos e transforma-se 
em cirurgião. 
Formação reativa  Atitude oposta ao do 
desejo, pois o ego 
procura afastar o desejo 
recalcado. 
 Aquilo que aparece 
(atitude) visa esconder do 
próprio indivíduo suas 
motivações e desejos, 
para preservá-lo de uma 
descoberta sobre si 
mesmo que poderia ser 
dolorosa. 
 
Pessoa com desejos 
homossexuais não 
reconhecidos faz 
frequentes comentários 
homofóbicos. 
Regressão  Retorno a etapas 
anteriores de seu 
desenvolvimento. 
 Forma de expressão mais 
primitiva. 
 
Adulto que pede colo em 
situação de doença. 
Projeção  O indivíduo projeta ao 
mundo externo alguma 
característica sua e não 
percebe aquilo que foi 
projetado como algo seu 
que ele mesmo considera 
como indesejável. 
 
Pessoa que sempre 
chama as outras de 
fofoqueira, quando, na 
verdade, é ela própria 
quem ocupa grande parte 
do dia falando da vida 
alheia. 
Repressão  Excluir da consciência a 
fonte da ansiedade. 
 Este aspecto que não é 
percebido pelo indivíduo, 
faz parte de um todo e, 
ao ficar invisível, altera e 
deforma o sentido doNão ouvir o “não” na 
frase “não fume”. 
 
13 
 
todo. 
Racionalização  O indivíduo cria uma 
argumentação 
intelectualmente 
convincente para justificar 
estados “deformados” de 
sua própria consciência. 
Justificativa dos nazistas 
para o extermínio. 
Identificação  O indivíduo assimila um 
aspecto, uma 
propriedade, um atributo 
do outro e se transforma, 
total ou parcialmente, 
segundo o modelo desta 
pessoa. 
 Mecanismo inconsciente. 
Identificação da vítima 
com o agressor. 
Fonte: adaptado de Gazaninga e Heatherton (2005); Hall e Lindzey (1984) e Fadiman e Frager 
(1986). 
 
Como foi possível observar na tabela anterior, compreender os mecanismos 
de defesa é de suma importância para o profissional da psicologia que irá atuar na 
área hospitalar e da saúde. Como poderemos aprofundar em momentos posteriores, 
a doença não afeta o indivíduo apenas em seu corpo físico, mas é uma ameaça ao 
estado biopsicossocial e espiritual do mesmo. Da mesma forma que vemos 
facilmente os sintomas da doença no corpo – como um possível emagrecimento, 
palidez, queda dos cabelos, dentre outros sinais visíveis que as doenças podem 
acarretar – o estado psicológico do paciente fica muito abalado e também sofre 
alterações, igualmente perceptíveis. Corpo e mente são uma entidade única e 
indissociável. 
Os mecanismos de defesa ilustram como o psiquismo reage diante de 
situações adversas, portanto, certas reações do paciente tornam-se mais previsíveis 
e inteligíveis para o profissional da saúde. Importante destacar que os mecanismos 
de defesa não aparecem apenas em caso de doença, lançamos mão dos mesmos 
em nosso dia a dia frente às pequenas ameaças às quais estamos expostos. 
Entretanto, no caso de doença a ameaça torna-se real e o psiquismo, de forma 
inconsciente, tenta se adaptar às situações adversas de forma a evitar o sofrimento. 
 
2.2 Teorias Comportamentalistas 
 
Na década de 1950, a maioria das teorias psicológicas da personalidade era 
fortemente determinista, isto é, a personalidade e suas características 
14 
 
comportamentais associadas eram consideradas resultado de forças que 
estavam além do controle da pessoa. Como vimos, Freud acreditava que a 
personalidade era determinada por conflitos inconscientes. Em uma linha 
diferente, behavioristas como B. F. Skinner argumentaram que padrões de 
reforço determinavam tendências de resposta, que eram a base da 
personalidade (GAZZANINGA; HEATHERTON, 2005, p.474). 
 
Para Skinner, não há ego, eu ou personalidade, como a maioria dos teóricos 
costumam afirmar. Ao contrário das teorias psicodinâmica e humanista, por exemplo, 
no behaviorismo, os estudos são experimentais, científicos, o que inviabiliza o 
estudo da personalidade. “Se não podemos mostrar o que é responsável pelo 
comportamento do homem dizemos que ele mesmo é responsável pelo 
comportamento”. (FADIMAN; FRAGER, 1986, p.208). 
Os comportamentalistas falam que, se formos pensar numa definição de 
personalidade, devemos entendê-la como uma coleção de comportamentos. 
Situações diferentes evocam diferentes padrões de resposta, sendo cada uma delas 
individual e baseada apenas em experiências prévias e na história de vida do 
indivíduo. “Skinner argumenta que, se você basear a definição do eu em 
comportamento observável, não é necessário discutir o eu ou a personalidade” 
(FADIMAN; FRAGER, 1986, p.195). 
“Ao contrário dos que vêm a personalidade como o resultado de processos 
internos, behavoristas como B. F. Skinner viam a personalidade como pouco mais 
que respostas aprendidas e padrões de personalidade” (GAZZANINGA; 
HEARTHETON, 2005, p.477). Por isso, para compreender a personalidade nessa 
perspectiva, faz-se necessário entender alguns conceitos básicos do behaviorismo. 
Para o behaviorismo há dois tipos de comportamento que merecem 
destaque para nós: o respondente e o operante. Segundo Schultz e Schultz (1992), 
no comportamento respondente “a resposta comportamental é suscitada por um 
estímulo observável específico” (p.281), enquanto que no condicionamento operante 
“a resposta do organismo é aparentemente espontânea – no sentido de não estar 
relacionada com nenhum estímulo observável” (p.281). 
Segundo Maia (2008), relacionam-se ao comportamento respondente 
(reflexo) as interações estímulo-resposta entre ambiente-sujeito incondicionadas, ou 
seja, aqueles comportamentos provocados por estímulos antecedentes ao ambiente 
(exemplo: arreio de frio). Por outro lado, o comportamento operante é intencional, 
são aqueles relacionados diariamente de forma desejada (exemplo: ler um livro). 
15 
 
Papalia, Olds e Feldman (2006) sintetizam a definição de comportamento 
operante ao afirmar que nesse tipo de aprendizagem a pessoa repete o 
comportamento que foi reforçado e cessa o comportamento que foi punido. 
Conforme Schultz; Schultz (1992, p.281), “Outra diferença entre o 
comportamento respondente e o operante é que o comportamento operante opera 
no organismo, ao passo que o respondente não o faz”. 
Entende-se como reforço qualquer estímulo que possibilite o aumento da 
probabilidade de resposta, podendo os reforços ser positivos ou negativos. (MAIA, 
2008). Os reforços são mais eficazes quando seguem um comportamento 
imediatamente. 
 
O reforço positivo consiste em dar uma recompensa, como comida, troféu, 
dinheiro, elogio – ou brincar com um bebê. O reforço negativo consiste em 
tirar alguma coisa que o indivíduo não gosta (conhecido como evento 
aversivo), como, por exemplo, um ruído intenso (PAPALIA; OLDS; 
FELDMAN, 2006, p.73). 
 
Importante não confundir os conceitos de reforço negativo e punição. 
Enquanto o reforço negativo consiste em retirar do indivíduo algo que ele não goste 
(o que faz com que ele se sinta beneficiado com isso), a punição é definida como um 
estímulo experimentado após um comportamento (bater numa criança ou aplicar um 
choque elétrico num animal) ou retirar um evento positivo (não permitir assistir 
televisão ou ir ao recreio). 
 
