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s PREFOP “Programa Especial de Formação Pedagógica” HISTÓRIA DA FILOSOFIA SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 3 UNIDADE 1 - HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA ................................................................................. 4 UNIDADE 2 - FILOSOFIA MEDIEVAL .................................................................................................. 12 UNIDADE 3 - FILOSOFIA MODERNA .................................................................................................. 20 UNIDADE 4 - FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA ................................................................................... 31 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 45 INTRODUÇÃO A História da Filosofia pode ser abordada sob duas perspectivas: por períodos históricos ou por áreas. A primeira forma de abordagem é dividida em quatro grandes períodos: Filosofia Antiga, Filosofia Medieval, Filosofia Moderna e Filosofia Contemporânea. Sua vantagem é que nos permite ter um panorama da filosofia a partir dos períodos históricos, então observamos o contexto no qual os pensamentos dos filósofos foram elaborados. Neste caso, acompanhamos as mudanças do pensamento filosóficos e as mudanças sociais, como por exemplo, com o fim da filosofia clássica e o início da helenística a partir da conquista da Grécia por Alexandre Magno; do surgimento da Filosofia Medieval a partir do advento do cristianismo; da Filosofia Moderna livrando-se da influência da Igreja no pensamento; da Filosofia de Karl Marx influenciada pela Revolução Industrial. Sua desvantagem é que não conseguimos fazer uma análise direta de uma área da filosofia, por exemplo, a Filosofia Política comparando os filósofos de diversos períodos em um só capítulo, Aristóteles, Thomas Hobbes, Maquiavel, Rousseau, Marx e outros. No entanto, esta dificuldade pode ser superada na medida em que podemos fazer estas análises críticas por nós mesmos. Mesmo quando estudamos a História da Filosofia por períodos é possível comparar os pensamentos de diferentes filósofos que abordaram um determinado assunto ou área, como no exemplo dado acima. Desta forma, passará a ter um panorama bem mais amplo desta área do saber que tanto influenciou e ainda influencia a sociedade humana. UNIDADE 1 - HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA Os Filósofos Pré-Socráticos A Filosofia nasce na Grécia por volta do século VI a.C. com a escola Jônica. Os filósofos estavam em busca do princípio, da origem ou, melhor dizendo, do ser de todas as coisas. Para expressar o ser, alguns destes filósofos utilizaram o termo physis que freqüentemente é traduzida por física, matéria ou natureza e estavam em busca do princípio de todas as coisas, ou a arqué. Assim, desde Aristóteles se supõe que eles estavam em busca de um princípio físico ou material de tudo, o que não é correto, pois, estavam, na verdade, em busca do ser das coisas. Em virtude deste equívoco, este período é também denominado naturalista ou cosmológico e seus representantes físicos. Uma outra dificuldade, ainda, é que nenhuma obra destes filósofos nos chegou inteiras, mas somente fragmentos, geralmente encontrados em obras como as de Aristóteles e Diógenes Laércio que os citaram. As principais escolas do período pré-socrático são: a escola Jônica, os Pitagóricos, os Eleatas e os físicos ecléticos. Todos refletiram sobre o princípio originário de todas as coisas. O primeiro filósofo da Escola Jônica foi Tales de Mileto, para quem o princípio é a água; seu discípulo, Anaximandro apontou como princípio o apeíron: o indeterminado ou infinito; Anaxímenes, discípulo de Anaximandro, afirmou que o princípio era o ar. Por fim, Heráclito de Éfeso, propõe a tese de que “tudo se move”, “tudo flui” (pantha rhei). Por isso, explica que todas as coisas são a harmonia dos contrários decorrente de uma guerra constante entre eles. Dentre suas fases famosas destacamos duas: “Não podemos descer duas vezes o mesmo rio” e “Nós descemos e não descemos pelo mesmo rio; somos e não somos”. A escola pitagórica, como o nome indica, tem por principal representante, Pitágoras de Samos. Caracteriza-se pela tese de que o universo é inteiramente harmônico e os números são o princípio de todas as coisas. Pitágoras observou que o som produzido pelo choque de um martelo batendo em uma bigorna depende do volume do instrumento, assim como o som de uma corda da lira, depende do cumprimento e da largura da corda. O que ele descobriu – e foi mais tarde importante para a filosofia da ciência – é que a regularidade encontrada nos fenômenos naturais, como as estações do ano, que podem ser traduzidos em abstrações matemáticas. A escola eleática se caracteriza por sua busca do ser. Xenófanes e Parmênides são seus principais representantes. Parmênides propõe que “o ser é e o não ser não é”. Esta sua teoria foi exposta em um poema intitulado Sobre o Ser e ela se opõe diretamente ao pensamento de Heráclito, pois para este, tudo flui, enquanto para aquele, o ser não flui, não tem devir. Ele é sempre ele mesmo. A primeira crise da filosofia foi provocada pelas posições antagônicas destes dois filósofos e a partir daí começam as tentativas de solução. Uma delas, é a dos filósofos ecléticos, dentre os quais Empédocles (século V a.C.), o qual propõe que o ser é o resultado da constante fusão de quatro elementos: o quente (fogo), o seco (terra), o úmido (água) e o frio (ar). As coisas surgem pela fusão ou separação destes elementos. Fundem-se pelo amor (philia) e separam-se pelo ódio ou pela discórdia (neîkos). Sofistas A Filosofia do período conhecido como sofística possui algumas características bastante particulares e, tal como os pré-socráticos, só conhecemos seus pensamentos por meio de fragmentos que nos chegaram, via de regra, de seus adversários mais conhecidos: Platão e Aristóteles. Assim, somente ao final do século XIX é que os historiadores da filosofia conseguiram superar a interpretação da filosofia clássica a respeito dos sofistas. Até então, o termo “sofista” possuía um significado negativo: argumentos que têm por objetivo levar o adversário à contradição e ganhar uma disputa, seja com que objetivo for. Esta idéia levou aqueles dois filósofos a considerarem os sofistas relativistas em termos de moral. A sofística, no entanto, exerceu ao menos, duas importantes modificações na filosofia que lhe era anterior. A primeira foi o pan-helenismo. Ao contrário dos antecessores, cujas escolas eram freqüentadas por um círculo restrito de discípulos e os escritos eram herméticos faziam com que a filosofia fosse um conhecimento ao alcance de poucos. Os sofistas, por sua vez, dedicaram-se a ensinar qualquer um que tivesse condições de aprender, viajavam por várias cidades e, assim, contribuíram para a formação da cultura helênica de modo decisivo, especialmente na consolidação da língua grega. No entanto, ensinavam profissionalmente e cobravam para isto. Por esta característica foram severamente criticados por Sócrates e Platão que consideravam moralmente inadequado um filósofo cobrar por seu ensinamento. A segunda modificação exercida pelos sofistas na cultura grega foi o deslocamento da pesquisa filosófica que antes se concentrava na physis e no cosmo, para o homem. O ser humano e sua linguagem passam a ser o principal objeto de reflexão dos sofistas, por isso, esta fase é conhecida como período humanista da filosofia em oposição ao período anterior denominado cosmológico. Em geral,dividimos os sofistas em grupos: os sofistas da primeira geração, como Protágoras e Górgias, cujas obras gozavam de certo respeito inclusive com Platão e Sócrates. Os sofistas erísticos, que se caracterizaram por levar ao extremo o formalismo da linguagem, retirando o conteúdo moral da ação e do pensamento humano. Os sofistas-políticos, que utilizaram o domínio da retórica com finalidades políticas sem qualquer preocupação de caráter ético. Protágoras (491 – 444 a.C., aproximadamente) teorizou o que ficou conhecido como homo mesura, ou seja, “o homem é a medida de todas as coisas, das que são pelo que são, das que não são pelo que não são”. Assim, desloca o centro do conhecimento e da verdade, que antes se encontrava nas coisas, para o homem. Seu método era o da antiologia, segundo o qual para todo argumento era sempre possível encontrar uma proposição contrária. Por isso, diante da falta de certeza da verdade, toma como critério o que é útil e o que é conveniente. Por suas idéias, é considerado um dos pais do relativismo moral e do utilitarismo das filosofias moderna e contemporânea. Górgias (485 – por volta de 385 a.C.). Para responder à filosofia pré-socrática e sua pretensão de conhecer o ser, estivesse ele em movimento (Heráclito) ou fosse estático (Parmênides), Górgias propõe suas três teses: o ser não existe; se existisse não seria cognoscível; se fosse cognoscível não seria comunicável. “Como pode alguém expressar com palavras aquilo que vê?” Ora, pela palavra comunicamos somente palavras e não as coisas mesmas, assim, o conhecimento humano se concentra no mundo das palavras e não das coisas. Sócrates O período filosófico que compreende a seqüência de mestres e discípulos: Sócrates, Platão e Aristóteles, é conhecido como Filosofia Clássica, o qual surgiu no período de decadência da Grécia. O século V a.C. é conhecido como o “século de Péricles” no qual a Grécia exerceu domínio sobre outros povos e Atenas sobre os gregos. Quando Sócrates começa sua obra, Atenas está em decadência e perde a hegemonia para Esparta na Guerra do Peloponeso (431 a.C.). Assim, encontramos no