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O BALANÇO SOCIAL COMO INSTRUMENTO DE TRANSPARÊNCIA CAMELO, Aline de Andrade Freitas¹ RAPOSO, Alexandre Tinel² RESUMO Estudo de natureza exploratória, embasado em pesquisa bibliográfica, investiga se o Balanço Social pode ser utilizado como instrumento de transparência. Com acesso a informação cada vez mais rápido, e o mercado altamente competitivo, o estudo partiu da hipótese de que o Balanço Social é um instrumento de transparência para demonstrar à sociedade o grau de responsabilidade social das organizações. Com objetivos específicos, essenciais para alcançar o objetivo geral e justificar a hipótese acima, o estudo relatou sobre o surgimento e a difusão da Responsabilidade Social no Brasil, descreveu uma organização socialmente responsável e discorreu sobre o Balanço Social. Perante todas as afirmações coletadas, conclui-se que o Balanço Social é um instrumento de transparência, por se tratar de um demonstrativo onde são externadas as contribuições das organizações para igualdade e desenvolvimento social na sociedade que está inserida. Palavras-chave: Responsabilidade Social. Balanço Social. Transparência. _______________________ ¹ Aluno concludente do curso de Bacharel em Administração da Universidade Estácio de Sá. 2 Professor Orientador do artigo da Universidade Estácio de Sá. 2 1 INTRODUÇÃO O termo Responsabilidade Social vem ganhando cada vez mais destaque nas últimas décadas. Com a globalização as informações se propagam rapidamente, o que coloca as organizações em níveis de grande exposição. Com isso, a imagem passada para a sociedade tornou-se uma preocupação, fazendo com que as organizações assumissem novos papéis na sociedade. O aspecto socialmente responsável tem angariado espaço nas decisões da empresa que anteriormente tinha a visão voltada somente para a maximização dos lucros. Escassez de recursos, impactos causados ao meio ambiente, pleiteio da sociedade por um posicionamento foram alguns dos fatores que têm levado as empresas a se tornarem participantes da comunidade que está inserida. Com toda a relevância, a Responsabilidade Social está sendo vista como vantagem estratégica e competitiva. Porém, para se tornar um elemento estratégico, é necessário que as atividades exercidas para a melhoria do bem-estar humano, meio ambiente, condutas sustentáveis e demais ações sejam divulgadas de forma clara e adotando o princípio mais importante, a transparência. Segundo Mifano (2002), a responsabilidade social das organizações surgiu num contexto no qual há uma crise mundial de confiança nas empresas. Para tanto, as organizações empresariais começaram a promover um discurso politicamente correto, pautado na ética, colocando em prática ações sociais que podem significar ganhos em condições de qualidade de vida e trabalho para a classe trabalhadora ou, simplesmente, podem se tornar um de marketing empresarial desvinculado de uma prática socialmente responsável. Um dos instrumentos exímios que estimula a comunicação transparente com seu público interessado (stakeholders) é o Balanço Social. Segundo Santos (2004), o Balanço Social é a demonstração contábil que tem o objetivo de mostrar as informações sociais para prestar conta à sociedade pelo uso de recursos naturais, humanos, demonstrando o grau de responsabilidade social da organização. O presente estudo se justifica pelas colocações retratadas, em linhas gerais visto que, admitindo-se que o Balanço Social é um instrumento de transparência. 3 Assim, o presente estudo investiga a seguinte questão: "O Balanço Social é um instrumento de transparência?". Considerando que o Balanço Social somente agrega valor mercadológico à organização se for levado ao conhecimento público, surge, como hipótese, a visão de que o Balanço Social é um instrumento de transparência. Portanto, o objetivo geral do estudo é verificar a legitimidade da hipótese prevista e, com isso, o Balanço Social como instrumento de transferência. Para alcançar o objetivo geral é preciso atingir os seguintes objetivos específicos: - relatar o surgimento e a difusão da Responsabilidade Social no Brasil; - definir uma organização como socialmente responsável; - discorrer sobre o Balanço Social. Para tanto, o presente estudo, de natureza exploratória, é embasado em pesquisa bibliográfica, materializada por meio da revisão do referencial teórico relacionado aos objetivos específicos e, consequentemente, ao objetivo geral. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 SURGIMENTO E DIFUSÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL NO BRASIL A organização moderna nasceu com a Revolução Industrial devido à ruptura das estruturas corporativas da Idade Média, ao avanço tecnológico que aplicou progressos científicos à produção, à descoberta de novas formas de energia, a enorme ampliação de mercados e a substituição do tipo artesanal por um tipo industrial de produção (CHIAVENATO, 2004). A partir desses resultados, com a deterioração do meio ambiente e da vida humana pelo trabalho, foram surgindo novos pensamentos sobre o papel das empresas diante das obrigações legais, ambientais e sociais. Assim, uma nova concepção de responsabilidade social surgiu e houve o entendimento de que as empresas estão integradas, onde suas atividades impactam diversos agentes sociais, comunidade e sociedade. O novo direcionamento administrativo ganhou impulso após a Primeira Guerra Mundial, quando viu- se uma cooperação intensa entre a indústria e a comunidade pautada na necessidade de reconstrução de muitas nações. Nesse período houve um crescimento das associações de indivíduos na sociedade, a exemplo dos sindicatos, igrejas e clubes políticos 4 que, além de visarem a melhoria das condições do trabalhador, desejavam a melhoria geral da sociedade. Esse espírito de ajuda mútua que se iniciou na sociedade, aliado ao conhecimento científico aplicado à administração, ancorado nas ideias de Sheldon começa a despertar a responsabilidade social nos objetivos empresariais (ORCHIS; YUNG; MORALES, 2000, p. 4-6). Nesta época, a sociedade repudiou a utilização de armamentos bélicos produzidos por empresas norte-americanas, que traziam consequências ao meio ambiente e ao homem. No início do século XX, a Responsabilidade Social era limitada somente a ações filantrópicas, que inicialmente possuía caráter pessoal, simbolizado por doações efetuadas por empresários ou pela criação de fundações. Foi durante as décadas de 1950 e 1960 que a ideia de responsabilidade social como uma forma de atuação vasta começou a propagar-se. Segundo Oliveira (2000) as palavras responsabilidade e social, juntas, foi escrita pela primeira vez em um manifesto de 120 industriais ingleses. No documento citava a responsabilidade dos diretores das indústrias de manter um ponto equilibrado e justoentre diversos interesses públicos, dos consumidores, dos funcionários, dos acionistas”. Contudo, as aparições de pessoas que aderiram a ideia e as defendiam surgiram no início do século XX, com os americanos Charlies Eliot (1906), Hakley (1907) e John Clark (1916), e em 1923 com o inglês Oliver Sheldon. Para Oliveira (2000) as mudanças e transformações sociais vieram para deixar visível os problemas sócio- econômicos e de todo modo era uma preparação da “atmosfera” para aceitação da ideia. Na Europa os pensamentos de responsabilidade social se propagaram nos início dos anos 60 com a publicação de artigos em revista, anúncios em jornais divulgando a novidade vinda dos EUA. O final dessa mesma década nos EUA, as empresas já se preocupavam com a questão ambiental e em tornar públicas suas ações. Na década de 1980, o aumento das pressões sobre as empresas pela busca de alterações nos aspectos econômicos, desponta-se como terreno propício à discussão e difusão das ideias de responsabilidade social. Mormente nos paísesem via de democratização política, esse tema passa a ser associado com a ética empresarial e com a qualidade de vida no trabalho (DE BENEDICTO, 2002). O conceito de responsabilidade social deriva do termo "responsabilidade", o qual, de uso tão comum, encerra sempre a ideia de prestação de contas: alguém deve justificar a própria atuação perante outrem (DUARTE e DIAS, 1985, p.51). Com mais participação de autores de renome na questão da responsabilidade social, a década de 1990 apresenta a discussão sobre as questões éticas e morais nas empresas, envolvendo a questão ambiental, a educação e as grandes diferenças que caracterizam as 5 injustiças sociais, o que contribui de modo significativo para a definição do papel das organizações. Segundo Chiavenato (2004, p. 112), "Responsabilidade Social é o grau de obrigações de uma organização em assumir ações que protejam e melhorem o bem estar da sociedade na medida em que ela procura atingir seus próprios interesses." Para Barbosa e Rabaça (apud TENÓRIO, 2006, p. 25), "Responsabilidade Social surge de um compromisso firmado pela organização, por meio do qual sua participação deverá ser maior que a simples geração de postos de trabalho e pagamento de impostos." No Brasil, o processo foi mais lento que na Europa e Estados Unidos. Apesar disso, com o fim do regime militar e da repressão política, o Brasil verifica uma erupção de organizações civis que passaram a atuar na melhoria de políticas sociais. O