Skinner e seus seguidores fizeram muitas pesquisas sobre problemas de 
aprendizagem, tais como o papel da punição na aquisição de respostas, o 
efeito de diferentes problemas de reforços, a extinção da resposta operante, 
o reforço secundário e a generalização. [...] No caso dos seres humanos, o 
comportamento operante envolve a resolução de problemas, reforçada pela 
aprovação verbal ou pelo conhecimento de ter dado a resposta correta 
(SCHULTZ; SCHULTZ, 1992, p.281). 
 
A punição é um exemplo de obstáculo ao crescimento do indivíduo, visto que 
apenas informa sobre o que não fazer, ao invés de tentar ensinar o que se deve 
fazer (FADIMAN; FRAGER, 1986). 
O comportamento verbal é, segundo Skinner, a única área em que há 
diferenças no condicionamento entre o homem e o rato. O comportamento verbal 
exige a interação de duas pessoas: um falante e um ouvinte. No caso da criança que 
está aprendendo as primeiras palavras, o adulto – o ouvinte – pode, através do seu 
16 
 
comportamento, reforçar, não reforçar ou punir a criança pelo que disse ou não 
disser, assim controlando seu comportamento subsequente. “Para Skinner, a fala é 
comportamento, estando, pois, sujeita, como qualquer outro comportamento, sujeita 
a contingências de reforço, de previsão e de controle” (SCHULTZ; SCHULTZ, 1992, 
p.284). 
Essa abordagem da personalidade enquanto pouco mais que respostas 
aprendidas e padrões de reforço foi alvo de crítica de outros teóricos cognitivistas, 
como Kelly e Bandura, os quais defenderam pontos de vista de que a personalidade 
vai além disso. Kelly defendeu a existência dos construtos pessoais, os quais se 
desenvolvem a partir da experiência e representam sua interpretação e explicação 
dos eventos no meio social no qual o indivíduo está inserido. Já Bandura propôs 
uma teoria cognitivo-social da personalidade que enfatiza como as crenças, 
expectativas e interpretações pessoais das situações sociaismoldam o 
comportamento e a personalidade. 
 
Albert Bandura aceita muitos dos princípios da teoria da aprendizagem, mas 
argumenta que os humanos possuem capacidades mentais, como crenças, 
pensamentos e expectativas, que interagem com o ambiente para 
influenciar o comportamento (GAZZANINGA; HEATERTHON, 2005, p.478). 
 
2.3 Teorias Humanistas 
Como foi visto nas teorias psicodinâmica e behaviorista, os teóricos dessas 
abordagens postulavam que a personalidade era determinada por forças superiores 
ao controle do indivíduo. Frente a esse panorama surgiram outras correntes, as 
quais enfatizavam a singularidade da condição humana. 
As abordagens humanistas apregoam a importância da experiência pessoal 
e seus sistemas de crenças na estruturação da personalidade. Além disso, 
postulavam que as pessoas buscam atingir seu potencial humano “as pessoas são 
vistas como seres holísticos e que se esforçam para chegar à realização pessoal” 
(GAZZANINGA; HEATHERTON, 2005, p.283). 
Seu principal representante é Rogers, com sua abordagem centrada na 
pessoa. Maslow também é uma figura de grande importância, muito citado dentre os 
profissionais de saúde, o qual estuda a teoria da motivação (GAZZANINGA; 
HEATHERTON, 2005). 
 
Em seu âmago, o humanismo enfatizava a experiência pessoal subjetiva, ou 
fenomenologia, e vê cada pessoa como inerentemente boa. A abordagens 
17 
 
humanistas à personalidade encorajam a pessoa a atingir o seu potencial 
individual de crescimento pessoal por meio de um maior autoentendimento; 
esse processo é referido como autorrealização (GAZZANINGA; 
HEATHERTON, 2005, p.474). 
 
Um conceito muito utilizado em várias teorias da personalidade – o self – 
apresenta uma conotação bastante diferenciada na visão de Rogers, a qual se difere 
do determinismo psíquico das teorias psicodinâmicas quando falam que a 
personalidade é relativamente estável ou imutável. 
Fadiman e Frager (1986) explicitam que Roger usa o termo self para se 
referir ao contínuo processo de reconhecimento, ou seja, as pessoas são capazes 
de mudança, de crescimento e desenvolvimento pessoal. “O self ou autoconceito é a 
visão que uma pessoa tem de si própria, baseada em experiências passadas, 
estimulações presentes e expectativas futuras” (p.227). 
Além do self, há também o self ideal que consiste na idealização que o 
indivíduo possui de si mesmo, sendo também passível de mudanças. A diferença 
entre o self e o self ideal é um indicador de desconforto, insatisfação e dificuldades 
neuróticas. A saúde mental reside na autoaceitação, o que não é sinônimo de 
resignação, mas sim o fato de estar mais próximo da realidade (FADIMAN; 
FRAGER, 1986). 
 
Rogers sugere que em cada um de nós há um impulso inerente em direção 
a sermos competentes e capazes quanto o que estamos aptos a ser 
biologicamente. Assim como uma planta tenta tornar-se saudável, como 
uma semente contém dentro de si impulso para se tornar uma árvore, 
também uma pessoa é e impelida a se tornar uma pessoa total, completa e 
auto-atualizada (FADIMAN; FRAGER, 1986, p.229). 
 
Rogers enfatizava a necessidade do terapeuta, durante o processo 
terapêutico, criar um ambiente amistoso, apoiador e aceitador, além de lidar com os 
problemas do seu cliente da forma que este os entende. A psicologia humanista 
enfatiza a experiência pessoal subjetiva (GAZZANINGA; HEATHERTON, 2005). 
 
A situação realimenta-se a si mesma. Cada experiência de incongruência 
entre o self e a realidade aumenta a vulnerabilidade, a qual, por sua vez, 
ocasiona o aumento de defesas, interceptando experiências e criando 
novas ocasiões de incongruência. (FADIMAN; FRAGER, 1986, p.231). 
 
 
18 
 
Segundo Rogers, a forma como os pais demonstram sua afeição pelos filhos 
e seu tratamento para com eles afeta o desenvolvimento da personalidade. Ele 
defende a ideia de que os pais devem amar seus filhos incondicionalmente, ou seja, 
aceitar e amar as crianças, independente de como elas se comportam. 
(GAZZANINGA; HEATHERTON, 2005). 
 
Os pais devem expressar sua desaprovação com relação a maus 
comportamentos, mas em um contexto em que garanta que as crianças 
sintam-se amadas [...] os filhos criados com consideração positiva 
incondicional desenvolverão um saudável sentimento de autoestima e serão 
capazes de se tornar, nos termos de Rogers, uma pessoa com 
funcionamento pleno (GAZZANINGA; HEATHERTON, 2005, p.475). 
 
Assim, observa-se que os relacionamentos interpessoais, os quais 
acontecem desde tenra idade, inicialmente com os pais, ocupam local de destaque 
nessa teoria. Fadiman e Frager (1986) demonstram que, para Rogers, a experiência 
com o outro capacita o indivíduo a descobrir, experienciar e encontrar o seu self de 
maneira direta. A personalidade torna-se visível para o indivíduo através do 
relacionamento com o outro. Ao mesmo tempo, as emoções também são de grande 
importância, pois um indivíduo saudável é aquele que toma consciência de suas 
emoções, sejam elas expressas ou não. “Sentimentos negados à consciência 
distorcem a percepção e a reação às experiências que os desencadearam” (p.234). 
Já Maslow propôs a teoria de necessidades da motivação, a qual é expressa 
através da pirâmide da hierarquia das necessidades. Os seres humanos tentam 
melhorar-se continuamente e quando atingem o ápice, a autorrealização, tornam-se 
verdadeiramente felizes e realizados (GAZZANINGA; HEATHERTON, 2005). 
 
