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2 SUMÁRIO FASES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL.................................................. 03 O DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA CRIANÇA ............................................. 23 A EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA EDUCAÇÃO INFANTIL .................................. 28 DISLEXIA NO PRÉ-ESCOLAR OU NA EDUCAÇÃO INFANTIL ...................... 34 A DISCALCULIA INFANTIL.............................................................................. 37 A DISGRAFIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL....................................................... 48 TDAH - TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE ......................................................................................................................... 52 A DISORTOGRAFIA INFANTIL ....................................................................... 59 A PEDAGOGIA HOSPITALAR ......................................................................... 62 A IMPORTÂNCIA DOS PRIMEIROS SOCORROS NO AMBIENTE ESCOLAR ....................................................................................................................... ..68 3 FASES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL O desenvolvimento é frequentemente dividido em domínios específicos, como motor grosseiro, motor fino, linguagem, cognitivo e crescimento social/emocional. Essas designações são úteis, mas existem superposições substanciais. Os estudos estabeleceram as médias de idades alcançadas por marcos específicos, bem como as faixas de normalidade. Em uma criança normal, os progressos são variáveis dentro de diferentes domínios, como no caso da criança que começa a andar tarde, mas fala sentenças cedo. Influências ambientais, que variam da nutrição até a estimulação e do impacto da doença até os efeitos de fatores psicológicos, interagem com fatores genéticos para determinar o grau do progresso e padrão de desenvolvimento. A análise do desenvolvimento ocorre constantemente quando pais, profissionais da escola e médicos avaliam as crianças. Muitas são as ferramentas disponíveis para monitorar o desenvolvimento com mais especificidade. O Denver Developmental Screening Test II facilita a avaliação em vários domínios. A ficha de pontuação indica a média das idades em que são adquiridas certas aptidões e demonstra com exatidão o conceito crítico da faixa de normalidade. Outras ferramentas também podem ser usadas. Desenvolvimento motor O desenvolvimento motor inclui o motor fino (p. ex., pegar pequenos objetos, desenhar) e habilidades motoras grosseiras (p. ex., andar, subir escadas). É um processo contínuo que depende do padrão da família, de fatores ambientais (p. ex., quando a atividade é limitada por uma doença prolongada) e disfunções específicas (p. ex., paralisia cerebral, retardo mental, distrofia muscular). Normalmente, as crianças começam a andar aos 12 meses, podem subir escadas mantendo-se firme aos 18 meses e correm 4 bem aos 2 anos, mas a idade em que essas habilidades são adquiridas pelas crianças normais variam amplamente. O desenvolvimento motor não deve ser acelerado de modo significativo pela aplicação de estímulos aumentados. Desenvolvimento da linguagem A habilidade de compreensão da linguagem precede a habilidade da fala; crianças com poucas palavras geralmente podem compreender bastante. Embora atrasos de linguagem não sejam tipicamente acompanhados de outros de desenvolvimento, todas as crianças com excessivo atraso de linguagem deveriam ser avaliadas quanto à existência de outros atrasos de desenvolvimento. Crianças com atrasos das linguagens receptiva e expressiva apresentam, mais frequentemente, outros problemas de desenvolvimento. A avaliação de qualquer retardo deve ser iniciada com testes auditivos. A maioria das crianças que apresentam atraso de linguagem tem inteligência normal. Por outro lado, crianças com desenvolvimento acelerado da linguagem estão frequentemente acima da média de inteligência. Progressos de linguagem abrangem desde o modo de expressar os sons vogais (arrulhar) até a introdução de sílabas que se iniciam com consoantes (ba-ba- ba). A maioria das crianças pode dizer “Papa” e “Mama” aos 12 meses, usa várias palavras aos 18 meses e forma frases de 2 ou 3 palavras aos 2 anos. Aos 3 anos, em média, uma criança pode manter uma conversação. Aos 4 anos, ela pode contar histórias simples e envolver-se em uma conversa com adultos ou outras crianças. Aos 5 anos, a criança pode ter um vocabulário de vários milhares de palavras. 5 Mesmo antes dos 18 meses, as crianças podem ouvir e compreender a história que é lida para elas. Aos 5 anos, as crianças são capazes de recitar o alfabeto e reconhecer palavras simples escritas. Toda essas habilidades são fundamentais para aprender a ler palavras, frases e sentenças simples. Dependendo da exposição a livros e habilidades naturais, a maioria das crianças começa a ler aos 6 ou 7 anos de idade. Esses limites são muito variáveis. Desenvolvimento cognitivo Desenvolvimento cognitivo refere-se ao amadurecimento intelectual das crianças. Afeto e educação apropriados ao lactente e no início da infância são reconhecidos como fatores críticos para o crescimento cognitivo e a saúde emocional. Por exemplo, a leitura para a criança, desde cedo, contribui com experiências intelectualmente estimulantes e propicia um relacionamento educativo caloroso, o que trará importante impacto sobre o crescimento nesses domínios. O intelecto das crianças pequenas é avaliado pela observação das aptidões de linguagem, curiosidade e habilidades de resolver problemas. Assim que a criança começa a verbalizar, torna-se mais fácil avaliar a função intelectual utilizando ferramentas clínicas especializadas. No momento em que a criança vai à escola, ela fica sob monitoramento constante como parte do processo acadêmico. Aos 2 anos, a maioria das crianças entende o conceito de tempo em termos amplos. Muitas crianças com 2 e 3 anos de idade acreditam que tudo o que aconteceu no passado aconteceu "ontem", e tudo o que acontecerá no futuro, acontecerá "amanhã". Uma criança nessa idade tem imaginação fértil, mas tem dificuldade de distinguir fantasia da realidade. 6 Aos 4 anos de idade, a maioria das crianças tem uma compreensão mais complicada do tempo. Elas percebem que o dia é dividido em manhã, tarde e noite. Elas podem até mesmo apreciar a mudança das estações. Aos 7 anos, as capacidades intelectuais das crianças se tornam mais complexas. Nesse momento, as crianças são cada vez mais capazes de focalizar mais de um aspecto de um evento ou situação ao mesmo tempo. Por exemplo, crianças em idade escolar podem reconhecer que um frasco alto e estreito pode armazenar a mesma quantidade de água do que um curto e largo. Elas podem reconhecer que remédios podem ter um gosto ruim, mas podem fazê-las se sentir melhor, ou que a mãe pode estar nervosa com elas, mas mesmo assim pode amá-las. As crianças são cada vez mais capazes de entender a perspectiva de outra pessoa e, assim, aprender os fundamentos de esperar sua vez em jogos ou conversas. Além disso, as crianças em idade escolar são capazes de seguir as regras consensuais do jogos. As crianças nessa idade também são cada vez mais capazes de raciocinar usando os poderes da observação e múltiplos pontos de vista. Desenvolvimento emocional e comportamental Emoção e comportamento baseiam-se no temperamento e na fase de desenvolvimento da criança. Cada criança tem um temperamento ou humor individual. Algumas crianças podem ser alegres e adaptáveis e desenvolver facilmente rotinas regulares de dormir, acordar, comer e outras atividadesdiárias. Essas crianças tendem a responder positivamente a novas situações. Outras crianças não são muito adaptáveis e podem ter grandes irregularidades em suas rotinas. Essas crianças tendem a reagir negativamente a novas situações. Contudo, outras crianças estão em algum ponto intermediário. 