pensamento desse filósofo uma critica à decadência moral e um incitamento a uma ética rigorosa que recupere os valores dos helenos. Sócrates (470 – 399 a.C.) nada escreveu, pois considerava que a filosofia deveria ser resultado do diálogo, a busca de uma verdade e não o oferecimento de uma verdade acabada, como os sofistas. Não construiu uma escola, ensinava na ágora, a praça pública grega, nas casas dos amigos e onde pudesse encontrar um grupo disposto a conversar. Seu método era a maiêutica. Esta palavra em grego significa parir, então, sua tarefa era a de parir idéias. Investigava o conhecimento dos adversários por meio de perguntas. Por exemplo, se alguém lhe dissesse que algo era justo ou injusto, de pronto respondia algo como: “que bom! Encontrei alguém que sabe o que é justiça, posto que eu mesmo não sei. Assim, diga-me, o que é a justiça?” Como se pode ver, a ironia era uma das características mais marcantes de seus diálogos. As respostas dos adversários eram sempre insuficientes, pois o máximo que conseguiam era explicar a justiça a partir de um caso particular e não a justiça em si. Sócrates, então, dizia que seu objetivo era conhecer as coisas mesmas e não suas representações, por isso, investigava a justiça, o bem, a verdade, o belo etc. Dizia ser acompanhado por um daimon (um espírito). Este daimon nunca lhe dizia o que fazer, somente se manifestava para dizer-lhe não! Sócrates afirmava ter recebido sua missão do oráculo de Delfos, o qual, por intermédio de seu amigo Querefonte disse que era o mais sábio dos homens. Como, ele que reconhecia ser ignorante, poderia ser o mais sábio dos homens? Em A Defesa de Sócrates Platão escreveu: “Para testemunhar a minha ciência, se é uma ciência, e qual é ela, vos trarei o deus de Delfos. Conhecestes Querefonte, decerto. Era meu amigo de infância e também amigo do partido do povo e seu companheiro naquele exílio de que voltou conosco. Sabeis o temperamento dele, quão tenaz em seus empreendimentos. Ora, certa vez, indo a Delfos, arriscou esta consulta ao oráculo – repito, senhores; não vos amotineis – ele perguntou se havia alguém mais sábio que eu; respondeu a Pítia que não havia ninguém mais sábio. Para testemunhar isso, tendes aí o irmão dele, porque ele já morreu.” (PLATÃO, 1987, p. 8). Conversando com os outros, os especialistas em política, linguagem, arte, por exemplo, quis aprender com eles e descobriu que eles tampouco sabiam do que falavam, por isso, conclui que era o mais sábio, não porque soubesse mais do os outros, mas justamente, por que reconhecia a própria ignorância. Assim, sabia que nada sabia, enquanto os outros, por sua vez, nada sabiam. Assim, concluía: “Mais sábio do que esse homem eu sou; é bem provável que nenhum de nós saiba nada de bom, mas ele supõe saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu, se não sei, tampouco suponho saber. Parece que sou um nadinha mais sábio do ele exatamente em não supor que saiba o que não sei.” (PLATÃO, 1987, p. 9). Por esta postura desafiadora, Sócrates angariou grandes e poderosos inimigos, pois desmascarou muitos em público. Foi preso e seu julgamento ocasionou um dos mais belos diálogos escritos por Platão: o Fédon. Mesmo tendo a oportunidade de escapar da condenação por meio de uma multa, a recusou, pois isto seria reconhecer que cometeu os crimes dos quais era acusado por Meleto: o de corromper a juventude e não acreditar nos deuses. Na prisão, teve ocasião de fugir, mas não o fez, pois isto seria um ato de quem teme perder a vida e ele, insistiu com os amigos, ensinara durante toda sua vida – achava-se, então, com 70 anos – que a vida de um filósofo não deve ser devotada aos bens materiais ou à fruição do prazer, mas à busca da verdade. Um filósofo nada tinha a perder com a morte, porque além de não estar apegado à vida material, tinha um futuro pós-morte bastante agradável esperando-o. Morreu tomando cicuta, um veneno que provoca a morte rapidamente. Seus discípulos registraram sua obra em escritos. Dentre os mais famosos, Platão, mas também há registro de seus pensamentos com Xenofonte e o próprio Aristóteles, que não foi seu discípulo direto. Platão Este sábio ateniense nasceu em 427 ou 428 e faleceu em 347 ou 346 a.C. foi discípulo de Sócrates, porém por pouco tempo, pois ainda era jovem quando o mestre morreu. Enquanto Sócrates nada escreveu, seu discípulo mais conhecido foi um dos maiores escritores gregos e da história da filosofia. Sua obra foi produzida em forma de diálogos criando um estilo que seria, mais tarde, cultivado por outros filósofos. Ao contrário de seu mestre, porém, Platão não ensinava em lugares públicos, mas fundou uma escola chamada Academia. Sócrates é sempre o personagem principal dos seus trinta e seis diálogos conhecidos. Há maneiras diferentes de se classificar estes diálogos, pois depende dos critérios do estudioso. Em geral, porém, considera-se que os diálogos iniciais como o Eutífron e o Críton, são aporéticos, isto é, não se conclui pela proposição de uma teoria, mas, fundamentalmente, na comprovação da ignorância do adversário. No primeiro, por exemplo, Eutífron iria à justiça fazer uma denúncia e Sócrates interpela-o para saber o que ele compreende sobre a justiça e o diálogo acaba com o reconhecimento de sua ignorância sobre um assunto que julgava conhecer. Nos diálogos da maturidade de Platão como as Leis e o Fédon a doutrina se aprofunda e surge a metafísica. Muitos estudiosos dizem que Sócrates não passa de um personagem nesta fase, pois as teorias de Platão distanciam-se das lições do seu mestre. A obra de Platão ficou perdida por séculos o que dificultou enormemente a tarefa de identificarquais escritos eram seus e quais eram pseudos-diálogos platônicos. Desde o final do século XIX, porém, chegou-se a alguns pontos em comum sobre quais obras são suas. A Segunda Navegação Platão é, sem dúvida, o fundador da metafísica ocidental. Alguns intérpretes consideram que a metafísica começou com Sócrates, outros, baseados na leitura de Xenofonte dizem que começou com Platão. De qualquer forma, é em seus diálogos que ele define o que chamou metaforicamente de segunda navegação. Os marinheiros chamavam de segunda navegação aquela feita com remos, quando não era mais possível aproveitar a força dos ventos para soprar as velas. Assim, Platão considera que o conhecimento depende dos fenômenos sensíveis até certo ponto, mas chega um momento que observando estes fenômenos é impossível concluir algo sobre o que de fato as coisas são. Por exemplo, se observarmos todos os casos de justiça no mundo não poderemos ter idéia do que é a justiça, pois os casos são tão múltiplos e surgem novos a cada momento que seria impossível conhecê-los todos para formular uma teoria geral, assim, é preciso recorrer a outro expediente: a abstração. Tal como navegar com remos é mais cansativo do que navegar com velas, investigar por meio de raciocínios abstratos é mais difícil do que investigar os fenômenos sensíveis. Esta forma de investigação insiste em perguntar o que as coisas de fato são e não como elas parecem ser. Se perguntarmos a alguém: “o que é uma mesa?”, podemos ter como resposta que é um objeto, geralmente feito de madeira que usamos para apoiar outros objetos. Observando bem, a pergunta não foi respondida, pois dissemos que mesa é objeto, outras coisas também são objetos e não são mesa, logo objeto não define mesa. Por outro lado, normalmente feita de madeira ou de qualquer material é uma descrição daquilo que é feita uma mesa e não o que ela é; por fim, dizer que usamos para apoiar outros objetos é dizer para que serve e não o que é. Platão descreve as dualidades entre o sensível e o inteligível, entre o fenômeno e a coisa em si. Esta é a teoria das idéias. Os fenômenos sensíveis são como sombras das idéias, por isso, por estas sombras jamais chegaremos ao conhecimento do que as idéias são de fato. Somente por meio da filosofia, do diálogo e da dialética chegaremos ao conhecimento verdadeiro das idéias e, portanto das verdades. A no livro VII da República, Platão descreve por meio da Alegoria da Caverna o que é a ilusão dos sentidos no conhecimento e o caminho para o mundo das idéias. Normalmente, referimo-nos a Alegoria da Caverna como Mito da Caverna, mas este termo não se aplica, pois Platão não recolheu esta história da cultura helênica, é uma criação sua para descrever o que pensava. Platão, no entanto, resgata os mitos em sua filosofia, mas deu-lhes outro significado, como, por exemplo, quando descreve o do Carro Alado ou o de Er. Os homens acorrentados na caverna, de tal modo que não pudessem virar o rosto, viam somente as sombras dos objetos verdadeiros. No entanto, discursavam sobre estas sombras, davam- lhes nomes e advinhavam-lhes a freqüência com que apareciam. Um dos prisioneiros se liberta e, indo em direção à luz descobre que ela é produzida por um fogo artificial, cuja luz projeta a sombra dos objetos no fundo da caverna. Indo mais além, descobre um mundo inteiro fora da caverna e demora a se acostumar à luz do sol (o bem supremo). Voltando à caverna tenta libertar os companheiros e contar-lhes que o que vêem não são as coisas em si mesmas, mas sombras. Estes não aceitam sua verdade e, se pudessem, o matariam. Ora fica claro que está falando do papel do filósofo que conhece a verdade, dos homens que iludem-se com as sombras e de Sócrates que ao tentar esclarecer seus companheiros foi rejeitado. Mas há uma outra possibilidade de interpretação deste mito: a política. Sem dúvida alguma, o objetivo principal a reforma da moral na Grécia que considerava decadente. Assim, em seu diálogo intitulado A República elabora uma proposta de reforma da pólis. No século XVIII