surgimento da responsabilidade social no Brasil não tem um início exato. Existem registros de ações sociais de empresários desde o século XIX, no entanto pode-se apontar a ‘Carta de Princípios dos Dirigentes Cristãos de Empresas’ publicada em 1965 pela Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas do Brasil (ADCE Brasil) como um dos marcos iniciais, tendo maior significado pela utilização no documento da expressão responsabilidade social das empresas. O tema é considerado novo no Brasil e, embora existam alguns livros e artigos publicados desde 1967, foi a partir da década de 80 que percebemos mudanças especiais, não apenas pela resposta à velocidade das informações, mas principalmente pela união dos mercados, resultando no crescimento do comércio internacional, que chamamos de globalização. As primeiras manifestações envolvendo a sociedade (empresários, comunidade, políticos e meios de comunicações) só aconteceram em 1996, através do Herbert de Souza, fundador do IBASE, com apoio da Gazeta Mercantil, que lançou campanha convocando os empresários a uma maior participação social e apresentou a ideia da elaboração e da publicação do Balanço Social Brasileiro (embora esta demonstração já fosse utilizado na França desde 1977) e, a partir daí, o tema começou a se destacar no meio empresarial. Em 1998, o Instituto Ethos - Empresas e Responsabilidade Social, que elaborou material para ajudar as empresas a compreenderem e incorporarem o conceito da responsabilidade social no cotidiano.de.sua.gestão. “O princípio da responsabilidade social baseia-se na premissa de que as organizações são instituições sociais, que existem com autorização da sociedade, utilizam os recursos da sociedade e afetam a qualidade de vida da sociedade” (MAXIMIANO, 2010, p. 426). 6 Atualmente, o Brasil é o país da América Latina com mais consciência e discussão, inclusive na imprensa, em torno das empresas como papel de agentes de transformação social. 2.2 UMA ORGANIZAÇÃO SOCIALMENTE RESPONSÁVEL O Instituto Ethos descreve responsabilidade social empresarial como "a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e a redução das desigualdades sociais" (INSTITUTO ETHOS, 2004). Essa definição tenta afastar o vínculo feito entre Responsabilidade Social e Filantropia. Filantropia é sinônimo de caridade e pode ser caracterizada por doações esporádicas que normalmente traz ajuda imediata, de outro modo, a Responsabilidade Social traz resultados de longo prazo. Historicamente, a filantropia não figurava na cultura empresarial brasileira. Segundo Rico (2001), até o começo do processo de industrialização e mesmo depois dele as ações sociais empresariais foram divergentes, pontuais, dependentes e tuteladas pelo Estado. Não existiam ações assistenciais aos pobres, a partir de medidas tomadas pelo governo. A prática dessas ações era uma forma de os ricos elevarem-se aos valores aristocráticos, pela prática do "bem" através de esmolas (SPOSATI, 1988). O Estado associava as ações assistenciais como um papel da Igreja. A partir do processo de mudança democrática, nos anos 70 e 80, é que se pode identificar uma ação social empresarial com a expectativa de participação no desenvolvimento social do país. Essas mudanças e o crescente investimento na ação social, decorrentes do entendimento da responsabilidade e do papel social das organizações como um compromisso com o desenvolvimento da comunidade que está inserida que vai muito além de somente gerar riquezas e maximizar lucros. Sua contribuição pode se estender de gerar empregos a 7 incorporar benefícios duradouros e participar da construção de uma sociedade que promova a igualdade de oportunidades e a inclusão social no país. Conforme a descrição de responsabilidade social, vale salientar que é necessário que as organizações entendam que não há responsabilidade social sem ética e transparência. A responsabilidade social objetiva a construção de relações éticas e transparentes com todos os púbicos, estabelecendo objetivos compatíveis com o desenvolvimento sustentável, a preservação dos recursos ambientais e culturais para futuras gerações. Para o enquadramento de uma empresa ou entidade, como socialmente responsável, ela deve se comprometer e obedecer à ética organizacional e programar esse objetivo na sua cultura e enquadrar nos seus princípios. O Instituto Ethos indica algumas características que destacam uma gestão socialmente responsável, são elas: - Transparência: divulgando informações, decisões e intenções de maneira clara e acessível a todos os públicos que se relacionam com a empresa; - Estabelecimento de compromissos públicos: assumindo publica- mente os compromissos