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EXTORSÃO 1. ESTRUTURA DO TIPO PENAL DO ART. 158, CP Constranger significa tolher a liberdade, forçando alguém a fazer alguma coisa. É justamente a diferença do roubo, cujo núcleo é subtrair, demonstrando que o agente, neste caso, prescinde da colaboração da vítima, pois tem o bem ao seu alcance. A diferença concentra-se no fato de a extorsão exigir a participação ativa da vítima fazendo alguma coisa, tolerando que se faça ou deixando de fazer algo em virtude da ameaça ou da violência sofrida. Enquanto no roubo o agente atua sem a participação da vítima, na extorsão o ofendido colabora ativamente com o autor da infração penal. Exemplo de roubo: para roubar um carro, o agente aponta o revólver e retira a vítima do seu veículo contra a vontade desta. No caso da extorsão, o autor aponta o revólver para o filho do ofendido, determinando que ele vá buscar o carro na garagem da sua residência, entregando-o em outro local predeterminado, onde se encontra um comparsa. Na primeira situação o agente toma o veículo da vítima no ato da grave ameaça, sem que haja ação específica do ofendido, que simplesmente não resiste. Na segunda hipótese, a própria vítima busca o veículo, entregando-o, sob ameaça, a terceiro. No roubo a coisa desejada está à mão. A coisa desejada, afinal, está à vista e à disposição do autor do roubo; na extorsão, a vantagem econômica almejada precisa ser alcançada, dependendo da colaboração da vítima. “O roubo se caracteriza porque o ladrão se apodera da coisa que a vítima tem em seu poder, o que não ocorre na extorsão, porque neste caso é a vítima que faz a entrega da coisa ao agente. O termo “indevida” demonstra a presença de um elemento normativo do tipo, de forma que, caso a vantagem exigida seja legítima, pode o agente responder por outro delito, como o exercício arbitrário das próprias razões (art. 345, CP). A vantagem econômica demonstra, nitidamente, ser um crime patrimonial. Muito da extorsão equivale à denominada chantagem. O agente possui algum material comprometedor em relação à vítima (ex.: fotos de um relacionamento extraconjugal) e exige dinheiro para não divulgar a terceiros. O que vulgarmente se chama chantagem, tecnicamente, é uma extorsão em grande parte dos casos. 2. SUJEITOS ATIVO E PASSIVO Qualquer pessoa. 3. ELEMENTO SUBJETIVO Pune-se a extorsão quando houver dolo. Inexiste a forma culposa. Exige--se, ainda, o elemento subjetivo específico ou o dolo específico, consistente na expressão “com o intuito de obter...”. 4. CONSUMAÇÃO Em que pese defendermos ser a extorsão um crime formal (não exige o resultado naturalístico consistente na redução do patrimônio da vítima), ainda há alguns aspectos a considerar no tocante ao momento consumativo. Ocorre que há, fundamentalmente, três estágios para o cometimento da extorsão: 1.º) o agente constrange a vítima, valendo-se de violência ou grave ameaça; 2.º) a vítima age, por conta disso, fazendo, tolerando que se faça ou deixando de fazer alguma coisa; 3.º) o agente obtém a vantagem econômica almejada. Este último estágio é apenas configurador do seu objetivo (“com o intuito de...”), não sendo necessário estar presente para concretizar a extorsão. O crime de extorsão é formal, vale dizer, basta a prática da conduta constranger, com violência ou grave ameaça, a vítima, mesmo sem atingir o resultado de obtenção de vantagem ilícita, para atingir a consumação. Assim sendo, a primeira fase ingressa nos atos executórios, podendo configurar a tentativa; a segunda invade a consumação; a terceira é o exaurimento do delito. Entretanto, o simples constrangimento, sem que a vítima atue, não passa de uma tentativa. Para a consumação, portanto, cremos mais indicado atingir o segundo estágio, isto é, quando a vítima cede ao constrangimento imposto e faz ou deixa de fazer algo. Sobre o tema, conferir a Súmula 96 do STJ: “O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida”. 5. OBJETOS MATERIAL E JURÍDICO O objeto material é a pessoa que sofre a violência ou a grave ameaça; os objetos jurídicos são o patrimônio da vítima, bem como a sua integridade física e a sua liberdade. 6. CLASSIFICAÇÃO Trata-se de crime comum (aquele que não demanda sujeito ativo qualificado ou especial); formal (delito que não exige resultado naturalístico necessário, configurando-se com o constrangimento imposto à vítima); de forma livre (podendo ser cometido por qualquer meio eleito pelo agente); comissivo (“constranger” implica ação); instantâneo (cujo resultado se dá de maneira instantânea, não se prolongando no tempo); de dano (consuma-se apenas com efetiva lesão a um bem jurídico tutelado); unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente); plurissubsistente (em regra, vários atos integram a conduta); admite tentativa. 7. EXTORSÃO MAJORADA § 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade. Concurso de pessoas: idem furto e roubo. Não havendo nenhuma distinção apontada nesse tipo penal, valem ambas as espécies de armas (próprias ou impróprias) para o emprego da causa de aumento. Afinal, a vítima corre maior perigo de se lesionar quando o agente utiliza uma arma para vencer a sua resistência. 8. CRIME QUALIFICADO PELO RESULTADO LESÃO GRAVE OU MORTE (ART. 158, § 2.º) Ver comentários ao art. 157, § 3. 9. QUALIFICADORAS DO § 3º - SEQUESTRO RELÂMPAGO § 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. Ou seja, se do sequestro relâmpago advier lesão grave, a pena será de reclusão, de 16 a 24 anos; se ocorrer morte, a pena será de reclusão, de 24 a 30 anos. Tipo preciso de extorsão, cujo constrangimento é voltado à restrição da liberdade da vítima como forma de pressão para a obtenção de vantagem econômica. Quando o agente ameaça a vítima portando uma arma de fogo, exigindo a entrega do automóvel, por exemplo, cuida-se de roubo. A coisa desejada, afinal, está à vista e à disposição do autor do roubo. Caso o ofendido se negue a entregar, pode sofrer violência, ceder e o agente leva o veículo do mesmo modo. Porém, no caso da extorsão, há um constrangimento, com violência ou grave ameaça, que exige, necessariamente, a colaboração da vítima. Sem essa colaboração, por maior que seja a violência efetivada, o autor da extorsão não obtém o almejado. Por isso, obrigar o ofendido a empreender saque em banco eletrônico é extorsão – e não roubo. Sem a participação da vítima, fornecendo a senha, a coisa objetivada (dinheiro) não é obtida. Logo, obrigar o ofendido, restringindo-lhe (limitar, estreitar) a liberdade, constituindo esta restrição o instrumento para exercer a grave ameaça e provocar a colaboração da vítima, é exatamente a figura do art. 158, § 3.º, do Código Penal. Permanece o art. 157, § 2.º, V, do Código Penal para a hipótese mais rara de o agente desejar o carro da vítima, ilustrando, levando-a consigo por um período razoável, de modo a se certificar da inexistência de alarme ou trava eletrônica. É um roubo, com restrição limitada da liberdade, de modo a garantir a posse da coisa, que já tem em seu abrigo. Entretanto, rodar com a vítima pela cidade, restringindo-lhe a liberdade, como forma de obter a coisa almejada, contando com a colaboração do ofendido, insere-se na extorsão mediante restrição à liberdade. Finalmente, a nova figura também não se confunde com a extorsão mediante sequestro, tendo em vista que, nesta última hipótese, a privação (destituir, tolher) da liberdade é mais que evidente, ingressando o ofendido em cárcere, até que haja a troca da vantagem como condição ou preço do resgate.
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