o filósofo Jean-Jacques Rousseau dirá que esta obra de Platão não trata de política, como o título nos faz crer, mas é o mais belo tratado de educação que jamais se escreveu. Ali, encontramos a proposta de selecionar entre os cidadãos aqueles, cujos talentos poderia levá-los a se tornar guardiões da cidade. Os guardiões seriam os soldados que defenderiam a cidade em caso de guerra e, como vimos, alguns deles exerceriam o governo. Estes seriam educados pelo Estado, de forma coletiva. Por volta dos vinte anos, uma nova seleção ocorreria e os guardiões selecionados iriam estudar filosofia e se preparem para tornarem-se os novos governadores da cidade-estado. Os cidadãos sem natureza para serem guardiões ocupariam as profissões comuns de ferreiros, marceneiros e outras. Esta sua proposta traz algumas polêmicas que perduram desde então, como a censura aos poetas e à música. Para Platão, poetas como Homero e Hesíodo escreveram coisas belas, mas por outro lado, também atribuíram qualidades aos deuses com as quais Platão não concordava, por exemplo, sentimentos humanos como ódio, desejo de vingança, paixões entre outras. Da mesma forma, a música seria objeto da censura, pois o estilo jônico era muito doce tornava as almas lânguidas; ao passo que o estilo marcial dórico provocava, ao contrário, o estímulo às paixões fortes. É preciso lembrarmos que a guerra fazia parte constante da vida das cidades, por isso os guardiões fariam exercícios físicos todos os dias para estarem preparados para as guerras . A República é uma proposta de formar o Filósofo-Rei; Platão teve a oportunidade de educar Díon, herdeiro de Siracusa, e sonhou com a hipótese de formar o Rei-Filósofo. Diante do fracasso desta tentativa, já no final de sua vida, escreve as Leis onde não concede a responsabilidade de conduzir a cidade nem aos reis, nem aos filósofos, mas às leis filosóficas. Criticado por muitos e admirado por outros, Platão é, sem dúvida um dos maiores filósofos da história do pensamento mundial. Aristóteles Aristóteles nasceu em Estagira em 384 ou 383 a.C. e faleceu em Cálcis em 322 a.C. Tal como Platão, fundou sua própria escola, uma vez que do ponto de vista teórico afastou-se de boa parte dos ensinamentos do seu mestre. Trata-se do Liceu, o qual ele teve de deixar em 323 depois da morte de Alexandre Magno. Deixou-nos uma grande coleção de escritos, os quais até hoje, são motivo de estudos e pesquisas. Dividimos suas obras em dois grandes grupos: os exotéricos, destinado ao público externo do Liceu, composto em forma de diálogos que, infelizmente, estão perdidos; deles sabemos somente pelos comentários de outros autores e pelos escritos de seus discípulos. O segundo grupo é o dos escritos esotéricos, destinado exclusivamente ao ensino dentro do Liceu. Aristóteles escreveu sobre quase todas as áreas de saber de seu tempo, inclusive o que poderíamos chamar de ciências. Assim, dentre suas principais obras encontram-se: Organon: no qual discute os fundamentos do raciocínio, da linguagem e da retórica. Nesta obra formula o conceito de silogismo e analisa o método dos sofistas. Física; Do Céu; A geração e a corrupção; Meteorologia; História dos animais. Nestas obras encontramos um Aristóteles que nos explica a dinâmica da natureza na Terra, tanto orgânica quanto inorgânica, explicando o crescimento de animais e plantas e os acidentes geográficos; a dinâmica da natureza nos céus, o movimento dos astros e a organização do cosmo. Ética a Nicômacos e a Política: São obras nas quais discute o que ele chama de filosofia prática, isto é, a moral, a justiça, a felicidade e o equilíbrio; na política a origem do poder, as formas de organização da sociedade, a constituição das cidadese outros temas semelhantes. Poética e Retórica: aqui encontramos obras que analisam a produção artística e a dos discursos. Metafísica: obra principal, fundamento de todas as outras. Aristóteles a chamou de Filosofia Primeira, pois ela é quem determina os limites e possibilidades de todas as outras formas de saber. Nela dividiu o conhecimento em três grandes áreas: as ciências teoréticas: a própria metafísica; as ciências práticas: a moral e a política; as ciência poiéticas: aquelas que são o domínio de um determinado campo do saber fazer. Analisaremos a seguir três importantes fundamentos de sua teoria: a metafísica, a física e a política. A Metafísica apresenta quatro indagações fundamentais: “as causas e os princípios primeiros”; o “ser enquanto ser”; “a substância”; “Deus e a substância supra-sensível”. A teoria das quatro causas, primeira parte da Metafísica, explica a possibilidade da transformação, são elas: formal, material, eficiente e final. Quando falamos em causa formal devemos entender que se trata do devir, isto é, do vir a ser. O ser enquanto ser é proposição de Aristóteles na qual ocorre a superação da doutrina eleática. Para este o ser era imóvel, sempre o mesmo; Platão introduziu o conceito de não-ser em sua dialética, o que lhe permitiu superar os impasses provocados pelo choque entre a realidade em constante mudança e a teoria do ser estático. Aristóteles vai ainda mais longe do que o mestre e introduz o conceito de substância, ou seja, introduziu o ser na esfera do sensível. Assim, o ser passa a ter múltiplos significados: o ser é substância, é a alteração ou atividade da substância. Mas há também o supra-sensível, aquilo que não está limitado à esfera das substâncias corruptíveis. São elas o tempo e o movimento, pois não foram gerados e nem se corrompem. Então, era preciso encontrar a causa primeira de tudo, pois a física nos dirá que para um efeito há sempre uma causa, e qual foi a causa primeira? Algo que era causa sem ser causado: o Primeiro Motor ou Motor Imóvel ao qual ele chamou de “Deus”. Para ele, não era possível admitir múltiplas causas da existência das substâncias sensíveis e supra-sensíveis, por isso, há uma exigência teórica de origem única. A física é o estudo do movimento do mundo sub-lunar, onde há corrupção e geração. Como explicar a mutação dos seres? A partir da teoria das quatro causas e das noções de ato e potência: ato é a substância em seu estado atual; potência é aquilo que ela pode vir a ser. Todas as mudanças ocorrem a partir delas. Uma semente é a causa material de uma árvore que virá a ser; a potência de árvore que se encontra nela é a sua causa formal, o seu vir a ser ou devir; os nutrientes que permitem com que ela germine e brote, bem como suas partes internas, são sua causa eficiente; e o tornar-se árvore é a causa final deste processo. Porém, a árvore é causa material do fruto; os nutrientes da seiva que o permitem se desenvolver sua causa eficiente; a fruta madura ainda que ainda é só potencial, a causa formal e a fruta madura a causa final do processo. E assim por diante. No caso de objetos artificiais, como uma mesa, podemos dizer que: a causa material é a matéria de que é feita; a causa formal, é o projeto que o marceneiro elabora, o qual ainda não é ato quando a madeira está bruta, somente potência; a causa eficiente são as ferramentas e a técnica de trabalho e a causa final, a mesa como ato, ela que era só potência enquanto projeto. O mundo supra-lunar, por sua vez, caracteriza-se pela incorruptibilidade, mas possui movimento. Os astros, para Aristóteles, são compostos de éter, a quinta substância a qual é incorruptível. Seus movimentos são perfeitos e não se alteram. No cosmo aristotélico a Terra ocupa a posição central e todos os astros orbitam-na. A obra de Aristóteles permaneceu conhecida no oriente e fundamentou a filosofia árabe com Avicena, foi resgatada, no ocidente por volta do século XI e influenciou de maneira decisiva a escolástica medieval. Suas obras permaneceram como referências teóricas por mais de mil anos até que mudanças na forma de conceber o mundo deixaram de recorrer à elas como fundamento teórico. Na astronomia e na física, depois de Copérnico e Galileu, seu cosmo começa a ruir; na política, Maquiavel e os filósofos Contratualistas modificam os paradigmas; a lógica é analisada a partir de outros referenciais como a matemática e a gramática e a biologia a partir de Darwin, Laplace e outros não é mais um paradigma científico. A despeito disso, sua obra continua tendo um importante interesse enquanto filosofia e não se esgotam os centros de estudo no mundo inteiro sobre seu pensamento e quanto interesse ainda desperta em quem se aventura lê-la. UNIDADE 2 - FILOSOFIA MEDIEVAL Passagem da Filosofia Antiga para a Filosofia Cristã Após a ocupação da Grécia por Alexandre Magno, que foi aluno de Aristóteles, a aspiração da filosofia clássica, pela formação do cidadão, não fazia mais sentido, porque as decisões eram tomadas dentro dos palácios. Assim, a filosofia volta-se do cidadão para o indivíduo fazendo surgir as escolas helenísticas que continuam a tradição filosófica, mas em novas perspectivas: da ética do cidadão, para a ética do indivíduo. Dentre estas escolas, podemos destacar, o estoicismo, o epicurismo, o ceticismo, o ecletismo e outras. Todas buscam suas raízes na filosofia pré-socrática ou clássica, porém, olham para o seu tempo. A partir do século I d.C. surge um novo referencial para o ocidente que é o advento do cristianismo. Esta religião nasce de forma popular, mas aos poucos começa a conquistar intelectuais tanto no mundo grego quanto no mundo romano. O problema era conciliar a fé cristã com uma filosofia de origem pagã, por exemplo, como admitir a metempsicose (teoria platônica da transmigração das almas) com a ressurreição dos mortos? A filosofia helenística já preparara o caminho, especialmente o estoicismo, mas ainda era necessário um esforço maior para conciliar ambos os ethos. A