Maslow acreditava que os humanos são impulsionados por muitas 
necessidades, que ele organizou numa hierarquia de necessidades, em que 
as necessidades de sobrevivência (como fome e sede) são inferiores e as 
necessidades de crescimento pessoal são superiores em termos de 
prioridade. Maslow acreditava que a satisfação das necessidades inferiores 
da hierarquia permitia que os humanos funcionassem num nível superior. 
As pessoas precisam ter suas necessidades biológicas satisfeitas, precisam 
sentir-se seguras, amadas e ter uma boa opinião de si mesmas para 
experienciar crescimento pessoal e atingir a autorrealização (GAZZANINGA; 
HEATHERTON, 2005, p.283). 
 
As necessidades fisiológicas são de vital importância, pois relacionam-se à 
sobrevivência, como alimentação, sono, abrigo, desejo sexual. Dentre as de 
segurança se incluem a busca de proteção e estabilidade. Satisfeitos esses dois 
19 
 
primeiros degraus da hierarquia surgem as necessidades sociais, que consistem na 
aceitação por parte dos companheiros e a busca de afeto e amor. “Quando estas 
necessidades não estão suficientemente satisfeitas, a pessoa torna-se resistente, 
antagônica e hostil com relação às pessoas que a cercam. A falta de amor e de 
afeição conduz à falta de adaptação social e à solidão” (LEONARDO, 2002, p.50). 
As necessidades de estima relacionam-se à aprovação pessoal, autoconfiança, 
necessidade de status e prestígio. E, finalmente, as necessidades de 
autorrealização caracterizam-se pela motivação da pessoa em tornar-se sempre 
mais do que é. 
 
Maslow define a neurose e o desajustamento psicológico como “doenças de 
carência”, isto é, são causadas pela privação de certas necessidades 
básicas, assim como a falta de certas vitaminas causa doenças. Os 
melhores exemplos de necessidades básicas são necessidades fisiológicas, 
tais como a fome, a sede e o sono. A privação leva de modo claro a uma 
consequente doença, e a satisfação dessas necessidades é a única cura 
para a doença. Em todos os indivíduos encontram-se necessidades básicas 
(FADIMAN; FRAGER, 1986, p.267-268). 
 
A figura a seguir ilustra cada uma dessas necessidades, sendo que as 
necessidades de sobrevivência encontram-se na base e as necessidades de 
autorrealização localizam-se no ápice. 
 
Figura 03: Pirâmide da Hierarquia das Necessidades de Maslow 
 
Fonte: Leonardo (2002, p.51). 
20 
 
Convém destacar que a teoria de Maslow serve de embasamento teórico 
para a educação, a administração, assim também como na área da saúde.Os 
profissionais da enfermagem estudam o teórico a partir da teoria de Wanda Horta, a 
qual estudou os pressupostos de Maslow e criou sua Teoria das Necessidades 
Básicas, a qual apregoa que: 
 
Baseado nas necessidades psicobiológicas, psicossociais e psicoespirituais, 
propõe uma metodologia para o processo de enfermagem focando o ser 
humano integral, na busca do equilíbrio bio-psico-sócio-espiritual 
(ALCANTARA et al., 2011, s.p.). 
 
É importante que o psicólogo hospitalar conheça a teoria da hierarquia das 
necessidades de Maslow e, mais do que isso, saiba que a mesma serviu de 
embasamento para outros teóricos, em especial a teoria de Horta, recém-citada. 
Como os profissionais da enfermagem estudam essa teoria e os mesmos fazem 
parte da equipe multiprofissional do hospital, é importante saber que a dinâmica de 
cuidados também é hierarquizada, partindo das necessidades de sobrevivência em 
direção ao ápice da pirâmide, onde estão as necessidades relacionadas às 
dinâmicas psicológicas, sociais e espirituais do paciente. Excetuando-se as 
necessidades básicas, relacionadas ao nível biológico, que são da práxis dos 
cuidados de enfermagem, cabe ao psicólogo hospitalar auxiliar para promover a 
satisfação das demais necessidades, sempre que possível. 
 
2.4 Teorias Culturalistas 
Ao contrário das teorias psicodinâmicas, as quais apregoam ser o homem 
um complexo sistema energético que realiza trocas com o mundo exterior em busca 
da sobrevivência, da propagação das espécies e do prosseguimento do processo 
evolutivo, foram se despontando outras teorias, as quais discordavam da concepção 
puramente biofísica do homem. 
 
Os sociólogos estudaram o homem altamente civilizado e descobriram que 
ele é o produto de sua classe e sua casta, das instituições e dos costumes; 
os antropólogos fizeram incursões em áreas remotas da civilização, onde 
foram encontrar provas de que os seres humanos são extremamente 
maleáveis. Segundo essas novas ciências sociais, o homem é, 
fundamentalmente, um produto da sociedade em que vive. Sua 
personalidade é mais social do que biológica (HALL; LINDZEY, 1984, 
p.177). 
 
21 
 
Dentre os teóricos, destacam-se Adler, Fromm, Horney e Sullivan, os quais, 
inicialmente psicanalistas, realizaram críticas à teoria psicanalítica e então 
desenvolveram seus próprios referenciais teóricos a partir de uma perspectiva 
culturalista (HALL; LINDZEY, 1984). 
 
Alfred Adler foi o fundador do sistema holístico da psicologia individual, que 
enfatiza uma abordagem a qual compreende cada pessoa como uma 
totalidade integrada dentro de um sistema social. [...] Adler argumentava 
que os objetivos e expectativas têm maior influência no comportamento que 
as experiências passadas, e acreditava que todo mundo é motivado 
principalmente pelo objetivo de superioridade ou conquista do meio. Ele 
também enfatizava o efeito das influências sociais em cada indivíduo e a 
importância do interesse social: um senso de comunidade, cooperação e 
preocupação com os outros. (FADIMAN; FRAGER, 1986, p.72) 
 
Para Adler, o homem é um ser social motivado pelas solicitações sociais, o 
interesse social se sobrepõe ao interesse individual. Esse interesse social é inerente 
e dá forma à personalidade. O centro da personalidade é a consciência. “O homem 
é um ser consciente; em geral ele tem consciência das razões do seu 
comportamento, de suas inferioridades e dos objetivos pelos quais luta” (HALL; 
LINDZEY, 1984, p.120). 
Adler inicialmente elaborou a sua teoria a partir de fundamentos da ordem 
do orgânico, por isso compreender alguns aspectos de sua teoria da personalidade 
se faz relevante para o psicólogo hospitalar e da saúde. 
 
Ele sugeriu que, em cada indivíduo, certos órgãos são de algum modo mais 
fracos que outros, o que torna a pessoa mais suscetível a doenças e 
enfermidades envolvendo estes órgãos mais frágeis. Adler também 
observou que pessoas com fraquezas orgânicas graves tentarão, com 
frequência, compensá-las, e um órgão antes fraco pode tornar-se 
fortemente desenvolvido por meio de treino e exercícios, via de regra 
resultando muito maior habilidade ou força do indivíduo (FADIMAN; 
FRAGER, 1986, p.74). 
 