que a empresa tem, sejam relacionados ao seu público interno, ao futuro, à manutenção de recursos naturais, à promoção da diversidade; - Envolvimento com instituições que representam interesses variados: procurando contato e diálogo com organizações e especialistas que colaborem com a empresa para lidar com seus dilemas; - Capacidade de atrair e manter talentos: apresentando-se como uma alternativa profissional que possa também atender aos interesses de cidadão do profissional; - Alto grau de motivação e comprometimento dos colaboradores: envolvendo todos os colaboradores internos e fornecedores com a gestão da RSE, demonstrando coerência em seus compromissos; - Capacidade de lidar com situações de conflito: demonstrando disposição para a investigação e o diálogo, desenvolvendo processos que previnam situações de risco, aprofundando contato com redes de organizações e formadores de opinião, usando de transparência nessas relações; - Estabelecimento de metas de curto e longo prazo: introduzindo realmente aspectos de responsabilidade social na gestão da empresa, com todas as características que outros indicadores de performance possuem; 8 - Envolvimento da direção da empresa: comprovando claramente o entendimento estratégico que tem dessas questões. Em geral, a empresa tem um ou mais colaboradores que dedicam seu tempo a questões de responsabilidade social. Nasúltimas duas décadas vêm aumentando o interesse e consequentemente o investimento das organizações brasileiras na área social. Por se tratar de uma vantagem estratégica e competitiva as empresas passam a desenvolver ações sociais e divulgando-as, com o objetivo de formar uma boa imagem da organização junto aos stakeholder. As empresas, adotando um comportamento socialmente responsável, são potenciais agentes de transformação na sociedade como um todo. 2.2 O BALANÇO SOCIAL No Brasil, assim como a difusão da Responsabilidade Social, o Balanço Social também se propagou a partir da década de 70 após a “Carta de Princípios do Dirigente Cristão de Empresas”, e teve influências dos modelos norte-americano e europeu. Em 1984, foi realizado o primeiro documento brasileiro do tipo, fornecido pela empresa governamental Nitrofértil no Estado da Bahia. No que se refere à legislação, as primeiras discussões sobre o tema aconteceram em 1991. Neste ano foi encaminhado ao Congresso um anteprojeto de lei visando a obrigatoriedade de publicação de um relatório contábil que demonstrasse o que as organizações estão desenvolvendo no quesito social. O IBASE lançou o primeiro modelo de balanço social em 1997, tendo como principais vantagens a simplicidade e a facilidade para comparar informações de uma empresa para outra, ou de um ano para outro na mesma empresa. O Balanço Social antes de ser uma demonstração endereçada à sociedade é uma ferramenta gerencial, que reúne dados quantitativos e qualitativos sobre as políticas administrativas e as relações entidades/ambiente (KROETZ, 2000, p. 68). Por se tratar de uma demonstração contábil, ele é publicado anualmente, contendo informações não somente das atividades econômicas, ambientais e sociais desenvolvidas pela empresa, mas também os seus principais compromissos públicos e as metas para o futuro. 9 Ainda que não seja obrigatória a divulgação do Balanço Social no Brasil, algumas instituições, como a Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social – FIDES e o Instituto Brasileiro de Análises Sociais – IBASE vêm desenvolvendo modelos de Balanços Sociais com o objetivo de incentivar e facilitar a sua publicação pelas empresas. Para Tinoco (2001 p.14), “Balanço Social é um instrumento de gestão e de informação que visa evidenciar, da forma mais transparente possível, informações econômicas, sociais, do desempenho das entidades, aos mais diferenciados usuários, entre estes os funcionários.” Segundo Kroetz (1999), o Balanço Social deve ser considerado não somente como uma ferramenta gerencial, já que expõe e evidencia dados relativos à qualidade e quantidade das políticas administrativas, da interação da empresa com o meio que está inserido. Essa interação pode ser analisada de maneira que favoreça a escolha de estratégias. O Balanço Social traz dados quantitativos e qualitativos que podem orientar o planejamento das atividades da empresa e a tomada de decisão. Ainda, pode influenciar a sociedade e pode ser utilizado também como ferramenta de marketing da empresa, pois através dele a empresa mostra à sociedade que tem exercido seu papel social com ações relevantes destinadas a melhorias ao meio ambiente, seus colaboradores e comunidade em geral. Embora fora do país haja uma variedade de modelos de