7 O crescimento emocional e a aquisição de aptidões sociais são avaliados pela observação da interação da criança com outras, em situações diárias. Quando a criança começa a falar, a compreensão do seu estado emocional torna-se muito mais acurada. Assim como acontece com o intelecto, a função emocional pode ser delineada mais precisamente com ferramentas especializadas. Chorar é principal meio de comunicação dos recém- nascidos. Recém-nascidos choram porque estão com fome, incomodados, aflitos e por muitas outras razões que podem não ser óbvias. É mais comum que recém- nascidos com 6 semanas de idade chorem 3 h/dia, geralmente diminuindo para 1 h/dia aos 3 meses de idade. Os pais normalmente dão às crianças que choram comida, trocam a fralda e procuram uma fonte de dor ou desconforto. Se essas medidas não funcionarem, pegar no colo ou andar com o recém-nascido algumas vezes ajuda. Às vezes, nada funciona. Os pais não devem forçar comida em recém-nascidos durante o choro, pois estes irão prontamente comer se a fome for a causa do seu desconforto. Por volta dos 8 meses de idade, os recém-nascidos normalmente se tornam mais ansiosos em relação a separar-se dos pais. Separações na hora de dormir e em creches podem ser difíceis e marcadas por acessos de raiva. Esse comportamento pode durar muitos meses. Para muitas crianças maiores, uma naninha ou bicho de pelúcia serve nesse momento como um objeto de transição, que age como um símbolo do pai ausente. Aos 2 a 3 anos, as crianças começam a testar seus limites e fazer o que elas foram proibidas de fazer, simplesmente para ver o que vai acontecer. Os "nãos" frequentes que as crianças ouvem dos pais refletem a luta pela 8 independência nessa idade. Embora angustiantes para os pais e filhos, os ataques de raiva são normais porque ajudam as crianças a expressar sua frustração durante um momento em que não conseguem verbalizar seus sentimentos. Os pais podem ajudar a diminuir o número de ataques de raiva não deixando que os filhos se cansem ou fiquem indevidamente frustrados e entendendo os padrões de comportamento dos seus filhos e evitando situações que provavelmente podem induzir a ataques de raiva. Algumas crianças têm particular dificuldade em controlar seus impulsos e precisam que os pais estabeleçam limites mais estritos em torno dos quais pode haver alguma segurança e regularidade em seus mundos. Dos 18 meses a 2 anos de idade, as crianças normalmente começam a estabelecer a identidade de gênero. Durante os anos pré-escolares, as crianças também adquirem uma noção do papel de gênero, do que meninos e meninas costumam fazer. Espera-se que elas explorem os órgãos genitais nessa idade e os sinais de que as crianças estão começando a estabelecer uma conexão entre a imagem corporal e o gênero. Entre os 2 e 3 anos de idade, as crianças começam a brincar de maneira mais interativa com outras crianças. Embora ainda possam ser possessivas em relação aos brinquedos, elas podem começar a compartilhar e até mesmo se revezar nas brincadeiras. Afirmar a posse dos brinquedos dizendo: "isso é meu!" ajuda a estabelecer o sentido do eu. Embora crianças nessa idade lutem por independência, elas ainda precisam dos pais por perto para sentir-se seguras e apoiadas. Por exemplo, elas podem se afastar dos pais quando se sentem curiosas e logo depois se esconderem atrás deles quando estão com medo. 9 Dos 3 aos 5 anos, muitas crianças se interessam por brincadeiras envolvendo fantasia e amigos imaginários. As brincadeiras envolvendo fantasia permitem às crianças exprimir com segurança diferentes papéis e sentimentos intensos de maneiras aceitáveis. As brincadeiras envolvendo fantasia também ajudam as crianças a crescer socialmente. Elas aprendem a resolver conflitos com os pais ou outras crianças de maneiras que as ajudam a desabafar frustrações e manter a autoestima. Também nesse momento, aparecem medos típicos da infância como "o monstro no armário". Esses medos são normais. Dos 7 aos 12 anos, as crianças superam inúmeros desafios: autoconceito, a base para o que é estabelecido pela competência em sala de aula; relacionamentos com colegas, que são determinados pela capacidade de socialização e adaptação; e relacionamentos familiares, que são determinados em parte pela aprovação que as crianças obtêm dos pais e irmãos. Embora muitas crianças pareçam dar muita importância a grupos de colegas, elas continuam buscando principalmente nos pais o suporte e orientação de que necessitam. Irmãos podem servir como modelos de vida e como suportes valiosos e críticos em relação ao que pode ou não ser feito. Nesse momento na vida, as crianças são muito ativa e se envolvem em muitas atividades e estão ansiosas para explorar novas atividades. Nessa idade, as crianças são aprendizes ansiosos e muitas vezes respondem bem a conselhos sobre segurança, estilos de vida saudáveis e prevenção de comportamentos de alto risco. 10 Fases do Desenvolvimento Infantil (0 a 6 anos) Berçário, Pré-Maternal, Maternal I, Maternal II, Jardim A e Jardim B Faixa etária: 0 aos 6 anos A trajetória que uma criança percorre desde que começa a deixar de ser bebê (dependência total), até começar a se transformar em um ser mais independente e autônomo está relacionado tanto às condições biológicas, como aquelas proporcionadas pelo espaço familiar e social (escola), com o qual interage. É preciso saber que: O desenvolvimento de uma criança não acontece de forma linear. As mudanças que vão se produzindo ocorrem de forma gradual, são períodos contínuos que vão se sucedendo e se superpondo. Durante a evolução a criança experimenta avanços e retrocessos, vivendo seu desenvolvimento de modo particular. Acompanhamos a construção de sua personalidade respeitando que em cada idade há um jeito próprio de se manifestar. Tanto antecipar etapas, como não estimular a criança, podem ser geradores de futuros conflitos. Cabe a família e a ESCOLA conhecer e respeitar os passos do desenvolvimento infantil. Característica da faixa etária dos 0 aos 6 meses Desenvolvimento Físico: Processo de fortalecimento gradual dos músculos e do sistema nervoso: os movimentos bruscos e descontrolados iniciais vão dando lugar a um controle progressivo da cabeça, dos membros e do tronco; Por volta das 8 semanas é capaz de levantar a cabeça sozinho durante poucos segundos, deitado de barriga para baixo; Controle completo da cabeça por volta dos 4 meses: deitado de costas, levanta a cabeça durante vários segundos; deitado de barriga para baixo começa a elevar-se com apoio das mãos e dos braços e virando a cabeça; 11 Por volta dos 4 meses o controle das mãos é mais fino, sendo capaz de segurar num brinquedo; Entre os 4 e os 6 meses utiliza os membros para se movimentar, rolando para trás e para frente; apresenta também maior eficácia em alcançar e agarrar o que quer ou a posicionar-se no chão para brincar; Desenvolve o seu próprio ritmo de alimentação, sono e eliminação; Desenvolvimento progressivo da visão; Com 1 mês, é capaz de focar objetos a 90 cm de distância; Progressivamente será capaz de utilizar os dois olhos para focar um objeto próximo ou afastado, bem como de seguir a deslocação dos objetos ou pessoas; Entre os 4 e os 6 meses a visão e a coordenação olho-mão encontram-se próximas da do adulto; Desenvolvimento da função auditiva; Entre os 2 e os 4 meses, o bebê reage aos sons e às alterações do tom de voz das pessoas que o rodeiam; Por volta dos 4-6 meses, possui já uma grande sensibilidade às modulações nos tons de voz que ouve; Desenvolvimento Intelectual A aprendizagem faz-se sobre tudo através dos sentidos; Vocaliza espontaneamente, sobretudo quando está em relação; A partir dos 4 meses, começa a imitar alguns sons que ouve à sua volta; Por volta do 6º mês, compreende algumas palavras familiares (o nome dele, "mamã", "papá"...), virando a cabeça quando o chamam; 12 Desenvolvimento Emocional Manifesta a sua excitação através dos movimentos do corpo, mostrando prazer ao antecipar a alimentação ou o colo; O choro é a sua principal forma de comunicação, podendo significar estados distintos (sono, fome, desconforto...); Apresenta medo perante barulhos altos ou inesperados, objetos, situações ou pessoas estranhas, movimentos súbitos e sensação de dor; Característica da faixa etária dos 6 aos 12 meses Desenvolvimento da motricidade: os músculos, o equilíbrio e o controlo motor estão mais desenvolvidos, sendo capaz de se sentar direito sem apoio e de fazer as primeiras tentativas de se pôr de pé, agarrando-se a superfícies de apoio; A partir dos 8 meses, consegue arrastar-se ou gatinhar; A partir dos 9 meses poderá começar a dar os primeiros passos, apoiando-se nos móveis; Desenvolvimento da preensão: entre os 6 e os 8 meses, é capaz de segurar os objetos de forma mais firme e estável e de manipulá-los na mão; por volta dos 10 meses, é já capaz de meter pequenos pedaços de comida na boca sem ajuda, é capaz de bater com dois objetos um no outro, utilizando as duas mãos, bem como adquire o controle do dedo indicador (aprende a apontar); 13 Desenvolvimento Intelectual A aprendizagem faz-se sobre tudo através dos sentidos, principalmente através da boca; Desenvolvimento da noção de permanência do objeto, ou seja, a noção de que uma coisa continua a existir mesmo que não a consiga ver; Vocalizações; Os gestos acompanham as suas primeiras "conversas", exprimindo com o corpo aquilo que quer ou sente (por ex., abre e fecha as mãos quando quer uma coisa); Alguns dos seus sons parecem-se progressivamente com palavras, tais como "mamã" ou "papá" e ao longo dos próximos meses o bebê vai tentar imitar os sons familiares, embora inicialmente sem significado; A partir dos 8 meses: desenvolvimento do, acrescentando novos sons ao seu vocabulário. Os sons das suas vocalizações começam a acompanhar as modulações da conversa dos adultos - utiliza "mamã" e "papá" com significado; Nesta fase, o bebê gosta que os objetos sejam nomeados e começa a reconhecer palavras familiares como "papa", "mamã", "adeus", sendo progressivamente capaz de associar ações a determinadas palavras (por ex: tchau-tchau" - acenar); A partir dos 10 meses, a noção de causa-efeito encontra-se já bem desenvolvida: o bebê sabe exatamente o que vai acontecer quando bate num determinado objeto (produz som) ou quando deixa cair um brinquedo (o pai ou a mãe apanha-o). Começa também a relacionar os objetos com o seu fim (por ex., coloca o telefone junto ao ouvido); Progressiva melhoria da capacidade de atenção e concentração: consegue manter-se concentrado durante períodos de tempo cada vez mais longos; A primeira palavra poderá surgir por volta dos 10 meses; 14 Desenvolvimento Emocional Formação de um forte laço