A partir desses estudos sobre a inferioridade orgânica, Adler desenvolveu 
seus postulados sobre o complexo de inferioridade. Segundo ele, a criança, devido à 
sua condição inerente de fragilidade e dependência, carrega consigo um sentimento 
de inferioridade. Quando esse sentimento não é excessivo ele atua como agente 
motivacional para realizações construtivas. Associado a esse sentimento de 
inferioridade há um sentimento, relacionado à agressividade, de superioridade, o 
qual pode ser compreendido como a motivação para que o ser humano alcance o 
melhor de si. Essa luta pela superioridade não é patológica quando inclui 
22 
 
preocupações sociais e a busca pelo bem-estar do outro, não se restringindo à 
busca de realizar apenas coisas de interesses pessoais (FADIMAN; FRAGER, 
1986). 
O caminho pelo qual o homem percorre para atingir os seus objetivos é 
denominado estilo de vida “Adler considerava cada pessoa como uma configuração 
singular de motivos, traços, interesses e valores. Todos os atos realizados pela 
pessoa trazem o selo do seu próprio estilo de vida” (HALL; LINDZEY, 1994, p.120). 
 
O estilo de vida é uma compensação para uma determinada inferioridade. 
Uma criança de constituição franzina terá um estilo que a levará a fazer 
aquilo que produza força física. A criança deficiente procurará alcançar 
superioridade intelectual (HALL; LINDZEY, 1994, p.124). 
 
A inferioridade orgânica, a rejeição e a superproteção são obstáculos ao 
crescimento. Diretamente relacionada à práxis do psicólogo hospitalar está a 
questão da inferioridade orgânica. Segundo Adler, a criança que sofre de doenças 
tende a tornar-se autocentrada. É uma criança que, devido ao sentimento de 
inferioridade, evita interações sociais. Caso a criança consiga superar suas 
dificuldades, ela tende a compensar sua fraqueza original e desenvolver suas 
habilidades (FADIMAN; FRAGER, 1986). 
A partir do conceito de self criador, Adler postula que o homem forma sua 
própria personalidade a partir da hereditariedade e de sua própria experiência. 
 
O self criador é o fermento que age sobre os fatos e os transformam em 
uma personalidade que é subjetiva, dinâmica, pessoal e única em seu 
estilo. [...] A concepção da natureza da personalidade, segundo Adler, 
coincide com a ideia popular de que o homem pode ser o dono, e não uma 
vítima, do seu destino (HALL; LINDZEY, 1994, p.125). 
 
2.5 Bases biológicas da personalidade 
Ao contrário dos postulados das teorias apresentadas até aqui, as quais 
enfatizam a importância das experiências pessoais para a estruturação da 
personalidade, há linhas de pesquisa interessadas em investigar a base biológica da 
personalidade, as quais não desconsideram a importância do ambiente. 
Compreendem-se como processos biológicos os genes, as estruturas cerebrais e a 
neuroquímica. 
Nas últimas décadas, surgiram evidências indicando que os processos 
biológicos – como genes, estruturas cerebrais e neuroquímica – realmente 
desempenham um papel importante na determinação da personalidade. 
23 
 
Isso não significa que esses processos são insensíveis às experiências, e 
sim que servem como um projeto para os processos psicológicos que 
interagem com o ambiente, tal como a maneira pela qual as pessoas são 
socializadas ou as forças situacionais que enfrentam (GAZZANINGA, 
HEATHERTON, 2005, p.483-484). 
 
Alguns estudos tentam ilustrar as bases biológicas da personalidade, 
especialmente quando investigam a questão da genética em si, como é possível 
observar nos exemplos abaixo: 
Estudos com gêmeos (LOEHLIN; NICHOLS, 1976 apud GAZZANINGA; 
HEATHERTON, 2005): gêmeos monozigóticos apresentam mais semelhanças de 
personalidade que os dizigóticos, independente de quem faz a avaliação.Os 
gêmeos criados separados são mais semelhantes que os criados juntos, 
provavelmente porque os estilos parentais incentivam que cada um se sinta único e 
individual. 
Estudos de adoção (PLOMIN; CASPI, 1999 apud GAZZANINGA; 
HEATHERTON, 2005): irmãos adotados criados numa mesma família não são mais 
semelhantes em personalidade que desconhecidos comparados aleatoriamente. As 
personalidades dos filhos adotivos não têm nenhum relacionamento significativo 
com as personalidades dos pais adotivos, ou seja, estilos parentais podem ter 
relativamente pouco impacto sobre a personalidade. 
Os genes influenciam na personalidade, como se pode observar também em 
pesquisas sobre o temperamento, que pode ser compreendido como caráter 
individual da constituição de uma pessoa que afeta, de forma relativamente 
permanente, sua maneira de agir, sentir e pensar. Estudos com bebês mostram que 
diferenças de personalidade existentes desde muito cedo indicam ação de 
mecanismos biológicos. As experiências podem alterar traços de personalidade, 
porém os temperamentos representam a estrutura inata da personalidade. 
 
Os genes agem para produzir temperamentos, que influenciam a maneira 
pela qual as crianças respondem ao seu ambiente e lhe dão forma, o que, 
por sua vez, interage com o temperamento para moldar a personalidade 
(GAZZANINGA; HEATHERTON, 2005, p.487). 
 
24 
 
UNIDADE 3 – QUEIXA EM SAÚDE E ESCUTA CLÍNICA 
 
Iniciaremos esta seção com uma citação que fala sobre a consulta médica. 
Pode parecer estranho, visto que a apostila é sobre psicologia hospitalar, porém 
aqui mostramos que, independente da causa ser de ordem física e/ou psicológica, a 
abordagem dos profissionais da saúde, sejam de qual área de atuação, deve ser de 
acolhimento e com objetivos terapêuticos. 
 
A consulta médica é um momento de encontro entre duas pessoas, na 
intimidade de um consultório: de um lado, o paciente que está doente; de 
outro lado, o médico que, numa posição mais confortável, deverá cuidar do 
paciente e da sua doença. Um buscando ajuda e outro apto a ajudar a 
buscar seu bem-estar. 
Este encontro inicia-se quando o paciente adentra a sala do médico. A partir 
daí, duas pessoas, médico e paciente, passam a interagir, ligados por uma 
queixa, por uma doença, apresentadas pelo segundo (LEANDRO, 1998, 
p.77). 
 
Em consonância com o que foi elucidado, Cordioli (2008) aborda a questão 
da psicoterapia e sua evolução no decorrer do percurso histórico. Segundo o autor, 
no decorrer do século XX, a psicoterapia deixou de ser exercida apenas pelos 
psiquiatras e passou a ser utilizada por diversos profissionais da saúde como 
médicos clínicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, demonstrando, assim, 
que a mesma ultrapassou o modelo médico. Entretanto, mesmo com essa 
ampliação na diversidade de profissionais que recorrem à “cura pela fala”, termos 
como paciente, diagnóstico, doença, etiologia, plano de tratamento, indicações e 
contraindicações mostram que a psicoterapia continua diretamente relacionada à 
sua origem médica. 
Independente de estar se referindo à consulta médica ou à psicoterapia em 
particular, a relação profissional-paciente deve ser marcada por algumas 
características. Leandro (1998) elucida que na consulta cabe ao médico receber seu 
paciente cordialmente e instigá-lo a fornecer dados sobre sua queixa principal (o 
motivo que o levou até ali). Normalmente, se o profissional ficar preso a roteiros 
preestabelecidos e perguntas prontas nesse momento ele pode ter dificuldades em 
compreender a queixa de seu paciente, que, em muitas vezes, é confusa, demorada 
e repetitiva. Além de ouvir o relato do paciente, torna-se essencial compreender o 
que foi dito, usando essa compreensão como ação terapêutica, ou seja, mostrando 
ao paciente tudo o que foi compreendido. Três pontos são importantes para o 
25 
 