Patrística, ou a corrente que contribuiu para a formação da doutrina cristã. Os “Padres da Igreja” tiveram diferentes tarefas até o surgimento de uma doutrina cristã autônoma. No século I, os padres apostólicos não trataram de temáticas filosóficas, seu problema era a formulação de uma moral cristã autônoma, especialmente em relação ao judaísmo; os padres apologistas, tinham como adversários os filósofos ou acadêmicos (estóicos, epicuristas, céticos, dentre outros). A fusão entre a filosofia grega e a religião começa com o judeu Fílon de Alexandria, que aborda uma série de assuntos do antigo testamento numa perspectiva filosófica, a partir de seu método alegórico, pois considera que o significado literal dos textos bíblicos não é o mais importante, mas sim as alegorias que representam de conceitos e verdades nos planos moral e metafísico. A doutrina dos padres apologistas já conhecia muito bem partes significativas da obra de Platão, por exemplo, o Fédon, mas não via como conciliá-la com a doutrina cristã, ao menos não inteiramente. Assim, tornavam-se adversários da maior parte das teorias da filosofia pagã. Dentre estes podemos destacar: Marcião Aristide, Justino Mártir e outros. A escola catequética de Alexandria legou-nos dois grandes padres. O primeiro foi Clemente de Alexandria, nascido no 150 de nossa era, desenvolveu uma postura diferente dos seus antecessores, pois, para ele era possível e mesmo necessário defender a fé cristã de seus inúmeros adversários e aprofundá-la por meio da filosofia. Desta forma, defende a tese de que é possível conciliar ciência e fé, pois uma auxilia a outra. O segundo padre foi Orígenes (185 – 253 d.C.) que abordou temas teológicos numa perspectiva que modifica a dos seus predecessores, inclusive Clemente. Dentre as suas teses encontram-sea do incorporeidade de Deus, que é nova em relação à noção judaica de Deus como sopro ou fogo e a de Clemente, que propunha Deus como Logos. Outra tese sua é a da dupla natureza de Cristo: ele é divino e humano; possui corpo e alma, sendo que a alma de Cristo é a mediadora entre o Logos e o corpo humano. Por fim, sua teoria preconiza três formas de leitura da bíblia: a literal, a moral e a espiritual. Esta última, a mais difícil de todas, precisa do auxílio da filosofia para ser compreendida em sua completude. A partir do édito de Milão promulgado por Constantino a liberdade de culto permite aos filósofos cristãos prosseguirem suas investigações e estudos sem o risco de serem torturados e mortos, como foi o caso de Orígenes. Daí surgem novas escolas que aprofundam a fusão da fé cristã e da filosofia, como a da Capadócia, a partir da qual surgem figuras como Gregório de Nissa. Por fim, a patrística contará com nomes ainda como Dionísio Aeropagita, Máximo, o Confessor e João Damasceno. A patrística latina não criou a mesma riqueza doutrinária e filosófica que a patrística oriental como vimos mais acima. Dentre seus principais nomes encontramos, minúcio Félix, Tertuliano, Lactâncio e outros. Não obstante, a patrística latina exerceu um papel importante para a fixação da fé no ocidente e proporcionou o surgimento de Santo Agostinho. Santo Agostinho Aurélio Agostinho nasceu na cidade de Tagaste em 354 e faleceu em Hipona, na África, em 430. Sua vasta obra nos chama a atenção por vários aspectos, dentre eles destacamos: sua conversão para o cristianismo aos 32 anos, quando conhecia muito bem a filosofia pagã; seu embates contra as doutrinas donatistas e pelagianas que exigiram dele o máximo rigor em filosofia e exegese da Bíblia. Este rigor atinge seu auge com a Cidade de Deus, sua obra prima apologética, escrita entre 413 e 427 da nossa era; e sua obra prima filosófico-teológica: a Trindade escrita entre 399 e 419. Santo Agostinho recebe uma herança intelectual que pode ser caracterizada como neoplatonismo, porque absorve parte das lições do fundador da Academia. Esta influência chegou até ele por meio da obra de Plotino. Assim, Santo Agostinho realiza uma síntese que, até então, não havia sido feita em sua completude: admitir que a doutrina filosófica de um pagão era adequada para ajudar a compreender a fé cristã e, ainda mais, era verdadeira. A doutrina da iluminação demonstra esta síntese entre o platonismo e o cristianismo na medida em que considera o conhecimento verdadeiro limitado à alma, o conhecimento que nos chega pelos sentidos é sempre falível e impreciso, ao passo que conhecimentos absolutamente abstrato como a geometria e a matemática podem ser verdadeiros por não dependerem dos sentidos. Desta forma, retoma o platonismo, mas ainda faltava mais um passo em direção ao cristianismo. Para tanto, precisa romper com dois fundamentos da doutrina de Platão: admite a existência das idéias, mas afirma que elas são o pensamento de Deus e rejeita a teoria da reminescência. Esta teoria afirma que nascemos com os conhecimentos em nós, porque entre uma vida e outra, adquirimos mais idéias. Ao renascermos num corpo físico, temos por tarefa recordar estas idéias. Assim, aprender é recordar. Ora, uma doutrina cristã não poderia admitir uma doutrina que pressupõe várias reencarnações. Assim como as coisas corpóreas só podem ser vistas na presença da iluminação do sol, alguns conceitos também só podem ser conhecidos mediante uma iluminação própria. Esta iluminação é interna. Deus é o puro ser e transmite o ser às outras coisas; da mesma maneira, ele é a Verdade e transmite às mentes a capacidade de conhecer a verdade. Com isso, Agostinho consegue explicar a origem de conhecimentos que não decorrem da experiência sensorial sem depender da teoria platônica que estava ligada, como vimos, à reminiscência. O problema do mal ou teodicéia recebe uma resposta absolutamente decisiva. Epicuro, fundador de uma das escolas helenísticas, propôs um paradigma que leva o leitor a não conseguir responder à seguinte questão: como explicar a existência do mal no mundo se existe um Deus bom, previdente e onisciente que poderia evitá-lo? O paradigma é o seguinte: “Deus, ou quer impedir o mal e não pode, ou pode e não quer; ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se quer e não pode, é impotente: o que é impossível em Deus. Se pode e não quer, é invejoso, o que, do mesmo modo, é contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é invejoso e impotente, nem sequer é Deus. Se quer e pode, o que é a única coisa compatível com Deus, donde provém a existência dos males?” A resposta de Agostinho é a de que este paradigma não aponta o problema de modo correto o que conduz à ausência de resposta. Assim, recolocando a questão afirma que o mal não existe, seu estatuto ontológico é nulo, pois na verdade, ele é apenas uma ausência: ausência de Deus; uma privação de ser. O mal não é uma substância, por isso, não tem existência real. Além disso, explica que o mal se apresenta em três diferentes níveis: o mal metafísico-ontológico: como vimos, o mal não pode existir porque não é substância e mesmo que fosse, como as substâncias são criadas por Deus, deveria ser um bem; o mal moral: é o pecado que depende da má vontade, o qual veremos melhor explicado mais adiante; e o mal físico: como as doenças e os sofrimentos que são conseqüência do pecado original. Santo Agostinho é um árduo defensor do livre arbítrio, pois, para ele, a presença do mal no mundo não é causada por Deus, mas pelos homens que tendo condições de optar pelo bem ou pelo mal, muitas vezes, erram. Nossas escolhas são inteira responsabilidade nossa, pois se nos deixamos levar pelas tentações tornamo-nos seus escravos. Aqui, Agostinho retoma um argumento estóico: aquele que vive para os prazeres da carne não é mais senhor de si, mas escravo destes mesmos prazeres. Somente a graça divina, portanto, pode nos salvar, pois nossas obras são insuficientes para obter a salvação por si mesmas. A graça divina não suprime o livre-arbítrio, mas o torna bom, por isso, a verdadeira liberdade é servir a Cristo. A obra de Santo Agostinho representa um marco da filosofia cristã e não cessará sua influência mesmo durante a Escolástica. Mais tarde, durante as Reformas Protestante e Católica, veremos que ambas retornam aos seus princípios sobre a Trindade, a Graça, a Liberdade e outros. Além de tudo, fazendo-se um ilustre discípulo de Platão – na filosofia – escreveu em um estilo agradável e compôs mesmo alguns diálogos como o De Magistro, por isso suas obras são tão agradáveis de serem lidas. A Escolástica Entre Santo Agostinho (354 – 430 d.C.) e Santo Tomás de Aquino (1221 – 1274), como podemos ver, quase mil anos se passaram e uma série de fenômenos históricos e culturais modificaram substancialmente a filosofia neste período. O estabelecimento das escolas e universidades a partir de Carlos Magno, permitiu a criação de centros de pesquisa avançados. A criação da Universidade de Paris em 1200 representou o ápice deste processo, tanto que ela se tornou modelo das universidades de Cambridge e Oxford; vários foram os intelectuais cristãos que surgiram no interregno deste grande período: Boécio, Santo Anselmo, Abelardo, São Vitor, Escoto Eríugena e muitos outros. Do ponto de vista filosófico o século XIII foi marcado pela difusão do conhecimento da obra de Aristóteles. Isto nos leva a duas questões: como se tomou contato com essa obra? Por que a obra do fundador do Liceu foi tão importante? A obra de Aristóteles não foi absorvida pela tradição latina, mas ficou viva na tradição oriental. Depois, com o desenvolvimento da cultura árabe, esta toma contato com a filosofia grega e também produziu seus filósofos. Dois filósofos árabese um judeu trouxeram a obra do Estagirita para o ocidente. É verdade que sua Lógica era conhecida desde