afetivo com a figura materna (cuidadora) - Vinculação; Presença de ansiedade de separação, que se manifesta quando é separado da mãe, mesmo que por breves instantes - trata-se de uma ansiedade normal no desenvolvimento emocional do bebê; Presença de ansiedade perante estranhos: sendo igualmente uma etapa normal do desenvolvimento emocional do bebê, manifesta-se quando pessoas desconhecidas o abordam diretamente; A partir dos 8 meses, maior consciência de si próprio; Nesta fase é comum os bebês mostrarem preferência por um determinado objeto (um cobertor ou uma pelúcia, por ex.), o qual terá um papel muito importante na vida do bebê - ajuda a adormecer, é objeto de reconforto quando está triste, etc.; Característica da faixa etária de 01 aos 02 anos Desenvolvimento Físico Começa a andar, sobe e desce escadas, sobe os móveis, etc. - o equilíbrio é inicialmente bastante instável, uma vez que os músculos das pernas não estão ainda bem fortalecidos. Contudo, a partir dos 16 meses, o bebê já é capaz de caminhar e de se manter de pé em segurança, com movimentos muito mais controlados; 15 Melhoria da motricidade fina devido à prática - capacidade de segurar um objeto, o manipula, passa de uma mão para a outra e o larga deliberadamente. Por volta dos 20 meses, será capaz de transportar objetos na mão enquanto caminha; Desenvolvimento Intelectual Maior desenvolvimento da memória, através da repetição das atividades - permite-lhe antecipar os acontecimentos e retomar uma atividade momentaneamente interrompida, à qual dedica um maior tempo de concentração. Da mesma forma, através da sua rotina diária, o bebê desenvolve um entendimento das seqüências de acontecimentos que constituem os seus dias e dos seus pais; Exibe maior curiosidade: gosta de explorar o que o rodeia; • Compreende ordens simples, inicialmente acompanhadas de gestos e, a partir dos 15 meses, sem necessidade de recorrer aos gestos; Embora possa estar ainda limitada a uma palavra de cada vez, a linguagem do bebê começa a adquirir tons de voz diferentes para transmitir significados diferentes. Progressivamente, irá sendo capaz de combinar palavras soltas em frases de 2 palavras; É capaz de acompanhar pedidos simples, como por ex. "dá-me a caneca"; As experiências físicas que vai fazendo ajudam a desenvolver as capacidades cognitivas. Por exemplo, por volta dos 20 meses; Sabe que um martelo de brincar serve para bater e já o deve utilizar; Consegue estabelecer a relação entre um carrinho de brincar e o carro da família; Entre os 20 e os 24 meses é também capaz de brincar ao faz-de-conta (por ex., finge que deita chá de um bule para uma xícara, põe açúcar e bebe - recorda uma seqüência de acontecimentos e faz de conta que os realiza como parte de um jogo). A capacidade de fazer este tipo de jogos indica que está a começar a compreender a diferença entre o que é real e o que não é; 16 Desenvolvimento Emocional Grande reatividade ao ambiente emocional em que vive: mesmo que não o compreenda, apercebe- se dos estados emocionais de quem está próximo dele, sobre tudo os pais; Está a aprender a confiar, pelo que necessita de saber que alguém cuida dela e vai de encontro às suas necessidades; Desenvolve o sentimento de posse relativamente às suas coisas, sendo difícil partilhá-las; Embora esteja normalmente bem disposta, exibe por vezes alterações de humor ("birras"); É bastante sensível à aprovação/desaprovação dos adultos; Característica da faixa etária dos 2 aos 3 anos Desenvolvimento Físico À medida que o seu equilíbrio e coordenação aumentam, a criança é capaz de saltar ou saltar de um pé para o outro quando está a correr ou a andar; É mais fácil manipular e utilizar objetos com as mãos, como um lápis de cor para desenhar ou uma colher para comer sozinha; Começa gradualmente a controlar os esfíncteres (primeiro os intestinos e depois a bexiga); 17 Desenvolvimento Intelectual Fase de grande curiosidade, sendo muito freqüente a pergunta "Por quê?"; À medida que se desenvolvem as suas competências lingüísticas, a criança começa a exprimir-se de outras formas, que não apenas a exploração física - trata-se de juntar as competências físicas e de linguagem (por ex., quando faço isto, acontece aquilo), o que ajuda ao seu desenvolvimento cognitivo; É capaz de produzir regularmente frases de 3 e 4 palavras. A partir dos 32 meses, já capaz de conversar com um adulto usando frases curtas e de continuar a falar sobre um assunto por um breve período; Desenvolvimento da consciência de si: a criança pode referir-se a si própria como "eu" e pode conseguir descrever-se por frases simples, como "tenho fome"; A memória e a capacidade de concentração aumentaram (a criança é capaz de voltar a uma atividade que tinha interrompido, mantendo-se concentrada nela por períodos de tempo mais longos); A criança está a começar a formar imagens mentais das coisas, o que a leva à compreensão dos conceitos - progressivamente, e com a ajuda dos pais, vai sendo capaz de compreender conceitos como dentro e fora, cima e baixo; Por volta dos 32 meses, começa a apreender o conceito de seqüências numéricas simples e de diferentes categorias (por ex., é capaz de contar até 10 e de formar grupos de objetos - 10 animais de plástico podem ser 3 vacas, 5 porcos e 3 cavalos); 18 Desenvolvimento Emocional Inicialmente o leque de emoções é vasto, desde o puro prazer até a raiva frustrada. Embora a capacidade de exprimir livremente as emoções seja considerada saudável, a criança necessitará de aprender a lidar com as suas emoções e de saber que sentimentos são adequados, o que requer prática e ajuda dos pais; Nesta fase, as birras são uma das formas mais comuns da criança chamar a atenção – geralmente deve-se a mudanças ou a acontecimentos, ou ainda a uma resposta aprendida (as birras costumam estar relacionadas com a frustração da criança e com a sua incapacidade de comunicar de forma eficaz); Características da faixa etária dos 03 aos 04 anos Desenvolvimento Físico Grande atividade motora: corre, salta, começa a subir escadas, pode começar a andar de triciclo; grande desejo de experimentar tudo; Embora ainda não seja capaz de amarrar sapatos, veste-se sozinha razoavelmente bem; É capaz de comer sozinha com uma colher ou um garfo; 19 Copia figuras geométricas simples; É cada vez mais independente ao nível da sua higiene; é já capaz de controlar os esfíncteres (sobretudo durante o dia); Desenvolvimento Intelectual Compreende a maior parte do que ouve e o seu discurso é compreensível para os adultos; Utiliza bastante a imaginação: início dos jogos de faz-de- conta e dos jogos de papéis; Compreende o conceito de "dois"; Sabe o nome, o sexo e a idade; Repete seqüências de 3 algarismos; Começa a ter noção das relações de causa e efeito; É bastante curiosa e investigadora; Desenvolvimento Emocional É capaz de se separar da mãe durante curtos períodos de tempo; Começa a desenvolver alguma independência e autoconfiança; Pode manifestar medo de estranhos, de animais ou do escuro; Começa a reconhecer os seus próprios limites, pedindo ajuda; Imita os adultos; Desenvolvimento Moral 20 Começa a distinguir o certo do errado; As opiniões dos outros, acerca de si própria assumem grande importância para a criança; Consegue controlar-se de forma mais eficaz e é menos agressiva; Utiliza ameaças verbais extremas, como por exemplo: "eu te mato!", sem ter noção das suas implicações; Característica da faixa etária dos 04 aos 05 anos Desenvolvimento Físico Rápido desenvolvimento muscular; Grande atividade motora, com maior controle dos movimentos; Consegue escovar os dentes, pentear-se e vestir- se com pouca ajuda; Desenvolvimento Intelectual Adquiriu já um vocabulário alargado, constituído por 1500 a 2000 palavras; manifesta um grande interesse pela linguagem, falando incessantemente; Compreende ordens com frases na negativa; Articula bem consoantes e vogais e constrói frases bem estruturadas; Exibe uma curiosidade insaciável, fazendo inúmeras perguntas; Compreende as diferenças entre a fantasia e a realidade; Compreende conceitos de número e de espaço: "mais", "menos", "maior", "dentro", "debaixo", "atrás"; Começa a compreender que os desenhos e símbolos podem representar objetos reais; 21 Começa a reconhecer padrões entre os objetos: objetos redondos, objetos macios, animais... Desenvolvimento Emocional Os pesadelos são comuns nesta fase; Tem amigos imaginários e uma grande capacidade de fantasiar; Procura frequentemente testar o poder e os limites dos outros; Exibe muitos comportamentos desafiantes e opositores; Os seus estados emocionais alcançam os extremos: por ex., é desafiante e depois bastante envergonhada; Tem uma confiança crescente em si própria e no mundo; Desenvolvimento Moral Tem maior consciência do certo e errado, preocupando-se geralmente em fazer o que está certo; pode culpar os outros pelos seus erros (dificuldade em assumir a culpa pelos seus comportamentos); Características da faixa etária dos 5 aos 6 anos Desenvolvimento Físico A preferência manual está estabelecida; É capaz de se vestir e despir sozinha; Assegura sua higiene com autonomia; Pode manifestar dores de estômago ou vômitos quando obrigada a comer comidas de que não gosta; tem preferência por comida pouco elaborada, embora aceite 22 uma maior variedade de alimentos; Desenvolvimento Intelectual Fala fluentemente, utilizando corretamente o plural, os