desenrolar favorável de uma consulta: o tempo, o espaço e a execução da função 
médica. 
O autor aponta a importância do tempo e do espaço para a consulta médica, 
o que também é extremamente relevante na psicoterapia. Entretanto, na psicologia 
hospitalar, esse tempo e esse espaço não possuem a mesma conotação. Diferente 
do que acontece no contexto da psicoterapia, não é o cliente que vai até o 
psicoterapeuta, mas, na maioria das vezes, é o psicólogo hospitalar quem vai até o 
seu paciente, o qual pode estar impossibilitado de se locomover. Não há um 
ambiente específico para que a escuta e a intervenção psicológica aconteçam; não 
há um tempo determinado e nem de periodicidade definida. Tudo depende das 
possibilidades, em especial as possibilidades do paciente, do local. 
O paciente busca uma relação profissional de ajuda – psicoterapia – porém, 
ele poderia procurar o alívio para a sua queixa, por exemplo, através de métodos 
baseados em crenças religiosas. Através da fé, ele também pode conseguir alcançar 
resultados satisfatórios, entretanto esse tipo de relação não é uma psicoterapia 
(CORDIOLI, 2008). 
O paciente / cliente possui uma queixa principal, ou seja, o motivo que o 
levou a buscar ajuda. Ao contrário dos outros profissionais de saúde, como médicos, 
enfermeiros e fisioterapeutas, as intervenções do psicólogo não são direcionadas ao 
corpo do paciente, mas visam trabalhar com sua dimensão psicológica. Como 
veremos num outro momento desse curso, corpo e mente encontram-se interligados, 
então podemos afirmar que as intervenções psicológicas visam abordar o homem 
em sua totalidade biopsicossocial e espiritual. Existem várias teorias que embasam 
a atuação do psicólogo, mas, no geral, sua atuação se dá através da escuta clínica e 
da fala – meio pelo qual as intervenções psicológicas são realizadas. Saber ouvir a 
queixa do paciente é essencial. 
Assim, para prosseguirmos nos nossos estudos, faz-se necessário 
compreender algumas diferenças entre a psicoterapia e a psicologia hospitalar. 
 
3.1 Relações interpessoais e o papel do psicólogo 
Os reacionamentos interpessoais – ou relações humanas – dependendo da 
denominação do autor são, como afirma Weil (2002), especialidades do psiquiatra, 
psicólogo, sociólogo, assistente social e educador especializado, porém esses 
relacionamentos se encontram presentes onde se encontram pessoas reunidas, 
26 
 
sejam nas famílias, no trabalho, na educação, nas organizações em geral, enfim, em 
todos os locais. O psicólogo que atua em organizações deve estudar as relações 
humanas em busca de promover uma melhoria na comunicação entre as pessoas, o 
que pode ser um grande diferencial para o paciente e seu tratamento. 
 
O estudo das relações humanas constitui, hoje, verdadeira ciência 
complementada por uma arte – a de obter e conservar a cooperação e a 
confiança dos membros do grupo […] Problemas de relações humanas se 
encontram nas relações do indivíduo com o grupo, dos indivíduos entre si, 
do grupo com outros grupos, do líder com o grupo, do indivíduo com o líder. 
Onde se encontram dois indivíduos há problema de relações humanas. 
(WEIL, 2002, p. 15). 
 
Lazzaretti et al. (2007) ressaltam que o psicólogo hospitalar lida diretamente 
com o paciente, com a família e a equipe e é importante que atue de forma a 
promover uma comunicação satisfatória entre todos estes. Essa é a chamada 
função de intercâmbio entre a equipe e o paciente: 
 
Melhor seria que o psicólogo não assumisse este lugar de intercâmbio – tal 
como dar diagnóstico ao paciente – pois, se existem dificuldades de 
comunicação, existe indisponibilidade de algum dos lados. Ao assumir esta 
tarefa, estará passando por cima da possibilidade de trabalhar os 
verdadeiros motivos que impedem a equipe ou o paciente de falar sobre 
esta dificuldade, normalmente ligada à angústia de ambos (LAZZARETTI et 
al., 2007, p.29). 
 
Os autores supracitados afirmam que o trabalho do psicólogo na instituição 
de saúde é multidisciplinar, porém a inserção do psicólogo na equipe podedenotar 
uma dificuldade. 
 
[...] se de um lado pode haver incredulidade dos demais profissionais, por 
outro lado pode haver insegurança e talvez falta de definição do próprio 
psicólogo, que fantasia que seu lugar está pronto, bastando ocupá-lo sem 
se dar ao trabalho de construí-lo. Sem dúvida não é um trabalho fácil, pois o 
psicólogo não tem o mesmo paciente que o médico (LAZZARETTI et al., 
2007, p.29). 
 
Para falarmos sobre a queixa em saúde e a importância da escuta clínica 
neste contexto, fez-se relevante contextualizar sobre a psicoterapia. Agora iremos 
detalhar mais sobre a psicoterapia, a psicologia hospitalar e, mais especificamente, 
sobre a modalidade terapêutica denominada psicoterapia breve, a qual é de grande 
aplicabilidade no contexto hospitalar. 
27 
 
3.2 Psicoterapia 
A psicoterapia já está presente na área da saúde há muitos anos e 
inicialmente foi denominada cura pela fala. Ao final do século XIX passou a ser 
utilizada pelos psiquiatras no tratamento das doenças “nervosas e mentais” – termo 
utilizado para se referir aos problemas relacionados ao cérebro e à mente 
(WAMPOLD 2001 apud CORDIOLI, 2008). 
 
[...] A psicoterapia é um método de tratamento mediante o qual um 
profissional treinado, valendo-se de meios psicológicos, especificamente, a 
comunicação verbal e a relação terapêutica, realiza, deliberadamente, uma 
variedade de intervenções, com o intuito de influenciar um cliente ou 
paciente, auxiliando-o a modificar problemas de natureza emocional, 
cognitiva e comportamental, já que ele o procurou com essa finalidade 
(STRUPP, 1978 apud CORDIOLI, 2008, p.21) 
 
Essa outra definição também explica o que é psicoterapia: 
 
A psicoterapia, independentemente de sua orientação teórica, tem como 
seus principais objetivos levar o paciente ao autoconhecimento, ao 
autocrescimento e à cura de determinados sintomas (ANGERAMI-
CAMON,1995, p.19). 
 