Boécio (século V), mas a metafísica e a física ainda estavam por ser descobertas. Avicena (980 – 1037) fez uma grande síntese do pensamento aristotélico e trouxe uma série de soluções para questões da filosofia, teologia e cosmologia que ainda não se encontravam totalmente resolvidas tendo por base somente o Timeu de Platão, obra na qual aborda a cosmologia. No entanto, sua síntese de Aristóteles ainda está permeada por duas outras influências importantes: o neoplatonismo e a religião islâmica. Como Avicena concilia a Metafísica de Aristóteles ao monoteísmo islâmico não provocou rejeição entre os filósofos cristãos. O mesmo não se deu com Averróis (1126 – 1198), pois, seguindo mais fielmente as lições do mestre de Estagira, delimitou com mais rigor os campos da filosofia e da fé, deixando a primeira livre para seguir, somente, o primado da razão. Neste caminho, afirmou, como verdade unicamente de razão, a eternidade do mundo e a não imortalidade da alma. Estas teses provocaram mais reações no mundo cristão (como também no mundo islâmico) e foram temas de várias controvérsias. A filosofia judaica tem, entre seus nomes, dois de maior destaque: Avicebron (1021 – 1050 ou 1070) e Moisés Maimônides (1135 – 1204). O segundo exerceu uma influência muito maior no pensamento ocidental graças ao rigor com que tratou a obra de Aristóteles. Em suma, seu pensamento é o de que a Filosofia e a Bíblia são absolutamente conciliáveis, pois a razão nos mostra que todas as coisas existentes são contingentes e que, portanto, devem seu ser a um Ser original, um primeiro motor imóvel, portanto Deus. Santo Tomás de Aquino Com certeza, um dos maiores filósofos de todos os tempos. Sua vasta obra foi escrita enquanto exercia o magistério em várias universidades, dentre elas: O Ente e a Essência; Questões Disputadas sobre a Verdade; Comentários ao Sobre a Trindade de Boécio e a Suma Teológica. Como vimos, o problema da filosofia de Averróis é que, levando ao extremo a doutrina aristotélica, declarou a total independência da razão em relação à fé. As respostas de outros doutores pareceram insuficiente a Santo Tomás que pôs-se a elaborar uma doutrina que procurava responder a este problema. No entanto, muito se discute ainda hoje sobre se, em seu pensamento, a razão e a filosofia gozam de autonomia em relação à fé. Para ele a filosofia é um preâmbulo para a fé e, justamente por isso, ela não exaure todas as questões que podemos levantar; ocorre um momento a partir do qual a razão sozinha é insuficiente para chegar à verdade. Ora, assim como a graça pode tornar os homens melhores, a revelação das Escrituras também pode tornar a filosofia melhor. A fé melhora a razão, ou seja, a teologia melhora a filosofia. Mesmo assim, a filosofia mantém sua autonomia em relação à teologia e não pode ser suprimida por ela, pois seu método – totalmente inspirado no mestre de Estagira – não é o mesmo da teologia. Há verdades, dirá na Suma contra os Gentios, que estão além dos limites da razão humana, como por exemplo, que Deus é uno e trino ao mesmo tempo. Mas há verdades que podem ser perfeitamente estabelecidas somente com as luzes da razão natural, como as que afirmam que Deus existe, que é uno, que é bom e outras semelhantes. Santo Tomás distingue o ente lógico do ente real. O ente lógico é aquilo que pode ser pensado sobre as coisas do mundo. Não necessariamente, aquilo que pensamos corresponde exatamente aos que as coisas são, mas de qualquer forma, a importância do pensar os objetos do mundo é que, ao transformá-los em entes lógicos, podemos perceber suas semelhanças. Somente quando abstraio as características comuns os objetos começo a compreender o mundo, ou seja, se tenho somente os entes reais diante dos meus olhos não consigo pensar o mundo abstratamente. O ente real é toda a realidade, todas as coisas do mundo inclusive Deus. A diferença, porém é que em Deus, a essência e o ato de ser são idênticos, ao passo que para todos os outros entes, a essência significa uma aptidão para ser, ou seja, são potências por que se transformam constantemente num eterno vir a ser. Com Deus não ocorre o mesmo, ele jamais é um vir a ser, por que sempre é o mesmo. Em conclusão, Deus como criador de todo o mundo faz com que as criaturas participem do seu ser, assemelhando-se a ele, mas nenhuma se assemelha inteiramente. Somente por analogia podemos compreender Deus por suas criaturas, pois o que se fala das criaturas, aplica-se a Deus, mas nem tudo que se fala de Deus aplica-se às criaturas. Por isso, é possível pensar em um Deus uno e trino ao mesmo tempo sem recorrermos a qualquer criatura do mundo. As cinco vias ou provas da existência de Deus. Para Santo Tomás é possível provar a existência de Deus por meio da razão, ao menos, por analogia, partindo dos efeitos do mundo. Assim, propõe e analisa cinco vias ou caminhos que podem provar sua existência: o da mutação, o da causalidade eficiente, o da contingência, o dos graus de perfeição; o do finalismo. O caminho da mutação é aquele que parte de uma observação simples: as coisas do mundo, todas elas, estão sujeitas à mutação. Tudo o que foi movido, o foi por outros e, com isto, vai da potência ao ato. Desta forma, se o mundo é todo movimento, então, este movimento deve ter tido uma origem: um motor imóvel o qual não seja ele mesmo movido por nada, senão, não poderia ser o princípio. O caminho da causalidade eficiente afirma que tudo o que ocorre no mundo tem uma causa eficiente que provocou o efeito, se recuarmos em busca de uma causa primeira somente no mundo material não encontraremos a primeira causa de todas, por isso, considere-se que Deus é a causa primeira de todas as ações que no mundo se dão pela relação entre causa e efeito. O caminho da contingência afirma que tudo neste mundo de mutações, é contingente porque poderia ou não ocorrer. Quando uma coisa ocorre, no entanto, há uma causa que provocou o efeito. Assim, todas as coisas no mundo tem possibilidade de ser ou não ser, de ocorrer ou não. Neste caminho, se retrocedermos o próprio mundo pode ser considerado contingente, pois poderia ou não existir. Deve haver contudo, algo que não seja contingente, que seja necessário e seja, ao mesmo tempo, a causa de todos outros contingentes. O caminho dos graus de perfeição demonstra que entre todas as coisas há gradações que vão do menos para o mais – menos quente para o mais quente, por exemplo – do maior para o menor etc. Estes diferentes graus de perfeição nos levam a compreender que devem existir, necessariamente, algo sumamente perfeito que é a causa das coisas perfeitas existentes no mundo que são a causa, por sua vez, das coisas menos perfeitas que ela dependem. Esta causa sumamente perfeita é Deus. O caminho do finalismo nos leva a compreender que a ordem do mundo natural é dada a partir da finalidade. As coisas naturais agem em virtude de um fim determinado. O que não é inteligente não pode mover-se para um fim se não for dirigido para isso, no exemplo do próprio Santo Tomás de Aquino, uma flecha não vai ao alvo se não for dirigida pelo arqueiro. Assim, a ordem harmônica estabelecida no mundo não pode ser fruto da contingência, mas de uma inteligência que a dirige para a finalidade e para a harmonia. Como vimos, a autonomia da filosofia em Santo Tomás de Aquino é patente, no entanto, esta autonomia possui uma referência da qual não pode prescindir: Deus existe e este Deus é o ser. Como sua filosofia depende fundamentalmente da sua metafísica, então, a existência deste ser determina a possibilidade de conhecimento de todas as outras coisas, exatamente como Aristóteles havia feito na Antigüidade, mas, agora, Santo Tomás o faz comtodo o peso da história e da filosofia cristã. O Problema dos Universais Os universais são conceitos elaborados pela razão humana que definem como pertencentes a um mesmo grupo seres individuais diferentes formando idéia de coletivos. Por exemplo, a Terra é povoada por homens e mulheres individuais, mas por abstração, formulamos o conceito de humanidade; a cobertura das casas é formada por telhas individuais, mas formulamos o conceito abstrato de telhado que não é nada além de um conjunto de telhas, portanto, poderíamos nos perguntar se telhado realmente existe ou se o que existem são somente as telhas individuais. Há, basicamente, três posturas relativas ao problema dos Universais: a primeira é a dos realistas oriundos das correntes idealistas, como a de Platão e a de Guilherme de Champeaux (1070 – 1125), que consideram os universais entes metafísicos e lhes atribui existência real, autônoma e são mesmo anteriores às coisas físicas (ante res). Os nominalistas definem os universais como simples nomes, flatus vocis, (numa tradução livre palavras ao vento) que não possuem existência real e que não se referem a nenhuma coisa real. O nominalismo tem como principal representante Roscelin de Compiègne (1050 – 1120). Os realistas moderados, como Pedro Abelardo, também chamados de conceptualistas. A razão pode captar algo em comum entre indivíduos particulares e, a partir dessa similitudo, formular conceitos universais. Estes universais não são uma coisa, mas indicam um modo de ser de determinados indivíduos. Assim, o Homem como essência não existe, mas um ser-um-homem é uma condição concreta e real, comum a todos os homens concretos. Com o humanismo e o renascimento, filosofia escolástica teve de conviver com pesquisas que resgataram obras que não se encaixavam na filosofia aristotélica e, aos poucos, viu ruir seu edifício de razão. Tanto na filosofia, como na física e na cosmologia novas doutrinas surgiram e ganharam, aos poucos, os espaços que eram reservados aos doutores da escolástica. UNIDADE 