pronomes e os tempos verbais; Grande interesse pelas palavras e a linguagem; Pode gaguejar se estiver muito cansada ou nervosa; Segue instruções e aceita supervisão; Conhece as cores, os números, etc. Capacidade para memorizar histórias e repeti-las; É capaz de agrupar e ordenar objetos tendo em conta o tamanho (do menor ao maior); Começa a entender os conceitos de "antes" e "depois", "em cima" e "em baixo", etc., bem como conceitos de tempo: "ontem", "hoje", "amanhã"; Desenvolvimento Emocional Pode apresentar alguns medos: do escuro, de cair, de cães ou de dano corporal, embora esta não seja uma fase de grandes medos; Se estiver cansada, nervosa ou chateada, poderá apresentar alguns dos seguintes comportamentos: roer as unhas, piscar repetidamente os olhos, fungar, etc.; Preocupa-se em agradar aos adultos; Maior sensibilidade relativamente às necessidades e sentimentos dos outros; Envergonha-se facilmente; 23 Desenvolvimento Moral Devido à sua grande preocupação em fazer as coisas bem e em agradar, poderá por vezes mentir ou culpar os outros de comportamentos reprováveis. O DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA CRIANÇA O vinculo primário para o desenvolvimento das relações com os colegas ou companheiros é a brincadeira com as outras crianças. Tais brincadeiras não ocorrem com freqüência antes do dois anos. Entre a idade de 02 a 05 anos, as interações das crianças se tornam mais freqüentes, mais fortalecidas, mais sociais e complexas. Nos primeiros anos da pré-escola, as crianças se engajam principalmente em brincadeiras solitárias, em que não prestam atenção aos colegas, ou em brincadeiras paralelas, em que brincam próximas umas as outras, sem interagir. Uma proporção cada vez maior de brincadeirasdepois de 03 anos é associativa, na qual as crianças brincam juntas, mas não de uma maneira coordenada, ou cooperativa, na qual as crianças interagem, ajudando-se a atingir um objetivo comum ou assumindo diferentes papéis. As crianças em idade escolar passam mais tempo com seus amigos do que os pré- escolares, e elas gradualmente desenvolvem uma coleção maior de amizades individuais. Também existem diferenças fascinantes na qualidade do relacionamentos nas amizades dos meninos e das meninas nesses anos, os grupos masculinos são maiores e aceitam mais membros novos do que o das meninas, os grupos e as amizades dos meninos parecem centrar-se mais na competição e dominância 24 do que os das meninas. As amizades entre as meninas incluem mais concordância, aquiescência e auto-revelação do que acontece entre meninos. A brincadeira social durante todo o desenvolvimento da criança é um exercício agradável e de autoconsciência realizado em conjunto, e oferece as crianças uma chance de explorar padrões de interação social que raramente vivenciaram na vida real. O passo a passo do desenvolvimento social da criança Durante a Primeira Infância (período da gestação aos seis anos), é esperado um comportamento social da criança que, quando observado junto a outros aspectos, indica se ela está se desenvolvendo sadiamente. Por isso, é importante você conhecer e compartilhar com os pais que comportamentos são esses. Cada criança é única e tem seu ritmo. No entanto, para detectar possíveis problemas que impeçam seu bem-estar, a Ciência definiu marcos para monitorar, em cada etapa, o que se espera dos pequenos. Se eles estiverem distantes demais da apropriação de certas habilidades é importante avaliar o que está acontecendo, papel que cabe ao especialista. Característica da faixa etária dos 0 aos 6 meses Distingue a figura cuidadora das restantes pessoas com quem se relaciona, estabelecendo com ela uma relação privilegiada; Fixa o rostos e sorri (aparecimento do 1º sorriso social por volta das 6 semanas); Aprecia situações sociais com outras crianças ou adultos; Por volta dos 4 meses: capacidade de reconhecimento 25 das pessoas mais próximas, o que influencia a forma como se relaciona com elas, tendo reações diferenciadas consoante a pessoa com quem interage. É também capaz de distinguir pessoas conhecidas de estranhos, revelando preferência por rostos familiares; Característica da faixa etária dos 6 aos 12 meses O bebê está mais sociável, procurando ativamente a interação com quem o rodeia (através das vocalizações, dos gestos e das expressões faciais); Manifesta comportamentos de imitação, relativamente a pequenas ações que vê os adultos fazer (por ex., lavar a cara, escovar o cabelo, etc.); A partir dos 10 meses, maior interesse pela interação com outros bebês; Característica da faixa etária de 01 aos 02 anos Aprecia a interação com adultos que lhe sejam familiares, imitando e copiando os comportamentos que observa; Maior autonomia: sente satisfação por estar independente dos pais quando inserida num grupo de crianças, necessitando apenas de confirmar ocasionalmente a sua presença e disponibilidade - esta necessidade aumenta em situações novas, surgindo uma maior dependência quando é necessária uma nova adaptação; As suas interações com outras crianças são ainda limitadas: as suas brincadeiras decorrem sobre tudo em paralelo e não em interação com elas; A partir dos 20-24 meses, e à medida que começa a ter maior consciência de si própria, física e psicologicamente, começa a alargar os seus sentimentos sobre si próprio e sobre os outros - desenvolvimento da empatia (começa a ser capaz de pensar sobre o que os outros sentem); 26 Característica da faixa etária dos 2 aos 3 anos A mãe é ainda uma figura muito importante para a segurança da criança, não gostando de estranhos. A partir dos 32 meses, a criança já deve reagir melhor quando é separada da mãe, para ficar à guarda de outra pessoa, embora algumas crianças consigam este progresso com menos ansiedade do que outras; Imita e tenta participar nos comportamentos dos adultos: por ex., lavar a louça, maquiar-se, etc.; É capaz de participar em atividades com outras crianças, como por exemplo, ouvir histórias; Características da faixa etária dos 03 aos 04 anos É bastante sensível aos sentimentos dos que a rodeiam relativamente a si própria; Tem dificuldade em cooperar e partilhar; Preocupa-se em agradar os adultos que lhe são significativos, sendo dependente da sua aprovação e afeto; Começa a aperceber-se das diferenças no comportamento dos homens e das mulheres; Começa a interessar-se mais pelos outros e a integrar-se em atividades de grupo com outras crianças; 27 Característica da faixa etária dos 04 aos 05 anos Gosta de brincar com outras crianças; quando está em grupo, poderá ser seletiva acerca dos seus companheiros; Gosta de imitar as atividades dos adultos; Está a aprender a partilhar, a aceitar as regras e a respeitar a vez do outro; Características da faixa etária dos 5 aos 6 anos A mãe é ainda o centro do mundo da criança, pelo que poderá recear a não voltar a vê-la após uma separação; Copia os adultos; Brinca com meninos e meninas; Está mais calma, não sendo tão exigente nas suas relações com os outros; é capaz de brincar apenas com outra criança ou com um grupo de crianças, manifestando preferência pelas crianças do mesmo sexo; Brinca de forma independente, sem necessitar de uma constante supervisão; Começa a ser capaz de esperar pela sua vez e de partilhar; Conhece as diferenças de sexo; Aprecia conversar durante as refeições; Começa a interessar-se por saber de onde vêm os bebês; Está numa fase de maior conformismo, sendo crítica relativamente aqueles que não apresentam o mesmo comportamento; 28 A EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA EDUCAÇÃO INFANTIL O processo educacional é uma fase da vida que reflete diretamente no comportamento futuro dos indivíduos, é nessa fase que as pessoas aprendem a lidar com as dificuldades, obstáculos, limitações e diferenças. A educação inclusiva é essencial na formação e construção do caráter do indivíduo ainda na infância. As limitações que levam a adoção de políticas de educação inclusiva são basicamente de duas naturezas distintas, as limitações de aspecto físico como a cegueira, a surdez, paralisia ou ausência de membros locomotores e as limitações de aspecto cognitivo que são patologias ou síndromes que comprometem a capacidade de aprendizado do indivíduo. Através da utilização de ferramentas e abordagens de ensino específicas é possível contornar essas limitações, possibilitando uma democratização do ensino e integração social das crianças com algum tipo de deficiência. O processo de inclusão está diretamente relacionado à qualificação dos professores e adaptação da infraestrutura da instituição de ensino aos equipamentos necessários para operacionalizar essa acessibilidade. A adoção de interpretes de libras, impressão de materiais em Braille, construção de rampas de acesso são soluções destinadas aos portadores de limitações físicas. Para os portadores de limitações cognitivas é recomendada a estruturação minuciosa do plano de ensino e utilização de ferramentas de caráter mais lúdico que os meios tradicionais. Vale ressaltar a importância das instituições de ensino e pais cobrarem as autoridades locais para que os investimentos nessa adequação sejam condizentes com os propostos pela Lei de Diretrizese Bases da Educação (LDB). 