Segundo o mesmo autor, a demanda de ajuda parte do próprio paciente que, 
antes mesmo de chegar até o psicólogo, já avaliou a necessidade do tratamento e 
suas possíveis implicações. A relação é exclusiva entre terapeuta-paciente, sem a 
mediação de nenhuma instituição. 
Ao chegar até o psicólogo, o paciente será enquadrado no setting 
terapêutico e as normas do processo serão explicitadas pelo terapeuta, tais como 
duração das sessões, horários, dentre outros detalhes. As sessões normalmente 
não são interrompidas, o que aumenta a privacidade. “O setting terapêutico assim 
resguarda a sessão para que todo o material catalizado naqueles momentos seja 
apreendido e elaborado de maneira absoluta” (ANGERAMI-CAMON,1995, p.21). 
A psicoterapia é uma relação face a face, uma atividade colaborativa entre o 
paciente e o terapeuta, “ao invés de uma predominantemente unilateral, exercida por 
alguém sobre outra pessoa, como ocorre em outros tratamentos médicos (exemplo 
cirurgia)” (CORDIOLI, 2008, p.21). 
As psicoterapias, independente da linha abordada, apresentam algumas 
características básicas, as quais serão elucidadas de forma a concluir esse 
raciocínio: 
28 
 
 É um método de tratamento realizado por um profissional treinado, com 
o objetivo de reduzir ou remover um problema, queixa ou transtorno 
definido de um paciente ou cliente que deliberadamente busca ajuda. 
 O terapeuta utiliza meios psicológicos como forma de influenciar o cliente 
ou paciente. 
 É realizada em um contexto primariamente interpessoal (a relação 
terapêutica). 
 Utiliza a comunicação verbal como principal recurso. 
 É uma atividade eminentemente colaborativa entre paciente e terapeuta 
(CORDIOLI, 2008, p.21). 
 
3.3 Psicologia hospitalar 
A finalidade geral da psicologia hospitalar difere-se daquela proposta pela 
psicoterapia, pois essa visa minimizar, no paciente, os sofrimentos causados pela 
hospitalização. Entende-se como sofrimento aqueles decorrentes da doença que 
culminou com a internação hospitalar, como as sequelas emocionais acarretadas 
pelo processo de hospitalização em si. Possui algumas diferenças em relação 
àquelas apontadas na psicoterapia: 
 
A Psicologia Hospitalar, por outra parte, contrariamente ao processo 
psicoterápico não possui setting terapêutico tão definido e preciso. Nos 
casos de atendimentos realizados em enfermarias, o atendimento do 
psicólogo, muitas vezes, é interrompido pelo pessoal de base do hospital, 
seja para aplicação de injeções, prescrição medicamentosa numa 
determinada faixa horária, seja ainda para processo de limpeza e assepsia 
hospitalar. O atendimento dessa forma terá que ser efetuado levando-se em 
conta todas essas variáveis além de outros aspectos mais delicados [...] 
(ANGERAMI-CAMON,1995, p.25) 
 
No âmbito hospitalar, ao contrário do que acontece na psicoterapia, é o 
psicólogo quem normalmente chega até o paciente em seu leito. Para que o 
psicólogo chegue até o paciente normalmente se faz necessário um 
encaminhamento por parte de outros profissionais de saúde, os quais percebem que 
há, por parte dele, uma demanda de ajuda e, mais do que isso, o paciente também 
está em concordância com essa ajuda profissional. Caso ocorra de outra forma, ou 
seja, com a chegada do psicólogo antes da anuência do paciente, a intervenção 
psicológica pode não ter o papel desejado e, mais do que isso, há desrespeito à 
condição humana do paciente. O psicólogo que não respeita os limites do paciente, 
mesmo que detecte que há necessidade de intervenção, acaba se tornando mais um 
dos elementos invasivos que agridem o paciente em sua condição humana na 
instituição hospitalar (ANGERAMI-CAMON,1995). 
29 
 
E como ocorrem as intervenções do psicólogo hospitalar? Na maioria das 
vezes as intervenções são realizadas na forma de psicoterapia breve. 
 
3.4 Psicoterapia breve 
As psicoterapias breves ou intervenções de crise servem para auxiliar o 
paciente a superar dificuldades momentâneas (CORDIOLI, 2008) e é um tipo de 
intervenção muito utilizada na psicologia hospitalar. 
Lemgruber (2008) elucida que a psicoterapia breve possui tempo limitado (7 
a 40 sessões em média), com periodicidade de uma a duas sessões por dia. 
Terapeuta e paciente ficam dispostos frente a frente e as técnicas utilizadas são 
elaboradas e modificadas a partir de princípios gerais (de origem psicodinâmica ou 
cognitivo-comportamental). 
Segundo a mesma autora, as psicoterapias breves surgiram como uma 
tentativa de se minimizar o tempo de tratamento que normalmente era demandado 
pela psicanálise. Atualmente, torna-se uma alternativa viável visto que, no âmbito da 
comunidade, a maioria das pessoas procura acompanhamento psicoterápico a partir 
de seu plano de saúde, o qual limita o número de sessões disponibilizadas por ano. 
Assim, o atendimento psicoterápico passa a ser voltado a situações de crise e 
problemas emergenciais. 
As psicoterapias breves ou terapias focais (TF) são indicadas para os 
seguintes casos: 
 
A TF tem indicação específica para as situações de crise que, em sua 
maioria, estão enquadradas no eixo IV da avaliação multiaxial do DSM-IV, 
classificados como problemas interpessoais e/ou conflitos emocionais, e 
também no eixo I, classificados entre os transtornos de ansiedade, de 
depressão e de ajustamento (LEMGRUBER, 2008, p.183). 
 
Por outro lado, a autora aponta alguns fatores de exclusão para esse tipo de 
psicoterapia. Dentre eles podemos destacar a falta de motivação, falta de controle 
dos impulsos agressivos, doenças clínicas, transtornos orgânicos, psicóticos e 
dependência química. 
Além de ser uma linha bastante versátil para atuação clínica na comunidade 
(ambulatório / consultório), a psicoterapia breve é uma importante aliada do 
psicólogo hospitalar. 
 
30 
 
UNIDADE 4 – ABORDAGENS TEÓRICO/CLÍNICAS QUE 
FUNDAMENTAM O TRABALHO DO PSICÓLOGO 
HOSPITALAR E DA SAÚDE 
 
Optamos iniciar esse material com a definição de personalidade e alguns 
referenciais teóricos acerca do tema, poisé sabido que se faz indispensável ao 
psicólogo, independente de sua área de atuação, compreender o ser humano em 
sua totalidade. O estudo da personalidade mostra como o ser humano se estrutura 
enquanto indivíduo único e singular, com traços estáveis e marcantes que o 
caracterizam enquanto ser ímpar, porém sabemos que em alguns momentos 
observam-se algumas alterações na personalidade. Essa instabilidade dos traços 
ocorre, por exemplo, em situação de doença, já que se quebra a harmonia da ordem 
do biológico, psicológico, social e espiritual. Para lidar com esses eventos adversos, 
o profissional da psicologia merece destaque por atuar numa equipe 
multiprofissional, onde juntos os diferentes saberes visam ao cuidado integral do ser 
humano em situação de fragilidade. 
São muitas as abordagens teórico-clínicas que fundamentam a Psicologia 
Hospitalar. Lazzareti et al. (2007) apontam que já foram registradas atuações desse 
profissional nas seguintes linhas: 
 Behaviorismo; 
 Gestalt; 
 Neuropsicologia; 
 Psicanálise; 
 Psicodrama; 
 Psicologia Analítica; 
 Terapia Sistêmica; 
 Psicoterapia de grupo. 
Todas essas abordagens utilizam a comunicação verbal no contexto de uma 
relação interpessoal, entretanto, as mesmas se diferem quanto ao racional ou 
quanto à explicação que oferecem para as mudanças que desejam alcançar com 
seus clientes. Cordioli (2008) aponta explicações utilizadas por algumas das linhas 
que serão discutidas a seguir, dentre elas: 
 
31 
 
Para as teorias psicodinâmicas, o insight é considerado o principal 
ingrediente terapêutico; para as terapias comportamentais, são as novas 
aprendizagens; para as teorias cognitivas, é a correção de pensamentos ou 
as crenças disfuncionais; para as terapias familiares, é a mudança de 
fatores ambientais ou sistêmicos; e, para as terapias de grupo, é o uso de 
fatores grupais (p.21). 
 