3 - FILOSOFIA MODERNA A Filosofia Moderna caracteriza-se por sua oposição à Filosofia Medieval, em especial, à Escolástica e seu argumento de autoridade. De modo simplificado, podemos dizer que o fascínio exercido por Aristóteles e pelo acordo que se estabeleceu entre sua obra, a Bíblia e a dogmática cristã, que não admitiam novas proposições em diversos campos do saber, como a teoria do conhecimento, a ética, a política, a estética e outros. Contudo, o termo “idade das trevas”, não é adequado para ao período medieval, pois trata-se de um preconceito inadmissível dada a riqueza cultural, filosófica e histórica deste período. Os argumentos dos modernos, porém, tinham por objetivo romper com os paradigmas medievais. Teoria do Conhecimento Inatismo O inatismo é a corrente da teoria do conhecimento que considera a principal origem de nossos conhecimentos a razão em oposição aos empiristas que consideram a origem de nossos conhecimentos os nossos sentidos, porque possuiríamos conhecimentos que não devem sua origem aos sentidos. Além de Descartes, cuja obra será analisada a seguir, costuma-se definir as obras de Nicolas Malebranche (1638 – 1715) e de Wilhelm Leibniz (1646 – 1716) como representantes do inatismo, ainda que as obras dos três filósofos apresentem diferenças significativas. René Descartes (1596 – 1650) teve uma formação intelectual sólida com base nos princípios da escolástica em seus estudos no colégio La Flèche. Ao terminar os estudos, porém, começou a elaborar uma doutrina filosófica que fugia aos princípios dos argumentos de autoridade da física de Aristóteles e baseou suas pesquisas em outros parâmetros. Sua obra inaugura uma visão sobre o mundo que irá dominar todo o pensamento moderno e até mesmo o contemporâneo: o mundo como mecanismo, como máquina. Se ele é um mecanismo então suas “leis mecânicas” podem ser conhecidas e traduzidas em forma de matemática e geometria. Em O Discurso do Método demonstra que o conhecimento da natureza não pode ser feito com base em silogismos, mas deve haver experiências que investiguem os fenômenos. Estuda o corpo humano, os fenômenos óticos e outros elementos naturais. Insiste que, quando se trata de pesquisas deste gênero, é preciso proceder com método. Assim, estabelece quatro regras fundamentais para qualquer pesquisa. A primeira é a evidência: nunca aceitar nada como certo se não tivermos clareza e distinção de nosso objeto. A segunda é a análise “dividir cada problema que se estuda em tantas partes menores quantas for possível e necessário para melhor resolvê-lo”. Terceira, síntese: que é conduzir o pensamento dos objetos mais simples e fáceis de conhecer – obtidos pela análise – de tal forma a poder atingir graus de conhecimentos mais complexos. A quarta: revisão, cujo objetivo é evitar a precipitação, fazendo “enumerações completas e revisões gerais” para ter certeza de que não saltou nenhuma etapa. Nas Meditações Metafiísicas, Descartes se põe a investigar se pode obter certeza absoluta de nossos conhecimentos. Começa por demonstrar que todos os conhecimentos derivados dos sentidos podem nos enganar, toma como exemplo, os sonhos que nos iludem: neles temos sensações que parecem as de quando estamos acordados. Para chegar a uma certeza absoluta elimina, desta forma, todos os conhecimentos que sejam derivados dos sentidos. Até aqui a matemática e a geometria são modelos de ciências que não se equivocam, pois não dependem dos sentidos para serem verdadeiras. Mas, e se um Gênio Maligno e um Deus Enganador nos fazem equivocarmo-nos inclusive sobre as certezas matemáticas? Qual será a certeza de que nossa razão é capaz de construir um conhecimento verdadeiro? Chega, por meio da dúvida hiperbólica, ao ponto máximo de suas Meditações: mesmo que esteja sendo enganado e, portanto, põe em dúvida todas as suas certezas, duvida e, se duvido penso. Este é o primeiro passo. O seguinte é: ora, se penso, logo existo. Este é o cogito cartesiano, a certeza mais fundamental de que nossa razão pode encontrar verdades inquestionáveis. Observamos que Descartes não rejeita as experiências como forma de obter conhecimentos, mas as submete, sempre ao crivo da razão. O fato de considerar a matemática e a geometria, bem como sua metafísica, fundamentos de nossos conhecimentos lhe valem a classificação de inatista, pois os conhecimentos destas ciências não nos vêm pelos sentidos, mas inteiramente da razão. Empirismo O empirismo considera que nossos primeiros conhecimentos vêm dos sentidos e que, portanto, não há conhecimentos inatos em nossa alma quando nascemos. São representantes desta corrente Francis Bacon (1561 – 1626), Thomas Hobbes (1588 – 1679), John Locke (1632 – 1704), George Berkeley (1685 – 1753) e David Hume (1711 – 1776). Tomaremos como referência para nossos estudos a obra de John Locke. Locke escreveu sobre quase todos as áreas da filosofia, sobre política publicou os Dois Tratados sobre o Governo Civil, sobre a religião Carta sobre a Tolerância; a respeito da educação escreveu Pensamentos sobre a Educação; a respeito da teoria do conhecimento escreveu Sobre o Intelecto Humano. Esta última obra levou mais de vinte anos para ser concluída. Seguindo a tese de Bacon, de que deveríamos desenvolver nosso intelecto, Locke procura aplicar este princípio não sobre os objetos de conhecimento sobre os quais o intelecto se põe a estudar, mas sobre o próprio intelecto. Sua convicção é a de que se conhecermos melhor sua forma de funcionamento poderemos utilizá-lo de maneira mais adequada. Locke avisa seu leitor de que utilizará o termo “idéia” num sentido diferente daquele que fora empregado por Platão e do que fora empregado por Descartes. Para ele, idéia é qualquerobjeto do pensamento humano: “Portanto, eu o usei para expressar tudo o que pode ser entendido por imagem, noção, espécie ou tudo em torno do qual o espírito pode ser utilizado no pensar”. Para Locke não existem idéias inatas, nem qualquer tipo de princípio inato em nosso espírito ao nascermos; nosso intelecto não é capaz de criar idéias nem tampouco de destruí-las; a experiência constitui a fonte e o limite das idéias de nosso intelecto. Dizer que a experiência é a fonte das idéias de nosso intelecto pode parecer um exagero, já que possuímos idéias que, remotamente derivam dos sentidos. Por exemplo, todas as noções numéricas nascem da experiência, só começamos a contar numerando objetos, mas quando resolvemos uma complexa equação ainda dependemos dos sentidos? Por outro lado, no campo da política, quando definimos o que é justo e o que não é justo, qual é o papel da empiria numa reflexão dessas? Locke, para responder dificuldades semelhantes, passa a analisar os diferentes graus e níveis das nossas idéias dividindo-as em dois grupos principais: as idéias simples e as idéias complexas. As idéias simples podem provir de três fontes: da sensação que nos fornece informação como cores, volumes, sabores; da reflexão, como as percepções e as vontades; e da reflexão juntas, quando começo a distinguir e comparar: vejo duas pedras, uma maior e outra menor. As idéias simples, portanto, nos fornecem os elementos fundamentais para que possamos abordar, posteriormente, problemas mais complexos. De qualquer maneira, observa-se que Locke propõe uma forma de teoria que elimine a necessidade das idéias inatas para explicar como podemos conhecer. As idéias complexas são divididas em três grupos. As idéias complexas de modos são idéias de espaço, tempo e que exijam julgamento diante de um dilema; as idéias complexas de substâncias nos permitem pensar sobre coisas corpóreas, espirituais e Deus; por fim, as idéias complexas de relações nos mostram relações como as de causalidade (causa e efeito) identidade e idéias morais. Criticismo Emanuel Kant (1724 – 1804) formula uma concepção de nosso conhecimento que tem por objetivo superar o dilema entre inatistas e empiristas, propondo uma solução que reúna os aspectos positivos de ambas. Kant utiliza como estrutura de sua teoria a mesma criada por Aristóteles, mas modifica-lhes o conteúdo. Observam os estudiosos que o fundador do Liceu também acreditava ser necessário realizar uma síntese entre os naturalistas (os pré-socráticos) e os inatistas (Platão e sua teoria das idéias). O termo criticismo vem de seus três livros mais importantes: A Crítica da Razão Pura, a Crítica da Razão Prática e a Crítica do Juízo. O próprio Kant afirma que foi Hume quem o despertou de seu “sono dogmático”. Esta expressão significa que ele, e a filosofia ou Metafísica, aceitavam como verdadeiras teses que, na verdade, ainda precisavam passar por um exame crítico da razão. Dentre estas, a mais conhecida é a da causalidade. Hume observou que a experiência nos transmite uma falsa idéia de causalidade, por exemplo, pelo fato de o sol ter nascido todos os dias até hoje, supomos que nascerá amanhã, mas esta é uma certeza apenas abstrata, pois isto pode não acontecer. Kant alega, também, inspirar-se na obra de Isaac Newton (1642 – 1727), cuja física dera um avanço significativo ao transformar as leis da natureza em equações matemáticas que permitia o estudo das experiências com um rigor científico muito maior. Assim, tomando como modelo a física, procura fazer com a filosofia o mesmo avanço desta ciência. O primeiro problema enfrentado por Kant era encontrar uma ciência pura a priori, o que significa uma ciência, cujo conhecimento não dependa em nada dos sentidos, mas somente da razão pura. Estas ciências já existiam: eram a matemática e a geometria, contudo, elas não conseguiam ir além dos seus limites, isto é, ainda não conseguiam explicar a natureza. A física de Newton, porém, conseguiu obter princípios que não dependiam