29 A Inclusão na Educação Infantil Ao acompanharmos a trajetória da educação infantil e da educação especial é possível verificar pontos semelhantes. A educação infantil foi fortemente marcada pelo cunho assistencialista e filantrópico da mesma maneira a educação especial onde o poder público transferiu às instituições filantrópicas a responsabilidade pelo manejo da educação especial. O atendimento as crianças de zero a seis anos no século XX ministrado por creches, escolas maternais ou internatos eram dirigidos às crianças pobres filhos de mães trabalhadoras, estas unidades ofereciam os cuidados básicos para garantir a vida destas crianças. Os espaços de atendimento as pessoas com algum tipo de deficiência cumpriram também em algum momento apenas o papel de “manutenção da vida” sendo que não se acreditava na possibilidade de transformação destas pessoas. Portanto, se a educação infantil na sua trajetória histórica traz resquícios de um caráter compensatório, onde as crianças eram vistas pelas suas limitações e carências enquanto seres incompletos, o mesmo podemos dizer enquanto educação especial, onde as primeiras propostas de atendimento visavam corrigir falhas no sujeito, ou seja, essas também se pautavam pela incompletude, pela “falta”. Contudo estudos preliminares têm apontado que a educação de crianças, respeitando as suas diversas necessidades, é possível, mas não é um processo simples e não se reporta apenas ao combate às práticas discriminatórias na recepção dos alunos na escola, pois “dúvidas em relação ao que representa a inclusão são enormes no meio acadêmico e 30 prático”. A introdução do aluno com deficiência visando ao cumprimento das determinações legais ou exigência dos pais pode acarretar em uma participação escolar à margem do sistema educacional, onde estes alunos não interagem com seus pares ou são vítimas de maus tratos e bullying; crianças que estão na escola apenas para a socialização e não recebem uma educação formal, ou seja, uma “inclusão excludente”, pois a escola inclui sem dar condições para que este aluno se perceba como pertencente daquele meio. Salientamos que o ambiente escolar ideal para a criança com deficiência deve ser um espaço rico e desafiador, onde a interação com os demais colegas concorra para o desenvolvimento de suas potencialidades, possibilitando a construção e a troca de saberes e valores. Quando nos referimos então à rede privada, parece contraditória a ideia de inclusão, uma vez que a Educação Infantil particular exclui, por princípio, aqueles que não podem pagar as mensalidades. Portanto, o requisito de que tal instituição inclua um aluno deficiente em nome da inclusão parece-nos enganosa, pois ela continua mantendo a exclusão de uma grande massa de pobres que não podem custear uma escola privada. A oferta de vagas na educação infantil, na rede publica, em todo o país e menor do que a demanda, isto dificulta profundamente o processo de inclusão já que as crianças com deficiência também engrossam esse grande número de crianças excluídas das creches publicas e EMEIs (Escolas Municipais de Educação Infantil). No período da infância é a família da criança com deficiência que escolhe o caminho educacional seguido por esta, os pais precisam não apenas acreditar nos benefícios da inclusão como também reconhecer que seus filhos têm direito a ela. O que observamos é que o número de matrículas de crianças com deficiência nas creches e EMEIs do ensino regular ainda são insignificantes, apesar de um aumento desde 2002, e muitos profissionais da educação continuam orientando e encaminhando crianças com deficiência para as escolas especiais, sendo que, a legislação penal no art. 8º, da Lei nº 7.853/89 diz ser crime de conduta frustrar, sem justa causa, a matrícula de um aluno com deficiência, a exclusão é crime. Com isso o que temos visto é que os professores de educação infantil, por não 31 receberem crianças com deficiência nas creches, escolas e EMEIs, acabam não reconhecendo as vantagens de uma educação inclusiva. Os defensores da Inclusão acreditam que em se tratando de crianças com deficiência as instituições de educação infantil são espaços privilegiados onde a convivência com adultos e outras crianças de varias origens, costumes, etnias, religiões, possibilitará o contato desde cedo com manifestações diferentes daquelas que a criança vivencia em sua família ou num ambiente segregativo, permitindo-lhe, assim as primeiras percepções da diversidade humana. Para considerarmos a inclusão na Educação Infantil, precisamos antes refletir sobre a inclusão não somente na creche, na escola ou na EMEI, mas, em todo o sistema educacional. Para que isto aconteça é preciso seguir a uma séria revisão dos objetivos e métodos da educação em nosso país, envolvendo a todos os atores educacionais na proposta de uma sociedade inclusiva. Portanto, antes de receber o aluno deficiente, é fundamental conhecer o seu histórico e a sua condição. Diagnósticos exatos são de extrema importância e precisam ser respeitados, ainda mais se estes orientarem sobre a melhor maneira de atender o aluno, mas não podem ser confundidos com rótulos reduzindo o educando a determinada condição, como “o autista”, “o deficiente intelectual”, “o TDA/H”, etc. Além disso, os professores devem saber se há utilização de medicamentos, o tempo de duração (quando isso interfere na participação de atividades escolares) e os efeitos colaterais. Outra questão a ser abordada, neste momento, é com relação à realização de atividades pedagógicas e de avaliação diferenciada para os alunos com necessidades educacionais especiais. A ideia de selecionar os mais capazes sempre esteve presente nas propostas educacionais, todavia os documentos 32 oficiais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais e as Diretrizes Nacionais para e Educação Especial na Educação Básica, destacam a necessidade da adaptação curricular e do processo avaliativo, sendo necessárias adaptações tanto físicas quanto pedagógicas e de pessoal, em virtude das necessidades apresentadas pelos alunos com deficiências. Por isso durante a realização de atividades e avaliações diferenciadas, o ideal é que a avaliação não seja colocada de maneira a comparar o desempenho entre os alunos, mas sim para verificar o quanto cada aluno (isso inclui todos os alunos e não apenas aqueles com deficiências) evoluiu durante aquele período, e precisa ser coerente com aquilo que acontece no contexto de sala de aula, servindo inclusive de feedback para o professor averiguar se os objetivos estão sendo alcançados ou se novas alternativas precisarão ser adotadas. O que presenciamos na prática da Educação Infantil é que muitas creches e escolas aceitam crianças com deficiências acreditando que elas apenas necessitam de socialização e brincadeiras, não que estas não sejam importantes, mas é cada vez maior o número de crianças mantidas na Educação Infantil após atingirem a idade de alfabetização e de ingresso no Ensino Fundamental. Em algumas situações quando a criança esta com aproximadamente dez anos de idade ou muito grande em comparação aos colegas de cinco ou seis anos, a família é informada de que precisará encontrar outra escola. 33 A realização de atividades pedagógicas e o processo de avaliação diferenciado permitem a creche, escola ou EMEI inclusiva considerar cada situação individualmente na hora de tomar decisões. Como, por exemplo, se uma criança com deficiência pertence a um grupo de faixa etária de cinco anos e for para a turma de alfabetização no ano seguinte, alguns fatores devem ser considerados paraa promoção ou a permanência dessa criança em um grupo de crianças menores. Esses fatores dizem respeito à maturidade da criança deficiente, seja em relação ao próprio cuidado, como quanto às atividades interacionais com seus pares. Entendemos então que as posições que defendem a promoção direta da criança com deficiência da Educação Infantil para o Ensino Fundamental podem ser perigosas, visto que as condições de cada criança são as mais variadas possíveis; esta transição é um ponto crucial no que se refere aos alunos com deficiências, necessitando de uma discussão mais ampla. A realidade de cada criança deficiente é única. Não existem critérios gerais de como deve ser o seu ensino. O professor precisa observar e perguntar, analisar e ouvir para compreender as necessidades de cada aluno, os sentimentos e os seus pontos de vista, estando atento sempre às relações que esses alunos estabelecem com seus colegas nos momentos de atividades e de recreação. As ações dos colegas diante dos alunos com deficiência se mostram como um fator decisivo para a inclusão social. As atitudes das crianças dependem, em grande parte, das atitudes observadas em seus pais e nos professores, mas programas educacionais que favorecem a comunicação e o conhecimento contribuem de forma significativa para facilitar o processo de inclusão social nas escolas. Um dos aspectos a se considerar dentro da proposta da Educação Inclusiva na Educação Infantil é a diminuição do número de alunos por sala, de 34 maneira a facilitar à interação dos seus membros e o atendimento as especialidades de cada um. Estudos têm comprovado que a limitação do número de crianças por grupo é fundamental para a qualidade da abordagem aos alunos com deficiências e a realização das atividades educativas diferenciadas. O número máximo de alunos varia de quinze, para a Educação Infantil, até vinte e cinco no Ensino Fundamental, limitar o número de crianças deficientes em cada grupo é importante porque esse percentual possibilita uma avaliação individualizada dos professores. Nas Diretrizes Curriculares Nacionais, é proposto que a distribuição dos alunos deficientes ocorra pelas diversas classes do ano escolar onde estes forem classificados não ultrapassando 15% do total da sala. Também é importante ressaltar que alunos com deficiências semelhantes devem ser agrupados, de preferência, em grupos diferentes, evitando desta forma que sejam estimulados a formarem subgrupos dentro da sala de aula, deixando de interagir com o restante dos colegas. DISLEXIA NO PRÉ-ESCOLAR OU NA EDUCAÇÃO INFANTIL A dislexia é um problema que afeta milhares de crianças ao redor do mundo inteiro. Entretanto esse é um problema que muitas vezes não é identificado precocemente e pode trazer sérios prejuízos ao desempenho da criança. Por esse motivo é que vamos falar aqui sobre a dislexia na pré-escola ou na educação infantil, para que você possa ficar atento aos sinais que a criança oferece. 