Balanços Sociais, no Brasil os modelos foram adequados à realidade empresarial e aperfeiçoados de forma a promover sua aplicação contínua, que têm como finalidade auxiliar o processo de definição de conteúdo e de estabelecimento de metas e objetivos pela empresa. A escolha do modelo garante à organização uma orientação segura sobre o que informar, comparabilidade nacional ou internacional e o alinhamento com compromissos ambientais e sociais legítimos para toda a sociedade (INSTITUTO ETHOS, 2007). Os modelos mais conhecidos no Brasil são o Balanço Social IBASE e Guia de diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI). - Modelo Ibase: Lançado em 1997 pelo Ibase, é inspirado no modelo tradicional financeiro/contábil. Demonstra de maneira detalhada, os números associados à responsabilidade social da organização. Em forma de planilha, reúne informações sobre a folha de pagamentos, os gastos com encargos sociais de funcionários, a participação nos lucros. Também detalha as despesas com controle ambiental e os investimentos sociais externos nas diversas áreas — educação, cultura, saúde etc. O Ibase entende que seu modelo de balanço social é essencialmente uma 10 ferramenta de transparência e prestação de contas. A empresa deve divulgá-lo como forma de apresentar periodicamente à sociedade suas ações e sua evolução no tratamento de temas relevantes para o contexto brasileiro. Para incentivar ainda mais as empresas a efetuarem e divulgarem seus balanços, foi criado a partir da Resolução Legislativa Nº 05/98 o Selo Empresa Cidadã, que visa reconhecer e dar notoriedade as empresa que contribuem para o desenvolvimento da comunidade, e que aderiram um comportamento ético na busca da estabelecer a cidadania. Este prêmio é concedido às empresas que se destacam nas seguintes áreas do Balanço Social: meio-ambiente, ambiente de trabalho, ambiente social e qualidade de vida, ambiente urbano, qualidade dos produtos e serviços, desenvolvimento dos direitos humanos e difusão da conduta de responsabilidade social. As empresas que recebem o Selo Empresa Cidadã adquirem algumas vantagens: podem utilizá-lo em produtos, embalagens, propagandas e correspondências. Consequentemente, passam a ser reconhecidas pelo compromisso com a qualidade de vida, equidade e desenvolvimento dos funcionários e sua família, pela comunidade e preservação do meio ambiente (CIEE, 1999). - Modelo GRI- Lançado em 2000, o modelo desenvolvido pela Global Reporting Initiative (Iniciativa Global para a Apresentação de Relatórios — GRI) tem ganhado cada vez mais relevância. A Global Reporting Initiative (GRI) é uma organização internacional cujo objetivo é desenvolver e aprimorar diretrizes para elaboração de relatórios de sustentabilidade de forma a permitir que os relatórios de desempenho ambiental, econômico e social de organizações de qualquer porte, setor ou localização geográfica sejam tão periódicos e comparáveis quanto os relatórios financeiros. (INSTITUTO ETHOS, 2007). O objetivo da GRI é tornar os Balanços Sociais propagados ao ponto de se igualarem aos relatórios financeiro/contábil, utilizar um modelo que possa ser utilizado mundialmente para assim facilitar uma maior e mais exata comparação entre diversas organizações nos diversos contextos nos quais estão situadas. Por ser sustentado por dois pilares, ética e transparência, que devem nortear as atividades de toda e qualquer organização, o Balanço Social aponta para a coerência entre o discurso e a prática. 11 Mesmo com tamanha promoção de transparência nos negócios e incentivo de uma imagem vista com bons olhos, ainda são poucas as empresas que se propõe a publicarem seu balanço. A publicação do balanço social é fundamental para a vida organizacional porque, além de ampliar o diálogo da empresa com a sociedade, ajuda-a na incorporação de posturas éticas e transparentes, no diagnóstico de desafios em médio e longo prazo, na comparação de seu desempenho com o de outras organizações, na avaliação da eficiência de seus investimentos e na integração de seus objetivos ambientais, econômicos e sociais (IBASE, 2007). 3 CONCLUSÕES Em face a mobilização atual em torno da responsabilidade social das organizações, o estudo objetivava identificar se o Balanço Social pode ser usado como instrumento de transparência. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica a fim de relatar sobre o surgimento e a difusão da Responsabilidade Social no Brasil, descrever uma organização socialmente responsável e discorrer sobre o Balanço Social.Em relação a Responsabilidade Social no Brasil foram observados os seguintes pontos principais: - o novo direcionamento administrativo ganhou impulso após a Primeira Guerra Mundial; - nesta época, a sociedade repudiou a utilização de armamentos bélicos produzidos por empresas norte-americanas, que traziam consequências ao meio ambiente e ao homem. - no início do século XX, a Responsabilidade Social era limitada somente a ações filantrópicas, que inicialmente possuía caráter pessoal; - pode-se apontar a Carta de Princípios dos Dirigentes Cristãos de Empresas, publicada em 1965 como marco do surgimento da responsabilidade social no Brasil; - as primeiras manifestações envolvendo a sociedade (empresários, comunidade, políticos e meios de comunicações) só aconteceram em 1996, através do Herbert de Souza, fundador do IBASE; - o Brasil é o país da América Latina com mais consciência e discussão, inclusive na imprensa, em torno das empresas como papel de agentes de transformação social. 12 Com relação a organização socialmente responsável foram identificados os seguintes aspectos: - a partir do processo de mudança democrática, nos anos 70 e 80, é que se pode identificar uma ação social empresarial com a expectativa de participação no desenvolvimento social do país; - a responsabilidade social objetiva a construção de relações éticas e transparentes com todos os púbicos; - Transparência: divulgando informações, decisões e intenções de maneira clara e acessível a todos os públicos que se relacionam com a empresa; - Estabelecimento de compromissos públicos: assumindo publica- mente os compromissos que a empresa tem, sejam relacionados ao seu público interno, ao futuro, à manutenção de recursos naturais, à promoção da diversidade; - Envolvimento com instituições que representam interesses variados: procurando contato e diálogo com organizações e especialistas que colaborem com a empresa para lidar com seus dilemas; - Capacidade de lidar com situações de conflito: demonstrando disposição para a investigação e o diálogo, desenvolvendo processos que previnam situações de risco, aprofundando contato com redes de organizações e formadores de opinião, usando de transparência nessas relações; - Estabelecimento de metas de curto e longo prazo: introduzindo realmente aspectos de responsabilidade social na gestão da empresa, com todas as características que outros indicadores de performance possuem; - Envolvimento da direção da empresa: comprovando claramente o entendimento estratégico que tem dessas questões. Em geral, a empresa tem um ou mais colaboradores que dedicam seu tempo a questões de responsabilidade social. Sobre o Balanço Social foram observados os seguintes pontos principais: - em 1984, foi realizado o primeiro documento brasileiro do tipo, fornecido pela empresa governamental Nitrofértil no Estado da Bahia; - no que se refere à legislação, as primeiras discussões sobre o tema aconteceram em 1991; - o IBASE lançou o primeiro modelo de balanço social em 1997; 13 - uma demonstração contábil, ele é publicado anualmente, contendo informações não somente das atividades econômicas, ambientais e sociais desenvolvidas pela empresa, mas também os seus principais compromissos públicos e as metas para o futuro; - o Balanço Social traz dados quantitativos e qualitativos que podem orientar o planejamento das atividades da empresa e a tomada de decisão; - os modelos mais conhecidos no Brasil são o Balanço Social IBASE e Guia de diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI); - ética e transparência devem nortear as atividades de toda e qualquer organização, o Balanço Social aponta para a coerência entre o discurso e a prática; - mesmo com tamanha promoção de transparência nos negócios poucas as empresas que se propõe a publicarem seu balanço. Diante de todos os embasamentos apurados e apresentados, concluiu-se que é o Balanço Social é um instrumento de transparência. REFERÊNCIAS CHIAVENATO, I.. Introdução à Teoria Geral da Administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. 7 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003 (4ª Reimpressão). CHIAVENATO, Idalberto. Introdução À Teoria Geral da Administração. São Paulo: Campus, 2004. CIEE – Centro de Integração Empresa-Escola. Revista Agitação, Brasília, ano VII, v. II, n. 39, maio/jun. 2001. 14 CARVALHO, Samuel & De Benedicto, S.C.. (2008). Surgimento e Evolução da Responsabilidade Social e Empresarial: Uma reflexão teórico-analítica. DE BENEDICTO, S. C. A Responsabilidade Social das Empresas: uma relação estreita com a educação. Lavras, UFLA/DED, 2002. 199 p. (Monografia de Especialização em Educação). DIALOGUS CONSULTORIA EM RESPOSNABILIDADE SOCIAL. Uma Abordagem Histórica da Responsabilidade Social, 2014. 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