dos sentidos e, ao mesmo tempo, serviam para estudar a natureza, voltar-se para fora de sua abstração. Kant deseja fazer o mesmo da Metafísica, ou seja, para ele, as doutrinas filosóficas até então construíam sistemas que falavam do mundo, mas na verdade ficavam fechadas dentro de seus próprios limites; como geômetras e matemáticos, os filósofos construíam sistemas perfeitos, os quais, no entanto, não podiam servir para o estudo do mundo exterior a eles. A filosofia de Kant procura, então, encontrar quais são os fundamentos filosóficos que em nada dependeriam da experiência e que, contudo, serviriam para estudá-la. O primeiro fundamento desta sua doutrina é a diferença entre juízo analítico e juízo sintético. Os juízos analíticos são aqueles que formulamos a priori, sem necessidade de recorrer à experiência. Este tipo de juízo é universal e necessário, porque qualquer ser racional que reflita sobre ele deve chegar às mesmas conclusões, mas ele não amplia o nosso conhecimento. Os juízos sintéticos são aqueles que formulamos a posteriori a partir da experiência. Este tipo de juízo não é universal e necessário, justamente por que depende da experiência, mas por outro lado, amplia o nosso conhecimento sobre os objetos do mundo. O juízo sintético acrescenta um predicado a um objeto que não poderia ser extraído dele por mera análise, por exemplo, quando diz se que “um corpo é pesado” formula-se um juízo sintético porque o conceito “peso” não pode ser extraído por pura análise do conceito “corpo”. Assim, Kant considera que há um tipo de juízo que pode ser ao mesmo tempo universal, necessário e que, mesmo assim, amplie o nosso conhecimento. Trata-se dos “juízos sintéticos a priori”. Até então, somente as leis de Newton haviam chegado a este nível, apesar de serem extraídas da experiência eram universais e necessárias. A Revolução Copernicana é o termo utilizado por Kant para definir a mudança que esta sua teoria implica. Na Crítica da Razão Pura afirma: “O mesmo aconteceu com os pensamentos de Copérnico que, depois das coisas não quererem andar muito bem com a explicação dos movimentos celestes admitindo-se que todo o exército de astros girava em torno do espectador, tentou ver se não seria mais bem sucedido se deixasse o expectador mover-se e, em contrapartida, os astros em repouso. Na Metafísica pode-se, então, tentar algo similar no que diz respeito à intuição dos objetos. Se a intuição tivesse que se regular pela natureza dos objetos, não vejo como se poderia saber algo a priori a respeito da última, se o objeto se regula pela natureza de nossa faculdade de intuição, posso então representar-me muito bem essa possibilidade”. (1979, p. 14). Kant quer dizer que o conhecimento não está no objeto, mas em nosso intelecto. Num exemplo simplificador, afirmamos que não existe numa rocha determinada mica, feldspato ou quartzo. Estes nomes, as definições de compostos químicos são todos provenientes somente de nosso intelecto. Assim, Kant se põe a trabalhar na elaboração de uma doutrina que investigue as possibilidades de conhecimento humano. Ao estudo destas possibilidades ele dá o nome de transcendental , isto é, todo o conhecimento que não se ocupa tanto com os objetos, mas com o modo de conhecê-los. Na Estética Transcendental estuda o modo de conhecer pela sensibilidade. Este termo deriva do uso que Aristóteles fazia de aestesis, isto é, sensibilidade. Nada tem a ver com o outro uso que se dá a esse termo: o estudo do belo. Analítica transcendental estuda os elementos apriorísticos do entendimento. Novamente, seu vínculo com Aristóteles, pois trata-se de uma revisão e ampliação de sua Lógica. Lembremos que o estagirita não utilizou o termo lógica, mas analítica. Por fim, a Dialética Transcendental estuda o usoque o intelecto pode fazer com as categorias de conhecimento determinando o campo de atuação exato da Metafísica, agora revigorada pela Revolução Copernicana e distante do sono dogmático que a dominara por mais de dois milênios. FILOSOFIA POLÍTICA Da mesma forma que na área da Teoria do Conhecimento, a Filosofia Política buscou novos referenciais para a elaboração teórica do poder do Estado. Em linhas gerais, durante a Idade Média predominou a tendência do direito divino. Esta corrente preconiza que o direito dos governantes é conseqüência imediata do poder de Deus e que, portanto, resistir ao poder soberano era resistir à vontade divina. Ao final da Idade Média, porém, surgiram filósofos que questionaram esta proposição de poder soberano e elaboraram novas formas de compreendê-lo. Dentre estes nomes destaca-se, sobremaneira, o de um filósofo florentino. Maquiavel Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) escreveu duas obras que são obras primas da filosofia política: Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio e O Príncipe. A primeira é uma análise do início da república romana, a respeito da qual Maquiavel demonstra imensa admiração e de onde tira importantes lições para a política. Tito Lívio é um historiador romano, cuja obra mais conhecida é História de Roma. A Itália, no tempo de Maquiavel, era uma região completamente fragmentada do ponto de vista político havendo alguns Estados fortes como os Pontifícios, sob domínio do Papa; Florença, Veneza, Milão e o Reino de Nápoles. Esta situação tornava-a presa fácil dos interesses vizinhos como Espanha, França e de alguns príncipes germânicos. Maquiavel, como muitos de seu tempo, sonhava ver a Itália novamente unificada politicamente sob um único comando. Seu envolvimento com a política deu-se a partir do momento em que se torna secretário do governo de Florença e exerce funções diplomáticas, cujos registros ainda hoje são objeto de análise de seu pensamento. Com a queda da República ele perde suas funções no poder de Florença e, desde então, passa a sonhar com a volta da posição de homem de Estado. Vivendo só e sem outros compromissos escreveu e produziu a maior parte de suas obras, inclusive a Mandrágora, peça de teatro que é uma das obras primas da literatura italiana. Neste período de ausência da política escreveu o Príncipe e dedicou-o a Lourenço de Médici com a intenção de que este se tornasse o líder que seu avô, Lourenço, o Magnífico, fora, e unificasse a Itália. O livro é bem acolhido e ele, consegue, depois de algum tempo ocupar um cargo público. Para seu azar, menos de dois anos depois, em 1527, a casa dos Médici cai e os republicanos, acreditando que ele se tornara um monarquista retiram-lhe o cargo público. Desolado com esta situação Maquiavel adoece e morre vilipendiado por seus concidadãos. Teria ele deixado os ideais republicanos tão bem expostos nos Comentários? Os estudiosos são unânimes em afirmar que não. O fato é que, O Príncipe, como veremos é uma obra que trata da natureza do poder, não do ponto de vista das abstrações teóricas dos filósofos, mas do ponto de vista de seu exercício. Assim, é uma lição que serve para monarquias e repúblicas. Nesta obra ele compara as ações, corretas e incorretas, de grandes príncipes da Antigüidade e da história da Itália de tal modo que vai construindo uma lição para o jovem Lourenço de Médici. Mas afinal de contas, qual era o objetivo de Maquiavel ao escrever o Príncipe? Ele quer demonstrar quais são as formas que os príncipes devem agir, conforme as circunstâncias, para se manter no poder. Considera que o objetivo de todo príncipe é este, então, que tirem das lições do passado instruções para o exercício do poder. Dois conceitos são fundamentais para compreender este processo: virtú e fortuna. A virtú (virtude, em latim), para Maquiavel, não tem o mesmo significado da virtude cristã. Para ele, um príncipe virtuoso é aquele que sabe melhor aproveitar as situações para manter seu poder. Neste sentido, a fortuna (destino, em latim) não está sob o domínio do príncipe, por isso ele deve saber caminhar conforme suas exigências e esta é a sua virtude. Maquiavel dirá, a este respeito que o príncipe deve ter em si duas naturezas: a do leão e a da raposa, pois há circunstâncias que exigem força e outras, astúcia. Por isso, dirá que se o príncipe tiver de agir de tal modo a desagradar o povo, que o faça de uma única vez, porque este, tendo a memória curta, esquece logo o mal que lhe é feito e o bem também, por isso, o bem deve ser feito aos poucos para que o povo tenha sempre uma imagem favorável de seu soberano. Maquiavel é bastante objetivo ao dizer que o príncipe deve manter a palavra dada somente se as circunstâncias se mantiverem as mesmas, por isso, se tiver que faltar com a própria palavra deverá fazê-lo. O soberano não deve agir conforme os valores cristãos para não por seu poder e a independência de sua nação em risco, pois como pode um príncipe perdoar inimigos externos e internos, não mentir, não usar a violência quando necessária? Adverte, contudo, que se o príncipe não pode ter estas virtudes cristãs, deve não obstante, parecer tê-las. Por fim, no capítulo XVIII expõe de modo sintético sua teoria: “Os homens, em geral, julgam mais com a vista do que com o tato, eis que ver é dado a todos, sentir, a poucos. Todos vêem o que pareces ser, poucos sentem o que és; e estes poucos não ousam opor-se à opinião dos muitos que contam com a majestade do Estado para a sua defesa. Nas ações de todos os homens, especialmente dos príncipes, contra os quais não há tribunal a recorrer, os fins é que contam. Faça, pois, o príncipe tudo para alcançar e manter o poder; os meios de que se valer serão sempre julgados honrosos e louvados por todos, porque o vulgo atenta sempre para aquilo que parecer ser e para os resultados.” (1989, p. 113, grifos nossos). Contratualismo Entende-se por contratualismo em filosofia