35 O que é Dislexia? A dislexia nada mais é do que um transtorno ou distúrbio da aprendizagem que afeta a área da escrita, da leitura e também da soletração sendo um dos transtornos mais encontrados nas salas de aula do mundo inteiro com uma incidência entre 05% e 17% na população mundial. O grande problema desse transtorno é que ele é, muitas vezes, atribuído a uma má alfabetização, a falta de atenção por parte do aluno, à falta de motivação e até mesmo a problemas relacionados à condição socioeconômica da criança, o que é um erro. O que você precisa realmente saber é que a dislexia é um transtorno decorrente de condições hereditárias com alterações genéticas podendo apresentar ainda alterações no padrão neurológico da pessoa afetada. Isso tudo que falamos até agora é somente para demonstrar a importância que tem o diagnóstico correto da dislexia através de uma equipe multidisciplinar. Essa avaliação permite averiguar as condições da criança para promover um acompanhamento adequado e eficiente das dificuldades apresentadas, podendo direcionar esse tratamento justamente para as peculiaridades apresentadas por cada um dos indivíduos proporcionando assim resultados mais palpáveis. Sinais de que a criança pode ter dislexia É muito comum que crianças com dislexia apresentem algumas características marcantes e que devem ser enxergadas com atenção e não desprezo. Muitas vezes as crianças com esse distúrbio olham para o 36 quadro e simplesmente não compreendem aquilo que está escrito. Pelo fato de a pré-escola ou a educação infantil serem o momento de alfabetização o mais comum é que o problema seja identificado ainda nessa fase do aprendizado. Veja agora alguns sinais que podem servir como um alerta de que a criança tem dislexia: Confusão entre sílabas e letras Enquanto as crianças que não possuem o transtorno identificam facilmente as diferenças ente “d” e “b” e “h” e “n”, por exemplo, as crianças com dislexia confundem-se com essas letras pois possuem grafias semelhantes. Assim também é com letras que tem o som semelhante como “d” e “t”. Também acontece de inverterem as sílabas de uma palavra ou mesmo adicionarem uma sílaba extra. Desenvolvimento motor afetado Esse é um ponto importante que pode ser observado antes mesmo da alfabetização pois é comum que crianças com dislexia apresentem atraso no desenvolvimento motor. Assim sendo ela pode demorar a engatinhar, a caminhar ou mesmo sentar, sendo que o problema pode ser observado também algum tempo mais tarde em dificuldade com certas brincadeiras como chutar uma bola, ou desenhar. Aversão à escola É comum que crianças nessa condição desenvolvam baixa autoestima e relutância em ir para a aula visto que, devido às suas dificuldades, não se 37 sentem bem no ambiente escolar. Não confunda esses fatos com preguiça ou mesmo desinteresse por parte do aluno, o problema pode ser mais sério. Memória e raciocínio Se engana que acredita que todos os sintomas da dislexia se apresentam na parte escrita. Eles também podem aparecer através da dificuldade de acompanhar um raciocínio ou uma explicação mais longa. Atenção Embora os sinais citados acima, isoladamente, não classifiquem que a criança é disléxica é preciso estar atento ao desenvolvimento dos pequenos. Estar em contato com a escola e com os professores também pode ajudar muito no processo de descoberta do problema. DISCALCULIA INFANTIL Algumas crianças, mesmo recebendo todo o conteúdo necessário para se apropriar do conhecimento e do raciocínio matemático, podem ter enormes dificuldades de entender o significado do número em nossa sociedade. Compreender o que ele representa, quais suas diferentes funções e relações com nosso cotidiano é um verdadeiro desafio para uma criança ou um adolescente com Discalculia. Muitos pais, ao relatarem o sofrimento de seu filho ou filha, comentam que desde muito pequeno(a), ele(a) tinha muita dificuldade em memorizar números, quantificar sua idade e relacionar o símbolo numérico às proporções e ao espaço de tempo que havia entre uma atividade e outra. Estas confusões são comuns e frequentes em pessoas que não conseguem pensar dentro de uma perspectiva numérica. 38 A Discalculia é um tipo de transtorno de aprendizagem caracterizada por uma inabilidade ou incapacidade de pensar, refletir, avaliar ou raciocinar processos ou tarefas que envolvam números ou conceitos matemáticos. Percebe-se desde muito cedo, mas é na escola que todos os sinais e dificuldades se expressam de maneira clara e explícita, pois as exigências são maiores e a sequenciação de tarefas que envolvem aritméticae proporções passam a ser rotineiras. Em torno de 1% das crianças podem ter Discalculia. É comum que tal condição seja geneticamente determinada tendo relatos parecidos num dos pais ou em parentes próximos. Não podemos confundir Discalculia com insegurança cultural que observamos na aprendizagem da matemática ou com má pedagogia por não ocorrer a completa e/ou suficiente transmissão de conteúdos de acordo com a idade e a escolaridade. A Discalculia é um problema biológico e inato que nada tem a ver com aspectos do ambiente afetando a capacidade da criança em aprender matemática. Estudos de imagem e comparações realizadas entre indivíduos com Discalculia e indivíduos não portadores do transtorno, mostram que os primeiros apresentam o sulco intra-parietal menor. A dificuldade, por sua vez, ocorre por vários motivos: Incompreensão com a noção de quantidade associada à palavra ou conceito numérico; Dificuldade em usar a linguagem adequada para representar o número; 39 Problemas de espacialidade e proporcionalidade em relação ao número correspondente; E pouca aptidão para relacionar conceitos matemáticos (como por exemplo, relacionar porcentagem com divisão e conseguir resolver processos que envolvem abstração e representação mental). A Discalculia pode, na avaliação neuropsicológica, ter déficits em algumas habilidades cognitivas. Isso é verdade, porém, sem comprometimento da inteligência ou do nível intelectual. Aliás, estas crianças são muito inteligentes e capazes para a escola, mas surpreendentemente não conseguem manter o mesmo padrão para as atividades matemáticas estejam elas onde estiverem, na geografia ou nas ciências, nas artes ou na educação física. O diagnóstico requer avaliação multidisciplinar com o envolvimento de especialistas nas áreas de psicopedagogia, neuropsicologia e neuropediatria. Não existem exames de imagem ou de laboratório para confirmar, somente sendo concluído mediante testes e correlações com a evolução pedagógica e seu comportamento com os números no cotidiano. Quanto ao tratamento, não existem medicações, exceto quando há TDAH associado. Ademais, é baseado em intervenção precoce, adaptação curricular e suporte psicopedagógico. A escola deve compreender a dificuldade e fazer modificações no conteúdo, visando facilitar a aprendizagem da matemática utilizando-se de materiais concretos para ensiná-la. O apoio psicopedagógico ajudará a criança a entender sua dificuldade e manejá-la da melhor forma possível incluindo estratégias metacognitivas. Não existe “cura” para esta condição e o portador deverá aprender a lidar com o transtorno. Como afeta a discalculia ao cérebro A discalculia aparece como uma disfunção neuronal no sulco intraparental do cérebro. Seguindo essa disfunção um padrão de deterioração cognitiva, psicopatologia da discalculia e insônia infantil partilha alguns mecanismos neurobiológicos. A discalculia é geralmente identificada com déficits em habilidades, tais como: Psicopatologia do TDAH e a regulação do ciclo de vigília - o sonho partilha mecanismos neurobiológicos. 