Não está no escopo deste material descrever as técnicas utilizadas, visto 
que as técnicas psicológicas são exclusivas do profissional da psicologia e esse 
curso visa oferecer subsídios não apenas para a formação do psicólogo hospitalar, 
mas para todos os profissionais da equipe multiprofissional de saúde que visam uma 
atuação interdisciplinar no contexto hospitalar. Essa seção pretende demonstrar as 
teorias e práticas psicoterápicas que embasam o trabalho do psicólogo hospitalar e 
suas intervenções, já as técnicas utilizadas para desenvolver o trabalho são o 
“instrumento de trabalho” que o psicólogo utiliza dentro de sua linha de atuação e 
fica subentendido que o mesmo já as carrega consigo. 
 
4.1 Behaviorismo / Terapia comportamental / Terapia Cognitivo-
comportamental 
Desde os seus primórdios, o behaviorismo carrega consigo a marca de uma 
psicologia científica, nascida em laboratórios e fundamentada em pesquisas 
realizadas com animais e seres humanos. No âmbito hospitalar isso não é diferente, 
o psicólogo comportamental (ou analista do comportamento) deve embasar sua 
atuação na cientificidade, portanto, estudos científicos e epidemiológicos servem 
como embasamento teórico para as intervenções. “A terapia comportamental (TC) 
baseia-se nas teorias e nos princípios da aprendizagem para explicar o surgimento, 
a manutenção e a eliminação dos sintomas.” (CORDIOLI, 2008, p.31) 
Na área da saúde, a atuação do analista de comportamento acontece em 
hospitais, ambulatórios e unidades de atenção primária à saúde. Há uma 
preocupação não apenas com os problemas já instalados, como também para a 
prevenção dos mesmos (LAZZARETTI et al., 2007). 
 
Ao inserir-se em ambientes de saúde, o analista do comportamento deve 
levar em consideração que o paciente não foi em busca de atendimento, tal 
como em uma clínica privada, e em grande parte das vezes este não 
apresenta quadros psicopatológicos graves, mas sim, uma doença 
orgânica, que gera uma demanda psicológica específica. Esta demanda 
pode ser compreendida como necessidade de comunicação adequada com 
a equipe de saúde, necessidade de suporte emocional e/ou social e 
surgimento de quadros psicológicos transitórios em função de 
32 
 
características psicológicas anteriores. Estes fatores sugerem intervenções 
pontuais, focando o problema no contexto específico em que ocorrem, 
através da análise das contingências em atuação no momento e local em 
que ocorrem. Aqui, o foco da análise é a variável de controle imediato 
(LAZZARETTI et al., 2007, p.35). 
 
Inicialmente ocorre a análise comportamental, momento em que o terapeuta 
investiga detalhadamente a situação do paciente (sintomas, condições que 
determinam o seu aparecimento, antecedentes, consequências, eventos 
desencadeantes, cognições e mecanismos desenvolvidos pelo paciente para 
diminuir sua ansiedade). Após esta etapa, inicia-se o tratamento, que é 
compreendido como uma nova aprendizagem. Para o tratamento em si, o terapeuta 
lança mão de uma série de técnicas, as quais não serão explicitadas aqui. Convém 
destacar que, dentre as indicações para esse tipo de abordagem, encontram-se 
problemas como obesidade, hipertensão, asma, insônia, dor crônica, cefaleia e 
câncer – condições diretamente relacionadas à área de atuação do psicólogo 
hospitalar (CORDIOLI, 2008). 
Além da terapia comportamental (a qual foi descrita no parágrafo anterior), a 
terapia cognitivo-comportamental (TCC) aparece uma integração entre a 
comportamental e a cognitiva, a qual se caracteriza como “uma modalidade de 
terapia que utiliza esses dois tipos de abordagens” (CORDIOLI, 2008, p.32). 
A TCC possui duração breve, entre 10 e 20 sessões. O terapeuta ajuda o 
paciente a utilizar seus próprios recursos para identificar crenças disfuncionais, as 
quais serão corrigidas por meio do exame das evidências e da geração de 
pensamentos alternativos. As sessões são estruturadas e o paciente conta também 
com tarefas para casa. A relação terapêutica entre terapeuta e paciente é essencial 
(CORDIOLI, 2008). 
 
4.2 Gestalt 
A abordagem da gestalt apregoa que a relação terapêutica é responsável 
por mudanças no terapeuta e no cliente. É uma abordagem focada no aqui e agora. 
A gestalt-terapia visa levar o indivíduo ao desenvolvimento, pois o homem é 
percebido como agente de mudanças. (LAZZARETTI et al., 2007) 
 
O principal objetivo é o terapeuta levar o cliente a tomar consciência de sua 
situação atual de vida, bloqueios, assim como ansiedade pela vida futura e 
dificuldades que afetam consideravelmente a vida presente, acarretando 
33 
 
dificuldades de ajustamento e de relacionamento. Ao entrar em contato com 
suas dificuldades, a pessoa se depara com frustrações e isto favorece o 
crescimento, pois é através delas que o indivíduo dirige sua energia, a fim 
de mudar. Sendo assim, na maioria das vezes, as mudanças vão ocorrer, 
depois de um grande sofrimento e dedicação (LAZZARETTI et al., 2007, 
p.36). 
 
Segundo os mesmos autores, o indivíduo é considerado como um todo, ou 
seja, possui corpo, mente e vive em interação com seu meio social. O papel do 
terapeuta é auxiliar o paciente a se ver no mundo, como um ser que possui 
potencialidades e, em algumas situações cabe a ele mudar ou aceitar-se como ele 
é. 
 
O sintoma se solidifica quando o indivíduo não consegue descobrir novas 
soluções para seus problemas ou um efeito que lhe dê satisfação. Atitudes 
compensatórias do organismo podem ser tanto físicas quanto mentais e, em 
geral, ocorrem de maneira inconsciente. [...] 
O psicólogo hospitalar deve trabalhar o sintoma, que significa trabalhar o 
real e o irreal da pessoa. O sintoma como resistência múltipla (físico-mental) 
se coloca entre o desejo e a proibição, porque ele surge como solução 
provisória de uma ansiedade maior. 
O psicólogo deve saber respeitar a resistência, pois ela pode indicar que o 
paciente ainda não tem suporte suficiente para entrar em determinados 
conteúdos. Não é necessariamente uma patologia, mas uma forma de 
relacionar-secom o mundo (LAZZARETTI et al., 2007, p.36). 
 
4.3 Neuropsicologia 
A neuropsicologia é uma área em expansão, a qual recebeu influências 
acadêmicas da Neurologia, Biologia, Psiquiatria, Fonoaudiologia e Psicologia. 
Possui grande relevância tanto na área da avaliação, quanto na área da reabilitação 
(LAZZARETTI et al., 2007). 
 