política, as teorias que supõem ser o poder político do Estado resultante de uma convenção: de que todos os homens pactuaram em ceder seu poder pessoal em favor do poder comum para que tivessem mais segurança. Muitos críticos do contratualismo dizem que isto é impossível, que esta reunião ou assembléia que fundou o estado jamais existiu em lugar algum do tempo. Mas seus defensores insistem que não se trata de uma convenção concreta e sim de uma abstração teórica que não visa explicar como chegamos até aqui, mas como esta situação se torna legítima. Hobbes Thomas Hobbes (1588 – 1679) era um defensor do poder absoluto a ser concentrado nas mãos do soberano sem que tivesse de partilhá-lo com ninguém. Sua dificuldade, portanto, era fazer com que a justificativa do poder absoluto não recorresse ao argumento do direito divino, para que o rei não fosse, de uma forma ou de outra, submetido à vontade do clero. Dizemos que ele procurou definir o absolutismo sem recorrer à teologia. Em sua obra O Leviatã procura delimitar sua doutrina política a partir de alguns elementos como o estado de natureza humana e o estado de guerra; o pacto social; a constituição do poder soberano. O Leviatã, imagem utilizada por Hobbes para ilustrar seu pensamento, é um monstro bíblico que aparece descrito no livro de Jó. Leviatã significa crocodilo e a descrição é a de um monstro invencível aos homens: “Na terra ninguém se iguala a ele, pois foi feito para não ter medo. Afronta os mais altivos, é rei das feras soberbas”. (Jô, 41). O significado da imagem utilizada por Hobbes é o de um poder que esteja acima de todos os homens e que pode obrigar a fazê-los o que se comprometeram a fazer quando adentraram a sociedade: obediência ao soberano. Para Hobbes é necessário um poder desta magnitude em virtude da própria natureza humana. Para ele, quando nos encontramosem estado de natureza tendemos a sempre dar preferência a nós mesmos a despeito dos outros. Querendo sempre o melhor para si mesmo e disposto a lutar para consegui-lo, a sociedade humana mergulhou em um estado de guerra constante entre os homens. Aliás, para Hobbes, estado de guerra e estado de natureza são um só. Assim, os homens estando numa “guerra de todos contra todos” torna-se seu pior inimigo, por isso ele dirá em outra obra, intitulada Do Cidadão: “o homem é o lobo do homem”. A saída para esta situação encontra-se no momento em que os homens percebem que não há qualquer garantia da vida e da liberdade, por isso, resolvem fazer um pacto entre si e comprometerem- se a ceder todos os seus direitos em favor de um soberano que os governe a todos de tal modo a garantir a paz e as propriedades, até certo ponto. Para tanto, precisa ter força para garantir que ninguém violaria o pacto, daí sua máxima: os pactos sem a espada não passam de palavras. É interessante observar que para Thomas Hobbes o pacto é realizado pelos homens que concordam em ceder o poder ao soberano para que ele exerça o poder. O soberano não pactua com ninguém, portanto não tem compromissos com aqueles que lhe concederam o poder. Hobbes conclui que o soberano até pode ser iníquo, mas jamais pode ser considerado injusto, pois como não está submetido a nenhuma lei, mesmo as que ele faz, não pode incorrer em injustiça, porém pode ser iníquo porque não é obrigado a tratar os cidadãos com igualdade. O soberano hobbesiano pode ser um único homem ou uma assembléia de homens, mas ele diz que o aconselhável é que seja um homem, porque como o soberano não tem qualquer obrigação com ninguém irá favorecer seus amigos, assim será sempre menor o número de amigos de um homem só do que de muitos. Portanto, a teoria hobbesiana implica em legitimar tanto o poder nas repúblicas (a assembléia de homens) como numa monarquia e ele, particularmente, prefere as monarquias. Hobbes ainda observa que não é legítimo derrubar o soberano, porque isto só poderia ser feito com base nas injustiças que ele tenha cometido, em ações que sejam contrárias às leis a que ele estivesse submetido, mas como não está submetido a qualquer uma não pode ter infringido nenhuma. No entanto, para Hobbes, caso o soberano condene alguém a morte esta pessoa ainda tem o direito de tentar fugir, porque o direito à vida é o único que não é cedido no momento do pacto. Não foram poucas as críticas que recebeu e, dentre elas, a de que foi extremamente duro com o gênero humano ao acusá-lo de ser sempre egoísta e, com este sentimento, provocar uma guerra constante de todos os homens. Sua resposta, porém é precisa e mordaz: “Que seja, portanto, ele considerar-se a si mesmo: que quando empreende uma viagem se arma e procura ir bem acompanhado; que quando vai dormir fechas as portas; que mesmo quando está em casa tranca seus cofres; e isto mesmo sabendo que há funcionários públicos armados, prontos a vingar qualquer injúria que lhe possa ser feita. Que opinião tem ele de seus compatriotas, ao viajar armado; de seus concidadãos, ao fechar suas portas; e de seus filhos e servidores, quando tranca seus cofres? Não significa isso acusar tanto a humanidade com seus atos como eu o faço com minhas palavras? (1988, p. 76). Muitos foram os críticos de Thomas Hobbes, dentre eles o alemão Samuel Pufendorf (1632 – 1694), o qual em sua refutação propõe que há um duplo pacto de associação: o primeiro é entre os cidadãos que se comprometem a cumprir as leis; o segundo, realizado entre a assembléia e o soberano e, neste momento, o soberano também está limitado por um pacto e compromissos com os cidadãos. John Locke também discordou do autor do Leviatã, pois para ele, o parlamentarismo resolveria o problema da estabilidade do poder. Também não aceita a idéia de que o poder soberano não pactua com ninguém e, portanto, não tem compromissos com o povo, pois nada mais é do que seu representante. Rousseau Outro crítico de Hobbes foi Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) filósofo genebrino que escreveu, dentre outras importantes obras, Do Contrato Social ou os princípios do Direito Político. Nesta obra, procura recolocar a questão da origem do poder que os outros teóricos não souberam propor. No Livro I do Contrato Social afirma: “O homem nasceu livre e em toda parte está a ferros. Este se acredita senhor de outros, e não deixa de ser mais escravo que aqueles. Como ocorreu esta mudança? Eu ignoro. O que pode torná-la legítima? Acredito resolver esta questão”. (1973, p. 28). Seu objetivo não é defender uma ou outra forma de poder político, mas analisar quais seriam os fundamentos do direito político. Como dissemos mais acima, Rousseau pertence à tradição contratualista porque considera o poder político oriundo de uma convenção na qual os homens concordam em ceder seu poder em troca de determinadas garantias. Mas a originalidade de sua proposta reside no seguinte ponto: quando os homens realizam o pacto contratam entre si. O soberano rousseauísta, no entanto, não é um homem nem uma assembléia de alguns homens, mas o próprio povo. Sendo que o povo é o único soberano este poder é intransferível, jamais o povo pode transferir a soberania para alguém. Sua soberania reside no direito de fazer leis para si mesmo e seu dever, contratado no momento do pacto, é obedecer estas leis que o povo dá a si mesmo. Ora, mesmo sob o contrato social, portanto, permanecemos livres, pois obedecemos somente as leis que damos a nós mesmos. O povo atende a uma dupla função, no entanto. São cidadãos quando reúnem-se em assembléia para deliberar, propondo, derrubando ou reformulando as leis. Uma vez dissolvida a assembléia, retornam ao estado de súditos, porém, como vimos mais acima, súditos do soberano que nada mais é do que o próprio povo. Como afirma Rousseau a esse respeito: “Imediatamente, esse ato de associação produz, em lugar da pessoa particular de cada contratante, um corpo moral e coletivo, composto de tantos membros quantos são os votos da assembléia, e que, por esse mesmo ato, ganha sua unidade, seu eu comum, sua vida e sua vontade. (...) Quanto aos associados, recebem ele, coletivamente, o nome de povo e se chamam, em particular, cidadãos enquanto partícipes da autoridade soberana, e súditos enquanto submetidos às leis do Estado. Esses termos, no entanto, confundem-se freqüentemente, e são usados indistintamente; basta saber distingui-los quando são empregados com inteira precisão.” (1973, p. 40). Rousseau concorda com Hobbes que há um único pacto: aquele que o povo trata consigo mesmo, mas as semelhanças vão somente até aí. Enquanto para o inglês o resultado do pacto é que o povo transfere seu poder a um homem que exercerá o poder soberano, Rousseau propõe que os governantes, responsáveis por vigiar a obediência às leis, não passem de funcionários públicos, escolhidos para servir ao Estado e, em momento algum, ocorre a transferência de poder para eles. Há ainda um outro aspecto de sua obra o qual aborda a mesma problemática analisada por outros contratualistas. O problema do estado de natureza e do estado de guerra entre os homens. Em seu livro Discurso sobre as Origens e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens Rousseau analisa o chamado estado de natureza e não concorda com Hobbes que o homem seja mau e egoísta por natureza, para ele, o homem tende ao bem, pois sua natureza é boa uma vez que foi criada por Deus. É somente com a entrada na sociedade que o mal penetra no coração humano. Portanto, o estado de natureza não levou os homens ao estado de guerra, este é resultado do estado civil. Assim define o que chama os dois tipos de desigualdade entre os homens: “Concebo, na espécie humana, dois tipos de desigualdade: uma que chamo de natural
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