40 Concentração Habilidade relacionada como o padrão de deterioração cognitiva relacionada com a habilidade envolvida na dislexia. O déficit estrutural nessa rede de conexões neurais está relacionada também à inibição que afeta negativamente a velocidade com que a criança se desenvolve em tarefas matemáticas Atenção dividida Esta capacidade é importante, pois atende a dois estímulos simultaneamente. As crianças com discalculia têm dificuldade em responder rapidamente a um determinado estímulo, porque não são capazes de se concentrar, são enganados por estímulos irrelevantes, e cansam-se facilmente Memória do trabalho Esta capacidade cognitiva refere-se ao armazenamento temporário e à capacidade de manipular informações para executar tarefas complexas. Têm dificuldades para seguir instruções, esquecem instruções e tarefas, têm baixa motivação, memórias incompletas, alto nível de distração, não se lembram dos números e têm um atraso na aritmética mental, entre outros. Memória a curto prazo É a capacidade do cérebro para reter uma pequena quantidade de informação por um curto período de tempo. Este défice cerebral explica a incapacidade de realizar tarefas aritméticas. As dificuldades encontradas são durante a execução de um cálculo ou problemas 41 matemáticos. Esta patologia cognitiva também está relacionada com a incapacidade de lembrar números ou a tabuada Habilidade de nomear Envolve a capacidade de recordar uma palavra ou número do nosso léxico e depois expressá-la. As crianças com discalculia têm dificuldade em lembrar números, porque o seu nível de processamento de informação e capacidade de nomeação é pobre. Planificação Os baixos níveis desta capacidade cognitiva envolvem dificuldades em compreender a abordagem de senso numérico e do exercício. Esta incapacidade para avançar impede executar a tarefa corretamente. Velocidade de processamento Corresponde ao tempo que leva o nosso cérebro para receber informações (um número, uma operação matemática um problema...), compreendê-lo e respondê-lo. As crianças sem dificuldades de aprendizagem executam este processo de forma rápida e automaticamente, enquanto que as crianças com discalculia precisam de mais tempo e esforço para processar informações e estímulos. Na imagem ao lado vemos a área do cérebro afetada pela discalculia. Causas da discalculia Existem inúmeras investigações realizadas mediante técnicas de neuro imagem. Este tipo de técnicas permite visualizar ao vivo a atividade cerebral e o sistema nervoso central. Devido a 42 estas representações, pode observar-se que o déficit nas conexões neuronais associadas à discalculia encontram-se especificamente no módulo cerebral encarregue do processamento numérico que está localizado no lóbulo parental do cérebro. Além disso, outras áreas como o córtex pré frontal, a cingulada, a parte posterior do lóbulo temporal e inúmeras regiões subcorticais, formam também parte do correto funcionamento das capacidades matemáticas ou aritméticas. A discalculia deve-se a um transtorno congênito, quer dizer, de componente genético. O normal, é que algum dos pais das crianças com discalculia, tenha também dificuldades na aprendizagem da aritmética. Um déficit cognitivo na representação numérica Uma disfunção neuronal que impede a correta representação mental dos números, dificulta a descodificação numérica e afeta a compreensão do significado das tarefas ou cálculos matemáticos. As crianças com discalculia apresentam uma disfunção numa determinada rede de conexões neuronais que as impede de aceder à informação numérica com facilidade. As redes de conexões neuronais seguem rotas alternativas e diferentes às que apresenta um cérebro normal. Existem também outras possíveis causas relacionadas com o transtorno da dislexia, como as alterações cerebrais ou neurobiológicas, os falhos de maduração neurológica, as alterações psicomotoras e até problemas de memória e os relacionados com o meio ambiente, como a exposição da mãe ao álcool e às drogas no útero ou no nascimento prematuro. Sintomas da discalculia A discalculia tem uma ampla rede de dificuldades associadas às matemáticas e suas características e os sintomas vão variar em função da idade. Os sintomas podem alterar-se e apresentar-se de forma diferente de uma criança para outra. Começa a ser detectável na etapa pré-escolar, quando a criança começa a desenvolver as habilidades da aprendizagem aritmética e continua durante a infância, adolescência e idade adulta. 43 À medidaque as crianças crescem, estas dificuldades tornam-se mais evidentes, mas devemos evitar esperar a que se produza o fracasso para atuar. O mais importante nestes casos é que se realize uma detecção precoce, por isso, tanto pais como professores devem estar atentos para identificar as dificuldades e sintomas que podem indicar este transtorno. Quanto antes apliquemos estas ferramentas de intervenção necessárias para ajudar estas crianças a adaptar-se ao processo escolar, maiores serão as probabilidades de que otimizem os seus recursos mentais e estratégias de aprendizagem. Sintomas de discalculia pré-escolar: Dificuldades para aprender a contar Problemas associados à compreensão do conceito do número Incapacidade para a classificação e medição: Torna-se muito complicado associar um número com uma situação da vida real, por exemplo associar o número "2" com a possibilidade de ter 2 caramelos, 2 livros, 2 pratos, etc... Problemas para reconhecer os símbolos associados aos números, por exemplo, incapacidade de associar o número "4" com o conceito de "quatro". Escrita incorreta dos números ao copiá-los ou ao fazer um ditado. Erros de forma: Confundir, por exemplo, o número 9 com o 6, ou o 3 com o 8. Inverter a escrita: Escreve os simbolos ao contrário. Erros de som: Confundir os números que soam parecidos: Por exemplo o "seis" com o "sete" 44 Sintomas no momento de ordenar e sequenciar os números: Repete o número duas ou mais vezes. Quando dizemos a uma criança com discalculia que conte, por exemplo até 5 e pare, muitas vezes não é capaz de reconhecer o limite de chegar ao 5 e por isso continua a contar. Omissão: Normalmente apresenta-se como um sintoma muito frequente e produz- se ao saltar um ou mais números de uma série Sintomas relativos à sequência: Outra característica da discalculia acontece quando pedimos a uma criança que comece a contar, por exemplo desde o 4, mas não é capaz de começar a contar desde esse número e tem que dizer a sequência completa ao mesmo tempo que a escreve, ou a repete em voz baixa. Custa-lhes reconhecer e classificar objetos pelo seu tamanho e forma. Sintomas de discalculia na Alfabetização Problemas para reconhecer os símbolos aritméticos: Confundem, por exemplo, o símbolo "+" com o "-" e não podem utilizá-los corretamente. Impossibilidade de aprender ou relembrar estruturas matemáticas muito básicas, por exemplo 1+2=3. Não são capazes de reconhecer as palavras como “maior que" ou "menor que" É frequente que utilizem os dedos para contar. 45 Dificuldades para aprender a recordar o procedimento ou regras de operações simples. Normalmente saltam passos, não entendem bem o exercício que estão a fazer. Começam as operações pela ordem incorreta. Por exemplo, somam e subtraem começando pela direita em vez de pela esquerda. Apresentam dificuldades com a ordem das operações: Quando, por exemplo, se apresenta uma soma na horizontal não sabem ordená-la na vertical. Outro exemplo deste sintoma está nas multiplicações, porque têm problemas em ordenar em colunas os números (subproduto) na sua coluna correspondente, ou a dividir, quando apontam os números do quociente à direita e depois à esquerda, invertendo o resultado. Outra característica muito frequente é quando apresentam dificuldades nas somas e subtrações realizadas. Isto produz-se porque os alunos com discalculia não reconhecem corretamente a série numérica nem têm clara a ideia dos decimais. Problemas de raciocínio: Um erro bastante frequente é que o resultado de uma subtração seja superior aos números que a compõem. Baixos níveis de memória mecânica: Não são capazes de memorizar e recordar as tabelas de multiplicar e custa-lhes muito aprender, por exemplo, um número de telefone. Têm dificuldades de fazer qualquer cálculo mental básico. Não entendem o enunciado dos problemas. Não entendem de forma global o problema, não são capazes de manter na mente os diferentes dados que tem o enunciado e têm dificuldades em representá-lo de maneira visual, através de desenhos. 46 Sintomas relativos ao processo de raciocínio em problemas matemáticos: A apresentação mental deficiente impide-os de relacionar conceitos e não sabem diferenciar os dados relevantes com os secundários. Têm sérias dificuldades para resolver problemas que necessitam mais de um passo para encontrar o resultado. Também apresentam normalmente sintomas mais normais como problemas em reconhecer e dizer a hora e perdem-se frequentemente porque o seu sentido de orientação é deficiente. Mas, é importante destacar que nem todas as crianças têm problemas para realizar operações matemáticas, têm problemas de discalculia, aqui o importante é detectar a frequência dos sintomas. Além disso, a discalculia nem sempre está relacionada com as operações matemáticas, as crianças têm também dificuldades com as actividades quotidianas ou com jogos comuns. Jogos e exercícios para crianças com discalculia em família A discalculia não é fácil de diagnosticar, a maioria das escolas não têm implementado qualquer sistema de alerta precoce para identificar a desordem na sala de aula e ajudar as crianças com as ferramentas necessárias. Muitas vezes o peso recai sobre os próprios familiares, que devem estar alerta, identificar os primeiros sintomas da doença e consultar um especialista para um diagnóstico. É importante trabalhar com eles em casa, quando as crianças estão em idade escolar deve ajudá-las nas tarefas de matemática e dar-lhes o tempo necessário para acabem por entender o exercício. Aqui seguem 47 algumas atividades e jogos divertidos para que seja em família e superem a discalculia: Cozinhar juntos Verifique com o seu filho a receita que vai preparar e peça-lhe para ser responsável por preparar os ingredientes necessários para cozinhar. Por exemplo, precisamos de 1/5 kg de lentilhas, 3 cenouras, 2 cebolas, 6 fatias de linguiça... Temos que cortar os legumes em 5 pedaços, etc... Jogar com o relógio Peça à criança para ser responsável de o avisar num determinado momento, celebrem juntos o quão bem ele o fez e o responsável e "maior" que é. Ir ao supermercado Eles ajudam a fazer a compra, e podem jogar a que ele é responsável por identificar o número de coisas que tem que comprar, identificar os produtos e as quantidades e que o próprio as coloque no carrinho. Pergunte-lhe coisas sobre os preços Jogar a adivinhar e grupos Fazer grupos de pedras, vegetais, ou moedas e têm que jogar a adivinhar aquele que tem mais ou menos. Também podem tentar adivinhar quantas pedras há em cada monte. Contam-nas juntos e quem disser o número aproximado ganha. Contagem Contem, por exemplo, todos os carros vermelhos que vê, contem as pessoas que têm sapatilhas brancas, contem escadas ou degraus subam, etc. Encontrar números Enquanto caminham, podem jogar a contar os números, sugira-lhe que encontre, por exemplo, o número "7" e procure os números nas placas da rua, de carros, etc ... 