A Neuropsicologia Clínica se inseriu definitivamente nos centros de 
pesquisa e clínica neurológica/neuropediátrica, atuando na investigação das 
funções cognitivas superiores de pacientes com doenças que envolvem o 
sistema nervoso central e seus dados são correlacionados com os exames 
neurológicos, neurofisiológicos e de imagem. O mesmo ocorreu nos campos 
da psiquiatria e da geriatria. Ao psicólogo hospitalar cabe conhecer os 
fundamentos da Neuropsicologia, princípios básicos de avaliação 
neuropsicológica e métodos breves de exame para corretamente indicar. A 
Neuropsicologia Clínica se inseriu definitivamente nos centros de pesquisa 
e clínica neurológica/neuropediátrica, atuando na investigação das funções 
cognitivas superiores de pacientes com doenças que envolvem o sistema 
nervoso central e seus dados são correlacionados com os exames 
neurológicos, neurofisiológicos e de imagem. O mesmo ocorreu nos campos 
da psiquiatria e da geriatria. Ao psicólogo hospitalar cabe conhecer os 
fundamentos da Neuropsicologia, princípios básicos de avaliação 
neuropsicológica e métodos breves de exame para corretamente indicar 
avaliações mais aprofundadas. Ao neuropsicólogo que atua em ambiente 
34 
 
hospitalar cabe conhecer Psicologia Clínica e Hospitalar, para melhor 
integrar a equipe multidisciplinar (LAZZARETTI et al., 2007, p.38-39). 
 
No Brasil merece destaque a Sociedade Brasileira de Neuropsicologia 
(SBNp, s.d.), entidade que apoia e divulga o estudo das funções cognitivas humanas 
e seus respectivos distúrbios em pacientes que sofreram lesões cerebrais. Dentre os 
profissionais especializados na neuropsicologia, além dos psicólogos, merecem 
destaque os médicos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, pedagogos, dentre 
outros, o que a caracteriza como uma ciência multi, inter e transdisciplinar. Merecem 
destaque as áreas da saúde e da educação e, dentre os temas pesquisados pela 
neuropsicologia, podem-se destacar o transtorno do déficit de atenção e 
hiperatividade (TDAH), as demências, dentre outras condições que podem ser de 
interesse do psicólogo hospitalar. 
 
4.4 Psicanálise 
Segundo Cordioli (2008), na psicanálise, as sessões podem acontecer de 3 
a 5 vezes por semana e duram de 45 a 50 minutos. O tratamento pode durar por 
vários anos. O analista adota uma postura neutra, senta-se atrás do paciente, o qual 
expõe livremente suas ideias pelo método da associação livre (o qual será elucidado 
a seguir). O analista interrompe algumas associações do paciente de forma que se 
estabeleçam conexões entre suas emoções, fantasias e a pessoa do terapeuta 
(transferência). 
 
O saber da medicina e o saber do psicanalista são de ordens heterogêneas, 
trafegam na contramão um do outro e seus objetos são completamente 
distintos. Por esta razão – e sobretudo por esta – o médico e o psicanalista 
podem trabalhar juntos se não tiverem – um ou outro – a ilusão da 
reciprocidade, da linguagem comum e da complementaridade. Podem se 
auxiliar mutuamente, mas a manutenção da diferença entre as duas ordens 
de saber é que pode derivar em eficácia de trabalho. (LAZZARETTI et al., 
2007, p.40). 
 
A psicanálise é uma linha de ação bastante difundida nos hospitais. Tendo o 
inconsciente como objeto de estudo, possibilita a atuação do psicanalista no 
hospital, já que considera o tempo lógico do sujeito (o inconsciente é atemporal). A 
partir desse pressuposto, o tempo atinge uma conotação simbólica, diferenciada da 
concepção de tempo e das formas de medir esse que dispomos em nossa realidade. 
35 
 
Assim, uma intervenção, em determinados pacientes, pode ser eficaz mesmo se for 
única, pois obedece a este tempo lógico do paciente (LAZARETTI et al., 2007). 
É necessário enfatizar que houve uma série de mudanças relacionadas à 
psicanálise desde a época de Freud. Nos primórdios, o paciente era o sofredor de 
sintomas clássicos, como a histeria, já atualmente, a psicanálise não se vê restrita à 
eliminação de sintomas histéricos, fóbicos e obsessivos. A busca da psicanálise se 
dá em função de diversos sintomas, tais como transtornos do sentimento de 
identidade, quadros depressivos, estresse, angústia leve, baixa autoestima, 
patologias regressivas, somatizadores, transtornos alimentares, “patologia do vazio”, 
dentre outros (ZIMERMAN, 2004). 
A associação livre é a regra do método psicanalítico e é pressuposto 
essencial ao trabalho do psicanalista, mesmo na instituição hospitalar. A 
transferência estabelecida entre analista e paciente muitas vezes acontece em 
divergência do saber do médico (LAZARETTI et al., 2007). 
Cordioli (2008) define a associação livre, a regra fundamental da psicanálise. 
“O paciente é orientado a expressar livremente e sem censura os seus 
pensamentos, sentimentos, fantasias, sonhos, imagens, assim como as associações 
que lhe ocorrem, sem prejulgar sua relevância ou significado” (p.24). 
 
4.5 Psicodrama 
O psicodrama visa abordar as relações interpessoais, por isso sua 
aplicabilidade ocorre também na instituição hospitalar, espaço marcado por várias 
interações. Pode ser realizado individualmente ou em grupo e consiste, 
basicamente, na representação dramática como centro dos conflitos humanos, 
buscando trabalhar no aqui e agora, passado, presente e futuro (LAZZARETTI et al., 
2007). 
 
Neste sentido, a Teoria Psicodramática pode fundamentar e facilitar as 
tarefas de diagnóstico, acompanhamento e planejamento do psicólogo, bem 
como a sensibilização e transformação dos profissionais e a incorporação 
em seu trabalho do "entendimento das dinâmicas institucionais". [...] Na 
Clínica Hospitalar, encontramos o indivíduo vivenciando uma experiência 
antagônica, muitas vezes ao seu cotidiano. O momento pode se constituir 
de expectativa, dor, medo, abandono, trauma psicológico e físico, entre 
outros. Esse momento pode ser utilizado como campo de trabalho para o 
Psicodrama. Um acidente de trânsito, uma patologia incapacitante ou de 
longo tratamento pode desencadear ou mobilizar vivências internas 
anteriores, mal adaptadas, influenciando negativamente na relação do 
36 
 
paciente com a equipe hospitalar e com o processo do adoecer 
(LAZZARETTI et al., 2007, p.42). 
 
O psicólogo pode realizar, dentro do hospital, tarefas assistenciais, docentes 
e organizacionais. Sua atuação será destinada a atender o paciente em seu 
processo com a enfermidade, realizar diagnósticos e atuar a nível de prevenção, 
humanizando a realidade hospitalar (LAZZARETTI et al., 2007). 
 
Através da utilização de algumas das técnicas do psicodrama, podemos 
observar o aumento da autoestima, diminuição da ansiedade, elaboração do 
sentido de perda, elaboração da imagem e esquema corporal, 
esclarecimento de concepções errôneas, liberação e conscientização dos 
sentimentos e sensações. (LAZZARETTI et al., 2007, p.42). 
 
4.6 Psicologia Analítica 
A psicologia analítica, ou Junguiana, é marcada pelo estudo dos símbolos, 
do inconsciente, inconsciente coletivo e consciente. Nesse processo terapêutico, 
evita-se o uso de técnicas, “porque se pretende elucidar as circunstâncias 
conscientes e inconscientes que tornam a doença possível e que a sustentam no 
presente.” (LAZZARETTI et al., 2007, p.45). 
 
No hospital, é indispensável compreender a subjetividade, isto é, como a 
enfermidade incide e o sentido que tem para aquele que adoece. 
Lembrando que existe uma justaposição de conteúdos peculiares, 
universais do ser humano e valores do coletivo social. A doença tem para a 
Psicologia Analítica uma função: possibilitar uma revisão do que se fez na 
própria existência. 
Sendo assim,

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