48 Jogar a lembrar os números de telefone Por exemplo, tem que chamar à avó, peça-lhe para recordar os três primeiros dígitos e depois completa com o resto. Façam essa chamada juntos e celebrem que a fizeram corretamente e com a sua ajuda. A DISGRAFIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL A disgrafia é um transtorno de aprendizagem presente em muitas crianças do Ensino Fundamental. Ele se caracteriza como uma dificuldade na escrita, tanto na hora de desenhar as letras e códigos do nosso idioma, quanto ao formar frases e construir linhasde raciocínio em textos. O que é disgrafia? É um Transtorno de Aprendizagem de origem neurobiológica que afeta 2 a 3 % da população, ela pode vir sozinha ou acompanhada por outros transtornos de aprendizagem como dislexia, Transtorno não verbal bem como transtornos neuro-comportamentais como TDAH, Autismo entre outros. As características do transtorno É caracterizado por uma dificuldade crônica e persistente na habilidade motora e espacial da escrita, levando a uma expressão gráfica inadequada e deficitária, desde a junção de palavras de maneira inadequada à utilização de pouca ou muita força na hora de escrever. Em muitos casos, a disgrafia está associada a um problema psicomotor. Há 49 que se lembrar, porém, que o pequeno com disgrafia tem o desenvolvimento intelectual normal. Outra característica é dor ou incômodo frequente para escrever, pressão excessiva no lápis e no papel, troca constante de letra ora cursiva, ora bastão. Embora as características da disgrafia sejam as mais variadas possíveis, é importante ressaltar que citamos as mais perceptíveis no decorrer da vida acadêmica do estudante. A diferença de letra feia e disgrafia A letra feia vai melhorando com a idade e com as intervenções – ou quando se pede para escrever com calma – a ponto de um dia a escrita se tornar caligráfica, ou seja, perfeita. Já a disgrafia expressa uma grafia sempre ruim e alterada e que gera um constante desprazer e incômodo em quem escreve – mesmo atingindo a idade prevista para escrever adequadamente – além das características acima. Abaixo há 5 dicas do que pode ser feito para desenvolver a habilidade do aluno melhorando o desenvolvimento escolar: Primeiramente é importante um bom trabalho de esquema corporal, perceber as partes do corpo, braços para chegar até as mãos; Atividades de fortalecimento das mãos e dos dedos, nesse caso a massinha é bem interessante pois podemos trabalhar com a mão inteira, amassar com alguns dedos, fazer objetos e formas com a massinha entre outros; Pintura com tintas e outros materiais, nesta atividade podemos utilizar giz de cera, pintura com guache utilizando os dedos, pincel esponja e o bom é que essas atividades podem ser feitas no papel na horizontal (em cima da mesa ou no cão) como na vertical colando o papel na parede e pedindo para as crianças desenharem ou pintarem; Fazer uso de brinquedos de montar, como, por exemplo, Lego, quebra- cabeças, encaixes etc.. Atividades de percepção visual: muitas pessoas não sabem, mas o que guia a mão é o olho, por isso invista em atividades como o jogo dos 7 50 erros, ligue os pontos, brincadeiras com bolhas de sabão, bolas onde a criança tem que acompanhar o movimento das coisas e pegar com a mão. Melhorando a autoestima com aluno com disgrafia Sempre é bom lembrar, que para este aluno, qualidade é melhor que quantidade. É melhor que ele escreva pouco, do que muito e mal feito, e com aquele sentimento de fracasso. Outra coisa interessante é utilizar a escrita dentro de algum significado, escrever sobre algo que ele goste e que faça sentido para ele. Profissionais para o atendimento com disgrafia Médico Neuropediatra, psiquiatra Infantil psicomotricista, Terapeuta ocupacional, Psicopedagogos, Fonoaudiólogos, Psicólogos, vai depender se existem outras queixas ou comorbidades associadas. O tratamento com disgrafia Multidisciplinar, como este é um transtorno que pode vir acompanhado de outras comorbidades, mas Intervenção psicomotoras, orientações a família e a escola, apoio psicológico em alguns casos. 51 O auxílio de pais e professores no tratamento Primeiramente, buscar conhecer cada vez mais o Transtorno. Nunca compare seu filho ou aluno com ninguém só o compare com ele mesmo (quando ele não conseguia e conseguiu algo), reconheça todo e qualquer esforço, proponha atividades com mínimas possibilidades de errar, converse sempre com ele sobre isso. O trabalho com crianças com disgrafia A sala de aula pode ser uma caixa de surpresas, considerando que cada aluno é único e tem possibilidades de apresentar uma característica, uma peculiaridade. Os transtornos de aprendizagem representam uma parcela considerável dessa situação, pois eles constituem uma desordem que afeta, em diferentes graus, alguma etapa da cognição de uma pessoa. A disgrafia é uma delas. O primeiro passo é reconhecer que o estudante tem a disgrafia e jamais forçá-lo a algo que ele provavelmente não dará conta. Depois, é estabelecer as metodologias que melhor se adequam ao caso da criança. Veja abaixo algumas técnicas que podem ser usadas no caso da disgrafia: Exercícios grafomotores: eles são ideais para que o pequeno possa trabalhar, com o acompanhamento de um profissional, a coordenação motora e o domínio das mãos ao movimentar um lápis sobre o papel. Os exercícios podem conter desenhos pontilhados, que incentivarão a 52 criança a desenvolver a habilidade; e outras atividades que ligam um ponto a outro, etc. Caligrafia: o pequeno pode, aqui, ter a habilidade da escrita desempenhada para que ele tenha maior domínio na escrita. É importante lembrar que as etapas são cruciais para notar a melhora do desenvolvimento do manuseio na hora de escrever. Seguindo essa linha, o profissional pode aplicar exercícios que induzam a reaprendizagem da forma das letras e o espaçamento necessários entre elas. Posição ao escrever: a maneira a qual a criança segura o lápis é determinante e causa dor e fadiga nas mãos do pequeno. Neste caso, o aluno precisa ser orientado à forma mais adequada para desenvolver a escrita sem prejudicar seus membros. Além disso, a posição do papel também reflete a maneira que o pequeno escreve. Pincel: o uso do instrumento é ideal na fase inicial do treinamento, principalmente para que a criança consiga trabalhar a pressão que é exercida sobre a folha de papel. Aqui, o profissional pode indicar traços retos para que o pequeno possa desenvolver sua coordenação. TDAH - TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE A Criança com TDAH e a Escola Notas baixas, problemas de comportamento e dificuldade de adaptação ao ambiente escolar são problemas recorrentes das crianças portadoras do TDAH. Dificuldade de prestar atenção na aula, distrair-se facilmente e ficar com a mente vagando pelo “mundo da lua” quando 53 o professor está falando. Pouca paciência para estudar e fazer os deveres, agitação, inquietude e uma capacidade incrível de fazer milhões de coisas ao mesmo tempo. E quase nenhuma delas associada à aula. Estas são algumas características de alunos que apresentam o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, conhecido como TDAH. O problema atinge um grande número de crianças e adolescentes, que vêem o seu desempenho acadêmico prejudicado pela doença e muitas vezes sequer sabem que são portadores. Professores das primeiras séries do ensino fundamental vez por outra estão às voltas com um ou outro aluno que não pára quieto um instante, se movimenta o tempo todo, não dá a mínima para o que está sendo ensinado e ainda fica incomodando os coleguinhas. O destino do bagunceiro é quase sempre a sala da diretoria, onde uma bela bronca o espera. Esse é um comportamento típico dos meninos portadores do transtorno, que neles tem o predomínio de sintomas de hiperatividade. Já entre as meninas, a situação mais comum é a daquela aluna comportada, quieta, que não participa das aulas (mas também não incomoda) e que está sempre distraída. Qualquer coisa é capaz de desviar sua atenção. A aula e o professor vão para o
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